Você está na página 1de 258

4

5
ÍNDICE
DEDICATÓRIA 8

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Terapia de Vidas Passadas 17

CAPÍTULO II - Reencarnação, a Base da TVP 29

CAPÍTULO III - solução problemas existenciais 51

CAPÍTULO IV - Lembranças 59

CAPÍTULO V - Análise de um caso 65

CAPÍTULO VI - Brian Weiss 73

CAPÍTULO VII - Mais Dúvidas 99

CAPÍTULO VIII - Distanciado da Ciência 114

CAPÍTULO IX - Almas Gêmeas 133

CAPÍTULO X - Radiografando a TVP 157

CAPÍTULO XI - Avaliações Complementares 193

CAPÍTULO XII - Legitimidade do Regressionismo 208

CAPÍTULO XIII - O Caso Bridey Murphy 226

CAPÍTULO XIV – Conclusão 243

PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS 258

6
7
DEDICATÓRIA

Este trabalho é dedicado a:

Márcia Maria Ribeiro de Souza;


Wagner Montalvão;
Suzanne Soares Montalvão;
Vivianne Soares Montalvão;
Lúcia Maria Paiva,

que contribuíram para que a presente obra se


tornasse realidade, pelo que muito agradeço.

8
9
INTRODUÇÃO

A idéia de que já vivemos outras vidas e de que


essas vidas possam ser trazidas à lembrança é
cativante.

Sem dúvida, o “mistério” exerce sobre a maioria das pessoas


enorme fascínio. Muitos cultivam com especial carinho os
relatos de acontecimentos tidos por fantásticos. Parece que
uma parte de nossa mente sente-se gratificada diante de
enigmas. Mas, ao mesmo tempo em que desperta o fascínio,
o oculto clama por ser desvendado. As coisas misteriosas nos
atraem, porém não apreciamos que elas sejam perenemente
insolúveis.

A curiosidade adequadamente direcionada propicia respostas


consistentes. A ciência é filha do anseio humano por
destrinçar o desconhecido. As questões sem resposta
incomodam.

O pensamento científico para ser fomentado exige um


exaustivo trabalho. O que não quer dizer que a ciência
invariavelmente apresente conclusões corretas. Muitas vezes,
o nível de conhecimento sobre determinada matéria leva os
pesquisadores a inferências inadequadas. A ciência jamais
poderá ser considerada “pronta e acabada”. Sempre existirá a
perspectiva de que novos conhecimentos surjam e tragam
explicações mais amplas que as vigentes.

10
O que interessa destacar é o fato do trabalho científico ser
penoso. No intento de responder às questões que se lhe
apresentam o cientista precisa ir além da análise superficial.
As conclusões baseadas na observação imediata raramente
são as mais adequadas.

Muitas “verdades científicas” aceitas no passado


posteriormente se revelaram infundadas.

Durante séculos pensou-se que o universo fosse formado por


uma sucessão de esferas, cada qual contendo uma parcela do
cosmo. E a terra estaria na mais central dessas formações,
visto que seria o centro de todo o universo. O surgimento dos
telescópios mostrou que tal concepção era insustentável.

A idéia de que o planeta se movesse em torno de seu próprio


eixo seria considerada uma heresia em tempos não muito
remotos. Quando Galileu ousou defender essa tese foi
severamente rebatido pelos cientistas de então.

No passado não existiam mecanismos de medição


adequados, as experiências se baseavam na observação
direta e partir daí se elaboravam os conceitos.

Essa forma de análise, definida pelos limites dos sentidos, é


frágil e quase sempre redunda em proposições enganosas. O
mundo é muito mais complexo que possa parecer ao nossos
olhos; diversos fenômenos ocorrem em níveis que nossa
capacidade de percepção não alcança.

Algumas ciências primitivas, tal qual a astrologia, na


atualidade perderam o status de científicas, visto que foram
elaboradas numa época em que o poder de observação e de
análise era limitado. Sobrevivem nos dias modernos porque
prometem respostas para alguns de nossos anseios. Mas, é
sabido que não têm qualquer fundamentação real.

O desejo das pessoas por esclarecer suas dúvidas,


conjugado ao esforço exigido para encontrar as explicações,

11
leva muitos a buscarem “respostas prontas”. Raciocinar é
trabalhoso, se temos quem pense por nós por que se
sacrificar?

No campo do sobrenatural ― ou se preferirem no campo do


supranatural ― , brotam “especialistas” em ciências insólitas.
Estes arrogam para si capacidade de explicar os segredos
daquilo que estaria além da matéria.

A maior parte dessas “explicações” não passa de lucubrações


fantasiosas, entretanto os discursos dos “mestres” conquistam
admiradores e, ainda que não tenham respaldo na boa
ciência, são aceitos como verdades completas. Normalmente,
quanto mais imaginosos forem esses mestres, tanto mais
serão admirados.

O que despertaria maior curiosidade: o nascer de um novo dia


ou a aparição de um fantasma? O alvorecer do dia é um
acontecimento aparentemente banal; as portentosas forças
envolvidas no processo são menosprezadas. Uma simples
chuva é conseqüência de numerosos fenômenos que a
maioria de nós sequer imagina. Nossa fantasia fica mais
excitada com histórias de extraterrestres ou de assombrações.
São muitos os temas de pouca profundidade que gozam de
alto prestígio por serem estimulantes de devaneios.

Nessa constelação de assuntos que atraem a curiosidade


popular, vemos de tudo: desde a clássica Atlântida, que já deu
material para muitas narrativas, a maior parte provinda de
“revelação mística”; seguida por outras tantas civilizações
“misteriosas”, cujos “segredos” somente os iniciados
conhecem; até chegarmos aos contatos mediúnicos com
espíritos e outras entidades. Em meio ao caminho
vislumbramos variados temas, tais quais: o Triângulo das
Bermudas; duendes, elfos, gnomos; o domínio da natureza
pela magia; o Egito esotérico; os arquivos acásicos, e muito
mais.

12
Foi nesse mundo de magia e de mistério, que encontramos
uma das recentes incorporações: a lembrança de vidas
passadas.

Insistentemente divulgada como matéria de cunho científico, a


regressão a vidas passadas, ou mais precisamente a
terapia de vidas passadas - TVP, quando examinada com
um pouco de atenção, mostra o inegável parentesco com o
esoterismo e o distanciamento da ciência.

Sobre o esoterismo é necessário um comentário


complementar, pois a palavra possui diversas acepções.

• Esotérico significa aquilo que está oculto,


velado. No contexto ocultista, se refere a
conhecimentos acessíveis apenas aos
iniciados;

• Sob outro aspecto, esotérico seria aquilo não


percebido em primeira verificação. Livros,
filmes e discursos mais elaborados, podem ser
chamados de esotéricos, no sentido de que é
possível realizar várias leituras, cada uma
revelando novos matizes, mostrando ser a
mensagem muito mais rica que pareça à
primeira vista;

• Há, ainda, uma terceira significação: a de


“conceito nebuloso, baseado em dados
fantasiosos”. Neste livro, geralmente o termo é
utilizado com essa significação.

A base da terapia de vidas passadas é a tese das múltiplas


existências, ou, como preferem os praticantes da regressão,
a “hipótese científica da reencarnação”. Portanto, quando
se fala em lembrança de vidas passadas, a reencarnação se
torna implícita.

13
Na parte inicial do livro, serão apresentadas apreciações
sobre embaraços da teoria reencarnacionista. Comentaremos
também as semelhanças e as contradições entre o espiritismo
e o regressionismo. As referências ao espiritismo são
cabíveis, visto que a maior parcela de usuários da regressão a
vidas passadas é constituída de kardecistas e, também
porque os conceitos teóricos regressionistas são tomados do
espiritismo.

Nos capítulos 6, 7, 8 e 9 avaliamos as idéias regressionistas


de Brian Weiss, o psiquiatra americano que tornou-se
praticante da TVP e escreveu várias obras sobre regressões,
dentre se destacam: “Muitas Vidas, Muitos Mestres” e “Só
o Amor é Real”.

Nos capítulos finais analisaremos as teses gerais do


regressionismo, ilustradas com afirmações de terapeutas que
praticam a regressão, acompanhadas de nossos comentários.

Ao final, o leitor obterá um claro entendimento do que seja a


terapia de vidas passadas. E poderá, então, avaliar se é
adequada a eufórica opinião dos que a classificam como a
grande descoberta terapêutica do século XX.

O leitor deparará com certa freqüência a expressão


espiritismo kardecista. O termo não é, de forma alguma,
utilizado pejorativamente. O caso é que existem pelo menos
duas correntes espíritas de maior expressão no mundo. Além
do kardecismo, há o chamado espiritismo anglo-saxão,
praticado principalmente na Inglaterra, na África do Sul e na
Holanda. (É bom lembrar que os espíritas saxões preferem o
termo espiritualismo em lugar de espiritismo.) A principal
diferença entre eles é que um defende o dogma da
reencarnação e outro condena. A fim de definir a que vertente
espírita nos referimos, optamos por nominar o espiritismo
latino como kardecismo. O que, aliás, não é criação nossa,
pois o termo é aplicado correntemente.

14
Várias vezes a expressão “inconsciente” será encontrada
neste livro. Esta é uma palavra aceita universalmente quase
sem questionamentos. É preciso, porém, esclarecer que a
idéia de estar a mente dividida em duas grandes seções
(consciente e inconsciente) já não combina com as atuais
pesquisas neurológicas. Parece que a conceituação mais
adequada para a mente seria a de um grande mecanismo,
composto por submecanismos agindo harmoniosamente entre
si. Imagine uma complexa máquina, constituída de diversos
circuitos interdependentes. Conforme a circunstância alguns
desses circuitos estarão mais ativos que outros. Certas partes
da mente operam sempre em segundo plano, ou seja, seu
trabalho não é percebido conscientemente (daí a idéia de que
trabalhem desconectadas da consciência). Por não fazer parte
dos objetivos do presente trabalho, não ampliaremos o tema.

• Destacamos algumas convenções e procedimentos


observados neste livro:

1. nas transcrições de textos de outros autores,


procuramos respeitar a grafia original, mantendo,
inclusive, os equívocos gramaticais. Os
destaques feitos nesses textos (sublinhado,
negrito) são de nossa autoria;

2. termos entre colchetes [ ] são inserções que


objetivam esclarecer o sentido do texto em
destaque;

3. este símbolo “→” abre comentários específicos e


complementares, concernentes ao assunto em
referência.

Críticas e sugestões serão bem recebidas.


(montalvao-rio@click21.com.br).
(moizesbrasil@oi.com.br)

M.Montalvão.

15
16
CAPÍTULO 1

Terapia de Vidas Passadas

Observação:

• Terapia de regressão de vidas - TVP,


é um método terapêutico cuja principal
característica é buscar a origem de
traumas psíquicos em hipotéticas
vivências pregressas.

Em seu consultório um psicólogo praticante da Terapia


de Vidas Passadas, realiza uma sessão de regressão. Ele
utiliza a hipnose a fim de possibilitar ao paciente focar a

17
mente de forma adequada e direcioná-la para o objetivo
proposto:

- Deixe sua mente retroceder no tempo. Não


tente controlar o processo, sua alma seguirá o
caminho naturalmente. Não questione nada do
que visualizar, apenas visualize... Imagine que
está entrando num túnel, um túnel do tempo que
o levará bem longe...longe...Agora você é uma
criança pequenina e continua a recuar no tempo,
cada vez mais distante. Veja-se no útero de sua
mãe. Ela o alimenta, sinta as sensações de amor
que lhe são passadas; você gosta de estar com
ela... Agora a viagem continua: saia desta vida e
deixe seu espírito vagar...vagar por outras
existências, você está em busca da origem de
sua dor...relaxe...visualize o que está à sua
volta...relaxe cada vez mais...Diga-me o que está
vendo...

- Vejo uma pessoa caminhando por uma rua que


não conheço...

- Como essa pessoa está vestida?

- Não entendo muito bem...uma roupa


diferente...O cinto é grande, fivelas grandes...as
botas são pesadas...tudo estranho...

- Essa pessoa é você?

- Acho...Sim...sinto o peso das botas nos meus


pés...

- Sabe o nome do local onde você se encontra?

- Não sei...Espanha?...

18
- Tem alguém com você?

- Não...mas preciso andar rápido...estão atrás de


mim...

- Quem está atrás de você?

- Eles...inimigos do rei...uma conspiração para


matar o rei...Ouvi tudo...querem me matar!

- O que você faz para se livrar deles?

- Fugir...são muitos...estou cercado! Não vou me


livrar...

- E o que acontece?

- Cercado...eles armados...facas...tenho uma


pistola na cintura...vou atirar...NÃO!

- O que está acontecendo?

- Apunhalado pelas costas! A dor é terrível...dói


muito...Não consigo ficar de pé...Estão se
aproximando...Chegou o meu fim!

O terapeuta percebe que o paciente demonstra


grande aflição. A fim de tranqüilizá-lo decide
suspender o processo:

- Agora quero que se acalme, você não está mais


lá, está aqui no consultório, está seguro...Vou
contar até cinco e você despertará revigorado,
sentindo-se muito bem e lembrará da experiência
de forma positiva...Um...dois...despertando...

19
Depois de plenamente consciente, o paciente e o
terapeuta avaliam a experiência. Uma das
queixas do consultante era uma terrível dor nas
costas, que se manifestava quando sob tensão,
quanto maior a ansiedade tanto maior a dor.
Diversos médicos o examinaram; várias sessões
de fisioterapia realizadas, no entanto o distúrbio
permanecia. O psicoterapeuta apresenta suas
conclusões:

- A dor que sente, e que se intensifica nos


períodos de estresse, é resultado da experiência
na outra vida. Ao ser atacado covardemente e
percebendo que não tinha saída, você
internalizou uma grande dose de angústia. Essa
angústia o tem acompanhado por diversas vidas
e se apresenta sob a forma de dor no mesmo
local onde foi ferido. Agora que sabe como tudo
começou, será mais fácil se livrar do problema...

A regressão a vidas passadas tem despertado o interesse


de muita gente. Um número crescente de pessoas procura
os regressionistas, ora por curiosidade, ora cativados por
promessas de cura.

Os que são motivados pela curiosidade interessam-se em


conhecer as identidades que teriam assumido no passado.
A atriz Shirley Maclaine é um exemplo: tão entusiasmada
ficou ao “descobrir” algumas de suas personalidades
pretéritas, que escreveu alguns livros sobre o tema. Outro
grupo de usuários é constituído de pessoas desiludidas
com as psicoterapias tradicionais, estes esperam encontrar
na terapia de vidas passadas uma solução mais efetiva

20
para os transtornos psíquicos pelos quais passam, ou até
mesmo solucionar problemas físicos.

O regressionismo de início era praticado quase como uma


curiosidade, ou como meio de comprovar a tese
reencarnacionista. Posteriormente, passou a ser utilizado
terapeuticamente, no tratamento de distúrbios psíquicos,
o que deu origem ao procedimento conhecido como
terapia de vidas passadas, abreviado TVP ― (há quem
prefira e utilize a sigla TRVP – Terapia de Regressão a
Vidas Passadas). Presentemente, a maioria das práticas
regressionistas tem por objetivo o tratamento de
distúrbios psicológicos, mas ainda se encontra o uso não-
terapêutico do processo.

→ Os terapeutas regressionistas declaram que a


terapia de vidas passadas constitui “a medicina
do Novo Milênio”. Isso mostra o grande otimismo
com que encaram o processo.

Desde o final do Século XIX são relatadas esporádicas


experiências de regressão a vidas passadas. Porém, o uso
terapêutico se iniciou de forma ampla a partir da década
de 1960.

Atribui-se ao engenheiro francês Albert De Rochas ―


Eugène-Auguste-Albert de Rochas D'Aiglun― (1837-1914) o
pioneirismo na prática da regressão. De Rochas era
praticante do hipnotismo. Depois de realizar diversas
experiências de regressão de idade ― (não confundir
regressão de idade com regressão a vidas passadas) ―,
passou a especular no campo das vidas pretéritas.
Entretanto, parece que o engenheiro não fez escola, pois

21
pouco se falou do assunto até a década de 1950.
Diferentemente das práticas regressionistas da atualidade,
nas quais as lembranças são numerosas e abrangem
longos períodos, Albert Rochas era moderado no trato
do assunto. Diz-se que o francês postulou que a regressão
seria possível a até no máximo cinco vidas passadas.

Antes de a TVP começar a se popularizar, o caso mais


espetaculoso encontramos na aventura de Bridey
Murphy. A experiência foi relatada por Morey Bernstein,
um homem de negócios da cidade de Pueblo, nos Estados
Unidos.

“O caso de Bridey Murphy”, como a história ficou


conhecida, causou celeuma em quase todo o mundo.
Milhões de exemplares do livro escrito por Berstein
foram vendidos. Berstein afirmava que Bridey Murphy
fora a vida pregressa de uma mulher chamada Ruth
Simmons. Depois descobriu-se que Ruth Simmons era o
pseudônimo de Virgínia Tighe, uma dona-de-casa norte-
americana. No capítulo 10 falaremos detalhadamente do
assunto.

Alguns terapeutas regressionistas afirmam que depararam


com vidas passadas casualmente: ao induzirem pacientes
a reviverem experiências no útero materno (processo
ainda bastante praticado), foram surpreendidos com o
relato de ocorrências que teriam sucedido em épocas
anteriores ao período de vida uterina, ou seja, em outras
vidas.

22
→ A regressão da memória à vida intra-uterina é
prática adotada por vários terapeutas,
entretanto não é aceita pelas escolas
tradicionais da psicologia. Estas não concordam
com a idéia de que o feto tenha memória. Veja
no capítulo 11 comentários mais amplos.

Brian Weiss, o psiquiatra norte-americano cujo trabalho


analisaremos adiante, conta que seu encontro com as
vidas passadas foi incomum: durante uma sessão de
hipnose, quando ordenou a uma paciente que voltasse ao
período em que seus sintomas começaram, ela
imediatamente “entrou” numa vida anterior.

A conclusão de que as “lembranças” eram efetivas


recordações de existências pregressas, foi acatada sem
maiores avaliações por vários profissionais. Não demorou
muito, iniciou-se a utilização das lembranças como um
subsídio à psicoterapia. E assim tudo começou.

A idéia de que seja possível relembrar outras vidas


pressupõe a veracidade da reencarnação. Despertou-se a
atenção de adeptos do espiritismo kardecista. Sabe-se que
o kardecismo advoga a reencarnação. Não foram poucos
os espíritas que se empolgaram com o regressionismo,
pois parecia ter surgido uma prova da tese das múltiplas
existências.

Por outro lado, vários teóricos espíritas encaram a TVP


com pouca simpatia, pois vêem nela um sério conflito
com a doutrina kardecista. Noutro capítulo
apresentaremos comentários mais amplos.

23
Os praticantes da TVP são geralmente psicólogos, uns
poucos são especializados em outras áreas da medicina.
No Brasil, existe pelos menos duas organizações que
congregam os regressionistas:

• a SBTVP – Sociedade Brasileira de


Terapia de Vidas Passadas e,
• a ANTVP – Associação Nacional dos
Terapeutas de Vidas Passadas (esta
formada por ex-membros da SBTVP).

A ANTVP publica um jornal mensal com artigos sobre a


regressão de vidas. A terapia de vidas passadas cativou
profundamente a vários psicólogos e muitos deixaram de
lado os tratamentos ortodoxos e passaram a utilizar
exclusivamente a TVP no trato de seus pacientes. A
SBTVP nos dá uma definição técnica do que seria a
regressão a vidas passadas:

“A Terapia de Vida Passada, de acordo com a


SBTVP, é uma abordagem psicoterápica que tem
como princípio teórico básico a hipótese científica
1
da reencarnação e utiliza a regressão de
memória como a técnica base de tratamento. O
tema da reencarnação sempre é abordado como
objeto de estudo de vários cientistas renomados
nesse meio, não tendo absolutamente quaisquer
ligações com aspectos místicos ou religiosos.

A Terapia de Vida Passada admite também


(como outras formas de psicoterapias) a
existência de um Inconsciente, com um conceito

24
2
que transcende aos estudados até agora e que,
quando bem acessado pela técnica de regressão
de memória, permite levar o paciente a entrar em
contato com lembranças quer relacionadas a
fatos da vida atual, quer relacionadas a
existências pregressas do mesmo e que tenham
estreita ligação com seus problemas psíquicos
e/ou somáticos do momento presente. Esse
acesso é possível pela criação de um estado
alterado de consciência, mas sem a necessidade
do uso da hipnose."

1
→ O texto fala em “hipótese científica da
reencarnação”. Aqui há exagero: a reencarnação
é uma possível explicações para as lembranças
de outras vidas. Porém, dificuldades filosóficas
e científicas surgem quando se analisa a idéia.
Alguns espíritas acreditam que a confirmação
científica da reencarnação se dará nos próximos
anos; outros são mais otimistas: declaram que a
ciência já ratifica a multiplicidade de vidas. Por
enquanto, o que há de concreto é a esperança
dos adeptos de que a reencarnação um dia seja
reconhecida como um fato científico.

2
→ É interessante destacar que a TVP concebe a
existência de um inconsciente com
características diferentes do das teorias em
voga. O regressionismo necessita de uma
idealização particularizada da parte oculta da
mente, que vá além das teses atuais, e até mais
extensa que noções míticas, como a do
“inconsciente coletivo”, de Jung. Isto porque, as

25
conceituações clássicas não dão suporte a idéia
de que se possa recordar vidas passadas.

Os psicólogos regressionistas exibem tanto entusiasmo


com a TVP que, muitos deles, asseveram que os
problemas existenciais são plenamente elucidados quando
se descobrem os traumas ocorridos em outras vidas.

“À medida que adentramos para um novo milênio,


para uma nova Era, imensas mudanças estão
ocorrendo no nosso planeta. E uma delas, diz
respeito a essa grande oportunidade que
estamos tendo de nos libertarmos de nossas
limitações.

Limitações, que se iniciaram, muitas vezes, em


vidas passadas e que se perpetuam e vem
prejudicando à sua vida atual.

Hoje, várias pessoas falam em mudança. ...

Conhecendo suas vidas passadas, você pode


liberar potenciais até então bloqueados. Neste
sentido, a Terapia Regressiva a Vivências
Passadas ou Terapia de Vidas Passadas (T.V.P)
é uma técnica psicoterápica que utiliza como
recurso terapêutico a regressão de memória. E a
regressão de memória tem por objetivo buscar a
causa verdadeira do seu problema que lhe deixou
marcar profundas e traumáticas. ..." (Osvaldo
Shimoda, terapeuta de vidas passadas)

__________________________________

26
“Terapia das VIDAS PASSADAS
...
Uma viagem no tempo para desatar os nós do
inconsciente e ficar livre para a evolução. Assim,
a terapeuta Célia Resende resume o objetivo da
terapia de vidas passadas, cada vez mais
procurada, não só por espiritualistas, mas
também por judeus e católicos, segundo ela.
...

Mas será que todos os problemas que vivemos


no dia-a-dia têm causa em vidas passadas?
Tanto Célia como Neusinha acreditam que, se
não todos, a maioria dos problemas. "Temos três
níveis de memória. Durante a terapia fazemos
uma análise desses níveis e observamos que os
problemas citados pela pessoa aparecem várias
vezes. Analisando a vida atual do paciente, desde
sua infância, constatamos que o grupo social e a
forma como ele foi criado só intensificaram os
problemas, mas não são a causa dele. A causa
está em outras vidas", argumenta Célia."
(Divulgação na Internet dos trabalhos das
terapeutas regressionistas Célia Resende
e Neuzinha Aguillar)

→ Adiante apresentaremos comentários detalhados


sobre as idéias de Célia Resende. De momento,
ressaltamos a declaração de que a maioria das
dificuldades de nossa existência tenham origem
em vidas passadas.

A TVP introduz uma idéia radical nos postulados da


psicologia: para os regressionistas a maior parte dos

27
distúrbios do espírito, ou seja, quase todos, são
provenientes de tropeços ocorridos em vidas passadas. Na
visão dos regressionistas as teorizações clássicas sobre a
personalidade estariam fundamentalmente equivocadas
ou incompletas, visto que não levariam em conta a
"verdadeira" origem dos problemas psíquicos.

Disso surge uma questão crucial para a avaliação que


estamos a elaborar, que pode ser traduzida do seguinte
modo:

Afirma-se que a TVP seja um método


terapêutico muito mais eficiente que
quaisquer outras formas de
psicoterapia.

Será que essa declaração se


confirmará depois que a terapia de
vidas for analisada detalhadamente?

Os terapeutas regressionistas acreditam no potencial


desse método. Há quem diga que a TVP é superior à
medicina moderna!

Ao final do livro traremos a questão de volta, ocasião em


que acreditamos poder respondê-la com segurança.

28
CAPÍTULO 2

Reencarnação, a base da TVP

O embasamento teórico para o regressionismo está na


tese das múltiplas existências, mais conhecida como
reencarnação, que é uma das premissas do espiritismo1.
Grande número dos praticantes da terapia de vidas
passadas é formado por espíritas kardecistas e por
simpatizantes. Isso não é demérito para ninguém: cada
um escolhe a religião que lhe satisfaz. A questão é que o
regressionismo assevera lidar com conceitos científicos e
isso não se demonstra, as concepções da TVP estão mais
próximas da religiosidade que da ciência.
1
→ há uma forma de espiritismo, praticada
principalmente na Inglaterra, que renega a

29
reencarnação. É no mínimo curioso a
existência de uma concepção espiritista que
não adote o reencarnacionismo, considerando
ser a reencarnação um dos pilares do
espiritismo, mas é o que sucede: os espíritos
que visitam os médiuns ingleses quando se
pronunciam sobre a reencarnação declaram-na
uma fraude.

A TVP supõe que se há lembranças de outras vidas


significa que as pessoas viveram anteriormente; se as
pessoas viveram outras vidas, então, a reencarnação é
veraz...Dessa forma, a “lógica” do processo estaria
consolidada. Queiram ou não os regressionistas, os
alicerces da TVP são religiosos, visto que o fundamento
científico para a reencarnação não foi encontrado.

→ É comum encontrar-se textos regressionistas


falando sobre a “concepção científica da
reencarnação”, ou coisa semelhante. Contudo,
tal expressão é de todo inadequada, pois não
se sustenta com fatos.

O regressionismo trabalha com a hipótese da


reencarnação sem apresentar explicação de como se
processariam os renascimentos. Em outras palavras:
admite a reencarnação mas não esclarece o
funcionamento do mecanismo. (Mais um distanciamento
da ciência). É no espiritismo, portanto, que iremos
buscar e discutir os conceitos sobre o reencarnacionismo.
Desse modo, quando se fala de regressão a vidas
passadas são inevitáveis as referências ao espiritismo,

30
notadamente ao kardecismo, pois é esta modalidade de
espiritismo que defende a multiplicidade de vidas.

Muitos textos espíritas proclamam a incontestabilidade da


reencarnação, no entanto a teoria ainda espera por uma
prova científica. Os reencarnacionistas advogam que os
variados renascimentos seriam o método estabelecido por
Deus para que a alma chegue à perfeição. Quando,
porém, se analisa o assunto com atenção surgem muitas
dúvidas. Faremos aqui alguns comentários sobre as
dificuldades dessa idéia; noutro trabalho de nossa autoria,
intitulado “Reencarnação – o sonho de viver muitas
vidas”, é feita uma análise minuciosa do assunto.

31
PROVAS CIENTÍFICAS DA REENCARNAÇÃO

Escritos apologéticos afirmam que a reencarnação está


comprovada cientificamente. As “provas”, entretanto, se
resumem a alegações empolgadas, sem fundamentação. A
argumentação que encontramos não é de natureza
científica. São vistas declarações como: “a única forma
de explicar tal acontecimento é pela reencarnação”; “só
pela reencarnação as injustiças desse mundo são
esclarecidas”, etc. Tratam-se de considerações
apaixonadas, que atendem a expectativa dos aficionados,
mas não têm cunho científico. Examinemos um texto
dessa natureza:

“As principais evidências científicas da


reencarnação são: Gênios Precoces, são
crianças prodígios, que desde a mais tenra idade
mostram possuir conhecimentos de tal ordem à
respeito de temas os mais diversos que seria
impossível explicá-los sem a certeza de que
viveram antes. Amadeus Mozart tocava piano
aos 3 anos e violino aos 4 anos sem nunca ter
visto um [?!]. Pierino Gamba foi maestro aos 11
anos. Pascal, matemático francês discutia
matemática e geometria aos 12 anos. Miguel
Angelo, com a idade de 8 anos, foi dispensado
pelo seu professor de escultura porque este já
nada mais tinha a ensiná-lo. Kardec, examinando
a questão pergunta aos benfeitores como
entender este fenômeno [Livro dos Espíritos -
questão 219] e eles dizem: 'Lembrança do

32
passado, recordação anterior da alma."
(Reencarnação, Evidências e
Fundamentos – Centro Espírita Celeiro de
Luz).

Considera-se que seja impossível explicar o porquê da


existência de gênios precoces, senão pela certeza de que
viveram antes. Supor que os gênios viveram outras vidas,
unicamente por manifestarem talentos desde a infância, é
argumento de fraca sustentabilidade. Estamos diante de
um equívoco de raciocínio: estabelece-se que o único
meio de explicar uma questão seria pela forma que o
explicador apresenta. Quaisquer outras possibilidades
são desprezadas.

Seguindo por esse caminho, seria igualmente aceitável


afirmar que “os gênios precoces são o resultado do
cruzamento de humanos com extraterrenos”.

Haverá, ainda, quem diga que os gênios sejam filhos


de anjos.

Todas essas “explicações” serão plausíveis e


“científicas”, desde que se admita que a idéia básica seja
verdadeira, independentemente de estar ou não
comprovada. A partir daí se pode chegar a conclusões
“lógicas”. Por exemplo: tendo como certo que anjos
eventualmente copulem com seres humanos, pode-se
inferir que os filhos dessas uniões sejam gênios precoces.
Não poucos achariam tal idéia mais satisfatória que a da
reencarnação...

33
É fácil encontrar formas de “esclarecer” a existência de
gênios precoces...O que não se pode dizer é que tais
postulações sejam de cunho científico.

Vejamos um esquema desses raciocínios:

Idéia 1: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é


precoces são almas, isso manifestam uma “prova científica”
experientes, que já talentos especiais da reencarnação.
viveram muitas vidas. desde a infância.
Idéia 2: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é
precoces são filhos isso manifestam uma “prova científica”
de anjos. talentos especiais da existência de
desde a infância. anjos.
Idéia 3: Os gênios Conseqüência: Por Conclusão: esta é
precoces são filhos isso manifestam uma “prova científica”
de ets. talentos especiais da existência de
desde a infância. extraterrestres.

Basta considerar-se que determinada idéia seja firme e a


partir daí constrói-se um esboço coerente. Em religião a
prática é comum. As religiões trabalham com dogmas,
que são pontos estabelecidos como fundamentais. O
espiritismo tem os seus dogmas e até aí tudo bem. O
problema ocorre quando se afirma que as premissas
deduzidas dos dogmas constituem provas científicas.

As peculiaridades da natureza humana, com uma quase


infinita gama de variações, é um dado muito mais efetivo
para esclarecer a eclosão de pessoas dotadas de elevada
capacidade intelectual. Combinações genéticas
privilegiadas, constituições cerebrais afortunadas e todo

34
um emaranhado de interações, ocasionalmente
concentram-se nalgumas pessoas de forma vantajosa,
dando-lhes capacidade intelectual ou artística acima dos
padrões usuais.

Nascem pessoas dotadas de força física incomum; outras


são possuidores de agilidade acima da média; há os que
têm capacidade sensitiva admirável...por que não
nasceriam indivíduos com inteligências privilegiadas?
Teríamos de supor que as pessoas com força física
incomum teriam se exercitado bastante nas vidas
passadas; os dotados de agilidade, teriam vindo de uma
sucessão de vidas circenses, etc. É óbvio que teses assim
formuladas não se mantêm.

Seria preciso desenvolver uma teoria, bem sedimentada,


onde se demonstrasse que as qualidades extraordinárias
que algumas pessoas apresentam, tanto físicas quanto
mentais, pudessem ser ligadas a experiências adquiridas
em vidas pretéritas. E, até onde sabemos, nenhuma
explicação razoável foi apresentada. Não é boa atitude
isolar apenas um aspecto, por mais colorido que seja, e
utilizá-lo como prova de alguma coisa e deixando de lado
outras manifestações assemelhadas por não
"interessarem" à teoria.

Para que a hipótese da reencarnação fosse aplicada aos


gênios precoces, de igual modo deveria ser aplicada aos
atletas precoces, aos dotados de elevada acuidade
sensitiva, aos possuidores de resistência física acima do
comum, etc., etc.

35
Reencarnações numerosas, que dariam a algumas almas
dianteira intelectual sobre outras, é uma suposição muito
incerta para ser acatada como viável. A questão dos
gênios precoces quando vista de forma ampla, se torna
um argumento contrário à reencarnação em vez de
favorável. Vejamos:

• muitos gênios são limitados fora das áreas onde


se destacam. Pessoas geniais podem ser inábeis
em rotinas que os medianos executam com
facilidade. Os gênios possuem a energia mental
direcionada aos campos do saber onde
sobressaem; nas demais atividades estão dentro
da média, ou mesmo abaixo;
• no aspecto moral - apesar do tema "moral" ser
assunto ser um pouco complexo para ser debatido
em poucas linhas -, nem sempre os gênios
correspondem ao que deles se espera. Se fossem
almas experientes e sábias, como supõem os
apologistas do reencarnacionismo, veríamos os
gênios sempre com ilibado padrão de conduta.
Freqüentemente ocorre o contrário...;
• nem sempre a criatividade dos gênios é usada em
benefício da humanidade. São numerosos os
exemplos de pessoas superdotadas que
causaram grandes problemas aos que com eles
conviveram e à sociedade. Almas sábias não
agiriam desse modo;

• os chamados "gênios-idiotas" (idiot sevant)


constituem um desafio para os neurologistas e
psicólogos, e também uma ducha de água gelada
na tese de "almas experientes". Os gênios-idiotas
são capazes de feitos espantosos, como tocar um

36
instrumento musical com mestria sem nunca
terem estudado música. Existem relatos sobre
crianças que ao primeiro contato com um piano
interpretaram composições de elevada
complexidade. Jovens em tenra idade tão logo
tiveram acesso a pincel e tinta pintaram como
artistas veteranos. Adolescentes que mal sabem
ler efetuam cálculos matemáticos complicados
com a velocidade de um computador. O
espantoso é que boa parte dessas criaturas
prodigiosas possuem graves distúrbios mentais.
Algumas são tão retardadas que não podem fazer
muita coisa sozinhas. Fora do circuito onde
manifestam talentos não têm a menor capacidade
intelectual, são completamente incompetentes
para levar uma vida normal. Fica difícil justificar a
tese das variadas encarnações quando se leva
em conta os gênios idiotas.

37
DIFICULDADES...

Foi dito que a tese da reencarnação acarreta dúvidas.


Vamos destacar duas delas, deixando as demais para um
outro trabalho de maior amplitude.

1. o balanço populacional;

2. a evolução das almas.

O Balanço Populacional

A população do planeta aumenta progressivamente. Este


é um dado concreto: apesar das guerras, das epidemias,
do trânsito, dos fast foods, dos vícios, e tantas coisas que
ceifam precocemente a vida de milhões e milhões, o
número de habitantes do planeta está em contínuo
crescimento.

O espiritismo teoriza que as almas foram criadas antes


dos corpos. Portanto, não são gerados espíritos novos; os
que existem existem desde a criação. O que as almas

38
fazem é adentrar num novo corpo logo que lhes chegue a
vez de reencarnar. E assim, encarnando vida após vida, e
progredindo, chegam ao ponto ideal, à perfeição, quando
estarão livres dos retornos periódicos à carne.

Seria de esperar que o contingente populacional se


mantivesse equivalente ao longo das gerações. As
variações não seriam expressivas. Entretanto, o que
ocorre é o constante aumento do número de habitantes na
Terra.

O kardecismo não se abala ante essa questão, teoriza


sobre a existência de um fluxo migratório de almas entre
os corpos celestes, que seria a explicação para o
crescimento populacional.

Acontece que as “transferências espaciais” dão ensejo a


conjecturas de difícil comprovação. Por exemplo, alguns
autores esotéricos referem-se a uma imaginada migração
de almas da estrela Capela para a Terra. Essas almas não
estariam moralmente à altura do desenvolvimento
científico e tecnológico de Capela e foram condenadas a
viverem num planeta primitivo (neste caso, a Terra) até
que aprendessem bons modos. Tais espíritos, dizem,
foram responsáveis pelas grandes civilizações do
passado, quais a egípcia, a indiana e outras.

“Embora seja rotina, somente agora, graças ao


desenvolvimento tecnológico humano, os meios
de comunicação noticiam com freqüência a
explosão, nascimento e morte de estrelas e a
existência de outras galáxias do universo. A Terra
foi criada numa dessas explosões e logo

39
destinada ao recolhimento de exilados de outros
planetas, entre eles ‘Capela’. Várias fontes
espiritualistas confirmam a existência de Capela e
registram a imigração depois de ter ocorrido um
processo seletivo na população daquele planeta
seguido de explosão. Os seres menos evoluídos
ou que resistiram em evoluir foram enviados para
cá. Antes, durante e depois dessa decisão a
engenharia cósmica teve que elaborar estudos no
sentido de melhor acomodar os exilados e devido
à densidade vibratória do Planeta teve que
desenvolver uma criatura que acomodasse os
espíritos exilados. Essa ‘limpeza’ já está
acontecendo na Terra, gradativamente. Talvez
seja isso que muitas seitas profetizam como ‘juízo
final’.” (José Joacir dos Santos - jornalista e
terapeuta holístico)
___________________

“Segundo a crença espírita, milhares de anos


atrás, um grupo de seres oriundos de uma estrela
longínqua foi degredado para o nosso planeta.
Algumas tradições afirmam que essa estrela se
chama Capela e, desde a chegada desses seres,
ocorreram profundas transformações, delineando
novos rumos para a civilização que começava a
se formar no globo terrestre.
Já entramos no terceiro milênio, e começamos a
experimentar as turbulentas manifestações do
expurgo a que terá de se submeter o planeta
Terra para atingir sua nova fase evolutiva. Para a
doutrina espírita kardecista, esta é uma fase de
mudanças; ela explica que os espíritos aqui
instalados passaram por terríveis provações e
adversidades ao longo de inúmeras encarnações,
e todos tiveram o apanágio do livre-arbítrio.
Muitos aprimoraram a inteligência, em detrimento
do amor incondicional; outros se tornaram seres
amáveis e humildes, mas intelectualmente

40
atrofiados. Enfim, todos seguiram por caminhos
diferentes, mas tiveram oportunidades para
aprender as mesmas lições.” (“Exilados na
Terra – Nathalia Leite)

Provavelmente, haverá um momento em que se comprove


que Capela não abriga seres vivos inteligentes. Isso
porque as pesquisas científicas sobre viventes além da
Terra revelam que a eclosão de vida em qualquer parte
do cosmo não é um fato tão banal quanto julgam alguns:
a vida inteligente, caso exista em outras partes do
universo, será um evento raro.

E quando ficar evidente, acima de quaisquer dúvidas, que


Capela não abriga seres dotados de inteligência, que
dirão os defensores da suposta migração de almas?

Em passado não muito distante, pessoas falecidas na


Terra eram “localizadas” por médiuns nos planetas
próximos ao nosso. Vênus, Marte ou Saturno se tornava
o novo endereço dos que aqui viveram. No livro
“Reencarnação – o Sonho de viver muitas vidas”
abordaremos melhor a questão. Por ora, fiquemos com
algumas apreciações imprescindíveis para a compreensão
do assunto.

“Segundo os Espíritos, de todos os mundos que


compõe o nosso sistema planetário, a Terra é dos
de habitantes menos adiantados, física e
moralmente. Marte lhe estaria ainda abaixo,
sendo-lhe Júpiter superior de muito, a todos os
respeitos. O Sol não seria mundo habitado por

41
seres corpóreos, mas simplesmente um lugar de
reunião dos Espíritos superiores, os quais de lá
irradiam seus pensamentos para os outros
mundos, que eles dirigem por intermédio de
Espíritos menos elevados, transmitindo-os a
estes por meio do fluido universal. Considerado
do ponto de vista da sua constituição física, o Sol
seria um foco na alma primitiva, a inteligência e a
vida se acham no estado de gérmen."
(Livro dos Espíritos – questão 188 - Allan
Kardec).

→ Allan Kardec afirmou ter recebido tais


orientações dos espíritos superiores. Hoje
sabe-se que essas idéias são infundadas:
Marte, Júpiter, o Sol e todos os planetas e
satélites do sistema solar não abrigam vida
inteligente. Assim, os “espíritos” que
orientavam Kardec apresentaram informações
inverídicas ― (notem que Allan Kardec
declarou ter consultado os espíritos
merecedores de crédito).

→ Se os espíritos falharam ao discorrerem


sobre a realidade dos planetas do sistema
solar, como se pode dar crédito às revelações
sobre as migrações de almas, provindas de
Capela e de outras plagas remotas?

→ O espiritismo supõe que o cosmo regurgita


vida. Os seres viventes estariam espalhados
por todos os cantos do universo. Dizem
relatos espíritas que existem muitos astros
habitados por espécimes cientificamente
desenvolvidos. Não só planetas, quaisquer
corpos celestes servem de residência às

42
almas. Allan Kardec declarou que o sol era
utilizado como “ponto de reunião” de espíritos.
Estas idéias não são apoiadas pelas pesquisas
astronômicas.

→ Para o espiritismo, a declaração de Jesus: “Na


casa de meu Pai há muitas moradas” é uma
comprovação de que as criaturas de Deus
habitam vários planetas no cosmo.

→ Entretanto, a assertiva de Cristo de modo


algum pode ser entendida como ratificação da
existência de vida em outros mundos, o
contexto em que foi proferida não permite tal
ilação. É imprescindível analisar sob que
enfoque a frase foi dita, a fim de não
chegarmos a conclusão infundada. Jesus dizia
carinhosamente aos discípulos que lhes iria
preparar lugar no Céu, pois na "Casa do Pai"
havia muitas moradas. Fica difícil, baseado
nesse texto, fazer qualquer comentário sobre
a vida em outros planetas. A frase integra o
discurso de despedida de Jesus a seus
discípulos, quando o mestre percebia
iminente o início de seu flagelo, o qual
culminaria com a crucificação. Ele prepara o
coração dos colaboradores para os eventos
que seguiriam a sua prisão e deixa-lhes uma
mensagem de consolo e de esperança. Nada há
no discurso de Jesus que remeta à idéia de
vida extraterrena. O texto encontra-se no
Evangelho de João, capítulo 14. Façamos a
leitura:

“Não se turbe o vosso coração; credes em


Deus, crede também em mim.

43
Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não
fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos
lugar.
E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez,
e vos tomarei para mim mesmo, para que onde
eu estiver estejais vós também.
E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para
onde vais; e como podemos saber o caminho?
Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a
verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão
por mim. ...”

[Observa-se que não há no discurso de


Jesus qualquer insinuação a outros planetas
ou coisas semelhante.]

Quando o assunto é vida fora da Terra deparamos muito


folclore e pouca coisa objetiva. Desde o primórdio da
doutrina kardecista, em meados do século XIX, que
médiuns afirmam comunicar habitantes de outros
mundos, contudo essas comunicações não resistem a
uma avaliação.

Os “contatos” com habitantes de Marte, Vênus, Saturno


foram muito intensos há até alguns anos...Entretanto,
diminuíram grandemente após a Astronomia comprovar a
impossibilidade de existir vida em qualquer planeta do
sistema solar, além da Terra. Somente alguns visionários
ainda insistem.

Diamantino Coelho Fernandes é exemplo de médium


dito especializado em informações sobre os viventes de
outros planetas. Ele afirmava receber recados da Virgem
Maria e de Jesus Cristo e, certa ocasião, declarou que

44
Maria o brindara com notícias minuciosas sobre o planeta
Saturno. O que deu origem à obra intitulada “A Vida em
Saturno”, em cuja introdução lemos:

“Desejo dizer algumas palavras aos leitores deste


pequeno livro ditado pelo Espírito da Excelsa Mãe
de Jesus, justificando o seu aparecimento após a
publicação do Corolarium, considerado a obra
mediúnica mais importante aparecida na Terra
neste século findante. Saturno vem sendo
observado e estudado há muitos séculos por
diversos cientistas da astronomia, porém, devido
à sua posição longínqua de nosso pequeno
mundo terreno, muito pouco ou quase nada se
sabia a respeito de sua população, nível
espiritual, hábitos e costumes, dados realmente
impossíveis de desvendar à simples observação
telescópica...Desejando contribuir na medida do
possível para o maior conhecimento da vida e
costumes dos habitantes de Saturno, eu pedi ao
querido Irmão Thomé para consultar a Excelsa
Mãe de Jesus, sobre se lhe seria possível obter
maiores informes acerca da vida em Saturno...

Saturno é um dos planetas mais evoluídos do


nosso sistema solar, abrigando uma população
de almas encarnadas calculada em cerca de
sessenta bilhões. Dizendo almas encarnadas, eu
desejo esclarecer que se trata de corpos físicos
muito semelhantes aos da Terra, apenas um
pouco mais leves, porque constituídos de matéria
mais rarefeita. As almas encarnadas em Saturno
possuem hábitos muito semelhantes aos da
Terra, sendo, porém, mais refinados...”
(A VIDA em SATURNO – Diamantino
Coelho Fernandes).

45
Diamantino Coelho é respeitado no meio espírita e seus
livros ainda vendem bastante. No texto acima vimos que
ele intitula um livro de sua autoria de “a obra mediúnica
mais importante do século”.

O mais surpreendente na obra de Diamantino é a


afirmação de que Saturno possui vida abundante e uma
civilização avançada. A ciência descarta esse sonho: as
pesquisas dão conta que Saturno é um planeta inóspito.

Diamantino Coelho, além de “descobrir” vida em


Saturno, vai mais longe, descreve em minúcias a rotina
dos saturninos. Garante que as informações lhe foram
passadas pela Mãe de Jesus! O escrito de Diamantino
Coelho, e outros do gênero, ilustra a fantasiosa
criatividade de adeptos da reencarnação.

Diamantino Coelho não explica uma série de fatos que


tornaria impossível haver vida em Saturno, pelo menos
da forma como conhecemos. Ele diz que os saturninos
têm uma vivência muito semelhante à nossa, seriam
apenas um pouco mais evoluídos e melhor organizados.

Um detalhe, dentre vários que Diamantino não aborda, é


sobre a atmosfera de Saturno, cuja constituição é
diferente da Terra. Nós respiramos principalmente
oxigênio e nitrogênio. Os saturninos respirariam
hidrogênio, hélio e metano. Essas peculiaridades fariam
com que os supostos habitantes de Saturno possuíssem
uma constituição orgânica completamente distinta da
nossa. Outro detalhe: em Saturno venta constantemente.
As tempestades de vento que lá ocorrem fazem os

46
devastadores furacões e tufões terrestres parecerem brisas
amenas. Diamantino não explica como os saturninos
enfrentam as furiosas ventanias. Caso houvesse vida em
Saturno - possibilidade que a ciência descarta - os que lá
vivessem seriam tão diferentes de nós que talvez nem os
reconhecêssemos como seres vivos. Jamais poderiam ser
como afiançou o médium: “corpos físicos muito
semelhantes aos da Terra, apenas um pouco mais leves,
porque constituídos de matéria mais rarefeita”.

Sobre a vida fora da Terra, a ciência considera plausível


que existam outros viventes no Cosmo. Contudo,
nenhuma comprovação foi encontrada. Cientistas
dedicados estudam o assunto com invulgar seriedade,
mas uma resposta conclusiva até o presente não surgiu.
No livro nominado “Esoterismo – fantásticas
descobertas” apresentamos comentários mais amplos.

Alguns teóricos do espiritismo sustentam que as


descrições de vida inteligente em Marte, Saturno e outros
seriam reais. Sucederia que os moradores desses planetas
não estariam interessados em ser vistos por nós, pois
haveria problemas de toda a ordem caso pudéssemos
contatá-los. Dessa forma, criam um “campo magnético”
em torno deles que os torna invisíveis... Como exercício
de imaginação tudo bem, porém não existe qualquer dado
concreto que dê apoio a tal idéia.

Quando o conhecimento sobre o sistema solar era


incipiente, multiplicavam-se mensagens mediúnicas
alegadamente vindas dos planetas vizinhos. O
desenvolvimento da astronomia desmentiu tais ficções.

47
Em conseqüência, os seres que se acreditava vivessem
nos astros do sistema solar, misteriosamente “sumiram”.
Somente alguns renitentes acreditam haver vida nos
planetas próximos à Terra e, por conta dessa insustentável
crença, continuam a receber “informações”. Outros
médiuns passaram a fazer contatos com moradores de
estrelas distantes...

Diamantino Coelho é um exemplo dentre muitos. O


próprio Allan Kardec proferiu declarações sobre a vida
em alguns dos planetas do Sistema Solar, que não
guardam nenhuma semelhança com a realidade.

48
EVOLUÇÃO DAS ALMAS

O conceito de evolução dos espíritos integra a teoria


reencarnacionista, mas apresenta algumas dificuldades,
que comprometem a tese.

É dito que a reencarnação promove o aprimoramento das


almas. A cada vivência o espírito melhoraria um pouco.
Allan Kardec declarou que o espírito não regride, alguns
progridem rapidamente, outros são mais lentos...

O espiritismo ensina que, após a morte, a pessoa reavalia


a vida que levou e prepara o caminho para uma nova
encarnação em condições melhores. Desse modo, está em
constante aprimoramento e evoluindo sempre.

Levando em conta o pensamento espírita, esperar-se-ia


que as almas se esforçassem por acelerar a caminhada
rumo à máxima evolução. Ninguém pretenderia se atrasar
nessa jornada. Assim, não haveria grande distanciamento
entre os espíritos. As diferenças seriam mínimas e
devidas a pequenos tropeços. Jamais poderíamos
contemplar o que vemos no mundo: juntamente com
pessoas exemplos extremados de bondade, coexiste quem
pratique o mal em grau quase inacreditável.

49
→ A teoria da evolução das almas não é muito
firme. Ela postula que as almas foram criadas
“simples” e dotadas de livre-arbítrio para
procurarem o que lhes conviesse, ou o bem ou
o mal. A levar em conta a tese, a maioria dos
seres opta pelo mal e atrasa enormemente sua
caminhada evolucionista. A confusão é tal que
convivem no mesmo plano espíritos de alto
nível moral juntamente com outros no mais
baixo nível da barbárie. Isso fere a lógica da
teoria, pois seria esperável que as almas
buscassem ardentemente o bem.

As grandes diferenças morais entre os seres não é bem


explicada pelas teses espíritas. A hipótese de que algumas
almas na corrida pela perfeição adquirem grande
vantagem sobre outras, contraria a mecânica do processo.
Se as almas foram criadas em iguais condições, com igual
capacidade de percepção e de entendimento, seria
inaceitável conceber que houvesse marcantes diferenças
na evolução dos espíritos.

Por mais boa vontade que se tenha para com a idéia da


reencarnação, vemos que existem diversos pontos que
tornam a tese de frágil sustentação.

50
CAPÍTULO 3

Regressão, promessa de solução


dos problemas existenciais

O seguinte artigo, do escritor José Reis Chaves, traz


informes interessantes sobre a regressão de vidas:

"A Era da TVP


A regressão de memória ou Terapia de Vida
Passada (TVP) limitava-se antes a ir só até à vida
intra-uterina. Hoje, ela vai até às outras vidas
anteriores do espírito.
A TVP acessa o arquivo “acashico” da Teosofia,
do Rosacruz, dos orientais, maçons e do Livro da
Vida do Apocalipse, o que implica aceitar a

51
reencarnação, que é a doutrina mais lógica que
existe. Porém, a maioria dos dirigentes religiosos
cristãos prefere defender seus interesses
particulares a aceitarem o óbvio. Sabe-se,
todavia, que muitos pastores, padres e bispos
submetem-se sigilosamente à TVP. E o certo é
que a reencarnação está em várias partes da
Bíblia, como lemos em Jó 8,9: “Somos de ontem,
e nada sabemos”. Mas esses dirigentes religiosos
vão chegar lá! Depois de mais de 300 anos do
Heliocentrismo, a Igreja acabou reconhecendo
oficialmente que Galileu estava certo, tirando
dele, recentemente, a excomunhão!
A TVP é uma realidade científica, e não religiosa.
E conta hoje com o aval internacional de grandes
representantes da ciência, como os americanos:
psiquiatras Dr. Morris Netherton, Dr. Brian Weiss,
Dra. Helen Wambach e Dr. Roger Woolger, e
psicólogos Dr. Bruce Goldberg e Dr. Ken Wilber,
um junguiano que revoluciona a Psicologia
Moderna, e autor de “O Espectro da
Consciência”; o psiquiatra inglês Alexandre
Cannon, que relutou durante 50 anos em aceitar
a reencarnação, e que comanda uma equipe de
70 terapeutas que já fizeram, em conjunto, mais
de um milhão de regressões; o canadense Dr.
Joel Whitton, Catedrático de Psicologia da
Universidade de Toronto, Canadá; e o alemão Dr.
T. Dethlefsen, Catedrático de Psicologia da
Universidade de Munique, Alemanha. Obras de
TVP desses eminentes cientistas e de outros
estão editadas em várias línguas em todo o
mundo.
No Brasil temos as psiquiatras Dra. Maria
Teodora, da UNICAMP, com vários cursos de
TVP nos Estados Unidos, autora de “Os
Viajantes”, e Presidente da SBTVP (Sociedade
Brasileira de TVP), Campinas, SP, e a Dra. Maria

52
Aparecida Siqueira Fontana, Presidente da
ANTVP (Associação Nacional de TVP),
Campinas, SP, e muitos outros grandes médicos
e psicólogos de todos os Estados brasileiros que
o espaço não nos permite citar aqui.
Podem fazer o curso de TVP médicos e
psicólogos. Locais: na SBTVP, em Campinas, no
INTVP (Instituto Nacional de TVP), no Rio de
Janeiro, e na ANTVP, em Campinas e Belo
Horizonte, onde tem início uma turma, de
fevereiro de 2003 a julho de 2004. Informações
com os terapeutas Dr. Luís Carlos Fróis: (031)
3213-8499 e Dr. Luís Carlos Braga: (031) 3222
6596.
A TVP está curando as pessoas de seus males
provenientes não só de um passado propínquo,
mas também de um passado longínquo. É a nova
era da medicina. A era da TVP! (Autor do livro
“A Reencarnação Segundo a Bíblia e a
Ciência”)

Sugerimos que os leitores examinem esse artigo com


bastante atenção, pois está coalhado de incoerências. Veja
se consegue identificá-las. No capítulo 11 o analisaremos
detalhadamente, por hora destacamos a manifestação do
autor sobre o potencial da TVP: curar os males oriundos
do passado recente e traumas originados em vivências
remotas. Atribui-se à terapia de vidas passadas valor
terapêutico dificilmente encontrado em outro segmento
da medicina. Mais adiante, quando apresentarmos
considerações sobre Brian Weiss, veremos que o
terapeuta norte-americano, à semelhança de Reis Chaves,

53
afirma que a TVP é superior a qualquer outra técnica
médica.

→ José Reis Chaves declara que a TVP é uma


realidade científica! supõe-se, então, que a
terapia de vidas esteja firmada em teorias de
boa fundamentação. Portanto, se conhecermos o
embasamento científico da TVP, ficará fácil
admitirmos (ou não) sua plausibilidade.

Os terapeutas regressionistas indicam a terapia de vidas


passadas para uma vasta gama de males psíquicos:

“A Terapia de Vidas Passadas poderá auxiliar,


também desenvolvendo novos potenciais,
despertando talentos e integrando a pessoa com
o seu verdadeiro propósito da vida. É indicada
nos casos de:
Sintomas físicos: doenças crônicas, doenças
repetitivas, tensão pré-menstrual, enxaquecas,
tensões corporais, dores e problemas sem
possibilidade de diagnóstico médico.
Distúrbio de sono: insônia, excesso de sono.
Distúrbios de alimentação: bulimia, anorexia.
Pesadelos freqüentes.
Dificuldades ou bloqueios com relação à
sexualidade, abusos sexuais.
Medos: medos conscientes e inconscientes
(apreensão sem causa definida), fobias, pânicos,
síndrome de pânico.
Timidez, inibições, insegurança, culpa,
passividade, covardia, autocensura, medo de
errar, medo de se expressar em público.

54
Traumas e bloqueios que limitam ou impedem o
desenvolvimento pessoal, profissional ou
emocional.
Compulsões, vícios, manias, comportamento
autodestrutivo.
Ansiedade, angústia, depressão, apatia, tristeza
crônica.
Ciúmes, possessividade, desconfiança.
Problemas de relacionamento familiar, conjugal,
social ou profissional. Relacionamentos difíceis,
dolorosos, entre marido e mulher, pais e filhos,
entre irmãos, etc.
Carência afetiva, medo da solidão, da rejeição e
do abandono.
Sentimentos bloqueados.
Aversões diversas, contrariedades, revolta,
impulsividade, agressividade, perda de controle.
Dificuldades financeiras, dificuldade para
concretizar e atingir objetivos.
Preocupação excessiva com o futuro.”
(www.eradourada.com.br/)

A proposta terapêutica da TVP é ambiciosa. Num


primeiro momento é possível admitir que nenhuma
técnica médica oferecesse cuidar de males tão variados se
não fosse calcada em resultados consistentes.

Não é preciso ser especialista em psicologia para perceber


que quem promete curas para tão vasta gama de males,
com o uso de uma terapêutica superficialmente
conhecida e cheia de contradições, está movido

55
unicamente pela paixão. Não acontece a prática de uma
boa medicina, a empolgação dos adeptos os leva a
valorizar excessivamente um método eivado de
incertezas.

É interessante destacar que a psicoterapia baseada na


hipnose (sem regressões a vidas passadas) também
oferece alívio para os problemas relatados. Com a
vantagem de ser a hipnoterapia um método melhor
sedimentado. Ou seja, a hipnoterapia pode ser aplicada no
trato desses males e dispensar o uso das vidas passadas. A
terapia de regressão de vidas entra no processo hipnótico
como um ingrediente colorido, que pode estimular a cura
em pessoas dadas a superstições.

→ É indispensável examinar-se as postulações da


TVP, para que possamos concluir se a prática
tem coerência, ou se trata de uma proposta
embasada em doutrina sem consistência. Esta é a
maneira adequada de formar um juízo seguro
sobre o assunto.

Ao examinarmos o discurso da terapia de vidas passadas,


percebemos de imediato a inserção de componentes não
científicos. Relatos regressionistas falam da participação
de espíritos desencarnados durante as lembranças. É
como se os espíritos pegassem carona nas regressões para
enviarem seus recados. Brian Weiss e Célia Resende
produziram textos ilustrativos:

56
“Meus braços estavam arrepiados, Catherine não
podia conhecer aqueles dados. Não havia nem
onde buscá-los...Era muita coisa, muitas
informações específicas...E se ela podia revelar
essas verdades, o que mais havia? Eu precisava
saber mais...
Quem, gaguejei, quem está aí? Quem lhe diz
estas coisas?
‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres
me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.’
Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma
mão descera e alterara irreversivelmente seu
curso. Todas as minhas leituras, feitas com um
cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade
cética, se encaixavam. As lembranças e
mensagens de Catherine eram verdadeiras.
Minhas intuições sobre a exatidão de suas
experiências estavam corretas. Eu tinha fatos.
Tinha a prova.” (Muitas Vidas, Muitos
Mestres – Brian Weiss)
__________________________________

“Pude perceber isso em minha prática clínica,


quando me deparei com vítimas de obsessores,
como ocorreu durante uma sessão de terapia
com uma paciente chamada Regina... Nestes
casos, primeiro entro em contato com as equipes
espirituais, para, em harmonia, cada qual cumprir
suas tarefas. Depois, conversando com o ser
desencarnado, procuro ajudá-lo com informações
esclarecedoras, emitindo impulsos mentais de
força eletromagnética capazes de criar um campo
de força protetora. A equipe espiritual, atuando na
dimensão astral, utiliza esse campo para

57
completar o trabalho, muitas vezes de
imobilização do obsessor, numa forte rede
magnética.” (TERAPIA DE VIDAS
PASSADAS – Célia Resende)

Boa parte dos textos que exaltam as qualidades da TVP


seguem a mesma linha desses. Depreende-se que a terapia
de vidas passadas não se restringe às lembranças de
outras vidas: também funciona como canal de
comunicação com o outro mundo. Serve, ainda, para
identificar a presença de obsessores...e outras aplicações
do gênero...

→ Nota-se que diversos elementos ocultistas estão


inseridos nos preceitos da terapia de vidas, isso
a aproxima do esoterismo e a distancia da
ciência. Assim, a declaração de que a TVP seja
uma realidade científica fica abalada.

Nos próximos capítulos apresentaremos detalhes da


teoria da regressão a vidas passadas.

58
CAPÍTULO 4

Lembranças...

A TVP garante que lembrar vidas passadas é prática


saudável, porque facilita a descoberta de traumas ocultos
e acarreta uma experiência engrandecedora. As
declarações dos terapeutas regressionistas são recheadas
de otimismo e de garantias de curas quase milagrosas.

Uma terapeuta regressionista, cujo trabalho será analisado


neste livro, defende que praticamente todos os males do
espírito sejam conseqüência de traumas em vidas
passadas.

Leiamos alguns comentários ilustrativos:

59
"TERAPIA DE VIDA PASSADA: DOENÇAS E
CURA

A Terapia de Vida Passada, o estimula a buscar


em si, no seu próprio inconsciente o segredo para
viver melhor e mais feliz. Desatando alguns nós,
às vezes muito doídos, que ele vem trazendo ao
longo do tempo no seu inconsciente. Abrindo esta
caixinha de segredos, podemos ter muitas
surpresas...são histórias e fatos vividos por nós,
portanto merecem muito carinho e muito respeito
ao serem olhadas e remexidas. O terapeuta
ajudará você nesta busca, e terá que fazê-lo com
muito cuidado. Vamos buscar respostas para que
você possa ser mais feliz e conseqüentemente
aqueles que o rodeiam também...Quem será
você? resultado atual de quantos personagens
vividos através dos tempos, somatória de quantas
emoções. Pensando assim dá para começarmos
a entender porque as vezes nós nos achamos tão
complicados.... Assim funciona a TVP. Nada mais
sendo que um passeio pelo passado. Vale a pena
abrir este baú." (MARIA APARECIDA
FONTANA - formada em TVP pela
Associação Brasileira de Terapia de Vida
Passada.)

__________________________________

60
“A tvp atua fora dos limites do espaço e do
tempo fazendo um trabalho de arqueologia da
alma, buscando a origem das dificuldades que
afligem a nossa vida. Esse procedimento visa à
retirada das camadas de defesa cristalizadas
sobre a memória, uma após a outra, ao longo de
várias encarnações. ...Com a regressão e terapia
de vidas passadas, podemos dissolver os
nódulos kármicos, liberando o fluxo de energia
retido no passado e, assim, aumentar potencial
que conduz a uma qualidade de vida melhor."
(CÉLIA RESENDE – Terapia de Vidas
Passadas).

__________________________________

“O que são Intervidas?


Intervidas é o período entre duas encarnações.
Ou seja, é o período em que estamos no mundo
espiritual.
É possível, durante a regressão, “recuperar”
memórias relacionadas à este período.
Normalmente, buscamos nesta fase memórias
relacionadas ao planejamento da vida atual.”
(Trecho de um artigo publicado no jornal da
Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas
em Terapia de Vivências Passadas - ABEP-
TVP)

Os regressionistas garantem que o período que a alma


vive fora do corpo, chamado “intervida”, também pode
ser lembrado. Caso a regressão funcionasse da forma
como asseveram seus partidários, teria um alcance jamais
imaginado por qualquer outra forma de terapia...

61
As lembrança de outras vidas são consideradas altamente
saudáveis pelos praticantes da regressão.

Em contradição, o espiritismo kardecista, há mais de 150


anos, ensina que a recordação de vidas é danosa aos seres
humanos, conforme veremos nos textos seguintes.

O regressionismo defende que lembrar existências


pregressas faz bem; o espiritismo afirma que tais
lembranças são danosas:

“Em vão se objeta que o esquecimento constitui


obstáculo a que se possa aproveitar da
experiência de vidas anteriores. Havendo Deus
entendido de lançar um véu sobre o passado, é
que há nisso vantagem. Com efeito, a lembrança
traria gravíssimos inconvenientes. Poderia, em
certos casos, humilhar-nos singularmente, ou,
então, exaltar-nos o orgulho e, assim, entravar o
nosso livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias,
acarretaria inevitável perturbação nas relações
sociais." (O EVANGELHO SEGUNDO O
ESPIRITISMO – capítulo V)

__________________________________

“Mas, ao mesmo tempo que o Espírito recobra a


consciência de si mesmo, perde a lembrança do
seu passado...o seu renascimento lhe é um novo
ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda
aí a bondade do Criador se manifesta, porquanto,
adicionada aos amargores de uma nova
existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e
humilhante, do passado, poderia turbá-lo e lhe
criar embaraços. Ele apenas se lembra do que
aprendeu, por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é

62
dado ter uma intuição dos acontecimentos
passados, essa intuição é como a lembrança de
um sonho fugitivo." (A GÊNESE, Os Milagres e
as Predições Segundo o Espiritismo).

__________________________________

“Se reencarnamos para ressarcir dívidas, não


seria interessante guardar a lembrança delas?
Não haveria maior facilidade em aceitar
sofrimentos e dissabores que ensejam o resgate?
O objetivo primordial da existência humana é a
evolução. O resgate de dívidas é apenas parte do
processo. Quanto ao esquecimento, funciona em
nosso benefício. Seria impossível incorporar,
sem perturbador embaralhamento, o rico, o
pobre, o negro, o índio, o branco, o amarelo, o
analfabeto, o letrado e tudo mais que já fomos,
em múltiplas encarnações. É ilustrativo que muita
gente vai parar em hospitais psiquiátricos
simplesmente por sofrer a pressão de pálidas
lembranças, envolvendo acontecimentos
pretéritos.
Chegará o tempo em que recordaremos
plenamente das vidas anteriores?
Sim, na medida em que se torne mais sofisticado
o cérebro, habilitando-nos a recuperar
informações confinadas no inconsciente; em que
se depure o sentimento, para que contemplemos
o passado sem constrangimento; em que
sejamos capazes de evitar desajustes
decorrentes de um embaralhamento de
lembranças? Levará milênios, talvez, mas
chegaremos lá.” (Reencarnação: Tudo o que
você precisa Saber - Richard Simonetti)

63
Os espíritas que aderiram ao regressionismo parecem não
perceber que essa tese agride uma das premissas do
kardecismo: o esquecimento das existências pregressas.
Não sabemos como conseguirão harmonizar o conflito. É
difícil conciliar teses antagônicas: uma idéia anula a
outra...

Aliás, alguns espíritas mais atentos se pronunciam


contrários ao regressionismo, (noutro capítulo
apresentaremos textos exemplificativos). Porém, outros
kardecistas, como José Reis Chaves (do qual
apresentamos diversos artigos neste livro), abraçam a
teoria sem qualquer remorso. Estes, ou não vêem, ou não
querem ver, a contradição entre o kardecismo e o
regressionismo.

Em termos “lógicos” pode-se afirmar que a suposição


sobre os malefícios das lembranças tem mais sentido.
Basta pensar um pouquinho nas diversas situações que as
recordações podem desencavar, para concluir que o
melhor seria não lembrar. Veja no capítulo 9, sob o título
“Almas Gêmeas”, uma reflexão sobre o assunto.

64
CAPÍTULO 5

Regressão, análise de um caso

Analisemos um caso de regressão, relatado por Célia


Resende, uma dedicada terapeuta regressionista.

“Adélia, uma jovem assessora de imprensa, de 27


anos, rememora uma vida sua como um homem
participante da Revolução Francesa. É acusado,
aprisionado e, após um interrogatório traumático,
acaba denunciando seus companheiros. Ao
confrontar um deles antes de ser decapitado, é
acusado de traidor. Isso o deixa transtornado,
pois, ao ser preso, fora abandonado por eles,
sofrendo torturas insuportáveis. Ainda assim, fora
considerado traidor. Enquanto a terapia se
desenvolvia, reestimulada vivenciava o momento
do interrogatório, deslocando a figura do
inquisidor para o meu papel de terapeuta.

65
A cada comando que eu dava, ela seguia em
silêncio e com contrações musculares, tentando
desta vez não abrir a boca, como fizera no
passado. Durante quase uma hora, qualquer
comando era recusado com silêncio, até que
percebi o que estava acontecendo e decidi
comunicar-lhe que ela não precisava responder a
mais nada. Poderia permanecer calada por
quantas sessões quisesse. Assim consegui
vencer o bloqueio causado pela fusão das
vivências do trauma do interrogatório, que no
presente ela tentava compensar com o silêncio,
mudando a realidade para não se sentir traidor.

Com a terapia de regressão, muda-se o enfoque


e, deslocando-se o ponto de vista do observador,
leva-se o paciente a confrontar e superar seus
medos e a sair da paralisação que impede sua
evolução nesta vida...” (CÉLIA RESENDE –
Terapia de Vidas Passadas – Nova Era – 2000).

Célia Resende é estudiosa de temas ocultistas, conhece


assuntos e autores esotéricos como poucos. É, também,
uma apaixonada terapeuta regressionista, e utiliza a
terapia de vidas passadas, conforme declara, para
"desatar os nós do inconsciente". Das idéias dessa
autora faremos adiante uma análise acurada.

Nessa narrativa deparamos uma típica sessão de TVP e a


metodologia aplicada na solução do trauma da paciente.
Um bom caso para avaliação: Adélia, a jovem assessora
de imprensa, apresentava dificuldades de relacionamento:
preferia ficar calada a falar.

66
Célia Resende investiga o caso e descobre que a moça
fora um revolucionário (um homem) durante a Revolução
Francesa. A versão masculina de Adélia, havia sido
preso e torturado, terminando por delatar os
companheiros e por isso recebera a pecha de traidor.

→ Célia Resende apresenta esse “diagnóstico”


com admirável tranqüilidade: claramente
acontece a troca da boa psicologia por
suposições nebulosas. A profissional não
levou em conta as muitas dificuldades
embutidas na hipótese de que alguém possa
carregar consigo traumas gerados em
encarnações passadas.

A terapeuta conclui que a origem das contradições


existenciais da sofrida Adélia não estava em situações
vividas nesta existência. Fora, sim, a Revolução Francesa
a causadora dos problemas de comunicação da paciente!
E quem sofreu o trauma não foi Adélia, foi uma figura
masculina na qual Adélia estave encarnada. No entanto,
dessa figura masculina não existem informações que a
identifiquem com alguém que realmente tenha existido.

→ Esta é uma característica de muitas das


regressões, talvez da maioria delas: as
personalidades recordadas não têm nome,
não possuem filiação...não se relata coisa
alguma que lhes permita identificá-las...são
apenas nebulosos desconhecidos...nada mais!
Os profissionais que lidam com o
regressionismo não levam em conta este
importante aspecto: a maior parte das
regressões são descrições difusas, mais

67
assemelhadas a sonhos que a informações
reais. Somente poucas narrativas trazem
informes substanciais que permitam uma
averiguação da suposta revivência. Na
maioria das lembranças não são
apresentados dados importantes para a
identificação da personalidade pretérita. Se
alguém está a recordar uma vida passada,
deveria recordar em detalhes quem foi.
Sonhar com um roteiro vago, pouco
detalhado, põe sob suspeição a realidade das
lembranças.

Os métodos tradicionais de tratamento de fobias e


neuroses buscam que o paciente perceba com clareza os
eventos que originaram seus desajustes. A visão
esclarecida facilita uma postura existencial equilibrada.
Muitas pessoas não têm a ventura de crescerem em
ambientes psicologicamente saudáveis, o que ocasiona
desarmonias psíquicas variadas. O trabalho do psicólogo
ou do psiquiatra é auxiliar o doente a superar seus
traumas e adquirir uma disposição saudável diante da
vida.

A TVP desloca a origem dos desajustes da personalidade.


Na ótica do regressionismo, esses desajustes são
originados em tragédias acontecidas em vivências
passadas. O problema é que o embasamento para essa
teoria é muito frágil.

Voltemos ao caso da Assessora de Imprensa:

68
A terapeuta identificou na vida passada de Adélia uma
personalidade masculina, que vivera durante a
Revolução Francesa e participara de um grupo
revolucionário. Entretanto, a moça (na ocasião encarnada
num homem) não tivera sorte como agitador: foi preso e
torturado, o que o levou a denunciar seus amigos.

Na prisão um companheiro o magoou, acusando-o de


traidor. A imerecida incriminação feriu profundamente
os sentimentos de Adélia-homem e, durante séculos,
ficou incrustada em sua mente, vindo a refletir na
coantemporânea personalidade. Resultado: Adélia tornou-
se uma pessoa com sérias dificuldades de comunicação...

Vamos acatar provisoriamente a tese de Célia Resende,


para que possamos avaliar a encrenca na qual Adélia se
meteu: de fato, é doloroso receber uma infamante
acusação, principalmente quando se é inocente. No caso
de Adélia, o trauma a acompanhou séculos afora.

Surge uma dúvida: por que ela (ou ele), durante a


entrevida - (assim chamado o período que a alma estaria
desencarnada) -, não refletiu sobre a injusta apreciação,
ou não conversou com o espírito de seu acusador, ou com
qualquer outra alma mais experiente, a fim de esclarecer
o mal-entendido? Desse modo, a questão seria
equacionada e Adélia se veria livre do trauma. Portanto,
mesmo considerando a suposição regressionista,
teríamos dificuldades em entender o porquê da alma de
Adélia permitir que a mágoa florescesse indefinidamente.

69
Mais uma questão: da Revolução Francesa até hoje
decorreram mais de duzentos anos. Imaginando-se que a
reencarnação fosse real, seria de supor que Adélia
houvesse voltado à vida algumas vezes. Mesmo assim,
ainda não conseguira solucionar a pendência psíquica! A
moça carregava o fardo traumático de uma falsa acusação
e passados dois séculos o problema permanecia nela
enraizado!

Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

Daquilo que a doutora Célia contou sobre Adélia,


percebe-se que a moça possuía uma "personalidade
tímida". A timidez é uma fragilidade emocional que
apresenta diversas manifestações. Para o tímido é
dificílimo tomar atitudes que os descontraídos assumem
com naturalidade. Atividades que a maioria realiza sem
pestanejar, como pedir informações a um desconhecido, o
tímido, coitado, sofre só por pensar na idéia.

Adélia tinha receio de comunicar-se com outras pessoas:


pouco falava, evitava discussões, temia defender suas
opiniões. O nascedouro de suas angústias certamente
seria encontrado no ambiente em que viveu. Pais, avós,
tios, professores, enfim, quaisquer pessoas capazes de
influenciar a personalidade em formação, podem ter
contribuído para torná-la medrosa. Adélia talvez tenha
sido criada de forma repressiva ou, quando criança,
absorvido medos neuróticos de adultos...

Existem métodos eficazes de enfrentar casos da espécie


com as terapêuticas tradicionais, que obtêm bons

70
resultados, sem necessidade de recorrer a sonhos de
vidas passadas.

Contudo, a Dra. Célia concluiu que havia em Adélia um


"nó cármico" e se dispôs a desatá-lo.

A idéia de "nó cármico" ou "resíduo cármico" constitui


um conflito com a idéia da reencarnação. A conceituação
reencarnacionista estabelece que cada encarnação é o
resultado da vivência anterior. Assim como ao subir-se
uma escada um degrau serve de apoio para o passo
seguinte, acredita-se que cada nova existência esteja
baseada na imediatamente precedente. No Além a criatura
realizaria um balanço de seus atos e planejaria a próxima
vivência, na qual buscaria purgar os erros cometidos na
vida precedente.

A idéia de "resíduos" ou "nós cármicos" agride, portanto,


os postulados do espiritismo kardecista, que é de onde o
regressionismo retira seus conceitos.

“...No intervalo de suas encarnações, o Espírito


progride igualmente, no sentido de que aplica ao
seu adiantamento os conhecimentos e a
experiência que alcançou no decorrer da vida
corporal; examina o que fez enquanto habitou a
Terra, passa em revista o que aprendeu,
reconhece suas faltas, traça planos e toma
resoluções pelas quais conta guiar-se em nova
existência, com a idéia de melhor se conduzir.
Desse jeito, cada existência representa um passo
para a frente no caminho do progresso, uma
espécie de escola de aplicação." (A GÊNESE OS
MILAGRES E AS PREDIÇÕES SEGUNDO O
ESPIRITISMO – Allan Kardec)

71
O "nó cármico" de Adélia jamais poderia acontecer, visto
que ela, no Além, haveria de realizar um retrospecto de
sua vida e resolvido a seqüela da falsa acusação.

É difícil especular sobre o resultado a longo prazo de


"curas" com base na TVP. O certo é que a fundamentação
dessa prática é incongruente. Os terapeutas
regressionistas podem estar a produzir um "efeito
placebo", que não elimina a causa da doença, apenas
afasta temporariamente os sintomas.

→ O placebo é um produto neutro, destituído


de princípio medicinal, mas que ocasiona um
resultado aparentemente positivo no
tratamento de alguma moléstia. Há casos em
que o placebo é capaz de debelar doenças,
notadamente quando o doente acredita
estar a ingerir um remédio verdadeiro e,
ainda, quando se trata de mal de menor
gravidade. Em outras situações, pode
suprimir sintomas e ocasionar falsa
impressão de cura. Ao abandonar o
tratamento de uma doença grave, por sentir
melhora psicológica, o doente dificulta a
cura efetiva.

72
CAPÍTULO 6

Brian Weiss

“Muitos poucos detalhes escapavam à minha


capacidade obsessiva de análise.” (Brian
Weiss)

O nome de Brian Weiss está ligado à terapia de vidas


passadas. De fato, trata-se de um dos mais festejados
regressionistas da atualidade. É certo que vários
praticantes da regressão não o incluem dentre os
melhores representantes da classe, mesmo assim os livros
do Dr. Brian são vendidos aos montes. Sua obra mais

73
famosa “Muitas Vidas, muitos mestres” teve milhões de
exemplares distribuídos em todo o mundo.

Vamos por ora resistir ao impulso de afirmar que o citado


livro contém exposições de pasmante ingenuidade,
porque dizer tal coisa sem explicar a razão pode soar
como leviandade, ou como agressão gratuita.
Deixaremos, pois, para o final da explanação o uso dos
qualificativos adequados.

Brian Weiss apresentou singulares conceituações sobre a


terapêutica regressionista. Essas conceituações ferem
postulados das psicoterapias tradicionais, apesar disso, o
Dr. Brian as defende com a firmeza de alguém que parece
saber o que diz. O médico afirma ter descoberto um novo
caminho na medicina, muito mais eficiente que a
metodologia clínica que utilizara até então.

Quem é Brian Weiss? Vejamos algumas declarações a


seu respeito:

“O professor Weiss é psiquiatra e neurologista de


renome, formado pela Columbia University, com
uma série de títulos universitários, membro das
mais importantes associações científicas norte-
americanas e, ainda, autor de trabalhos médicos,
alguns dos quais premiados, e da mais alta
relevância.” (Lívio Túlio Pincherle – prefácio do
livro "Muitas Vidas, Muitos Mestres").

74
“Depois de formar-me com distinção pela
Universidade de Colúmbia e de terminar o meu
curso na Faculdade de Medicina da Universidade
de Yale, fui também residente nos hospitais de
ensino da Universidade de Pittsburgh e da
Universidade de Miami. Nos onze anos seguinte,
dirigi o Departamento de Psiquiatria do Hospital
Mount Sinai, de Miami. A essa altura, eu havia
escrito muitos estudos científicos, publicado
artigos e estava no auge de minha carreira
acadêmica.” (SÓ O AMOR É REAL – Brian
Weiss)
"Eu o considero um autor sério. Ele tem um
currículo excelente" (Walter Negrão -
empresário)

"O que mais me impressionou é que nunca


pensei que esse tipo de assunto pudesse ser
falado com tanta ciência. Não é imaginação.
Brian Weiss é muito objetivo, fez um livro de boa
qualidade literária que não deixa
dúvidas".(Cássia Kiss - atriz)

75
“Médico diplomado pela Universidade de Yale,
com especialização em psiquiatria na
Universidade de Columbia, Dr. Brian Weiss, 51
anos, foi professor em várias faculdades
americanas de medicina e publicou mais de
quarenta ensaios científicos nas áreas de
psicofarmacologia, química cerebral, distúrbios do
sono, depressão, estados de ansiedade,
distúrbios causados pelo abuso de drogas e mal
de Alzheimer. Diretor emérito do Departamento
de Psiquiatria do Mount Sinai Hospital, em Miami,
Sr. Weiss viaja constantemente para dar
palestras e promover workshops baseados em
seu trabalho. Escreve para várias publicações
acadêmicas, jornais e revistas como The Boston
Globe, The Miami Herald, The Chicago Tribune e
The Philadelphia Inquirer, entre outros.”
(Divulgação dos Livros de Brian Weiss, na
internet.)

Sem dúvida, o médico é dono de uma folha profissional


invejável; e possui muitos admiradores ilustres. Com tal
bagagem, o Dr. Brian Weiss vem em público defender,
apaixonadamente, um tema controverso. Vamos, então,
conhecer e analisar as idéias de Brian Weiss com a
atenção que o tema requer.

Faremos comentários sobre os dois mais conhecidos


livros do psiquiatra: “Muitas Vidas, Muitos Mestres” e
“Só o Amor é Real”.

76
A ADESÃO DE BRIAN WEISS AO
REGRESSIONISMO

Brian Weiss conta que envolveu-se com as vidas


passadas casualmente: antes de sua transformação, era
cético em relação a assuntos como reencarnação, vida
após a morte e comunicação com os mortos. Durante
anos tratara de grande número de pacientes utilizando os
métodos ortodoxos da terapia psiquiátrica, e assim
continuaria...se o inesperado não acontecesse.

Uma de suas pacientes – chamada Catherine – não


respondia satisfatoriamente ao tratamento. O Dr. Weiss
recorreu à hipnose, na intenção de acessar traumas que
pudessem estar bloqueados nas profundezas da mente da
moça.

O hipnotismo, porém, ajudou pouco. O médico sentiu-se


desanimado. Numa certa sessão levou a moça
mentalmente até a idade de dois anos, mas ela não lhe
trouxe as respostas que buscava. A ponto de perder a
paciência, Brian Weiss ordenou-lhe que regredisse até a
época do surgimento dos sintomas.

77
Pasmado, ouviu Catherine falar de fatos acontecidos com
outra pessoa, que vivera muitos anos antes da atualidade.
A jovem discursava como se houvera sido aquela
personagem!

Deixemos que o próprio Doutor Brian nos conte o caso:

“Achei que ela já deveria ter progredido


mais...Mas Catherine não havia progredido.

Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada
importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

‘Vejo uma escadaria branca, que sobe até uma


construção, um grande prédio branco com
colunas, aberto na frente...Estou usando uma
roupa comprida...uma túnica feita de pano
grosseiro...’

Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano estava


e qual era o seu nome.

‘Aronda...tenho dezoito anos. Vejo um mercado


em frente ao edifício...Vivemos num vale...Não há
água. O ano é 1863 a.C. A região é árida, quente
e arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água
vem das montanhas até o vale.’

Depois que ela descreveu mais detalhes


topográficos, eu disse-lhe para avançar no tempo
vários anos e me dizer o que via.

78
‘Árvores e uma estrada de pedras...Meus cabelos
são louros...Estou usando uma roupa marrom
longa, de tecido áspero e sandálias. Tenho vinte
e cinco anos. Tenho uma filha chamada
Cleastra...Ela é Raquel (Raquel era atualmente
sua sobrinha...)...’

Eu estava assombrado...Ela não hesitava.


Nomes, datas, roupas, árvores – tudo tão
claro!...Eu examinara centenas de pacientes...,
muitos sob hipnose, e jamais deparara com
fantasias como essas...Disse-lhe para ir até a
época de sua morte...buscava acontecimentos
traumáticos que pudessem fundamentar...seus
sintomas atuais...Ela descreveu a destruição da
aldeia pelo que parecia ser uma enchente ou
maremoto.

‘Ondas enormes estão derrubando as árvores.


Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não
posso...Não posso respirar, não consigo
engolir...água salgada...

Vejo nuvens...Meu bebê está comigo. E outras


pessoas da minha aldeia. Vejo meu irmão.’

Ela estava descansando; essa vida terminara...Eu


estava perplexo! Vidas anteriores?
Reencarnação?...

...Como ela reconhecera a sobrinha numa vida


anterior, perguntei-lhe se eu estivera presente em
algumas de suas outras vidas...

79
‘Você é meu professor...Você nos ensina com
livros. É velho e tem os cabelos grisalhos...Veste
uma roupa branca (toga) com arremates
dourados...Seu nome é Diógenes. Você nos
ensina símbolos, triângulos. É muito sábio, mas
eu não compreendo. O ano é o de 1568 a.C.’

(Aproximadamente 1.200 anos antes do famoso


filósofo cético grego Diógenes. Este nome não
era incomum.)

A primeira sessão terminara. Outras mais


surpreendentes viriam.

Depois que Catherine saiu e durante vários dias,


como sempre fazia, refleti sobre os detalhes da
regressão hipnótica. Mesmo numa terapia
“normal” muitos poucos detalhes escapavam à
minha capacidade obsessiva de análise...Além
disso, eu era bastante cético com relação às
idéias de vida após a morte, reencarnação,
experiências extracorporais e fenômenos
afins...Mas eu estava consciente...da existência
de um outro pensamento...Mantenha a mente
aberta, ele [o pensamento] me dizia, a verdadeira
ciência começa com a observação...Mantenha
sua mente aberta. Consiga mais dados." (Brian
Weiss - Muitas Vidas, Muitos Mestres).

Esta é a síntese da conversão de Brian Weiss, contada


pelo próprio. Uma leitura rápida talvez não diga muito,
mas, se examinarmos detalhadamente o relato
perceberemos alguns pontos surpreendentes.

80
A reação do Dr. Brian diante do que ouviu de sua
paciente foi de confusão e espanto. Essa atitude é de
causar admiração, visto que advém de um psiquiatra,
conhecedor das nuanças da mente.

Ao ouvir a insólita narrativa da paciente, o médico


confessou-se “assombrado”. Ora, um psiquiatra não
deveria se assombrar tão facilmente: sabe-se que muitas
pessoas são capazes de forjar fantasias admiráveis. Antes
de se deixar dominar pela perplexidade, o médico deveria
ter buscado esclarecimentos plausíveis para a novidade
que presenciara. Surpreendentemente, o terapeuta
preferiu se dobrar ante o mistério.

81
BRIAN WEISS CONFUSO...

Examinemos com mais atenção a experiência do


psiquiatra americano:

“Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada
importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

Ao insistir que a paciente retornasse mentalmente ao


período em que seu trauma ocorrera, Brian Weiss pode
ter cometido um equívoco: se a moça não lembrava nada
importante, talvez os traumas de Catherine tivessem
origem indefinida, ou seja, não haveria um único evento
que a tornara fóbica.

Algumas pessoas desenvolvem distúrbios psíquicos por


receberam durante a formação de suas personalidades
pressões negativas repetitivas – (nem sempre existe um
acontecimento específico causador do problema) –, ou,
ainda, por internalizarem em suas mentes receios irreais
passados por genitores e outros com quem tenha
convivido. Contudo, em todo o livro, o médico não
informa que tenha averiguado tal possibilidade.

82
A hipnose pode levar o paciente a responder à sugestão
com fantasias: inconscientemente simula ter vivido uma
aventura que não aconteceu. Quando o paciente aceita
sem reservas a indução que o terapeuta lhe faz, torna-se
cooperativo e pode criar fabulações com facilidade. Se
não houver uma resistência mental forte (por exemplo:
preconceitos enraizados, convicções morais), o paciente
acatará as palavras do hipnotizador e responderá
sonhativamente ao que lhe for apresentado.

Para entendermos como funciona a regressão a vidas


passadas, é preciso que tenhamos informações sobre
algumas peculiaridades do hipnotismo.

Uma teoria admite que nossa mente apresente duas faces,


que podem ser denominadas mente objetiva e mente
subjetiva (também chamada de inconsciente). A mente
objetiva é a que usamos no dia a dia, opera com os
mecanismos lógicos (lógica dedutiva e lógica indutiva).
Já a mente subjetiva não utiliza os mesmos mecanismos
(opera somente pela indução): é imaginativa e sensível a
sugestões. Um exemplo do funcionamento da mente
subjetiva temos nos sonhos. A maioria de nossos sonhos
têm peculiaridades que não se amoldam à realidade:
sonhamos que estamos a cair de grande altura e não nos
machucamos; conversamos com pessoas falecidas sem
questionar a ilogicidade do fato; vivemos aventuras que
jamais viveríamos na realidade, etc.

→ Convém lembrar que o conceito de


inconsciente é vago e tem sido objeto de
muitas discussões. Alguns admitem como
satisfatória a tese de que a mente seja

83
dividida em dois segmentos: consciente e
inconsciente; outros são reservados quanto
à essa idéia. A questão maior é que o termo
"inconsciente" se presta a diversas
idealizações mais chegadas ao mundo da
fantasia que a uma concepção plausível.
Entretanto, para efeito de explicação do
que aqui se propõe, utilizaremos a
expressão.

O hipnotismo apela à mente subjetiva e se esta acatar a


sugestão agirá como se estivesse vivenciando uma
realidade.

Se, num dia de muito calor, dissermos a alguém que está


fazendo frio, ele rirá de nós. Porém, hipnotizada, essa
mesma pessoa tiritará como se estivesse acossada por
forte friagem. Os tímidos temem ser postos em evidência,
mas hipnotizados são capazes de agir descontraidamente.
Indivíduos sob hipnose podem apresentar resistência
física inacreditável; podem ter a mente aguçada e lembrar
de coisas há muito esquecidas, e muito mais.

Diversas teorias sobre o hipnotismo existem, ainda não


se formulou uma definição consensualmente aceita sobre
os mecanismos da hipnose. Seja como for, é certo que a
mente acata sugestões e a elas responde. A dúvida maior
é definir até que ponto a resposta do hipnotizado seria um
eco à sugestão. Se for estabelecido que a reação do
paciente seja sempre resultado da sugestão, então as
aplicações da hipnose ficam restritas a problemas
específicos e não se prestam à rememoração de vidas
passadas.

84
Os psicólogos e psiquiatras que recorrem à hipnose
geralmente fazem-no com as cautelas adequadas, a fim de
evitar que fantasias desviem o rumo do tratamento.
Entretanto, parece os terapeutas regressionistas são
menos rigorosos.

O leigo normalmente tem sobre o hipnotismo uma idéia


incorreta. Pensa-se que quem for hipnotizado estará
completamente dominado e responderá, sem mentir, a
tudo o que lhe for indagado e fará tudo o que lhe for
ordenado.

Vejamos a opinião de um estudioso da terapia hipnótica:

“As vezes, porém, o método psicanalítico, mesmo


com a ajuda do controle hipnótico é ineficaz ou
desnecessário. Isso pode ser devido:

(1) ao fato de o transtorno funcional ou neurose


atacada se basear num incidente crucial
extremamente difícil de descobrir; ou,

(2) ao fato de o incidente crucial que foi o fator


original que causou o transtorno ter sido desde
então suplantado por outros fatores (por exemplo,
hábitos adquiridos ou reflexos, relações sociais
ou atitudes)...ou,

(3) ao fato de não haver qualquer incidente


crucial causando o transtorno." (Raphael H.
Rhodes - O Hipnotismo Sem Mistério).

O autor comenta peculiaridades do tratamento


psicanalítico auxiliado pela hipnose. Nem sempre existe

85
um trauma específico, ou, caso exista, pode estar perdido
nas brumas do passado e ser de difícil recuperação. Todas
essas situações devem ser levadas em conta por quem
utiliza a hipnose terapeuticamente.

De forma semelhante, também são adequadas as palavras


do Dr. Paulo Urban:

“Exatamente! Há ainda muita desinformação em


relação a hipnose. Grande parte da classe
médica, incluindo psiquiatras e neurologistas,
também muitos psicólogos e psicanalistas,
chegam ao século XXI com sérias dificuldades
para compreender tal fenômeno psíquico. Muitos
ainda tomam a hipnose por algo mágico, ou a
confundem com mero exercício de relaxamento.
Por outro lado, ainda vemos charlatães exibindo-
se nas tevês, expondo pessoas incautas a
situações ridículas, facilmente alcançadas por
meio da sugestão hipnótica. Agindo assim,
contribuem para o imerecido preconceito
acadêmico em relação a esta técnica. Ainda há
aqueles que se valem dessa técnica para tentar
provar a tese da reencarnação ou mesmo as tais
‘abduções por discos voadores’ – e
decididamente a hipnose não se presta para
provar nada disso -, o que faz, ainda mais,
misturar a hipnose com crenças pessoais e fé
religiosa.” (Dr. Paulo Urban, médico psiquiatra,
acupunturista e hipnoterapeuta, em entrevista
concedida à Editora Saraiva).

O Dr. Paulo Urban toca num quesito importante no que


tange à regressão: “a hipnose não se presta a nada

86
disso”. Podemos dizer que a utilização do hipnotismo
como ferramenta auxiliar na psicoterapia tem indicações
definidas: em algumas aplicações os efeitos positivos são
palpáveis, em outras os resultados são discutíveis.
Lembramos também que Freud durante algum tempo fez
uso da hipnose no processo psicanalítico e depois
abandonou o procedimento.

Ainda hoje se discute o porquê de Freud ter descartado a


hipnose na psicoterapia. Uma possibilidade é que tenha
concluído que as muitas fantasias que brotavam das
mentes sob controle hipnótico, em vez de ajudar criava
um óbice à análise do paciente. Há quem acredite que
Freud não se mostrava satisfeito com o fato da hipnose
eliminar sintomas sem trazer à tona a origem do
problema. A análise psicanalítica procura justamente
desencavar o porquê dos sintomas que o paciente
apresenta.

87
“EU NÃO ACREDITAVA EM REENCARNAÇÃO”...
(Brian Weiss)

É surpreendente a reação de Brian Weiss ao ouvir


Catherine apresentar-se como se fora outra pessoa: o
médico parece ter deixado de lado a cautela com que
deveria avaliar o caso:

“Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano


estava e qual era o seu nome."

Brian Weiss dissera que até conhecer Catherine jamais


acreditara em reencarnação e muito pouco sabia do
assunto ― (“eu era bastante cético com relação às idéias de vida
após a morte, reencarnação, experiências extracorporais e
fenômenos afins...”). No entanto, considerando a forma como
interrogou a moça somos levados a outra conclusão. A
atitude do médico dá a entender que ele esperava por
algum acontecimento que lhe permitisse extravasar seus
anseios ocultistas. Acompanhemos:

Ele diz ter ficado confuso e pedido a Catherine que lhe


informasse em que ano estava. Ora, Brian Weiss, no
episódio, levara a mente da jovem até a idade de dois
anos (“fui levando Catherine até a idade de dois anos”). Não

88
havia lógica em indagar a uma criança de dois anos em
que data se encontrava. Notem que, segundo o próprio
médico, até aquele instante a idéia de reencarnação não
lhe passara pela cabeça. Portanto, ele estaria dirigindo a
indagação a uma menina com dois anos de idade. Sem
que a hipótese reencarnacionista estivesse presente na
mente do médico a pergunta fica sem sentido.

Brian Weiss assegura que a possibilidade da reencarnação


surgiu-lhe somente depois que Catherine começou a falar
de outras personalidades. Acontece que, levando-se em
conta as circunstâncias em que o diálogo transcorreu
somos obrigados a concluir de forma diferente.

A indagação seguinte foi ainda mais insólita: perguntou


qual era o nome da moça...

Se não cogitasse em vidas passadas, a pergunta soa


completamente sem nexo, pois ele sabia qual era o nome
dela. Não havendo uma inclinação prévia do médico para
a reencarnação tudo o que Brian Weiss nos conta perde a
coerência. Isso põe sob suspeita a explicação de que sua
conversão ao reencarnacionismo foi casual. Tem-se a
impressão de que o enredo fora preparado para que o
“espetáculo” acontecesse...

→ Brian Weiss quer nos convencer que sua


conversão aconteceu graças a uma
experiência inesperada, que o obrigou a
rever seus conceitos. Contudo, o evento que
apresenta para explicar essa transformação
leva-nos ao entendimento de que sua mente

89
já estava plenamente receptiva ao
regressionismo.

90
A PRODIGIOSA MEMÓRIA DE CATHERINE

“O ano é 1863 a.C. A região é árida, quente e


arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água
vem das montanhas até o vale."...

“Você nos ensina símbolos, triângulos. É muito


sábio, mas eu não compreendo. O ano é o de
1568 a.C.”

Nesse trecho a paciente identifica com admirável


exatidão datas remotas. Mesmo que, por hipótese,
aceitássemos que Catherine estivesse a recordar
existências pretéritas, ela jamais saberia tão
detalhadamente as épocas em que os episódios
aconteceram, pelo menos não da forma como nos diz.
Catherine primeiramente lembrou que fora Aronda, uma
moça que vivera no ano de 1863 a.C. Aronda não poderia
se referir às datas do modo como fez, porque naquelas
épocas o decurso do tempo não era medido como se faz
hoje. A referência que Aronda faria à época em que
estava seria algo como: “estou na época do rei Fulano”.
No passado era comum a contagem de tempo baseada no
período de vida dos governantes. Além disso, a expressão
a.C. (antes de Cristo), obviamente, seria desconhecida
para Aronda

Ainda que fizéssemos uma concessão à misteriosa


capacidade de Catherine de saber com precisão as datas,
outro dificultador se apresentaria: a mente da moça teria

91
de elaborar um complexo exercício matemático, conhecer
os variados calendários utilizados em diversos períodos
da história e ser bastante versada em História antiga para
poder estabelecer precisamente as épocas ― observe-se
que as referências às datas são minuciosas: 1863 a.C.;
1568 a.C.

É mais coerente admitir que Catherine fantasiara com


informações armazenadas em sua mente. Ela lera ou
ouvira relatos sobre civilizações antigas e, durante a
hipnose, elaborara mentalmente um enredo para atender
ao que o médico lhe pedia.

Na continuidade da sessão terapêutica Brian Weiss se


mostra conquistado pela perspectiva reencarnacionista.
Para quem dizia que até então não acreditara no assunto,
a brusca mudança de atitude é de espantar. Uma pessoa
que não acredita em determinada idéia, irá exaurir as
possibilidades de esclarecer um fenômeno por outras
vias, antes de acatar o que não lhe parece coerente. A
deslumbrada aceitação daquilo que lhe era desconhecido
contraria o discurso do médico.

“Como ela reconhecera a sobrinha numa vida


anterior, perguntei-lhe se eu estivera presente em
algumas de suas outras vidas...

‘Você é meu professor...Você nos ensina com


livros. É velho e tem os cabelos grisalhos...Veste
uma roupa branca (toga) com arremates
dourados...Seu nome é Diógenes. Você nos
ensina símbolos, triângulos. É muito sábio, mas
eu não compreendo. O ano é o de 1568 a.C."

92
O profissional atira-se cegamente no contexto imaginário
que a paciente lhe apresenta: logo quis saber se estivera
presente em alguma das vidas da moça. Observa-se
claramente a propensão ao esoterismo e o abandono da
prudência, que deve estar presente quando se avalia um
fato incomum. Somos levados a inferir que Brian Weiss
precisava de alguém como Catherine, para extravasar
seus devaneios místicos e a jovem, plenamente receptiva,
deu ao médico as respostas que ele almejava...

Outra dúvida: qual seria o mecanismo que permitia à


moça identificar as pessoas de seu passado com tanta
facilidade? Mal o médico lhe indagou se ela o vira
nalguma de suas vidas, Catherine imediatamente surgiu
com um enredo contendo a "participação especial" de
Brian Weiss...Ela informa ao médico que ele fora
contemporâneo seu em outra vida e ele aceita a
"revelação" sem qualquer crítica!

Voltemos ao evento que motivou a transformação de


Brian Weiss, para destacar outras dificuldades na história:

“Achei que ela já deveria ter progredido


mais...Mas Catherine não havia progredido.

Lentamente, fui levando Catherine até a idade de


dois anos, mas ela não se lembrou de nada
importante. Disse-lhe, em tom firme e claro: ‘volte
para a época em que surgiram os seus sintomas’.
Eu estava totalmente despreparado para o que
veio em seguida...

93
‘Vejo uma escadaria branca, que sobe até uma
construção, um grande prédio branco com
colunas, aberto na frente...Estou usando uma
roupa comprida...uma túnica feita de pano
grosseiro...’

Fiquei confuso...Perguntei-lhe em que ano estava


e qual era o seu nome.

‘Aronda...tenho dezoito anos. Vejo um mercado


em frente ao edifício...Vivemos num vale...Não há
água. O ano é 1863 a.C. A região é árida, quente
e arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água
vem das montanhas até o vale.'

Uma das queixas de Catherine era uma inexplicável


sensação de sufocamento, que periodicamente a
dominava. Não haviam causas físicas que explicassem o
problema, a resposta estaria em algum trauma vivido pela
paciente. Brian Weiss vasculhou a infância da moça e
encontrou alguns eventos dolorosos, mas a sensação de
estar sufocando não a abandonava, tudo indicava que
havia alguma coisa oculta. Já quase perdendo a paciência,
visto que o motivo da fobia não vinha à tona, foi
decisivo: “disse-lhe, em tom firme e claro: volte para a
época em que surgiram seus sintomas”. Com essa atitude
ele esperava que algum esclarecimento brotasse da mente
da moça.

Por conta dessa ordem taxativa, Catherine apresentou


“quase” a resposta buscada. Sim, porque “a época em
que os sintomas surgiram” não foi exatamente a relatada
pela paciente. Somente depois de Brian Weiss ter

94
esquadrinhado o panorama descrito por ela é que a
“resposta” apareceu.

“Eu estava assombrado...Ela não hesitava.


Nomes, datas, roupas, árvores – tudo tão
claro!...Eu examinara centenas de pacientes...,
muitos sob hipnose, e jamais deparara com
fantasias como essas...Disse-lhe para ir até a
época de sua morte...buscava acontecimentos
traumáticos que pudessem fundamentar...seus
sintomas atuais...Ela descreveu a destruição da
aldeia pelo que parecia ser uma enchente ou
maremoto.

‘Ondas enormes estão derrubando as árvores.


Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não
posso...Não posso respirar, não consigo
engolir...água salgada..."

A mente da paciente gradativamente construía o enredo,


até poder satisfazer à exigência do médico. Finalmente,
“esclareceu-se” o motivo da fobia de Catherine: ela fora
tragada por um maremoto, numa existência vivida em
1863 a.C.

Analisemos com maior atenção a alegada origem do


sofrimento de Catherine.

Ao receber a ordem para voltar à época em que os


sintomas surgiram, a moça mostrou que o trauma estava
realmente escondido: sua mente “viajou” quase quatro
milênios no passado!

95
Não sabemos se essa teria sido a primeira “encarnação”
da moça, mas deve estar dentre suas vidas iniciais.
Deduzimos isso com base nas declarações dos
“mestres”, que revelaram a Catherine que ela vivera 86
vezes ―(os mestres são personagens que surgem como que
do nada e passam a participar do trabalho terapêutico) :

‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres


me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.'

Pois é: mais de 80 vidas depois do afogamento


Catherine ainda carregava os efeitos psíquicos da
tragédia!

Por que será que o Dr. Brian não se perguntou como pôde
Catherine enraizar um trauma durante tantas existências?!

Lamentavelmente, por mais boa vontade que quiséssemos


ter para com as alegações de Brian Weiss, ficaria muito
complicado aceitar tão disparatada explicação para a
fobia de Catherine...

Suponhamos que a paciente estivesse de fato recordando


vidas passadas, mesmo assim, seria inaceitável que os
efeitos da experiência traumática persistissem por tantos
séculos. Em encarnações próximas daquela em que
sucedeu o drama, a alma da moça haveria de ter resolvido
o problema.

Oitenta vidas carregando o mesmo trauma! Nem mesmo


Célia Resende com a história de Adélia, que analisamos
no capítulo 5, ousou tanto!

96
Uma dor que se agarre à alma de alguém por tantas
“encarnações”, põe por terra a idéia de que os espíritos
progridam nas diversas vidas.

Leiamos uma explanação de um teórico regressionista


sobre o que sucederia durante a entrevida:

“TERAPIA DE VIDAS

Toda vez que a alma deixa de ter um corpo físico,


de acordo com o grau de entendimento, vai ser
conduzida para determinados lugares no plano
espiritual onde, num primeiro momento, vai
receber assistência de outras almas e mestres
que a ajudarão na transição e na adaptação para
o estado de consciência do plano espiritual. Esta
assistência objetiva a estabilização dos estados
mentais e emocionais que estiverem em
desarmonia em conseqüência das experiências
da última existência e da própria morte. Neste
momento ela obtém alívio de todas as dores,
temores ou desconfortos físicos e emocionais que
ela possa estar apegada.

Depois que a alma é consolada e revitalizada,


recuperando o equilíbrio no plano espiritual, com
o auxílio de mestres e conselheiros, ela faz uma
avaliação da última existência no plano material.
Neste momento ela tem acesso às informações
relativas ao planejamento que fez antes de
encarnar pela última vez, assim como
informações sobre vidas anteriores. O objetivo é
avaliar o desempenho na última encarnação. É
feito um "inventário" daquela existência. A alma
avalia o que aprendeu, toma consciência das

97
partes do aprendizado que teve maior dificuldade,
dos objetivos que não conseguiu atingir e do que
necessita, ainda, desenvolver ou aperfeiçoar.
Com base nisto tudo e com a orientação destes
conselheiros é elaborado o projeto de uma nova
existência. Este projeto também pode ser
chamado de missão da alma ou de destino...”
(http://www.eradourada.com.br)

Com toda a assistência que se diz os espíritos receberem


na entrevida, como poderia a alma de Catherine carregar
consigo uma lesão por tantas vidas?! Difícil...

Brian Weiss começou mal a apologia das vidas passadas.


Seus muitos admiradores incrivelmente não percebem as
incongruências embutidas em suas idéias.

98
CAPÍTULO 7

Mais Dúvidas

Catherine relatou ao Dr. Brian diversas aventuras em


algumas de suas sonhadas vidas. O médico, muito
eufórico, aceitou todas sem sequer piscar os olhos.
Contudo, a leitura dos relatos de Catherine expõe certos
detalhes que não harmonizam.

Na primeira vida recordada ela afirma que vivera num


local inóspito:

99
“Vivemos num vale. A região é árida, quente e
arenosa. Existe um poço, nenhum rio. A água
vem das montanhas até o vale.” (Muitas Vidas,
Muitos Mestres, págs.27,28)

Mais adiante informa que o local fora tragado por um


maremoto, que lhe causou a morte:

“Ondas enormes estão derrubando as árvores.


Não há para onde correr. Está frio, a água é fria.
Tenho de salvar o meu bebê, mas não
posso...Não posso respirar, não consigo
engolir...água salgada...”

A descrição inicial refere-se a uma região longe do mar.


Um vale entre montanhas. Um local árido e arenoso, cuja
vegetação seria rala. Depois é dito que o mar invadiu a
aldeia e tragou...as árvores! A narrativa soa sem
consonância. Além das árvores que “magicamente”
brotaram no terreno árido; temos o mar que invadiu o
semideserto. Talvez se argumente que seja o relato de um
grande cataclismo, que fez com que o mar avançasse
muitos quilômetros pela terra...pode ser...pena que a
moça não apresente qualquer informação objetiva que
permita identificar onde foi que a hecatombe
sucedeu...Fica a sensação de que a história não está bem
contada.

Noutra parte da obra, encontramos nova situação


controversa:

100
“...Estou feliz...Meu pai está lá...ele me
abraça...Há oliveiras e figueiras no pátio. As
pessoas escrevem em pedaços de papel. São
rabiscos engraçados, como letras...É 1536 a.C."
(Muitas Vidas, Muitos Mestres, pág. 36)

Falamos, em capítulo anterior, da memória prodigiosa de


Catherine, que lhe permitia relembrar datas recuadas com
notável facilidade. Neste trecho a vemos repetir a
façanha... Mas o que interessa destacar é a referência ao
papel. Este foi inventado na China, no início da era cristã,
muito tempo depois da data citada na fantasia de
Catherine. No passado utilizaram-se materiais diversos
para registros escritos: pedras, barro, papiro, e mais tarde,
o pergaminho. O uso do papel ganhou predominância há
poucos séculos. Brian Weiss não explica como Catherine
presenciou pessoas utilizando um material que ainda não
existia...

O médico não exibe real interesse em investigar o caso


com a seriedade necessária. Ele faz vista grossa às
narrativas equivocadas de sua paciente, atitude que
contraria sua declarada capacidade obsessiva de análise.

Os variados enganos de Catherine deixam dúvidas sobre


a veracidade das lembranças...Ainda que desejássemos
ser tolerantes e concluir que se trata de uma pequena
confusão, a realidade é que naquele tempo remoto não
havia coisa alguma semelhante ao papel. A partir daí
outras dúvidas se tornam patentes: como pôde Catherine
recordar sem hesitação datas remotas e depois contemplar
pessoas escrevendo em pedaços de papel, material
inexistente na época? Faz sentido concluir que Catherine

101
fabulava com as poucas e superficiais informações que
lera ou ouvira sobre civilizações do passado.

Portanto, nada de sobrenatural ou incomum havia na


regressões de Catherine: suas histórias são muito pobres
para servirem como confirmação às lembranças de vidas
passadas.

102
BRIAN WEISS DESLUMBRADO...

O médico, maravilhado ante as revelações de Catherine,


em vez de dirigir a terapia, se deixa conduzir pela
paciente. O tratamento psiquiátrico propriamente dito é
interrompido, Brian Weiss passa a mero registrador das
assertivas mitológicas da moça. Após algumas sessões,
surgem outros personagens, “os mestres”, que, segundo o
Dr. Weiss, utilizam Catherine como canal para suas
mensagens:

“Sua cabeça começou a rolar lentamente de um


lado para o outro, como se estivesse explorando
uma cena...

‘Dizem que há vários deuses, pois Deus está em


cada um de nós’

“Reconheci a voz do estado intermediário pela


rouquidão e pelo tom inegavelmente espiritual da
mensagem. O que ela disse em seguida me
deixou sem fôlego, respirando com dificuldade."

103
‘Seu pai está aqui e o seu filho, que é pequeno.
Seu pai diz que você o reconhecerá porque ele
se chama Avrom e seu filho tem o mesmo nome.
Ele morreu do coração. O coração de seu filho
também era importante, porque estava invertido,
como o de uma galinha. Ele fez um grande
sacrifício de amor a você. A alma dele é muito
1
evoluída...Sua morte pagou as dívidas dos pais .
Ele também quis lhe mostrar que a medicina tem
limites, que seu campo de ação é muito
limitado.'...

1
→ Observa-se no discurso do “mestre” um
acontecimento comum em contatos mediúnicos: os
espíritos respondem conforme a crença dos
receptores. Em ambiente onde se creia na
reencarnação, as almas falam positivamente do
assunto; num meio onde a reencarnação não seja
aceita, os espíritos a condenam. No caso presente,
Brian Weiss, ou Catherine, acredita que uma pessoa
possa pagar dívidas cármicas de outras, desse modo,
os mestres se pronunciaram favoravelmente ao
assunto.

“Meus braços estavam arrepiados, Catherine não


podia conhecer aqueles dados. Não havia nem
onde buscá-los...Era muita coisa, muitas
informações específicas...E se ela podia revelar
essas verdades, o que mais havia? Eu precisava
saber mais...

Quem, gaguejei, quem está aí? Quem lhe diz


estas coisas?”

104
‘Os mestres’, sussurrou ela, ‘os Espíritos Mestres
me dizem. Eles me dizem que vivi oitenta e seis
vezes em estado físico.’

“Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma


mão descera e alterara irreversivelmente seu
curso. Todas as minhas leituras, feitas com um
cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade
cética, se encaixavam. As lembranças e
mensagens de Catherine eram verdadeiras.
Minhas intuições sobre a exatidão de suas
experiências estavam corretas. Eu tinha fatos.
Tinha a prova...

A prova era forte demais e irresistível. Era


verdade..." (Muitas Vidas, Muitos Mestres, pág.
50-53)

Os mestres conquistam o médico. A fantasiosa “prova”


de que almas alienígenas haviam embarcado na mente de
Catherine é por Brian Weiss classificada como “forte
demais”. A partir daí o terapeuta se deixa definitivamente
convencer pelas divagações de sua paciente e delas se
torna dependente:

“ ‘...Você vai entender. Você realmente


compreende’. Ela parou de novo.

‘Estou tentando’, acrescentei. Então decidi voltar


a atenção para Catherine. Talvez os mestres
ainda estivessem presentes.

‘O que posso fazer para ajudar melhor Catherine


a superar seus medos...? E para aprender suas
lições?’ ...

105
A resposta veio na voz profunda do Mestre
poeta...

‘O que você está fazendo está certo. Mas é por


você, e não por ela.’ Novamente a mensagem
dizia que o benefício era meu, mais do que de
Catherine.

‘...Sim o que dizemos é para você.’

‘...Preciso de orientação. Tenho tanto a


aprender...’

‘Você será orientado quando chegar a hora'...”


(Muitas Vidas, Muitos Mestres, pág. 77,78)

Os mestres deixaram o Dr. Brian estupidificado e ele não


se acanha de pedir-lhes orientações sobre qual seria a
melhor forma de tratamento a aplicar em Catherine. É
magnífico que o terapeuta tenha esquecido toda sua
formação e buscado conselhos junto ao desconhecido...

Fica difícil aceitar que Brian Weiss não dispusesse de


informações sobre pesquisas na área da parapsicologia, e
mesmo no campo da psicologia, que pudessem subsidiá-
lo na análise do caso de Catherine.

Quando a moça lhe falou sobre seu pai e seu filho, o


médico concluiu que não havia modo dela saber do
acontecido, a não ser que realmente estivesse a ouvir as
revelações dos “mestres”. Para ele, a única forma de
explicar o conhecimento da paciente sobre assuntos
íntimos de sua vida seria pela via sobrenatural.

106
Esta conclusão é um tremendo engano!

Havia outros meios de Catherine saber dos


acontecimentos. Diversas explicações podem ser
apresentadas, sem necessidade de utilizar-se
manifestações sobrenaturais. Vejamos duas hipóteses:

1. Catherine deve ter obtido informes da vida do


médico por meios comuns. Certamente, as
tragédias da morte do pai e do filho eram de
conhecimento de diversas pessoas. A moça teria
ouvido, ou mesmo lido, comentários sobre os
casos e estes ficaram registrados em sua mente.
Quando hipnotizada, foi-lhe fácil elaborar um
enredo baseado nas informações de que dispunha.
O Dr. Brian deveria ter interrogado
cuidadosamente a paciente a fim de averiguar
essa possibilidade, mas não o fez.

2. outra hipótese é a de que Catherine possa ter


captado o pensamento emocionado do médico
sobre seu filho, por meio de um fenômeno
bastante estudado pela Parapsicologia, conhecido
como hiperestesia. Mais adiante falaremos do
assunto.

107
“Minha vida jamais voltaria a ser a mesma. Uma
mão descera e alterara irreversivelmente seu
curso. Todas as minhas leituras, feitas com um
cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade
cética, se encaixavam. As lembranças e
mensagens de Catherine eram verdadeiras.
Minhas intuições sobre a exatidão de suas
experiências estavam corretas. Eu tinha fatos.
Tinha a prova...” (Brian Weiss)

Essa fascinada manifestação não coaduna com a


“neutralidade cética”, da qual Brian Weiss declara ser
dotado. O médico acreditava que sua intuição lhe desse o
perfeito parâmetro de avaliação. Porém, nem sempre a
intuição nos transmite as respostas corretas. A intuição
pode formular idealizações falseadas. Se nossa mente for
suprida com idéias inadequadas, as intuições não serão
corretas. Se a intuição do médico lhe dizia que a
manifestação de Catherine era sobrenatural, deveria ter
confirmado essa idéia preliminar por meio de cuidadosa
investigação. Não é se deixando levar pela primeira
impressão que se faz boa ciência.

108
“Aparentemente a intuição me revela o ser
profundo das coisas, ao passo que a ciência
discursiva substitui a realidade sensível
conhecida intuitivamente, por equações
abstratas, por sistemas de relações entre
símbolos de caráter puramente artificial. Mas
essa aparência é enganosa. A intuição sensível é
que é falsa, pois não me revela o mundo em si
mesmo, já que é relativa aos meus órgãos
sensoriais, puramente subjetivos. O raciocínio
científico é que é verdadeiro, porque me permite
descobrir relações objetivas entre os fenômenos,
graças aos pacientes rodeios dos processos
discursivos...por outro lado, é preciso não
esquecer que as intuições mais válidas...,
freqüentemente, são a recompensa de um
paciente trabalho discursivo. E é necessário,
ainda, que a intuição seja controlada, verificada
em seguida por operações discursivas. Se o
discurso é mais lento, ele é mais seguro que a
intuição...O discurso não é um obstáculo à
intuição autêntica, mas...é a sua condição de
existência e sempre a garantia de sua validade.”
(Compêndio Moderno de Filosofia – Denis
Huisman e André Vergez)

Diante da ingênua euforia do médico concluímos pelo


seu desinteresse em pesquisar seriamente o caso. Ele
apenas esperava algum fato que confirmasse suas
expectativas místicas. Catherine atendeu aos desejos
reprimidos do terapeuta. Tão entusiasmado ficou ante a
“revelação” que deixou de lado a cautela, que seria um
predicado indispensável nesse episódio.

109
A Hiperestesia

Algumas pessoas parecem ser dotadas de uma singular


capacidade: conseguem captar e interpretar as emoções
de quem lhe está próximo. É sabido que os pensamentos
descarregam sutis vibrações no corpo. Quanto maior é a
carga emocional envolvida, mais intensas serão essas
vibrações. Certos sensitivos são hábeis em perceber
algumas dessas manifestações. A esse fenômeno a
parapsicologia chama hiperestesia. De certo modo, todos
seríamos sensitivos, porém, em algumas pessoas essa
característica estaria mais aflorada.

→ A hiperestesia é uma ocorrência bastante


estudada pela parapsicologia e, dentre os
fenômenos ditos parapsicológicos, talvez seja o
mais comum. Podemos definir a hiperestesia
como uma exacerbação dos sentidos,
possibilitando a percepção de sensações muitos
tênues. Os pensamentos provocam no corpo
diversos ecos. Por exemplo, estudos mostraram
que quando pensamos nossas cordas vocais
vibram como que refletindo os pensamentos. Um
hiperestésico consegue captar tais reflexos e
traduzi-los extraconscientemente, o que dá a
impressão de que a pessoa tenha a capacidade
de “ler” pensamentos.

110
→ Há quem entenda a hiperestesia de outra
maneira: pelo menos parte das percepções não
resultaria de exaltação sensorial, sim de uma
capacidade aprimorada de “ler” as mensagens do
corpo. Quando comunicamos verbalmente com
alguém, além das palavras, passamos impressões
sutis por meio de gestos e expressões. Alguns
teriam o dom de traduzir essa linguagem de
segundo plano e assim perceber coisas que
normalmente os interlocutores não notam.

Levando em conta o que postula a Parapsicologia, a


hiperestesia pode ser definida como uma exacerbação
espontânea e casual de alguns dos sentidos. O
hiperestésico não tem controle sobre as manifestações.
Estas podem ocorrer com freqüência ou raramente.
Alguns ambientes e situações são capazes de ativar
episódios hiperestésicos admiráveis. O fenômeno é
conhecido, mas suas peculiaridades ainda estão em
estudo.

No caso em questão, existe a possibilidade de que algum


estímulo tenha trazido a lembrança do pai e do filho à
mente do médico e, por tratar-se de uma recordação
fortemente emocional, Catherine pôde senti-la. E a
mente sugestionada da moça elaborou o enredo que tanto
impressionou o terapeuta. Existem relatos de
manifestações hiperestésicas muito mais surpreendentes
que as apresentadas por Catherine.

Portanto, a revelação de Catherine sobre o filho do


psiquiatra, provavelmente tenha advindo de informações

111
previamente armazenadas em sua mente, ou enquadra-se
no âmbito das chamadas manifestações hiperestésicas.

“Hiperestesia significa exaltação da sensação.


Hiperestésico é quem capta e pode manifestar
estímulos mínimos. As pessoas que manifestam com
alguma freqüência este fenômeno...são chamados
sensitivos...” (A FACE OCULTA DA MENTE", Oscar
G. Quevedo)

Duas explicações são importantes sobre o assunto:

a) a hiperestesia nada tem de sobrenatural, trata-


se de um fenômeno que ocorre com pessoas
dotadas de sensibilidade especial e pode ser
estudada sem recorrer-se a teorias esotéricas;

b) a manifestação é espontânea, ou seja,


independe da vontade, como de resto ocorre com
os fatos paranormais. O hiperestésico possui a
capacidade, porém não tem domínio sobre ela.
Pessoas que se declaram “paranormais” e se
dizem aptos a utilizar, quando bem entendem, os
“poderes” que possuem, ou não sabem o que
dizem, ou são rematados vigaristas.

Uma das características mais marcantes dos eventos


parapsicológicos reside no fato de ocorrerem de forma
não premeditada e sem o controle de quem os manifesta.
Indivíduos que se apresentam como paranormais e
afirmam realizar coisas fantásticas à vontade e com hora
marcada, tais quais Thomaz Green Morton, Urandir

112
Fernandes, Uri Geller, e outros, estão faltando com a
verdade.

A folclórica imagem que alguns fazem dos chamados


paranormais, como pessoas dotadas de poderes mágicos,
aos quais recorrem quando bem entendem, não é
respaldada pelas pesquisas.

113
CAPÍTULO 8

Distanciado da Ciência

No capítulo 15 de "Muitas Vidas, Muitos Mestres", o


médico relata a visita que Catherine fizera a uma médium
e faz suas apreciações:

“Catherine fora ver Íris Saltzman, famosa


astróloga e médium, especializada na leitura de
vidas passadas...
Íris perguntou apenas a data, a hora e o lugar do
seu nascimento. A partir desses dados...iria fazer
seu mapa astral, o qual, juntamente com seus
dons intuitivos, lhe permitiria discernir detalhes
das vidas passadas de Catherine...
Para sua surpresa, Íris confirmou tudo que
Catherine descobrira sob hipnose...
...Eu estava fascinado com a exatidão de
detalhes desses fatos descritos por Íris...

114
...Não tenho certeza do que aconteceu naquele
dia. Talvez Íris, inconscientemente, tenha usado a
telepatia e 'lido' a mente de Catherine, já que as
vidas passadas estavam em seu subconsciente.
Ou, quem sabe, ela realmente fosse capaz de
reconhecer este tipo de informação, através de
alguma capacidade mediúnica. Em todo caso,
aconteceu, as duas obtiveram o mesmo
conhecimento por meios diferentes. O que
Catherine alcançou através da regressão
hipnótica, Íris conseguiu através de canais
mediúnicos."

Lembramos que Brian Weiss afirmara realizar "... leituras,


... com um cuidadoso espírito escrutinador e neutralidade cética...".
Entretanto, não foi possível encontrar na obra do Dr.
Weiss um único exemplo dessa qualidade. Brian Weiss
acreditava que Íris Saltzman seria competente para
discorrer sobre a mente de Catherine. A moça fora visitar
a astróloga e esta lhe "revelara" as mesmas coisas que o
médico descobrira pela hipnose...

Íris Saltzman é astróloga e “especialista na leitura de


vidas passadas”. E deve possuir outros poderes
fantásticos, pois munida apenas de parcos informes sobre
Catherine (data, hora e local de nascimento) ela pôde
revelar os segredos das vidas da moça.

Não ficou claro o porquê de Catherine buscar a


orientação da astróloga: será que necessitava de uma
segunda opinião sobre seus problemas? Ou não estaria
satisfeita com o trabalho do terapeuta? A dúvida fica no
ar.

115
A avaliação do resultado da entrevista, feita pelo médico,
nos confunde: inicialmente supõe que Íris seja telepata,
depois decide que tenha utilizado "canais mediúnicos".
São opções bastante diferenciadas para serem aplicadas
em sistema de múltipla escolha. Não parece que Brian
Weiss tenha utilizado seu propalado espírito escrutinador
neste caso.

O Dr. Weiss ratifica o trabalho da astróloga. Significa que


atribui credibilidade a astrologia. De fato, seria muito
bom se a humanidade dispusesse de um seguro processo
de orientação para seu destino, tal qual propõem os
astrólogos. O caso é que todas as pesquisas que
intentaram comprovar o cunho científico da astrologia
deram resultados negativos.

Durante muitos séculos a astrologia reinou soberana


como se fora um conhecimento saudável. Não estão longe
os tempos em que a própria astronomia estava sob
influência das postulações astrológicas. À medida que as
descobertas científicas se ampliaram ficou claro que as
bases da astrologia eram insustentáveis. Assim, a idéia de
que alguns corpos celestes definem o destino das pessoas
foi perdendo espaço no meio científico. Presentemente,
classificar a astrologia de ciência não faz sentido.

A astrologia baseia-se em premissas infundadas, em


concepções ultrapassadas, que não resistem à moderna

116
análise científica. Os esporádicos resultados corretos que
os mapas astrais apresentam são estatisticamente
irrelevantes. Os astrólogos intitulam o que praticam de
ciência, entretanto a declaração não corresponde à
realidade.

Se a astrologia funcionasse de verdade, teríamos uma


sensacional ferramenta a nos indicar o rumo adequado
nas atividades diárias. Muitos problemas seriam
resolvidos antes que se tornassem situações dolorosas.

Lamentavelmente tal facilitador não existe. É possível se


basear na astrologia para a decisão sobre coisas vagas,
indefinidas. Se um horóscopo diz: "dia propício para
buscar um emprego" e alguém, com base nessa
orientação, se enche de ânimo e sai à cata de uma
oportunidade, isso pode ser positivo. No entanto, não se
pode atribuir nesse quadro qualquer poder à astrologia:
outras formas de incentivo igualmente obteriam o mesmo
resultado. As grandes decisões de nossa vida, se forem
calcadas em previsões astrológicas nos trarão frustrações
sem fim.

A História está repleta de exemplos de pessoas que


adotaram resoluções orientadas por mapas astrológicos e
se meteram em grandes complicações.

Os astrólogos manipulam coloridos mapas astrais,


aparentemente sofisticados, que dão a impressão de um
trabalho complexo e bem elaborado. Contudo, a
fundamentação por trás das cartas astrológicas é
nenhuma.

117
Respeita-se a dedicação de muitos astrólogos sinceros, no
entanto, é inegável que a astrologia está alicerçada no
vácuo.

A astrologia trabalha com conceitos primitivos. Estipula


que a Terra está no centro do Universo e é rodeada pelo
zodíaco. O zodíaco é apenas uma linha de constelações
que não guardam nenhuma relação entre si. Na época em
que não existiam telescópios e as observações
astronômicas eram feitas a olho nu, tinha-se a impressão
de que o zodíaco fosse uma estrutura única e harmoniosa.
Essa idéia foi perenizada pela "ciência" astrológica, mas
não tem fundamento.

A astrologia tem sido reprovada em todos os testes


avaliativos a que se submete.

Alguns pesquisadores realizaram uma interessante


mensuração: astrólogos elaboraram o mapa astrológico de
pessoas selecionadas para a avaliação. Depois, essas
pessoas recebiam dos pesquisadores três mapas
astrológicos: o mapa verdadeiro e outros dois forjados,
contendo características bastante diversas das da carta
correta. Elas deveriam escolher qual dos mapas estaria
coerente com suas personalidades. A quantidade de
escolhas certas foi equivalente a de escolhas erradas. O
que demonstra que as aferições astrológicas são
inconcludentes: os consulentes se sentem atendidos tanto
com previsões elaboradas pelas técnicas astrológicas
quanto com revelações espúrias que lhes pareçam

118
coerentes. Talvez isso explique o sucesso dos horóscopos
de jornais e revistas.

No passado Astronomia e astrologia caminharam juntas.


Depois a Astronomia seguiu seu rumo, a trilha da ciência:
estudar os astros, suas características, origens e seu
caminhar pelo Cosmos. A Astronomia utiliza leis
científicas e formula hipóteses e teorias de boa
fundamentação. A Astronomia busca conhecer os corpos
celestes e entender suas peculiaridades. Enquanto isso, a
astrologia ficou perdida em suas concepções
insustentáveis.

Recentemente a astrologia recebeu um duro golpe com a


publicação do resultado de uma ampla avaliação:
milhares de pessoas foram acompanhadas desde o
nascimento até a fase adulta. Uma pesquisa que consumiu
cerca de trinta anos. O objetivo era verificar se as
personalidades coincidiriam com as previsões
astrológicas. O resultado: fracasso total. Não se detectou
qualquer correlação consistente entre a data do
nascimento e o caráter da pessoa.

A astrologia parou no tempo: repousa sobre bases


supersticiosas.

A arte de orientar o destino pelos astros adota


algumas premissas confusas:
1. estabelece que a data de nascimento seja o
fundamento para a elaboração do mapa
astrológico. No entanto, a lógica nos diz que
deveria ser o momento da concepção o início da

119
influência dos corpos celestes. Ao nascer, a
pessoa já teria suas características definidas, pois
teria estado nove meses sob a ação dos astros.
2. somente alguns astros são capazes de nos
sensibilizar. A astrologia considera cinco dos
nove planetas do sistema solar, mais a lua, o sol e
algumas outras estrelas como determinadores
dos destino. Os demais objetos celestes, que
perfazem um número imenso, são menosprezados.
Entretanto, todos os astros do universo possuem
idênticas características, portanto seriam
passíveis de exercer sobre nós alguma ação .
3. é difícil entender (e explicar) como poderia um
planeta ou uma estrela situada a enorme
distância influenciar nossas vidas.

A teoria astrológica assevera que somente as


estrelas do zodíaco e alguns planetas podem mexer
conosco. Arbitrariamente desprezam os demais
inúmeros corpos celestes. Porém, estes teriam igual
direito de sensibilizar nossas personalidades

A astrologia ficou restrita a um conhecimento limitado e


ultrapassado e fechou-se em torno dele. Hoje em dia não
há mais base lógica ou científica que possa ratificar essa
crendice.
Os simpatizantes facilmente são persuadidos pela
aparência de fidedignidade dos relatos e desprezam os
vaticínios incorretos. As cartas astrológicas seriam

120
válidas se contassem com completas e corretas
declarações. Na realidade tal não acontece. Os perfis
astrológicos baseiam-se em considerações genéricas, que
podem se aplicar a muita gente. Por exemplo, a frase,
"você procura a verdade, mas, às vezes, recorre à mentira
para se livrar de situações embaraçosas". A quantas
pessoas, nascidas sob quaisquer signos, tal descrição não
se aplicaria?
Brian Weiss não leva em conta as fragilidades da
astrologia e, empolgado com as "revelações" da
astróloga, exclama: "...Eu estava fascinado com a
exatidão de detalhes desses fatos descritos por Íris..."
Não é informado sobre como Íris Saltzman conseguiu
sondar a mente de Catherine. No papel de astróloga lhe
caberia elaborar o mapa astral da consulente. Entretanto,
mapas astrais, ao que se saiba, não revelam vidas
passadas. Resta, então, supor que Íris tenha utilizado seu
outro talento: "os canais mediúnicos", seja lá o que isso
signifique. Na melhor das hipóteses, poderíamos admitir
que Íris fosse uma sensitiva e percebeu as emoções de
Catherine. No entanto, o mais provável é que tenha
habilmente interrogado a moça e, com base nas
informações colhidas, feito a "revelação". Muitos
videntes são admiravelmente habilidosos nesse
procedimento.

121
A PARAPSICOLOGIA

Na apresentação do livro "Muitas Vidas, Muitos


Mestres" (págs. 9-11), feita por Lívio T.Pincherle, médico
psicoterapeuta, Presidente da Associação Brasileira de
Terapia de Vida Passada, deparamos um comentário que
merece apreciação:

“Minha experiência mostra que qualquer


psiquiatra de certa experiência já se defrontou
com fenômenos assim chamados
parapsicológicos mas, ou não quis tomá-los em
consideração ou, se o fenômeno não pôde ser
negado, limitou-se a relatá-lo para os 'íntimos'
como curiosidade sem explicação, por causa da
grande dificuldade de enfrentar seu paradigma
normativo."

A expressão fenômenos parapsicológicos, que o Dr. Lívio


utilizou em boa hora, é o cerne da questão – (apesar de
que, provavelmente a idéia do Dr. Lívio sobre a
Parapsicologia seja contaminada pelo esoterismo). Brian
Weiss não procurou nessa matéria – (área de pesquisa
que lhe apresentaria esclarecimentos plausíveis para as
manifestações de Catherine) – elementos que permitissem
analisar o caso com a profundidade desejada.

122
Há quem confunda espiritismo com parapsicologia. São
coisas bem diferentes. Provavelmente a confusão
aconteça porque muitos médiuns se auto-intitulem
"parapsicólogos" ou "paranormais". Na década de 1970 o
termo parapsicologia começou a se popularizar. A
maioria dos esotéricos que publicavam anúncios nos
jornais, oferecendo serviços de contato com o além,
passaram a se apresentar como praticantes dessa ciência,
provavelmente no intuito de dar maior legitimidade às
suas atividades. Até hoje ainda se encontra quem
considere que Parapsicologia e mediunidade sejam a
mesma coisa.

A Parapsicologia estuda questões não abordadas pela


psicologia e pela psiquiatria; averigua os mecanismos
mentais que possam ser causadores de manifestações
incomuns apresentadas por algumas pessoas e que,
comumente, são atribuídas ao sobrenatural. A
mediunidade é um dos assuntos analisados pela
Parapsicologia. O Dr. Lívio declara que muitos
psiquiatras deparam fenômenos que lhes são
desconhecidos os quais, por não estarem afeitos à sua
área, apenas observam sem lhes darem a atenção devida.
A Parapsicologia busca analisar tais fenômenos.

Os chamados fenômenos parapsicológicos não são


unanimemente aceitos pela comunidade científica. A
Parapsicologia luta para ser reconhecida como ciência.
A chamada percepção extrasensorial, um dos temas mais
abordados pelos parapsicólogos, é por muitos analistas
classificada de fantasia.

123
A maior dificuldade que enfrenta a Parapsicologia é a
pesquisa dos fenômenos. Estes ocorrem fora do controle
quem pretensamente os manifesta. Não se pode prever
quando haverá um evento, o que obstaculiza a
investigação técnica. Se o fenômeno não é controlável,
deixa de fazer parte dos que podem ser pesquisados
cientificamente, pelo menos assim entendem os que
descartam a validade das averiguações parapsicológicas.

Até mesmo com a telepatia, que popularmente é tida


como uma ocorrência comum, cientificamente é
classificada como carecente de fundamentação.

O trabalho da Parapsicologia é uma tentativa de analisar


e explicar manifestações que vêm sendo relatadas por
muitos séculos sem que sejam adequadamente elucidadas.
Visto que os diversos campos da ciência desprezam essa
modalidade de fenomenologia, cria-se em torno dela uma
aura de mistério, da qual se aproveitam alguns. Estes
apresentam explicações fabulosas, as quais, na falta de
melhores esclarecimentos, são aceitas como corretas
pelos curiosos.

Para a parapsicologia algumas ocorrências de contatos


com espíritos poderiam ser enquadradas no âmbito dos
fenômenos parapsicológicos; outras, talvez a maioria,
seriam simplesmente fabulações de mentes treinadas

Há algum tempo, um grupo de interessados em contatos


com o além, alguns deles não diretamente ligados ao
espiritismo, deu início a uma estranha pesquisa: gravar
eletronicamente mensagens alegadamente enviadas pelas

124
almas dos mortos. A atividade foi batizada de
transcomunicação instrumental.

Parecia uma tarefa revolucionária: se os mortos podem


comunicar por meio de engenhos eletrônicos, então
teríamos uma novidade digna de exame. Contudo, a
avaliação dessas mensagens é de desiludir: pobres em
conteúdo e pouco convincentes. Os "espíritos" proferem
frases soltas, que não formam nenhuma mensagem
válida. Os transcomunicadores têm muito pouco para
apresentar que mereça uma consideração mais séria. Em
termos comparativos, mil vezes mais eficiente no contato
com os espíritos, (caso tal comunicação de fato
acontecesse), seria o "sistema tradicional", feito pelos
médiuns. Se os espíritos pretendem realmente se fazer
percebidos pela utilização de meios eletrônicos, coitados:
estão encontrando grande dificuldade!

As pesquisas de cunho científico, que investigaram a


comunicação entre vivos e mortos, não conseguiram
comprovar um caso sequer de contato real. Todas as
manifestações são esclarecidas objetivamente pela ação
do inconsciente.

É claro, o assunto não pode ser esgotado em poucas


palavras. Um espírita não irá concordar que as
manifestações atribuídas aos espíritos sejam forjadas na
mente dos médiuns. Muitos eventos de comunicação
entre vivos e mortos são testemunhados diariamente pelos
adeptos do espiritismo, alguns com tal riqueza de detalhes
que surpreendem. Para os espíritas, as "provas" da
comunicação são tantas que dúvidas só podem persistir

125
na mente dos empedernidamente céticos. No entanto,
conforme vimos sinteticamente, o conceito de
comunicabilidade interdimensional está eivado de pontos
não esclarecidos.

O Dr. Weiss não levou em conta que pesquisas de


outras áreas além da psicologia ou da psiquiatria o
auxiliassem a esclarecer um evento com o qual não estava
habituado a lidar. A Parapsicologia tem investigado
revelações semelhantes às apresentadas por Catherine e
poderia lhe dar subsídios para uma avaliação de maior
amplitude. O médico preferiu caminhar por uma trilha
tortuosa, em vez de agir com a prudência do cientista.

Nada contra o fato do Dr. Brian Weiss haver se


convertido às doutrinas espiritistas. É uma questão de
foro íntimo optar por essa ou aquela religião. O
espiritismo merece respeito, como merece respeito
qualquer manifestação religiosa. O caso é que o médico
não realizou a avaliação meticulosa que o assunto exigia,
preferindo adentrar no caminho do ocultismo.

Uma pergunta: por que Brian Weiss desprezou sua


esmerada formação e se apegou a "revelações" oriundas
de fontes suspeitas? O caso de Catherine apresenta
situações que o médico não poderia deixar de investigar
meticulosamente, antes de elaborar um parecer superficial
e registrá-lo num livro...

Brian Weiss tem recebido elogios de muitos admiradores.


E não seria para menos: o currículo do médico é

126
invejável. Por isso, ficamos pasmados ante a fragilidade
de suas considerações.

127
MAIS PODEROSA QUE A MEDICINA
MODERNA...

A TVP propala a existência de curas, muitas curas, o que


seria a prova da legitimidade do método e de sua
cientificidade. Esta é uma questão complexa, que exige
estudos acurados para se averiguar até que ponto as curas
existem e em que amplitude.

Outra alegação seria que as curas provam a efetividade do


método. Infelizmente, para os regressionistas, este
argumento não os ajuda. Sabe-se de terapias que não
possuem respaldo científico e que alcançam curas, até
mesmo de doenças sérias. Existem medicamentos inócuos
(que não têm qualquer formulação química que provoque
modificações no organismo), chamados placebos, os
quais dados a pessoas sugestionáveis acarretam efeitos
admiráveis. No entanto esses métodos mágicos de
tratamento trazem um risco: podem mascarar sintomas e
causar falsa impressão de cura. Mais tarde o problema
eclode com muito mais gravidade que antes.

O que encontramos na TVP, com muita freqüência, são


depoimentos deslumbrados muitos dos quais pouco

128
confiáveis, pelo exagero com que exaltam o potencial
curativo desse pretenso método terapêutico. São palavras
de Brian Weiss:

“Avaliei o propósito terapêutico da exploração das


vidas passadas de Catherine...Há nesse campo
algum poder curativo muito forte, um poder que
parece muito mais eficiente do que a terapia
convencional ou a medicina moderna...” (Muitas
Vidas, Muitos Mestres)

Reflitamos sobre a declaração: diz que a terapia de vidas


passadas é dotada de uma força estupenda, capaz de curar
com mais eficácia que as terapias convencionais e até
mais poderosa que a medicina moderna. A
responsabilidade de uma afirmação dessas, feita por um
profissional de gabarito, é muito grande.

Noutra parte do livro, o Dr. Brian declara ter cuidado de


centenas de pacientes utilizando o tratamento ortodoxo
("Eu examinara centenas de pacientes..., muitos sob
hipnose, e jamais deparara com fantasias como essas").

Entretanto, o aparente desaparecimento dos males de


Catherine – um único evento – foi suficiente para que o
médico concluísse que o novo tratamento era mais
eficiente que a medicina moderna...

Será que o Dr. Brian não se precipitou em sua avaliação


sobre a TVP?

Pasmem! Um único caso, superficialmente estudado, foi


suficiente para que o renomado médico jogasse pela

129
janela anos de estudos e acatasse as histórias de sua
paciente como verazes!

Acreditamos que o Dr. Brian devesse ter tirado umas


férias antes de enfrentar o distúrbio de Catherine...Talvez
ele retornasse com a cabeça mais fresca...

A metodologia científica orienta o pesquisador a realizar


uma série de passos, até estabelecer uma teoria sobre o
assunto em estudo, (procedimento que Brian Weiss
definitivamente não realizou antes de concluir que a TVP
seria um método terapêutico superior a tudo o que ele
conhecera). O procedimento aplicável à maioria dos
casos, seria o seguinte:

Observar o fato;

Questionar o problema;

Apresentar uma hipótese;

Realizar experiências controladas com um grupo


de controle;

Tirar as conclusões .

130
→ Grupo de controle : grupo mantido nas condições
anteriores à experiência , usado para verificar o
resultado do experimento. Há situações em que não
seria possível a utilização dessa ferramenta, por
exemplo, no estudo de fenômenos parapsicológicos, que
são produzidos independentemente da vontade de quem
os apresenta. Em casos assim o método de avaliação
será um pouco diferente.

Pelo que depreendemos das declarações de Brian Weiss,


o terapeuta não seguiu os procedimentos recomendados
pela boa ciência. Preferiu abraçar cegamente a hipótese
esotérica.

Depois de afirmar que a regressão é método superior à


medicina moderna, noutro trecho do livro, o terapeuta se
contradiz ao afirmar que a TVP é limitada:

“Desde Catherine, tenho conduzido minuciosas


regressões a diversas vidas passadas de mais de
uma dúzia de pacientes. Nenhum era psicótico,
tivera alucinações ou múltiplas personalidades.
Todos melhoraram...

Não é necessário que todo mundo faça


regressões, visite médiuns ou até medite. Os que
apresentam sintomas incômodos ou
incapacitantes podem achar que vale a pena
fazer isso. Quanto aos demais, o importante é
manter a mente aberta...” (Muitas Vidas, Muitos
Mestres)

131
→ De doze pacientes tratados com a nova metodologia,
nenhum era psicótico, alucinado ou possuidor de
múltiplas personalidades. Eram pessoas não dadas a
simular o que sentiam (o que poderia confundir o
resultado do trabalho). Porém, surge a dúvida: e se o
doente for psicótico, alucinado ou dissimulador? O Dr.
Brian insinua que nesses casos a terapia regressionista
não deve ser utilizada. Ora, isso significa uma grande
limitação à TVP. Então, por que foi dito que a terapia é
superior aos métodos psiquiátricos convencionais e
superior até mesmo à medicina moderna?

Brian Weiss não recomenda a regressão a todas as


pessoas, apenas àquelas possuidoras de “sintomas
incômodos ou incapacitantes” (uma caracterização muito
vaga). No entanto, se existe na TVP um poder “superior”
à terapia convencional não seria de bom alvitre indicar a
regressão a todos? Se ela, de fato, é “mais eficiente que a
medicina moderna”, por que restringi-la a uns poucos?
Será que é porque, caso seja utilizada rotineiramente, se
revele menos eficiente que se apregoa?

A argumentação do Dr. Brian nos deixa confusos.

Brian Weiss se apresenta como um profissional de fina


formação. Não são muitos os que teriam um preparo tão
esmerado. Por isso, custa-nos entender como pôde
conduzir o caso de Catherine tão debilmente! No livro
“Muitas Vidas, Muitos Mestres” o Dr. Brian se porta
como um iniciante na ciência, em vez de agir como o
profissional que ostenta um currículo de fazer inveja...

132
CAPÍTULO 9

Almas Gêmeas

Depois de “Muitas Vidas Muitos Mestres” Brian Weiss


iniciou uma promissora carreira de escritor regressionista.
No livro “Só o Amor é Real” o terapeuta apresenta uma
novidade: as almas gêmeas. Estas seriam espíritos
programados pelo destino ou pelo carma, ou pelo que
seja, para se reencontraram vida após vida e viverem
felizes até que a morte os separe e outra vida os una; algo
mais ou menos assim.

Na exposição de sua idéia sobre as almas gêmeas, Brian


Weiss apresenta considerações frágeis e não leva em
conta algumas situações que se encaradas seriamente se
tornariam constrangedoras para as “almas gêmeas”.

A história no livro relata as aventuras de Pedro e de


Elizabeth, espíritos afins que pareciam fadados a não se
conhecerem nesta existência. Quis o destino que os dois

133
fossem acompanhados pelo Dr. Brian. O terapeuta
casualmente descobriu a identificação entre o casal e
cuidou de dar uma ajuda aos acontecimentos. No final,
como toda boa história, os dois se encontraram e a
paixão nasceu...

A trajetória do casal apresenta alguns aspectos pitorescos:


Pedro, numa vida anterior, fora pai de Elisabeth; noutra
existência fora irmão da moça. Depois que descobriram
serem almas gêmeas, acataram sem conflitos as
experiências passadas. Aparentemente, não manifestaram
restrições a se relacionarem sexualmente mesmo sabendo
dos laços fraternos e paternais antes experimentados.
Talvez, nem todos admitam pacificamente tais situações.
Suponhamos um casal que descubra que foram mãe e
filho noutra vida, estes talvez não se sintam tão
descontraídos na hora do sexo.

A tese das “almas gêmeas” pressupõe que alguns


espíritos se liguem em completo entendimento durante
variadas existências. Mesmo levando em conta a mútua
compreensão, os embaraços seriam inevitáveis se as
almas visualizassem os relacionamentos havidos.

Pensemos: a noiva descobre que o noivo foi um filho


amado em vida anterior; uma jovem apaixonada percebe
que o amado foi seu pai em existência pregressa; um
casal apaixonado lembra que foram mãe e filho no
passado; o casal de namorados recordam terem sido avó e
neto.

134
Se formos estender o assunto, considerando que nem
todas as almas são gêmeas (ou seja, nem todas se
relacionam harmoniosamente) é possível conceber
algumas combinações dramáticas, vejamos algumas:

• O estuprador se torna pai da moça que


violentou;

• O homem que levou seu sócio à falência e ao


suicídio se torna irmão do suicida;

• O assassino reencarna como filho do


assassinado;

• O esquartejador volta como sobrinho do


esquartejado.

E por aí segue...as hipóteses de combinações sinistras


são numerosas. A regressão vai desencavar recordações
desse tipo. E aí, como ficarão os envolvidos? Um casal
vai se relacionar tranqüilo sabendo que um assassinou o
outro anteriormente? Uma jovem apaixonada irá se
entregar sem restrições após descobrir que seu amado a
vendeu para ser prostituída em vida passada? Com que
olhos o pai contemplará seu filho, se souber que foi por
ele estraçalhado noutra vida?

Para não nos delongarmos no exame das muitas questões


estranhas encontradas em “Só o Amor é Real”,
destacaremos alguns relatos do livro, os quais
comentaremos:

135
“Quando terminei de fazer a contagem regressiva
de dez para um, Elizabeth já estava em profundo
transe hipnótico...

- Estou usando sandálias finas...Os meus cabelos


são escuros, castanhos e muito longos, caindo
abaixo dos ombros...Estou sendo treinada para
ser médica e dar assistência aos sacerdotes.

- Sabe o nome da terra onde está - indaguei.

- Egito...há muito tempo atrás.

- Sabe o ano?

- Não. Não vejo isso...mas é uma data muito


remota...muito antiga...

...Fui escolhida pelos sacerdotes, como as outras


também o foram. Somos todas escolhidas de
acordo com os nossos talentos...

...

- Você então é parente do Faraó?

- Prima...não muito próxima. A família dele é


muito grande. Até mesmo primos distantes são
considerados parte da família.

...

- Algum membro de sua família mora com você?

- Sim, o meu irmão, somos muito apegados...

136
- Olhe bem no rosto dele...Vê neles algum
conhecido em sua vida atual?

- Não...não o reconheço. [mais adiante revela-se


que esse irmão não é outro senão Pedro, a alma
gêmea de Elizabeth.]

...

- Passe adiante no tempo e vá para o próximo


evento importante...

- Adquirimos novas habilidades. Estamos


trabalhando com uns bastões especiais de
tratamento, capazes de acelerar a regeneração
de tecidos e membros...Há uma energia líquida
que flui dentro deles...Pode-se usá-los para
desenvolver músculos e regenerar tecidos,
mesmo tecidos mortos ou que estejam morrendo.

Ela não soube explicar como os bastões


funcionavam, a não ser afirmar que utilizavam
energia. Faltava-lhes as palavras e os conceitos
mentais necessários.

- Estou repetindo o que me dizem...Ainda não vi a


regeneração...Meu irmão, sim. Ele tem permissão
para isso e, quando for mais velho, terá direito ao
conhecimento da regeneração. O meu
treinamento terminará antes de chegar a esse
nível. Não posso atingi-lo por ser mulher...Seja
como for, ele me contará o segredo...prometeu-
me...já me explicou muitas coisas...Disse-me que
estão tentando ressuscitar pessoas que
morreram há pouco tempo!

...

137
- Como conseguem?

- Não sei...Eles usam vários bastões. E entoam


certos cânticos especiais. O corpo tem de estar
em determinada posição...E há outras coisas que
não sei...O meu irmão vai aprender, e depois me
dirá.

...

- Você faz também outros tipos de cura?

- Vários tipos - respondeu ela - Um deles é com


as mãos. Tocamos a área do corpo a ser curada
e enviamos energia diretamente para lá...através
de nossas mãos...

...

- Avance no tempo...o que vê?

- Agora, o meu irmão e eu somos


conselheiros...Trabalhamos ao lado do
governador dessa região, como assessores...

- Esse trabalho a satisfaz?

- Sim, é bom estar com meu irmão. E o


governador geralmente é bondoso. Costuma
ouvir nossos conselhos...Operamos também as
nossas curas.

...

Fiz com que ela avançasse no tempo.

138
...

- O que lhe aconteceu?

- O filho do governador adoeceu gravemente e


morreu...O governador sabia de nosso
trabalho...e de nossas tentativas de ressuscitar
pessoas recém-falecidas. De modo que exigiu
que eu lhe ressuscitasse o filho. Se eu não o
fizesse, seria condenada ao exílio...

- E o filho?...

- Ele não podia ser ressuscitado. Não era


permitido...Não faz sentido. Não cheguei a
aprender como usar os bastões. O meu irmão
ensinou-me um pouco, mas não o bastante...E
ninguém sabia que ele tinha me ensinado alguma
coisa.

- O que aconteceu ao seu irmão?

- Ele estava ausente, de modo que foi poupado.


Todos os sacerdotes estavam ausentes. Só eu
estava aqui...

- Quanto tempo você permaneceu no exílio?

- Não muito tempo...Sei como sair do meu corpo.


Certo dia saí do meu corpo e não voltei. Aquilo foi
a minha morte, pois sem a alma o corpo
morre...Não há dor, nenhuma interrupção da
percepção quando se escolhe esse tipo de morte.
Eu sabia que jamais iria ver meu irmão
novamente. E não podia executar o meu trabalho
naquela ilha deserta. Não havia motivo para
permanecer no estado físico. Os deuses

139
compreendem...” (Só o Amor é Real, págs.
143-152)

Nos livros de Brian Weiss quando são apresentadas


regressões com narrativas mais ou menos longas,
encontramos nelas vários escorregões. O que demonstra
que a história foi mal contada, ou mal "montada". Este
episódio não fica atrás: algumas contradições de
Elizabeth são facilmente percebidas. Além disso, há pelo
menos um ou dois fatos que pedem comentários
específicos.

Comecemos pelo mais evidente. Elizabeth recorda uma


existência no Egito: quando menina fora separada pelos
sacerdotes para se tornar médica. As mulheres podiam
aprender os segredos da ciência egípcia até certo patamar,
a partir dali somente os homens teriam acesso ao
conhecimento mais secreto. Elizabeth e o irmão estudam
a ciência oculta e mais tarde se tornam conselheiros de
um governador. Tudo ia bem até que um dia o filho do
governador adoece e morre. Para azar de Elizabeth, nesse
dia não havia nenhum médico e nenhum sacerdote na
cidade, estavam todos fora (talvez nalguma convenção
de médicos e de sacerdotes). Somente a moça ficara e a
ela o governador pedira que revivesse o filho. Incapaz de
trazer o morto de volta, foi condenada ao exílio.

“- Estou repetindo o que me dizem...Ainda não vi


a regeneração...Meu irmão, sim. Ele tem
permissão para isso e, quando for mais velho,
terá direito ao conhecimento da regeneração. O
meu treinamento terminará antes de chegar a
esse nível. Não posso atingi-lo por ser
mulher...Seja como for, ele me contará o

140
segredo...prometeu-me...já me explicou muitas
coisas...Disse-me que estão tentando ressuscitar
pessoas que morreram há pouco tempo!

...

- O filho do governador adoeceu gravemente e


morreu...O governador sabia de nosso
trabalho...e de nossas tentativas de ressuscitar
pessoas recém-falecidas. De modo que exigiu
que eu lhe ressuscitasse o filho. Se eu não o
fizesse, seria condenada ao exílio..."

Os governadores nem sempre são tolerantes, tampouco


inteligentes. Mas provavelmente aquele saberia que as
mulheres não conheciam o segredo da ressuscitação.
Portanto, não faria sentido ele condenar quem não
conhecia a mágica. Alguém aí errou: pode ter sido o
governador que, não obstante estar a punir uma inocente,
precisava descarregar sua ira em alguém; pode ter sido
Elisabeth, que não recordou direito o acontecimento...

“Estou sendo treinada para ser médica e dar


assistência aos sacerdotes”

A Elisabeth egípcia era assistente dos sacerdotes,


inferimos que ela não podia agir sozinha, teria que haver
sempre alguém hierarquicamente superior para
acompanhá-la. Contudo, na ocasião da morte do filho do
governador não havia nem médico nem sacerdote na
cidade. Seria algo semelhante a um hospital vazio,
contando apenas uma auxiliar de enfermagem para cuidar
de tudo! Será que os egípcios realizavam suas
convenções médicas e religiosas dessa maneira? Será que

141
o governador topava uma situação dessas? São mistérios
que somente o Dr. Brian Weiss poderia esclarecer...mas
que não esclarece...

As maiores estranhezas, contudo estão embutidas na


narrativa.

“- Sabe o nome da terra onde está - indaguei.

- Egito...há muito tempo atrás.

- Sabe o ano?

- Não. Não vejo isso...mas é uma data muito


remota...muito antiga...”

Brian Weiss indaga da paciente o nome do local onde ela


se encontra e a moça diz que está no Egito. Como ela não
sabe em que ano estaria (e se soubesse seria um caso
complicado, conforme vimos com Catherine), ele encerra
a pesquisa histórica sobre essa vida de Elizabeth. Não
teve a curiosidade de perguntar em qual cidade o caso se
passou e outras informações que permitiriam situar
aquela lembrança num período definido da história. E o
pior ainda não veio:

“- Você então é parente do Faraó?

- Prima...não muito próxima. A família dele é


muito grande. Até mesmo primos distantes são
considerados parte da família.

...

142
- Agora, o meu irmão e eu somos
conselheiros...Trabalhamos ao lado do
governador dessa região, como assessores...”

A moça era prima do faraó e trabalhara para o governador


de certa região. Por que o médico não lhe indagou o
nome desse faraó? E o nome da região onde ela passou a
trabalhar? E o nome do governador? Onde está o espírito
escrutinador do qual Brian Weiss se diz dotado? Ele
brindaria seus leitores com uma narrativa de qualidade se
apresentasse detalhes consistentes da aventura.
Surpreendentemente, as informações que seriam
relevantes são olvidadas pelo psiquiatra.

E quanto à língua? Pediu ele a Elizabeth que discorresse


em egípcio? Esta seria uma prova de que ela estivesse a
recordar uma vida pregressa. Brian Weiss parece se
preocupar apenas com o que é corriqueiro: em vez de
buscar informações firmes se satisfaz com revelações
superficiais...

“- Estou repetindo o que me dizem...Ainda não vi


a regeneração...Meu irmão, sim. Ele tem
permissão para isso e, quando for mais velho,
terá direito ao conhecimento da regeneração. O
meu treinamento terminará antes de chegar a
esse nível. Não posso atingi-lo por ser
mulher...Seja como for, ele me contará o
segredo...prometeu-me...já me explicou muitas
coisas...Disse-me que estão tentando ressuscitar
pessoas que morreram há pouco tempo!

...

143
- Como conseguem?

- Não sei...Eles usam vários bastões. E entoam


certos cânticos especiais. O corpo tem de estar
em determinada posição...E há outras coisas que
não sei...O meu irmão vai aprender, e depois me
dirá.

...

- Você faz também outros tipos de cura?

- Vários tipos - respondeu ela - Um deles é com


as mãos. Tocamos a área do corpo a ser curada
e enviamos energia diretamente para lá...através
de nossas mãos..."

Se a moça lembrava da vida no Egito, deveria lembrar-se


da ciência que aprendera. O médico, por mais espantoso
que possa parecer, não quis interrogá-la adequadamente.
Se o fizesse, caso a recordação de Elisabeth fosse real,
teria obtido preciosas informações, que ajudariam
grandemente o desenvolvimento da medicina.

Elizabeth afirma que aprendera o uso de bastões mágicos,


capazes de regenerar tecidos mortos e, ainda, realizava
curas pela energia das mãos. O Dr. Brian poderia e
deveria ter sondado a mente da moça até que ela lhe
trouxesse os detalhes desse fenomenal sistema
terapêutico. No entanto, ele não quis se dar a esse
esforço!

144
→ A dúvida que não quer calar: é possível que Brian Weiss
prefira deixar as lembranças de seus pacientes na
superficialidade, pois se averiguar detalhes,
fatalmente a fantasia seria revelada. Elisabeth não
conseguiria sustentar a história caso lhe fossem
exigidos detalhes concretos de sua vida egípcia e do
conhecimento que dizia ter adquirido. Podemos
observar que a proeza de Elisabeth é narrada sem
profundidade, nenhum aspecto relevante é por ela
apresentado. Situação semelhante acontece nas
numerosas regressões que se fazem em toda a parte.

__________________________________

“Embora eu tenha realizado mais de mil


regressões individuais a vidas passadas com os
meus pacientes, além de muitas outras em grupo,
pessoalmente só tive uma meia dúzia de
experiências desse tipo. Algumas lembranças me
vieram em sonhos vívidos e durante um
tratamento de shiatsu...

Quando terminou o seu curso de hipnoterapia


para aperfeiçoar-se como assistente social, a
minha esposa Carole realizou algumas sessões
de regressão a vidas passadas, usando-me como
paciente...

Vi-me como um rapaz de abastada família judia


em Alexandria, por volta do tempo de Cristo.
Sabia que a nossa comunidade ajudara a
financiar a construção das enormes portas
douradas do Grande Templo de Jerusalém. Meus
estudos incluíam o grego clássico e a filosofia dos
gregos antigos, especialmente dos seguidores de
Platão e Aristóteles.

145
Lembro-me de um fragmento da vida daquele
jovem, quando tentou complementar a sua
educação clássica viajando entre as
comunidades clandestinas dos desertos e
cavernas do sul da Palestina e do norte do Egito.
Cada uma dessas comunidades era uma espécie
de centro de estudos, geralmente de
conhecimentos místicos e esotéricos. Algumas
delas eram provavelmente aldeias de essênios...

Durante várias semanas, em minha peregrinação


de uma comunidade para outra, juntou-se a mim
um homem mais ou menos da minha idade. Era
mais alto que eu e tinha intensos olhos
castanhos. Ambos usávamos túnicas e
cobríamos a cabeça com turbantes. Ele transmitiu
paz e, enquanto estudávamos juntos com os
sábios das aldeias, assimilava os ensinamentos
bem mais rapidamente que eu. Depois me
ensinava, quando acampávamos juntos, ao pé de
uma fogueira; no deserto.

...Ao cabo de algumas semanas, nos separamos.


Fui estudar em uma pequena sinagoga próxima à
Grande Pirâmide, e ele foi para o ocidente." (Só
o Amor é Real – págs. 171-172).

Quem será esse “misterioso” personagem com o qual o


vaidoso Brian Weiss insinua ter convivido? Parece-nos
que ele quer referir-se veladamente a Jesus Cristo...

O Dr. Weiss afirma que estudara grego e filosofia.


Certamente que sob hipnose regressionista poderá
proferir discursos filosóficos em grego clássico. Seria
importante que ele revelasse esse domínio do grego
antigo, pois teríamos uma prova decisiva da vida helênica

146
do médico. Porém, como de praxe, isso é coisa da qual
ele não cogita...

O terapeuta informa que peregrinara entre comunidades


místicas e que “algumas delas eram provavelmente
aldeias de essênios". Os essênios há muito que
sensibilizam a imaginação dos ocultistas. A comunidade
essênia era fechada e sobre ela se dizem muitas coisas
que não correspondem ao que a Arqueologia apurou.
Brian Weiss não quer se comprometer, mas também não
quer deixar de pegar uma caroninha no assunto. Só que
ele se complica: diz ter peregrinado por várias
comunidades, mas não identifica nenhuma e faz uma
referência não conclusiva aos essênios (“provavelmente
eram essênios”). Ora, se ele esteve entre os essênios
deveria lembrar de forma categórica e não como
probabilidade...

Brian Weiss sutilmente afirma que teria contemplado a


face de Cristo. A curiosidade sobre como seria a figura de
Jesus está presente em milhões de pessoas. Por que o
médico não descreveu a imagem de Jesus a um desenhista
para que o mundo pudesse finalmente conhecer o
segredo?

Brian Weiss abraça uma idéia bastante divulgada sobre a


formação de Jesus que, porém, não é aceita pelos estudos
mais sérios. Segundo alguns esotéricos, Cristo teria
peregrinado por várias partes do mundo (alguns até o
vêem entre os lamas do Tibet) aprendendo a ciência de
diversas civilizações. Não há qualquer fundamento que
ampare essa tese.

147
Como de praxe nas regressões, nem mesmo Brian Weiss
consegue recordar fatos objetivos. Sua lembrança de uma
vivência no Egito e na Palestina coisa alguma traz que
tenha conteúdo. Ao contrário, Brian Weiss “recorda”, e
superficialmente, o que a Arqueologia e a História sabem,
com os acréscimos fantasiosos que sua mente elabora.

__________________________________

A idéia de almas gêmeas alimenta o sonho de muita


gente, homens e mulheres sonham deparar com sua
“outra face”, a fim de viverem em plenitude. Muitos
buscam ansiosamente indícios dessa perfeita interação:
consultam mapas astrológicos, tarô, búzios, etc.

Brian Weiss, talvez sabedor dessa generalizada


curiosidade, tenta explicar como funciona os mecanismos
que regem o encontro das almas gêmeas. Após a leitura
desses “esclarecimentos”, somos levados a concluir que o
processo é uma confusão fenomenal:

“Nem sempre as pessoas se casam com a alma


gêmea à qual estão mais fortemente ligadas.
Pode haver mais de uma à nossa espera, pois as
famílias de almas viajam juntas. Podemos decidir
casar com uma alma gêmea menos ligada a nós,
alguém que tenha uma coisa específica a nos
ensinar ou a aprender conosco. O
reconhecimento da alma gêmea pode ocorrer
mais tarde, quando já estamos comprometidos
com nossas famílias. Ou a conexão mais forte
com uma alma gêmea pode ser com um pai, um
filho, um irmão ou irmã. Ou esta conexão pode
ser com uma alma gêmea que ainda não

148
encarnou nesta vida e que nos protege do outro
lado, como um anjo da guarda.

Às vezes a alma gêmea está desejosa e


disponível para unir-se a nós. Ele ou ela talvez
reconheça a paixão e a química que existem, os
laços íntimos e sutis que envolvem conexões ao
longo de muitas vidas. No entanto, ela nos pode
ser prejudicial. É uma questão de
desenvolvimento espiritual.

Se um dos espíritos é menos desenvolvido e


mais ignorante que o outro, traços de violência,
cobiça, ciúme, ódio e medo podem interferir no
relacionamento. Essas tendências são nocivas
para a alma mais desenvolvida, ainda que
venham de uma alma gêmea. Não raro, surgem
fantasias do tipo “eu posso mudá-lo, posso ajudá-
lo a crescer”. Mas, se ele não permite que você o
ajude, se em seu livre arbítrio ela prefere não
aprender e se recusa a crescer, o relacionamento
está condenado. Talvez haja outra oportunidade
em outra vida, a não ser que ele desperte depois,
nesta mesma vida. Há almas que despertam
tardiamente.

Às vezes, almas gêmeas decidem não se casar


enquanto estão encarnadas. Conseguem
encontrar-se e permanecer juntas até que a
tarefa ajustada esteja completa, e depois seguem
adiante. Os programas de vida de cada uma são
diferentes e elas não desejam ou não precisam
passar por toda desta existência juntas. O que
não é uma tragédia, apenas uma questão de
aprendizagem. As duas têm uma vida eterna em
companhia uma da outra, mas às vezes precisam
freqüentar aulas separadas...

149
Não se preocupe em encontrar almas gêmeas. O
destino se encarrega desses encontros.
Certamente acontecerão. Após o encontro, o livre
arbítrio das duas prevalece. As decisões que são
ou não tomadas dependem do livre arbítrio, da
opção...” (Só o Amor é Real – Págs. 187-
188)

Brian Weiss parece dizer que: o encontro entre almas


gêmeas tem resultados incertos. Às vezes o processo
funciona, às vezes não. Pode acontecer de tudo, ou pode
não acontecer nada. Coisa alguma se pode afirmar com
certeza. É um verdadeiro “vale-tudo” essa hipotética
busca por nossa alma gêmea...

A idéia das almas gêmeas é muito bonita literariamente:


romancistas e poetas produzem obras de fino trato tendo a
idéia como tema. Entretanto, ao se encarar o assunto
como um fenômeno espiritual, a concepção se torna
desastrosa!

150
A TVP e BRIAN WEISS, uma defesa...

Vejamos um panegírico do escritor José Reis Chaves,


sobre a TVP e sobre Brian Weiss, juntamente com os
comentários que julgamos necessários (os destaques são
nossos):

“No século passado e princípios do século XX,


os maiores adversários do espiritismo foram os
médicos e a Igreja.

Hoje, por ironia, são os médicos, principalmente


os psiquiatras e os psicólogos, e os católicos, que
mais vêm abraçando a Teoria da Reencarnação.

Os psiquiatras e os psicólogos, influenciados por


um número cada vez maior de seus colegas,
alguns dos quais de renome internacional, vêm
tornando-se terapeutas da TVP.”

→ Reis Chaves extrapola: existem, sim,


psiquiatras e psicólogos reencarnacionistas,
entretanto estes são minoria, a Terapia de
Vidas Passadas não é tida como método
terapêutico pelas escolas de psicologia. A
escolas oficiais encaram a TVP como crendice.

151
Os terapeutas que a utilizam atuam como
curandeiros, não como médicos.
Semelhantemente, a declaração de que cada
vez mais católicos abraçam a reencarnação é
exagerada. Entre o cristianismo e o
espiritismo existem diferenças inconciliáveis.
O cristianismo defende que a salvação da
humanidade depende da misericórdia divina; o
espiritismo acredita que a reencarnação
permite que o homem atinja a perfeição com
esforço próprio.

“Muitas doenças mentais como traumas, certas


fobias, insegurança, entre outras, têm muitas
vezes suas causas em vidas passadas. E
somente com a regressão aos instantes em que
ocorreram tais causas, consegue-se de fato a
cura. Muitos terapeutas de regressão até a vida
fetal que não acreditavam sequer em Deus, em
nada de espíritos e de vidas passadas, acabaram
sendo surpreendidos pelos seus pacientes, que,
inesperadamente, acabaram regredindo a vidas
passadas.

Isso, hoje, se tornou assunto de rotina entre todos


os níveis de pessoas que vêm resolvendo seus
problemas mentais com raízes em vidas
passadas, recorrendo à TVP...”

→ A tese de que traumas sejam originados em


vidas passadas é especulativa, nada tem de
científica. A afirmação de que “somente com
a regressão” os traumas são curados é
errônea: a regressão possibilita ao
traumatizado uma muleta fantasiosa, que pode
lhe dar uma falsa sensação de melhora.

152
“No Brasil, atualmente, estão sendo criados
cursos para que psiquiatras e psicólogos passem
a exercer a profissão de terapeutas de regressão
a vidas passadas..."

→ Os “cursos” para terapeutas regressionistas


não têm respaldo científico e não são
reconhecidos pelos órgãos fiscalizadores.

“Mas é no Primeiro Mundo que a TVP está


mexendo mais com o público. É grande no
número de terapeutas de vidas passadas...

Brian Weiss, autor de Muitas Vidas – Muitos


Mestres; e de Só o Amor é Real...Famoso
psiquiatra, é pesquisador em laboratório da
massa encefálica, comandando uma grande
equipe de especialistas da mente...Era
praticamente um materialista, quando foi
surpreendido por um paciente seu, a quem fazia
regredir à vida uterina, o qual, de repente, se viu
numa vida passada. A partir daí, Brian Weiss, já
famoso como cientista, começou a estudar
profundamente o assunto. E, como já aconteceu
com vários outros psiquiatras e psicólogos, aderiu
à TVP, tornando-se, pois, mais um adepto da
Teoria da Reencarnação." (José Reis Chaves –
A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência
– 1998)

→ Parece-nos que Reis Chaves leu o livro de


Brian Weiss sem muita atenção: a
experiência não aconteceu com um paciente,
sim com uma paciente que, conforme vimos,
chamava-se Catherine. O terapeuta não a
"fazia regredir até a vida uterina", sim até
a idade de dois anos. Além disso, ficou claro

153
que a conversão de Brian Weiss ao
reencarnacionismo foi por conveniência aos
seus interesses, não por avaliação científica.
José Reis Chaves também faz referência a
um "laboratório da massa encefálica", do qual
o Dr. Brian seria pesquisador. Talvez
estejamos desinformados, mas não
encontramos nos escritos de Brian Weiss ou
em comentários sobre seu trabalho, nenhum
registro sobre esse tal laboratório da massa
encefálica...

154
CONCLUSÃO SOBRE O TRABALHO DE BRIAN
WEISS

O Dr. Brian escuda-se na sua refinada formação


psiquiátrica e em suas atuações em instituições de renome
como forma de dar autenticidade ao que prega sobre a
regressão a vidas passadas. Talvez para seus admiradores
pareça que a apologia que o terapeuta faz da terapia de
vidas passadas seja aceitável. Afinal, não seria “qualquer
um” a defender o tema, trata-se de alguém que muito
estudou e deve saber o que diz.

No entanto, essa forma de raciocínio não se sustenta: uma


autoridade em determinado assunto, não o será
necessariamente em outro. Respeita-se a formação
ortodoxa do Dr. Brian, pois é de indiscutível qualidade;
no que tange a vidas passadas, no entanto, suas
ponderações são sofríveis.

A apologia da terapia de regressão de vidas feita por


Brian Weiss pode, para muitos, soar como a
demonstração de que o médico evoluiu no conhecimento
e na técnica. De início seria apenas um bom profissional
que utilizava a psiquiatria tradicional; depois teria dado
um passo adiante e adotado um sistema mais avançado:
ele mesmo declarou que o regressionismo é um método
curativo superior à medicina moderna.

155
Há um engano nesse juízo: se não for possível traçar uma
linha evolutiva incontestável entre a psiquiatria ortodoxa
e a terapia de vida passadas, estaremos diante de um
raciocínio inadequado, uma falácia.

Uma falácia é um falso argumento com aparência de


verdadeiro; um sofisma.

Para que as idéias de Brian Weiss sobre as vidas passadas


tivessem profundidade seria preciso uma bem elaborada
teoria, ou mesmo demonstrações incontestáveis, que
corroborassem o que ele propõe. O que se viu na
argumentação do médico foram discursos entusiasmados
e pouco conteúdo.

Quem ninguém veja em nossas palavras a intenção de


desmerecer gratuitamente a figura de Brian Weiss.
Qualquer pessoa que analise com um pouco de atenção a
dissertação que o médico faz sobre a terapia de vidas,
verá que se trata de uma apreciação frágil. Facilmente se
percebem muitos elementos fantasiosos em seu discurso.

Podemos admitir que Brian Weiss efetivamente seja um


psiquiatra qualificado. No entanto, como defensor da
Terapia de Vidas Passadas deixa a desejar.

156
CAPÍTULO 10

Radiografando a TVP

Este seria o hipotético discurso de um terapeuta


regressionista:

“Meu método terapêutico é abrangente: utilizo


todas as vertentes da psicologia, inclusive
sua maior força, a psicologia transpessoal;
conjugo psicanálise com regressão a vidas
passadas, o que dá amplitude ao tratamento.
Acrescento ao processo a astrologia.
Paralelamente, desobstruo os chakras para
uma melhor circulação energética. Sou
assessorado por médicos desencarnados, e
por entidades de luz. Recebo mensagens
psicomagnéticas de efeito medicinal, oriunda
de sobreviventes atlantes, que vivem numa
inacessível região dos Andes. E, ainda,
periodicamente sou alcançado por ondas

157
psicocosmológicas emanadas de seres
ultradesenvolvidas que vivem em Antares...”

Numa primeira leitura pode parecer exagerada essa


apreciação, porém o que se vê com freqüência na prática
da TVP é a associação de métodos terapêuticos válidos
com muitos outros sem base confiável. Adiante,
apresentaremos relatos de eventos regressionistas e deles
faremos análises. Apreciaremos, então, variados
exemplos dos incomuns métodos da terapia de regressão
de vidas.

Os textos que apresentaremos, quando não indicarem


outra fonte, foram extraídos do livro de Célia Resende,
intitulado “Terapia de Vidas Passadas, Uma viagem no
tempo para desatar os nós do inconsciente”.
Conheçamos um pouco sobre a autora:

“Célia Resende realiza workshops e cursos de


formação profissional para terapeutas em TVP.
O processo terapêutico trabalha com a psicologia
nos níveis biográficos, perinatal e transpessoal,
percorrendo diversos caminhos de estudo,
acumulando vasta experiência no campo da
comunicação, dos fenômenos paranormais e do
comportamento humano. Participou desde muito
jovem de trabalhos de pesquisa e cura através
dos fenômenos de materialização de espíritos.
Estudou bioenergética, parapsicologia,
projeciologia, psicologia oriental e transpessoal,
kardecismo e umbanda, em busca de um elo
comum entre essas várias correntes do
Conhecimento. Completou seus estudos com
regressão de memória, assiste energético e
florais de Bach." (Divulgação do trabalho de

158
Célia Resende feita pela Editora Record-Nova
Era)

→ Célia Resende possui uma formação esotérica


bastante eclética; suas idéias são ilustrativas
dos métodos empregados na terapia
regressionista. Célia aplica em sua clínica um
misto de tudo o que estudou, ou seja,
bioenergética, parapsicologia, projeciologia,
psicologia oriental, psicologia transpessoal,
etc.

Célia Resende demonstra simpatia por expressões


herméticas, ao que parece, no intuito de embasar suas
idéias. Entretanto, quando observadas mais atentamente,
essas expressões revelam-se pouco objetivas. Do livro em
referência extraímos algumas:

• luz astral;
• força eletromagnética;
• rede magnética;
• desmagnetização de condensadores de energias;
• resíduos kármicos;
• capacete de luz;
• implantes magnéticos;
• blocos de energia concentrada;
• sistema eletromagnético, etc.

159
O magnetismo exerce sobre Célia Resende singular
atração. A terapeuta vê em quase todos os supostos
fenômenos que atribui ao sobrenatural algum efeito do
magnetismo.

Célia Resende também simpatiza com a Física Quântica.


Muitos esotéricos fazem referências à Mecânica Quântica
como se esta fosse a explicação para tudo o que não se
consegue explicar. A Física Quântica é um mergulho num
mundo que só recentemente começou a ser descortinado.
Existem mais perguntas que respostas. Não é fácil,
mesmo para mentes geniais, teorizar na profundidade que
o assunto exige. Muitos esotéricos aproveitam os vazios
que a pesquisa não preencheu e alardeiam idéias insólitas,
alegando tratarem-se de formulações quânticas.
Lembramos as palavras de Niels Bohr, um dos grandes
físicos do século XX: “qualquer um que declare que a
teoria quântica é clara, na realidade não a compreende”.

Veremos exemplos do programa terapêutico de Célia


Resende, seguidos de nossos comentários (lembramos
que os destaques nos textos são feitos por nós):

"A locomoção nas dimensões extrafísicas é feita


de diversas maneiras. Algumas regressões falam
de microônibus iluminados e de estrutura
estranha, trens, veículos arredondados e
voadores. Mas dependendo das regiões e do
desenvolvimento mental da pessoa, ela poderá
deslocar-se por ato volitivo, apenas pela força do
pensamento." (Célia Resende)

→ a terapeuta apresenta considerações sobre as


movimentações no além, tal qual fez Chico

160
Xavier no livro “Nosso Lar”; só que Célia
Resende vai mais longe: Chico concebeu um
sistema de transporte por meio de um ônibus
voador; Célia amplia o sonho: informa que na
esfera celestial variados meios de transporte
são utilizados, inclusive a autopropulsão mental.
Que tráfego intenso não existirá nas lides
celestes! Essas teorias sobre o além possuem
grande similaridade com as histórias de ficção
do cinema e dos quadrinhos. A diferença é que
a ficção é apresentada meramente como
distração, enquanto que os esotéricos
asseveram que suas suposições constituem a
mais concreta realidade...

“Os cientistas do espaço trabalham com


equipamentos inimagináveis controlados pela
força do pensamento, realizando o
processamento do ectoplasma doado
conscientemente para diversas utilizações no
tratamento espiritual. Utilizando técnicas ainda
desconhecidas por nós, materializam a luz astral
em diferentes cores e matizes, que pela força do
amor têm como objeto sanar a desarmonia, que é
a grande fonte das doenças. Muitas vezes, essas
energias são por eles concentradas e
direcionadas para a criação de novas células."
(Célia Resende)

→ “Equipamentos inimagináveis...para processar


o ectoplasma doado conscientemente”;
“cientistas do espaço”;...ficamos em
dificuldade para formar um entendimento
sobre tal discurso...na literatura de ficção
esses temas podem ser interessantes, no
entanto, quando se pretende que seja uma

161
explanação real é difícil sustentar a
argumentação.

“Os médicos do espaço não são fantasmas, e sim


seres em constante evolução. São médicos,
físicos, químicos que se materializam para melhor
atuar na dimensão material, trabalhando com
sofisticada tecnologia científica, sem cortes, e
influindo em cada célula doente. Operam
diretamente com a luz astral, matéria etérica e as
vibrações cromáticas, que constituem o corpo
humano e os reinos animal, mineral e vegetal."
(Célia Resende)

→ Eis uma tentativa de autenticar um assunto


nebuloso: “luz astral”, “matéria etérica”,
“vibrações cromáticas”, “médicos do espaço
que se materializam”...os termos são lançados
no ar, como se assim pudessem conquistar
solidez. Célia Resende diz que o corpo
humano, e tudo o mais, é formado por três
componentes: luz astral, matéria etérica e
vibrações cromáticas. Acontece que a ciência
jamais detectou esses componentes no ser
humano, nem na natureza. Levando em conta
tratarem-se de elementos materiais, visto
que, conforme afirma Célia, seriam partes
constitutivas dos corpos, teriam de ser
percebidos pela investigação científica.

→ Se os médicos do espaço fossem reais, a


medicina e toda a ciência da Terra estariam
muito mais avançadas que atualmente. Ainda
que a ciência oficial desprezasse a “ajuda”

162
dos do espaço, os médiuns e os esotéricos a
utilizariam proficuamente. E onde estão as
curas miraculosas que a “avançada tecnologia
espacial” realiza? O que se vê, ante o
propalado conhecimento dos cientistas do
espaço, são pífios resultados. A TVP,
mesmo assistida pelas ditas “entidades
espaciais” não consegue melhores resoluções
que os tratamentos com as terapias terrenas.
A própria Célia Resende nos dá um bom
exemplo com a história de Alba, que
veremos a seguir.

→ Gostaríamos de contemplar um “médico do


espaço materializado”. Célia Resende deveria
filmar as materializações que testemunha,
assim exibiria uma prova firme da atuação dos
médicos espaciais na terapia esotérica...Pena
que a doutora não tenha pensado nisso...

“Alba sofria de artrite reumática...Realizamos um


trabalho intensivo de regressão a várias
existências e uma dieta isenta de carne, com
bastante líquido e frutas...Ela sofreu duas
cirurgias espirituais que a ajudaram muito a
eliminar os resíduos kármicos. Ela percebeu uma
equipe de médicos do astral agindo em seus
vários corpos energéticos e, no plano extrafísico,
sentiu sua cabeça girar, enquanto um ser etéreo
colocou sobre ela um capacete de luz. Tubos e
fios luminosos ligavam seus corpos físico e
etérico a equipamentos estranhos...Uma grande
melhora surgiu após esse tratamento paralelo à
terapia...Numa sessão seguinte, a equipe médica

163
trabalhou com uma pasta dourada, que foi
espalhada nas articulações e por todo o seu
corpo. Um dos médicos parecia costurar, com fios
de luz, uma parte de seu corpo energético que
estava rompida e com manchas escuras...É
importante esclarecer que Alba chegou ao
consultório quase imobilizada, com as
articulações inchadas. A terapia associada ao
trabalho realizado pela equipe de medicina
espiritual provocaram uma melhora de 80% em
seu estado." (Célia Resende)

→ Alba foi assistida pela avançada tecnologia


dos médicos astrais e obteve apenas 80% de
recuperação!...ou seja: os médicos espaciais,
mesmo com a avançada tecnologia que
dominam, não conseguiram curar a doente.
Sendo ajudada por tão “desenvolvida” ciência,
seria de esperar que Alba ficasse 100%
curada e nunca mais passasse por uma
recaída. A moça conseguiu o mesmo que
obteria com uma adequada assistência médica
terrena... Provavelmente a própria Dra. Célia
tenha realizado mais que os “cientistas
espaciais”, pois ao receitar uma “dieta isenta
de carne com bastante líquido e frutas",
desintoxicou o organismo da paciente, o que
lhe permitiu recuperar parte de sua
capacidade... Podemos, então, afirmar:
retire os médicos espaciais dessa história e o
resultado continuará sendo o mesmo... Talvez
melhor...

→ Há um aspecto importante na “terapia”


aplicada: Alba sofria de artrite reumatóide,
uma moléstia dolorosa, que ataca as

164
articulações. Diagnosticado o mal, a terapeuta
lançou-se com sua paciente num “trabalho
intensivo de regressão a várias vidas”. A
médica ao seu capricho decidiu que a doença
de Alba provinha de situações vividas em
outras existências. Com base em quê Célia
Resende chegou a tal conclusão? A medicina
postula que a artrite reumatóide tenha origem
genética, somada a peculiaridades ambientais.
Entretanto, Célia refuta o postulado da
medicina e assevera que a causa da artrite
está localizada em vidas passadas...é mole?

“Pude perceber isso em minha prática clínica,


quando me deparei com vítimas de obsessores,
como ocorreu durante uma sessão de terapia
com uma paciente chamada Regina...Nestes
casos, primeiro entro em contato com as equipes
espirituais, para, em harmonia, cada qual cumprir
suas tarefas. Depois, conversando com o ser
desencarnado, procuro ajudá-lo com informações
esclarecedoras, emitindo impulsos mentais de
força eletromagnética capazes de criar um campo
de força protetora. A equipe espiritual, atuando na
dimensão astral, utiliza esse campo para
completar o trabalho, muitas vezes de
imobilização do obsessor, numa forte rede
magnética." (Célia Resende)

→ Conforme a suposição da terapeuta, há casos


em que os problemas psíquicos são causados
por entidades obsedantes, que seriam
espíritos do mal, capazes de perturbar o
sossego dos que caem sob seu domínio:

165
→ Desse modo, Célia Resende, para resolver o
problema, reúne-se com uma equipe médico-
espacial destacada para assessorá-la durante
o tratamento. Ela não esclarece que
tecnologia utiliza para fazer contato com tais
seres. Talvez use algo como um
“intercomunicador dimensional”. Cá pra nós:
seria tremendamente profícuo para a
medicina tradicional dispor de um
“assessoramento astral”. No mínimo,
findariam as cirurgias fracassadas e não
existiriam seqüelas pós-operatórias...
Entretanto, o segredo de como fazer contato
com essas entidades está reservado a uns
poucos “iluminados”...

→ O segundo procedimento de Célia Resende é


distribuir adequadamente o trabalho de cada
parte, para não haver confusão e ninguém se
meter na seara alheia.

E começa o espetáculo: Célia Resende do


lado de cá aplicando seus conhecimentos
místicos e “eles” do lado de lá
complementando o processo...porém, a faina
não terminou: a médica também é capaz de
dialogar com a entidade obsessora,
aconselha a que pratique boas ações em vez
de infernizar a vida de quem está
quieto...Pelo visto, a estratégia de
conversar com o espírito obsessor tem dupla
finalidade: ao mesmo tempo em que o supre
com orientações construtivas, distrai sua
atenção; o que possibilita à equipe espiritual
capturá-lo com uma “rede magnética”. Em

166
resumo: a fantasia levada às últimas
conseqüências...

Realmente, o que a doutora diz realizar não


é coisa para qualquer um:

a) planejar o trabalho
juntamente com seres de outras
dimensões;

b) conversar com entidades


obsessoras e dar-lhes
conselhos;

c) trabalhar em equipe com as


entidades espirituais...

→ O problema é comprovar que realmente as


coisas acontecem conforme a doutora
Célia nos informa. Ao assegurar que
conversa com médicos de outras
dimensões e que realiza o aconselhamento
de espíritos obsessores, ela deve saber o
que diz. De outro modo teríamos de
inferir que estaríamos diante de uma
mente alucinada e tal conclusão não
ousamos. A questão é que não são
apresentados dados objetivos e
suficientes para que se analise a
legitimidade dos contatos com os entes do
espaço e com os espíritos obsessores, e
tudo o mais. Uma atividade de tamanha
relevância deveria ser adequadamente
esclarecida, acompanhada de
demonstrações inequívocas. Desse modo,

167
as muitas dúvidas que surgem quando
ouvimos essas narrativas seriam sanadas.
Do jeito superficial com que o assunto é
apresentado somos obrigados a concluir
que tudo não passa de pesada fantasia. O
que fica patente nesse quadro é a
inserção na terapia de procedimentos
nebulosos e pouco confiáveis.

“O pesquisador espírita Luiz da Rocha


Lima...desenvolveu uma séria pesquisa sobre os
trabalhos de ‘antigoécia’ – processo utilizado por
encarnados e desencarnados que trabalham na
desmagnetização de objetos utilizados como
condensadores de energias direcionadas a
alguma vítima. Geralmente, os obsessores usam
magnetismos humano e animal para criar
campos de força negativos que são dirigidos a
distância para influenciar a mente do obsedado. A
antigoécia consiste em desativar esses campos
de força, embora estes possam ser reativados se
houver o restabelecimento da comunicação entre
o obsessor e a vítima..." (Célia Resende)

→ Sem intento desrespeitoso, o trabalho de Luiz


da Rocha soa burlesco. Leiamos a parte final
do texto: “a antigoécia consiste em desativar
esses campos, embora possam ser reativados
se houver restabelecimento da
comunicação”...Então, a antigoécia serve para
quê? Para desativar o que em seguida pode
ser reativado?

168
→ A idéia de um “magnetismo” humano ou
animal, com fantásticas aplicabilidades
terapêuticas, é herança do espetaculoso
Mesmer. Na época em que fazia suas
apresentações de cura magnética, Mesmer já
não era levado a sério pela ciência. Hoje em
dia apenas o esoterismo deslumbrado dá
respaldo ao mesmerismo. Existem alguns
estudos em andamento sobre a viabilidade de
aplicações do magnetismo em várias situações,
inclusive na área de saúde, porém nada têm a
ver com Mesmer ou com as idéias fantásticas
sobre o poder do magnetismo. Não se deve
confundir pesquisa com especulação
irresponsável.

→ Mesmer encantou-se pelo trabalho de um


jesuíta que dizia curar por meio de imãs. E,
a partir daí, desenvolveu sua teoria dos
fluidos magnéticos. Acreditava que os seres
eram dotados de uma forma de circulação
especial, até então desconhecida pela ciência.
Deduziu que quando houvesse desequilíbrio na
circulação magnética surgiriam as doenças.
Seria necessário restabelecer o fluxo para
que os problemas fossem eliminados. O físico
vienense não percebeu que seus espetáculos
de magnetização levavam os pacientes a um
estado hipnótico e os deixava altamente
sensíveis a estímulos curativos. Quando os
doentes afirmavam ter melhorado, Mesmer
atribuía o resultado ao magnetismo, quando,
em verdade, a melhora devia-se ao efeito da
sugestão. Já na época de Mesmer, diversos
pesquisadores testaram a teoria dos fluidos
magnéticos que revelou-se infundada. Mesmo

169
assim, ainda hoje, há quem acredite numa
“circulação magnética”, como parece ser o
caso da doutora Célia Resende.

“Um outro tipo de obsessão, a kármica, ocorreu


com Lúcia...ao escrever sua tese sobre uma tribo
africana, reativou um processo de magia...O
trabalho despertara a reestimulação das emoções
vividas numa outra existência, restabelecendo
canais de comunicação com os obsessores do
passado...Após tentar diversos tratamentos
médicos, ela procurou-me desesperada,
atormentada por pesadelos e visões...No início do
tratamento, fomos surpreendidas pela
interferência positiva de uma freira desencarnada,
que se revelou uma forte protetora com o apoio
de um grupo de espíritos africanos que eram
profundos conhecedores da magia
local...Enquanto isso, o trabalho da equipe
espiritual corria paralelamente, desfazendo os
vínculos da paciente com os laços de magia que
se estendiam ao presente...O tratamento
demorou mais de um ano...ao fortalecer sua
vontade...começou a proteger o
pensamento...libertando-se do processo
obsessivo." (Célia Resende)

→ Percebemos que as obsessões são mais


complexas que pensávamos: além da obsessão,
digamos, comum, existe outra chamada
“obsessão kármica”. Enquanto tentávamos
compreender o “processo obsessivo” e as
“comunicações interdimensionais” eis que
recebemos nova carga de dúvidas. Ficamos a
nos perguntar: como será que a impressionável

170
Lúcia teria sido contagiada pela obsessão
kármica?

→ Há um conceito universalmente admitido em


ciência e na filosofia, diz o seguinte: diante
de duas ou mais possibilidades plausíveis para
explicar algum fenômeno, deve-se escolher a
mais econômica. Em outras palavras, será
viável a explicação que acrescente menos
dificuldades ao assunto. Quando apela-se
para o sobrenatural como forma de esclarecer
alguma dúvida, e deixa-se de lado outras
hipóteses mais coerentes, ramifica-se o tema
em questões enigmáticas, num vale-tudo onde
só o limite da imaginação pode frear o
processo. Lúcia certamente é uma pessoa
sensível a superstições e, ao mexer com um
assunto que a abalou, imaginou-se sob o
domínio da feitiçaria de uma antiga tribo
africana. Magia e feitiçaria são concepções
primitivas e vazias, originadas numa época em
que se julgava possível domar a natureza com
sortilégios. A magia sobrevive na atualidade
porque mentes sugestionáveis a alimentam ―
(imaginem o poder que teríamos se as forças
do universo pudessem ser controladas por
fórmulas mágicas? Deixaríamos de estudar as
matérias tradicionais e todos nos aplicaríamos
ao aprendizado da magia. Pronto, a natureza
estaria inteiramente sob nosso domínio!).

→ A Dra. Célia, em lugar de esclarecer à sua


paciente que feitiçaria só subjuga quem nela
acredita, surpreendentemente ampliou o
devaneio de Lúcia. Ela talvez tenha livrado a

171
moça daquela “obsessão kármica”, porém a
jovem seguiu seu caminho propensa a formular
outros sonhos da espécie, visto que a origem
de seus temores não foi devidamente tratada.

“O sensitivo e profundo pesquisador da realidade


espiritual Edgard Cayce...trabalhava em transe
para diagnosticar e realizar curas, utilizando
poderes de clarividência comprovados por
respeitáveis investigações de cientistas de sua
época. Edgard dizia que o karma funciona de
diversas maneiras, provocando efeitos físicos ou
psicológicos, de acordo com os abusos que foram
cometidos aos outros ou a si próprio." (Célia
Resende)

→ Muito apreciado no meio esotérico, o aqui


chamado “profundo pesquisador da realidade
espiritual” é tido por analistas mais rigorosos
como um grande embusteiro. Cayce elaborou
numerosas “revelações mediúnicas”, a maioria
sem condição de ser comprovada. Sobre a
Atlântida inventou algumas histórias capazes
de divertir até o mais ingênuo dos homens.
Várias de suas previsões são habilmente
encaixadas nos acontecimentos por seus
seguidores e ganham a aparência de corretas.
Na área médica Cayce prescreveu
medicamentos para o tratamento do câncer e
outras doenças, que não tinham nenhuma
capacidade para debelar essas moléstias. É
difícil identificar quais seriam as ditas
“respeitáveis investigações de cientistas”
sobre Cayce. Edgard Cayce tem, sim, um

172
grupo de admiradores nos Estados Unidos que
procura manter vivas suas profecias. No
entanto, muito pouco de positivo se pode falar
a seu respeito. Examinemos um exemplo das
suas leituras mediúnicas:

“A leitura 1208 foi feita para o sobrinho da


secretária de Edgar Cayce, Gladis Davis. Em
suas encarnações anteriores mais famosas, tinha
sido Thomas Jefferson...Cayce disse que o
garoto deveria se tornar mais importante para a
história mundial do que o fez como Jefferson. Isto
não ocorreu porque seus pais não seguiram os
conselhos de Cayce com relação à sua educação
(isso confirma que o fator astrológico, embora
importante, não é o único que compõe os
quadros dos eventos.)
Em uma encarnação remota, Jefferson fora um
atlante que liderou os filhos de Belial contra os
filhos da Lei do Um. Casou-se com uma moça
espiritualizada e se corrigiu, fundando colônias
atlantes na América. Depois de ter sido
Alexandre, foi um dos soldados que libertou a
França do domínio romano...
Segundo Cayce, numa vida anterior Thomas
Jefferson teria sido Alexandre, o Grande, da
Macedônia. (Leituras de Cayce – Marcelo
Borges)

→ Marcelo Borges, ativo astrólogo e admirador


de Edgard Cayce, apresenta um pequeno
exemplo da grande imaginação do vidente. O
profeta previu que o desconhecido Gladis
Davis seria mais engrandecido que Thomaz

173
Jefferson, do qual fora encarnação. A
profecia não deu certo. Porém, conforme
entende Marcelo Borges, não foi Cayce quem
errou. O problema foi que os pais do garoto
não souberam educá-lo corretamente...(é a
velha história de se remendar os fatos para
adequá-los às previsões).

→ Avaliando a “leitura” feita para Gladis


percebemos que o rapaz tivera uma caminhada
incerta: fora Thomaz Jefferson;
anteriormente encarnara em Alexandre da
Macedônia, mas também viera na roupagem de
um simples soldado e finalmente despontou
como o medíocre Gladys. O que Cayce não
explica é porque o menino regredira em
brilhantismo e valor (Allan Kardec não iria
gostar desse caso, pois contraria a teoria
espírita da reencarnação evolutiva):
inicialmente fora um general atlante, depois
encarnou como Alexandre, o Grande. Em
seguida, sofreu uma queda enorme: veio como
um soldado francês. Mais adiante, se
recuperou e assumiu a identidade de Thomaz
Jefferson e, por fim, retornou como um
jovem incapaz de alçar vôo porque os pais não
lhe deram o treinamento adequado. A
aventura reencarnatória de Gladis Davis seria
uma grande contradição à teoria das múltiplas
vidas.

→ Cabe destaque à atuação de Gladys durante


sua vida como atlante: “liderou os filhos de
Belial contra os filhos da Lei do Um”. O
interessante é que outros divulgadores dos

174
“segredos” de Atlântida desprezam as idéias
de Cayce sobre os grupos políticos que
lutavam pelo poder em Atlântida. Edgar
Cayce não conseguiu convencer a maioria dos
esotéricos, pois cada qual apresenta uma
versão particular do assunto.

Examinemos uma avaliação menos fantasiosa sobre


Edgard Cayce:

“Edgar Cayce (1877-1945)


Edgar Cayce foi um alegado médico com
diagnósticos psíquicos, e leitor psíquico de vidas
passadas. Chamavam-lhe "o profeta adormecido"
porque fechava os olhos e parecia entrar em
transe quando fazia as leituras...deixou milhares
de relatos de vidas passadas e leituras médicas...
Mesmo não tendo uma educação formal, Cayce
era um leitor voraz, especialmente de literatura do
oculto e da osteopatia (que, nesses dias, era
primitiva e próxima da quiroprática, naturopatia e
medicinas populares). Estava em contacto com
pessoas de formações diversas que lhe serviam
de fontes...Martin Gardner cita a leitura por Cayce
da sua própria mulher como exemplo. A mulher
sofria de tuberculose:
....da cabeça, dores ao longo do corpo na
segunda, quinta e sexta dorsal, e da primeira e
segunda lombar...nós aqui, lesões flutuantes, ou
lesões laterais, nas fibras nervosas e musculares
que fornecem a parte inferior do pulmão e
diafragma...em conjunção com o nervo simpático
do plexo solar, vindo em conjunção com o fim do
estomago....

175
O fato de Cayce mencionar pulmão seria a prova
do diagnóstico correto. Mas e os diagnósticos
incorretos: dorsal, lombar, lesões flutuantes,
plexo solar e estômago? Porque não contam
como falhas? E porque recomendou Cayce
osteopatia [tratamento de doenças ósseas] para
pessoas com tuberculose, epilepsia e [câncer]?
...
Gardner comenta que o Dr. J.B. Rhine, famoso
pelas suas experiências em PSE ―[percepção
extrasensorial]―, na Duke University, não estava
impressionado com Cayce. Rhine sentiu que a
leitura psíquica feita à sua filha não encaixava
nos fatos...
...Cayce também afirmou estar em contacto com
Atlantes enquanto ausente nas suas viagens
mentais. Cayce é um dos maiores responsáveis
por algumas das mais tontas noções sobre a
Atlântida, incluindo a de que possuíam uma
espécie de Grande Cristal. Cayce chamou-lhe a
Pedra Tuaoi e disse ser um gigantesco prisma
cilíndrico que era usado para juntar e
focar"energia", permitindo aos Atlantes fazerem
coisas fantásticas. Mas tornaram-se gananciosos
e sintonizaram o Cristal para freqüências
demasiado altas provocando perturbações
vulcânicas que levaram à destruição do seu
mundo. (Dicionário Cético)

→ Edgard Cayce proferia discursos obscuros,


com um linguajar rebuscado, e era admirado
por uma multidão de desinformados; nada
mais que um ardiloso, ou um iludido, que
apregoava possuir o poder de prever o futuro
e identificar encarnações. É de surpreender
como um palavreado vazio como o de Cayce

176
foi capaz de cativar a tantos! Deixemos
Edgard Cayce e voltemos a Célia Resende.

"Uma aula sobre processos de cura espiritual


aconteceu durante uma regressão de Anete,
geóloga, após reviver e liberar muitos resíduos
kármicos bastante tóxicos, numa vida
passada...Ao fazermos a limpeza e energização
dos chakras, ela percebe uma equipe médica
espiritual, descrevendo em detalhes o tratamento
que se desenvolve para corrigir a densidade de
seus corpos energéticos: ‘uma luz prateada
circula como se fosse um líquido pelo meu
cérebro, inundando os filamentos neuroniais. E
quando essa luz o atravessa, alguns deles, muito
esticados e tensos, ganham maior elasticidade,
distendendo-se. O interior do meu cérebro parece
um laboratório’...Estabeleço diálogo com a equipe
médica através de Anete. Eles explicam que para
dissolver os bloqueios provocados por estresse,
seja qual for a causa, é preciso se mudar a
freqüência do pensamento...Esse método pode
ser usado também para qualquer outra obstrução,
em qualquer órgão...Após dois anos de terapia,
Anete desenvolveu bastante a sua
paranormalidade, e já entra em contato com o
seu orientador espiritual, revendo cenas difíceis
de uma vida passada...Para amenizar os
resíduos dessas vivências dolorosas, o chefe da
equipe espiritual coloca as mãos sobre a testa
dela e depois sobre cada face...Em seguida...ele
coloca uma das mãos sobre seu estômago e a
outra sobre o coração...Projeta uma luz dourada
bem no centro do coração, que se divide em dois
raios luminosos que se estendem pelas pernas,
um terceiro sobe em direção à cabeça e mais

177
dois descem por cada braço. Quando acaba o
trabalho, ele se inclina e se despede com as
mãos fechadas sobre o peito." (Célia Resende)

→ Célia Resende deve ter achado a evolução


maior da medicina, pois os médicos do espaço
lhe ensinaram como “desobstruir” qualquer
órgão... Imaginamos que isso equivale a
buscada “panacéia universal”, o remédio para
todos os males. Anteriormente Célia afirmava
dominar a técnica de “limpeza e energização
dos chakras”, agora acrescenta ao seu
conhecimento o dom da “desobstrução
orgânica”! Parece que os médicos ortodoxos
estão perdendo muito por desconhecerem
esses revolucionários procedimentos...

→ É curioso que, no passado, a medicina


acreditava que o organismo saudável fosse
equilibrado pela circulação harmoniosa dos
“humores”. Quando se manifestasse uma
doença, seria preciso eliminar os “maus
humores”. Então aplicavam-se sangrias,
enemas, eméticos, tudo com a finalidade de
“desobstruir” os órgãos. Não eram poucos os
que sucumbiam a esse tratamento. A
exposição de Célia Resende lembra muito essa
idealização antiga, apenas com nova
roupagem...

→ Após dois anos de terapia, Anete se vê


envolvida com “cenas difíceis de uma vida
passada”. Diríamos que a moça está cada vez
mais perdida na névoa de seus conflitos. Ela
buscava tão-somente se livrar das

178
dificuldades psicológicas que a acometiam e
terminou a dialogar com fantasmas...

→ Outra questão a esclarecer: o que seriam


“resíduos kármicos bastante tóxicos”?

“Outros processos de ordem mais complexa são


encontrados na magia negra, quando se utilizam
objetos, instrumentos e inclusive implantes
magnéticos, blocos de energia concentrada ou
peças que mantêm interferência sobre o sistema
eletromagnético da vítima para o fortalecimento
das influências negativas...a magia negra visa a
vampirização de energia, à manipulação da
mente da vítima e ao bloqueio do fluxo de energia
positiva ou da comunicação saudável entre as
pessoas." (Célia Resende)

→ O fato de Célia Resende temer a magia é um


problema pessoal. Se para ela tal
mistificação tem fundamento, respeitamos. O
que se critica é a atitude da terapeuta de
fazer com que sua crença pareça ser parte de
uma técnica médica com fundamentação
científica! Isso confunde a quem não dispõe
de informações adequadas. Efetivamente, o
procedimento da doutora não é nada elogiável.
Se propalasse sua convicção como crença
religiosa, ou coisa parecida, tudo bem.
Entretanto, ela fala do tema qual se
discorresse a respeito de metodologia
respaldada em estudos e pesquisas, quando
não passa de especulação de baixa qualidade.

→ Reflitamos sobre a magia, seja branca, ou


negra, ou de qualquer cor. Como funciona? A

179
noção de magia presume que algumas pessoas
dominem uma “ciência oculta” que lhes
possibilita realizar coisas fantásticas. A
idéia não faz sentido: não se conhece ninguém
que verdadeiramente tenha tais poderes.
Ainda assim, milhões de pessoas em todo o
mundo acreditam. Mas não é difícil
demonstrar a implausibilidade dessa “ciência”:
basta observar que a força dos feitiços nunca
ultrapassa os limites da crença dos envolvidos.
Quando alguém verdadeiramente não crê em
feitiçarias, podem mil bruxas lhe lançar
maldições e nada acontecerá. No entanto, se
a vítima aceitar que um “feiticeiro” tenha
condição de prejudicá-la, toda a sorte de
infortúnios pode suceder. O efeito psicológico
de um “feitiço” é indiscutível. Há pessoas que
se deixam convencer tão profundamente
serem vítimas de sortilégios que fica difícil
tirar-lhes da mente essa torturante idéia. Só
sossegam quando encontram quem alegue
capacidade de realizar um “trabalho” mais
poderoso. É comum encontrar-se feiticeiros
oferecendo “desfazer” trabalhos de outros
feiticeiros.

→ É claro que a tática de utilizar feitiçaria


contra feitiçaria, não cura ninguém de suas
angústias. A vítima se sente temporariamente
tranqüilizada, porque o “mal foi desfeito”.
Porém, mais adiante enfrentará novas
encrencas, visto que sua mente ainda é
receptiva ao medo, e tudo recomeça... O
caso de Adélia que adiante é relatado mostra
claramente essa situação.

180
“Um caso de obsessão entre desencarnados
ocorreu com Adélia, estudante de psicologia, que
fora um homem condenado à morte durante a
Revolução Francesa. Ele morre com a sensação
de que a irmã o traiu, 'tirando o corpo fora e
deixando-o sozinho numa fria'. Desencarnado,
continua como ficou na prisão, encolhido num
canto escuro, sem querer falar com ninguém...

Deprimido e apático, tornou-se presa fácil para os


desencarnados ansiosos por auxiliares, e não
demorou muito tempo para que um líder maligno
percebesse seu potencial. Conhecedor das
fraquezas humanas, ele se aproxima e tenta
convencê-lo a participar do seu grupo...o
obsessor insufla-o com a idéia de que a irmã
ficou muito bem após livrar-se dele.

Isto representou a gota d’água que faltava para


convencê-lo da traição. Com a promessa de
ajuda, ele [Adélia] se deixa levar de volta ao
mundo físico e, como entidade extrafísica, tudo
observa sem ser visto...

A segunda parte desse processo mostra a


obsessão de um desencarnado sobre encarnado,
quando eles dois partem para interferir na
dimensão física, pelo fenômenos de ressonância,
transferindo energia vibratória para a irmã. Esta,
por estar na mesma freqüência mental de culpa,
permitiu o acoplamento do irmão, vibrando na
raiva e no ressentimento por ela. Se não
houvesse ressonância vibratória, não existiria
contato entre essas diferentes dimensões,
impedindo-se a comunicação. Isto significa que
os espíritos obsessores só conseguem

181
estabelecer contatos se ocorrer ressonância
vibratória entre eles e suas vítimas.

...

Para que o plano saísse perfeito fizeram o


mesmo com o marido, cuja fraqueza era a
insegurança e o ciúme...O passo seguinte foi
induzir situações que estimulassem a
discórdia...Para que o plano não corresse o risco
de fracassar, uma placa de ação magnética é
colocada entre ela e o marido...uma armadura
energética, imantada, com a intenção de
1
afastá-la do marido ...A crise do casal estava
cada vez mais forte. Num momento de lucidez,
tentaram descansar, viajando para sua casa de
campo...Seguindo plano do instrutor, ele projeta
passes magnéticos sobre a irmã para entorpecê-
la. O instrutor aproveita a presença de um ladrão
no vilarejo...o ladrão é instigado a seguir em
direção à casa da irmã...a irmã dorme
profundamente...À tarde...o marido vai ao
quarto...e assusta-se com o vulto
masculino...Cego de ciúmes o marido perde a
razão...puxando a espada e matando-a num só
golpe. Por sua vez, o irmão desencarnado
[Adélia] percebe a dimensão de seu ato...ele
percebe o quanto a amava e que não desejava
seu mal...A experiência de Adélia demonstra
como os pensamentos obsessivos...envolvem as
pessoas...mantendo-as imantadas entre si...Tanto
ele [Adélia] quanto sua irmã foram vítimas de
obsessão." (Célia Resende)

→ ("uma placa de ação magnética" afasta o


marido da esposa...onde será exatamente que
as "entidades" puseram essa placa?...)

182
→ Adélia é uma figura singular! No capítulo 5
comentamos uma aventura por ela
protagonizada. Naquele episódio Adélia era um
homem que vivera durante a Revolução
Francesa ― (A Revolução Francesa abrangeu o
período de 1789 a 1795). A doutora Célia
"descobriu" que Adélia (na época encarnada
num homem) fora acusado de traidor, o que
lhe originou um trauma profundo. Tão
profundo que a acompanhou pelas vidas
seguintes. Agora, Adélia retorna em nova
confusão, desta feita com a irmã. Antes,
Adélia fora apresentada como "assessora de
imprensa", aqui é "estudante de psicologia".
Pode ser que, após a "elucidação" do trauma
revolucionário, tenha decidido trilhar outro
rumo profissional. Desejamos-lhe boa sorte,
mas auguramos que não se torne mais uma
terapeuta regressionista, visto que, em nossa
opinião, já as temos além da conta...

→ Nesta peripécia, a sofrida Adélia passa por


uma intrincada experiência de obsessão. A
Doutora Célia apresenta uma inovação à teoria
espírita: para ela a obsessão só ocorre se a
“freqüência vibracional” do obsedado for a
mesma do obsedante. Allan Kardec nada falou
sobre isso. “Aprendemos” ainda que, no além,
quem estiver distraído corre o risco de ser
dominado por uma entidade malévola. Isso
porque existe obsessão tanto cá quanto lá...
Quem for desta para melhor, que fique de
olhos bem abertos!

183
→ Conforme explica Célia Resende, o espírito de
Adélia-homem pôde obsedar sua irmã porque
esta estava na “mesma vibração de culpa”.
Segundo a teoria da Dra. Célia, a obsessão
só ocorre se houver “ressonância vibratória”
entre os obsessores e suas vítimas, seja lá o
que isso signifique.

→ Pois bem, o que diremos, então, do marido,


que também fora vitimado pela obsessão? ―
(“Para que o plano saísse perfeito fizeram o
mesmo com o marido, cuja fraqueza era a
insegurança e o ciúme”). A fraqueza do
marido era a insegurança, o que supostamente
o faria “vibrar” numa outra ressonância,
diferente da exigida para permitir o
acoplamento daqueles obsessores (estamos
raciocinando com base na “teoria”
apresentada por Célia Resende). A obsessão
do cunhado de Adélia fica, pois, sem
fundamentação...

→ A situação de Adélia é preocupante:


recentemente combateu os efeitos de uma
injustiça sofrida há duzentos anos; em
seguida se viu às voltas com o resultado de
complexa trama de obsessão. Onde será que a
magoada moça irá parar? Parece que a
doutora desencavará traumas sem fim na
mente de Adélia. Isso porque em vez de
livrá-la das superstições as alimenta cada vez
mais...

184
“Vários estudos científicos de ponta sobre
fenômenos paranormais indicam o uso de novas
técnicas que abrem horizontes no campo da
pesquisa psíquica. Aos que desejarem tratar as
enfermidades da alma, de encarnados ou
desencarnados, o Dr. José Lacerda de Azevedo e
seu grupo apresentam o resultado de trinta anos
de estudos...

O grupo liderado pelo Dr. Lacerda trabalha os


fenômenos da alma sem dogmas, mitos ou
ortodoxias...Várias curas foram comprovadas..., a
partir de intenso trabalho desobsessivo ,
utilizando-se a técnica de despolarização dos
estímulos da memória, chamada ‘apometria’.

...a técnica da apometria revela-se uma poderosa


arma no tratamento de inúmeros focos de
neuroses e psicoses...

O estudo e o desenvolvimento da medicina


espiritual levam a equipe do Dr. Lacerda a
situações inesperadas...

‘Certa vez, diante de um mago desencarnado e


confiante de seus poderes, formamos um campo
de força para paralisar a sua atuação. Mas nada
o limitava nem o aprisionava, pois parecia
adivinhar nosso propósito. Ele antecipou nosso
gesto e desviou nossas projeções magnéticas.

Dr. Lacerda relatou que, nesse momento,


aproximou-se o espírito de vovó Joaquina.
Radiante em sabedoria e amor, incorporou numa
médium e apresentou-se como uma ‘preta-velha’,
socorrendo e orientando-os. ‘Meu zinfio, tu sabe
o que é spin?’, pergunta ao Dr. Lacerda.

185
Ele e a equipe acharam que ela estivesse falando
de ‘espinho’, linguajar mais comum a uma preta-
velha. Sem entender a relação do espinho com o
que estava acontecendo, pergunta aflito: ‘Por
quê’.

Quando ela apresenta a descrição detalhada do


que estava falando, eles compreendem que se
referia ao número quântico spin. Ela orientava-os,
de forma científica, para uma inversão no spin do
mago, ao mesmo tempo que espalmava a mão
direita em projeção magnética na direção deste,
criando um campo de força imobilizante.

Dr. Lacerda conta que começaram a contagem


para a formação de um intenso campo
magnético, a fim de provocar a inversão angular
dos spins no corpo astral do mago, defasando-o
em 45 graus. Assim que terminaram a contagem
em sete, o mago leva um choque instantâneo e
sua energia desmonta como um bloco,
completamente inconsciente. Vovó Joaquina
cuida da transferência do mago para a sua cidade
astral, onde será tentada a sua recuperação.”
(Célia Resende)

→ Bem, não podemos desprezar o trabalho do


Dr. Lacerda, afinal são trinta anos de
estudos e, ainda, com o respaldo de Célia
Resende! Com base no embate entre a equipe
do Dr. Lacerda e o mago pirracento, é
possível extrair algumas conclusões
“interessantes”. Vejamos:

• A apometria é um procedimento
médico revolucionário, pois trata
tanto de males dos viventes,

186
quanto dos que passaram para o
outro plano, ou seja, serve para
curar doenças dos vivos e dos
mortos!

• Pelos ensinos da apometria, os


métodos mágicos constituem uma
força tremenda, pois atuam
nesta vida e também no outro
mundo;

• É possível combater com eficácia


os facínoras espirituais: basta ter
boa pontaria e disparar rajadas
magnéticas na direção certa. Os
meliantes serão destrambelhados;

• Aplicando-se adequadamente
fundamentos científicos, podemos
vencer a magia, não só neste
mundo quanto no outro. (Vimos
que o resistente mago sucumbiu à
manipulação quântica dos seus
spins.). Falta explicar como a
ciência material pode atuar no
mundo dos espíritos...

• O Dr. Lacerda e equipe muito


contribuiriam para o progresso da
ciência se esclarecessem melhor
essa sensacional utilização da
física quântica no trato com
malfeitores da esfera espiritual...

187
→ O que significa “spin”? Informa o Dicionário
Aurélio: “Spin: Número quântico associado a
uma partícula, e que lhe mede o momento
angular intrínseco. De acordo com as regras
da mecânica quântica, o spin pode tomar
apenas certos valores especiais, iguais a um
número inteiro, ou a um número semi-inteiro,
multiplicado pela constante de Planck reduzida
― (constante de Planck: proporcionalidade
entre a energia de uma partícula e a
freqüência de onda a ela associada)”.

→ Célia Resende e a equipe do Dr. Lacerda


acrescentariam um novo capítulo à Física caso
elaborassem uma tese fundamentada sobre a
“inversão espiritual” de spins. Esperamos que
não demorem a apresentar essa preciosa
informação...

→ Mais uma vez, no entanto, questões que


seriam de grande profundidade são
apresentadas superficialmente. Insistimos: o
Dr. Lacerda nos deve uma teoria sobre a
utilização da Física Quântica nos embates
espirituais. Por enquanto, infelizmente, não
podemos nos furtar a concluir que a equipe
do Dr. Lacerda Azevedo mergulhou num mundo
de fantasias e dele não soube sair...

Sobre a apometria cabe um comentário específico.

Célia Resende responsabiliza-se por afiançar que “a


técnica da apometria revela-se uma poderosa arma no
tratamento de inúmeros focos de neuroses e psicoses”.
Trata-se de uma declaração firme que, num primeiro

188
momento, pode fazer crer que estaríamos diante de um
método terapêutico altamente eficaz. Entretanto, quando
conhecemos melhor as teses dessa insólita terapia,
ficamos com a impressão de que foram elaboradas pelos
internos de um manicômio.

No meio espiritista encontram-se dedicados praticantes


da apometria. A terapia foi iniciada no Brasil pelo Dr.
José Lacerda de Azevedo e dela temos uma definição
“esclarecedora” dada por José Carlos Palermo,
terapeuta holístico:

“Apometria é medicina espiritual. É a medicina


utilizada em hospitais do plano astral a partir da
4ª dimensão. É indicada em casos de cirurgias
astrais, incluindo transplantes de órgãos
comprometidos e remoção de miomas por
exemplo, obsessão espiritual, auto-obsessão,
Pseudo-Obsessão, parasitismo, vampirismo,
estigmas espirituais, remoção de implantes no
corpo astral, arquepadias, (magia originada em
passado remoto), goécia (magia negra),
tratamentos especiais para magos negros,
tratamento de espíritos em templos do passado,
condução dos espíritos encarnados, em
desdobramento, para Hospitais do Astral
Superior. Perfeito para tratar de síndrome da
ressonância vibratória com o passado, que é a
cura e eliminação de traumas vividos em vidas
anteriores, através de terapia de vidas passadas.”

Outra informação, também “elucidativa”:

189
“O Espiritismo e o Espiritualismo propõe
esclarecer o homem sobre sua realidade
transcendental, orientar seu destino glorioso e
prepará-lo para o grande momento da retomada
harmônica e responsável de todo seu conteúdo
de memórias que armazenou no transcorrer do
processo evolutivo, que o transformará em
verdadeiro super-homem. E nesse grande
momento terapêutico, em que surgem Apometria
e TVP, eles nos fornecem os parâmetros para
uma melhor utilização desses conhecimentos.

Trata-se de uma técnica anímica, composta por


13 leis, que faculta, através de sintonia
mediúnica, o acesso aos registros e
particularidades desse agregado formado pelos
sete corpos e seus níveis (Perispírito), onde se
ocultam as raízes das desarmonias psíquicas e
espirituais do ser. O termo Apometria é composto
das palavras gregas “apo” que significa “além de”
e metrom que significa medida. Designa o
desdobramento espiritual ou bilocação, bastante
estudado por diversos autores clássicos.

Serve para se tratar terapeuticamente distúrbios


de ordem pessoal, interpessoal, transpessoal,
psíquica, espiritual, anímica e física. É útil ainda
como recurso e conhecimento auxiliar das demais
técnicas terapêuticas.
(www.holuseditora.com.br/)

Outros teóricos espíritas não vêem a apometria com tanta


generosidade e a classificam de ingenuidade. A
apometria, assim como a TVP, lida com conceituações
pesadamente esotéricas e de difícil comprovação. José

190
Carlos Palermo relaciona nada menos que 14 “problemas
espirituais” que afirma serem solucionados pela
apometria:

• cirurgias astrais;
• obsessão espiritual;
• auto-obsessão;
• pseudo-Obsessão;
• parasitismo;
• vampirismo;
• estigmas espirituais;
• remoção de implantes no corpo astral;
• arquepadias (magia originada em passado
remoto);
• goécia (magia negra);
• tratamentos especiais para magos negros;
• tratamento de espíritos em templos do
passado;
• condução dos espíritos encarnados, em
desdobramento, para Hospitais do Astral
Superior...”

o caso é que inexiste a mínima comprovação de que essas


"dificuldades espirituais" sequer sejam reais. A única
coisa constatável é a extremada utilização de conceitos
vagos, sem base sólida. Vejamos o que diz um texto
espírita contrário à essa "terapêutica":

“Ora, a apometria é então uma técnica totalmente


estranha à Doutrina Espírita, pois segundo esta

191
não existem "corpos espirituais", a Doutrina faz
referência apenas ao perispírito. Logo se
observa, ao estudarmos o assunto, que se trata
de uma técnica que absorve conceitos da
Teosofia e do hinduísmo... repudiamos com
veemência a catalogação dessa técnica de
desdobramento como espírita, até porque em
Espiritismo não há técnicas.
...
O método, em resumo, consistiria em se aplicar
"pulsos magnéticos concentrados e progressivos"
no "corpo astral" do paciente e, "por sugestão"
comandar-se-ia seu afastamento. Desdobrar-se-
iam o médium e o doente para contato com
"entidades médicas do astral" !!! Está visto que
não há a menor cientificidade no método: é um
amontoado de termos, sem a menor possibilidade
de controle científico e com o falso pressuposto
de que os Espíritos estariam à disposição dos
médiuns em dias e horas marcados. Enfim,
parece-nos um verdadeiro Ôba, Ôba espiritual...
...
Finalizando este tópico, diremos que o
conhecimento da técnica da Apometria
demonstra que a imaginação humana não tem
limites, principalmente quando se quer auferir
dividendos com a credulidade das pessoas, pois
dentro deste barco encontram-se alguns médicos,
psicólogos, etc., inescrupulosos; a julgar-se pela
propaganda já referida. Não citamos nomes das
pessoas porque não queremos personalizar...”
(ISO JORGE TEIXEIRA - Psiquiatra)

192
CAPÍTULO 11

Avaliações Complementares

No início deste livro foi apresentado um escrito de José


Reis Chaves, que prometemos comentar. Eis que chegou
o momento:

"A Era da TVP


A regressão de memória ou Terapia de Vida
Passada (TVP) limitava-se antes a ir só até à vida
intra-uterina.. Hoje, ela vai até às outras vidas
anteriores do espírito.

→ Fala-se muito em “regressão à vida intra-


uterina”, como se fora uma prática
consagrada: vários psicólogos “descobrem”
traumas ocultos em lembranças que

193
pacientes trazem desse período de sua
existência. Acontece que é falaciosa a
crença de que seja possível a recordação do
período de gestação. Tal idéia constitui uma
impossibilidade científica e fere o bom
senso. A mente das pessoas, mesmo as
dotadas de genialidade, precisa de um
tempo para desenvolver-se e poder
elaborar coerentemente os pensamentos. O
mundo para uma criança soa como uma
algaravia de sons, cores, odores, etc., dos
quais ela não tem a menor compreensão.
Somente depois de vários meses mergulhada
nesse confuso universo é que o infante
começa a ter percepção objetiva do que se
passa à sua volta. Lembrem como os
adultos se divertem com as ingênuas
ponderações infantis sobre os
acontecimento que vivenciam...A criança se
esforça e, aos poucos, vai desenvolvendo
uma compreensão adequada do ambiente. A
inteligência infantil conhece formidável
progresso à medida que desenvolve a fala.
A partir de então ela passa a lidar com
conceitos abstratos e pode-se dizer que é
nesse período que se começa a pensar de
verdade. A estrutura física e mental do
feto ainda não está formada, portanto ele
nada pode elaborar. As propaladas
recordações fetais são sonhos de pessoas
sensíveis a sugestões. José Reis acata sem
remorsos a idéia de que fetos tenham
lembranças... (adiante apresentaremos um
relato exemplificativo de uma regressão à
vida uterina.)

194
→ José reis chaves começa o texto com um
equívoco: diz que regressão de memória é o
mesmo que Terapia de Vida Passada. Não
é. Regressão de memória é um
procedimento adotado por alguns
hipnoterapeutas, a qual busca recuperar
lembranças desta vida, notadamente
acontecimentos da infância, com fins de
tratamento de distúrbios psíquicos. A
terapia de vidas passadas, advoga que seja
possível a recuperação de lembranças de
outras existências. Reis Chaves misturou as
coisas.

→ Reis Chaves leva o equívoco ainda mais


longe, pois declara que “A regressão de
memória ou Terapia de Vida Passada (TVP) limitava-
se antes a ir só até à vida intra-uterina”. Ora, se é
terapia de vida passada pressupõe-se a
lembrança de existências pregressas,
portanto em nenhum momento ela poderia ir
“somente até a vida intra-uterina”...

“A TVP acessa o arquivo “acashico” da Teosofia,


do Rosacruz, dos orientais, maçons e do Livro da
Vida do Apocalipse, o que implica aceitar a
reencarnação, que é a doutrina mais lógica que
existe. Porém, a maioria dos dirigentes religiosos
cristãos prefere defender seus interesses
particulares a aceitarem o óbvio. Sabe-se,
todavia, que muitos pastores, padres e bispos
submetem-se sigilosamente à TVP. E o certo é
que a reencarnação está em várias partes da
Bíblia, como lemos em Jô 8,9: “Somos de ontem,
e nada sabemos”. Mas esses dirigentes religiosos

195
vão chegar lá! Depois de mais de 300 anos do
Heliocentrismo, a Igreja acabou reconhecendo
oficialmente que Galileu estava certo, tirando
dele, recentemente, a excomunhão!

→ O “Arquivo acashico” é idealização oriunda


de algumas seitas do hinduísmo. Parece que
o melhor seria nominar “Registro acásico”,
em vez de arquivo. A idéia básica é a de
que existiria um registro cósmico onde
estaria contido todo o conhecimento do
universo. A discussão sobre o registro
acásico foge ao escopo desse trabalho. O
que resta destacar é que os esotéricos
deleitam-se freqüentemente com as muitas
“descobertas” obtidas nos acásicos: supõe-
se que os “afortunados” que consigam
acessar os registros acásicos são capazes
de conhecer os segredos da vida. Diversas
figuras se declaram habilitadas para a
empreitada. Um dos mais famosos
“consultores” desses registros foi o vidente
norte-americano Edgard Cayce. Cayce
realizava “leituras” mediúnicas por meio de
pesquisas aos acásicos. No entanto, aquilo
que os “iluminados” obtêm desses
imaginados registros são revelações quase
sempre ingênuas que não vão além de
caprichosos devaneios.

→ Destacamos a mambembe interpretação


de Reis Chaves ao texto de Jó: “somos de
ontem e nada sabemos”. José Reis Chaves

196
vê aí uma referência à reencarnação. Nada
mais incorreto. O trecho é parte da
preleção de Bildade, um dos amigos que
visitava Jó durante sua amargura, na qual o
expositor defende a lisura dos
procedimentos divinos. “Somos de ontem”
significa que o conhecimento do homem é
mínimo, insuficiente para avaliar
amplamente os propósitos do Todo-
Poderoso. Bildade recomenda a Jó que leve
em conta a tradição, o conhecimento das
gerações passadas, com o fito de ampliar
sua visão sobre a justiça de Deus. A
declaração completa diz: “Indaga, pois, eu
te peço, da geração passada, e considera o
que seus pais descobriram. Porque nós
somos de ontem e nada sabemos, porquanto
os nossos dias sobre a Terra são como a
sombra”. Dito de outra forma, seria
aproximadamente desse modo: “nosso
conhecimento é irrisório, pois somos de
ontem, mas se juntarmos nossa experiência
com a de nossos antepassados então será
possível entender melhor os propósitos do
Criador”. Como se vê, não há qualquer
alusão ao reencarnacionismo.

“A TVP é uma realidade científica, e não religiosa.


E conta hoje com o aval internacional de grandes
representantes da ciência, como os americanos:
psiquiatras Dr. Morris Netherton, Dr. Brian Weiss,
Dra. Helen Wambach e Dr. Roger Woolger, e
psicólogos Dr. Bruce Goldberg e Dr. Ken Wilber,
um junguiano que revoluciona a Psicologia
Moderna, e autor de "O Espectro da

197
Consciência"; o psiquiatra inglês Alexandre
Cannon, que relutou durante 50 anos em aceitar
a reencarnação, e que comanda uma equipe de
70 terapeutas que já fizeram, em conjunto, mais
de um milhão de regressões; o canadense Dr.
Joel Whitton, Catedrático de Psicologia da
Universidade de Toronto, Canadá; e o alemão Dr.
1
T. Dethlefsen , Catedrático de Psicologia da
Universidade de Munique, Alemanha. Obras de
TVP desses eminentes cientistas e de outros
estão editadas em várias línguas em todo o
mundo."
→ O autor escorrega ao afirmar que a TVP é
uma realidade científica. Se fosse, os
Conselhos de Psicologia e outras entidades
teriam de aceitá-la. Nada disso ocorre: a
TVP não é recomendada por nenhum dos
organismos oficiais da psicologia e da
psiquiatria. Vimos que as postulações da
TVP são voltadas para o esoterismo e não
para a ciência.

→ A História, a Arqueologia e outras matérias


que dependem de pesquisar o passado,
muito se beneficiariam se contassem com
alguns facilitadores. Numerosas dúvidas
seriam respondidas, grandes mistérios
esclarecidos, caso a regressão a vidas
passadas produzisse alguma coisa
consistente. Por que as regressões não nos
dão a chave para traduzir línguas de povos
antigos? Os arqueólogos contam hoje com
escritos de pelo menos uma dezena de
civilizações desaparecidas. Tratam-se de
códigos lingüísticos cuja decifração, por
mais que os estudiosos se esforcem, não foi

198
obtida. Se as regressões fossem úteis a
tradução das línguas desconhecidas já teria
sido conseguida. A equipe do inglês citada
por Reis Chaves, realizou mais de um
milhão de regressões, um milhão de
lembranças e nada de positivo se obteve
para nos ajudar a conhecer o passado...

1
→ No capítulo seguinte apresentamos um
comentário sobre o trabalho do Dr. T.
Dethlefsen.

“No Brasil temos as psiquiatras Dra. Maria


Teodora, da UNICAMP, com vários cursos de
TVP nos Estados Unidos, autora de “Os
Viajantes”, e Presidente da SBTVP (Sociedade
Brasileira de TVP), Campinas, SP, e a Dra. Maria
Aparecida Siqueira Fontana, Presidente da
ANTVP (Associação Nacional de TVP),
Campinas, SP, e muitos outros grandes médicos
e psicólogos de todos os Estados brasileiros que
o espaço não nos permite citar aqui.
Podem fazer o curso de TVP médicos e
psicólogos. Locais: na SBTVP, em Campinas, no
INTVP (Instituto Nacional de TVP), no Rio de
Janeiro, e na ANTVP, em Campinas e Belo
Horizonte, onde tem início uma turma, de
fevereiro de 2003 a julho de 2004. Informações
com os terapeutas Dr. Luís Carlos Fróis: (031)
3213-8499 e Dr. Luís Carlos Braga: (031) 3222
6596.
A TVP está curando as pessoas de seus males
provenientes não só de um passado propínquo,
mas também de um passado longínquo. É a nova
era da medicina. A era da TVP!”

199
→ Afirmar que a TVP é a “nova era da
medicina” é um tremendo exagero. A TVP
deve ter seus resultados animadores, caso
contrário já estaria descartada - (apesar
de que, muitas práticas médicas fajutas são
perpetuadas, graças ao poder da
propaganda. Os resultados que apresentam
são medíocres, mesmo assim, sobrevivem).
Até os mais apaixonados sabem que a
utilidade terapêutica da TVP é restrita. Ela
não é, como faz parecer a exaltada
manifestação de Reis Chaves, uma
panacéia.

Apreciemos agora um artigo sobre regressão à vida intra-


uterina, da autoria de Oswaldo Shimoda, acompanhado
de nossos comentários.

“Vida intra-uterina
Certa ocasião, uma paciente me relatou que
quando estava grávida, sempre que o seu marido
se aproximava para tocar em sua barriga, o bebê
ficava mais agitado do que o comum. Neste
período, ela sentia muita raiva e hostilidade do
marido, apesar de amá-lo e se darem muito bem.
Ela não conseguia entender esses sentimentos,
já que o mesmo não fazia nada que justificasse o
aparecimento desses sentimentos. Ao nascer, a
criança costumava chorar muito quando o pai a
pegava no colo. E mesmo na infância, os atritos e
os desentendimentos entre pai e filho eram muito
freqüentes. Era comum também seu filho lhe

200
perguntar: “Mamãe, você gosta de mim”? Ela
achava que essas perguntas eram próprias da
idade.
Ao passar pela regressão, a paciente recordou
que na vida anterior, seu namorado na ocasião
(atual marido desta vida) a obrigara a abortar a
criança (seu filho da vida atual). Essa recordação
de vida passada a fez entender, portanto, o
porquê de seu filho insistir em lhe perguntar se
ela gostava dele, bem como sua hostilidade pelo
pai, cultivada já no útero de sua mãe. Ela veio a
entender também, que a sua raiva pelo marido,
quando grávida, não era dela, mas sim de seu
filho, que trouxe da vida passada pelo que o pai
fizera com ele. Desta forma, através da TVP
(Terapia de Vida Passada), foi descoberto que o
feto, apesar de estar no útero materno, é capaz
de perceber tudo o que acontece ao seu redor.”

→ Podemos afirmar que a história tem certa


“lógica”, desde que se admita sem crítica
que a imposição ao aborto numa vida
passada e todas as demais situações
relatadas tenham de fato acontecido,
(coisa que entendemos infundada, mas, para
efeito de reflexão continuaremos). A partir
do aborto e das decorrências dele
advindas, entraram em ação os mecanismos
reencarnatórios, que programaram os três a
voltarem nas equivalentes condições
anteriores, provavelmente para purgarem os
erros cometidos.

→ É certo que a doutrina espírita não


respaldaria essa repetição de experiência,
na qual pai, mãe e filho voltam exatamente

201
na mesma formação anterior. Dentro da
tese espírita, seria de imaginar que o pai
criminoso, retornasse para expiar o mal que
praticara anteriormente. Excepcionalmente,
porém, pode-se admitir que a história
contada pelo Dr. Shimoda pudesse ser
acatada por teóricos do espiritismo.

→ O insólito nesse caso é que o projeto


espiritual, cuidadosamente planejado,
naufragou, porque os conflitos entre o pai
e o filho anteriormente abortado não foram
sanados na vida atual. Em vez de consertar
as desavenças pretéritas, a nova família
perpetuou as relações antagônicas. Duas
possibilidades se nos apresentam nesse
episódio: ou os envolvidos tiveram uma
segunda chance e não souberam aproveitar,
ou, então o engenho que rege o processo
reencarnatório apresenta falhas graves...

→ No entanto, o Dr. Osvaldo Shimoda


interveio e “consertou” o problema:
passando por cima da tese kardecista de
que a lembrança das vidas passadas é
maléfica, o psicólogo sondou a mente da
mãe e fê-la lembrar dos acontecimento, o
que parece ter solucionado tudo...porém,
podemos perguntar: será que a esposa
ficará definitivamente em paz ao
relembrar que seu marido a forçou a
abortar numa vida passada? E a criança,
quando crescer, será que cultivará algum
ressentimento contra o pai? Sem falarmos

202
de outras situações de discórdia e de
ressentimentos que possam surgir...

→ Outra dúvida: Osvaldo Shimoda afirma que


a criança tinha percepção do aborto sofrido
em outra vida, o que lhe ocasionou a
repulsa pelo pai. Já comentamos da
dificuldade para que a teoria da lembrança
fetal seja aceita: o ser em formação teria
de possuir memória e dominar o raciocínio
abstrato para entender o que lhe sucede.
Também seria necessário um mecanismo que
lhe permitisse ouvir o que se passa no
exterior.). E nada disso existe no feto.

→ As afirmações do Dr. Shimoda formam uma


situação confusa: o feto, (ou o embrião,
dependendo de quando fora realizado o
aborto) foi vitimado pelo namorado egoísta
de sua mãe. A criança em formação viu e
ouviu tudo e guardou na memória espiritual
o acontecimento. Tempos depois, avisaram-
lhe que reencarnaria como filho daquele que
provocou sua morte. Aqui, é possível supor
que os três foram preparados para a nova
existência no molde anterior. Ocorre que o
ensaio que fora realizado na entrevida de
nada valeu, pois a família veio ao mundo
carregando os traumas originais. Ora, pra
que serve, então, a entrevida? Não dizem
os reencarnacionistas que é para as pessoas
planejarem novas vivências em condições
mais satisfatórias?

203
→ Nada foi dito sobre o que pensa o pai, este
acusado de ter cometido um crime em vida
anterior. O sujeito não deve ter ficado
satisfeito ao saber que o médico o
responsabilizava pelas dificuldades da
família. Talvez o homem seja uma pessoa
carinhosa e esforçada, mas nada do que
faz poderia consertar o ódio que o filho
trazia consigo. Parece-nos que a tese do
Dr. Shimoda complica mais que elucida.

→ E o que dizer da declaração do Dr.


Shimoda, de que graças à TVP foi
“provado” que o feto é capaz de perceber
tudo o que acontece ao seu redor? Pode ser
que alguém aceite essa afirmação sem
maiores avaliações...infelizmente, não vimos
prova de coisa alguma. Para que a criança
no útero pudesse perceber o mundo,
haveria que existir um canal por meio do
qual ela captasse as impressões e também
possuir a condição de interpretar as
sensações que recebesse. Os teóricos da
memória fetal não explicam essa questão.
Assim, a tese fica vaga e fracamente
sustentada.

“Essa vida dentro do útero, na verdade, é envolta


em mistério, como se a natureza tivesse colocado
um véu sobre a nossa consciência pré-natal ao
nascermos. Em muitos casos, é no útero materno
que encontramos as raízes dos nossos
comportamentos, porque o feto grava todos os
pensamentos e sentimentos da mãe, como se
estes se referissem a ele."

204
→ Seria realmente interessante se o doutor
pudesse comprovar que o feto grava todos
os pensamentos e sentimentos da mãe como
se fossem seus!

→ Uma coisa é supor que o estado emocional


da mãe sensibilize a feto. Existem
evidências dessa situação. Se
procedimentos incorretos da mãe, tais quais
alimentação deficiente, uso de drogas,
põem em risco a integridade do bebê, é
admissível que as emoções igualmente
impressionem a criança. Tratam-se de dois
seres intimamente ligados e é fácil concluir
que quanto maior o equilíbrio emocional da
mãe tanto mais beneficiado será o bebê.
Contudo, o Dr. Shimoda amplia
arbitrariamente esse fato, para Osvaldo
Shimoda a coisa vai muito mais além.
Segundo ele, o feto responde tal qual um
ser já formado: vê, ouve, sente e
memoriza o que se passa ao redor de si. E
não só isso, traz também em sua “memória”
a recordação de acontecimentos de outras
vidas! Cá pra nós: não é muito para um
feto tão pequenininho?

→ E quais são o argumentos que sustentam


essas idéias exóticas sobre os poderes
mentais do feto? Poucos e muito pobres...

“Na verdade, o inconsciente funciona como um


gravador que grava todas as informações, sem
discriminação, sem interpretá-las. Neste sentido,
a criança por nascer, é profundamente afetada
pelos acontecimentos do período de gestação

205
que vão moldar os padrões de comportamento
em vida. Tudo o que acontece com a mãe neste
período, pode afetá-la em sua estrutura
emocional, pois ambas, mãe e criança, estão
intimamente ligadas e não só pelo cordão
umbilical. Por isso, em quase toda sessão
terapêutica, costumo também investigar o período
pré-natal do paciente.” (Osvaldo Shimoda -
shimoda@vidanova.com)

→ Acredita-se que o estado emocional da mãe


influencie características da personalidade
do filho. Existe base para essa hipótese.
Até aqui o Dr. Osvaldo não está trazendo
novidade alguma. O caso é que Osvaldo
Shimoda parte de uma suposição
fundamentada e a extrapola com bem
entende, apresentando idéias que não estão
amparadas em coisa alguma.

O Dr. Shimoda teria muito o que esclarecer ao mundo


médico sobre os mistérios da vida uterina. Ele faz
afirmações contundentes sem uma boa teoria para apoiá-
las. Se o feto efetivamente possuísse a profunda
percepção que imagina o Dr. Osvaldo Shimoda, haveria
indícios logo após o nascimento. Ou existiria um
constante e notável diálogo entre a mãe e a criança no
útero. Nada disso ocorre.

Aguardamos, por parte do Dr. Shimoda, esclarecimentos


adequados sobre a memória fetal, a fim de que possamos
avaliar o que prega. Até o momento, o que presenciamos

206
foram declarações que chegam ao patamar da
irresponsabilidade, considerando que advindas de um
médico.

Da suposta capacidade do feto em perceber o mundo à


sua volta, como se fora um ser já formado, não há
qualquer estudo que lhe dê um mínimo de coerência.

207
CAPÍTULO 12

A Legitimidade Do Regressionismo

Até aqui vimos as muitas dificuldades para a aceitação da


tese da regressão a vidas passadas. Entretanto, admitimos
que poderiam haver demonstrações capazes de favorecer
a teoria: resultados que se exibidos de forma clara e
inequívoca, tornaria a regressão de vidas aceitável e
passível de ser estudada seriamente.
Os praticantes da TVP deveriam se esforçar na busca
dessas provas. Estranhamente, porém, nenhum
regressionista toca no assunto...

208
Vamos destacar um desses tópicos: os idiomas.
Explicaremos em detalhes:
A mente adequadamente estimulada é capaz simular
muitas coisas. Pessoas sugestionadas realizam feitos
surpreendentes, fazem revelações admiráveis, falam de
coisas que aparentemente não conhecem. Entretanto, é
impossível para alguém falar uma língua com a qual
nunca teve contato nesta vida (contato efetivo ou
psíquico).
Não nos referimos aos fenômenos de glossolalia, comuns
em alguns movimentos religiosos. Tampouco aos casos
extraordinários de crianças e adultos que falam línguas
que supostamente não teriam estudado, estes analisados
principalmente pela parapsicologia. A glossolalia é uma
manifestação puramente emocional. E as crianças
poliglotas são fenômenos singulares para os quais
existem diversas hipóteses elucidativas não-esotéricas.
No que tange ao regressionismo, o domínio do idioma
teria de estar presente em todo episódio de regressão onde
houvesse referência a alguma civilização ou nação
diferente daquela em que o consulente vive na atualidade.
Partindo da conjectura de que o inconsciente armazena o
que vivencia (tese aceita pelos regressionistas), o
conhecimento da língua não poderia faltar nas lembranças
de vidas.
Vamos ilustrar com alguns casos de regressão:

“Lúcia, antropóloga...atinge um ponto de sua


memória integral em que faz parte de uma
civilização que habita o alto de uma montanha.
Possivelmente, trata-se do início da civilização

209
inca, que ainda mantinha comunicação com seres
extraterrestres..." (TERAPIA DE VIDAS
PASSADAS – Célia Resende)
_______________________________

“Esse...foi o caso de Marília...Num país árabe,


cerca de três séculos passados, ela fora vendida
a um sultão e, embora não soubesse, já estava
nas primeiras semanas de gravidez..." (TERAPIA
DE VIDAS PASSADAS – Célia Resende)
_______________________________

“Samuel, estudante de direito, 22 anos, vivenciou


uma existência numa cidade construída com
prédios simétricos, em arenito, e templos
arredondados.
‘Usamos os poderes extra-sensoriais, a energia
solar, e as construções são realizadas pela força
do pensamento, moldando as pedras com as
mãos sem a ajuda de qualquer instrumento.
Contamos com a ajuda de seres fluídicos, altos e
transparentes que nos acompanham...’
Mais adiante, ele descreve o momento em que
devem sair da cidade:
‘Temos que sair, pois o acesso ao conhecimento
deve obedecer a um processo evolutivo. Mas o
que a maioria deseja é dominar o planeta, e seus
erros provocaram o aquecimento da Terra, a
temperatura está muita alta, e acontecem fortes
abalos sísmicos.
‘Os portões de entrada interdimensionais são
fechados, estou num prédio e no centro do piso.
Trabalho com equipamento concentrador de luz
solar que entra por um tubo semelhante a uma

210
chaminé. Muitas pessoas atravessam as portas
dimensionais usando algumas máquinas,
enquanto o restante é destruído por algo parecido
com um vulcão, e depois toda a região é tragada
pelo oceano.’
O trabalho com Samuel perdurou por vários
meses. Essas vivências serviram de base para
tratar o orgulho que muito atrapalhava sua vida.
Sua trajetória kármica, iniciada com o povo de
Atlântida, trazia resíduos do uso exorbitante de
poder..." (TERAPIA DE VIDAS PASSADAS –
Célia Resende)

Com toda a certeza, nem Lúcia, nem Marília, nem


Samuel, falaram nas línguas dos povos dentre os quais
teriam vivido. Muito esclarecedor seria o registro do
linguajar dos incas, se Lúcia pudesse fazê-lo; bastante
ilustrativa ficaria a regressão se Marília discorresse
fluentemente em árabe; mais interessante ainda se Samuel
falasse em atlante...
Nenhum deles o conseguiu e jamais o conseguirá...E é
fácil entender o porquê: a imaginação não tem como criar
ao nível de complexidade que a elaboração de um idioma
exigiria. O único modo de Lúcia, Marília e Samuel
falarem as línguas dos povos onde alegadamente viveram
seria se essas vivências fossem reais. E isso eles não
conseguem demonstrar...
Houve casos de médiuns que forjaram línguas
alegadamente de extraterrenos e chegaram a convencer
até especialistas, mas logo adiante foram desmascarados.
Nesses eventos, a mente foi capaz de formular a

211
complicada fantasia devido ao treinamento do
inconsciente, performance encontrada em alguns médiuns
após longo período de prática.
Talvez em alguma regressão o paciente diga uma ou outra
palavra na língua da civilização onde supostamente
vivera. Isso se explica por ter lido ou ouvido termos
daquele idioma que ficaram arquivados em sua mente.
Mas, para comprovar que está regredindo a uma vida
passada, não bastaria proferir palavras esparsas, seria
necessário discorrer fluentemente na língua nativa, ou ao
menos lembrar de discursos coerentes.
Usemos nossos amigos como exemplos: Lúcia, Marília e
Samuel.
Lucia teria vivido entre os incas. Dessa cultura existem
alguns registros escritos. Caso Lucia estudasse esses
registros, mesmo que conscientemente não conseguisse se
reportar nessa língua, quando hipnotizada diria algumas
frases. A situação de Marília seria mais simples. Apesar
de o árabe ser uma língua difícil para nós brasileiros,
qualquer estudante aplicado é capaz de aprendê-la. Parece
que Marília não quis ter esse trabalho, pois não falou
coisa alguma no idioma sob o qual teria vivido...
Com Samuel é mais complicado. A Atlântida é uma
lendária civilização a respeito da qual já se disse tudo o
que a imaginação possa conceber. A possibilidade de que
o continente tenha existido não é descartada. Muitas
civilizações grandiosas floresceram e morreram deixando
parcos vestígios de sua existência. O que surpreende no
caso de Atlântida é quantidade de histórias que os
esotéricos contam sobre ela, umas contradizendo outras, e
todos garantem que estão revelando os "segredos" aos

212
quais tiveram acesso ninguém sabe como. Há mesmo
quem afirme que ainda existem atlantes escondidos por
aí, que se comunicam com alguns iniciados...
Ainda que se admita que Atlântida tenha tido existência
real, uma coisa é certa: o idioma que falavam é
desconhecido. Samuel prestaria uma grande ajuda a
milhões de pessoas que almejam conhecer detalhes desse
portentoso império se nos revelasse como era a língua dos
atlantes...pena que não foi capaz...
Se formos aprofundar mais o assunto, chegaremos a
questões interessantes (e pouco confortáveis para os
regressionistas). Vejamos este caso: existem evidências
suficientes para amparar a teoria de que há cerca de 7.000
a.C. tenha existido uma civilização, cujo falar serviu de
base para dezenas de línguas surgidas posteriormente,
inclusive o grego e o latim.
Estudiosos de todo o mundo, respaldados em registros
documentais e em análises evolutivas das línguas,
puderam chegar ao que se supõem seja a expressão mais
primitiva de certa quantidade de palavras com raízes
comuns em diversos idiomas. Contudo, este é um
trabalho penoso para os pesquisadores e com resultados
pequenos em vista das dificuldades para se recompor uma
linguagem da qual existe apenas vagos indícios. Agora
vejam esse excerto de um escrito de Reis Chaves:

"...o psiquiatra inglês Alexandre Cannon, que


relutou durante 50 anos em aceitar a
reencarnação, e que comanda uma equipe de 70
terapeutas que já fizeram, em conjunto, mais de

213
um milhão de regressões..." (José Reis
Chaves)

Um milhão de regressões! Será que desse numeroso


contingente não surgiu ninguém que tivesse vivido na
civilização de língua desconhecida e que pudesse dar uma
mãozinha a filólogos e lingüistas, que buscam tão
arduamente identificar como falava aquele povo? Um
milhão de regressões e nenhum registro lingüístico digno
de referência! Parece brincadeira...

Infelizmente, enquanto os terapeutas regressionistas


não apresentarem argumentos firmes, tudo o que terão
para defender a tese da regressão de vidas serão frágeis
suposições, que não resistem a mais leve crítica.

Algumas pessoas que regridem a outras vidas conseguem


apresentar relatos detalhados: visualizam as vestimentas,
as construções, os afazeres diários. "Recordam tudo"!
Entretanto, são incapazes de discursarem no idioma
natal! No capítulo em que comentamos sobre Brian
Weiss mostramos que Catherine lembrava com precisão
as datas remotas nas quais dizia ter vivido! Quanto a
língua...silêncio total!
Atualmente arqueólogos contam com escritos ainda não
compreendidos de cerca de uma dezena de idiomas do
passado. Os registros sonoros dessas línguas são
desconhecidos, mas há composições suficientes para dar
uma visão panorâmica das civilizações que os
produziram. O problema é que ninguém até hoje

214
conseguiu descobrir o significado dos sinais. Cientistas
queimam os cérebros em busca de respostas, mas o
mistério permanece. O que nos espanta é que nenhum
regredido tenha “vivido” dentre esses povos. Os adeptos
da TVP contabilizam milhões e milhões de eventos
regressionistas, nos quais lembranças de todos os tipos
surgem. Por que não aparece ninguém que ajude na
decifração dessas línguas?
Alguns regredidos que eventualmente proferem termos
esparsos de idiomas fora de uso, são alardeados como
uma "grande" comprovação da veracidade das
lembranças. Tolice. No mais das vezes, as palavras não
passam de meia dúzia de expressões já conhecidas, que
de nada serviriam para quem quisesse pesquisar o tal
linguajar. E, mesmo assim, esses eventos são tão raros
dentro do universo das regressões que não servem sequer
para estatística.
Almejaríamos também que as regressões nos trouxessem
outras coisas concretas, por exemplo: muitas lembranças
falam da "ciência" oculta de povos antigos,
destacadamente da Atlântida e do Egito. Há quem afirme
ter aprendido segredos da "complexa ciência" desses
povos. Entretanto coisa alguma de consistente revelam.
São numerosas declarações do tipo: "vivi no Egito, eu
era um sacerdote que dominava técnicas de
ressuscitação dos mortos". A tal declaração
responderíamos: Ótimo! Então nos ensine essa tão
magnífica técnica! Imaginem quantos benefícios a
humanidade terá! Desgraçadamente, quando chega a hora
de ser objetivo, o propalado conhecimento se esvai na
fumaça da fantasia...

215
→ Pode ser que regressionistas tentem explicar
a questão, alegando que a Terapia de Vidas
Passadas não se presta a revelar línguas ou
segredos das ciências ocultas; que a terapia
tem a finalidade de curar traumas
acontecidos no passado cujos efeitos se
fazem sentir na vida atual, e só! O
argumento seria válido se as situações
fossem perfeitamente delineadas e um
aspecto não se confundisse com o outro: a
verdade é que se há recordação de vida
passada, as peculiaridades dessa existência
devem vir à tona: os costumes, as
experiências, as técnicas, a língua e tudo o
mais teriam de estar presentes e com
clareza suficiente para não ensejar dúvidas.

O que o regressionismo apresenta é insuficiente para que


obtenha a autenticidade que busca.
Mesmo perante algumas "lembranças" mais sofisticadas,
como o caso de Bridey Murphy, que comentaremos no
próximo capítulo, as muitas contradições e equívocos
embutidas no evento demonstram a fragilidade da prova.

216
THORWALD DETHLEFSEN

Visto que estamos a "cobrar" do regressionismo provas


de legitimidade, é cabível abordar o trabalho desse
psicólogo regressionista.
Dethlefsen é um alemão praticante da terapia da
regressão de vidas, autor de vários livros sobre o tema. À
semelhança de Brian Weiss, é formado por boa escola – a
Universidade de Munique. Portanto, é interessante
analisar o que ele pensa sobre a regressão a vidas
passadas.
Ao examinarmos as manifestações regressionistas dos
pacientes de Dethlefsen percebemos que são algo
diferentes das que nos apresentam Célia Resende e Brian
Weiss. Aliás, quando se comparam os resultados de
regressões, realizadas por terapeutas variados,
deparamos com algumas contradições curiosas. Em
resumo: Dethlefsen faz afirmações que outros
regressionistas não ousaram proferir.

Em seu livro "A Regressão a Vidas Passadas como


Método de Cura" Thorwald Dethlefsen parece responder
ao questionamento que fizemos linhas atrás sobre os

217
idiomas. Leiamos um trecho da obra. (Lembramos: os
destaques são nossos).

“Outro relato impressionante foi escrito por uma


secretária de 20 anos sobre sua encarnação no
Egito, quando também o faraó tinha 20 anos.
Cabe aqui a pergunta se a voluntária podia
falar aquele idioma antigo. A resposta é
afirmativa. A condução das sessões é sempre
em alemão, para podermos garantir uma estreita
ligação entre mim e o paciente; é um acordo
mútuo que estabelecemos no início das
experiências, visto que a interrupção da
comunicação fluente levaria à extinção do elo
que nos une. Entretanto, posso provocar o
paciente no sentido de me dar respostas na
língua original. Esse procedimento é adotado,
principalmente, em ocasiões em que a pessoa
demonstre um domínio fluente e seguro de uma
língua estrangeira. Todavia, podemos aprimorar
tal desempenho ao longo de sessões posteriores.
Infelizmente, falta-me o tempo necessário para
desenvolver o conhecimento de uma língua
antiga através do nosso trabalho, a fim de que
possamos classificá-la como uma língua
estruturalmente correta. Pesquisas nesse sentido
estão programadas para uma etapa posterior,
não só com respeito à língua como também a
habilidades específicas, como tocar piano, ou
outro instrumento, etc."

Dethlefsen comenta superficialmente uma questão


relevante e deixa o assunto sem um esclarecimento
adequado. Da forma como foi feita a declaração, supõe-se
que os pacientes do psicólogo alemão possam falar com

218
facilidade os idiomas das nacionalidades que dizem ter
vivido, só não o fazem por que há um "acordo" entre o
regredido e o terapeuta, para evitar dificuldades na
comunicação.
Entretanto, os fatos negam essa assertiva. Seria
relativamente simples resolver a dificuldade de
comunicação: ele poderia gravar os discursos dos
pacientes quando se expressassem em línguas antigas.
Depois submeteria as gravações a especialistas, para que
avaliassem adequadamente o material.
Por curiosidade, destacamos no texto acima a admirada
declaração do escritor: "Outro relato impressionante foi
escrito por uma secretária de 20 anos sobre sua
encarnação no Egito...". O psicólogo assombrou-se da
secretária recordar uma vivência no Egito! Se soubesse
das numerosas "recordações" egípcias obtidas por Célia
Resende, Brian Weiss e vários outros, não ficaria tão
deslumbrado....Se soubesse que pacientes de Brian Weiss
sabiam como ressuscitar os mortos...(o excepcional
nessas "lembranças" é que esses regredidos recordam que
sabiam praticar a ressuscitação, mas não passam daí. Se
foram instados a que nos digam como era o processo,
"percebem" que já não sabem mais o que diziam ter
sabido...)
Realizamos um exame no livro de Dethlefsen em busca
de exemplos da alegada versatilidade de seus pacientes
em falar línguas antigas. Nada! O psicólogo
esporadicamente lhes solicita que repitam uma ou duas
palavras no idioma remoto. O paciente atende, mas
demonstra grande dificuldade em articular termos
simples. A demonstração é pobre, muito pouco em vista

219
da importância desse aspecto crucial para o
reconhecimento do regressionismo! Veremos a seguir
exemplo de uma sessão regressionista conduzida por
Dethlefsen:

"(a letra "H" especifica o hipnotizador; "V" é o


voluntário)
...
H: ...qual seu nome?
V: Ruth.
H: Ruth de quê?
V: Não sei.
H: Seu nome é só Ruth?
V: Sim.
H: Em que ano estamos?
V: Não sei.
H: Nem aproximadamente?
V: 100.
H: Em que país você está?
V: Na Terra Santa.
H: Por que esse lugar é santo?
V: Por que Deus fala conosco.
H: Quem são vocês?
V: Nós pertencemos a uma estirpe.
H: Qual é essa estirpe?
V: Somos macabeus.
H: Conte-me algo sobre sua estirpe.

220
V: Nós vivemos em barracas...Meu pai é um
homem muito poderoso.
H: Qual o nome dele?
V: Hohas.
H: Como?
V: Hohas, eu acho.
H: Você está diante de seu pai. Diga alguma
coisa a ele na sua língua. Fale com ele como
costuma fazer sempre.
V: Honaihn...eu não devo falar com ele.
H: E porque não?
V: Devemos esperar que ele fale primeiro.
H: O que ele acabou de dizer a você?
V: hot maihn, senhor.
H: E o que você responde?
V: Eu sempre vou buscar água...É preciso andar
muito para encontrar água... [a paciente foge à
pergunta que a obrigaria falar no idioma natal]
H: Onde você costuma ir buscar água?
V: Eu não sei...ando...ando e não encontro
nada...então vou à montanha.
H: Você sabe o nome da montanha?
V: Ela não tem nome...lá existe água.
H: Onde?
V: Ela vem da montanha...meus lábios estão
secos e eu estou muito cansada...mas esse tipo
de coisa a gente não pode dizer.
H: Mas você pode beber água agora.

221
V: Não.
H: Por que não?
V: ...é para meu pai.
H: Como se diz água na sua língua?
V: Eu não sei...brut...flepp." [demonstra grande
dificuldade em falar uma palavra simples!] ..."

(A Regressão a Vidas Passadas como


Método de Cura)

Este é um trecho de uma das regressões apresentadas no


livro de Dethlefsen. Nesta, como em todas as outras, os
diálogos são longos, enfadonhos, recheados de
banalidades. E o psicólogo parece não ver os elementos
fantasiosos apresentados por seus pacientes, que tiram a
credibilidade de que tenha ocorrido real regressão. No
diálogo acima, Ruth escorrega várias vezes e o terapeuta
não faz comentários sobre os deslizes. Observemos.

A referência aos macabeus não está bem articulada. Os


macabeus não eram propriamente uma estirpe, seria mais
adequado chamá-los de um partido. Entretanto, essa não
é a questão mais séria. O terapeuta insiste que a paciente
diga em que ano se encontra. A moça, pressionada, solta
um número: "100". Mas não dá detalhes. Cem o quê?
Antes ou depois de Cristo? Se foi depois de Cristo a data
perde o sentido, pois em 100 d.C. dos macabeus havia
apenas lembranças, pois já estariam desaparecidos desde
muito tempo. E mesmo que fosse 100 a.C. as dúvidas
persistiriam, pois, a rigor, o último representante

222
macabeu foi morto em 135 a.C., antes do ano 100 a.C.,
portanto.
Se a moça estava a lembrar um período específico do
passado, deveria referir-se à data conforme se fazia na
época. Era praxe situar a época de um acontecimento
referindo-se ao governante que estava no poder, ou a
algum outro que estivesse em destaque. Vejam alguns
exemplos, baseados em textos bíblicos:

"No primeiro ano de Ciro, rei dos persas, a fim de


cumprir a palavra do Senhor pronunciada pela
boca de Jeremias..." (Esdras 1:1)

"Destes reis saiu aquela raiz do pecado, Antíoco


Epífanes, filho do rei Antíoco, que em Roma já
tinha estado como refém e que começou a reinar
no ano trinta e sete do reino dos gregos." (I
Macabeus 1:11)

"Visão de Isaías, filho de Amós, a qual ele teve


acerca de Judá e de Jerusalém nos dias de
Ozias, de Joatan, de Acaz e de Ezequias, reis de
Judá" (Isaías 1:1)

"Tendo, pois, nascido Jesus em Belém de Judá,


no tempo do rei Herodes..." (Mateus 2:1)

Indagada sobre em que país se encontrava, Ruth


responde: "Na Terra Santa". A expressão não era usada
no passado para designar a terra dos judeus. Ela deveria
ter respondido que estava no reino de Judá ou onde fosse.

223
Ruth afirmou que a montanha onde pegava água não
tinha nome...Pouco provável, pois os israelitas, como de
praxe a maioria dos povos, costumavam nomear tudo e
não deixariam de identificar uma montanha. A não ser
que Ruth estivesse chamando um "morrinho" de
montanha...
O pai de Ruth vivia em tendas, era um nômade e estava
em constante movimentação. Quando iam de um lugar
para outro, os nômades procuravam acampar próximo de
poços, que é onde Ruth deveria ter ido buscar água e não
na "montanha"...Ela diz que "anda, anda e não encontra
nada...", errado! A moça teria de conhecer a localização
do poço. Saber onde havia água era procedimento
rotineiro para os nômades.
O mais gritante dessa "recordação" de Ruth ocorre
quando o psicólogo regressionista a pressiona para que
fale no idioma da época. A moça ora desconversa, ora faz
um grande e malsucedido esforço. Ao final não mostra de
forma alguma que tenha capacidade de reproduzir o falar
da personagem que dizia ter sido.
Percebe-se que a paciente de Dethlefsen estava a
trabalhar com informações superficiais sobre o período da
história que imaginava ter vivido. Como não possuía
conhecimentos mais profundos a respeito da época, sua
história estava repleta de incorreções.
Se for com exemplos desse tipo que Thorwald Dethlefsen
pretende demonstrar que seus pacientes são capazes de
falar línguas antigas, fica muito difícil acatar seu
argumento!

224
A nosso ver a maior contradição sobre a tese
regressionista de Dethlefsen encontramos nessa
declaração:

“Infelizmente, falta-me o tempo necessário para


desenvolver o conhecimento de uma língua
antiga através do nosso trabalho, a fim de que
possamos classificá-la como uma língua
estruturalmente correta. Pesquisas nesse sentido
estão programadas para uma etapa posterior,
não só com respeito à língua como também a
habilidades específicas, como tocar piano, ou
outro instrumento, etc."

O que ele está a dizer é que precisaria aprofundar a


pesquisa, a fim de confirmar se seus pacientes realmente
falam as línguas das civilizações que teriam conhecido.
Ora, em ciência é essencial esclarecer uma questão que
faça parte do contexto sob averiguação, antes que uma
teoria possa ser elaborada. Dethlefsen declara que os
estudos precisam ser ampliados, para se confirme a
veracidade das regressões, mesmo assim defende o
regressionismo como um fato consolidado! Não há
congruência! Ele já aceitou a legalidade das regressões
antes de esclarecer os pontos duvidosos!
Quando muito, o que Dethlefsen tem em mãos é uma tese
provisória, amparada por eventos muito fracos. O
psicólogo, certamente, terá de se esforçar muito até que
nos traga uma teoria convincente.

225
CAPÍTULO 13

O Caso Bridey Murphy

Atualmente, a aventura de Bridey Murphy é considerada


plenamente esclarecida. Alguns repórteres investigaram
as narrativas de Morey Berstein e descobriram que o
enredo fora elaborado pela protagonista a partir de
experiências da infância. Sob certo aspecto, pode-se dizer
que trata-se de uma história “velha”, apesar de ter tido
grande repercussão na década de 1950, quando foi
divulgada. Mesmo assim, o caso ilustra a forma
fantasiosa como a regressão é trabalhada. Além disso,
ainda hoje há quem defenda que a peripécia
regressionista de Bridey Murphy foi real.

Morey Berstein, autor do livro intitulado “O Caso de


Bridey Murphy” informa que durante algum tempo fora
incrédulo em questões como vida após a morte, alma e

226
reencarnação ― (é interessante destacar que Brian
Weiss apresenta discurso semelhante (cap.6):
afirmou ser inicialmente um descrente e depois deixou-
se convencer pelo que entendeu serem “evidências”).
Mesmo o hipnotismo era por Berstein classificado como
ilusionismo, ou como brincadeira para lograr os ingênuos.
Aos poucos foi mudando de idéia. Após presenciar
demonstrações da eficácia da hipnose, tornou-se um
ardoroso praticante do método e conseguiu resolver
distúrbios comportamentais de várias pessoas.

Cada vez mais fascinado com as perspectivas da prática


hipnótica, Berstein experimentou a técnica na recordação
de acontecimentos do passado remoto. Sua intenção era
avaliar até que idade seria possível alguém registrar
lembranças plausíveis.

Apesar de não ter formação em psicologia, Morey


Berstein demonstrou mais cuidado em seu trabalho que
Brian Weiss. Ele informa ter buscando em várias fontes
avaliações a respeito dos procedimentos que realizava.
Até mesmo J.B. Rhine foi procurado por Berstein.

→ Joseph Banks Rhine foi o pesquisador cujo


trabalho deu origem à atual Parapsicologia.

“Nossa visita a Duke [Universidade de Duke]


proporcionou-nos a oportunidade de conhecer
intimamente um dos mais importantes cientistas
do mundo. Provavelmente mais que qualquer
outra pessoa, Joseph Banks Rhine tem
conseguido abrir uma brecha numa das mais
fortes cortinas de ferro, o mistério da própria
natureza do homem. Seu testemunho é

227
revolucionário e exige – realmente necessita – a
revisão de muitos conceitos científicos básicos.
Suas deduções ferem em cheio a psicologia, a
medicina, a filosofia e a religião; oferecem, pela
primeira vez, ao homem, elementos para
compreender a si mesmo e aos seus
semelhantes...

...

A alcunha de Rhine devia ser “Meticuloso”. Ele


achou tempo, durante nossa visita, para
desenvolver este princípio: no campo da
parapsicologia – advertiu – a palavra “meticuloso”
deve ser a senha para as grandes realizações,
mais do que em qualquer outra ciência. Os
parapsicologistas – disse – devem ser ter
presente no espírito o slogan “meticuloso” em
seus trabalhos...

A prova de que ele praticava o que pregava nos


foi dada quando o inquiri sobre a questão da
sobrevivência do espírito.

- O que acha doutor? Crê que alguma parte da


criatura humana sobreviva depois da morte?

Vi seus lábios esboçarem um leve sorriso. Mas


tudo o que pude foi uma “fraseologia” cuidadosa
que, resumida, significava: “Devemos guardar o
julgamento para o fim”.

...

Na ocasião em que pedia a opinião do Dr. Rhine


sobre a questão da sobrevivência, não tinha a
mínima idéia de que uma das minhas próprias

228
experiências – a descoberta de Bridey Murphy –
acabaria fornecendo-me uma prova interessante
sobre a sobrevivência. (O Caso de Bridey
Murphy – págs. 71/74)

Entretanto, se os contatos com Rhine foram produtivos


para esclarecer algumas das dúvidas de Berstein, a
semente não frutificou. Aos poucos Morey Berstein se
deixou cativar por considerações nebulosas e idéias com
pouca fundamentação foram por ele acatadas como
verossímeis. O cuidado revelado nas experiências iniciais
cedeu lugar ao fascínio por questões místicas. Berstein
abraçou algumas teses esdrúxulas e a elas se apegou sem
reservas.

Ainda que o leigo Berstein tenha mostrado uma cautela


que o Dr. Brain Weiss anos depois não exibiria, Morey
Berstein provavelmente não teve tido acesso às melhores
orientações sobre a hipnose. No tempo em que realizava
suas averiguações, já existiam duas organizações que
realizavam pesquisas aprofundadas sobre as aplicações
do hipnotismo, uma nos Estados Unidos e outra na
Inglaterra. Morey Berstein não faz referências a elas.

Berstein afirma ter lido diversos livros sobre a hipnose,


porém não relata quais obras examinou. Se houvesse
consultado material de primeira linha haveria obtido
esclarecimentos preciosos a respeito do que é viável e o
que não é em relação à hipnose. Um grande estudioso do
hipnotismo, contemporâneo de Berstein, dizia:

229
“A experiência da reencarnação por regressão
em hipnose é um triste exemplo de como as
pessoas podem ser iludidas com facilidade. ...

O que se faz na prática é trazer a pessoa atrás


nos anos até o seu zero, e ainda mais para trás e
então...diz-se ao espírito reencarnado do
indivíduo...para se manifestar.

Exemplos disto são convenientemente


localizados no passado longínquo ou, quando
num presente próximo, têm tantos furos lógicos e
experimentais que nem sequer podem ser
descritos como ingênuos! Dizer a um indivíduo
hipnotizado que é alguém que viveu num outro
século, numa terra diferente e que será capaz de
responder a todas as perguntas, dá em resultado
muitas vezes ele acreditar e desempenhar o
devido papel.” (O Hipnotismo – Realidade e
Ficção – F.L. Marcuse)

Depois do saudável intercâmbio com o Dr. Rhine,


Berstein decidiu caminhar por outras vias: ouviu falar de
Edgard Cayce e ficou apaixonado pelas revelações do
alcunhado “profeta dorminhoco”. Cayce falecera havia
poucos anos mas um grupo de admiradores mantinha viva
sua memória: diversos livros haviam sido editados,
exaltando a hipotética capacidade mediúnica do profeta.
Berstein acatou inverdades sobre os poderes de Cayce,
que vinham sendo insistentemente divulgadas por seus
discípulos e por admiradores. Uma delas era a lenda de
que o profeta nada conhecia sobre medicina e mesmo
assim prescrevia medicamentos infalíveis para diversas
moléstias.

230
“...não foi fácil convencer Cayce. Em primeiro
lugar, ele nada sabia de medicina; nunca havia
lido um livro sobre qualquer assunto médico! Não
compreendia como aquelas receitas saíam dele.
(É preciso lembrar que Cayce passava por uma
amnésia total após a hipnose; tinha-se que lhe
contar, depois que despertava, o que havia
dito)..." (O Caso de Bridey Murphy – pág. 83)

Em realidade, Edgard Cayce era bem informado sobre


osteopatia, estudara homeopatia e conhecia
medicamentos fitoterápicos. Esse razoável conhecimento
médico não o impediu de emitir diagnósticos
ridiculamente incorretos e prescrever medicações inócuas
para doenças graves, como câncer e a tuberculose. Fatos
não comentados por Berstein em sua empolgada apologia
ao profeta.

Seguindo por uma senda mal iluminada Morey Berstein


não poderia deixar de topar com a reencarnação. Afirma
que inicialmente repudiou o tema, mas acabou
convencido e tornou-se fervoroso adepto da teoria de
múltiplas vidas. Berstein dá-nos a impressão de ser
alguém que possuísse fortes anseios esotéricos, os quais
estariam encobertos por uma capa de censura. Talvez
inconscientemente esperasse por um motivo que fizesse
aflorar sua inclinação mística. E foi o que sucedeu:
gradativamente suas barreiras psicológicas foram ruindo
e a personalidade encantada pelo mistério afluiu com toda
pujança.

231
A partir do encontro com a fama de Cayce, Berstein
abandonou a meticulosidade que Rhine lhe aconselhara
no trato com assuntos novos e deixou que a crendice
prevalecesse.

“Não é difícil compreender o tumulto interior de


Cayce. Ele tinha sido criado numa atmosfera
cristã muito severa e ortodoxa, sem nenhuma
instrução quanto aos ensinamentos das grandes
religiões do mundo, além da sua. Naquele tempo,
portanto, desconhecia a maior parte dos mais
profundos pontos de similaridade entre a sua
religião e as demais. Não tinha tido oportunidade
de apreciar a luz moral e espiritual que ardia em
lâmpadas que não fosse a da sua própria religião.
Era verdadeiramente ignorante quanto ao
ensinamento principal do hinduísmo e do
budismo ― a reencarnação.” (O Caso de Bridey
Murphy – pág. 89)

“...Alegrou-nos encontrar médicos que, tendo


conhecido Cayce e se utilizado de sua
extraordinária faculdade, estavam dispostos a
discutir a questão...confirmaram que a precisão
dos diagnósticos de Cayce, com relação a
pacientes que ele jamais havia visto, figurava
entre 80 e 100 por cento. Um médico frisou que
jamais soubera que Cayce tivesse cometido um
erro em seus diagnósticos; acrescentou que
recorrera à sua ajuda nos seus casos mais
difíceis.

Não ficamos só nos testemunhos dos médicos.


Desejávamos ouvir a história diretamente de
algumas pessoas a quem ele houvesse auxiliado.
Mas fosse onde fôssemos, o que ouvíamos de

232
advogados, escritores e trabalhadores era
sempre a mesma coisa: Cayce fizera maravilhas."
(O Caso de Bridey Murphy – págs. 93-94)

→ Caso Berstein houvesse continuado o contato


com o Dr. Rhine, certamente teria deste
obtido informações esclarecedoras sobre
Cayce. O profeta fizera um descritivo sobre
a personalidade da filha de Rhine que não
coadunava de forma alguma com o que o pai
dela sabia. Além da avaliação inadequada de
sua filha, certamente o pesquisador
conhecia as predições estapafúrdias do
profeta. O certo é que Rhine não
considerava as revelações de Cayce dignas
de crédito.

“Como estava na biblioteca, achei que seria boa


idéia consultar o fichário para ver se havia
quaisquer outras contribuições interessantes
sobre o mesmo assunto. Deparei com uma
definição interessante: “Reencarnação é o plano
pelo qual as criaturas imperecíveis e conscientes
recebem os corpos físicos adequados à sua fase
de desenvolvimento”.

Ao prosseguir nas consultas, fiquei assombrado


com o que encontrei.

Os que pesquisavam a reencarnação haviam


invadido a biblioteca! Havia seguramente
centenas de referências ― livros, poemas,
estudos, antologias...Uma das primeiras
declarações que li ― escrita pelo professor
T.H.Huxley ― parecia endereçada diretamente a

233
mim: “Somente num pensamento precipitado é
que se poderá negá-la (a reencarnação) sob o
fundamento de ser um absurdo.

Minha consulta transformou-se num verdadeiro


estudo, que parecia não ter fim. Surpreendi-me
ao encontrar grandes nomes, que jamais pensei
estivessem interessados na questão da
reencarnação, mesmo remotamente. Até o
arquicínico Voltaire contribuiu com alguma coisa:
“Não é mais de surpreender que se nasça duas
vezes ao invés de uma somente; tudo na
natureza é ressurreição.” (O Caso de Bridey
Murphy – pág. 98)

→ O entusiasmo de Berstein não lhe permitiu


ver que a declaração de Voltaire se aplicaria
à ressurreição, nunca à reencarnação. Caso
a intenção do filósofo fosse discorrer sobre
a reencarnação Voltaire falaria de “nascer
várias vezes”, em vez de um “segundo
nascimento”, que é uma figura típica do
conceito ressurrecionista.

“Além disso, encontrei muitas referências à


questão da reencarnação no Novo Testamento.
Pelo menos um livro versava exclusivamente
sobre esse tema (James M. Pryse, Reincarnation
in the New Testament, 1900). O autor escreveu o
seguinte: “Mostrou-se que a reencarnação, não
somente no caso do homem, mas também nas
leis da vida, que se aplicam a todo homem,
aparece claramente no Novo Testamento.
Contestar esse ponto é negar que os autores
dessa coleção de escritos quisessem dizer o que
disseram em uma linguagem iniludível...”. (O
Caso de Bridey Murphy – págs. 99-100)

234
→ A idéia de que o Novo Testamento apóie a
reencarnação é fruto de interpretações
equivocadas, facilmente esclarecidas
mediante análise dos textos. Noutro
trabalho de nossa autoria, específico sobre
a reencarnação, esta questão será aclarada.

“Antes de tomar o avião de volta para Pueblo,


parei numa livraria para comprar um livro para ler
durante a viagem. Peguei uma obra escrita por
um psiquiatra inglês, de grande renome (Dr. Sir
Alexander Cannon, autor de Power Within, Nova
Iorque: Dutton, 1953). Passando uma vista de
olhos pelo índice, detive-me no capítulo XVI. O
título era: “A reencarnação vence Freud”.

Consultando rapidamente essa parte do livro,


observei que o médico vinha levando a efeito,
durante muitos anos, experiências de vida
pregressa com centenas de pacientes. Ao invés
de deter-se quando a memória do paciente
chegava até à infância ou até ao nascimento, o
médico continuava a indagar, sondando ainda os
tempos anteriores, investigando o mistério de
lembranças antes do nascimento.

Nunca me ocorrera tal idéia...

Foi então que resolvi verificar, por mim mesmo, o


que havia de positivo nessa questão pré-natal da
memória.” (O Caso de Bridey Murphy – págs.
103-104)

Estava, pois, pronto o cenário para despontar a aventura


com Bridey Murphy.

235
A fama que Morey Berstein conquistou na década de
1950, com a história de Bridey Murphy, é semelhante à
obtida por Brian Weiss alguns anos mais tarde, com a
aventura de Catherine. Entretanto, podemos destacar
algumas diferenças entre as duas personagens:

Bridey Murphy Catherine


• recordava de uma única • lembrava dezenas de vidas;
existência;
• forneceu detalhes suficientes • As lembranças de Catherine
para a averiguação da são insuficientes para permitir
experiência que dizia ter uma pesquisa da veracidade
vivenciado, o que permitiu que a histórica do que diz;
fantasia fosse revelada;
• por girar em torno de uma • elementos fantasiosos e
única personagem, a narrativa erros facilmente perceptíveis
de Bridey Murphy era mais bem estão presentes nas narrativas
elaborada que às contadas por de Catherine.
Catherine.

O livro de Berstein causou grande celeuma.


Simpatizantes da reencarnação rejubilavam, pois a
ansiada prova das múltiplas vidas teria sido encontrada.
Mesmo tendo presente o ensino de Allan Kardec da
impossibilidade de lembrar vidas passadas, espíritas
acataram com satisfação a história de Bridey Murphy.
Ainda hoje, alguns nomes de destaque no meio espírita,
como Hermínio Carvalho Miranda, ainda admitem a
veracidade do relato.

l É admirável quão facilmente muitos espíritas


esquecem os ensinos de Kardec para abraçar uma
tese contradiz esses ensinamentos, como é o caso
das regressões a vidas passadas.

236
A regressão obtida por Morey Bernstein não foi a
primeira na história do regressionismo, antes dela outros
pesquisadores empreenderam diversas experiências que
foram divulgadas mais discretamente. Esses trabalhos não
se tornaram conhecidos com tanta amplitude quanto a
aventura narrada pelo empresário.

Berstein se convencera de que poderia fazer alguém


lembrar outras vidas. Faltava encontrar uma pessoa
adequada à experiência. Pensou em vários nomes,
finalmente lembrou-se de uma mulher a quem hipnotizara
anteriormente e que o surpreendera pela facilidade com
que caía em transe hipnótico. A personagem, informa
Berstein, chamava-se Ruth Simmons.

O resultado foi melhor que o esperado: Ruth sem grande


esforço conseguiu desencavar de sua memória
recordações de uma outra vida, na qual tivera a
identidade de Bridey Murphy e vivera na Irlanda.

Diversos jornais publicaram as revelações de Berstein, o


que deu maior força à história. Quando o livro foi
publicado o caso ganhou repercussão internacional. No
entanto, alguns homens de imprensa não se contentaram
em reportar o caso, decidiram investigar se eram verazes
as lembranças de Bridey Murphy.

Aos poucos os fatos foram sendo aclarados. Descobriu-se


que Ruth Simmons era o pseudônimo de Virginia Thige,
uma dona de casa, que, durante vários anos, fora vizinha
de uma senhora irlandesa. Do convívio com essa senhora

237
Virgínia retirou informes que permitiram a montagem do
enredo em seu inconsciente.

No capítulo 6 foi apresentado um comentário do Dr.


Paulo Urban, médico hipnoterapeuta, no qual afirma que
a hipnose não se presta a determinados procedimentos,
tais quais “provar a tese da reencarnação ou mesmo as
abduções por discos voadores”.

Há uma face em nossa mente, que na falta de uma


definição melhor podemos chamar de inconsciente, a qual
é altamente sugestionável. Mesmo um estímulo indireto
pode fazer com que a mente formule um enredo coerente
e muitas vezes convincente que, no entanto, nada tem de
real. A maioria dos que lidam com a hipnose sabe que as
aplicações do método hipnótico não se prestam para uso
em alguns campos. Em muitas situações as respostas do
hipnotizado não merecem crédito, pois não passam de
elaborações imaginativas.

Esta peculiaridade do inconsciente ― de fantasiar com


facilidade ―, seria mais que suficiente para pôr em
dúvida a veracidade das lembranças regressionistas.
Infelizmente, alguns psicólogos, que deveriam mais do
que ninguém conhecer tal característica e evitar a
aplicação da hipnose incorretamente, a utilizam da forma
desaconselhada pelos especialistas.

O que levou Virginia Thige a imaginar ter vivido na pele


de uma outra pessoa chamada Bridey Murphy?

238
É provável que quando menina, Virginia ouvia
embevecida as narrações de sua vizinha irlandesa. E a
gentil senhora sentia-se satisfeita com a atenção da
menina. Muitas pessoas de idade estão constantemente
sozinha e quando encontram alguém que lhes queira
ouvir as lembranças da juventude, sentem-se jubilosas.
Os encontros eram gratificantes para as duas: a senhora
revivia as saudosas aventuras da infância e a garotinha
deixava a imaginação vagar deslumbrada. Provavelmente
passassem horas seguidas nesses colóquios.

Virgínia cresceu e outros interesses surgiram. As histórias


da velha irlandesa caíram no esquecimento, ficaram
guardadas numa gaveta de sua mente e ali permaneceriam
indefinidamente caso não houvesse acontecido a
experiência hipnótica:

“Desejo que você continue mergulhando o


espírito no passado. E, por mais surpreendente,
por mais estanho que pareça, você verá que há
outras cenas em sua memória. Há outros
cenários, outras terras e lugares distantes em sua
memória. Vou dirigir-lhe novamente a palavra.
Daqui a pouco vou dirigir-lhe a palavra.
Entrementes, sua mente voltará a tempos
passados, até ver uma cena e, por mais estranho
que pareça, até que você se veja em algum outro
lugar, em outra época. Quando eu lhe dirigir
novamente a palavra, contar-me-á o que vê. Você
poderá falar-me a respeito e poderá responder às
minhas perguntas. E agora, descanse e relaxe o
corpo enquanto as cenas lhe vêm ao
espírito...Agora você vai contar-me, agora você

239
vai contar-me quais as cenas que vêm ao
espírito...Que viu? Que viu?

― Ah!...Raspei toda a pintura da cama. Tinham-


na pintado para torná-la bonita. É uma cama de
metal, e eu raspei a pintura. Cravei a unha em
todas as varas e estraguei-as. Ficou tudo feio.

― Por que fez isso?

― Não sei, estava com raiva, tinha apanhado


muito.

― Como você se chama?

― Uhmm...Friday.

― Como é mesmo o nome?

― Friday.

(Eu tinha a impressão de que ela havia dito


"Friday". As outras pessoas na sala ― conforme
disseram mais tarde ― também julgaram que
havia dito "Friday". Mas logo saberíamos que o
nome era diferente).

― Não tem outro nome?

― Ahn...Friday Murphy.

― E onde você mora?

― ...Moro em Cork.

― É lá que você mora?

240
― Uhm-uhm.

― E como se chama sua mãe?

― Kathleen.

― Qual o nome do seu pai?

― Duncan...Duncan Murphy.

― Quantos anos você tem?

― Ahn...quatro...quatro anos. (O Caso de Bridey


Murphy – págs. 111-112)

Este é um trecho da primeira sessão regressionista de


Morey Bernstein. Nota-se que, apesar de não tê-la
induzido a pensar numa existência específica, o estímulo
para que lucubrasse alguma cena de outra vida é bastante
claro. A mente de Virginia Thige, focada na voz de
Berstein, era receptiva. Bastou que Berstein lhe desse os
parâmetros gerais para que ela fosse buscar nas
recordações arquivadas em sua mente os elementos para
forjar a fantasia de Bridey Murphy. Observa-se que ela
hesita um pouco antes de responder sobre seu nome e os
nomes de seus pais. À medida que sua mente foi
desencovando as emoções infantis há muito retidas as
respostas se tornaram mais espontâneas.

Até o nome da vizinha de Virgínia Tighe era


sintomaticamente semelhante à da personagem que ela
criara: a senhora chamava-se Bridie Murphey Corkell.

241
Todos os elementos necessários para a criação da
personagem estavam presentes nas reminiscências de
Virginia Thige. Quando Morey Berstein instou para que
ela recordasse uma existência pregressa, não titubeou,
recolheu nas doces lembranças da infância os
ingredientes para elaborar o roteiro.

Hoje, o caso de Bridey Murphy é apenas ilustrativo da


capacidade da mente adequadamente sugestionada em
elaborar enredos. E deveria servir como esclarecimento
aos terapeutas regressionistas que as hipotéticas
regressões não passam de elaborações mentais, algumas
até bem construídas, mas todas oriundas de fabulações
de mentes férteis.

→ Morey Bernstein faleceu aos 79 anos, em 2


de abril de 1999, devido a complicações
cardíacas.

242
CAPÍTULO 14

Conclusão

No início deste trabalho deixamos no ar uma indagação


que, acreditamos, agora seja possível esclarecer:

Os profissionais que lidam com a TVP,


afirmam ser a terapêutica regressionista
muito mais eficiente que quaisquer outras
formas de psicoterapia.

Será que essa declaração se confirmará


depois que a terapia de vidas for
analisada detalhadamente?

Conforme foi dito, a TVP não é reconhecida como


método terapêutico pelas escolas tradicionais de

243
psicologia e de psiquiatria. Esta é uma questão
importante, pois significa que o processo não apresenta
formulações teóricas adequadas.

Um aspecto digno de nota se soma a este quadro: mesmo


pesquisadores reencarnacionistas mais sérios não
respaldam o regressionismo tão amplamente quando seria
de esperar. Ian Stevenson, um dos grandes simpatizantes
da teoria das múltiplas vidas, respeitado no meio espírita
e autor de pesquisas a respeito da reencarnação, é
bastante cauteloso ao comentar sobre as regressões.

“Alguns dos primeiros e mais rigorosos


investigadores da evidência da reencarnação
empregaram a hipnose para regredir os pacientes
no tempo, a supostas “vidas pregressas”. De
Rochas e, mais tarde, Björkhem, para citar
apenas dois investigadores, publicaram, cada um,
relatos de uma série de tais experiências, posto
que animadores, mostraram-se inconclusivos e,
no todo, decepcionantes, principalmente pela
dificuldade de controlar-se o acesso do paciente
às informações incorporadas à “personalidade
anterior". As “personalidades” geralmente
evocadas durante as regressões a uma vida
anterior, induzidas hipnoticamente, parecem
constituir uma mistura de vários ingredientes.
Estes podem incluir a personalidade atual do
paciente, suas expectativas daquilo que ele
pensa que o hipnotizador deseja, suas fantasias
sobre aquilo que ele imagina ter sido sua vida
anterior e, talvez ainda, elementos obtidos
paranormalmente." (20 Casos Sugestivos de
Reencarnação – Ian Stevenson)

244
É do espiritismo que temos de extrair os conceitos
teóricos sobre a reencarnação, visto que a TVP não
apresenta uma teoria própria. Pois bem, no meio espírita
existem duas posições distintas: alguns apóiam
ostensivamente o regressionismo, outros o condenam
com firmeza.

Diversos teóricos do espiritismo se mostram


incomodados com a TVP que, conforme vimos, agride
dogmas do kardecismo. Existem vários textos espíritas
com críticas severas ao regressionismo.

Por outro lado, espíritas simpatizantes do regressionismo


esforçam-se por conciliar o kardecismo com as
lembranças regressionistas. Para tanto, fazem referências
a textos da codificação kardecista que parecem apoiar,
ainda que de forma indireta, a possibilidade de haver
recordações. Outros, mais empolgados e desatentos aos
profundos conflitos entre a TVP e a doutrina kardecista,
abraçam a regressão a vidas passadas sem qualquer
remorso, como é o caso de José Reis Chaves, de quem
mostramos alguns artigos nos capítulos precedentes.

Examinemos um texto espírita que rejeita o


regressionismo.

"Regressão a vidas passadas: Uma terapia a


ser evitada

“Hoje em dia, fala-se muito em regressão de


memória a vidas passadas ou, simplesmente,
TRVP (Terapia Regressiva a Vivências
Passadas). No movimento espírita observa-se

245
certa polêmica em torno do assunto. De um lado,
alguns defendendo a prática e de outro, pessoas
considerando a inadequação dela. E nós,
dirigentes espíritas, como devemos nos
posicionar em face da nova onda? O que vamos
escrever aqui, visa convidar você a uma reflexão
sobre o assunto. Queiram ou não, os espíritas
estão ligados indiretamente à TRVP, por razões
que veremos adiante. ...
...
Até aí, tudo bem! Compreende-se esta atitude,
quando possivelmente estejam querendo evitar
que estas práticas venham instalar-se nos
centros espíritas. Já temos neles problemas
demais. Porém, o que esses profissionais
parecem não entender, é que nós que militamos
no Movimento Espírita, precisamos saber de
algumas particularidades dessa técnica pela
simples razão de que grande parte dos "clientes"
são os espíritas ou simpatizantes do Espiritismo.
Como a teoria reencarnacionista está
intimamente ligada ao processo, as pessoas
acabam ligando uma coisa a outra. Além disso,
existe uma velada propaganda da nova moda nos
centros espíritas. ...
...
A Dra.Maria Júlia Prieto Perez, considerada uma
autoridade nesta prática, tem afirmado repetidas
vezes que esta técnica de terapia alternativa,
quando mal utilizada, oferece perigo aos seus
praticantes. Não explica quais. Deveria fazer um
trabalho de cunho científico, ao alcance da
sociedade, informando-a a respeito. Um fato que
a médica parece não levar em consideração, e
que nos parece fundamental, é a condição
profissional do terapeuta. Afirma que qualquer
deles, da área médica ou psicológica, pode
utilizar a técnica, desde que seja preparado pelo
Instituto criado por ela, não importando, inclusive,

246
se tenha ou não conhecimentos no campo das
ciências da mente. Diz ainda não ser necessário
que o terapeuta creia na reencarnação para se
utilizar dos métodos regressivos. ...
...
Alegam os terapeutas que defendem a TRVP,
que por ela o paciente libera cargas emotivas
reprimidas no inconsciente, instaladas ali por
experiências infelizes, oriundas de outras vidas
ou vivências. Quem vive o trabalho espírita sabe
que, quando isso é necessário, os instrutores
desencarnados provocam os tais "sonhos", em
quem esteja precisando, durante o período de
sono, que todos nós, naturalmente, vivenciamos.
Estes sonhos fazem o indivíduo se conscientizar
do porquê sofre. ...
...
A médica Maria Júlia, maior propagadora da idéia
no Brasil, tem procurado justificar a utilização
desta terapia alternativa, fazendo-se valer de uma
colocação existente em O Livro dos Espíritos,
questão 339, que diz que o passado de uma
criatura pode lhe ser revelado em "certas
circunstâncias". Para isso utiliza e divulga a
técnica. Entretanto, existem ao menos uma
dezena de textos nas obras de Allan Kardec, em
que os Espíritos Superiores afirmam que a
lembrança do passado não traria benefício algum,
podendo inclusive perturbar o ser encarnado.
Além do mais, a técnica hoje é usada de forma
larga e se difundiu de maneira perigosa, fora dos
domínios do seu Instituto. ...
...
Diremos que, enquanto permanecer como está,
como uma ciência de homens, sem fundamentos
morais e sem aprovação da comunidade
científica, a TRVP - Terapia Regressiva a
Vivências Passadas, deve ser considerada pelo

247
bom senso espírita uma terapia não
recomendada a quem quer que seja."
(Site Nova voz - Grupo Espírita Bezerra de
Menezes)

Vários líderes espíritas estão cientes de que a ideologia


da TVP (ou da TRVP, como alguns preferem) balança os
alicerces da doutrina kardecista. Certamente, isso é
motivo de grande preocupação entre os dirigentes, pois se
o ensino de Allan Kardec for desacreditado, em virtude
da popularização da TVP no meio espírita, será uma
tragédia para o espiritismo latino. Os espíritas que aderem
tão alegremente à TVP não percebem que estão a criar
dificuldades para sua própria crença.

248
AS INCONSISTÊNCIAS DO REGRESSIONISMO

As inconsistências regressionistas podem ser resumidas


em dois aspectos:

• no pesado misticismo presente na prática e,

• na trivialidade das lembranças.

Do misticismo regressionista foram apresentados


exemplos variados. Os regressionistas defendem idéias
excêntricas, que não podem ser comprovadas e que são
de base fantasiosa.

A banalidade das lembranças é gritante. Muito pouco de


aproveitável se obtém das “recordações” de outras vidas.

A “barreira” da língua não foi quebrada e, ao que tudo


indica, jamais será. Os que regridem teriam de relembrar
as línguas que falavam. Se alguém “recorda” que foi um
atlante então que fale o idioma atlante; se recorda que
viveu no Egito, que fale egípcio; se viveu entre os
cretenses que fale a língua de Creta...lamentavelmente, o
regressionismo não apresenta ao mundo esse componente
que lhe concederia o almejado valor!

249
A História e a Arqueologia seriam altamente favorecidas
se as lembranças tivessem real profundidade. Até hoje
essas ciências não foram beneficiadas: os que regridem
não revelam qualquer informação importante.

As “lembranças” de vidas passadas se explicam pela


mente focada e sugestionada. Não há um “retorno” no
tempo, a uma vida anterior; não há a “recuperação” de
uma memória extratemporal, coisa alguma. A mente é
capaz de elaborar complexos enredos, desde que
adequadamente exercitada. E não é preciso ir muito longe
para se comprovar essa capacidade imaginativa de
muitos: basta examinar a criatividade de escritores e de
roteiristas de cinema.

Os distúrbios psíquicos, ― (vistos pela TVP como


acidentes em vidas passadas) ―, são mais bem
explicados pelo resultado de experiências desta vida
somadas às tendências genéticas. O que a TVP faz é
adicionar componentes fantasiosos à terapia psicológica.
As teses regressionistas denigrem a psicologia e a
psiquiatria. A TVP em nada contribui para o
desenvolvimento das pesquisas sobre a mente, ao
contrário: ela insere idealizações nebulosas e pouco
confiáveis.

As interações interpessoais, vividas desde a infância, são


complexas e capazes de provocar tendências positivas ou
negativas nas pessoas. Na fase adulta o resultante dessas
interações virá à tona e, dependendo do que tenha
acontecido durante a fase de estruturação da
personalidade, desencadeará as mais diversas reações do

250
indivíduo frente à vida. A TVP despreza esta realidade e
leva o assunto para o brumoso campo das vidas
pregressas.

Alguns pesquisadores perceberam que o método de


trabalho da TVP tem semelhança com a técnica
psicanalítica. Ocorre que o procedimento tradicional, de
buscar traumas arquivados no inconsciente, é substituído
pela idéia de cavar traumas em vidas passadas: passa-se a
caçar num imaginoso passado respostas para os males do
espírito.

Pelo fato da psicanálise exigir longo tratamento e nem


sempre atingir os resultados almejados, forma-se uma
brecha que a TVP aproveita com promessas de curas
milagrosas. Quando a mente elabora uma fabulação
satisfatória ela se descontrai e descansa sobre essa
pretensa resposta. Há um desvio das verdadeiras causas
dos distúrbios e isso pode ser gratificante: para muitos é
mais agradável acreditar que seus problemas procedam de
fictícias vidas pregressas, em vez de encarar dificuldades
concretas, originadas nesta vida.

A psicanálise tem limitações, isso é sabido. Entretanto, as


dificuldades do tratamento psicanalítico não serão
solucionadas pela adoção de terapêuticas eivadas de
superstições. Além disso, existem outras propostas na
Psicologia, que não utilizam o método psicanalítico e são
eficazes.

251
FINALMENTE...

Façamos uma reflexão final sobre a prática da regressão a


vidas passadas.

Vimos que a técnica hipnótica não é, como muitos


pensam, uma força mágica. Há várias situações em que a
hipnose apresenta resultados incertos. Acreditamos que
tenha ficado claro que hipnose não combina com a
regressão a vidas passadas, embora seja o método
preferido pelos terapeutas regressionistas para obter-se as
lembranças.

É preciso lembrar que nem todos conseguem regredir a


outras vidas. As pessoas céticas ao regressionismo não
encontrarão vidas passadas em suas reminiscências. Esses
casos podem ser analisado de diversas formas, para os
regressionistas a impossibilidade de lembrar seria devido
à resistência que o indivíduo impõe ao processo; para
outros seria mais um embaraço à tese de que todos
vivemos várias vidas.

A partir do momento que o paciente acata a sugestão de


reviver uma outra existência, os resultados variarão
conforme o conhecimento que tiver de fatos históricos.
Uma pessoa que conheça bastante detalhes sobre o Egito
antigo, por exemplo, elaborará um enredo rico em
informações, algumas das quais plenamente concordes
com o conhecimento histórico e arqueológico. Quem
conheça pouco sobre a terra dos faraós, mas mesmo

252
assim admire as realizações daquele povo, apresentará
uma narrativa medíocre.

Uma ilustração sobre essa peculiaridade o prezado leitor


encontrará no capítulo 9, onde se relata uma vivência que
Elizabeth teria tido no Egito, no papel de assistente dos
sacerdotes. O conhecimento de Elizabeth sobre o Egito
antigo foi alimentado por leituras esotéricas. Muito pouco
conhece a respeito dos estudos arqueológicos. Dessa
forma, durante a regressão sua mente velejou pela
fantasia e criou a fantástica história dos bastões mágicos
que ressuscitavam os mortos. Quando se referia a
situações menos nebulosas, ela não sabia o que inventar,
nem mesmo conseguiu dizer o nome do faraó do qual
dizia ser prima. E o Dr. Brian Weiss, que conduzia o
interrogatório, mostra-se também fragilmente esclarecido
sobre os eventos históricos.

Numa sessão de hipnose induzida pode-se sugerir ao


paciente que se veja numa época definida pelo
hipnotizador. As lembranças assim obtidas são mais
detalhadas e de melhor qualidade que quando se deixa a
mente vagar à procura de um enredo. Suponhamos
alguém que conheça detalhes da época dos gladiadores e
que seja susceptível à hipnose. O hipnotizador pode
dizer-lhe: “você agora está vivendo em Roma, você é um
gladiador romano”.

Essa pessoa elaborará uma história com bastante detalhes.


Entretanto, não se poderá chamar a isso de efetiva
lembrança de vida passada, pois o que houve foi uma
indução formulada pelo hipnotizador.

253
É claro que o resultante de uma sugestão direcionada não
seria uma “autêntica” recordação, visto que advém de
uma sugestão inculcada ao paciente. Apesar disso, tais
lembranças são ricas em detalhes e quase sempre melhor
elaboradas que as supostas lembranças reais. Portanto,
tanto faz uma recordação induzida (falsa) quanto uma
lembrança livre (“real”) que o resultado é o mesmo.
Nenhuma garantia existe de que quaisquer recordações
sejam verazes.

Esse aspecto é demonstrativo da insuficiência de


fundamentação para a legitimidade das lembranças.

Além disso, mesmo quando na aparência a pessoa esteja


lembrando uma vida passada, não deixa de ter havido
indução do terapeuta, pois ele condiciona o paciente para
que a mente vasculhe em si mesma uma hipotética vida
pregressa.

Entende-se porque os profissionais que lidam com a


hipnose a descartam como ferramenta adequada para
lembrar vidas passadas.

254
UMA INDAGAÇÃO...

É possível que uma indagação esteja presente na mente


de alguns leitores:

• Se as “lembranças” de vidas passadas não passam


de respostas a sugestões, por que tantos
psicólogos defendem ardorosamente o assunto e
declaram ser a TVP um método terapêutico mais
eficiente que as técnicas psicoterápicas
tradicionais?

Trata-se de uma questão que pode ser avaliada sob vários


enfoques. De fato, é de surpreender que pessoas formadas
pelas diversas escolas de psicologia descambem para o
esoterismo e abracem teses sem fundamento. É admirável
que Brian Weiss, um psiquiatra consagrado, defenda
ingenuidades que não resistem sequer a uma avaliação
superficial.

Dentre as muitas respostas que poderiam ser


apresentadas, diremos o seguinte: diversos psicólogos
adotam a TVP porque ela lhes atende às expectativas,
mesmo que essas expectativas não estejam respaldadas
por pesquisas adequadas. Ainda que digam o contrário, o
que estão a utilizar não passa de uma forma de
curandeirismo. A TVP não é ciência, ela está escudada
em concepções obscuras e atende à esperança daqueles
que buscam uma solução mágica para os problemas da
alma.

255
____________________

Por fim, registramos que nossas apreciações não têm por


meta agredir a ninguém, criticamos métodos e idéias, não
pessoas. Acreditamos que tenha ficado clara a falta de
fundamentação para a TVP. Citamos vários autores por
necessidade de analisar especificamente escritos que
verteram sobre o assunto. A crítica às idéias desses
profissionais não deve ser entendida como um juízo
global sobre suas personalidades. Célia Resende, Brian
Weiss, José Reis Chaves, Oswaldo Shimoda e outros
demonstram conhecimentos apreciáveis sobre diversos
assuntos, além de possuírem formação técnica em várias
áreas; rebatemos suas apologias à TVP, tal não significa
que estendamos as críticas a outros segmentos em que
atuem.

É importante registrar que o bom trabalho


psicoterapêutico sempre respeita as convicções religiosas
dos pacientes. Os terapeutas mantêm a neutralidade em
questões que envolvam religião. Muitas vezes, as crenças
constituem fortes apoios que mantêm o paciente
psiquicamente firme em meio a um mar de inseguranças.
Questionar acintosamente a religiosidade alheia pode
romper o equilíbrio psicológico com resultados
desastrosos. O psicoterapeuta se vê compelido a interferir
nesse quesito, somente quando a fé do paciente acarreta
inegáveis prejuízos, seja para si, seja para os que com ele
convivem. As críticas à TVP são admissíveis, pois,
conforme vimos, o método está eivado de incertezas. Se
um dia surgirem fundamentos aceitáveis para a terapia de
vidas pregressas, então as considerações aqui

256
apresentadas deverão ser revistas. Por enquanto, tudo o
que se tem sobre vidas passadas é um grande vazio
teórico preenchido com mil fantasias.

M Moonnttaallvvããoo
M..M

257
PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS
20 Casos Stevenson, Ian; Editora Difusora Cultural –
Sugestivos de tradução de Agenor 1966
Reencarnação Pegado e Sylvia Melle
Pereira da Silva

A Caminho da Luz - Xavier, Francisco FEDERAÇÃO ESPÍRITA


História da Cândido BRASILEIRA – 22ª Edição
Civilização à Luz do
Espiritismo
A Face Oculta da Quevedo, Oscar Edições Loyola – 1964
Mente González

A Gênese - Os Kardec, Allan FEDERAÇÃO ESPÍRITA


Milagres e as BRASILEIRA – 36ª Edição
Predições Segundo
o Espiritismo

A Obsessão Kardec, Allan; Casa Editora O Clarim –


tradução de Wallace 1974
Leal V. Rodrigues

A Origem da Bíblia Comfort, Philip Casa Publicadora das


Wesley Assembléias de Deus –
1998
A reencarnação Chaves, José Reis Editora Martin Claret – 1998
Segundo a Bíblia e
a Ciência

A Regressão a Dethfelsen, Thorward Editora Pensamento – 1997


Vidas Passadas
Como Método de
Cura

A Vida em Saturno Fernandes, Freitas Bastos – 1997


Diamantino Coelho

Artigos sobre Freud, Sigmund; Imago Editora – 1998


Hipnotismo e tradução de José Luis
Sugestão Meurer e Christian
Monteiro Oiticica

258
PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS
Bíblia Sagrada Tradução da Vulgata Paulinas – 1979
pelo pe. Soares,
Matos
Compêndio Huisman, Denis; Freitas Bastos – 1964
Moderno de André Vergez
Filosofia

Curso de Iniciação Pecotche, Carlos Editora Logosófica – 1989


Logosófica Bernardo González

Deuses, Túmulos e Ceram, C.W. Cia. Melhoramentos de São


Sábios Paulo – 1982

Enciclopédia Diversos Autores Cia. Melhoramentos de São


Mirador Paulo – 1986
Internacional

Hipnotismo sem Rhodes, Raphael H. Distribuidora Record – 1970


Mistério

Introdução à Clark, David Stafford Livraria Agir Editora – 1972


Psiquiatria

Lemúria – O Cervé, W.S. Amorc - Grande Loja da


Continente Perdido Jurisdição de Língua
do Pacífico Portuguesa - 1995

Manual dos Coleman, William L. Editora Betânia -1991


Tempos e
Costumes Bíblicos

Minha Alma e Suas Marino, Margarita E. MPW Inf. Ltda. – 1992


Vidas Abasolo

Muitas Vidas, Weiss, Brian L.; Salamandra – 1991


Muitos Mestres tradução de Talita M.
Rodrigues

Nosso Lar Xavier, Francisco Federação Espírita


Cândido Brasileira – 45ª Edição

259
PRINCIPAIS OBRAS CONSULTADAS
O Caso de Bridey Bernstein, Morey; Empresa Editora O
Murphy tradução de Leônidas Pensamento – 2ª Edição
Gontijo de Carvalho

O Hipnotismo – Marcuse, F.L.; Editora Ulisseia – Lisboa –


Realidade e Ficção tradução M.Marques 1959
da Silva

O Mistério da Berlitz, Charles Editora Nova Fronteira –


Atlântida 1976

Os Manuscritos do Vermes, Geza Editora Mercuryo – 1997


Mar Morto

Pergunte e Bettencourt, Estevão Paulinas – 1957


Responderemos Tavares

Pergunte e Bettencourt, Estevão Paulinas – 1963


Responderemos Tavares

Só o Amor é Real Weiss, Brian L.; Editora Sextante – 1996


tradução de Roberto
Raposo
Terapia de Vidas Resende, Célia Nova Era – 2000
Passadas

Ufo, Triângulo das Nobile, Peter Cia. Melhoramentos de São


Bermudas e Paulo – 1979
Atlântida

260

Você também pode gostar