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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO - UNIFESP


ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – EFLCH
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA ARTE

AVALIAÇÃO

Arte No Brasil
Prof. Dr. Vinicius Pontes Spricigo

Nome:
1. Rayssa Reis Dos Santos Teles - 163277

RESENHA

O texto “O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal” escrito


por Heloisa Barbuy, Professora Doutora da Universidade de São Paulo, relata alguns
dos significados e intenções por trás das grandes exposições denominadas Universais.
Ao iniciar o texto, Barbuy relata a linguagem expositiva das exposições e a intenção por
trás desta, de modo que, ao decorrer do texto é possível identificar uma leitura
estereotipada que se repete ao longo das obras expostas. Nota-se o tremendo esforço em
exibir o progresso e avanço da modernidade, a maneira em que as grandes exposições
foram surgindo, a indústria era instruída a ideia da enorme demanda das massas
(Barbuy, 1996, 212). Desta maneira, as chamadas Exposições Internacionais poderiam
ser comparadas com grandes vitrines da beleza cultural e econômica de um país:

"Entendemos as Exposições [Universais] como modelos de mundo


materialmente construídos e visualmente apreensíveis. Trata-se de um veículo para
instruir (ou industriar) as massas sobre os novos padrões da sociedade industrial (um
dever-ser de ordem social. (...1 [Mas] ao se realizarem, as Exposições ultrapassam seus
próprios objetivos e constituem-se, para muito além do projeto pedagógico de seus
organizadores, em representações sociais cuja dinâmica pressupõe um processo
interativo de produção, consumo e reciclagem" (Barbuy 1995:1-2)

No entanto, Helena traz a ideia de que esses eventos iriam além de uma “Feira
Mundial”, a natureza industrial dessas exposições não as caracteriza como simples
feiras comerciais, além disto, eram manifestações de todo um pensamento. (Barbuy,
1996, 213). A exposição parisiense de 1889 contou com a presença do Brasil dentre
seus participantes, Helena narra que a exposição brasileira demorou cerca de uma mês a
ser divulgada e exposta devido a um atraso de confirmação na presença dos países
americanos. Ao adentrar no pavilhão brasileiro, inúmeras cenas estavam expostas, como
o enorme estufa de plantas tropicais, no qual, de certo modo proporcionou ao público
parisiense a visão estereotipada da imagem Latino Americana:

“Para o público francês, que ignorava quase tudo em relação à América do Sul
e estava já "bem disposto a receber e amplificar a caricatura de revoluções de
Carnaval e de ditaduras de carton-pâte",os pavilhões sul-americanos de maior
sucesso foram os que permitiram uma leitura mais direta - uma idéia
simplificada - de seus respectivos países. Neste sentido, ainda segundo Pascal
Ory, o Brasil deixou a impressão de "uma grande plantação, graças a seu
jardim exótico e a Bolívia, de uma gigantesca mina"(Barbuy, 1996, 214)

Mediante a essa visão, as exposições Universais eram responsáveis por mostrar o


desenvolvimento da sociedade moderna, a variedade de produtos e o quão cheio de
recursos tal país poderia possuir. Dentre esses aspectos, além das “vitrines” modernas, a
necessidade de usar cartazes em mais de 34 línguas diferentes demonstra a grande e o
status. Entretanto, aos chamados "países do futuro" por Helena, “com seu clima
privilegiado e a abundância de riquezas de seu solo, caberia, muito naturalmente, a
função de abastecer a indústria do globo com matérias-primas.” (Barbuy, 1996). O
pavilhão Brasileiro próximo a torre Eiffel, era tido como um estereótipo com sua
infinita variedade, inúmeras plantas brasileiras foram expostas formando uma espécie
de estufa tropicalizada, reafirmando a image produtiva e bela do Brasil, “e
processavam-se ou reciclavam-se representações geradoras, inclusive de imagens-clichê
do Brasil - estereótipos- assumidos, depois, pelos próprios brasileiros, para os mais
diferentes fins”(Barbuy, 1996.).
Dessa forma, a intenção colonialista por trás dessas exposições modernas, que muitas
vezes funcionam como vitrines com fins comerciais se torna mais evidente no texto
“Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da América Latina”,
escrito por Nelson Sanjad, que apresenta a ideia da geopolítica por trás da “cultura de
exposições”:

A historiografia define as exposições internacionais como fenômenos geopolíticos da


modernidade, nos quais estariam associados a ordem burguesa que se expandia pelo
mundo, os movimentos nacionalistas e colonialistas que moldaram as relações
internacionais da época e a emergência de uma “rede expositiva” ou de uma “cultura de
exposições” que conectava distintos espaços e tempos da humanidade, possibilitando o
desenvolvimento de um repertório e de um padrão na linguagem dessas
exposições.(SANJAD, 2017, 791).
Em suma, Snajad defende em seu texto a ideia estereotipada, também apresentada do
texto de Helena, de um Brasil como produto, que além de mostrar suas belezas
estruturais, a visão industrial que o período de 1889 buscava alcançar e demonstrar
através do moderno, se tornou chave para continuar se produzindo uma arte e cultura
colonialista ao longo dos próximos anos. A imagem de avanço tecnológico foi feita em
cima de uma realidade escravista, em um país cheio de belezas naturais e com "feiuras
humanas” e “para um país periférico como o Brasil, não era fácil a tarefa de combinar
imagens de ‘modernidade’, associadas com o progresso tecnológico e a ‘alta cultura’,
com as sombrias realidades de uma monarquia escravista, cuja população era
esmagadoramente pobre, iletrada e mestiça” (Sanjad, 2017, 806). Então, os dois textos
apresentam a visão crítica por trás das grandes exposições Universais, que em toda seu
majestoso projeto de trazer a tona o que era o moderno e como era possível modernizar
cada vez mais os países, deixava um rastro disfarçado de colonialismo e comercial, que
visava o lucro dos que fossem mais “espertos”.

BIBLIOGRAFIA

SANJAD, Nelson. Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da


América Latina. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.24, n.3,
jul.-set. 2017, p.785-826

BARBUY, H. . O Brasil vai a Paris em 1889: um lugar na Exposição Universal. ANAIS


DO MUSEU PAULISTA: HISTÓRIA, CULTURA E MATERIAL (IMPRESSO) , São
Paulo, v. 4, p. 211-261, 1996.

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