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III Seminário Internacional de Linguagens,

Culturas, Tecnologias e Inclusão

ARTE DECOLONIAL
Um panorana nas artes visuais

Leonardo Amadeu Brito Santos


leonardo.amadeu@hotmail.com¹
Introdução
O presente escrito trata-se de uma pesquisa em andamento, tendo suas origens
na pós-graduação – Especialização em Linguagens e Artes na Formação Docente, na
linha de pesquisa 1: Processos de criação, saberes estéticos e culturais das
linguagens, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – campus
Belém, a qual objetiva compreender como as artes visuais e as estéticas decorrentes
delas contribuem para os processos de colonização e/ou decolonização.

As perspectivas decoloniais buscam questionar e transformar o padrão cultural


eurocêntrico imposto ao Sul global, que compreende países da América Latina, África e
Ásia, pelos movimentos de invasão, conquista, colonização e recolonização. Para
tanto, objetiva-se destacar o conceito de colonialidade do ver (Barriendos, 2019) e, a
partir dele, refletir sobre a representação nas/das artes visuais nesse processo de
decolonialidade (Paiva, 2022) em diálogo com o conceito de estética da (re)existência
(Berino; Neves; Lira dos Santos, 2021).

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Resultados / Discussões
As perspectivas decoloniais alcançam projeção através de intelectuais,
sobretudo os pertencentes ao Sul global, de países que foram colônias de
exploração europeias. Dentre esses intelectuais, pode-se citar: Quijano (2002;
2005; 2010), Mignolo (2008), Ribeiro (2019), Walsh (2013), dentre outros.

Para Quijano (2002) a colonialidade do poder se caracteriza pela distribuição


desigual dos direitos de ser, pensar e existir baseada no critério da raça. Nesse
sentido, Ribeiro (2019) debate sobre apropriação cultural e o quanto culturas negras
e indígenas foram exploradas, expropriadas e apropriadas historicamente. Nos
processos de colonização, a visão da cultura do colonizador foi imposta, enquanto
bens culturais eram saqueados. Um exemplo disso é a criação dos museus
europeus, mas antes deles, o gabinete de curiosidades, uma forma degradante de
mostrar a cultura de povos oprimidos pelo colonizador.

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O que se entende por colonialidade?
Na concepção dos europeus, era necessário levar a cultura, a civilização e a
modernidade aos nativos do Novo Mundo, ditos como selvagens e irracionais.
Assim, legitimava-se a colonização, pois a sua missão era tornar esses nativos
seres humanos, cristãos e civilizados. “A desumanização de habitantes não
europeus do globo foi necessária para justificar o controle de tais seres humanos
inferiores” (Pinto; Mignolo, 2015, p. 383).

A decolonialidade, enquanto opção teórica, epistêmica, ética, estética, política,


cultural, oferece a possibilidade de compreender como a sociedade foi formatada a
partir de um padrão hegemônico e heteronômico desde o período nomeado como
colonial. No caso da América, quando os países europeus tomaram o território
americano e passaram a exercer dominação sobre os povos originários/indígenas,
a partir do século XVI.

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Theodoro Braga, Fundação de Belém, Óleo sobre tela,1908.
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Em decorrência do colonialismo, se deu a implantação de um sistema-mundo
hierarquizado. As sociedades que invadiram e conquistaram territórios espalhavam
suas formas de produzir o mundo como única cultura válida. O que se conhece por
colonialismo, como processo formal e político, foi finalizado na maioria dos países
que passaram por essa experiência.

No entanto, mesmo “superado” o colonialismo, a dominação em suas diversas


formas ainda não teve seu fim e é o que constitui a colonialidade. A colonialidade
pode ser compreendida como o pensamento colonial reelaborado em distintos
tempos históricos, justificando padrões excludentes e de exploração, tendo por base
argumentos pautados, essencialmente, na raça, no gênero, na religião e na classe.

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Mestre Ataíde - Detalhe da Assunção da Virgem,
seu painel mais conhecido, na Igreja de São
Francisco de Ouro Preto.

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Walsh (2005) esclarece que, mesmo com os processos de independência,
os países do Sul global – da América Latina, África e Ásia – ficaram reféns de
uma cultura de subalternização, explicada pelo conceito de colonialidade do
saber. Tal cultura de subalternização afeta diretamente a forma de organização
da sociedade, de forma a manter as premissas da colonialidade por meio da
exploração e da discriminação de pessoas, dentre outros aspectos, que
caracterizam processos de desumanização.

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A chegada da família real (1808) e a missão artística francesa

• Missão artística
francesa (1816)
• Independência do
Pedro
Brasil (1822)
Américo, • Criação da Academia
Independên
cia ou Imperial de Belas
Morte, óleo
sobre tela, Artes (1826)
1888.
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Estêvão Silva , Natureza-Morta. Óleo sobre tela. s.d . Arthur Timotheo da Costa, Retrato de menino. Óleo sobre tela, 1918.

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Arte Moderna Brasileira

• Exposições de Lasar Segal


em 1913 na cidade de São
Paulo e Campinas.
• Exposição de Anita Malfatti
em 1917.
Tarsila do Amaral, A
• Semana da arte moderna negra, c.1923, óleo
em 1922. s/tela
• ManifestoIIIAntropofágico
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Antonieta Santos Feio, Vendedora de Cheiro,
c.1947, óleo s/tela.

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Luiz Braga, Fé em
Deus, 2006

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Conclusão
Tento em vista que esta pesquisa está em andamento, por ora, considera-
se que o estudo da arte decolonial é uma transformação em curso no Brasil
contemporâneo que, nos recentes anos, vem apresentando crescimento
exponencial de poéticas relacionadas às questões de raça, etnia, classe,
gênero e geopolítica. As obras de arte relacionadas a esse novo momento
sinalizam para uma mudança radical na ordem estrutural desse sistema,
definidas aqui como a emergente (re)existência na arte brasileira.
São necessárias políticas mais incisivas para a incorporação de obras
decoloniais aos acervos e para a formação de público (especialmente das
camadas sociais desfavorecidas). Afinal, esta seria justamente uma das
estratégias da decolonialidade do ver, que consiste em mostrar uma abertura,
uma rota de acesso do colonizado ao espaço privilegiado do colonizador .

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Referência
BARRIENDOS, Joaquín. A colonialidade do ver: rumo a um novo diálogo visual interepistêmico.
Epistemologias do Sul, v. 3, n. 1, p. 38-56, 2019.

BERINO, Aristóteles de Paula; NEVES, Luciana Dilascio; LIRA DOS SANTOS, Vanessa de
Andrade. A tarefa artista do ato de conhecer: estética, criação e reexistência de Paulo Freire.
Série-Estudos, Campos Grande, MS, v.26, n.58, p.89-109, set./dez.2021.

FERRAZ, Maria Heloísa C. de Toledo; FUSARI, Maria F. de Rezende e. Metodologia do ensino de


arte. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1999. – (Coleção magistério. 2º grau. Serie formação de professor)

FLETCHER, John. Historiografia dos decolonialismos para o ensino/aprendizagem em artes


visuais. Arteriais | Revista do Ppgartes | ICA | UFPA | n. 07 dez 2018. p. 204 – 213.

MIGNOLO, Walter D. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de Identidade


em política. Tradução: NORTE, Ângela Lopes. Caderno de Letras da UFF. Dossiê: Literatura,
língua e identidade, no 34, p. 287-324, 2008.
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PAIVA, Alessandra Mello Simões. A “virada decolonial” na arte contemporânea
brasileira: até onde mudamos? Revista Vis, v. 21- n. 1, p.29-46, jan-jul, 2022.

PINTO, Roberto de Souza; MIGNOLO, Walter D. A modernidade é de fato universal?


Reemergência, desocidentalização e opção decolonial. Porto Alegre, Civitas, v. 15, n. 3,
p. 381-402, 2015.

QUIJANO, Aníbal. Colonialidade, poder, globalização e democracia. Novos Rumos,


Marília, ano 17, n. 37, p. 4-28, 2002.

RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras,
2019.

WALSH, Catherine. Pedagogías Decoloniais: practicas insurgentes de resistir, (re)


existir y (re) vivir. Quito: Abya-Yala, 2013. Tomo I.
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