Você está na página 1de 20

As Ondas do Pensamento Museolóçíco:

balanço sobre a produção brasileira 1

• MANUElINA MARIA DUARTE CÂNDIDO

INTRODUÇÃO
useoloqía vem passando por profundas transformações. notadamente desde
edonda de Santíaço, de 1972. que considerou prioridade a intervenção
I. impacto desta Mesa Redonda. orçanízada pela Unesco. sobre o "Papel do
u a América Latina', faz dela (DESVALLÉES.1992).ao lado do colóquio "Mu-
seu e eio Ambiente' (França. 1972) e das jornadas de Lurs. em 1966. onde se
iniciou a ~estação do conceito de ecomuseu. um dos momentos fundadores da
chamada Nova Museoloçía. A Declaração de Quebec e a criação do MINOM -
Movimento Internacional para uma Nova Museoloqia em 1984. foram considera-
dos o reconhecimento pela Museoloçía do direito à diferença (MOUTINHO in
ARAUJO;BRUNO, 1995:29). Em 1992.a Declaração de Caracas reafirmou a função
sócio-educativa do museu. o estímulo ao pensamento crítico e seu papel como
canal de comunicação (DESVALLÉES.1992: 15-16). Neste ínterim. as reflexões da
Museología apontam para a compreensão da cultura como criadora das condi-
ções necessárias para o desenvolvimento. Há um rompimento com a idéia de
coleção como fonte ~eradora dos processos museolóçícos, a preservação é enten-
dida como fundamental e como possibilidade de ínteqrar diversos aspectos do
patrimônio e potencializar a ação interdisciplinar. Em meio a esta ampliação con-
ceitual e experiências de aplicação. percebemos que não houve produção científi-
ca e sistematização do pensamento museolóqíco equivalentes. especialmente num
Brasil de estreitas possibilidades de formação na área. panorama que apenas no
início do século XXIvai aos poucos sendo transformado.
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

Podemos mapear tentativas de sistemati- presentes em Vaflues.e no qual não iremos


zação da produção da Nova Museoloqla. nos deter aqui. Este artíço vai direto para o
como os dois volumes de "Vaflues: une balanço sobre a produção brasileira. com a
antholoçie de Ia nouveiIe muséotoçie', orça- ressalva de que estudamos a produção dos
nízada por André Desvallés (I992-1994). Em seis autores mencionados até o que foi possí-
língua portuguesa os vazios são mais eviden- vel acessar em 2000. ano de produção do tra-
tes. pois mesmo aspectos mais tradicionais balho oríçínal. Nele procuramos contribuir
da Museoíoçía ainda carecem de maiores com futuras revisões bíblíoqráfícas apresen-
análises e de publicações. para que se ampli- tando resenhas dos trabalhos principais dos
em os debates e a divulqação da informação. seis autores estudados. que também serão su-
A parca - embora crescente - produção aca- primidas aqui. Foram resenhadas as disserta-
dêmica e a inexistência de traduções de al- ções de mestrado dos seis autores e teses dos
s;tuns documentos fundamentais têm dificul- que tinham. à época. concluído doutorado.
tado avanços mais sis;tnificativos. a despeito
de alçuns esforços para publicação da pro-
dução na área". A PRDD_UÇÃD BRASILEIRA E AS ONDAS DE RE-
NDVAÇAD DA MUSEDLDGIA
A limitada representação da Museoloçía
brasileira na antoloçía' motivou uma revisão Nas resenhas dos trabalhos estudados des-
do pensamento museolóqíco nacional no tacamos os termos que apresentavam para-
sentido de localizar uma produção que foi lelos com conceitos apresentados na anto-
olvidada e trazer à luz uma parcela da pro- Ioçía francesa. É a análise das converçênct-
dução brasileira dispersa em teses. anais e as e divergências entre a bíblíoqrafía nacio-
documentos de encontros. revistas e livros. nal e a estrançeíra, além dos diferentes pon-
Este trabalho se justificou. então. pela ausên- tos de vista dos autores brasileiros estuda-
cia de revisão sistemática da produção bibli- dos sobre os principais conceitos da chama-
oqréfíca nacional acerca da chamada Nova da Nova Museoloçía. que apresentaremos a
Museoloqía. Passados als;tuns anos desde sua sequír,
elaboração. mantivemos como recorte a
produção analisada à época (2000). Relacio- Um tópico Iarçamente identificado na an-
namos seis autores que se destacavam pela toloqía foi a problemática dos museus em
relevância de sua produção acadêmica e bi- crise. entendida como uma crise de identi-
blíoçráííca, de suas experiências na aplica- dade institucionaI. Mário Chagas considerou
ção da Museoloçía e de sua participação em o atual estáçío da Museoloçía "um momento
proçrarnas de formação profissional na área: de flrande Iertilidede. se não decorrente,
Teresa Scheiner e Mário Chagas (R1); Maria pelo menos estreitamente relacionado com
Célia Santos (BA); Waldisa Russio. Cristina uma crise de identidade perfeitamente
Bruno e Heloisa Barbuy (SP). identiiicável' (CHAGAS. 1996: 18). Teresa
Scheiner entende também que a crise dos
o trabalho denominado Ondas do Pensa- museus ocorre no âmbito da identidade ins-
mento Museolóqíco Brasileiro. inspirou-se titucionaI. pois estariam sendo definidos. na
em Vaflues e trouxe de lá também a noção relação homem-museu. um novo sujeito e
do infíndável e do movimento contínuo que um novo museu. Este. no processo de
a produção do conhecimento tem. e a idéia reformulação. passou por uma "crise de
de que o pensamento museolóçíco passa identidade, com o advento de novos mode-
sempre por ondas de renovação. Há todo um los conceituais e a fleração de novas propos-
capítulo dedicado à revisão dos conceitos tas e proçremes de ação, que Ioçem às Iár-
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

mulas tradicionalmente definidas por alf/u- Para Heloisa õarbuy a Nova Museoloqía é
mas sociedades' (SCHEINER. 1998: 111). Para "Uma filosofia f/uiada pelo sentido de
ela. a identidade dos museus hoje. estaria Ií- dessacralização dos museus e. sobretudo, de
~ada à sua compreensão como plural. medi- socialização, de envoivimento das popula-
ador desta pluralidade junto a outras instân- ções ou comunidades implicadas em seu
cias de representação. fenômeno cultural raio de ação" (BARBUY.1995: 209). Portanto,
em processo - não instituição -. comprome- dístinque Museoloçía e Nova Museoloçía
tido com a identidade como processo. não como prismas da disciplina. Cristina Bruno
verdade (Idem: 125). arçumenta que há somente uma Museoloçía,
e a Nova Museoloçía seria denominação
Scheiner identifica como dilemas atuais adequada somente ao movimento inaugura-
da Museoloçia. entender como o museu tra- do em Quebec. em 1984 (BRUNO, 1995:158).
dicional disseminou-se além da Europa e Não é uma outra Museoloqía, mas um alarga-
tornou-se heçemóníco, distanciar-se do mito mento de horizontes epístemolóqícos com
e atuar sobre a realidade; analisar os mode- as mesmas preocupações (Idem: 158). Maria
los museolóqícos alternativos que o séc. XX Célía Santos (2002) se define simplesmente
viu nascerem (Idem: 137-138). Para Chagas, como museóloça, evitando a rotulação de
tais modelos. com toda a reformulação con- "nova museátoçe: e trabalha com a adoção
ceitual que acarretaram. ~eraram para a Mu- de novos conceitos e práticas trazídas para a
seoloçía o problema da coexistência de pa- realidade social em que se insere. sem rom-
radíqmas distintos. A de Peter Van Mensh pimento radical com o patrimônio já ínstítu-
(1994) onde coexistem múltiplas tendências cionalizado. Ao revisar em 1992. no Encon-
do pensamento museolóçíco contemporâ- tro Internacional de Ecomuseus. as ações
neo. revela a inexistência. até o momento. desenvolvidas no Museu de Arte Sacra da
de uma orientação vitoriosa. o que caracteri- UFBA mostra que não desvincula a ação
zaria uma crise de paradíqmas na Museolo- museolóqíca transformadora da atuação em
~ia (CHAGAS. 1996: 29). museus tradicionais. Identifica nas práticas
realizadas nesse museu elementos da
Evres (1992: 195-212) relatívíza a conclu- ecomuseoloqía. como a cultura entendida
são de Chaqas de que a convivência de para- enquanto processo social. a ação ínteqrada à
díqmas na Museoloqía constituiria um "caos comunidade e a prática social como ponto
teórico" que se resolveria com a heçemonía de partida; e propõe que o exercício museo-
de um dos paradíqmas. Evres se opõe. por Ióçíco se relacione com os modelos dentro
entender que a diversidade de orientações de uma necessária redução ao contexto soci-
não é conseqüência de uma crise. mas da ri- al de aplicação (SANTOS. 1993: 114-115).
queza de soluções surqídas no confronto
com a realidade. No mesmo trabalho Evres Discussão inseparável é a própria
estuda as idéias de Cristina Bruno. mas não indefinição da Museoloqía enquanto campo
no que diz respeito a este problema do científico. Há propostas desde a patrimonío-
paradíçma. Entendemos que esta museóloqa lo~ia de Tomislaw Sola (já aceita por Van
considera a existência dos múltiplos univer- Mensch), passando pela disciplina científica
sos de aplicação como parâmetros para ajus- em processo de constituição de Ana
tar a prática museolóqíca, mas que se baseia Greçorová, à definição do ICOM da Museo-
sempre na orientação do paradíqma da Mu- Ioçía como ciência aplicada ainda muito Ii-
seoloqía como estudo do fato museal. ou ~ada à instituição museu. Embora não total-
seja. da relação do homem com o objeto mente consensuais são constantes a tríade
num cenário. Homem (público/ sociedade). Objeto (cole-
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

ção/ patrimônio). Cenário (museu/ territó- plina aplicada cujas preocupações princi-
rio). em relação. conforme a definição do pais são a identificação e análise do com-
fato museal por Waldisa Russio. A amplitude portamento do homem em relação ao seu
atribuída a cada um desses vértices dá a patrimônio; e o desenvolvimento de pro-
abrançêncía do papel do museu e da Museo- cessos que convertam o patrimônio em he-
Ioçía. A bíblloçrafia brasileira compartilha o rança e participem da construção das iden-
debate. Santos (J 996: 94-95). em busca de tidades.
uma metodoloçia para a Museoloçía, revisa
as ..cinco linhas básicas de atuação da ciên- Scheiner (1998) identifica três vertentes da
cia museoiáçtcs', de Van Mensch. que são a teorização em Museoloçía. uma na teoria do
Museoloçía Geral. a Museoloqía Aplicada. a patrimônío", ~eraria o dilema de que a Muse-
Museoloçía Especial. a Museoloqía Histórica ología depende de uma área do pensamento
e a Museoloçía Teórica. Tais linhas são. basi- maior à qual pertenceria; a segunda conçre-
camente. a composição dos quadros ~a aplicação e teorização como partes
referenciais da disciplina propostos por índíssocíéveís. e a terceira pesquisa o fenô-
Cristina Bruno. A formulação de quadros sin- meno museu. A combinação destas posturas
téticos. aliás. é uma constante em Bruno e faria da Museoloçía uma ciência específica
Santos. O exercício de síntese e de sistemati- ou vinculada a uma ciência do patrimônio e
zação do conhecimento da área reforça a da memória. que busca elementos para a de-
perspectiva de ambas na formulação de uma finição de uma Iínçuaçem própria e univer-
teoria própria para a Museoloqia. sal em suas experimentações. Sua própria
dissertação. entretanto. é mostra de uma for-
Mário Chaças também afirma seu interesse ma de conceber a Museoloçía mais afeita à
em discutir os fundamentos epístemolóçicos discussão teórica que à aplicação e ao con-
da Museoloçía, colocando-os acima da consi- fronto dos conceitos com a realidade. Indo
deração da mesma como ciência. prática. além do raciocínio que identifica na aproxi-
arte ou disciplina. ainda que di~a preferir as- mação dos museus com a visão antropolóçí-
sim considerá-Ia: como disciplina (CHAGAS. ca o mais síçnífícatívo avanço", Scheiner
1996: 17).A compreensão de Museoloçía des- (1998) apresenta uma concepção
te autor amplia a definição de Waldisa Russio. biocêntrica. fundamentada na Ióçíca
embora parta dela como base. por entender hoIística. ínteqradora. Ao contrapor o avan-
que o museu possa ser um cenário institucio- ço do discurso às práticas museolóçícas tra-
nalizado ou não. O museu conceitual é uma dicionais. suçere a alimentação recíproca de
cateçoría que ele exprime já na análise do teoria e prática. Entretanto. outros momen-
pensamento marioandradiano. onde o identi- tos do seu discurso afastam a característica
fica. Para Chaças, a relação entre homem. ob- de disciplina aplicada da Museoloçía. A ri-
jeto e cenário constitui uma realidade em queza de sua contribuição consiste na articu-
trânsito e o estabelecimento da relação como lação da teoria museológíca com outras áre-
fi~ura ~eométrica baseada em três vértices as do conhecimento. estimulante por propor
caracteriza um ternário matricial para o pen- novas articulações. Contudo. parece se afas-
samento e para a aplicação da Museoloçía tar das tentativas de síntese do pensamento
(Idem: 31). O museu conceitual está presente museolóqíco e também da imperatívídade
ainda em outros. como Bruno e Scheiner. da aplicação como método para a constru-
ção do pensamento na área. Em um paralelo
Bruno (J 996: 09-38) está envolvida no es- com o que Bruno tem postulado. no sentido
forço para a orçanízação epístemolóqíca da de checar a modelos. sínteses. sistematiza-
Museoloçía, que compreende como disci- ções. fixação das bases de uma teoria museo-
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

Ióqíca. parece-nos que Scheiner vai numa ressa-se ainda pela discussão sobre o conceito
direção oposta. mas complementar. abrindo de realidade. recorrendo a bellaíçue. Sola e
debates e trazendo elementos de outras áreas Van Mensch. que o aproximaram do recorte
para a Museoloçía. correspondente à herança cultural e natural
(Idem: 92). Para Bruno (1998a: 19) herança si~-
Apresenta a Museoloçía como campo nifica um passo além do patrimônio cuja trans-
disciplinar que trata das relações entre o fe- formação em herança se dá a partir da consci-
nômeno Museu e as suas expressões. a partir ência de sua existência.
das diferentes visões de mundo que cada so-
ciedade elabora. no tempo e no espaço" Santos (1996: 276) apresenta fato museal
(SCHEINER. 1998: 136). Ou como" campo do como" a qualificação da cultura em um pro-
conhecimento que analisa e investtça o Mu- cesso Interativo de ações de pesquisa. preser-
seu em todas as suas expressões e manifesta- vação e comunicação. objetivando a cons-
ções". com o caráter" valorizador de peculia- trução de uma nova prática social', Heloisa
ridades locais. bem como o papel de Barbuy (1989: 37) acrescenta: "A Museoloçia,
catalisadora do câmbio social. dando ênfase então. não apenas estuda a relação entre o
ao desenvolvimento de formas de museu homem e a realidade. entre o homem e o
que atendam às conjunturas contemporâne- objeto mas procura. também. atuar sobre
as' (Idem: 124). Dentre os seis autores estuda- esta relação e transformá-Ia". Inserir-se na re-
dos. é a única que não se refere à relação alidade e a~ir sobre ela é uma posição que
tríançular já mencionada. portanto. que não vem se firmando na Museoloçia. Autores
se fixa na definição de Russio para fato como Maria Célia Santos defendem uma
museal. Fica mesmo difícil enquadrá-Ia no abordagem de cultura ínteqrada a outros as-
esquema de Van Mensch para as tendências pectos do cotidiano. Ao afirmar que a procu-
do pensamento museolóqíco. Entretanto. ra pela qualificação da cultura deva ser reali-
como a própria autora considera-se ao lado zada por meio das ações de pesquisa. preser-
de Russio e Stránsay na análise do museu vação e comunicação. a autora está definin-
enquanto fenômeno. tendemos a concluir do também o que entende ser a cadeia ope-
que ela esteja na vertente em que Van ratória básica da Museoloçía (1996: 271).
Mensch os qualifica: a do estudo de uma re- Também Van Mensch (anotações de aula) e
lação específica entre homem e realidade. Mário Chagas (1996: 92) partem destes princí-
Outra possibilidade é supô-Ia em acordo pios de ínvestíçaçêo. preservação e comuni-
com Evres (2000: 60) na hipótese de que a cação em equilíbrio dinâmico. Em outras
fi~ura tríanqular não dê conta de uma Muse- ocasiões Chaças se refere a uma cadeia ope-
oloqía voltada para um patrimônio em cons- ratória mais sintética. distribuída entre pre-
tante reelaboração. já que ao invés de vérti- servação e dínamízação (Idem: 63).
ces preexistentes a relação estaria constante-
mente redefinindo o que sejam homem. ob- Fomos convencidos. entretanto. pelo arçu-
jeto e cenário." mento do Curso de Especialização em Museo-
Ioçía do MAE/USP. conseqüentemente. de
O fato museal também está presente no pen- Cristina Bruno. seçundo o qual a cadeia opera-
samento de Santos. que cita em sua obra a de- tória da Museoloqía consiste na salvaçuarda e
finição de Waldisa Russio sequndo a qual ele é na comunicação patrimoniais. Este ponto foi
"a relação profunda entre o homem. sujeito inclusive alvo de questões postas pelos alunos
conhecedor, e o objeto que é parte da realida- do CEMMAEa Peter Van Mensch em entrevista
de à qual o homem pertence e sobre a qual ele inédita (realizada em 05/10/2000). Lonçe de ser
afie" (RUSSIO. apud SANTOS. 1996: 92). Inte- uma questão de terminologia, como pode pa-
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

recer. é um debate que a rnuseóloça paulista Ainda para Bruno (1998a: 54-55). "a Muse-
propõe e que pode ser uma de suas maiores oçraííe corresponde ao universo da técnica.
contribuições. por afirmar a salvaçuarda e a da prática, enfim, do fazer musea! (..) Sendo
comunicação patrimoniais como faces de essim. o conjunto de aplicaçôes das idéias e
operacionalização da Museoloçía, ambas de conceitos. para a consecução de etividades
caráter preservacionista. de conservação. documentação. exposição
e ação educetivo-cultural, diz respeito ao
É possível que Mário Chaqas seja um dos universo museoçrático', Expoqrafta é o ter-
primeiros a aquiescer a esta formulação. visto mo usado especificamente para discurso
existir. na sua obra. um discurso que inclui a exposítrco. Chagas (J 996: 33) também consi-
necessidade de comunicação e uso social do dera a museoçrafta como Museoloçía aplica-
patrimônio na preservação. Assim. ela não da. responsável pelas "condições práticas e
seria equivalente absoluto do termo salva- operecionais de ocorrência do fato museal'.
!6uarda. menos ainda de ínvestíçação. Ao Russio. na apresentação do anteprojeto mu-
ponderar os sentidos de tombamento e de seoçr áftco presente em sua tese de
preservação. o autor se aprofunda no exame doutoramento. revela uma noção de
da oríçem latina de preservação (Praeservare museoçrafía similar às anteriores. Os concei-
- ver antecipadamente o períço) para afirmar tos de museoçraíta e de Museoloçía de
que "o periço maior que paira sobre um bem Barbuy (J 999: 43) são expressos quando se
cultural é a sua propria morte ou deterioraçâo" refere à museoçraíía como" a ideia de uma
(CHAGAS. 1999: 104). e que "o sentido da pre- orçamzaçâo especial e visual corresponden-
servação está na dinemtsaçâo (ou uso social) te a uma dada concepção intelectual e ideo-
do bem cultural preservado" (Idem: 105). Se- IÓf/Íca (museoioçtal'. Desta forma. trata por
!6uindo este raciocínio. Chaças poderá resolver museoçratía não toda aplicação da Museo-
o paradoxo por ele identificado entre as neces- 10!6ia.mas o que denominamos expoçrafta.
sidades de conservação e de dínamízação, di- Já Scheiner (1998: 124). ao definir
ante da ínexorável ação do tempo sobre os museoçrafía, como" o conjunto de práticas
bens patrimoniais (CHAGAS. 1996: 104).Como através das quais o Museu se vtsbütza. f/a-
hoje compreendemos. a preservação pode es- nhando uma identidede especiiics, uma per-
tar fundamentando i!6ualmente ações de sal- sonalidede proprie", estaria em acordo com
vaçuarda e de comunicação patrimoniais. Bruno. Chagas e Russio. mas eventualmente.
usa o termo também no sentido de expoqra-
Para Bruno. a Museoloçía é uma discipli- fia (Idem: 137).
na preservacíonísta baseada na cadeia ope-
ratória de salvaçuarda e comunicação: "Rea- A determinação do universo de museali-
firmando que a preservação é a função bási- zação também é alvo das discussões. com a
ca de um museu e que a partir dela estão afirmação de uma noção cada vez mais am-
subordinadas todas as outras. tais como cole- pliada do patrimônio musealízével. passan-
ta e estudo dos objetos e/ou espécimes da do de objeto para uma orientação teórica
natureza; salvaçuerda das coleções e/ou re- baseada no fato museal, como é predomi-
Ieréncias patrimoniais (conservação e docu- nante ou talvez unânime entre os seis
mentação) e comutucaçâo (exposição. edu- museóloços estudados. Chagas (J 996) enten-
cação e ação socio-culturel), saliente-se que de que o conceito de museu cobre o univer-
o desempenho articulado de todas estas so inteiro e tudo é musealízável. Museu é o
facetas preservecionistas deve estar vincule- IU!6aronde podem ser estudadas as relações
do ao exercicio da discipline museotoçice' entre o homem e a realidade do universo em
(BRUNO, 1995: 145-146). sua totalidade. Sua noção de patrimônio
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

corresponde a ..um conjunto de bens cultu- musealização foi a adoção da interdiscipli-


rais sobre o qual incide uma determinada naridade como método de trabalho. idéia
carça velorative" (Idem: 40 - em nota de recorrente tanto em l7a~uescomo entre os
rodapé), O bem natural incluído no cultural, museóloqos que estudamos. Russio (I 977.
como em Russio. para quem os objetos a se- 1980) recomenda a interdisciplinaridade
rem musealizados são todos os elementos como método de pesquisa. de ação e de for-
externos ao homem e passíveis de serem mação profissional. Maria Célia vai além e
percebidos ou modificados. eleitos em vir- ínteçra aos diferentes esforços profissionais a
tude do seu potencial de síçntfícação participação comunitária - que Russio alme-
(RUSSIO. 1990: 07-12). A natureza é um bem ja. mas não insere no âmbito da ação inter-
cultural. na medida em que mesmo que não disciplinar: ..a abrançéncte do patrimônio
seja alterada. ela é percebida e dotada de cultural a cultura entendida como o resulta-
si!6nificados e valores pelo homem. do do trabalho do homem. conduz-nos. cada
Scheiner (1998: 44) também compreende vez mais. para o trabalho interdisciplinat;
que os museus são espelhos onde a socieda- multidisciplinar e de participação dos diver-
de se reflete por meio de uma parte eleita e sos ~rupos da comunidade" (SANTOS. 1993:
preservada do seu patrimônio. proveniente 105). Chaças (1996: 49) opta por ela como
de um amplo universo. Para o tratamento ..critica da especialização e recusa de uma
deste patrimônio a solução da Museoloçía ordem institucional dividida". e ainda como
foi voltar-se para uma perspectiva de ação exíqência para a transformação da formação
ínteçral e conceber novos modelos museoló- profissional. Para este autor. é pela opção in-
!6icos (Idem: 49). terdisciplinar que a Museoloçía mostra sua
vitalidade (Idem: 50). A ação interdisciplinar
A amplitude do universo de musealização da Museoloçía consiste. para Cristina Bruno.
é presente. seçundo l7a~ues.no pensamento no fato de que esta disciplina não estuda es-
museoíóçíco internacional. Referindo-se ao pecificamente o homem. o objeto ou o cená-
que chama de uma Museoloqía !6lobalizante. rio. mas uma relação estabelecida entre eles.
Desvallées (I 989: 14) desafia: ..O museu ultra- denominada fato museal." Acresça-se a isto.
passa suas paredes. Suas coleções estão em a tarefa de comunicar o conhecimento pro-
toda parte. Tudo lhe pertence. Todopatrimô- duzido em outras áreas do conhecimento.
nio é museal - e não apenas museilicável.
Tudo é museu!', Polemiza os mecanismos de Se tais transformações foram exíçêncías
seleção e exclusão. próprios da Museoloçia. da alteração em um dos vértices do fato
Embora tudo seja passível de musealização. museal. devemos nos deter açora na análise
não é possível musealizar tudo. daí a crítica do alarçamento conceitual que desobrigou
sobre o conceito de museu integral, que seria da formação de coleções o processo de mu-
li!6ado a uma má tradução de museu ínteçra- sealização. Heloisa Barbuy. que participou da
do: como a musealização envolve recortes. criação de um dos raros exemplos de experi-
seleção. opções. descartes. falar de um mu- mentações no Brasil do modelo de
seu ínteçral é uma tendência ao totalitaris- ecomuseus. o Museu da Cidade de Salto
mo e o que é Iatível é a existência de um (SP). aponta a concepção de objeto li!6ada a
modelo museoíóçíco que ínteçre as parcelas esse modelo museolóqíco. ..O acervo não é
derivadas de diferentes vertentes patrimoni- indesejado ou banido; ao contrário. é ampli-
ais.' ado. tanto no sentido de sua natureza como
no de seu siçrriticedo, ebrançendo bens imó-
Outra exíqêncía desta nova forma de con- veis e territórios inteiros. além de espécimes
ceber o objeto museolóçíco e o universo de vivos e de bens Imeteriats' (BARBUY. 1995:
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

210). Seçundo ela. a compreensão de uma de tempos idos. Embora não o dis;Ia clara-
ruptura radical foi imprópria: "Que esses ob- mente. parece-nos subjacente a considera-
jetos sejam recolhidos ou não para dentro ção de que hoje o museu pode. sim. existir
de um museu. isto depende de cada contex- sem objetos.
to cultural e de cada projeto museoiáçico
mas em nenhum momento propôs-se que os Afirmada. porém. a permanência do obje-
objetos deixassem de ser inventeriedos' to na tríade que define o objeto de estudo da
(Idem. 211). Uma alternativa à formação de Museoloqía como sendo o fato museal, pas-
coleções e à recolha de acervos pode ser samos à outra vertente da questão. referente
encontrada entre os modelos museolóqícos à relação museu-público. Maria Célia Santos
propostos por Bruno (1995): a constituição (1993: 75) confere à identificação entre o pú-
de bancos de dados de referências patrimo- blico e o que se encontra exposto. o papel de
niais. Mesmo sem nomeá-Ias diretamente. víabílízar esta comunicação. Se a identifica-
entendemos que Barbuy está tratando em ção é hoje palavra de ordem. o estranha-
seu texto daquilo que Bruno assim identifica. mento. o mistério e o distanciamento. já fo-
Já na obra de Chaqas, há a alusão direta à ram a tônica da relação. Scheiner expôs
expressão referência patrimonial. como as normas coercitivas já nortearam a
vísttação aos museus e s;Ieraram certo senso
Waldisa Russio (1980: 114). anterior a esta comum de qual seja a relação possível com
formulação. referia-se a uma "representatíví- estas instituições. Para ela. é no séc. XIXque a
dade das peças". Observe-se a maqnítude da emoção entra no museu. Sentimentos como
noção de patrimônio aí envolvida. e a visão o prazer e a emoção são fatores desta rela-
antropocêntrica. porque o objeto não está ção pouco examinados pela Museoloqía,
presente per si. mas pelo que representa: sua como observaram Fattouh e Simeon (1997:
proposta era de que a Iínquaçern dos objetos 31-32) em sua análise do pensamento do
narrasse o processo de industrialização e que ICOFOM.
aquele não fosse um museu de máquinas.
mas memória de lutas. de homens. Ainda as- A identificação do público com o patri-
sim. o abandono da tridimensionalidade mônio musealizado e sua utilização para s;Ie-
equivaleria para esta autora. ao da represen- rar estímulos no sentido da conscientização
tativídade, documentalidade. testemunhali- e da ação sobre o real são hoje mais condi-
dade e síçntftcêncta inerentes aos objetos zentes com o papel social esperado de um
(Idem: 74-84). museu. que. para Bruno. se realiza na
intersecção de dois outros. o científico e o
Scheiner (2000: 22) entende que mais que educativo. ao "propiciar a compreensão so-
representação. o museu é criador de sentido. bre o patrimônio / herança e o exercício da
Os conjuntos síçnífícantes ali criados sinteti- cidadania" (BRUNO, 1998a: 27). Maria Célia
zariam práticas. valores e sensações do indi- Santos (1993: 52) afirma: "Paranós, o simples
víduo. considerados patrimônio pelos víncu- ato de preservar. isolado, descontextuslizs-
los afetívos a eles atribuídos. A existência do do, sem objetivo de uso, si~nifjca um ato de
objeto seria. desde o mito de oríçem dos indiferença, um 'peso morto: no sentido de
museus. fundamental nos processos desen- ausência de compromisso. Entendemos o
volvidos (Idem. 29-30). Apenas nesta autora ato de preservar como instrumento de cida-
percebemos um certo distanciamento. como dania, como um ato político e, assim sendo,
se o objeto fosse uma realidade lis;Iada so- um ato transformador. proporcionando a
mente a uma atuação museolóçíca mais tra- apropriação plena do bem pelo sujeito, na
dicional. onde seria um mito arraíqado des- exploração de todo o seu potencial, na inte-
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

fração entre bem e sujeito, num processo de Ioqía definido por Ulpiano Bezerra de
continuidade". Um museu ..onde o cidadão Meneses como administração da memória, e
comum encontre traços da sua cultura, do assim por diante. Scheiner imputa ao museu
fazer do seu dia-a-dia, se identifique como a filiação à memória, que o liga definitiva-
aquele que participa da História, que, sem mente aos seus meios capitais de expressão,
perder de vista as suas raizes, utihza-a como o tempo, a língua e o espaço. E seria consoli-
reterencial. compreende o seu presente e dado por meio do objeto, como em Chagas,
constrói o seu futuro" (Idem: 19). síntese das representações. Como os demais,
percebe a existência de uma memória
É nessa linha de pensamento que se en- multifacetada, construída no presente. Os
contra também Heloisa Barbuy (I989: 36), ao museus, como bibliotecas e arquivos, seriam
centrar o papel social e educatívo do museu responsáveis pela guarda dos registros mate-
no seu potencial" de aumentar a capacidade riais da memória coletiva, fazendo dos
de uma coletividade de projetar seu próprio museóloqos, administradores dessa memória
futuro e de ser sujeito ativo - e não passivo- (SCHEINER, 2000: 31-35). Como espelho, o
de sua própria história, a partir da consciên- museu lidaria simultaneamente, com identi-
cia que passa a ter de si mesma", já que ..a dade e alteridade, reconhecendo a
ação cultural exercida pelos museus e por pluralidade.
outras instituições culturais tem importante
papel na relação que o homem desenvolve A globalização, criou seu inverso, o refor-
com sua realidade" (Idem: 40). Waldisa ço das identidades regionais. Esta autora
Russio (1977: 132) propôs um museu destaca a maneira como o museu, em meio
propiciador do questionamento, da crítica, à própria crise de identidade, tem articula-
da avaliação, da ética e da transformação: do o debate sobre esta problemática. Em es-
..O museu deve ser compreendido como um tudo de 1987 sobre a produção do ICOFOM
processo em si mesmo, como uma realidade em torno desta matéria, percebeu as origens
dinâmica. (..) O museu não existe isolada- regionais das distintas compreensões. Esta
mente, mas dinamicamente, na sociedade". conclusão tem paralelo em Fattouh e
A atitude contrária estaria relegando o mu- Simeon (1997: 48), que apreendem da pro-
seu gradualmente ao esquecimento. dução dos autores procedentes de países
Scheiner alerta também para o papel de ..es- em via de desenvolvimento o interesse em
tabelecimento e manutenção da compreen- uma ação que contribua para a construção
são e da tolerância intercultural", ainda por de identidades nacionais, aspecto, a seu ver,
realizar (SCHEINER, 1998: 35). já resolvido no primeiro mundo. Para além
da busca de ingresso no ..concerto das na-
Intrinsecamente ligados à teoria museoló- ções" (BARBUY. 1999; CHAGAS, 1999), os
gica estão os temas da memória, da identida- museus mesmo nos países subdesenvolvidos
de e da diversidade cultural. Para Bruno, é passam a reconhecer a importância da voca-
na consciência sobre o patrimônio e na ção territorial, com base em distintos níveis
construção das identidades que se realiza o de identidade sobre o qual estariam agindo.
tributo dessa disciplina. A intimidade entre Aos museus de caráter nacional. somam-se
Museoloçia e memória é identificada por os regionais e os locais. No Brasil. o conceito
Evres (2000:62) como existente desde Russio. de museus de território pouco a pouco pas-
Realmente, entre os autores estudados, todos sa a gerar processos museolóqícos.
praticam esta associação. Chagas entende os
bens patrimoniais como representações da Heloisa Barbuy (I995: 222), ao discutir os
memória, Bruno ressalta o papel da Museo- ecomuseus, alerta para que sua problemática
- MANUELlNA MARIA

central - que aqui estendemos a toda a pro-


blemática preservacíonísta - seja a definição
DUARTE CÂNDIDO

está suspensa, presa por um fio de insatisfa-


ção" (1977: 142).
para" o limite entre o caráter revolucionário
ou conservador da construção de identida- Desenvolvimento pela qualificação da
des culturais', O tema da vocação territorial cultura é a proposta presente em Santos e
está associado a uma nova discussão que se Bruno. O ínçresso da reflexão sobre desen-
impõe no universo de reflexão da Museolo- volvimento por meio da preservação e da
lJia e que diz respeito à necessária compre- ação museolóçíca tornou-se possível somen-
ensão da cultura como criadora das condi- te com as alterações profundas na relação
ções necessárias para o desenvolvimento e, entre museu e passado. Hoje, esta não é a
portanto, sua preservação como fator indis- única temporalidade à qual se IilJa o museu:
pensável para tal (VARINE in DESVALLÉES, ele articula presente, passado e futuro, como
1992: 56). A disposição no sentido de associar catalisador da evolução social. Waldisa
desenvolvimento sustentável e afirmação do Russio (1977: 26) aludiu ao museu como
uso como estratéçía de preservação do patri- "deilaçrador das utopias". A musealização
mônio permeia os debates contemporâneos tem um sentido, em sua obra, não somente
da Museoloçía, como exemplo, a Carta de de reqistro do passado, mas de preservação
Santa Cruz, oriunda do 11 Encontro Internaci- do presente e antecipação do futuro.
onal de Ecomuseus "Comunidade, Patrimô- Scheiner (2000: 91) denota ao fenômeno
nio e Desenvolvimento Sustentável" (2000). museu uma nova inserção no tempo afir-
mando que "Museu é tudo o que se dá no
A idéia não é nova nem o debate pode ser presente, e também o passado e a projeção
superficial. Como Bvres. identificamos tam- de futuro". A própria experiência do tempo
bém a presença de diferentes noções de de- teria sido contemporaneamente revolucio-
senvolvimento entre os documentos de Santi- nada: "presente, passado e futuro diluem-se
alJo e de Caracas. Naquele, julqa-se suficiente numa percepção de permanente atualidade,
a apreensão de modelos desevolvímentístas onde preservação e transformação se equi-
dos países do primeiro mundo pelos demais: valem" (Idem, 97). E seçuem-se outros pontos
"Não há uma preocupação com a forma de de vista confluentes, como em Chaqas (1996:
utilização das riquezas naturais, apenas com 99) "A cada dia assenta-se mais a noção de
quem as usa. Como forma de mtnimtzar as que a sobrevivência da Instituição museal
desiçuakiades sociais, o uso da natureza de- depende da sua capacidade de, enquanto
verá ser estendido a todos' (EVRES, 2000: 40). espaço cultural aberto e público, abrir-se
É uma natureza dominada pelo homem que para o tempo presente, para aquilo que de
se encontra nesse documento. Vinte anos de- museoioçico existe fora dos limites espaciais
pois, Caracas já reflete um mundo em que do museu institucionalizado',
desenvolvimento e tecnoloçía não são sinôni-
mos. A desilusão com a manutenção das desi- Houve mesmo uma discussão sobre
lJualdades em paralelo ao avanço tecnolóqi- futuroloqía e Museoloqía puxada pelo ICOM,
co e com a inaptidão dos padrões desenvolvi- na qual Barbuy afirmou: "(..) o objeto de tra-
mentistas do primeiro mundo para uma apli- balho é o tempo presente, em toda sua
cação direta e a-crítica nos demais países se tuçectdede, em toda sua natureza de passa-
fazem notar. Waldisa Russio já prenunciava o do em potencial' (BARBUY.1989: 36). E ain-
abismo entre desenvolvimento e proqressos da: "(. ..) há um papel reservado à
tecnolóqíco e econômico ao afirmar que Puturoloçia, que pode auxiliar a Museoloçia.
"não basta ao ser humano a truição de um justamente com seus proçnosticos sobre a
flrande conforto material quando sua alma realidade de amanhã, definindo os pontos a
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

serem estudados na cultura flerada e com uma opção política e transformadora.


catalisados ou transformados hoje, para a Não restam dúvidas, porém, que a preserva-
flerminação de um futuro melhor. A Museo- ção tanto pode servir à transformação como
Ioçta, então, não apenas estuda a relação à manutenção da ordem estabelecida e dos
entre o homem e a realidade, entre o ho- prívíléqíos. Bruno é contundente na afirma-
mem e o objeto mas procura, também, atuar ção do caráter preservacíonísta. Seu discur-
sobre esta relação e transformá-Ia" (Idem, so reflete uma constante preocupação pelo
37). Para ela. a especificidade deste proble- não abandono do patrimônio já institucio-
ma no Brasil encontra-se no fato de existir nalizado. Barbuy (J 989: 36) demonstra com-
"no mundo praçmáttco e no próprio senso- partilhar deste ponto de vista. Scheiner en-
comum. uma idéia de modemidade que é, tende que o museu ultrapassa os limites da
ainda, aquela do Futurismo do início do sé- materialidade dos objetos para criar conjun-
culo, que preçava a destruição do passado tos síçnüícantes que são o patrimônio. Iden-
para que este desseIUflar a um mundo novo, tifica no mito de oríçem dos museus o cará-
nascido do zero. É a idéia do futuro ter preservacíonísta. mas. a nosso ver, associa-
suõstutivo (futuro entendido como os a sacralização. solenidade e ritualidade.
substutivo do passado e não como parte de Como foi explanado, ao desíçnarern a Museo-
um mesmo processot' (Idem: 38). 10SJiacomo preservacíonísta, os demais auto-
res entendem sua potencial idade
Impõem-se novos tempos, posturas e rela- transforrnadora, ainda que em convivência
ções. A di coto mia museu-templo x museu- com o potencial para manutenção da ordem
fórum tratada por Chagas tem equivalência estabelecida. Essa autora aprova a preserva-
na discussão de Santos sobre museu como ção quando ela diz respeito à "atualização da
campo para fomento da ação. Mais que vida social" (SCHEINER.2000: 40), como ocor-
ação, o museu para Chaças faz-se arena, tem re em ecomuseus e museus de território.
sua SJota de sangue, suas contradições. Dis-
tancia-se "da idéia de espaço neutro e A partir de Caracas (J 992), o museu passou a
apolitico de celebração da memória" (CHA- ser afirmado como canal de comunicação,
GAS, 1999: 19) e assume a denúncia, a crítica tendência já incorporada pela Museoloqía bra-
e a reflexão. Associar a reflexão sobre a ori- sileira: "Ao lado de seu evidente compromisso
SJem rnitolóçíca dos museus a esta tensão com a preservação, o museu deve ser pensado
entre memória e poder é marcante em Cha- e realizado como um canal de comunicação.
SJas, que os trata como potenciais espaços capaz de transformar o objeto testemunho em
celebratívos da memória do poder ou arenas objeto díáloço, permitindo a comunicação do
para o levante democrático do poder da que é preservado. Às antíças responsabilidades
memória." de coletar, estudar. SJuardar o patrimônio. ou-
tras exíçêncías se impuseram" (BRUNO, 1998:
Para Russio. defensora do caráter preser- 08-09). Há mesmo quem veja uma passagem
vacíonísta da Museoloçía, este pode se fun- para o campo dos meios de comunicação de
damenta na visão prospectíva. A especifici- massa. como Scheiner. porém entendemos
dade da ação museolóçíca é o pressuposto que esta escala pode não ser compatível com a
da preservação, não no sentido de saudosis- realidade dos museus dos países em desenvol-
mo, mas de com fundamento político de in- vimento, embora se verifique em alçuns mu-
formação para ação (RUSSIO, 1990: 10). Cha- seus do primeiro mundo.
SJasfaz também sua opção pelo uso social do
patrimônio. Da mesma forma, Santos (1993: A afirmação da comunicação afasta-se um
52) defende a preservação compromissada pouco da presença testemunhal do objeto
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

proposta por Russio. Quando a autora defen- considera-se em dívida com um estudo das
de a adequação da Iínçuaqem tridimensio- contribuições de Freire para as reflexões no
nal dos objetos para narrar o processo de in- âmbito da Museoloqía. Para ela. "A relação
dustrialização (RUSSIO. 1980: 114). a formu- entre museu e educação é intrinseca. uma
lação é centrada numa narrativa. não ainda vez que a instituição museu não tem como
em um diáloço. A informação contida nos fim último apenas o armazenamento e a
objetos interessa à Museoloçía pelos fatores conservação, mas, sobretudo. o entendimen-
de documentalidade. testemunhalidade e fide- to e o uso do acervo preservado, pela socie-
lidade. Bruno tem se detido com afinco na ca- dade, para que, através da memória preser-
racterização dos objetos de museu como obje- vada, seja entendida e modificada a realida-
to-díálogo, reforçando que eles não falam per de do presente. Nesse sentido. a própria con-
si. mas que seus sentidos e sis;!nificados são cepção do museu é educative. pois, o seu
construídos na relação com o público. objetivo maior será contribuir para o exerci-
cio da cidadania, colaborando para que o
A relação propiciada pelos museus é. para cidadão possa se apropriar e preservar o seu
Chaças. "campo fértil para a ocorrência o patrimônio. pois ele deverá ser a base para
processo educativo transformador, capaz de toda a transformação que virá no processo
estimular a descoberta, de produzir novo co- de construção e reconstrução da sociedade,
nhecimento, de despertar novas emoções, sem a qual esse novo fazer será construido
sensações e intuições' (CHAGAS. 1996: 84). de forma eiienante' (SANTOS. 1993: 99).
Barbuy (1989: 36). combina as funções sociais
e educatívas do museu para demonstrar seu Santos e Bruno estão lado a lado na defi-
potencial de conscientização e de nição da educação e da conscientização
capacitação coletiva para a tomada das ré- como parâmetros para o desenrolar do pa-
deas de seu porvir. O aprendizado baseado pel social dos museus, sem cujas limitações
na relação dialética entre educador e edu- sua ação pode perder as especificidades e
cando é defendido por Chaças (1996: 84): a confundir-se com atuações de outras áreas
ação educativa tem base no díáloço e permi- do conhecimento.
te a "transformação do bem cultural em bem
social' (Idem: 62). Russio. em suas propostas. Se as fronteiras do que seja ação museoló-
baseava a formulação das atividades s;!ica são delimitadas pela educação e pela
educatívas em uma concepção de aprendi- conscientização. estes limites foram explora-
zado constante. Talvez possamos entrever aí dos ao máximo pelas formulações que deri-
paralelos com a educação libertadora desen- varam no modelo museolóqico do
volvida em processo permanente. de Paulo ecomuseu. Muita confusão na interpretação
Freire. São características comuns a ambos. de conceitos tem feito desta denominação
o desenvolvimento da críatívídade. do senso um s;!uarda-chuva onde tudo cabe. Alqumas
crítico e da consciência. numa perspectiva balizas. entretanto. são propostas por Barbuy
que a autora denomina ecolóçico- (1995: 211) a partir da conceituação de
humanista. bellaíçue. o território. a população como
as;!ente. o tempo e o patrimônio. Bruno reduz
A expressão maxima da influência do o conceito às seçuíntes variáveis: o território.
pensamento deste educador entre os o patrimônio constituído sobre este espaço.
museóloços estudados pode ser a atuação de e uma população. que viva nesse território
Maria Célia Santos na Bahia. Ela mesma des- ínteraçíndo com esse patrímônío" Russio.
taca este aspecto do seu pensamento em en- ao suçerír que os museus de fábrica propos-
trevista a Mário Chagas (SANTOS. 2002) e tos em seu doutorado fossem espécies de
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

ecomuseus industriais. caracteriza-os "pelas ção. Sua coíeça carioca é contundente em


relações sistêmicas e pela participação co- caracterizar os museus por dinamismo. mu-
munitária no FAZERO MUSEU e no MANTÊ- danças. pluralidade e diversidade. Nela tam-
LO" (RUSSIO, 1980: 145). Já Scheiner (1998: bém se percebe a existência de um museu
40) acredita que nesse modelo e no dos mu- conceitual.
seus de território. "a musealização assume
uma caracteristica de 'ficção das trocas sim- As profundas alterações epistemolóçícas
bólicas' e faz-se como um ato de restituição da Museoloqía não podiam deixar de refletir
do qual participam as coletividades; mais nas bases da formação profissional. O novo
que musealização trata-se de uma atualiza- museu exigiu repensar a carreira ainda vol-
ção da vida social em tomo do fato cultural', tada para estudos de coleções que compu-
nham o eixo da Museoloqía mais tradicional.
Aspecto freqüente na bíblíoçralía é a ne- Aos compromissos com a manutenção física
cessidade de avaliação constante e reali- dos acervos somaram-se tantos outros que os
mentação do processo museolóqíco. Contu- museóloços precisaram também descons-
do. o discurso tende apenas a indicar este truir os padrões clássicos de sua própria for-
compromisso. sem definições quanto aos mação. Mário Chaqas (1996: 96) critica a for-
métodos de avaliação. O reconhecimento mação profissional autoritária. burocrática e
desta exiçêncía, porém. é já um fator desvinculada de compromissos sociais e re-
decorrrente da compreensão do fenômeno lacionou sete ímaqens de museóloços a sete
museu como um processo. onde predomi- períços. Assim. o e!2ólatra. o primeiro-
nam os tempos lonqos e as formulações po- mundista. o tupiniquim-xenófobo. o conser-
dem ser minadas pelas descontinuidades. vador. o colecionador. o especialista e o
Russio é incisiva quanto à visão prospectíva !2eneralista seriam tipos característicos dos
e processual e formula uma metodologia do desvios de condutas profissionais na Museo-
"MUSEU-PROCESSO' (RUSSIO. 1980: 117). 10!2ia.Suas atuações estariam permeadas por
perigos a serem afastados como a centraliza-
Bruno (I995: 352) reivindica tempos lon- ção no objeto. a mentalidade colecionante.
!20s para a consolidação dos processos de a obsolescência da informação. o afastamen-
musealização. bem como Barbuy (1999.40). to da realidade social. a carência de embasa-
A visão processual aparece não somente na mento teórico. a não valorização dos traba-
aquiescência ao 10n!2o prazo como tempo lhos de pesquisa e o enfoque autoritário.
para verificação dos efeitos da ação museo-
Ióqíca, mas na !2radual transferência de pa- O primeiro curso de pós-çraduação na
péis das instituições para os processos muse- área foi criado. em São Paulo. por Waldisa
olóçicos como responsáveis pela Russio (I978). É essencial entender seu pen-
deffaçração de atitudes preservacíonístas. samento pela influência que exerceu nos de-
Santos (1999) é também partidária da Museo- mais. alquns, inclusive. ex-alunos. O Instituto
10!2ia processo e ao relatar sua experiência de Museoíoçía de São Paulo da Fundação
no Museu Didático-Comunitário de Itapuã. Escola de Socíoloqía e Política de São Paulo
admite que o processo museolóqíco antece- (FESP) adota a concepção de Museoloqia
deu a existência da instituição. Note-se que. como ciência em formação. cujo objeto é o
com todas as transformações conceituais fato museal. Para ela. a formação e a profissi-
adotadas. a autora ainda se refere à institui- onalização na área enfrentam desafios como
ção. No caso Chagas, por exemplo. há um acompanhar os museus nas novas exíçêncías
entendimento de que o processo museolóçí- que lhe são feitas e em posícíonar-se diante
co não !2era necessariamente uma institui- de um problema identificado por Bourdieu
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

no fim da década de 60 e que no Brasil era nais e experiências ínstítuclonaís. O seçundo


ainda realidade: a seleção de pessoal para tinha um conjunto de seminários intensivos
museus não fundamentada em critérios de ministrados por profissionais nacionais e es-
formação. O fato foi a~ravado, para Russio, trançeíros e a continuidade das visitas técni-
pela reçulamentação da profissão, que real- cas. Ao Ionço do curso eram ainda a~endados
çou o critério do exercício profissional. Sua encontros museolóçícos e aulas especiais e os
arçumentação define o museu como "base alunos realizam estáqío obríçatórío, além da
institucionsl necessária à disciplina museo- pesquisa para elaboração da monoçraíía.
Ióqíca, não como seu todo. E remete a dis- cuja redação ocorria no último semestre.
cussão sobre formação a outra anterior, a
busca do campo de reflexão crítica específi- Nos cursos mais antíqos, as ~raduações da
co da Museoloqía. Põe-se de acordo com Bahia e do Rio de Janeiro, as novas exíçêncías
Stránszy, da Escola de Museoloqía de Brno suscitaram reformulações currículares. Maria
(atual República Tcheca), para quem "Não Célia Santos participou da reforma curricular
basta inculcar nos futuros museáioços co- da Museoíoçía da UFBA implantada em 1989,
nhecimentos e Iezé-Ios adquirir uma experi- onde a ação museolóçíca passou a voltar-se
ência; é preciso ensiná-tos a pensar museo- mais para o binômio preservação-dinamiza-
Ioçicemente e de msneire independente (..) ção culturais, ressaltando-se aqueles até então
Somente quadros dotados de conhecimen- discriminados, os costumes e fazeres cotidia-
tos teáricos poderão vir a ser co-criedores da nos. O conhecimento voltado somente para
Museoloçie enquanto discipllna ctenutice as coleções foi minimizado. Para ela, o profis-
independente. A necessidade de criar um SÍS- sional da área deve dominar a técnica para
tema teárico práprio da Museotoçie é pois saber aplicá-Ia a qualquer contexto, mas para
meis que determinente para o ensino da Mu- isso, precisa saber analisar este contexto, e
seotoote: (STRÁNSKY, apud RUSSIO, 1989: adaptar suas técnicas a ele, trabalhar interdis-
10). ciplinarmente e em envolvírnento com a co-
munidade local. além de realizar uma avalia-
A influência desta perspectiva é notória ção constante do processo.
na concepção de Cristina Bruno para a Espe-
cialização em Museoloçía, criada na USP em Scheiner esteve envolvida, a partir de
1999, que tinha duração de um ano e meio, 1995, com a implantação do novo currículo
entre aulas e elaboração de trabalho de Museoloçía da UNI-RIO. Sua ação não
monoçráfíco, As disciplinas básicas do curso tem sido apenas localizada à escola carioca,
procuravam equilibrar Museoloqía e mas estende-se à participação na pesquisa,
museoçrafía como faces teórica e aplicada análise e reestruturação do "Internetionel
da formação profissional. A carça horária Syllabus for the TraÍnÍnfl of Personnel for
contava, no primeiro semestre, pelo aporte Museums ': a ser suçerídopelo ICTOP como
teóríco-metodolóçíco e relativo à historici- currículo básico de Museolcçía. Voltando-
dade do fenômeno museal. e pela instrução nos ao pensamento da autora, para quem" O
voltada aos aspectos de aplicação ou museoloço. hoje. não é quem trabalha nos
rnuseoqrafía. em duas disciplinas voltadas museus. mas quem pensa o Museu"
para salvaçuarda (conservação e documen- (SCHEINER, 1998: 141), deparamo-nos com o
tação) e para comunicação do patrimônio risco de uma opção pela formação que
(exposição e ação educativo-cultural). So- desassocie a reflexão e aplicação.
mavam-se às disciplinas básicas, no primeiro
semestre, seminários temáticos e visitas téc- Um aspecto complexo desta análise a que
nicas que apresentavam atuações profissio- nos propusemos é refletir sobre a coerência
AS ONDAS DO PENSAMENTO

conceitual entre produção teórica. docência


e aplicação museolóçíca dos profissionais
MUSEOLÓGICO

co a seçuír, faleceu prematuramente (1990)


quando estava no ápice de sua atuação mu-
-
em questão. Não pretendemos fazer aprecia- seolóqíca.
ções detidas. apenas ressaltar als;Iuns aspec-
tos mais evidentes ou as próprias avaliações No pensamento de Cristina Bruno destaca-
dos autores sobre sua trajetória. como a de se uma preocupação em aproveitar a experi-
Maria Célia Santos. na já mencionada entre- ência profissional de aplicação museolóqíca
vista a Mário Chagas. em que ressalta pontos e de refletir sobre ela nas etapas de s;Iradua-
como a influência de Paulo Freire em seu ção acadêmica. Esta característica. como vi-
pensamento. Em outro momento de sua pro- mos. não é uma constante na área. o que dis-
dução. a autora identifica sua contribuição sipa a produção por não associar reflexão e
para a aplicação e reflexão em Museoloçía. prática como componentes indissociáveis
cultura como produto social. criado em pro- da construção do conhecimento museolóçi-
cesso; memória coletiva fomentando a com- co. Um aspecto a mencionar é a indicação
preensão e transformação da realidade; in- de desdobramentos possíveis. dos processos
centivo à apropriação e reapropriação do museolóçícos que oríqína. Sua tese e outros
patrimônio e do entendimento das identida- projetos são colocados num patamar de
des como plurais e dinâmicas; uso da memó- deílaçradores de processos de formação
ria preservada para a formação do cidadão; profissional e pesquisa. Outras características
ação museolóqíca s;Ierada a partir da prática que se sobressaem nela são o ris;Iorconceitu-
social; adoção de uma noção ínteçrada da aI e a busca incansável de uma sistematiza-
relação entre o homem e a natureza; tomada ção para a disciplina.
de posição com vistas à realização do com-
promisso social da Museoloçía com a trans- Teresa Scheiner não nos parece estar
formação e o desenvolvimento social; for- amarrada a esta sistematização. mas de certa
mação de sujeitos capazes de ver a realida- forma complementa a teorização em Museo-
de. expressá-Ia. expressar-se e transformar a Ioçía por trazer um amparo conceitual e re-
realidade (SANTOS. 1999: 113-114). Para flexivo de outras disciplinas. por inserir o co-
Santos. a instância de aplicação foi sempre a nhecimento desta área no universo do pen-
base para sua reflexão acadêmica e para a samento científico. Sua visão é transdiscipli-
formulação e avaliação de conceitos. Sua nar. hoIística e biocêntrica. als;Iovançuardísta
produção revela uma atuação profissional e que pode vir ou não a se firmar nas con-
apaixonada e comprometida. cepções de Museoloçía após o tempo neces-
sário para debates. ajustes e consolidações
A vinculação entre realização de trabalho que s;Ieram e destroem continuamente os pa-
acadêmico e proposta de aplicação é perce- radíqmas. Alquns dados contribuem para a
bida ainda em Russio. precursora das discus- relevância da observação de seu pensamen-
sões sobre a disciplina no Brasil e da forma- to. ainda que não heçemóníco. no Brasil:
ção em nível de pós-graduação. Como o dis- como publica também em ínçlês e foi Presi-
se Cristina Bruno (1995). foi uma "vançusrde dente do ICOFOM. tem s;Irande projeção in-
solitária". Influência notória na Museoloçía ternacional. Por outro lado. tem forte atua-
brasileira. reconhecida internacionalmente ção na Escola de Museoloqía na UNIRIO, e
e difusora em território nacional de diretri- atua na definição de parâmetros internacio-
zes internacionais como a revolução concei- nais para a formação em Museoloqia, junto
tual proposta em Santíaqo, esta autora muito ao ICTOP Portanto. é imprescindível que
rapidamente produziu. formulou. formou. suas idéias sejam conhecidas. debatidas e
Mas como percebemos no quadro cronolóqí- ponderadas.
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

Heloisa Barbuy esteve envolvida no pro- na orientação a diversos estudantes e estaqí-


cesso que oríçínou uma experimentação da ários. orqanização de diversos eventos cien-
ecornuseoloqía no Brasil. que ~erou por al- tíficos e docência. Seus processos de consul-
~um tempo reflexões e publicações por par- toria têm priorizado também. a formação e a
te desta profissional e aproximou-a de capacitação profissionais. Além disto. cola-
museóloqos franceses como Mathilde bora com outras universidades. notadamen-
bellaíçue e François Hubert. Na década de te a Universidade Lusófona. em Lisboa. como
80. também atuou na formação profissional. docente do primeiro doutorado em Iínçua
como auxiliar de ensino de Waldisa Russio portuçuesa na área de Museoloçía. Mário
no Instituto de Museoloçía de S. Paulo. onde Chaças e Maria Célia são também Ii~ados a
se especializou. Nos últimos anos. é docente este curso de pós-çraduação.
do Museu Paulista da USP e se interessa pelo
estudo de questões da vísualidade no séc. Teresa Scheiner. dentre os autores estuda-
XIX.o que leva a um afastamento das discus- dos. é a que vem contribuindo com mais re-
sões epístemolóqícas da Museoloçía para cir- ~ularidade para as publicações internacio-
cunscrever sua reflexão ao campo da Histó- nais. notadamente. do ICOFOM. Atuou na
ria. A atuação em formação vem se dando seleção e orientação de alunos da Escola de
de maneira esporádica. por meio de cursos Museoloçía em estáqíos, monografias e dis-
de extensão e seminários em cursos. além da sertações e orçanízou diversos conçressos de
orientação de estáçíos e de pesquisas no Mu- Museoloçía nacionais e internacionais. De-
seu Paulista. senvolve. pela Tacnet Cultural Ltda .. desde
1990. projetos editoriais e de consultoria
Mário Chagas alia em sua obra criticidade museolóçíca, além da orçaruzação de cursos
e poesia. perspicácia e veia humorística. Sua e workshops.
análise do fenômeno museolóçíco é crítica e
articulada com base nas reflexões sobre teo-
ria e prática. Uma trajetória marcada pelo CONSIDERAÇÕES FINAIS
amplo universo de atuação em instituições
museolóçícas, do Nordeste ao Sudeste brasi- Há uma especificidade da Museoloçía bra-
leiros e pela Iarqa experiência em formação sileira? Esta é a questão que se interpõe à
profissional. Sem dúvida. Chaças realiza o nossa reflexão. Se~undo Peter Van Mensch.
que Stránsky propõe que deva ser o cerne da um dos maiores estudiosos do pensamento
formação em Museoloqía. pensa museoloçí- museolóçíco internacional na atualidade. a
camente. Sua produção bíblíoçráfíca revela maior contribuição da América Latina para a
um pensamento que reflete museoloçíca- Museoloqía foi a Declaração de Santíaço do
mente sobre o universo. Encontra elementos Chile. Após Santiago o autor. não destaca
II

para teorízar sobre Museología até mesmo nenhuma outra contribuição de peso inter-
no cinema e na literatura. Recentemente. nacional e perçuntado sobre os museóloços
está Ii~ado ao Departamento de Museus e aqui estudados limitou-se a ponderar o pro-
Cetros Culturais (DEMU) do IPHAN. blema da barreira Iínçúístíca, já que a maior
parte deles tem publicado somente em por-
Cristina Bruno coordenou a Especializa- tuquês e francês. Entretanto. na distinção que
ção em Museoloçía da USP ao Ionço de qua- fez das orientações teóricas da Museoloçía
tro turmas e diriqiu o Departamento de contemporânea. Van Mensch localiza na op-
Iconoçrafía e Museus da Prefeitura de São ção pelo estudo do fato museal uma destas
Paulo. mas está de volta ao Museu de Arque- tendências. recorrendo assim a um conceito
oloqía e Etnoloçía da USP onde prosseçue definido por Waldisa Russio. Pela representa-
AS ONDAS. DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

tívidade dessa análise e recorrência


na bibli- da. colaborando para a dívulçação maior da
ografia da conceituação lJerada a partir da produção da Museoloçía em língua portu-
definição de fato museal por Russio. consi- lJuesa e abrindo uma das poucas vias editori-
deramos que esta tenha sido até o momento ais nesta Iínçua que resistem às primeiras
a mais proeminente contribuição brasileira publicações.
para a construção epístemolóçíca da Museo-
Ioqía. Contribuição que consideramos de funda-
mental importância na bíblioçraíia nacional
É. portanto. lamentável. que ainda hoje a é a opção por soluções particulares e criati-
barreira da língua seja critério para a delimi- vas frente às tecnoloqías inadequadas vindas
tação das idéias que possam ou não ser ele- do exterior. A necessidade de redução das
vadas ao plano do conhecimento internaci- teorias aos contextos específicos faz parte
onal e do reconhecimento de sua relevân- das reflexões que os países em desenvolvi-
cia. Por um lado. permanece no mundo da mento podem. mais que quaisquer outros.
Museoloçía a dicotomia entre reflexões de recomendar. por suas próprias e desastrosas
procedência anqlófíla ou francófila. Não que experiências com a importação de padrões
isto represente na maior parte dos casos uma não adaptados às suas realidades. Advertên-
discordância conceítual. mas uma resistên- cias a este respeito estão ainda em Scheiner
cia da intelectualidade desses universos em e Bruno. Uma outra consideração é essenci-
aprofundarem o debate da produção prove- al: a diversidade cultural deve ser valorizada
niente de outra Iínqua. O ICOFOM é a instân- como o conjunto das possibilidades do ho-
cia do ICOM que tem proporcionado uma mem resolver sua existência material e ima-
quebra destas rotinas. com a adoção de teria!. Como a biodiversidade proporciona
parâmetros bílínçües de publicações e deba- diferentes soluções para a sobrevivência bio-
tes. A superação de um empecilho adicional Ióçíca das espécies. a diversidade cultural
tem sido objetivo de Iavor suplementar: a representa os recursos disponíveis para a so-
problemática das termínoloçías. que lJerou brevivência e adaptação da espécie humana
um Grupo de Trabalho específico no seio do ao seu ambiente. Com isto em apreço. avali-
ICOFOM. amos o Brasil como sendo possuidor de um
conjunto cultural especialmente diverso e
Ainda assim. a produção dos autores brasi- detentor de um vasto universo para experi-
leiros aqui estudados não é de largo conhe- mentações que venham a alimentar a
cimento internacional. seja porque os auto- teorízação em áreas como a Museoloqía.
res não têm seus textos versados para outros
idiomas. seja porque nem todos têm ou tive- No sentido das contribuições epistemoló-
ram participação no ICOFOM. Na obra men- !Jicas. identificamos neste estudo uma outra
cionada de Fattouh e Simeon (1997: 31-32). formulação de lJrande relevância. quando
os brasileiros presentes são Barbuy. Bruno. Cristina Bruno. em seu exercício de sistema-
Russio e Scheiner. além de Marcelo Araujo e tização da teoria museolóqíca. vai na essên-
Maria de Lourdes Parreiras Horta. cia da questão da especificidade do caráter
preservacionísta da Museoloçía, desenvolvi-
Por isto. destacamos iniciativas como a da do por meios de ações que lJarantam a salva-
criação do ICOFOM-LAM. onde se tornaram lJuarda e a comunicação patrimoniais. A de-
possíveis os intercâmbios de idéias em ter- finição desta cadeia operatória básica para a
mos de América Latina e a da publicação já Museoloçía e a concepção de que a preser-
mencionada dos Cadernos de Sociomuseo- vação é a natureza deste processo nos pare-
10lJia em Portuçal, que estão. há uma déca- ce ser um avanço no sentido da demarcação
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

de fronteiras entre a Museología e outros ra- bre o pensamento museolóqíco de Mário


mos do conhecimento. de Andrade o quanto se buscava. àquela
época. um modelo nacional de cultura. E
Há uma ou várias museoloqías? Os autores findo o século XX. será que se pode dizer
brasileiros estudados. mais que uma opção que há um projeto museolóqíco realmente
radical por uma Nova Museoloçía. fazem re- brasileiro? Santos. "neste momento, a solu-
flexão e questionamento. busca de renova- ção para a museotoçte brasitetra está no
ção da prática museolóqíca. Scheiner. em pequeno museu comunitárto', construído
sua análise da produção do ICOFOM sobre por meio de uma me todo loqí a
identidades. localiza especificidades reçío- partícípatíva (SANTOS. 1993: 70). Mas au-
naís, assim como na análise de Fattouh e tores como Bruno e Scheiner continuam a
Simeon. que concluíram. no entanto. pela apostar em um leque muito maior de pos-
existência de uma só Museoloqía. Mesmo sibilidades. O que está fora de questão é a
ponto de vista expresso pelo simpósio do necessidade de confrontar a teoria com o
ICOFOM de Hyderabad (1988). mencionado contexto real de aplicação. para definir o
por Van Mensch: "A opiruão ~eraI. expressa modelo a adotar.
pelos museôloços de diierentes partes do
~/obo, sdmitiu que no nível meis elevado de
abstração, só há uma museoloçia. No nível REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
prático. no entanto, podem haver muitas di-
ferenças de acordo com as condiçôes cultu- ANAIS do I Encontro Internacional de
reis e sácio-econôrnicas locais' (VAN Ecomuseus. Rio de Janeiro: Secretaria Mu-
MENSCH. 1994: 02). É. portanto, uma Museo- nicipal de Cultura. Printel. 1992.
Ioqía com ondas de renovação.
ARAUJO,Marcelo M.; BRUNO, Cristina (orqs.).
Ainda que os autores que estudamos não A memória do pensamento museoíóqíco
se intitulem "novos" museóloços estão. com brasileiro: documentos e depoimentos.
suas práticas e reflexões. contribuindo para a Comitê Brasileiro do ICOM. 1995.
renovação da Museoloqia. São trajetórias
que se entrecruzam e se influenciam mutua- BARBUY.Heloisa. "Museu e lJeração de cultu-
mente. seja pela confluência. seja pela pro- ra". In. Cadernos Museoíóqícos, 2. Rio de
vocação de reflexões e oposição. Porém. se Janeiro: MinC / SPHAN / Pró-Memória. 1989.
os caminhos profissionais e acadêmicos se p.36-40.
encontram. não percebemos correspondên-
cia para tal na brblíoqraíía. Não notamos. na __ o ''A conformação dos ecomuseus. ele-
dimensão esperada. uma utilização mútua mentos para a compreensão e análise". in
da produção bíblíoçráfíca como ponto de Anais do Museu Paulista - História e cultura
partida para a discussão entre estes autores material. Nova Série. V.3. São Paulo: Universi-
de suas concepções de Museoloqía. As oposi- dade de São Paulo. jan./dez. 1995. p. 209-36.
ções. aliás. são raramente acirradas. e talvez
em aíçuns pontos. a ampliação dos debates __ A exposição universal de 1889 em
o

lJerasse. dialeticamente. um desenvolvimen- Paris: visão e representação na sociedade


to epístemolóqíco maior para a área. industrial. São Paulo: Edições Loyola, 1999.
(Série Teses).
Se há um modelo museolóçico próprio
do Brasil. é outra questão inerente a este BRUNO. Maria Cristina Oliveira. O Museu
estudo. Chaças ressalta em seu trabalho so- do Instituto de Pré-História. um museu a
AS ONDAS DO PENSAMENTO MUSEOLÓGICO

serviço da pesquisa científica. São Paulo: EVRES. Ana Cristina Léo Barcellos. A Mu-
ffLCH/USP, 1984. (Dissertação de sealização da Natureza. Patrimônio e Memó-
Mestrado). ria na Museoloqía. Rio de Janeiro: UNI-
RIO. 2000. (Dissertação de Mestrado)
__ o Objeto de museu: do objeto teste-
munho ao objeto diálogo. Palestra proferi- FATTOUH. Nadine. SIMEON. Nadia.
da na Reunião Regional da Associação Brasi- ICOFOM - Orientations museoloqíques et
leira de Antropologia. be lérn 1993 origines geographiques des auteurs. Paris:
(digitado). École du Louvre. 1997.

__ o Musealização da Arqueologia. um II ENCONTRO Internacional de Ecomuseus


estudo de modelos para o Projeto "Comunidade, Patrimônio e Desenvolvimen-
Paranapanema. São Paulo: FFLCH/USP.1995. to Sustentável". Carta de Santa Cruz. Santa
(Tese de Doutorado). Cruz, Rio de Janeiro: Maio de 2000.

__ Museoloqía
o e comunicação. Lis- PRIMO, Judite (orç.). Museoloqía e Patrimó-
boa: ULHT. I996.(Cadernos de Sociomuseo- nio: documentos fundamentais. Lisboa: ULHT.
Ioçía, 9). 1999. (Cadernos de Socíomuseoloçta, 15)
__ oMuseología para professores: os ca-
minhos da educação pelo patrimônio. São RUSSIO, Waldisa. Museu? Um aspecto das
Paulo: Centro Estadual de Educação organízaçôes culturais num país em de-
Tecnolóqíca Paula Souza, 1998a. senvolvimento. São Paulo: FESP. 1977. (Dis-
sertação de Mestrado).
__ oCurso de Especialização em Muse-
oloqía - projeto acadêmico. S. Paulo: MAE/ · Um museu da indústria na cidade
USP.1998b. de São Paulo. São Paulo: FESP. 1980. (Tese
de Doutorado).
CÂNDIDO, Manuelina Maria Duarte. Ondas
do Pensamento Museolóqlco Brasileiro. __ o"Museoloçía, Museu, museóíoços e
Lisboa: ULHT.2003. (Cadernos de Sociomuse- formação". in Revista de Museología. I.
oloqía, 20). 259 p. São Paulo, 2° sem. 1989. p. 7-11.

CHAGAS, Mario. Há uma ~ota de sangue · "Conceito de cultura e sua ínter-rela-


em cada museu: a ótica museolóqíca de ção com o patrimônio cultural e a preserva-
Mário de Andrade. Lisboa: ULHT. 1999. (Ca- ção." in Cadernos Museolóqícos, 3. Rio de
dernos de Socíomuseoloqía, 13) Janeiro: IBPC, 1990.

. Museália. Rio de Janeiro: JC Editora, 1996. SANTOS, Maria Célia T. Moura. Reflexões
museológícas. caminhos de vida. Cadernos
DESVALLÉES,André. ''AMuseoloqía e os mu- de Socíornuseoloçía N°18- ULHT.Lisboa,2002
seus: mudanças de conceitos". in Cadernos
Museológícos. I. Rio de Janeiro: MinC/ · Museu. escola e comunidade: uma
SPHAN - Pró-Memória, 1989. ínteçração necessária. S. L.: SPHAN, 1987.

_____ . Va~ues: une antholocie de Ia __ Repensando


o a Ação Cultural e
nouvelle museoloqíe. Paris: W M. N. E. S., Educativa dos Museus. Salvador: Centro
1992 e 1994. VoI. I e VoI. 2. Editorial e Didático da UFBA 1993.
MANUELlNA MARIA DUARTE CÂNDIDO

. Processo museológíco e educação: cheçarn a obter o mesmo espaço. Nessa série apa-
receu ainda com uma orçanízação de textos fun-
construindo um museu didático-comunitá- damentais de Museoloçía e Patrimônio (PRIMO.
rio. Lisboa: ULHT. 1996. (Cadernos de Socio- Judite (orç.). Museologia e Património: docu-
mentos fundamentais. Lisboa: Universidade
museoloqía, 7). Lusófona de Humanidades e Tecnoloçía, 1999. Ca-
dernos de Socíomuseoloçía, 15). Nos últimos anos
VAN MENSCH. Peter. O objeto de estudo da o Departamento de Museu e Centros Culturais do
IPHAN (DEMU). tem centrado esforços nas publi-
Museologla. Rio de Janeiro: UNI-RIOIUGI: cações como a Revista MUSAS. no terceiro núme-
1994. (Pretextos Museolóqícos, 1) ro. e a Coleção Museu. Memória e Cidadania. tam-
bém com três títulos publicados.
3 Esta representação se resume ao texto de
SCHEINER.Tereza Cristina. "Museus universitá- Fernanda de Camarço e Almeida (como se assina-
rios: educação e comunicação". Ciências em va Fernanda de Camarço-Moro) no v. 2 de l7ag-ue5.
no capítulo referente às de experiências e práti-
Museus. V 4. BeIém: Museu Goeldi/ CNPq. 1992. cas. (ALMEIDA. Fernanda de Camarqo e. "Le
musée des imaees de l'inconscient - Une
expérience vécue dans le cadre d'um hôpital
. ApoIo e Dioniso no Templo das psychietrique à Rio de Janeiro" (1976). in
Musas. Museu: SJênese. idéia e representa- DES\7ALLÉES. 1994. op. citop. 204-213) É sintomáti-
ções em sistemas de pensamento da socieda- ca. porém, a presença de um texto não propria-
mente museolóçíco, mas também de autoria de
de ocidental. Rio de Janeiro: ECO/UFRJ. um brasileiro. o educador Paulo Freire. intitulado
1998. (Dissertação de Mestrado) "Léducetion. pratique de Ia Iiberte (Le société
brésilienne en trensition)' (1971). A influência do
pensamento de Paulo Freire para este movimento
. "Muséoloqíe et Ia philosophie du de renovação da Museoloçía já se faz notar no
chançement". in ISS Museology, ICOM. Pa- convite a ele feito para a presidência da Mesa-Re-
donda de Santíaço do Chile. episódio esclarecido
ris. França. junho 2000. mais adiante. Al~umas de suas idéias seriam mais
tarde incorporadas por museóloqos brasileiros ao
se referirem ao papel social e educatívo dos mu-
NOTAS seus. (FREIRE. in DES\7ALLÉÉS. 1992: 195-212)
4 A já mencionada patrírnoníoloqía.
5 Idéia constante em Bruno e Santos.
Este trabalho se baseia na monografia da Especi- fi As discussões de ambas parecem aproximar-se
alização em Museoloçía da USP intitulada On- em al~uns pontos como a apropriação da abor-
das do Pensamento Museolóqíco Brasileiro. que daçem de Néstor García Canclini sobre patrimô-
teve oríçem a partir da observação da limitada nio em processo de reelaboração.
representação da Museoloqia brasileira na obra 7 Anotações de aula do Curso de Especialização
"l7ag-ues: une antholoçte de Ia nouvelle em Museoloqia referentes ao seminário proferi-
muséoioçie", organizada por André Desvallés do por Chagas dias 03 e 04/07/2000.
(1992-1994). É uma revisão do pensamento mu- 8 Anotações de aula do dia 09/08/1999. referente à
seolóçíco nacional com o objetivo de localizar a disciplina "Museolog-ia:principios teórico-meto-
produção ausente naquela antologia, especial- dolôoicos e a historicidede do fenômeno
mente no âmbito das transformações conceitu- museal'. ministrada pela Profa. Dra. Cristina Bru-
ais pelos quais os museus e a Museoloçla passa- no no primeiro semestre do Curso de Especiali-
ram na 2a metade do século XX. zação em Museoloqía,
2 Destacamos. em língua portuquesa, a orçanízaçâo 9 Seria este o tema principal de sua tese de dou-
de "A memória do pensamento museoloçico con- torado. defendida em 2003. que ficou fora do
temporâneo" (ARAUJO e BRUNO. op. cit.), com a âmbito do nosso trabalho.
reunião e tradução de documentos fundamentais 10 Anotações de aula do dia 10/08/1999. referente à
como as declarações de Santiaqo, Quebec e Cara- disciplina "Museoloçia. princípios teórico-metodo-
cas - acompanhados de textos-comentários: e a Ióçicos e a historicidade do fenômeno museal".
publicação dos Cadernos de Soclornuseoloqía ministrada por Cristina Bruno no CEMMAE.
pela Universidade Lusóíona de Humanidades e li Anotações de aula do Curso de Especialização
Tecnoloqias. raro caso de continuidade nas publi- em Museoloçia referentes ao seminário profe-
cações desta área em portuçuês e onde aparecem rido por Peter Van Mensch dias 02 a 06/10/
textos brasileiros que em território nacional não 2000.

Você também pode gostar