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net/publication/344333450
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Gustavo Cossio
Rio de Janeiro State University
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All content following this page was uploaded by Gustavo Cossio on 21 September 2020.
Resumo
Este artigo destaca a importância da instituição museológica orientada ao design. Para tanto, a
partir da definição de museu, o trabalho se respalda em autores que particularizam a
exposição e o museu de design, o que inclui uma articulação entre o referencial de dois
curadores especializados. Além das diferenças em relação ao museu de arte, o estudo aponta o
papel legitimador do museu de design, que desvela ao público os conhecimentos decorrentes
da atividade projetual.
Abstract
This article highlights the importance of the museological design oriented instituition.
Therefore, upon the museum definition, the paper is supported by authors that particularize
the exhibition and the design museum, which includes an articulation between two specialized
curators’ references. Besides the differences in relation to the art museum, the study points
out the design museum legitimating role, that reveals to the public the knowledge arising from
the design activity.
Nos últimos quarenta anos, muitos museus têm procurado ampliar seus públicos e
tornar os seus espaços físicos mais atraentes e confortáveis para visitas em grupo ou
individuais. No Brasil, o órgão responsável pela Política Nacional dos Museus e pela
melhoria dos serviços do setor é o IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus. Sua criação foi
sancionada pelo presidente da República em janeiro de 2009, com a assinatura da Lei nº
11.906. A nova autarquia vinculada ao Ministério da Cultura substituiu o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan, nos direitos, nos deveres e nas obrigações
relacionadas aos museus nacionais1. Atualmente, o IBRAM administra diretamente trinta
museus em variados estados.
Em 1979, o designer Aloisio Magalhães assumiu a direção do Iphan. Suas propostas
de revisitação a conceitos enunciados por Mário de Andrade, 50 anos antes, levaram-no a
promover uma revolução nos valores àquela época cristalizados no instituto. O conceito
amplo de bem cultural e a sua formulação de que o melhor guardião do patrimônio é a
comunidade, estabeleceram novos tempos para o trato da memória nacional2. Em janeiro de
1980, fruto de intensa atividade de convencimento político, o Iphan foi alçado à condição de
Secretaria do MEC e foi criada a Fundação Nacional Pró-Memória.
Neste artigo, nosso objetivo é compreender a relação entre design e museus. Partimos
do entendimento que o caráter legitimador da exposição, amparada em pesquisa científica e
realizada em instituição museológica, oportuniza a visualização do projeto de design no cerne
das questões que contribuem para a qualidade de vida. Assim, o texto articula autores que
particularizam a exposição e o museu de design. Em seguida, são apresentadas algumas
instituições deste tipo.
Cury (2006) conceitua o processo de musealização como uma série de ações sobre os
objetos, quais sejam: aquisição, pesquisa, conservação, documentação e comunicação. O
processo inicia-se ao selecionar um objeto de seu contexto e completa-se ao apresentá-lo
publicamente por meio de exposições e atividades educativas. A pesquisadora compreende,
ainda, as atividades administrativas como pano de fundo desse processo. Para Bruno (2006),
musealização, na sua plenitude, é “o conjunto de procedimentos que viabiliza a comunicação
de objetos interpretados (resultado de pesquisa), para olhares interpretantes (público), no
âmbito das instituições museológicas” (BRUNO, 1996, p. 17).
A respeito da museologia, Cury (2006, p. 29) registra que “é entendida como
disciplina aplicada e sua cientificidade está sendo construída”. Museologia é o estudo do fato
museal, ou seja, “é a relação profunda entre o Homem, sujeito que conhece, e o Objeto, parte
da Realidade à qual o Homem também pertence e sobre a qual tem o poder de agir”
(GUARNIEIRI apud CURY, 2006), relação esta que se processa em um museu. Ainda de
acordo com Cury (2006, p. 30) “museu não coleta coisas, coleta a poesia que está nas coisas,
Museu (poeta incorporado pela instituição) e a museologia assumem, então a responsabilidade
pela ação criadora de valores culturais e civilizatórios”.
Ao apontar que museografia e expografia são termos em voga, Cury (2006) explana
que o primeiro engloba todas as ações práticas de um museu: planejamento, arquitetura e
acessibilidade, documentação, conservação, exposição e educação. Já a expografia, como
parte da museografia, “visa à pesquisa de uma linguagem e de uma expressão fiel na tradução
de programas científicos de uma exposição” (CURY, 2006, p. 27). A autora menciona ainda o
termo expologia, menos conhecido: “como parte da museologia, estuda a teoria da exposição
e envolve os princípios museológicos, comunicacionais e educacionais de uma exposição, é a
sua base fundante” (CURY, 2006, p. 27).
A museóloga aponta também que “a postura democrática propôs o museu como
instrumento de transformação social e destacou o papel das coleções no alcance desse
objetivo” (CURY, 2006, p. 34). Essas discussões alimentaram-se e, ao mesmo tempo,
motivaram uma série de tipos de museus (comunitários, de cidades etc.) assim como os
centros de ciências. De acordo com a autora, atualmente, “a museologia reserva aos museus,
no seu sentido mais amplo, o seu caráter de meio de comunicação, sendo a exposição a
principal maneira de aproximação entre sociedade e seu patrimônio cultural” (CURY, 2006,
p. 34). Nesse aspecto, vale citar o seguinte excerto da Declaração de Caracas: “os museus não
são somente fontes de informação ou instrumentos de educação, mas espaços e meios de
comunicação que servem ao estabelecimento da interação da comunidade com o processo e
com os produtos culturais” (DECLARAÇÃO DE CARACAS, 1992).
Em sua reflexão sobre os museus do nosso tempo, Huyssen (1994, p. 35), explana que
o papel da instituição como um local “conservador elitista ou como um bastião da tradição da
alta cultura dá lugar ao museu como cultura de massa, ou seja, como um espaço de mise-en-
Em sua crítica a respeito dos modos com os quais nos relacionamos com os objetos na
atualidade, Sudjic (2010) exemplifica que
quando todo mundo que for comprar um televisor já tiver feito isso, só resta aos
fabricantes convencer os proprietários a substituir seus aparelhos antigos inventando
uma categoria nova. Às vezes, é uma miniversão, mas, se depender do fabricante,
será maior, e portanto melhor do que os modelos anteriores. Assim, as telas de tevê
passaram de 28 para 60 polegadas. Os fornos domésticos se transformaram em
conjuntos de forno e fogão. As geladeiras viraram guarda-roupas abarrotados [...] Há
quem acampe em frente a lojas da Apple para ser o primeiro a comprar um iPhone.
Há quem pague qualquer preço para colecionar réplicas de tênis de corrida dos anos
1970 (SUDJIC, 2010, pp. 5-6).
Em nosso estudo, cumpre traçar os limites entre o museu de arte e o museu de design.
Sudjic (2010) afirma que quando começou a colecionar design, nos anos 1930, o Museu de
Arte Moderna de Nova York adotou uma perspectiva de que “design e arte não eram a mesma
coisa, mas colecionando design, o MoMA estava resolvido a conferir mais status ao design
como categoria. Para tanto, achava que precisava apresentar design como se fosse arte”
(SUDJIC, 2010, p. 169). O teórico assevera que na abertura do MoMA em 1929, o então
diretor Alfred Barr admitiu alguns objetos produzidos em massa e os deixou postados em
frente à galeria de Picasso e Braque, pois
o museu desejava ser visto como tão radical em sua escolha temática quanto os
artistas que defendia. Mas o critério de seleção do museu se baseava antes no visual
das coisas do que no que podiam fazer. Hélices, rolamentos e ferramentas de
máquina, até uma carroceria Cisitalia de liga metálica trabalhada à mão, desenhada
por Pininfarina, e, mais tarde, um helicóptero, foram admitidos nos interiores
imaculadamente brancos do museu. Mas só se fingissem não ser design de todo [...]
um rolamento autoalinhante de aço cromado ser colocado no mesmo contexto de um
quadro de Fernand Léger, representando um rolamento, foi legendar a peça como se
fosse uma pintura. Não havia nada mais do que o anúncio inexpressivo da data, meio
e nome para distrair os visitantes de sua contemplação reverente dessas relíquias
sagradas. Nada sobre a finalidade desse objeto inegavelmente belo, nem sobre sua
composição, podia ser incluído. Na verdade, nos registros do museu, Sven
Wingquist, o engenheiro que fundou a Svenska Kullagerfabriken, que fez o
rolamento, é mencionado, mesmo hoje, como o „artista‟ do objeto. Em seus textos
escritos e nas técnicas de exibição que usa para design e arquitetura, o MoMA
sempre adotou o mesmo tom inescrutável que reserva à arte (SUDJIC, 2010, p. 172).
Por sua vez, Antonelli (2006) discorre sobre o desafio de ser curadora de exposições
de design em um museu de arte moderna:
80% do meu público está lá para ver Matisse e Picasso. Eles tropeçam na minha
exposição, e eu tenho que manter-los lá. Depois de olhar pinturas e esculturas, é
estranho para eles olhar para caiaques e chaise longues [...] mas devido ao ótimo
espaço do museu, e se a exposição for concebida e instalada de maneira inteligente,
as pessoas a consideram „tempo bem empregado‟ (ANTONELLI, 2006, p. 87,
tradução livre do autor).
A instituição contabiliza, ao longo de sua trajetória, que perpassa três décadas, ter
recebido cerca de cinco milhões de visitantes – entre eles, 400 mil crianças em grupos
escolares. Já realizou mais de uma centena de exposições e, além de estruturar um programa
de ações educativas, a sua coleção representa uma amostra significativa do design
contemporâneo, entre mobiliário e peças gráficas. Em frente ao rio Tâmisa e à Tower Bridge,
tem como objetivo, até 2014, mudar para uma sede maior, na região central da capital inglesa.
Idealizado pelo então secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, Luis Arrobas
Martins, o inicialmente denominado Museu do Mobiliário Artístico e Histórico Brasileiro foi
fundado pelo governador Roberto Costa de Abreu Sodré, em 1970. O seu primeiro diretor foi
o historiador Ernani Silva Bruno, sendo sua a proposta de mudança do nome para o atual,
endossada pelo conselho do museu – que, na época, contava com personalidades como Sérgio
Buarque de Holanda (MCB, 2002).
Em novembro do mesmo ano, a Fundação Padre Anchieta passou o uso do Solar Fábio
Prado, na Avenida Brigadeiro Faria Lima, para o governo do estado, que tinha em vista
instalar, ali, o museu recém-criado. Após cinco anos em sua primeira sede, num sobrado da
Alameda Nothmann, e uma reforma no Solar, o museu começou plenamente suas atividades
Figura 3: Solar Fábio Prado, sede do MCB na Av. Brigadeiro Faria Lima. Fonte: Banco de imagens do autor.
Localizada também em São Paulo, a organização social A Casa iniciou suas atividades
em 1997, com a intenção de ampliar o conhecimento sobre expressões culturais regionais e
temas de identidade brasileira. Em 2000 passou a disponibilizar seu acervo em um museu
virtual, que constitui um catálogo nas áreas de produção artesanal, design brasileiro e
artesanato contemporâneo. No ano seguinte, tornou-se „museu de artes e artefatos brasileiros‟.
Desde então, incentiva a pesquisa e a troca de informações entre diversas instituições
em projetos que geram exposições, livros e coleta de acervo, além do programa Encontros
Design Artesanato.
A partir de 2004 firmou-se como A Casa – museu do objeto brasileiro, e estabeleceu o
objetivo de “contribuir para o reconhecimento, valorização e desenvolvimento da produção
artesanal e do design, incrementando a percepção consciente a respeito do produto brasileiro
bem como promovendo sua produção cultural”10. Entre suas atividades, está o Prêmio Objeto
Brasileiro, com sua terceira edição em 2012.
Figura 5: Sede do Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães e seu logotipo. Fonte: <www.mamam.art.br>.
Por sua vez, o MON, em Curitiba, além da ênfase em arte moderna e contemporânea,
realiza, eventualmente, exposições de design. A sua história teve início em 2002, quando o
prédio principal deixou de ser sede de secretarias de Estado para transformar-se em museu.
Anteriormente, chamado de Edifício Presidente Humberto Castelo Branco, passou por
adaptações e ganhou um anexo, popularmente chamado de olho. Ambos os projetos são de
autoria do reconhecido arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer12. No que se refere às exposições
de design recentemente sediadas pelo MON, está A reinvenção da matéria13, além de mostras
históricas como os modernos brasileiros +1, com móveis projetados por Geraldo de Barros,
Gregori Warchavchik, Joaquim Tenreiro, Lasar Segall, Lina Bo Bardi e Sergio Rodrigues,
entre outros.
Considerações finais
Notas
1
Extraído de <http://www.museus.gov.br> em 7 de outubro de 2011.
2
Extraído de <http://www.mamam.art.br> em 7 de outubro de 2011.
3
Como exemplo ideal, citamos a Bienal Brasileira de Design, que possui caráter itinerante e realiza sua quarta
edição em Belo Horizonte - MG, em 2012. Extraído de <www.bienalbrasileiradedesign.com.br>. Acesso em 7
de outubro de 2011.
4
Extraído de <http://designmuseum.org> em 10 de outubro de 2011. Tradução livre do autor.
5
Extraído de <http://designmuseums.blogspot.com> Acesso em 10 de outubro de 2011.
6
Extraído de <http://www.mude.pt> Acesso em 10 de outubro de 2011.
7
Extraído de <http://www.bauhaus.de> Acesso em 10 de outubro de 2011.
8
Extraído de <http://www.museus.gov.br/sbm> Acesso em 7 de outubro de 2011.
9
Extraído de <http://www.mcb.org.br> Acesso em 7 de outubro de 2011.
10
Extraído de <http://www.acasa.org.br> Acesso em 7 de outubro de 2011.
11
O MAM-RJ possui um histórico de iniciativas voltadas à difusão do design, entre elas a realização das três
primeiras bienais de desenho industrial, em 1968, 1970 e 1972 (MELO, 2008; BERTASO; BRAGA, 2010).
12
Extraído de <http://www.pr.gov.br/mon> em 7 de outubro de 2011.
13
Parte integrante da III Bienal Brasileira de Design em 2010, essa exposição apresentou produtos
desenvolvidos a partir de matéria-prima típica do país.
14
Na terceira edição, em 2010, em Curitiba-PR, a Bienal Brasileira de Design pautou-se pela temática da
sustentabilidade. Em 2012, na cidade de Belo Horizonte-MG, o tema será a diversidade brasileira.
Referências
COSSIO, G. Design de Exposição de Design – três estudos sobre critérios projetuais para
comunicação com o público. 2011. 203f. Dissertação (Mestrado em Design) – Faculdade de
Arquitetura; Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul –
PGDesign/UFRGS, Porto Alegre, 2011.
MUSEU DA CASA BRASILEIRA. O Museu da Casa Brasileira. São Paulo: Banco Safra,
2002.
MELO, F. I. S. H. O design gráfico brasileiro: anos 60. São Paulo: Cosac Naify, 2008.