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1- Os curdos

Os curdos, ou povo curdo, são um grupo ético do Médio Oriente. São um grupo com certa de trinta
milhões de indivíduos no mundo, sendo o quarto maior grupo ético do Médio-Oriente. A maioria vive
no leste da Turquia (14 milhões), numa região que é frequentemente referida como o Curdistão Turco,
sendo 20% da população da Turquia. As restantes vivem em partes do Iraque, Irã e Síria. Há também
comunidades curdas no Líbano, Armênia e Geórgia. Os curdos estão ligados aos povos iranianos pela
cultura e pela linguística, a sua maioria fala o idioma curdo, uma língua indo-europeia do ramo das
línguas iranianas. A cultura curda é o legado de vários povos antigos que moldaram os modernos
curdos e sua sociedade, principalmente os hurritas nativos, os iranianos antigos (medos) e os
muçulmanos. A cultura é muito próxima da de outros povos iranianos: os curdos, por exemplo,
também celebram o Noruz (21 de Março) como Dia de Ano Novo no calendário Persa. No entanto, as
origens étnicas curdas ainda são indefinidas, havendo discórdia sobre de onde terá realmente surgido
este povo.
Os curdos são um dos povos originários das planícies da Mesopotâmia — território
compreendido entre os rios Tigre e Eufrates — e dos planaltos da região onde hoje estão o sudeste da
Turquia, o nordeste da Síria, o norte do Iraque, o noroeste do Irã e o sudoeste da Armênia. Embora
eles habitem essa região há milénios, a sua história é pouco conhecida, devido à falta de estudos sobre
este tema, mas de acordo com a “Encyclopaedia Kurdistanica”, os curdos são descendentes de todos
aqueles que se fixaram no atual Curdistão, e não de um grupo particular. No entanto, nunca tiveram
um país para chamar de seu.

2- Porquê que os Curdos não têm Estado Nacional?


A história de origem dos curdos remete a quase 4.000 anos Antes de Cristo, e, tendo eles um território
quase definido, porquê que não têm um Estado Nacional ao qual possam chamar de país?
Bem, um Estado Nacional pode ser definido como uma área histórica, que possui uma política
legitimada, que pelos próprios meios, constitui um governo soberano. O Estado nacional afirma-se
por meio de uma ideologia, uma estrutura jurídica, a capacidade de impor uma soberania, sobre um
povo, num dado território com fronteiras, com uma moeda própria e forças armadas independentes.
O Curdistão foi inicialmente casa dos Assírios que se estabeleceram na região por volta de 2600 a.C.
Posteriormente chegaram os Hurritas que formaram o reino vizinho. Em 612 a.C. um povo iraniano
denominado de Medos, toma Nínive, a segunda capital dos Assírios. Mas este povo acaba pouco
tempo depois dominado pelos Persas. Em 1150, a parte ocidental do Irão recebe a atual designação,
cunhada por um sultão selijúcida, que significa "Terra dos Curdos". No início do século 20, muitos
curdos começaram a considerar a criação de um Estado, geralmente conhecido como Curdistão.
Depois da Primeira Guerra Mundial e da derrota do Império Otomano, os países ocidentais vitoriosos
fizeram uma provisão para a criação de um Estado curdo em 1920 no Tratado de Sèvres. Mas os
planos foram frustrados três anos depois, quando o Tratado de Lausanne, que estabeleceu as fronteiras
da Turquia moderna, não tratou de um Estado curdo e os deixou com status minoritário em seus
respectivos países.
Embora tenham tentado reivindicar um estado próprio desde o desmembramento do Império
Otomano, defendendo um Curdistão unificado, é lhes negado pelos governos da Turquia, do Irão, da
Síria e do Iraque (países em que se insere o Curdistão). Para além disso são alvos de intensas
perseguições e vítimas do desrespeito aos direitos humanos. Mesmo com toda esta situação a que os
curdos estão expostos, não recebem ajuda da comunidade internacional para fundar um Estado, uma
vez que o chamado Curdistão se situa numa zona rica em petróleo, e a sua independência iria afetar os
países que o dividem, que não se encontram dispostos a abrir mão de uma região vasta em recursos
naturais. São assim, a maior Nação do mundo sem um Estado.
3- Conflito Curdo-Turco
Conflito curdo-turco ou rebeliões curdas na Turquia referem-se às lutas nacionalistas dos
curdos na Turquia, com início após a Guerra de Independência Turca e a consequente transição do
Império Otomano para o Estado turco moderno. Embora as revoltas tribais curdas tenham encerrado o
Império Otomano ao longo das últimas décadas de sua existência, o conflito é considerado como
tendo iniciado em 1922, com o surgimento do nacionalismo curdo em paralelo com a formação do
Estado da Turquia. Os curdos receberam tratamento duro nas mãos das autoridades turcas ao longo de
diversas gerações. Em resposta aos levantes nas décadas de 1920 e 1930, muitos curdos foram
reassentados, nomes e roupas foram proibidos, o uso da língua curda foi limitado e até a existência de
uma identidade étnica curda foi negada.
A Universidade de Arkansas no departamento de ciência política fez um artigo onde dividiu o
conflito Curdo-Turco em fases, que varia na entrada de fases de crise e de conflito e de saída das
mesmas:
Fase de Crise (1 de dezembro de 1922 a 7 de fevereiro de 1925): O Comitê para a
Independência Curda (Kurt Istiqlal Djemiyeti – KID) foi estabelecido por Yusuf Ziya Bey e Halit Bey
em dezembro de 1922. O governo decretou a proibição de todas as escolas e organizações curdas,
publicações e fraternidades religiosas. Yusuf Ziya Bey e Halit Bey foram presos pela polícia do
governo e executados.
Fase de conflito (8 de fevereiro de 1925 a 31 de dezembro de 1938):Cerca de 15.000
nacionalistas curdos se rebelaram contra o governo no leste da Turquia a partir de 8 de fevereiro de
1925 e declararam Darhini como a capital provisória do Curdistão. O governo mobilizou cerca de
52.000 soldados para reprimir a rebelião curda. Cerca de 5.000 soldados do governo e 4.000 rebeldes
curdos foram mortos durante a rebelião. uns 500, 000 curdos foram deportados para outras partes do
país entre 1925 e 1928, resultando na morte de cerca de 200.000 curdos. O governo executou 47
líderes nacionalistas curdos. Durante esta fase houve diversas rebeliões que demorariam a explicar,
então focámo-nos no essencial. Nacionalistas curdos se rebelaram contra o governo na região de
Dersim, na província de Tunceli, entre março e novembro de 1937. O governo turco declarou lei
marcial na região de Dersim. O governo turco ordenou uma ofensiva militar contra o Rebeldes curdos
em 4 de maio de 1938 e tropas do governo suprimiram a rebelião em dezembro de 1938. Cerca de
40.000 curdos foram mortos durante as rebeliões na região de Dersim em 1937 e 1938.
Fase pós-conflito (1º de janeiro de 1939 a 30 de dezembro de 1946): O governo suspendeu a
lei marcial na província de Tunceli em 30 de dezembro de 1946.
Fase de Crise (27 de novembro de 1978 a 13 de agosto de 1984): Partido dos Trabalhadores Curdos
( Partiya Karkaren Kurdistan– PKK) foi estabelecido em 27 de novembro de 1978, e Abdullah Ocalan
foi nomeado presidente do PKK. Rebeldes do PKK mataram 213 civis e 30 soldados do governo entre
1978 e março de 1981. Trinta e cinco rebeldes do PKK foram condenados à morte em 24 de maio de
1983. Cerca de 250 pessoas foram mortas durante a crise.
Fase de conflito (14 de agosto de 1984 a 31 de agosto de 1999): O PKK se rebelou contra o governo
turco nas províncias de Diyarbakir, Hakkari, Siirt, Simak, Tunceli e Van a partir de 15 de agosto de
1984. As tropas do governo lançaram uma ofensiva militar contra os rebeldes do PKK no leste da
Turquia em 16 de outubro de 1984. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
(ACNUR) ajudou na repatriação de cerca de 1.600 refugiados do norte do Iraque de julho de 1996 a
dezembro de 1998. Cerca de 20.000 soldados do governo lançaram uma ofensiva militar contra
rebeldes curdos no norte do Iraque em 5 de dezembro de 1997. A polícia do governo capturou O líder
do PKK Abdullah Ocalan em Nairóbi, no Quênia. Abdullah Ocalan foi condenado e sentenciado à
morte por um tribunal turco em 29 de junho de 1999. Cerca de 37.000 indivíduos, incluindo cerca de
5.200 soldados do governo, 26.500 rebeldes do PKK e 5.200 civis, foram mortos durante o conflito.
Cerca de 600.000 pessoas foram deslocadas durante o conflito.
Fase pós-conflito (1 de setembro de 1999 a 31 de maio de 2004): O governo suspendeu o
estado de emergência nas várias províncias. A CEDH (Convenção Europeia dos Direitos do Homem)
decidiu que Abdullah Ocalan não recebeu um julgamento justo em 1999, mas também decidiu que
suas condições de prisão não eram ilegais. O PKK encerrou seu cessar-fogo unilateral em 31 de maio
de 2004.
Fase de conflito (1 de junho de 2004 até o presente): O PKK (renomeado Kongra-Gel)
retomou sua rebelião contra o governo em 1º de junho de 2004. Tropas do governo entraram em
confronto com rebeldes do PKK no sudeste da Turquia em 16 de abril de 2005. O conflito perdura até
os dias de hoje.

4- Os Curdos no Iraque
Os curdos representam cerca de 15% a 20% da população do Iraque, que chega a 38,3 milhões de
habitantes. Historicamente, eles gozam de mais direitos nacionais do que os curdos que vivem em
Estados vizinhos, mas também enfrentaram uma repressão brutal.
Em 1946, Mustafa Barzani formou o Partido Democrata do Curdistão (KDP) para lutar pela
autonomia no Iraque. Mas foi somente em 1961 que ele lançou uma luta armada completa.
Durante a guerra Irã-Iraque na década de 1980, o regime implementou políticas anticurdos e uma
guerra civil de facto eclodiu. O Iraque foi amplamente condenado pela comunidade internacional, mas
nunca foi seriamente punido pelos meios opressivos que utilizou tais como assassinato em massa de
centenas de milhares de civis, a destruição generalizada de milhares de aldeias e a deportação de
milhares de curdos para o sul e o centro do Iraque. A campanha do governo iraquiano contra os
curdos em 1988 foi chamada Anfal ("Pilhagem de Guerra"). Os ataques Anfal levaram à destruição
duas mil aldeias e entre 50 e 100 mil curdos foram mortos.
A violência começou a cessar apenas em 1991, quando uma "zona de exclusão aérea" foi estabelecida
pelo Conselho de Segurança da ONU, o que facilitou o retorno de refugiados, e o Curdistão iraquiano
obteve uma autonomia de facto. A região é administrada oficialmente pelo Governo Regional do
Curdistão e sua população é estipulada em cerca de 6 milhões de pessoas. Atualmente, em torno de 1
milhão de refugiados, em sua maioria iraquianos e sírios, também vivem na região, considerada a
mais segura do Iraque. A situação atual é baseada em certa autonomia desse povo e pela perseguição
que essa população vem sofrendo, não mais por parte do Estado, mas por parte de grupos jihadistas,
como o ISIS. A autonomia é legitimada pela constituição de 2005, que estabeleceu a região autônoma
do Curdistão ao norte do país.

5- O genocídio e etnocídio curdo


Além de todos os números que temos vindo a mencionar anteriormente, existem muitos mais e os
curdos são um povo perseguido em todo o lado que têm comunidades.
Os curdos são cerca de 15% da população da Síria, o que corresponde a cerca de 1,9 milhão
de pessoas. Isto faz deles a maior minoria étnica no país. Os ativistas de direitos humanos curdos são
maltratados e perseguidos. Nenhum partido político é permitido a qualquer grupo, curdo ou não. As
técnicas usadas para suprimir a identidade étnica dos curdos na Síria incluem várias proibições do uso
da língua curda, recusa em registrar crianças com nomes curdos, substituição de nomes de lugares
curdos com novos nomes em árabe, proibição de negócios que não tenham nomes árabes, proibição de
escolas privadas curdas e proibição de livros e outros materiais escritos em curdo. Com o direito à
nacionalidade síria negado, cerca de trezentos mil curdos são privados de quaisquer direitos sociais,
violando-se assim as leis internacionais.
Os curdos enfrentaram muitas medidas repressivas no Azerbaijão, inclusive deportações.
Como resultado do conflito no Alto Carabaque, muitas regiões curdas foram destruídas e mais de 150
000 curdos foram deportados desde 1988. Atualmente, existem apenas cerca de 6 100 curdos no
Azerbaijão, segundo o censo de 2009.
No entanto, o termo genocídio curdo costuma se referir especificamente aos acontecimentos
ocorridos ao final dos anos 1980 e início dos anos 1990, quando dezenas de milhares de pessoas
pertencentes à etnia curda foram massacradas principalmente por meio de ações do governo
iraquiano.
Para além do genocídio de que tem sido vítima, porque está a concretizar-se uma limpeza
étnica, a Nação curda está a ser alvo de etnocídio, através da destruição da cultura do seu povo, sob
responsabilidade do Presidente da Turquia, Erdogan, e de outros, perante o silêncio da comunidade
internacional. Ao longo de todos os países que acolhem o espaço chamado de Curdistão (Turquia,
Iraque, Irã, Síria), a sua cultura está a ser exterminada, ao mesmo passo que a sua população. Não se
encontram números inteiros sobre quantas vítimas poderá haver do genocídio curdo, mas este povo
luta pela sua independência até aos dias de hoje nos quatro países onde se localiza o Curdistão.

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