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Universidade de Évora – Escola de Ciências e Tecnologia

Mestrado em Engenharia Geológica

PROSPEÇÃO DE ROCHAS GRANÍTICAS PARA FINS ORNAMENTAIS

Daniel Lopes da Silva

Orientador: Jorge Manuel Costa Pedro

Évora, 2022
Índice
1. Objetivos ........................................................................................................................................ 3
2. Introdução ...................................................................................................................................... 3
3. Rochas graníticas em Portugal .................................................................................................. 4
4. Metodologia de prospeção .......................................................................................................... 5
5. Cartografia Geológica .................................................................................................................. 7
6. Prospeção Geofísica .................................................................................................................... 7
7. Fase de Avaliação ........................................................................................................................ 8
8. Análise geológica e estrutural .................................................................................................. 11
9. Petrografia ................................................................................................................................... 12
10. Análise da fraturação ................................................................................................................. 13
11. Conclusão .................................................................................................................................... 14
12. Referências Bibliográficas ......................................................................................................... 14

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1. Objetivos

Este trabalho insere-se no âmbito da UC de Prospeção Geológica e Mineira, do Mestrado


em Engenharia Geológica da Universidade de Évora e tem como objetivo descrever os
métodos de prospeção de rochas ornamentais, em particular os granitos, abordando os
principais aspectos a serem analisados na seleção de maciços para uma possível pedreira de
rocha ornamental.

2. Introdução

A produção de rocha ornamental em Portugal encontra-se entre as dez mais importantes


a nível mundial, o que constitui uma rentável atividade economica no país (Conceição, 2012).
Entende-se por rocha ornamental a matéria prima de origem mineral utilizada como material
de construção com funções essencialmente decorativas (Oliveira, 2017). Cabem neste âmbito
desde os pequenos cubos utilizados no calcetamento de ruas, até as finas placas de rochas
xistentas usadas em revestimentos passando pelos grandes blocos destinados à obtenção de
chapas para revestimentos diversos, estatuária, pedras tumulares, etc. Dentre os vários tipos
de rochas ornamentais os granitos são o conjunto de rochas ígneas intrusivas, de textura
granular, compostas por quartzo e feldspatos (figura 1), normalmente extraidas em blocos.
Geralmente são rochas muito homogêneas, de grande dureza e resistência a alterações. No
mercado das rochas ornamentais o termo “granito” englobada uma grande variedade de
rochas ígneas, desde os granitos propriamente ditos, aos sienitos, gabros, dioritos e gnaisses.

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Figura 1 – Classificação de Streckeisen. Granito destacado em amarelo. Comentado [JP1]: Indicar com uma janela na figura quias
(https://www.wikiwand.com/it/Granito) as rochas que são consideradas "granitos"

3. Rochas graníticas em Portugal

A carta geológica de Portugal (figura 2a) nos mostra que os granitos são mais abundantes
na região norte de país, nomeadamente na Zona Centro-Ibérica, existindo também algumas
ocorrências no Alto Alentejo, mais propriamente na Zona de Ossa-Morena.

Dada a maior ocorrência de granitos na região norte do pais, é nesta região que se
localizam a maior percentagem de pedreiras de granito, sendo Viseu o distrito que produz
maiores quantidades (figura 2b). Em 2017 encontravam-se em atividade 337 pedreiras de
rocha ornamental em Portugal, 111 das quais de granito e na sua maioria localizadas no norte
do país (Dias, Lopes, & Sitzia, 2020).

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Figura 2a – Carta Geológica de Portugal. Figura 2b - Principais centros de produção e
quantidades em toneladas (Oliveira, 2017). Comentado [JP2]: Referência Bibliográfica

4. Metodologia de prospeção

Muñoz et al. (1989) apresenta um plano de prospeção de rochas graníticas (figura 3)


composto por cinco fases.

Comentado [JP3]: Melhorar definição ou redesenhar a


figura

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Figura 3 - Plano de prospeção de rochas graníticas (adaptado de Muñoz et Al, 1989).

A primeira fase consiste na coleta e análise de toda informação geológica-mineira


sobre a área a investigar. Nesta etapa é fundamental a consulta a publicações e teses sobre
rochas graníticas, estudo de mapas geológicos em escala 1:50.000, bem como consultar a
opinião de produtores e empresas comercializadoras de granito e pedreiras, com o objetivo
de adquirir um maior conhecimento da problemática que afeta essas rochas nas fases de
exploração, elaboração e comercialização.

Na fase dois são levados em consideração as propriedades do afloramento que são:


morfologia, fraturação, composição, cor, homogeneidade, textura, mudanças de fácies,
descontinuidades, oxidações e outras alterações. Há também os chamados fatores
condicionantes de exploração que são: fraturação, tamanho do afloramento, recobrimentos,
topografia e acessos, impacto ambiental, infraestrutura industrial da zona, entre outros.

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Na fase três as zonas selecionadas na fase anterior são estudadas com um maior detalhe.
Basicamente são analisados os seguintes parâmetros: Caracteristicas geológicas do
depósito, qualidade da rocha e viabilidade da exploração. A qualidade da rocha refere-se à
sua homogeneidade, ou seja, à existência de variações litologicas, variações de cor e
tamanho dos grãos, presença e distribuição de megacristais, cavidades miarolíticas e zonas
de alteração que afetam a coesão da rocha ou provocam alterações na composição
mineralógica e na textura da rocha.

Na fase quatro são estudados todos os parâmetros da fase anterior, porém numa escala
de maior detalhe e em um âmbito territorial muito mais restringido. Nesta fase também podem
ser realizadas sondagens mecâncicas. Finalizada a investigação, a fase cinco consiste na
instalação da pedreira propriamente dita.

5. Cartografia Geológica

A litologia é o aspecto principal a considerar na cartografia geológica de temática


vocacionada para as rochas ornamentais. A análise de uma carta geológica detalhada deverá
permitir a definição dos vários litótipos graníticos aflorantes no maciço, bem como a sua
correspondência com as fácies comerciais susceptíveis de exploração na área considerada
(Silva, 1992). Dependendo da etapa de trabalho, do tipo de litologias presentes e da
complexidade estrutural da região em causa, diferente será a escala de execução da
cartografia geológica (Carvalho, 2007). Assim, na fase de reconhecimento geral deverá fazer-
se uso de escalas de 1/100.000 a 1/25.000. Numa fase intermediária, a cartografia a executar
deverá ser a escala 1/10.000 a 1/5.000. Finalmente a delimitação da área-alvo será numa
escala de 1/2000 a 1/500.

6. Prospeção Geofísica

A utilização de métodos indiretos não destrutivos na investigação das jazidas de rochas


ornamentais se faz necessária devido ao fato de que a pesquisa direta (sondagem) pode
inviabilizar partes do maciço (Ferreira, 2004). Nesse sentido, métodos geofísicos são
excelentes ferramentas para prever as características subsuperficiais dos maciços. O geo-
radar (figura 4) é bastante utilizado para avaliar a espessura da cobertura e da capa de
alteração dos maciços. A aplicação consiste em obter uma imagem de alta resolução de
subsuperfície, através da transmissão de um curto pulso de altas frequencias para gerar

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ondas eletromagnéticas, que são transmitidas de uma antena transmissora para dentro do
maciço. As ondas eletromagnéticas que são transmitidas para interior da terra podem ser
refletidas quando ocorrem grandes mudanças nas propriedades elétricas dos materiais. Estas
reflexões são captadas pela antena receptora, que transmite os dados obtidos para um
computador. O decréscimo da velocidade da onda pode estar relacionado com a presença de
fraturas, microfissuras e/ou de porosidades. O percurso da onda (reflexão ou refração) indicia
a presença e posição de planos de fratura ou de cavidades cársicas (Oliveira, 2017). Outro
método geofísico é a refração sístima, útil para determinar a espessura no material estéril que
se sobrepõe a rocha fresca, o qual deve ser removido antes da exploração. Temos também a
prospeção magnética que auxilia na definição da orientação e largura de filões verticais que
possam ocorrer nos maciços (Ramos e Moura, 2010)

Figura 4 – Imagem de GPR identificando possível fratura que atinge os 3,5 m de profundidade e se
estende por 32 m do perfil.(Ramos e Moura, 2010) Comentado [JP4]: Acrescentar descrição que auxilie a
interpretação

7. Fase de Avaliação

Numa campanha de prospeção para a seleção dos melhores locais para a extração devem
ser considerados vários fatores. Esses fatores podem ser agrupados em três grandes grupos
(Tabela 1).

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Tabela 1 - Fatores condicionantes a exploração de granitos (Sousa, 2012).

A variação brusca do estado de meteorização, e consequentemente da cor da rocha,


limita a obtenção de blocos com coloração homogênea e diminui o respectivo valor comercial,
pois estes blocos não serão utilizados para produção de chapa polida (Sousa, 2012). A figuras
5, 6 e 7 apresentam algumas heterogeneidades que são muito comuns nos granitos. Schlieren Comentado [JP5]: Descrever essas heterogeneidades
são estruturas em que há a formação de lentes com maiores concentrações de minerais
máficos ou félsicos em relação à composição geral da rocha, orientadas de acordo com a
direção do fluxo magmático. As cavidades miarolíticas são caracterizadas pela presença de
bolhas aglutinadas com dimensões centimétricas a decimétricas, cujo molde interno é
recoberto por cristais euédricos idênticos aos da rocha em que se encontram. Já os filões são
corpos magmáticos, de forma tabular, resultantes do preenchimento de fracturas existentes
nas rochas. Importante também determinar in situ o grau de alteração da rocha. Uma Formatou: Tipo de letra: Itálico
meteorização baixa corresponde a uma crosta alterada menor ou igual a 2cm. Já um alto grau
de meteorização corresponde a crostas de mais de 20cm (Muñoz et al., 1989). A oxidação
também é um fator importantíssimo já que sua distribuição pode fazer uma zona ser
descartada definitvamente mesmo que os demais critérios deêm bons resultados para
exploração.

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Figura 5 - Heterogeneidades em granitos. Esquerda: variação cromática; direita: Schlieren Biotítico.
(Sousa, 2012).

Figura 6 - Cavidade Miarolítica em rocha granítica (https://petroignea.wordpress.com/esta-es-la- Comentado [JP6]: Referência bibliográfica
segunda-pagina/texturas-en-rocas-volcanicas/otras-estructuras/)

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Figura 7 – Filão Pegmatítico em afloramento granítico (Conceição, 2012).

8. Análise geológica e estrutural

Deverão ser tomados em consideração todos os critérios e técnicas de análise


estrutural que permitam o estabelecimento dum modelo estrutural do maciço. Em particular e
em função da complexidade estrutural da região em causa, é importante ter em atenção os
dados relativos à orientação dos planos de clivagens, xistosidades, lineações e os relativos à
orientação e tipo de falhas, fracturas e dobramentos eventualmente presentes (Carvalho,
2007). A fim de se estimar a área e volume total de rocha disponível para exploração, modelos
tridimensionais estão sendo cada vez mais utilizados. Muitos softwares permitem a entrada
de dados geofísicos, litologias, estratigrafias etc, permitindo criar maquetes virtuais que
facilitam a estimativa dos volumes de cada tipo litológico (figura 8).

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Figura 8 – (a) Modelos tridimensionais de diferentes litologias de um maciço (Oliveira, 2017)

9. Petrografia

A caracterização petrográfica de rochas ornamentais faz-se segundo a norma europeia


EN12407 de 2007 e inclui a indicação da cor ou intervalos de cores que a rocha apresenta,
estrutura, dimensão do grão, fraturas e sua abertura, existência de poros e cavidades assim
como a natureza do seu preenchiemento, referência ao estado de alteração e meteorização,
presença de xenólitos e outras observações pertinentes que auxiliam na caracterização da
rocha (Dias, Lopes, & Sitzia, 2020). Todos estes aspetos influenciam a qualidade do material
nas suas diversas aplicações. Assim por exemplo, a resistência de uma rocha ao desgaste
abrasivo é, regra geral, proporcional à dureza dos seus minerais constituintes e por isso, entre
os granitos, a resistência ao desgaste e aos riscos será tanto maior quanto maior a quantidade
de quartzo (dureza 7) relativamente aos feldspatos (dureza 6) e ferromagnesianos (dureza 4-
6). Os minerais máficos (escuros) são mais alteráveis por oxidação que os minerais félsicos
(claros), pelo que a sua excessiva presença poderá, com o tempo, modificar o padrão
cromático da rocha (Conceição, 2012).

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10. Análise da fraturação

A fraturação do depósito é um dos fatores condicionantes mais importantes da


exploração do mesmo, pois o espaçamento do diaclasado definirá se pode ou não extrair
blocos de tamanho comercial (figura 9). O primeiro passo é conhecer a distribuição espacial
do sistema de diaclasado e sua relação geométrica. Para isso faz-se uso dos diagramas de
rosetas e diagramas estereográficos (figura 10). Por meio deles é possivel determinar a
disposição das familias de diaclases existentes no maciço. Em geral, o padrão de fraturação
mais favorável é aquele em que coexistem três sistemas de fraturas principais,
convenientemente espaçadas, sendo dois deles sub-verticais, normais entre si, e um sistema
sub-horizontal, perpendicular aos restantes. A análise de um diagrama de densidade de pólos
fornece-nos também a orientação geral do desmonte a efetuar que em regra, deverá
acompanhar a direção preferencial de fraturação subvertical, a que corresponderá o plano de
partição mais favorável da rocha (Silva, 1992).

Figura 9 - Fraturação dos maciços rochosos (Ramos e Moura, 2010).

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Figura 10 - Diagrama de rosetas e projeção estereográfica (Carvalho, 2007).

11. Conclusão

Por meio deste trabalho foi possível ter uma compreensão mais abrangente dos diversos
estudos e análises necessários para uma correta investigação geológica para prospecção de
rochas ornamentais graníticas. Constata-se que os parâmetros principais de análise são a
homogeinedade e grau de fraturação do maciço e por meio análises petrográficas e de
métodos geofísicos é possível se ter uma ideia de como se apresenta litologica e
estruturalmente o maciço. Sabe-se que a indústria de rochas ornamentais é um setor muito
forte da economia portuguesa e tem um grande potencial de crescimento se as empresas
investirem e se especializarem nesse tipo de investigação a fim de serem o mais acertivos
possível na escolha de uma possível área de exploração.

12. Referências Bibliográficas Comentado [JP7]: Citações incorretas, ver regras APA

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