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Primeiro Fólio, publicado em 1623, foi, como (no) o Velho Testamento, organizada por
gênero, tal qual seu título já indicaria: Comédias, Histórias e Tragédias de Sr. William
ter ajudado estabelecer a atmosfera sombria da peça e o capítulo oito que discorre sobre
o paralelismo entre Lear e Jó, trazendo relatos alusivos da Bíblia para dentro do mundo
figuras que lhes estão concatenados. Como bem reconheceu Maingueneau (1997,
mencionar a página por ser uma citação direta), “uma formação discursiva é associável
a certos trajetos e não a outros, e isto faz parte integrante de sua especificidade”. Para
inseridas em suas obras. (a intertextualidade, a dêixis, etc.). retirar parte em azul) Ele se
“enunciado” no interdiscurso.
ambientação em que ele viveu, para assim compreender a presença da Bíblia com maior
especificidade. Para tal escopo, foram selecionados foram os livros Falando de
humano, de Harold Bloom (2001) e Shakespeare, uma vida, de Park Honan (2001);
assim como incursões biográficas existentes em boa parte dos livros bem como em
artigos aqui apresentados onde possam ser encontradas as relações de contato entre as
(2001), é que ele tenta cobrir os dez anos de trabalho, em que examinou todas as fontes
conhecidas para a elaboração de sua biografia dele, após uma abrangente e sólida,
pesquisa de artigos, livros, resenhas de peças, tudo isso ao longo de 35 anos. Ali Honan
uma variedade enorme de outros trabalhos. (retirar toda essa parte em azul e vermelho).
Vale ressaltar que dar-se-á primazia ao texto bíblico na época de Shakespeare, mais
a Bíblia de Geneva, assim como à Bíblia que é usada na atualidade e em nossa própria
versões de tradutores diferentes, dois para cada tragédia estudada, com o intuito de
as tradições onde nasceu e que assimilou, bem como quantos escritores ou tradutores
deixaram nele sua marca pessoal, e as formas literárias usadas no texto. (retirar parte em
azul)
um texto do seu idioma original para o do próprio profissional pode trazer uma
esclarecer que esse não será o momento de serem feitas comparações das estratégias
tradutórias. Neste momento, tem-se priorizado a roupagem que cada um dos tradutores
deu aos excertos bíblicos selecionados para o trabalho, especialmente como eles lidaram
desde então. A cada nova edição, há o trabalho dos editores debruçando-se sobre o
texto, e assim ele se vai modificando. Para uma leitura mais clara do texto
dramatúrgico, apareceram rubricas (stage directions) quando não havia rubrica alguma
nos manuscritos de Shakespeare ou nas cópias dos textos que se usavam para os
ensaios. As pesquisas que vêm sendo feitas em historiografia dos textos shakespearianos
vêm aos poucos corrigindo essas alterações dos editores ao longo dos tempos.
1930, na década atual já foram lançadas 44 novas traduções e mais sete estão no prelo,
mas devido à precariedade de informações sobre essa produção em nosso país no século
XIX, não será possível identificar todas elas. Um breve histórico das traduções
shakespearianas para outras línguas mostra que até o século XVII traduzia-se para a
ou imitatio, na qual se mantém apenas a ideia geral, tendo o tradutor liberdade de fazer
No Brasil não foi diferente: a introdução de Shakespeare em nosso país pela via
literária deu-se por meio de traduções, muitas vezes indiretas e também produzidas em
recepção dos textos e das montagens de obras de William Shakespeare no Brasil (em
(1964).
artigos de interesse histórico, com especial destaque para dois, ambos de Barbara
Heliodora, nos quais a estudiosa constrói uma história das encenações de textos
do dramaturgo, sua época e sua obra, em um livro organizado por Marlene Soares dos
Santos e Liana de Camargo Leão (2008). Os mesmos artigos também contam um pouco
A escolha das traduções e dos tradutores foi concebida pelas versões mais
reconhecidas pelos estudiosos. Hamlet, Rei Lear, Otelo e Macbeth trarão as versões de
Barbara Heliodora sendo que em Hamlet será utilizada a tradução da mãe de Barbara,
Ana Amélia de Queiroz Carneiro Mendonça. A outra tradução dessas obras ficou a
cada tradutor para configurar suas “intervenções” mediante pontos sensíveis entre a
retradução contínua dos textos teatrais, então é mister uma “nova” geração de
tradutores. Cada tradutor tende a dar o seu tratamento às muitas dificuldades do texto,
atendo-se mais ou menos à superfície textual, mais ou menos às entrelinhas, mais ou
Como toda tradução de texto literário é também um texto criativo, não há duas
traduções iguais de um mesmo texto – o que traz à tona justamente a riqueza poética do
original. E cada tradutor tem sua “voz” no texto – seja num texto introdutório à
frasais. No caso de Shakespeare, “retraduzir, editar” seus clássicos fica muito mais fácil,
quiserem publicar.
lírica. Dentre suas traduções, a mais conhecida e também a única delas com a qual
vamos trabalhar é a de Hamlet, feita por volta de 1965, publicada originalmente pela
de cultura de protesto, que teve início na segunda metade dos anos 1960 e estendeu-se
por toda a década seguinte. Anna Amélia que era uma discípula do modernismo de 22,
parecia buscar uma verve mais ideológica e formal. Seu Hamlet foi publicado nesse
momento literário, em uma edição que contava com uma introdução assinada por sua
filha Barbara, mantida nas reedições. A partir dos comentários tecidos na introdução, é
possível inferir que, para Anna Amélia, a tradução seria uma transferência de conteúdo
De acordo com a prefaciadora e filha Bárbara Heliodora, Anna Amélia teve por
objetivo: (i) produzir uma tradução para teatro, em que atores e diretores pudessem
sentir o fluxo da ação, mas ao mesmo tempo uma tradução de poeta, que preservasse “a
principal qualidade que deu tão monumental dimensão à literatura dramática do período
branco elisabetano em decassílabo sem rima, mas “com ritmo autêntico”, mantendo a
buscou uma linguagem acessível para permitir uma compreensão imediata por parte do
A opção pelos decassílabos reflete, mais uma vez, a poética vigente no que diz
Outros críticos como Geraldo Silos, que traduziu Hamlet também em um outro
momento, acusou Anna Amélia de centenas de erros, chegando a expô-los em artigos
2009, p. 35-36).
livros principalmente do inglês na década de 50 e 60, não só preferia uma vertente mais
“respeito” com o original e com o idioma de partida, para captar, com certo
tradutório, “sem frescuras”, exigindo que o texto fluísse como um falar brasileiro,
texto rico e coloquial. Para Millôr, “o tradutor deve possuir e praticar uma filosofia de
trabalho, cultivar princípios que lhe deem um norte, que fundamentem decisões e
escolhas. No seu caso, traduzir era primeiramente “pôr em português”, o que o levou a
A tradução, para o escritor, era a mais difícil das empreitadas, maior até do que
criar originais, apesar de não tão importante quanto isso; que uma tradução também não
podia existir sem o mais amplo conhecimento do idioma para o qual vai se traduzir e
muito menos sem estilo próprio, originalidade ou tino profissional. Ele tinha como
opinião categórica era de que todo tradutor deveria também ser um escritor, lamentava
que, devido a fatores econômicos, tal arte pudesse ficar comprometida, por se arriscar a
(USP) e pela relevância de seu trabalho, recebeu o título de Oficial da Ordre des Arts et
des Lettres, da França, a medalha Connecticut College, nos EUA e a medalha João
Ribeiro, da ABL, concordava que a melhor tradução a ser feita é a que encontrar o
nível. Porque, além de domínio perfeito das línguas portuguesa e inglesa, Barbara
conhecia toda a obra do dramaturgo e poeta britânico, tendo traduzido para o português
O autor de “Hamlet”, “Rei Lear” e “Otelo” era seu alimento diário — daí as
traduções de cunho apuradíssimo. Suas versões, sem apagar a história das obras —
sempre vinculada à língua de seu tempo e ao teatro (daí o tom, digamos, quase
elaboradas com linguagem relativamente simples, ainda que por vezes ele invente
palavras". Nesses casos, "a ação facilita a compreensão", defendia Barbara, cônscia da
predominantemente em verso1.
inclui anos dedicados à tradução e versão de textos científicos e técnicos. Seu objetivo
shakespeariano por poetas brasileiros” (2009), Marcia Martins revela que a tradutora
gaúcha tinha a liberdade de traduzir em prosa, o que a levava a ficar mais atrelada às
relação ao complexo mundo da tradução teatral, Beatriz tem procurado apontar soluções
trocadilhos, humor, ironia, etcetc., apresentando-os como uma estratégia para que os
se debatia com uma questão: seria necessário inventar em português, como Shakespeare
linguista temia que o discurso amoroso, tido como lindo dentro da estética do teatro
elisabetano, pudesse escorregar para o brega kitsch no campo da tradução nos dias
atuais. Outras preocupações dela era saber como atualizar expressões já cristalizadas por
O método de trabalho de Beatriz Viegas era austero: sem normas rígidas e sua
Shakespeare.
shakespeariana, Beatriz Viégas evitava totalmente ler seus escritos durante o seu
trabalho de tradução, para não se deixar “contaminar”. Porém, depois de finda a sua
tradução, as outras versões passavam a ser uma boa fonte de consulta no processo de
revisão. Viegas obtém vantagem por ser uma escritora, com contos e poemas publicados
o grande poeta que escandalizou a plateia durante a Semana da Arte Modena de 1922,
com o poema Os sapos, “pecando” pela total irreverência, com sua ausência de rimas,
apresentando-se como uma afronta irônica ao estilo parnasiano. Realmente os
Isso pode ser sentido na primorosa tradução feita por ele, daquela que é, em suas
pela editora Cosanaify (2009), na nota do tradutor, o escritor se detém sobre a peça em
linguagem. Nas duas páginas introdutórias, Bandeira não faz qualquer menção ao seu
modo de traduzir, dando a conhecer que tal edição não se trata de uma tradução
comentada.
2009, p. 136), Martins e Brito declara que “Bandeira traduziu Macbeth em decassílabos,
de um dos poetas mais puros da língua” (MAGALDI apud MARTINS e BRITO, 2009).
trechos do original e das soluções encontradas pelo poeta 2 (PONTIERO, 2002, apud
MARTINS e BRITO, 2009). Pontiero garante que “a seleção dos fragmentos é pautada
Tudo isso, segundo ele, resultou em “uma tradução moderna que, dotada de um sutil
2009, p. 138).
comprometido em não a deturpar nem a distorcer. Ele optou pela tradução dos versos
pouco maior de versos a fazer muitos cortes. A relação entre letra e sentido se
estabelece nas traduções, da mesma forma que acontece no original. Porém, segundo
mas que parecem ser ditadas menos pela necessidade de economizar sílabas do que por
outros motivos”. Com isso, Bandeira consegue traduzir de um modo muito mais livre do
encerrarmos este capítulo, nome que ironicamente se refere tanto à religião por
cónegos ou à sala onde se reúne essa assembleia, bem como à literatura, definindo-se
como “composição poética em tercetos rematados por um verso isolado que rima com o
Shakespeare:
Os motivos para ler, como para escrever, são muito diversos, e muitas vezes
não claros mesmo para os leitores ou escritores mais autoconscientes. Talvez
o motivo último para metáfora [referência, alusão, etc.] ou para a escrita e
leitura de uma linguagem figurativa, seja o desejo de ser diferente, em estar
em outra parte. (BLOOM, 1995, p. 497)
3
Infopedia.pt Acesso dia 12/04/2016 http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/cap
%C3%ADtulo?acp=5
A imortalidade de Shakespeare é seu universalismo; o eterno da Bíblia é sua
por meios seculares. Apropriado lembrar que nesse caso, mediante a constatação da
as tessituras que existem por trás de cada uma dessas tragédias que será apresentada nos
“Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa. Console os vossos corações, e vos confirme em toda a
Como são objetos deste estudo, crê-se que limitar a Bíblia, assim como as
que foi publicada na época em que o dramaturgo viveu e escreveu a King James Bible; e
Almeida, de 2007. O uso de versões diferentes significa maior trabalho, mas também
maior e melhor apreensão, tanto das razões que levaram Shakespeare a apropriar-se
desse universo “fora-do-texto”, quanto das funções elaboradas a partir desses excertos
Bíblia, usaremos como escopo, estudos em livros como o “The Bible in Shakespeare”
(2013), de Hannibal Hamlin, professor em Oxford e crítico inglês, que discorre sobre a
história crítica desses dois grandes pilares da cultura inglesa, como elas se afinam e
Por isso, a escolha deste livro de Hamlin, por ser uma poderosa fonte de consulta
para a variedade de temas bíblicos usados pelo dramaturgo em suas obras, entre elas, a
mesmo pode ser dito da obra do estudioso americano Naseeb Shaheen (1931- 2009).
Porém o diferencial para esse trabalho é sua exposição histórica das várias versões
bíblicas na época de Shakespeare, (. Algo que) aspecto sobre o qual não nos
aprofundaremos já que não temos acesso a todas elas. Ele também apresenta uma
peça do dramaturgo, a fim de que essas possam ser mais compreendidas e conhecidas
(, dois para cada tragédia estudada,) para cada uma das quatro grandes tragédias que
analítico vigente.
A escolha das traduções e dos tradutores foi concebida pelas versões mais
reconhecidas pelos estudiosos. Hamlet, Rei Lear, Otelo e Macbeth trarão as versões de
Barbara Heliodora sendo que em Hamlet será utilizada a tradução de Anna Amélia de
Queiroz Carneiro Mendonça. A outra tradução dessas obras ficou a cargo de Millôr
versão definitiva, mas, sim, como o do intérprete de uma geração, de uma estética ou de
uma leitura possível do autor, a pluralidade de traduções surge como muito positiva. Há
poetas que traduzem em prosa e estudiosos que dominam a rima e o metro decassílabo,
retradução contínua dos textos teatrais, então é mister uma “nova” geração de
tradutores. Cada tradutor tende a dar o seu tratamento às muitas dificuldades do texto,