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40 Anos 1

2 Fundação José Augusto


FUNDAÇÃO
José Augusto

40 anos
1963 - 2003

Natal - RN
2004
40 Anos 3
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
WILMA MARIA DE FARIA
Governadora

FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO


FRANÇOIS SILVESTRE DE ALENCAR
Presidente

4 Fundação José Augusto


A todos cujo trabalho e dedicação hajam contribuído,
direta ou indiretamente, para a consolidação
do que hoje é a Fundação José Augusto.
O Coordenador

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CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS JUVENAL LAMARTINE-CEPEJUL
Tarcisio Rosas, Coordenador
José Albano da Silveira, Subcoordenador

Coordenação do projeto e redação


Tarcisio Rosas

Revisão de texto
José Albano da Silveira e Rosane Braga Ponte
Revisão gráfica
Jorge Rodrigues da Silva
Pesquisa
Afrânio Pires Lemos
Aucides Sales
Clênia Maria de Luna Freire
Genildo Batista de Oliveira
Heitor Lopes Varella Filho
Heriberto de Andrade Pessoa
Jorge Rodrigues da Silva
José Albano da Silveira
Kátia Maria Gurgel Amaral
Maria Cândida Eugênio de Melo
Maria de Fátima Arruda
Rosane Braga Ponte
Sérgio Cunha de A. Mendes
Tânia Lúcia da Silva Cabral

Projeto gráfico
Jailton Augusto da Fonseca

Capa
Anchieta Xavier (foto)

6 Fundação José Augusto


APRESENTAÇÃO

O meu Governo está dando à cultura a prioridade


que ela merece. Eu prometi que a cultura seria tratada com
respeito e dignidade.
O trabalho que a Fundação José Augusto vem reali-
zando, sob o comando de François Silvestre, é uma prova
de que a minha promessa não foi discurso em vão.
A terra de Câmara Cascudo merece e deve tratar a
cultura popular com a dimensão universal que tem a obra
do mestre. O meu Governo encontrou o Estado em pro-
cesso falimentar. Inclusive aqui, na Fundação José Augusto.
Estamos trabalhando com todo o empenho e dedicação
para fazer o Rio Grande do Norte avançar no caminho do
desenvolvimento e da justiça social. E a cultura é elemento
contributivo para que consigamos alcançar esse objetivo.
A Revista “Preá”, no seu nº. 01, publicou uma frase
minha que quero repetir agora: O exercício do poder para
quem quer apenas o benefício próprio é fácil e agradá-
vel. Mas para quem o exerce com vistas ao bem comum
é ao mesmo tempo uma atividade honrosa e sofrida.
Meus parabéns para a Fundação José Augusto. Que
ela continue, como está agora, indispensável à cultura do
Rio Grande do Norte.
Wilma Maria de Faria

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8 Fundação José Augusto
NOTA DA PRESIDÊNCIA
A história da Fundação José Augusto confunde-se
com a vida cultural do Rio Grande do Norte. Nas últimas
quatro décadas não se pode falar de cultura, neste Estado,
sem que se lembre desta Fundação.
Há hiatos, algumas deficiências e deformações, mas
este não é o momento de cuidar dos defeitos.
Quero lembrar da utilidade da Casa. Desde sua cria-
ção por Aluízio Alves, em 1963, até este instante do Go-
verno Wilma de Faria, com o mais arrojado programa de
interiorização da ação cultural em toda a sua vida. Tudo
sob o comando da Fundação, cumprindo determinação
expressa da Governadora.
A publicação deste livro faz parte do processo de
reativação prática do Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal
Lamartine.
Além do elenco de obras físicas, inclusive com a res-
tauração do prédio onde funciona a Fundação, com a cria-
ção da Galeria Newton Navarro e do Espaço Cultural
Odilon Ribeiro Coutinho, é preciso acentuar a decisão po-
lítica de democratização do atendimento e da forma de
agir da administração da Entidade. Essa não é uma figura
de retórica; é uma prática, de constatação notória.
Não se promove ação cultural sem democracia. As
ditaduras não agem culturalmente. Elas deformam a cultu-
ra. As ações culturais, nas ditaduras, são caricaturas da arte.
Na escolha entre continuar participando dos even-
tos elitistas, legítimos, ou empregar a energia no apoio à
cultura popular, nós optamos pelo segundo gesto. Sem
demagogia ou populismo. O certo é que a elite tem como
prover sua diversão, bancando eventos culturais. O que nos
cabe é prover um mínimo de logística para que a camada
mais pobre da população tenha acesso à cultura que ela
própria produz. Ela produz e a elite desfruta. Essa defor-
mação tem de ser enfrentada.
Em resumo, taí o livro do CEPEJUL sobre a Funda-
ção José Augusto, nos seus quarenta anos. Parabéns para a
Casa e que tenha vida longa.

François Silvestre de Alencar

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10 Fundação José Augusto
PREFÁCIO
Não tem futuro quem não cuida do seu passado. A
frase que imaginei para pessoas é ainda mais válida para as
instituições. A Fundação José Augusto, por quatro decênios,
vem fazendo e preservando História, estimulando a criação
artística e intelectual, acreditando que a cultura é o meio de
superar as dificuldades do nosso povo. Nesses 40 anos
gloriosos, a Fundação passou a ser uma instituição essencial.
Até se poderia dizer que ela caracteriza o nosso Estado.
As pessoas que a integram participam do trabalho com
amor, além da coincidência feliz de serem escolhidos bons
administradores em governos diferentes. Assim, a
inteligência dos Presidentes concorreu para não haver
descontinuidade na obra da Fundação, quaisquer que
tenham sido os matizes políticos e psicológicos de cada
dirigente. A marca da personalidade de cada um permanece
incorporada no espírito da Fundação como a noção clara
da cultura e da história de Hélio Galvão, a lucidez criativa
de Ilma Melo Diniz, o conhecimento filosófico e
sociológico de Sanderson Negreiros, a arte na história de
Franco Jasiello, o humanismo de Cláudio Emerenciano, a
política hábil e solidária de Valério Mesquita, a visão
administrativa de Evilásio Leão, a capacidade de realização
de Paulo Macedo, a crítica e atividade corajosas de Woden
Madruga, o saber popular do médico, escritor e pintor
Iaperi Araújo. O nome faz parte do destino do homem.
François Silvestre tem cultura francesa, precursor como o
seu xará Rabelais, com o lirismo de Il Poverello de Assis e é
cidadão do mato, agreste, que, sob aparência urbana, é um
homem silvestre.
Acredito que o patrono José Augusto, a quem tive a
honra de suceder na Academia Norte-rio-grandense de
Letras, homem seridoense e universal, político de rigor
ético, tem influenciado com seu saber e postura ética os
dirigentes da Fundação. E continuará a iluminar os futuros.
Em verdade, decorridos 120 anos do nascimento de José
Augusto Bezerra de Medeiros (1884-1971) a sua orientação
é ainda continuada. Apontava para a necessidade do “saber
organizado”, indicando que “a inteligência e o saber
dominam todos os ramos da atividade social”. A Fundação,
40 Anos 11
com a inteligência e conhecimentos dos que a integram, é
agente de preservação e estímulo à cultura. Exerce influência
positivamente transformadora sobre a nossa comunidade.
José Augusto ocupou altas funções no Estado, como
Deputado Estadual e Federal, Governador, Senador da
República. Em todas as atribuições prevalecia o seu
sentimento de professor de História e Geografia do
Atheneu, instituição antecipadora da Universidade. Dirigiu
duas revistas nacionais de educação que tratavam da
transmissão cultural e que tiveram enorme influência no
país.
Além dos trabalhos de preservação histórica e das
manifestações culturais da comunidade, a Fundação tem
ampliado as suas atividades ao interior, com a implantação
das Casas de Cultura e as respectivas ações valorizadoras
da nossa identidade cultural. Tem reconhecido que não há
fronteiras entre as manifestações artísticas, populares ou
eruditas, que o bom poeta poderá ser um cantador de feira
ou um letrado de gabinete. A sua tarefa cultural tende a
harmonizar o homem do Rio Grande do Norte no seu
sistema de vida.
A Fundação José Augusto tem se associado a ações
das Universidades, da Academia de Letras e do Instituto
Histórico. É preciso notar que na Secretaria de Estado da
Educação, da Cultura e dos Desportos, os problemas de
educação são tão avassaladores que fazem esquecer a área
cultural, da qual a educação é apenas instrumento.
O turismo cultural é o futuro do nosso Estado. Os
primeiros passos para a integração com o turismo vêm
sendo dados. Será mais uma conquista da Fundação José
Augusto que aponta para o futuro.
Este é um livro básico. Nele se vê um registro da
história, das funções exercidas, dos órgãos que congregam
a Fundação e, até mesmo, é texto que examina a abertura
do amanhã. Neste livro até o apêndice é essencial. Porque
os padrinhos e as madrinhas são modelos iniludíveis da
Fundação e dos seus órgãos.

Diógenes da Cunha Lima

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................................................... 17

PRIMEIRA PARTE .................................................................................................................................................................................. 27


ANTECEDENTES HISTÓRICOS ..................................................................................................... 27
Considerações iniciais ......................................................................................................................................... 29
Contexto sociocultural de Natal, à época .......................................................................... 31
Finalidades da Organização .................................................................................................................... 39
(a) Comentário ......................................................................................................................................................... 40
NOTA PRELIMINAR ................................................................................................................................................. 43
Função Educacional – (1963-1974) ..................................................................................................... 44
Ação cultural
(a) Período de transição – (1975-1982) ................................................................................... 44
(b) Consolidação do processo – (1983-2003) ............................................................... 46

SEGUNDA PARTE .............................................................................................................................................................................. 49


PERÍODO INICIAL – (1963-1974) ................................................................................................................ 49
Encarte: Faculdade de Filosofia ............................................................................................................ 51
Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia .......................................................... 53
Instituto Juvenal Lamartine ..................................................................................................................... 61
Biblioteca Pública do Estado .................................................................................................................. 63
Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte ................................................... 65
Implantação da Gráfica Manimbu ............................................................................................... 67
Observações dos presidentes da época .................................................................................. 69

TERCEIRA PARTE ............................................................................................................................................................................. 79


PERÍODO DE TRANSIÇÃO – (1975-1982) ........................................................................... 79
Fase preliminar – (1975-1979) ................................................................................................................ 81
(a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal
Lamartine-CEPEJUL e de Desenvolvimento Cultural-CDC ......... 81
40 Anos 13
(b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED e
surgimento do Centro de Recursos Humanos-CRH ................................................. 84
(c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica .................... 86
Fase complementar – (1980-1982) ............................................................................................................ 89
Reestruturação administrativa:
(a) Criação dos Centros de Documentação-CDC e de Promoções
Culturais-CPC ......................................................................................................................................................... 89
Encarte: Organograma da FJA (1979) ................................................................................... 93
(b) Redimensionamento do CRH ............................................................................................... 95
(c) Reativação do CEPEJUL .............................................................................................................. 96
(d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas ..................................... 98
Observações dos presidentes da época ................................................................................. 101

QUARTA PARTE ...................................................................................................................................................................................... 111


CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA – (1983-2003) ................................................................ 111
Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine ................................................. 113
Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza-CDC .............................. 121
(a) Subcoordenadoria de Documentação ................................................................... 122
(b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico ................................ 124
(c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito ................................ 130
(d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo ............................................. 131
(e) Sistema Estadual de Museus ........................................................................................... 134
Centro de Promoções Culturais-CPC ..................................................................................... 145
(a) Cultura popular, principais projetos .................................................................... 148
(b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton
Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da
Cultura ..................................................................................................................................................................................... 156
Outros segmentos de difusão cultural .............................................................................................. 161
(a) Área teatral
Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Filho; Centro Cultural
Dep. Adjuto Dias ................................................................................................................................................................ 162
(b) Área musical
Instituto de Música Waldemar de Almeida-IMWA, Corais Canto
do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte,
Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incentivo às Bandas de Mú-
sica do Estado ............................................................................................................................................................. 168
(c) Área Literária .............................................................................................................................................. 177
Conselho Editorial-CONEDI ............................................................................................................. 178
Concursos e premiações ............................................................................................................................... 180
Obras e autores publicados ..................................................................................................................... 181
Núcleo de Literatura ........................................................................................................................................... 192

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Presidentes da época ........................................................................................................................................... 195

QUINTA PARTE ........................................................................................................................................................................................ 203


ATIVIDADES COMPLEMENTARES ................................................................................................ 203
Centro de Recursos Humanos-CRH ................................................................................................ 205
Contribuição da Gráfica Manimbu ....................................................................................................... 206
Informação e divulgação: Ass. de Imprensa; Jornais e Revistas ....... 206
Informações sobre o Arquivo da Fundação ............................................................................ 212
Projetos produzidos
(a) Considerações iniciais ................................................................................................................. 215
(b) Projetos produzidos, por área ................................................................................................... 215

SEXTA PARTE ........................................................................................................................................................................................... 229


INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES ......................................................................................... 229
Referências históricas sobre o prédio-sede da Fundação ............................ 231
Lei Câmara Cascudo ............................................................................................................................................ 234
Encarte: Grupo Escolar “Antônio de Souza” (1923) .............................................. 235
Depoimentos de ex-funcionários ............................................................................................................... 237
Prognósticos dos ex-presidentes ........................................................................................................... 244
Interiorização da ação cultural ............................................................................................................ 245
Encarte: Fachada atual da Fundação José Augusto ................................................. 247
Comentário final ............................................................................................................................................................ 249

APÊNDICE ............................................................................................................................................................................................... 251


PATRONOS E MADRINHAS
(dados biográficos) ....................................................................................................................................................... 253
GLOSSÁRIO ................................................................................................................................................................................ 319

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16 Fundação José Augusto
Introdução

Muito embora a comunidade norte-rio-grandense saiba, grosso


modo, o que é a Fundação José Augusto, poucos têm a percepção clara do
que ela representa no contexto histórico-cultural do Estado. Suas
intervenções, precedidas de divulgação, caracterizam-na de forma
inconfundível como o instr umento da estr utura administrativa
governamental encarregada de promover a cultura ou, dito de modo mais
preciso, de formular e executar a política cultural no âmbito do Rio Grande
do Norte. Isto, porém, se a define, não diz tudo.
Entendemos que, formalmente, há uma distinção essencial entre o
simples conhecimento do que à Fundação compete e a sua substância; entre
o seu quefazer e o como o faz; entre o exclusivismo de sua proposta (o
fenômeno cultural) e o universalismo de sua ação (a multiplicidade de
manifestações). Nesta perspectiva, até o momento não se havia tentado a
sua abordagem.
Diga-se, de início, que, interagindo com o campo vasto da sociedade,
cuja característica básica é a interpenetração dinâmica de valores e
experiências – um constante entrechoque de idéias e concepções – e, por
outro lado, subordinando-se a dois fatores também cíclicos, o político e o
econômico, esta Entidade modificou-se no tempo, ora limitando suas
intenções ou as expandindo, utilizando de forma plena ou moderada suas
potencialidades, elegendo como prioridades aspectos infra ou
superestruturais e, enfim, considerando tal ou qual manifestação como
suporte programático a períodos de curta, média ou longa duração. A partir
de 1994-95, por exemplo, com a implantação de uma nova política
econômica no país, portanto com a adoção de novos conceitos no trato
orçamentário, foram suscitadas radicais alterações programáticas em todos
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os setores da administração pública. Dessa reavaliação geral resultou
drástica redução no ritmo de atividade do órgão, fazendo-o verter-se
especialmente para intervenções na capital, em detrimento dos demais
municípios.
Como se vê, a questão não é tão simples.
Evidencia-se que, no decurso destes quarenta anos, oscilando ao acaso
de tais variáveis, viu-se compelida por diversas vezes a alterar sua estrutura
organizacional de sorte a adaptá-la às diferentes situações.
Sua apreensão, pois, depende da visão de conjunto, de um
conhecimento objetivo e claro de todas as fases do seu trajeto, dos meios
então disponíveis e de eventuais percalços com que se terá defrontado.
Em outras palavras, se a definição programática está subordinada às
inconstâncias político-econômicas e sociais, o seu tratamento e execução
dependem da qualificação dos recursos humanos e das disponibilidades
dos meios materiais.
Há, assim, vários fatores intervindo, constituindo cada meta
estabelecida e cada objetivo perseguido uma exaustiva síntese de valores,
concepções, experiências, qualificação profissional, respeito às diretrizes
políticas e contenção nos quase sempre estreitos limites orçamentários.
Afora o sentido informativo à comunidade potiguar sobre o que tem
representado a Fundação José Augusto ao longo de sua existência, dois
objetivos fundamentais pretendemos atingir, com o presente estudo:
preservar a história da instituição e subsidiar nossos quadros
administrativos e técnicos com um resumo de elementos capazes de levar
a uma avaliação do seu desempenho, desde a sua origem aos nossos dias.
A preservação da memória justifica-se por seus próprios fins: como exercer
a função de repositório do acervo cultural do Estado quando, sequer,
consegue fazê-lo em relação aos fatos que conformam sua própria
evolução?... Quanto à avaliação, é elementar sua importância para a
realimentação do sistema, para a manutenção e/ou circunstancial correção
de rumo.
Certamente, não foi uma tarefa fácil. O considerável volume de
documentos e, nestes, de informações e dados a manipular – verificando-
os, cotejando-os e os interpretando –, exigiu-nos não só recursos técnicos
e estruturais como, inclusive, uma atenção redobrada, uma vigilância
constante, considerando que não estávamos reconstituindo os principais
momentos de algo perdido no tempo, de algo estático cujas imagens e
sucessos pertencessem a um instante dado do passado remoto (um sítio
arqueológico ou um monumento histórico, por exemplo) mas, ao contrário,
18 Fundação José Augusto
de um mecanismo vivo, pulsante, participativo e integrado à estrutura
administrativa governamental, lutando por avanços mas sujeito a
retrocessos – pelos já mencionados incidentes de percurso –, com sentido
e fins definidos.
Destarte, enquanto revolvíamos os nossos arquivos e analisávamos o
significado e a importância de cada registro, mantínhamo-nos à escuta
dos projetos e realizações da atualidade, procurando assimilar a seqüência
lógica dos fatos e acontecimentos, compreender-lhes a sintonia para, enfim,
estabelecer um parâmetro de abordagem de modo a assegurar a versão
mais exata possível de como eles se deram.
Cremos haver atingido o nosso propósito, mesmo porque nos
ativemos aos fatos e poucos foram os momentos em que nos detivemos
em apreciações subjetivas, considerando que nunca se é de todo isento,
numa narrativa; há, sempre, o crivo de uma interpretação, especialmente
quando se teve a vivência emocional de significativa parcela de tais
momentos.
Alguns dos ex-presidentes do Órgão também se manifestam, nas
próximas páginas (os depoimentos são de 1993). Julgaríamos incompleto o
trabalho não fora a visão de cada um deles sobre o respectivo período e
as perspectivas da Fundação, segundo sua ótica. Deles ouvimos, ainda,
palavras de estímulo, com lúcidas mensagens e apreciações sobre o processo
cultural norte-rio-grandense, pelas quais, neste instante, formalizamos sinceros
agradecimentos, bem como ao atual Presidente, François Silvestre de
Alencar, cujo incentivo e apoio foram decisivos para a editoração desta
pesquisa.
É de tal soma de elementos que ressalta, a seguir, a realidade não de
todo apreendida sobre a Fundação José Augusto, tantas vezes julgada de forma
precipitada e, portanto, depreciativa. Não nos moveu o propósito de enaltecer-
lhe a existência e atuação, longe disso. Não se trata de um preito de
homenagem, de rebuscado e estéril cântico de exaltação mas, sim, de proceder
à exumação e recomposição dos fatos que a fazem para que a melhoremos.
A verdade, em síntese, é o propósito que nos anima e o fim que nos
dirige.
Outro assunto. Queremos registrar, aqui, nossos agradecimentos a
diversos colaboradores que nos cederam informações e/ou fotografias não-
existentes em nossos arquivos.
Agradecemos especialmente a Ducineide Rodrigues da Silva, nossa
colega de Fundação, a qual desde o primeiro instante nos facultou amplo acesso
aos arquivos da Casa.
Tarcisio Rosas

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Ata de instalação dos
Conselhos Curador e Diretor
da Fundação José Augusto
(03.06.1963)

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22 Fundação José Augusto
40 Anos 23
24 Fundação José Augusto
40 Anos 25
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PRIMEIRA PARTE

ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Considerações iniciais ........................................................................................................................................ 29
Contexto sociocultural de Natal, à época ......................................................................... 31
Finalidades da Organização .................................................................................................................... 39
(a) Comentário ..................................................................................................................................................... 40

NOTA PRELIMINAR
Função Educacional – (1963-1974) .................................................................................................. 44
Ação cultural
(a) Período de transição – (1975-1982) ....................................................................... 44
(b) Consolidação do processo – (1983-2003) .................................................... 46

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28 Fundação José Augusto
Considerações iniciais
Criar uma instituição pressupõe não só a implementação de um
complexo conjunto de medidas jurídicas e administrativas mas, inclusive
e sobretudo, a clara percepção, por parte de quem a tal se decida, de sua
real e efetiva necessidade. Os fatores possíveis, capazes de suscitar tal
percepção, são múltiplos, contudo. Há quarenta anos, nascia a Fundação
José Augusto; quais as razões causais, deter minantes, que terão
concretizado este fato?
Entendemos que, mesmo coexistindo motivos diversificados,
seguramente um fator terá contribuído de for ma significativa: a
insatisfação da comunidade com as limitadas alternativas artístico-
culturais existentes.
Com efeito, operava-se no Estado – especialmente nesta cidade –
uma efervescência natural, sedimentada ao longo de vasto período de
maturação, dando origem a um clima no qual, inelutavelmente, algo
deveria ocorrer, quanto à ação cultural: se não a criação, por parte do
Governo Estadual, de uma instituição para tal vocacionada, pelo menos
o exercício efetivo, pela Secretaria de Estado da Educação, da Cultura e
dos Desportos-SECD – por exemplo – desse papel. Em outras palavras,
se não tivesse sido criada a Fundação José Augusto, naquele momento
histórico, alguma outra entidade, de qualquer esfera administrativa,
necessariamente assumiria as responsabilidades que lhe foram
incorporadas e confiadas.
Mas, por que isso, qual o impositivo essencial, orgânico, que terá
incidido nas raízes daquele ato, afinal puramente administrativo?...
40 Anos 29
Desportos-SECD –
Para fixarmos com mais objetividade e, portanto, nitidez, o nosso
racíocinio, recuemos um pouco no tempo, às décadas de 40 e 50, nas
quais o comportamento da sociedade natalense, apesar do impulso
tomado nos anos de participação brasileira em eventos da Segunda Guerra
Mundial, longe estava do que se poderia chamar de revolucionário e
inovador.
Foto: Jaecy (acervo Marcos Pedroza)

30 Fundação José Augusto


Contexto sociocultural de Natal, à época
É comum dizer-se que Natal, embora em inegável processo de expansão
e modernização, guarda, ainda, alguns resquícios provincianos. Mesmo agora,
despontando como promissor núcleo turístico regional, para isso contando
com uma rede hoteleira integrada aos padrões tidos pela Empresa Brasileira
de Turismo-EMBRATUR como plenamente satisfatórios, dispondo de vida
noturna com boas alternativas, como de uma malha viária bem distribuída e
modernizada, além de um comércio, se não portentoso, descentralizado e de
variadas opções, revelando, enfim, alguns indiscutíveis traços de metrópole
emergente, ainda mantém um certo encanto de província, rematado pelo caráter
psicológico de seu povo, de ordinário bastante acolhedor.
Isto é um fato. As arrojadas linhas arquitetônicas do campus universitário,
do centro administrativo, do estádio de futebol, da catedral metropolitana,
de dezenas de edifícios, viadutos, complexos residenciais e comerciais, assim
como a base de lançamento de engenhos espaciais, o centro de treinamento da
Força Aérea Brasileira, o belo traçado da via costeira e, sobretudo, a
mentalidade aberta e comunicativa dos seus mais de setecentos mil habitantes,
entre outros indicadores, não chegam a disfarçar aquela peculiaridade já
integrada à própria personalidade urbana.
Não vai longe o tempo, porém, em que, despida desses elementos,
assumia convictamente sua condição de cidade modesta, pacata, ordeira, cujos
únicos atrativos, afora a legendária Fortaleza dos Reis Magos, eram
simplesmente os da natureza – pródiga, aqui, sem dúvida.
Com efeito, até meados da década de 50, Natal se portava, pra-
ticamente, como uma “cidade-satélite” de Recife, cujo poder catalisador e
40 Anos 31

Via Costeira
centralizador, em quase todas as áreas, abrangia substancial parcela da região,
envolvendo predominantemente os municípios de João Pessoa e Natal, ao
norte, e os de Maceió e Aracaju, ao sul (se bem que este último também
subordinado à força de atração de Salvador), afora a maioria das cidades
interioranas contidas no espectro desse raio de abrangência. A influência de
Fortaleza, também ponderável, era exercida especialmente sobre outras
partes do Estado, como as microrregiões do Oeste Potiguar, Salineira Norte-
rio-grandense e do Seridó.
Assim, partindo de uma maior significação econômica no contexto da
Federação, aquelas capitais, sobretudo Recife, sediavam as entidades federais
mais importantes, os comandos militares, vários consulados e outras
representações estrangeiras, empresas de maior expressão, etc., com o que
se reciclavam permanentemente em suas respectivas infra-estruturas urbanas
(indústria, comércio e serviços), reordenando seguidamente seu processo
de desenvolvimento, o que, até certo ponto, persiste: note-se que os dois
órgãos de maior expressão, do ponto de vista do desenvolvimento regional
– o Banco do Nordeste do Brasil e a SUDENE –, estão sediados exatamente
naquelas capitais. Convém assinalar que, se a SUDENE foi virtualmente
extinta no Governo Fernando Henrique Cardoso, está em processo de
reabertura na administração atual.
Seguindo a regra geral, a cidade não dispunha de uma universidade.
Afora a Escola de Serviço Social (1945) e as Faculdades de Farmácia e
Odontologia (1947) e de Direito (1949), todas então recentes e, portanto,
sem tradição, não havia outras opções. Sua proximidade de Recife e Fortaleza
tornava cômoda aquela situação de quase indigência cultural, pois as famílias
mais abastadas, de onde seria de esperar alguma iniciativa de natureza
reivindicatória, mantinham-se em atitude passiva, simplesmente
encaminhando os filhos àqueles centros, quando não para capitais mais
prósperas, enquanto as demais se atinham às limitadas perspectivas dos
cursos de nível médio, então Científico, Clássico, Pedagógico e
Contabilidade. Repetia-se, regionalmente, o comportamento do começo
do século, quando as elites brasileiras mandavam os seus descendentes
estudar na Europa.
Portanto, a cada ano partiam daqui centenas de estudantes, dentre os
quais gratas promessas no campo intelectual, como única possibilidade de
darem seqüência ao seu aprendizado e de assegurarem uma formação
profissional condizente com o nível de aspiração do meio a que pertenciam.
Muitos deles jamais tornariam a Natal, vez que o processo natural de fixação
do indivíduo ao ambiente (trabalho e família) os reteria, inexoravelmente.
32 Fundação José Augusto
Mas tal estado de coisas não poderia perdurar, indefinidamente. O
crescimento populacional, a modernização administrativa e, apesar de lento,
o desenvolvimento econômico do município requeriam um volume de mão-
de-obra qualificada cada vez maior.
Finalmente, em 1958, durante O Governo Dinarte Mariz, era criada
oficialmente a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte-UERN.
Aquele ato vinha coroar a luta e a perseverança de um grupo de abnegados,
tendo à frente o Dr. Onofre Lopes da Silva, que seria com muita justiça o seu
primeiro reitor. Desde então não só foi significativamente contida a prefalada
evasão como, inclusive, abriram-se novas perspectivas para aquelas famílias
menos abastadas, a cujos filhos era dificultado o acesso ao ensino superior.
Este acontecimento trouxe profundos reflexos para o desenvolvimento
de Natal, com nítida repercussão na área da cultura.
Efetivamente, ampliada a faixa de indivíduos com formação
universitária, pouco a pouco ressaltaria com maior clareza a fragilidade da
infra-estrutura cultural do Estado. Tínhamos artistas, claro; sempre os
tivemos. Faltava-nos era um instrumento adequado à sua identificação e à
abertura de caminhos que lhes permitissem ou, quando menos, lhes
facilitassem a comunicação estética através das múltiplas formas de
manifestação (música, dança, poesia, pintura, estatuária, etc.), assim como
ao estudo organizado dos fatos históricos, e que fosse, ainda, adequado a
futuras intervenções, do ponto de vista técnico-administrativo, no arcabouço
da fenomenologia sociocultural norte-rio-grandense.
Em princípios da década de 60, persistia o marasmo na vida cultural
da cidade e, por derivação natural, do Estado. Claro, as insatisfações eram
crescentes pois não havia, ainda, qualquer estrutura institucional dedicando-
se, formal e sistematicamente, à exploração dos valores tradicionais da cultura
local, e todas as iniciativas neste campo eram absolutamente isoladas,
estanques.
Afora o Teatro Alberto Maranhão, discretamente utilizado, o Estádio
Juvenal Lamartine – que, além de futebol, servia de palco a shows artísticos,
cerimônias religiosas e, até!, a jogos de bingo –, alguns clubes sociais de
tradição, tais como o Natal Clube, no centro da Cidade Alta; o Aero Clube
e o América no Tirol; o Alecrim Clube, no bairro do mesmo nome, os cinemas
São Luiz, São Pedro, Rex, Rio Grande e Nordeste, este, aliás, à época com
alguns anos de existência, pouco mais era oferecido por Natal, em termos
de entretenimento, lazer e arte. A Rádio Poti promovia dois programas de
auditório semanais – “Vesperal dos Brotinhos”, aos sábados, e “Domingo
Alegre” – e no centro do Alecrim havia um espaço cultural, o “Quitandinha”,
40 Anos 33
onde eram realizadas esporádicas apresentações artísticas e as grandes
concentrações públicas da cidade.(1)
Um outro ponto de encontro foi o Bar e Sorveteria Oásis, inovação no
estilo de bar, essencialmente juvenil (talvez mesmo por tratar-se, inclusive, de
uma sorveteria), instalado numa área de boemia consagrada. Situava-se anexo
ao Cinema Nordeste, na Rua João Pessoa, esquina com a Rua Dr. José Ivo, o
chamado Beco da Lama, pontilhado de botecos ao longo de décadas, de
ordinário freqüentado por artistas e escritores – o poeta Jorge Fernandes
escreveu versos em suas mesas, Newton Navarro e Bosco Lopes eram habitués
–, proximidades do famoso Bar do Nasi e não distante dos bares Dia e Noite,
ao lado do Edifício Sisal, também na Rua João Pessoa, e Acácia Bar, este na
Avenida Rio Branco, vizinho à Casa da Música, de Gumercindo Saraiva.
Nos períodos festivos, porém, como no carnaval e nos ciclos junino e
natalino, sobretudo durante a administração do Prefeito Djalma Maranhão
(1961-1964), as artes e a cultura populares passaram a ser objeto de atenção,
notadamente em espetáculos folclóricos da nau-catarineta, do pastoril, dos
bois, presépios e lapinhas; das pitorescas batalhas carnavalescas nos diversos
bairros da cidade. Uma concha acústica, erguida no centro da Praça André de
Albuquerque naquela época, concentrava muitas dessas iniciativas, operando
como elemento catalisador e disseminador da cultura do povo. Foi, contudo,
um esforço fugaz, face aos acontecimentos políticos que seriam desencadeados
a partir de 31 de março daquele ano de 1964.
Ademais, a centenária fortaleza não passava de monumental relíquia,
com sua dimensão histórica e o seu valor cultural esquecidos ou relegados
aos escaninhos das bibliotecas e à memória de alguns fiéis e insistentes
pesquisadores. Àquela época não havia, a rigor, museus, exposições,
concertos, festivais, concursos, editorações ou quaisquer outros eventos
que denunciassem, mesmo de longe, iniciativas do gênero com um mínimo
de regularidade. Claro, de tempo em tempo, a largos espaços
assistemáticos, surgia um artista, um grupo, uma trupe; era encenada uma
peça, lançado um livro ou realizada uma exposição itinerante oriunda quase
sempre do sul do país, às vezes de Recife ou Fortaleza. Qualquer desses
eventos, contudo, constituía grande acontecimento, dada a raridade de
____________________
Essa estrutura, localizada na Praça Gentil Ferreira, no cruzamento da Avenida Presidente Bandeira com
(1)

a Rua Amaro Barreto, era uma sólida construção, em alvenaria, constando de bar e lanchonete na parte
térrea e, sobre a cobertura - amplo espaço em concreto -, uma espécie de “tribuna popular”, servindo tanto
para manifestações estudantis e de trabalhadores, como para apresentações artísticas e manifestações
políticas. Ali estiveram presentes e fizeram comícios personalidades como Getúlio Vargas, João Goulart,
Leonel Brizola, Juscelino Kubitschek, Juarez Távora, Tancredo Neves, Carlos Lacerda e Jânio Quadros -
entre outros -, da vida pública nacional, e políticos potiguares, como Café Filho, Dinarte Mariz, Djalma
Maranhão, Djalma Marinho, Georgino Avelino, Aluízio Alves, Cortez Pereira, etc. Naquele local, via de
regra, ocorria o encerramento das campanhas eleitorais.

34 Fundação José Augusto


Foto: Anchieta Xavier

Perspectiva do Beco da Lama, no centro de Natal.

40 Anos 35
ocorrências. Aquelas doses homeopáticas de arte e cultura eram, realmente,
extremamente esporádicas.
Provavelmente data daquele período a conhecida frase, tantas vezes
repetida por pessoas da terra quando em viagem para centros mais evoluídos:
vou tomar um chá de cultura!, figurando a imensa desigualdade entre a então
desprovida Natal e os núcleos urbanos com atividade cultural mais intensa.
Com efeito, não raro ia-se a Recife ou Fortaleza – por exemplo – apenas para
ver um filme ou uma peça teatral, assistir a um concerto sinfônico ou, até!,
consultar uma biblioteca. João Machado, jornalista talentoso e irreverente, tipo
humano dos mais espirituosos desta cidade rica de tipos humanos, costumava
dizer que Natal era uma fazenda iluminada, o que resume de forma eloqüente o
que vimos reiterando.
Essa realidade está refletida, ainda, nas palavras do ex-Governador
Aluízio Alves, mentor e criador da Fundação José Augusto, em depoimento
ao jornal “O Galo”, em junho de 1993: Até o meu Governo, o Estado não
tinha uma política cultural. As raras atividades desse setor eram atribuídas à
Secretaria de Educação que, com as tarefas próprias e os encargos dos convênios
com a Aliança para o Progresso , não dispunha nem de tempo nem de recursos
para promover estímulos à cultura. Reflete um pouco e completa:
Dei o primeiro sinal dessa preocupação quando realizei, na Lagoa Manoel
Felipe, que transformei em espaço cultural na época, o 1º. Festival do Escritor
Norte-rio-grandense. Trouxe conterrâneos residentes em vários Estados, até então
desconhecidos, para lançar aqui os seus livros, e escritores nacionais para
prestigiar o evento e atrair o público que, certamente, não iria (apenas) ver
escritores conhecidos. Jorge Amado foi a principal estrela do Festival. E reitera:
Mas era necessário ter uma política cultural permanente e (antes disso, claro!)
os instrumentos para criá-la e implementá-la.
Observe-se que, de uma forma ou de outra, urgia uma tomada de posição
pelos poderes constituídos. A carência era tão grande e a pressão de certos
segmentos comunitários (setores da universidade, da imprensa e da população)
tão intensa, que algo deveria ser feito.
Então, algo foi feito:
Com Hélio Galvão, além de jurista um grande escritor, estruturei a Fundação
José Augusto, que, sem as exigências burocráticas da administração direta, poderia
exercer essa tarefa. (...) À Fundação caberia, além de ações culturais da maior amplitude
– desde (a promoção de) semanas de jazz e (escola) de pintura infantil, até a
estruturação do Instituto Juvenal Lamartine, que pretendia fosse réplica norte-rio-
grandense do Instituto Joaquim Nabuco, para pesquisas, realização de seminários,
acompanhamento de nossa vida social, econômica e política, e a Escola de Jornalismo
36 Fundação José Augusto

fosse réplica
Foto: Arquivo da FJA /CDC

Ex-Governador Aluízio Alves, em depoimento ao jornal “O Galo” (junho, 1993).

40 Anos 37
Eloy de Souza, que não deveria ser um simples curso de comunicação, mas um
instrumento de formação de comunicadores que conhecessem o Nordeste e pudessem
levar, para a imprensa local e a do sul, para a qual boa parte se deslocava, a preocupação
e a visão do nosso drama e das nossas perspectivas.
Na Fundação pusemos, também, a Faculdade de Filosofia, particular,
que encampamos para que não fechasse, entregando-a a Edgar Barbosa, e a
Escolinha de Arte Cândido Portinari, confiada a Newton Navarro.
Começamos, então, a formação de recursos humanos para os vários setores.
Iniciamos a edição de livros há muito esgotados, como os de Ferreira Itajubá, Palmira
Wanderley e outros, e já encomendávamos livros com a história de todos os municípios,
continuando a série que iniciáramos, em 1943, através de uma iniciativa particular,
a Biblioteca de História Norte-rio-grandense. Adquirimos a gráfica, necessária a
essas atividades.
Várias transformações sofreu a Fundação José Augusto, após o trabalho inicial
do meu Governo. Para a Universidade Federal foram transferidas a Faculdade de
Jornalismo, seu atual Curso de Comunicação, e a Faculdade de Sociologia. O Instituto
Juvenal Lamartine perdeu seus objetivos iniciais. Conclui seu depoimento o
ilustre potiguar dizendo ter a expectativa (...) de que nenhum interesse menor
possa fraudar o sonho para cuja realização ela foi criada.

38 Fundação José Augusto


Finalidades da Organização
A Fundação José Augusto, entidade autônoma com personalidade
jurídica de direito privado, foi criada pelo Decreto-lei nº. 2.885, de 8 de abril
de 1963, do Governo do Estado do Rio Grande do Norte que, como já vimos,
à época era exercido pelo Exmº. Sr. Dr. Aluízio Alves. Outros instrumentos
legais, no decorrer do tempo, alterariam alguns dos dispositivos constantes
nessa lei original, bem como sua própria estrutura, extinguindo e criando novos
setores operacionais.
Assim, num primeiro momento, uma de suas funções básicas foi a de
aglutinar e manter outras organizações que lhe eram preexistentes, como a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal, o Instituto Juvenal
Lamartine, a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza e o Museu de Arte e
História, bem como a de criar e manter a Biblioteca Pública do Estado (que
só entraria em funcionamento efetivo a partir de 1969), que passaram a
constituir o seu arcabouço institucional. Além desses órgãos, sua estrutura
compreendia os Conselhos Diretor e Curador, conforme dispõem os Art.
3º. e 6º. da citada lei.
A Fundação está bastante modificada, tendo perdido seu caráter
especialmente educacional daquele período e enfatizado, em contrapartida, o
projeto de ação cultural. A propósito, é interessante cotejar suas finalidades,
expressas no início das atividades e como se colocam, atualmente.
Na origem, destina-se a uma ação cultural e científica, privilegiando no
entanto esta última área, conforme estabelece o Decreto nº. 4.068, de 29.05.63,
que institui o órgão, em seu Art. 4º., letras “c” e “e”, onde consta que à
Fundação compete:
40 Anos 39
(a) “concorrer para melhor compreensão dos problemas regionais e
locais, propiciando seu estudo e debate, constituindo-se em centro de
alta cultura, de pesquisa e documentação para sistematizar e divulgar
conhecimentos técnicos” e
(b) “incentivar o trabalho científico e estimular a formação de pessoal
técnico e especializado para atender às exigências do desenvolvimento
econômico e industrial da região”.

Hoje, como se sabe, há uma definição vocacional mais diretamente


vinculada à ação cultural. Quanto às suas finalidades, o texto em vigor, definido
no Decreto nº. 7.789, de 10.12.79, Art. 1º., é bastante claro: “(...) promover o
desenvolvimento sociocultural e científico do Estado...”
Muito embora não se possa dizer que, explicitamente, há uma alteração
formal de suas finalidades, é notável a diferença dos enunciados, considerando
que, no primeiro deles, dá-se o detalhamento das ações a serem implementadas,
isto é, através de “estudos, pesquisas, documentação, divulgação dos
conhecimentos produzidos, incentivo ao trabalho científico e estímulo à
formação de técnicos especializados”, o que, certamente evidencia o lado
científico de seus objetivos, diversamente do que ocorreu na redação do decreto
ora vigente, sensivelmente priorizando a ação cultural.
A aparente divergência se explica, provavelmente, nos cursos
universitários e no Instituto de Pesquisas que mantinha.
Com efeito, quando as faculdades de Filosofia e de Jornalismo foram
incorporadas à UFRN, a exemplo do que ocorreria com a Faculdade de
Sociologia e Política, até então integrada à estrutura do Instituto Juvenal
Lamartine de Pesquisas Sociais, esvaziou-se, de certa forma, essa sua
finalidade. Quanto ao Instituto Juvenal Lamartine, seria transformado em
Centro com a Lei nº. 4.403, de 23.10.74, mas um ano depois desativado
(justamente com a transferência do curso de Sociologia), retornando, enfim,
com a reformulação organizacional da Entidade em 1979, desta feita
definitivamente com o status de Centro, permanecendo até hoje. (V. p. 91).

(a) Comentário
Conforme vimos, havia uma tríplice proposta nos objetivos da
Instituição, originalmente. A educacional, caracterizada nos cursos
superiores de Filosofia, Jornalismo e Sociologia; a cultural, então
especialmente desempenhada na realização de conferências e círculos de
debates sobre aspectos relevantes da realidade sócio-político-cultural e
40 Fundação José Augusto
científica regional, e a científica ou de pesquisa, na incorporação e
operacionalização do Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais.
Certamente tais enfoques foram alvo de inúmeros programas e projetos,
naqueles anos iniciais, perdurando até meados da década de 70. Contudo, como
todo sistema complexo, esta Entidade sofreria alterações em seu dinamismo,
sempre convergindo para o reordenamento de sua estrutura e de suas
metodologias face às exigências político-econômicas e culturais que lhe iam
sendo impostas pelo desdobramento dos fatos – no decorrer daquele período
histórico. As leis e decretos, também já mencionados, que pontilham ao longo
de sua trajetória, suscitaram pequenas alterações ou estabeleceram radicais
transformações em suas respectivas épocas, como no caso do Decreto nº.
4.923, de 17 de dezembro de 1979, dotando a Fundação de uma estrutura
organizacional sobremodo diferenciada da de suas origens e, mesmo, das
imediatamente precedentes.
Claro, por trás de tudo isso encontra-se, disfarçada ou claramente, a
dinâmica social e a cultura, por sua própria natureza, é especialmente dinâmica.
Uma organização tradicional, como banco, tribunal, firma comercial etc., pode
permanecer décadas a fio sem mudanças substantivas em seus procedimentos
básicos, limitando-se apenas a um ajustamento tecnológico do seu desempenho
ao progresso. Um órgão cultural, diversamente, está sujeito à vasta soma de
elementos que diuturnamente influem em significativas, às vezes abruptas,
correções de curso.
Assim, a multiplicidade das manifestações populares, os
compromissos com datas e fatos históricos, a repercussão dos eventos
promocionais, a susceptibilidade dos produtores culturais, a insatisfação
das elites, o choque cultural, as pressões políticas, os radicalismos e a
severidade da crítica – afora a manifesta ausência de tradição, no País, no
trato administrativo das questões vinculadas à área cultural, nunca encarada
como prioridade, entre outros fatores, constituem alguns desses elementos
intervenientes.
Portanto, se ocorreram alterações, e isto é um fato, elas surgiram a partir
de necessidades que costumam ressaltar do seio da própria comunidade,
nascendo e se impondo aos múltiplos processos interagentes que sustentam e
vitalizam a estrutura social.
Mas, não só em termos oficiais, na ordem jurídica, ia se consolidando tal
complexo de mudanças. Sempre antecedendo às medidas técnico-
administrativas e legais, operava-se pouco a pouco uma transformação nos
indivíduos que, por isso mesmo, as promoviam, reformulando o seu modo de
observar, captar e analisar as situações, reorientando os seus pontos de vista e,
40 Anos 41
enfim, revertendo tal conhecimento e experiência em modificações nos
instrumentos e formas de ação e de intervenção na realidade.
Porém, se mudava a forma, permaneciam os seus objetivos, afora a
função educacional, com a passagem dos cursos universitários para a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (o primeiro deles, Filosofia,
em 1969; o de Jornalismo, em 1974, e o último, Sociologia, no segundo semestre
de 1975). Enquanto esses estiveram sob a responsabilidade do Órgão, todavia,
constituiam-se na sua mais importante linha de ação, mesmo porque muitas
das iniciativas culturais partiam dos respectivos Diretórios Acadêmicos.
Quanto à proposta científica, explícita no decreto de criação e implícita
na operacionalização do Instituto de Pesquisas, a cuja estrutura pertencia a
Faculdade de Sociologia e Política, era desenvolvida não só na ação desses
organismos mas, inclusive, em seminários e debates sobre temas afetos, sempre
bastante sugestivos, como os que se seguem: O Impacto do Urbano sobre a
Personalidade do Homem Contemporâneo, Alternativas para um
Desenvolvimento Integrado, Antropologia e Desenvolvimento, A Questão
Agrária Nordestina e Perspectivas do Desenvolvimento Agrícola Integrado,
Visão Atual da Ciência Política e muitos outros.
Mas foi na área cultural que, enfim, a Fundação encontrou mais
marcadamente sua posição, perante a comunidade norte-rio-grandense.
Com efeito, com a saída dos cursos, a partir de 1975, voltou-se a Entidade
para as suas demais atribuições, encontrando no componente cultural, até então
com discreta participação – grosso modo, de cunho elitista –, o seu caminho
efetivo e definitivo.

42 Fundação José Augusto


NOTA PRELIMINAR
Para uma mais clara percepção do desenvolvimento da Fundação José
Augusto, no decorrer dos seus primeiros quarenta anos de existência, podemos
estabelecer, informalmente, a ocorrência de dois períodos, mais ou menos
personalizados, nos quais predominaram certa ordem de interesses e, pois, de
tendência programática mais ou menos específica.
O primeiro desses períodos é bem demarcado: surge com a criação do
órgão, em 1963, e vai até 1974; o segundo, contudo, poderia ser subdividido
em três momentos, quais sejam, 1975 a 1979, 1980 a 1982 e, desde então, até
esta parte, não fossem demasiado sutis as diferenças. Adiantamos, porém, que
se trata de mero recurso metodológico, sem maior rigidez, mesmo porque
quando se inicia o segundo período e, neste especialmente, o segundo e terceiro
hipotéticos momentos não se extinguira, de todo, os modelos antes
predominantes.
Reiteramos que, se há uma clara distinção entre o primeiro e o segundo
períodos, neste último os estágios se dão num prolongamento homogêneo,
constituindo a separação proposta apenas a intensificação da atividade e a
ampliação da área de abrangência. Vejamos o esquema, a seguir.

40 Anos 43
Função educacional – (1963-1974)
Temos assim que, inicialmente, desde a sua criação e até por volta de
1974 -75, destacavam-se as faculdades como a viga mestra da instituição. Com
a transferência da Faculdade de Filosofia para a UFRN, em 1969, tal papel
ficou restrito aos cursos de Jornalismo e Sociologia, cujo desempenho
intensificou-se e se consolidou de forma incontestável, quer nos âmbitos
específicos de suas respectivas atividades ou nas ações integradas que passaram
a realizar.
O fato é que esta fase fixou-lhe a imagem de órgão educacional por
excelência. As ações essencialmente ditas culturais restringiam-se, via de regra,
a conferências isoladas ou ciclos de palestras e debates sobre temas de alguma
sorte vinculados às áreas de conhecimento daqueles cursos. Sobre o assunto,
retornaremos mais adiante.
Foram presidentes, no período: Hélio Galvão, primeiro dirigente da
Entidade; uma Junta Governativa, integrada inicialmente por Paulo Pinheiro
de Viveiros, Fernando de Miranda Gomes e Ney da Silva Gurgel, depois os
dois primeiros sendo substituídos por Jurandyr Navarro e Bianor Medeiros;
posteriormente, Jurandyr Navarro, Ilma Melo Diniz e Diógenes da Cunha Lima.

Ação cultural
(a) Período de transição – (1975-1982)

Com a saída dos cursos universitários (as últimas turmas concluintes


foram as de 1974 e 1975), a Fundação José Augusto deveria reorientar os seus
objetivos e, claro, readequar suas prioridades. Havia cumprido fiel e
rigorosamente o papel – pioneiro no Rio Grande do Norte – do ensino da
sociologia, com todas as implicações preconceituosas e restritivas de que se
revestia esse campo do conhecimento (especialmente numa época de regime
político austero, de sérias limitações da cidadania), assim como o de consolidar
o curso de Jornalismo, cujas atividades inerentes a tais profissões até ali eram
exercidas, em Natal, por indivíduos com formação em outras áreas. Com o
reconhecimento desses cursos pelo Ministério da Educação e Cultura-MEC e,
sobretudo, com a sua conseqüente federalização, encerrava-se, a nosso ver,
uma das mais significativas etapas da história desta Instituição.
A criação e operacionalização da Consultoria Técnica (julho, 1975),
sinaliza o início de uma nova fase no desempenho da organização. Alguns
projetos notáveis datam daquele período, dentre os quais destacaríamos o
Circo da Cultura (que permaneceria em atividade até fins dos anos oitenta) e
44 Fundação José Augusto
importantes obras de restauração, como a da antiga Casa de Detenção de
Natal, hoje abrigando o Centro de Turismo, a Casa-grande do Engenho
Guaporé, no município de Ceará-Mirim, e a do Solar do Ferreiro Torto, em
Macaíba, edificação cujo valor se expressa não só na imponência de sua
estrutura e na beleza de suas linhas arquitetônicas, mas, inclusive, no conteúdo
histórico que encerra, afora o fato de tratar-se de um dos últimos exemplares
da arquitetura rural do século XIX, no Rio Grande do Norte.
Era Presidente, então, Sanderson Negreiros, em cuja administração
seriam assentadas as bases para uma futura interiorização da ação cultural
que, até ali, permanecera – conforme acentuamos em outra parte – dentro
do modelo tradicional, isto é, sem flexibilidade, atendo-se a promoções
acadêmicas, e assistemáticas, de encontros, congressos, estudos e debates
sobre problemas conjunturais, com raras incursões no campo objetivo, e
vasto, das manifestações populares.
Foi um período tipicamente de transição, do qual resultaria a definição
de um caminho a seguir; não, necessariamente, de uma política de ação, por
natureza, efêmera.
Afora Sanderson Negreiros, já mencionado, foram presidentes, na época,
Franco Maria Jasiello, em seguida novamente Sanderson (que logo renunciaria) e
Cláudio José Freire Emerenciano, que, assumindo a presidência em abril de 1979,
permaneceria no cargo até julho do ano seguinte, nesse meio-tempo
revolucionando métodos de trabalho e operando radicais mudanças
comportamentais no quadro técnico da Fundação, que se tornou mais dinâmico.
Na administração Franco Jasiello praticamente concluíra-se o que designamos
por “fase de transição”, algo como um momento laboratorial para a transposição
entre a função educacional por excelência e a efetiva e exclusiva ação cultural.
Promovendo uma ampla reformulação na estrutura do Órgão, já no
segundo semestre de 1979, visando dotá-lo de mais agilidade, logo no princípio
do ano seguinte o Presidente Cláudio Emerenciano inauguraria um novo estilo
de administração, ampliando o seu raio de abrangência e ocupando espaços
até então impermeáveis a uma abordagem oficial. Esta fase se caracteriza por
uma intensa e maciça produção de projetos direcionados para múltiplas áreas
da fenomenologia cultural, saturando de forma inteligente as fontes passíveis
de viabilizá-los, do ponto de vista financeiro (FUNARTE, INL, IPHAN,
EMBRAFILME, etc.).
Para se ter uma idéia do esforço produtivo e da dinâmica instaurada,
diga-se que, entre os dias 4 de fevereiro e 7 de março de 1980, foram elaborados
precisamente vinte e dois projetos e três cartas-consulta, envolvendo um sem-
número de manifestações.
40 Anos 45
Meio ao saudável exercício de criatividade embutido naquele turbilhão
de propostas, pouco a pouco se foi delineando a vocação natural da Entidade.
As idéias iam surgindo e logo sendo trabalhadas num ininterrupto quefazer,
operando no sentido de trazer à luz o vasto repertório das ações artístico-
culturais até ali confinadas em suas origens, sem divulgação e, assim, sem
repercussão. Incluía-se praticamente tudo: da tentativa de operacionalizar a
publicação da História do Rio Grande do Norte em quadrinhos ao
esquadrinhamento do cenário dos casarões centenários, com um conjunto de
planos para a sua restauração e recuperação; da revitalização do folclore
multifacetado ao resgate da poética peculiar; da biblioteca e do teatro
redimensionados à xilogravura e à pictórica redescobertas.
A prematura saída de Cláudio Emerenciano não alteraria, em substância,
o firme propósito da equipe em levar a cabo o empreendimento: seu estilo
combativo fora assimilado de forma conseqüente e os frutos do esforço não
tardariam a surgir. Assumindo interinamente a presidência, o Prof. Evilásio
Leão de Moura daria seqüência aos planos traçados por seu antecessor, sem
arriscar-se em alterações no curso dos acontecimentos. Mais algum tempo e,
já na gestão de Valério Alfredo Mesquita, seria consolidado aquele período,
no qual a Fundação assumia o perfil até hoje dominante de órgão
eminentemente cultural.
Esta fase, em síntese, caracteriza-se por uma ação mais agressiva na busca
de uma definição de espaço, na escolha seletiva de um caminho. Iniciada, como
vimos, em 1979, ela vai se exaurir com a fixação definitiva de sua proposta,
dentro do extenso campo ocupado pela área cultural. Tal consolidação ocorre
por volta de 1982, a meio-caminho da administração Valério Mesquita, uma
das mais fecundas da história da Entidade.

(b) Consolidação do processo – (1983-2003)


Aqui chegamos à etapa final do nosso esquema de abordagem,
englobando os últimos 20 anos. Como todo organismo vivo, sujeito portanto
às injunções do meio, a Fundação passou por transformações episódicas mais
ou menos significativas, neste período. De início, por exemplo, vários
monumentos históricos foram restaurados, avultou-se o número de editorações
e concretizaram-se algumas importantes pesquisas. Não obstante, o quadro
funcional foi ampliado aleatoriamente, ou seja, nem sempre observando-se a
devida correspondência entre as qualificações profissionais de grande parte
dos novos contratados e as funções que lhes competiriam desempenhar. Desse
fato resultou, decerto, o assoberbamento de atividades para um segmento
46 Fundação José Augusto
funcional e o surgimento de uma categoria de servidores que se caracterizava
pela extrema ociosidade. Dentre estes, muitos pareciam se comprazer naquela
instável situação; outros, contudo, longe de pretenderem abrir mão das benesses
que lhes eram prodigalizadas, certamente se afligiam com a incômoda sensação
de inutilidade a que se viam compelidos suportar, reforçada pelo ar de desdém
que lhes votavam não poucos dos companheiros de repartição.
Em contrapartida, teve sensível impulso a atividade museológica e se
intensificaram as intervenções na área da cultura popular, foram criados e
instalados o Memorial Câmara Cascudo e o Instituto de Música Waldemar de
Almeida; o Teatro Alberto Maranhão foi incorporado à esfera administrativa
da Fundação e surgiram o jornal “O Galo” e o Coral Canto do Povo, entre
outras realizações.
Mais adiante, novo período crítico. Circunstâncias adversas –
especificamente no que diz respeito a cortes orçamentários face às dificuldades
econômico-financeiras atravessadas pelo país, como um todo, e pelo estado,
em particular –, suscitaram radicais restrições em nossa programação,
notadamente a partir de 1995. Tais circunstâncias, no entanto, não impediriam
o surgimento e a consolidação de novos importantes projetos, três dos quais
inclusive fixando sua marca no calendário de eventos da cidade, não só no
plano especificamente cultural mas, também, no turístico, outra expressiva
vertente da vocação desta comunidade. São eles: Projeto Seis e Meia (às
terças-feiras, de março a dezembro); Encontro de Cultura Popular (na Semana
da Cultura, em agosto) e Um Presente de Natal (no período natalino), que
reúne dezenas de artistas das áreas da música, dança, artes plásticas, teatral e
circense. Ainda nesse meio-tempo foi criado o Coral Harmus, implantado e
operacionalizado um programa de apoio às bandas de música comunitárias e
editados trinta e nove títulos, além de outras iniciativas que serão tratadas a
partir do próximo capítulo.
Os presidentes desta época são os seguintes, nesta ordem: Valério
Mesquita, Paulo Macedo, Woden Madruga, Iaperi Araújo, novamente Woden
Madruga (por duas gestões) e, atualmente, François Silvestre de Alencar.

40 Anos 47
48 Fundação José Augusto
SEGUNDA PARTE

PERÍODO INICIAL
(1963-1974)

Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia ................................................ 53


Instituto Juvenal Lamartine ..................................................................................................................... 61
Biblioteca Pública do Estado ........................................................................................................................ 63
Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte ....................................... 65
Implantação da Gráfica Manimbu ................................................................................................ 67
Observações dos presidentes da época .................................................................................. 69
Hélio Mamede de Freitas Galvão .......................................................................................... 69
Jurandyr Navarro da Costa ............................................................................................................. 70
Ilma Melo Diniz ................................................................................................................................................ 71
Diógenes da Cunha Lima ................................................................................................................. 73

40 Anos 49
50 Fundação José Augusto
c a r t e
e n

Fachada original do prédio


da Fundação José Augusto (1963).
40 Anos 51
52 Fundação José Augusto
Faculdades de Filosofia, Jornalismo e Sociologia

Em 1963 a Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN estava,


ainda, no início de suas atividades. Como já referimos, fora criada em 1958 e,
claro, seis anos constituem muito pouco tempo para um sistema complexo se
fixar. Até ali vários cursos haviam sido instalados, integrando-se à sua estrutura
administrativa: os de Farmácia e Odontologia, de Direito, de Medicina e,
datando de 1957, o de Engenharia. Outros, só anos mais tarde seriam criados
ou incorporados, como os que são objeto de interesse no presente item.
A Faculdade de Filosofia fora inaugurada, também, em 1957, e
pertencera, até ser absorvida pela Fundação José Augusto, à Associação dos
Professores, vínculo que se estabelecia na medida em que, contendo a
especialidade de pedagogia, propunha constituir-se em continuidade natural
ao pedagógico – Curso Normal –, sendo portanto, plenamente ajustada à
órbita de interesse daquela Organização.
No ato – decreto – de criação da Fundação José Augusto, referido em
outra parte deste trabalho, essa faculdade lhe foi incorporada; cinco anos depois
seria federalizada, mas só em 1969 passaria, em definitivo, a funcionar no âmbito
da UFRN.
Já a Faculdade de Jornalismo Eloy de Souza era autônoma, até ser anexada
à Fundação junto com o curso acima referido, isto é, pela mesma lei que criara
a Fundação. Permaneceria, contudo, até 1974, quando foi igualmente
incorporada à UFRN com a denominação de Comunicação Social.
Quanto à Faculdade de Sociologia, a denominação inaugural (1965) era
a de Curso de Sociologia, integrado ao Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas
Sociais; três anos depois, por sugestão do então diretor Laércio Bezerra de
40 Anos 53
Melo, foi extinto para dar lugar à criação da
Faculdade de Sociologia e Política, com estrutura
independente do IJLPS. Teve sua grade curricular
reformulada e foi dotada de biblioteca especializada,
sendo Laércio Bezerra designado para fazer o
levantamento bibliográfico pertinente. Com a
transferência desta faculdade para a UFRN (1975),
recebeu o nome de Curso de Estudos Sociais e,
posteriormente, o de Departamento de Ciências
Sociais, com habilitação em Sociologia, Ciência
Política e Antropologia. O afastamento do Sociólogo
Laércio Bezerra da direção desta instituição de
ensino (março, 1969), deveu-se a um ato de força do Laércio Bezerra, 1º. diretor
da Faculdade de Sociologia
regime autoritário que dominava o país, àquela época.
Assim, entre 1963 e 1975, ao longo dos seus primeiros doze anos,
portanto, a Fundação José Augusto participou ativamente do processo
educacional potiguar, estimulando e difundindo o ensino universitário em áreas
não-tradicionais do ensino superior, no Brasil (neste Estado, absolutamente
inéditas). Com efeito, afora os cursos da Faculdade de Filosofia – História,
Geografia, Didática, Matemática e Letras Neolatinas –, Sociologia e Jornalismo
eram inteiramente desconhecidos, enquanto objeto de estudo formal,
sistematizado, em nossa universidade. As funções que lhes eram inerentes
costumavam ser desenvolvidas, aqui, como em diversas outras partes do país,
por indivíduos com formação não-específica, às vezes caracterizando-se um
certo paralelismo, outras tantas extremamente distanciadas.
Considerando que a Faculdade de Filosofia não só preexistia à Fundação
como, inclusive, teve existência efêmera sob a sua tutela, foram as duas outras
que se afirmaram como instrumentos essencialmente transformadores da
mentalidade universitária então predominante. Os cursos convencionais, Direito,
Medicina e Engenharia, assim como os que lhes são naturalmente decorrentes,
sempre foram conduzidos de forma a reproduzirem o sistema, não
possibilitando, a rigor, o aprofundamento nas causas e conseqüências do labirinto
dos problemas sociais, políticos e econômicos regionais e do país. Sempre lhes
faltou, até então, uma perspectiva histórica e análise contextual dessas questões.
O surgimento do ensino da Sociologia no Brasil, a partir de 1936, operaria
alterações importantes nesse equilíbrio (talvez devesse dizer marasmo).
No Rio Grande do Norte, onde chegou no início do período autoritário,
evidentemente tornou-se, quando menos, incômodo aos setores oficiais.
Quanto ao Curso de Jornalismo, pelas próprias peculiaridades da função
54 Fundação José Augusto
informativa a que se propõe, é certo que também se tornava alvo de
desconfiança, ainda com mais motivo quando aquela geração estava sendo
preparada em franco processo interativo com as turmas coirmãs da área
sociológica. Tal particularidade, à primeira vista sem maior significação, hoje,
observada à distância, permite admitir que teve momentos positivos e
certamente terá repercutido de alguma forma na vida profissional dos – à
época – futuros jornalistas.
A propósito, convém assinalar que a extensão universitária era das mais
intensas e participativas, muitas vezes contando com o concurso dos dois
segmentos estudantis em promoções específicas, o que vale dizer em típico
processo de intercâmbio.
Eram particularmente concorridas as Semanas de Estudos Sociais,
iniciativa do Diretório Acadêmico Josué de Castro, da Faculdade de Sociologia
e Política, e o irreverente – contudo, sério – “Xeque-mate”, da Faculdade de
Jornalismo Eloy de Souza, que ainda hoje, de certa forma, subsiste na UFRN.
Para o primeiro eram convidados cientistas sociais, professores,
políticos e outras autoridades da área, e de áreas afins, para proferirem palestras
e participarem de debates sobre temas vinculados aos problemas mais agudos
da realidade regional e brasileira. O caráter político-ideológico dos
questionamentos instigava o diálogo conseqüente, direto, incisivo – não raro
gerando natural apreensão em setores ortodoxos da administração pública
local e atraindo a discreta, mas firme, presença de observadores dos serviços
de repressão.
Quanto ao “Xeque-mate”, criado no início da década de 70, foi
concebido como uma entrevista coletiva, laboratorial, aberta e, até onde era
possível àquela época, sem censura. A personalidade visitante se via submetida
a uma bateria de perguntas as mais imprevisíveis,(2) literalmente flanqueada
por uma platéia constituída basicamente, pela totalidade dos alunos e pela
maioria dos professores dos dois cursos, sistematicamente colocando-a “em
xeque”.
Vários políticos, administradores, empresários e líderes de outros
segmentos representativos da sociedade foram naturalmente levados, às vezes
quase induzidos, a uma participação clara, sem subterfúgios, sobre assuntos
via de regra oportunos do ponto de vista do interesse coletivo, em alguns
instantes atingindo aspectos bastante delicados (sob o prisma ideológico), de
alguma forma rompendo o círculo de fogo do silêncio.
Esses programas, paralelos ao ensino regular, contribuíram de modo
____________________
Em 27 de fevereiro de 1989 o senador Mário Covas, do PSDB paulista, candidato à Presidência da
(2)

República, foi entrevistado neste programa.

40 Anos 55
flagrante para o aprimoramento dos processos formativo, intelectual e
profissional de significativa parcela daqueles estudantes. Os acirrados debates,
os apartes inflamados, as colocações críticas ao sistema e às questões
conjunturais, no conjunto iam pouco a pouco delineando e fixando o caráter
da instituição, que passou a ser vista pela comunidade como um núcleo potencial
não exatamente de resistência mas, pelo menos, de manifesto inconformismo
quanto ao sistema político vigente.
Certamente aquele comportamento atrairia as atenções dos setores e
agentes responsáveis pela ordem estabelecida, não raro infiltrando “olheiros”
em pontos de maior concentração de alunos no âmbito da Fundação, e mesmo
na qualidade de alunos em várias turmas, com o fim de identificar os mais
entusiastas e inflamados, as lideranças potenciais, a fim de neutralizar quaisquer
movimentos contrários aos interesses do Poder.
Por diversas vezes a Fundação foi cercada pela Polícia, que ostensivamente
impedia a saída ou entrada de qualquer aluno, seja pela Rua Jundiaí ou Açu.
Naquelas oportunidades suas dependências eram diligentemente
esquadrinhadas e revistadas, à procura de líderes estudantis e de material tido
como subversivo – panfletos e coisas do gênero. Dezenas de situações
semelhantes, das formas as mais diversificadas, ocorreram no recinto da
Faculdade, muitas delas já esquecidas, outras de viva lembrança – algumas,
até, folclóricas.
Certa vez, alguém avisou que a polícia estava chegando. Um estudante,
recolhendo seus livros, pretendeu sair pela porta dos fundos, em direção à
Rua Açu. Próximo da porta que dá acesso ao pátio, nos fundos da Gráfica
Manimbu, um capitão da polícia barrou os seus passos e indagou o que ele
trazia nas mãos. “Livros, apostilas....”, respondeu o jovem. O oficial estendeu
um braço e pegou os livros, passando a vista nas capas, com ar analítico. Em
seguida devolveu-os, sem qualquer comentário, e mandou-o retornar à sala de
aula. Um dos livros era “O Capital”, de Karl Marx.
De outra feita, por volta de 1968, o Diretório Acadêmico Josué de Castro
promoveu um concurso sob o tema “Problemática Educacional do Nordeste”,
para estudantes de Sociologia. Após o resultado, o ganhador do prêmio (uma
determinada soma em dinheiro), visitado por membros do Diretório, foi
informado de que aquela quantia fora utilizada para enviar um representante
ao Congresso da UNE, que se realizaria em São Paulo, e que aquele era o único
recurso encontrado para fazê-lo viajar sem chamar a atenção. Oportunamente,
seria reembolsado – disseram, então. Obviamente, a coisa ficou por ali; caiu
no esquecimento.
A rigor, tais incidentes não deveriam constar deste estudo retrospectivo
56 Fundação José Augusto
da Fundação, no entanto, pelo tragicômico, para caracterizar a diversidade de
obstáculos com que se debatiam aqueles estudantes, e mesmo pelo que de
pitoresco suscitam – à distância –, houvemos por bem mencioná-los. Alguns
daqueles estudantes se viram compelidos, em razão de ocorrências semelhantes,
a se afastar do curso, vez que as sucessivas suspensões de matrícula, para escapar
ao cerco da repressão, tiveram como conseqüência a virtual impossibilidade
de sua conclusão – pelo menos de forma regular.
Mas, afora as “Semanas de Estudos Sociais” e os concursos literários, é
importante registrar outras iniciativas do Diretório Acadêmico Josué de Castro,
tais como: realização de cursos sobre cinema; exibição de clássicos das
cinematografias brasileira e internacional, no extinto cine Poti; criação de um
grupo teatral, de um jornal e de um programa radiofônico, o “Sociologia em
Foco”, veiculado através da Emissora de Educação Rural, por esse instrumento
divulgando os cadernos populares da UNE, denunciando os acordos MEC-
USAID, lesivos aos interesses nacionais, realizando entrevistas com
personalidades, dentre elas D. Hélder Câmara, e, inclusive, solidarizando-se
com a luta dos “excedentes”; participação na criação da Executiva Nacional
dos Estudantes de Sociologia e Ciências Sociais-ENESCS e respectivas regionais
(ERESCS), cuja sede regional foi implantada em Recife e, enfim, promoção
de eventos na boate da Lagoa “Manoel Felipe”.
A própria escolha do Prof. Josué de Castro como Patrono do Diretório
foi polêmica. Era exilado em Paris. Enviou carta de agradecimento, de próprio
punho, onde, além de se mostrar honrado com a escolha, destaca estar
escrevendo uma mensagem aos estudantes do Nordeste.
Procuramos levantar o total de alunos que passaram pelos bancos
escolares dessas faculdades. Infelizmente, não nos foi de todo possível face a
quase completa inexistência dos números referentes à Filosofia, afora os de
1966, ainda funcionando na Fundação José Augusto, mas já federalizada. As
fontes mais indicadas, como a própria Fundação, o Departamento de Ciências,
Letras e Artes e o Departamento de Assistência ao Estudante-DAE, ambos
da UFRN, não os dispõem – salvo os do ano mencionado.
Em todo o caso, conseguimos localizar o Sr. Aníbal Délio da Silva, que
foi secretário do curso de Filosofia desde a época em que foi criada, em 1957,
e até 1968, ano anterior a sua transferência definitiva para a UFRN, o qual
gentilmente nos concedeu entrevista onde, além de trazer uma luz sobre o
assunto ajudou-nos num cálculo estimativo dos totais de concluintes.
Conforme o seu depoimento, na Faculdade de Filosofia chegaram a
funcionar cinco cursos, a saber: História, Geografia e Letras Neolatinas, de
1963 a 1968 (aliás, este último passaria a denominar-se simplesmente Letras, a
40 Anos 57
partir de 1966); em 1965 foi criado o curso de Didática e, finalmente, no ano
subseqüente, o de Matemática, ambos permanecendo, como os demais, até
1968. Convém ressaltar que, após 1965, a Faculdade de Filosofia passou à
responsabilidade da UFRN, embora continuando por mais alguns anos a
funcionar no recinto da Fundação.
Aquela Faculdade teria formado, no conjunto dos seus cursos, turmas
médias anuais de sessenta concluintes – estima o senhor Aníbal Délio da Silva;
contudo, os dados oficiais referentes a 1966, constantes em registros na
Fundação, dão conta de apenas quarenta e cinco concluintes. Optamos por adotar
este último dado como ponto médio (anos de 1965-66), reduzindo em quinze
unidades para os anos anteriores de 1963-64 e permanecendo com a estimativa
feita pelo citado informante para os anos posteriores, resultando em duzentos e
setenta concluintes, o que representa uma redução em 25 % em relação à estimativa
original do informante e nos assegura, em contrapartida, uma maior margem de
segurança em não extrapolarmos o que de fato terá ocorrido.
Com relação aos demais cursos, com os respectivos valores distribuídos
por sexo, os dados são os seguintes:
TABELA 1
TOTAL DE CONCLUINTES DOS CURSOS DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA E DE
JORNALISMO NA FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO, POR SEXO
SEXO
T O TA L
CURSOS MASCULINO FEMININO
Abs % Abs % Abs %
To t a l 286 100,0 139 48,6 147 51,4
Sociologia e Política 126 100,0 58 46,0 68 54,0
Jornalismo 160 100,0 81 50,6 79 49,4
FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto

Como se vê, o curso de Sociologia e Política, nas suas sete turmas


concluintes (1969-1975), formou cento e vinte e seis sociólogos, acusando uma
média de dezoito profissionais por ano, com ligeira predominância do sexo
feminino; o de Jornalismo, cento e sessenta, ou 22,8 a.a., mais bem distribuídos
quanto ao sexo. Esses números correspondem a algo em torno de quarenta e
um novos profissionais liberais lançados anualmente – no decorrer daquele
período – num mercado de trabalho incipiente mas, na verdade, encravado
numa realidade carente dos serviços que estavam, pelo menos teoricamente,
aptos a prestar.
No conjunto, as três faculdades terão formado quinhentos e cinqüenta
e seis técnicos de nível superior, de 1963 a 1975.
Onde andarão esses técnicos?
58 Fundação José Augusto
Alguns, em Natal mesmo deitaram suas raízes, e, com muito esforço,
enfrentando as dificuldades próprias a uma típica sociedade fechada, de
acentuados contornos provincianos, sem falar no tumultuado período por que
o Brasil atravessava, sedimentaram o desempenho profissional; outros, ansiosos
por aplicar seus conhecimentos de forma mais produtiva, quer pela estreiteza
de oportunidades de trabalho, quer por insatisfação intelectual, partiram para
centros mais evoluídos. Há, ainda, os que simplesmente fizeram outra opção
profissional e se dispersaram.
O certo é que hoje, muitos daqueles então estudantes contribuem como
profissionais, em diversos setores da Comunidade. São professores,
pesquisadores, jornalistas, assessores, consultores, escritores, políticos,
publicitários, administradores em diversos níveis e áreas, funcionários públicos,
etc. Em segmentos variados, em posições de destaque ou discretas, nem por
isso com menor eficiência, participam, homogeneamente, do esforço contra o
subdesenvolvimento anacrônico, talvez não mais com a paixão e as ilusões que
só a juventude alimenta, mas certamente com maior convicção e firmeza,
virtudes mais próprias da maturidade.
De uma forma ou de outra, a manutenção desses cursos foi, sem dúvida,
uma notável contribuição da Fundação José Augusto nas raízes de sua existência.

40 Anos 59
Foto: Arquivos da FJA / CEPEJUL

Ex-Governador Juvenal Lamartine de Faria (1928-1930), patrono do Instituto e do CEPEJUL.

60 Fundação José Augusto


Instituto Juvenal Lamartine
O Instituto Juvenal Lamartine(3) foi criado através do Decreto nº. 3.871,
de 15.12.1961, do Governo Estadual – já exercido por Aluízio Alves –,
antecedendo, assim, à própria Fundação José Augusto. Aliás, observando-se
aquele texto, depreende-se que sua função original em muito se assemelha a
que, posteriormente, caberia a esta última, conforme veremos a seguir.
O documento, citando a Constituição (Art. 121, VI), argumenta que é
dever do Estado “estimular o desenvolvimento das ciências, das artes e das
letras” e “amparar as instituições culturais” (idem, Art. 123), e que, para o
cumprimento desses princípios constitucionais, “cabe ao Estado não só
incentivar a iniciativa privada, mas também promover a criação de organismos
e instituições de caráter público ou em regime de cooperação com particulares”.
Essas formulações permitem supor o dimensionamento de uma estrutura
abrangente, com pretensões igualmente amplas, cujas atribuições
comportariam, inclusive, a pesquisa social, além do desenvolvimento de
mecanismos e o desencadeamento de ações capazes de suscitar o estímulo aos
trabalhos científico, artístico e literário. E qualquer dessas variáveis, tomadas
isoladamente, contém inestimável gama de alternativas e de possibilidades.
Mais adiante expressa o empenho do Governo em executar um plano
cultural – plano entendido em seu sentido mais elástico de política cultural –,
no qual estivessem previstas “(...) atividades de pesquisa e divulgação nos
campos da história, da sociologia e do folclore” (doc. cit.). Ainda assim a
pesquisa (ou atividades de pesquisa) a que se refere não se restringe ao estudo
________________________
(3)
Na verdade, só com a Lei nº. 3.694, de 7.10.1968, seria acrescida ao seu nome a designação “pesquisa
social”.

40 Anos 61
sócio-econômico dos fenômenos, conforme mais tarde seria definido como
uma das prioridades de ação do Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal
Lamartine-CEPEJUL, órgão que daria seqüência ao Instituto; ela (a pesquisa)
engloba as “tradições históricas e folclóricas”, hoje mais diretamente
subordinadas aos objetivos e às ações dos Centros coirmãos de Documentação
e de Promoções Culturais. Em outras palavras, os itens história e folclore,
plenamente ajustados à natureza e aos propósitos da Fundação, não se situam,
necessariamente, entre os prioritários na perspectiva do atual CEPEJUL. Essas
variáveis são eventualmente examinadas e aprofundadas, segundo o requeiram
as características e peculiaridades dos estudos em curso.
Para um órgão em gestação, ainda por compor sua infra-estrutura,
constituíam aquelas diretrizes um desafio singular, só concebível numa
perspectiva de longo prazo, especialmente numa época em que havia escassez
de recursos humanos devidamente qualificados. As medidas inicialmente
tomadas foram, assim, sobremodo prudentes: buscou-se preencher os seus
quadros, implementar uma biblioteca especializada e definir, com clareza, os
seus objetivos e linhas de ação, iniciativas básicas para o estabelecimento de
um plano de trabalho conseqüente.
Foram organizados, nesse meio-tempo, sucessivos seminários e ciclos
de debates, eventos artísticos e outros empreendimentos do gênero, inclusive
a publicação de algumas obras de autores norte-rio-grandenses. Os temas
conjunturais da época, então, foram sistematicamente abordados.
Com o advento da Fundação José Augusto (abril, 1963), este Instituto
foi absorvido pela nova entidade que assumiu, enfim, considerável parcela de
suas atribuições. Dois anos mais tarde era criado o Curso de Sociologia
(outubro, 1965) e incorporado hierarquicamente ao Instituto, a partir daí
realizando algumas pesquisas. Em 1968, conforme referimos anteriormente,
o Curso foi transformado em Faculdade de Sociologia e Política e
desvinculado formalmente do Instituto, passando a constituir órgão
autônomo. Com a reforma administrativa da Fundação, ocorrida em 1974,
através da Lei nº. 4.403, de 23 de outubro, o então Instituto teve alterada sua
personalidade jurídica, passando à denominação de Centro de Estudos e
Pesquisas, seguido do nome do patrono.
Foram diretores do Instituto: José Augusto Pérez, Augusto Carlos de
Viveiros, Laércio Bezerra de Melo, Flórida Mariano Accioly Rodrigues e Avani
Polycarpo Feitosa.

62 Fundação José Augusto


Biblioteca Pública do Estado
A Biblioteca Pública do Estado, oficialmente criada pela Lei nº. 2.885,
de 8.04.1963 – a mesma que deu origem à Fundação José Augusto –, só viria
a ser inaugurada e operacionalizada seis anos depois (fevereiro, 1969), na
administração da Profª. Ilma Melo Diniz. Seriam necessários mais quatro anos
até incorporar, à sua denominação, o nome do ilustre historiador potiguar,
Câmara Cascudo.
Vejamos trechos da ata da reunião do Conselho Diretor que trata do
assunto:

CONSELHO DIRETOR
DA FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
(ATA DE 25.02.1969)

Ata da oitava (8ª.) reunião do Conselho Diretor da Fundação José


Augusto. Aos vinte e cinco (25) dias do mês de fevereiro de hum mil novecentos
e sessenta e nove (1969), a hora de costume, no Gabinete da Presidência da
Fundação José Augusto, tendo sido convocado extraordinariamente, reuniu-se
o Conselho Diretor, com o comparecimento dos seguintes conselheiros: Alvamar
Furtado de Mendonça, Jurandyr Navarro da Costa, Ivan Maciel de Andrade
e Ilma Melo Diniz que, como presidente do Conselho, dirigiu a sessão. De
início, explicou que a presente reunião tinha o objetivo de comunicar àqueles
cavalheiros que o Secretário de Estado da Educação e Cultura, Dr. Jarbas
Bezerra, encaminhara ao Governador deste Estado, Monsenhor Walfredo
Gurgel, uma proposta para que a Biblioteca Pública do Estado passasse a ser
40 Anos 63
administrada por esta Fundação a partir de vinte e seis (26) de fevereiro do
corrente ano, data de sua inauguração, quando, ao ensejo, seria firmado um
convênio entre esta entidade e aquela Secretaria de Estado.

Segue o documento assinalando que, naquela oportunidade, a Profª. Ilma


Melo apresentou a minuta do referido convênio cuja cláusula primeira estava
redigida nos seguintes termos:
A Biblioteca Pública do Estado, órgão integrante da Secretaria de Estado
da Educação e Cultura, passará a ser administrada pela Fundação José
Augusto, que, para tanto, deverá promover os meios necessários ao seu normal
funcionamento através da organização de pessoal especializado, fixação de
normas internas de atividades e adoção de todas as demais providências
incluídas nas atribuições de direção administrativa das entidades de direito
público.

No ano seguinte, pelo Decreto nº. 5.324, de 12 de agosto de 1970, o


Governo do Estado doa à Fundação o prédio da Biblioteca, conforme
estabelece em seu Art. 1º.: “Fica doado à Fundação José Augusto o próprio
estadual, com todo o seu acervo, situado na Rua Potengi, s/n, nesta Capital,
onde vem funcionando a Biblioteca Pública do Estado”.
Diversamente do que ocorre na atualidade, naquele tempo sua ação se
restringia ao papel clássico de qualquer biblioteca pública, qual seja o de manter
e preservar livros e documentos congêneres, facultando o acesso de interessados
pela leitura, estudo, consultas e empréstimos. Constituía sua clientela mais
característica professores e alunos do Colégio Estadual do Atheneu, o que se
explica pela proximidade física dos dois órgãos (funcionam em prédios
vizinhos), e não poucas pessoas julgavam que a biblioteca fosse, apenas, um
anexo do Atheneu.
Em parte por pertencer a um órgão cultural, em parte por uma tendência
programática do Instituto Nacional do Livro-INL, o certo é que, a partir da
década de oitenta, incorporou aos seus planos anuais de atividades metas e
objetivos mais flexíveis, assumindo um papel mais participativo junto à
comunidade. Essa nova postura resultaria, em pouco tempo, na atração de
novos contingentes de usuários dos seus serviços. Tornaremos ao assunto na
abordagem ao Sistema Estadual de Bibliotecas.
No período que estamos tratando, a Biblioteca Pública Câmara Cascudo
teve duas coordenadoras: Zila da Costa Mamede (1969-1970) e Ana Zélia de
Melo Maia (1971-1974).

64 Fundação José Augusto


Museu de Arte e História do Rio Grande do Norte
Tal como a Biblioteca Pública do Estado, referida no item anterior, o
Museu de Arte e História foi criado pela mesma lei da qual originou-se a
Fundação. Àquela época, Natal não dispunha de museólogos; não tínhamos,
portanto, experiência na área, donde resulta que foi – sobretudo – um trabalho
experimental, um esforço praticamente amadorístico.
Funcionando no prédio chamado “Sobradinho”, na Rua da Conceição
(ao lado do Palácio do Governo Estadual), podiam ser encontradas lado a
lado, na maior sem-cerimônia, peças tão díspares e de conceituação tão opostas
como, por exemplo, utensílios domésticos indígenas e o fardamento completo
de norte-rio-grandenses que participaram da Guerra do Paraguai; engenhocas
para o fabrico de farinha e moedas brasileiras antigas; mobiliário de séculos
passados e medalhas e comendas conferidas ao ex-Presidente Café Filho. Tanto
mais rico o acervo quanto precária a organização, ferindo os princípios que
norteiam a mais elementar técnica museográfica.
No entanto (e isso redime a ausência de um padrão de qualidade técnica),
era um trabalho feito com amor, com abnegada dedicação e a mais pura intenção
de acertar. Na verdade, melhor não poderia ter sido feito uma vez
consideremos, também, o plano secundário a que era relegada a ação cultural,
face à projeção assumida pelo segmento educacional universitário do órgão.
Aliás, essa idéia de se conferir privilégios a alguns setores em detrimento
da atividade museológica foi uma prática comum na Fundação. Durante muito
tempo foi encarada de modo discreto, sem grandes arroubos programáticos.
Seus projetos não eram divulgados com a mesma intensidade nem com o mesmo
nível de importância emprestado aos de outras manifestações culturais.
40 Anos 65
Por outro lado, afora esses obstáculos internos, não havia uma articulação
em nível federal que regulasse e, enfim, apoiasse, sob a forma de patrocínio,
esse tipo de manifestação, como ocorria com o cinema (EMBRAFILME),
com a biblioteca (INL), etc.
Até que houvesse alguma mudança nesse estado de coisas (o que só viria
acontecer com o advento do Ministério da Cultura), essa linha de trabalho da
Fundação José Augusto continuaria envolta em semitotal apatia e inoperância,
a despeito de nesse meio-tempo haver-se criado uma meia dúzia de novos
museus.
Voltaremos ao assunto mais adiante, quando tratarmos da criação do
Sistema Estadual de Museus.

66 Fundação José Augusto


Implantação da Gráfica Manimbu

A Gráfica Manimbu foi criada em outubro de 1965, constituindo seus


objetivos básicos:
(a) apoiar o Plano Editorial da Fundação,
(b) executar serviços gráficos em geral, mediante pagamento, e
(c) projetar e executar impressos para os diversos órgãos da Fundação,
aí incluída toda a sorte de modelos padronizados que reclamassem uma
apresentação gráfica mais apurada, tais como boletins, fichas, catálogos,
questionários, convites, cartazes, folders, etc.

Sua implantação foi uma estratégia das mais lúcidas, quer do ponto de
vista econômico ou da praticidade de desempenho, pois a demanda de tais
produtos já era bastante intensa naquele ano e a tendência, certamente, era de
crescimento. Com efeito, afora a estrutura de sua sede (gabinetes da presidência
e vice-presidência e setores administrativo e financeiro), a Fundação mantinha,
como referido em itens anteriores, o Museu de Arte e História, o Instituto de
Pesquisas e duas faculdades, as de Filosofia e Jornalismo, e inauguraria a terceira,
a de Sociologia, no ano seguinte, e todo o complexo necessitava,
constantemente, de impressos.
Mas havia, inclusive, sua função de apoio à editoração de livros
aprovados pelo Conselho Editorial-CONEDI, consolidando-a como
instrumento significativamente importante ao tornar a Fundação auto-suficiente
em serviços gráficos, fator desejável por qualquer organização cultural,
sobretudo quando destinada a sustentar uma política de preservação.
Com mais razão, ainda, constituía, naquela quadra, um setor operacional
40 Anos 67
estrategicamente expressivo para a Instituição face à precariedade do mercado
local na oferta de tais serviços.
Sete anos após sua implantação, em 04 de novembro de 1972, seria
acrescido ao seu parque gráfico novos recursos tecnológicos, incluindo sistema
completo off-set, plastificadora rotativa e calandra (máquina de prova
tipográfica), plastbrill, dobradora automática e impressora automática
tipográfica, afora a criação e operacionalização do Departamento de Arte e
Produção, com o que certamente terá otimizado a sua prestação de serviços.
Foi seu primeiro diretor o Jornalista Celso da Silveira.
Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL

Fachada da Gráfica Manimbu, localizada na Rua Açu, bairro do Tirol.

68 Fundação José Augusto


Observações dos presidentes da época
Quando da elaboração do projeto que resultaria no presente trabalho,
conjeturamos sobre a conveniência de, na medida das possibilidades, incluir a
memória e análise dos ex-presidentes da instituição sobre suas respectivas
atuações. Entendíamos que seria uma forma de, proporcionando maior clareza
ao texto, legitimá-lo pela co-participação. Lapsos
e/ou omissões que porventura tivéssemos
cometido seriam devidamente suprimidos, com
vantagem, por cada um deles, pois tanto mais é
permanente e instigante a lembrança dos fatos
quando com eles se teve intimidade.
Esse cuidado prende-se, especialmente, às FOTO
administrações mais antigas, posto que os últimos
quinze anos, por exemplo, se apresentam com
bastante nitidez na memória da equipe que produziu
este documento, além do que os acontecimentos mais
importantes estão suficientemente descritos em
relatórios circunstanciados. Hélio Galvão
Podemos dizer que, grosso modo, levamos 1º Presidente

a cabo a idéia. Dos ex-presidentes, o Prof. e Historiador Hélio Mamede Galvão


é o grande ausente, mas como foi o primeiro, quando o Órgão dava seus
primeiros passos e tentava equacionar questões básicas de organização e
definição dos seus objetivos, de certa forma é dispensável um tratamento
mais aprofundado, sobretudo considerando que os pormenores sobre aquele
período estão disseminados nos itens anteriores, conforme vimos.
40 Anos 69
Em resumo, sua tarefa foi a de dotar a Fundação de uma estrutura
organizacional – obviamente sem as complexidades da atual – e a incorporação
das duas faculdades preexistentes (Filosofia e Jornalismo) e, enfim, traçar as
primeiras diretrizes na área cultural. Também em sua gestão foi criado o Curso
de Sociologia.
No início de 1966, determinadas circunstâncias de ordem administrativa
geraram uma crise que, pouco a pouco, se tornaria praticamente incontornável,
a tal ponto que, em meados daquele ano, o então Governador Mons. Walfredo
Gurgel (1966-1972), após designar uma Comissão para analisar o problema –
oriundo “de divergências entre professores e dirigentes da Fundação” –,
concluiu pela exoneração, ex-officio, do Presidente e de todos os integrantes
dos Conselhos Diretor e Curador da Entidade, cujas atividades escolares
“estavam quase totalmente paralisadas” e “posta em risco a própria
sobrevivência da Fundação”, segundo relata o Decreto nº. 4.685, de 12 de
agosto de 1966, no mesmo documento constando a designação de uma Junta
Governativa “destinada a gerir provisoriamente a Fundação José Augusto”
integrada pelos bacharéis Paulo Pinheiro de Viveiros e Fernando de Miranda
Gomes e pelo Prof. Ney da Silva Gurgel.
“Passados alguns meses”, diz Jurandyr Navarro, “Fernando era substituído
por Bianor Medeiros e, em seguida, Ney Gurgel por ele, Jurandyr”. Finalmente,
com a renúncia de Paulo Viveiros, aqueles dois últimos membros prosseguiram
com a tarefa administrativa, até que, com o afastamento de Bianor Medeiros para
assumir a direção do Instituto de Previdência do Estado-IPE, em 02 de fevereiro
de 1968 foi conduzido à Presidência da Casa Jurandyr Navarro da Costa.

Jurandyr Navarro
O último parágrafo do item anterior faz parte do depoimento do próprio
Jurandyr, que resume: (...) por três momentos prestei serviços a esta Entidade: integrando
a Junta Governativa, durante um ano e meses; depois, como Presidente, por alguns meses,
e, finalmente, como membro do Conselho Diretor, na gestão Ilma Melo Diniz.
A esses três, acrescente-se mais um momento: durante a primeira
administração presidida por Woden Madruga, Jurandyr Navarro foi o Diretor
Administrativo do órgão.
Prossegue em seu depoimento:
Na época da Junta Governativa, no Governo do Mons. Walfredo Gurgel, a
atribuição principal, conforme o Decreto de Intervenção, foi a de dar ênfase à parte
administrativa propriamente dita, mesmo porque a Fundação fora criada fazia pouco
tempo e nenhuma atividade cultural havia sido estruturada, ainda.
70 Fundação José Augusto
Cuidava-se, àquele tempo, precipuamente, em se formar jornalistas e sociólogos, nas
escolas superiores existentes, além de profissionais da área de filosofia.
Segundo o ex-presidente, mesmo quando se deram as sucessivas
modificações no âmbito da mencionada Junta – até a gestão Jurandyr/Bianor
–, não houve, em substância, alteração na política de ação adotada.
Prossegue Jurandyr: A Gráfica continuou com seu trabalho de impressão de livros,
dentre os quais destacaria: Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do
Império, de José Melquíades; Injustiça Social e Depoimentos, de Jurandyr
Navarro, e Empresa Pública, de Jobel Amorim das Virgens.
O edifício-sede da Fundação foi ampliado, nesse período, com a construção da parte
que presentemente serve ao almoxarifado, térreo e primeiro andar. Foram feitos, ainda,
reparos internos na Gráfica e refeita a fachada do prédio-sede da Fundação, sendo colocado
o revestimento em mármore, de matiz cinzento, que ainda permanece.
Quanto ao pessoal, foi procedida uma
reestruturação, objetivando modernizar a máquina
burocrática para conferir apoio à política e às metas
finalísticas da Entidade – tendo em vista o seu
futuro, concluiu.
Considerando que nenhuma entidade
pública se firma e consolida no espaço de uma
administração, e que, ao contrário, requer um
somatório de esforços, uma paciente e exaustiva
experimentação de alternativas até que,
contabilizando-se os acertos e excluindo-se os
erros, se cunhe e legitime a sua personalidade,
evidencia-se que aqueles períodos iniciais do Jurandyr Navarro
órgão – conforme acentua Jurandyr, embora com ex-Presidente
incipiente (mas necessária) ação cultural, representaram uma preparação de
sua estrutura para o futuro. Nesta perspectiva, aliás, cada gestão, somada às
anteriores – como numa corrida com bastão – constitui uma etapa na
construção do que é a Fundação José Augusto.

Ilma Melo Diniz


Por razões alheias à nossa vontade, não conseguimos estabelecer contato
com a Professora Ilma Melo. Envidamos todos os esforços nesse sentindo
mas, infelizmente, seus inúmeros afazeres impediram-na de dar notícias de viva
voz sobre como administrou a Fundação José Augusto. Mas, se não temos sua
opinião sobre a instituição nos dias atuais nem, tampouco, a antecipação do
40 Anos 71
que ela será, segundo a sua ótica, pelo menos o resgate do que foi em fins da
década de 60 nos é dado relatar.
Com efeito, recorrendo às atas daquele período extraímos o resumo
que, conforme tais documentos, representa a essência de tudo quanto foi
realizado, senão vejamos:
Sua posse deu-se a 15 de março de 1968, confirmando a aceitação do
convite que lhe fora feito pelo então Governador do Estado, Exmº. Sr.
Monsenhor Walfredo Gurgel. Interessante mencionar o detalhe de que a escolha
daquela dirigente originou-se da indicação dos alunos da Faculdade de
Sociologia e Política, portanto um ato essencialmente democrático, em que
pese estar o país, à época, em pleno regime de exceção. Pelas características
comportamentais de então, onde imperava o medo da cassação pelos motivos
os mais fúteis, foi sem dúvida um gesto de desprendimento e coragem do
Governador.
O trabalho da Professora Ilma, largamente
prestigiado pelo Monsenhor, teve como meta
principal a obtenção de recursos para a
construção de um moderno prédio destinado à
instalação da Biblioteca Pública. O projeto
arquitetônico atendeu aos requisitos técnicos mais
avançados e era modelo comparável aos existentes
nos grandes centros culturais do país.
Também foi notável a rapidez com que se
concretizou aquela obra: antes que se completasse
um ano de sua posse, a Biblioteca foi entregue à
comunidade. Precisamente a 26 de fevereiro de Ilma Melo Diniz
1969 ocorria a sua inauguração simultaneamente ex-Presidente
com o início do trabalho de outra ilustre norte-rio-grandense, a saudosa Zila
Mamede. Só mais tarde, durante a administração de Diógenes da Cunha Lima, a
Biblioteca receberia a denominação de Luís da Câmara Cascudo, numa justa
homenagem ao velho mestre.
Por ocasião do ato inaugurativo, ainda, foi celebrado convênio entre a
Fundação José Augusto e a Secretaria de Educação e Cultura do Estado
objetivando a transferência de responsabilidade da administração da Biblioteca,
até aquela data prevista em lei como sendo da Secretaria aludida.
Outra área importante em que deixou sua marca foi a literária, editando
um jornal, uma revista, um álbum de desenhos e os seguintes livros:
(a) Igreja e Desenvolvimento, Pe. Alceu Ferrari;
(b) Cerca de Pedra, Hilda Araújo;
72 Fundação José Augusto
(c) Opiniões e Sugestões, Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisa
Social;
(d) Poliantéia, Associação dos Professores;
(e) Cartas a um Desconhecido, Eloy de Souza;
(f ) Encouramento e Arreios do Vaqueiro do Seridó, Oswaldo
Lamartine;
(g) Nomes da Terra, Luís da Câmara Cascudo;
(h) Viagem ao Universo de Luís da Câmara Cascudo,
Américo de Oliveira Costa; (4)
(i) Os Mortos são Estrangeiros, Newton Navarro;
(j) Hôrto, Auta de Souza;
(k) Livro de Poesias, Jorge Fernandes.

O Álbum, denominado Futebol, de autoria de Newton Navarro, foi um


dos mais belos trabalhos daquele artista potiguar (pintor, poeta, contista,
boêmio e admirador do pôr-do-sol no Rio Potengi); o jornal “Extra” foi
algo como laboratório dos estudantes de jornalismo da Faculdade Eloy de
Souza; quanto à revista, “Província”, podemos dizer que foi repositório
de depoimentos de grandes nomes da cultura brasileira, além de evidenciar
fatos e traços notáveis, curiosíssimos da vida e obra de Luís da Câmara
Cascudo.
Aliás, vale lembrar que o aparecimento dessa revista mereceu elogios do
mestre Gilberto Freyre, o qual publicaria a seu respeito artigos em revistas e
jornais de âmbito nacional.
O último aspecto relevante, no período: foi no ano de 1969 que a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras passou à esfera administrativa da
UFRN, ficando a Fundação com os cursos de Jornalismo e Sociologia.

Diógenes da Cunha Lima


O período em que tive a honra de presidir a Fundação José Augusto foi marcado
por muitos acontecimentos. Em parte, conseguimos desenvolver as ações a que nos
propusemos.
Iniciamos o programa – que se tornaria nacional – de restauração de
monumentos históricos. Um dos passos decisivos de nossa presença, aliás, foi retirar
da Secretaria de Educação o comando do Forte dos Reis Magos, passando-o à
Fundação, além de conseguir, junto à Secretaria de Planejamento da Presidência da
República, atual Ministério do Planejamento, recursos que possibilitaram sua
_____________________
(4)
Prêmio Nacional Luís da Câmara Cascudo.

40 Anos 73
restauração, integrando-o à vida cultural do Estado de maneira efetiva. A Fundação
José Augusto teve, depois, inúmeras iniciativas na área.
Destaco, também, o Museu do Sobradinho – procuramos dar-lhe nova vitalidade.
O Prof. Oswald de Souza, que o dirigia, executou uma pesquisa de importância
nordestina: levantou informações sobre rendas e labirintos de toda a região e documentou
esse trabalho, posteriormente editado.
Um outro plano de grande significação foi o de tentarmos fazer uma biblioteca
em cada município do Estado. Cento e cinqüenta bibliotecas no Rio Grande do Norte.
Se não atingimos o total, grande parte foi concretizada.
A Fundação atuava, na época, não como administradora, mas como catalisadora,
como estimuladora do surgimento, da viabilização das
bibliotecas. Então, a partir da nossa gestão, a Biblioteca
Pública, que passou a se chamar ‘Câmara Cascudo’ em
homenagem ao velho mestre – e acho que nenhuma casa
merecia mais o nome de Cascudo do que uma casa de livros
–, assumiu a liderança desse movimento junto às
Prefeituras Municipais, aos clubes de serviço e ao Instituto
Nacional do Livro, o qual nos forneceu muitos livros.
Diógenes vai rememorando os fatos e os
desfiando:
Ao lado desse tipo de preocupação, fizemos voltar
ao funcionamento a Gráfica Manimbu, que estava
desativada, alugada, sem máquinas, máquinas Diógenes da Cunha Lima
estragadas. Então, fizemos uma restauração e a ex-Presidente

aquisição de novos equipamentos compatíveis para poder tocar o programa editorial. E


a Gráfica realmente produziu bastante, durante muito tempo.
Fizemos, ainda, um trabalho interessante na área do Instituto de Pesquisa Juvenal
Lamartine (que seria desativado e voltaria a funcionar, em outras administrações). O
Instituto desenvolveu estudos e pesquisas sobre o Rio Grande do Norte.
Após pequena pausa, retoma:
E procuramos atuar das mais diferentes maneiras. Por exemplo: junto à
Secretaria de Educação e Cultura para que a cultura também fosse objeto de sua atenção,
e não só a educação; para que ela, que tinha o nome pomposo de Educação e Cultura,
passasse a cuidar da cultura. Cultura popular nas escolas, por exemplo, pleito que se
tornou efetivo quando saí da Fundação para ser Secretário de Educação.
Com relação à editoração, diz Diógenes:
A publicação de livros foi uma continuidade; houve, realmente, títulos extraordinários
publicados àquela época. Como o poeta José Bezerra Gomes, Antologia, e muitos outros
trabalhos. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte,
74 Fundação José Augusto
de Câmara Cascudo. Aliás, vários livros de Cascudo foram editados. Um deles, faço o
registro, que ele dizia que não publicaria nunca. Era o Prelúdio e Fuga do Real .
Eu disse: Professor, esse livro não pode ficar na estante até se perder no tempo. Ao que
ele respondeu: ‘Mas isso foge à minha obra e eu não vou publicar’. Vai, sim!, insisti. Ele me
queria muito bem. Botei o livro debaixo do braço, carreguei e editei.
Então, muita coisa foi publicada, na época, seguindo já uma tradição da Fundação
que vinha do tempo de Hélio Galvão, passando por Ilma Melo, que também se dedicou a
publicações.
Cita um fato pitoresco (expressão dele):
Uma briga minha com o Governador, porque as dificuldades do Estado o levaram a
decidir a venda das ações da Petrobrás, que mantinham a Fundação. E eu ameacei: deixaria
a Fundação, se ele as vendesse. A questão foi várias vezes adiada, mas a crise do Estado
continuou e, enfim, terminou com a venda das ações.
Nós tínhamos uma dificuldade muito grande pelo reduzido número de funcionários.
Creio que não atingia a oitenta – hoje talvez conte com oitocentos. Oitenta funcionários
faziam a Fundação mas trabalhavam duro e pesadamente, dois expedientes e uma dedicação
extraordinária. Alguns deles, como Sanderson Negreiros e Franco Jasiello, chegariam a
ocupar a Presidência da Entidade. Fred Jofilly, que era o vice-Presidente, teve um trabalho
muito bonito no campo administrativo; sério, dedicado.
A Fundação José Augusto estabeleceu e manteve contatos, à época, com muitos órgãos,
recebendo apoio às vezes até moral para desenvolver suas atividades, como o Conselho Federal
de Cultura, onde resssalto Lúcio Costa (arquiteto), que conhecia bem e tinha todos os
parâmetros do Forte dos Reis Magos; ele nos deu orientação sobre muita coisa que estávamos
por fazer, notadamente no plano da restauração de monumentos.
Outras questões mencionadas pelo ex-presidente:
(a) instalamos, com dificuldade, o Conselho de Cultura na Fundação José Augusto,
lá permanecendo por longo período;
(b) pretendíamos que a Coluna Capitolina viesse a ocupar um local privilegiado da
cidade, que tivesse uma estrutura ao seu lado, um pequeno lago, por exemplo, para
espelhar o monumento, que é pequeno, e dar-lhe verticalidade;
(c) era nossa idéia, ainda, a urbanização de toda a área onde se situa a Pedra do
Rosário, não só para efeitos religiosos mas cultural e turístico. Trata-se de um dos
monumentos e lugares mais fantásticos do Rio Grande do Norte, de beleza natural
indescritível, e ali se fez uma coisa apequenada, menor, menos expressiva, observa.

Fala sobre a Faculdades de Sociologia e Jornalismo, dizendo do seu


entendimento de que deveriam ser transferidas para a Universidade: fugiam à
função eminentemente cultural da Fundação para acrescer-lhe o encargo educacional. E
acrescenta: Entendíamos que a preocupação com a educação é tão grande que se esquece o
40 Anos 75
lado da cultura, consoante ocorria com a Secretaria de Educação; à Fundação cumpria a
promoção da cultura, tornar-se um órgão de cúpula na execução de uma política cultural.
Conclui dizendo que foi positiva a transferência para a UFRN daqueles
cursos porque as disponibilidades financeiras eram consumidas pelas faculdades,
não permitindo um trabalho mais profícuo.
Sobre o “Xeque-mate”, da Faculdade de Jornalismo, mencionado em
outra parte deste trabalho, Diógenes fala com entusiasmo, inclusive lembrando
que foi o primeiro entrevistado: colocava o homem público em ‘xeque’ e o obrigava,
muitas vezes, a mudar de rumo. Era a crítica popular mais autêntica e inteligente e chegamos
a reeditá-la, na Universidade.
Outro fato curioso citado por ele:
Certo dia chega ao gabinete um tal Calazans, professor de russo, que tinha feito
uma revista cultural chamada ‘Crítica’, um dos números dedicado a Cascudo. Diz ele: –
Quero uma segunda edição desse número dedicado a Cascudo. Respondi-lhe: Calazans,
você me desculpe mas em lugar nenhum do mundo existe segunda edição de revista. Segunda
edição é de livro.– Mas eu quero uma segunda edição. Achei curioso, até inovador e
maluco, e autorizei a reedição. Assim, a Fundação publicou – pela primeira vez na
história – a segunda edição de uma revista! Cascudo adorava esta história, contava em
todo o canto. ‘Imagine o que eu sofro nesta terra, até uma segunda edição de revista já
saiu!’.
Quanto a como vê a Fundação, hoje (1993), tomando-a como um todo,
diz:
A Fundação tem sido um órgão privilegiado, no meu entendimento. Sempre contou
com o trabalho de pessoas que se dedicaram, presidentes capazes. A meu ver, por curiosa
coincidência, a Fundação teve excelentes presidentes. Cita-os um a um:
Hélio Galvão, primeiro, extraordinário presidente; homem de talento, escritor de
mão-cheia. Ilma Melo Diniz fez um belo trabalho, naturalmente com o apoio do Governador
Walfredo Gurgel – que era tio do seu marido. Ilma era uma pessoa ligada, com muita
vontade. Sanderson Negreiros, que abriu o Circo da Cultura e deu continuidade a trabalhos
que tínhamos desenvolvido. Sem dúvida ampliou a presença da Fundação. Franco Jasiello,
também com um trabalho interessante. Cláudio Emerenciano, que deu grande nível ao órgão.
É, sobretudo, um homem de nível cultural, inteligente, capacitado. Deu grandeza à Fundação.
Muita grandeza. Valério Mesquita, um trabalho indiscutível. Político hábil, ampliou os
quadros da Fundação mas deu-lhe prestígio e força. Paulo Macedo – para mim, um realizador,
um homem com muita força de vontade. Sua obra, para mim, é o Memorial Câmara
Cascudo. Houve centenas de críticas mas eu fiquei do seu lado por uma razão muito simples:
é que no Brasil ou se faz a coisa quando se quer ou, se esperar pelo tempo, pela maturação da
idéia, não se faz nunca; se ele obedecesse às críticas, nunca teria feito.
Quanto ao Woden Madruga, fez um trabalho fantástico. “O Galo”, por exemplo,
76 Fundação José Augusto
queira Deus continue por muitos e muitos anos, porque mostra o nível da cultura norte-rio-
grandense ao País. Deixamos de ficar envergonhados com nossa literatura para ficarmos
orgulhosos e elogiados lá fora.
Muita gente discorda da Fundação, de algumas de suas linhas de ação dos seus
dirigentes, mas uma coisa é certa: qualquer pessoa desapaixonada verá que foi (e tem sido)
feito um grande trabalho, sobretudo quando se considera as dificuldades para suas realizações.
A Fundação parece que tem um visgo, que pega as pessoas e essas se apaixonam e a
ela se dedicam de corpo e alma. Não conheço Presidente desta Fundação que não se tenha
apaixonado por ela, dedicado o melhor do seu esforço. É fácil criticar, em função de interesses
políticos e da politicagem local que é da pior espécie. Nós, norte-rio-grandenses, somos
apaixonados, mais do que qualquer outro povo; compare-se com o Ceará e com a Paraíba,
nossos vizinhos – lá, a paixão política é muito menor do que no Rio Grande do Norte.
Aqui, os amigos são ‘gênios’, ‘heróis’ e ‘santos’; os inimigos, ‘bandidos’, ‘diabos’.
Numa análise fria, isenta, o que existe é muita contribuição, muito esforço de todos os
presidentes e do pessoal que faz a Fundação. Isto não pode ser obscurecido e o futuro vai
mostrar que estou certo, enquanto que aqueles que fazem crítica destrutiva, que procuram
denegrir os seus presidentes, ‘fulano é bom’, ‘sicrano é mau’, estão errados – porque todos
contribuíram para que a Fundação marcasse presença e, hoje, se tornasse um órgão
nacionalmente conhecido.
Creio que a Fundação é uma obra que veio para ficar, nasceu para ficar, ou seja, ela
vai continuar à frente, porque os homens não terão a insensibilidade de destruir um trabalho
que tem sido feito ao longo do tempo, desde Hélio Galvão até os dias atuais. Creio que a
Fundação tenderá a ser um órgão à frente de todo o movimento cultural do Rio Grande do
Norte, inclusive no terreno da ecologia: no meu entender, há uma tendência natural, clara,
da Fundação para cuidar da ecologia. Hoje, é indissociável a cultura da ecologia. Creio que
a grande contribuição que a Fundação dará, no futuro, será nesse sentido.
Outro papel fundamental da Instituição seria a difusão e preservação dos valores
culturais brasileiros, numa tendência de aldeia global. Nos tempos de hoje, a televisão
apequena e desmoraliza as diversificações regionais histórico-culturais do povo, tornando-as
universalizadas. Deve haver uma atuação junto aos órgãos de educação mais marcante, de
tal maneira a voltar àquele princípio de cultura popular, de valorização das coisas do povo,
de sorte a que se evite ou diminua o impacto da universalização purificante pela diversificação
cromática do nosso pensamento, do nosso sentimento até.
Outras coisas que considero básicas: quando estava à frente da Reitoria entendi
que a Universidade deveria ser a guardiã da literatura de cordel. São, talvez, arrisco
dizer, cem mil títulos, talvez mais. (Os autores dizem que temos uns vinte ou trinta
mil títulos, mas acho que já passam dos cem mil.) Creio que errei, colocando esse
trabalho na Universidade; a Fundação é mais dinâmica, neste sentido, e seria capaz
de fazer uma biblioteca de cordel e, até, que a transformasse em objeto de estudo
40 Anos 77
através de computação. O cordel mostra os vários ângulos do pensamento popular, o
sentimento e as raízes do nosso povo (no Museu Britânico há uma exposição
permanente sobre o cordel brasileiro).
Também importante é o programa Memória Viva, desenvolvido pela Televisão
Universitária. São dezenas de depoimentos de figuras as mais importantes, do Estado
e do País, que nos tenham visitado. Djalma Marinho, Câmara Cascudo, Hélio Galvão,
Luiz Tavares – um homem do povo, mas que chegou a níveis nacionais –, Dom Hélder
Câmara, Oscar Niemeyer. É um programa de imagens das matrizes do pensamento
contemporâneo, depoimentos sobre o que os levaram a fazer aquilo. Também fizemos um
amplo documentário sobre a música norte-rio-grandense, na Universidade. Então, ao
lado do cordel, a música; ao lado da música, a imagem e o som, tentando marcar
matrizes do pensamento do homem brasileiro, do homem nordestino, do homem potiguar.
E complementa:
Que bicho homem é esse, que está aqui?... Creio que se pode fazer isso da
melhor maneira possível. Está dentro desta mesma perspectiva o Museu da Segunda
Guerra Mundial, porque há imagens que se vai gravar.
Sintetiza seu pensamento sobre o futuro da Fundação: Acho que a
Fundação tem cumprido o seu papel, sem dúvida. Claro que houve falhas, ela depende
do Governo do Estado e o Estado é pobre, há outras prioridades. Não se faz cultura
com barriga vazia. Há falhas, às vezes de orientação, de metas; há o imediatismo, sem
a preocupação de fazer coisas a longo prazo. Na minha gestão cometi erros, todos
cometemos erros, mas, pelo menos, não-intencionais. Mas acho que o órgão tem cumprido
o seu caminho e a tendência é crescer, a não ser que apareça um Governo debilóide que
resolva matá-lo. A classificação não poderia ser outra: só um debilóide destruiria uma
obra que vem sendo construída com tanto carinho, com tanto esforço. A menos que isso
aconteça, a Fundação só tende a crescer, a se fortalecer.
Fotos: Arquivos da FJA/CEPEJUL

Em 1966, o Gov. Da esq. para a dir.: Paulo Viveiros, Fernando Gomes e Bianor
Mons. Walfredo Medeiros, três dos integrantes da Junta Governativa
Gurgel designou da Fundação José Augusto (1966-1968).
uma Junta para
gerir a Fundação
José Augusto.

78 Fundação José Augusto


TERCEIRA PARTE

PERÍODO DE TRANSIÇÃO
(1975-1982)

Fase preliminar – (1975-1979) ............................................................................................................... 81


(a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal
Lamartine-CEPEJUL e de Desenvolvimento Cultural-CDC ....... 81
(b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED e sur-
gimento do Centro de Recursos Humanos-CRH ...................................... 84
(c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica ............. 86
Fase complementar – (1980-1982) ............................................................................................. 89
Reestruturação administrativa:
(a) Criação dos Centros de Documentação-CDC e de Promo-
ções Culturais-CPC ...................................................................................................................................... 89
(b) Redimensionamento do CRH ..................................................................................... 95
(c) Reativação do CEPEJUL ...................................................................................................... 96
(d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas ........................ 98
Observações dos presidentes da época ............................................................................. 101
Franco Maria Jasiello ................................................................................................................................ 101
Cláudio Emerenciano ............................................................................................................................ 105
Evilásio Leão de Moura ...................................................................................................................... 107
Valério Alfredo Mesquita ................................................................................................................... 109

40 Anos 79
Cláudio José Freire Emerenciano
80 Fundação José Augusto
Fase preliminar (1975-1979)
(a) Criação dos Centros de Estudos e Pesquisas
e de Desenvolvimento Cultural-CDC

O surgimento desses órgãos deu-se em 1974, com a expectativa de


transferência para a UFRN da última faculdade ainda em funcionamento no
âmbito da Entidade (a Faculdade de Sociologia e Política), estabelecida para o
ano posterior. Aquele evento portanto, demarcaria o encerramento das atribuições
de ensino que até então lhe haviam sido conferidas e que constituíam a
característica predominante em sua órbita de atuação.
A iniciativa de instalar-se aquelas unidades, assim, decorreu justamente da
necessidade de implementar-se um plano de ação que viesse configurar, com
inequívoca clareza, as suas novas diretrizes, doravante norteadas exclusivamente
para a investigação, documentação, divulgação e preservação dos fatos e objetos
que, através de múltiplas formas de manifestação, compõem a história e expressam
as peculiaridades da arte e da cultura norte-rio-grandenses.
Pouco a pouco, contudo, os fatos viriam demonstrar que a questão era
bem mais complexa do que se supunha, no primeiro momento. Vejamos a
performance de cada uma daquelas estruturas, tomadas isoladamente.
Na realidade, o Centro de Estudos e Pesquisas não foi criado senão
administrativamente: a nova designação jurídica – Centro de Estudos e
Pesquisas Juvenal Lamartine, ou mais concisamente CEPEJUL – veio substituir
a do antigo Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais, anterior, inclusive,
à própria Fundação, como já tivemos oportunidade de mencionar.
A história do CEPEJUL pois, está indissoluvelmente relacionada à do
Instituto de Pesquisas, sendo mais apropriado, talvez, dizê-las uma só
40 Anos 81
organização que teve, em dado momento, alterada a sua personalidade jurídica.
Não houve qualquer alteração na estrutura remanescente, inclusive quanto ao
quadro de pessoal.
A perda do status de instituto coincide, conforme dissemos linhas atrás,
com a transferência, logo no ano seguinte, da Faculdade de Sociologia e Política,
até então integrada à sua hierarquia administrativa, para a Universidade Federal.
Mas o fato é que, logo em seguida, caiu num marasmo que culminaria com a
sua desativação por alguns anos.
O que terá provocado tal retrocesso?... Analisando mais detidamente
aquele momento, identificamos alguns fatores que nos parecem ter íntima
conexão com o fenômeno, senão vejamos.
Enquanto a Faculdade de Sociologia estava integrada à estrutura do
Instituto, as pesquisas eram realizadas contando-se com os alunos na condição
de auxiliares-técnicos (para serviços de coleta de informações, apuração e
tabulação de dados). Por outro lado, grande parte das atividades
desenvolvidas no Instituto era direcionada especialmente para questões
inerentes ao ensino. Ora, com a saída do contingente universitário, desfalcava-
se seriamente o Instituto daquele suprimento de pessoal para a realização de
suas pesquisas, com a circunstância agravante de que parte significativa do
seu quadro compunha-se de burocratas cujo perfil, grosso modo, é
incompatível com o funcionamento de um órgão de pesquisa. Tais fatores, a
nosso ver, foram definidores para que ocorresse aquele estágio pouco
expressivo. Mas isso é, apenas, uma explicação possível; abstraiamos essas
particularidades e consideremos tão-somente o fato de que referido recesso
(que se prolongaria até meados de 1979) deveu-se ao desligamento e
conseqüente afastamento da Faculdade, gerando sério impacto na
organização pela perda de substancial parcela de sua estrutura, requerendo
algum tempo, portanto, para absorvê-lo e recompor-se.
Os Centros de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine-CEPEJUL e de
Desenvolvimento Cultural-CDC, foram criados pela Lei nº. 4.403, de 23.10.74.
Este último (não confundir com o atual CDC, Centro de Documentação)
mostrar-se-ia mais atuante e realizador que aquele, na época, quando estava
prestes a se iniciar o que chamamos, aqui, de “período de transição” no curso
do desenvolvimento da Entidade. Mas estava-se, ainda, na fase em que prevalecia
dentre os seus interesses e preocupações o ensino superior, o que não impediria,
por outro lado, a implementação de medidas aptas a refletir uma presença
concreta e, assim, mais conseqüente na área explicitamente artístico-cultural.
O Centro de Desenvolvimento teve participação direta, por exemplo,
no processo de operacionalização do Sistema Estadual de Bibliotecas – iniciada
82 Fundação José Augusto
no ano anterior – na criação e implantação da Consultoria Técnica (a qual, por
sua vez, operaria projetos importantes, como veremos no próximo item), na
promoção de eventos culturais, como encontros folclóricos e literários e, enfim,
na organização e execução de um dos seminários mais oportunos de quantos
já foram realizados nesta Fundação, versando sobre a valorização do
Patrimônio Histórico e Artístico, quando se buscava levantar as prioridades
nessa área, na esfera estadual.
Não poderia ser mais produtivo, todavia, face a alguns fatores, dentre os
quais destacaríamos:
(a) a ausência de uma política cultural melhor definida, do que
resultaria maior visibilidade técnica e, conseqüentemente, o alargamento
das alternativas de intervenção;
(b) a insuficiência, em seus quadros, de técnicos com percepção
(sensibilidade) cultural algo mais acurada (diversamente do que
ocorre hoje, conforme veremos em outra parte) e, enfim,
(c) a discreta participação da crítica especializada, assim como de
produtores culturais, fosse incentivando e estimulando com sugestões,
fosse provocando e instigando com o exame severo daquelas iniciativas,
cingindo-se, via de regra, a uma postura moderada, mais descom-
promissada do que reivindicativa. Assim, aquela adinamia expressava,
até, a pacata vida provinciana, perpassada por um certo conformismo.

Considere-se, outrossim, que mal havia nascido o movimento em busca


da memória cultural, das tradições históricas e artísticas da Nação.(5) Sob tal
prisma, nossa comunidade não se achava, ainda, imbuída do sentimento e do
propósito de resgate social do passado potiguar, do conjunto dos hábitos e
costumes, lendas, artes, letras – feitos e fatos – que delineiam e conformam o
perfil histórico-cultural do homem norte-rio-grandense.
Diversamente das polêmicas e severa avaliação crítica que permeiam e
nutrem as iniciativas da atualidade, portanto, a comunidade se postava antes
neutra que questionadora, com o que, sem chegar a tolher, ao menos dificultava
________________________
(5)
A Semana de Arte Moderna (1922), a que se seguiu em decorrência natural o Movimento Pau-brasil
(1924), liderados por Oswald de Andrade, rompendo com os padrões europeus e valorizando a arte e a
literatura nativas, e a criação da Sociedade Brasileira de Folclore (1941), por Câmara Cascudo, emergiram,
espontâneos, dessa ingente necessidade; porém, mesmo cumprindo importante papel nesse processo
não lograram persuadir a sociedade numa dimensão mais ampla (especialmente o Governo Federal, a
quem cumpriria definir estratégias direcionadas para tal fim), praticamente ficando tais idéias circunscritas
a setores pontuais da intelectualidade: nem todos compartilhavam aquelas inovações. À percepção daqueles
pioneiros, enfim, juntar-se-ia a implantação do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas
do Nordeste (1973), pelo MEC, incluindo monumentos, manifestações culturais e obras de arte, programa
esse que se inspirava, decerto, em linha de ação correspondente desenvolvida pela Organização das
Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), qual seja a de proteção ao patrimônio cultural.
Demandaria algum tempo, ainda, a exata compreensão e fixação, no seio da sociedade, de sua inquestionável
necessidade, hoje um fato.

40 Anos 83
o processo natural de aprimoramento do sistema. Em outras palavras, não
ocorrendo uma determinada pressão da coletividade, face à qualidade dos serviços
que lhe são prestados – e não só na área cultural, claro! –, pressão essa que se pode
manifestar sob a forma de sugestões e/ou de reivindicações, no apontamento de
alternativas de ação ou, ainda, de crítica a eventuais inadequações e desacertos,
presume-se a aceitação, sem reservas, do modelo então adotado, com o que se
abrem espaços para os lugares-comuns e, enfim, para a rotina.
Este risco foi superado, contudo. Apenas pretendemos registrar o fato
para dar uma idéia dos percalços e dificuldades, muitas vezes as mais sutis,
com que chegaram a se defrontar administradores e técnicos da Fundação: é
evidente que, se não havia um referencial seguro para que se realimentasse o
processo programático, muito provavelmente este fator terá contribuído para
a relativa demora da Entidade em se afirmar como instrumento cultural, após
a saída do último curso universitário por ela mantido.
A despeito desses fatos, porém, o Centro de Desenvolvimento Cultural foi
produtivo, evoluindo de forma a que, no fim daquela década (70), já se mostrava
com a estrutura obsoleta, mal conseguindo comportar a diversidade de linhas de
ação que lhe competia operacionalizar. Esse crescimento espontâneo e, de certa
forma, desordenado, suscitou a que, em dado instante, nova reformulação
administrativa viesse cindir aquela mencionada estrutura, desdobrando-a em dois
novos Centros, os de Documentação e de Promoções Culturais.
Foram diretores do Centro de Desenvolvimento Cultural, ao longo de seis
anos de existência, Ana Emília de Melo Cortez, Jansen Leiros Ferreira, Tarcísio
Gurgel e Deífilo Gurgel, nesta ordem.

(b) Programa de Formação de Executivos-PROFIED


e surgimento do Centro de Recursos Humanos-CRH
A história do Centro de Recursos Humanos-CRH, em certa medida,
interpenetra-se e se confunde com a do primeiro trabalho que executou,
exatamente o Programa de Formação Integrada de Executivos para o
Desenvolvimento-PROFIED. Aliás, foi exatamente a implantação desse
Programa que requereu a criação do CRH, cujos primeiros cinco anos de
atividade resumiram-se a administrá-lo. Vimos há pouco que o CEPEJUL,
oriundo do Instituto Juvenal Lamartine, não resistiu ao afastamento da
Faculdade de Sociologia; aqui dá-se fenômeno inverso, isto é, com a extinção
do PROFIED é que o CRH adquire maturidade e se impõe com efetiva e
indivisível personalidade.
Tomemos, pois, para efeito de melhor entendimento a compreensão desse
84 Fundação José Augusto
órgão, esses dois momentos, ou seja, a fase em que predomina o PROFIED e
aquela exclusivamente liderada pelo Centro de Recursos Humanos.
O PROFIED originou-se de uma experiência de formação de quadros
dirigentes, realizada em Natal entre 1973 e 1974. Esse trabalho compunha o
Programa Global de Desenvolvimento Integrado do Estado, contando com a
participação de uma equipe interprofissional, selecionada de organizações locais,
sob a coordenação e orientação de especialistas do Consórcio CITACO-BATTELE.
Os estudos e reflexões desenvolvidos naquela oportunidade levariam a
uma proposta de criação de um programa para a formação de executivos, a
qual contaria com o apoio e patrocínio do Programa Nacional de Treinamento
de Executivos-PNTE, órgão vinculado à Secretaria de Planejamento da
Presidência da República. Como resultado, foi elaborado o projeto de
implantação do PROFIED, preliminarmente aprovado pela SEPLAN/RN
e, em seguida, em caráter conclusivo, pelo aludido PNTE.
Como conseqüência, foi firmado um convênio entre o Governo do
Estado e aquele órgão ministerial, tendo como intervenientes a SUDENE, a
Secretaria de Estado da Educação e Cultura, o Núcleo de Assistência Empre-
sarial do Rio Grande do Norte-NAE e o Instituto Euvaldo Lodi-IEL.
Das propostas de solução institucional aprovadas para a operacionalização
do Programa, foi selecionada e designada a Fundação José Augusto por ser
adequado o modelo organizacional desta instituição aos seus propósitos e
finalidades. Assim, no dia 28.11.75, através do Ato Institucional nº. 232/75,
foi feita a nomeação do Coordenador do Programa e a sua implantação oficial.
A finalidade básica do PROFIED era a de articular e desenvolver
dirigentes e intermediários da área empresarial, de sorte a aprimorar e
intensificar a sua produtividade no desempenho funcional. Em síntese, as
ações concretizadas por aquela estrutura, ao longo de sua existência,
compreenderam:
(a) Um curso de Capacitação Técnica para o sistema estadual de
planejamento;
(b) Dois cursos de Aperfeiçoamento em Planejamento e Administração
de Universidades, em convênio com a Universidade Federal do Rio Grande
do Norte-UFRN;
(c) Sete cursos de Formação de Recursos Humanos para órgãos
diversos e,
(d) Onze seminários, abertos e fechados, para organizações públicas e
privadas, respectivamente, além de mais um seminário nacional de
Valorização do Patrimônio Histórico e Artístico, em convênio com
a SEPLAN/PR.
40 Anos 85
Além dessas atividades, realizou ainda uma intervenção de consultoria
em desenvolvimento organizacional em empresa de economia mista do Estado,
uma pesquisa sobre órgãos de formação profissional no Nordeste e alguns
estudos sobre metodologias de treinamento, baseadas no conceito de
autoformação.
A partir de janeiro de 1978, com a extinção do PNTE, passou aquele
programa a ser financiado pelo Centro Brasileiro de Apoio à Pequena e Média
Empresas-CEBRAE, através do Centro de Apoio à Pequena e Média Empresas
do Rio Grande do Norte-CEAG/RN, órgão com o qual esteve a Fundação
José Augusto conveniada até 31.12.79, quando então foi desativado e, portanto,
extinto o PROFIED.
Em janeiro de 1980, assim, o CRH passou a existir de fato, com os seus
objetivos próprios.
Era seu diretor José Bezerra Marinho, sendo coordenadores do
PROFIED Flávio José Dantas de Oliveira e Paulo Fernandes de Oliveira.
Voltaremos a tratar do Centro de Recursos Humanos no devido tempo,
a partir de fevereiro de 1980.

(c) Criação e operacionalização da Consultoria Técnica


Dizíamos há pouco da significativa presença do Centro de
Desenvolvimento Cultural-CDC no decorrer das mudanças por que passava a
Fundação José Augusto, especialmente após a transformação do Instituto
Juvenal Lamartine de Pesquisas Sociais-IJLPS no Centro de Estudos e Pesquisas
Juvenal Lamartine- CEPEJUL, do que resultou, como referimos, sensível
declínio em seu desempenho operacional (já mencionamos, inclusive, a que se
deveu tal malogro), a ponto de chegar a entrar em recesso durante alguns
anos.(6)
Na verdade, esses dois organismos – CDC e CEPEJUL – deveriam
constituir os pilares de sustentação programática da instituição mas, enfim,
este papel passou a ser da exclusiva responsabilidade do CDC, que viria
naturalmente a se ressentir com o peso suplementar de suas atribuições técnicas
(confecção de planos de ação e de projetos, por exemplo) e aquelas mais
especificamente culturais.
Assim, se havia competência, faltava agilidade: a despeito de todo o
esforço da equipe, muitas oportunidades de capitalização de recursos eram
seguidamente desperdiçadas em virtude do fator tempo. O então
_________________________
No período, o CEPEJUL passou a funcionar na condição de simples Coordenadoria do Centro de
(6)

Desenvolvimento Cultural, então uma Diretoria.

86 Fundação José Augusto


presidente, Sanderson Negreiros, constatando a imperiosa necessidade de
dinamizar a produção de projetos e, ao mesmo tempo, percebendo o
impasse, deliberou no sentido de criar um setor especializado que viesse
suprir aquela defasagem, servindo como base de apoio, em conjunto com
o Centro de Desenvolvimento, para a política de interiorização da ação
cultural que tentaria concretizar.
Após algumas reuniões com auxiliares e o estabelecimento de contato com
dirigentes de outras instituições, dentre os quais João Faustino, então Secretário
Estadual de Educação, e Marlúsia Saldanha, à época Coordenadora do Grupo
Especial de Programação (GEP) do SESI, a 12 de agosto de 1975 a Consultoria
Técnica era instalada e iniciava suas atividades. A equipe compunha-se de um
sociólogo, dois economistas, uma assistente social, um arquiteto e um desenhista,
este, universitário de arquitetura, com a função de auxiliar nos projetos da área
de restauração de monumentos.
Foi providencial, sem dúvida, aquela
iniciativa. Aliás, a identificação de uma
determinada situação-problema só se torna
efetivamente útil quando, à tal percepção, segue-
se o não-conformismo; este é o fator sine qua non
para estabelecer-se uma estratégia visando revertê-
la. Instr umentava-se a Entidade, pelo
inconformismo com a esdrúxula circunstância,
com um setor que se mostraria bastante produtivo
durante sua relativamente curta existência (cerca
de quatro anos), confirmando o acerto da medida
tomada naquele momento específico. Sanderson Negreiros
ex-Presidente
Referimos em outra parte que os projetos
do Centro de Turismo de Natal (a partir da restauração da antiga Casa de
Detenção), Casarão do Antunes e Casa-Grande do Engenho Guaporé
(ambos no município de Ceará-mirim), do Solar do Ferreiro Torto (em
Macaíba) e o do Circo da Cultura, que atuava em todo o Estado, foram alguns
dos trabalhos mais emblemáticos daquele órgão.
Mas se o advento da Consultoria Técnica, por um lado, desafogava o
Centro de Desenvolvimento quanto à elaboração de projetos, não o cobria,
mesmo porque não tinha essa função, quanto à execução das metas, ou seja, a
promoção de eventos nas diversas manifestações – artes plásticas, literatura,
cultura popular, música, etc. –, o gerenciamento dos museus e da biblioteca, a
produção de documentários e outras intervenções próprias ao sistema.
Pouco a pouco – mas de forma irreversível – desenhava-se, outra vez, a
40 Anos 87
necessidade de alterações estratégicas na estrutura da Fundação. Desta feita,
porém, seriam mais profundas e duradouras. É o que veremos, a seguir.
Em todo o transcurso da existência da Consultoria Técnica (1975-1979),
foi seu chefe Luís Carlos Cabral; anos mais tarde seria criada a Assessoria
Técnica com atribuições similares de formulação de projetos para todo o
sistema e de acompanhamento técnico da execução orçamentária da Entidade.
A Assessoria Técnica, por sua vez, foi dirigida por Evane Longo da Silva
Torres.
Foto: Arquivos da FJA /CEPEJUL

Solar do Ferreiro Torto (Macaíba), um dos últimos exemplares


da arquitetura rural do século XIX no RN.

88 Fundação José Augusto


Fase Complementar (1980-1982)
Reestruturação administrativa
(a) criação dos Centros de Documentação-CDC
e de Promoções Culturais-CPC

Na segunda metade do Governo de Tarcísio Maia (1975-1979), Franco


Maria Jasiello foi investido no cargo de Presidente da Fundação José Augusto.
Naquele período deu-se nova reforma do Regimento Geral da Entidade,
aprovado pelo Conselho Diretor em 18.11.77 e publicado no Diário Oficial
em 19.01.78. Dos órgãos de operação remanescentes, o CEPEJUL, cuja
existência era tão-somente virtual, foi momentaneamente deixado à parte,
permanecendo apenas o Centro de Desenvolvimento Cultural e o Centro de
Recursos Humanos-CRH, este último criado três anos antes (outubro de 1974),
justamente quando surgia o CEPEJUL oriundo do então extinto Instituto de
Pesquisas.
A experiência não foi positiva. Mesmo contando com a Consultoria
Técnica – a qual cumpria, basicamente, formular projetos para todo o sistema,
afora realizar o acompanhamento técnico da execução orçamentária da
Fundação –, o volume de atribuições do Centro de Desenvolvimento
praticamente o inviabilizava. Duas coordenadorias, apenas, geriam praticamente
todas as atividades da Casa, senão vejamos: à Coordenadora de Atividades
do Patrimônio Histórico e Artístico competia:
(a) “coordenar e supervisionar as atividades de restauração,
conservação e manutenção do patrimônio histórico e artístico do
Estado” e
(b) “programar e supervisionar as atividades de pesquisa artístico-
40 Anos 89
cultural necessárias à Fundação” (este segundo item de suas atribuições,
como se vê, praticamente pretendia abarcar as ações antes pertinentes
ao CEPEJUL).

Quanto à Coordenadoria de Atividades Culturais, cabia:


(a) “coordenar a execução do programa estabelecido para as áreas de
cursos, concursos e exposições”;
(b) “elaborar a programação e coordenar as atividades do Circo da
Cultura, do Carro-biblioteca e do Carroção da Cultura”;
(c) “compatibilizar a programação das bibliotecas e orientar o
desempenho das atividades dos museus”, e
(d) “elaborar a programação e supervisionar o desempenho das
atividades de documentação sonora e fotográfica da Fundação”.

Note-se que não há qualquer referência sobre a qual das duas


coordenadorias cumpriria responsabilizar-se pelo armazenamento e
manutenção de documentos.
A gestão de Franco Jasiello, não obstante, foi fecunda, especialmente
quanto à restauração de monumentos tombados pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, mas o próprio Franco, em capítulo
específico (pp. 101-102), com bem mais propriedade discorre a respeito.
Em maio de 1979 – havia pouco Lavoisier Maia Sobrinho fora
empossado Governador do Estado –, Sanderson Negreiros foi reconduzido
à chefia da Fundação. Desta feita, porém, permaneceria brevíssimo tempo no
cargo, em virtude de sua anuência a novo convite profissional (assumiria uma
pró-reitoria na Universidade Federal do Rio Grande do Norte).
Com a vacância do cargo, foi convocado o Prof. Cláudio José Freire
Emerenciano. Era flagrante, àquela altura, o quase imobilismo a que estava sujeita
a Fundação, o crescimento desordenado do CDC e os inúmeros encargos de
suas coordenadorias – conforme vimos –, e aquele congestionamento figurava a
necessidade de urgente modificação na sua estrutura.
A Consultoria Técnica, por sua vez, apresentava um perfil sobremodo
diferenciado daquele dos primeiros tempos. De certa forma se despersonalizara,
se transmutara de órgão formalmente constituído para a formulação de projetos
em apêndice do sistema administrativo e financeiro e do CRH. A realidade é
que, em síntese, haviam se esvaziado os objetivos que a concretizaram. Só para
se ter uma idéia aproximada do problema considere-se o fato de que, por volta
de meados de junho daquele ano (1979), foram terceirizados serviços para
elaboração de projetos, ocorrência similar vindo a se repetir em dezembro.
90 Fundação José Augusto
Bem, o novo presidente chegara com idéias novas. Queria dinamizar e
expandir as atividades, envolver maior número de manifestações e, para isso,
precisava contar com um corpo técnico ágil, com maior flexibilidade de ações.
Instigou seu pessoal, nesse sentido. Os resultados foram aquém de suas
expectativas e isso o levaria, por fim, a realizar as mudanças que se impunham
absolutamente inadiáveis, as quais se concretizariam com o advento da Lei nº.
4.923, de 17.12.79.
Ao instituir essa lei o Governo demarcava, de forma indelével, o antes e
o depois no trato da coisa cultural no âmbito do Estado. A partir de sua
implantação e, especialmente, com a implementação das medidas fundamentais
ali expostas, a Fundação José Augusto conseguiu, afinal, “desemperrar” a
máquina administrativa e deslanchar em seus diversos segmentos operacionais.
O CEPEJUL retornou ao sistema, deixando a pesquisa de ser mero núcleo
incrustado numa coordenadoria de atividades culturais, o CRH foi
redimensionado de forma a tornar-se mais desenvolto e agressivo e o Centro
de Desenvolvimento foi fracionado, dando origem a dois novos centros – o
de Documentação e o de Promoções Culturais –, passando a apresentar-se a
Fundação com novo organograma (V. pp. 93-94).
Quanto aos dois prefalados centros (CDC e CPC), uma particularidade
os distingue, naquele início, senão vejamos.
Quando o Centro de Desenvolvimento foi desmembrado, toda a estrutura
remanescente (salas, mobiliário, equipamentos e quadro de pessoal) foi
automaticamente incorporada pelo Centro de Promoções, em detrimento do
Centro de Documentação. O fato, aparentemente esdrúxulo, tem uma
explicação, não uma justificativa, necessariamente. Para grande parte da
Fundação, notadamente para o pessoal oriundo do ex-Centro de
Desenvolvimento, este apenas tivera alterada a denominação, enquanto que o
CDC estava sendo criado naquele instante. Esta perspectiva, certamente
incorreta, era reforçada pelo fato de que o diretor do órgão em extinção, assim
como as suas demais chefias, assumira a direção do CPC, ocorrendo assim
uma continuidade natural, linear, em todos os sentidos, inclusive o
programático. Para os que viam por essa ótica é evidente que, a rigor, nada
mudara.
Ao CDC, portanto, cumpria iniciar do marco-zero, muito embora
compreendesse, logo de saída, as Coordenadorias de Bibliotecas e de
Atividades do Patrimônio Histórico e Artístico, esta última com os Núcleos
de Restauração e de Museus, além do Setor Fotográfico. Passaria a gerir, ainda,
a Coordenadoria de Produção e Documentação, com núcleos correspondentes.
Na verdade, é este o Centro mais amplo da Fundação, homogêneo nos
40 Anos 91
fins e propósitos, mas heterogêneo nas formas de intervenção. Quanto às ações
a serem implementadas por esta última coordenadoria, isto é, no campo
específico da documentação, tudo estava por fazer, inclusive a própria infra-
estrutura.
Dentro das limitadas condições que se ofereciam, as providências foram
sendo tomadas. Pouco a pouco se foi desenhando e fixando o perfil do novo
órgão. Seus objetivos principais, afora aqueles próprios exclusivamente das
bibliotecas e do Núcleo de Restauração, são os de “guardar e preservar os
bens culturais móveis e facilitar o seu acesso à comunidade, através das atividades
museológicas e arquivísticas, bem como produzir e promover a editoração de
documentos de valor cultural”. Naturalmente tais objetivos pressupõem a
pesquisa histórica, com a aplicação de diversos instrumentos e técnicas. E eles
foram perseguidos a cada projeto e a cada iniciativa, nos limites das
possibilidades existentes.
No período que estamos tratando, foi diretor do Centro de
Documentação Tarcisio Rosas.
Quanto ao Centro de Promoções, como já dissemos, manteve a
composição técnico-administrativa do Centro de Desenvolvimento, seu
antecessor, e tornou-se, não obstante, claramente mais funcional e
produtivo; libertara-se da pesada carga a tolher-lhe os movimentos,
repassando-a ao CDC. Este aspecto foi vital, dentro da política de
dinamização do órgão que estava sendo implantada. Com efeito, ao
transferir as Coordenadorias de Biblioteca e de Atividades do Patrimônio
Histórico e Artístico, esta última com os setores de restauração de
monumentos e de museus, para o CDC, tornou-se mais ágil, iniciando uma
política de intensa participação na área promocional de eventos – em
conformidade com os seus objetivos –, aí destacando-se as artes plásticas
e o folclore, em suas variadas manifestações.
Aliás, era justamente esse o efeito pretendido, conforme estipulam os
seus objetivos, assim descritos no Regimento Geral da Fundação: “promover
atividades na área cultural, estimulando a prática da arte e da cultura e difundido-
as, através do apoio aos produtores culturais no campo das artes plásticas,
cênicas, musicais e outras”, para isso desenvolvendo “uma política estadual de
interiorização da ação cultural”.
Sua estrutura, compreendendo as Coordenadorias de Atividades
Artísticas e de Divulgação e Promoção, com os Núcleos de Desenvolvimento
Artístico, Criatividade, Divulgação e Promoções, implementou múltiplos
projetos, destacando-se a modernização e a estadualização do Circo da Cultura,
a criação da Feira Cultural, a realização de encontros e festivais anuais de teatro,
92 Fundação José Augusto
ENCART
E

40 Anos 93
94 Fundação José Augusto
folclore e mamulengos e pelo menos meia dúzia de projetos visando à
recuperação e manutenção de grupos folclóricos - com a aquisição e doação
de instrumentos e adereços.
Deífilo Gurgel foi seu primeiro diretor.

(b) redimensionamento do CRH


Dizíamos a certa altura que o Centro de Recursos Humanos, ao longo
dos seus primeiros cinco anos de funcionamento, resumia-se praticamente ao
PROFIED. Este programa predominava de tal forma sobre aquele órgão que
a imagem projetada, fora da Fundação, era a de sua existência como entidade
autônoma, sendo desconhecida, ou muito pouco conhecida, a do CRH. Mas
tudo tem sua razão de ser.
Ora, o Programa Nacional de Treinamento de Executivos-PNTE
dispunha de verbas em larga escala. Já dissemos que era órgão pertencente à
estrutura da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, fato que
fala por si mesmo. O PNTE, pois, em suma, dava apoio ao PROFIED,
proporcionando-lhe os meios imprescindíveis ao seu desenvolvimento,
diversamente do que ocorria com o CRH propriamente dito, cujo orçamento,
além de extremamente despretensioso, era gerido de forma parcimoniosa.
Mesmo após a extinção do PNTE, em 1978, o PROFIED continuou
prestigiado, desta vez pelo CEBRAE e através do CEAG/RN, cujo convênio
veio a extinguir-se a 31 de dezembro de 1979, fato que teve como conseqüência
imediata o fim puro e simples do PROFIED.
Uma nova década se iniciava e o CRH deveria encontrar o seu próprio
caminho. Se o PROFIED e suas provisões orçamentárias já não existiam e se
as verbas destinadas ao Centro continuavam extremamente insuficientes, urgia
uma reformulação nos conceitos de trabalho, uma ação mais enérgica no sentido
de captação de recursos, e isso era, em síntese, o ponto crucial a desafiar a
criatividade dos novos dirigentes daquele órgão.
Seguindo o espírito que movia os demais órgãos da instituição – CEPEJUL,
CDC e CPC –, o CRH sem demora executou um plano sistemático de contatos
com entidades as quais pudessem interessar a realização de cursos e seminários e,
a partir daí, começou efetivamente a adquirir personalidade própria.
Os objetivos daquela organização se resumiram a:
(a) planejar, coordenar e executar atividades de capacitação técnica de
recursos humanos, no Estado;
(b) oferecer assistência técnica, na área de recursos humanos, a
organizações públicas e privadas, e
40 Anos 95
(c) promover estudos e pesquisas sobre recursos humanos, no Rio
Grande do Norte.

Duas Coordenadorias, a de Programação Didática e a de Assistência


Técnica, desenvolviam os projetos e trabalhos do Centro; a primeira delas,
planejava e executava os seminários e cursos abertos e fechados (isto é, sem
restrições quanto à clientela e exclusivos para determinadas organizações), de
curta e média duração, enquanto a de Assistência Técnica era responsável pela
elaboração e execução de projetos de pesquisas e por atividades de assessoria
e consultoria técnica.
Pouco a pouco este Centro se foi firmando no conceito e no respeito da
comunidade e os seus cursos e seminários, sempre rigorosamente planejados e
executados, constituíram um acontecimento de significação expressiva na área
de conhecimentos em que se realizaram.
No período de que estamos tratando, Paulo Fernandes foi o seu diretor.

(c) Reativação do CEPEJUL


Ficamos em que o CEPEJUL fora desativado, quando do
desmembramento da Faculdade de Sociologia e Política de sua estrutura. Em
1979 retomaria, então renovado, refeito em seus quadros, emulado e, o que é
importante, com a firme determinação de realizar os estudos e pesquisas de
há muito reclamados pela Instituição.
Com efeito, desde suas origens os objetivos que o orientam são os de
“exercer atividades de planejamento, elaboração e avaliação de projetos de
pesquisas, sejam de caráter oficial ou particular, direcionados, com

Capas de livros do Programa “História do seu Município”, executado


pelo CEPEJUL, no início dos anos 80.

96 Fundação José Augusto


Eduardo Gomes (atual Parnamirim), Florânia e Caicó também
foram parceiros da Fundação, neste programa.

especialidade, para a realidade norte-rio-grandense e regional”. Para isso


devemos acionar mecanismos que levem ao “intercâmbio com instituições afins,
da área sócio-econômica e cultural”, conforme dispõe o Regimento Interno
da Fundação.
Constitui-se, portanto, num órgão destinado a dar suporte às promoções
da política cultural, bem como aos planos de estudos sócio-econômicos da
Fundação José Augusto e, ainda, a atender a demanda eventual de pesquisas
oriundas do setor privado.
Naquele retorno confirmaria os seus propósitos de recuperar, digamos
assim, o tempo perdido, de imediato iniciando o processo de reformulação
de propostas de trabalho.
Assim, nos anos que estamos tratando, o CEPEJUL já arrancava com
intensa participação. Por aquele período foram iniciados trabalhos importantes
e de alto significado social, dentre os quais podemos destacar A Política de
Combate à Seca – antes e depois da SUDENE, Levantamento dos
Usuários da CAERN, Levantamento e Diagnóstico das Favelas de Natal,
Desemprego e Educação, História do seu Município, Crescimento
Vertical de Natal e a História do Futebol Natalense (este último trabalho,
infelizmente, não pôde ser concluído àquela época e foi arquivado para ulterior
retomada).
Com o primeiro desses estudos tentava-se proceder a uma análise
comparativa de como se dera o processo de intervenção do Governo Federal
nos longos períodos de estiagem, desde o começo do século XX e até o advento
da SUDENE, e as estratégias adotadas posteriormente. Foi um estudo
complexo, minucioso e que teve como referencial básico os jornais da oposição
e da situação de todas as capitais do Nordeste.
40 Anos 97
Com relação ao trabalho executado para a CAERN, teve nuanças bastante
dinâmicas. O número de técnicos existentes no Centro era insuficiente para
cobrir a quantidade de domicílios prevista para o projeto, sendo necessária a
contratação de pessoal em regime extra. Uma Kombi Volkswagen foi adquirida
e um ônibus contratado para assegurar a distribuição diária do pessoal em
pontos estratégicos da cidade.
Vê-se, portanto, nos primeiros anos daquela época toda a equipe do
Centro estava envolvida nesses projetos.
O seu diretor, então, era o sociólogo e professor Itamar de Sousa.

(d) Consolidação do Sistema Estadual de Bibliotecas


Dissemos que aquele ano de 1980 foi um marco no processo de
desenvolvimento da Fundação. A nova mentalidade implantada,
fundamentalmente direcionada para a ampliação das linhas de ação do órgão,
mas a partir de bases seguras, conscientes, terminou por operar resultados
positivos. Aquela mudança na estrutura, eliminando o risco de paralisação do
Foto: Arquivos da FJA / CDC

Biblioteca Pública Câmara Cascudo, na Rua Potengi, em Petrópolis, centro de Natal.

98 Fundação José Augusto


sistema com o estrangulamento do ex-Centro de Desenvolvimento, com o
tempo mostraria ter sido providencial.
Aos novos Centros de Documentação e de Promoção Cultural somavam-
se o ressurgimento dos Centros de Pesquisas e de Recursos Humanos com
novo ânimo, com vontade de acertar, todos imbuídos da convicção de que só
com muita criatividade e dinamismo seria possível chegar à construção efetiva
de um canal viabilizador, de um caminho conseqüente.
Em todas as frentes programáticas, pois, havia empenho e dedicação,
apesar de eventuais fragilidades técnicas em alguns setores específicos.
Como se deu esse processo, no âmbito da Biblioteca Pública Câmara
Cascudo?
De início, diga-se que a Biblioteca, a partir daquele instante, também
sofreria reformulações e apresentaria um novo estilo de trabalho. Pouco a
pouco ela permearia, por acréscimo, um plano de atividades mais flexíveis,
onde não só o papel da biblioteca tradicional fosse o centro das atenções e
preocupações mas, também, a elevação dos padrões culturais da comunidade,
através de sua clientela. Claro, a leitura (o livro, o leitor) continuava sendo o
ponto principal, a essência de sua nova postura.
Esta concepção prevalece até nossos dias (2003): ela vem desempenhando
não só a função de mantenedora de dezenas de milhares de livros e documentos
congêneres mas, inclusive, a de núcleo catalisador e disseminador da arte e da
cultura, seja co-participando de inúmeras das ações desencadeadas pela
Fundação ou por iniciativa própria.
Logo naquele tempo, sem se descuidar dos seus projetos de extensão
(Caixas-Estantes, Carro-Biblioteca e Feira de Livros), afora o programa
permanente da Sala Infantil, não raro participava de atividades de outros
segmentos operacionais da Instituição: Feiras Culturais (enquanto perduraram),
artes plásticas (estas já constituindo parte integrante de sua própria estrutura
física e programática, através da manutenção de uma sala de exposições),
literatura e, certa vez, até, cinema.
Foi em 1982. A Fundação, conjuntamente com a Universidade, com as
Secretarias Estadual e Municipal de Educação e com o Cine Clube Tirol,
desenvolveu o projeto Espaços Culturais Cinematográficos em Diferentes
Contextos Sociais, cuja essência era a projeção de filmes informativos e formativos,
seguidos de debates com os espectadores, experiência essa levada a diversos bairros
de Natal e a outros municípios. A Biblioteca aproveitou a idéia e programou uma
projeção semanal, na Sala Infantil, dentro do mesmo sistema – certamente
adaptando o padrão dos debates à natureza do público.
Outros projetos da Biblioteca registraram essa tendência à fuga do
40 Anos 99
estilo ortodoxo de trabalho: concursos literários, palestras, treinamentos.
Mas há um projeto mais ambicioso, da maior repercussão, cujos primeiros
passos foram ensaiados ainda em 1974: a organização de bibliotecas em
todo o Estado, com vistas à implementação de um sistema estadual
integrado. A respeito, diz Diógenes C. Lima, então presidente do órgão:
Um plano seguramente de grande significação foi o de tentarmos fazer uma biblioteca
em cada município do Estado. Cento e cinqüenta bibliotecas no Rio Grande do
Norte. Se não atingimos o total, grande parte foi atingida.
Na verdade, em que pese os seus esforços, apenas sete anos depois, através
do Decreto nº. 5.075, de 18.01.81, seria criado o Sistema Estadual de Biblio-
tecas, tendo como meta prioritária a implantação de bibliotecas nos municípios
ainda sem esse tipo de estrutura, reunindo-as sob um programa integrado. O
trabalho foi desenvolvido a partir de convênio celebrado entre o Instituto
Nacional do Livro-INL, a Fundação José Augusto e as respectivas Prefeituras
Municipais.
Coube à Biblioteca Pública Câmara Cascudo a coordenação do sistema,
o que se concretizava na prestação de assistência técnica às demais unidades,
Foto: Arquivos da FJA/ BPCC

Flagrante do carro-biblioteca em plena atividade num dos bairros da periferia de Natal.

100 Fundação José Augusto


na realização de supervisões periódicas, na redistribuição de material
bibliográfico e, anualmente, na promoção de treinamentos de atualização.
A partir de 1975 a Biblioteca foi coordenada por Ana Emília de Melo
Cortez (1975-1976), Eliana Lúcia Pessoa (1977-1980), Maria do Socorro Cunha
de Matos (1980-1983), Zila da Costa Mamede (1983-1985), novamente Maria
do Socorro Cunha de Matos (1985-1987), Neusa Pinheiro de Medeiros (1987-
1991), Sônia Santos Ferreira (1991-1994), Ana Cristina Tinoco (1995-1996),
Maria Luíza Morais Araújo (1996-1998), Rejane Lordão Monteiro (1998-2002)
e, atualmente (2003), mais uma vez está sendo administrada por Maria do
Socorro Cunha de Matos.

Observações dos presidentes da época


Quando Diógenes da Cunha Lima deixou a Presidência da Fundação,
em 1974, foi substituído pelo Jornalista Sanderson Negreiros. Aproximava-se
o fim daquela fase em que predominara o ensino universitário e caberia
justamente a Sanderson (professor universitário, cronista e poeta)
operacionalizar a transição. Isso já foi descrito exaustivamente, em outra parte.
Não fora o impacto sofrido pelo Centro de Pesquisas (oriundo do Instituto
de Pesquisas, mudança ocorrida em outubro daquele ano) com a saída da
Faculdade de Sociologia, poder-se-ia dizer que, embora lenta, essa etapa
transcorrera naturalmente, de maneira progressiva e segura.
Algumas alterações estratégicas, do ponto de vista administrativo, foram
efetuadas. Importantes convênios foram firmados, inclusive o que originou o
famoso PROFIED. Uma consultoria técnica foi criada, em 1975, provendo o
órgão de uma equipe exclusivamente direcionada para a geração de projetos.
Data desse período, e isso também já foi assinalado, algumas importantes
propostas (que se concretizariam) de restauração de monumentos, dentre os
quais a Casa-grande do Engenho Guaporé, o Ferreiro Torto e a Casa de
Detenção (atual Centro de Turismo); iniciativas na área da cultura popular
(Circo da Cultura, por exemplo), entre outras.
Sanderson passou o cargo a Franco Jasiello, que assim se pronunciou.

Franco Maria Jasiello


Ocupei a Presidência da Fundação José Augusto de agosto de 1977 até maio de
1979, apesar de exercer o cargo de Presidente (extra-oficialmente) desde meados de
1976, inicia Franco. Durante minha administração, prossegue, foi dada grande
ênfase ao Programa de Restauração de Monumentos Históricos e Artísticos, através da
40 Anos 101
fixação do Setor, da elaboração de praticamente todos os projetos arquitetônicos que
se encontravam em fase de estudos e da restauração e inauguração dos monumentos
Casarão do Antunes e Casa-grande do Engenho Guaporé, em Ceará-Mirim; Solar
do Ferreiro Torto, em Macaíba, e Câmara Municipal de Acari, deixando prontas
para inauguração a Igreja do Rosário, também de Acari, e a Casa Paroquial de
Jardim do Seridó.
Lembra que, em sua gestão, foi redigido o Anteprojeto de Proteção do
Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, posteriormente transformado em
Projeto e aprovado pela Assembléia Legislativa, tornando-se Lei Estadual.
Em seguida, passa a elencar outras ações, no período:
(a) foi criado o Encontro de Mamulengos do Nordeste, em convênio com a
FUNARTE/Campanha de Defesa do Folclore, e revitalizado o Teatro Amador,
com encenação de peças e ajuda a grupos;
(b) foram criados os Prêmios de Pintura Newton Navarro e ‘Governador do Estado’
e o Prêmio Literário Fundação José Augusto;
(c) foi revitalizado o Circo da Cultura, cuja equipe, basicamente fixa, passou à
visitação média de trinta municípios por ano;
(d) foram realizados cursos para várias entidades, através do Centro de Recursos
Humanos, com especial destaque para dois encontros. O primeiro, de relevância interna:
Seminário sobre a Situação da Fundação, em que todos os participantes, a maior
parte dos funcionários, tiveram facultada a palavra para debater, criticar, pleitear e
sugerir. O segundo, de relevância nacional, com a participação dos maiores nomes na
área, sobre Restauração Histórica e Artística;
(e) no campo editorial foram feitas várias edições e, inclusive, foram inciados os
serviços editoriais de Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil,
de Luís da Câmara Cascudo, 2ª. edição, e feito o lançamento, na Fundação
Casa Rui Barbosa, da Antologia de Cordel, de João Batista Nunes, com o
patrocínio da Shell do Brasil.

Quanto às dificuldades encontradas, assim se expressa o Prof. Franco Jasiello:


(...) foram as que, em grande parte, continuam, até de forma mais grave: exigüidade de verbas,
falta de um sistema de divulgação adequado, desconhecimento por parte do público, em geral, e
dos produtores culturais, em particular, das reais finalidades de uma Fundação Cultural, de
suas funções e limitações, adiantando que os aspectos positivos podem ser representados
por tudo que ficou em definitivo e permitiu aos sucessores melhorar, ampliar e inovar.
Indagado sobre como vê a Fundação, hoje, Franco foi claro: Considerando
a situação específica do País, especialmente no âmbito cultural, e a exasperação das pretensões
dos produtores e de alguns consumidores culturais, não poderia ser melhor. Muito está sendo
feito e declaro, isentando-me de emocionalismos de qualquer espécie, que ninguém poderia
102 Fundação José Augusto
fazer mais e melhor. Pela primeira vez na História da
Cultura deste Estado, há um espaço aberto para as letras,
para os velhos e novos talentos, que o jornal – revista ‘O
Galo’, confundido, pelos mal-informados, ou mal-
intencionados, com os órgãos oficiais de divulgação – quando
é apenas uma tribuna livre, confeccionada com sacrifício e
competência e de cuja falta os intelectuais da terra sempre
se ressentiram, concluiu.
Complementando o seu depoimento, o ex-
Presidente se reportou às perspectivas da
entidade, não as vendo com otimismo, tampouco
para qualquer outro tipo de atividade, a menos que
Franco Maria Jasiello aconteça uma verdadeira reviravolta na situação
ex-Presidente econômico-sócio-política do País.
E afirma, encerrando: Especialmente no campo da cultura, as disposições vigentes,
principalmente a Lei Sarney, são mais limitativas e castradoras do que incentivadoras.
(Esta entrevista foi realizada em 1988).
Em 23 de maio de 1979, mais uma vez ocupava a Presidência da
Fundação José Augusto o Jornalista e Prof. Sanderson Negreiros. Desta vez,
contudo, cerca de 20 dias após renunciaria, sendo de imediato substituído
pelo Prof. Cláudio José Freire Emerenciano. Certamente não houve tempo,
praticamente, de estabelecer novas diretrizes de ação, cabendo ao seu sucessor
fazê-lo, como veremos a seguir.

Cláudio Emerenciano
Iniciada em junho de 1979, a gestão de Cláudio Emerenciano se
prolongaria até 12 de junho de 1980, durando algo em torno de doze meses,
portanto. O seu depoimento começa com uma síntese dos objetivos a que se
propôs, que foram: Proceder a uma análise do desempenho da Fundação, até aquela
época; avaliar sua estrutura funcional e, ouvindo as expressões da cultura do Estado (não só
da cultura erudita mas, sobretudo e principalmente, da cultura popular), definir uma política
cultural. Prossegue: Seguiu-se a elaboração de projetos para todas as áreas definidas na
política cultural e, por fim, sua implantação e execução. Feita esta introdução, o Prof.
Cláudio Emerenciano passa a historiar sua administração nos seguintes termos:
A Fundação vinha de esforços notáveis, realizados pelos diversos dirigentes que
me haviam antecedido, cita-os nominalmente: Sem dúvida alguma, tudo fizeram
para bem desempenhar suas funções. As dificuldades que ainda hoje embargam,
dificultam e atropelam o desempenho da Fundação José Augusto, contudo, sempre
existiram. Essas dificuldades ora se manifestam de modo mais ostensivo, mais
40 Anos 103
expressivo, mais aplicável, ora não; são fases que dependem das prioridades conferidas
no Brasil, na administração pública brasileira, a partir do próprio Governo Federal.
Aliás, o Governo Federal gera, por via de conseqüências, efeitos e desencadeamentos
que alcançam as administrações estaduais e municipais.
Cita que, após realizar aquela “espécie de autocrítica do desempenho da
Fundação”, elaborou e propôs, ao então Governador Lovoisier Maia, uma
nova estrutura para o órgão, o qual a encaminhou, na forma de anteprojeto de
lei, à Assembléia Legislativa, sendo aprovada sem restrições.
Continua: Os Centros que hoje existem foram criados na nossa administração.
Alguns órgãos que haviam sido extintos, por circunstâncias e razões conjunturais, foram
reativados. Cita um exemplo: quando a Fundação José Augusto foi criada, no Governo
Aluízio Alves, um dos seus carros-chefes era o Instituto Juvenal Lamartine de Pesquisas
Sociais. Com o passar do tempo, esse Instituto foi desativado, ou por falta de recursos, ou por
falta de investimentos federais, sobretudo por falta de interesse do Governo Federal em subsidiar
as suas pesquisas. Nós, nessa reformulação da Fundação José Augusto, o restauramos,
então com o nome de Centro de Estudos e Pesquisas Sociais.
Diz, ainda: Procuramos imprimir, na nossa gestão, os conceitos de atividades-meio e
atividades-fim, conforme os entendemos. As atividades-fim seriam, fundamentalmente, próprias
aos Centros de Promoções e de Documentação Cultural. Segue-se um sumário das atribuições e
abrangência desses dois organismos, o que tomamos a liberdade de suprimir face à existência,
em outra parte deste documento, de matéria específica a respeito. O Prof. Cláudio, no entanto,
fez observação sobre o CDC; diz ele que este Centro tem características de atividades-meio e
fim, simultaneamente. E completa: Explico e justifico: meio, quando a Fundação passou a
coordenar, a assumir, na nossa administração, a responsabilidade pelo Sistema Estadual de
Bibliotecas, também já mencionado. Lembramos que o Sistema de Bibliotecas é
subordinado, hierarquicamente, ao CDC.
Cláudio enfatiza este particular: Disseminar bibliotecas por todo o Estado, por
todo o Rio Grande do Norte!... fruto do apoio que obtivemos do então Presidente do INL
que me deu condições e me permitiu, realmente, realizar a obra, que consideramos permanente.
E que não é de uma administração: é impessoal.
Sobre os museus diz que, afora a Casa Café Filho, chamada Museu do
Sobradinho, não estavam comprometidos com o recolhimento, preservação e conservação
de tudo aquilo que seja digno e representativo como parte da história e cultura do Estado, e da
própria maneira de ser, agir e pensar do nosso povo.
Fala das ações cinematográfica e teatral. Relata que tentou
operacionalizar um projeto na área do cinema mas infelizmente, não obtivemos
os meios necessários à concretização das propostas. Ressalta, porém, que chegou a
identificar pessoas e entidades que possuíam filmes, documentando fatos
da vida do Estado e que, a exemplo do notável acervo fotográfico produzido por
104 Fundação José Augusto
João Alves de Melo, de posse dos seus herdeiros, espera que seus sucessores tenham
tomado outras iniciativas.
Quanto ao teatro, durante sua administração foi dinamizado em dois
Festivais Estaduais, cujas peças eram apresentadas simultaneamente no Teatro
Alberto Maranhão e no centro da cidade, no Grande Ponto: em palanque armado na
Praça Kennedy, a Fundação promovia a presença de alunos das redes estadual e municipal de
ensino, durante dez dias; inclusive com reapresentação, à noite, das peças de maior identificação
popular.
Quando retoma o depoimento, fala sobre a Gráfica Manimbu: A Fundação
sempre teve um problema sério com a Gráfica, por falta de apoio financeiro do Governo do
Estado. Mas nós a reativamos. Criamos o Conselho Editorial e elaboramos um programa
de edições. Em nossa administração editamos, diretamente, quatorze títulos, e co-editamos,
com o Instituto Nacional do Livro, com o Instituto Nacional do Folclore e com a Shell, mais
seis obras. Como se vê, foram vinte títulos publicados em
um ano. A Gráfica Manimbu, portanto, ligada
diretamente à Presidência, funcionava como instrumento
de apoio logístico, sobretudo ao Centro de Documentação,
para a execução da política editorial.
Sobre recursos humanos: Quando assumimos
a Fundação José Augusto encontramos um Programa que
era executado em articulação com a Secretaria de
Planejamento da Presidência da República. Era o
PROFIED. Um Programa de aprimoramento de recursos
humanos sobretudo para a administração pública mas,
também, para a inciativa privada. Após avaliarmos sua
importância para o papel a ser desenvolvido pela Fundação, Cláudio Emerenciano
ex-Presidente
operacionalizamos o Centro de Recursos Humanos, que
absorveria o Programa.
Como vimos em outra parte, o PROFIED(7) foi extinto em 31.12.79,
seis meses após o início da administração Cláudio Emerenciano, assumindo
então o CRH, conforme assinala o Prof. Cláudio, as atividades que lhe eram
inerentes. Prossegue: Encontramos um grande déficit nesse Programa, um sério problema
financeiro, mas em oito meses promovemos o seu saneamento, com a obtenção de apoio da
SUDENE, da própria SEPLAN-RN e dos Ministérios do Interior e, à época, da
Educação e Cultura. Desse modo tornou-se possível executar, no Rio Grande do Norte, um
modesto mas objetivo programa de recursos humanos.
Em seguida, menciona o apoio do Prof. Cláudio do Nascimento, então
Presidente do Instituto Nacional do Folclore, possibilitando a edição de algumas
_______________________
(7)
PROFIED: Programa de Formação Integrada de Executivos para o Desenvolvimento.

40 Anos 105
obras, inclusive a reedição de Dante Alighieri e a Tradição Popular no Brasil.
Este, como já vimos, teve os serviços gráficos iniciados na época do Presidente
Franco Jasiello. E de Simbolismo do Povo, ambos de Câmara Cascudo,
e, também, o redimensionamento de atividades iniciadas em gestões
anteriores, como foi o caso do já referido Festival de Mamulengos do Rio
Grande do Norte, extensivo a vários Estados do Nordeste: Trazíamos
mamulengueiros de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba e mobilizávamos esses
notáveis artistas populares, inclusive nas escolas estaduais e municipais. Era uma
tentativa de despertar o interesse das novas gerações, desde o pré-escolar, para a cultura
popular nordestina e brasileira.
Quero esclarecer – adianta Cláudio Emerenciano – que iniciávamos uma
programação concebida por nossa Assessoria, que contava com o folclorista Deífilo Gurgel
na direção do Centro de Promoções Culturais.
O programa era muito interessante e compreendia um trabalho permanente junto às
escolas.
Realizamos, ainda, dois festivais de emboladores, chegando à descoberta do famoso
embolador Chico Antônio, objeto de estudo de Mário de Andrade. Isto se deve, realmente,
ao Deífilo Gurgel.
Chegamos a elaborar trinta e oito projetos, naquele período, abrangendo diversas
áreas. Em dezembro, por exemplo, durante o ciclo natalino, promovemos o I Encontro
de Seresteiros do RN, na Praça Kennedy. Reunimos mais de sessenta artistas. O
encerramento deu-se com uma homenagem a Câmara Cascudo.
Sobre restauração de monumentos: dentro do Centro de Documentação Cultural
se encontra toda a estrutura de conservação e restauração de monumentos históricos. Concluímos
alguns e iniciamos outros projetos, sem dúvida complementados pelas administrações que nos
sucederam. Por exemplo: executamos oitenta por cento da restauração do Convento Santo
Antônio e sua inauguração deu-se um mês após a nossa saída.
Outros projetos citados por Cláudio: o de Inventário de Bens Culturais
Móveis e Imóveis do RN, elaborado em sua gestão, mas cuja execução, restringida
aos bens imóveis, dar-se-ia anos depois; obras arquitetônicas em Vila Flor, projeto
oriundo de administrações anteriores, ampliado na sua e concluído nas subseqüentes;
obras de conservação e restauração de uma Igreja, em Acari; restauração de imóveis
considerados importantes para a história arquitetônica do Estado nas cidades de
Açu, Mossoró, São José de Mipibu e Goianinha, entre outras. Diz ele: Quando
estávamos saindo, iniciamos os trabalhos de restauração das ruínas de Cunhaú
e entregamos à comunidade norte-rio-grandense o livro, reeditado, Os Holandeses
no Rio Grande do Norte, do Mons. Paulo Herôncio, com episódios de Cunhaú e
Uruaçu.
Encerrando, retoma três itens da área de documentação:
106 Fundação José Augusto
Promovemos, com o Cine Clube Tirol, sessões de cinema no Centro de Turismo;
reativamos a Galeria de Arte, da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, e, enfim,
retomamos um projeto de microfilmagem de documentos, com o Arquivo Nacional, que
fora iniciado na época da Profª. Ilma Melo Diniz, mas há muito tempo interrompido.
À questão sobre como vê o desempenho da Fundação, responde Cláudio:
Vejo, como não poderia deixar de ser, como resultado do esforço, da abnegação
de todos os que fazem a sua direção. A Fundação, ao longo de sua história, tem
realmente executado o seu papel. Em algumas administrações, um pouco mais; em
outras, um pouco menos. Não por culpa dos seus responsáveis, mas face a condições
e circunstâncias que escapam à sua vontade. Em síntese, se algo mais não tem sido
feito é pela indigência, lamentavelmente, de recursos financeiros nos níveis federal e
estadual, para a execução de uma ampla política cultural. Como disse no início, há
um ‘efeito cascata’ que alcança todos os órgãos de promoção cultural.
Quanto às perspectivas da Instituição:
Estamos em pleno processo constituinte estadual. A nova Constituição contempla
a cultura com um capítulo ou com uma seção – já vi o anteprojeto(8) – mas, infelizmente,
suas normas representam apenas intenções. Não expressam algo de concreto. Acho que
o futuro da Fundação vai depender muito daquilo que ficar definido na Constituição:
seria importante que houvesse referência ao seu papel e à sua responsabilidade na execução
de uma política cultural.
Mesmo com as limitações constitucionais a que se refere, sintetiza a função
da Fundação José Augusto e emite uma mensagem de otimismo quanto ao seu
futuro:
Uma política cultural se divide entre aquilo que representa o esforço para preservar
e aquilo que representa o esforço para difundir; difundir a cultura popular, a cultura
erudita, estimular novas vocações artísticas e culturais... enfim, a função da Fundação
é a de coordenação e articulação, não a de gerência. A Fundação não pode ter aquela
intenção soberba de pretender produzir cultura, de modo algum. Ela é um
instrumento de articulação, de coordenação de todas as forças vivas
que fazem, efetivamente, a cultura norte-rio-grandense. (o grifo é
nosso).
Foi assim que presidimos a Fundação, com esse compromisso e com esses
propósitos. Não temos dúvida que ela haverá de se encaminhar, cada vez mais, para a
realização dos seus altos objetivos.

Evilásio Leão de Moura


Com a saída de Cláudio Emerenciano, assumiu a Presidência da Fundação
______________________
(8)
Este depoimento foi concedido em meados de 1989.

40 Anos 107
o Prof. Evilásio Leão, em caráter interino, que
perduraria até outubro daquele ano de 1980.
Relembrando aquela época, assim se pronuncia
Prof. Evilásio:
Acredito ter cumprido fielmente as metas a que me
propus, quando da minha posse. Fruto da experiência no
exercício da Diretoria Administrativa e Financeira, desde
junho de 1979, e em razão de constantes substituições ao
Presidente, não me trouxe maiores novidades ou dificuldades
a atuação como titular. Todos os projetos em execução ou
em tramitação para a obtenção de recursos junto ao Governo
do Estado ou ao do País – Instituto Nacional do Livro,
Fundação Pró-Memória, FINEP, INACEN, Evilásio Leão
ex-Presidente
FUNARTE, etc. – foram levados a termo sem maiores
empecilhos.
Assim é que, nos cerca de quatro meses que passei à frente da Fundação José Augusto,
complementamos a restauração da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Acari, através da
Fundação Pró-Memória; com o apoio da FINEP e da Livraria Universitária, publicamos o
livro Os Degredados Filhos da Seca, do sociólogo Itamar de Souza, e concluímos a
editoração do título História do Teatro Alberto Maranhão, do saudoso Meira Pires.
Através do Instituto Nacional de Artes Cênicas - INACEN, realizamos o Festival
de Teatro Amador, em todo o Estado, enquanto com a Fundação Nacional de Arte -
FUNARTE, dávamos uma ênfase toda especial à realização de Feiras Culturais nas
cidades de Currais Novos, Macau, Pau dos Ferros e Açu. Em Macau, inclusive, lançamos
o livro O Navegador e o Sextante, de Gilberto Avelino.
O projeto Circo da Cultura foi rigorosamente cumprido na minha gestão,
sendo interiorizada a arte cênica através de grupos com apresentações no Circo da
Cultura em várias cidades do interior. Igual apoio foi dado ao Folclore, com a
ajuda do INACEN, facultando aos grupos tradicionais da cidade – como o Asa
Branca e o Araruna – a renovação de suas indumentárias e dos seus instrumentos
musicais. Também o mamulengo foi enfatizado. Promovemos o Festival e levamos os
artistas a várias cidades, inclusive apresentando-os no âmbito do Circo.
Reformei parte da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, além de equipá-la
para um melhor funcionamento. Também foi renovado o teto de uma ala do prédio da
Fundação.
Entendo, portanto, que desenvolvi os projetos em andamento e que cumpri o
programa que tracei – desde a minha posse, em 12 de junho.
Faz um comentário final:
Enfrentei a dificuldade conhecida: falta de recursos. É a falta de recursos que exige
108 Fundação José Augusto
do administrador criatividade e, sobretudo, tráfego governamental, bem como disposição de
luta junto às entidades já citadas, ou seja, INL, Pró-Memória, INACEN, FUNARTE
e outras, sem o que a sua administração será um vazio sem fim, limitada às vernissages
dos artistas plásticos locais.
Quanto às perspectivas da Fundação, é este o seu parecer:
A Fundação José Augusto tem um grande papel a cumprir, no Rio Grande do
Norte. E o tem feito, mesmo a duras penas, registrando e promovendo nossa cultura.
Todos os presidentes cumpriram as metas traçadas. Resume sua experiência
quanto ao desenvolvimento de uma política cultural: Planejamento adequado
e isenção política na distribuição de benesses aos produtores culturais, em primeiro
lugar.
É preciso vigilância permanente aos objetivos a serem alcançados. É indispensável,
ainda, que o Presidente tenha tráfego político junto ao Governo e capacidade para suscitar o
acesso às instituições federais, bem como que seja aceito pela intelectualidade estadual e pelas
entidades responsáveis pelo folclore, artes cênicas, artes plásticas, etc.
E conclui:
Para se fazer um bom trabalho é preciso haver comunhão de esforços, no sentido
de possibilitar a realização concreta das atividades. O engrandecimento da cultura
norte-rio-grandense depende de um trabalho sério, concreto e coeso de órgãos como a
Fundação José Augusto.

Valério Alfredo Mesquita


A Evilásio seguiu-se Valério Mesquita, uma das mais longas administrações
da Fundação. Assumindo o cargo em outubro de 1980, nele permaneceria até
fevereiro de 1986, desenvolvendo um trabalho que
se centralizou, especialmente, em três áreas, conforme
ele próprio acentua em seu depoimento:
À época, não era novidade se proclamar a falta de
recursos das instituições culturais, principalmente as
mantidas pelo Poder Público. Tratamos, de imediato, da
montagem de uma política cultural que pudesse abranger,
basicamente, três aspectos considerados fundamentais:
restauração do patrimônio histórico,
editoração e animação cultural.
Após este preâmbulo, Valério faz três
sínteses: a primeira, dos monumentos e sítios
Valério Mesquita
históricos restaurados; a segunda, da parte das
ex-Presidente obras editoradas e, por fim, a terceira, a
40 Anos 109
problemática atravessada pela cultura e, por extensão, pelas instituições
culturais, fruto da ausência de uma política eficaz, seja em nível federal ou estadual.
Essas três abordagens de Valério, realmente bastante lúcidas, envolvem
todo o período do seu trabalho à frente da Fundação, motivo pelo qual as
deixaremos para ser inseridas em item posterior (como vimos, este item diz
respeito ao período 1980-1982).
Adiantamos, não obstante, que Valério Mesquita não se descurou de um
trabalho sério e profícuo em muitas outras áreas, como as de bibliotecas,
pesquisas, artes cênicas, artes plásticas, etc.

110 Fundação José Augusto


QUARTA PARTE

CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA
(1983-2003)
Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine ....................................... 113
Centro de Documentação Cultural Eloy de Souza-CDC ......................... 121
(a) Subcoordenadoria de Documentação .............................................................. 122
(b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico ........................ 124
(c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito ........................... 130
(d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo .................................. 131
(e) Sistema Estadual de Museus ........................................................................................... 134
Centro de Promoções Culturais-CPC ..................................................................................... 145
(a) Cultura popular, principais projetos .................................................................... 148
(b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton
Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da
Cultura ................................................................................................................................................................................... 156
Outros segmentos de difusão cultural .................................................................................. 161
(a) Área teatral: Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Fi-
lho; Centro Cultural Adjuto Dias .................................................................................................... 162
(b) Área musical: Instituto de Música Waldemar de Almeida-
IMWA, Corais Canto do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do
Rio Grande do Norte, Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incen-
tivo às Bandas de Música do Estado ...................................................................................... 168
(c) Área Literária ............................................................................................... 177
Conselho Editorial-CONEDI ........................................................................... 178
Concursos e premiações .................................................................................... 180
Obras e autores publicados ............................................................................. 181
Núcleo de Literatura ............................................................................................ 192
Presidentes da época ......................................................................................................................................... 195
40 Anos 111
Juvenal Lamartine

112 Fundação José Augusto


Centro de Estudos
e Pesquisas Juvenal Lamartine
No início dos anos oitenta o CEPEJUL terá experimentado, provavel-
mente, um dos momentos mais intensos em sua dinâmica de atividades, envol-
vendo vários trabalhos. Alguns desses estudos não foram concluídos – De-
semprego e Educação, Crescimento Vertical de Natal e Levantamento e
Diagnóstico das Favelas de Natal, por exemplo –, este último, inclusive,
havendo sido suspenso após o levantamento realizado em vinte e sete núcleos
habitacionais. Não conseguimos identificar, pelo menos oficialmente, as ra-
zões ou circunstâncias que ocasionaram as seguidas interrupções; todavia, não
raro a eventual mudança de governo, ou mesmo da presidência do órgão,
altera de forma sensível a linha programática até então adotada por alguns
setores, o que é perfeitamente compreensível. Afora este fator, o surgimento
de oportunidades de firmar-se convênios com determinadas instituições – e
isto também ocorreu naquele período – provoca a natural retração em traba-
lhos da própria iniciativa, dando-se absoluta prioridade àqueles que serão cus-
teados por outrem. Os recursos próprios, é ocioso explicar, são escassos.
Os estudos a que nos referimos acima foram iniciados por volta do se-
gundo semestre de 1980 e primeiros meses de 1981, e, neste último ano, exata-
mente, foram feitos alguns importantes convênios compreendidos no Pro-
grama História do Seu Município, ao qual já nos reportamos na p. 97, bem
como no ano seguinte, enquanto era aprovado pela Financiadora de Estudos
e Projetos-FINEP – Ministério da Ciência e Tecnologia, o projeto A política
de combate às secas antes e depois da SUDENE, cuja pesquisa só seria
iniciada em 1983, ano em que começava-se a trabalhar a História do
40 Anos 113
BANDERN: Origem e Evolução, e na Atualização do cadastro de usuári-
os da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte-CAERN.
Em 1983, portanto, estavam em curso todos estes estudos e, ainda, des-
de algum tempo, parte da equipe trabalhava numa pesquisa sobre a História
do Futebol em Natal. Foi, sem dúvida, uma etapa da vida do Centro que
marcou pelo afã produtivo, pela emulação.
Os levantamentos em arquivos, as entrevistas e coletas simultâneas re-
queriam urgente e significativo aumento do quadro de pessoal, sob pena de
descumprir-se os cronogramas. Este fato, com certeza, foi uma das razões que
resultaram na suspensão, mais adiante, da pesquisa relativa ao futebol. Sobre-
tudo o levantamento para a CAERN, por suas peculiaridades – quase todos
os prédios residenciais e comerciais da cidade deveriam ser visitados e
registradas as suas características –, exigia apreciável número de pesquisado-
res. Foi ampliado, portanto, o quadro de pessoal auxiliar. Uma sala extra foi
improvisada para descongestionar o setor.
Enquanto alguns técnicos analisavam o material coletado e passava os
dados para intermináveis mapas de apuração, outros supervisionavam as equi-
pes de trabalho de campo ou, ainda, faziam entrevistas. No caso da pesquisa
relativa ao fenômeno da seca, inclusive, alguns técnicos se deslocaram para
outros Estados (a metodologia desse estudo pretendia coletar dados e infor-
mações – editoriais, comentários, artigos e notícias sobre a seca – em dois
jornais, um da situação e outro da oposição, nos Estados do Ceará, Rio Gran-
de do Norte, Bahia e Pernambuco).
Enfim, foi um período de intensa produtividade.
Com relação ao Programa História do Seu Município, foram firma-
dos convênios com dezenove prefeituras e produzidas, efetivamente, doze
monografias, das quais nove foram publicadas, abrangendo os municípios de
Cerro-Corá, Eduardo Gomes (Parnamirim), Serrinha, São Gonçalo do
Amarante, Macaíba, Caicó, Florânia e Santo Antônio. Os estudos sobre Pare-
lhas, São José de Mipibu e Nísia Floresta necessitavam, apenas, de revisão final
quando foi interrompido o programa.
BANDERN: Origem e Evolução, envolve o período desde as pri-
meiras idéias sobre a necessidade de um banco para desenvolver o Estado, no
decurso do século XIX,(9) até o ano de 1982. Foi publicado pela Companhia
Editora do Rio Grande do Norte-CERN em 1985.
Na seqüência, outros estudos surgiriam. É evidente que, a essa altura,
não mais com aquele ritmo febril, embora mantendo uma dinâmica saudável.
Assim foi até 1986.
___________________
(9)
O nome inicial do BANDERN foi Banco do Natal, criado em 1906 pelo então Governador Tavares de Lyra.

114 Fundação José Augusto


Fotos:Arquivos da FJA / CEPEJUL

À esquerda, ex-Governador Tavares de Lyra, criador


do Banco do Natal (1906), primeiro nome do BANDERN.
Acima, edifício-sede daquela instituição, na Ribeira.

De março de 1987 a julho de 1988, não


obstante, por força de circunstâncias estruturais,
ocorreu fenômeno inverso, isto é, o Centro man-
teve-se praticamente estagnado. Não havia dota-
ção orçamentária para estudos com recursos próprios e os
contatos mantidos com o setor privado não obtiveram maior repercussão.
Por outro lado, estava sendo iniciada uma nova administração que daria
ênfase, num primeiro momento, à infra-estrutura: mudança das instalações (que
se haviam tornado exíguas para comportar a equipe, desde àqueles trabalhos
acima assinalados), aquisição de equipamentos e reivindicação de melhores
salários, pois a insatisfação crescente, neste particular, ameaçava comprome-
ter o rendimento da unidade.
O certo é que, fundamentalmente, as causas antes apontadas – escassez
de recursos e ausência de interesse nos segmentos da iniciativa privada –
foram definidoras para a drástica queda na dinâmica de trabalho anterior-
mente imprimida. No decorrer daquele período, por conseguinte, o
CEPEJUL limitou-se a duas atividades, a saber, apoio ao CDC no levanta-
mento informativo sobre as origens históricas de monumentos compreen-
didos pelo Programa de Reconstrução de Cidades Históricas, e, de-
pois, a um treinamento da equipe.
40 Anos 115
Em seguida, mais uma vez o Centro passa a mostrar-se mais atuante. Do
segundo semestre de 1988 até fins de 1993 executou três pesquisas, todas iné-
ditas, uma das quais, revista e complementada, resultou na presente publica-
ção. Trata-se do estudo denominado Fundação José Augusto, 30 Anos de
História (1963-1993), transformado neste que cobre os quarenta anos da Ins-
tituição.
Outro estudo foi Hábitos de Leitura em Natal, pesquisa que teve como
universo o número de alfabetizados deste município a partir da 4ª. série do Ensico
Fundamental, tendo como estratos os três graus de ensino. Foi executada em
todos os bairros da cidade. Além do leitor potencial – aquele enquadrado no
universo – foram entrevistados editores, livreiros e bibliotecários, proporcio-
nando uma visão bastante abrangente do fenômeno. O estudo foi arquivado,
carecendo, após dez anos!, reavaliação do projeto e uma nova execução.
Por fim, História da Cidade do Natal (1941-1991), a partir de convê-
nio firmado com a Prefeitura Municipal do Natal, o qual, por limitações orça-
mentárias, não veio a ser publicado. É intenção retomar o trabalho, proxima-
mente, desta feita abrangendo os últimos sessenta anos do século XX.
Nesse meio-tempo, ainda iniciou o Projeto Caderno da Educação e
da Cultura Norte-rio-grandense, que permaneceu estacionário por falta de
patrocínio, e elaborou o Projeto História da Indústria do Rio Grande do
Norte, solicitado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande
do Norte-FIERN, o qual também não veio a ser executado.
Seguem-se outros estudos e atividades do CEPEJUL:
Teatro Alberto Maranhão (1904-1994). Trata-se de um relato sobre a
história daquela Instituição, com vistas à comemoração dos seus 90 anos. O
roteiro então desenvolvido compunha-se de três partes principais. A primeira
delas resumia-se a um esboço das características socioculturais do Brasil, par-
ticularmente do Rio Grande do Norte e de Natal, em fins do século XIX –
quando foi iniciada a sua construção – e os primeiros anos do século XX; a
segunda, a mais densa em informações, é uma síntese do livro História do
Teatro Alberto Maranhão, de Meira Pires, e a terceira parte compreende os
acontecimentos que vão, daí, até 1994. Este estudo encontra-se em nossos
arquivos: quando o trabalho foi concluído não havia mais tempo hábil para a
sua editoração e lançamento na data aniversária (24 de março), por tal motivo
permanecendo inédito.
Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (século XVI a
XIX). Consiste em sínteses biográficas de pessoas que contribuíram para a
criação, formação, desenvolvimento e evolução do Rio Grande do Norte, ou
que, por suas ações, ou por força dos cargos que ocuparam, intervieram de
116 Fundação José Augusto
alguma forma nesse processo, consignando o papel e a
expressão que tiveram no contexto histórico do Esta-
do. Compõe-se de centenas de verbetes enfeixados no
1º. volume, publicado em agosto de 1999. Este estudo,
que terá seguimento com nomes do século XX, será
oportunamente disponibilizado para cosultas pela
INTERNET.
Cadastro de Artistas Plásticos Norte-rio-
grandenses. Visa à consolidação de informações
objetivas, na forma de verbetes, sobre artistas plásti-
cos locais, buscando, quanto possível, caracterizar gêneros, estilos e ten-
dências, assim como a representatividade do conjunto de suas respectivas pro-
duções. Trabalho a ser concluído, necessitando atualização das informações e,
certamente, revisão geral do texto.
Dramaturgos Potiguares. Semelhante ao estudo anteriormente citado,
pretende constituir-se num instrumento de divulgação de informações especí-
ficas sobre os autores teatrais do Estado, bem como a respeito de suas obras.
Este estudo já foi concluído mas, até o momento, não editado.
Mapeamento e Diagnóstico da Cultura Popular. Iniciado em 1995, foi
interrompido anos depois por escassez de recursos. Será reavaliado proximamen-
te, para ser retomado com estratégia mais simplificada. Enquanto perdurou, no
entanto, foi bastante positivo, possibilitando o contato direto e, assim, o
entrosamento com artistas populares, condição essencial para levar a bom termo
outras ações na área, sempre objetivando a valorização, a preservação e a disse-
minação da arte popular em suas diferentes linguagens. Aliás, desta proposta e
deste conhecimento foram gerados pelo menos mais dois projetos, o de En-
contro de Cultura Popular, do qual falaremos mais adiante, e o Chico Traíra.
O Projeto Chico Traíra, desenvolvido por este Centro a partir de 1996,
objetiva divulgar a literatura de cordel – uma das formas de expressão artísti-
ca mais espontâneas do nosso povo –, homenageando, com a sua denomina-
ção, um dos nomes mais emblemáticos do Estado no domínio desta arte, e,
simultaneamente, estimulando e provendo poetas-cordelistas e xilógrafos (es-
tes, tradicionalmente responsáveis pela confecção das capas dos folhetos). Mais
informações a respeito encontram-se no item Cultura Popular, na p. 154.
Afora o elenco de estudos e projetos referidos convém assinalar, ainda:
(a) as atividades desenvolvidas em parceria com outros órgãos da Fun-
dação, e
(b) a inclusão, a partir de 1998, de outros núcleos de ação cultural no
âmbito do CEPEJUL.
40 Anos 117
Com relação às ações conjuntas – ou em apoio às ações pertinentes às
atribuições das unidades coirmãs, CDC e CPC –, elas retroagem à década de
80, durante a vigência do projeto Feiras Culturais, executado pelo Centro de
Promoções em cidades interioranas (Açu, Currais Novos e Macau, entre ou-
tras). Posteriormente (1987-88) participou, em conjunto com o Centro de Do-
cumentação, do levantamento informativo sobre os Monumentos Históri-
cos da Grande Natal, envolvendo entrevistas, pesquisa bibliográfica e elabo-
ração dos respectivas resumos históricos. Os resultados encontram-se arqui-
vados no CDC.
Mais recentemente, entre 1996 e 2002, o CEPEJUL coordenou a
execução do projeto Encontro de Cultura Popular,
originariamente produzido e realizado pelo CPC. De-
terminadas circunstâncias técnicas e administrativas fo-
ram os fatores condicionantes de tal mudança. A exem-
plo do projeto Chico Traíra, este também será aborda-
do com mais propriedade no item Cultura Popular.
Participou, integrado com o CDC e o CPC, da
pesquisa Mulher Potiguar: Cinco Séculos de Presen-
ça, a qual subsidiou um documento ilustrado em come-
moração aos 500 anos do Brasil e a uma exposição reali-
zada no Senado Federal, em Brasília; no Palácio da Cultura
Foto: Ayres Marques

Abertura do II Encontro de Cultura Popular (1996). Da esquerda para a direita:


Dramaturgo Ariano Suassuna, Woden Madruga (então Presidente da FJA)
e Garibaldi Alves Filho, à época Governador do Estado.

118 Fundação José Augusto


– Pinacoteca do Estado –, em Natal, e no município de Acari-RN, em 2000. A
seleção dos nomes priorizou o critério de representação por época e por di-
versidade de áreas de atuação em destaque.
Integrado com o CDC participou, ainda, de duas outras atividades, a
primeira das quais um levantamento histórico para a instalação do Memorial
Alzira Soriano, em Angicos, na casa onde residiu a primeira mulher a ser eleita,
no Brasil (Prefeita de Lajes, em 1928); a segunda, trabalhos de pesquisa docu-
mental para subsidiar a implantação do Acervo Manoel Rodrigues de Melo
no Solar João Galvão.
A respeito de outros núcleos que passaram a compor a estrutura do
Centro de Pesquisas, são: Oficina de Gravuras Rossini Perez e Núcleo de Lite-
ratura. Originariamente, a Oficina, criada pela Portaria nº. 170/80, de 12 de
maio de 1980, era subordinada ao Núcleo de Criatividade do Centro de Pro-
moções Culturais, e ali se manteve até 1996, quando entrou em recesso. Recen-
temente (agosto, 2002) retomou as atividades, desta feita migrando para o
Centro de Estudos e Pesquisas, constituindo um dos seus objetivos apoiar o
projeto Chico Traíra. Com a implantação do novo perfil administrativo na
estrutura da Fundação, o que deverá ocorrer proximamente, certamente
retornará ao CPC. Caso semelhante dar-se-á com o Núcleo de Literatura, por
suas especificidades. Nos itens correspondentes – “Artes Plásticas” (pp. 139-
140), e “Literatura”, (p. 177), retornaremos aos respectivos assuntos.
Foram seus diretores: Itamar de Souza, François Silvestre, Tarcisio Ro-
sas, Dinarte Filho, Valério Andrade, Dácio Galvão e, atualmente, de novo
Tarcisio Rosas.

40 Anos 119
Foto: Arquivos da FJA/ CDC

Senador Eloy de Souza, Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC.

120 Fundação José Augusto


Centro de Documentação Cultural
Eloy de Souza-CDC
Através da Portaria nº. 499/03, de 28 de agosto de 2003, o Diretor Ge-
ral da Fundação José Augusto, considerando o transcurso do 130º. aniversário
de nascimento do Jornalista e Escritor Eloy de Souza, resolveu “(...) dar o
nome de Eloy de Souza ao Centro de Documentação Cultural -CDC, desta
Fundação, com sede no Solar João Galvão de Medeiros”. Esta determinação
foi publicada no Diário Oficial do Estado na edição do dia imediatamente
posterior (29.08).
Este é o mais amplo Centro da Fundação José Augusto. A documenta-
ção (ou aquisição), organização, guarda e preservação de documentos em suas
diversas formas – papéis, inclusive algumas coleções especiais de livros, fitas
magnéticas, disquetes, filmes, microfilmes, slides, etc. –, está sob a responsabili-
dade da Subcoordenadoria de Documentação. Em apoio às atividades desta
Subcoordenadoria, mas ligado diretamente à Coordenadoria, foi reativado o
Núcleo de Som e Imagem na atual gestão (2003-2006).
Destina-se à realização de documentários em vídeo com conteúdo ex-
pressamente artístico-cultural, abordando artistas, fatos e eventos da terra e
levando-os ao público, para o que foi firmado convênio com a TV Cabugi
com vistas à veiculação desse trabalho sob o título peculiar de Momento
Cultural. O primeiro programa já foi gravado e até o final de 2004 o arquivo
do Núcleo deverá contar com 54 fitas, afora a documentação das Casas de
Cultura.
A preservação do patrimônio histórico e artístico, as atividades
museológicas (aí incluída a Pinacoteca do Estado) e da Biblioteca Câmara
40 Anos 121
Cascudo complementam a estrutura do Centro, e cada uma dessas organiza-
ções será tratada isoladamente, doravante.

(a) Subcoordenadoria de Documentação


Considerando os obstáculos naturais (pole position para a escassez de re-
cursos tantas vezes reiterada), esta Subcoordenadoria detém um amplo acer-
vo. Há centenas de fitas-cassete abordando um sem-número de temas vincula-
dos à história, à política e à cultura norte-rio-grandenses; centenas de fotogra-
fias, negativos fotográficos e slides, devidamente organizados e catalogados,
igualmente envolvendo múltiplos aspectos da nossa realidade, além de uma
coleção de fotos – Natal Era Assim –, emoldurada, compreendendo o perí-
odo de 1898 a 1950, a qual foi exposta em vários bairros da cidade.
Foto: Arquivos da FJA /CEPEJUL

Rua Dr. Barata, na Ribeira (Natal), em 1915.

122 Fundação José Augusto


Esta Subcoordenadoria(10) organizou, ainda, um curso sobre música po-
pular brasileira – De Chiquinha Gonzaga a Paulinho da Viola –, em parce-
ria com o Serviço Social do Comércio - SESC, em 1984, por volta desse mes-
mo ano iniciando um trabalho que culminaria com a criação do Ateliê de Res-
tauração de Peças Museológicas, anexo ao antigo Núcleo de Museus (hoje,
Subcoordenadoria), dentre cujos projetos iniciais destacam-se a Recuperação
da Santa Cruz da Bica (um dos marcos que delimitavam a cidade no princípio
da colonização, localizado no Baldo) e a de um conjunto de imagens da Igreja
de São Gonçalo do Amarante.
Iniciado no CEPEJUL, a Coleção Documentos Potiguares, dirigida pelo
Sociólogo Leonardo Barata, teve continuidade no âmbito do CDC (1986).
Vários estudos de expressão histórica, política e cultural foram produzidos,
dos quais alguns editados. Mais adiante há referência a respeito.
Afora as ações acima expostas, este Setor partici-
pou, na década de 80, de diversas atividades dos cen-
tros coirmãos, notadamente do CPC, na elaboração de
Projetos e colaboração no desenvolvimento das Fei-
ras Culturais.
Com relação a sua mudança para o Solar “João
Galvão de Medeiros”, se faz necessário relembrar
alguns acontecimentos pertencentes à história da ci-
dade, particularmente da Ribeira, no início do sé-
culo XX.
Consta que aquele prédio data de menciona-
do período e que um dos seus primeiros proprie-
tários foi o Coronel Aureliano Medeiros, próspero comerciante
oriundo de Pilar-PB, com passagem pelo município de Macaíba-RN onde che-
gou a assumir o cargo de Intendente. Transferiu-se para Natal ao fim do seu
mandato (1905), onde se estabeleceu no ramo de tecidos e investiu na constru-
ção civil, “(...) adquirindo e reconstruindo todos os prédios da antiga travessa
da Alfândega, hoje Travessa Aureliano Medeiros, e alguns da Rua Dr. Barata”
(Personalidades Históricas do RN, vol. 1, p. 153). Com relação à edificação de
que tratamos, situada na Av. Junqueira Aires, ergueu um palacete ao lado, onde
passou a residir; após sua morte, no local foi instalado o Hotel Bela Vista,
anos atrás restaurado pela Fundação José Augusto.
Quanto ao Solar, atravessou quase meio-século em ruínas, até que des-
cendentes de outro proprietário (João Galvão de Medeiros, neto do Coronel
_____________________
Até 1997 o CDC era uma diretoria e a atual Subcoordenadoria, uma Coordenadoria; desde 1998 o Centro
(10)

passou à condição de Coordenadoria e esta à titulação atual.

40 Anos 123
Aureliano) negociaram-no a preço simbólico com o Governo do Estado com
a condição de que, após restaurado, recebesse o nome do antigo dono. Proce-
didos o tombamento e a desapropriação – também sob a responsabilidade
desta Fundação –, concretizou-se a restauração, conservando o frontão, típi-
co da época, com cornijas e varandas laterais.
Além de sediar esta Subcoordenadoria, que mantém inclusive quatro
núcleos especiais, o ambiente dispõe de salas de exposição e está aberto à
visitação pública, seja para referidas mostras ou, mesmo, pelas características
arquitetônicas do prédio.
No que diz respeito aos núcleos prefalados, há um que se destina à orga-
nização dos processos e plantas do Patrimônio e três outros resultantes da
doação de acervos particulares, dos ex-governadores José Augusto Bezerra
de Medeiros e Sylvio Piza Pedroza e o do escritor e antropólogo Manoel
Rodrigues de Melo. Ali estão alocadas obras raras, correspondências de alto
valor histórico, jornais do início do século XX, periódicos diversos e fotografias
que demarcam ou sinalizam aquelas respectivas personalidades e constituem,
certamente, uma preciosidade para pesquisadores que tenham em vista o resgate
da memória histórica do Estado. O documento GESTÃO ADMINISTRATI-
VA (1995-2002), deste Órgão, faz uma advertência: “Documentos, artigos e fo-
tos que necessitam de uma digitalização urgente, ainda estão a depender de con-
dições favoráveis em termos de recursos e de pessoal”.
Além de exposições, o Solar funciona como local para lançamento de
livros. A Subcoordenadoria contribuiu, enfim, na produção do filme For All,
com subsídios de pesquisa sobre a indumentária em voga, em Natal, no perí-
odo da II Grande Guerra.

(b) Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico


As atividades de preservação do patrimônio histórico e artístico com-
preendem estudos e processos para tombamentos e/ou desapropriações de
monumentos do Estado, serviços de manutenção de prédios da Fundação
José Augusto, levantamentos arquitetônicos, elaboração e execução de proje-
tos de construção, reforma e restauração e, enfim, realização de vistorias e
emissão de pareceres técnicos.
Mas, antes de entrar no mérito da questão de como ela vem se desenvol-
vendo no âmbito desta Entidade, é interessante considerar alguns anteceden-
tes que se colocam nas origens da, então, Coordenadoria do Patrimônio His-
tórico e Artístico, com o seu Núcleo de Restauração, de forma a melhor situ-
ar sua evolução e desempenho.
124 Fundação José Augusto
Em primeiro lugar, diga-se que, até os primeiros anos da década de 70,
pouco se falava em memória cultural, no País. Iniciativas mais ou menos isola-
das, visando à preservação do patrimônio histórico e artístico, evidente que
havia, mas sem a conotação privilegiada que passaria a ter posteriormente.
Hoje, a própria Constituição Federal, em seus artigos 215 e 216, enfatiza, in-
centiva e garante o estudo e a proteção do patrimônio cultural.
Em 1973, após um estudo especificamente direcionado para o Nordes-
te por um grupo de trabalho interministerial, concluiu-se com a “constatação
e confirmação da existência de um grande acervo histórico, artístico e cultu-
ral, carente de preservação e melhor uso”, segundo Exposição de Motivos nº.
076-B, de 31.05.73, dos Ministérios do Planejamento e Coordenação Geral e
da, então, Educação e Cultura, endereçada ao Presidente da República.
Aquele documento constituiria o primeiro passo para a criação e instala-
ção do Programa Integrado de Reconstrução de Cidades Históricas do
Nordeste, subordinado diretamente ao Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional-IPHAN (depois Secretaria e, posteriormente, Fundação
Pró-Memória) e financiado pelo Ministério do Planejamento, com vistas à “res-
tauração progressiva de todos os monumentos históricos, artísticos e expres-
sões culturais do Nordeste”.
Foi a partir desse ato que se concretizou a política de preservação dos
bens culturais imóveis, não só pelo trabalho de restauração física desses bens
mas, principalmente, pelas medidas legais para a sua proteção (leis estaduais) e
pelo despertar da consciência coletiva para a importância de que eles se reves-
tem, como testemunho da própria história e das tendências culturais, especial-
mente as arquitetônicas.
O Rio Grande do Norte, através da Fundação José Augusto, foi um dos
primeiros Estados a se engajar ao Programa. Inicialmente com a restauração
do Fortaleza dos Reis Magos, o qual passou, àquela época (por volta de 1974),
a ser administrado pela Instituição (até então, era vinculado à Secretaria Esta-
dual de Educação e Cultura). Depois, no segundo semestre de 1975, através
da Consultoria Técnica, foram elaborados os projetos para a restauração do
Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba; do Casarão do Antunes, em Ceará-Mi-
rim, e do prédio da antiga Casa de Detenção, hoje Centro de Turismo de
Natal e efervescente pólo comercial de artesanato.
Nos anos seguintes essa linha de atividade se foi afirmando como das
mais dinâmicas da Entidade, a tal ponto que, em 06.10.78, a Lei nº. 4.775, que
dispõe sobre a proteção do patrimônio histórico e artístico do Estado, desig-
na, em seu artigo 2º., além da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, como
órgão de direção, e do Conselho Estadual de Cultura, como órgão consultivo,
40 Anos 125
a Fundação José Augusto como entidade executora do Programa, o que, como
vimos, de fato já vinha ocorrendo.
Um ano depois, enfim, com a Lei nº. 4.923, de 17.12.79, é instituída a
nova estrutura básica da Fundação, criando, entre outros organismos, o Cen-
tro de Documentação Cultural e, neste, a Coordenadoria do Patrimônio His-
tórico e Artístico, com equipe especializada em restauração, apta à execução
de trabalhos por administração direta.
Hoje, os principais monumentos do Estado (afora, evidentemente, os já
restaurados) estão devidamente documentados sob a forma de proposta de
restauração – ou outro tipo de intervenção, quando é o caso – e/ou sob a
proteção legal de tombamento.
Dos vinte e cinco imóveis restaurados até 1988, destacam-se aqueles que
já haviam sido considerados de importância nacional, através de tombamento
pelo Patrimônio da União, como é o caso da Fortaleza dos Reis Magos, em
Natal; da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e da Casa de Câmara e Cadeia,
de Acari; da Igreja de São Gonçalo do Amarante, na cidade do mesmo nome;
da Capela de Nossa Senhora das Candeias, do Engenho Cunhaú, em
Canguaretama, e do Frontão do Cemitério de Arês.
Destacam-se, ainda, pela importância arquitetônica, imóveis como a Igre-
ja de Santo Antônio (ou Igreja “do Galo”, como também é carinhosamente
chamada pelos natalenses), em Natal; a Casa-grande do Engenho Guaporé, o
Solar do Antunes e o Mercado Público, em Ceará-Mirim, e a Capela de Utinga,
em São Gonçalo do Amarante.
Pela representatividade histórica de que se revestem, em nível estadual
ou regional, foram restaurados o Solar do Ferreiro Torto e as Capelas de São
José e de Nossa Senhora da Soledade, em Macaíba; a Cadeia Pública de
Mossoró; a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, em Vila Flor; a Casa Paro-
quial, de Jardim do Seridó e, em Natal, o prédio da antiga Casa de Detenção,
a Casa de Padre João Maria, a sede do Instituto Histórico e Geográfico do Rio
Grande do Norte, o prédio do antigo Quartel General, o Solar Bela Vista e
parte do prédio da antiga Capitania dos Portos.(11)
Em 1989, foi restaurado o Teatro Alberto Maranhão e a partir dali fo-
ram realizados 21 tombamentos, incluindo-se assim, entre estes, o Memorial
Câmara Cascudo; o antigo Palácio do Governo (na Rua Chile, Ribeira); o
Grande Hotel; a antiga Base de Hidroaviões, na “Rampa” (Canto do Man-
gue); a Mata da Estrela, em Baía Formosa; a Casa de Câmara Cascudo, em
Natal, e o Pico do Cabugi, no município de Angicos.
_____________________
Da intervenção no prédio da antiga Capitania dos Portos resultou a implantação da Capitania das Artes
(11)

pela Prefeitura Municipal do Natal.

126 Fundação José Augusto


Fotos: Arquivos da FJA/CDC

Casa de Câmara e Cadeia de Vila Flor, antes e depois da restauração realizada


pela Fundação José Augusto (início dos anos 80).

40 Anos 127
Entre 1989 e 1993, foram elaborados cerca de dez projetos, abrangendo
os itens de restauração, manutenção, ambientação e construção; emitidos pa-
receres diversos sobre preservação (Casarão dos Guarapes e Confeitaria
Atheneu, entre outros) analisado o processo de tombamento do Rio Potengi
e redigida uma Cartilha de Arqueologia, afora vários serviços de manutenção
no âmbito da Fundação José Augusto.(12)
Entre 1995 e 2002 foram realizados serviços de manutenção no edifício-
sede da Fundação, incluindo a reforma da “Sala dos Grandes Atos” e constru-
ção de uma sala para abrigar a Oficina de Gravuras “Rossini Perez”; no Teatro
Alberto Maranhão, abrangendo a construção da “Sala Tonheca Dantas”, com
revestimento acústico, para ensaios da Orquestra Sinfônica; na Fortaleza dos
Reis Magos, compreendendo a recuperação da passarela e dos taludes; no Palá-
cio Potengi; na Cidade da Criança; no Instituto de Música Waldemar de Almeida;
no Memorial Câmara Cascudo; no Solar João Galvão de Medeiros; na Gráfica
Manimbu, e nos Museus de Arte Sacra, Arte Popular e Café Filho.
No período assinalado foram realizados diversos tombamentos, a sa-
ber: em Natal, o do antigo prédio da Escola Doméstica, na Praça Augusto
Severo, Ribeira; da casa onde nasceu Café Filho, na Rua Quinze de Novembro
(antiga Rua do Triunfo), Ribeira; da casa de Luís de Barros, na Rua Chile,
Ribeira; do antigo Palácio do Governo, também na Rua Chile, Ribeira, que
passou a comportar o Museu de Arte Popular e a Escola de Dança-EDTAM;
do antigo prédio do Liceu Industrial, posteriormente denominado Escola In-
dustrial, na Avenida Rio Branco, Cidade Alta; da casa onde funcionou o Hotel
Majestic, na Cidade Alta, e da Maternidade-Escola Januário Cicco, em
Petrópolis. No interior do Estado, das Capelas de São José e de Nossa Senho-
ra da Soledade, em Macaíba; da Escola Estadual Barão do Mipibu, em São
José de Mipibu; da Capela de Santa Rita das Dores, em Pedro Velho; da Casa
de Alzira Soriano, em Angicos; da Casa Paroquial de São Paulo do Potengi,
para a instalação do Memorial Monsenhor Expedito de Medeiros, e da Casa
Velha, em Lagoa de Velhos.
Essas intervenções sejam quais forem as causas que as concretizaram,
deram ensejo (e isto parece-nos fundamental) à criação, no seio da comunida-
de, de uma nova concepção sobre a representatividade e importância dos seus
monumentos, dos seus sítios históricos e paisagísticos, refletindo-se numa cres-
cente preocupação com o destino desses imóveis. Tal conseqüência é percebi-
da, por exemplo, quando consideráveis segmentos da sociedade se organizam
e investem contra a especulação imobiliária, sempre que esta ameaça o nosso
patrimônio cultural em nome de uma suposta ação modernizadora.
____________________________
(12)
O projeto de construção refere-se à proposta de Criação de Bancas Culturais.

128 Fundação José Augusto


Fotos: Arquivos da FJA/CDC

Casa-grande do Engenho Guaporé, em Ceará-Mirim, antes e depois


da restauração realizada pela Fundação José Augusto em 1979.

40 Anos 129
(c) Memoriais Câmara Cascudo e Mons. Expedito
No local onde se situava uma construção datada do século XVIII, desti-
nada ao Real Erário, foi reconstruído, em 1875, o prédio da Tesouraria da
Fazenda. Após vários usos, inclusive o de sede do Quartel-General do Exérci-
to, o monumento foi designado pelo Governo do Estado para abrigar o
Memorial Câmara Cascudo.
Sob a supervisão da Fundação José Augusto, através do Centro de Docu-
mentação, o Memorial reúne um importante acervo compreendendo jornais,
correspondências e fotografias, além da biblioteca particular do eminente histo-
riador e folclorista Luís da Câmara Cascudo, com cerca de nove mil títulos.
Localiza-se no eixo denominado “corredor cultural”, na Praça André
de Albuquerque, entre as Igrejas Santo Antônio e Matriz de Nossa Senhora da
Apresentação e nas proximidades do Instituto Histórico e Geográfico, das
Praças Padre João Maria e Sete de Setembro, do Museu Café Filho (ocupando
o primeiro prédio assobradado de Natal, na Rua da Conceição) e dos Palácios
Potengi e Felipe Camarão.
Quanto ao Memorial Monsenhor Expedito, está instalado na Casa Paro-
quial de São Paulo do Potengi, onde residiu o Monsenhor Expedito de
Medeiros, que se notabilizou por uma vida inteira dedicada ao serviço dos
Fotos: Arquivos da FJA/CDC e BPCC

Memorial Câmara Cascudo (1986), localizado na Praça André de Albuquerque, em Natal.

130 Fundação José Augusto


pobres, combatendo sem trégua as injustiças sociais (em apêndice, há uma
síntese biográfica sobre esta insigne figura humana).
O acervo contém documentação sobre a seca, correspondências, vários
painéis ilustrativos sobre a vida e as ações do sacerdote, sua biblioteca parti-
cular, mais de uma centena de vídeos com registros de sua vida religiosa, foto-
grafias e mobiliário antigo.

(d) Ação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo


Via de regra, as bibliotecas ou são autônomas ou estão associadas a es-
truturas educacionais. Claro, há aquelas institucionais; mas, neste caso, elas têm
suas atividades definidas estritamente dentro dos limites de sua competência,
mesmo porque não lhes cabe desempenhar funções estranhas à sua natureza.
A Biblioteca de que tratamos não se encaixa em nenhuma daquelas situa-
ções. Ou melhor: houve um tempo em que pertencia, efetivamente, a uma estru-
tura de ensino – à Fundação José Augusto dos primeiros tempos; hoje, as fun-
ções da Instituição a que pertence longe estão de serem estranhas à sua natureza
e competência; ao contrário, são profundamente interligadas. Em outras pala-
vras, a Biblioteca Câmara Cascudo se utiliza de recursos existentes em outros
setores da Fundação para melhor desenvolver sua política de leitura.

Uma das salas da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, em Petrópolis, Natal.

40 Anos 131
Não estamos falando dos recursos audiovisuais ou de microfilmagens,
por exemplo, comuns a qualquer biblioteca moderna; referimo-nos a uma par-
ticipação concreta, efetiva e conseqüente no processo de difusão cultural, ob-
viamente sobretudo através do livro, mas não só neste particular.
Já enfatizamos sua incursão em projetos da área cinematográfica. Enve-
redou, inclusive, por experimentações – positivas – na área da cultura popu-
lar, participando de feiras culturais promovidas pelo CPC e coordenando fei-
ras de livros, cujas programações envolviam apresentação de cordelistas,
cantadores de viola e repentistas, concursos de batidas feitas com frutas regi-
onais e outras atividades do gênero.
Durante muitos anos desenvolveu um trabalho importantíssimo junto
às crianças, através da implementação da Sala Infantil, que terá funcionado
como embrião da atual Biblioteca Infanto-Juvenil Myriam Coeli, localizada na
Cidade da Criança. Havia sessões de cinema, laboratório de artes plásticas,
hora da leitura e outras intervenções, sempre com farta explicação dos assun-
tos abordados e canalizando o interesse dos jovens para a utilização do livro
como instrumento informativo e formativo.
Na área específica, qual seja, a de “preservar as informações científicas,
didáticas, históricas e culturais, nos seus diversos formatos, para fins de pes-
quisa, estudo e leitura da comunidade norte-rio-grandense”, ao longo do seu
percurso instituiu o programa de “caixas-estante”, pelo qual era possibilitado
o acesso de operários e comerciários ao livro, inclusive com orientação; havia,
ainda, o “carro-biblioteca”, em ação pelos bairros menos favorecidos da ci-
dade ou por aqueles que, distantes da biblioteca, dificultavam o acesso daque-
les moradores ao seu recinto. Programas similares foram operacionalizados,
vez por outra, dentro da idéia e da concepção de que a biblioteca não deve
permanecer como uma estrutura estática, imobilizada em sua postura eminen-
temente tradicional de guardiã de milhares de títulos irrepreensivelmente or-
ganizados e acondicionados em seus escaninhos. Claro que o armazenamento
de livros é fundamental, mas não deve interpretar-se esta particularidade ele-
mentar, básica, como constituindo o seu universo e a sua razão de ser. Ao
contrário, ela deve aperfeiçoar – como qualquer outro organismo –,
implementar renovados recursos no atento acompanhamento, na medida do
possível, dos avanços tecnológicos para manter satisfatório padrão de quali-
dade em sua prestação de serviços. A sociedade é dinâmica: se a clientela de
ontem se limitava à pesquisa ou consulta bibliográfica, a de hoje requer acesso
à INTERNET. E a de amanhã?...
A propósito, nos últimos anos foi realizada uma compra significativa de
móveis e equipamentos, além das consecuções através do Ministério da Cultu-
132 Fundação José Augusto
ra. A parceria com o Ministério possibilitou a aquisição de computadores e do
software “Arches Lib”, exigindo, porém, por parte da Fundação, novas demandas
para a manutenção do sistema. Através da Secretaria de Informática do Estado
do Rio Grande do Norte-SECRIN, foi possível viabilizar a conexão com a rede
INTERNET e a criação da página eletrônica da Biblioteca. Um dos objetivos
perseguidos e ainda não concretizados, vem sendo a inserção da Biblioteca no
programa do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações-
FUST (Ministério das Comunicações e Ministério da Cultura). Por outro lado,
um Convênio de Cooperação Técnica com o “Instituto Embratel 21”, per-
mitiu, recentemente, a criação da Videoteca, com a recepção da TV Digital da
Embratel, via Projeto Biblioteca Digital Multimídia, que propicia ao usuário
a audiência de vídeos, conferências e programas culturais.
A Biblioteca Pública Câmara Cascudo é a unidade central da
Coordenadoria de Bibliotecas, cuja constituição inclui a Biblioteca Infanto-
Juvenil Myriam Coeli, que dá continuidade ao programa antes desenvolvido
pela já referida Sala Infantil, e a Biblioteca Zila Mamede, situada no bairro de
Ponta Negra.
Além da manutenção das unidades acima discriminadas, a Coordenadoria
de Bibliotecas gerencia o Sistema Estadual de Bibliotecas Municipais, com-
posto por todos os municípios do Estado que mantêm o acordo do Termo de
Cooperação Técnica.
Sobre o acervo, sessenta e cinco mil volumes, aproximadamente, é for-
mado pelas coleções:
(a) geral - compreendida por livros de assuntos diversos;
(b) referência - dicionários, enciclopédias, anuários e obras similares;
(c) didática - constituída por títulos destinados a estudo;
(d) periódicos - formada por jornais, revistas, boletins, etc.;
(e) braille - edições exclusivas para deficientes visuais;
(f) autores norte-rio-grandenses - reunindo livros de autores potiguares
e/ou sobre o Rio Grande do Norte, quando de outras regiões;
(g) especiais - obras raras, coleções “Brasiliana” e “Documentos Brasi-
leiros”, entre outras, e
(h) bibliotecas particulares - composta por livros que pertenceram a
intelectuais e/ou colecionadores do Estado, os quais constituem as Salas
“Jayme Adour da Câmara”, “Berilo Wanderley”, “Floriano Cavalcanti”
e “Humberto Nesi”.

Sobre a Biblioteca Myriam Coeli, as informações estão no item que abor-


da a Cidade da Criança.
40 Anos 133
O Plano de Ação Cultural para as Bibliotecas Públicas, inclusive através
das Casas de Cultura, corrobora o que dizíamos no início, isto é, entre as
linhas programáticas deste plano inclui-se o fortalecimento da biblioteca en-
quanto agência de animação cultural.
Esta é a Biblioteca Pública Câmara Cascudo. Mesmo fisicamente afasta-
da da sede da Fundação é, seguramente, um dos órgãos mais atuantes deste
complexo cultural. Como vimos, um excelente desempenho, inclusive na ma-
nutenção da Pinacoteca da Fundação José Augusto em dado período.
Quanto às coordenadoras da Biblioteca, no período que estamos tratan-
do, já estão discriminadas no item consolidação do Sistema Estadual de Bibli-
otecas (p. 101).

(e) Sistema Estadual de Museus


Ainda dentro da esfera de abrangência do CDC, um último ponto a
considerar diz respeito à área museológica, durante muito tempo relegada a
plano secundário em nosso Estado.
Efetivamente, se o desenvolvimento de uma política museológica sem-
pre foi objeto de interesse da Fundação, uma vez levemos em conta não ter
sido outro o sentido de incorporar-se o Museu de Arte e História do Rio
Grande do Norte à sua estrutura já no ato de criação da Entidade, assim como,
através do Decreto nº. 4.713, de 20 de setembro de 1965, integrar-se ao seu
patrimônio o Museu do Forte, além de diversas outras iniciativas – tais como
a criação dos museus Casa Café Filho e Casa-grande do Engenho Guaporé
(1979), em Natal e Ceará-Mirim, respectivamente (aliás, este último posterior-
mente passaria a denominar-se “Nilo Pereira”, em homenagem ao ilustre es-
critor ceará-mirinense), Alm. Ary Parreiras (1981), também em Natal, e Capi-
tão Antas (1986), no município de Pedro Avelino, afora a própria criação do
Núcleo de Museus (1979) e do Ateliê de Restauração de Peças Museológicas
(1985-86) –, os resultados obtidos até 1986, a rigor, negavam tal intenção.
Na verdade, contudo, alguns obstáculos se interpuseram a praticamente
todas as tentativas de dinamização dessa área. A proposição, mesmo a firme
convicção teórica, nem sempre encontra ressonância nas condições práticas
oferecidas pela realidade.
Há que considerar, por exemplo, a ausência, no plano federal, de uma
política conseqüente de incentivo, conforme sempre ocorreu com outros seg-
mentos, como a literatura e a biblioteca, que de há muito contavam com o
apoio do Instituto Nacional do Livro-INL, das artes cênicas, que os recebiam
do Instituto Nacional de Artes Cênicas-INACEN e, em certas circunstâncias,
134 Fundação José Augusto
do Serviço Nacional de Teatro-SNT e da Sociedade Brasileira de Autores Te-
atrais-SBAT, do programa de restauração e preservação do patrimônio histó-
rico e artístico, promovido (e devidamente provido) pela Fundação Pró-Me-
mória, e da cultura popular em suas diversas formas de manifestação, a rebo-
que da Fundação Nacional de Arte-FUNARTE, entre outros. Estes, sempre
acusaram um bom ou satisfatório rendimento.
No plano local, por outro lado, a não-inclusão da ação cultural entre as
prioridades do Governo Estadual, em sucessivas propostas orçamentárias,
inviabilizou seguidamente quaisquer esforços nesse sentido.
Como se vê, os descompassos e atrasos na definição de uma adequada
linha de ação para os seus museus não foi, exatamente, por descaso ou
inoperância da Instituição, mas sim pela total ausência de oportunidade, por
parte do poder público nas diversas instâncias.
O quadro começaria a ser revertido, porém, naquele ano de 1986, quan-
do o Ministério da Cultura, através do Ministro Celso Furtado, criava e im-
plantava o Sistema Nacional de Museus, com o objetivo de articular o inter-
câmbio informativo na busca do aprimoramento e conseqüente desenvolvi-
mento integrado (sem, no entanto, interferir nos procedimentos técnicos e
político-administrativos das diversas áreas), sugerindo na ocasião a todos os
Estados, que deveriam criar e operacionalizar os respectivos Sistemas Estadu-
ais, condição básica para se beneficiarem dos recursos alocados para a
dinamização da área.
Precisamente no dia 29 de setembro daquele ano, em todos os Estados
da Federação então representados, foi instalado o Sistema, com uma proposta
avançada, aberta, sugerindo uma nova linguagem e uma nova metodologia
para a ação museológica. Entendia o Sr. Ministro que o Brasil, pelas suas di-
mensões continentais, por sua ampla diversidade de costumes e multiplicidade
criativa, não poderia continuar importando o modelo clássico de museu, de
origem européia, mas sim encontrar seus próprios caminhos. A relação mu-
seu-comunidade não deveria ser passiva, mas dinâmica.
Apelou, em seguida, para que todos os dirigentes e técnicos culturais ali
presentes não só transmitissem aquelas idéias para suas regiões e setores
operacionais, mas, sobretudo, as incorporassem e as pusessem em prática, o
que representaria um primeiro passo.
Ficou assentado, também, que os diversos Estados deveriam – a seu
turno – criar e instalar os respectivos Sistemas Estaduais, num prazo, que,
ultrapassado, estariam automaticamente impossibilitados de pleitear o patro-
cínio de projetos e/ou outras formas de subvenção do MinC, através do Sis-
tema Nacional, doravante responsável pelos pareceres emitidos a respeito.
40 Anos 135
Foto: Candinha Bezerra

Vista aérea da Fortaleza dos Reis Magos, na desembocadura do Rio Potengi.

Numa segunda reunião, realizada em 29.04.87, durante a qual se analisou


as propostas do conjunto dos Estados, o Rio Grande do Norte foi o único
que teve todos os projetos apresentados virtualmente aprovados, dentre os
quais o que propunha a criação do Museu de Arte Sacra do Estado, oficializa-
do pelo Decreto nº. 10.273, de 21.12.88, e instalado em março de 1989.
Naquele período, entre abril e agosto de 1987, além do projeto que ori-
ginou o Museu de Arte Sacra, referido acima, foi produzido pelo CDC um
outro, de singular importância para o Rio Grande do Norte, especialmente
para os Municípios de Natal, Parnamirim e Macaíba. Trata-se do Museu His-
tórico da Aviação e da Segunda Guerra Mundial, criado pelo Decreto nº. 10.393,
de 12 de junho de 1989, o qual infelizmente não vingou, em que pese haver
sido concebido de forma tal que ultrapassava as dimensões do museu tradici-
onal e se projetava, digamos, numa perspectiva histórico-cultural que, prova-
velmente, muito contribuiria para o estudo e a compreensão do desenvolvi-
mento de Natal e das cidades assinaladas.(13)
Conforme se pode observar, esse projeto se enquadrava perfeitamente
________________________
(13)
A aviação, assim como a participação brasileira em episódios da II Grande Guerra, operaram singular
influência nos modelos comportamentais, de natureza sócio-econômica e cultural, nesta Capital e
adjacências. Em 1922, com a travessia do Atlântico pelos portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho,
inicia-se o movimento aviatório ( intensificado a partir de 1926 ), mas podemos “recuá-lo” ao começo do
século XX, considerando as experiências de Augusto Severo com o dirigível “Pax”. O evento guerra, a seu
turno, dá-se entre 1942 e 1945. O museu em questão pretendia reunir um acervo de peças, fotografias,
material bibliográfico e “quaisquer outros tipos de documentos pertinentes” vinculados aos dois temas.

136 Fundação José Augusto


Foto: Arquivos da FJA / CDC

Museu Café Filho, situado na Praça 7 de Setembro, no centro da Cidade Alta, em Natal.

na linha de ação recomendada pelo Ministério. Ato contínuo, este Estado criou,
pelo Decreto nº. 9.987, de 11 de janeiro de 1988, o Sistema Estadual de Mu-
seus do Rio Grande do Norte, definindo, a partir daí, uma política de museus
dentro daquele espírito e conceito, cuja conseqüência imediata foi a implanta-
ção do Museu de Arte Sacra, um dos mais expressivos acervos de quantos são
administrados pela Fundação.
Além da responsabilidade de gerir o Sistema Estadual, pelo que se obri-
ga a prestar assistência técnica na implantação e/ou instalação de museus mu-
nicipais e comunitários, a instituição, através da Subcoordenadoria de Ativi-
dades Museológicas, mantém os seguintes museus:
Fortaleza dos Reis Magos. É uma das edificações militares, em sua
categoria, mais expressivas do país. Sua construção inicial, em pau-a-pique,
data de 6 de janeiro de 1598; a construção atual, em alvenaria, foi dada por
concluída em 1628. Suas muralhas foram erguidas com pedras extraídas dos
arrecifes que a circundam. Na ocupação holandesa (1633-1654) recebeu o nome
de “Kastel Keulen” (em homenagem ao Alto Conselheiro da Companhia das
Índias Ocidentais Mathijs Van Keulen).
A Fortaleza mantém suas características arquitetônicas originais e en-
contra-se em perfeitas condições físicas. Tombado pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional-IPHAN, é uma das principais atrações turísti-
40 Anos 137
cas do Estado e o seu museu o mais visitado. Em seu interior está exposto o
“Marco de Touros”, o marco colonial mais antigo do Brasil, chantado na Praia
de Touros em 1501, pela expedição portuguesa de Gaspar de Lemos.
Museu Casa Café Filho. Exposição permanente de objetos, comendas,
fotografias, discursos, artigos, decretos e o livro de memórias (Do Sindicato
ao Catete) do ilustre norte-rio-grandense.
Museu de Arte Sacra. Através de convênio firmado com os Frades
Capuchinhos, esse museu foi instalado na Igreja de Santo Antônio, no centro
da cidade. Seu acervo consta de imagens dos séculos XVII ao XX, afora alfai-
as, pinturas, mobiliário, ourivesaria e prataria utilizados nos rituais litúrgicos
católicos. Contém, ainda, imagens e oratórios de camarinha, como mostra da
devoção doméstica.
Museu de Cultura Popular. Mantém acervo de fotografias, peças,
indumentárias e instrumentos utilizados nas diversas manifestações popula-
res do Estado, além da coleção de cordéis editada pelo Projeto Chico Traíra,
desenvolvido por esta Fundação.
O prédio onde está instalado sediou a administração da antiga Província
e os primeiros anos do regime republicano, na antiga Rua do Comércio (hoje,
Rua Chile), bairro da Ribeira. Com a transferência da sede do Governo para a
Praça Sete de Setembro (1902) – atual Palácio Potengi –, pelo então Governa-
Foto: Joana Lima

Palácio do Governo até 1902, neste prédio funcionou o “Wander-Bar” e, hoje,


sedia o Museu de Cultura Popular (Ribeira) da Fundação José Augusto.

138 Fundação José Augusto


dor Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão, o sobrado passou a ser
explorado como casa noturna, nos anos de guerra recebendo a denominação
de “Wander-Bar”.
A Fundação José Augusto, com o apoio do Ministério das Comunica-
ções, restaurou a edificação, antes de alocar o museu em suas dependências.
Museu Capitão Antas. Homenageia uma figura lendária do Município
de Pedro Avelino – localizado na área central do Estado –, bisneto do funda-
dor da comunidade. Seu acervo consta de indumentárias e mobiliário do sé-
culo XIX, cerâmicas, imagens sacras, objetos pessoais do ilustre norte-rio-
grandense, etc. Dados biográficos sobre o Capitão Antas encontram-se em
anexo (V. apêndice, SÉTIMA PARTE).
A Pinacoteca do Estado também é vinculada a esta Subcoordenadoria.
Aliás, as artes plásticas são tratadas em três níveis pela Fundação:
(a) busca talentos, através da Escolinha de Arte Newton Navarro, insta-
lada na Cidade da Criança ( p. 158);
(b) estimula a produção, com exposições individuais e coletivas, e
(c) preserva a memória, na guarda do considerável acervo de telas, gra-
vuras e esculturas que integram a Pinacoteca do Estado, alocada no Pa-
lácio da Cultura.(14)

As artes plásticas, notadamente a pintura, o desenho, a gravura e a tape-


çaria, tiveram um grande impulso na última década, aqui em Natal. Aliás, sem-
pre tivemos bons artistas. Newton Navarro, por exemplo, tanto na pintura
como no desenho. Dorian Gray é um mestre consagrado. Nas gerações mais
recentes há nomes como Carlos José, Marconi Grevy, Humberto Dantas,
Aucides Sales, Emanoel Amaral, Assis Marinho, Manxa, Jordão e Zaíra Cal-
das, entre outros.
A produção intensa de quadros e outros objetos de arte, aliada à ativa
participação da Associação dos Artistas Plásticos do Rio Grande do Norte,
constantemente reivindicando, instigando a Fundação à realização de promo-
ções na área, tornaram este segmento artístico-cultural dos mais promissores,
naquele período.
A esses fatores some-se a inauguração da Sala de Exposições da Biblio-
teca Pública Câmara Cascudo, por volta de 1980 e, posteriormente, a da Ga-
leria do Centro Cultural de Natal (hoje, Memorial Câmara Cascudo), as quais
cumpriram, sobretudo a primeira, um programa marcadamente dinâmico.
___________________________
Com a transferência da Governadoria para o Centro Administrativo do Estado (1996), a Fundação José
(14)

Augusto, com o apoio da Fundação Cultural Banco do Brasil, restaurou o prédio do Palácio Potengi, ali
instalando referida coleção e realizando eventos como exposições, lançamentos de livros e outras inicia-
tivas do gênero, passando a designá-lo “Palácio da Cultura”(1999).

40 Anos 139
Um resumo das iniciativas, na área, assinala a promoção de trinta e
dois concursos, incluindo cinco prêmios de pintura (Newton Navarro, Go-
vernador do Estado, Galeria Anna Quadros, Base Almirante Ary Parreiras
e João da Escóssia) e um de escultura, Monumento à Câmara Cascudo,
abrangendo dezesseis anos e classificando cerca de sessenta obras, aí inclu-
ídos primeiros, segundos e terceiros lugares, algumas menções honrosas e
prêmios de aquisição. Foram realizadas, ainda, algo em torno de trezentas
exposições.
Nenhuma outra área foi beneficiada com tal índice de promoções, o
que se pode constatar na simples leitura dos demais itens aqui apresentados;
portanto, nenhuma outra apresentou tão prodigiosa performance.
Aliado a esse maciço apoio aos artistas, a manutenção da Escolinha de
Arte Cândido Portinari e da Oficina de Gravuras Rossini Perez constitui outra
vertente de significativa expressão, dado que suas propostas, em síntese, visam
alimentar o processo formativo de novas gerações de produtores culturais.
Quanto à Oficina de Gravuras Rossini Perez, até 1993 (conforme vimos
anteriormente, esta fora criada em 1980) era subordinada ao Centro de Pro-
moções Culturais – CPC, com a finalidade de desenvolver e aprimorar a arte
da gravura no Estado, área até então sem maior repercussão local. Naqueles
treze anos mantinha-se, a exemplo da Escolinha, antes aludida, fiel àqueles
Foto: Ayres Marques

Palácio Potengi, hoje chamado Palácio da Cultura, sediando a Pinacoteca do Estado.

140 Fundação José Augusto


princípios expressos em sua origem, implementando ações que se afirmavam
com resultados bastantes promissores.
No ato da sua implantação encontrava-se equipada com duas prensas
para impressão de xilogravuras, litografias e gravuras em metal; posterior-
mente, sua estrutura foi capacitada para a realização de cursos de desenho,
xilogravura, serigrafia e litografia artísticas e gravura em metal, dentro de um
padrão de desempenho considerado plenamente satisfatório. Diversos artis-
tas se iniciaram ali, em seus cursos regulares ou informais.
Não se limitando ao ensino de técnicas de manipulação de seu instru-
mental (torno, formão, buril, cinzel, madeira, metal, papel, etc.) e identifica-
ção da matéria-prima adequada aos processos de produção, bem como à ori-
entação dos aprendizes quanto à sua importância e significado culturais, pres-
tava serviços também como efetivo núcleo produtor, expressando suas ativi-
dades na confecção de desenhos e gravuras.
Em 1980 a UFRN, através da Pró-Reitoria de Extensão Universitária,
solicitou os serviços desta Oficina para a confecção das capas de folhetos e
outras publicações, inclusive do livro Gravura Popular, sobre temas vincula-
dos ao Projeto Memória Viva, desenvolvido por aquela Instituição. Os dese-
nhos produzidos foram transformados em cartões postais, o que permite con-
jeturar-se sobre o nível do trabalho. Isso, quando a Oficina tinha apenas alguns
meses de funcionamento.
Cumpre registrar sua ação em outras regiões do Estado. Com a implan-
tação do Programa de Interiorização da Ação Cultural, iniciado por volta
de fins de 1980 e primeiros meses de 1981, foi desenvolvida, com êxito, a
estratégia de integração de cursos de curta duração ao programa do Circo da
Cultura. Como aquela programação sempre era discutida com líderes comu-
nitários semanas antes da sua operacionalização, incluiu-se como uma das al-
ternativas a realização de um curso de xilogravura durante o período de per-
manência do Circo na localidade.(15)
Esta oficina realizou exposições em Macaíba e em Mossoró, além das
que – obviamente – fez em Natal.
Por volta de 1981, iniciou atividades na área da história em quadrinhos.
Foram produzidos, no então estilo da literatura de cordel, os folhetins Histó-
ria de Lampião e Jesuíno Brilhante. Porém, por escassez de recursos, o
projeto não foi reimplementado. Era um trabalho bastante promissor. A idéia
era a de produzir uma coleção, exclusivamente em quadrinhos, sobre o vasto
campo dos fatos que compõem as tradições históricas e culturais norte-rio-
grandenses, inclusive suas lendas. Quem sabe o trabalho poderá ser retomado,
_________________
(15)
Em média, o Circo da Cultura permanecia 15 dias em cada cidade.

40 Anos 141
de vez que há significativa faixa de público consumidor deste tipo de literatu-
ra, especialmente nos segmentos jovens.
Anos depois foram realizados trabalhos mais aprimorados e destinados a
outras camadas socioculturais: em 1985 foi editado o álbum Via Sacra, com
versos de Chico Traíra, desenhos de Márcio Coelho e gravuras de Aucides Sales.
No ano seguinte, publicou Casa Nordestina, com poemas de Racine Santos e
gravuras de Aucides Sales, Eribaldo Furtado e Carlos Borges.
Fora do Estado, numa experiência de intercâmbio com a Oficina de
Gravuras do Museu Goeldi, do Pará, foram feitas exposições de cada uma das
Oficinas na capital do Estado coirmão. Internacionalmente, afora coletivas
em Austin (Texas, Estados Unidos) e em Tóquio (Japão), expôs na Petit Galerie,
no centro de Paris, em evento denominado Gravateurs Brasiliens.
Tempos atrás realizou convênio com a Universidade do Rio de Janeiro,
do qual resultou a vinda a Natal dos professores Jean Guido Bonfanti, José
Maria Paixão e Kazuo Iha para ministrarem cursos nesta cidade.
Àquela época a Oficina manteve intercâmbio com várias escolas de arte
de Natal, dentre as quais a do Solar Bela Vista, a do Atelier da então Escola
Técnica Federal do Rio Grande do Norte-ETFRN e a do Colégio Nossa Se-
nhora de Fátima. Fora do Estado, manteve contato permanente com o Nú-
cleo de Arte e Cultura da Universidade da Paraíba e com a Oficina Guaianases,
de Olinda-PE.
Em 1996 suas atividades foram suspensas, retornando enfim em agosto
de 2002 (p. 159).
A implantação da Pinacoteca, por sua vez, foi possível graças à reunião
do acervo preexistente no Estado, à doação de artistas e à aquisição por com-
pra.
A aquisição de acervo, mormente em uma instituição de caráter
museológico, é de singular relevância, tanto do ponto de vista de atualização
das coleções quanto de uma política de incorporação e ampliação. O traba-
lho visa cumprir a finalidade de valorizar, estudar e conservar o que se rela-
cione com o interesse histórico, artístico e técnico, expondo ao público de
forma prazerosa e educativa. No período 1995-2002, a implantação da Pi-
nacoteca do Estado, no Palácio Potengi, a criação do Museu de Cultura Po-
pular e a renovação de acervo em outros museus sob a responsabilidade da
Fundação, exigiram que a incorporação de novos acervos se processasse
por três vias – compra, doação e comodato, conforme discriminação abai-
xo:
COMPRA
g
Coleção de arte popular, com 119 (cento e dezenove) peças;
142 Fundação José Augusto
g
cinco desenhos, da artista primitiva Maria do Santíssimo;
g
cinco esculturas, em cimento constituído, do artista plástico Jordão;
g
dois óleos, do artista primitivo Nivaldo Rocha;
g
duas placas, em cerâmica, da artista Côca;
g
um óleo sobre cartão;
g
uma pintura, do artista plástico Raul Córdula;
g
uma gravura, do xilógrafo Ciro;
g
uma escultura, em pó-de-mármore, do artista Galego, e
g
uma escultura, em pedra-sabão, do artista Emanoel Amaral.
DOAÇÃO
g
Coleção de Artes Visuais, do extinto Banco do Rio Grande do Norte-
BANDERN, composta de 92 (noventa e duas) peças;
g
Coleção de Artes Visuais, do Banco Central, composta de quarenta e
nove peças;
g
seis esculturas sobre plano e cinco óleos sobre madeira, da artista Zaíra
Caldas, pela autora;
g
duas cerâmicas, da artista Regina Guedes, pela autora;
g
dois óleos, do pintor Ranilson Rabelo, pelo autor;
g
óleo sobre papelão, de autoria não-identificada, pelo artista plástico
Iramar Araújo;
g
um óleo, de Fé Córdula, pelo autor;
g
uma obra de arte cinética, do artista Abraão Palatnik, pelo autor, e
g
uma escultura em chumbo, revestida em folhas de ouro, representando
Buda em pé (com 70 cm de altura), de origem indiana, pelo suíço Fritz
Alcin Gegauf.
COMODATO
g
cinco óleos: 02 (dois) da artista Ir. Miriam, 01 (um) do artista Assis Mari-
nho e 02 (dois) de autoria não-identificada, cedidos pelo Colégio Nossa
Senhora das Neves, e
g
duas esculturas – terracota e gesso –, do artista Hostílio Dantas, cedi-
das pelo Professor Protásio Alves de Melo.

Com a finalidade de preservação, guarda e mostra do acervo de artes


visuais, a Pinacoteca dispõe de peças em seis núcleos expositivos, além do
mobiliário antigo do Palácio. Possui, também, salas reservadas para exposi-
ções de artistas, ou para outras atividades culturais, tais como seminários, reci-
tais e lançamentos de livros.
Como se vê, portanto, a área de museus, que conta inclusive com uma
eficiente e operosa oficina de recuperação de peças, desenvolveu uma longa e
40 Anos 143
paciente trajetória até se firmar, hoje, como um segmento dos mais importan-
tes para que a Fundação consolide seu papel de órgão máximo da ação cultu-
ral potiguar.
Dirigiram o Centro de Documentação Cultural-CDC, no período,
Tarcisio Rosas, Ivoncísio Medeiros, Francisco Alves, Jeanne Nesi da Fonseca e
Neusa Pinheiro de Medeiros e, atualmente, é dirigido por Dácio Galvão.
Foto: Arquivos da FJA / CDC

Solar João Galvão de Medeiros, antes e depois da restauração (1995),


situado na antiga Av. Junqueira Aires, atual Av. Câmara Cascudo.
Foto: Anchieta Xavier

144 Fundação José Augusto


Centro de Promoções Culturais-CPC
Dissemos em outra parte que a Lei nº. 4.923, de 17 de dezembro de 1979,
instituiu os Centros de Documentação e de Promoções, a partir da cisão do antigo
Centro de Desenvolvimento. Não obstante, o processo de difusão cultural, nesta
Fundação, dá-se através de vários canais, constituindo mesmo parte das atribui-
ções de praticamente todos os seus setores. Esta circunstância pode levar o leitor
menos familiarizado com a sua estrutura ao seguinte questionamento: se todos (ou
praticamente todos) os setores têm esta preocupação, qual a razão de ser do Cen-
tro de Promoções Culturais?
Requer, portanto, uma explicação.
O leque de ação ou, melhor dizendo, o raio de abrangência programática
da Fundação José Augusto assume funções diversificadas, na conformidade
de algumas das dimensões conferidas ao conceito “cultura”. Esta realidade
está refletida em sua setorialização, atendendo exigências que vão do registro
dos fenômenos à promoção de eventos, passando pela pesquisa e documenta-
ção, seja de fatos ligados estritamente às manifestações culturais ou aos de
natureza histórica, social, política ou econômica.
Nessa perspectiva – reiteramos –, todos os segmentos da Fundação tra-
balham no sentido de difundir e promover a cultura potiguar no âmbito da
sociedade.(16) Ainda aí, pergunta-se: “por que, então, a existência de um setor
destinado exclusivamente à promoção cultural?...”
A dinâmica social, nos seus desdobramentos, gera situações e vivências que
_____________________
(16)
É evidente que, quando o CDC realiza um documentário ou o CEPEJUL uma pesquisa, por exemplo, não
o faz simplesmente para armazenar e preservar as informações; doravante elas estarão disponíveis
para pesquisadores e demais interessados em eventuais consultas. Assim, o fato documentado – ou
pesquisado -, o livro editado, o monumento restaurado e a peça museológica constituem produtos
plenamente acessíveis à comunidade e, portanto, aí estará ocorrendo a difusão cultural.

40 Anos 145
exigem linguagens diferenciadas para expressar sua natureza. O fato sociocultural
(histórico, político, etc.) requer identificação, registro, documentação, exposição e
preservação através de múltiplos mecanismos condizentes com cada uma dessas
situações. O CPC, enfim, guarda essa particularidade que o distingue dos demais
setores: utiliza-se das linguagens cênicas, normalmente de caráter lúdico, ajustan-
do-se, dessa forma, ao perfil das atividades que lhe compete desenvolver.
Feito o esclarecimento, prossigamos.
O Centro de que tratamos compreende os segmentos que operacionalizam
atividades pertinentes à cultura popular, à música e à dança. No domínio da
cultura popular os projetos mais marcantes, ao longo do tempo, foram o do
Circo da Cultura, o das Feiras Culturais e os dos Festivais de Folclore e
de João-redondo, aos quais se junta o do atual Encontro de Cultura Popu-
lar; na área da música, destacam-se o de Apoio às Bandas de Música Comu-
nitárias e o Projeto Seis e Meia, enquanto que, no que diz respeito à dança,
coordena a Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão-EDTAM. Mas
não há rigidez programática, o que implica em dizer que incursiona, ou é pas-
sível de incursionar, por quaisquer outras formas de expressão artística, do
que é exemplo o projeto Um Presente de Natal, de sua responsabilidade, do
qual participam diversos órgãos da Instituição e que abrange múltiplas mani-
festações (música, dança, artes plásticas, teatral e circense).
Foto: Anchieta Xavier

Encenação de “Um Presente de Natal”, em frente ao Palácio da Cultura.

146 Fundação José Augusto


Para viabilizar os seus planos o CPC, como de resto todos os demais
setores da Fundação, sempre captou recursos em organismos externos, com
especialidade a Fundação Nacional de Arte-FUNARTE e o Instituto Nacio-
nal de Artes Cênicas-INACEN, organismos vinculados ao Ministério da Cul-
tura-MinC. Dentre os projetos desenvolvidos alguns se constituíram em ver-
dadeiras estratégias de ação, tais como o Circo da Cultura, mencionado aci-
ma, por longos anos tendo sido utilizado como importante mecanismo de
veiculação dos seus programas junto às comunidades periféricas de Natal e a
diversos municípios do interior do Estado.
A Feira Cultural, também referida, foi outro projeto que se mostrou um
instrumento ágil e funcional para a disseminação artístico-cultural norte-rio-
grandense. Esta se apresentava como uma feira tradicional estilizada, com bar-
racas para a venda de comidas e bebidas típicas da região onde se instalava,
assim como de peças artesanais ali produzidas, além de exposição de quadros da
Pinacoteca do Estado e lançamentos, exposição e venda de livros de autores
potiguares.
Uma outra proposta que se repetia com certa regularidade – por vezes
retomada nos últimos anos – era a de recuperação de grupos folclóricos
(indumentária, adereços e instrumentos), concebida basicamente face à deca-
dência desse tipo de prática pelas dificuldades econômicas: esses grupos, como
Foto: Arquivos da FJA/CDC

Flagrante de uma apresentação de um grupo folclórico, no Circo da Cultura.

40 Anos 147
é notório, são constituídos, via de regra, por indivíduos oriundos das camadas
pobres da população.
Os trabalhos assinalados – o Circo, a Feira, os Festivais e a Recupe-
ração de Grupos –, no decurso dos anos 80 e primeiros anos da década se-
guinte foram importantes estratégias muito oportunamente utilizadas pelo
CPC. Posteriormente, surgiram os Encontros de Cultura Popular.
Foram diretores do Centro de Promoções, a partir da sua criação, Deífilo
Gurgel (1980-1987), Francisco Alves (1987-1991), novamente Deífilo Gurgel
(1991-1994), Maria Dolores (1995-1999), Olga Aranha (1999-2001), Iara
Queiroz (2001-2002), Hilneth Correia (2003) e, atualmente, é coordenado
por Maria Amélia Freire.
Seguem-se as linhas de difusão cultural, não necessariamente apenas as
desenvolvidas pelo CPC, como já foi explicado.

(a) Cultura popular, principais projetos


Pessoas distintas, em distintas épocas, consideraram a essencialidade e a
urgência do resgate e da preservação dos fatos que conformam (e animam) as
bases da cultura dos povos, seja de um grupo étnico (cultura indígena, cultura
negra), de uma região (cultura potiguar, cultura nordestina) ou de uma nação
Foto: Arquivos da FJA / CDC

Visão da abertura da Feira Cultural de Currais Novos (1980).

148 Fundação José Augusto


(cultura francesa, cultura brasileira), reputando-os como fatores que os perso-
nalizam e identificam:
“Muitas sociedades menosprezaram as expressões de sua arte, mas
virá um dia em que voltarão sobre o seu passado e lamentarão o desa-
parecimento dessas obras que esqueceram temporariamente. Aos que
compreendem o valor dessas tradições, cabe colhê-las a tempo. Os des-
cendentes dos iconoclastas de hoje lhes ficarão agradecidos”. Estas pa-
lavras são de Alfred Métreaux, antropólogo francês, Prof. da Universi-
dade de Yale e um dos maiores pesquisadores do culto vodu na América
Central, especialmente no Haiti. O comentário foi feito em 1949, em
relatório da UNESCO acerca da proteção e do desenvolvimento das
artes populares, e citado, com muita propriedade, pelo Prof. Deífilo
Gurgel, escritor e folclorista potiguar, em uma de suas obras sobre o
assunto.
Na mesma linha mas no estilo confessional – falando de sua experiên-
cia e percepção a respeito –, disse Câmara Cascudo: “Queria saber a histó-
ria de todas as coisas, do campo e da cidade. Convivência dos humildes,
sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do mar e das estrelas, dos mor-
ros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que
leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que
Foto: Acervo de Deífilo Gurgel

40 Anos 149
hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade” (Revista
Província, nº. 2, FJA, p. 5, 1971).
Um dá o grito de alerta, iniciando com um lamento, mas encerrando
com um voto de fé no futuro; outro, exemplifica e ensina o caminho.
Cremos que a Fundação sempre adotou uma postura compatível com tal
entendimento, o que se pode constatar nos textos e na execução dos seus projetos.
Fomos pinçar num trecho do relatório da primeira Feira Cultural realizada pelo
CPC (julho, 1980), em Currais Novos, um resumo bastante aproximado do nível
ou importância com que é encarada a cultura popular, nesta Entidade. Ao mesmo
tempo se pode observar com mais atenção, e exatidão, o significado da Feira,
enquanto veículo de disseminação das artes e da cultura potiguares. Vejamos:
“( ... ) Seguiu-se à abertura da Feira o lançamento do livro Os Holan-
deses no Rio Grande do Norte, do Mons. Paulo Herôncio, cuja apresenta-
ção foi feita pelo Pe. Ausônio de Araújo, pároco de Currais Novos.
“A programação desenvolvida incluía a apresentação do grupo folclóri-
co Bambelô Asa Branca; de grupos parafolclóricos de escolas da região; de
emboladores, cantadores de viola e repentistas, e da Banda de Música de
Carnaúba dos Dantas; projeção de filmes cedidos pela EMBRAFILME; ex-
posição de quadros da pinacoteca da Fundação e de um artista da cidade, e o
funcionamento de barracas estilizadas com exposições e venda de livros, pro-
dutos artesanais, comidas e bebidas típicas”.
Observe-se que, utilizando-se de uma estrutura familiar àquela comuni-
dade, explorou-se ali, a música e a dança folclóricas, o artesanato, o cancionei-
ro e a culinária popular, a retreta, o cinema, a literatura e as artes plásticas.
Vale acrescentar que a Feira Cultural esteve em várias outras cidades e
em todas elas lançou livros de autores da terra, promoveu artistas da região,
gerou um saudável intercâmbio.
Outras iniciativas que colheram bons resultados foram os Encontros
de Emboladores, os Circuitos de Teatro e os já assinalados festivais, entre
outros eventos do gênero, sistematicamente trazendo a Natal representantes
dessas manifestações do Estado e da região. Essas promoções eram desenvol-
vidas em palanques erguidos em pontos estratégicos da cidade, em escolas e
na Sala dos Grandes Atos, sala nobre da Fundação.(17)
Nesse período (década de 80), um dos artistas populares que se apre-
sentaram nos eventos da Fundação, especialmente nos Festivais de
Emboladores, foi Chico Antônio (1902-1993), natural de Pedro Velho-RN,
cuja importância foi registrada em várias obras de Mário de Andrade (1893-
1945): Danças Dramáticas do Brasil, Os Cocos, Melodias de Boi, O
______________________________
(17)
V. depoimento do prof. Cláudio Emerenciano, ex-presidente da Fundação José Augusto, na p.103.

150 Fundação José Augusto


Turista Aprendiz e Vida de Cantador, esta última inteiramente dedicada
ao autor do famoso “Coco do Boi Tungão”.
Mário de Andrade, nome de grande expressão do movimento moder-
nista, foi quem o descobriu, na viagem realizada por todo o Rio Grande do
Norte – ciceroneado por Câmara Cascudo –, entre dezembro de 1928 e janei-
ro de 1929. Posteriormente relegado ao ostracismo, cinqüenta anos depois
(agosto, 1979) seria redescoberto pelo Prof. Deífilo Gurgel, no curso de uma
pesquisa realizada para a Fundação José Augusto, momento em que o apre-
sentou ao mestre Cascudo: “Mário de Andrade comparou-o a Caruso e ao
Uirapuru do Amazonas, pelo encantamento que sua voz despertava”, lembra
Deífilo.
Quando abordamos o Centro de Estudos e Pesquisas Juvenal Lamartine
(QUARTA PARTE, p. 113), referimos o projeto de Mapeamento da Cultu-
ra Popular (p. 117), a ser retomado e concluído, e adiantamos que, a despeito
de não ter sido consolidado, teve o mérito de gerar dois outros projetos: o de
Encontro de Cultura Popular e o Chico Traíra.
O primeiro deles – idealizado para divulgar as manifestações populares
e incentivar os artistas –, realiza-se ininterruptamente desde 1995, sempre na
semana que inclui o Dia Nacional do Folclore,(18) cujo dia específico é 22 de
agosto. O programa é elaborado de sorte a envolver municípios de todas as
regiões do Estado e, inclusive, de outros Estados do Nordeste, não só os
vizinhos (Ceará, Paraíba e Pernambuco) mas, em algumas ocasiões, atraindo
figuras de outros centros urbanos.
Nomes importantes, como Ariano Suassuna, com sua “aula-espetáculo”,
abrilhantaram o evento, em ocasiões diversas; escritores e conferencistas do gê-
nero, comprometidos com a sobrevivência das tradições populares, ali lança-
ram seus livros e realizaram palestras. Dentre os grupos, destacam-se: Boi-bumbá,
de Axixá-MA; Banda Cabaçal (irmãos Aniceto, descendentes dos índios cariris),
o mais importante grupo musical, de origem popular, do Ceará; Orquestra
Sanfônica, de Campina Grande-PB, constando de vinte e um sanfoneiros e sete
percussionistas, além do maestro, cujo repertório abrange da música erudita ao
forró pé-de-serra; Bandas Cascabulho, Mestre Ambrósio e de Pífanos Dois Ir-
mãos, todas de Pernambuco, além de outros artistas como Hermeto Pascoal, de
Alagoas; Antônio Nóbrega,(19) de Pernambuco, e Gereba, da Bahia.
__________________________
O arqueólogo inglês William John Thomas em 1846 criou a palavra FOLCLORE (Folk-lore) para designar
(18)

todos os estudos populares sobre Tradições, Antiguidades, Costumes e Literatura. No dia 22 de agosto
daquele ano o jornal londrino “O Atheneu” publicou uma carta de Thomas sugerindo a criação da palavra
“Folclore”, hoje aceita em quase todo mundo. Em 17 de agosto de 1965 o então presidente da República
Castelo Branco assinou o Decreto n.º 56.747 instituindo o dia 22 de agosto como o Dia do Folclore no Brasil.
“Na Pacanda do Ganzá”, CD e espetáculo do famoso artista, foi produzido em homengem a Mário de
(19)

Andrade e a Chico Antônio.

40 Anos 151
Quanto ao Rio Grande do Norte, citamos os grupos Caboclinhos e Congos-
de-Guerra (Ceará-Mirim); Cangaceiros (Arês); Coco-de-zambê (Tibau do Sul);
Araruna, Congos-de-calçola e Boi-de-reis (Natal); Pastoril (Parnamirim); Dan-
ça-do-espontão dos Negros do Rosário (Caicó); Bandeirinhas e Lapinha (Tou-
ros); Marujada (Georgino Avelino), e Dança de São Gonçalo (Portalegre) –
afora o grupo parafolclórico da UFRN. Destacamos, ainda, os artistas Elino
Julião (Timbaúba dos Batistas), D. Militana Salustino, romanceira de largo pres-
tígio no Estado (São Gonçalo do Amarante), emboladores de coco (Serra de
São Bento), violeiros, sanfoneiros e rabequeiros de diversos municípios.
Entre os inúmeros espetáculos dignos de menção, registre-se uma ex-
cepcional apresentação do Grupo Suzuki do Instituto de Música Waldemar de
Almeida, tendo como solista o tocador de marimbau Joaquim Penha, natural
de Campo Redondo e residente em Lagoa de Velhos. Versão sertaneja do
berimbau (este de origem africana), o marimbau é um instrumento de fabrica-
ção caseira, montado pelo próprio artista (consistindo num objeto formado
por uma lata de querosene, uma baqueta de pereiro, madeira típica do semi-
árido, e a corda retirada da argola de pneu adaptada no arco de mimosa, ou-
tro tipo de vegetal), o qual, com a utilização de uma faca ferindo as estrias da
argola, sustentada por dois feixes de pedras, executa notas que vão desde o
clássico ao popular, com singular qualidade sonora.
Foto: Joana Lima

Grupo folclórico “Caboclinhos de Ceará-Mirim”

152 Fundação José Augusto


O evento prevê atividades paralelas de lançamentos, exposições e venda
de livros, cordéis e CDs, exposições fotográficas, mostras de escultores popu-
lares, oficinas artesanais e feiras de culinária, não necessariamente em todos os
encontros, mas de forma alternada. No IV Encontro de Cultura (1998) o histo-
riador e folclorista Luís da Câmara Cascudo foi homenageado com um selo co-
memorativo do centenário do seu nascimento, na mesma oportunidade sendo
inaugurado o Museu de Cultura Popular (p. 138), assim como, posteriormente –
VIII Encontro (2002) –, a reabertura da Oficina de Xilogravura.
Inicialmente realizado no auditório da Fundação (Sala dos Grandes
Atos), nos anos subseqüentes foi transferido para a então Escola Técnica Fe-
deral do Rio Grande do Norte-ETFRN, hoje CEFET –, Teatro Alberto
Maranhão e Memorial Câmara Cascudo, sempre atraindo grande público, so-
bretudo de jovens estudantes.
Quanto ao Projeto Chico Traíra, criado em 1995, fundamenta-se na
proposta mais ampla de preservação e difusão da cultura norte-rio-grandense,
onde, por via de regra, estão inseridos todos os programas da Fundação, con-
siderando que tais fins, preservação e difusão, estão no cerne da própria razão
de ser da Entidade (esta particularidade foi exaustivamente demonstrada, pá-
ginas atrás); suas especificidades, porém, o personalizam de forma incontestá-
vel e o distinguem como uma das boas iniciativas na área da cultura popular,
conforme veremos em seguida.
Em primeiro lugar, observava-se a necessidade de “organizar-se um le-
vantamento da situação do cordel, assim como dos cordelistas, no âmbito do
Estado”, condição quando não-essencial, certamente importante para as ações
subseqüentes de:
(a) “apoio aos artistas, editando seus cordéis (poesia e xilogravura)”;
(b) “incentivo ao surgimento de novos talentos, na área”, e
(c) “concessão de meios, ao público interessado (aí incluídos leitores,
pesquisadores, estudantes e demais aficcionados do gênero), de acesso à
sua aquisição”.

Foi queimada aquela etapa inicial, no entanto, a do levantamento, em


face das limitações de recursos.(20) Pressupunham os seus objetivos, ainda, a
intenção de “contribuir para o ressurgimento dessa arte no âmbito do Rio
Grande do Norte”, o que constituiria, evidentemente, uma derivação natural
dos anteriormente descritos.
Na verdade, ressentia-se a Fundação José Augusto – e, assim, os po-
etas-cordelistas e os pesquisadores – de uma atuação mais efetiva no que
____________________
(20)
Há plano de se retomar referido levantamento.

40 Anos 153
diz respeito à literatura popular, pelo que sua repercussão foi bastante
positiva junto à comunidade.
Do Relatório da Fundação José Augusto (1995-2002) extraímos o se-
guinte trecho, a propósito deste Projeto: “(...) A estratégia consiste em, inicial-
mente, realizar a chamada dos poetas, por rádio e/ou outros meios de comu-
nicação, de todo o Estado, para participarem do projeto encaminhando cor-
déis inéditos. Depois, a partir de um processo de seleção, estes são impressos
no formato tradicional, com capa em xilogravura de artistas-gravadores. A
tiragem (mil exemplares por título selecionado) é distribuída na proporção de
cinqüenta por cento para os respectivos autores, dez por cento para os grava-
dores das capas e o restante destinada ao arquivo da Fundação e à política de
divulgação nas escolas, etc.”.
Acrescenta, ainda, aquele documento, que o projeto permanece em ati-
vidade desde sua implantação, com uma média de dez unidades editadas por
ano, com o que se tem oitenta mil exemplares, no período. Por outro lado, as
capas dos cordéis editados deram origem a um álbum de Xilogravuras, home-
nageando os gravadores.
A denominação do Projeto Chico Traíra buscou resgatar a memória
de Francisco Agripino de Alcaniz, seu nome de batismo, falecido no fim dos
anos 80 (século XX), considerado um dos maiores, provavelmente o maior de
quantos violeiros nasceram neste Estado. Seu improviso genial era reconheci-
do por toda a região e, mesmo, em outras partes do país. Entre seus inúmeros
cordéis cabe destacar A minha vida de cantador (1978) – publicado pela
Companhia Editora do Rio Grande do Norte-CERN –, pelo primoroso regis-
tro dos momentos mais representativos de sua trajetória artística, resumo admi-
rável e ao mesmo tempo simples, ingênuo às vezes, no qual uma extrema sensibi-

Mostra de alguns “Cordéis” do Projeto Chico Traíra, publicados pela Fundação José Augusto.

154 Fundação José Augusto


lidade perpassa cada estrofe. Como dá nome a um dos projetos da Fundação,
seus dados biográficos encontram-se no APÊNDICE do presente trabalho, no
item “Patronos e Madrinhas” (p. 257).
Um último ponto a considerar, com relação a este item, diz respeito ao
projeto Casa de Cultura Popular, iniciado justamente neste ano em que se
comemora o quadragéssimo aniversário da Fundação.
Foi concebido de forma a dotar os diversos municípios do Estado de
um equipamento apto ao desenvolvimento de ações artístico-culturais verti-
das, fundamentalmente, para a evolução social e política do indivíduo, resta-
belecendo a sua dignidade e consciência de cidadania. Os seus programas abran-
gem biblioteca informatizada, oficinas de artes plásticas e de artes cênicas,
bandas de música (uma tradicional e uma de flauta doce), leituras dramáticas,
salas de exposição, TV e vídeo, cursos, palestras e seminários, apresentações
teatrais e lançamento de livros.
A sua peculiaridade, em relação aos projetos anteriormente descritos, é
a ocupação de um espaço físico definido, com possibilidade real de fixar-se e
projetar-se por vasto período senão definitivamente, com a criação posterior,
pouco a pouco, de equipamentos complementares, tais como cinema, museu,
sala de dança e outros, segundo as características da cultura local, a depender
da sensibilidade das futuras administrações municipais, de sua percepção de
que o hábito da leitura, por exemplo, deriva do estímulo constante, com o
tempo transformando-se em prazer e, pois, em opção pessoal.
Da mesma forma as artes plásticas, a música, o teatro e outras práticas
constituem alternativas pelas quais o indivíduo é levado a aprimorar a capacida-
de de reflexão sobre a realidade que o cerca e, assim, de tentar transformá-la.
Já foram implantadas e inauguradas as Casas de Cultura Popular dos
municípios de Nova Cruz, Caicó, Martins, Açu, e está em vias de ser inaugura-
da a de Santa Cruz.(21)
No conjunto destes projetos, portanto, percebe-se que as formas de ex-
pressão cultural oriundas do seio do povo são as mais diversificadas e sua
representatividade se revela justamente na capacidade do indivíduo em trans-
por, na palavra, na música, no gesto, na matéria bruta, trabalhando-os em
conformações estéticas criativas, singulares, sua visão de mundo, sua compre-
ensão da realidade. E é esta capacidade ou aptidão, que transcende os concei-
tos comuns de educação formal, que deve ser preservada e estimulada a todo
custo, pois constitui elemento fundamental à identidade cultural do povo.
É assim que a cultura popular é vista pela Fundação José Augusto.
__________________
Conforme vimos acima, neste primeiro ano quatro municípios foram beneficiados pelo programa; preten-
(21)

de-se implantá-lo, contudo, em todas as cidades cujas respectivas prefeituras se disponham a formalizar
parceria.

40 Anos 155

Nova Cruz, Caicó, Martins e Açu,


(b) Cidade da Criança; Escolas Cândido Portinari, Newton
Navarro e Rossini Perez; Pinacoteca Estadual/Palácio da
Cultura

A Resolução n º. 007/93, de 7 de dezembro de 1993, do Presidente da


Fundação José Augusto, cria a estrutura administrativa da Cidade da Criança
– como Órgão Suplementar –, que passaria a funcionar efetivamente, sob a
responsabilidade desta Instituição, a partir de janeiro de 1994. Em 1998 é tor-
nada Subcoordenadoria do CPC e, no início do corrente ano de 2003, volta à
condição anterior.
Ocupando um espaço de setenta mil metros quadrados na zona cen-
tral da cidade, a Cidade da Criança é um ambiente particularmente
aprazível e acolhedor, quer pela exuberante vegetação que a preenche e
circunda, quer por sua proximidade do litoral, de onde sopra permanente
brisa (as elevadas temperaturas, típicas da região, em Natal acusando uma
média anual de 26ºC são contrabalançadas, também, pela presença dos
ventos alísios).
Lagoa de Manoel Felipe – eis o dístico elementar – lavrado na mais
intimista tradição da era colonial: Alto do Rodrigues, Carnaúba dos Dantas,
Santana do Matos, Olho d’Água do Borges, Timbaúba dos Batistas, a de-
Foto: Arquivos da FJA / Cidade da Criança

Fachada principal da “Cidade da Criança” (Av. Rodrigues Alves, Tirol).

156 Fundação José Augusto


nominação assinalando a posse da terra independentemente da escritura
cartorial. Em outras palavras, aqueles nomes indicam, grosso modo, os
grandes sesmeiros ou latifundiários fundadores dos antigos povoados que
se fariam vilas e cidades.
A Lagoa de Manoel Felipe, em que pese bem menos pretensiosa, não
foge à regra: também foi sítio que virou “cidade” nas várias réplicas dissemi-
nadas. Ali estão fisicamente representados os Três Poderes do Estado – os
Palácios Potengi e da Justiça e a Assembléia Legislativa –, uma biblioteca, uma
escola de artes, concha acústica, capela e minizoológico, entre outros equipa-
mentos. Antes, porém, várias experiências resultaram em sucessivos fracassos.
Até meados do século XX fazia-se piqueniques naquela área. Posteriormente
foi utilizada para apresentações artísticas, exploração comercial de bares e lan-
chonetes e, até, de boate, intercalando tais usos com períodos mais ou menos
longos em que permaneceu simplesmente fechada, até que, enfim, tendo sido
administrada pela Empresa de Propaganda e Turismo do Rio Grande do Nor-
te-EMPROTURN, hoje extinta, passou à órbita administrativa da Fundação,
conforme vimos.
Mas, quem terá sido Manoel Felipe?...
Em 1959 Câmara Cascudo escreveu uma Acta Diurna sobre a Lagoa de
Manoel Felipe, depois editada pelo Instituto Histórico e Geográfico do RN
(O Livro das Velhas Figuras, v. 2, p. 116, 1976). Pertencera – “ainda sem
nome” – a Francisco Alves Bastos, em seguida a seu filho, Manoel Alves Bas-
tos (em julho de 1743), com “confirmação plena” do Senado da Câmara de
Natal.(22) Esta, diz o historiador, é a mais antiga menção da lagoa. Quanto a Manoel
Felipe, parece não se ter encontrado vestígios, qualquer referência à sua pes-
soa: “Não deparei Manoel Felipe em documento algum, consultando os vári-
os arquivos da Cidade. (...) Creio que viveu já no século passado (dezenove)
porque não me foi possível descobrir-lhe rasto na era dos setecentos” (op. cit.,
p. 117).
Bem, se o nome desse personagem perdeu-se nos antigos arquivos, en-
quanto denominação do logradouro permanece vivo na tradição oral da co-
munidade, pois quando se fala “Lagoa de Manoel Felipe” todo natalense sabe a
que área urbana se refere, tanto como se se mencionasse o Parque das Dunas, a
Via Costeira, as principais avenidas da cidade ou as praias que a margeiam. Es-
pécie de “oásis” na metrópole emergente, o bucólico cenário é, certamente, um
dos mais encantadores de Natal.
Quanto às ações desenvolvidas são de duas naturezas que, pelas caracte-
rísticas da clientela a que se destinam, naturalmente se integram e confundem:
_____________________________
(22)
O Senado da Câmara, na Província, correspondia à atual Câmara dos Vereadores

40 Anos 157
culturais e recreativas. Ali os jovens podem cantar, dançar, representar, recitar
poemas, contar histórias, pintar e/ou entreter-se com brinquedos variados e
em cantigas de roda que remetem os adultos à memória das mais ingênuas e
puras tradições das cirandas infantis.
Há oficinas de artes plásticas, programa de educação ambiental e de li-
teratura infantil. Todas as atividades são acompanhadas de pessoal qualificado
(pedagogos, monitores, etc.).
A Escolinha de Arte Newton Navarro, cuja criação antecede à da própria
Fundação José Augusto (maio/1962), e a Biblioteca Infanto-Juvenil Myriam Coeli,
com efeito, são dois dos mais importantes instrumentos da Cidade da Criança,
constituem como que o eixo sobre o qual praticamente tudo o mais gira. A primei-
ra surgiu de uma proposta do próprio artista plástico e poeta Newton Navarro
(1928-1991), sendo também sugestão sua o nome inicial de Cândido Portinari
(1903-1962) para o estabelecimento do qual seria o primeiro diretor. Após o seu
falecimento a Fundação, com muita justiça, houve por bem homenageá-lo com a
atual denominação.
Sua função tem sido a de proporcionar a iniciação artística para crianças e
adolescentes, estimulando o desenvolvimento de aptidões e instrumentalizando
o alunado em suas respectivas áreas de interesse, simultaneamente despertando-
o para a importância da arte na formação do indivíduo.
Com circunstanciais alterações no curso do tempo, sobretudo na incorpora-
ção de novas tecnologias, o circuito de suas intervenções percorre – compreendidos
num programa mais amplo de Iniciação às Artes Plásticas – conteúdos como dese-
nho à mão livre e a bico-de-pena, pintura a óleo, pigmentação natural, reciclagem de
materiais e outros do gênero, além de preleções que visam sensibilizar e motivar os
jovens para a exploração e desenvolvimento de suas tendências subjetivas, ou seja, o
seu imaginário e criatividade, para o que inúmeros projetos foram postos em execu-
ção, dentre os quais Brincando de Pintar, Iniciando com Guache, Fazendo Arte,
etc., quase sempre com denominações ajustadas ao universo infantil.
A propósito, um projeto também destinado a este tipo de clientela,
embora realizado fora do ambiente da Cidade da Criança, foi o Brincarte,
experiência ocorrida entre abril e agosto de 2002 no Paço da Pátria – Favela
do Areado –, área de mangue às margens do Rio Potengi e na altura da Cidade
Alta. As Oficinas utilizaram, como matéria básica, a sucata (papel-jornal, ma-
deira, latas, bolas de gude, etc.), e os participantes foram encaminhados para o
projeto Um Presente de Natal daquele ano.
Outro curso ministrado naquele espaço cultural é o de Belas-Artes, tam-
bém com uma boa freqüência – cinqüenta por ano, em média –, cobrindo
outras faixas etárias.
158 Fundação José Augusto
Do Relatório da Fundação José Augusto (1995-2002), outras vezes cita-
do, destacamos o seguinte trecho: “A capacitação de professores e agentes
multiplicadores foi realizada através de Oficinas de Reciclagem de Papel,
atendendo a cento e oitenta e nove alunos representando sessenta e três muni-
cípios do Estado; foram capacitados, ainda, duzentos e dois professores e
agentes multiplicadores nas Oficinas de Literatura Infantil, Educação In-
fantil (0 a 6 anos), Minirradialistas, Recreação Infantil, Musicalização e
Teatro de Bonecos”.
Nos últimos anos a Escolinha passou a ofertar, também, curso na área
de teatro. Tomando o período 1995-2002, seus diversos cursos atenderam
uma média anual de duzentos alunos, noventa por cento dos quais estudantes
da rede pública de ensino, isentos de pagamento (dos demais é cobrada uma
taxa simbólica).
Em julho do corrente ano (2003) a Escolinha promoveu uma exposição
de desenhos e pinturas em homenagem ao centenário de Cândido Portinari,
apresentando retratos, auto-retratos, desenhos do corpo humano e estudos de
várias técnicas, como pintura à tinta guache, aquarela e óleo.
Pela natureza do seu trabalho a Escolinha só encontra paralelo, no âmbi-
to da Fundação José Augusto, na antiga Sala Infantil da Biblioteca Pública
Câmara Cascudo, que funcionou até 1988, quando foi transformada na Biblio-
teca Infanto-Juvenil Myriam Coeli, hoje também alocada na Cidade da Criança
(conforme referido acima), ambas sintonizadas com um trabalho de base.
Esta recebe orientação técnica diretamente da Biblioteca Pública Câma-
ra Cascudo. Seu acervo atual ascende a oito mil e quinhentos títulos e o núme-
ro de consultas, no ano de 2002, ficou em torno de duas mil ocorrências.
Além de organização de catálogos e de programas que visam à
dinamização das atividades em datas comemorativas, foi criado o projeto
Coleções Especiais para preservar – e destacar – os escritores clássicos de
contos e fábulas infantis.
Valendo-se de uma programação ágil – Hora do Conto, Teatro de
Fantoches, etc. – e utilizando-se de didática específica para esse tipo de públi-
co, a Biblioteca vem desempenhando um trabalho de grande significação para
a formação de leitores.

40 Anos 159
Foto: Candinha Bezerra

Apresentação do Grupo Araruna, da Sociedade de Danças Antigas e Semidesaparecidas,


liderado pelo mestre Cornélio Campina (Solar Bela Vista).

160 Fundação José Augusto


Outros segmentos de difusão cultural
Disséramos, na Introdução deste estudo, que um dos seus objetivos é o
de “subsidiar nossos quadros administrativos e técnicos com um resumo dos
elementos capazes de levar a uma avaliação do seu desempenho” (p. 18), con-
siderando que a qualidade do planejamento vincula-se diretamente à ex-
tensão (e profundidade) do conhecimento da realidade a que se destina. Esta
preocupação parece se tornar mais consistente ao se observar a diversidade
de campos de ação e a amplitude de programas empreendidos pela Fundação
José Augusto: o alargamento da perspectiva tende, naturalmente, a diminuir a
percepção dos detalhes.
Com efeito, vimos, até aqui – afora o paulatino desenrolar da história do
Órgão e a descrição do aparato instrumental de que se utiliza – quando menos
cinco desses campos: história (resgate da memória: vultos, documentos, fatos e
monumentos artísticos); museologia, biblioteca, cultura popular e artes plásticas.
Considere-se ainda que, sob a designação genérica de cultura popular, abrigam-se
diversas formas de expressão: artesanato/xilogravura, cordel, culinária, dança e
música folclóricas, teatro popular (joão-redondo) e folguedos (pastoril, lapinha,
marujada, nau-catarineta, boi-de-reis, etc.).
Vimos, já, tudo isso e restam, ainda, teatro, música e literatura. E convém
lembrar que, sem operar a área de cinema, em certa época o CDC, em parceria
com o Cine-Clube Tirol e o Núcleo de Arte e Cultura-NAC da UFRN, contando
com o apoio da EMBRAFILME, executou projeto nessa área. Some-se a tal
variedade de manifestações as inúmeras formas de abordagem e ter-se-á a
dimensão do trabalho empreendido, ao longo destas quatro décadas.
Vale a pena uma reflexão a respeito.
40 Anos 161
(a) Área teatral
Teatros Alberto Maranhão e Lauro Monte Filho;
Centro Cultural Dep. Adjuto Dias.

Em nossa tarefa de pesquisar, às vezes somos surpreendidos com verda-


deiros achados. Uma entrevista, uma referência aparentemente simples, uma
nota de rodapé e... eis a ponta de um novelo ao fim do qual não raro sucede
descortinarmos algo de cuja existência sequer suspeitávamos. Compulsando
arquivos, analisando mapas, verificando informações de múltipla natureza, de
repente dá-se a descoberta.
Um desses momentos ocorreu-nos observando uma foto do Teatro.
Desgastada, sofrível. Desgastada, pelo tempo; sofrível pela técnica então em-
pregada, longe dos padrões sofisticados de hoje. Nada incomum, a princípio.
Trata-se de uma foto simples, inclusive destituída de beleza estética, datada de
1899. A fachada principal, parcialmente erguida, esconde-se meio-encoberta
por andaimes, enquanto o chão, sem cuidados, é um assimétrico rendilhado de
metralhas.
Há belas fotos do teatro, claro, mas aquela é particularmente significati-
va pois emerge de outro século, de uma época bem diversa da atual, como se
fora um gesto de doação da Cidade Antiga aos pósteros, em flagrante contras-
te com a amarga crônica dos nossos dias. O roteiro do Tempo parece nos
transportar àquele período, onde tudo parecia achar-se em começo: a aboli-
ção da escravatura, a instalação da República, a literatura norte-rio-grandense
e, enfim, o próprio teatro.
Aquela construção retratada nos traz à memória um Governo com pro-
funda percepção e sensibilidade cultural – Alberto Maranhão –, em que pese
tratar-se, naquele ano, da Administração Ferreira Chaves, este o seu idealizador
primeiro. As obras, iniciadas em 1898, foram interrompidas no ano seguinte.
Com a posse do Governador Alberto Maranhão, em 1900, um apaixonado
das artes, seriam reiniciadas de imediato e, sem mais interrupção, concluídas
em 1904, inaugurando a Casa em 24 de março daquele ano com o nome de
“Carlos Gomes”, respeitando a escolha do seu antecessor. Reconduzido ao
poder, seis anos mais tarde (1910) já o reformaria, face ao desgaste sofrido
naquele curto período.
A mudança do nome do Teatro deu-se em 1957, após uma campanha
que durara cerca de seis anos. Houve uma longa e acirrada polêmica, na qual
situavam-se em pólos opostos Câmara Cascudo e Eloy de Souza, duas das
mais respeitáveis inteligências da terra.
Sobre o assunto, assim se manifestou Cascudo, no jornal “A República”
162 Fundação José Augusto
do dia 17 de agosto de 1957: Já devíamos ter o Teatro Alberto Maranhão. É uma
homenagem ao Mecenas da Arte norte-rio-grandense, o animador e o intelectual. Nós
é que devemos valorizá-lo, lembrando-o insistentemente ao Brasil, que conhece e glo-
rifica o nome eterno de Carlos Gomes, a quem Natal doou uma praça. Não deve
haver prescrição para as dívidas de gratidão coletiva. Se Alberto Maranhão não
merece o seu nome no Teatro da cidade que remodelou, embelezando-a para a vida
presente, não haverá mais estímulo para a imitação administrativa. Meira Pires,
que lançara a proposta, viu-se forçado a defendê-la por diversas vezes. Disse,
a certa altura: Coisa alguma deixei sem a devida resposta, inclusive o pronunciamento
do Mestre Eloy de Souza que opinou contrariamente à mudança e afirmou que havia
sido Alberto Maranhão quem escolhera o nome de Carlos Gomes para o nosso Teatro.
Contestamos o notável jornalista divulgando uma nota inserta na edição de “A Repú-
blica” do dia 30 de março de 1898, Ano X, nº. 68 (...) em sua primeira página. A
nota menciona que Ferreira Chaves já escolhera o nome de Carlos Gomes
antes de iniciar-se a construção do prédio (PIRES, pp. 36-37).
Enfim, a 23 de agosto de 1957 o então Prefeito de Natal – Djalma
Maranhão – assinou a Lei nº. 744, cujo Art. 1º. tem o seguinte teor: “O atual
Teatro Carlos Gomes, de propriedade do Município, passa a denominar-se
Alberto Maranhão”.
Entre os anos de 1959 e 1960 houve nova restauração do prédio.
Foto: Arquivos da FJA / CEPEJUL

stituir
Sub
Aspecto da construção do teatro (1899), no Governo Ferreira Chaves.

40 Anos 163
Revitalizou-se o palco, especialmente quanto à iluminação e ao som. Também
foram melhorados os camarins e as condições gerais de acomodação da pla-
téia. Afora isso, serviços de conservação, repintura geral e modernização dos
equipamentos.
Mas, àquela época, não se atentava – pelo menos não com a devida serie-
dade – para serviços de manutenção e preservação: no dia 30 de junho de 1988
desabou o terraço que se localiza no segundo andar do pátio interno, um trecho
que dá acesso ao Salão Nobre, devido às inúmeras goteiras e vazamentos prove-
nientes de fortes chuvas que se abatiam sobre a cidade. Mesmo precariamente
ainda continuaram as atividades até que, por absoluta falta de condições, a 19 de
julho o prédio foi interditado para uma reforma geral. Mesmo a uma visão su-
perficial ressaltavam claramente os danos que se alastravam na velha estrutura.
Que danos eram esses?... Eis um resumo: as paredes apresentavam fissuras
em várias partes, vidros quebrados nos caixilhos carcomidos, portas
emperradas em apelantes gemidos, tabuado do piso desgastado e opaco, ins-
talações elétricas irremissivelmente condenadas, encanamento entupido, co-
bertura ameaçando ruir, poltronas endurecidas nas articulações e do jardim
interno só restava a lembrança.
Coube à Fundação José Augusto proceder a nova intervenção no mal-
tratado prédio. E ela, Fundação, não estaria, tão-somente, recuperando o mais
nobre e tradicional espaço cultural da cidade, ressonância da longínqua belle
époque – traço de união com a ancestralidade –; resgataria do ostracismo e da
decadência, talvez do inelutável fim, o mais expressivo palco para os artistas
das novas e futuras gerações. E, mais: além de recuperar o monumento, à Fun-
dação caberia a responsabilidade de administrá-lo, doravante.
Vejamos trechos do relatório sobre as obras de restauração, elaborado
pelo setor correspondente, vinculado ao Centro de Documentação Cultural:
“Foram executadas obras de conservação no Teatro em 1946, então sendo
recuperadas as instalações elétricas e hidro-sanitárias do prédio. Em 1959 (...)
o Teatro foi restaurado, obedecendo as características da época de sua (pri-
meira) restauração, em 1910. O estilo do prédio foi mantido e o velho Teatro
transformou-se num ambiente mais confortável.
“Desde essa grande restauração e até meados de 1988, o Teatro foi man-
tido com pequenas obras de conservação.
“Em junho de 1988 a Fundação José Augusto efetuou uma vistoria, quan-
do foram constatadas as precárias condições da Casa”.
Prossegue o relatório dando conta de que os trabalhos foram iniciados a
partir das áreas mais críticas, descrevendo-as em seguida e elencando os servi-
ços então realizados, a saber:
164 Fundação José Augusto
(a) “O salão de danças, localizado na parte posterior do prédio, apre-
sentava a estrutura da cobertura comprometida e ameaçando ruir. Nele
foram executadas obras de recuperação total da referida cobertura, com
substituição do madeiramento e telhas. O forro também foi substituído
e as esquadrias recuperadas, (assim como) refeitas as instalações elétri-
cas e hidráulicas. Recuperado e lixado o assoalho. Pintura geral.
(b) “O Salão Nobre, localizado no pavimento superior da parte anteri-
or do prédio, apresentava a estrutura da cobertura em estado precário.
Foi substituído todo o madeiramento e telhas, refeito o forro em tabua-
do de cedro e recuperado o assoalho e as instalações elétricas e telefôni-
cas. Revisão nas esquadrias, instalação de novas cortinas, recuperação
do mobiliário e substituição dos lustres. Pintura geral.
(c) “As alas que circundam o pátio interno tiveram a cobertura toda
substituída. Foram refeitas as instalações elétricas e hidro-sanitárias. Forro
em gesso. Revestidos em mármore os degraus das escadas de acesso ao
Salão Nobre. Pintura geral.
(d) “Os camarins, localizados no pavimento da parte posterior do pré-
dio, não apresentavam as mínimas condições de conforto e higiene. Foi
necessário reestruturar toda a área. Paredes foram demolidas, outras
construídas. Havia seis camarins pequenos e um grande; com a conclu-
são das obras, ficaram cinco camarins grandes, com banheiros privati-
vos e ar-condicionado. O piso foi refeito em cerâmica, o revestimento
das paredes em azulejos e o forro em gesso. As instalações elétricas e
hidro-sanitárias foram substituídas. Recuperadas as esquadrias existen-
tes e confeccionadas outras. Os camarins ganharam uma feição moderna
com bancadas em mármore, espelhos e luminárias novas. Pintura geral.
(e) “Palco e platéia – o ‘coração’ do teatro – tiveram a estrutura metáli-
ca da cobertura toda recuperada, com substituição das telhas de
fibrocimento. As instalações elétricas foram refeitas e recuperada a cen-
tral de ar-condicionado. Os urdimentos do palco foram mecanizados
através de projeto executado por firma de Porto Alegre especializada
nessa área. Quanto à sonorização e iluminação cênica, tudo foi substitu-
ído: noventa e seis refletores foram instalados em cinco varas de luz, das
quais setenta e seis com mil watts, inclusive dois refletores elipsoidais dos
mais avançados e uma mesa de luz com doze canais. Foram instaladas
duas torres com grave e médio-grave, médio e agudo, mesa de oito ca-
nais, duas fontes de potência, equalizador stéreo e novos microfones. Os
tecidos cênicos foram confeccionados e instalados por firma de São Paulo
(também) especializada. Todo o mobiliário foi recuperado, as cadeiras
40 Anos 165
da platéia revestidas em napa branco-gelo, as cadeiras das frisas e cama-
rotes tiveram o estofamento recuperado e o revestimento substituído
por camurça fosca especial vermelho-vinho, mesmo tecido utilizado nas
cortinas do palco. Foi aplicado carpete vermelho nos camarotes, frente
do palco e entrada da platéia, e passadeiras vermelhas nas áreas de circu-
lação. Limpeza e pintura geral”.

E complementa:
“O pátio interno foi todo reestruturado, através de projeto elaborado
pelo paisagista Eugênio Mariano, e restaurada a estátua fundida em ferro pela
Fundição Vald’Osne, de Paris. As dependências reservadas à administração
do Teatro foram pintadas, houve recuperação do mobiliário e instalação de
carpetes e cortinas novas.
“As fachadas do prédio, respeitando a feição de sua fabricação original,
foram pintadas, destacando-se os frisos, cornijas e adornos da época. A preo-
cupação fundamental nesta obra de restauração foi a de transformar o Teatro
numa moderna e tecnicamente equipada Casa de Espetáculos mas, evidente-
mente, sem ferir os traços e características arquitetônicas desta valiosa obra
do início do século XX”.
O texto está assinado pelo Engenheiro Civil e, então, Coordenador do
Patrimônio Histórico e Artístico, Orígenes Monte Neto.
Mais recentemente (2002), novas intervenções foram requeridas, desta fei-
ta para adequar suas instalações e alguns dos seus equipamentos às exigências
naturalmente impostas pelas novas tecnologias, as quais tornavam obsoletos
vários implementos até então tidos como plenamente aceitáveis e/ou satisfatórios.
Com efeito, conforme descreve o Projeto de Reestruturação/Moder-
nização do Teatro Alberto Maranhão, constatou-se a necessidade de substi-
tuição do piso do palco e do sistema de som, bem como a de aquisição de novas cadeiras
para a galeria, medidas que foram tomadas rigorosamente de acordo com as
especificações técnicas estabelecidas naquele documento e, ainda, em inteira
concordância com o oportuno e lúcido parecer emitido pelo Prof. Franco
Maria Jasiello, para quem nunca é demais lembrar que (...) o teatro, em sua ex-
pressão arquitetônico-decorativa e até na gestual-oral, é a mais tradicional das ativida-
des que representam o mais belo fruto do talento humano: a arte.(23)
A 4 de abril de 1989 – mesmo durante o andamento das obras cujo
relatório transcrevemos linhas atrás – o Teatro era incorporado à estrutura
administrativa da Fundação José Augusto, na condição de órgão suplementar,
_________________________
(23)
Prof. de História da Arte da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, Crítico de Arte da
Associação Brasileira de Críticos de Arte-ABCC e da Association Internationale des Critiques D’Art-AICA,
escritor e ex-Presidente da Fundação José Augusto.

166 Fundação José Augusto


através do Decreto nº. 10.338 do Governo Estadual. Essa, enfim, sua destinação
natural, pois os seus objetivos se confundem no mesmo propósito.
Aliás, verificando o acervo documental sobre o Teatro referente ao ano
de 1963, uma data especialmente significativa nos chama a atenção: 8 de abril.
Enquanto ali era encenada a peça “A Mulher Sem Pecado”, de Nelson
Rodrigues, em outra parte da cidade, não longe da antiga “Campina da Ribei-
ra” – como era chamado o sítio onde fora construído –, estava surgindo outra
instituição, nova frente de luta em favor das tradições culturais norte-rio-
grandenses. Uma simples nota daquela data distante, dispersa meio à imensa
massa de registros sobre espetáculos cênicos, concertos, recitais, madrigais e
um sem-número de variedades, amarelecida pelo tempo e esmagada por cen-
tenas de referências a bailados, ilusionismos e a feéricas fantasias dos grandes
musicais, dá conta da criatividade daquele autor exibindo-se em nossa ribalta
no momento em que, na Rua Jundiaí, 641, no “coração” do Tirol, era criada a
Fundação José Augusto, órgão que, no futuro – por estes anos que correm –,
seria tão importante para a afirmação do seu desempenho.
Assim, prestes a completar cem anos de existência, afora circunstanciais
espetáculos cênicos (por que não há uma programação sistemática para espe-
táculos cênicos?...), os concertos da Orquestra Sinfônica e as atrações do Pro-
jeto Seis e Meia – estes, sim; sistemáticos –, temos a cada ano o Encontro de
Corais e, neste 2003, a I Semana do Teatro Nordestino, quando será ofici-
almente lançado o Concurso Nacional de Dramaturgia José Wanderley,
evento marcante a ser consolidado com a premiação a 24 de março de 2004,
data do seu Centenário.
Eis um pouco da história do Teatro Alberto Maranhão.
Outro teatro administrado pela Fundação é o Lauro Monte Filho, de
Mossoró, que surge praticamente um século após o anteriormente descrito:
data de 26 de dezembro de 2002. O prédio onde está instalado fora ocupado,
tempos atrás, por outra importante casa de cultura, o Cine-teatro Cid, de tra-
dição na cidade. Sua desapropriação pelo Governo Estadual permitiu à Fun-
dação proceder a uma ampla reforma, tornando-o um espaço cultural defini-
tivamente integrado à comunidade.
Recorremos mais uma vez ao Relatório da Fundação José Augusto - Gestão
Administrativa 1995-2002, que assinala: “(...) o palco do Teatro Lauro Monte Fi-
lho é um dos mais bem equipados do Nordeste e a sua sala de espetáculos é toda
climatizada, com capacidade para um público de seiscentas pessoas. O prédio
contém, ainda, salas para ensaios, galeria para exposições de arte, bar e café”.
Sua denominação homenageia ilustre escritor e ator mossoroense, cujos
dados biográficos encontram-se em apêndice.
40 Anos 167
O Centro Cultural Dep. Adjuto Dias, de Caicó, tem uma proposta mais
eclética, prestando-se à realização de palestras, encenações teatrais e outras
apresentações artísticas. Este foi inaugurado em meados de 2003, pelo que
ambas as Casas, de tão recentes, têm como fato histórico a caracterizá-las ape-
nas a coincidência de pertencerem a este período que demarca o quadragési-
mo aniversário da Fundação José Augusto.
A exemplo de Lauro Monte Filho, informações biográficas de Adjuto
Dias, benemérito dos esportes e da cultura em sua cidade, também se encon-
tram no anexo acima referido.

(b) Área musical


Instituto de Música Waldemar de Almeida-IMWA, Corais Can-
to do Povo e Harmus, Orquestra Sinfônica do Rio Grande do
Norte, Projeto “Seis e Meia” e Programa de Incentivo às Ban-
das de Música do Estado.

Temos visto, ao longo destas páginas, que a Fundação José Augusto, espe-
cialmente a partir de 1975 – quando assumiu, de maneira efetiva e exclusiva, o
papel de órgão cultural –, não pára de crescer. E sempre numa linha laboratorial:
criando e recriando, acrescentando ou suprimindo, redefinindo e modelando os
Foto: Arquivos da FJA / TAM

Teatro Alberto Maranhão, após a última reforma (Praça Augusto Severo, Ribeira).

168 Fundação José Augusto


diversos compartimentos do sistema, pouco a pouco se foi desenhando o seu
perfil, eclético por excelência. O Instituto de Pesquisas passou à condição de
Centro; o antigo Centro de Desenvolvimento Cultural desdobrou-se nos Cen-
tros de Documentação e de Promoções; o extinto PROFIED possibilitou a
operacionalização do Centro de Recursos Humanos e a Consultoria Técnica
dos anos 70 evoluiu para a Coordenadoria de Atividades do Patrimônio Histó-
rico e Artístico, nesse meio-tempo, ainda, tendo sido criados vários outros seto-
res e mecanismos (estratégias) de intervenção na comunidade.
Em fins de 1985, por exemplo, começou-se a pensar numa forma ade-
quada à inclusão, em suas ações, da área musical. Até então, o ensino da músi-
ca, no Estado, restringia-se praticamente à Universidade Federal e, assim, ti-
nha um cunho algo elitista. O que se pretendia, enfim, era facilitar o seu acesso
à comunidade. Sem excluir a música erudita – o que seria uma impropriedade!
–, buscava-se desenvolver uma linha de trabalho direcionada, sobretudo, para
a música popular regional e brasileira, inclusive com vistas ao suprimento do
mercado de trabalho local (se bem que, àquela época, bastante incipiente). Em
síntese: além de fomentar o estudo da arte musical como uma opção de desen-
volvimento do indivíduo, havia a preocupação de proporcionar alternativas
de mão-de-obra qualificada para a demanda interna.
Foi a partir dessas idéias que surgiu o Instituto de Música Waldemar de
Almeida, para o que também terá contribuído uma instigante estatística: “Cer-
ca de mil matrículas deixaram de ser efetuadas, na Escola de Música da UFRN,
entre 1983 e 1985, por absoluta falta de vagas” (esta informação consta no
projeto para a sua implantação).
Ainda naquele documento fala-se da criação de um conjunto de câmara,
então a ser constituído pelo corpo docente do Instituto, e esse núcleo básico
deveria desenvolver as seguintes áreas:
(a) ensino de instrumentos de sopro (flauta doce, flauta transversa, cla-
rinete, saxofone, pistom, trombone, trompa, trompete, fagote e oboé)
e, num segundo momento, de cordas (piano, viola, violão, violino e
violoncelo);
(b) ensino teórico, incluindo uma visão geral da história da música, for-
mação cultural, morfologia, etc.

Implantado em janeiro de 1986, ganharia sede própria em setembro


do ano seguinte, quando se desvinculou da Fundação José Augusto e pas-
sou a constituir uma instituição autônoma. Pela Lei nº. 5.852, de 30 de de-
zembro de 1988, do Governo Estadual, retornaria esta Entidade na condi-
ção de órgão suplementar, muito embora permanecendo em prédio pró-
40 Anos 169
prio (dadas as suas especificidades) situado na Rua Mossoró, no mesmo
bairro em que está instalada a Fundação, de onde em pouco tempo seria
mais uma vez removido, desta feita para a Rua Manoel Dantas, em
Petrópolis. O seu funcionamento exigia determinadas características
ambientais que aqueles sucessivos edifícios pelos quais passara não atendi-
am, pelo menos não de forma satisfatória. Por fim, em 1994, após a execu-
ção de serviços de adaptação das salas ao bom desempenho de suas ativi-
dades, voltaria ao próprio da Fundação – alto da Gráfica Manimbu –,
onde permanece até o momento.
Pelas suas finalidades destina-se a incentivar e desenvolver iniciativas na
área da música no âmbito do Estado, para o que, além de apoiar artistas, gru-
pos e entidades, coordena um complexo de atividades curriculares e
extracurriculares, mediante a realização de cursos livres de música erudita e
popular, além de manter grupos camerísticos para a promoção e difusão das
músicas potiguar, regional e brasileira.
Atualmente oferece vinte e sete cursos profissionalizantes, além de curso
de extensão. Em fins de 2002 – e aqui mais uma vez recorremos ao Relatório
da Gestão 1995-2002 – contava com aproximadamente setecentos alunos
matriculados regularmente e uma chamada “lista de espera” semestral de tre-
zentos candidatos. A procura desses cursos, especialmente o de Iniciação Mu-
sical, tem sido crescente, ano-a-ano, resultando daí sua operosidade. Nestes
quinze anos de existência o Instituto se impõe com respeitável presença, não
só na linha programática da Fundação, mas inclusive, no cenário artístico da
cidade e do Estado.
Bem, além de ministrar os cursos, o Instituto realiza recitais, audições de
alunos, seminários e debates sobre música, mantém o Regional Sonoroso (aque-
le grupo criado em 1988), o Grupo Suzuki e o Coral Harmus, estes últimos
criados em 1995 e 1997, respectivamente.
Mas, antes de falar do Harmus, importa considerar a excepcional performance
do Coral Canto do Povo (1988-1999), também mantido pelo IMWA.
Após formar e dirigir o Madrigal da Escola de Música, da UFRN, e o
Coral Lourdes Guilherme, da ETFRN, hoje CEFET, o Padre Pedro Ferreira
da Costa idealizou um grupo vocal de caráter mais permanente, a fim de que
a continuidade do trabalho permitisse o amadurecimento necessário ao seu
aprimoramento. Disse ele: no princípio era o ritmo e, por isso, todos os seres entram
para a existência no embalo de um movimento rítmico: cosmológico para todos, biológi-
co-musical para a espécie humana. Consciente dos seus pontos de partida e de chegada,
o Homem ordenou os movimentos, uniformizou-os, deu-lhes forma sistemática, e o rit-
mo tornou-se musical, e a música, por sua vez, um fenômeno natural.
170 Fundação José Augusto
Àquela louvável intenção somava-se a carência de estímulo a atividades
na área da música: até então, o espaço destinado a desenvolver formalmente a
sensibilidade musical dos talentos anônimos era demasiado estreito, distante.
Ainda hoje, são poucos os conservatórios, as escolas e os projetos empenha-
dos na formação musical. Nesta perspectiva, sem dúvida a criação de um co-
ral nos moldes concebidos pelo maestro Pe. Pedro Ferreira possibilitaria à
Fundação José Augusto dar uma parcela de contribuição para, se não resol-
ver, minimizar o problema.
Compulsando os termos do projeto que deu origem ao Coral Canto do
(24)
Povo, vemos que o seu objetivo fundamental contempla duplamente essa
perspectiva, senão vejamo-lo em sua essência: (...) Abrir um espaço-resposta aos
anseios de quem sente o impulso natural para a música, enquanto equaciona os mo-
vimentos que tangem suas emoções em fórmulas substancialmente estéticas.
Com relação aos seus objetivos específicos, pretendia:
(a) proporcionar uma saudável realização dos nossos valores artístico-
musicais, face às formas de sua expressão vocal;
(b) divulgar o empenho e a experiência do músico e alargar os espaços a
médio e longo prazos do mercado de trabalho para quem se habilite à
referida atividade, e
(c) fazer o público apreciar a música através de uma elaboração séria,
encarregada de revelar com autenticidade suas manifestações populares
e de concerto.

Criado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Norte em abril de


1988, pertence à Fundação José Augusto e teve sua estréia no dia 14 de setem-
bro do mesmo ano, realizando concerto no Centro de Convenções de Natal.
O Coral Canto do Povo é constituído por quarenta e cinco cantores e
um regente titular. Cada um dos seus naipes (sopranos, contraltos, tenores e
baixos) dispõe do chefe que auxilia na preparação dos ensaios.
Trabalha um acervo eclético, variando da Renascença aos nossos dias,
do Sacro ao Folclórico e Popular, do Nacional ao Internacional.
Realiza concertos oficiais, educativos, e a convite por ocasião de congressos,
formaturas, celebrações religiosas e eventos culturais. Sua atividade inclui progra-
mações conjuntas com a Orquestra Sinfônica do RN, na capital e no interior.
Dentre as realizações mais importantes em níveis regional, nacional e
internacional, o Canto do Povo participou:
(a) do II FENACOPE-89 quando foi selecionado para representar as
_________________________
A escolha desse nome pretende expressar sua proposta, que é a de estudar o canto dos povos, das
(24)

épocas, dos “sotaques” regionais (ou regionalismos), “... na tentativa de interpretar suas expressões com
sensibilidade, graça e vida”, como explica o seu mentor.

40 Anos 171
regiões Norte e Nordeste no I Brasil Cantat;
(b) do XIV Festival Internacional de Porto Alegre-RS (1989), sendo clas-
sificado entre os melhores do Festival;
(c) do Curso Internacional de Música no Espaço Cultural de João Pes-
soa-PB (julho de 1990), a convite do maestro Eleazar de Carvalho
para executar a Nona Sinfonia de Beethoven e a Segunda Sinfonia de
Mahler;
(d) do I Brasil Cantat, em Novo Hamburgo-RS, quando foi inserido no
catálogo da Federação Internacional de Coros, na qualidade de coral
representativo do Brasil;
(e) do III FENACOPE, saindo indicado para representar o Nordeste
no II Brasil Cantat;
(f) dos eventos comemorativos do XII Congresso Eucarístico Nacio-
nal, realizado em Natal, ocasião em que se apresentou para o Papa João
Paulo II, pela primeira vez (outubro, 1991). Naquela oportunidade o
Papa proferiu ao maestro do Coral uma frase que entraria para sua his-
tória: Canto do Povo, Canto de Deus!;
(g) do II Brasil Cantat, em Belo Horizonte-1992, e
(h) das festividades comemorativas do trigésimo aniversário de criação
da Fundação José Augusto-1993.
Foto: Revista Jornal de Hoje

Coral “Canto do Povo” se apresentando no palco do Teatro Alberto Maranhão.

172 Fundação José Augusto


Convidado pela Confederação Brasileira de Coros, representou o Brasil
numa turnê (entre abril e maio de 1995) pela Europa, incluindo Alemanha,
França e Itália. Na passagem por Roma, voltou a se apresentar para o Papa
João Paulo II, “(...) durante uma audiência pública, na manhã de um domingo,
diante de quarenta e cinco mil pessoas de setenta e cinco países” (Revista do
Jornal de Hoje. Natal: Ano I, nº. 3, mar. 1999. p. 05). O próprio regente
complementa: Cantamos quatro músicas sacras: Exultate Deo, de Scarlati; Nisi
Dominus, de Monteverdi; Kirie, da Missa Criola, e o Salutaris, de Pedro Ferreira
(op. cit., mesma página).
Para um coral nordestino, genuinamente potiguar, permear aquelas para-
gens do Velho Mundo – berço da música erudita e do canto-coral –, soltando pelo
ar daquelas plagas longínquas e frias o calor da sua voz harmônica, foi o ápice do
grupo e um dos momentos expressivos dentre os que a Fundação José Augusto
reafirma a que veio.
A turnê previa a duração de vinte e nove dias (de 17 de abril a 16 de
maio). O grupo, com quarenta e cinco integrantes, cumpriria a seguinte agen-
da de concertos:
(a) França (19 a 21 de abril): Paris, Brunoi e Versailles;
(b) Alemanha (23 de abril a 4 de maio): Hamburgo, Berlim, Limburgo,
Frankfurt e Simmern, e
(c) Itália (7 a 12 de maio): Lecco e Roma.

Quanto ao Coral Harmus foi fundado em 1997 e é constituído por alu-


nos do Instituto. A partir de 1999 passou a ser conduzido pela regente Marilene
Campos (Leninha Barros), Profª. de Técnica Vocal e Prática de Canto Coral
do IMWA. O grupo tem realizado diversos recitais em Natal e em várias cida-
des interioranas, assim como se apresentado nos Encontros de Corais da Ci-
dade do Natal, evento ocorrido anualmente no Teatro Alberto Maranhão.
Em 1999 e em 2001 o Coral Harmus participou da gravação da trilha
sonora do espetáculo Um Presente de Natal, projeto executado pelo CPC e
ao qual se integram diversos setores da Fundação; em 2000 gravou o CD “O
Nascimento de Cristo” e, ainda em 2001, colaborou para a trilha sonora do
auto “Oratório de Santa Luzia”, encenado em Mossoró durante as festivida-
des em homenagem à Padroeira daquele município.
Com um repertório bastante eclético – do período renascentista, pas-
sando pelo barroco, à música regional e contemporânea –, o grupo incorpora
às suas atividades práticas de apreciação musical e o desenvolvimento da téc-
nica vocal através de aulas e ensaios semanais.
Convém assinalar que alguns dos seus integrantes foram transferidos, a
40 Anos 173
convite, para o Madrigal da UFRN, a seu turno reconhecidamente o mais im-
portante coral norte-rio-grandense da atualidade.
Ainda dentro da área musical, a Fundação mantém a Orquestra Sinfôni-
ca do Rio Grande do Norte, originalmente criada pela Secretaria de Estado
da Educação, da Cultura e dos Desportos-SECD em março de 1976. Precisa-
mente doze anos mais tarde (março, 1988) passaria a integrar a estrutura bási-
ca desta Instituição, no ano seguinte sendo enquadrada como órgão suplemen-
tar pelo Decreto nº. 10.338, de 4 de abril de 1989.
Na sua primeira fase era regente o maestro Mário Câncio Justo dos San-
tos, e contava com vinte e três músicos; reestruturada pela Fundação, passou a
ser regida pelo maestro Oswaldo d’Amore. Atualmente é composta por ses-
senta e cinco profissionais contratados a partir de concursos realizados em
1995, 1997, 1999 e 2000. Um curso de reciclagem foi executado em fevereiro
de 2002, visando ao aprimoramento técnico dos instrumentistas. Ensaia exaus-
tivamente para atender aos diversos tipos de concertos compreendidos em
sua programação.
Seu vasto repertório permite reunir em suas apresentações a música eru-
dita e a música popular, como resultado de estudos e produção ininterrupta
de arranjos, além da permanente busca de recitais conjuntos com nomes ex-
pressivos da MPB, tais como Henrique Cazes, mestre do cavaquinho, e Sivuca,
Foto: Revista Jornal de Hoje

Intervalo de uma apresentação do Coral “Canto do Povo” na Praça de S. Pedro,


no Vaticano, para o Papa João Paulo II.

174 Fundação José Augusto


da sanfona. Por outro lado, apresentou-se com Bibi Ferreira, talvez a mais
importante intérprete brasileira da extraordinária cantora francesa Edith Piaf.
O resgate de nomes que fizeram a história da música no Estado também se
processa em obras orquestradas pelo Maestro como, por exemplo, a célebre
valsa “Royal Cinema”, do norte-rio-grandense Tonheca Dantas (1870-1940).
Nos últimos oito anos (não-computado 2003), a Orquestra Sinfônica
realizou cento e cinqüenta e sete apresentações, entre concertos oficiais, didá-
ticos, populares e especiais, com uma média de público, para os dois primei-
ros, de seiscentos espectadores, enquanto que os especiais e populares, em
espaços mais amplos, também na média, atingiram cerca de duas mil pessoas.
Com efeito, desenvolvendo um trabalho voltado para a formação de no-
vas platéias, a estratégia adotada prevê a realização de:
(a) Concertos Oficiais e Didáticos, no Teatro Alberto Maranhão;
(b) Concertos Populares, no Bosque dos Namorados, na Cidade da Cri-
ança ou em outras áreas da capital e do interior do Estado, e
(c) Concertos Especiais, programados para situações específicas, tendo sido
realizados, entre outros locais, no Centro Administrativo, no Palácio Potengi
e em diversos colégios.

Uma informação complementar, a propósito: nos Concertos Didáticos


Foto: Joana Lima

Concerto da Orquestra Sinfônica, no Teatro Alberto Maranhão, durante


o IV Encontro de Cultura Popular (1998).

40 Anos 175
– direcionados para estudantes –, são transmitidos ensinamentos sobre músi-
ca e sobre os instrumentos que compõem uma orquestra, complementados
com a distribuição de uma cartilha ilustrada.
A Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte tem um CD gravado
pela Fundação José Augusto (1997), com a participação especial de músicos e
artistas como Canhoto da Paraíba, Henrique Cazes, Sivuca e Morais Moreira,
entre outros. No texto de apresentação, Tárik de Souza a ela assim se refere:
Usina de músicos, laboratório de sons - a mera existência de uma Orquestra Sinfônica
já atesta a profundidade do lastro cultural de uma comunidade. A estréia em disco da
Orquestra Sinfônica do Rio Grande do Norte, em profícua atividade há vinte anos
(...) une a sintaxe erudita ao fundamento da música popular, numa comunhão com
platéias mais amplas.
Complementam este item os Projetos Seis e Meia e Incentivo às Ban-
das de Música do Rio Grande do Norte. O primeiro, surgido em 1995,
objetiva a divulgação de artistas da terra – músicos, compositores e cantores –
, utilizando-se da estratégia de apresentá-los ao público ao lado de nomes
consagrados de outros centros. Esta atividade, desenvolvida no Teatro Alberto
Maranhão, de ordinário inicia-se na última semana de março e segue até a pri-
meira semana de dezembro, sempre às terças-feiras. Entre 1996 e 2000 esten-
deu-se a Mossoró, sendo suspensa naquela cidade por falta de patrocínio.
Quanto ao Projeto Bandas (implantado em 1997), visa valorizar as ban-
das comunitárias do Estado, equipando as já existentes, incentivando a forma-
ção de novas bandas e aprimorando músicos e maestros que as compõem,
através da realização de seminários e cursos.
O crescimento quantitativo, no período, se deu pelo aumento de cem
por cento das Bandas de Música, no Estado. De cinqüenta passou a cem,
graças à doação de instrumentos musicais pelo Ministério da Cultura, através
da Fundação José Augusto, e pelo interesse despertado pelo movimento nos
poderes municipais e na própria comunidade.
O crescimento qualitativo foi incentivado pela realização de dez “Seminários de
Música”, realizados em nove cidades das diversas regiões do Estado: Natal, Carnaúba
dos Dantas, Acari, Currais Novos, Baraúna, Macau, Cruzeta (dois), Mossoró e Açu.
Foram emitidos mais de quatro mil “Certificados de Participação”, con-
tando como instrutores respeitados músicos do Estado e do Nordeste.
Foram realizados os seguintes cursos: Regência, Harmonia,
Arranjo e Orquestração, Teoria e Percepção Musical, Musicologia,
Edição de Partituras em computador, Prática de Chorinho, Prática
de Coral, Teclado, Flauta (doce e transversa), Saxofone, Clarinete,
Trompete, Trombone, Trompa, Tuba e Percussão.
176 Fundação José Augusto
(c) Área Literária

Tomando exclusivamente a área cultural, ou seja, excetuando a de ensi-


no, a literatura é a mais antiga das manifestações exploradas pelos planos e
programas da Fundação José Augusto. E a mais constante: entre 1965, quando
se inicia o processo de editoração, e 2003, apenas em um ano não houve publi-
cação de pelo menos uma obra, conforme veremos adiante. Por outro lado,
talvez seja a que se apresenta com mais irregularidade no plano geral de suas
realizações. Claro, é difícil manter linearidade de atuação quando se toma tão
vasto período, simultaneamente lidando com múltiplas linhas de ação e, inver-
samente, com recursos racionados: invista-se maciçamente em qualquer delas
(museu, biblioteca, artes plásticas, etc.) e provavelmente dar-se-á estagnação
ou, pelo menos, sensível diminuição no ritmo de atividade das demais.
Há altos e baixos, portanto: como em quase todas as demais áreas, ocor-
reram oscilações entre excelente e fraca produção, seja em publicações ou na
realização de concursos, seja, ainda, na atuação de determinados organismos
de apoio à área, como é o caso do Conselho Editorial.
Diversamente das demais manifestações, contudo, cujo estímulo e con-
seqüente desenvolvimento só se daria anos, às vezes décadas após o surgimento
da Entidade (vimos que várias ações só se firmaram, efetivamente, a partir do
início dos anos 80), a ação editorial, repetimos, começa já em 1965 com a
divulgação de nomes notáveis do passado, até então praticamente desconheci-
dos do grande público, tais como Ferreira Itajubá (1875-1912), Polycarpo
Feitosa (1867-1955) e Juvenal Lamartine de Faria (1874-1956). Até o fim da-
quela década atingimos o resgate de dezessete títulos.
Esse dado é expressivo? – poder-se-ia indagar. É, sem dúvida, respon-
deríamos. Não seria, absolutamente, se a Fundação fosse uma editora, por
exemplo, ou se suas ações se restringissem à literatura ou, mesmo, se naquela
época já existissem os recursos gráficos da atualidade.(25) Nenhuma dessas
condicionantes prevalece, no entanto. Considere-se, inclusive, que naquele iní-
cio ainda estava se delineando o seu perfil administrativo (convém lembrar
que a Gráfica Manimbu foi criada em outubro de 1965, constituindo um dos
seus objetivos justamente apoiar o plano editorial).
A exemplo do que ocorrera nos primeiros anos, até meados da década
de 70 a editoração se concentra, salvo raras exceções, em reedições de obras
reconhecidamente representativas das letras norte-rio-grandenses: Auta e Eloy
_________________________
(25)
Hoje, em fins do 3º ano do 3º Milênio, Natal dispõe de poucas editoras e gráficas aptas a executar
trabalhos de bom nível. Não obstante, não poucas vezes, quando se pretende a confecção de livros com
acabamento mais apurado, recorre-se a outros centros. Que dizer da estrutura correspondente, nesta
cidade, há quarenta anos?...

40 Anos 177
de Souza, José Bezerra Gomes, Luís da Câmara Cascudo, Oswaldo Lamartine,
José Melquíades e Veríssimo de Melo, entre outros (nas próximas páginas há a
relação completa de livros e autores publicados).
Quando se inicia a década de 80 há uma profunda emulação nos diversos
compartimentos da Entidade (isso está exaustivamente descrito em outros capí-
tulos), e a literatura não fica de fora. Àquela altura, amontoavam-se literalmente
dezenas de textos com pedidos de publicação, nem sempre trabalhos convin-
centes, colidindo, em contrapartida, com vários títulos de indiscutíveis méritos.
A pressão se acentuaria de sorte a justificar a criação do Conselho Editorial,
para o qual foi transferida a responsabilidade pelo disciplinamento desse pro-
cesso.
Por suas características, há de se convir da singular importância assumi-
da por esse instrumento num organismo cultural como a Fundação José
Augusto, a menos que em determinadas administrações a editoração porventura
não estivesse incluída entre suas prioridades. É difícil admitir, contudo, que a
literatura, em algum momento, tenha sido excluída de qualquer elenco
programático, pelo menos de bom grado; não será difícil, no entanto, se aten-
tarmos para a reiterada interveniência do fator recursos financeiros. Com efei-
to, a certa altura, a despeito da vontade dos dirigentes deste Órgão, eis que de
tal fator resulta a desativação do Conselho, pelo que discorreremos a seguir
no tempo passado.

Conselho Editorial-CONEDI
O Conselho Editorial-CONEDI foi oficializado a 1º de junho de 1983,
e destinava-se a receber, analisar e emitir pareceres técnicos sobre obras literá-
rias, em prosa e em verso, com vistas à sua eventual publicação pela Fundação
José Augusto, quer assumindo o patrocínio exclusivo ou em regime de co-
edição. Na qualidade de órgão consultivo e normativo, estendia suas atribui-
ções à apreciação e emissão de recomendações sobre todos os assuntos liga-
dos à editoração, no âmbito desta Casa.
Muito embora a dimensão da política editorial da Fundação, por si
só, se impusesse como fator condicionante para o estabelecimento de um
conselho consultivo, sua criação, naquele ano, foi determinada – conforme
dito acima – pela excessiva procura do Órgão por parte dos autores, a
maioria dos quais inéditos, em busca da aprovação e, claro, publicação
dos seus manuscritos. O vigor criativo, tradicionalmente intenso nesta ci-
dade (parecendo copiar épocas distantes nas quais dominava, aqui, o ofí-
cio das letras, a ponto de inspirar o conhecido verso: “Natal: em cada
178 Fundação José Augusto
esquina um poeta, em cada beco um jornal”), requeria então uma triagem
crescentemente meticulosa, a fim de garantir uma produção de bom nível,
em termos qualitativos.
Aliás – permitam-nos uma ligeira digressão –, muito compreensível que,
aqueles que intencionem se tornar escritores, logo cedo anseiem em ver seus
trabalhos publicados. Não diferem, a não ser em substância, dos composito-
res, cantores ou músicos em relação ao primeiro CD, ou dos artistas plásticos
em face da primeira exposição. Mas, se essa emulação é visceralmente impor-
tante, essencial, em certo sentido (do ponto de vista da instituição responsável
por sua eventual edição, por exemplo), pode tornar-se num problema suple-
mentar, em vista da intensificação do volume de manuscritos a analisar e a
encaminhar aos serviços gráficos. Vários dos títulos recebidos, ao longo da-
quele período, eram de boa qualidade, alguns até excelentes, mas muitos certa-
mente figuravam demasiado elementares, praticamente não ultrapassando o
nível laboratorial.
Em alguns momentos, não fora a exaustiva análise dos textos, sem dúvi-
da o seu alentado número não só inviabilizaria – dada a escassez de recursos –
como, especialmente, seria impraticável a manutenção de um mínimo padrão
de qualidade do produto final, circunstância indesejável à Fundação e, claro,
aos próprios autores.
Foto: Arquivos da FJA / CDC

Manoel Rodrigues de Melo autografa “Dicionário da Imprensa do RN (1909-1987)”


para o ex-Governador Aluízio Alves (1987).

40 Anos 179
Em seguimento natural àquela função básica, cumpria ao CONEDI, anu-
almente, elaborar o Plano Editorial para o exercício subseqüente, nele incluin-
do indicações para reedição, submetendo-o à apreciação do presidente da En-
tidade. (A propósito, parece oportuno lembrar que alguns daqueles livros ini-
ciais não têm a ficha catalográfica, outros dificultam localizar-se o ano de pu-
blicação e vários ainda estão a pedir reedição, seja por apresentarem inúmeros
erros de revisão, pelo bolor exalado de suas páginas amarelecidas ou, inclusi-
ve, por terem as folhas soltas das lombadas à menor pressão, afora – evidente-
mente – pela importância que assumem, obra e autor, no quadro referencial
de nossa bibliografia, sobretudo ante as novas gerações.)
O Conselho era composto por sete membros, nomeados pelo Presiden-
te da Casa, um dos quais sendo designado para exercer sua chefia. Na apreci-
ação dos manuscritos que lhes eram encaminhados, os conselheiros, obede-
cendo a critérios regimentais, verificavam e estudavam o seu valor cultural,
sua importância no quadro bibliográfico potiguar e sua potencialidade co-
mercial, constituindo estes itens, basicamente, os fatores condicionantes para
a respectiva aprovação. Três conselheiros analisavam cada trabalho e sua apro-
vação se dava por maioria absoluta. Reitere-se a preocupação com o apoio ao
jovem autor, certamente resguardada a qualidade do trabalho.
Em síntese, o relator de cada título se obrigava a redigir o parecer cin-
gindo-se a esses elementos. Da decisão do Conselho não cabia recurso, muito
embora os originais não-habilitados pudessem ser reapreciados, desde que
reformulados segundo as sugestões e/ou recomendações então feitas. Impor-
ta referir, aqui, que havia sigilo absoluto quanto aos pareceres, sendo divulgada,
apenas, a aprovação ou não da matéria apresentada, cujo arquivamento dava-
se em nível rigorosamente confidencial.

Concursos e premiações
Quanto aos concursos, de início destinados exclusivamente à ficção e à
poesia, são realizados a partir da década de 70; só nos primeiros anos da déca-
da seguinte foram incluídos concursos de ensaios e de reportagens. Posterior-
mente, todos foram suprimidos até que, recentemente, em homenagem ao
saudoso poeta Luís Carlos Guimarães (1934-2001), que chefiara o Núcleo de
Literatura da Fundação entre 1999 e 2001, foi criado o concurso de poesias
que leva o seu nome, já naquele ano do infausto acontecimento, ocorrendo
neste 2003 a sua terceira edição.
Os concursos literários são duplamente positivos, em seus resultados:
afora o “peneiramento” natural, exercem uma certa medida de pressão sobre
180 Fundação José Augusto
o conjunto dos concorrentes, instigando-os ao aprimoramento dos seus tex-
tos. Em outras palavras, o concurso age como um poderoso núcleo crítico,
pois os prêmios costumam limitar-se a um ou dois autores, forçando os de-
mais a sucessivas recomposições dos trabalhos, por decorrência a aprimorá-
los, gerando um fluxo de realimentação do processo.
Em suma, é um ciclo estrategicamente enriquecedor, posto que dele re-
sulta, por acréscimo – na saudável tendência natural da competição – o aper-
feiçoamento dos que eventualmente são preteridos. Quando a Fundação pro-
move esses eventos está, na verdade, diversificando suas ações de apoio e
estímulo às letras do Estado.
Um resumo das iniciativas, na área, assinala a promoção de mais de
trinta concursos, incluindo poesia (16), ficção (08), ensaios e reportagens
(04, cada), homenageando os nomes de José Augusto (1884-1971), patrono
da Entidade, Auta de Souza (1872-1901), Elias Souto (1848-1906), Aurélio
Pinheiro (1882-1938), Edgar Barbosa (1909-1967) e o já referido Luís Carlos
Guimarães, ilustres figuras representativas das letras e da cultura norte-rio-
grandenses em diversas áreas e períodos. No total somam cerca de noventa
títulos classificados, considerando os primeiros e segundos lugares e as inú-
meras menções honrosas.
Os prêmios mais antigos de que se tem registro, no âmbito desta Casa
(“Fundação José Augusto”, de ficção, e “Auta de Souza”, de poesia), datam de
1979.

Obras e autores publicados


Apresentamos a relação dos títulos publicados, ano a ano, seguidos, no
caso das co-edições, das iniciais FJA e do nome da editora correspondente.
Este levantamento foi realizado pela Biblioteca Pública Câmara Cascudo cuja
Coordenadora, Maria do Socorro Cunha de Matos, alerta para a possibilidade
de eventuais omissões, problema comum em classificações desta natureza e
proporção.

Segue a relação:
1965
001 Gizinha (Polycarpo Feitosa)
002 Poesias completas (Ferreira Itajubá)
003 Roseira brava e outros versos (Palmyra Wanderley)
004 Toda palavra é uma semente (Dom Nivaldo Monte)
005 Velhos costumes do meu sertão (Juvenal Lamartine de Faria)
40 Anos 181
1966
006 Azul solitário (Maria Eugênia Montenegro)
007 Delmiro Gouveia, mais que um industrial (Antiógenes Chaves)
1968
008 Duas palestras (José Melquíades)
009 Nomes da terra: geografia, história e toponímia (Luís da Câmara
Cascudo)
010 Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império (José
Melquíades)
1969
011 Cartas de um desconhecido (Eloy de Souza)
012 Encouramento e arreios do vaqueiro do Seridó (Oswaldo Lamartine
de Faria)
013 Viagem ao universo de Câmara Cascudo (Américo de Oliveira Costa)
1970
014 Hôrto (Auta de Souza)
015 Livro de poemas e outras poesias (Jorge Fernandes)
016 Luís da Câmara Cascudo: 50 anos de vida intelectual (Zila Mamede)
017 Os mortos são estrangeiros (Newton Navarro)
1971
018 Contribuição do Nordeste ao Movimento Modernista (Veríssimo
de Melo)
019 John Tagliabue: um poeta do Maine (Protásio Melo)
1972
020 Um governo e um homem: Alberto Maranhão (Paulo Pinheiro de
Viveiros)
021 Uma História da Assembléia Legislativa do RN (Luís da Câmara
Cascudo)
022 Tércio César de Lima Rebello: um cidadão potiguar (discursos)
1973
023 Comércio exterior e desenvolvimento (Elinaldo Renovato de Lima)
024 Demanda de transportes urbanos na Cidade do Natal (IJLPS)
025 ICM: Legislação Federal (Secretaria da Fazenda/RN)
026 Matéria e nunca ouvido canto (Juarez da Gama Batista)
027 Movimento da Indepência no Rio Grande do Norte (Luís da Câ-
mara Cascudo)
028 Palestra de fim de jornada (Geraldo Gonzaga)
029 A primeira feira de José (Manoel Onofre Júnior)
030 Rendas e labirintos do Nordeste (Oswaldo Câmara de Souza)
182 Fundação José Augusto
031 O ritual umbandista (Sérgio Santiago)
032 Somando os dias do tempo (Raimundo Nonato) - FJA/Pongetti
033 Tavares de Lyra: uma vida em linha reta (Carlos Tavares de Lyra)
034 TENAT: um projeto cultural (Inácio Meira Pires)
035 Tradição e cultura de massa (Diógenes da Cunha Lima)
1974
036 Antologia poética (José Bezerra Gomes)
037 Babel (Dailor Varela)
038 Uma câmara vê Cascudo (Carlos Lyra)
039 A porta e o vento (José Bezerra Gomes)
040 Prelúdio e fuga do real (Luís da Câmara Cascudo)
1975
041 Exercício da palavra (Zila Mamede)
042 Instrumento dúctil (Diógenes da Cunha Lima)
043 Os de Macatuba (Tarcisio Gurgel)
044 Memórias (Eloy Castriciano de Souza)
045 Poética (João Lins Caldas)
046 Projeto de autoformação (PROFIED)
047 Romance da Cidade do Natal (Nei Leandro de Castro)
048 Sinopse da História de Currais Novos (José Bezerra Gomes)
049 Teatro de joão-redondo (José Bezerra Gomes)
050 Touros à meia-tinta (Geraldo Gonzaga)
051 Viajando o sertão (Luís da Câmara Cascudo)
1976
052 Antologia do Padre Monte, v. 1 (Jurandyr Navarro)
053 Cinco contistas potiguares
054 Documentos do Rio Grande do Norte (Ivoncísio Meira de Medeiros)
055 Por uma vanguarda nordestina (Anchieta Fernandes)
056 O Rio Grande do Norte em visão prospectiva (Joaquim Inácio de
Carvalho Filho)
057 A vaquejada nordestina e sua origem (Luís da Câmara Cascudo)
1977
058 Antologia da literatura de cordel (Sebastião Nunes Batista)
059 Imagens do Ceará-Mirim, 2ª. ed. (Nilo Pereira)
060 Locuções tradicionais no Brasil, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo) -
FJA/Campanha de Defesa do Folclore
061 Meu Seridó (José Praxedes)
062 O moinho e o vento (Gilberto Avelino)
063 São João de 1977 (Folheto)
40 Anos 183
064 Título provisório (Vital Correia de Araújo)
065 Três ensaios franceses (Luís da Câmara Cascudo)
066 Trovas (Jaime dos Guimarães Wanderley)
1978
067 Antologia do Padre Monte, v. 2 (Jurandyr Navarro)
068 Os açudes do sertão do Seridó (Oswaldo Lamartine de Faria)
069 Estudos norte-rio-grandenses (Manoel Onofre Júnior)
070 A Fortaleza dos Reis Magos (roteiro)
071 A humana palavra necessária (Sanderson Negreiros)
072 José Pacheco Dantas: esboço biográfico (Hélio Dantas)
073 Lembranças e tradições de Açu (Maria Eugênia Montenegro)
074 O tempo ontem (Augusto Severo Neto)
075 Meleagro (Luís da Câmara Cascudo) - FJA/Agir
1979
076 Contracanto (Jarbas Martins)
077 Dante Alighieri e a tradição popular no Brasil (Luís da Câmara
Cascudo)
078 A Fortaleza dos Reis Magos e a Capitania do Rio Grande (Pedro
Rebouças de Moura)
079 Jazz, cinema e educação (Alvamar Furtado de Mendonça)
080 A poesia e o poema do Rio Grande do Norte (Moacy Cirne)
081 Ponto de fuga (Luís Carlos Guimarães) - FJA/Clima
1980
082 Os amigos do sangue noturno (Franco Maria Jasiello) - FJA/Ed.
Universitária
083 Corpo breve (Diógenes da Cunha Lima)
084 As filhas do arco-íris (Eulício Farias de Lacerda) - FJA/Ática
085 Folclore do Brasil: pesquisas e notas (Luís da Câmara Cascudo) -
FJA
086 Fulô do mato e outras poesias (Renato Caldas)
087 A granja e eu (Dom Nivaldo Monte)
088 História do Teatro Alberto Maranhão (Inácio Meira Pires)
089 Os holandeses no Rio Grande do Norte (Mons. Paulo Herôncio) -
FJA/Clima
090 O menino e seu pai caçador (Berilo Wanderley) - FJA/Clima
091 Migrações internas no Brasil (Itamar de Souza) - FJA/Vozes
092 Não enterrarei os meus mortos (Francisco Sobreira)
093 O navegador e o sextante (Gilberto Avelino)
094 Os pontos cardeais (Gilberto Avelino) - FJA/RN-Econômico
184 Fundação José Augusto
1981
095 Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do RN (Oswaldo Câ-
mara de Souza)
096 Os brutos, 2ª. ed. (José Bezerra Gomes) - FJA/Clima
097 Cerro-Corá (CEPEJUL)
098 O compadrio, da política ao sexo (Itamar de Souza) - FJA/Vozes
099 Itajubá esquecido (Nilson Patriota)
100 Inventário (Myriam Coeli) - FJA/Achiamé
101 Persona: uma face perversa (Francisco Ivan da Silva) - FJA/Ed.
Universitária
102 O pioneiro esquecido (Augusto Fernandes)
103 Roderic Crandall, um mossoroense da Califórnia (Vingt-un
Rosado)
104 São Gonçalo do Amarante (CEPEJUL)
105 Serrinha (CEPEJUL)
106 Uma viagem pelo arquivo epistolar de Adauto da Câmara (Raimundo
Soares de Brito)
1982
107 Aconteceu na Quinta Delegacia (Nilo Sérgio Emerenciano)
108 Antologia do Padre Monte. v. 4 (Jurandyr Navarro) - FJA/Secreta-
ria de Educação e Cultura
109 Antologia poética (Luís Rabelo)
110 A Biblioteca e seus habitantes (Américo de Oliveira Costa) - FJA/
Achiamé
111 Caicó (CEPEJUL)
112 O dia em que a Coluna passou (Eulício Farias de Lacerda) - FJA/
Cátedra
113 Eduardo Gomes (CEPEJUL)
114 A festa do rei (Racine Santos)
115 Flor dos romances trágicos (Luís da Câmara Cascudo) - FJA/
Cátedra
116 Florânia (CEPEJUL)
117 História do Rio Grande do Norte (Augusto Tavares de Lira) - FJA/
Senado Federal
118 Humanismo e tradição: ensaios e palestras (Veríssimo de Melo)
119 José Augusto Bezerra de Medeiros, um democrata (Nilo Pereira)
120 Le tiers monde et sa modernité de second main (Alf Schwarz)
121 Memorial do Varela (Ionah Campiello Varela Asfora)
122 Menino 16 (Afrânio Pires Lemos)
40 Anos 185
123 O Nordeste dentro da realidade brasileira (Nelson Hermógenes
Freire)
124 Poemas diabólicos e dois temas de Satã (Franklin Jorge)
125 O popular em 78 rotações (Grácio Barbalho)
126 Salvados (Manoel Onofre Júnior)
127 Serpentário (Edna Duarte)
128 Sete degraus do absurdo (Edna Duarte)
1983
129 Açu no roteiro das glosas (Francisco Amorim)
130 O calvário das secas (Eloy Castriciano de Souza) - FJA/Cátedra/INL
131 Canto vivo (Dione Maria Barros) - FJA/Clima
132 Contos do entardecer (Jansen Leiros)
133 Cronologias mossoroenses (Lauro da Escóssia)
134 Um dia ... os mesmos dias (Francisco Sobreira)
135 Feiras e feirantes (Dorian Gray Caldas)
136 História de São Paulo do Potengi (Aluísio Azevedo) - FJA/CERN
137 Itinerário do imprevisto (Franco Maria Jasiello) - FJA/Achiamé
138 O luar potiguar (Homero Homem) - FJA/Presença
139 Macaíba (CEPEJUL)
140 Meu barco sem roteiro (Clarice Palma)
141 A piabinha encantada e outras histórias (Maria Eugênia Montenegro)
142 O reino das joaninhas (Camilla Cascudo Barreto) - FJA/Achiamé
143 Relíquias de mãe, encantos da vida (Maria Rosicler Rabelo Dias)
1984
144 Armadilha das aranhas (Tarcisio Rosas)
145 Bandeira desfraldada: Walter Pereira e amigos (depoimentos) - FJA/
Livraria Universitária
146 Calungagem de papel (Edna Duarte)
147 Catálogo das publicações da Fundação José Augusto - 1965/84
(Coord. Zila Mamede)
148 Centenário de José Augusto Bezerra de Medeiros - síntese biográfi-
ca (CEPEJUL)
149 Cinema Pax (Moacy Cirne) - FJA/Achiamé
150 Cordiais saudações (Anselmo Pegado Cortez)
151 Deusa do além - pulsações: um estudo estranho e profundo ... (Carlos
Gurgel) - FJA/Coojornat
152 A dissipação da aurora (Fagundes de Menezes) - FJA/Presença
153 Dois discursos em Natal (Fagundes de Menezes) - folheto
154 Elegia do mar aceso em lua (Gilberto Avelino) - FJA/RN-Econômico
186 Fundação José Augusto
155 A esperança não morre (Dom Nivaldo Monte)
156 Evolução urbanística de Mossoró (Raimundo Nonato) - FJA/ESAM
157 Guia poético da Cidade do Natal (Manoel Onofre Júnior) - FJA/
Nossa Editora
158 História de Lagoa de Velhos (Aluísio Azevedo)
159 História do Rio Grande do Norte, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo)
- FJA/Achiamé
160 José Augusto, o líder (Dinarte Mariz)
161 Literatura de cordel em discussão (Umberto Peregrino) - FJA/Pre-
sença
162 Marrons, crepons, marfins (Marize Castro)
163 O mundo de Sylvio Pedroza: retrospectiva fotográfica - 1930/1983
(catálogo)
164 Padre Miguelinho, vida e obra (Dorian Gray Caldas)
165 Pensamento e ação: marco de uma trajetória de governo (Sylvio
Piza Pedroza)
166 Pouso em Natal (Stella Leonardos) - FJA/Clima
167 Raízes dos Batistas potiguares (Mário Jesiel de Oliveira Alexandre)
168 Rio do vento (Antônio Pinto de Medeiros)
169 Seminário sobre José Augusto Bezerra de Medeiros (depoimentos)
- FJA/Assembléia Legislativa-RN
170 É tempo de recordar (Jaime dos Guimarães Wanderley)
171 Via-sacra: xilogravura e poemas (Chico Traíra)
172 Macau (Aurélio Pinheiro) - FJA/UFRN/Presença
173 Documentos potiguares - 16 (série): José Augusto B. de Medeiros
(Org. Leonardo H. Barata)
1985
174 BANDERN: origem e evolução (CEPEJUL)
175 Canguaretama centenária (José Jácome Barreto)
176 Correspondência atrasada (Franco Maria Jasiello)
177 Era uma vez... (contos infantis) - FJA/Nossa Editora
178 Euthanasia (Januário Cicco) - ed. fac-similar
179 Janaína: poemas (Afrânio Pires Lemos)
180 Leitura de Jorge Fernandes (Francisco das Chagas Pereira)
181 Macaíba: imagens, sonhos, reminiscências (Menerval Dantas) - FJA/
Presença
182 Mutante (Jorge Luís Azevedo)
183 Palavras (Nathalie Bernardo Câmara)
184 Poemas do bem e do mal (Esmeraldo Siqueira)
40 Anos 187
185 Poesia na geração alternativa (J. Medeiros) - FJA/Nossa Editora
186 Proto-história do Rio Grande do Norte (Tarcísio Medeiros) - FJA/
Presença
187 Notas de história (Antônio Soares de Araújo)
188 Tempo e vida (João Batista Rodrigues)
189 Terapêutica pela mecânica (Maria do Socorro Nogueira Ferreira)
190 Levitas do Senhor (Mons. Severino Bezerra) - FJA/CERN
1986
191 Anedotas do Padre Mota (Lauro da Escóssia)
192 Curiosidades do mundo animal (Anadila Borges) - FJA/Clima
193 Um gosto amargo de fim (Nilson Patriota)
194 Itinerário de um sertanejo (Jansen Leiros)
195 Lembranças e andanças: crônicas (Waldir Reis Espínola) - FJA/Clima
196 Natal daqui a cinqüenta anos (Manoel Dantas)
197 Prelúdios de um novo dia (Jansen Leiros)
198 Pequena história do Integralismo no Rio Grande do Norte (Luiz
Gonzaga Cortez) - FJA/Clima
199 Sete canções da terra & outros poemas (Carlos Humberto Dantas)
200 O vento leste (Gilberto Avelino)
201 Fatos da História do Rio Grande do Norte (Pedro Rebouças de
Moura) - FJA/SEPLAN-RN/Prefeitura de Macaíba
1987
202 Dicionário da imprensa no Rio Grande do Norte, 1909-1987
(Manoel Rodrigues de Melo) - FJA/Cortez
203 Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do Império, 2ª. ed.
(José Melquíades)
1988
204 Crônica da banalidade (Carlos de Souza) - FJA/Clima
Publicação periódica:
205 O GALO: jornal cultural
Iniciado em: Ano 1, nº. 1, março de 1988 (editora: Marize Castro)
Encerrado em: Ano 14, nº. 10, outubro de 2002 (editor: Nelson
Patriota)
1989
206 Derradeiras cartas da praia e outras notas sobre Tibau do Sul (Hé-
lio Galvão) - FJA/Clima
207 Imagens do Ceará-Mirim, 3ª. ed. (Nilo Pereira)
208 Mãe (Henrique Castriciano)
209 Opúsculo humanitário (Nísia Floresta Brasileira Augusta) - FJA/Cortez
188 Fundação José Augusto
210 No rastro dos flamengos (Olavo de Medeiros Filho)
1990
211 Esqueça a primavera, irmão: ensaios de independência cultural
(Nestor dos Santos Lima)
212 Novos poetas do Rio Grande do Norte (coletânea)
213 Nuvem poema (João Gualberto de Aguiar)
214 Eu sem ego (Homero Homem)
1991
215 Além das salinas (Gilberto Avelino)
216 O gume e a pedra (Augusto Severo Neto)
217 Lavadeiras: poesias
218 Terra natalense (Olavo de Medeiros Filho)
219 Velhas oiticicas (Pery Lamartine)
1992
220 Eu quero voar (Pedro Coelho da Silva)
221 Ginásio Diocesano Seridoense: meio-século de presença educativa (CPC)
222 Os habitantes do sonho (Iaperi Araújo)
223 Cartilha de preservação (folheto)
224 Tempo de saudade: memórias (Lair Tinoco)
225 Veredas do Seridó (Airton de Negreiros Monte)
1993
226 Caminhos: poesias (Marluce G. Brandão)
227 Calendário cultural 1993 (CPC) - FJA/Gráfica Santa Maria
228 Cantilena diabólica (Dailor Varela)
229 Como se faz(ia) um reitor (Lauro Bezerra)
230 Dez poemas para José Bezerra Gomes (Moacy Cirne)
231 O Engenho Cunhaú à luz de um inventário (Olavo de Medeiros
Filho)
232 Gracioso ramalhete: poesias (Ferreira Itajubá, org. por Cláudio
Galvão)
233 Textos de história para estudantes de colégio (Carlos Borges de
Medeiros)
Publicações periódicas:
234 CADERNOS DO CEPEJUL: Juvenal Lamartine - Ano 1, nº. 01,
nov. 1993
235 CADERNOS DO CEPEJUL: Dix-Sept Rosado - Ano 1, nº. 02,
dez. 1993
1994
236 De braços abertos (Chris James Ortojic)
40 Anos 189
237 A bença, meu padim! (Iaperi Araújo)
238 Natal: secreta biografia (Paulo de Tarso Correia de Melo)
239 Pequena História da Fortaleza dos Três Reis Magos (Hélio Galvão)
240 Poemas da tarde (Hélio Galvão)
241 Uma pura criação potiguar (Hélio Oliveira)
242 Trapézio e outros movimentos (Nivaldete Ferreira) - FJA/Coop.
Cultural Universitária
Publicações periódicas:
243 CADERNOS DO CEPEJUL: Padre Monte - Ano 2, nº. 03, abr. 1994
244 CADERNOS DO CEPEJUL: Ubaldo Bezerra de Melo - Ano 2,
nº. 04, mai. 1994
245 CADERNOS DO CEPEJUL: Padre João Maria - Ano 2, nº. 05, jun.
1994
246 CADERNOS DO CEPEJUL: Clara Camarão - Ano 2, nº. 06, jul.
1994
247 CADERNOS DO CEPEJUL: Maria do Santíssimo - Ano 2, nº. 07,
jul. 1994
248 CADERNOS DO CEPEJUL: Georgino Avelino - Ano 2, nº. 08,
jul. 1994
249 CADERNOS DO CEPEJUL: Berta Lutz - Ano 2, nº. 09, ago. 1994
250 CADERNOS DO CEPEJUL: Henrique Castriciano - Ano 2, nº. 10,
ago. 1994
251 CADERNOS DO CEPEJUL: Januário Cicco - Ano 2, nº. 11, set.
1994
252 CADERNOS DO CEPEJUL: Jesiel Figueiredo - Ano 2, nº. 12, set.
1994
253 CADERNOS DO CEPEJUL: Seabra Fagundes - Ano 2, nº. 13, nov.
1994
254 CADERNOS DO CEPEJUL: José Augusto - Ano 2, nº. 14, dez.
1994
255 CADERNOS DO CEPEJUL: Theodorico Bezerra - Ano 2, nº. 15,
dez. 1994
1995
256 Cartas e cartões de Oswaldo Lamartine (Veríssimo de Melo)
257 Epopéia nos ares (Pery Lamartine)
258 Frutos do meu pomar (Olegário Oliveira Júnior)
259 As marés e a ilha (Gilberto Avelino)
1996
260 Contracanto, 2ª. ed. (Jarbas Martins) - FJA/Ed. Universitária
190 Fundação José Augusto
261 O fruto maduro (Luís Carlos Guimarães)
262 Todas as Marias (Maria Eugênia Montenegro)
263 Velhos costumes do meu sertão, 2ª. ed. (Juvenal Lamartine de Faria)
1997
264 Angicos, ed. fac-similar (Aluízio Alves)
265 Feriado municipal: contos (Geraldo Edson de Andrade)
266 A lágrima de um caeté (Nísia Floresta Brasileira Augusta)
267 Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (Oswaldo Lamartine
de Faria e Guilherme Azevedo)
268 O lirismo nos quintais pobres: a poesia de Jorge Fernandes(Hum-
berto Hermenegildo)
1998
269 Alma patrícia: crítica literária, 2ª. ed. (Luís da Câmara Cascudo)
270 Canto da quase aurora (Maia Pinto)
271 A hora da lua da tarde (Sanderson Negreiros)
272 A imprensa periódica no Rio Grande do Norte de 1832 a 1908, 2ª.
ed. (Luiz Fernandes) - FJA/Sebo Vermelho
273 José Augusto Bezerra de Medeiros: político e educador (Marta Maria
Araújo) - FJA/Ed. Universitária/A. Legislativa do RN
274 O livro de José: memórias (José Maria Guilherme)
275 Obras completas (Newton Navarro) - FJA/FIERN
276 Rio Vermelho (Moacy Cirne) - FJA/DEI
277 A última estação (Alex Nascimento)
1999
278 História do Seminário de São Pedro (José Melquíades) - FJA/
DEI
279 Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte - Século XVI a
XIX (CEPEJUL)
2000
280 Auta de Souza e a estética simbolista, 3ª. ed. (Giselda Lopes do Rego
Pinto)
281 Chuva ácida: poemas (Carmem Vasconcelos)
2001
282 Almas de rapina (Alex Nascimento)
283 O alvissareiro (Adriano de Souza)
284 O cancioneiro de Auta de Souza (org. Cláudio A. Pinto Galvão) -
FJA/Ed. Universitária
285 Em alpendres d’Acauã: conversa com Oswaldo Lamartine de Faria
- (org. de Natécia Campos)
40 Anos 191
286 Literatura do Rio Grande do Norte: antologia (org. Constância Lima
Duarte) - FJA/SEPLAN
287 Mulher potiguar: cinco séculos de presença (org. Ana Amélia Fernandes
e Hélio Oliveira)
288 O plantador de sons: vida e obra de Felinto Lúcio (Danilo Guanais)
289 Prelúdios potiguares (Oriano de Almeida)
2002
290 Cavalo-de-pau (Manoel Rodrigues de Melo)
291 Destempo (Carmem Vasconcelos)
292 O guerreiro de Yaco: Serra das Almas - memórias de Zé Rufino
(Calazans Fernandes)
293 Pois é a poesia (Luís Carlos Guimarães)
294 A noite de Florânia: Santuário de N. S. das Graças (João Medeiros
Filho) - FJA/Letra Capital
2003
295 Dicionário crítico Câmara Cascudo (org. de Marcos Silva) - FJA/
Perspectiva/USP/FAPESP/Ed. Universitária
Publicações periódicas:
296 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 1, mai. 2003 (editor: Tácito Costa)
297 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 2, jul. 2003 (editor: Tácito Costa)
298 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 3, set. 2003 (editor: Tácito Costa)
299 PREÁ: revista cultural - Ano 1, nº. 4, dez. 2003 (editor: Tácito Costa)
Publicações sem data:
300 ABC do cantador Clarimundo (Newton Navarro)
301 Barreira do Inferno (Fernando Mendonça)
302 O Forte dos Reis Magos e a história colonial (Marcos Maranhão)
303 Igreja de Santo Antônio - FJA/Fundação Pró-Memória
304 Do outro lado do rio, entre os morros (Newton Navarro)
305 A pobreza do mundo rico (Otomar Lopes Cardoso) - FJA/Nossa
Editora
306 Reflexos (Lívia Medeiros)
307 Tempos humanos (Rubem G. Nunes)
308 Tobias Monteiro (José Augusto Bezerra de Medeiros)
309 Regimento interno da Fundação José Augusto

Núcleo de Literatura
Havia um Núcleo de Literatura no antigo Centro de Desenvolvimento
Cultural mas, na prática, era um tanto inoperante, tanto que só com a criação
192 Fundação José Augusto
Fotos: Arquivos da FJA/ O GALO

Acima, da esq. para a dir.: os escritores


Odilon Ribeiro Coutinho, Nilson Patriota,
Ticiano Duarte e Luís Carlos Guimarães,
em conversa descontraída durante o
I Encontro de Literatura. Ao lado,
à esq.: Odilon Coutinho, realizando
palestra em referido encontro;
abaixo, escritor sergipano Francisco Dantas,
em depoimento no II Encontro de Literatura.

40 Anos 193
do já descrito CONEDI é que temos um maior dinamismo na atividade literá-
ria. Não há registros consistentes a respeito daquele núcleo.
Em 1995, contudo, foi criado um outro setor com a mesma designação
– Núcleo de Literatura –, o qual se susteve especialmente com a execução do
programa Semana da Literatura, trazendo anualmente a Natal nomes ex-
pressivos das letras do Nordeste para depoimentos, palestras e debates pro-
fundamente instigantes. Estiveram aqui, entre outros, Odilon Ribeiro Coutinho,
Marcos Acioly, Humberto Hermenegildo de Araújo, Francisco Dantas e Jor-
ge Taufic, os quais mantiveram substanciosas trocas de experiência – no deba-
te às vezes ameno, às vezes acirrado – com autores locais. Dirigia o Núcleo
Luís Carlos Guimarães (resumo biográfico em APÊNDICE). Hoje , este se-
tor dedica-se especialmente à revista PREÁ e à realização do Concurso Luís
Carlos Guimarães, de poesia. É dirigido por Gustavo Porpino de Araújo.
Foto: Clóvis Tinoco

Flagrante do auditório, durante a realização do I Encontro de Literatura.

194 Fundação José Augusto


Presidentes da época
Como certamente recorda o leitor, quando abordamos o período
1975-1982 da história deste órgão, o último presidente a emitir conside-
rações foi Valério Mesquita. Mas não coincide, naquele ano, o término
do seu mandato, que se prolongaria até fins de fevereiro de 1986. Na
verdade, conforme dizíamos naquela oportunidade, a administração de
Valério foi a mais longa até aquele momento, pois ele, que viera a princí-
pio para completar a gestão Cláudio Emerenciano, foi reconduzido ao
cargo, ou nele confirmado, no ato da posse do Governador José Agripino,
então em seu primeiro exercício das altas funções de Chefe do Poder
Executivo Estadual.
O primeiro depoimento desta última fase, portanto, será de Valério, em
continuidade natural à exposição anterior, da qual fazemos um rápido resumo
neste instante.

Valério Alfredo Mesquita


Disse o ex-presidente que, àquela época (início da década de 80), falava-
se muito em ausência de recursos nas instituições culturais, principalmente nas
mantidas pelo Poder Público, acentuou. Resolveu montar um plano centrado, basi-
camente, em três aspectos então considerados fundamentais: restauração do
patrimônio histórico, editoração e animação cultural.
Retomaremos, pois, a partir deste ponto.
Prosseguindo, assim se manifesta Valério: Para sermos objetivos, nesse perío-
do administrativo desenvolvemos, por título, as seguintes ações:
40 Anos 195
(a) construção da Nova Passarela do Forte dos Reis Magos;
(b) restauração do antigo prédio do Quartel General;
(c) conservação da Igreja de Santo Antônio, em Natal;
(d) restauração das Capelas de São José e da Soledade, em Macaíba;
(e) restauração da Igreja Matriz e da Capela de Utinga, em São Gonçalo do
Amarante;
(f) restauração da Igreja de Nossa Senhora das Candeias e Agenciamento da Praça,
em Vila Flor;
(g) restauração da Capela de Cunhaú, em Canguaretama;
(h) restauração da Cadeia Pública de Mossoró;
(i) conclusão da restauração da Casa Paroquial de Jardim do Seridó;
(j) início da restauração dos Mercados Públicos de Macau e Ceará-Mirim, e
(l) início do Inventário de Bens Culturais Imóveis do Rio Grande do Norte.

Faz uma pequena pausa e complementa: Essas obras foram executadas


com recursos provenientes das Fundações Pró-Memória e Roberto Marinho e do
Governo do Estado.
Sobre editoração, também faz uma síntese:
Talvez neste aspecto tenhamos realizado um trabalho tão importante
quanto o desenvolvido no campo da preservação da memória histórica do Esta-
do. Mais de cem títulos foram publicados, dentre os quais passo a enumerar os
mais importantes. Vejamos algumas reedições:(26)
História do Rio Grande do Norte, Folclore no Brasil, Civilização e
Cultura, Flor dos Romances Trágicos e Viajando o Sertão, de Câmara
Cascudo; História do Rio Grande do Norte, de Tavares de Lyra; O Pioneiro
Esquecido, de Augusto Fernandes; Inventário, de Myriam Coeli; Os Brutos, de
José Bezerra Gomes; O Calvário das Secas, de Eloy de Souza; Rio dos Ventos, de
Antônio Pinto de Medeiros; Acervo do Patrimônio Histórico e Artístico do
Rio Grande do Norte, de Oswaldo de Souza, e Macau, de Aurélio Pinheiro.
Das edições, cita as seguintes:
Os Filhos do Arco-Íris e O Dia em que a Coluna Passou, de Eulício
Farias de Lacerda; O Navegador e o Sextante e Os Pontos Cardeais, de Gil-
berto Avelino; Itinerário do Imprevisto e Correspondência Atrasada, de Franco
Jasiello; Memória de um Jornalista de Província, de Lauro da Escóssia; Pensa-
mento e Ação, de Sylvio Pedroza; A Biblioteca e seus Habitantes, de Américo
de Oliveira Costa; José Augusto Bezerra de Medeiros - um democrata, de
Nilo Pereira; Januário Cicco - um homem além do seu tempo, de Iaperi Ara-
újo; Feiras e Feirantes - desenho e texto, de Dorian Gray Caldas; Cinema
_________________________
(26)
Aí incluído todo o período de sua gestão (1980-1986).

196 Fundação José Augusto


Foto: Arquivos da FJA /CDC

Aspecto da restauração do prédio do antigo QG, hoje sediando o Memorial Câmara Cascudo.

Pax, de Moacy Cirne; O Sal da Palavra, de Luiz Carlos Guimarães; O Luar


Potiguar, de Homero Homem; A Pobreza do Mundo Rico, de Otomar Lopes
Cardoso; Pouso em Natal, de Stella Leonardos; A Dissipação da Aurora, de
Fagundes de Menezes; A Esperança não Morre, de Dom Nivaldo Monte; Guia
Poético da Cidade do Natal, de Manoel Onofre Júnior; Marrons, Crepons,
Marfins, de Marize Castro; Literatura de Cordel em Discussão, de Humberto
Peregrino; Proto-História do Rio Grande do Norte, de Tarcísio Medeiros; Me-
nino 16, de Afrânio Pires; Poemas do Bem e do Mal, de Esmeraldo Siqueira, e
Pequena História do lntegralismo no Rio Grande do Norte, de Luís
Gonzaga Cortez.
Na seqüência, discorre a respeito da Fundação e de suas perspectivas:
As dificuldades naturais que a Instituição atravessa atualmente não são, a
rigor, diferentes das vivenciadas no passado recente. Todas são fruto da ausência de
uma eficaz política de cultura - tanto em nível federal como estadual. Paralela-
mente, a Lei Sarney não tem sido aplicada de forma eficiente e muito menos o
Governo Federal tem se esforçado para isso. (27)
E conclui:
Em suma: inexiste, na prática, o Ministério da Cultura. Cultura é in-
_________________________
(27)
Este depoimento foi prestado antes da extinção da referida lei.

40 Anos 197
Foto: Arquivos da FJA /CDC

O Pte. Valério Mesquita no lançamento de livro da escritora Maria Eugênia Montenegro.

vestimento. Não havendo dinheiro para tal objetivo não se pode traçar nem,
inclusive, antever perspectivas. Improvisar e assumir as feições das circunstân-
cias são as alternativas, aqui e agora. Lamentavelmente.

Paulo Macedo
Com efeito, as ações da Fundação José Augusto, entre os meses de feve-
reiro de 1986 e março de 1987, presidida pelo Jornalista Paulo Macedo, caracte-
rizaram-se pela ênfase à solução dos problemas de infra-estrutura. Muitas das
suas dependências exigiam urgentes reparos, reformas ou, em alguns casos, ampla
restauração. Os setores de transportes e comunicações estavam literalmente es-
trangulados, praticamente desativados, e vários outros careciam de equipamen-
tos e de material permanente.
Numa única frase Paulo Macedo dá a dimensão das dificuldades com
que se deparou: A soma dos problemas internos era tal que dispensava estudos preli-
minares para estabelecer-se prioridades.
A tarefa se tornava duplamente dificultosa quando deveria sustentar uma
intensa programação, conforme ele mesmo relata:
Por outro lado, não poderíamos negligenciar os projetos e programas
198 Fundação José Augusto
anterioriormente eleitos, excelentes projetos do meu antecessor, Deputado Valério
Mesquita, nem outras idéias que foram surgindo. Dentro das possibilidades que
nos foram permitidas, realizamos cursos, concursos artísticos e literários, ciclos de
palestras, concertos sinfônicos, pesquisas e documentários, restauração de monu-
mentos e, enfim, iniciativas nas áreas de biblioteca, museu e editoração.
Lembra o ex-presidente que, ao final de sua gestão, lançou um folder com
o elenco de todas as realizações efetivadas no período, dentre as quais destaca:
(a) idéia, projeto e construção do Memorial Câmara Cascudo, compreendendo a
restauração do edifício e instalação de equipamentos para a guarda e preservação da obra
do mestre, além de construção de uma praça, com jardins e espelho d’água, e nela uma
estátua do homenageado em tamanho natural;
(b) criação e instalação da Casa do Produtor
Cultural, destinada à prática e à convivência profis-
sional dos produtores culturais potiguares, envolvendo
todas as organizações do setor;
(c) restauração da sede do Instituto Histórico e Ge-
ográfico do Rio G. do Norte, inclusive renovando seus equi-
pamentos e promovendo a pintura total do prédio;
(d) criação e instalação da Biblioteca Floriano
Cavalcanti, com um acervo de dez mil volumes compreen-
dendo variados assuntos - especialmente vinculados à his-
tória, filosofia e direito (doação da família do homenagea-
do); Paulo Macedo
(e) restauração da Fortaleza dos Reis Magos, in- ex-Presidente

cluindo suas instalações hidráulicas e elétricas, pintura completa - interna e externa -, recu-
peração dos canhões, pavimentação a blokret da passarela de acesso ao monumento e, por
acréscimo, constituição de policiamento da área, através de convênio com o Comando da
Polícia Militar do Estado;
(f) reforma geral da Biblioteca Pública Câmara Cascudo, renovando o sistema
de ar-condicionado e procedendo a aquisição de novos birôs, estantes, mesas e equipa-
mentos afins;
(g) aquisição de uma central de telex e de uma central telefônica;
(h) restauração da Sala dos Grandes Atos, da sede da Fundação, desde os lustres e
luminárias à recuperação e alinhamento de todas as suas poltronas e a instalação de ar-
condicionado central;
(i) recuperação da Igreja de Santo Antônio, na Cidade Alta, em Natal;
(j) restauração do edifício onde funciona o Museu Café Filho, e
(l) continuidade da execução do Projeto de Inventário dos Bens Culturais Imóveis do
Rio Grande Norte, cobrindo 36 (trinta e seis) municípios.
40 Anos 199
Realmente, considerando o curto espaço de tempo para a sua atuação, a
administração Paulo Macedo foi dinâmica, especialmente – conforme já acen-
tuado – no que diz respeito aos aspectos infra-estruturais do Órgão. Também
acusou boa presença na área da restauração de monumentos históricos, como
vimos no rol acima. Outras ações, não citadas, foram desenvolvidas, em simi-
lar padrão de representatividade.

Woden Madruga
Em março de 1987 Paulo Macedo passaria o cargo para outro jornalis-
ta, também combativo, profundo conhecedor da terra e de sua gente, Woden
Madruga, que trazia, entre outras, a idéia de criar e implantar o Museu Histó-
rico da Aviação e da II Guerra Mundial. Por feliz coincidência no mês seguinte
estaria sendo concretizada a primeira reunião efetiva – para julgamento de
projetos – do Sistema Nacional de Museus, que tinha uma proposta aberta,
revolucionária: propunha a desmistificação do museu enquanto reduto inex-
pugnável, ambiente de ungida contrição onde se guarda intocáveis relíquias.
Ao contrário, num país de tão colossais dimensões, de tantas peculiaridades
culturais quantas são suas regiões imensas, o museu deveria desligar-se da or-
todoxia imposta pela cultura européia e tornar-se, enfim, descontraído como
Foto: Arquivos da FJA /BPCC

Flagrante de um grupo de balé se apresentando na Sala dos Grandes Atos, durante o III
Encontro Estadual de Bibliotecas Públicas (1994).

200 Fundação José Augusto


sua gente, onde os jovens tivessem acesso para conhecer, fazer estudos e
pesquisar sem constrangimento.
Cada Estado deveria buscar o seu próprio caminho, à feição das carac-
terísticas culturais e comportamentais do seu povo no decurso de sua história.
Mais uma vez ocorria coincidência: essa linha de pensamento não desto-
ava da concepção de Woden, avesso a formalismos no que diz respeito ao
trato da coisa natural, que deve ser objetivo e claro por excelência.
Foi aí que a área museológica, na Fundação José Augusto, recebeu o
estímulo de que tanto necessitava. A partir daquele instante passou a ser
realmente implementada, com a criação do Sistema Estadual de Museus,
criação e implementação do Museu de Arte Sacra do Rio Grande do Nor-
te, criação e/ou dinamização de vários outros museus pelo interior do
Estado e, enfim, fixação das bases para a futura instalação do Museu His-
tórico da Aviação e da II Guerra Mundial,(28) já que se tornara impraticável
concretizá-lo naquela quadra.
Também foi na administração de Woden Madruga que o jornal “O Galo”
surgiu, dando uma nova dimensão à cultura norte-rio-grandense e mostrando-
a ao resto do país. Sem dúvida, este terá sido um dos mais importantes veícu-
los de divulgação cultural do Estado nos últimos tempos.
Outras iniciativas de excepcional repercussão foram a restauração do
Teatro Alberto Maranhão, a reestruturação e redimensionamento do Instituto
de Música Waldemar de Almeida e a criação do Coral “Canto do Povo”.
Na área da pesquisa, a investigação sobre os Hábitos de Leitura, em
Natal, a respeito da qual nos reportamos com mais detalhes em outro item
deste trabalho, foi um estudo pioneiro, de propó-
sitos e sentido eminentemente socioculturais e
educativos mas que, infelizmente, até o momento
encontra-se inédito.
Woden Madruga passaria o cargo para o
Médico Iaperi Araújo em março de 1991.

Iaperi Araújo
As atividades compreendidas no quadriênio
1991-1994, no qual esteve à frente da Entidade
Iaperi Soares de Araújo, estão relatadas ao longo Iaperi Araújo
da Quarta Parte. Destacaríamos, contudo, a cria- ex-Presidente
_________________________
O Projeto de Criação e Instalação e o Decreto-lei da Criação do Museu Histórico da Aviação e da II Guerra
(28)

Mundial, datam daquele período, infelizmente não-concretizado até o momento.

40 Anos 201
ção da estrutura administrativa da Cidade da Cri-
ança, que passava à responsabilidade da Funda-
ção, a instalação do Instituto de Música Waldemar
de Almeida em sua sede definitiva – andar superi-
or da Gráfica Manimbu – e o novo impulso dado
ao plano editorial. Reiteramos que estas interven-
ções são apenas destaques, conforme o texto.

Woden Madruga
A exemplo do que foi dito da administra-
ção anterior, as intervenções de Woden Madru- Woden Madruga
ex-Presidente
ga, em seu segundo período na presidência da Fun-
dação (que engloba oito anos), estão contidas na Quarta Parte deste estudo,
em grande parte extraídas do documento GESTÃO ADMINISTRATIVA
(1995-2002).

202 Fundação José Augusto


QUINTA PARTE

ATIVIDADES COMPLEMENTARES
Centro de Recursos Humanos-CRH ...................................................................................... 205
Contribuição da Gráfica Manimbu ............................................................................................ 206
Informação e divulgação: Ass. de Imprensa; Jornais e Revistas ...... 206
Informações sobre o Arquivo da Fundação ................................................................... 212
Projetos produzidos
(a) Considerações iniciais ............................................................................................................... 215
(b) Projetos produzidos, por área .......................................................................................... 215
INFRA-ESTRUTURA
ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................................................ 217
EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS
ESTUDOS E PESQUISAS .............................................................................................................. 220
DOCUMENTAÇÃO ...................................................................................................................... 222
PATRIMÔNIO HISTÓRICO ....................................................................................................... 223
MUSEUS .............................................................................................................................................................. 224
BIBLIOTECA ............................................................................................................................................ 225
DIFUSÃO CULTURAL ................................................................................................................... 225

40 Anos 203
204 Fundação José Augusto
Centro de Recursos Humanos-CRH
Ao longo da década de 80 esse departamento teve um impulso formidá-
vel. Disséramos, alhures, do seu indisfarçável ostracismo enquanto perdurara
a existência do PROFIED (V. p. 84), e que, com a extinção daquele Programa,
deveria encontrar os seus próprios caminhos e, enfim, adquirir personalidade.
Foi o que ocorreu, efetivamente.
Com efeito, realizando cursos e seminários para instituições diversas, para
empresas dos setores público e privado e para a própria Fundação (reciclando
segmentos específicos do seu quadro), o CRH se foi afirmando e, com o tempo,
passou a apresentar uma folha de serviços prestados dos mais significativos.
Os seus objetivos se resumiam em três pontos, a saber:
(a) planejar, coordenar e executar atividades de capacitação técnica de
recursos humanos, no Estado;
(b) oferecer assistência técnica, na área de recursos humanos, a organiza-
ções públicas e privadas, e
(c) promover estudos e pesquisas sobre recursos humanos, no âmbito
do Rio Grande do Norte.

Duas coordenadorias, a de Programação Didática e a de Assistência


Técnica, desenvolviam os projetos e trabalhos do Centro. A primeira, planeja-
va e executava os seminários e cursos abertos e fechados (isto é, sem restrições
quanto à clientela e exclusivos para determinadas organizações), de curta e
média duração, enquanto a de Assistência Técnica se responsabilizava pela
elaboração e execução de projetos de pesquisas e por atividades de assessoria
e consultoria técnica.
40 Anos 205
Assim, firmado no conceito e no respeito da comunidade, os cursos e
outras intervenções do CRH, sempre rigorosamente planejados e executados,
constituíam um acontecimento de significativa expressão na área do conheci-
mento em que se realizavam.
A partir de 1983, foram seus diretores: Paulo Fernandes, Jean Polzadski
e Lucina Hermila Figueiredo da Silva.

Contribuição da Gráfica Manimbu


Havemos de consignar uma palavra de reconhecimento ao traba-
lho desenvolvido pela Gráfica Manimbu, mormente por ter atravessado
vastos períodos de extremas dificuldades econômicas e nem por isso au-
sentar-se dos seus encargos e responsabilidades para com a Fundação
José Augusto.
Houve momentos em que, preterindo serviços para terceiros, o que
significa abrir mão de faturamento certo, dedicou-se à atividade no âmbi-
to institucional, participando do processo cultural com desenvoltura mas
assumindo, com esse gesto de desprendimento, o ônus de inúmeras difi-
culdades.
A Gráfica editou dezenas de títulos, incluindo literatura, folclore, antro-
pologia e outros itens, reproduziu centenas de documentos e uma quantidade
incalculável de outros impressos – abrangendo desde simples timbre em en-
velopes oficiais até solenes convites para recitais e vernissages.
Das referências acima depreende-se a considerável contribuição que a
Gráfica Manimbu tem prestado a este complexo cultural a cuja esfera de ação
está subordinada, embora em parte se mantendo com recursos próprios, con-
forme já assinalamos.
Foram diretores nos últimos tempos Pedro Vicente, Francisco Alves,
Jansen Leiros, Danilo Emerenciano, José Pinto Bezerra e Francisco Pinto Be-
zerra. Hoje, responde pela direção Maurício Gomes dos Santos.

Informação e divulgação: Assessoria de Imprensa;


Jornais e Revistas
Desde meados de 1980 a Assessoria de Imprensa já se mostrava atuante.
Quando, em fins de 1979, a estrutura da Fundação foi redimensionada, ope-
rando como reflexo imediato a intensificação do fluxo de produção e execu-
ção de projetos, passou a ter mais presença nos noticiários da imprensa local.
Até então, suas chefias e técnicos responsáveis pelos diversos programas esta-
206 Fundação José Augusto
beleciam contato diretamente com as redações dos jornais para divulgar as
respectivas informações. Mesmo a Presidência se via, muitas vezes, compelida
a manter tais contatos, convidando os repórteres ao Gabinete quando o assun-
to era complexo ou necessitava cuidadosa exploração.
Mas a intensificação dos serviços, o volume de ações em rápida expan-
são e, às vezes, as solicitações das instituições patrocinadoras, tornavam mais e
mais premente e inadiável a contratação de um profissional da área em caráter
definitivo.
A princípio, um repórter era o suficiente; depois, o acúmulo de serviços
gerou a necessidade de criação de um setor exclusivo, no caso a Assessoria.
Como objetivo fundamental, evidentemente, destina-se a manter o público
informado de todo e qualquer acontecimento vinculado à Fundação; por ex-
tensão, visa contribuir para a disseminação de aspectos gerais e específicos da
cultura norte-rio-grandense, de modo a fixá-la como elemento indispensável à
formação do homem potiguar. É norma, aliás, em todos os setores da Entida-
de, a convergência para esse princípio.
Suas rotinas de trabalho compreendem:
(a) a leitura e análise diária de jornais, com a separação e armazenamento
de registros sobre a Entidade;
(b) a alimentação das fontes informadoras (jornais) com matérias perti-
nentes;
(c) o acompanhamento sistemático de todos os eventos e acontecimen-
tos vinculados à Fundação;
(d) a atualização dos arquivos fotográficos (quando os acontecimentos
são documentados por esse processo), e
(e) a manutenção de contatos sistemáticos com toda a organização, de
modo a assegurar a completa cobertura informativa.

Em síntese, pois, a Assessoria de Imprensa centraliza as atividades de


informação sobre todos os órgãos, com especialidade sobre o Gabinete da
Presidência. As intervenções nas áreas museológica, teatral, musical, de res-
tauração, de recursos humanos, documentação e pesquisa, etc., foram e têm
sido alvo da sua intermediação para a comunidade, em alguns momentos
com maior ou menor eficiência – segundo as disponibilidades de recursos.
Mas isso, como já vimos, é traço comum a todo o sistema.
Afora o jornal O Galo, que se manteve por quase quinze anos, as publi-
cações da Fundação José Augusto não foram além de alguns poucos números,
como se fora uma relação atávica com o passado remoto da Cidade do Natal
quando inúmeros jornais surgiam e se eclipsavam a cada dois ou três meses de
40 Anos 207
circulação (da maior parte deles ter-se-ia perdido a memória, não houvesse
oportunamente sido realizada pesquisa a respeito).(29)
Por volta de 1970, por exemplo, circulou a brochura Província (quase
livro com formato de revista), abordando a cada número uma personalidade
de expressão do Estado. Em nossos arquivos localizamos a de nº. 2, datada de
1971, a mesma de que dispõe o Instituto Histórico e Geográfico, enquanto
que a Biblioteca Pública Câmara Cascudo detém as de nº. 2 e 3. Não se sabe
informar sobre a sua periodicidade, nem mesmo se efetivou a publicação do
eventual nº. 4.
A de nº. 2 homenageia a figura de Luís da Câmara Cascudo pelo trans-
curso dos seus então cinqüenta anos de atividades literárias (publicara Alma
Patrícia, seu primeiro livro, em 1921). Constitui-se de uma coletânea de de-
poimentos de intelectuais de diversos matizes, tais como Oswaldo Lamartine,
Newton Navarro, Jaime Wanderley, Jorge Amado, Joracy Camargo, Gilberto
Freyre, Afonso Arinos, Paulo Ronai e Carlos Drummond de Andrade, entre
outros, sobre o ilustre autor. Na segunda parte, contém textos do homenage-
ado, inclusive vinte de suas “Actas Diurnas”.
Informe Com Texto, do Centro de Documentação, só foi impresso no
ano de 1984. Tinha uma estrutura bastante dinâmica, dando conta dos arqui-
vos do órgão e os colocando à disposição para consultas, resumo de uma
entrevista com o poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, informa-
ções sobre prêmios literários e os diversos projetos da Fundação então em
andamento.
O jornal O Galo foi oficialmente criado em 1987 mas o seu primeiro
número só seria publicado em março de 1988, em formato tablóide, com
vinte e oito páginas e tiragem de oito mil exemplares. A exemplo da maioria
dos suplementos culturais existentes no país, os quais basicamente divulgam
os respectivos estados, O Galo surgiu para divulgar e incentivar as artes e a
cultura norte-rio-grandenses. Esse caráter regionalista, no entanto, não excluía,
literalmente, enfoques de outras regiões: artistas e intelectuais de todo o país
participavam com matérias as mais diversas, a título de colaboração, por todo
o transcurso de sua existência.
Na verdade, esta abertura, não só no sentido geográfico mas inclusive
quanto às diversas tendências e correntes de pensamento e à multiplicidade de
concepções e estilos, funcionava como salutar estratégia para a fixação do in-
tercâmbio com os demais Estados, consolidando aqueles princípios de estí-
mulo e disseminação do produto cultural.
_________________________
No Dicionário da Imprensa do Rio Grande do Norte (1909-1987), de Manoel Rodrigues de Melo,
(29)

observa-se esse fenômeno, nos idos das primeiras décadas do século XX.

208 Fundação José Augusto


Este periódico tinha uma tiragem de oito mil exemplares, aliás modesta
no confronto com a repercussão e, por decorrência, com o crescente número
de pedidos que vinha recebendo de leitores e de entidades afins de todas as
regiões.
Mas esses resultados não tinham origem no acaso. Sua editoria desde o
início tinha primado pelo aspecto gráfico do jornal, pela elaboração de uma
estética atraente, característica esta, via de regra, mencionada positivamente
nas correspondências recebidas.
É evidente que o conteúdo também constituía preocupação fundamen-
tal: havia todo um processo de análise e de verificação dos textos antes de sua
veiculação, os quais necessariamente deviam abordar assuntos culturais (a
editoria tinha autonomia para recusar, eventualmente, matérias julgadas ina-
dequadas).
Enfim, o trabalho era desenvolvido a partir de convênio assinado com a
Companhia Editora do Rio Grande do Norte-CERN (hoje Departamento
Estadual de Imprensa), responsável pela fotolitagem e impressão do jornal,
cuja capa estava sempre aberta para divulgar e publicar trabalhos dos artistas
plásticos do Rio Grande do Norte. A valorização do artista era uma constante
em nossa linha editorial.
Desde os primeiros números publicados – e isto pode ser constatado na
simples leitura da secção “Cartas dos leitores” – houve ampla aceitação desse
veículo informativo, não só no Estado como, inclusive, no país e no exterior.
Entre a edição do seu primeiro número e novembro de 2002, o jornal só
foi desativado apenas em uma temporada (por razões econômicas), voltando
a circular em agosto de 1991, já com novo formato (revista).
Uma curiosidade: a então revista O Galo teve uma edição especial, bilín-
güe (português-espanhol) em agosto de 1994, oportunidade em que houve
dois lançamentos, a saber:
40 Anos 209
(a) no evento “Cumplicidade – uma mostra da cultura ibérica”, em
Natal, e
(b) “Muestra de la cultura nordestina”, em Portugal.

A primeira editora de O Galo foi Marize Castro, seguindo-se Socorro


Trindade, Auricéia Lima e Nelson Patriota.
Outra iniciativa frustrada foi o Caderno cultural-educativo norte-rio-
grandense, trabalho do CEPEJUL em parceria com as Secretarias de Educa-
ção do Estado e do Município do Natal, idealizada em 1991. Sua proposta era
a de levar a professores e alunos da rede pública de ensino matérias informa-
tivas e formativas relativas à educação e à cultura, num fluxo trimestral. Uma
edição, em caráter experimental, estava consolidada quando, por falta de pa-
trocínio, foi arquivada.
FJA em Ação, outro jornal cultural da Entidade, tinha circulação restri-
ta a instituições coirmãs, artistas e funcionários. Simples, sem dúvida, porém
conseqüente em seus objetivos e atualidades. Circulou entre abril de 1991 e
outubro de 1992.
Calendário Cultural, uma co-edição Fundação José Augusto e Fun-
dação Sociocultural Santa Maria, organizado pelo Centro de Promoções,
foi outro instrumento logo desativado. Não se restringia à Fundação José
Augusto, nem às esferas administrativas oficiais; informava, inclusive, sobre
espaços culturais da iniciativa privada. De feitio e objetivos simples, menci-
onava toda a programação artístico-cultural prevista para o ano, em Natal, e
principais eventos do interior do Estado. Tinha uma proposta de continui-
dade, mas só ocorreu aquela publicação em 1993. Era bastante esclarecedor
para entidades, empresários e produtores culturais, assim como pesquisado-
res e estudantes.
Cadernos do CEPEJUL (1993-1994) foi uma coleção com informes
biográfícos sobre personalidades potiguares dos mais distintos segmentos
(políticos, literários, históricos, etc.), dos quais se poderia dizer que foram o
embrião do livro Personalidades históricas do Rio Grande do Norte
(Século XVI a XIX), fruto de ampla pesquisa realizada anos mais tarde por
este Centro. Com relação aos Cadernos, os números iniciais enfocaram,
entre outras, as figuras de Clara Camarão, Padre João Maria, Januário Cicco,
Henrique Castriciano, Georgino Avelino, Dix-Sept Rosado, Seabra Fagundes,
Maria do Santíssimo, Ubaldo Bezerra e Jesiel Figueiredo. Algumas destas
publicações contavam com o apoio da Associação Potiguar de Educação e
Cultura-APEC, outras da Federação das Indústrias do Estado do Rio Gran-
de do Norte-FIERN.
210 Fundação José Augusto
Fundação José Augusto - notícias, produzido pela Assessoria de Im-
prensa, inicia-se em maio de 1996 e segue até fins de 1998. Numa única folha
de papel ofício havia o resumo das principais ações desenvolvidas a cada
semana. Sua publicação dava-se sistematicamente às sextas-feiras.
Caderno Nossa Gente foi uma evolução do anteriormente citado Ca-
dernos do CEPEJUL. Também se propunha abordar vultos da terra mas, tal
como Caderno cultural-educativo, morreu no nascedouro, não chegando a
editar o primeiro número (que abordava a figura de João Café Filho). Data de
2001.
Preá, revista de cultura, editada a partir de maio do corrente ano de
2003, em seu início portanto, já se consolida como instrumento absolutamen-
te integrado ao espírito desta Casa e aos propósitos da atual administração.
Sua diagramação, seu esmero gráfico e editorial têm sido referidos positiva-
mente desde a estréia, como se observa na secção “Cartas” da edição de nº. 2,
p. 5. E certamente há de tentar superar-se a cada número: O que a segunda filha
perde no alvoroço da espera ganha na serenidade da experiência, diz François Sil-
vestre (op. cit., p. 4), assim a terceira em relação à segunda, a quarta em relação
à terceira...
O surgimento desta revista suscitou certa celeuma nos círculos intelectu-
ais da cidade, uma polêmica que se arrastou por várias semanas tendo como
“mote” ou pomo de discórdia uma suposta prevenção da administração re-
cém-empossada contra o periódico anterior, jornal O Galo, pecha rebatida
com a seguinte explicação: Há uma confusão, na crítica, de que a Preá é substituta
de ‘O Galo’. Não é verdade. ‘O Galo’ não foi editado porque não tivemos condições
de cuidar de dois veículos. E dei prioridade à revista. A diferença da revista para o
jornal, além de outras, é a durabilidade. O jornal tem o condão da notícia e a fragili-
dade material. No interior, ele não teria vida longa. A não ser nos colecionadores ou
arquivistas. Até a sua distribuição para o interior é difícil. Veja o caso dos jornais de
40 Anos 211
Natal, todos com distribuição precária no interior. Uma revista cultural, além da
informação, ou até mais que ela, há de ser um veículo de formação. Que sirva para
pesquisas e discussão. Coisa de que o jornal carece, por conta de seu material de feitura.
(ib., p. 4).
Esta a Preá, firmando-se a cada edição. Romperá o ciclo atávico com o
passado?...
Espera-se que sim, dado seu objetivo maior de servir de instrumento
catalisador entre as comunidades produtoras de cultura em nível estadual. A
Preá nasceu com propósitos nobres, e por isso merece não apenas o apoio,
mas o acolhimento e respeito de todos os norte-rio-grandenses, sobretudo
das autoridades constituídas, seja na esfera municipal, estadual ou federal.

Informações sobre o Arquivo da Fundação


Quando nos debruçamos, hoje, sobre o passado desta Casa, vem-nos à
mente, com um certo pesar, o pouco caso que se fazia da organização do seu
acervo documental.(30) Aliás, até um tempo relativamente recente, por volta
do final da década de 80. Não está longe em nossa memória quando, para
inibir os servidores faltosos e indisciplinados, se utilizava o recurso extrema-
do de “condená-los” a trabalhar naquele setor. Nunca falhava. O mais recalci-
trante dentre os rebeldes dobrava-se em cândida performance ante a temível
perspectiva, e aquele que se dispunha a pouco invejável tarefa de trabalhar no
Arquivo – pouco mais que simples depósito de papéis – poderia inclusive ter
a saúde afetada.
Que fique claro este aspecto: estamos falando de organização e bolor
pelo excesso de fungos; sempre houve rígido controle da entrada de docu-
_________________________
Uma espécie de “arquivo morto”, literalmente. Os setores específicos sempre mantiveram os respecti-
(30)

vos arquivos e fichários satisfatoriamente operacionais.

212 Fundação José Augusto


mentos e tudo, absolutamente tudo que é pertinente, está alocado ali, hoje
inclusive com irrepreensível esmero, pois oportuna intervenção do Centro de
Documentação veio reverter a situação, conforme veremos mais adiante.
Àquela época, contudo, pastas estavam empilhadas por toda a parte,
meio a exemplares d’O Diário Oficial; recortes de jornais diversos se mistura-
vam com fichas catalográficas parcialmente preenchidas; projetos os mais
díspares intercalavam-se com textos de convênios, decretos e portarias, tudo
isso apresentando raríssimos vestígios de ordenamento.
Quanto às condições ambientais, não eram das melhores: uma comprida
mesa estava sempre protegida por espessa camada de pó, traças usufruindo
do dito bolor em regime de tempo integral. Finas conformações estéticas em
espiral, medindo espaços nas prateleiras das estantes, não mais eram que
intocáveis teias de aranhas. O único birô existente naquele espaço singular não
destoava do conjunto: de suas gavetas emperradas pendiam papéis e o seu
tampo estava totalmente desgastado pela maresia do desleixo.
Dissemos que isso era prática comum àquela época, verdadeiro contra-
senso num órgão que se propõe à manutenção e preservação históricas de
bens culturais, onde o registro criterioso, o rigor do dado e a meticulosa ob-
servação de cada notícia e de cada informe é o testemunho vivo do passado.
A Coordenadoria de Documentação do CDC empreendeu o trabalho

Foto: Arquivos da FJA/ Gabinete

Sala do Arquivo da FJA, antes de sua recuperação física e organização do acervo.

40 Anos 213
de transformação, reciclando pessoal, adquirindo equipamentos, organizando
fichários, pondo ordem no caos. Hoje, o setor de Arquivo é ágil, funcional,
eficiente.
A reversão iniciou-se em 1989, a partir de um acordo tácito mas consis-
tente entre a direção do CDC e a do setor de Serviços Gerais, ao qual o Arqui-
vo estava subordinado. Iniciava-se, ali, as atividades técnicas de seleção e or-
ganização do material alocado no acervo.
Fez-se necessário, a partir de então, a criação legal de um Núcleo de
Arquivística, que seria responsável direto pelas atividades de recepção, guarda
e preservação do acervo administrativo, desmistificando parte do preconcei-
to que envolvia as atividades do setor. Tal não foi concretizado, contudo, o
que felizmente não desestimulou as partes interessadas. A não-implantação do
núcleo pretendido foi resolvida, ainda dentro da informalidade do citado acor-
do, com a Coordenadoria de Documentação assumindo aquelas tarefas (as de
recepção, guarda e preservação de documentos, hoje armazenados em duzen-
tos e três metros lineares, acumulados desde 1963). É ali, sobretudo, que está
guardada a história da Fundação.
Sua constituição dá-se de forma lenta mas ininterrupta, acompanhando
passo a passo a trajetória da Entidade. Considerando que essa massa docu-
mental – de caráter administrativo, funcional, contábil e cultural – reflete tudo
o que foi produzido por seus diversos setores, salvo a danificação de algumas
séries documentais vitimadas pela intempérie no período anterior, aludido no
início deste item, é indiscutível a importância do setor para estudos como este
empreendido pelo CEPEJUL, ou outros que ao longo do tempo venham a se
concretizar.
Desenvolveu-se, a princípio, um trabalho de identificação, análise e sele-
ção dos documentos existentes. Classificou-se o material em séries específicas,
ordenando-as de forma cronológica e setorial. Posteriormente tais séries fo-
ram armazenadas em caixas-arquivo, conforme as normas arquivísticas vigen-
tes. Na fase de avaliação, convém registrar, foram criteriosamente expurgadas
as cópias de documentos com prazo de validade vencido, assim como se pas-
sou a exercer estreita vigilância sobre aqueles que poderiam servir de lastro
informativo às pesquisas administrativas.
É função deste, ainda, atender a consultas e empréstimos de documen-
tos diversos solicitados por outros setores cuja finalidade seja a de fundamen-
tar informações que necessitem prova e evidência legal.
Paralelo a tais iniciativas, naquela época (fev., 1989) foi implantado o
Núcleo de Microfilmagem, com o objetivo de restringir a massa documental,
o que possibilitaria maior segurança e rapidez no acesso à informação; no
214 Fundação José Augusto
entanto, devido a vários fatores (inclusive deficiência no equipamento), encer-
rou suas atividades cerca de cinco anos após sua criação.
Pela peculiaridade de poder exercer suas funções no estilo tradicional – o
que ainda vem ocorrendo –, não significa que haja renunciado à aquisição de
novas tecnologias, o que possibilitaria a otimização de sua prestação de serviços.

Projetos produzidos
(a) Considerações iniciais
O volume e a finalidade dos projetos produzidos são fatores de
ponderável importância para se avaliar o nível de desempenho da Fundação,
muito embora nem todas as atividades desenvolvidas o tenham sido através
de projetos, da forma que também nem todos os projetos produzidos, neces-
sariamente, foram aprovados. A maioria dos trabalhos realizados com recur-
sos próprios, por exemplo, dispensou essa construção formal, sendo desen-
volvidos a partir de simples roteiros ou esquemas metodológicos. Observe-se
as artes plásticas, cujo total de projetos elaborados não ultrapassa sequer a
meia dúzia, não obstante este segmento haver efetuado mais de uma centena e
meia de exposições. A área de biblioteca revela fenômeno similar.
Por outro lado, é acentuada a quantidade de propostas não-consolida-
das, o que se explica em grande parte pela carência de recursos nas fontes de
captação. Há, ainda, projetos que foram reduzidos, ampliados, parcial ou to-
talmente reformulados – geralmente por sugestão dos órgãos potencialmente
patrocinadores – e que, enfim, por outras circunstâncias nem sempre claras e
convincentes, nem assim lograram aprovação. Exemplo flagrante foi o Inven-
tário de Bens Culturais, encaminhado em quatro versões para três entidades,
entre 1980 e 1984, sempre atendendo a recomendações de tais organismos,
até ser arquivado para ulterior oportunidade por absoluta falta de sintonia.
Destes fatos resulta que não devemos nos fixar, apenas, na quantidade
dos projetos produzidos para avaliar e estimar a performance da Fundação,
muito embora esse dado, como dissemos acima, constitua um forte indicativo,
uma significativa referência. Há, porém, outras informações que devem ser
levadas em conta com bem mais propriedade, quais sejam aquelas sobre as
ações efetivas de pesquisas, documentários, editoração, festivais, exposições,
concertos, concursos etc., tantas vezes referidos.

(b) Projetos produzidos, por área


Subdividimos os projetos produzidos em dois grandes grupos, de for-
40 Anos 215
ma a permitir uma visão abrangente se bem que extremamente sintética. O
primeiro deles compreendendo “os de cunho administrativo” (construção e
reforma de prédios, criação e instalação de setores, aquisição de equipamen-
tos, etc.) e “os de recursos humanos” (cursos, seminários e afins), na tabela 2
designados sob o título de “área infra-estrutural”. O segundo grupo reúne os
projetos “exclusivamente culturais”. Segue o demonstrativo:
Este quantitativo – tre- TABELA 2
zentas e sessenta e oito unida- TOTAL DOS PROJETOS POR ÁREA,
des – é, na verdade, uma apro- ESPECIFICADOS OS EXCLUSIVAMENTE
ximação. Há fortes razões CULTURAIS (1974-2003)
para crer que alguns projetos VALORES
tenham passado ao largo dos ÁREAS Abs %
arquivos e se perdido na me- TOTAL 368 100,0
mória do tempo, afora o fato Infra-estrutura 108 29,4
de que muitos dos que estão .Administração 47 12,8
computados foram reimple- .Cursos, seminários e afins 61 16,6
mentados anos seguidos, sem- Exclusivamente(1)culturais 260 70,6
.Difusão cultural 94 25,5
pre passando por reformu- .Pesquisa 59 16,0
lações, mas sendo contados .Documentação(2) 107 29,1
apenas uma vez (seria um des- FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto
propósito somarmos cinco Inclusive biblioteca. Exclusive biblioteca.
(1) (2)

vezes o projeto Festival de Folclore, por exemplo, face à sua execução por
igual número de anos: I, II, III... Festival, assim sucessivas Semanas de Teatro
ou Encontros de Cultura Popular, mesmo que sofrendo reajustes
metodológicos). Por outro lado não estão incluídos, nesta tabela, eventuais
projetos elaborados no período inicial, quando prevaleciam os cursos univer-
sitários: as Semanas de Estudos Sociais e o programa Xeque-mate, por
exemplo, referidos na primeira parte deste estudo, são eventos não-consigna-
dos. Fica o registro.
Isto posto, fixemo-nos nestes trezentos e sessenta e oito projetos, para
efeito das próximas apreciações; se estão aquém da realidade efetiva não esta-
rão muito distantes, resguardadas aquelas observações.
Como vemos na tabela acima, perto de 30% dos projetos produzidos se
concentram na área infra-estrutural, dos quais 16,6%, voltados para a realiza-
ção de cursos, seminários e afins (a maioria desses cursos destinou-se à
capacitação de recursos humanos, como veremos na discriminação mais adi-
ante; outros, porém, tinham uma feição especificamente cultural, mas mesmo
assim os conservamos no item “infra-estrutura” pelo seu caráter de aprimora-
mento do quadro de pessoal). Os demais projetos, compreendendo a área
216 Fundação José Augusto
“exclusivamente cultural”, se distribuem entre pesquisas (16%), difusão cultu-
ral (25,5%) – reunindo os projetos de promoção de eventos e os de biblioteca
–, e documentação (29,1%), concentrando as propostas pertinentes à restau-
ração e recuperação de monumentos, museus e documentários diversos.
Restringindo-nos a estes, vejamos a produção de projetos por setor
operacional, não decorrendo daí que os valores registrados correspondam
necessariamente às ações desenvolvidas pelos respectivos Centros. Para efeito
de demonstração podemos assinalar que o Centro de Documentação elabo-
rou projetos de pesquisa e de promoção os quais foram computados, aqui,
para estes segmentos; igualmente, vamos encontrar inclusos no CDC projetos
de outros centros cujas características se ajustam à documentação. Assim os
demais setores:
TABELA 3
O dado, já destacado,
PROJETOS EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS,
de projetos em maior núme- POR ÁREA DE INTERVEÇÀO
ro na área de documentação,
face a somar inclusive os se- VALORES
tores de museus e do ÁREAS Abs %
patrimônio histórico, seguido TOTAL 260 100,0
dos de difusão cultural, por
Difusão Cultural (1)
94 36,2
sua vez incluindo os de bibli- Pesquisa 59 22,7
otecas (afora um sem-núme- Documentão 107 41,1
ro de atividades promo- .Patrimônio histórico (2)
52 20,0
.Museus 26 10,0
cionais), em relação aos de .Outros(3) 29 11,1
pesquisa, é reforçado pelo FONTE: Arquivos da Fundação José Augusto
fato de (a) os projetos de pes- Promoção de eventos e bibliotecas. Restauração e recuperação de monumentos.
(1)

Documentação, propriamente dita.


(3)
(2)

quisa requererem uma bem


mais complexa formulação e (b) o desenvolvimento de uma pesquisa ser su-
mamente mais demorado, podendo estender-se por meses seguidos, às vezes
um ou mais anos. Mas isso é apenas um detalhe. De resto, os números acima,
dispostos na tabela 3, falam por si mesmos, cabendo a cada leitor tirar as
próprias conclusões.
Elencamos, a seguir, todos os projetos produzidos, por área e natureza:

INFRA-ESTRUTURA

ADMINISTRAÇÃO
g
Instalação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
g
Construção e implantação de Centros Culturais
g
Criação do Caminhão da Cultura
40 Anos 217
g
Criação do Circo da Cultura
g
Construção da Passarela do Forte dos Reis Magos
g
Proposta de criação do Centro de Atividades Culturais
g
Estruturação e implantação do PROFIED
g
Proposta para a criação de um Centro de Cultura Popular
g
Aquisição de equipamentos para a Biblioteca Pública Câmara Cascudo
g
Criação e implantação do Museu Casa Café Filho
g
Criação do Sistema Estadual de Bibliotecas
g
Conservação e Manutenção do Circo da Cultura
g
Criação da Oficina de Restauração de Peças Museológicas
g
Criação e implantação do Museu Ary Parreiras
g
Criação da Pinacoteca e da Oficina de Gravuras Rossini Perez
g
Proposta de criação da Sala de Projeção Cinematográfica
g
Aquisição de equipamentos para espaços culturais
g
Aquisição de livros para a Biblioteca Pública Câmara Cascudo
g
Instalações elétricas e manutenção do Forte dos Reis Magos
g
Revitalização do Circo da Cultura
g
Ampliação da Oficina de Restauração de Peças Museológicas
g
Restauração da Passarela do Forte dos Reis Magos
g
Ampliação física e expansão do Parque Gráfico da Gráfica Manimbu
g
Ampliação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo
g
Criação do Instituto de Música Waldemar de Almeida
g
Criação e implantação do Museu Capitão Antas (Pedro Avelino)
g
Implantação do Núcleo Audiovisual da Fundação José Augusto
g
Criação e instalação da Biblioteca Zila Mamede
g
Infra-estrutura para a Biblioteca Zila Mamede
g
Implantação de Banco de Dados na Fundação José Augusto
g
Criação e instalação da Biblioteca Myriam Coeli
g
Criação do Sistema Estadual de Museus
g
Implantação do Núcleo de Microfilmagem do CDC
g
Criação e implantação do Museu de Arte Sacra do RN
g
Criação do Museu Mons. Paulo Herôncio (Currais Novos)
g
Reforma e estruturação do Auditório Epílogo Campos (Mossoró)
g
Ampliação física do Centro de Documentação Cultural
g
Ampliação do Instituto de Música Waldemar de Almeida
g
Implantação do Instituto de Artes Plásticas do RN
g
Redimensionamento das instalações físicas do CRH
g
Ampliação do Núcleo de Processamento de Dados da FJA
g
Construção dos Centros Culturais das Zonas Norte e Sul de Natal
218 Fundação José Augusto
g
Criação da Oficina de Restauração de Bens Móveis do Maranhão
g
Ateliê de Restauração de Esculturas Policromadas de São Luiz -MA
g
Recuperação do Circo da Cultura
g
Recuperação do parque gráfico da Gráfica Manimbu
g
Ampliação da Oficina de Conservação e Restauração

CURSOS, SEMINÁRIOS E AFINS


g
Capacitação técnica para o Sistema Estadual de Planejamento
g
Planejamento e Desenvolvimento Organizacional para Assessores
g
Seminário de Desenvolvimento para Executivos do Setor Público
g
Seminário de Integração Interdepartamental
g
Curso de Planejamento e Administração de Universidades
g
Seminário de Autoformação e Acompanhamento de Processos
Autoformativos
g
Formação de Docentes e Desenvolvimento Gerencial
g
Seminário de Diagnose Organizacional e Autoformação
g
Seminário sobre Exportação: Incentivos e Procedimentos
g
Desempenho Gerencial e Diagnose Organizacional para Executivos
g
Seminário sobre Administração de Recursos Humanos
g
Curso de Administração de Cargos e Salários
g
Seminário sobre Administração de Treinamento
g
Seminário sobre Métodos e Técnicas de Ensino
g
Seminário sobre Metodologia da Avaliação Aplicada ao Treinamento
g
Seminário sobre Processos de Mudanças
g
Encontro sobre Análise Transacional
g
Curso sobre Comportamento e Mudança Organizacional
g
Curso sobre Dessensibilização Sistemática
g
Seminário sobre Chefia, Motivação e Liderança
g
Curso de Gerência e Controle de Material
g
Seminário sobre Desenvolvimento Interpessoal
g
Grupo de Vivência em Análise Transacional
g
Treinamento sobre Administração de Estoques em Supermercados
g
Curso de Relações Humanas
g
Curso de Consultoria e Desenvolvimento Organizacional
g
Curso sobre Administração Integrada de Farmácias
g
Seminário sobre Chefia e Liderança Situacional
g
Grupo de Vivência em Bioenergética
g
Seminário sobre Eficácia Gerencial
g
Curso de Organização Sistemática e Métodos Administrativos
40 Anos 219
g
Planejamento e Controle Gerencial
g
Gestalterapia
g
Gerência e Controle de Custos
g
Seminário sobre o Desenvolvimento Psíquico da Criança
g
Seminário sobre Análise Transacional
g
Ciclo de Palestras sobre Sexualidade Humana
g
Gestão de Estoques em Farmácias e Drogarias
g
Curso de Língua Inglesa para a Indústria Turística
g
Seminário sobre Planejamento Estratégico
g
Curso de Atualização em Redação Empresarial
g
Curso de Secretária Moderna
g
As Técnicas de Dinâmica de Grupo no Treinamento de Pessoal
g
Seminário de Autodesenvolvimento para Secretárias - Curso Básico e
Grafologia
g
Seminário sobre Administração Estratégica de Benefícios
g
Técnicas de Redação e Correspondência Oficial
g
Entrevista: Processo Básico no Recrutamento e Seleção de Pessoal
g
Ética e Postura Profissional para Secretárias
g
Seminário sobre Técnicas de Elaboração de Atos Oficiais
g
Balanço social da empresa: Base de Diagnóstico e Planejamento
Estratégico de RH
g
Curso de Cultura Cinematográfica
g
Curso de Teatro
g
Curso sobre Música Popular Brasileira
g
Capacitação de Pessoal para a Área Museológica
g
Curso de Especialização Técnica em Museografia
g
Curso de Iniciação às Artes Plásticas
g
Seminário sobre Valorização do Patrimônio Histórico e Artístico
g
Seminário sobre Acervo de Cultura Popular e Museus
g
Informações Turísticas para Guias de Museus
g
Seminário: Arquivística, uma Alternativa Econômica

EXCLUSIVAMENTE CULTURAIS
ESTUDOS E PESQUISAS
g
Diagnóstico da Cultura Norte-rio-grandense
g
Textos Sócio-Econômicos sobre o Rio Grande do Norte
g
Estrutura do Eleitorado Natalense
g
Demanda de Transportes Urbanos na Cidade do Natal
220 Fundação José Augusto
g
Mercado do Pescado na Cidade do Natal e Adjacências
g
O Movimento de Natal: a Igreja e o Desenvolvimento da Comunidade
g
Substituição da Mão-de-obra nas Populações de Baixa-renda do NE
g
Crescimento Urbano da Cidade do Natal
g
Diagnóstico das Favelas de Natal
g
Pequeno Comércio da Periferia de Natal
g
Movimento Operário no Rio Grande do Norte
g
Inventário de Bens Culturais Móveis e Imóveis do RN
g
Inventário dos Bens Culturais Imóveis do RN (nova formulação)
g
Sincretismo Religioso na Grande Natal
g
Desemprego e Educação em Natal
g
Projeto CAERN: Cadastro de Usuários
g
A Política de Combate às Secas: antes e depois da SUDENE
g
Levantamento de Estudos sobre Emprego, Migração e Mão-de-obra
g
Coleção das Leis Imperiais do Rio Grande do Norte
g
Mensagens dos Presidentes do Estado do Rio Grande do Norte na
Primeira República, VIII (José Augusto Bezerra de Medeiros)
g
Bibliografia Norte-rio-grandense
g
O Integralismo no Rio Grande do Norte
g
História do BANDERN
g
História da Associação Comercial do Rio Grande do Norte
g
História das Organizações Estaduais de Saúde
g
História do Futebol Natalense
g
História do Município de Cerro-Corá
g
História do Município de Serrinha
g
História do Município de Eduardo Gomes
g
História do Município de São Gonçalo do Amarante
g
História do Município de Caicó
g
História do Município de Florânia
g
História do Município de Macaíba
g
História do Município de Santo Antônio
g
História do Município de João Câmara
g
História do Município de São José de Mipibu
g
História do Município de Goianinha
g
História do Município de Nísia Floresta
g
História do Município de Parelhas
g
História do Município de Pau dos Ferros
g
História do Município de Martins
g
História do Município de Caraúbas
40 Anos 221
g
História do Município de Carnaúba dos Dantas
g
História do Município de Pedro Avelino
g
História do Município de Angicos
g
Hábitos de Leitura em Natal
g
Vida e Obra de Café Filho
g
Sincretismo Religioso na Grande Natal (nova formulação)
g
Construção da Base Naval de Natal (história)
g
Evolução Histórica da Indústria no Rio Grande do Norte
g
Tipos e Aspectos do Rio Grande do Norte
g
História da Cidade do Natal (1941/1991)
g
Cadastro de Artistas Plásticos do RN
g
Diagnóstico e Mapeamento da Cultura Popular
g
Dramaturgos Potiguares
g
Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (Séculos XVI-XIX)
g
Memorial Nísia Floresta
g
Memorial Mons. Expedito
g
Fundação José Augusto - 40 Anos

DOCUMENTAÇÃO
g
Memória Cultural do Rio Grande do Norte
g
Circuito Integrado de Cultura da Grande Natal
g
Memória Musical do Rio Grande do Norte
g
Interação Básica em Diferentes Contextos Sociais (cinema)
g
Divulgação e Preservação dos Negros do Rosário
g
Projeto de Arte Postal
g
Documentação de Danças Folclóricas
g
Catálogo do Artesão Norte-rio-grandense
g
Cadastro dos Artistas Plásticos do Rio Grande do Norte
g
Cadastramento de Artistas e Grupos Teatrais do RN
g
Cadastro de Escritores Norte-rio-grandenses
g
Cadastro de Músicos Norte-rio-grandenses
g
Cadastro de Terreiros e Pais-de-santo da Grande Natal
g
Dinamização da Gravura em Intercâmbio Postal
g
Caderno da Educação e da Cultura Norte-rio-grandenses
g
Projeto “Sessão Especial” (cinema)
g
Circuito Popular de Cinema
g
Publicação do Catálogo do Acervo Câmara Cascudo
g
Organização Técnica do Arquivo Administrativo da FJA
g
Expansão do Circuito Popular de Cinema
222 Fundação José Augusto
g
Banco de Textos Teatrais do Rio Grande do Norte
g
Fotografias, Resgate de uma História
g
Banco de Talentos
g
Proposta para a Criação do Laboratório de Conservação e Restaura-
ção de Livros e Documentos do Fórum Municipal de Currais Novos
g
Documentação e Difusão Cultural
g
Catálogo do Acervo de Câmara Cascudo
g
Reestruturação do IHGRN: restauração do acervo fotográfico
g
Inventário do Acervo Museológico

PATRIMÔNIO HISTÓRICO
g
Plano Quadrienal de Reconstrução de Cidades Históricas
g
Levantamento Arquitetônico da Igreja de São Gonçalo do Amarante
g
Levantamento do Forte e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios
(Fernando de Noronha)
g
Agenciamento da Praça Onofre Soares (Ceará-Mirim)
g
Agenciamento da Praça e Igreja de Nossa Senhora do Desterro (Vila Flor)
g
Construção do Memorial de Touros
g
Restauração do Solar do Antunes (Ceará-Mirim)
g
Restauração do Solar do Ferreiro Torto (Macaíba)
g
Restauração da Casa-Grande do Engenho Guaporé (Ceará-Mirim)
g
Restauração da Casa-Grande de Pendências
g
Restauração da Casa de Câmara e Cadeia de Acari
g
Restauração da Casa de Câmara e Cadeia de Vila Flor
g
Restauração da Casa Paroquial de Jardim do Seridó
g
Restauração da Casa de Padre João Maria (Natal)
g
Restauração da Cadeia Pública de Ceará-Mirim
g
Restauração da Cadeia Pública de Mossoró
g
Restauração da Igreja de N. Sª do Rosário (Acari)
g
Restauração da Igreja de N. Sª do Desterro (Vila Flor)
g
Restauração da Igreja de N. Sª do Rosário dos Pretos (Natal)
g
Restauração da Igreja de Santo Antônio (Natal)
g
Restauração da Igreja de São Gonçalo do Amarante
g
Restauração da Igreja de Santana (São Luiz-MA)
g
Restauração da Igreja de Padre João Maria (Natal)
g
Restauração da Capela de N. Sª da Soledade (Macaíba)
g
Restauração da Capela de Utinga (São Gonçalo do Amarante)
g
Restauração da Capela de Nossa. Sª das Candeias, Fazenda Cunhaú,
(Canguaretama)
40 Anos 223
g
Restauração do Mercado Público de Ceará-Mirim
g
Restauração do Mercado Público de Macau
g
Restauração do Antigo Quartel-General (Natal)
g
Restauração do Antigo Palácio do Governo (Natal)
g
Restauração da Antiga Casa de Detenção de Natal
g
Restauração do Instituto Histórico e Geográfico do RN
g
Restauração do Casarão da Junqueira Aires (Natal)
g
Restauração da Capitania dos Portos (Natal)
g
Conservação e Manutenção da Igreja de Santo Antônio (Natal)
g
Conservação e Manutenção da Igreja de São Gonçalo do Amarante
g
Conservação e Manutenção do Forte dos Reis Magos
g
Conservação e Manutenção do Teatro Alberto Maranhão
g
Conservação de Monumentos Tombados do Rio Grande do Norte
g
Revitalização do Forte dos Reis Magos
g
Revitalização da “Cidade da Criança” (Lagoa de Manoel Felipe)
g
Recuperação do Forte dos Reis Magos
g
Restauração da Rampa para Instalação de Museu Histórico
g
Recuperação do Museu do Sobradinho
g
Restauração do Acervo de José Augusto
g
Restauração do Casarão de Patu
g
Restauração do Casarão dos Italianos, em Florânia
g
Iluminação e Ambientação da Concha Acústica da Cidade da Criança
g
Reestruturação do Instituto de Música Waldemar de Almeida
g
Restauração do Teatro Alberto Maranhão
g
Ampliação da Biblioteca Pública Câmara Cascudo

MUSEUS
g
Implantação do Museu de História e das Tradições Populares do Rio
Grande do Norte
g
Projeto de Instalação de Museu no Forte dos Reis Magos
g
Instalação do Museu de Arte Popular de Natal
g
Conservação de Imagens Sacras (Goianinha)
g
Renovação do Espaço Museológico da Casa Café Filho
g
Reestruturação do Museu Capitão Antas (Pedro Avelino)
g
Proposta Conceitual e Museográfica do Museu Histórico de Acari
g
Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial
g
Revitalização do Museu de Currais Novos
g
Revitalização Museográfica do Museu Casa Café Filho
g
Revitalização do Museu do Seridó
224 Fundação José Augusto
g
Revitalização Museográfica do Museu Câmara Cascudo
g
Recuperação do Gabinete de Câmara Cascudo
g
Elaboração Conceitual do Museu do Forte dos Reis Magos
g
Proposta Conceitual e Museográfica do Museu de Macaíba
g
Criação da Reserva Técnica do Museu Câmara Cascudo
g
Proposta Conceitual e Museográfica do Museu de Touros
g
Museus Comunitários, uma Alternativa para o Rio Grande do Norte
g
Museu Histórico da Aviação e da II Guerra Mundial (nova formulação)
g
Laboratório de Restauração e Conservação de Couro de Teresina-PI
g
Montagem do Museu de Arte Sacra do Maranhão
g
Projeto “Guia-Mirim”
g
O Pré-Escolar nos Museus
g
Implantação de Museus Comunitários
g
Inventário do Acervo Museológico
g
Inventário da Arte Sacra Potiguar

BIBLIOTECA
g
Projeto de Cooperação “Corpo da Paz”
g
Manutenção do Sistema Estadual de Bibliotecas
g
Treinamento de Auxiliares de Biblioteca
g
Projeto “Bancas Culturais”
g
Instalação de Caixas-Estante
g
Projeto “Nossa Biblioteca”
g
Implementação da Coordenadoria do Sistema Estadual de Bibliotecas
g
Projeto “O Autor na Biblioteca”
g
Projeto “O Escritor na Cidade”
g
Projeto “Vivendo a Leitura”
g
Projeto “Biblioteca-Pólo”

DIFUSÃO CULTURAL
g
Revitalização e Expansão: Implantação de Centros Culturais
g
Artes Plásticas do Rio Grande do Norte
g
Centro de Produção e Comercialização do Artesanato do Rio Gran-
de do Norte
g
Encontro do Compositor Potiguar
g
Plano de Incentivo à Arte Musical
g
Festival de Música Camerística
g
Concerto na Praia
g
Música, Som e Luz
40 Anos 225
g
Projeto “Seis da Tarde” (música)
g
Festival de Emboladores do Rio Grande do Norte
g
Projeto Ademilde Fonseca
g
Violando e Embolando
g
I Ciclo de Dança de Natal
g
Interiorização do Teatro e da Dança
g
Implantação do Circo da Cultura
g
Projeto Cine-Teatro
g
Encontro de Emboladores do Rio Grande do Norte
g
Teatro no Circo da Cultura
g
Semana Potiguar do Teatro Amador
g
Encontro Nacional sobre a Poesia Popular Brasileira
g
Projeto Cultural-Educativo para o Circo da Cultura
g
Oficina de Teatro (direção, cenografia e interpretação)
g
Projeto Cinema Volante
g
I Festival Nacional de Teatro de Rua
g
Projeto Paralelo 16
g
Circuito Teatral da Grande Natal
g
Projeto Escolinha do Circo
g
Mostra do Teatro de Currais Novos
g
Ciclo de Palestras sobre a Presença do Nordeste no Cinema Nacional
g
Edital de Auxílio e Montagem de Peças Teatrais
g
Projeto “O Autor Vai à Escola” (palestras e debates)
g
Circuito de Interiorização das Artes Cênicas
g
Projeto Quadrinhos Potiguares
g
Oficinas Moduladas para Criação de uma Escola de Teatro
g
Curso de Roteirização de Desenho na História em Quadrinhos
g
Encontro de Mamulengos do Nordeste
g
História do Rio Grande do Norte em Quadrinhos
g
Recuperação e Fortalecimento do Teatro de Bonecos do Rio Grande do
Norte
g
Estudos Sociais: Comunicação e Expressão em Quadrinhos
g
Apoio ao Mamulengo Potiguar
g
Programa de Incentivo ao Folclore
g
Semana da Dramaturgia Potiguar
g
Encontro de Folclore do Rio Grande do Norte
g
Semana da Dramaturgia Nordestina
g
Preservação de Grupos Folclóricos
g
Revista Sobre o Teatro Nordestino
226 Fundação José Augusto
g
Projeto Feiras Culturais
g
Projeto de Editoração: Coleção Folclore Potiguar
g
Projeto de Editoração: Coleção História do Rio Grande do Norte
g
Projeto de Editoração: Coleção Ficção
g
Projeto de Editoração: Coleção de Literatura de Cordel
g
Projeto de Editoração: Clássicos da Seca
g
Projeto de Editoração: Coleção Biografia
g
Projeto de Editoração: Cadernos Literários
g
Projeto de Editoração: Coleção Ensaios - crítica e pesquisa
g
Projeto de Editoração: Coleção Poética
g
Projeto de Editoração: Histórias Infantis
g
Exposição de Fotografias: “Natal Era Assim”
g
Criação do jornal “O Galo”
g
Reestruturação e Animação Cultural da “Cidade da Criança”
g
Projeto Feiras Culturais (nova formulação)
g
Animação Cultural junto às Populações Confinadas
g
Arte e Educação na Fundação José Augusto
g
Dinamização da Gravura através do Intercâmbio Postal
g
Projeto Ruth Aklander (Interiorização da Ação Cultural)
g
Restauração e Dinamização dos Grupos Folclóricos do Rio Grande
do Norte
g
Implantação do Instituto de Artes Plásticas Cândido Portinari
g
Literatura Potiguar: Cordel
g
Revitalização e Apoio ao Folclore Potiguar
g
Restauração da Capela de São José (Macaíba)
g
Plano Editorial (1993)
g
Incentivo à Produção Cênica do Rio Grande do Norte
g
Dinamização Cultural da Cidade da Criança
g
Revitalização e Apoio ao Folclore Potiguar
g
VIII Festival de Cinema de Natal
g
Incentivo à Produção Musical do Rio Grande do Norte
g
Projeto Renascer (bandas de música)
g
Projeto “Seis e Meia”
g
Encontro de Cultura Popular do Rio Grande do Norte
g
Encontro de Emboladores do Rio Grande do Norte
g
Projeto “Chico Traíra”
g
Um Presente de Natal (auto natalino)
g
Implantação de “Casas de Cultura Popular”

40 Anos 227
228 Fundação José Augusto
SEXTA PARTE

INFORMAÇÕES SUPLEMENTARES

Referências históricas sobre o prédio-sede da Fundação ........................... 231


Lei Câmara Cascudo ............................................................................................................................................ 234
Depoimentos de ex-funcionários ........................................................................................................... 237
Maria Eliene Ferreira de Souza ................................................................................................. 238
Maria Aparecida Feitosa Fernandes ............................................................................. 240
José Camilo de Barros ............................................................................................................................... 241
Terezinha Dantas Gadelha ............................................................................................................... 242
Maria Nazareth de Freitas Barros ......................................................................................... 243
Prognósticos dos ex-presidentes ...................................................................................................... 244
Interiorização da ação cultural ........................................................................................................... 245
Comentário final ............................................................................................................................................................. 249

40 Anos 229
230 Fundação José Augusto
Referências históricas sobre
o prédio-sede da Fundação
É bastante razoável supor que tudo (ou quase tudo) o que se fez, e
que tenha alguma importância (histórica, social, política, cultural, econômica,
jurídica, urbanística, etc.) esteja, de forma mais ou menos detalhada,
registrado ou pelo menos anotado em algum lugar. Para isso existem
cartórios, arquivos, bibliotecas, centros de processamento de dados. Tais
informes podem estar transpostos, segundo sua natureza, em atas, certidões,
escrituras, cadastros, relatórios, correspondências, crônicas e textos
memorialísticos, entre outros, contendo, assim, parcelas consideráveis dos
fatos e feitos da comunidade a que pertencem. Contudo, não havendo a
sistemática organização de tais arquivos, se os milhares – dezenas de
milhares! – de referências estão dispersos, mesmo parcialmente dispersos,
sem meios adequados e eficientes a serem prontamente localizados, em
termos objetivos não se tem a informação.
A propósito, vejamos o que ocorreu há cerca de trinta anos, em troca
de correspondência entre duas insuspeitas personalidades do Estado.
Em 1972 a Fundação José Augusto publicou a obra Uma História da
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte, escrita por Luís da Câmara
Cascudo. A carta do Deputado Moacyr Duarte (1971), então presidente
daquela instituição, ao historiador propondo o trabalho, é verdadeiro libelo
ao aparente descaso com que era tratado o acervo da Casa. Não apontou
responsáveis, é certo, pois a sua crítica não se dirigia aos antecessores,
especificamente, antes constituindo um alerta às novas gerações de
parlamentares e à própria comunidade: tratava-se de um traço cultural, ou
40 Anos 231
seja, aquele “descaso” decorria, sobretudo, da falta de uma consciência crítica
mais apurada por parte da própria sociedade.
A certa altura de sua correspondência, diz o Deputado: Há nesta
Assembléia, um abismo entre o passado e o presente... verifiquei que a Assembléia
Legislativa não possui sequer os anais e os apontamentos que testemunhem, perante a
Crônica dos tempos, a sua existência e a sua sobrevivência (op. cit., p. XI). Mais
adiante, na mesma página: (...) jamais alguém preocupou-se em corporificar, em
letra de forma, a história do Poder Legislativo norte-rio-grandense. Há quando muito,
na tradição oral, na reminiscência e na saudade de uns, na lembrança e na evocação
de outros, o reconto dos fatos, episódios, debates, polêmicas, apartes e discursos que
assinalaram uma época, marcaram um período ou simbolizaram um estado de espírito
coletivo ou comunitário. Segue o texto reiterando a necessidade de reconstituir
os caminhos da Assembléia Legislativa.
Declara Cascudo, em resposta, que em 1953 concluíra estudo sobre
a Assembléia (...) pela primeira vez reunindo a esparsa e tumultuosa documentação,
de arquivo e jornais, testificando a vida coletiva da entidade desde fevereiro de 1835
(idem, p. XIII).(31) Acrescenta que naquele mesmo ano fizera entrega solene
dos originais, os quais lhe foram devolvidos posteriormente porque um
funcionário benemérito temia o inevitável desaparecimento. Adianta, ainda, que
quatro anos antes tentara editar seu trabalho, mas não encontrara apoio:
Os originais ficaram em palácio do governo, potencialmente perdidos e sem interesse
pelo meu esforço. Enfim, aceitava o encargo mas com a condição de recuperar
seus originais, o que evidentemente conseguiu.
O livro referido acima, pois, é uma revisão daqueles originais de
1953 com uma reestruturação dos capítulos, conforme assinala o próprio
autor.
Das duas correspondências extrai-se, em síntese, as informações de que
(a) o acervo da Assembléia estava, então, disperso e desorganizado; (b) o
estudo de Cascudo, de 1953, fora elaborado através da análise de esparsa e
tumultuosa documentação e, (c) o trabalho de 1972, por decorrência, consistindo
numa revisão do anterior, provavelmente se ressente da profundidade que o
mestre lhe daria, fossem outras as condições de organização dos arquivos da
Assembléia.
Há outros exemplos históricos, claro. Que não tenhamos memória; nunca
se diga que não temos história! – disse Djalma Marinho em depoimento ao
programa Memória Viva, da UFRN, o que de certa forma vem ao encontro
do raciocínio acima. Os fatos importantes desta comunidade certamente
estão registrados nos escaninhos das repartições públicas, conquanto nem
_________________________
(31)
A Assembléia Legislativa da Província do Rio Grande do Norte foi instalada em 02.02.1835.

232 Fundação José Augusto


sempre seja possível o seu acesso justamente pela ausência de uma criteriosa
e funcional classificação e ordenação dos respectivos documentos.
Dissemos, alhures, das extremas dificuldades com que não poucas vezes
nos deparamos, no curso deste trabalho, exigindo esforço suplementar dos
pesquisadores que, com dedicação e tenacidade, a cada busca frustrada recorriam
a outras prováveis fontes, na obstinada procura do fato aferido na indiscutível
verdade documental. Mesmo assim ocorreu para a confecção do presente item:
aparentemente das mais simples e elementares, informações sobre a origem do
prédio-sede da Entidade tornaram-se, de repente, talvez as mais dificultosas.
Com efeito, as únicas referências disponíveis eram as de que, nele, que
pertencera à Associação dos Professores, funcionara a Escola Normal de Natal,
o Atheneu feminino e a Faculdade de Filosofia. Não tínhamos sequer as datas
daquelas ocupações, quando pretendíamos informes bem mais conseqüentes e
consistentes: quando foi construído, quem o construiu e com que fim o fez,
como eram suas linhas originais – se é que foram alteradas –, se há algum elemento
histórico em suas raízes, etc. Nada. Nenhuma luz sobre tais questionamentos. E
não só na Fundação, onde consultamos os setores pertinentes, inclusive a
Biblioteca Pública Câmara Cascudo; também não as tem o Atheneu, o Instituto
Histórico e Geográfico nem, tampouco, a Biblioteca da Secretaria do Meio
Ambiente e Urbanismo. De indicação em indicação fomos encontrá-las, por
fim, num livro publicado pela Companhia Editora do Rio Grande do Norte-
CERN, em 1985, História da Associação dos Professores do Rio Grande
do Norte, de autoria do Prof. José Haroldo Teixeira Duarte.
Essa Associação foi fundada a 04 de dezembro de 1920 por algumas ilustres
figuras da área educacional de então, dentre as quais os professores Amphilóquio
Carlos Soares da Câmara, Luís Antônio Ferreira Souto dos Santos Lima, Francisco
Ivo Cavalcanti, Luís Correia Soares de Araújo e Clementino Hermógenes da Silva
Câmara,(32) os quais definiram como uma de suas metas prioritárias a de instalar-se
em sede própria, o que aliás costuma ocorrer com qualquer organização que se
pretenda duradoura. Não demoraria muito, considerando as dificuldades inerentes
a tão ambicioso projeto: pouco mais que dois anos.
Precisamente a 1º. de maio de 1923 estabelecia-se na Rua Jundiaí, 641,
bairro do Tirol. Na mesma data e local foi inaugurado o Grupo Escolar
“Antônio de Souza” (ver encarte a seguir), provavelmente em homenagem ao
Governador do Estado à época, Antônio José de Melo e Souza, também
conhecido como Polycarpo Feitosa, pseudônimo que utilizava em suas peças
literárias, e que dera amplo apoio ao empreendimento.
_________________________
(32)
Todos esses nomes, inclusive o de Polycarpo Feitosa, citado mais adiante, constituem verbetes no título
Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (Século XVI a XIX), CEPEJUL/FJA, 1999.

40 Anos 233
Anos mais tarde (janeiro de 1937), o prédio foi alugado ao Governo
Estadual para instalar, em suas dependências, a Escola Normal de Natal, o que
perduraria até meados da década de cinqüenta. Em algum momento, após 1937
– provavelmente no início dos anos 40 –, no mesmo prédio passou a funcionar
simultaneamente o Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense, secção
feminina. Quanto à Faculdade de Filosofia, também inaugurada no mesmo
imóvel, foi criada pela resolução nº. 1, de 12 de março de 1955, mas só iniciaria
as atividades dois anos mais tarde, em março de 1957.
No início dos anos sessenta a APRN atravessava séria crise financeira,
inclusive correndo o risco de ter seu patrimônio desapropriado, tal o sistemático
acúmulo de dívidas junto a fornecedores diversos e, até, ao Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Comerciários-IAPC. O então Governador do
Estado, Aluízio Alves – conforme ele mesmo menciona em seu depoimento –
, propôs saldar os débitos e, concomitantemente, a sua aquisição; o Governo
criaria uma Fundação, (...) a fim de dirigir e assumir a responsabilidade pela
Faculdade de Filosofia, ficando assegurada a permanência dos professores em suas
respectivas cadeiras (DUARTE, p. 122).
Em linhas gerais, essas são as informações disponíveis sobre o prédio-
sede da Fundação José Augusto, o qual, como se vê, sempre teve uma
destinação cultural.

Lei Câmara Cascudo


Dadas as restrições orçamentárias nas três esferas do Poder, as atividades culturais
– expressamente as manifestações artísticas em todos os níveis – gestaram, no decorrer
dos anos 90 sobretudo, idéias pertinentes à participação da iniciativa privada nesse
processo, a partir do abatimento de determinadas frações do imposto de renda devido.
Dentro desse espírito o Poder Legislativo do Estado do Rio Grande do
Norte decretou, ao fim daquela década, e o Governador sancionou a Lei nº.
7.799, de 30 de dezembro de 1999, a qual “(...) Dispõe sobre a concessão de
incentivos fiscais para financiamento de projetos culturais no âmbito do Estado
do Rio Grande do Norte, e dá outras providências”.
O Art. 3º. da citada lei estabelece, outrossim, a criação da Comissão
Estadual de Cultura-CEC, destinada ao gerenciamento do programa instituído,
vinculando-a à Fundação José Augusto, e determina que a presidência da
referida Comissão seja exercida pelo Diretor-Geral da Fundação.
Sem constituir, portanto, um setor desta Entidade é, como vimos, mais
um instrumento a ela vinculado que vem em apoio ao enfrentamento das
profundas lacunas ainda existentes no estímulo aos produtores culturais.
234 Fundação José Augusto
R T E
C A
EN

40 Anos 235
236 Fundação José Augusto
Os objetivos desta lei compreendem, basicamente, duas ordens de
intervenção, a saber:
(a) promover o incentivo à pesquisa, ao estudo, à edição de obras e à
produção das atividades artístico-culturais nas áreas das artes cênicas,
plásticas e gráficas; cinema e vídeo; fotografia; literatura; música; folclore
e tradições populares; museus, bibliotecas e arquivos;
(b) promover a aquisição, manutenção, conservação, restauração,
produção e construção de bens móveis e imóveis de relevante interesse
artístico, histórico e cultural.

Efetivamente, seu funcionamento inicia-se no ano 2.000 (V. data da


promulgação da lei). Ano-a-ano, neste curto período, percebe-se uma ligeira
evolução no entendimento dos agentes envolvidos (produtores culturais,
empresários e responsáveis pela intermediação), face ao inusitado da iniciativa.
No primeiro momento, porém, ressaltavam um profundo desconhecimento
por parte de uns, desconfiança dos empresários e despreparo dos agentes
captadores de recursos, tais as reações ao aparentemente complexo mecanismo
financiador da cultura.
Consolidando-se pouco a pouco, esta lei veio para engrandecer o cenário
cultural do Estado, uma vez consideremos os seus propósitos de melhorar a
qualidade do produto cultural e de aumentar a rentabilidade dos produtores,
conseqüentemente permitindo-lhes um maior alcance em sua prestação de
serviços, de certa forma – no artesanato, por exemplo – abrangendo a proposta
do “lazer cultural” ofertada pela chamada indústria do turismo, hoje aspecto
exponencial na economia do Rio Grande do Norte.

Depoimentos de ex-Funcionários
Em qualquer dos setores que compõem a Fundação José Augusto
encontraríamos personagens que, seguramente, enriqueceriam este trabalho.
Pelo que os conhecemos o fariam com a lembrança de fatos expressivos que
por certo permeiam e ilustram sua trajetória funcional e, neles estruturados,
com a emissão de opiniões e pontos de vista sobre o que é e o que representa
este Órgão no contexto cultural e humano da cidade.
Não estamos nos referindo a estratos específicos, a conjuntos
segmentados de servidores cuja performance profissional, por exemplo,
os tenham eventualmente projetado de forma singular. Não operamos, aqui,
no sentido de grupá-los segundo a importância das funções que exerceram,
40 Anos 237
do seu nível intelectual ou idiossincrásico, mas, sim, apenas enquanto
indivíduos pensantes, criaturas capazes de ver, ouvir e sentir a realidade
que os cerca e de emitir, face a tal percepção, conceitos, juízos de valor a
respeito.
Alguns, fluentes, letrados; outros, humildes; todos, não obstante,
indistintamente, cheios de sensibilidade, ávidos a dar seu testemunho e a sua
contribuição para a obra comum de renovada construção – pedra a pedra, até
a pedra angular – desta Entidade. São eles valorosos tipos humanos, “grandes
figuras”, como diria Siminéa, com os quais houve por bem o acaso agraciar-
nos com a convivência diária.
Gostaríamos de contar com a palavra de cada um deles; de dispor de
suas impressões e comentários. Não sendo possível, contudo, dada a
exigüidade de espaço e de tempo, pretendemos homenageá-los e a todo o
corpo funcional transcrevendo resumos de depoimentos que nos foram
gentilmente prestados por alguns dos que o integram. É com profundo
respeito que falam sobre a Fundação, nisso especialmente há unanimidade,
e se fluem com um certo sabor de nostalgia pelos meandros do passado,
não escondem, no discurso do presente, a inquebrantável fé e convicção
no futuro.
Aliás, é notável como as pessoas se apegam a esta Casa. Certamente este
fenômeno ocorre com mais intensidade entre os servidores antigos, todavia é
bastante perceptível esta sensação em outros escalões, até mesmo por parte de
quem aqui passa um curto período. É como diz Diógenes: A Fundação parece
que tem um visgo, que pega as pessoas e essas se apaixonam e a ela se dedicam, de
corpo e alma.
Vejamos o que alguns dos nossos amigos nos têm a dizer (esclarecemos
que estes depoimentos nos foram concedidos em 1991).

Maria Eliene Ferreira de Souza


Eliene é a mais antiga funcionária da Fundação José Augusto, aqui
chegando em abril de 1963. Foi ela quem “preparou” o gabinete para a posse
do Dr. Hélio Galvão, o primeiro presidente.
Corroborando o que dissemos no início a respeito da importância
assumida pela ação educacional, nos primeiros anos de existência da Fundação,
diz que, (...) logo em seguida (à posse do presidente) foram ativadas as Faculdades de
Filosofia e Jornalismo e, dois anos depois, criada a de Sociologia. Comenta, sobre o
assunto: Apesar das dificuldades, o Dr. Hélio tinha acesso ao Governador Aluízio
Alves e conseguiu fazer fluir o trabalho, resultando numa verdadeira consagração
educacional para a cidade.
238 Fundação José Augusto
Sem descer a detalhes sobre as causas que originaram o afastamento do
Dr. Hélio Galvão da Presidência da Fundação José Augusto, menciona
sutilmente o fato: isso não evitou, contudo, que o Dr. Hélio entrasse em rota de colisão
com determinações superiores, fazendo-o afastar-se da Presidência.
Com a saída do Dr. Hélio Galvão assumiria o cargo a Junta Governativa
de que tratamos em outra parte, questão assim abordada por Eliene: Foi designada
uma Junta Governativa (para dirigir a Fundação José Augusto) composta por Paulo
Viveiros, presidente, Ney Gurgel e Fernando Gomes, depois entrando Bianor Medeiros
e Jurandyr Navarro.
Naquele tempo, conta-nos Eliene, (...) todas as atividades desenvolvidas pela
Instituição deveriam constar em uma ata, lavrada mensalmente e enviada ao Quartel General.
Ela, na condição de secretária, era a portadora desse e de outros documentos
encaminhados àquela unidade militar.(33)
Veio, depois, Ilma Melo, que (...) procedia de modo muito particular e fez
brilhante administração, diz Eliene sem explicar tais peculiaridades, resumindo-
se a comentar que, dela, guarda boas recordações.
Afora essa breve referência à Prof. Ilma Melo, Eliene não destaca com
especialidade nenhum presidente, preferindo dizer que todos eles foram bons e
contribuíram para o engrandecimento da educação e da cultura potiguar, incluindo aí
os que, à sua época, lutaram para a transferência das Faculdades para a UFRN,
ampliando as possibilidades de sucesso de todos eles.
Conta a entrevistada que assumiu a Coordenadoria de Pessoal da
Fundação na Administração do então Governador Tarcísio Maia,(34) (...) por
conhecer o serviço e ser dedicada ao trabalho, faz questão de frisar; detalhando logo
em seguida: Eu conhecia protocolo, contabilidade, administração pública e as regras básicas
para levar a Coordenação à frente. Ia sempre à Secretaria da Fazenda, à Receita Federal,
ao Ministério do Trabalho e ao então INPS para discutir, conciliar e aprender cada vez
mais sobre leis, processos e decisões.
Mantendo-se isenta e imparcial em suas posições, sempre muito claras, é
considerada, com justiça, uma das funcionárias mais eficientes da Instituição.
Aponta Cidinha, Coordenadora de Finanças da Fundação, uma de suas amigas
mais caras; juntas, trabalharam para o sucesso da Entidade.
Relembra com saudade a Fundação dos primeiros tempos, tudo
mais simples e tranqüilo, o edifício-sede era ainda o original, com uma
passarela na entrada, uma pequena rampa, a Sala dos Grandes Atos.
Depois, os sucessivos presidentes foram aumentando os espaços,
_________________________
Como sabemos, o País vivia àquela época os primeiros anos do regime militar imposto pela Revolução de
(33)

31.03.64.
(34)
O Dr. Tarcísio de Vasconcelos Maia foi Governador do Estado do Rio Grande do Norte de 15 de março
de 1975 a 15 de março de 1979.

40 Anos 239
acrescentando-lhe a Gráfica Manimbu, reconstruindo e conservando um patrimônio
que, embora digno de elogios, infelizmente necessita urgentes reformas.
Tem um grande apreço pela Fundação mas, embora sem rancores, guarda
algumas lembranças não muito agradáveis. Em todo caso, conclui, valeu a pena.

Maria Aparecida Feitosa Fernandes


Há vinte e oito anos – a Fundação tinha apenas dois de inaugurada –, o
clima entre os funcionários era de manifesta amizade e espírito de grupo.
Contribuía para isso alguns fatores aparentemente fortuitos mas, na verdade,
fortemente associativos.
Em primeiro lugar, o Órgão não era tão departamentado quanto hoje, o
que pressupõe uma maior aproximação física entre os seus servidores;
inversamente, a ampliação setorial da atualidade envolve nada menos que onze
espaços físicos diversos na capital, afora um sem-número de dependências
ocupadas na sede, e dois no interior do Estado.(35)
Ademais, justamente por ter um quadro de pessoal bastante reduzido,
havia transporte para todos (uma Kombi apanhava-os em casa e fazia o percurso
inverso ao final do expediente), fornecimento de lanches e de fardamento,
“inclusive sapatos e bolsas”. Essas coisas nos foram contadas por Cidinha
(Maria Aparecida), que aqui chegou naquela época, na condição de uma simples
datilógrafa.
Cidinha é um exemplo daquelas pessoas que, pela vontade fortalecida na
fé, pela persistência, conseguiram se afirmar profissionalmente. Com muita
dedicação ao trabalho e esforço para aprender técnicas do serviço contábil,
ela tornar-se-ia uma verdadeira expert no assunto, dominando-o como poucos.
Dá-nos um exemplo de sua luta e de sua determinação: Em certo período, não
tínhamos máquina de calcular e eu preparei a folha de pagamento do 13º. salário dos professores
da Faculdade de Filosofia à mão. Isso é admirável. E não foi, apenas, num momento
crucial; em várias oportunidades repetiram-se iniciativas do gênero.
Quando Sanderson Negreiros assumiu a Presidência, em meados da
década de 70, criou uma chefia para o Setor Financeiro, hoje uma
coordenadoria; desde então, Cidinha a ocupa (excetuando-se o período de
Administração Woden Madruga, quando foi remanejada para a Coordenadoria
de Serviços Gerais). Diz ela, com emoção:
Assumir a Chefia do Setor Financeiro foi o momento mais gratificante de minha vida
_________________________
O prédio-sede (inclusive a Gráfica Manimbu), o Memorial Câmara Cascudo, as Bibliotecas Câmara
(35)

Cascudo, Zila Mamede e Myriam Coeli, a Escolinha de Arte Cândido Portinari, o Instituto de Música
Waldemar de Almeida, o Teatro Alberto Maranhão e os museus Café Filho, de Arte Sacra do Rio
Grande do Norte e do Forte dos Reis Magos. No Interior, os Museus Capitão Antas, em Pedro Avelino,
e do Solar do Ferreiro Torto, em Macaíba.

240 Fundação José Augusto


funcional, pois ascendia de uma simples mecanógrafa pelo interesse e competência, mesmo sem
curso superior, e complementa que sua formação se deu procurando informações em
órgãos de direito, como a Secretaria da Fazenda e o Tribunal de Contas do Estado.
Sobre os presidentes, destaca Franco Jasiello pelo amor e dedicação à Fundação
José Augusto, Cláudio Emerenciano por haver melhorado os níveis salariais dos
funcionários e Valério Mesquita pela firmação de convênios, editoração e restauração de
monumentos, isto é, pelo volume de atividades realizadas. Cita uma
particularidade curiosa: na época de Franco Jasiello eu o substituía em suas ausências,
autorizada por portaria.
A certa altura de seu depoimento Cidinha fala do valor afetivo de sua
relação com a Fundação José Augusto: O meu amor pela Fundação se foi expandindo
à medida em que o tempo passava e aumentavam as responsabilidades. Passei a considerar
o ambiente de trabalho como uma extensão de minha casa, cuidando dos equipamentos que
adquirimos com tanto sacrifício através de convênios. Passei, inclusive, noites inteiras
trabalhando em balanços e relatórios que eu mesma datilografava.
Após pequena pausa, prossegue:
A minha dedicação e amor pela Fundação são tamanhos que não gozo férias. Quando
estava de licença gestante da minha terceira filha, com apenas quinze dias, retornei ao serviço
atendendo o pedido do Presidente Sanderson Negreiros, embora saindo mais cedo para
amamentar a criança.
Não é preciso dizer mais nada, a não ser que tem o nosso respeito e a
nossa mais profunda admiração.

José Camilo de Barros


No dia 1º. de fevereiro de 1965 Camilo chegou à Fundação com uma
função definida: vigia. A vaga, no entanto, sumira; o antigo titular desistira de
sair e o Dr. Hélio Galvão, que convidara o entrevistado, deslocou-o para a
função de contínuo. Nela permaneceria até 1970, quando assumiu o
Almoxarifado, vinculado ao Setor de Serviços Gerais.
Confirmando o que nos disseram os outros entrevistados, Camilo
comenta sobre o transporte gratuito dos funcionários, face ao reduzido quadro
de pessoal existente.
Sobre o trabalho, relembra: Os serviços foram aumentando e, antes de terminar a
década de 70, havia muito material para se cuidar. A Fundação tinha uma frota de oito veículos,
dentre os quais uma caminhonete (para o transporte de mercadorias próprias à Fundação
ou à Gráfica Manimbu); esta chegava cheia de bobinas de papel, folhas e maços, necessitando
da ajuda de todos (para descarregá-la). E não se resumia a uma viagem só; eram três ou
quatro. Isso dá a idéia de como havia material a nosso dispor, ao contrário de hoje, que pouco
recebo, embora os serviços e as responsabilidades tenham se multiplicado.
40 Anos 241
Vivenciou momentos folclóricos nos tempos duros de restrição dos
direitos de cidadania, quando soldados rondavam a Fundação – por ser
órgão educacional – combatendo alguns estudantes que se manifestavam
contrários à repressão. Lembra-se, inclusive, de uma tarde na qual eles
chegaram com baionetas, fustigando os garotos e criando celeuma
inimaginável.
Fala bem de todos os presidentes, sem destacar qualquer deles, pois
todos cumpriram sua missão, de uma forma ou de outra, mas guarda boas
recordações do pintor Newton Navarro, quando diretor da Escolinha
Cândido Portinari.
Ele e seus colegas sempre viveram bem, entre política e baionetas,
trabalhando, suprindo, fazendo funcionar um organismo que nasceu para ser útil
à sociedade, à educação e à cultura do Rio Grande do Norte. Não está arrependido do
que foi e do que fez; chegando sua aposentadoria, jamais deixará de vir aqui.
Ama demais a Fundação.

Terezinha Dantas Gadelha


Terezinha chegou à Fundação em fevereiro de 1966, nomeada pelo então
Presidente Dr. Hélio Galvão, para trabalhar como datilógrafa no Museu do
“Sobradinho”.(36) Lá passou três dias, sendo transferida para o Instituto Juvenal
Lamartine de Pesquisas Sociais, cujas atribuições incluía administrar a
Faculdade de Sociologia e Política. Sua nova função foi a de secretariar a direção
da Faculdade, a cargo do Dr. José Augusto Pérez. Foi Terezinha quem fez a
matrícula dos primeiros alunos daquela instituição de ensino.
Posteriormente, com a posse da nova diretora da Faculdade – Flórida
Accioly, socióloga pernambucana –, foram executadas várias pesquisas, dentre
as quais Terezinha destaca uma sobre alimentação, outra sobre o mercado do
pescado e as indústrias do Estado, afora importante investigação sobre o
mercado de trabalho. Terezinha, que também foi secretária na nova
administração, diz que, para desenvolver aqueles estudos, o Instituto contava
com uma dinâmica equipe de técnicos especializados.
Todas essas pesquisas canalizavam recursos para a Fundação. Foi uma
época de bastante trabalho – relembra.
Quando a Faculdade de Sociologia foi agregada à UFRN e o
Instituto desativado, alguns funcionários foram demitidos mas Terezinha,
convidada a permanecer pelo então Presidente Sanderson Negreiros,
aceitou. Lotada no almoxarifado, organizou o sistema de entrada e saída
_________________________
A entrevistada está se referindo ao Museu Café Filho, também chamado de Museu do “Sobradinho” por
(36)

ser o primeiro prédio assobradado de Natal; a configuração estética do teto dessa edificação também lhe
confere a denominação de “Véu de Noiva”.

242 Fundação José Augusto


de material. Em seguida, passou a integrar o quadro de servidores do Setor
de Serviços Gerais, auxiliando o seu responsável, Murilo de Brito.
Do Setor de Serviços Gerais, Terezinha foi trabalhar no Setor Financeiro,
com Cidinha, permanecendo ali até 1980, quando solicita ao Presidente Cláudio
Emerenciano seu retorno à área de pesquisas (àquela época o Instituto havia
sido transformado em Centro, o CEPEJUL) e é prontamente atendida. Desde
então encontra-se neste setor, tendo a oportunidade de realizar vários
trabalhos, dentre os quais uma pesquisa sobre a vida e obra de José Augusto
Bezerra de Medeiros, Patrono da Entidade, e a coordenação do levantamento
de usuários da CAERN, afora haver secretariado todos os diretores do Centro
desde aquele ano.
Segundo Terezinha, a convivência entre o Instituto de Pesquisas e a
Faculdade de Sociologia era a melhor possível, tanto do ponto de vista
administrativo quanto funcional, a ponto de trabalhos de tabulação serem feitos
em sua casa, nos finais de semana, por um grupo de trabalho por ela constituído.
Seu curso de Ciências Sociais, iniciado na Fundação José Augusto e concluído
na UFRN, teve, seguramente, influência do trabalho que desenvolvia no antigo
Instituto.
Indagada sobre os funcionários da Fundação naquela época, diz que,
com raras exceções, desenvolviam suas atividades com amor, destacando dentre eles
Eliene, Cidinha e Lenício Queiroga. Era uma equipe realmente dedicada.
Quanto aos presidentes tem admiração e apreço por todos, mas destaca
o Prof. Cláudio Emerenciano por duas razões: primeira, por tê-lo conhecido
desde a infância; depois, por entender que foi o presidente que mais se
preocupou com os servidores. Hoje temos – diz ela –, na pessoa do Dr. Iaperi, um
homem dinâmico, conhecedor profundo das necessidades e enfoques da cultura norte-rio-
grandense, além de ser muito bem relacionado com os funcionários.
Encerrando, Terezinha fala do seu amor pela Fundação e esse é o traço
dominante nesta série de depoimentos, conforme dizíamos páginas atrás.
Observa que foi através dela que criou e educou os seus filhos, razão pela qual
a tem como uma extensão de sua própria casa, de sua família. E conclui: Que
Deus abençoe a Fundação...

Maria Nazareth de Freitas Barros


D. Nazareth é uma das mais antigas servidoras em exercício no Serviço
Público Estadual. Começou a trabalhar no Colégio Estadual do Atheneu
Norte-rio-grandense em 1945, quando funcionava na Avenida Junqueira Aires,
próximo ao Palácio Felipe Camarão, sendo transferida em 1954 para o então
recém-inaugurado prédio da Rua Campos Sales, em Petrópolis. Seus olhos
40 Anos 243
brilham quando fala daquele período de sua vida, de seu carinho por aquele
educandário.
Em 1966 veio para a Fundação José Augusto, a princípio sendo lotada
na secretaria da Faculdade de Jornalismo, depois sendo incorporada ao Setor
de Pessoal da Fundação, onde se encontra até hoje. São, portanto, 48 anos de
atividade plena, dos quais 27 dedicados a esta instituição, e este fato, se
pressupõe um “receio” implícito da aposentadoria, não esconde,
explicitamente, um notável exemplo de apego ao trabalho.
Com efeito, ela é responsável pelos serviços inerentes às carteiras do
PIS, PASEP, RAIS, certidões e assemelhados, desenvolvendo suas tarefas com
criteriosa atenção e esmero.
Aqui chegou trazida pela diretora do Curso de Jornalismo, à época,
Profª Ivone Barbalho, e desde os primeiros dias exerceu múltiplas atividades,
ganhando a simpatia dos estudantes, professores e demais funcionários. Um
registro curioso: foi d. Nazareth quem assinou o primeiro diploma expedido
por aquela Faculdade, na condição de diretora substituta, entregue ao
acadêmico Geraldo Queiroz, hoje (1991) Reitor da UFRN.
Não aponta qualquer funcionário como particularmente destacado e
considera-se amiga de todos, mas por diversas vezes cita o nome de Auxiliadora
com uma ponta de indisfarçável admiração. Com relação aos presidentes, a
princípio se mostra irredutível, afirmando reiteradas vezes que todos foram
igualmente importantes. À insistência de Afrânio e Albano, que a entrevistaram,
diz que o Dr. Hélio Galvão distinguiu-se pelo dinamismo e que era uma ótima
pessoa para os funcionários; o Dr. Paulo Viveiros se mostrou extremamente exigente e
Cláudio Emerenciano, excelente presidente, destacando-se por haver realizado
uma notável administração, com a criação de Centros, reestruturação do Órgão e
valorização do funcionalismo.
Ressaltou o amor, a dedicação, o gostar desta Casa, visto que houve
oportunidade de transferir-me para a Universidade junto com a Faculdade de Jornalismo,
mas optei por permanecer: já estava apegada a esta Fundação de Cultura, finalizou.

Prognósticos dos ex-Presidentes


Como vimos em itens anteriores, há muita unidade de pensamento quanto
à importância do órgão e à relevância do papel que desempenha no âmbito
cultural do Rio Grande do Norte.
Segundo os seus depoimentos, é unânime a convicção de que, em que
pese os obstáculos e dificuldades com que se tem havido, notadamente no
setor econômico-financeiro (e não só pela conjuntura crítica que atravessa a
244 Fundação José Augusto
sociedade mas, inclusive, pela ausência nos planos governamentais da cultura
como uma das prioridades no processo de desenvolvimento), a Fundação
José Augusto tem demonstrado sensível capacidade para a execução de uma
política cultural efetiva.
Por outro lado, se a maioria julga fora de discussão a perspectiva de que
a Fundação se consolidará, necessária e forçosamente, como órgão cultural
do Governo Estadual, a não ser que surja um debilóide que a destrua, outros
fazem a ressalva de que isso dependerá, exclusivamente, da sensibilidade e
vontade dos futuros Governos: os recursos são demasiado escassos, a própria
Constituição Estadual não privilegia a cultura como era de se esperar. Assim,
dizem, é improvável qualquer crescimento e evolução se os investimentos na área
continuarem meramente em nível emergencial.
Vimos uma opinião que, mesmo aparentemente dura, é tão lúcida quanto
as demais e basicamente de uma objetividade e clareza absolutamente
incontestável. Diz um ex-presidente que não devemos ter ilusões: Inexiste na
prática, o Ministério da Cultura. Cultura é investimento. Se não há dinheiro para tal
objetivo não podemos traçar planos nem tampouco, antever perspectivas. Improvisar e
assumir as feições das circunstâncias são as alternativas, lamentavelmente.
É uma mensagem contundente mas realista e, na verdade, vem em apoio
ao depoimento dos demais.
São opiniões seguras e claras, oriundas de quem esteve à frente dos
problemas da Instituição. Elas devem ser levadas em conta, em qualquer plano.

Interiorização da ação cultural


Em algumas outras ocasiões a Fundação José Augusto tentou
implementar ações que levassem, de forma objetiva, à interiorização de suas
iniciativas.(37) Foi assim com os Projetos Circo da Cultura e Feiras Culturais,
por exemplo, dois importantes instrumentos, como vimos em outras partes
deste estudo, mas que, ou por serem estruturas móveis e, assim, de natureza
temporária (ambas passavam curtos períodos em cada cidade, às quais
dificilmente retornariam), ou por ausência de envolvimento mais efetivo das
respectivas Prefeituras Municipais, não lograram colher os frutos de
intervenções plenas e duradouras, aptas a assegurar um trabalho sistemático
junto às camadas jovens da população.
A implantação do Sistema Estadual de Bibliotecas, evidentemente,
também terá sido significativa proposta, tal como o plano de restauração de
_________________________
Vários presidentes, a partir da gestão de Diógenes da Cunha Lima (1970-1974), tentaram operar um
(37)

plano efetivo de interiorização da ação cultural, alguns o conseguindo apenas parcialmente.

40 Anos 245
monumentos históricos e artísticos – vinculado ao Programa Integrado de
Reconstrução das Cidades Históricas do Nordeste –, não obstante, por sua
vez, atingirem faixas limitadas de público.
A atual administração, fundamentada neste princípio – sem descurar-se,
no entanto, dos aspectos tidos como elitistas das suas linhas programáticas
(artes plásticas, música erudita, literatura, etc.) –, busca concretizá-lo de forma
consistente e, tanto quanto possível, conseqüente, para o que criou a Revista
“Preá” e o Programa “Casas de Cultura”, cujas concepções estão direcionadas
para tal fim, muito embora a revista também divulgue a cultura potiguar para
além-fronteiras do Estado e da Região.
Quando dizemos tanto quanto possível conseqüente é no sentido de que
tenham continuidade, independentemente das circunstanciais alternâncias
partidárias nos poderes públicos estadual e municipal: o complexo de padrões
de comportamento, as crenças e costumes, tradições e formas de expressão
são peculiares e exclusivos a cada comunidade, e são, portanto, elementos
constitutivos da sua identidade cultural, não podendo permanecer
indefinidamente submetidos aos humores passageiros dos administradores.
Com efeito, estes dois agentes constituem importantes elementos na atual
política cultural do Órgão, sob a liderança ativa e
participativa do Presidente François Silvestre de
Alencar, a partir de “determinação expressa da
Governadora” (V. Nota da Presidência, p. 9).
Tal perspectiva expande o raio de atuação
da Entidade, concretiza um sonho de várias
gerações e dignifica a cultura do nosso povo.
Foto: Ivanísio Ramos

François Silvestre, atual Presidente da FJA; Solar da Baronesa, onde está instalada
a Casa de Cultura de Açu, na Praça São João, principal logragradouro daquela cidade.

246 Fundação José Augusto


T E
C AR
EN

40 Anos 247
248 Fundação José Augusto
Comentário final
Chegamos ao fim do nosso trabalho. Refizemos o roteiro palmilhado
pela Fundação José Augusto desde o longínquo ano de 1963. Nele, falamos de
tudo – ou de quase tudo.
Falamos dos primeiros tempos, das faculdades, dos centros culturais e das
suas atividades. Discorremos a respeito dos monumentos históricos e dos museus,
os quais representam as nascentes da nossa formação enquanto sociedade organizada.
Dissemos das tintas e cores vivas destas artes tropicais, da forma que enaltecemos a
verve dos nossos escritores e a estuante vitalidade expressa nos versos dos nossos
poetas. O teatro, o folguedo, a cultura popular, estão nestas páginas das quais não
sem esforço escondemos – nós, que fazemos a Fundação José Augusto – um pouco
de orgulho por termos dado parcela de contribuição para a obra comum.
Mas, a Fundação não é feita, apenas, deste seu lado vistoso: para que
espoquem as notas das sinfonias ou brilhem os lustres da Sala dos Grandes
Atos, todo um trabalho de bastidores há de ter sido realizado, da forma
que, para escrevermos sobre a história da Entidade, recorremos ao seu
Arquivo Geral.
Assim, neste comentário final pretendemos lembrar, rapidamente, alguns
aspectos da Fundação que, ou por não conterem os atrativos e interesses que
suscitam, por exemplo, a descrição de como surgiram os diversos setores e a
narrativa dos presidentes, ou por não representarem, por si sós, elementos
ponderáveis para a compreensão do contexto histórico em que eles se deram,
não lograram destaque nestas páginas, senão em circunstanciais referências.
Os setores de Contabilidade, de Pessoal e de Serviços Gerais; o
Almoxarifado e a Secção de Transporte. São segmentos que também
40 Anos 249
contribuem para o brilho da coreografia, para manter o órgão em funcio-
namento. São pilares de sustentação de todo o arcabouço.
Essas referências, mesmo discretas, significam uma mensagem para
aqueles servidores que lutam no dia-a-dia, ombro a ombro com todos e com
cada um de nós, em busca do aperfeiçoamento do sistema.
Se não coube mencionarmos essas peças da engrenagem, porque são a
infra-estrutura e seria árido e inconseqüente um discurso contábil, tanto
quanto quantificarmos os veículos de nossa frota, cabe referirmos a luta dos
nossos companheiros por aprimorar aqueles serviços, reorganizando os
arquivos, facilitando-nos os deslocamentos, polindo o assoalho e cada friso
desta Casa nesta festa de quarenta anos, tão deles quanto nossa.
O CEPEJUL saúda a todos quantos têm colaborado para o engran-
decimento da Fundação José Augusto: do conjunto dos Presidentes àqueles
que, por quarenta longos anos, não deixaram um dia de varrer o seu piso ou de
servir um simples cafezinho.
Outro assunto.
Na palavra dos presidentes há gritos de alerta, mensagens de confiança
no futuro e planos otimísticos. Tudo isso é fundamental, uma vez encontremos
o ponto de equilíbrio.
O alerta cuida para que mantenhamos os pés no chão e, sempre atentos,
aproveitemos as oportunidades. Se possível, até, provocando para que elas
surjam. A confiança no futuro é o elã vital que forja a luta do presente e enobrece
o trabalho do homem. Sonhar é preciso. Ponhamos um belo sonho lá na frente
e o persigamos, e lutemos por ele.
Tracemos planos otimísticos e, com a fronte erguida, os encaremos com
fé no peito. Credo; qui absurdum non credere, disse Santo Agostinho (Creio,
seria um absurdo não crer).
Se repararmos bem, já vemos frutos dessa extraordinária semeadura.
Que Deus a proteja!

250 Fundação José Augusto


APÊNDICE

PATRONOS E MADRINHAS
(dados biográficos) ....................................................................................................................................................... 253

ALBUQUERQUE MARANHÃO, Alberto Frederico de


(Patrono de Teatro em Natal) ..................................................................................................... 255
ALCANIZ, Francisco Agripino de (Chico “Traíra”)
(Patrono do Projeto Chico Traíra) ...................................................................................................... 257
ALMEIDA, Waldemar de
(Patrono do Instituto de Música) ............................................................................................. 259
ARAÚJO, Adjuto Dias de
(Patrono do Centro Cultural de Caicó) ........................................................................ 261
ARRUDA CÂMARA, Lauro
(Patrono da Casa de Cultura de Nova Cruz) ........................................................ 263
BARBOSA, Edgar Ferreira
(Patrono de Prêmio Literário) ............................................................................................................... 265
BILRO, Newton Navarro
(Patrono da Escolinha de Artes) .................................................................................................. 267
BRITO GUERRA, Pe. Francisco de
(Patrono da Casa de Cultura de Caicó) ........................................................................ 269
CAFÉ Filho, João
(Patrono de Museu em Natal) ............................................................................................................... 271
CÂMARA, José Antônio Pinheiro da
(Patrono da Casa de Cultura de Martins) .............................................................. 273
CARVALHO E SILVA, Belisária Lins Wanderley de
(Madrinha da Casa de Cultura de Açu) .................................................................. 275
CASCUDO, Luís da Câmara
(Patrono da Biblioteca e do Memorial) ............................................................................ 277
CASTRO, Josué Apolônio de
(Patrono do D.A. da Faculdade de Sociologia) ................................................. 281
40 Anos 251
FARIA, Juvenal Lamartine de
(Patrono do Centro de Estudos e Pesquisas) ............................................................ 283
GALVÃO, Hélio Mamede de Freitas
(Patrono da Sala dos Grandes Atos) ......................................................................................... 285
GUIMARÃES, Luís Carlos
(Patrono de Prêmio Literário) ............................................................................................................. 287
MAMEDE, Zila da Costa
(Madrinha de Biblioteca) .............................................................................................................................. 289
MEDEIROS, João Galvão de
(Patrono do Solar) ........................................................................................................................................ 291
MEDEIROS, José Augusto Bezerra de
(Patrono da Fundação) ........................................................................................................................ 293
MONTE Filho, Lauro
(Patrono de Teatro em Mossoró) ..................................................................................................... 295
PARREIRAS, Ary
(Patrono de Museu em Natal) .................................................................................................................... 296
PEREIRA, Nilo de Oliveira
(Patrono de Museu em Ceará-Mirim) .............................................................................................. 297
PEREIRA PINTO, Alexandre Francisco
(Patrono de Museu em Pedro Avelino) .......................................................................... 299
PEREZ, Rossini Quintas
(Patrono da Oficina de Gravuras) ....................................................................................... 301
PINHEIRO, Aurélio Valdemiro
(Patrono de Prêmio Literário) .................................................................................................... 303
PORTINARI, Cândido
(Patrono da Escolinha de Artes) ............................................................................................ 305
SANTOS LIMA, Elias Antônio Ferreira Souto dos
(Patrono de Prêmio Literário) ..................................................................................................... 307
SILVEIRA, Myriam Coeli de Araújo Dantas da
(Madrinha de Biblioteca em Natal) ............................................................................................... 309
SOBRAL DE MEDEIROS, Mons. Expedito
(Patrono do Memorial em São Paulo do Potengi) ............................................... 311
SOUZA, Auta de
(Madrinha de Prêmio Literário) ......................................................................................................... 313
SOUZA, Eloy Castriciano de
(Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC) ...................................................... 315
WANDERLEY, José dos Guimarães
(Patrono de Prêmio de Dramaturgia) .............................................................. 317

GLOSSÁRIO ........................................................................................................................................................... 319

252 Fundação José Augusto


PATRONONOS E MADRINHAS

A exemplo da escolha da personalidade do ex-


governador, escritor e memorialista José Augusto para
denominar esta Fundação, diversos setores do órgão –
centros, teatros, bibliotecas, memoriais, casas de cultura e
prêmios literários, entre outros – também elegeram seus
representantes, cujos nomes, via de regra, pressupõem manter
vivas as tradições artísticas e culturais correspondentes.
No instante em que se pretende trazer à luz toda a
gama de atuação da Entidade no decurso dos seus primeiros
quarenta anos de existência, julgamos oportuno, para
consolidar esta pesquisa, incluir alguns traços biográficos
de cada um deles, considerando que, sobretudo, as gerações
mais novas talvez não os conheça mais detidamente: o que
foram, o que fizeram, o que representaram no contexto
histórico-cultural.
São informações objetivas, na forma usual de verbetes,
observando o mesmo estilo adotado para a confecção de
Personalidades Históricas do Rio Grande do Norte (século
XVI a XIX), trabalho produzido e publicado por esta
Fundação em 1999.
Uns mais brilhantes, outros mais humildes – todos
dignos e insuspeitos exemplos de inteligência, abnegação e
envolvimento em seus respectivos domínios –, constituem
referenciais para os que, hoje e doravante, pretendam
desenvolver atividades na área.
Seguem-se os nomes, em ordem alfabética.
40 Anos 253

diversos setores do Órgão –


254 Fundação José Augusto
ALBUQUERQUE MARANHÃO, Alberto Frederico de
(Patrono de Teatro em Natal)

Nasceu em Macaíba-RN, a 02.10.1872, filho de Amaro Barreto de


Albuquerque Maranhão e d. Feliciana Maria da Silva e Albuquerque, e irmão
de Pedro Velho, Augusto Severo, Amaro Barreto Filho, Fabrício Maranhão e
Inês Augusta. Formou-se na Faculdade de Direito do Recife (1892), no mesmo
ano tornando-se Secretário de Governo (estava em curso a administração Pedro
Velho, acima referido) e iniciando as atividades profissionais como Promotor
Público na Comarca de Macaíba (por essa época terá casado com d. Inês
Barreto de Albuquerque Maranhão). Naquela década, seria, ainda, Procurador
Geral (1898) e Governador do Estado (eleito a 14 de junho de 1899), este
último cargo exercendo-o de 25 de março de 1900 à mesma data de 1904. No
dia em que deixou o governo, passando-o a Tavares de Lira, substituiu a este
na Câmara Federal. Concluída a legislatura (1905), foi reconduzido para o
período seguinte (1906-1908). Também em 1908 (a 25 de março) retorna ao
Governo do Estado, desta vez para cumprir um mandato de seis anos. Sua
atividade política incessante prosseguiria, tornando a ser investido no cargo
de Deputado Federal em cinco legislaturas a partir de 1915 e até 1927-1929.
Alberto Maranhão ainda hoje é reverenciado como um dos maiores
governadores deste Estado. Modernizou o ensino primário, inaugurou a Escola
Normal de Natal e o Conservatório de Música, inovou o serviço de bondes
da Capital (evoluindo da tração animal à energia elétrica), construiu o Teatro
Carlos Gomes – hoje, Teatro Alberto Maranhão –, o Hospital Juvino Barreto,
a Casa de Detenção e um abrigo para mendigos. Foi ele quem instalou o Palácio
do Governo na Praça Sete de Setembro (1902), até então funcionando num
40 Anos 255
prédio da Rua do Comércio (hoje, Rua Chile). Alberto Maranhão abriu as
portas do jornal “A República” para os talentos da terra e, enfim, sancionou a
lei nº. 145, de 6 de agosto de 1900, autorizando o Tesouro Estadual publicar
obras literárias de efetivo interesse para a cultura norte-rio-grandense. “Um
dos raros homens de Estado preocupados e enamorados pela cultura literária, arte, música”,
dele disse Câmara Cascudo (História do Rio Grande do Norte, p. 491). Sem
descaracterizar ou minimizar suas diversas intervenções nos múltiplos
compartimentos do complexo administrativo (educação, saúde, segurança
pública, estradas, etc.), esse traço – o mecenato – parece, hoje, à distância,
haver constituído o elemento personalístico, dominante, em suas administrações.
É ainda Cascudo quem o enfatiza: “Intelectualmente foi o maior animador de poetas e
literatos locais (...). Orador, jornalista, tomando parte nas tertúlias literárias, determinou
uma época de esplendor que não mais se repetiu. A pequena orquestra de salão, financiada
pelo Governo, era composta de professores ilustres, uma das melhores do Brasil pelo equilíbrio
dos valores componentes, execução maravilhosa e programação superior. As festas em Palácio,
os bailes de alta elegância social, os concertos, deixaram fama e saudade” (op. cit., p.
218). Aposentou-se no cargo de Inspetor do Instituto Nacional do Sal. Faleceu
em Angra dos Reis-RJ, a 1º. de fevereiro de 1944, e foi sepultado em Parati.

_________________________
Fontes: PIRES, Inácio Meira. Teatro Alberto Maranhão e seu Patrono (síntese histórica). Natal: Secretaria
de Estado da Educação, da Cultura e dos Desportos, 1975; Personalidades Históricas do Rio Grande do
Norte (século XVI-XIX) FJA/CEPEJUL, 1999.
Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL.

256 Fundação José Augusto


ALCANIZ, Francisco Agripino de (Chico “Traíra”)
(Patrono do Projeto Chico Traíra)

Nasceu no Sítio Pau de Jucá, em Ipanguaçu-RN, a 08.01.1926,


segundo o registro oficial (consta que, na verdade, terá sido em 1922).
Cantador e repentista famoso, abandonou a viola em virtude de
distúrbios pulmonares, recorrendo então ao folheto de cordel como
meio de sobrevivência. Desenvolveu sua arte não só nas feiras livres
e nas cidades e vilas disseminadas pelos sertões afora mas, inclusive,
mantendo programas fixos em emissoras de rádio, atuando em
diversos eventos institucionais – alguns promovidos pelo extinto
MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização), por exemplo –
e participando de dezenas de encontros e congressos de violeiros.
Certa vez, atravessando dificuldades financeiras, viu-se compelido a
expor à venda sua viola. O Deputado Nei Marinho entregou-lhe um
ch e q u e n o va l o r e s t i p u l a d o e d e vo l ve u - l h e o i n s t r u m e n t o.
Posteriormente, vendeu-a a um amigo cantador. “Fui obrigado a vender
/ minha viola querida / arrimo de minha vida / a quem amei com ardor...” –
prantearia em versos melancólicos a suposta perda (não sabia, ainda,
que apenas temporária). Com efeito, após bem-sucedida campanha
liderada pela Profª. Lourdinha Guerra tornou a reavê-la, outra vez
voltando às mãos do seu legítimo dono que, sensibilizado, prometeu
não mais negociá-la. “Um mestre em sua arte!” – eis o parecer unânime
de folcloristas e admiradores do gênero. É verbete no Dicionário de
Repentistas e Poetas de Bancada, de Átila de Almeida e José Alves
Sobrinho (Vol. I, pp. 56 e 307, 1978). Também é citado nas obras
40 Anos 257
Poetas e Boêmios do Açu, de Ezequiel Filho (pp. 162-177, 1984) e Repentes
e Desafios, de José Lucas de Barros (p. 92, 1985). Faleceu em Natal, a 7
de maio de 1989.

Nota complementar
A inauguração do projeto “Chico Traíra”, em 1995, coincidiu com o lançamento
do cordel “Poemas do Açu”, do próprio Francisco Alcaniz, do qual extraímos as seguintes
estrofes:
I IV
As formosas paragens do Açu Depois de Vila Nova Princesa
vêm de mil seiscentos e cincoenta, Já no ano de mil oitocentos
habitada por tribos violentas, E trinta e cinco com leis e documentos
por indígena que andava quase nu. Foi passada à comarca com certeza
Se chamava a aldeia Taba-Açu. E sobre esta vasta redondeza
Janduís eram os índios do arraial, Progredia a comarca e prosperava
se estendiam próximo ao litoral, Já um templo católico se elevava
de Açu a Mossoró, a Upanema, Aos incrédulos propondo grande guerra
empunhando feroz o tangapema. O primeiro vigário desta terra
Janduí era o chefe principal. Manuel de Mesquita se chamava.
II V
Foi em mil seiscentos e noventa e seis Já criando maior prosperidade
que Bernardo Vieira governava, De produtos e vários alimentos
Rio Grande do Norte as leis ditava, E no ano de mil e oitocentos
enviadas do reino português. Quando é fragorosa a invernada
A seis de fevereiro dia e mês E quarenta e cinco foi cidade
atacou os indígenas, propôs guerra, Com perfeita municipalidade
Expulsou-os além da grande serra, E a Matriz que o católico a Deus adora
Estendeu seus domínios e poderes D. Clara Macêdo tinha outrora
E foi Nossa Senhora dos Prazeres Muita fé em S. João e amou-o tanto
O arraial primitivo desta terra. Que uma légua de terra deu ao Santo
Que cidade de Açu se chama agora.
III VI
O Açu, alguns anos se tornou Está a cidade edificada
Esquecido do reino português Com um quilômetro e meio de distância
Mas em mil setecentos e setenta e três No seu rio que corre em abundância
Município tornou-se e prosperou Quando é fragorosa a invernada
Depois de dois anos se instalou Ao norte a cidade é limitada
Sua sede cresceu, criou riqueza Com a linha que faz a divisão
Possuindo alguns meios de defesa Da terra de Santo está então
Contra o índio feroz na luta afoito Limitando-se com o córrego na nascente
Em mil setecentos e setenta e oito Com o cemitério público no poente
Se chamou Vila Nova da Princesa. E com o sul a fazenda de S. João.
_________________________
Fontes: Arquivo da FJA/CEPEJUL; Jornal “O Galo”, edição de agosto de 1999; arquivos do escritor e
folclorista Gutemberg Costa.
Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL.

258 Fundação José Augusto


ALMEIDA, Waldemar de
(Patrono do Instituto de Música)

Nasceu em Macau-RN, a 24.08.1904, filho de Cussy de Almeida e d.


Corintha Henriques de Almeida. Estudou no Atheneu Norte-rio-grandense e
na Escola de Comércio de Natal. Desde cedo revelou inclinação para a música,
“(...) embora contra a vontade do pai, que desejava encaminhá-lo ao comércio”, conforme
assinala Veríssimo de Melo (Patronos e Acadêmicos, vol. II, pp. 186-187). Alexandre
Brandão foi o seu primeiro professor de piano e aos 10 anos já participaria de
uma audição no então Teatro Carlos Gomes, interpretando peças de Beethoven.
Mais tarde foi cursar a Escola Nacional de Música, no Rio de Janeiro, dali
transferindo-se para a Europa onde passaria cerca de sete anos entre Paris e
Berlim, aperfeiçoando-se em técnica de execução, harmonia e teoria musical
com os grandes mestres da época. Regressando, deu aulas particulares e foi
contratado professor de música e canto orfeônico dos Colégios Atheneu e
Santo Antônio. Fundou a Sociedade de Cultura Musical (1932) e o Instituto de
Música do Rio Grande do Norte (1933), dirigindo-o por mais de quinze anos.
Integrou comissões julgadoras em concursos de piano realizados em várias
capitais, como Fortaleza, Recife, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo, e consta
que terá declinado de convite de Vila-Lobos para trabalhar no Rio de Janeiro.
Foi, todavia, para Recife (1950), onde prosseguiu sua obra, além de iniciar o
curso jurídico. Instalou-se com o ensino particular, simultaneamente, tornando-
se professor da Escola Normal de Pernambuco. Uma de suas alunas chegou a
se apresentar no V Concurso Internacional de Piano Frederic Chopin, em
Varsóvia (1955), evento para o qual foi convidado como observador (naquele
mesmo ano tornar-se-ia advogado). Criada a Ordem dos Músicos de
40 Anos 259
Pernambuco, foi Waldemar de Almeida distinguido com o cargo de primeiro
presidente da entidade e com diploma honorífico da Sociedade Lírica de
Pernambuco. Era, ainda, membro da Academia Nacional de Belas-Artes, da
Academia Norte-rio-grandense de Letras e do Círculo de Estudos da
Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra; compôs peças
musicais baseadas em temas folclóricos e, enfim, publicou as seguintes obras:
Do Recife à Varsóvia, Normas Pianísticas – obra clássica sobre o assunto –, Do
Recife a Dallas e Hino Nacional Brasileiro, deixando inéditos estudos sobre técnicas
pedagógicas na área musical. No Rio Grande do Norte o seu discípulo de
maior expressão, provavelmente, foi Oriano de Almeida,(38) intérprete de rara
sensibilidade e também compositor. Sua presença no contexto artístico-cultural
e histórico do Rio Grande do Norte pode ser sintetizada na feliz expressão de
Veríssimo: “Waldemar de Almeida foi o centro irradiador, a partir de 1930, de um dos
movimentos musicais mais ativos e brilhantes do Estado” (op. cit., p.186). Faleceu em
São Paulo, a 26 de maio de 1975.
_________________________
Fontes: AZEVEDO, Aluísio. Cronologia do Rio Grande do Norte: Cinco Séculos de História. Natal:
Gráfica Santa Maria, 1996; MELO, Veríssimo Pinheiro de. Calendário Cultural e Histórico do Rio Grande
do Norte. Natal: Conselho Estadual de Cultura, 1976, e Patronos e Acadêmicos, vol. II. Rio de Janeiro:
Editora Pongetti, 1974.

Nota complementar
Afora as referências contidas no verbete acima, aditamos alguns informes que tornam
essa excepcional figura mais perceptível, do ponto de vista humano, especialmente para
aqueles que não pertenceram a sua geração. Veríssimo de Melo, que foi seu amigo apesar
de dezessete anos mais jovem, é quem registra:(39)
Era de porte físico imponente, alto, forte, cabeleira vasta e extrema simpatia no
g

sorriso amistoso e constante bom-humor. Generoso até onde poderia ser. Tinha a gratidão
como emblema de vida e não tolerava injustiças, em qualquer sentido. Era enérgico em sua
metodologia de ensino: a arte pianística era a sua missão e paixão. Fez de cada aluno um
amigo. Todos o estimavam.
g
Tinha a palavra fácil, foi conversador brilhante. De sua vivência na Europa,
principalmente Berlim e Paris, guardava repertório rico de fatos e pessoas com as quais
convivera. Os diálogos que reconstituía eram espontâneos, emprestando colorido e vivacidade
às cenas que descrevia.
Foi utilíssima e fecunda sua liderança e atuação. Felizes os alunos que tiveram a
g

ventura de usufruir os ensinamentos do seu saber refinado e privar de sua amizade.


_________________________
(38) Homenageando o mestre, Oriano gravou (1970) o LP “Oriano de Almeida interpreta Waldemar de
Almeida”, uma seleção de quinze de suas composições.
Foto e referências extraídas da plaquete “Waldemar de Almeida, Noventa Anos de Saudade”, Natal, -
(39)

1994, de Veríssimo de Melo.

260 Fundação José Augusto


ARAÚJO, Adjuto Dias de
(Patrono do Centro Cultural de Caicó)

Nasceu em Caicó-RN, a 07.12.1935, filho de Adauto Dias de Araújo


e d. Adalgisa Araújo. Iniciou os estudos em escola particular, fez o
primário no Gr upo Escolar “Senador Brito Guer ra” e cursou
parcialmente o segundo grau no Ginásio Diocesano Seridoense – ambos
em sua terra –, daí afastando-se para se dedicar integralmente à atividade
empresarial ao lado do pai. Aos quatorze anos de idade comprou seu
primeiro caminhão para transportar cargas. Oito anos depois (1958), já
empresário bem-sucedido, casou-se com Cleonice Costa Dias de cuja
união nasceram sete filhos (Álvaro, Renato, Anselmo, Humberto, Débora
e as gêmeas Andréa e Adriana). Ajudou, ainda, na criação dos irmãos
menores Augusto, Adauto Filho e Airton, órfãos do pai em 1969. Sua
natureza empreendedora levou-o a adquirir as usinas de beneficiamento
de algodão pertencentes a Odilon Ribeiro Coutinho localizadas em Caicó,
Serra Negra do Norte e Santa Cruz. Também beneficiou algodão em
Jucurutu, ampliando os negócios nessa área. Fundou a União Industrial
Adjuto Dias S.A.-UNIDAS, conglomerado que empregava centenas de
trabalhadores na região. Foi o primeiro empresário norte-rio-grandense
a possuir avião particular, na década de 60. Simultaneamente às atividades
profissionais, integrou a comissão que ajudou na criação da Emissora
Rural de Caicó, incentivou a realização de eventos culturais (através da
UNIDAS) e patrocinou campeonatos de futebol amador. Ingressou na
vida pública com o estímulo de Dinarte Mariz, a quem por sua vez apoiara
na campanha para o Governo Estadual (1955). Elegeu-se Deputado
40 Anos 261
Estadual em dois mandatos, entre os anos de 1970 e 1978. Em seguida,
desenvolveu negócios nas áreas de hotelaria e turismo. Faleceu em Natal,
a 7 de janeiro de 1985.
_________________________
Fonte: Informações e foto fornecidas por seu filho, Renato Costa Dias.
Foto: Arquivo da PM Caicó

Acima: Centro Cultural Dep. Adjuto Dias, projetado para a realização de apresentações
artísticas diversas. Abaixo: Casa de Cultura Pe. Francisco de Brito Guerra, ambas em Caicó.
Foto: Ivanísio Ramos

262 Fundação José Augusto


ARRUDA CÂMARA, Lauro
(Patrono da Casa de Cultura de Nova Cruz)

Nasceu em Lábrea-AM, a 09.10.1912, filho de Antônio Arruda Câmara


e d. Taciana Baía Arruda Câmara. Não havia completado dois anos de idade
quando seus pais se transferiram para o Rio Grande do Norte, fixando
residência no município de Nova Cruz. Estudou no Colégio Santo Antônio
(Marista), em Natal. Casou-se com d. Joanita Torres Arruda Câmara (1935),
passando a residir na Fazenda Umbuzeiro, propriedade do sogro, localizada
em Nova Cruz. Desta união nasceram oito filhos, dois dos quais já falecidos
(Paula e Laurita Arruda Câmara); os demais, são: Marluce, Cassiano (jornalista),
Leonardo (advogado e político), Cid (engenheiro), Domício e Lauro Arruda
Câmara Filho (médicos). Dedicou-se ao comércio, explorando os ramos de
tecidos e eletrodomésticos, com estabelecimentos disseminados por três
municípios - Nova Cruz, inclusive na própria Fazenda Umbuzeiro, São José
de Campestre e Serra de São Bento. Foi Prefeito de Nova Cruz no pós-guerra
(1948), renunciando ao mandato quando foi eleito Deputado Estadual (out.,
1950) pelo PSD-Partido Social Democrático, legenda a que sempre foi fiel.
Segundo assinala o seu filho Leonardo Arruda, assumiria ainda, na condição
de suplente, o mandato de Deputado Estadual nas legislaturas 1955-56 e 1959-
62. Não se reelegendo posteriormente, abandonou a política e passou a dedicar-
se à agropecuária. Faleceu, em Natal, em 24 de julho de 1996.

_________________________
Fontes: CASCUDO, Luís da Câmara. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte.
Natal: Fundação José Augusto, 1972; Informações prestadas por seu filho, Leonardo Arruda Câmara.
Foto: acervo da família.

40 Anos 263
Fotos: Anchieta Xavier

Inauguração da Casa de Cultura Lauro Arruda Câmara, de Nova Cruz, jul., 2003:
(1) fachada do prédio e (2) o Pte. François Silvestre, discursando.

264 Fundação José Augusto


BARBOSA, Edgar Ferreira
(Patrono de Prêmio Literário)

Nasceu em Ceará-Mirim-RN, a 15.02.1909, filho de Vicente Justiniano


Barbosa e d. Joana Ferreira Barbosa. Cursou o primário em sua cidade, o
secundário no Colégio Diocesano Santo Antônio, em Natal (1922-1926), e o
superior, na Faculdade de Direito do Recife (1927-1931). Em 1927 foi revisor
de “A República”, jornal a que retornaria no biênio 1935-37 na condição de
diretor e redator da Imprensa Oficial do Estado. Nesse meio-tempo, exerceria
as funções de redator dos jornais “O Debate” (1929-1930) e “A Ordem” (1931-
1932). Posteriormente, e por vasto período, seria redator-chefe e editorialista
de “O Diário de Natal” (1939-1957). Ainda com relação à imprensa foi, por
curto período, secretário da revista “A Cigarra”, dirigida por Aderbal de França.
Como magistrado, foi nomeado Juiz Federal no Estado (1937), Suplente do
Presidente da Junta de Conciliação e Julgamento (1942), Juiz de Direito das
Comarcas de São Miguel e Pau dos Ferros (1946), Canguaretama e São José de
Mipibu (1952), Ceará-Mirim (1952-1956) e da 2ª. Vara de Natal (1956-1957),
além de Juiz eleitoral das citadas comarcas e das de Santo Antônio, Santa Cruz
e Macaíba. Como professor, ensinou Português no Atheneu – deste colégio
mais tarde vindo a ser seu diretor – e na Escola de Aprendizes Artífices (hoje,
CEFET); Direito Constitucional e Legislação de Menores, na Escola de Serviço
Social de Natal (1949-1954), Direito Constitucional, Direito Internacional
Privado e Teoria Geral do Estado, na Faculdade de Direito (1949-1971). Foi
fundador e diretor da Faculdade de Filosofia de Natal (1955), ali lecionando
as cadeiras de Filologia Românica e Literatura Brasileira e Portuguesa. Edgar
Barbosa presidiu a Academia Norte-rio-grandense de Letras e o Rotary Club
40 Anos 265
de Natal, e dirigiu o Departamento de Educação e Cultura da UFRN, nesta
instituição compondo os Conselhos Universitário e de Curadores. Afora todas
essas atividades, publicou os seguintes livros: Síntese Histórica (1929), Origem e
Desenvolvimento da Língua Portuguesa (1933), Vícios de Linguagem (1933), História de
uma Campanha (1936), Três Ensaios (1960), Imagens do Tempo (1966) e 12 Anos de
Universidade - Mensagem para o futuro (1971). Para Nilo Pereira, Edgar Barbosa é,
sem dúvida, “o maior estilista do Rio Grande do Norte” (cit. por João Medeiros
Filho em Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, p. 149), no que
tem o aval de Veríssimo de Melo: “Estilista por excelência. Uma espécie de pintor,
músico e mágico das palavras. (...) Sabe retirar do sortilégio de sua imaginação poética as
mais belas frases e expressões a propósito dos temas que aborda ou o fascinam” (Patronos
e Acadêmicos, p. 49). É nome de rua em Natal e de concurso jornalístico na
Fundação José Augusto. Faleceu em Natal, a 06 de agosto de 1976.
_________________________
Fontes: MEDEIROS Filho, João. Contribuição à História Intelectual do Rio Grande do Norte, Vol. 1. Natal:
1983; MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974.

Nota complementar
Edgar Barbosa foi o orador oficial na sessão conjunta que a Academia Norte-rio-
grandense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte fizeram,
em memória de José Augusto Bezerra de Medeiros, em 22 de setembro de 1971. Através
de requerimento do então Deputado Grimaldi Ribeiro, aludido discurso passou a constar
dos Anais da Câmara. Transcrevemos, aqui, alguns tópicas daquela peça oratória:(40)
Comecei a conhecer José Augusto em 1927, quando terminava o seu quadriênio de
g

governo. Não parece fácil a qualquer de nós, jovens daquele tempo, prestar um testemunho impassível
sobre a personalidade de José Augusto, tão mágica era a sua simpatia, tão envolvente seu modo de
desfazer reservas ou hesitações de estudantes admitidos a trabalhar na redação d’A República.
Quase todas as manhãs o Governador aparecia n’A República. Lia os telegramas,
g

comentava-os entre os circunstantes, conversava com auxiliares e chefes políticos e às vezes despachava
o expediente. A impressão que deixava era a de que governava pouco, ou não tinha o que governar,
cingido que estava aos usos e praxes do liberalismo. Mas, era uma impressão falsa: a simplicidade
de José Augusto desarticulava as pautas do formalismo.
Seus títulos morais e intelectuais, seu prestígio internacional, o poder que deteve por
g

aclamação dos seus méritos, jamais desequilibraram sua naturalidade, seu modo de ser gentil-
homem cuja nobreza guardava apenas o brasão da honradez.

_________________________
(40)
extraído da Revista da ANL, Ano XXI, nº. 10, pp. 195-198, 1972.
Foto: extraída do jornal “O Galo”, ano XI, nº. 2 (1999).

266 Fundação José Augusto


BILRO, Newton Navarro
(Patrono da Escolinha de Artes)

Nasceu em Natal, a 08.10.1928, filho de Elpídio Soares Bilro e d. Celina


Navarro Bilro. Foi aluno dos Colégios Santo Antônio e Atheneu Norte-rio-
grandense, posteriormente da Faculdade de Direito do Recife, mas não concluiu
o curso. Freqüentou curso livre de pintura naquela capital, onde conviveu
com artistas como Lula Cardoso Ayres, Hélio Feijó e Reinaldo Fonseca.
Participou do I Salão de Arte Moderna do Recife, em 1948, no mesmo
ano realizando sua primeira mostra em Natal. Em 1951 foi a Buenos
Aires e em 1964, a Paris, “(...) visitando museus, vendendo quadros e convivendo
nos recantos da boemia parisiense” (MELO, p. 344). Em 1966 tornaria à
Europa, expondo em Lisboa. Além de artista plástico, foi poeta, contista,
cronista e teatrólogo. Colaborou n’A República, Diário de Natal e
Tribuna do Norte e publicou os seguintes livros:. Subúrbio do Silêncio
(poesias, 1953); Solitário Vento do Verão (contos, 1961); 30 Crônicas não-selecionadas
(crônicas, 1563); Beira-Rio (crônicas, 1970); Os Mortos São Estrangeiros (contos,
1970); De Como se Perdeu o Gajeiro Curió (novela, 1974); Do Outro Lado do Rio,
Entre os Morros (sem indicação) e ABC do Cantador Clarimundo (poesias). Produziu,
ainda, álbuns de gravuras e peças teatrais. Pertencia à Academia Norte-rio-
grandense de Letras. Foi o mentor e primeiro diretor da Escolinha de Artes
Cândido Portinari, da Fundação José Augusto, hoje tendo o seu nome. Faleceu
em Natal, em 18 de março de 1991.
_________________________
Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti,
1974; Cardoso, Rejane (coordenação), 400 Nomes de Natal. Natal: Prefeitura Municipal do Natal, 2000.
Foto: Acervo da família.

40 Anos 267
Nota complementar
No discurso de posse na Academia Norte-rio-grandense de Letras o poeta Luís
Carlos Guimarães, referindo-se ao seu antecessor na Cadeira nº. 37 - Newton Navarro -,
disse:(41)
Newton transformava em poesia tudo quanto tocava. Mais destacado como desenhista
g

e pintor, suas atividades de pensamento na pintura e na ficção estão a exigir um estudo crítico,
pois ambas merecem igual atenção e uma não é mais importante que a outra. Se em alguma
instância o escritor supera o pintor, este aparece naquele pela impressionante capacidade descritiva
de ambientes, paisagens, figuras, numa composição detalhista e plástica possível apenas a quem
tem o domínio absoluto da arte pictórica.
Seus desenhos possuem um estilo que ficou conhecido em todo o Brasil, pela elaboração
g

e firmeza do traço que é só seu e pela clareza marcante da construção pictórica nos quais, mesmo
com a força de um sulco gravando a forma de uma figura humana ou paisagem, não lhe faltavam
leveza e delicadeza. Nada neles é labiríntico ou obscuro: a sua arte guarda a essência do que
projeta, meridiana e de alta plasticidade.
Não é redundante afirmar que ninguém esquecerá a suave aspereza de seus vaqueiros
g

e pescadores, nem a agressividade de seus cangaceiros trágicos e solitários. Nem a paisagem


desafiadora do Sertão, com o traço simultaneamente forte e tênue em nanquim, nem as esmaecidas
aquarelas de nossas praias, nem as poucas telas em lápis cera e guache, que resultaram de sua
breve viagem a Paris.
_________________________
(41)
extraído da Revista da ANL, Vol. 39, nº. 27, pp. 57-70, 1998.

268 Fundação José Augusto


BRITO GUERRA, Pe. Francisco de
(Patrono da Casa de Cultura de Caicó)

Nasceu na Fazenda Jatobá, município de Campo Grande-RN, a


18.04.1777, filho de Manuel da Anunciação Lira e d. Ana Filgueira de Jesus.
Iniciou os estudos em Vila Nova da Princesa (hoje Açu), com o Padre Luís
Pimenta de Santana. Depois, o seu pai o levou para a povoação de Pasmado-
PE (hoje Abreu e Lima), cercanias do município de Igaraçu, entregando-o aos
cuidados de um tal Manuel Antônio que passaria a orientar os seus estudos,
sobre o qual não há informações precisas mas que “(...) deveria ser homem erudito,
pois é o último professor indicado na vida do vigário Guerra, daí, ingressando no Seminário
de Olinda onde se demorou apenas dois anos e já gozava fama de latinista”
(MELQUÍADES, p. 30). É provável que, após a permanência com esse Manuel
Antônio e antes do ingresso no Seminário, tenha passado um tempo em
Baturité-CE, lecionando latim, mas esta informação é incerta entre os próprios
historiadores.(42) O fato é que pertenceu à primeira turma do Seminário de
Olinda, fundado em 1800, ali cursando a cadeira de retórica e ordenando-se
em fins de 1801. Oficiou a primeira missa (fev., 1802) em Campo Grande e
tornou-se Vigário Colado de Caicó (1810) a partir de concurso, onde fundou
uma escola de latim. Ingressou na política provincial elegendo-se Deputado
em duas legislaturas seguidas (1830-33 e 1834-37), inclusive assumindo a
presidência da Assembléia em 1835. É feito Visitador Apostólico de
Pernambuco (1833), missão que desempenharia até praticamente o fim de sua
vida. Com a morte do senador Afonso d’Albuquerque Maranhão (jul., 1836)
_________________________
Àquela época havia um curso de latim em Baturité e para lá afluíam latinistas das províncias vizinhas, do
(42)

que decorre ser plenamente aceitável a hipótese de sua estada naquela cidade por algum período.

40 Anos 269
foi seu sucessor, no ano seguinte sendo eleito. “Primeiro e único norte-rio-grandense
que, no Império, teria a honra de representar na Câmara Vitalícia a sua província, o
Senador Guerra foi figura ímpar e vigorosa, cheio de idéias magníficas que encalharam na
lama fofa da política” (CASCUDO, p. 346). O mesmo historiador menciona que
“morreu paupérrimo”, doando tudo o que recebia. Recebeu a Comenda da
Ordem de Cristo. Faleceu, no Rio de Janeiro, a 26 de fevereiro de 1845 e está
sepultado na Catedral de Caicó.
_________________________
Fonte: BEZERRA, Mons. Severino. Levitas do Senhor, Vol. I. Natal: Fundação José Augusto/CERN, 1985;
CASCUDO, Luís da Câmara. Uma História da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte. Natal:
Fundação José Augusto, 1972; MELQUÍADES, José. Padre Francisco de Brito Guerra, Um Senador do
Império. Natal: Fundação José Augusto, 1987.
Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

Nota complementar
Do prefácio escrito por Nilo Pereira na 1ª. edição do
livro “Padre Francisco de Brito Guerra, um Senador do
Império”, de José Melquíades, extraímos os seguintes tópicos:
g
José Melquíades reconstitui toda a vida do Senador
Padre Brito Guerra, a sua formação, a sua atividade de vigário
e de político, o seu mundo - às vezes pequeno, às vezes grande -, e
tem sempre para o seu biografado uma palavra amena,
compreensiva e humana.
g
Seu trabalho é arguto, penetrante. Deixa diante do
leitor uma figura válida, tangível, quase cor pórea, projetado na sua perspectiva histórica - um
servidor de sua terra, um pároco atento aos seus deveres, um patriota, um sacerdote empenhado
no trato das almas, um político com os vícios da época mas voltado para a sua Província, que
tornou conhecida na Corte pela ilustração e pela dignidade com que a serviu no Parlamento.
g
Muita coisa que se dizia de Brito Guerra teve, afinal, um esclarecimento e, não raro,
uma retificação. Não admira que, em torno dele, homem importante e influente, houvesse equívocos
com aparência de verdades históricas, como as que o ligaram a Feijó desde os primeiros anos,
numa tentativa de substituir Pasmado e Olinda pelo Seminário de Itu.

270 Fundação José Augusto


CAFÉ Filho, João
(Patrono de Museu em Natal)

Nasceu em Natal, no bairro da Ribeira, a 03.02.1899, filho de João


Fernandes Campos Café e d. Florência Amélia Campos Café. Estudou no
Atheneu Norte-rio-grandense, Escola Normal e Colégio Americano. Aos
quinze anos produziu um jornalzinho, manuscrito – “O Bonde” –, e logo em
seguida, também composto e impresso à mão, “A Gazeta”, ambos de caráter
oposicionista e, por tal, impedidos por seu pai de continuarem em evidência.
Também em sua juventude Café Filho presidiu várias associações esportivas e
lítero-recreativas. Logo após o curso secundário transferiu-se para Recife, ali
freqüentando a Academia de Ciências Jurídicas e a Escola de Engenharia,
trabalhando como comerciário para manter-se. Voltando a Natal, fez concurso
para o Tribunal de Justiça e passou a exercer as funções de Advogado
Provisionado. Casou-se aos 22 anos com d. Jandira Carvalho de Oliveira Café,
filha de Ovídio Fernandes de Oliveira (à época, Inspetor da Alfândega). Nesse
período dirigiu o “Jornal do Norte”, órgão político e noticioso que fazia
oposição ao Governo do Estado (a redação funcionava na Av. Tavares de
Lira, 20, e o seu primeiro número circulou no dia 17 de junho de 1921, segundo
consta no Dicionário da Imprensa no Rio Grande do Norte, 1909-1987, p.
159, de Manoel Rodrigues de Melo). Naquele ano de 1921 ingressou na vida
pública, passando a apoiar a candidatura de Nilo Peçanha e João Seabra e
fazendo oposição ao Senador Arthur Bernardes, à Presidência da República.
Um ano depois foi eleito Vereador, muito embora não tenha assumido o cargo
por intervenção do Governador Antônio de Souza, que chegou a rasgar o seu
diploma. Sofreu perseguição política e transferiu-se para Bezerros-PE, onde
40 Anos 271
foi nomeado Secretário da Prefeitura. Seu espírito jornalístico leva-o a editar,
naquela cidade, o “Correio de Bezerros”. Em 1925 foi para Recife,
passando a dirigir o periódico “A Noite”. Um ano depois estava, novamente,
em Natal; desta feita foi processado e condenado a três meses de prisão
por haver aderido aos revolucionários da Coluna Prestes. Fugiu para
Itabuna-BA, mas logo retornou e se entregou para o cumprimento da pena
no Quartel do Esquadrão de Cavalaria. Posto em liberdade, começa a
organizar o operariado em torno de sindicatos e federações. É nesse
período que funda o Sindicato Geral dos Trabalhadores, cuja sede era no
prédio onde hoje funciona o Museu Casa Café Filho, na Rua da Conceição.
Elegeu-se Vereador, mais uma vez, e novamente foi perseguido, refugiando-
se em Recife. No jornal “A Noite” fez oposição aos governos estadual e
federal. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, tornou-se redator do jornal
“A Manhã”. O próximo retorno a Natal dá-se em 1930, quando é
recepcionado com significativa manifestação popular no centro da cidade.
Engajou-se com empenho no movimento revolucionário da Aliança Liberal
e, em outubro daquele ano, por decreto da Junta Governativa do Estado,
assume as funções de Chefe de Polícia (anos depois, durante a interventoria
do Comandante Bertino Dutra, tornaria a ocupar aquele cargo,
oportunidade em que criaria a Guarda Civil e a Guarda Noturna). Também
foram atos seus a concessão de liberdade a presos políticos e a proibição
de porte de armas por parte da população. Deputado Federal (1934-1937),
perdeu o mandato face à instituição do Estado Novo: ocupava a tribuna
para denunciar a articulação de um golpe contra as instituições constituídas.
Perseguido politicamente, pediu asilo na Embaixada Argentina; no ano
seguinte, contudo, retornaria ao Rio de Janeiro para dirigir uma empresa
de transporte rodoviário. Em 1945 tornou a se eleger Deputado Federal e,
em 1950, por força de uma coalizão política, Vice-Presidente da República,
na chapa de Getúlio Vargas. Com o suicídio de Getúlio (1954), assumiu a
Presidência, embora não chegando a concluir o período constitucional de
governo: acometido de surmenage (estafa), passou o cargo ao então
Presidente da Câmara dos Deputados, Carlos Luz. Posteriormente, seria
nomeado Ministro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Café Filho
publicou o livro Do Sindicato ao Catete, obra autobiográfica na qual
expõe toda a sua trajetória política. Deixou valiosa biblioteca, hoje
compondo o acervo da Casa Café Filho, mantida pela Fundação José
Augusto, além de cartas, comendas, diplomas, medalhas e souvenirs. Foi um
homem honesto: considerando os altos cargos de que foi investido, morreu
praticamente pobre. Faleceu no Rio de Janeiro, em 11 de fevereiro de 1970.
272 Fundação José Augusto
CÂMARA, José Antônio Pinheiro da
(Patrono da Casa de Cultura de Martins)

Nasceu em Recife, a 15.05.1924, filho de José Bonifácio Pinheiro


da Câmara e d. Alina Leal da Câmara. Iniciou os estudos no Colégio
Salesiano São José, posteriormente indo para o Seminário de onde se
afastaria por não se sentir vocacionado para a vida sacerdotal. Em 1941
ingressou na Polícia Militar de Pernambuco, saindo no ano seguinte para
prestar serviço ao Exército no posto de Sargento. Tinha curso, então, a II
Grande Guerra. Casou com d. Ilza de Freitas Pinheiro da Câmara (abr., 1944).
Mais tarde (nov., 1946) deixa o Exército para assumir, em Martins-RN, o cargo
de Escrivão, em seguida o de Coletor da Coletoria Federal. Jovem, dinâmico,
de espírito associativo e empreendedor, não se ateve às rotinas do
serviço público – desempenhando-as, não obstante, com seriedade – e
integrou-se à vida social da cidade. Desportista, pratica o futebol e o
atletismo e introduz o voleibol na comunidade; católico praticante,
participa ativamente de trabalhos junto à paróquia não só nos eventos
regulares mas, inclusive, na Festa da Padroeira (Nossa Senhora da
Conceição, 8 de dezembro). Mais adiante (1949), junto com alguns
companheiros, funda o Centro Lítero-esportivo de Martins-CLEM, que
se constituiria em fator de impulsão e difusão da vida sociocultural da
cidade nas décadas seguintes e onde se destacaria como animador
cultural. Em fins dos anos cinqüenta foi criada a Escola Comercial de
Martins, também preocupação sua, da qual não só assumiu a direção
como o ensino de algumas disciplinas. Apesar das inegáveis qualidades
de liderança nunca postulou, nem aceitou, cargos políticos – “para
40 Anos 273
Fotos: Anchieta Xavier

No alto, fachada da Casa de Cultura de Martins, momentos antes de sua inauguração


(set. 2003). Abaixo, da esquerda para a direita: Marcos Fernandes, Prefeito do Município;
Antônio Jácome, vice-Governador do Estado; Wilma de Faria, Governadora;
François Silvestre, Presidente da FJA, e José Bonifácio, filho do homenageado.

preservar-se dos divisionismos”, dizia. Com a extinção da Coletoria,


deixou Martins em fevereiro de 1969. Constituiu numerosa família
(quatorze filhos, cinco dos quais nascidos em Martins): José Bonifácio,
Magnólia Maria, Flávio Augusto, Paulo César, Alina Leal, João
Gualberto, Domingos Sávio, Luiz Emydio, José Antônio, Clidenor
Augusto, Luís Alessandro, Walter Wagner, Maria das Graças e Ilza de
Freitas (falecidas). Faleceu em Natal a 31 de julho de 1990.
_________________________
Fonte: Informações e foto, acervo da família.

274 Fundação José Augusto


CARVALHO E SILVA, Belisária Lins Wanderley de
(Madrinha da Casa de Cultura de Açu)

Nasceu em Açu-RN, a 13.10.1836, filha de Manuel Lins Wanderley


e d. Maria Francisca da Trindade Wanderley. Casou-se com Felipe Néri
de Carvalho e Silva, que se tornaria Barão de Serra Branca. (...) fazenda-
sítio enorme, vistosa, com casa-grande, gadaria, escravos e servidores. Serra Branca
dava repercussão às façanhas dos vaqueiros, às glórias dos invencíveis cavalos-de-
campo, ágeis e finos, pisando no duro e no molhado, com patas infatigáveis e nobres
(CASCUDO, p. 69). O decreto dando a Felipe Néri e d. Belisária
referidos títulos – Barão e Baronesa – foi assinado pela Princesa Isabel,
em 19 de agosto de 1888. Abolicionista convicto, Felipe Néri libertou
os seus escravos em 30.03.1880, oito anos antes da Lei nº. 3.353, a
famosa “Lei Áurea” e, posteriormente, d. Belisária banqueteou-os, ela
própria ser vindo-os à mesa. Talvez por influência deste gesto de
desprendimento e magnanimidade, o município do Açu, poucos anos depois,
referendava aquela iniciativa, estendendo o benefício a todos os escravos ainda
existentes em seu perímetro. Isto deu-se a 24 de junho de 1885, portanto
ainda três anos antes do que determinaria a referida lei. Belisária Wanderley foi
a última representante do período imperial no Rio Grande do Norte.
Faleceu em Natal, em 13 de abril de 1933.

_________________________
Fontes: CASCUDO, Luís da Câmara. O Livro das Velhas Figuras, Vol. I. Natal. Instituto Histórico e Geográfico
do RN, 1974; WANDERLEY, Walter. Família Wanderley - História e Genealogia. Rio de Janeiro: Editora
Pongetti, 1966.
Foto: extraída do livro Família Wanderley, acima citado.

40 Anos 275
Nota complementar

ATA DE LIBERTAÇÃO E DECLARAÇÃO DE QUE SE ACHA


LIVRE A CIDADE DO ASSU DO ELEMENTO ESCRAVO

Aos 24 (vinte e quatro) dias do mês de junho de 1885 (um mil, oitocentos e
oitenta e cinco), nesta Cidade do Assu, Província do Rio Grande do Norte, na
Igreja Matriz do Glorioso São João Batista, Padroeiro desta Freguesia, pelas 9
(nove) horas da manhã, onde se achava reunida, em sessão solene, a Sociedade
Libertadora Assuense e presentes o Ilmº. Revmº. Arcipreste desta Província, Vigário
Pedro Soares de Freitas, o Sr. Dr. Juiz de Direito da Comarca Ângelo Caetano de
Souza Cousseiro, Presidente da Câmara Municipal, representantes da imprensa,
numeroso concurso de pessoas gradas, senhoras, cavalheiros e grande massa de povo,
foi pelo mesmo Revmº. Arcipreste aberta a sessão e lida, pelo Revmº. Vigário Antônio
Germano Barbalho Bezerra, Presidente da mesma Sociedade, o documento pelo qual
se demonstrou que a Cidade do Assu está livre, e que dentro de sua circunscrição não
existe um só escravo. Depois das salvas e descargas foi executado o Hymno da
Redempção da Cidade do Assu. Fallarão os diversos oradores inscritos e recitarão
poezias referentes ao acontecimento. Uma banda de música de pancadaria tocou o
Hymno Nacional, depois de entregues as cartas de liberdade, tendo tocado differentes
peças ao passo que terminavão os seus discursos os oradores.
Logo que foram concluídas as formalidades de estylo foi encerrada a sessão
pelo Dr. Juiz de Direito desta Comarca, Ângelo Cousseiro, e para constar foi lavrada
a presente ata em livro especial, em que assignarão a Sociedade Libertadora Assuense
e as pessoas que quiseram. Eu, Torquato de Oliveira, secretário, a escrevi.
Vigário Antônio Germano Barbalho Bezerra, Presidente; Antônio Dantas
Cor reia de Medeiros, vice-presidente; Torquato de Oliveira, Socretário; Elias
Antônio Ferreira Souto, orador ; Pedro Soares de Araújo, Tesoureiro; Augência
Virgílio de Miranda e Galdino dos Santos Lima, Promotores da Liberdade; Vigário
Pedro Soares de Freitas, Arcipreste; Vigário Félíx Alves de Souza, Ângelo Caetano
de Souza Cousseiro, Manoel Lins Caldas, Palmério Augusto Soares de Amorim,
Epaminondas Lins Caldas, Manoel Cândido Maciel de Brito, Justiniano Lins
Caldas, Francisco Urbano de Souza Macedo, Antônio Cabral de O. Barros Filho,
Manoel Liberalino Freire de Carvalho, Theofilo de Oliveira Lins, Antônio Soares
de Macedo, Egídio Ferreira de Carvalho, Dr. Luís Carlos Lins Wanderley, Antônio
Filgueira Segundo e Luís Antônio Freire de Carvalho, sócios.
276 Fundação José Augusto
CASCUDO, Luís da Câmara
(Patrono da Biblioteca e do Memorial)

Nasceu em Natal (bairro da Ribeira), a 30.12.1898, filho do Coronel da


Guarda Nacional Francisco Justino de Oliveira Cascudo e Ana Maria Câmara
Cascudo. Teve uma infância atípica, com a perda de três irmãos vitimados
pela difteria: temendo perdê-lo também, seus pais o protegeram com
excessivos cuidados, negando-lhe acesso a praticamente tudo aquilo que
compõe o universo sensorial infantil (correr, saltar, andar descalço, levar sol,
chuva, vento da tarde ou sereno; brincar naturalmente com outras crianças,
(43)
comer bolo de tabuleiro ou, mesmo, ter contato com a água da maré, etc.).
Restou-lhe o direito de ver livro de figuras, colecionar estampas de santos e ouvir estórias de
Trancoso (...), comenta Zila Mamede (LUÍS DA CÂMARA CASCUDO: 50
Anos de Vida Intelectual-1918/1968, Vol. I, Parte 1, p. 11). Lia aos seis anos
de idade. Vivia cercado por impressos – coleções, revistas, álbuns. Foi o primeiro
menino, em Natal, a possuir um quarto para a biblioteca que era visitada, gabada, aludida
nos jornais por gente grande (op. cit., p. 12). Estudou em colégios religiosos e cursou
humanidades no Atheneu Norte-rio-grandense. Iniciou-se no jornalismo (1918)
escrevendo uma coluna no jornal “A Imprensa”, mantido por seu pai;
posteriormente, colaboraria em todos os demais de Natal. Fez medicina na
Bahia até o 4º. ano, desistindo e optando pelo bacharelato em Ciências Jurídicas
e Sociais na Faculdade de Direito do Recife (1924-1928). Além de jornalista –
na prática diária – e advogado, seus conhecimentos, acumulados na leitura e
_________________________
Compensando, talvez, aqueles tempos em que se via compelido à permanência numa redoma, por
(43)

questões de saúde, na sua mocidade, em Natal, Cascudo teve existência de príncipe. Andava de polainas,
monóculo e bengala do Egito, guiando um ‘Ford bigode’, dos primeiros chegados à cidade. A Vila
Cascudo, no Tirol, era centro permanente de reuniões literárias, jantares festivos, recitais de músicos
famosos que transitavam por Natal (...) (Veríssimo de Melo, op. cit., p. 125).

40 Anos 277
pesquisa incessantes, fizeram-no, no transcurso de décadas, antropólogo,
etnógrafo, folclorista, historiador, sociólogo e professor, possuidor de vasta
erudição. Para Zila, embora escrevendo sobre variados assuntos, (...) é evidente a
sua especialização na etnografia e no folclore e a sua predileção pela história, pela geografia e
pela biografia (ib., p. 16). Seu primeiro livro publicado foi Alma Patrícia, crítica
literária (1921), seguindo-se muitos outros, tais como: Histórias Que o Tempo
Leva (1924), O Mais Antigo Marco Colonial do Brasil (1934, 1940, 1965), O Brasão
Holandês do Rio Grande do Norte (1936, 1949, 1955), O Marquês de Olinda e Seu
Tempo (1938), Informação de História e Etnografia (1940, 1944), Contos Tradicionais
do Brasil (1946, 1955, 1967), Geografia dos Mitos Brasileiros e História da Cidade do
Natal (1947), Os Holandeses no Rio Grande do Norte (1949), Geografia do Brasil
Holandês (1949, 1956), Dicionário do Folclore Brasileiro (1954, 1962), História do Rio
Grande do Norte (1955, 1984), Paróquias do Rio Grande do Norte (1955), Vida de
Pedro Velho (1956), A Cozinha Africana no Brasil (1964), Flor dos Romances Trágicos
(1966), Folclore do Brasil (1967), História da Alimentação no Brasil (v. 1, 1967; v. 2,
1968), Civilização e Cultura (1973) e, em seis volumes, O Livro das Velhas Figuras
(entre 1974 e 1989), este baseado em suas crônicas no jornal “A República”
(coluna Acta Diurna), entre dezenas de outros. Sua obra compreende mais de
150 títulos, muitos dos quais foram traduzidos e reeditados no exterior. A maior
parte desse trabalho foi produzida no seu gabinete - casarão da Rua Junqueira
Aires, 377, onde residia, hoje tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional. A
extensão de temas sobre os quais pesquisou e escreveu é, segundo seus biógrafos,
“prodigiosa”, sobretudo ao considerar-se a particularidade de que trabalhava
só (críticos experientes se surpreenderam ao constatar tratar-se de trabalho
individual obra cuja dimensão, em circunstâncias normais, sugere a intervenção
de uma equipe): É ele o conhecedor dos problemas em todos os campos da expressão
literária e artística, especialmente no que se entende com as tradições populares que integram
a ciência que estuda mitos, contos, fábulas, adivinhas, música, poesia, provérbios, sabedoria
tradicional e anônima (João Medeiros Filho, Contribuição à História Intelectual do Rio
Grande do Norte, p. 31). Para Veríssimo de Melo, o seu desempenho foi singular
no país: Sobre cada setor da nossa cultura popular – contos, literatura de cordel, superstições,
mitos, rede de dormir, jangadas, etc. – ele escreveu um volume. Além da coleta pessoal, foi às
raízes de cada manifestação, comparando, interpretando, procurando as origens, num esforço
de exegese, compreensão e amor pelas tradições do nosso povo, que, em amplitude e profundidade,
não tem paralelo no Brasil (Patronos e Acadêmicos, Vol. II, p. 122). Zila Mamede,
menos emocional e mais técnica, corrobora: (...) povo e gente, municípios, cidades,
vilas, fazendas, engenhos; mares, praias, rios, serras, cavernas; economia e produção; igrejas,
casas, ruas, becos, festas populares, santos, artistas. Quem quer que seja que deseje escrever
sobre o Rio Grande do Norte, sobre a cidade do Natal, terá, evidentemente, que partir de
278 Fundação José Augusto
Luís da Câmara Cascudo. Sua obra é a fonte inicial (ib., p. 16). Em 1941 fundou a
Sociedade Brasileira de Folclore; em 1948 foi nomeado pelo então Prefeito de
Natal, Sílvio Pedroza, “Historiador da Cidade”, e, em 1955, a rua em que
nascera, das Virgens, passou a ter o seu nome, por iniciativa do prefeito à
época, Wilson Miranda. Ensinou História do Brasil e Etnografia Geral no
Atheneu, na Escola Normal e no Instituto de Música, e Direito Público
Internacional na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Exerceu os cargos de Secretário do Tribunal de Justiça, Consultor
Jurídico do Estado, Diretor do Arquivo Público Estadual e do Museu do Rio
Grande do Norte, Presidente do Conselho Municipal de Turismo e Membro
do Conselho Federal de Cultura. Foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro e, segundo Veríssimo, de todos os Institutos Históricos dos Estados; sócio-
fundador da Academia Norte-rio-grandense de Letras (1936) e integrante das
academias de letras do Pará, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas,
Sergipe, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Acre;
pertencia à Academia Nacional de Filologia; à Sociedade Brasileira de
Antropologia e Etnologia, e ao Centro de Ciências, Artes e Letras de Campinas-
SP. No plano internacional pertencia a várias instituições dedicadas ao estudo
da arqueologia, antropologia, etnologia, história, geografia, folclore, filosofia
e sociologia, como sejam: Instituto Português de Arqueologia, História e
Etnologia; Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia da Universidade
do Porto (Portugal); Academia Nacional de História e Geografia, do México;
Sociedade de Geografia de Lisboa; American Folk-lore Society (honorário);
International Society for Folk-Narrative Research (Gottingen, Alemanha);
Comission Internacional des Arts et Traditiones Populaires (Paris, França);
Associación Española de Etnologia y Folk-lore; Sociedade de Folk-lore do
México; Societé des Americanistes de Paris; Societé Suisse des Americanistes;
Academia de Ciências de Lisboa; Instituto de Coimbra (Portugal); Real
Academia Galega (Galiza, Espanha); Honorary Life Membership of the
American International Academy (New York, Estados Unidos), além de outras
localizadas na Inglaterra, Irlanda, Argentina, Chile, Uruguai, Peru e Bolívia.
Era do Lyons Club Natal-centro desde sua fundação e o primeiro sócio
honorário do Lyons Club Internacional. Recebeu dezenas de condecorações e
títulos honoríficos, a saber: Grande Oficial da Ordem do Mérito Naval,
Comendador da Ordem do Rio Branco, Comendador da Ordem de Cristo
(Portugal), Comendador da Ordem dos Cisneiros (Espanha), Comendador
da Ordem de São Gregório (Vaticano) e Oficial da Ordem da Coroa (Itália),
entre outras no grau de comendador; recebeu, ainda, a Medalha de Guerra do
Brasil, a Star and Cross of the Academy Honor (da The American International
40 Anos 279
Academy of New York), as Medalhas Culturais Pacificador, Tamandaré,
Atlântico Sul (Aeronáutica), Guararapes, Sílvio Romero, Alberto Maranhão,
Pirajá da Silva, Vital Brasil, Nina Rodrigues, Alexandre de Gusmão e do Mérito
(esta, de Recife), etc. Entre os prêmios de literatura, constam: “João Ribeiro”
(1948), “Machado de Assis” (1956), “Brasília”, pelo conjunto de sua obra, e
“Henning Albert Boileesen”, por sua luta em favor do desenvolvimento cultural
do País. No centro da capital potiguar o Memorial Câmara Cascudo guarda o
fabuloso acervo por ele construído, admirável obra individual a surpreender
os contemporâneos e exemplificar os pósteros. Sua efígie estampou papel-
moeda (1991) e seu nome está em biblioteca, escola, museu, concurso literário,
etc. Faleceu em Natal, a 30 de julho de 1986.

__________________
Fonte: texto e foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL

280 Fundação José Augusto


CASTRO, Josué Apolônio de
(Patrono do D.A. da Faculdade de Sociologia)

Nasceu em Recife, em 1908. Formou-se em Medicina (1929) e Filosofia


(1938) pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro-DF. Seus estudos
científicos sobre o problema da fome no mundo, especialmente no Nordeste
do Brasil, sua atuação política e a intensa participação em diversos organismos
internacionais distinguiram-no de forma singular, no país e no exterior. Em
1939 era professor de Geografia Humana na Faculdade Nacional de Filosofia
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e, no período 1942-44, trabalhou
no Serviço Técnico de Alimentação Nacional. Deputado Federal pelo PTB
(1955-1962), presidente do Conselho da Organização de Alimentação e
Agricultura das Nações Unidas-FAO (1952-1956), do comitê da Campanha
de Luta Contra a Fome, de sua iniciativa (ONU, 1960), do conselho do Comitê
Intergovernamental para as Migrações Européias-CIME (1963), do Comitê
Mundial por uma Constituição dos Povos (Denver, EUA) e vice-presidente
da Associação Parlamentar Mundial (Londres). Pioneiro no Brasil em estudos
sobre alimentação e nutrição, realizou o primeiro inquérito social para apurar
as condições de vida do povo brasileiro. Suas pesquisas foram divulgadas em
livros, conferências e publicações científicas. Foi professor honorário em
diversas universidades estrangeiras. Exilado na França, após o golpe militar
no Brasil (1964), quando foi demitido do cargo de embaixador brasileiro junto
aos organismos internacionais da ONU em Genebra, foi professor da
Universidade de Paris e do Centro Universitário de Vincennes, além de assumir
o cargo de diretor do Centro Internacional para o Desenvolvimento, de
assessoria aos países subdesenvolvidos. Obras: O problema da alimentação
40 Anos 281
no Brasil (1933), Condições de vida das classes operárias no Recife (1935),
Alimentação e raça (1935), Salário mínimo (1935), Documentário do Nordeste
(1937), Alimentação brasileira à luz da geografia humana (1937), Science et
technique (1938), A festa das letras (em colaboração com Cecília Meireles, 1938),
Fisiologia dos tabus (1939), Geografia humana (1939), Alimentação e
aclimatação humana nos trópicos (México, 1946), Geografia da fome
(traduzido para várias línguas, 1946) e Geopolítica da fome (traduzido para
14 idiomas, 1951). No Brasil, foi agraciado com o Prêmio “Pandiá Calógeras”,
da Associação Brasileira de Escritores, e com o “José Veríssimo”, da Academia
Brasileira de Letras; internacionalmente, recebeu o Prêmio “Roosevelt”, da
Academia Norte-americana de Ciências Políticas (1952), o Prêmio Internacional
da Paz (1954), do Conselho Mundial da Paz, e a Medalha da Cidade de Paris,
oportunidade em que o Presidente do Conselho anfitrião assim se expressou:
“A obra revolucionária de Josué de Castro, no campo da alimentação e nutrição,
é equivalente a que realizou Copérnico, no da astronomia”. O eminente
brasileiro faleceu em Paris, a 24 de setembro de 1973.
_________________________
Fontes: Arquivos da FJA/CEPEJUL; Grande Enciclopédia Larousse Cultural. São Paulo: Nova Cultural Ed.,
1998 (Vol. 6, p. 1241); foto cedida pelo DN.

Nota complementar
A obra “Geografia da fome”, escrita em 1939, persiste como tema
eminentemente atual, e não só pelo projeto “Fome Zero”, do Governo Federal,
mas sobretudo pelos altos índices de miséria existentes no país e no mundo. No
prefácio da 5ª. edição deste monumental estudo, disse o Prof. André Mayer:(44)
Ninguém poderá esquecer, depois de as ter lido, as páginas em que o autor nos
g

conta a tragédia dos seringueiros alquebrados pelo beribéri, engolidos na voragem da


floresta amazônica, nem aquelas em que nos descreve a seca alastrando-se pelo sertão
do Nordeste brasileiro esterilizando as terras, matando os animais, expulsando os
homens. Ou então as páginas em que nos narra a história impressionante dos colonos,
destruindo progressivamente a floresta do mesmo Nordeste, para plantar a cana-de-
açúcar e deixando-se iludir pela atração do lucro, até suprimirem as próprias culturas
de sustentação e destruírem aquelas mesmas populações que edificavam sua fortuna.
_________________________
(44)
Extraído do livro “Geograria da Fome”, Ed. Brasiliense, SP, 1957.

282 Fundação José Augusto


_________________________
(44)
Extraído do livro “Geografia da fome”, Ed. Brasiliense, SP, 1957.
FARIA, Juvenal Lamartine de
(Patrono do Centro de Estudos e Pesquisas)

Nasceu em Serra Negra-RN, a 9 de agosto de 1874, filho do Coronel


Clementino Monteiro de Faria e d. Paulina Umbelino dos Passos Monteiro.
As primeiras letras aprendeu em casa, seguindo para Caicó a fim de estudar
Latim e Francês. Em 1891, no Atheneu, iniciou os preparatórios, que concluiu
em João Pessoa. Bacharelou-se em Direito no Recife, em 1897. Voltando a
Natal, assume a redação de “A República” e a vice-diretoria do Atheneu. Em
1898 é Juiz de Direito em Acari e, em 1903, vice-Governador do Estado. Em
1906, elegeu-se Deputado Federal pelo Partido Republicano, o “Perré”.
Seguem-se sete legislaturas vitoriosas, até chegar ao Senado, em 1927. Nessa
Casa, apresentou projeto criando uma base internacional aérea em Natal, com
uma secundária em Fernando de Noronha e um farol no Rochedo de São
Pedro e São Paulo. Já naquela época ele vislumbrava a importância estratégica
da nossa posição geográfica. Na Comissão de Justiça mostra-se favorável ao
voto feminino. Renunciou ao cargo para ser Governador do Estado, empossado
em 1º de janeiro de 1928. Pioneiro da aviação civil, criou o Aero Clube e a
Escola de Pilotagem; construiu 30 campos de pouso no Estado e lutou pelo
estabelecimento de escalas regulares de empresas internacionais em Natal,
trazendo a “Condor”, a “Aeropostale” e a “Panair”. Construiu 416 quilômetros
de rodovias e várias pontes de concreto. Edificou o Leprosário São Francisco
de Assis, a 14 de janeiro de 1929; o prédio da Saúde Pública em 1º. de outubro
do mesmo ano e o estádio de futebol da cidade. Modernizou o Fisco.
Reorganizou a Imprensa Oficial. Na Educação, ampliou a rede escolar, elevando
o número de matrículas em 82%. Ajudou na manutenção da Escola Doméstica.
40 Anos 283
Reorganizou a Polícia Militar, combatendo o Cangaço. Seus críticos alegam
que foi duro com os adversários políticos e contra criminosos comuns, pondo
sua administração entre o dever real e a violência policial. Por outro lado,
instituiu o voto feminino no Rio Grande do Norte, pela primeira vez no País,
inscrevendo, em Lajes, a primeira eleitora a tornar-se Prefeita, no Brasil (Alzira
Soriano). A fim de evitar a falência do Banco de Natal, modificou-lhe os
estatutos e transformou-o no Banco do Rio Grande do Norte, robustecendo-
o com novas agências. Deu apoio às Letras e às Artes. Deposto pela Revolução
de 1930, exilou-se na Europa. Regressou em 1933, seguindo para sua fazenda,
em São Paulo do Potengi. Escreveu Velhos Costumes do Meu Sertão, O Seridó -
suas produções e suas riquezas e O Meu Governo. Foi um dos fundadores da UDN e
do PSP, mas não se elegeu Senador em 1945. Presidiu o Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte, a Federação Rural e o Rotary Club. Eleito
para a Academia Norte-rio-grandense de Letras, na Cadeira de Amaro
Cavalcanti. Faleceu em Natal, a 18 de abril de 1956. Hoje, é nome do estádio
de futebol que construiu (1929); de rua, no bairro do Tirol, e do Centro de
Estudos e Pesquisas da Fundação José Augusto.

_________________________
Fonte: Arquivos FJA/CEPEJUL.
Ilustração: lápis do prof. Hostílio Dantas, Natal (1948).

284 Fundação José Augusto


GALVÃO, Hélio Mamede de Freitas
(Patrono da Sala dos Grandes Atos)

Nasceu em Tibau do Sul-RN – à época município de Goianinha – a


18.03.1916, filho de José Mamede Galvão e d. Isabel Genuína Galvão. Casou
com d. Ilíria Tavares (1936) com quem teve quatorze filhos, seis dos quais já
falecidos (Sany, Hélio Filho, Stela Maris, Ana Maria, Lúcio Galvão e Tarcísio),
sendo os demais Hilton, José Arno (advogado), Maria do Céu e Maria de
Fátima (pedagogas), Sebastião, Sérgio e Dácio Galvão (mestre em Literatura
Comparada) e Andréia Clara (Psicóloga). Era católico praticante. Desde jovem
freqüentou a Congregação Mariana, da Catedral Metropolitana, e chegou a ser
agraciado pelo Papa João XXIII com a comenda no grau de Cavaleiro da
Ordem de São Gregório Magno. Cursou a Escola Normal de Natal, foi tabelião
no Cartório de Pedro Velho-RN. Diplomou-se pela Faculdade de Direito de
Alagoas (1952): “(...) no foro de Natal, Hélio Galvão possui clientela numerosa e escolhida,
prova do seu valor como profissional e como jurista”, diria Manoel Rodrigues de Melo
em depoimento para a obra Patronos e Acadêmicos (MELO, p.30). Na área
do magistério lecionou nos níveis secundário e superior, a saber: Português,
História do Brasil e Literatura Brasileira, na Escola de Comércio de Natal e no
Seminário São Pedro; Pesquisa Social, na Escola de Serviço Social;
Antropologia Cultural, na Faculdade de Filosofia, e Sociologia, na Escola de
Jornalismo Eloy de Souza. Desde cedo integrou o corpo redacional de “A
Razão”, órgão ligado ao Partido Popular, colaborando, ainda, nos jornais “O
Cunhaú”, “Tribuna do Norte”, “A Ordem”, “A República” e “Diário de Natal”,
na revista “Bando”, também local, no periódico “Fronteiras & Tradição”, do
Recife, “Sociologia”, de São Paulo, e no Boletim do Ministério da Agricultura,
40 Anos 285
Rio de Janeiro. Participou do Movimento Integralista, de Plínio Salgado, mais
tarde lutou pela redemocratização do país (1945) e foi um dos fundadores
locais do Movimento Democrático Brasileiro-MDB. Era membro do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte-IHGRN e da Academia
Norte-rio-grandense de Letras-ANL, regularmente colaborando nas
respectivas revistas. Além de estudos na área do direito civil a sua bibliografia
compreende pesquisas históricas, folclóricas, antropológicas e etnográficas,
destacando-se, entre outros, os seguintes: Velhas Heranças (publicado na revista
“Bando”, Natal, nº. 1, vol. II, Ano III, 1951, e nº. 6, vol. IV, Ano VI, 1954);
Revogação de Isenção Tributária (Memorial forense ao STF, 1958); Mutirão no
Nordeste (Rio de Janeiro, 1959); O Caso da Jazida Estrondadeira (Memorial forense,
1960); Canais de Circulação Vertical na Sociedade Nordestina (Natal, 1962); Dos
Efeitos Patrimoniais em Mandado de Segurança (Natal, 1962); Calamidade Pública e
Responsabilidade Civil (Rio de Janeiro, 1967); Cartas da Praia (Rio de Janeiro,
1967); Novas Cartas da Praia (Rio de Janeiro, 1969); Estrutura Agrária no Rio
Grande do Norte (1973), e História da Fortaleza da Barra do Rio Grande (MEC-
Conselho Federal de Cultura, Rio de Janeiro, 1979). Postumamente, foram
publicados: Dix-Sept Rosado - uma biografia política (1982); Derradeiras Cartas da
Praia & Outras Notas Sobre Tibau do Sul (1989); Poemas da Tarde (1994); Romanceiro
(1994), e História da Fortaleza da Barra do Rio Grande, 2ª. ed. Natal: Fundação
Hélio Galvão/Scriptorim Candinha Bezerra, 1999. Foi o primeiro presidente
da Fundação José Augusto (1963-1966), órgão destinado a planejar e executar
a política cultural do Governo do Estado, à época exercido por Aluízio Alves.
A Fundação Hélio Galvão, criada por seus filhos, objetiva basicamente
preservar o seu acervo arquivístico e bibliográfico. Dele, disse Cascudo: “Hélio
Galvão, na idade do soneto, mergulhou nos cartórios, revivendo a dinastia incomparável dos
ressuscitadores do nosso passado”. Faleceu em Natal, a 20 de outubro de 1981.

_________________________
Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, Vol. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti,
1974; foto e informações complementares fornecidas por seu filho, Dácio Galvão.

286 Fundação José Augusto


GUIMARÃES, Luís Carlos
(Patrono de Prêmio Literário)

Nasceu em Currais Novos-RN, a 23.05.1934. Estudou em Caicó,


Natal e João Pessoa, onde se formou em Direito pela Universidade
Federal da Paraíba. Fixou residência em Natal, aqui exercendo a advocacia
e, simultaneamente, colaborando em alguns jornais e dedicando-se ao
magistério. Foi promotor e juiz, cargo no qual se aposentou. Através da
literatura, contudo, é que se tornaria mais conhecido. Iniciou na poesia
em 1961, com o livro “O Aprendiz e a Canção”, quatro anos depois
publicando “As Cores do Dia”, trabalho que lhe deu o primeiro lugar no
concurso Prêmio de Poesia Luís da Câmara Cascudo. Em que pese revelar-
se, nas letras, sobretudo como poeta, também se destacou na prosa. Em
1974 foi o vencedor do Prêmio Luís da Câmara Cascudo, instituído pela
Prefeitura Municipal do Natal, com a novela “O Pequeno Relógio da Coragem”.
Posteriormente, surgiriam: “Ponto de Fuga” (1979), ganhador do Prêmio
de Poesia Fundação José Augusto; “O Sal da Palavra” (1983), também
obtendo o primeiro lugar no concurso Otoniel Menezes, de poesia (PMN);
“Pauta de Passarinho” (1992); “A Lua no Espelho” (1993), vencedor do
Prêmio Jorge de Lima, da União Brasileira de Escritores; “O Fruto Maduro”
(1996), “113 Traições Bem-intencionadas” (1997) e, enfim, “A Pastora e o Arco-
íris” (1999), pelo qual recebeu o Prêmio Banco Real de Talentos da
Maioridade. Deixou inédito, ainda, um livro de contos, dentre eles – “O
olho de sangue da lua cheia” – foi publicado pelo jornal “O Galo” (Ano
XIII, nº. 7, julho, 2001, pp. 3-5). Seu último poema, “Ode a uma lua
vagabunda”, também está transcrito no referido jornal, edição de fevereiro
40 Anos 287
de 2002, nas pp. 18-19. Nos últimos anos de sua existência dirigiu o
Núcleo de Literatura da Fundação José Augusto. Integrava a Academia
Norte-rio-grandense de Letras, ocupando a Cadeira nº. 37, que pertencera
a Newton Navarro e que tem como Patrono o poeta Jorge Fernandes.
Faleceu em Natal, em 21 de maio de 2001.
_________________________
Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL.
Foto: Acervo da família.

Nota complementar
Comentários de escritores contemporâneos de Luís
Carlos Guimarães,(45) quando do lançamento de “A Lua no
Espelho” (1993):
Em seu novo livro, “A Lua no Espelho”, Luís Carlos
g

Guimarães mostra para que serve a poesia, redescobrindo a beleza das


palavras e das emoções que elas são capazes de transmitir. Um poeta
maduro, conhecedor da técnica e da carpintaria do poema, transcendendo
em cada verso os limites da expressão. (Celso Japiassu)
No trabalho poético de Luís Carlos Guimarães, são nítidas as
g

etapas conquistadas e desdobradas. Essa evolução encontra o seu páramo mais alto neste “A Lua no
Espelho”. Nele, o sentimento do verso e o sentimento do poema se unem e criam um espaço de afirmação
pessoal que reclama a atenção e o interesse do leitor de poesia. (Lêdo Ivo)
g
Desde a década de 60, Luís Carlos Guimarães vem construindo, com apaixonada persistência
de tecelão, uma das obras líricas mais importantes do país. Sua poesia tem momentos tão altos quanto os
mais altos vôos dos nossos poetas consagrados. (Nei Leandro de Castro)
Nesta última fase, o poeta consegue a síntese de uma visão unificadora do mundo, o seu mundo,
g

arrancando de tudo que passa a incólume certeza de aprisionar a poesia, em sua fugacidade permanente,
como nebulosas que se expandem no espaço curvo e finito. É quando o verso banha-se do frêmito de paz e
tranqüilidade pela graça de uma sagração bela e precípite. (Sanderson Negreiros)
_________________________
(45)
Extraído do livro “A Lua no Espelho”, Ed. Clima, 1993.

288 Fundação José Augusto


MAMEDE, Zila da Costa
(Madrinha de Biblioteca)

Nasceu em Nova Palmeira-PB, a 05.09.1928, filha de Josafá Gomes da


Costa e d. Elídia Bezerra Mamede, ambos de raízes norte-rio-grandenses. Era
ainda pequena, (...) Cinco, seis anos de idade, quando a família transferiu-se para
Currais Novos-RN. Mais tarde viria para Natal, onde se fixaria. Estudou no
Colégio Imaculada Conceição e, depois de uma tentativa frustrada de tornar-
se religiosa (seu pai a impedira de entrar para o convento), estimulada por
forte impulso interior – talvez contendo algo de angústia existencial –, começou
a escrever. Tinha, então, 21 anos de idade. Seus primeiros poemas, publicados
sob o título de Rosa de Pedra (1953), causaram excelente impressão junto à
crítica especializada, inclusive com manifestações efusivas de alguns autores
consagrados, tais como Mauro Mota: O poder comunicante parece a qualidade mais
forte dessa poetisa nordestina. E quando esse poder existe, o artista ultrapassa as experiências
e começa a tomar conta do seu lugar (Diário de Pernambuco, 16.07.1953) e Manuel
Bandeira: Rosa de Pedra merece ficar nas estantes ao lado dos melhores livros de versos
brasileiros (Manuel Bandeira: Poesia e Prosa, vol. 2, 1958). Formou-se em
Biblioteconomia no Rio de Janeiro (1955), passando a dirigir a Biblioteca do
Colégio Estadual do Atheneu Norte-rio-grandense e, posteriormente, a
Biblioteca da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos. Fez pós-graduação
na Universidade de Brasília (1965) e especialização em Biblioteconomia e
Documentação na Syracuse University Library, regressando a Natal e assumindo
a direção da Biblioteca Central da Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Sua vida profissional acusa, ainda, passagem pelo Departamento de
Recursos Humanos da SUDENE, pelo Instituto Nacional do Livro-INL, pela
40 Anos 289
Biblioteca Pública Câmara Cascudo e, como pesquisadora, pela elaboração
de importantes estudos, a saber: Biografia de Xico Santeiro (1966), Luís da Câmara
Cascudo, 50 Anos de Vida Intelectual – 1918-1968 (bibliografia anotada, em 3
vol., publicada a partir de 1970) e Civil Geometria: bibliografia crítica e anotada de
João Cabral de Melo Neto (publicada postumamente em 1987). Como poetisa,
seu segundo livro foi Salinas (1958), seguido de Arado (1959), prefaciado por
Cascudo. As inúmeras atividades profissionais e de estudo a absorveriam por
vasto período, até a publicação de Exercício da Palavra (1975) e, anos mais tarde,
Corpo a Corpo e Navegos (1978), este último uma coletânea do conjunto de sua
obra, e A Herança (1984). Sinto-me tão norte-rio-grandense que tenho susto quando olho
minha carteira de identidade!, teria dito, certa feita. Dedicara o Arado ao avô e a
Nova Palmeira, que chamara de terra mãe, fonte, raiz, chão do meu sertão, conforme
refere Edson Nery da Fonseca em conferência realizada na UFRN, a
29.09.1998,(46) não obstante admitir, em outra ocasião: Gostaria que Nova Palmeira,
vila fundada por meu avô e pelo meu padrinho de batismo, fosse no Rio Grande do Norte.
Era uma fazenda, uma vila, hoje é mais um município brasileiro, mas não é como município
e sim como fazenda do meu avô que permanece na minha geografia sentimental.(47) A essa
vertente telúrica se contrapõe, claramente, o fascínio pelo mar, também
lembrado por aquele conferencista: Tendo vivido a maior parte de sua existência
numa cidade talássica, soprada pelos alísios (...), é natural a presença, em muitos dos
poemas de Zila Mamede, do mar, dos ventos, das ondas, salinas, dunas, algas, navios,
sargaços, peixes, caravelas, gaivotas (op. cit., mesma página). Já aos vinte e quatro
anos de idade demonstrava profunda desilusão e algo de premonitório no
poema “Canção do vento e do teu amor”: O vento que vem de longe, / o vento que
vem do mar, / o vento que chega à toa, / vem à toa me chamar. Velho vento intrometido /
aos pulos, solto, vadio, / invade a minha janela, / enche o meu quarto vazio. Vento, vento
foi-se embora / levando um pouco de mim. Teu amor é como o vento: / chega e foge sempre
assim (do livro Rosa de Pedra). A 13 de dezembro de 1985, materializou-se
aquela imagem: nadava na Praia do Meio, na Natal que tanto amara, quando as
águas a envolveram, suprimindo num átimo todas as suas desilusões e angústias.
Horas mais tarde seu corpo foi encontrado na Praia da Redinha.

_________________________
(46) – matéria inserta no jornal “O Galo”, ano X, nº. 8, set, 1998, p.11.
(47) – INTERNET: www.memoriaviva.digi.com.br
Fontes: MAMEDE, Zila da Costa. A Herança. Recife: Edições Pirata, 1984; FONSECA, Edson Nery. “Vida
e Morte de Zila Mamede”, artigo publicado no Diário de Pernambuco, Recife, 1985; FONSECA, Edson Nery.
“A Poesia de Zila Mamede”, conferência realizada na UFRN em 29.09.1998 e publicada no Jornal “O Galo”,
set. – 1998; Jornal “O Poti”, edição de 15 de dezembro de 1985; foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL.

290 Fundação José Augusto


MEDEIROS, João Galvão de
(Patrono do Solar)

Nasceu em Natal, a 14.09.1921, filho de Oswaldo Orlando de


Medeiros e d. Maria Galvão de Medeiros, sendo seus avós paternos
Aureliano Clementino de Medeiros (que construiu os Solares Bela Vista e
João Galvão) e d. Maria Rosa de Medeiros, e maternos João Chissostomo
Galvão e d. Maria de Miranda Galvão. Engenheiro diplomado pela Escola
Nacional de Engenharia (Rio de Janeiro, 1946), ingressou no Departamento
Nacional de Estradas e Rodagens-DNER em 1948, órgão ao qual
permaneceria sempre vinculado. Nomeado por decreto do Exmo. Sr.
Presidente da República, então Getúlio Dornelles Vargas, para exercer o
cargo em comissão de Diretor da Estrada de Ferro Sampaio Correia, do
Ministério de Viação e Obras Públicas (publicado no Diário Oficial de
03.04.1951), ficaria nesta função até janeiro de 1955. Em 1953 foi eleito
presidente do ABC Futebol Clube, reeleito em 1954, quando também foi
eleito presidente do Clube de Engenharia para o mandato de um ano.
Exerceu, ainda, o mandato de Deputado Federal pelo Rio Grande do Norte
no período de fevereiro de 1955 a janeiro de 1959, no decurso do qual foi
membro da Comissão de Transportes da Câmara. Casou-se com d. Lúcia
Cotta Galvão de Medeiros com quem teve dois filhos: João Galvão de
Medeiros Filho e Bernardo Galvão de Medeiros, ambos também
Engenheiros. Faleceu no Rio de Janeiro em 16 de setembro de 1976.

_________________________
Fonte: Informações e fotos, acervo da família.

40 Anos 291
Nota complementar
Um dos conjuntos residenciais mais antigos de Natal é a Vila Ferroviária, situada no
Bairro das Rocas. São casas humildes, geminadas, em nítido contraste com os condomínios
concebidos pela moderna arquitetura, mas na época de sua construção (1954) emprestaram
um novo colorido à cidade, especialmente para quem se dirigia à Praia do Meio pela Rua
do Areal.
As fotos abaixo, extraídas do jornal “O Ferroviário” – de circulação interna na
Rede Ferroviária Sampaio Correia –, constituem momentos significativos da história daquela
Instituição, de certa forma também da Cidade do Natal. Vê-se, numa, a chegada do Dr.
João Galvão de Medeiros, acompanhando o então Presidente da República Café Filho,
no local para a inauguração do condomínio; na outra, ambos reunidos a populares. Estes
fatos se deram em 11 de dezembro de 1954.

292 Fundação José Augusto


MEDEIROS, José Augusto Bezerra de
(Patrono da Fundação)

Nasceu em Caicó-RN, a 22.09.1884, filho de Manoel Augusto Bezerra


de Araújo e d. Cândida Olindina de Medeiros. Descendia de Tomaz de Araújo
Pereira (primeiro presidente da Província do Rio Grande do Norte) e do
Senador José Bernardo de Medeiros. Começou a estudar aos cinco anos. Além
de sua mãe, foram seus professores primários d. Maria Leopoldina de Brito
Guerra e Manoel Hypólito Dantas, em Caicó; d. Adelaide Câmara e José
Amorim Garcia, em Natal, e Tomaz Sebastião de Medeiros em Acari, onde
concluiu o curso (1896). Casou-se com d. Alice Godoy Bezerra de Medeiros,
de família gaúcha (1917), e teve quatro filhos (Cândido, Manoel, Marina e José).
Concluíra o curso jurídico em 1905, na Faculdade de Direito do Recife, logo
assumindo a Procuradoria da República no Estado. A partir daí, exerceu os
cargos de professor e diretor do Atheneu Norte-rio-grandense; Juiz de Direito
da Comarca de Caicó; vice-Presidente da Conferência Institucional do Ensino
Primário; Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Norte; redator dos
jornais “Diário de Notícias”, “O Jornal” e “A Manhã” (todos no Rio de
Janeiro), e de diretor das revistas “A Educação” e “Revista Brasileira de
Educação”. Aliás, Fernando de Azevedo (A Cultura Brasileira, p. 647) cita a
revista “Educação”, fundada e dirigida por José Augusto no Rio de Janeiro
em 1922, como (...) uma das novas correntes do pensamento pedagógico, tecendo algumas
considerações elogiosas ao potiguar. José Augusto foi Deputado Estadual,
Deputado Federal (em seis legislaturas), Senador (duas legislaturas) e
Governador do Estado do Rio Grande do Norte (1924-1927). Entre outros,
escreveu os seguintes livros: “Famílias Seridoenses”; “Representação Profissional das
40 Anos 293
Democracias”; “Pela Educação Nacional”; “O Regime Parlamentarista”; “O Sal e o
Algodão na Economia Potiguar”; “O Seridó e O Anteprojeto da Constituição em Face da
Democracia” (1934). Era sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico
Brasileiro; sócio benemérito do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte e da Associação Comercial do Rio de Janeiro; sócio honorário do
Instituto Histórico e Geográfico do Ceará; sócio remido da Associação
Brasileira de Imprensa; membro do Conselho Nacional de Economia, da
Sociedade Brasileira de Economia Política, da Comissão Diretora da
Associação Comercial do Rio de Janeiro, da Comissão Executiva do Instituto
Nacional do Sal, da Subcomissão de Legislação Social, da Comissão Diretora
da Associação Brasileira de Educação, da Academia Norte-rio-grandense de
Letras e da Academia Brasileira de Escritores, além de, no âmbito internacional,
haver pertencido, também na qualidade de membro, ao Conseil de Direct on de
l´academie internacional de Science Politique et d´Histoire Constitucionelle e a Société de
Legislation Comparée, ambos na França. José Augusto, que foi inclusive Delegado
do Brasil à Assembléia Geral da Organização das Nações, em Paris (1951-
1952), é o Patrono da Fundação Cultural do Estado e dá nome ao Palácio da
Assembléia Legislativa do Rio Grande do Norte e a uma rua na Praia de Areia
Preta. (...) José Augusto era um tipo humano que amava o lugar de nascimento, a civilização
do gado e do couro, o agreste do algodão, a caatinga, com seus cactos e sua paisagem dura,
angulosa e trágica, disse João Medeiros Filho. – Mas, completou, o homem José
Augusto não foi um cacto, foi um político amável, habilidoso, contemporizador, envolvente,
olhos fitos no progresso e no bem-estar do seu povo (Contribuição à História Intelectual
do Rio Grande do Norte, p. 45). Um homem singular. Faleceu no Rio de
Janeiro, a 28 de maio de 1971.

_________________________
Fonte: Texto e foto, Arquivos da FJA/CEPEJUL.

294 Fundação José Augusto


MONTE Filho, Lauro
(Patrono de Teatro em Mossoró)

Nasceu em Mossoró-RN, a 01.06.1933, filho de Lauro de Albuquer-


que Monte Rocha e d. Maria de Lourdes Nogueira do Monte. Formou-
se em Ciências Jurídicas na FURRN- Fundação Universitária Regional
do Rio Grande do Norte. Foi sócio-fundador da Academia Mossoroense
de Letras-AMOL, onde ocupava a Cadeira nº. 26, cujo patrono é o diretor
teatral Inácio Meira Pires. Com efeito, participou ativamente do processo
teatral mossoroense, dando grande visibilidade ao Teatro de Amadores
de Mossoró-TEAM, sobretudo nos idos da década de 60, inclusive
chegando a publicar importante estudo a respeito – Caleidoscópio do TEAM
– pela Coleção Mossoroense. Dele, disse Dorian Jorge Freire: Com a
inesperada morte de Lauro Monte Filho cessou uma fonte rica e humana de
inteligência a serviço da cultura em Mossoró. Lauro era o historiador de nosso
teatro, era cronista e memorialista do Tibau, estudioso da genealogia das grandes
famílias daqui – os Nogueira, os Rocha (jornal O Mossoroense, ed. de 08
julho de 1937). Faleceu em Mossoró, a 07 de junho de 1997.

_________________________
Fonte: Texto e foto cedidos pelo Prof. Raimundo Soares de Brito.

40 Anos 295
PARREIRAS, Ary
(Patrono de Museu em Natal)

Nasceu no Rio de Janeiro, em 17.04.1890. Formou-se na tradicional


Escola Naval, no Rio de Janeiro, e no decurso de sua carreira assumiria o
comando da Base Naval daquela cidade. Como oficial do contra-
torpedeiro-líder “Piauí” tomou parte na I Guerra Mundial, sendo
agraciado com a Cruz e a Medalha da Vitória pelo Governo Inglês.
Participando de conspirações e movimentos revolucionários, foi preso
diversas vezes a partir de 1924, chegando a ser condenado a um ano de
reclusão (1929). Anistiado com a Revolução de 30, foi designado
Interventor Federal no Estado do Rio de Janeiro. No período de 1941 a
1945 o Almirante Parreiras foi incumbido de coordenar os trabalhos de
construção da Base Naval de Natal, cuja finalidade era a defesa do litoral
do Nordeste do país no decurso do conflito mundial. Tornou-se o seu
primeiro comandante e aquela instituição homenageou-o adotando o seu
nome. Ao fim daqueles eventos foi condecorado com a Ordem do
Cruzeiro do Sul e com a Medalha de Ouro, pelos relevantes serviços
prestados à Marinha de Guerra e ao Brasil. Receberia, ainda, a Medalha
da Legião de Honra, do Governo Norte-americano. Faleceu em Niterói-
RJ, a 9 de julho de 1945.

_________________________
Fonte: Arquivos da FJA/CDC.
Foto: acervo do Museu Ary Parreiras (Marinha do Brasil - Natal)

296 Fundação José Augusto


PEREIRA, Nilo de Oliveira
(Patrono de Museu em Ceará-Mirim)

Nasceu em Ceará-Mirim-RN, em 11.12.1909. Veio para Natal no início


dos anos 20, aqui cursando o Atheneu Norte-rio-grandense e, posteriormente,
a Escola de Comércio, onde se diplomaria Contador. Ainda nesta capital
iniciou-se no jornalismo escrevendo para o “Diário de Natal”. Foi estudar
Direito no Rio de Janeiro (1928), transferindo-se para a Faculdade do Recife
(1930) e concluindo o curso dois anos mais tarde. Na capital pernambucana se
estabeleceria profissionalmente, bem como empreenderia atividades paralelas
nos campos educacional, cultural e político: (...) ele foi jornalista, professor,
memorialista, historiador, ensaísta, conferencista, poeta, administrador, jurista e político,
sem esquecer os raros dons de ‘causeur’ e de epistológrafo consumado e constante (BRITO
GUERRA, p. 161). Em 1930, a convite de Aderbal de França, passou a
colaborar no jornal “A República”, de Natal, e a partir de 1935 – e praticamente
até o fim dos seus dias – escreveu para o Jornal do Comércio, no qual manteve
a coluna “Notas Avulsas”. Exerceu diversos cargos públicos no Estado de
Pernambuco, nas áreas da educação e da imprensa, ali também tendo sido
eleito Deputado Estadual (1950-1954). Lecionou na Escola Normal de
Pernambuco, em alguns colégios do Recife e na Faculdade de Filosofia da
Universidade Católica, da qual foi um dos fundadores. Era membro das
Academias Norte-rio-grandense e Pernambucana de Letras, do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, do Instituto Arqueológico,
Histórico e Geográfico de Pernambuco, do Conselho Estadual de Cultura de
Pernambuco, do Conselho Diretor do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas
Sociais e de diversas outras instituições do gênero de outros estados. Além do
40 Anos 297
Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de
sua obra, recebeu a Medalha Almirante Tamandaré, concedida pela Marinha
de Guerra do Brasil, a Medalha do Mérito Pernambucano e a comenda da
Ordem de Cristo, tendo ainda sido agraciado com o Colar de Ouro do Instituto
de Coimbra da Universidade de Coimbra (Portugal). Entre mais de quatro
dezenas de títulos produzidos pelo ilustre potiguar, destacamos os seguintes:
A Dimensão Humana (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1975); O Tempo Mágico
(Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1976); Imagens do Ceará-Mirim, prefácio de
Edgar Barbosa (Fundação José Augusto, Natal, 1977); A Faculdade de Direito do
Recife – 1927-1977, prefácio de Gilberto Freire (Ed. Universitária, UFPE,
Recife, 1977); Lembrança de Edgar Barbosa (Ed. Universitária, UFRN/Coleção
Mossoroense, Natal, 1978); Reflexões de um fim de século (Ed. Radier, Recife,
1979); O Guaporé restaurado (Ed. Radier, Recife, 1979); Notícia do Invisível (Ed.
Pirata, Recife, 1982); A Rosa Verde (Ed. Universitária, UFPE, Recife, 1982) e
José Augusto Bezerra de Medeiros, um Democrata (Fundação José Augusto, Natal,
1982). Passara a infância no Engenho Guaporé – cuja casa-grande foi tombada
pelo IPHAN, após restauração executada pela Fundação José Augusto –, e
em suas dependências esta instituição instalou o museu que leva o seu nome.
Nilo Pereira faleceu em Recife, a 23 de janeiro de 1992.

_________________________
Fontes: MELO, Veríssimo Pinheiro de. Patronos e Acadêmicos, V. II. Rio de Janeiro: Editora Pongetti, 1974;
BRITO GUERRA, Otto de. Elogio de Nilo Pereira in Revista da ANL, Vol. 37, nº. 25, 1996, Natal. 400 Nomes
de Natal.
Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

298 Fundação José Augusto


PEREIRA PINTO, Alexandre Francisco(*)
(Patrono de Museu em Pedro Avelino)

Nasceu na então Vila de Angicos-RN, hoje município, em 13.11.1834,


filho de Alexandre Francisco Pereira Pinto (mesmo nome que o seu, portanto),
e de d. Damásia Francisca dos Santos. Era bisneto de Antônio Lopes Viega,
fundador da comunidade. Conhecido como “Capitão Antas”, tinha
temperamento forte, tinha temperamento forte mas era profundamente
humanitário; certa vez financiou, a juros simbólicos, a agricultura local, numa
época de imensas precariedades (não havia, ainda, o sistema de cooperativas e
os roçados praticamente se resumiam à produção para o consumo). Foi
nomeado subdelegado de Gaspar Lopes, Distrito do Município de Angicos,
em 1891, cargo do qual só seria exonerado em 1916 a seu pedido, dada a
idade avançada. Consta que o exerceu com moderação e sabedoria, nunca se
valendo de sua posição para “tirar proveito” ou humilhar seus concidadãos.
Casara duas vezes, do que resultaram treze filhos (quatro deles morrendo ainda
criança). Profundamente estimado pelo seu povo, Capitão Antas (o apelido
surgira em razão de alguns tropeiros acharem-no parecido com um tal
“Dantinha do Teixeira” e de seus irmãos só conseguirem pronunciar “Antinha”,
fixando-lhe a partir daí o nome “Antas”). Faleceu em 1923, aos 89 anos de
idade, depois de toda uma vida dedicada à sua região. Hoje dá nome ao museu
da cidade de Pedro Avelino, em cujo cemitério se encontram os seus restos
mortais.
_________________________
(*) Esgotamos todos os recursos possíveis no sentido de localizar uma foto deste patrono, inclusive
através de contatos com familiares seus.
Fonte: Arquivos da FJA/CDC.

40 Anos 299
Fotos: Ricardo Monteiro

Museu “Capitão Antas”, no Município de Pedro Avelino, antes e depois


da restauração realizada pela Fundação José Augusto.

300 Fundação José Augusto


PEREZ, Rossini Quintas
(Patrono da Oficina de Gravuras)

Nasceu em Macaíba-RN, a 16.09.1931, filho do Espanhol da Galícia


Jaime Queiroz Perez e da norte-rio-grandense Joana Geraldo. Gravador,
desenhista, pintor e professor. Ativo em Paris, desde 1961, regressou ao Brasil
em 1972. Estudou gravura com Fayga Ostrower, no Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro (1953), onde também, sob a orientação de Margaret Spence,
fez o curso de cerâmica. Foi assistente de Johnny Friediander e de Edite Behring
1959 a 1961), no mesmo Museu. Mais tarde foi aluno da Rijksakademie de
Amsterdã, como bolsista da UNESCO. Participou do I ao IX Salão Nacional
de Arte Moderna, Rio de Janeiro (1952 a 1960), obtendo isenção de Júri (1955)
e prêmio de viagem ao País (1960); do III, IV e V Salão Paulista de Arte
Moderna (de 1954 a 1956), prêmio aquisição e segundo prêmio Governo do
Estado (1956); da III a IX Bienal de São Paulo (1955 a 1967), isenção de júri
(1961) e prêmio ltamarati; da XXXI Bienal de Veneza (1962); da III Bienal de
Paris (1963); das mostras de Arte Moderna em Buenos Aires, Rosário, Santiago
do Chile, Lima e Brasil; da Exposição Arte Brasileira Atual, em Londres e
Viena (1965); da exposição Artistas Brasileiros Contemporâneos, no Museu
de Arte Moderna de Buenos Aires (1966); do IV Salão Baiano de Belas-Artes,
obtendo menção honrosa (1966); da Bienal de Carrara, Itália, obtendo o Prêmio
Internacional de Gravuras, de mostras coletivas em Munique, Oslo, Madri,
Jerusalém, Washington, Nova lorque e Londres. Realizou individuais em
Montevidéu (1959), Lima (1960), Lisboa (1961 e 1965), Roma (1961),
Hamburgo (1962), Amsterdã (1964), Londres (1965), Roma (1966), nas
Galerias Seta, São Paulo (1965), em Brasília (1965) e Gemini no Rio de Janeiro
40 Anos 301
(1967). Tem feito ilustrações para jornais e revistas do Rio de Janeiro. Foi
professor de gravura no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e nos
cursos de gravura do Instituto Brasil-Bolívia, em La Paz, da Escola de Belas-
Artes de Lima, da Sociedade Gravura de Lisboa e das Universidades de Belém
e Brasília. A seu respeito escreveu Walmir Ayala (Jornal do Brasil, 25/7/72),
quando de individual do artista na Galeria Bonino, no Rio de Janeiro: “(...)
Uma poderosa demonstração de técnica e criatividade a mostra deste artista
que, consciente da armadilha da cozinha da gravura, exercita a
tridimensionalidade, além do relevo gráfico, num gesto insatisfeito de superar
seus próprios instrumentos. (...) Rossini Perez... soube trazer a lição da
inquietação e da vitalidade, num momento em que a gravura parecia desandar
na superficialidade dos seus azeites e brilharecos. (...) Os complicados nós, que
sugerem o indissolúvel, a fusão dos novelos enlaçados, os labirintos gratificantes
de cálida matéria relevada testemunham uma estrutura efetiva e de positiva
humanidade que conduz a memória de infância deste artista consumado à
construção de uma obra que não se deixa sufocar pela técnica estéril. . .” Tem
obras no Museu de Hamburgo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro,
Museu do Havre, Museu de Arte Contemporânea de São Paulo, Museu de
Leverkusen, Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, Museu de Southampton
e no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro, onde reside atualmente.

Nota complementar
Em 1999 a Academia Brasileira de Letras expôs uma seleção de gravuras de Rossini
Perez – “Trajetória 1954-1981” -, dentro da Mostra Rio Gravura, ocasião em que o
Acadêmico Antonio Olinto emitiu o seguinte parecer:
g
O negro profundo de muitos dos seus trabalhos é, de vez em quando, substituído por traços
rápidos a que a prensa empresta determinado tom de leveza. Falei em “coração da matéria”, e é nessa
penetração mais funda e forte no íntimo dos objetos que vejo o vigor de Rossini Perez como gravador.

_________________________
Fonte: Transcrito de Artes Plásticas do Rio Grande do Norte, de Dorian Gray Caldas, UFRN-FUNPEC-
SESC. Natal, 1989.
Foto: Juan Esteves (cedida por Rossini Perez).

302 Fundação José Augusto


PINHEIRO, Aurélio Valdemiro
(Patrono de Prêmio Literário)

Nasceu em São José de Mipibu-RN, a 28.01.1882, filho de Manuel


Pinheiro e d. Maria Barbosa Pinheiro. Cursou humanidades no
Atheneu Norte-rio-grandense e tornou-se médico na Faculdade da
Bahia. Integrou-se a movimentos literários na provinciana Natal do
início do século XX, participando de grupos como o “Le Monde
Marche” em cujo jornal, “Oásis”, publicou versos e crônicas. Foi
funcionário da Fazenda Estadual (1907), clinicou em Macau e Areia
Branca e, aproveitando momentos de folga, escreveu crônicas e
novelas. Em “O Mossoroense” escreveu a seção “Bilhetes da Serra”
(1909), sob o pseudônimo de Estanislau Pamplona, e “Crônicas”
(1910), assinando A. Áureo Pinho. Mudando-se para Parintins, no
Amazonas, abriu consultório e foi nomeado Inspetor Sanitário, dali
enviando matérias para “A República”, às quais deu o título geral de
“Notas do Amazonas”, no mesmo período colaborando com jornais
daquele Estado. Como romancista, seu livro inicial – O Desterro de
Umberto Saraiva (1926) – foi premiado pela Academia Brasileira de
Letras e editado pela Livraria Clássica, de Manaus, naquele mesmo
ano. Seguiu-se Gleba Tumultuária (1927), também publicado pela
Livraria Clássica. Dois anos mais tarde torna a se transferir, dessa
vez para o Rio de Janeiro, passando a ensinar em Niterói e
prosseguindo em sua produção. Traduz obras de autores como Stefan
Zweig, André Maurois, Carlyle, Máximo Gorki e Sinclair Lewis, na
área literária, e alguns estudos científicos. Publicaria, ainda, um
40 Anos 303
“Dicionário de Sinônimos da Língua Nacional” (provavelmente em
1930), e Macau (1934), deixando inéditos Diário de um Médico, À Margem
do Amazonas, Página da Vida (contos) e O Ouro do Sucunduri (romance).
Aurélio Pinheiro é o Patrono da Cadeira nº. 27 da Academia Norte-
rio-grandense de Letras. Para Américo de Oliveira Costa, foi “o maior
dos romancistas norte-rio-grandenses”. Faleceu em Niterói, a 17 de novembro
de 1938.

Nota complementar
“(...) Macau é, para nós, seus conterrâneos, o seu trabalho
mais representativo, justamente por suas características
regionalistas: a estória, os tipos humanos, o ambiente, os costumes,
as circunstâncias nos restituem (...) um passado de oitenta ou
noventa anos, na cidade de Macau, seu centro urbano, os subúrbios,
o aterro, as salinas, as praças, as ruas. Romance social, além de
regionalista? Digamos: mais romance de costumes, e, como todo
romance de costumes, romance realista.
“Aurélio não pretendeu servir-se da presença das atividades
para levá-la ao seu livro, como background. Outros o tentariam,
como José Mauro de Vasconcelos em ‘Barro Blanco’. O objetivo de Aurélio foi, mais definidamente,
o ‘piccolo mondo’ macauense de que o romancista se tornou, como acentuou o crítico Agripino
Grieco, o ‘arrecadador de sentimentos infinitesimais’, depondo como testemunha de vista e ouvido.
Recriou-o o escritor com a verdade de sua memória e de sua imaginação, fixando pessoas, fatos e
cenários que deixaram raízes na lembrança coletiva.”
Estas colocações fazem parte do prefácio da obra “Macau”, elaborado por Américo
de Oliveira Costa,(48)que assim o conclui:
“Quando saiu ‘Macau’, o crítico Agripino Grieco, já aqui citado, em artigo publicado
na Imprensa do Rio, e inserto, depois, em seu livro ‘Gente Nova do Brasil’ (Ed. José Olímpio,
2ª. edição, 1948, pp. 60-62), frisou: ‘De outros romances se tem falado demais. Deste se tem
falado de menos.’ Observação que bem resume todo o injusto destino literário de Aurélio Pinheiro.
Sempre de menos se falou dele, nunca na extensão, na proporção de sua exata importância.”
________________________
(48)
Américo de Oliveira Costa, Natal, 1984
Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL.
Foto: Reprodução da gravura de Francisco Iran, por Anchieta Xavier.

304 Fundação José Augusto


PORTINARI, Cândido
(Patrono da Escolinha de Artes)

Nasceu numa fazenda de café em Brodósqui-SP, a 29.12.1903, filho de


imigrantes italianos. Cresceu entre trabalhadores do campo, diz o seu biógrafo e
amigo Celso Kelly. A fazenda e o pequeno povoado constituíam quadros vivos do
Brasil-rural, ante os olhos penetrantes e ávidos do menino Cândido. As recordações
desse ambiente nunca mais se apagariam, completa. Em 1914, com apenas 11
anos, apresentou o primeiro trabalho, um retrato de Carlos Gomes, e em 1918,
só com o curso primário, fixou-se no Rio de Janeiro, iniciando-se no Liceu de
Artes e Ofícios e, a seguir, na Escola Nacional de Belas-Artes, onde freqüentou
as classes de Amoedo, Batista da Costa e Lucilo de Albuquerque. É
seguidamente premiado no Salão Nacional de Belas-Artes, com a medalha de
prata (1927) e a de ouro (1928), neste último ano conquistando inclusive um
prêmio de viagem à Europa, ali permanecendo por vasto período. Em 1935
tornou-se professor do Instituto de Artes da então recém-fundada Universidade
do Distrito Federal, no mesmo ano ganhando a segunda menção honrosa do
Prêmio Carnegie, em Pittsburgh (EUA), com a tela “Café”, projetando-se
internacionalmente. Em 1937 iniciou os estudos para a série de murais que
executaria nas paredes do hall, do auditório e do salão do Ministério da
Educação, no Rio de Janeiro, edifício cuja construção fora projetada por um
grupo de arquitetos liderados por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa. No ano de
1938 o Museu de Nova Iorque adquiria um de seus quadros e o Ministério da
Educação promovia, no Museu Nacional de Belas-Artes, uma exposição de
269 obras do artista. Em 1939 expôs três grandes painéis na Feira Mundial de
Nova Iorque e, no ano seguinte, a Universidade de Chicago publicou um livro-
40 Anos 305
álbum com o título “Portinari, sua vida e sua arte”. Há painéis seus na Biblioteca
do Congresso, em Washington, na Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, e
na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Expôs na Galerie
Charpentier (1946), em Paris, onde recebeu a condecoração da Legião de
Honra do Governo Francês. Vários outros trabalhos produziu, como os painéis
históricos: “Tiradentes”, “Chegada de Dom João VI ao Brasil” e
“Descobrimento do Brasil”. Sua última obra (1961) foi um grande painel, em
azulejo, num edifício de Paris. Intoxicado pelas tintas que manuseava, Cândido
Portinari – considerado a mais alta expressão da pintura moderna no Brasil –
faleceu no Rio de Janeiro, a 6 de fevereiro de 1962.
_________________
Fontes: Arquivos da FJA/CEPEJUL; site www.portinari.org.br (inclusive foto).

Nota complementar
Com uma prodigiosa produção
superior a 4.000 obras – incluindo murais,
afrescos, painéis, pinturas, desenhos e
gravuras –, abordando extrema variedade
de aspectos da realidade brasileira do seu
tempo (primeira metade do Séc. XX),
Portinari ainda encontrou tempo para fazer
poesias, inclusive atendo-se a mesma
temática do seu trabalho nas artes plásticas.
Em 1964 foi publicado o livro
“O Menino e o povoado”, com uma
seleção dos seus poemas realizada pelo
poeta Manuel Bandeira, no qual consta
uma revelação do ilustre pintor. – Quanta
coisa eu contaria, se soubesse a língua como a
cor! ...
Ao seu respeito, disse o escritor
Jorge Amado:
O Cândido Portinari nos engrandeceu com sua obra de pintor. Foi um dos homens mais
importantes do nosso tempo, pois de suas mãos nasceram a cor e a poesia, o drama e a esperança
de nossa gente. Com seus pincéis, ele tocou fundo em nossa realidade. A terra e o povo brasileiros
– camponeses, retirantes crianças, santos e artistas de circo, os animais e a paisagem – são a
matéria com que trabalhou e construiu sua obra imorredoura...
_________________
Foto: Reprodução da obra Jangada 60 x 72 / Ano 1950; pintura a óleo / tela.

306 Fundação José Augusto


SANTOS LIMA, Elias Antônio Ferreira Souto dos
(Patrono de Prêmio Literário)

Nasceu em Açu-RN, a 25.01.1848. Aos 20 anos fez concurso em Natal


para Professor do Ensino Primário, sendo nomeado sucessivamente para as
cidades de Açu, Macau e São José de Mipibu. Tornar-se-ia, no entanto, o primeiro
jornalista profissional do Rio Grande do Norte. Fundou vários jornais,
começando com “O vaga-lume” (1873). Seguiram-se “O Sertanejo” (1873-
1876), “Jornal do Açu” (1876-1885), “A Abolição” (1883) e “O Açuense”
(1885), estes em Açu; em Macau “O Macauense” (1886-1889) e em São José de
Mipibu “O Nortista” (1892-1893) que, ao transferir-se para Natal (1895),
passaria a denominar-se “Diário”, meses depois “Diário do Natal” (segundo
Cascudo, este teria circulado de 1895 a 1913). Apesar dessa intensa atividade,
Elias Souto era paralítico desde jovem. Agressivo e inconformado com a
situação política de sua época, tornou-se adversário do então Governador do
Estado Pedro Velho. Foi abolicionista, inclusive um dos fundadores da
organização “Libertadora Açuense”, mas mantendo-se fiel ao Partido
Conservador. A aversão de Elias Souto a Pedro Velho não se limitava à
política: o Governador o designara para ensinar em Pau dos Ferros, extremo
oeste do Estado, apesar de suas extremas dificuldades de locomoção,
duplamente agravando-se o problema por tratar-se da disciplina “Calistenia”
(correspondente à Educação Física), mesmo sabendo que vivia numa cadeira
de rodas. Elias Souto faleceu no dia 17 de maio de 1906.

_________________________
Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL
Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

40 Anos 307
Nota complementar
Registramos uma curiosidade, a respeito do ilustre jornalista. Vimos, acima,
que fundou vários jornais, inclusive “O Nortista”, em São José de Mipibu.
Mundando-se para esta capital, continuou a publicá-lo dando seqüência à
numeração: em março de 1893 distribuiu o nº. 56, já em Natal.
Posteriormente, havendo Elias Souto adquirido a empresa Libro-Tipográfica
Natalense, aumentou-lhe o formato e mudou-lhe a denominação para “Diário do
Natal”, mais uma vez prosseguindo a numeração iniciada com “O Nortista”, desta
feita publicando o nº. 292 a 7 de setembro de 1895, “com o mesmo programa, os
mesmos fins e intuitos e a mesma redação”. O redator-chefe também era o mesmo
– Elias Souto –, cujo escritório situava-se na Rua da Conceição, nº. 33. A tipografia,
porém, estava instalada na Rua Visconde do Rio Branco, nº. 28, mais tarde sendo
transferida também para a Rua da Conceição “esquina do Beco da matriz”.
Consta que referida tipografia “(...) foi assaltada e em grande parte destruída
na noite de 18 para 19 de fevereiro de 1905, causando esse ato sumamente
lamentável a interrupção da publicação do jornal por algum tempo”.
No ano seguinte, com o falecimento de Elias Souto, assumiu a chefia de
redação o Dr. Augusto Leopoldo Raposo da Câmara.

_________________________
Fonte: Informações colhidas no livro “A Imprensa periódica no Rio Grande ao Norte - 1832-1908”, de Luiz
Fernandes, 2ª. edição, FJA/ Sebo Vermelho, 1998.

308 Fundação José Augusto


SILVEIRA, Myriam Coeli de Araújo Dantas da
(Madrinha de Biblioteca em Natal)

Nasceu em Macapá-AP, a 01.11.1926, filha de José Silvino de Araújo


e d. Maria Esther de Araújo. Com apenas dois meses de idade veio residir
em São José de Mipibu, onde mais tarde cursaria o primário no Grupo
Escolar Barão de Mipibu. Fez o secundário no Colégio Estadual do Atheneu
Norte-rio-grandense (1943-1946), em Natal, e o Superior na Faculdade de
Filosofia do Recife, ali recebendo o título de Bacharel em Letras Neolatinas
(1949), e na Escuela Oficial de Periodismo de Madrid, Espanha (onde foi bolsista
do Instituto de Cultura Hispânica), titulando-se em Jornalismo (1954).
Naquele país, aliás, teve oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre
a história da arte, da língua e da literatura espanholas, estudando tais
disciplinas na Faculdade de Filosofia y Letras de Madrid. Retornando ao Estado,
lecionou Francês no Ginásio Municipal (1959), Português na Escola Técnica
Federal (1964-1971) e Literatura Portuguesa no Colégio Estadual do
Atheneu Norte-rio-grandense (1971); foi Profª. Assistente na Cadeira de
História da Língua Portuguesa – cujo titular era o Prof. Arnaldo Arsênio
de Azevedo – na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Natal (1966)
e Profª. na Cadeira de História da Imprensa da Faculdade de Jornalismo
“Eloy de Souza” (1966), além de integrar bancas examinadoras de concursos
de habilitação (inclusive em vestibulares) em várias instituições. Manteve
coluna literária na Tribuna do Norte (1952), no Diário de Natal (1953) e
n’A República (1956-1961). Numa época em que a participação feminina
no emprego era, ainda, muito incipiente, mormente na redação dos jornais,
consta que terá sido pioneira, em Natal, neste particular (eventuais
40 Anos 309
ocorrências anteriores, como nos casos de Isabel Gondim, Clarice Palma
ou, mais recentemente, “Chicuta” Nolasco, deram-se, apenas, a título de
colaboração, sem contrato formalizado ou compromisso com as técnicas
jornalísticas então vigentes). Publicou Imagem Virtual (1961), uma coletânea
de poemas escritos em parceria com seu marido, o também Jornalista Celso
da Silveira, Vivência Sobre Vivência (1980), Cantigas de Amigo (prêmio “Otoniel
Menezes”, 1980), Inventário (prêmio Fundação José Augusto, 1981) e Catarse
(prêmio “Otoniel Menezes”, 1981). Myriam Coeli recebeu vários títulos,
dentre os quais o que mais a identificava era o de “Dama Laço Azul
Celeste”, da milenária Irmandade Santa Helena, fundada pelo Imperador
Constantino, recebido em Madrid (1954). Faleceu em Natal a 21 de
fevereiro de 1982.
_________________________
Fontes: SILVEIRA, Celso da. Ave, Myriam, Coletânea de depoimentos e homenagens (Co-edição
Editora Universitária/Edições Clima, Natal, 1984); MYRIAM COELI de Araújo D. da Silveira (1926-1982).
Documentos curriculares; Jornal A República, edição de 25.02.1982; Jornal Diário de Natal, edição de
25.02.1982; Jornal Tribuna do Norte, edição de 26.02.1982.

Nota complementar
Poema extraído do livro Inventário:

MEUS BRINQUEDOS DE CARTÃO


Para meus filhos Cristiana Coeli e Eli Celso

Meus brinquedos de cartão


todos trocados estão:
Meu El-Rei cavaleiro,
por homem verdadeiro.
A bela dama antiga,
por uma nova amiga.
Todos cavalos pintados
por outros ajaezados.

Meus brinquedos de cartão


desfeitos todos estão:
meu El-Rei cavaleiro
fugiu-me bem ligeiro;
A bela dama antiga
já morreu de coriza.
Todos cavalos pintados
já foram esquartejados.
Meus brinquedos de cartão
perdidos na infância estão.
_________________________
Foto: Arquivos da FJA/CEPEJUL

310 Fundação José Augusto


SOBRAL DE MEDEIROS, Mons. Expedito
(Patrono do Memorial em São Paulo do Potengi)

Nasceu em São Rafael-RN, a 13.12.1916, filho de João Batista de


Medeiros e d. Umbelina Sobral de Medeiros. Iniciou os estudos na Escola
“7 de Setembro”, em Lajes, também neste Estado. Ingressou no Seminário
Menor aos 11 anos de idade (1928), transferindo-se mais tarde (1933) para
o Seminário Maior da Prainha, em Fortaleza, onde, além de concluir os
cursos de Teologia e Filosofia, recebeu as ordens de praxe que antecedem
a do efetivo exercício eclesiástico. Foi ordenado sacerdote a 19 de
novembro de 1939, na Catedral Metropolitana de Natal, hoje Matriz de

Residência do Mons. Expedito Medeiros, transformada no Memorial que o homenageia.

40 Anos 311
Nossa Senhora da Apresentação, no dia seguinte oficiando sua primeira
missa, na Capela do Colégio Santo Antônio. Em 1943, por designação de
Dom Marcolino Dantas, então Bispo da Diocese de Natal,(49) assumiu a
Paróquia de São Paulo do Potengi como seu primeiro Vigário, posto em
que permaneceria até sua morte, quando foi substituído por Pe. Severino
dos Ramos Vicente (jan. 2000). Destacou-se por suas ações sociais no meio
rural, tendo sido, inclusive, um dos líderes do “O Movimento de Natal”,
do qual resultariam as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica
progressista. Nos últimos anos, apesar da idade bastante avançada,
integrou-se na luta por um semi-árido mais humanizado e pelo combate à
seca. Foi um dos mais eloqüentes defensores do projeto de adutoras. A
Casa Paroquial de São Paulo do Potengi, onde residia, foi tombada pelo
Governo Estadual (set., 2002), ali sendo instalado importante acervo de
objetos pessoais e da obra daquele que entraria para a história do Rio
Grande do Norte como “O Apóstolo das Águas”. Faleceu em 16 de janeiro
de 2000.
_________________________
Fonte: Livro “Biografia dos Sacerdotes” – Cúria Metropolitana da Arquidiocese de Natal.

Nota complementar
Quando do falecimento do ilustre norte-rio-grandense, o então Governador do
Estado, Garibaldi Alves Filho, recebeu a seguinte mensagem do Presidente da República:
Senhor Governador,
Estou sendo informado do falecimento do Reverendíssimo Monsenhor Expedito Medeiros,
abnegado servidor da Igreja Católica e desprendido apascentador do povo potiguar e a quem
tive a honra de conhecer quando da inauguração de obras hídricas nesse Estado, em companhia
de Vossa Excelência.
A força e a obstinação com que defendia a expansão da oferta de água para o semi-árido
nordestino, como condição essencial para a preservação da vida e da dignidade humana, deixaram-
me forte e indelével impressão, permitindo-me passar a denominá-lo de ‘apóstolo das águas’.
A sua mensagem e o seu exemplo de luta estão sendo perpetuados através das importantes
obras de captação e adução que o meu Governo, em conjunto com o Estado, está realizando no
Rio Grande do Norte, dando Vossa Excelência, merecidamente, o seu nome a uma das adutoras
recentemente inauguradas.
Associo-me aos seus familiares, ao Clero e, através de Vossa Excelência, ao povo potiguar
pela partida do insigne Monsenhor Expedito.
Atenciosamente,
Fernando Henrique Cardoso
_________________________
A Diocese de Natal só seria elevada à categoria de Arquidiocese a 16 de fevereiro de 1952, na mesma
(49)

data sendo Dom Marcolino confirmado como primeiro Arcebispo da Cidade.


Fotos: Mons. Expedito (Joana Lima-DN); Memorial (cedida por Pe. Ramos).

312 Fundação José Augusto


SOUZA, Auta de
(Madrinha de Prêmio Literário)

Nasceu em Macaíba-RN, a 12.09.1876, filha de Eloy Castriciano


de Souza e d. Henriqueta Leopoldina de Souza. Foram seus irmãos Eloy
de Souza, Henrique Castriciano, Irineu Rodrigues e João Câncio
Rodrigues de Souza. Estudou no Colégio São Vicente de Paula, em
Recife, sob a orientação de religiosos franceses, “(...) almas formosas e
santas que me educaram o coração e o espírito”, diria ela singelamente no
oferecimento do seu livro. Adoeceu aos 14 anos de idade, justamente
do mal que a vitimaria (tuberculose). Em 1900 publicou, em Natal,
Hôrto, prefaciado por Olavo Bilac. A segunda edição foi lançada em
Paris (1911) e, mais tarde, duas outras no Brasil: no Rio de Janeiro
(1936), prefaciada por Alceu Amoroso Lima, e em Natal (1970), sob
o patrocínio da Fundação José Augusto. Notabilizou-se como poetisa
sofrida e triste. Divagações, preces, saudades, túmulos e uma profunda
essência nostálgica da infância passeiam em sua imaginação amargurada
e mística. “A infância e a morte são o ‘leitmotiv’ dos seus poemas”, diria Alceu
Amoroso Lima (Tristão de Athayde), no Prefácio do Hôrto, p. 9.
Percebe-se isso, com efeito, em quase todas as suas composições: “Ela
passou por mim toda de preto / Pela mão conduzindo uma criança... / E eu
cuidei ver ali uma Esperança / E uma saudade em pálido dueto. Pois, quando a
perda de um sagrado afeto / De lastimar esta mulher não cansa, / Numa alegria
descuidosa e mansa, / Passa a criança, o beija-flor inquieto” (estrofes do poema
“Estrada Afora” - Hôrto, 4ª. edição, p. 26). Faleceu em Natal, a 7 de
fevereiro de 1901.
40 Anos 313
Nota complementar
Trechos do prefácio da 3ª. edição de HÔRTO, de Alceu
Amoroso Lima (Tristão de Athayde):
“Depois das palavras que Henrique Castriciano, Nestor
Victor e Jackson de Figueiredo escreveram sobre Auta de Souza,
tudo que é essencial foi dito sobre essa grande alma sofredora.
Sua poesia alcançou uma intensidade de sentimento cristão que
até hoje não envelheceu. E o esgotamento sucessivo de duas edições
do Hôrto, único livro que a precariedade de sua saúde e os curtos
anos que viveu lhe permitiram deixar, bem mostra que os seus
versos despertaram ecos em muitos corações.
“Auta de Souza não pertence nem a uma escola nem a um momento literário. Filiada, por
natureza, à corrente das letras femininas em nosso país, nela se destaca, no dizer de Jackson de
Figueiredo – ‘como a mais alta expressão do nosso misticismo, pelo menos, do sentimento cristão,
puramente cristão, na poesia brasileira’.
“Morreu, como tantos dos nossos grandes poetas, aos vinte e poucos anos. E o pensamento
da morte domina toda a sua poesia, ao lado do sentimento da infância. A infância e a morte são
o leitmotiv dos seus poemas, sempre intensamente vividos e brotados sem esforço, com uma seiva
natural que dela realmente fizesse, como o disse, um formoso fruto do seu jardim das oliveiras – ‘a
noiva do verso’. O tema que mais canta é o da morte das crianças. E nas páginas torturantes que
lhe dedica, passa e perpassa essa dupla sombra, negra e branca de dor e de angelitude, que domina
todo o seu Hôrto. Basta isso para mostrar a infinita tristeza dos seus poemas”.
E conclui:
“Nunca sonhou com a glória literária. Nem mesmo com esse eco que só depois de morta veio
encontrar no coração dos simples, onde toda uma parte dos seus poemas encontrou a mais terna
repercussão.
“E esse sentimento de absoluta pureza é o que mais encanta nos seus poemas. Auta de Souza
viveu em estado de graça e os seus versos o revelam de modo evidente. Daí o grande lugar que ocupa
em nossa poesia cristã, em cuja cordilheira sempre há de ser um dos altos mais puros e mais solitários.
Todas as almas sofredoras, todas aquelas que aspiram a esse estado de graça em que ela viveu, ou,
mesmo, as que lutam com uma natureza mais rebelde e mais tortuosa hão de encontrar nos poemas
místicos, ou simplesmente líricos, do Hôrto uma companhia angélica que lhes trará, porventura, um
pouco de serenidade na lição de uma dor que encontrou o seu sentido sobrenatural e, portanto, se
transmuta em esperança e em amor pelo inefável”.

_________________________
Fonte: SOUZA, Auta de. HÔRTO. 4ª. edição. Natal: Fundação José Augusto, 1970.
Foto: arquivos da FJA/CEPEJUL

314 Fundação José Augusto


SOUZA, Eloy Castriciano de
(Patrono da Faculdade de Jornalismo e do CDC)

Nasceu em Recife-PE, em 04.03.1873, filho do comerciante Eloy


Castriciano de Souza e d. Henriqueta Leopoldina de Souza, vindo ainda
pequeno morar em Macaíba. Eram seus irmãos Irineu, João Câncio, Auta e
Henrique Castriciano de Souza (recomendamos a leitura dos verbetes
correspondentes aos dois últimos, no livro Personalidades Históricas do Rio
Grande do Norte, Séculos XVI a XIX, desta Fundação). Estudou em escolas
preparatórias de Natal e Recife, nesta última cidade formando-se na
Faculdade de Direito. Graduou-se, também, em Ciências Sociais. Foi
Delegado de Polícia em Macaíba, Deputado Estadual (1894), Deputado
Federal nas legislaturas 1897-1899, 1900-1902, 1903-1905, 1906-1908,
1909-1911, 1912-1914, 1927-1929 e 1930-1932 e Senador da República,
primeiro em 1914, substituindo a Joaquim Ferreira Chaves, então eleito
Governador do Estado, depois, nos seguintes períodos: 1915-1917, 1918-
1920, 1921-1923, 1924-1926 e 1935-1942 (este último foi interrompido
dois anos após iniciado, pois o Senado Federal foi dissolvido a 10 de
novembro de 1937). No exercício dos inúmeros mandatos de que foi
investido sempre mostrou-se intransigente na defesa dos interesses do Rio
Grande do Norte. Era profundo conhecedor de questões vinculadas ao
problema da seca, tendo viajado pela Europa e África, onde adquiriu vasta
experiência sobre o assunto. O Presidente Epitácio Pessoa o apoiou em
projeto de lei pertinente (1919). É considerado um dos mais importantes
políticos potiguares da primeira metade do século XX. Como jornalista e
parlamentar escreveu artigos em jornais de Natal e do Rio de Janeiro. Aqui,
40 Anos 315
dirigiu “A República”, “A Razão” e “O Democrata”. Publicou livros de
caráter regionalista como Alma e Poesia do Litoral do Nordeste, Costumes Locais,
Vida de Pedro Velho, Cartas de um Sertanejo, Um Problema Nacional (1911) e
Calvário das Secas (1938). Como obra póstuma, a Fundação José Augusto
publicou Memórias de Eloy de Souza (Natal, 1975). Foi um dos fundadores
do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Faleceu em
Natal, a 7 de outubro de 1959.
_________________________
Fonte: Arquivos da FJA/CEPEJUL.
Foto: extraída do livro 400 Nomes de Natal.

Nota complementar
“Figura brilhante de intelectual, jornalista vigoroso e
parlamentar de largos movimentos, formado na erudição e no
humanismo das gerações que vinham da tradicional Escola do Recife,
Eloy de Souza emprestou ao Estado, por vários ciclos da sua vida,
o concurso inequívoco do seu talento e da sua inteligência, sempre
postos ao serviço da terra comum e da sua gente”.
Quem assim se pronuncia é Raimundo Nonato, no
prefácio do livro Cartas de um desconhecido por ele organizado,
e composto de uma coletânea de textos de Eloy de Souza
publicados entre 1914 e 1915 no jornal “A República” sob o
pseudônimo de Jacinto Canela de Ferro.
Tais cartas são enriquecidas com adendos e referências sobre diversos aspectos da
realidade norte-rio-grandense, e este fator - sobretudo - é o que qualifica o trabalho como
um excelente documentário. A propósito, complementa Raimundo Nonato:
“(...) essas cartas, que Eloy de Souza escreveu debaixo da modéstia do nome Jacinto
Canela de Ferro, representam alta contribuição no plano de estudo da geografia e do homem dos
sertões nordestinos.
“Com essa intenção foi que realizei o levantamento das mesmas (...) dando-lhes atualização
ortográfica e plano de organização, pensando, desse modo, poder contribuir para maior divulgação
do nome e do trabalho do autor”.

316 Fundação José Augusto


WANDERLEY, José dos Guimarães
(Patrono de Prêmio de Dramaturgia)

Nasceu em Natal, a 19.12.1905, filho de Celestino Carlos Wanderley


e d. Ana de Freitas dos Guimarães Wanderley. Não encontramos registros
sobre os primeiros anos de sua vida, em Natal. Provavelmente era de índole
algo introspectiva: Não conhecemos versos de sua autoria mas é bem possível
que os tenha bem guardados, anotou o biógrafo da família, acrescentando
que ele (...) não é de muitas confidências, por isso só conhecemos mesmo suas
peças teatrais. Com 24 anos de idade transferiu-se para o Rio de Janeiro,
onde permaneceria definitivamente. Pertencia a uma família de extensa (e
intensa) participação nas letras potiguares, com especialidade nas áreas
poética e teatral.(50) Confirmando a peculiaridade do labor artístico de sua
ascendência, José dos Guimarães, por outro lado, irmão do poeta e dramaturgo
Jaime dos G. Wanderley, nunca pisou nem escreveu para o palco no Rio Grande
do Norte, conforme assinala Racine Santos (revista “Em Cena”, abr., 2003,
p. 22). Seu texto inaugural, a comédia em três atos Compra-se um Marido
(1933), foi encenado por Procópio Ferreira no Teatro Boa Vista, em São
Paulo. Seguiram-se outros importantes trabalhos – Era Uma Vez um
Vagabundo, A Vida Brigou Comigo, Tudo por Você, Pertinho do Céu, etc. – para
as grandes companhias teatrais da época, mas, aquele primeiro seria o mais
representado em toda a trajetória desse autor, inclusive várias vezes
_________________________
Luís Carlos Lins (1831-1890), poeta, romancista e dramaturgo; Manoel Segundo (1860-1909),
(50)

poeta e dramaturgo; Celestino Carlos (1862-1942), seu pai, poeta; Ezequiel Lins (1872-1933),
dramaturgo e cronista; Carolina (1891-1976), poetisa; Sandoval Carlos (1893-1972), ator, poeta e
dramaturgo, fundador do Teatro de Amadores de Natal-TAN, e Jaime dos Guimarães Wanderley
(1897-1986), seu irmão, poeta, teatrólogo e memorialista, entre muitos outros.

40 Anos 317
encenado no então Teatro Carlos Gomes (hoje, Teatro Alberto Maranhão),
e publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT,
nº. 28 (meados dos anos 30). Algumas das suas peças foram escritas em
parceria com Mário Lago, outras com Daniel Rocha, ambos autores
renomados. José Wanderley, que trabalhou no antigo Serviço Nacional de
Teatro e secretariou o SBAT (1942-1945), foi o mais representado autor
norte-rio-grandense. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1982.

_________________________
Fontes: WANDERLEY DE ALBUQUERQUE, Walter Fonseca. Família Wanderley – história e genealogia. Rio
de Janeiro: Editora Pongetti, 1966; Revista Em Cena, abril, 2003, p. 22.
Foto: extraída do folheto Teatro Brasileiro 42, edição da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-SBAT.

318 Fundação José Augusto


GLOSSÁRIO

Dada a extrema variedade de temas tratados ao longo


deste trabalho, com o que necessariamente há ampla
utilização de termos peculiares ou, até, exclusivos a vários
deles – a exemplo de “estrofe” à poesia, “relicário” a museu,
“debuxo” às artes plásticas, “estrato social” à pesquisa e
belle époque à história, entre outros –, julgamos oportuno
acrescê-lo com um glossário para facilitar sua leitura.
Certamente, nem todos necessitarão se valer dele; não
obstante, é de supor com larga margem de probabilidade
que outros tantos, mesmo afeitos às formas de expressão
de um ou mais destes temas, não os domine na totalidade.
Advertimos, contudo, que os diversos verbetes se
atêm especialmente à área cultural, com o que
tombamento, por exemplo, não se expressa em seu sentido
literal, mas sim, no de “fazer o tombo, o inventário de
determinado bem, móvel ou imóvel, para, sob a guarda
do Estado, conservá-lo e protegê-lo”.
Explicados estes pormenores, segue-se referido
glossário.
40 Anos 319
320 Fundação José Augusto
_____● _____
A ●

a cabo (levar) – fazer chegar ao fim, fazer terminar, completar, concluir, finalizar.
adinamia – estado de prostração física e/ou moral; debilidade geral; falta de forças. No
texto: a Cidade do Natal, no período assinalado, mostrava-se inoperante, do ponto
de vista cultural.
adinâmico – relativo à adinamia.
adução – operação de trazer a água, nos sistemas de abastecimento, desde o ponto de
captação até a rede de distribuição.
afresco – técnica de pintura aplicada em paredes e tetos, que consiste em pintar sobre
camada de revestimento recente, de modo que possibilite o embebimento da tinta.
agreste – relativo ao campo, sobretudo quando não cultivado; campestre; área entre a
mata e o sertão nordestinos caracterizada pelo solo pedregoso e pela vegetação
escassa e rasteira.
ajaezados – enfeitados, ornados, adereçados.
Alecrim Clube – clube social e recreativo localizado no centro do bairro que lhe dava o
nome. Sua expressão maior deu-se em meados do século XX, sobretudo em fins
dos anos quarenta e década de cinqüenta. Não confundir com Alecrim Futebol Clu-
be, outra entidade do mesmo bairro.
alfaia – móvel ou utensílio de uso ou adorno doméstico; enfeite, adorno, atavio; jóia;
paramento de igreja.
amostra – subconjunto de uma população por meio do qual se estabelecem ou estimam
as propriedades e características dessa população.
amostragem – ato ou processo de seleção de amostras para ser analisada como repre-
sentante de um todo; ato ou processo de seleção e escolha dos elementos de uma
população para constituir uma amostra. Amostragem acidental: que se realiza segun-
do uma lei probabilística.
anais – história ou narração organizada ano a ano; publicação periódica de ciências, letras
ou artes; registro de fatos históricos ou pessoais.
animação cultural – arte ou técnica de organizar e/ou dirigir atividades de natureza
recreativa no universo artístico-cultural (danças, folguedos, espetáculos cênicos, etc.).
apoio logístico – planejamento e execução de serviços auxiliares ao desenvolvimento
das atividades fins.
a priori – diz-se de conhecimento, afirmação, verdade, etc., anterior à experiência, ou que
a experiência não pode explicar.
apriorístico – relativo a, ou em que há apriorismo.
área de boemia – numa cidade, é a zona de maior concentração de freqüentadores de
bares, botequins e ambientes congêneres.
área cultural – território ou zona geograficamente delimitada, definida pela presença,
entre a população aí estabelecida, de um conjunto de elementos culturais dados,
relativos a um ou vários aspectos da vida coletiva, como a ecologia, a economia, a
cultura material, etc.
arquitetura rural – arte de construir edifícios rústicos de modo que se prestem às exigên-
cias do trabalho agrícola.
arranjo (mús.) – versão diferente da original, de obra ou fragmento de obra musical,
feita pelo próprio compositor ou por outra pessoa; harmonização.
art nouveau – estilo decorativo que floresceu aproximadamente entre 1895 e 1914, sur-
gido como reação ao historicismo imitativo do século XIX, e que se caracteriza, em
princípio, pela assimetria das linhas sinuosas, pelas formas orgânicas.
arte – atividade que supõe a criação de sensações ou de estados de espírito de caráter

40 Anos 321
estético, carregados de vivência pessoal e profunda, podendo suscitar em outrem o
desejo de prolongamento ou renovação.
arte (obra de) – obra produzida segundo o conceito de arte, especialmente a que é tida
como de boa qualidade. Objeto executado com perfeição, acabamento, gosto, senso
crítico.
arte barroca – a que se caracteriza pelo estilo artístico que vigorou no Ocidente do século
XVI ao XVIII, em reação ao espírito renascentista.
arte cênica – conjunto das artes e técnicas relativas à representação teatral.
arte cinética – forma de arte que rompe com a imobilidade da pintura e da cultura
tradicionais; as obras, em três dimensões, têm partes móveis animadas por motores,
pelo movimento do ar ou por impulsão manual. Aquela em que o movimento é
componente estético.
arte circense – a que se ocupa diretamente com a exibição de qualidades e proezas
humanas (no teatro, circo, cinema, dança, rádio, televisão).
arte moderna – conjunto das manifestações artísticas desenvolvidas no mundo ocidental
durante a história moderna, isto é, no período que, no âmbito cultural, se inicia com
o Renascimento no século XV.
arte sacra – relativa, inerente, pertencente ou dedicada a Deus, a uma divindade ou a um
desígnio religioso.
artesanato – a técnica, o tirocínio ou arte do artesão; o produto do trabalho do artesão.
artesão – aquele que exerce uma atividade produtiva de caráter individual; indivíduo que
exerce por conta própria uma arte, um ofício manual.
artista primitivo – aquele que adota por modelo a ingenuidade de forma e o sentimento
da arte dos povos primitivos.
assistemático – que não tem, ou em que não há sistema; não sistemático.
ata (livro de) – registro escrito no qual se relata o que se passou numa sessão, convenção,
congresso, etc.
atávico – adquirido ou transmitido por atavismo.
atavismo – reaparecimento, em um descendente, de um caráter não presente em seus
ascendentes imediatos, mas sim, em remotos.
ateliê (fr. atelier) – oficina onde trabalham em comum certos artesãos, operários, pinto-
res, escultores, fotógrafos, etc.

_____● _____
B ●

background – o conjunto dos conhecimentos, experiências, etc., que compõem a base


intelectual, técnica, etc., de alguém.
baixo (mús.) – a mais grave das vozes masculinas; o cantor que tem essa voz; baixista.
Baldo – área no perímetro urbano de Natal, situada no limite entre os bairros do Alecrim
e Cidade Alta, caracterizada por pronunciado declive.
bambelô – dança de roda, com solistas ao centro, ao som de instrumentos de percussão;
coco-de-praia, coco-da-praia, zambelô, jongo-de-praia.
banner – peça publicitária em forma de bandeira, confeccionada em plástico, tecido ou
papel, impressa de um ou de ambos os lados, geralmente para ser pendurada em
postes, fachadas ou paredes, exposta na via pública, em pavilhões de exposições,
pontos-de-venda etc.; bandeira, galhardete.
batalha (carn.) – evento que tinha lugar nas sextas-feiras que antecediam o Carnaval,
desenvolvendo-se em diferentes áreas do perímetro urbano de Natal (Alecrim, Cida-
de Alta, Lagoa Seca, Quintas, Rocas e Vila Naval), consistindo em prévias dos feste-
jos momescos.

322 Fundação José Augusto


Beco da Lama – Rua Dr. José Ivo, no centro de Natal. A designação “Beco da Lama”
advém de fins do século XIX “(...) e primeira metade do século XX” (Rev. Preá, n.º
02, jul. 2003), face aos dejetos que eram atirados dos quintais da Rua Voluntários da
Pátria. Com o fechamento desse trecho, 1937/45, a denominação foi transferida
para a então chamada Rua do Meio.
belas-artes – designação comum das artes plásticas, especialmente a pintura, a escultura e
a arquitetura.
belas-letras – a gramática, a eloqüência, a poesia, a literatura, etc., ensinadas ou estudadas
especialmente pelo prazer de ordem estética que possam proporcionar.
beletrismo – criação literária, inclusive a oratória, a retórica e a poesia.
belle époque – a época relativa aos primeiros anos do século XX, considerados como
de uma vida agradável e fácil; diz-se dos costumes, das tendências, dos objetos, etc.,
característicos dessa época.
beribéri – doença decorrente da deficiência de vitamina B1 e que apresenta polineurite,
edema e cardiopatia.
bilíngüe – indivíduo que fala duas línguas; texto escrito em dois idiomas.
boi-bumbá – variedade de bumba-meu-boi.
boi-calemba – a versão potiguar de bumba-meu-boi nordestino é o boi-calemba, ex-
pressão registrada por Câmara Cascudo e Mário de Andrade, entre outros.
bolor – denominação vulgar de fungos que vivem de matérias orgânicas por eles decom-
postas; mofo. Comum em arquivos e bibliotecas.
brochura – folheto ou opúsculo brochado; livro encadernado.
bumba-meu-boi – dança dramática do ciclo natalino, difundida em todo o Brasil
com variedades locais, cujo personagem central é um boi que morre e ressus-
cita; boi-bumbá, boi-calemba, boi-calumba, boi-culemba, boi-de-mamão, boi-
de-matraca, boi-de-melão, boi-de-orquestra, boi-de-reis, boi-de-zabumba, boi-
melão, boi-pintadinho, boi-surubi(m), boizinho, bumba, bumba-boi, cavalo-
marinho.
buril – instrumento com ponta de aço para cortar e gravar em metal, lavrar pedra, etc.;
cinzel, posteiro.
_____● _____
C ●

caixilho – a parte de uma esquadria onde se fixam os vidros ou outro material transpa-
rente; moldura.
cancioneiro – coleção de canções; coleção da antiga poesia lírica galego-portuguesa e
provençal; coleção de poemas de apelo popular.
cantador (de viola) – diz-se de ou poeta popular que, em versos cantados de improviso
e geralmente acompanhados de viola ou rabeca, relata acontecimentos diversos,
freqüentemente em desafios com outros cantadores.
canto-coral – canto (melodia) em coro (conjunto de cantores); termo genérico que de-
signa as atividades ligadas à música para coro.
catalisar – produzir catálise em; estimular, dinamizar, incentivar.
causal – relativo a causa; que expressa causa; motivo em que algo se funda; causa, origem,
explicação.
causeur – conversador brilhante.
cedro – árvore de grande porte sem ramificação, com numerosas sementes, que fornece
madeira própria para esculturas e xilogravuras, entre outros.
cênica (ilum.) – técnica de iluminar um cenário ou um ambiente qualquer de modo a
criar neste, por meio de variações e efeitos de luz, o clima adequado à cena filmada
ou televisionada levada ao palco. O efeito produzido por essa técnica.

40 Anos 323
chantar – fincar no chão; plantar de estaca (marco ou pedra fundamental); fixar-se, esta-
belecer-se.
choque cultural – conflito de valores resultante da interação social vivenciada por indi-
víduos de culturas diferentes.
cidade-satélite – cidade com autonomia administrativa ou sem ela, e cuja vida depende
de outra cidade mais desenvolvida, mais ou menos próxima.
científico (curso) – curso de nível médio, em três anos, em que predominava o ensino
das ciências exatas, da biologia, etc.
clássico (curso) – curso de nível médio, em três anos, no qual predominava o ensino de
línguas, de filosofia, etc.
coco – dança popular de roda, originária de Alagoas, e acompanhada de canto e percus-
são; pagode; zambê.
coco-de-roda – o mesmo que coco.
coco-de-zambê – difere do coco-de-roda em alguns aspectos fundamentais, como se-
jam: (1) só é praticado por indivíduos do sexo masculino; (2) ao invés de um, dois
dançarinos se apresentam na roda, e (3) além do sapateado característico, ambos se
agridem com movimentos rápidos e bruscos das pernas (rasteiras).
coletiva (pint.) – exposição conjunta de diversos artistas plásticos.
Coluna Capitolina – oriunda de um templo sagrado no Monte Capitólio, em Roma,
datada do IV século d. C. Foi chantada na Esplanada Silva Jardim, na Ribeira, em 8
de janeiro de 1931 pelo aviador Ítalo Balbo, como oferta do governo italiano –
então exercido por Benito Mussolini – ao Brasil, em memória do feito aeronáutico
dos aviadores italianos Ferrarin e Del Prete, no vôo sem escala de Roma ao Brasil,
pousando na Praia de Touros em 5 de julho de 1948. Atualmente esta coluna está
chantada no Largo Vicente Lemos, ao lado do Instituto Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte, no Centro de Natal.
comenda – benefício que antigamente era concedido a eclesiásticos e a cavaleiros de
ordens militares; distinção puramente honorífica.
comodato – empréstimo gratuito de coisa não fungível, que deve ser restituída no tempo
convencionado pelas partes.
comunicação estética – cada uma das formas de expressão artística (a composição
musical, o poema, a pintura, a escultura, etc.).
concerto (mús.) – composição musical para um instrumento solista, com acompanha-
mento de orquestra. Espetáculo em que se executam obras musicais.
concha acústica – construção concoidal, capaz de propagar eficazmente os sons e des-
tinada a apresentações de música e teatro, geralmente ao ar livre.
confessional (estilo) – relativo a ou próprio de confissão; que se assemelha a uma
confissão.
conjunto de câmara (mús.) – grupo estável de músicos que tocam juntos, ou de dança-
rinos, ou de pessoas que cantam em coro.
conselho curador – órgão da administração superior que delibera sobre as políticas e
projetos propostos pela presidência e pelo conselho diretor.
conselho diretor – reunião de pessoas para deliberarem sobre assuntos particulares.
contexto sociocultural – relativo aos fatores ou aspectos sociais e culturais de um dado
grupo, em período determinado.
contralto (mús.) – voz feminina de tessitura mais grave; cantora que a possui.
coral – relativo a coro (conjunto de cantores); que constitui um coro ou que dele par-
ticipa.
cordel (lit. de) – termo relativo à literatura popular, impressa em livretos de baixo custo,
e feita por poetas populares; relativo à literatura popular.

324 Fundação José Augusto


cordelista – autor(a) de literatura de cordel.
cornija – ornato que assenta sobre o friso de uma obra; molduras sobrepostas que
formam saliência na parte superior da parede, porta, etc.
coro – conjunto vocal que se expressa pelo canto ou pela declamação; conjunto de canto-
res que cantam trecho musical em uníssono ou em várias vozes.
cultura erudita – conjunto de conhecimentos acumulados e socialmente valorizados que
constituem patrimônio da sociedade.
cultura popular – conjunto de padrões de comportamento, crenças, conhecimentos,
costumes etc. que distinguem um grupo social. O mesmo que folclore.
curso aberto – curso ou treinamento oferecido ao público em geral.
curso fechado – curso oferecido especificamente a uma clientela de um determinado
órgão ou segmento profissional.
_____● _____
D ●

debuxo – rascunho; desenho de um objeto em suas linhas gerais; projeto, traçado: debuxo
de um romance; esboço: debuxo de um retrato.
dégradé – diz-se de cor que vai esmaecendo em tonalidades cada vez menos vivas; o
conjunto dessas tonalidades.
diagramação – ato ou efeito de diagramar.
diagramar – determinar a disposição de (os espaços a serem ocupados pelos elementos
– textos, ilustrações, legendas, etc. – de livro, jornal, revista, etc.), precisando o for-
mato do impresso, os títulos a serem utilizados, as medidas das colunas, etc.
dignitário – aquele que ocupa cargo elevado, que goza de alta graduação honorífica.
dinâmica social – impulsos ou forças vitais dos seres humanos tal como se articulam nas
atividades coletivas.
direito público – ciência que estuda as regras de convivência na sociedade humana;
jurisprudência; conjunto de leis e normas jurídicas vigentes num país.
drama – designação genérica de obra literária escrita para ser encenada; atividade de
representar; arte dramática.
dramaturgia – arte ou técnica de escrever e representar peças de teatro; a totalidade de
recursos técnicos, mais ou menos específicos, de tal arte, usados para compor e
representar peças de teatro.
dramaturgo – autor de peças de teatro; dramatista.

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E ●

elipsoidal – que tem forma de elipse; elipsóide.


embolada (mús.) – forma poético-musical do Nordeste brasileiro, em compasso biná-
rio e de andamento rápido, usada pelos solistas nas peças com refrão ou dialogadas
(como cocos ou desafios).
embolador (mús.) – que ou o que compõe e/ou canta emboladas.
enquete – pesquisa de opinião sobre uma questão qualquer, que envolve documentos,
depoimentos, experiências pessoais etc.; sondagem; referendo.
epistolografia – o gênero literário respeitante a cartas; arte de escrever cartas.
epistológrafo – aquele que cultiva a epistolografia.
equalizador – que ou o que equaliza; uniformizador, equilibrador.
espontão (dança do) – dança guerreira integrante das festividades do dia de Nossa
Senhora do Rosário, no Nordeste do Brasil, em que um grupo de homens dança
empunhando lanças e espontões, saltando, avançando e recuando, com larga mar-
gem de improvisação, ao som apenas do tambor marcial.
40 Anos 325
estatuária – arte de criar estátuas; esculturas.
estilizado – a que se deu forma estética diferente do original.
estrato social – conjunto de indivíduos cujas características socialmente significativas são
semelhantes.
estrofe – divisão de um texto lírico ou épico, formada por um determinado número de
versos que apresentam ou não rima entre si; estância.
estrutura administrativa – organização de uma instituição em função da inter-relação
dos seus segmentos operacionais.
ex-abrupto – de súbito; sem preparação, intempestivamente.
exegese – comentário ou dissertação para esclarecimento ou minuciosa interpretação de
um texto ou de uma palavra (aplica-se de modo especial em relação à Bíblia, à
gramática, às leis).
ex-officio – por obrigação e regimento; por dever do cargo.
ex-voto – quadro, imagem, inscrição ou órgão de cera, madeira, metal, etc., que se
oferece e expõe (em igreja, capela, mausoléu ou equivalente), face a uma graça
alcançada.
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F ●

fagote – instrumento musical de origem indígena.


fandango – auto ou representação popular em torno da chegada de uma embarcação à
vela a porto seguro; dança folclórica nordestina (também chamada - segundo a loca-
lidade - chegança ou marujada).
fenomenologia cultural – conjunto das práticas artísticas e culturais inerentes e peculia-
res à sociedade.
flauta doce – um dos mais antigos instrumentos musicais, formado por um tubo oco
com orifícios, num dos quais o executante sopra, ao mesmo tempo que ocupa os
dedos em tapar ou destapar os demais, para obter variações na altura dos sons.
flauta transversa – a que é executada em posição horizontal; flauta transversal.
folclore – conjunto de costumes, lendas, provérbios, manifestações artísticas em geral,
preservado, através da tradição oral, por um povo ou grupo populacional; cultura
popular, populário; ciência das tradições, dos usos e da arte popular de um país ou
região.
folclorista – pessoa que gosta de investigar e/ou colecionar material colhido nas
tradições, nos usos e nas artes populares; pessoa que estuda criticamente esse
material.
folder – impresso de pequeno porte, constituído de uma só folha de papel com uma ou
mais dobras, e que apresenta conteúdo informativo ou publicitário; folheto.
folguedo – brincadeira, divertimento, festa.
folhetim – seção literária de um periódico que ocupa, de ordinário, a parte inferior de
uma página; gazetilha. Fragmento de um romance publicado em jornal dia a dia,
suscitando o interesse do leitor.
folheto – obra impressa de poucas folhas, quase sempre na forma de brochura; publica-
ção impressa não-periódica, com no mínimo cinco e no máximo quarenta e oito
páginas, sem contar as capas.
formão – ferramenta manual, própria para madeira, com uma extremidade embutida
num cabo e a outra chata, terminando em lâmina afiada (usado especialmente em
obras de talha e corte de ensambladuras); instrumento semelhante, para cortar pedras
moles (ardósia, xisto etc.).
foro (jur.) – corte; tribunal de justiça.
forró pé-de-serra – baile popular, em que se dança aos pares com música de origem

326 Fundação José Augusto


nordestina; arrasta-pé; essa música, de gêneros variados (coco, baião, xote etc.); baile
popular, em que se dança aos pares, com músicas de gêneros variados, especialmente
sertanejas e geralmente ao som de sanfona.
fortaleza – designa construção erguida à entrada de uma praça (cidade, etc.) para protegê-
la, com guarnição permanente. Similar a forte na maioria dos dicionários, difere deste
na acepção particular dos conceitos na linguagem da arquitetura militar: a fortaleza
pressupõe um castelo, ou cidadela, reforçado em sua estrutura defensiva (para maio-
res detalhes, sugerimos consultar a obra do historiador Hélio Galvão, História da
Fortaleza da Barra do Rio Grande).
forte – é uma construção de menores proporções que a fortaleza (V. acima), edificada
de ordinário em região isolada, sem guarnição permanente e para utilização even-
tual.
fotolito – forma reduzida de fotolitografia; pedra ou mais freqüentemente chapa de
metal com imagem fotolitográfica para impressão ou transporte.
fotolitografia – arte ou processo de impressão litográfica em que a imagem é transferida
para a pedra ou o zinco, com o auxílio da fotografia, diretamente ou por meio de
transporte. Estampa obtida por esse processo.
frêmito – sussurro, rumor; tremor, estremecimento (de alegria, de prazer).
frisa – nos teatros e salas de espetáculo, camarote que se situa quase no nível da platéia.
frontispício – fachada principal (aplicável mais comumente a edificações).
fundação – pessoa jurídica de direito público privado, sem fins lucrativos; entidade cria-
da por lei com o objetivo de desenvolver atividades que não devam obrigatoriamen-
te ser desenvolvidas pelo poder público.
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G ●

galeria – estabelecimento para exposição e venda de obras de arte; coleção de obje-


tos de arte.
ganzá – espécie de chocalho formado por um cilindro de metal contendo sementes ou
seixos; canzá; tambor cilíndrico de tronco escavado.
gestual – relativo a gesto, movimento; realizado por meio de gestos.
gestualística – qualidade de gestual; conjunto dos gestos (de alguém) como meio de
expressão; gestual.
grupo étnico – grupo biológico e culturalmente homogêneo; o mesmo que etnia.

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H ●

habitat – área típica habitada por determinados e específicos seres vivos; ambiente pró-
prio à existência das respectivas espécies.
habitué – freqüentador assíduo; habituado, acostumado; que freqüenta regularmente um
lugar.
humanista – versado no estudo de humanidades; indivíduo com vasta formação literária
e científica.
humanístico – relativo a humanismo ou a humanista.

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I ●

ibérico – pertencente ou relativo à Ibéria, antigo nome da Espanha; pertencente ou rela-


tivo à Península Ibérica, constituída por Espanha e Portugal.
ícone – imagem; coisa, fato, pessoa, etc., que evoca fortemente certas qualidades ou
características de algo, ou que é muito representativo dele.

40 Anos 327
iconografia – arte de representar por meio da imagem; conjunto (exposição, etc.) de
fotografias, pinturas ou desenhos.
identidade cultural – conjunto de elementos socioculturais peculiares de um povo (cul-
tura brasileira, cultura judaica, cultura francesa, etc.).
indigência cultural – carência, necessidade; mediocridade intelectual. No texto: a ausên-
cia ou insuficiência de ações artístico-culturais no âmbito da Cidade do Natal na
década de 50.
in loco – no lugar; no próprio local.
inserto – introduzido, inserido (num texto).
instituição – associação ou organização de caráter social, educacional, cultural, religioso,
etc.; estrutura decorrente de necessidades sociais básicas, com caráter de relativa per-
manência; instituto.
instituir – dar início a; estabelecer, criar, fundar; nomear, constituir.
intempérie – tempo instável, temperaturas oscilantes; mau tempo.
intendência – cargo ou direção de intendente; repartição onde o intendente exerce suas
funções.
intendente – designação dada ao chefe do executivo municipal, no Brasil, até 1930
(corresponde, hoje, a prefeito).
_____● _____
J ●

jazz – música moderna de origem negro-americana, muito difundida após a guerra de


1914-1918, caracterizada pelo improviso e pelas sonoridades e ritmos sincopados,
basicamente extraídos do ragtime e do blues.
joão-redondo – o mesmo que mamulengo.
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K ●

know-how – conhecimento de normas, métodos e procedimentos em atividades profis-


sionais, especialmente as que exigem formação técnica ou científica.

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L ●

lapinha – folguedo popular dramático representado em um tablado e composto por


cantos, danças, declamações e louvações, via de regra executado no período natalino e
em homenagem ao nascimento de Jesus; folclore nordestino; o mesmo que pastoril.
leitmotiv – motivo condutor; tema central.
legislar – estabelecer ou fazer leis; decretar, formular (leis, regras, princípios, etc.); deter-
minar, preceituar.
legislativo – referente ao poder de legislar.
legislatura – período durante o qual as assembléias legislativas exercem as funções para
as quais foram eleitas.
linha de ação – cada um dos segmentos que compõem a área de ação programática de
uma instituição. Pesquisa, documentação e promoção de eventos, por exemplo, são
linhas de ação compreendidas e desenvolvidas pela Fundação José Augusto.
linotipo – máquina que funde em bloco cada linha de caracteres tipográficos, composta
de um teclado, como o da máquina de escrever (as matrizes que compõem a linha-
bloco descem do magazine onde ficam armazenadas e, por ação do distribuidor, a ele
voltam, depois de usadas, para aguardar nova utilização).
litografia – processo de reprodução que consiste em imprimir sobre papel, por meio de
prensa, um escrito ou um desenho executado com tinta graxenta sobre uma superfí-
cie calcária ou uma placa metálica, geralmente de zinco ou alumínio.

328 Fundação José Augusto


lúdico – relativo a jogo, a brinquedo; qualquer objeto ou atividade que vise mais ao
divertimento que a qualquer outro objetivo; que se faz por gosto, sem outro objetivo
que o próprio prazer de fazê-lo.

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M ●

malha viária – rede, mais ou menos complexa, das vias (ruas e avenidas) que compõem
a estrutura física de comunicação urbana.
mamulengo – espetáculo de marionete, de conteúdo freqüentemente crítico, que repre-
senta cenas entre boneco e público, boneco e operador, ou entre dois bonecos. No
Rio Grande do Norte, joão-redondo ou calunga, expressão mais usada no nosso
sertão.
mamulengueiro – indivíduo que faz o mamulengo ou o fantoche se mover.
manifestação cultural – ato de manifestar-se ou exprimir-se (pensamentos, idéias) atra-
vés das diversas formas de expressão artística; cada uma dessas formas de expressão:
dramaturgia, música, dança, etc.
marujada – denominação dada ao fandango, sobretudo desde a Bahia até o Sul do Brasil.
matiz (pint.) – colorido obtido da mistura ou combinação de várias cores num todo
(pintura, bordado, tecido, paisagem etc.); gradação de uma cor ou cores; nuança; tom
suave de cor; variedade de detalhes, de aspectos sentidos ou descritos de maneira
viva, colorida, sugestiva.
mecenas – indivíduo rico que protege artistas, homens de letras ou de ciências, propor-
cionando recursos financeiros, ou que patrocina, de modo geral, um campo do saber
ou das artes; patrocinador; protetor dos artistas.
mecenato – condição, título ou papel de mecenas (mecenas: patrocinador generoso das
letras e artes).
memória cultural – tradições socioculturais e históricas de um povo trazidas à atualidade
pelo estudo, pesquisa e reconstituição, com vistas a sua preservação para a posteridade.
memorial – lugar destinado à reunião e exposição de objetos pessoais de determinado
indivíduo caro à comunidade em questão, quer por seus feitos quer por sua
representatividade histórica.
microrregião – subdivisão de uma região geográfica natural.
minuta – a primeira redação, ainda não definitiva, de um texto; borrão, rascunho.
modernismo – gosto ou tendência pelo que é moderno; modernice; designação genérica
de vários movimentos artísticos e literários (cubismo, dadaísmo etc.), surgidos no fim
do século XIX e início do XX, que buscaram examinar e descaracterizar os sistemas
estéticos da arte tradicional.
monsenhor – título honorífico, concedido pelo Papa a alguns eclesiásticos.
museografia – estudo dos museus sob o ponto de vista de sua história e da tecnologia
necessária para organizar, catalogar, apresentar e conservar acervos.
museólogo – indivíduo formado ou especializado em museologia; museologista.
música clássica – composição cuja estrutura respeita as características predominantes no
classicismo (século XVII e parte do século XVIII); atualmente também são conside-
radas clássicas determinadas composições populares, com tratamento erudito.
música erudita – o mesmo que música clássica.
música popular – música urbana de tradição oral, da qual os autores são normalmente
conhecidos.
música profana – a que não se destina a culto religioso.
música sacra – composição musical especialmente feita para ser executada durante ritos
e ofícios religiosos, nas igrejas.

40 Anos 329
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N ●

naipe (mús.) – num conjunto instrumental ou vocal, grupo de executantes do mesmo


tipo de instrumento ou mesma classificação vocal.
nau-catarineta – auto popular de origem portuguesa que narra a epopéia de uma nau
que se perdeu em alto mar.
neoclássico (estilo) – relativo a ou adepto do Neoclassicismo.
neolatinas – diz-se de ou família lingüística originada do latim, que inclui o italiano, o
provençal, o francês, o espanhol, o catalão, o português, o dálmata, o romeno e
diversos dialetos, cuja língua ou civilização é de origem latina.
normal (curso) – diz-se de curso ou escola que se destina a formar professores para as
primeiras séries do ensino fundamental.

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O ●

oboé – instrumento da família dos sopros de madeira, com palheta dupla e tubo cônico,
utilizado em orquestras.
ofsete (off-set) – método de impressão litográfica em que a imagem ou os caracteres,
gravados por processo fotoquímico em uma folha de metal flexível (chapa), geral-
mente zinco ou alumínio, são transferidos para o papel por intermédio de um cilin-
dro de borracha. Nome inglês da fotolitogravura.
ópera – obra dramática musicada, geralmente desprovida de partes faladas, composta de
recitativos, árias, coro, às vezes de balé, e acompanhada de orquestra; drama musical.
organograma – gráfico da estrutura hierárquica de uma organização social complexa,
que representa simultaneamente os diferentes elementos do grupo e as suas ligações.
ortodoxia – qualidade de ortodoxia; fiel, exato e inconcusso cumprimento de uma dou-
trina religiosa; conformidade com essa doutrina. Absoluta conformidade com um
princípio ou doutrina.
ortodoxo – relativo a ou conforme com a ortodoxia; que professa os padrões, normas
ou dogmas estabelecidos, tradicionais.

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P ●

paisagista – que ou o que pinta ou descreve paisagens; que ou o que se dedica ao


paisagismo.
paisagístico – relativo à paisagem; referente ao paisagismo.
panfleto – texto curto, violento e sensacionalista, geralmente sobre assuntos políticos,
impresso em folha avulsa ou folheto, e de distribuição limitada; folha avulsa ou folhe-
to que contém esse texto.
panteão – originalmente, templo romano dedicado a todos os deuses; aplica-se, hoje, a
outras religiões: santos do panteão católico, orixás do panteão africano; monumento
em homenagem à memória de personagens importantes (ex.: Panteão dos Mortos
da Segunda Grande Guerra).
parafolclórico – grupo, dança ou festejo que, assemelhando-se às características folclóricas
tradicionais, difere quanto à ancestralidade, isto é, não se perpetua através das gerações.
páramo – o ponto mais alto; pico.
pároco – sacerdote encarregado de uma paróquia; vigário, cura.
paróquia – divisão territorial de uma diocese sobre a qual tem jurisdição um pároco.
partitura – material gráfico, contendo notações impressas ou manuscritas, que mostra a
totalidade das partes de uma composição musical; grade.
330 Fundação José Augusto
pastoril – representação dramática composta de várias cenas (jornadas), durante as quais
se sucedem cantos, danças, declamações e louvações, e que se realiza diante do presé-
pio natalino (entre o Dia de Natal e dos Santos Reis Magos), para festejar o nasci-
mento de Jesus.
pau-a-pique – espécie de parede feita com uma trama de ripas ou varas coberta com barro.
Pedagogia (curso de) – ciência que trata da educação dos jovens, que estuda os proble-
mas relacionados com o seu desenvolvimento como um todo.
pedagógico (curso) – curso de nível médio que prepara professores para o ensino
infantil.
Pedra do Rosário – espaço devocional e turístico da Cidade do Natal, localizado na
margem direita do Rio Potengi em área adjacente ao centro (bairro da Cidade Alta).
Consta que naquele lugar, em 1º de novembro de 1753 (ou 1736), pescadores encon-
traram uma imagem de Nossa Senhora, a qual seria denominada da Apresentação,
passando desde então a ser cultuada como Padroeira da capital potiguar.
pedra-sabão – variedade de esteatita (talco), muito utilizada para confecção de esculturas
e ornatos arquitetônicos.
percussionista – aquele(a) que toca instrumento de percussão.
performance – exercício de atuar, de desempenhar; atuação, desempenho notável de
ator; proeza de representação.
perspectiva histórica – visão contextualizada, via de regra de caráter analítico, de deter-
minados fatos ou acontecimentos do passado.
pictórico – referente à, ou próprio da pintura; pictorial, pictural.
pífano – instrumento musical rústico utilizado em conjuntos musicais populares; variação
de flauta.
pinacoteca – coleção de quadros de pintura; museu de pintura; lugar onde se guarda e se
expõe quadros; galeria.
política cultural – conjunto de objetivos que conformam e estruturam o programa de
ação governamental e condicionam a sua execução num período determinado.
poti – camarão; nome do chefe indígena Felipe Camarão, da tribo dos potiguares, tam-
bém chamado Potiguassu.
potiguar (do tupi poti’war, comedor de camarão) – indivíduo dos potiguares, tribo
indígena tupi; rio-grandense-do-norte.
povoação – o mesmo que povoado.
povoado – pequena aglomeração urbana; lugarejo, vila, aldeia.
praxe – aquilo que se pratica habitualmente; rotina.
profissional liberal – aquele que exerce profissão caracterizada pela inexistência de qual-
quer vinculação hierárquica e pelo exercício predominantemente técnico e intelectual
de conhecimentos.
província – no Segundo Império, cada uma das grandes divisões administrativas do
Brasil (hoje, estados), a qual tinha por chefe um presidente.
provinciano – relativo ou pertencente à província.

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Q ●

quefazer – ocupações, negócios; afazeres.


quintessência – o mais alto grau; o requinte, a plenitude, o auge; o que há de mais apurado.

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R ●

rabeca – espécie de violino, com quatro cordas e sonoridade fanhosa, que se toca apoi-
40 Anos 331
ando-a na altura do coração ou no ombro esquerdo, mas sempre com a voluta
(parte superior da cabeça do instrumento, enrolada em forma de espiral) para baixo.
rabequeiro – no Nordeste, diz-se do indivíduo que toca rabeca; rebequista.
realismo (mov.) – doutrina segundo a qual a arte deve expressar somente os caracteres
essenciais da realidade.
recalcitrante – teimoso, obstinado, insistente.
recital – audição em que são recitadas composições literárias.
regente (mús.) – diretor de orquestra, banda, orfeão, etc.; maestro.
reisado – festa popular que se realiza na véspera e no dia de Reis; reisada; tipo de auto
natalino surgido no final do XIX, difundindo-se no Norte e Nordeste, constituído de
um figurante acompanhado por um coro cantando peças em seqüência.
relicário – caixa, cofre, lugar próprio para guardar relíquias; bolsinha ou medalha com
relíquias que algumas pessoas trazem ao pescoço, por devoção.
Renascença – movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI, que pretendia ser
um retorno à Antiguidade Clássica.
Renascentista – relativo à, ou próprio da Renascença.
repentista – cantador popular que faz versos de improviso.
retreta – concerto popular de uma banda em praça pública.
ribalta – fileira ou série de luzes, na parte externa do palco, entre a orquestra e o pano de
boca, destinando-se a iluminar os primeiros planos da cena.
romantismo – grande movimento intelectual e artístico ocidental que, a partir do final do
século XVIII, fez prevalecer, como princípios estéticos, o sentimento sobre a razão, a
imaginação sobre o espírito crítico, a originalidade subjetiva sobre as regras estabelecidas
pelo Classicismo, as tradições históricas e nacionais sobre os modelos da Antiguida-
de, a imaginação sobre o racional.

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S ●

Santa Cruz da Bica – cruzeiro instalado ao sul da cidade, no declive do Baldo, com fins
de demarcação do perímetro urbano nos primeiros anos da colonização.
Seridó – região nordestina entre o campo e a caatinga, que compreende terras do RN e
da PB, e onde se realizam largas culturas de algodão de fibra longa; nome de
microrregião do RN, onde se destaca o município de Caicó.
serigrafia – técnica de impressão de desenhos de cores planas através de um caixilho
com tela. A tinta é colocada sobre uma tela (tecido de seda, de náilon, rede metálica)
com umas regiões permeáveis e outras impermeáveis, de modo a formar um dese-
nho sobre qualquer base (papel, metal, tecidos etc.).
sine qua non – expressão que indica uma condição sem a qual não se fará certa coisa;
indispensável, essencial.
sinfonia – peça exclusivamente instrumental, que serve de prelúdio às grandes obras
vocais: ópera, oratório, cantata, etc.
sinfônica (orquestra) – aquela que executa sinfonias.
sítio arqueológico – aquele onde se pesquisa e colhe material arqueológico; jazida arque-
ológica.
sítio histórico – lugar assinalado por alguma circunstância (ou acontecimento) importante.
Sobradinho (Museu do) – primeiro prédio assobradado de Natal, localizado no centro
da cidade e onde está instalado o Museu Café Filho, seu nome efetivo.
soprano (mús.) – a voz feminina mais aguda; tiple; cantora que tem esse tipo de voz.
status quo – o estado em que se achava anteriormente certa questão. No texto, a expres-
são status quo vigente significa a sociedade de então.

332 Fundação José Augusto


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T ●

tablóide – publicação em formato de meio jornal.


tangapema – arma indígena; tacape.
tangível – que pode ser tocado ou apalpado; palpável; sensível.
teatro de bonecos – aquele em que os personagens são interpretados por bonecos
articulados e apresentados sob diversas formas, especialmente fantoches.
teatro de fantoches – o mesmo que teatro de bonecos.
tenor (mús.) – no canto, a voz mais alta (de homem) com uma extensão de uma oitava
para o dó central.
terracota – argila manufaturada e cozida no forno.
tiragem – número de exemplares impressos numa edição de revista, jornal ou livro.
tombamento – ato ou efeito de tombar, de fazer o tombo; ato de se guardar alguma
coisa num arquivo público.
tombar – fazer o tombo de; arrolar, inventariar, registrar.
tragicômico – relativo à tragicomédia; que é ao mesmo tempo trágico e cômico.
trupe – conjunto de artistas, comediantes, de pessoas que atuam em conjunto.

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U ●

Uirapuru – pássaro amazônico cujo canto, que só se ouve uns quinze dias por ano (quan-
do constrói o ninho) e, ademais, apenas durante cinco a dez minutos, ao amanhecer,
é tido como particularmente melodioso, musical e diverso do que o de qualquer
outra ave, a ponto de, segundo a lenda, os outros pássaros todos se calarem para
escutá-lo.
universo (pesq.) – conjunto, com grande número de membros, cujas propriedades se
investigam por meio das de subconjuntos que lhes pertencem (amostragens).
urdidura – ato ou efeito de urdir.
urdimento – no palco dos teatros, o travejamento do teto e dos sótãos que ficam por
cima dele.
urdir – tecer; dispor ou entrelaçar os fios.

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V ●

variável (pesq.) – na análise de uma situação dada, aspecto que deve ser considerado por
sua relevância em referido contexto.
vernissage (pint.) – abertura de uma exposição de pintura (originalmente, o dia que
antecede a abertura de uma exposição de pintura, onde se supõe que o artista dá a
última demão em seus quadros).
vertente – que verte; de que se trata; a respeito de que se fala; que é objeto de discussão.
violeiro – que ou aquele que fabrica instrumentos de corda; que ou quem toca viola
(brasileira ou portuguesa).
violoncelo – instrumento de arco e cordas friccionáveis, que corresponde ao baixo da
família dos violinos, executado, porém, entre as pernas, e apoiado num espigão; cello,
rabecão pequeno.
virtuose – artista que atingiu um altíssimo grau de conhecimento e domínio técnico na
execução de sua arte; virtuoso.
vodu (culto) – religião de origem africana, de raiz semelhante ao candomblé praticado
no Brasil, seguida especialmente pelos negros do Haiti e, em menor grau, também de
outras ilhas das Índias Ocidentais; voduísmo, vudu, vuduísmo.
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W ●

Wander-bar – no pós-guerra, bar localizado na Rua Chile, no prédio onde funcionara o


Palácio da Ribeira (sede do governo estadual até 1902). Esta designação deveu-se à
forte influência dos norte-americanos nos costumes da cidade naquele período.

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X ●

Xeque-mate – programa de entrevistas e debates promovido pela então Faculdade de


Jornalismo Eloy de Souza, ainda hoje realizado através da TV Universitária-UFRN.
Xilogravura – arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira.
Xilógrafo – gravador em madeira; o mesmo que xilogravador ou xilogravurista.

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FUNDAÇÃO JOSÉ AUGUSTO
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Tel.: (084) 232 5313 / 232 5314
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