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2 MAIS/Entrevista Quarta-Feira • 20 dezembro 2023 • www.maissemanario.

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“Qualquer cidadão devia ter como projeto, perceber que o


conhecimento é extraordinariamente importante na coesão social”
Afonso Pinhão Ferreira tem uma atividade profissional e académica muito preenchida. É membro rotário do clube poveiro, pessoa apaixonada pe-
las artes, escultor e pintor, e exerce várias funções públicas, entre as quais políticas - presidente da Assembleia Municipal da Póvoa de Varzim -, e
associativas - presidente da Assembleia Geral d’ A Filantrópica -, para além de uma vida familiar…
Sente-se realizado como pessoa ao gerir o ensino e o conhecimento às massas, e as pes- condições para continuar a fazê-lo. de conservas A Poveira, se fizesse ali um Museu
todas estas atividades? soas deixam de pensar porque não têm acesso Conseguiu transportar esta ideia da cul- do Mar com grandes salas de exposição. Devo
Sinto-me muito realizado. Acho que sou o pro- ao conhecimento. É um jogo político. Repare tura para A Filantrópica, onde é presi- dizer que a Póvoa não tem neste momento uma
tótipo de uma pessoa realizada e que foi bafe- no que faz um ditador. Quem gosta de viver dente da Assembleia Geral… sala para exposições com dimensão, com dig-
jado pela sorte. Acredito que o acaso tem um num regime democrático em liberdade, o que Eu não levei nada para A Filantrópica. O que nidade, por exemplo, para receber uma exposi-
papel muito importante na vida humana. Já di- é que deve fazer? Deve injetar cultura, injetar aconteceu com A Filantrópica é uma coisa mui- ção internacional.
zia o grande cientista Heisenberg no seu - Prin- a arte, injetar conhecimento à população. Isso to simples. A Filantrópica tem mais de 80 anos. Essas exposições podem chegar à Póvoa
cípio da Incerteza - e, portanto, “nada é certo, é a melhor maneira de as pessoas criarem e É uma instituição que tem um trajeto associa- de Varzim?
tudo é incerto”. O acaso gere muito as nossas serem livres, ouvir as opiniões dos outros e tivo e institucional na nossa sociedade poveira. É uma questão de contactos e de negociar.
vidas. Certamente se eu tivesse nascido na de credibilizar a opinião dos outros. Isso é Há muitos anos, era eu jovem 30, 31 ou 32 anos, Quantas vezes se fazem grandes exposições,
Ucrânia, por exemplo, estivesse a ser sistema- viver em democracia. Se nós efetivamente conheci o Luís Alberto, que na altura tomou por exemplo no Sul, que poderiam transitar 2
ticamente bombardeado, não teria a sorte que começamos a ter uma superficialidade de co- conta dos destinos d’ A Filantrópica e a trans- ou 3 meses aqui para a Póvoa? Portanto, penso
tenho e, portanto, temos que ter essa perceção. nhecimento ou até ausência de conhecimento formou numa cooperativa artística e cultural. que isso é uma questão de os políticos quere-
Aquelas pessoas que têm a sorte de se realiza- e cultura, as pessoas não pensam, deixam de Isto já quer dizer tudo. Na altura, eu já gosta- rem e negociarem isso e das pessoas que estão
rem, devem ter a perceção de que outros não ter opiniões, e não tendo opiniões, abstêm-se va imenso destas áreas e ele veio-me convidar à frente dessas instituições.
têm essa sorte. Agora, eu tive-a e sinto-me ver- da vida cívica, abstêm-se da vida política e cai para presidente da Assembleia Geral. Nessa al- Também tem outra parte do seu cora-
dadeiramente realizado nas várias vertentes. por base a democracia. Este é um dos riscos tura, aceitei o desafio e foi um desenvolvimento ção em outra área associativa, nomea-
Além do aspeto familiar, qual é a ati- que estamos a enfrentar atualmente a nível grande que A Filantrópica teve. Depois a partir damente no Rotary Club, onde é um dos
vidade das enumeradas, que o seduz mundial, europeu e local. daí, ele saiu e as coisas foram caindo. Consi- mais antigos companheiros. O que é que
mais? Sente-se um homem feliz por ter conse- dero que tive muita alegria em ele aparecer há o Rotary ainda pode fazer pela cidade e
Não foi sempre a mesma ao longo da vida, mas guido realizar as 30 exposições? 4 anos, perguntando-me se eu aceitava partici- pelo concelho?
seguramente que a arte. A arte é aquela que me Muito feliz. Eu sou um homem feliz. O protó- par novamente na revitalização d’ A Filantró- Entrei conjuntamente com o dr. Jorge Caimoto
traz mais alegria, porque me permite ser mais tipo de um homem feliz, familiarmente, cul- pica e assim foi, e depois todas as políticas se e estamos há 34 anos. O Rotary tem feito algu-
livre, pois como dizia o filósofo Delfim Sardo,
“a arte é o exercício da liberdade”. É onde nós
podemos criar, onde podemos estar connosco,
com nós próprios, e naqueles momentos pegar
nas imagens, nas perceções todas e em tudo
aquilo que vai fazendo a nossa mente. Criar
novas imagens, novas perceções. E isso, diga-
mos assim, é apanágio de alguns seres huma-
nos. Todos têm essa potencialidade, mas uns
aproveitam mais do que outros e eu tenho essa
sorte.
É um desafio constante a intervenção
que tem na sociedade?
É um desafio constante. Sinceramente, deixe-
-me dizer-lhe uma coisa da minha vida e não
sei se isso interessa tanto assim, mas um dia
em que eu não faça nada é uma desgraça. O
niilismo esvazia-me totalmente. Eu gosto de
facto de durante o dia quando me deito dizer:
Hoje fiz isto, publiquei um artigo e preparei
uma aula, organizei uma conferência, atendi
não sei quantos doentes, estou a fazer um qua-
dro, um retrato de alguém. Eu tenho que ter
a minha vida cheia e quando de facto passam
24 horas em que eu não faço nada, para mim
é terrível.
Sendo uma pessoa ligada às artes, en- “A Póvoa não tem neste momento uma sala para exposições com dimensão,
tende que o que tem feito ao nível pes-
soal e empresarial, na sua Galeria com com dignidade, por exemplo, para receber uma exposição Internacional”
a exposição de 30 edições, também aju-
dou a cidade e o concelho a definir uma turalmente e profissionalmente. Tenho essa fizeram no sentido de uma ajuda camarária, mas coisas. É evidente que é um clube ligado ao
estratégia a nível cultural? sorte, como já referi. Mas isso não é tudo pre- em que foi muito sensível o senhor presidente movimento internacional, portanto, tem uma
Acho que sim. É claro que quando iniciei aqui dicados do Afonso Pinhão Ferreira. Sei que da Câmara a isso, e fizemos a restauração do dimensão internacional. Há poucos anos, o Ro-
a Galeria de Arte com as 30 exposições todas sou uma pessoa preservante, mas tive bons edifício e tudo isso deve-se muito a ele, e eu, tary Internacional era tão só a segunda ONG
catalogadas que referiu, isso foi, digamos as- educadores e uma boa família. Tenho uma boa dentro das possibilidades, dei a minha ajuda. A com mais dinheiro no mundo e que patrocina
sim, a forma que achei mais correta para fazer sociedade, uma boa clínica, uma boa equipa de Filantrópica diz-me bastante por estas razões, com milhões de dólares o combate à fome, o
publicidade, mas uma publicidade não enga- trabalho e essas coisas todas juntas fazem as há um percurso onde eu participei já por duas combate à poliomielite. Tem imensos projetos
nosa, uma publicidade de proximidade com as nossas circunstâncias. Como dizia José Ortega vezes na sua revitalização e é um orgulho ago- de índole internacional com grande dimensão.
pessoas. Foi o abrir as portas da clínica com Gasset, “nós somos nós e as nossas circunstân- ra passar ali, naquele edifício restaurado que Os rotary clubs todos eles pagam uma quoti-
uma Galeria de Arte em que as pessoas vêm cias” e, portanto, eu não me considero nada de está localizado numa excelente zona da nossa zação, os seus sócios pagam para o movimento
cá visitar. Portanto, ficam também a conhe- especial. Eu considero é que tive sorte nesta terra e onde vão acontecendo sucessivamente rotário internacional e o da Póvoa é um deles,
cer a clínica. Agora o objetivo principal era na circunstância. De produzir a pessoa que sou e atividades culturais imensas, desde sociologia que já vai fazer 60 anos, precisamente quan-
verdade, partilhar a arte com artistas, abrir aquilo que consigo fazer mais. à política, entrevistas, exposições de arte, e, do a cidade da Póvoa faz 50 anos de elevação
as portas aos artistas e à comunidade. Ora Este projeto cultural através das exposi- portanto, é uma potência cultural. a cidade. Deixe-me dizer que é um orgulho,
isso traz alguma cultura e se abre horizontes ções é para continuar? Com todo este crescimento cultural, por exemplo, um dos maiores projetos que o
a certos jovens e a outros que encontram aqui Deixe-me dizer-lhe que as coisas custam di- ainda há espaço para a criação de novos Rotary fez, foi a Universidade Sénior, indiscu-
motivações. Isso faz parte de um projeto que nheiro. Há um orçamento da clínica que eu espaços culturais na Póvoa de Varzim? tivelmente, porque tem um interesse grande
todos deveríamos ter. Não sou eu, deveríamos todos os anos ponho de lado para o nosso mar- Há sempre espaço para a cultura, para o co- para a comunidade. Temos mais de 130 alunos
todos ter esse projeto. Qualquer cidadão devia keting. Enquanto isso for possível, eu irei con- nhecimento e para a arte. Eu, por exemplo, sei e com tendência para subir. Convidamos, este
ter como projeto, perceber que o conhecimen- tinuar exatamente a fazer a mesma coisa, por- que um dos projetos que está em forja na polí- ano, o dr. Abel Carriço para estar à frente da
to, a cultura é extraordinariamente importan- que acho que é o que interessa não só a mim, tica local é o Fórum Cultural, atrás da Bibliote- Universidade Sénior e para nós é um orgulho,
te na coesão social e deixe-me dizer-lhe, o que à minha clínica, à minha equipa, mas também ca. Gostava muito que isso fosse para a frente, porque acho que é um serviço, um verdadeiro
é que fazem os ditadores? Os ditadores negam à comunidade e, presumo que tenho todas as gostava muito que mais tarde a antiga fábrica serviço à comunidade, entre outros.
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“Penso que em democracia devia ser obrigatório votar. Para mim, o voto é obrigatório”
Integra a Comissão que está a prepa-
rar as comemorações dos 50 anos da
elevação da Póvoa Varzim a cidade. Foi
fácil aceitar o convite e o que sentiu
nesse momento?
É assim: o senhor presidente da Câmara re-
solveu convidar um certo número de indivi-
dualidades para uma Comissão para progra-
mar os eventos que a cidade precisa, eventos
que vão lembrar os poveiros dos 50 anos da
elevação da cidade da Póvoa de Varzim em
1973, como estão recordados aqueles que já
viviam nesse tempo, e eu sou um deles. Não
podia dizer que não, evidentemente, como é
que ia dizer que não a um convite desses? O
senhor presidente da Câmara convidou para
presidente da comissão o dr. Macedo Viei-
ra e muito bem. Foi uma excelente escolha.
Depois a mim e outros, e temos trabalhado,
temos tido reuniões. Já se apresentou em
traços gerais o programa para o ano inteiro
e espero que corra tudo bem. Acho, sincera-
mente, que a Póvoa merece isso.
Está há 10 anos como presidente da As-
sembleia Municipal, inserido no pro-
jeto do PSD. Ainda está com o mesmo
entusiasmo do primeiro dia?
Com o mesmo entusiasmo, sem dúvida. Ago-
ra daqui a 1 ano e meio, 2 anos, vai acabar
o mandato e, portanto, agora haverá uma
nova candidatura porque já são 3 mandatos Eu acho que sim. Honestamente tem sido dente que mudar nunca foi mau, não é mau dade com o eng. Aires Pereira, a verdade é
e já não contava estar neste terceiro, mas fui por várias razões. A primeira é o facto de a mudar as pessoas, mudar as ideologias, as que existiu subjacentemente pessoas ligadas
convidado e, como eu disse numa entrevista Assembleia ter uma maioria absoluta de um convicções. Agora, é importante dizer, e a um projeto político abraçado não só pelo
que vos dei em 2016, eu nunca me mostrei in- partido, que por acaso é o meu, mas o facto é o que eu tenho sentido nestes mandatos, partido, mas pela comunidade. E as pessoas
disponível para ocupar cargos de cidadania, de ter maioria absoluta, facilita quer se quei- que é bom que surja, ou no meu partido ou acreditaram neles e acreditaram numa for-
a não ser que entenda que ultrapassam as ra, quer não, as decisões, as votações, e, por- nos outros partidos, bom que surjam proje- ma muito acesa, muito convicta, a tal ponto
minhas competências, ou que não posso por tanto, essa é a primeira coisa que tem permi- tos políticos com os quais a comunidade se que lhes deram as maiorias absolutas. Eles
razões de tempo. tido ser mais fácil governar as assembleias. identifique. E o que tem acontecido aqui na têm respondido, na minha opinião. O atual
Qual o seu pensamento sobre a limita- A segunda é porque, de facto, os senhores Póvoa é paradigmático, é modelar, porque presidente, por exemplo, tem cumprido com
ção de três mandatos? deputados municipais têm tido um compor- o PSD desde que foi para o Governo com o as suas promessas eleitorais. Tem uma rela-
Parece que as pessoas não podem estar mais tamento que me parece muito correto, muito dr. Macedo Vieira e depois com a continui- ção de compromisso com a comunidade, que
de 3 mandatos nos cargos. Pessoalmente na educado, muito cívico, que quero aqui ho-

PUB
política entendo que há algo a analisar. Faço menagear. E o terceiro, é porque acho que o
esta pergunta: Mas porque é que um indi- presidente da Assembleia também tem algu-
víduo que está bem num cargo político, que ma experiência, são 10 anos e já tinha outras
teve um trajeto e um percurso narrativo fan- experiências da universidade. Outra razão é
tástico a governar uma cidade ou governar eu não entrar em debates na própria Assem-
uma autarquia ou um país ou qualquer coisa bleia. Estou ali para gerir e não participo no
não se pode recandidatar. Porquê? Porque é debate porque senão tornava as assembleias
que vamos correr o risco de lá pôr alguém muito demoradas e muito acesas.
que porventura não seja tão eficiente nem tão Mas este mandato, tem sido o manda-
eficaz se as pessoas gostam mesmo daquela to em que há mais forças políticas da
pessoa. Então democraticamente não pode- oposição…
riam votar nele? Eu acho que não é demo- Este mandato tem sido o mais difícil dos
crático uma pessoa não se poder candidatar três, porque temos mais pequenos partidos
porque teve 3 mandatos seja que for. É esta a representados na Assembleia. Temos cinco
minha posição. Não sou a favor desta medida partidos representados por um deputado
que foi tomada na Assembleia da República. municipal e todos eles querem ter o seu pro-
Via com bons olhos uma mudança nes- tagonismo que lhes é devido legitimamente,
sa questão da limitação de mandatos? não tenho nenhuma dúvida. Acho que todos
Completamente. Mas tenho outras, eu não eles têm o direito de falar, mas se nós fosse-
concordo com tudo o que foi decidido nas mos a cumprir as regras da representativida-
Assembleias da República em Portugal. Sou de, os partidos que lá estão, esses pequenos
uma pessoa que penso, por exemplo, que em partidos tinham 3 minutos para falar em
democracia devia ser obrigatório votar. Para cada Assembleia e, portanto, não tem sido
mim, o voto é obrigatório, portanto não é nós isso que tem sido feito. Temos deixado que
estarmos aqui a perder de dia para dia a re- todos os partidos se expressem, mas é claro
presentatividade e a participação por causa que tem havido alguma contenção, alguns
disso. Claro que vêm logo os defensores que a avisos, mas tudo tem corrido muito bem.
obrigação de votar não é democrático. Então, Acho que a nossa Assembleia é um exemplo
mas também se calhar, as pessoas também de educação. Sinceramente, não tenho nada
não gostam de pagar impostos, não é? Mas que dizer nestes 10 anos, tem corrido tudo
vão ter que os pagar. Se o interesse da co- bem.
munidade, se o interesse geral, se o interes- Há um novo desafio político daqui a 2
se estatístico prevalece sobre o interesse de anos, neste caso com uma mudança de
cada um, então acho que o voto obrigatório rosto na presidência da Câmara, como
era muito mais interessante. Não tem sentido de vários presidentes de Junta. Como
nenhum estarem partidos no poder com 40% antevê esta mudança na Póvoa de Var-
de representatividade ou 30 e tal por cento e zim?
às vezes temos abstenção de 60%. Quem de- Havia um senhor que era o Giuseppe Toma-
via estar no Governo era então a abstenção. si di Lampedusa que dizia, “que é preciso
Como presidente da Assembleia Muni- mudar tudo para que tudo fique na mes-
cipal, nestes 10 anos tem sido fácil ge- ma”. Eu não sei se é isso que vai acontecer.
rir este órgão? A única coisa que quero dizer é que é evi-
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“Fui da Assembleia
porque fui convidado
e na altura achei que
era um cargo que
ocuparia muito bem.
Vinha de acordo com
aquilo que eu entendo
ser a cidadania e que é,
digamos, um cidadão
prestar um serviço à
comunidade” Escultura é também uma das paixões de Afonso Pinhão Ferreira

é palpável e que é correta do meu ponto de


vista e, portanto, seja o partido que ganhe, ligadas a esta área política? também tem um mau sentido, mas, no bom para os órgãos autárquicos. Entende
seja quem for que vá para a frente, tem de ter Sim, tudo é. Mas, eu não entendo a Comissão sentido, trouxe-nos internacionalização, que vai ser um ano complicado em ter-
um projeto que se sinta que as pessoas com- nesse sentido, entendo mesmo como uma Co- mais escolaridade e mais desenvolvimento. mos políticos?
preendam e que seja abraçado não só pela missão que vai contribuir para que as pessoas Entramos depois para a Europa, e daí tive- Vai ser um ano complicado, não tenho dú-
equipa que se candidate, mas também pela da comunidade da Póvoa sintam que a eleva- mos um crescimento absolutamente monu- vidas nenhumas que vai. Primeiro a parte
comunidade. E é isso que tem feito com que ção da cidade foi um marco de potenciação da mental contra a pobreza. O país deixou de legislativa, ninguém estava à espera dis-
o PSD se tenha mantido no poder até agora e coesão social. A esse nível acho que sim. Em ser tão pobre, as pessoas começaram a viver to. Acho que ninguém estava à espera de
tenha feito o que tem feito na Póvoa, que, no termos políticos é evidente que quem está no muito melhor e é preciso ligar isto ao 25 de repente que um partido que tinha ganho
meu ponto de vista, é meritório. poder agora está a fazer as festas inerentes Abril. Eu sou um defensor do 25 de Abril, e com maioria absoluta não acabe o seu man-
E a sua pessoa até onde pode ir dentro a estes 50 anos, por coincidência. Portanto, acho que deve ser festejado, e 50 anos não dato, e não sei até que ponto isto foi mau
desta reflexão e no projeto do PSD? eu não liguei o facto de pertencer à Comissão é uma data qualquer. Na Assembleia, disse para o país. Seguramente, os partidos que
Vem aí agora a preparação de eleições. Ain- e a ligação à política, liguei mesmo a um as- que este ano devíamos fazer uma festa como se candidatam às eleições legislativas fo-
da não ouvi nada, mas penso que a partir do peto da comunidade e a um aspeto cultural deve ser no 25 de Abril, por todas as razões ram apanhados de surpresa e, portanto, há
próximo ano, normalmente, um ano e meio identitário. que estive agora a enumerar, e mais algumas movimentações muito rápidas, demasiado
antes, os partidos começam-se a movimentar Aproximam-se também as comemora- também, como por exemplo a por causa da rápidas, talvez, e só isso já é, na minha opi-
para as eleições autárquicas. Nunca me sedu- ções dos 50 anos da revolução do 25 de democracia representativa, que trouxe o 25 nião, bastante preocupante. Mas depois, e
ziu a ideia de ser candidato, por exemplo, a Abril de 1974, e como presidente da As- de Abril. Somos uma democracia partidária e por aquilo que eu tenho lido os politólogos
nada. Fui da Assembleia porque fui convi- sembleia Municipal comprometeu-se a representativa, daí que já dei a entender aos e pensadores não conseguem deslumbrar
dado e na altura achei que era um cargo que realizar um programa comemorativo partidos políticos que no fim de janeiro, irei o que é que vai acontecer. Depois as son-
ocuparia muito bem. Vinha de acordo com a nível local que seja diferente do que marcar um jantar com os líderes de bancada dagens hoje são muito duvidosas. Veja-se
aquilo que eu entendo a cidadania e que é, di- tem sido assinalado nos anos anterio- dos partidos representados na Assembleia, o que aconteceu na Holanda e na Itália, e,
gamos, um cidadão prestar um serviço à co- res. O que poderá ser feito? para discutir também com ajuda, certamen- portanto, não sei o que é que virá aí. Mas pa-
munidade. Agora eu, repare, sou um clínico, Há muita gente que nasceu depois do 25 de te do senhor presidente da Câmara, porque rece-me preocupante. O que mais me preo-
sou um professor e estou a entrar no período Abril e, hoje, não tem ideia nenhuma de como é evidente que é parte integrante e precisa- cupa de tudo o que disse anteriormente, é
da reforma, isso seria exigir demais de mim é que se vivia antes do 25 de Abril, nem de- mos dele, para ver se fazemos com que o 25 de as pessoas não terem a noção do que é
agora. pois. Eu, pessoalmente vivi nas duas épocas de Abril tenha uma homenagem séria e forte bom viver em democracia. E também não te-
O facto de pertencer à Comissão dos 50 e reconheço, com os conhecimentos que hoje na comunidade no ano que se festejam os 50 rem noção de como é mau viver em ditadura.
anos da elevação do Póvoa a cidade, en- tenho, não só da minha experiência mas tam- anos. Portanto, os jovens hoje não têm essa noção
tende que é também um momento para bém culturais, que o 25 de Abril foi uma boa O ano de 2024 pode ser um ano mui- de as pessoas não poderem ter expressão de
reflexão e para ajudar no que pode ser coisa que aconteceu em Portugal, que nos to conturbado politicamente, devido liberdade, os jornais também não a terem.
o futuro da Póvoa de Varzim e do pro- trouxe conhecimento, cultura, globalização às eleições legislativas, eleições euro- Eu espero bem que isso não aconteça. Sin-
jeto PSD, já que são pessoas também no bom sentido, atenção que a globalização peias e a preparação das candidaturas ceramente, há outras maneiras de resolver
as situações. Só como exemplo, penso que
a maior parte dos portugueses neste mo-
mento não gosta da imigração, quer dizer
da imigração como está a acontecer. Eu
pessoalmente não gosto, sou sincero. Daqui
a pouco, acho que nem vivo no meu país.
Estão a vir para cá pessoas que têm escrito
na sua religião, no quinto parágrafo da sua
religião, matar os infiéis (que somos nós que
não abraçamos a sua religião). Isto não pode
ser, e pessoas que não se integram na nos-
sa sociedade e que tratam mal as mulheres.
Mas, continuamos a deixar entrar aos mi-
lhares para dentro do nosso país. É evidente
que há um partido que é contra tudo isto.
Eu pergunto aos portugueses se não se pode
fazer a mesma coisa democraticamente. Dou
o exemplo da Inglaterra. A Inglaterra há 15
dias criou uma legislação contra a imigra-
ção, democraticamente. Foi ao Parlamento
e o Parlamento votou que só entram deter-
minados indivíduos e os que entram têm de
se submeter a determinadas leis, e não foi
preciso votar na extrema-direita. Portanto,
no meu ponto de vista, democraticamente
podem-se tomar as mesmas atitudes. O pro-
blema é que nem toda a gente lê jornais, e
quando chega a hora de votar só vai votar
por emoções. Não é por pensamentos, vota
pelo que sente apenas não pela razão, e esta
Galeria de Arte da Ortopóvoa
é a questão que vai acontecer e eu duvido e
tenho muito medo do que aí virá.

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