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“Penso que em democracia devia ser obrigatório votar. Para mim, o voto é obrigatório”
Integra a Comissão que está a prepa-
rar as comemorações dos 50 anos da
elevação da Póvoa Varzim a cidade. Foi
fácil aceitar o convite e o que sentiu
nesse momento?
É assim: o senhor presidente da Câmara re-
solveu convidar um certo número de indivi-
dualidades para uma Comissão para progra-
mar os eventos que a cidade precisa, eventos
que vão lembrar os poveiros dos 50 anos da
elevação da cidade da Póvoa de Varzim em
1973, como estão recordados aqueles que já
viviam nesse tempo, e eu sou um deles. Não
podia dizer que não, evidentemente, como é
que ia dizer que não a um convite desses? O
senhor presidente da Câmara convidou para
presidente da comissão o dr. Macedo Viei-
ra e muito bem. Foi uma excelente escolha.
Depois a mim e outros, e temos trabalhado,
temos tido reuniões. Já se apresentou em
traços gerais o programa para o ano inteiro
e espero que corra tudo bem. Acho, sincera-
mente, que a Póvoa merece isso.
Está há 10 anos como presidente da As-
sembleia Municipal, inserido no pro-
jeto do PSD. Ainda está com o mesmo
entusiasmo do primeiro dia?
Com o mesmo entusiasmo, sem dúvida. Ago-
ra daqui a 1 ano e meio, 2 anos, vai acabar
o mandato e, portanto, agora haverá uma
nova candidatura porque já são 3 mandatos Eu acho que sim. Honestamente tem sido dente que mudar nunca foi mau, não é mau dade com o eng. Aires Pereira, a verdade é
e já não contava estar neste terceiro, mas fui por várias razões. A primeira é o facto de a mudar as pessoas, mudar as ideologias, as que existiu subjacentemente pessoas ligadas
convidado e, como eu disse numa entrevista Assembleia ter uma maioria absoluta de um convicções. Agora, é importante dizer, e a um projeto político abraçado não só pelo
que vos dei em 2016, eu nunca me mostrei in- partido, que por acaso é o meu, mas o facto é o que eu tenho sentido nestes mandatos, partido, mas pela comunidade. E as pessoas
disponível para ocupar cargos de cidadania, de ter maioria absoluta, facilita quer se quei- que é bom que surja, ou no meu partido ou acreditaram neles e acreditaram numa for-
a não ser que entenda que ultrapassam as ra, quer não, as decisões, as votações, e, por- nos outros partidos, bom que surjam proje- ma muito acesa, muito convicta, a tal ponto
minhas competências, ou que não posso por tanto, essa é a primeira coisa que tem permi- tos políticos com os quais a comunidade se que lhes deram as maiorias absolutas. Eles
razões de tempo. tido ser mais fácil governar as assembleias. identifique. E o que tem acontecido aqui na têm respondido, na minha opinião. O atual
Qual o seu pensamento sobre a limita- A segunda é porque, de facto, os senhores Póvoa é paradigmático, é modelar, porque presidente, por exemplo, tem cumprido com
ção de três mandatos? deputados municipais têm tido um compor- o PSD desde que foi para o Governo com o as suas promessas eleitorais. Tem uma rela-
Parece que as pessoas não podem estar mais tamento que me parece muito correto, muito dr. Macedo Vieira e depois com a continui- ção de compromisso com a comunidade, que
de 3 mandatos nos cargos. Pessoalmente na educado, muito cívico, que quero aqui ho-
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política entendo que há algo a analisar. Faço menagear. E o terceiro, é porque acho que o
esta pergunta: Mas porque é que um indi- presidente da Assembleia também tem algu-
víduo que está bem num cargo político, que ma experiência, são 10 anos e já tinha outras
teve um trajeto e um percurso narrativo fan- experiências da universidade. Outra razão é
tástico a governar uma cidade ou governar eu não entrar em debates na própria Assem-
uma autarquia ou um país ou qualquer coisa bleia. Estou ali para gerir e não participo no
não se pode recandidatar. Porquê? Porque é debate porque senão tornava as assembleias
que vamos correr o risco de lá pôr alguém muito demoradas e muito acesas.
que porventura não seja tão eficiente nem tão Mas este mandato, tem sido o manda-
eficaz se as pessoas gostam mesmo daquela to em que há mais forças políticas da
pessoa. Então democraticamente não pode- oposição…
riam votar nele? Eu acho que não é demo- Este mandato tem sido o mais difícil dos
crático uma pessoa não se poder candidatar três, porque temos mais pequenos partidos
porque teve 3 mandatos seja que for. É esta a representados na Assembleia. Temos cinco
minha posição. Não sou a favor desta medida partidos representados por um deputado
que foi tomada na Assembleia da República. municipal e todos eles querem ter o seu pro-
Via com bons olhos uma mudança nes- tagonismo que lhes é devido legitimamente,
sa questão da limitação de mandatos? não tenho nenhuma dúvida. Acho que todos
Completamente. Mas tenho outras, eu não eles têm o direito de falar, mas se nós fosse-
concordo com tudo o que foi decidido nas mos a cumprir as regras da representativida-
Assembleias da República em Portugal. Sou de, os partidos que lá estão, esses pequenos
uma pessoa que penso, por exemplo, que em partidos tinham 3 minutos para falar em
democracia devia ser obrigatório votar. Para cada Assembleia e, portanto, não tem sido
mim, o voto é obrigatório, portanto não é nós isso que tem sido feito. Temos deixado que
estarmos aqui a perder de dia para dia a re- todos os partidos se expressem, mas é claro
presentatividade e a participação por causa que tem havido alguma contenção, alguns
disso. Claro que vêm logo os defensores que a avisos, mas tudo tem corrido muito bem.
obrigação de votar não é democrático. Então, Acho que a nossa Assembleia é um exemplo
mas também se calhar, as pessoas também de educação. Sinceramente, não tenho nada
não gostam de pagar impostos, não é? Mas que dizer nestes 10 anos, tem corrido tudo
vão ter que os pagar. Se o interesse da co- bem.
munidade, se o interesse geral, se o interes- Há um novo desafio político daqui a 2
se estatístico prevalece sobre o interesse de anos, neste caso com uma mudança de
cada um, então acho que o voto obrigatório rosto na presidência da Câmara, como
era muito mais interessante. Não tem sentido de vários presidentes de Junta. Como
nenhum estarem partidos no poder com 40% antevê esta mudança na Póvoa de Var-
de representatividade ou 30 e tal por cento e zim?
às vezes temos abstenção de 60%. Quem de- Havia um senhor que era o Giuseppe Toma-
via estar no Governo era então a abstenção. si di Lampedusa que dizia, “que é preciso
Como presidente da Assembleia Muni- mudar tudo para que tudo fique na mes-
cipal, nestes 10 anos tem sido fácil ge- ma”. Eu não sei se é isso que vai acontecer.
rir este órgão? A única coisa que quero dizer é que é evi-
4 MAIS/Entrevista Quarta-Feira • 20 dezembro 2023 • www.maissemanario.pt
“Fui da Assembleia
porque fui convidado
e na altura achei que
era um cargo que
ocuparia muito bem.
Vinha de acordo com
aquilo que eu entendo
ser a cidadania e que é,
digamos, um cidadão
prestar um serviço à
comunidade” Escultura é também uma das paixões de Afonso Pinhão Ferreira