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LÍNGUA PORTUGUESA

2ª série
Relato
Gênero Relato
O relato é um gênero muito comum no nosso cotidiano, pois
relatamos fatos aos nossos amigos e familiares, ouvimos
relatos nos noticiários, buscamos relatos de pessoas notórias
como inspiração para nossa vida, ou para saber experiências
vividas em lugares que desejamos conhecer. Sendo assim,
falamos, lemos e escrevemos um relato em diversas
situações e em diferentes suportes: revistas, jornais, telefone,
redes sociais, sempre com o objetivo de narrar um
acontecimento específico para outrem.
As características desse gênero são:
• Narrar de forma breve um fato específico vivido por uma
pessoa e suas consequências, reflexões;
• Apresentar elementos básicos da narrativa tais como: sequência
de fatos, pessoas, tempo, espaço.

Sua estrutura é composta por:


• Título;
• Introdução: contexto, personagem, tempo/espaço, fato/
problema
• Desenvolvimento: construção da trama, clímax
• Conclusão: desfecho, reflexão.
• Resposta às perguntas: Quando? Onde? Quem? O quê? Como?
Por quê?
COMEÇO DE CONVERSA

Você sabia que mais da metade da categoria dos


microempreendedores no Brasil é negra?

Representatividade importa?

Você já ouviu falar sobre a Feira Preta?


RELATO
Criadora da Feira Preta, Adriana Barbosa está entre os 51
negros mais influentes do mundo
A paulista conta a trajetória para valorizar sua cultura e realizar
anualmente o maior evento de empreendedorismo negro da
América Latina.
Como pode ter demorado tanto para mais da metade da
população ganhar voz? Quando era adolescente, andava
pelo mercado e só encontrava xampu “para cabelos
rebeldes”, não se falava em representatividade e eram
os homens brancos que contavam dinheiro no fim da
noite em uma casa noturna de black music. Foi um longo
processo, mas hoje finalmente vivemos em um País
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diferente, e me orgulho de ter contribuído para essa mudança de
desenvolvimento e consumo. Meu nome é Adriana Barbosa, tenho 41 anos,
e sou idealizadora da Feira Preta, plataforma responsável por criar projetos
para valorizar nossa cultura e realizar anualmente o maior evento de
empreendedorismo negro da América Latina.
Voltamos para casa lamentando e decidimos que não dava para viver mais
naquele esquema. Até que veio a ideia: por que a gente não cria uma feira
com a nossa identidade e cultura?
Dona da própria história
Já existia uma cena negra muito forte na Vila Madalena, principalmente entre
produtores e técnicos de som das festas. O problema é que as baladas eram
feitas por negros, frequentadas por negros mas estavam nas mãos de
homens brancos. Não fazia sentido, né?
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Tiramos o plano do papel. A ideia era que empreendedores e artistas negros


divulgassem seus trabalhos e pudessem viver a partir dele. Dito e feito: pela
primeira vez, éramos proprietárias da nossa história! No mesmo ano, demos
vida à Feira Preta, na praça Benedito Calixto, em Pinheiros, SP. Conseguimos
reunir 40 expositores e um público de 5 mil pessoas. Foi um sucesso! Os
números mostravam a demanda reprimida, o que não queria dizer que o
caminho seria fácil. Pelo contrário.
Acredite, uma das coisas que eu mais ouvi é que não queriam associar a
marca a um evento que chamava Feira Preta, alegando “conflito racial”, mas
o intuito do nome era mostrar que parte da população precisava ser
percebida.
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Coincidência ou não, nessa época, [uma empresa] estava lançando o
primeiro sabonete para pele negra e, assim, conseguimos patrocínio. Ali, vi
que tinha encontrado uma nova profissão. Definitivamente, a área de
Comunicação era passado na minha vida.
Profissão: empreendedora
Foi um processo até descobrir meu papel nesse ecossistema de
empreendedorismo social, que tem que dar lucro, mas também tem que
impactar a sociedade. Decidi me profissionalizar e fazer faculdade. Em 2008,
aos 30 anos, me formei em Gestão de Eventos e depois fiz pós-graduação
em Gestão Cultural. A Feira Preta deixou de ser só um evento para virar uma
plataforma.
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Dá para acreditar ? Foi em 2017, quando fui premiada em Nova York e entrei
para a lista dos 51 negros com menos de 40 anos mais influentes do mundo,
pelo Most Influential People of African Descent, o MIPAD. Além de mim, só
outros dois brasileiros entraram para a lista: Lázaro Ramos e Taís Araújo –
ela, inclusive, colaborou com uma “vaquinha” ao lado de outras 90 pessoas
para me ajudar a viajar e receber o prêmio. Sou muito grata!
Ninguém segura
Olho para trás e vejo 17 anos de história em que a gente descentraliza o
conteúdo de cultura negra pelo menos uma vez por ano em São Paulo e
esporadicamente em outras cidades do Brasil. Nossa equipe fixa é formada
por 25 pessoas, mas no dia do festival chega a 150, sempre com essa lógica
de priorizar microempreendedores negros, desde a assessoria de imprensa
ao técnico de som.
Continuando a leitura…
Na última edição, em novembro de 2018, batemos recorde de público, com
52 mil pessoas e mais de 120 empreendedores de diversos Estados.
Trocamos o xampu “para cabelos rebeldes” por ativador de cachos,
desenvolvemos produtos que atendem o consumidor negro e fizemos muita
gente enxergar o que já sabíamos: mais da metade da categoria dos
microempreendedores no Brasil é negra. Mais precisamente 51%, de acordo
com o Sebrae.
Posso fazer uma lista de conquistas ao longo desses anos, mas também
consigo enumerar uma série de projetos que ainda quero tirar do papel.
Continuando a leitura…
Tenho vontade de levar a feira para outros cantos do mundo, como
Colômbia, Estados Unidos e países africanos de língua portuguesa. Sei que
somos uma marca forte, mas temos potencial para chegar ainda mais longe
e há uma longa luta pela frente.
Quando recebia a negativa de uma marca que não queria se associar a uma
mulher negra, imediatamente pensava: “então você não quer se associar a
mim”. Trabalhei na terapia para que meus dilemas enquanto mulher negra
não se envolvessem nas minhas negociações profissionais. Foi preciso muita
autoestima para fazer o que eu faço hoje. Mas se tem uma coisa que não me
falta nesta vida, além de autoestima, é coragem. E ela segue comigo nessa
caminhada que, sem dúvida, não para por aqui.
Disponível em: <
https://glamour.globo.com/lifestyle/noticia/2019/02/criadora-da-feira-preta-adriana-barbosa-esta-
entre-os-51-negros-mais-influentes-do-mundo.ghtml
>. Acesso em mar. 2023. Fragmento.
05 min ATIVIDADE 1
Releia o trecho inicial da matéria e no seu caderno, responda as
questões abaixo.
Como pode ter demorado tanto para mais da metade da população
ganhar voz? Quando era adolescente, andava pelo mercado e só
encontrava xampu “para cabelos rebeldes”, não se falava em
representatividade e eram os homens brancos que contavam dinheiro
no fim da noite em uma casa noturna de black music.
a) Considerando o enunciador que se projeta no texto e a experiência
relatada, a quem se refere a expressão mais da metade da
população?
b) O que o enunciador lamenta nesse trecho?
ATIVIDADE 1 - Resposta

a) O enunciador do texto é a empreendedora Adriana Barbosa que


relata a sua trajetória em primeira pessoa. A expressão se refere a
população negra do Brasil.

b) Adriana lamenta que os negros tenham demorado tanto para


terem voz, para serem percebidos e considerados como parte da
sociedade brasileira e terem seu lugar reconhecido na cultura e no
mercado.
RELATO PESSOAL

O texto que você leu é um exemplo de relato de pessoal: ao produzir


um texto dessa natureza, pode-se focalizar determinado fato ou
momento da vida – no relato em questão, Adriana Barbosa
concentra-se no período da vida em que se tornou empreendedora e
nas circunstâncias que a levaram a empreender.
EXEMPLO DE RELATO PESSOAL

Os meus primeiros dias de aula.


Iniciei as aulas em uma nova escola e resolvi contar a minha experiência nos meus primeiros dias. Até então, eu nunca havia
mudando de escola. Sempre estudei em uma mesma instituição de ensino, desde quando comecei minha educação.

Nas primeiras aulas, me senti bem deslocado. Eu não conhecia os professores, e, mesmo a turma sendo grande,
aproximadamente 50 alunos, eu não conhecia nenhum dos meus colegas de classe. Tentei me aproximar deles, mas muitos já
tinham os seus grupos, e eu os entendo, afinal, quando eu estudava na minha escola, também tinha a minha turma. Acredito
que foi na segunda semana que comecei a me encontrar, ou melhor, a achar a minha “tribo”. Descobri que alguns colegas
adoravam Star Wars, e esse foi o ponto de partida para iniciarmos longos debates, alguns ainda em sala, outros fora dela, nos
intervalos. Com as amizades encaminhadas, eu precisava compreender um pouco mais a dinâmica com os professores.

A sala, como eu disse, era muito cheia, e o professor, infelizmente, não conseguia dar atenção a todos os alunos. Havia muita
atividade em grupo, com dinâmicas em que nós produzíamos textos, experimentos e outros materiais. Porém os professores
não conseguiam atender ou mesmo decorar os nomes dos alunos. Nesse aspecto, a quantidade excessiva atrapalhou bastante.
Mesmo assim, percebi um enorme esforço neles para oferecer a melhor aula possível. No fim das contas, comecei a admirar a
atitude e o empenho dos professores e me simpatizei com alguns dos meus colegas fãs de Star Wars.

A experiência em uma nova escola foi muito bacana. Acredito que a mudança de ares é sempre um desafio, não importa qual
seja. Pode ser uma simples mudança de escola, emprego, cidade e até mesmo país. Qualquer mudança nos deixa com medo e
apreensivos por não sabermos exatamente o que acontecerá dali adiante. Porém, com o tempo, nós vamos nos acostumando, o
medo vai embora e a vida segue

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