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http://dx.doi.org/10.20947/S0102-30982016a0010
Este trabalho pretende analisar as mudanças na estrutura social e das desigualdades de renda
nas principais metrópoles brasileiras em comparação com os espaços não metropolitanos, de
modo a refletir sobre a importância das metrópoles no contexto de alterações econômicas e
sociais ocorridas na última década. No debate público e acadêmico, porém, o foco da análise
tem recaído principalmente na redução das desigualdades de renda a partir da análise de
estratos de renda. Nesse sentido, procuramos responder à seguinte questão: se a redução
das desigualdades de renda, verificada na análise entre os estratos de renda, também está
sendo observada entre os estratos sociais considerados a partir de uma estratificação sócio-
-ocupacional, como se deu essa relação entre os espaços metropolitanos e os não metropolitanos?
Para tanto, foram utilizados dados dos Censos Demográficos do IBGE de 2000 e 2010, com o
fim de comparar a estrutura de distribuição de renda entre os municípios brasileiros segundo
seu porte populacional, considerando aqueles inseridos em espaços metropolitanos e não
metropolitanos, e as desigualdades de renda entre os estratos sociais para os diferentes
contextos espaciais por meio da razão da média da renda entre esses estratos. Constatou-se
que, apesar de as metrópoles brasileiras continuarem mantendo sua centralidade referente
à dinâmica do mercado de trabalho, pois apresentam médias de rendimento total de seus
residentes e de rendimento do trabalho principal superiores àquelas encontradas para os espaços
não metropolitanos, as maiores reduções das desigualdades de renda ocorreram nestes últimos,
em especial nos menores municípios segundo seu porte populacional.
*
O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
– Brasil. Agradeço também as contribuições dos pareceristas anônimos da Rebep, bem como do seu Comitê Editorial.
**
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ), Rio de
Janeiro-RJ, Brasil (marceloribeiro@ippur.ufrj.br).
R. bras. Est. Pop., Rio de Janeiro, v.33, n.2, p.237-256, maio/ago. 2016
Ribeiro, M.G. Estrutura social e desigualdade de renda
Introdução
O Brasil passou por mudanças econômicas e sociais importantes entre 2000 e 2010,
com recuperação do crescimento econômico a partir de meados dessa década, sustentado,
sobretudo, pelo mercado interno, redução do desemprego e aumento do emprego formal.
Ao mesmo tempo, ocorreram redução das desigualdades de renda pessoal, aumento real
do salário mínimo, ampliação da política de transferência de renda e elevação do crédito ao
consumidor. A redução das desigualdades de renda entre os indivíduos levou à caracteriza-
ção, para alguns, do surgimento de uma nova classe média – também chamada de classe C
(NERI, 2008, 2010); para outros, significou apenas o aumento da classe de trabalhadores
na base da pirâmide social (POCHMANN, 2012), também chamados de batalhadores (SOU-
ZA, 2010). Esse debate em torno das desigualdades de renda, de modo geral, sugere que
houve na última década mobilidade social ascendente, o que tornou menos desiguais as
diferenças entre os indivíduos (NERI, 2010; POCHMANN, 2012). Porém, a caracterização
da mobilidade social é feita pelo aumento de composição populacional nos estratos inter-
mediários de renda, em detrimento da redução dos estratos mais baixos da estratificação
de renda. É a partir daí que se passa, por exemplo, a dizer que houve o surgimento de uma
nova classe média ou de ampliação da base da pirâmide social.
Mas para afirmar que houve mobilidade social é necessária a análise da correlação
entre duas distribuições de desigualdades, sejam de renda, sejam de outras dimensões
sociais, em dois períodos no tempo. Isso pode ser feito em termos tanto de carreira pes-
soal quanto geracionais. Desse modo, é possível saber se os indivíduos melhoraram suas
condições ao longo de sua vida (mobilidade intrageracional), ou se melhoraram suas
condições em relação às condições de seus pais (mobilidade intergeracional) (SCALON,
1999; PASTORE; VALLE SILVA, 2000). Tanto num caso como no outro são necessárias infor-
mações sobre origem e destino sociais dos indivíduos, observados por suas ocupações.
Porém, não há pesquisas longitudinais ou de painel, para a última década no Brasil, que
possibilitem tal avaliação. De qualquer modo, mesmo que não seja possível realizar uma
análise mais precisa sobre mobilidade social, se ocorreram mudanças nas condições eco-
nômicas e sociais do país, é preciso saber se essas mudanças provocaram algum impacto
na estrutura social brasileira, quando se analisa essa estrutura social a partir não apenas
de uma estratificação de renda – como vários estudos tendem a fazer –, mas também de
uma estratificação sócio-ocupacional.
Porém, ao se considerar uma estratificação sócio-ocupacional como proxy da estru-
tura social, é necessário reconhecer a diferença do mercado de trabalho entre os espaços
metropolitanos e os não metropolitanos do país. Isso porque os primeiros tendem a con-
centrar ocupações tipicamente urbanas e, no caso brasileiro, foi onde se concentraram
historicamente as atividades industriais. Além das diferenças do mercado de trabalho, a
importância de se analisar as metrópoles brasileiras advém do fato de elas se destacarem
na contemporaneidade por serem lócus da questão social do país (RIBEIRO, 2010), onde
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Estrutura social
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O Observatório das Metrópoles é uma rede nacional de pesquisadores vinculados a diversos programas de pós-graduação
existentes em todas as macrorregiões do país. Com sede da Coordenação Nacional no Ippur/UFRJ, desenvolve um programa
de pesquisa comparativa entre as metrópoles brasileiras, a partir de uma metodologia comum para todos os núcleos que
o integram, segundo uma estratificação social considerada proxy da estrutura social.
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As primeiras regiões metropolitanas no Brasil foram criadas em 1973, pela Lei Com-
plementar 14, que, por sua vez, obedecia à Constituição de 1967. A partir da Constituição
de 1988, a responsabilidade pela criação e organização das regiões metropolitanas foi
transferida do governo federal para os estados da federação. Até 31 de julho de 2012, o
Brasil contava com 50 regiões metropolitanas (RM), três regiões integradas de desenvol-
vimento econômico (Ride) e cinco aglomerações urbanas (AU) definidas por lei federal ou
estadual. Porém, nem todos os espaços institucionalizados como região metropolitana
correspondem de fato à metrópole, no sentido de serem espaços que exercem capacidade
de polarização territorial em termos econômico, político, social e populacional na rede
urbana em que estão inseridos. Quando o IBGE realiza o Censo Demográfico, a definição
de região metropolitana utilizada corresponde aos espaços que foram institucionalizados
por meio de lei, conforme designação da Constituição Federal de 1988, o que variará de
um Censo para outro, sendo espaços institucionalizados a partir de critérios variados.
2
Houve algumas diferenças entre alguns grupos ocupacionais dos dois Censos Demográficos, mas a maior parte deles
possuía correspondência.
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Corresponde à Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal (Ride-DF).
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FIGURA 1
Porte populacional dos municípios – 2010
Porte populacional
Mun. metropolitanos
Acima de 500 mil hab.
Acima de 100 mil a 500 hab.
N
Acima de 20 mil a 100 mil hab.
Até 20 mil hab.
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apenas 5,6% do total da população brasileira. Esses dados demonstram o peso que as
metrópoles possuem em relação à distribuição populacional do país, na medida em que
concentram mais de um terço da população em apenas 15 aglomerados urbanos, o que
confere importância destacada na configuração territorial brasileira.
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TABELA 1
Estrutura das categorias sócio-ocupacionais nos municípios metropolitanos e não metropolitanos,
por tamanho populacional
Brasil – 2000
Em porcentagem
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TABELA 2
Estrutura das categorias sócio-ocupacionais nos municípios metropolitanos e não metropolitanos,
por tamanho populacional
Brasil – 2010
Em porcentagem
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Entre 2000 e 2010, observam-se algumas mudanças na estrutura social dos mu-
nicípios não metropolitanos: aumento da participação do grupo sócio-ocupacional
dos profissionais de nível superior, tendência observada em todo o país; crescimento
da participação dos trabalhadores do secundário proporcionalmente maior do que o
verificado para o total do país e dos trabalhadores do terciário especializados; redução
da participação dos pequenos empregadores e dos trabalhadores do terciário não es-
pecializados, tendência também observada em todo o país; e diminuição da categoria
de trabalhadores agrícolas.
Já para os municípios metropolitanos, praticamente não houve grandes mudanças
em sua estrutura social, nesse mesmo período. A alteração mais significativa diz res-
peito ao crescimento da participação do grupo sócio-ocupacional de profissionais de
nível superior, que, apesar de ter sido observado em todo o país, em pontos percentuais
foi maior nos municípios metropolitanos. As categorias que mais colaboraram para o
aumento do grupo de profissionais de nível superior foram os empregados de nível su-
perior, professores de nível superior e autônomos de nível superior. Os demais grupos
sócio-ocupacionais apresentaram mudanças modestas na participação da estrutura
social ao longo da década.
Alterações estruturais não ocorrem em períodos tão curtos como o de apenas uma
década. E isso não seria diferente para a estrutura social do Brasil (metropolitano e não
metropolitano). Entretanto, apesar de não podermos afirmar que houve mudanças expres-
sivas na estrutura social, é possível observar algumas tendências que podem contribuir
para, no longo prazo, modificar a estrutura social desses espaços analisados.4 Nota-se,
por um lado, que houve de modo geral aumento das categorias sócio-ocupacionais dos
profissionais de nível superior, que são ocupações que requerem o atributo superior de
escolaridade. Isso pode significar que ou ocorreu crescimento de ocupações com essa
exigência na sociedade brasileira, ou houve mudanças nos requisitos, fazendo com que
ocupações que antes poderiam ser exercidas por pessoas sem o nível superior agora
passam a exigir essa escolaridade, em decorrência do aumento do nível de instrução veri-
ficado na sociedade brasileira, ou esses dois fenômenos aconteceram ao mesmo tempo.
Por outro lado, as mudanças ocorridas nos espaços não metropolitanos foram
mais intensas do que as observadas nos metropolitanos, sobretudo em decorrência da
redução da participação dos trabalhadores agrícolas. Confirmada essa tendência, no
longo prazo os espaços não metropolitanos ficarão com estruturas sociais semelhan-
tes aos metropolitanos. Isso pode significar que o processo de mecanização do campo
ou mesmo o avanço da industrialização agrícola pode colaborar para a constituição
de ocupações semelhantes entre os espaços metropolitanos e os não metropolitanos.
O fato de a estrutura social dos espaços não metropolitanos apresentar tendência de
4
É evidente que há outras dimensões que também afetam a estrutura social, como a estrutura educacional, participação
na força de trabalho e estrutura etária, por exemplo, mas, devido às limitações de espaço no presente texto, não é possível
tecer considerações sobre elas.
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Ribeiro, M.G. Estrutura social e desigualdade de renda
aproximação com a estrutura social dos espaços metropolitanos pode significar que a
sociedade brasileira tende a se constituir cada vez mais como uma sociedade urbana,
o que não significa, entretanto, que aqueles espaços passarão a se configurar como
metropolitanos propriamente dito.
De todo modo, o que verificamos é uma estrutura pouco flexível em termos de mudan-
ças composicionais. Ao se considerarem os grupos sócio-ocupacionais de trabalhadores
do terciário especializado, trabalhadores do secundário, trabalhadores do terciário não
especializado e trabalhadores agrícolas como ocupações que constituem o que se pode
chamar de classe popular, observa-se que, nos municípios metropolitanos, elas represen-
tavam 61,4% das categorias sócio-ocupacionais, em 2000, e 59%, em 2010. Do mesmo
modo, se considerarmos os grupos de pequenos empregadores e ocupações médias
como as classes intermediárias ou classes médias da estrutura social, verifica-se que
elas correspondiam a 28,9%, em 2000, e a 28%, em 2010. Tais resultados demonstram
a manutenção da participação tanto das classes populares quanto das classes médias.
Mudanças mais sensíveis são observadas nos grupos sócio-ocupacionais de dirigentes
e de profissionais de nível superior, que podem ser entendidos como classe dominante
da estrutura social, os quais passaram de 9,6% para 13,1%, entre 2000 e 2010. Esse
aumento deveu-se ao crescimento da participação dos profissionais de nível superior,
como visto anteriormente, uma vez que houve redução para os dirigentes. Apesar dessas
alterações na classe dominante, o que ocorreu ao longo da primeira década do século
20 está longe do que poderia ser chamado de mudanças da estrutura social, como
sugerem as análises que mencionam o surgimento de uma nova classe média (NERI,
2008, 2010), ou mesmo ampliação da base da pirâmide social (POCHMAN, 2012). Assim,
diante da relativa rigidez dessa estrutura sócio-ocupacional, como ocorreu a redução das
desigualdades de renda nos espaços metropolitanos e não metropolitanos? Vejamos.
Desigualdades de renda
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nal pode ser decorrente do aumento real do salário mínimo5 e da ampliação da política
de transferência de renda ocorrida ao longo da década, tendo em vista que os municípios
de menor porte populacional podem ser mais dependentes desse tipo de renda, uma vez
que sua estrutura econômica pode ser menos complexa do que aquelas existentes nos
municípios de maior porte populacional, principalmente nas metrópoles. A mesma rela-
ção é observada também para o rendimento do trabalho principal, pois, quanto menor o
porte populacional do município, maior é seu crescimento relativo. Porém, essa situação
se apresenta de forma ainda mais crítica para os contextos metropolitanos do país, tendo
em vista que a média desse tipo de rendimento sofreu redução entre 2000 e 2010.6
TABELA 3
Médias do rendimento total dos residentes e do rendimento do trabalho principal,
segundo porte populacional dos municípios
Brasil – 2000-2010
Média do rendimento Variação Taxa de
Porte populacional do município (em reais) 2000-2010 crescimento
2000 (1) 2010 (%) anual (%)
Rendimento total dos residentes (2)
Municípios metropolitanos 1.033,91 1.216,00 17,6 1,6
Municípios não metropolitanos
Mais de 500 mil hab. 877,55 1.112,51 26,8 2,4
Mais de 100 mil a 500 mil hab. 774,53 935,03 20,7 1,9
Mais de 20 mil a 100 mil hab. 482,10 615,22 27,6 2,5
Até 20 mil hab. 380,75 516,72 35,7 3,1
Total 735,27 901,01 22,5 2,1
Rendimento do trabalho principal
Municípios metropolitanos 1.628,79 1.592,62 -2,2 -0,2
Municípios não metropolitanos
Mais de 500 mil hab. 1.373,22 1.435,62 4,5 0,4
Mais de 100 mil a 500 mil hab. 1.210,24 1.250,84 3,4 0,3
Mais de 20 mil a 100 mil hab. 770,10 844,53 9,7 0,9
Até 20 mil hab. 587,56 687,67 17,0 1,6
Total 1.156,34 1.206,25 4,3 0,4
Fonte: IBGE. Censos Demográficos 2000 e 2010.
(1) Corrigido pelo INPC de 31 de julho de 2010.
(2) Inclui todos rendimentos de todos os trabalhos e rendimentos de outras fontes.
5
O salário mínimo, em 2000, era de R$ 151,00; em 2010, passou para R$ 510,00. Ao considerar a inflação desse período,
houve um aumento real de 75%.
6
Apesar de apresentar redução entre os anos citados, a partir dos dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios), há evidências de que o comportamento do rendimento médio era de queda até meados da década e de retomada
do crescimento até os anos 2010, porém sem alcançar o patamar de 2000 (RIBEIRO, 2013).
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TABELA 4
Razão de renda do trabalho principal, por porte populacional dos municípios,
segundo estrutura sócio-ocupacional
Brasil – 2000-2010
Municípios não metropolitanos (por mil hab.)
Estrutura Municípios Mais de Mais de Mais de 20 Total
metropolitanos Até 20 mil
sócio- 500 mil 100 mil até mil até
hab.
ocupacional hab. 500 mil hab. 100 mil hab.
2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010
Dirigentes 17,6 15,0 18,9 14,1 17,0 11,5 18,9 12,3 16,5 11,1 18,7 14,0
Profissionais de 6,6 5,8 6,7 5,8 5,9 4,8 5,6 4,5 5,0 3,8 6,7 5,5
nível superior
Pequenos 8,7 6,8 9,3 6,5 8,7 5,8 9,5 6,4 10,4 6,9 9,0 6,4
empregadores
Ocupações médias 2,8 2,6 2,9 2,7 2,7 2,5 2,6 2,5 2,5 2,3 2,9 2,6
Trabalhadores
do terciário 1,7 1,6 1,8 1,7 1,8 1,7 1,9 1,8 2,0 1,9 1,8 1,7
especializado
Trabalhadores do 1,7 1,5 1,8 1,6 1,7 1,6 1,9 1,6 2,1 1,7 1,8 1,6
secundário
Trabalhadores
do terciário não 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0 1,0
especializados
Agricultores 0,9 0,8 1,2 1,1 1,0 0,9 0,8 0,7 1,0 0,9 0,7 0,7
Fonte: IBGE. Censos Demográficos 2000 e 2010.
Verifica-se para o total do Brasil que, em 2000, a categoria dos dirigentes ganhava, em
média, 18,7 vezes mais do que os trabalhadores do terciário não especializados. Mesmo
sendo a categoria com a maior média de rendimento, em 2010, houve redução dessa ra-
zão, quando os dirigentes passaram a ganhar 14 vezes mais do que os trabalhadores do
terciário não especializados. Também ocorreu redução da razão do rendimento médio do
trabalho principal das demais categorias sócio-ocupacionais em relação aos trabalhado-
res do terciário não especializados, entre 2000 e 2010: os profissionais de nível superior
diminuíram sua razão em relação à categoria de referência de 6,7 para 5,5; os pequenos
empregadores de 9,0 para 6,4; as ocupações médias de 2,9 para 2,6; os trabalhadores
do terciário especializados de 1,8 para 1,7; e os trabalhadores do secundário de 1,8 para
1,6. Mesmo assim, a hierarquia de remuneração se manteve nesse período, com todas as
categorias auferindo rendimento médio mais elevado do que aquela de referência, com
exceção dos trabalhadores agrícolas que, nos dois anos, apresentaram rendimento médio
em torno de 70% do auferido pelos trabalhadores do terciário não especializados.
A redução do grau de desigualdades entre as categorias sócio-ocupacionais deveu-se
a dois fatores que operaram ao mesmo tempo: de um lado, houve aumento do rendimento
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médio do trabalho principal para os trabalhadores do terciário não especializados, que pode
ter sido decorrente do crescimento real do salário mínimo no período analisado; de outro
lado, diminuiu o rendimento médio das categorias que ocupam posições mais elevadas
da estrutura social – dirigentes, profissionais de nível superior e pequenos empregadores,
cujas ocupações não são remuneradas tendo como referência o salário mínimo. As demais
categorias (ocupações médias e trabalhadores do terciário especializado) registraram
elevação da média do rendimento, mas, como proporcionalmente o aumento da média
do rendimento dos trabalhadores do terciário não especializados foi maior, observou-se
maior aproximação na remuneração para o conjunto das categorias, apesar de as diferenças
ainda serem muito grandes entre elas.
Comportamento semelhante também pode ser observado nos municípios metropoli-
tanos, embora a redução do grau de desigualdade tenha sido muito menor do que para o
conjunto do país, principalmente na comparação das categorias de dirigentes e de pequenos
empregadores. Por exemplo, em 2000, o grupo dos dirigentes ganhava, em média, 17,6
vezes mais do que os trabalhadores do terciário não especializados, passando para 15
vezes mais, em 2010. Para os pequenos empregadores, essa razão diminuiu de 8,7 para
6,8 vezes mais, entre 2000 e 2010. De modo geral, quando se consideram os municípios
não metropolitanos segundo o porte populacional, observa-se que o grau de desigualdade
retraiu-se principalmente entre as categorias de dirigentes e pequenos empregadores em
relação aos trabalhadores do terciário não especializado. Além disso, é possível observar
que o nível de redução do grau de desigualdades tendeu a ser cada vez maior quanto me-
nor era o porte populacional. Ou dito de outra forma: quanto maior o porte populacional,
maior é o nível de desigualdades de renda.
Essa constatação leva à interpretação de que, apesar da redução das desigualdades de
renda observada principalmente entre as categorias de dirigentes e de pequenos emprega-
dores, o nível (ou o ritmo) em que ela se manifesta depende do contexto espacial em que
a análise está sendo realizada, pois essa redução é muito mais elevada nos municípios de
menor porte populacional do que naqueles de maior porte ou mesmo nos metropolitanos,
tendo em vista que os municípios de menor porte populacional são os mais impactados
pelo aumento real do salário mínimo, como ocorreu na última década. Apesar disso, o
rendimento mensal total médio continua sendo mais elevado nos municípios de maior
porte populacional, principalmente nos metropolitanos.
O fato de o rendimento mensal total médio continuar sendo mais elevado nos municí-
pios de maior porte populacional pode decorrer do efeito de aglomeração econômica, que
tende a ser maior nos contextos metropolitanos e, por conseguinte, nos municípios mais
populosos. Nos contextos em que se manifesta, o efeito aglomeração tende a apresentar
maior complexidade das atividades econômicas, do mercado de trabalho e, por isso, os ní-
veis de remuneração tendem ser mais elevados. Isso significa que as metrópoles continuam
sendo lócus de concentração das oportunidades no mercado de trabalho, principalmente
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Ribeiro, M.G. Estrutura social e desigualdade de renda
para obtenção de maior nível de remuneração e, ao mesmo tempo, o lugar de maior rigidez
na redução das desigualdades de renda.
A despeito do aumento da participação relativa dos profissionais de nível superior na
década, como visto na seção anterior, tanto nos municípios metropolitanos quanto naque-
les não metropolitanos, houve redução das desigualdades de renda quando comparados
com os trabalhadores do terciário não especializados. Isso decorre tanto do decréscimo
da média de rendimento dos primeiros quanto do aumento da média de rendimento dos
últimos. Ou seja, apesar de haver mais pessoas exercendo atividades cujas ocupações
exigem nível superior de escolaridade, a média de rendimento foi decrescente no período
analisado, apontando, em linhas gerais, a dificuldade de a escolaridade transformar-se
em renda, sobretudo no momento em que aquele recurso (a escolaridade) deixa de ser
escasso socialmente, tendo em vista o aumento do nível de escolarização da população
brasileira nos últimos anos.
As ocupações médias – trabalhadores do terciário especializados e trabalhadores do
secundário –, em todos os contextos analisados, apresentaram redução das desigualdades
de renda, no período, na comparação com os trabalhadores do terciário não especializados.
O contrário ocorreu com os trabalhadores agrícolas que, tanto nos municípios metropoli-
tanos como nos não metropolitanos, registraram aumento das desigualdades de renda no
período analisado na comparação com a categoria de referência.
De modo geral, vimos que há uma hierarquia de renda entre os estratos sociais tanto
nos municípios metropolitanos quanto nos não metropolitanos, mas o comportamento
observado entre eles não se deu no mesmo nível (ou ritmo), quando comparados os re-
sultados para 2000 e 2010, pois houve redução das desigualdades de renda, mas esta
foi mais acentuada nos municípios de menor porte populacional, que são aqueles que
possuem menor média de rendimento.
Considerações finais
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nas metrópoles brasileiras foi o aumento da participação dos profissionais de nível supe-
rior. Para o conjunto dos municípios não metropolitanos, observa-se que houve redução
da participação dos trabalhadores agrícolas, embora essa categoria de trabalhadores
continue muito expressiva e talvez seja por isso que há diferenças de composição social
na comparação entre os espaços metropolitanos e os não metropolitanos.
Na análise referente às desigualdades de renda entre as diferentes posições da es-
trutura social, observamos que existe relação direta entre os municípios segundo o porte
populacional e o rendimento médio, ou seja, quanto maior o porte populacional, maior é o
rendimento médio, o que significa que os municípios metropolitanos apresentam maior nível
de rendimento médio. A nosso ver, isso deve-se ao efeito de aglomeração dos municípios
maiores, que possuem maior complexidade da atividade econômica, maior diversificação
do mercado de trabalho e maior concentração de empregos, o que possibilita maior nível
de remuneração para os indivíduos que aí residem, como são os casos, principalmente,
dos espaços metropolitanos.
Quando se considerou a estrutura social segundo o porte populacional, percebemos
que, de modo geral, houve redução das desigualdades de renda, decorrente principalmen-
te do aumento da renda média da base da estrutura social e da retração do rendimento
médio de estratos situados em posições mais elevadas da estrutura social. Mas tal resul-
tado foi menor nos municípios metropolitanos em comparação aos não metropolitanos.
Ao considerarmos que os municípios de menor porte populacional são aqueles que mais
sofrem o efeito da política de salário mínimo, porque seu impacto incide principalmente
nas categorias que estão na base da estrutura social, podemos compreender que, numa
conjuntura de aumento real do salário, o resultado contribui no sentido da redução das
desigualdades, como ocorreu na década de 2000. O mesmo não se verifica com tanta in-
tensidade nos municípios mais dinâmicos, como são aqueles de maior porte populacional,
porque, apesar de também sofrerem o efeito da política de salário mínimo, tal impacto é
mais ameno, devido à complexidade de sua estrutura econômica.
Consideramos, portanto, que as mudanças que ocorreram entre 2000 e 2010 não
foram capazes de retirar a centralidade dos espaços metropolitanos brasileiros, tendo em
vista que são áreas que se caracterizam por maior complexidade econômica, do mercado
de trabalho e, por isso mesmo, por oportunidades de remunerações mais elevadas, não
dependentes completamente da variação do salário mínimo. Por este motivo, as metrópoles
apresentam maior rigidez na redução das desigualdades de renda.
Referências
BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk,
2008.
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Ribeiro, M.G. Estrutura social e desigualdade de renda
Sobre o autor
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Ribeiro, M.G. Estrutura social e desigualdade de renda
Abstract
Social structure and income inequality: a comparison between the Brazil’s metropolitan and
non-metropolitan cities from 2000 to 2010
This paper aims to analyze the changes in the social structure and income inequality of the main
Brazilian metropolitan cities in comparison to non-metropolitan areas, in order to reflect on their
importance in the context of economic and social changes that have taken place in the country
over the last decade. Nevertheless, when it comes to public and academic debate based on the
analysis of income groups, its focus has fallen mainly on the reduction of income inequalities,
but not always considering social structure. In this sense, the attempt is to answer the following
question: if the reduction of income inequality is observed in the analysis among income strata,
is also being observed among socio-occupational stratification, and how did this take effect in
the metropolitan and non-metropolitan areas? For this purpose were used data from the IBGE
– 2000 and 2010 Demographic Censuses, aiming a comparison of the income distribution
structure among municipalities according to their population size, but considering also those
municipalities located in the metropolitan and non-metropolitan areas, as well as the income
inequalities between social strata in the different spatial context by utilizing the ratio of average
income among those strata. The results show that although the Brazilian metropolitan areas
maintain its centrality regarding the labor market dynamics, since they present higher average
of total income and labor income of its residents than the non-metropolitan areas, the biggest
reductions in income inequality in the period occurred in non-metropolitan areas, especially in
smaller municipalities according to their population size.
Keywords: Income Inequality. Social structure. Metropolitan areas. Non-metropolitan areas.
Resumen
Este artículo tiene como objetivo analizar los cambios en la estructura social y en las
desigualdades de ingresos de las principales metrópolis brasileñas en comparación con las
áreas no metropolitanas, para reflexionar sobre la importancia de las metrópolis en el contexto
de los cambios económicos y sociales ocurridos en la última década. Sin embargo, en el debate
público y académico sobre estos cambios, el foco del análisis ha recaído principalmente en la
reducción de la desigualdad de ingresos a partir del análisis de los estratos de ingresos. En
ese sentido, se trata de contestar la pregunta: si la reducción de la desigualdad de ingresos,
percibida en el análisis de los estratos de ingresos, también se observa entre los estratos sociales
considerados desde una estratificación socio-ocupacional, y como ocurrió esta relación entre
las áreas metropolitanas y no metropolitanas? Para este propósito, se utilizan los datos de los
censos de población de 2000 y 2010 del IBGE con el fin de comparar la estructura de distribución
del ingreso entre los municipios de acuerdo con el tamaño de su población, teniendo en cuenta
aquellos municipios en las áreas metropolitanas y no metropolitanas, y las desigualdades de
ingresos entre los estratos sociales en los diferentes contextos espaciales utilizando la razón
de los promedios de ingresos entre esos estratos. Los resultados muestran que, a pesar de
que las metrópolis brasileñas sigan manteniendo su centralidad con respecto a la dinámica del
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mercado de trabajo, debido a que tienen el promedio del total de ingresos y el ingreso de la
ocupación principal de sus habitantes superior a los espacios que no son metropolitanos, las
mayores reducciones en la desigualdad de ingresos se produjeron en áreas no metropolitanas,
especialmente en los municipios más pequeños de acuerdo a su tamaño poblacional.
Palabras-clave: Desigualdad de ingresos. Estructura social. Áreas metropolitanas. Áreas no
metropolitanas.
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