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AS CIDADES MÉDIAS NORDESTINAS:

UMA ANÁLISE DAS CENTRALIDADES

Renally Maia Clemente


1. INTRODUÇÃO

A primeira metade do século XX é marcada por mudanças bastante significativa no


que diz respeito a evolução na urbanização brasileira, marcada principalmente pela
industrialização acelerada entre os anos 1940-1950. Junto com a industrialização nos
grandes centros, percebemos o crescimento da população urbana que passa a
ultrapassar a população rural.

As novas formas trazidas pela Divisão Internacional de Trabalho – DIT1, a


reestruturação das redes urbanas, à modernização do campo, juntamente com o
crescimento demográfico nas cidades se mostra como fatores importantes para a
reestruturação urbana e indicam o significado das cidades em frente a urbanização
atual.

Por receber muitas pessoas, essas cidades passaram a não conseguir oferecer de
forma satisfatória, condições de vida digna a todos os seus moradores. Problemas
como o desemprego, infraestrutura precária, altos indicies de violência urbana
geraram uma grande desigualdade social, passaram a marcar essas cidades.

Nesse contexto, em meados dos anos 1970, as atenções começam a se voltar


para as cidades médias, devido ao papel que começam a desempenhar no cenário
econômico regional, seja ele real ou ao que se esperava delas. As cidades médias, em
especial aquelas que integram a grande rede urbana paulista, formam, a partir desse
momento, o palco do “ espraiamento espacial da riqueza nacional” (AMORIM Fº;
SERRA, 2001,p.27).

O processo de globalização contribuiu para estruturar essa nova lógica do capital.


Como aponta Santos (1994) esse meio técnico-científico-informacional concentra
serviços, informações e interligam as cidades, diferentemente da fase em que a
indústria liderava a dinâmica econômica, onde havia a forte tendência de aglomeração
espacial em torno das cidades polos que acabavam articulando as principais decisões
que definiam as cidades que dependiam dela. (SANTOS,2010).

Nessa nova ordem global, o espaço tem uma dinâmica diferente, sendo conectado
através da tecnologia que rege a nova hierarquia urbana, que coloca as cidades
globais como sendo peças centrais no comando da organização do território. Dessa
forma, a indústria tende a mover para as cidades de médio porte, visto que elimina
uma série de problemas como o custo do trabalho, o elevado preço da terra, etc.
Essas indústrias passam a ser importantes instrumentos na organização espacial, o
que aumenta a relevância das cidades médias, tornando-as centros regionais de
serviços (SANTOS, 2010).

Em escala nacional, percebe-se que a primeira metade do século XX é marcada


com o fluxo migratório em direção aos grandes centros urbanos, visto que ofereciam
melhores oportunidades de trabalho e mais perspectivas em se ter uma melhor

1
DIT- Divisão Internacional de trabalho: é a distribuição da produção econômico-industrial
internacional.
condição de vida. Vemos nesse período o crescimento das grandes capitais
brasileiras, como por exemplo as capitais nordestinas: Fortaleza, Recife e Natal.

Nos anos 1970, em uma tentativa de definir as cidades médias Amorim Filho e
Serra (2001) trazem as cidades médias como “válvulas de desconcentração” já que
mostravam condições de vida e circunstancias atrativas de capital. Nesse período
nascem as primeiras perspectivas teóricas sobre o que seria o conceito de cidade
média, ainda com o foco de “porte médio” tendo como principal elemento de definição
o contingente populacional, sendo essa uma cidade que estaria entre a pequena e
grande (SILVA,2013). Trataremos aqui das cidades médias, os conceitos
apresentados sobre esse assunto e suas peculiaridades. Na região Nordeste, essas
cidades aparecem cada vez mais a partir da década de 1980, principalmente com o
incentivo da SUDENE2, principalmente no interior da região.

Considerando os aspectos demográficos, somos quase sempre impelidos a


classificar as cidades pelo seu tamanho e população, o que nos levaria a ver as
cidades médias como sendo aquela classificada entre a pequena e a grande cidade.
Na verdade, se observarmos as espacialidades urbanas, perceberemos que,
independente de suas dimensões espaciais e importâncias inter e/ou intrarregionais,
são, sempre, na escala intraurbana, fragmentadas e articuladas “reflexo e
condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas” (CORRÊA, 2002,
p.9).

Dessa maneira, diferentes variáveis embasam as definições sobre cidades médias


e acabam por permear perspectivas diferentes, o que implica uma certa dificuldade de
sintetizar o conceito e apresenta a evidente heterogeneidade que compreende as
cidades médias. As nuances que englobam a composição espaço-temporais
(de)compostas e recompostas através pela desigualdade e diferenciações que
compõem o processo de produção social do espaço condicionam, assim como
reconfiguram os papéis e relevância das cidades médias na rede urbana em diferentes
escalas, as quais se articulam e se interpenetram em questões políticas, econômicas,
culturais, entre outros aspectos.

A hipótese que norteia a tese em questão está relacionada às novas estruturas do


espaço urbano das cidades médias do nordeste brasileiro, que estão orientadas por
novas lógicas de produção capitalista, assim como, entender como a sua reprodução
culmina na formação das (multi)centralidades, processo esse que abrange não apenas
a malha urbana, mas toda a rede de influência dessas cidades. Entender como a
dinâmica econômica influência sobre a morfologia urbana e como esses novos
arranjos contribuem para conceituar as cidades médias, torna-se uma análise
fundamental.

Partindo desse pressuposto, e observando a dificuldade na definição das cidades


médias quando se parte para um nível de escala local ou microrregional, a tese
pretende responder Se seria possível analisar e classificar as cidades médias
nordestinas através dessas centralidades? Existe um padrão nas centralidades
encontradas nas cidades consideradas como médias do Nordeste?

2
Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
Pretendendo contribuir com os debates existentes sobre o tema, algumas
questões pretendem ser respondidas: Quais critérios colaboram para a definição das
cidades médias? Essa definição consegue abarcar todas as peculiaridades das
cidades brasileiras do nordeste brasileiro classificadas como médias? Pode-se assim
criar uma série de parâmetros que atenderiam boa parte dessas cidades?

Consideramos então, que a proposta de tese se justifica por apresentar uma


contribuição para o debate teórico atual que gira em torno nas cidades médias, sua
conceituação e sua classificação. O primeiro argumento é que, as centralidades nas
cidades médias têm se acentuado devido a interiorização das redes de influencias no
Brasil. Em segundo lugar, temos o argumento que as centralidades encontradas nas
cidades médias nordestinas não pode ser explicada somente pela expansão da rede
urbana, ou pelo crescimento no número de habitantes, mas também pela influencia
que determinada cidade exerce nas escalas local e regional na qual está inserida.

2. OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

 Caracterizar as cidades médias do Nordeste, estabelecendo associações entre


os conceitos já estabelecidos sobre cidades médias e as centralidades
encontradas nessas cidades devido as novas redes urbanas e arranjos
espaciais.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Apresentar os conceitos sobre cidades médias que se formaram ao longo do


tempo, considerando os diferentes pontos de vista apresentados;
 Identificar os aspectos qualiquantitativos que formam as cidades consideradas
como médias, os quais lhe conferem dinâmicas urbanas diferenciadas, que
possibilitam o possível agrupamento dessas cidades nessa tipologia;
 Criar parâmetros, através do cruzamento de dados dos diferentes aspectos
que envolvem a conceituação das cidades médias que possam ser utilizados
como base para futuros estudos sobre o assunto;
 Avaliar, através de estudos sob cidades escolhidas, as cidades médias e suas
centralidades, nas cidades nordestinas.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E JUSTIFICATIVA

3.1 AS CIDADES MÉDIAS

A literatura sobre o conceito, a relevância e a classificação dessas cidades


ainda é divergente. A utilização de critérios que as caracterizam e as definem depende
do objeto final de quem as estuda (AMORIM Fº; SERRA, 2001p.2; ARAUJO et al,
2011, p 66).De forma geral, a dimensão da malha urbana tem sido o critério mais
relevante na identificação dessas cidades. As consideradas cidades médias têm
desempenhado um papel estratégico entre os núcleos urbanos e regionais (ARAUJO;
MOURA; DIAS;2011);
Dessa forma, o termo “ cidades médias” traz aquelas cidades que têm o papel
de elo nos sistemas urbanos simples e/ou complexos, diferentemente do termo
“cidades de porte médio” que são aquelas que se classificam pelo tamanho
demográfico. (SPOSITO,2010).

Segundo Amorim Filho e Serra (2001) a determinação das cidades médias


pode ter como base aspectos como: o seu tamanho demográfico, relações de
dinamização com o espaço rural, diferenciação interna com um centro funcional e uma
periferia dinâmica, suas interações constantes e duradoras com seu espaço regional
com aglomerações urbanas de hierarquia superior, capacidade de receber o fluxo
migrante da zona rural e aparecimento de alguns problemas vistos nos grandes
centros urbanos, como a pobreza da população em alguns setores urbanos.

As cidades médias, de acordo com Conte(2013) se tornaram um fator de


equilíbrio nas redes urbanas de diversos países, principalmente quando a distancia
entre as cidades grandes e pequenas é maior, como é o caso do Brasil. Se observado
dessa forma, as cidades médias desempenham papéis de ligação entre as cidades
pequenas, as cidades grandes e as metropolitanas, dentro de uma mesma rede
urbana. (SPOSITO, 2010).

Vale ressaltar, que esses espaços estão em constante transformação, de forma


intensa e rápida, tornando-se também um lugar de concentração técnica e do trabalho
intelectual, sendo palco de polos de ensino e desenvolvimento, assim como servindo
de base para atividades industriais, agrícolas e econômicas (CONTE,2013). Percebe-
se claramente essas características em algumas cidades médias do Nordeste, como é
o caso de Campina Grande, que abriga um dos maiores polos tecnológicos de nível
internacional.

Na percepção de Michel, as cidades médias podem ser entendidas e


estudadas, como sendo um “meio”, em especial pelo papel de intermediaria na
transmissão de processos socioeconômicos e nos territórios regionais e nacionais,
destacando os movimentos migratórios (AMORIM Fº,2007, p.72). Ele apontou ainda, a
necessidade de diferenciar os papeis exercidos por essas cidades, nos âmbitos
econômicos e social:

No plano social, a cidade média se insere, incontestavelmente,


em uma área geográfica de dimensões limitadas, sobre a qual
ela exerce uma atração e à qual ela oferece seus comércios e
dispensa seus serviços [...]. Ela corresponde a relações
frequentes e locais. Ela é sentida e vivida pelos habitantes. No
plano econômico, ao contrário, a cidade média se destaca,
cada vez mais, de sua vizinhança geográfica. [...] A cidade
média, reforçada pelas municipalidades periurbanas, doravante
dela indissociáveis, nada mais é do que um elo, entre outros,
de um sistema de cidades (MICHEL, 1977, p. 680,681 apud
AMORIM Fº, 2007, p. 72).

Por volta dos anos 1970 alguns trabalhos traziam essa tipologia urbana como
sendo o intervalo entre 50.000 e 250.000 habitantes (ANDRADE,
LODDER,1979apud AMORIM Fº, SERRA,2001), limite que foi elevado
posteriormente para 100.000 (SANTOS, 1994 apud AMORIM Fº; SERRA, 2001),
percebendo o “nível de complexidade da divisão de trabalho, ou, a diversificação de
bens e serviços ofertados localmente” tendo em vista que “a cidade média deve dar
suporte a uma quantidade importante de atividades e serviços que exigem para
existir uma poplação não inferior a 100.000 habitantes” (AMORIM Fº, SERRA, 2001,
p. 3,4).

Como já mencionado, alguns fatores qualitativos também devem ser levados


em consideração na caracterização da cidade média. Por isso a dificuldade nessa
definição está na ponderação de forma precisa e mensuração relativa a quais desses
critérios qualitativos dariam conta da definição que se busca.

Essa busca na definição e classificação das cidades médias não resulta em


tentar consolidar uma definição conceitual única, já que “a busca da apreensão da
diversidade parece ser um dos caminhos a serem percorridos” para a classificação
das cidades médias como objeto de estudo (SPOSITO, 2001,p.627). Porém, para
compreender esse objeto de estudo é necessário estabelecer alguns parâmetros
para a sua análise. Faz-se necessário então, diferenciar a cidade de porte médio,
cidade intermediária e a cidade média, propriamente dita. Nesse estudo nos
apoiamos nas definições elaboradas por Trindade Jr. (2011).

A cidade de porte médio estaria definida partindo do seu contingente


populacional. No Brasil, se classificam os municípios entre o intervalo demográfico
entre 100 e 500 mil habitantes, embora trata-se de uma convenção em torno desses
números. Ainda que relevante, o fator populacional deve ser ponderado, já que
existem cidades que embora apresentem essa faixa populacional, acaba exercendo
papeis muito distintos, podendo ir de uma cidade localizada em uma região
metropolitana importante, a uma cidade no extremo norte do país.

As cidades intermediárias seriam aquelas que desempenham um papel de


intermediação entre as metrópoles e as grandes aglomerações e as cidades pequenas
e suas áreas rurais “independentemente de sua expressividade político-econômica no
contexto hierárquico de uma rede urbana” (TRINDADE JR, 2011,p. 136).

As cidades médias, por sua vez, seriam caracterizadas como as que possuem
um papel na rede urbana regional, servindo como centro sub-regional, e não sendo
apenas centros locais, mas núcleos urbanos que polarizam e influenciam as cidades
menores ao seu redor e articulam essas relações. “ Funcionam, assim, como
anteparos e suportes às metrópoles regionais, não compondo junto com estas uma
unidade funcional continua e/ou contigua” (TRINDADE JR, 2011, p.136).

As cidades médias (ainda que não com essa nomenclatura) já estavam no


desenvolvimento do capitalismo, compondo as redes urbanas hierarquicamente
organizadas. As articulações espaciais já eram pensadas juntamente com as cidades
grandes e às metrópoles. No contexto atual, a classificação e inserção dessas cidades
nessa rede se tornou mais complexo. Isso acontece por que, as relações possuem
muitas possibilidades, o que torna a rede muito mais multiforme.

Em resumo, as cidades continuam a compor essa rede urbana de forma


hierárquica, mas também com relações de mesmo nível. Essas relações ultrapassam
os limites territoriais, podendo as cidades medias se relacionarem com outras regiões
e até mesmo de outros países, o que é totalmente viável e prático devido a internet e
globalização (SPOSITO, 2006).

É importante estudar e se aprofundar em um conceito para as cidades médias,


identificando as possibilidades de tráfego de pessoas, mercadorias, valores, uma vez
que esses elementos intensificam e marcam as relações entre as cidades e suas
regiões de influencia, ao mesmo tempo que as especificam. Soares (2005) aponta que
apesar de identificadas como médias, cada cidade é única e possui suas próprias
relações na rede urbana e, principalmente, suas relações com o entorno regional,
especialmente com as cidades pequenas e os ambientes rurais.

(...) cada cidade é um todo complexo e contraditório, pois


as variáveis necessárias à sua reprodução abarcam o sistema produtivo e a rede de
consumo em uma relação estreita com a região (SOARES, 2005, p.274)

Questões como essas apontadas por Soares (2005) nos leva a pensar sobre a
definição de uma cidade média, já que “cada cidade é única, original e singular”.
Embora seja um termo bastante utilizado nos últimos anos no meio acadêmico,
percebe-se uma discordância entre os pesquisadores do que seria de fato essa cidade
média e como ela estaria classificada. Não existe um padrão único ao se pensar as
cidades médias, o que se existe é uma série de fatores e estudos que compilam
informações que apontam para uma classificação. Souza et al (2007), construiu um
quadro síntese que apresenta os critérios demográficos utilizados para a definição de
cidade média em vários países do mundo:

Quadro 1: Classificação das cidades médias por país, de acordo com o número de habitantes.

Fonte: Sousa et al (2007)

O aspecto demográfico é bastante variável dentro do tempo e dos diferentes


espaços. A exemplo do caso brasileiro, temos Andrade de Lodder (1979) que
consideravam, como cidades médias, os aglomerados urbanos que variavam entre 50
a 250 mil habitantes. Santos (2005) por sua vez, considerava como cidades médias
nas décadas de 1940/1950, cidades com mais de 20 mil habitantes. O mesmo autor,
para a década de 1970/1980 em diante, considera como cidade média, aquelas com
população que varia entre 100 mil a um milhão de habitantes.

Outro aspecto considerado na classificação das cidades brasileiras é a rede de


influência que elas apresentam. Considerando as ligações e influencias exercidas
pelos centros urbanos brasileiros, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica – o
IBGE, criou ná década de 1950 o Regiões de Influencia das Cidades – o REGIC.
Considerando os elos e ligações entre as cidades, o REGIC estuda as articulações
das redes no território (IBGE -2018). No estudo, se atualiza as relações de hierarquia
entre os centros urbanos a cada dez anos. Dessa forma, se consegue observar as
relações duradoras e novas não só entre os grandes centros, mas também entre as
cidades médias e espaços não metropolitanos que cumprem importante função no
território (MAIA;MIRANDA et al.2021).

De acordo com o REGIC, a classificação hierárquica dos centros urbanos é dada


em cinco subníveis, são eles:

a) Metrópoles – Totalizam 15 centros urbanos no total, que influenciam cidades


em âmbito nacional de forma direta. Essas Metrópoles estão subdivididas em 3
níveis hierárquicos: 1- A Grande Metrópole Nacional- São Paulo; 2- Metrópole
Nacional- Rio de Janeiro e Brasília; 3- Matrópole – os Arranjos Populacionais
de Belém/PA, Belo Horizonte/MG, Campinas/SP, Curitiba/PR, Florianopolis/SC,
Fortaleza/CE, Goiânia/GO, Porto Alegre/RS, Recife/PE, Salvador/BA,
Vitória/ES e o Município de Manaus (AM).

b) Capital regional – São as cidades que concentram atividades de gestão com


influência um pouco menor se comparados com a metrópole No total, 97
Cidades foram classificadas como Capitais Regionais em todo o País, com três
subdivisões: (a) Capital regional A – composta por nove Cidades que se
relacionam diretamente com as metrópoles, em geral Capitais Estaduais das
Regiões Nordeste e Centro-Oeste que possuem contingente populacional
próximo entre si, variando de 800 mil a 1,4 milhão de habitantes em 2018; (b)
Capital regional B – Reúne 24 Cidades, que se apresentam como centros de
referência no interior dos Estados. Possuem em média, 500 mil habitantes; e
(c) Capital regional C – possui 64 Cidades com três Capitais Estaduais. A
média nacional de população das Cidades dessa categoria é de 300 mil
habitantes. Destaca-se aqui que João Pessoa e Natal se enquadram no nível
de Capital Regional A, como capital do Estado, Campina Grande, Caruaru e
Mossoró são classificadas como Capital Regional C, por exercerem forte
polarização sob seu entorno imediato ou não;

c) Centro sub-regional – As 352 Cidades que possuem atividades de gestão


menos complexas, com áreas de influência de menor extensão que as das
Capitais Regionais. São Cidades com menor porte populacional, com média de
85 mil habitantes. Se subdivide em: (a) Centro sub-regional A – composto por
96 Cidades presentes em maior número nas Regiões Sudeste, Sul e Nordeste,
e média populacional de 120 mil habitantes. Neste grupo destaca-se Patos
como Centro Sub-regional A; (b) Centro Sub-regional B -formado por 256
Cidades com grande participação das Regiões Sudeste e Nordeste, apresenta
média nacional de 70 mil habitantes;

d) Centros de Zona - Possuem menores níveis de atividades de gestão, que


polarizam um número inferior de Cidades vizinhas em virtude da atração direta
da população por comércio e serviços baseada nas relações de proximidade.
São 398 Cidades com média populacional de 30 mil habitantes, subdivididas
em dois conjuntos: (a) Centro de Zona Aformado por 147 Cidades com cerca
de 40 mil pessoas; e (b) Centro de Zona B - 251 Cidades, são de menor porte
populacional que os Centros de Zona A (média inferior a 25 mil habitantes);

e) Centro local – São a maioria das Cidades do País, totalizando 4.037 centros
urbanos, que exercem influência restrita aos seus próprios limites territoriais,
podendo atrair alguma população moradora de outras Cidades para temas
específicos, mas não sendo destino principal de nenhuma outra Cidade. A
média populacional dos Centros Locais é de apenas 12,5 mil habitantes.

Através da figura, podemos perceber a rede urbana brasileira, com foco na região
Nordeste. É possível evidenciar também as cidades médias (classificadas como
capitais regionais e centros sub-regionais). Vale ressaltar que a maioria delas
localizadas longe do litoral.

Figura 1: Mapa de Influencia das Cidades em escala nacional.

Fonte: IBGE,2020.

O conceito de cidade média como podemos perceber está em constante


mudança. Percebe-se ainda que não há parâmetros absolutos que sirvam como base
para uma classificação, levando os estudos a cerca desse tema a procurarem como
base um aspecto que lhes seja conveniente, afim de entender o objetivo de estudo
sobre uma ótica especifica.

Dessa forma, conceituar e determinar qual conjunto aspectos devem ser


finalmente levados em consideração na classificação dessas cidades, torna-se
indispensável um estudo aprofundado desses elementos que compõe essas cidades,
afim de criar parâmetros que possam servir de base para futuros estudos acerca do
assunto.

3.2 DAS CENTRALIDADES NAS CIDADES MÉDIAS

As lógicas espaciais sofreram alterações devido as mudanças nos cenários


políticos e econômicos do Brasil e do Mundo. Os impactos sofridos pela intensificação
da urbanização a partir dos anos de 1970, assim como as mudanças no cenário
econômico mundial, passaram a configurar novos arranjos geográficos. O território
passa então, a ter novas configurações, com novos arranjos que permitem a
velocidade de reprodução e as diferentes logísticas capitalista.
Dessa forma, a cidade passa a ser produzida por novas tendências e ritmos: à
centralidade: por meio dos diferentes modos de produção, das diversas relações de
produção, da tendência que vai atualmente, até o centro decisional, encarnação do
Estado, com todos os seus perigos; à policentralidade: à ruptura do centro, à
disseminação, tendência que se orienta seja para a constituição de centros diferentes
(ainda que análogos eventualmente complementares), seja para a dispersão e para a
segregação (Lefèbvre, 1999 [1970],p.112-112). De modo que:

[...] esse espaço urbano é contradição concreta. O estudo de sua


lógica e de suas propriedades formais conduz à análise dialética de
suas contradições. O centro urbano é preenchido até a sua saturação;
ele apodrece ou explode. Às vezes, invertendo seu sentido, ele organiza
em torno de si o vazio, a raridade. Com mais freqüência, ele supõe e
propõe a concentração de tudo o que existe no mundo, na natureza, no
cosmos: frutos da terra, produtos da indústria, obras humanas, objetos e
instrumentos, atos e situações, signos e símbolos. Em que ponto?
Qualquer ponto pode tornar-se o foco, a convergência, o lugar
privilegiado. De sorte que todo o espaço urbano carrega em si esse
possível-impossível, sua própria negação. De sorte que todo espaço
urbano foi, é, e será concentrado e poli(multi)cêntrico. (Lefèbvre, 1999
[1970], p. 46).

Pretendemos refletir na pesquisa apresentado, sobre algumas cidades médias


incluídas no contexto nordestino, focando nos fragmentos de centralidade, que
demonstram a ocorrência da implosão-explosão do avanço da modernização, dos
novos fluxos e relações econômicas e sociais, de concorrências e
complementaridades. Observa-se uma crescente complexidade das redes urbanas
que compõem essas cidades, além dos novos arranjos espaciais e territoriais que são
delineados e as desigualdades urbanas reforçadas. Em razão desse fato, quanto mais
complexo os processos e formas espaciais que vão se (re) estabelecendo, mais se
torna importante o estudo dessas novas centralidades.
4. METODOLOGIA
“Sabe-se muito bem o que é que a cidade média não é, mas, dificilmente,
podemos saber o que é [...] (MICHEL, 1977, 642)”.

Para se desenvolver um debate metodológico a cerca das cidades médias, se faz


necessário perceber, como vimos, que existem diferentes critérios e terminologias
para se designar o que consideramos como “cidade média”. adoção feita pela
geografia brasileira é derivada da bibliografia francesa “villes moyennes”, que em
tradução livre, seriam as nossas “cidades médias”. A pesquisa pretende abordar um
recorte analítico norteado pelos critérios de análise de aspectos quantitativos e
qualitativos.

A pesquisa realizada buscará trazer uma colaboração importante no que diz


respeito a entender os conceitos apresentados sobre cidades médias e os aspectos
que abrangem a composição das mesmas com enfoque no contexto brasileiro, já que
as produções acadêmicas produzidas até então se tratam de estudos pontuais sobre o
tema, limitando-se a um recorte geográfico específico, ou algo aspecto particular. A
pesquisa se validará através do método misto. O método misto compila, dentro de um
mesmo estudo, técnicas quantitativas e qualitativas (SANTOS, et.al. 2017). Dessa
forma “o pressuposto central que justifica a abordagem multimétodo é o de que a
interação entre eles fornece melhores possibilidades analíticas” (PARANHOS,
et.al.,2016, p.391), por captar o melhor das duas técnicas e permitir um entendimento
mais complexo sobre a questão estudada. Dentro disso, a aplicação da técnica
quantitativa possibilita caracterizar quais fatores influencia, um estipulado resultado ou
permite ainda cogitar uma teoria. Por sua vez, o método qualitativo se mostra como
uma pesquisa exploratória, que se torna válida para conhecer algumas variáveis
necessárias para se examinar ou quando as teorias existentes em um campo teórico
não se aplicam no contexto em análise (MORSE, 1991, apud CRESWELL, 2007).

A pesquisa se estrutura em 5 partes. A primeira parte dedicada a parte


introdutória, apresentará as diretrizes e premissas principais do projeto. A segunda
será voltada a uma revisão bibliográfica dos principais conceitos e teorias sobre as
cidades médias do Nordeste brasileiro, suas centralidades, os aspectos espaciais,
históricos, socioeconômicos e legais que norteiam essa classificação, com o objetivo
de delinear caminhos ou aportes teóricos que servissem de base para elucidações e
diálogos desenvolvidos durante a construção da pesquisa.

Já a terceira parte será dedicada a um recorte empírico de algumas cidades


médias do nordeste brasileiros, baseadas na classificação do REGIC, afim de
compara-las entre si, quanto a suas centralidades e relações de influência em escala
regional e local. Para tal, cada cidade selecionada será analisada individualmente
quanto aos índices socioeconômicos, expansão urbana, além de mapas de sua
estrutura morfológica, afim de estudar como se dão as relações internas e externas
dessas cidades.

A quarta parte será dirigida ao estudo dos dados das cidades estudadas, partindo
da hipótese que existe um padrão das centralidades, desenvolvimento
socioeconômico, expansão da malha urbana e relações internas e externa dessas
cidades. Será elaborada uma síntese, através de uma tabela padrão, em que se
poderá comparar os parâmetros e se criar uma possível classificação referente as
centralidades dessas cidades. Dividiremos essa etapa da seguinte forma: 1- Busca de
imagens de satélite pelo Google Earth das cidades escolhidas para essa investigação,
pretendendo dessa forma verificar a mancha urbana de cada cidade, assim como suas
relações com cidades vizinhas; 2- Reunião dos elementos morfológicos da estrutura
urbana das cidades, por meio de diversas plataformas de dados, a exemplo do banco
de dados do IBGE e do Observatório das Metrópoles; 3- Leitura dos aspectos jurídicos
e urbanísticos que regem as cidades estudadas, a exemplo do Plano Diretor. As
normativas urbanísticas prescrevem o modus operandi de produção do espaço e a
regulação do uso do solo. Todas essas etapas contribuirão para a a determinação dos
parâmetros que serão considerados na análise comparativa das cidades escolhidas.

A quinta e ultima parte estará empenhada em trazer uma análise dos resultados
encontrados. Entendendo que uma pesquisa acaba por uma questão de prazo
acadêmica e não por que o assunto se finda, a ideia é que os resultados da pesquisa
possam servir de base para estudos das cidades estudadas em diversas áreas, assim
como sirva de exemplo para futuros estudos de cidades em outras regiões do país.
Pretende-se assim, que as quatro primeiras partes da pesquisa serão coordenadas
entre si, produzidas de forma gradual, buscando dessa forma que cada uma delas
possa ser publicada isoladamente, ainda com a pesquisa em andamento, afim de
contribuir com outras pesquisas no mesmo ramo, além de trazer um maior respaldo
técnico cientifico para o trabalho.

5. CRONOGRAMA

Pretende-se trabalhar a pesquisa de forma gradual, de modo que a mesma resulte


em uma série de artigos, publicados separadamente, correspondente a cada capítulo
do trabalho final, de forma que culminem no ultimo capítulo da tese.

ANO 1
ATIVIDADES / MESES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS
REVISÃO BIBLIOGRÁFIC (1ª
PRODUÇÃO)

ANO 2
ATIVIDADES / MESES
13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA/
DEFINIÇÃO DO RECORTE
EMPIRICO (2ª PRODUÇÃO)

ESTUDO E ANÁLISE DO RECORTE


EMPIRICO
ANO 3
ATIVIDADES / MESES
25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36
ESTUDO DO RECORTE EMPIRICO
ANÁLISE E COMPARAÇÃO DE
DADOS
ANO 4
ATIVIDADES / MESES
37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48
REDAÇÃO FINAL
DEFESA DA TESE
6. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM FILHO e SENA FILHO. A Morfologia das Cidades Médias. Goiânia:


Vieira,2005.

AMORIM FILHO e SERRA. R, Evolução e perspectivas do papel das cidades


médias no planejamento urbano e regional. ANDRADE, T e SERRA (orgs). Cidades
médias brasileiras. Rio de Janeiro: IPEA, 2001, p.1-34

ANDRADE, T. A. e LODDER, C. A. Sistema urbano e cidades médias no Brasil.


IPEA. Rio de Janeiro: IPEA/INPES, 1979.

ARAÚJO, M.M.S.; MOURA, R.; DIAS, P.C. Cidades Médias: uma categoria em
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