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Dororidade A Possibilidade de Lutar Dançando
Dororidade A Possibilidade de Lutar Dançando
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'Miroir,
271 Miroir', de Carrie Mae Weems, 1987-88 (Reprodução)
Com a marca de uma Mulher Preta, de Axé, da área de Letras e Aquariana, Vilma Piedade
nos oferece com o livro Dororidade um novo conceito e uma forma tão potente quanto
provocativa de pensar em pretoguês a imbricação entre lutas antisexismo, antirracismo,
descoloniais e anticapitalismo.
Nas palavras de Vilma Piedade, Dororidade contém “as sombras, o vazio, a ausência, a
fala silenciada, a dor causada pelo Racismo. E essa Dor é Preta” (p.16). Interpela a noção
de sororidade que pretende unir, irmanar, mas que “Não basta para Nós – Mulheres Pretas,
Jovens Pretas” (p.17).
A Dororidade se instaura e percorre a trajetória vivenciada por Nós, População Preta e,
aqui, em especial, Nós – Mulheres – Mulheres Pretas. Brancas, de Axé, Indígenas,
Ciganas, Quilombolas, Lésbicas, Trans, Caiçaras, Ribeirinhas, Faveladas ou não. (p.19)
Com sua escrita, escuta e fala aposta no diálogo interseccional, a partir do feminismo.
Mobiliza a dor experimentada pelas aberrações que o racismo imprime e “empurra goela
abaixo”. Uma dor que não é maior ou menor, uma dor que “dói e ponto” (p.18). Aquela
que sentimos … “a Dor e a nem sempre delícia de se saber ou de não se saber quem é …
quem somos numa sociedade mascarada pelo mito da democracia racial” (p.18).
Com Lélia Gonzalez, Achille Mbembe, Frantz Fanon e Du Bois, Vilma Piedade enfrenta
algumas manifestações contemporâneas do racismo (genocida, sexista, homofóbico,
religioso, entre outras), transitando – como Iansã – entre lá e cá, entre o Orun e o Aye,
entre o princípio e o fim. Dando seguimento a uma tradição de pensadoras e pensadores
da diáspora africana que denunciam com, para e através da luta os mecanismos através
dos quais a “Raça-construção ideológica fabricada pelo modelo econômico capitalista
Branco” (p. 21) molda a maneira pela qual experimentamos relações desproporcionais e
violentas, intersubjetivas e institucionais, de gênero, classe e sexualidade.
Tudo isso para oferecer aos feminismos e demais lutas por liberdade a possibilidade de
lutarem dançando. Um corpo que dança é um corpo liberto, um território livre, que
apreende, aprende e ensina de maneira muito mais ampla, apesar das marcas de violência
que carrega. Para além dos binarismos que não dão conta da negra-vida e do negro-vida
(RAMOS, 1995), o axé se espalha, abandona a visão eurocêntrica que constituiu as
formas de opressão que conhecemos e oferece novas possibilidades de proteção das
diversas formas de ser e estar na natureza.
Cumé qui é?