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ÉCOLE DES HAUTES ÉTUDES EN SCIENCES SOCIALES

PARIS - FRANÇA

FORMAÇÁO DOUTORAL EM HISTÓRIA E CIVILIZAÇÁO

DIPLOMA DE ESTUDOS APROFUNDADOS (DEA)

HISTÓRIA SOCIAL DOS SISTEMAS AGRÁRIOS DO VALE DO TOCANTINS -


PARÁ - BRASIL
(1669 - 1800)
-rupturas e estabilidades-

Mémoire de: Maria de Nazaré ANGELO MENEZES

Orientador : M. Juan-Carlos GARAVAGLIA

Paris, Setembro de 1994


1

SUMÁRIO

APRESENTAÇÁO

1 - INTRODUÇÃO 1

2 -A CONQUISTA DO TERRITÓRIO BRASILEIRO NO SÉCULO


XVII e XVIII 4

3 - OS ÍNDIOS QUE OS EUROPEUS ENCONTRARAM NO BRASIL 10

PROBLEMÁTICA 14

I - ANÁLISE DO LIVRO TESOURO DESCOBERTO NO


RIO AMAZONAS DO PADRE JESUÍTA JOÃO DANIEL 15

1 - Apresentação do autor 16

2 - Da leitura da obra 18

3 - Visão de conteúdo 20

4 - O Vale do Amazonas 23

4.1. O delta do Amazonas 24

4.2. O Médio Amazonas 24

4.3. O Baixo Amazonas 25

5 - Nacões Indígenas/ Diversidade de Culturas


no Vale Amazônico 25
2

II - O Sujeito: A História Social dos Sistemas Agrários no Vale


do Tocantins baseada na obra do Padre João Daniel 31

1 - A ocupação colonial do vale do Tocantins 31

2 - Os navegadores do vale do Tocantins 31

3 - Povoação colonial: mudança na paisagem humana


do vale do Tocantins 34

4 - Sistemas agrários do vale do Tocantins 41

5 - Aquisições agrícolas e novos sistemas agrários


no vale Amazônico 50

5.1 - Os cultivos: agricultura para consumo e para


exportação 60

5.2 - Métodos de plantio/Produtos 61

6 - CONCLUSÃO 67

7 - BIBLIOGRAFIA 70

ANEXOS 1

Glossário 78

Cronologia 83

Lista de siglas 88

Lista da fauna e flora do padre João Daniel 89

ANEXOS 2

Quadros complementares 97
3

Lista dos quadros

T1 População indígena americana 11

T2 População do Brasil em 1776 35

T3 População do Brasil entre 1797-1810 36

T4 População do vale do Tocantins, 1823 38

T5 Populaçã do vale do Tocantins segundo os


registros da igreja, 1765 39

T6 Estado do Pará e Estado do Maranhão: número de militares


e de índios em serviço, 1775-1777 39

T7 O cacau como parte das exportações do Pará,


1776-1822 (em réis) 44

T8 Produção de baunilha no Pará, 1759 45

T9 Produção de salsaparrilha no Pará, 1759-1842 45

T10 Produção de anil no Pará, 1775-1779 46

T11 Produção de cravo fino no Pará, 1758-1848 47

T12 Produção de cravo grosso no Pará, 1758-1788 48

T13 Rendimento do cacau na Caixa do Comércio dos Índios, 1764 49

T14 Produção de açúcar no Pará, 1758-1785 98

T15 Produção de aguardente no Pará, 1771-1784 98

T16 Produção de algodão limpo no Pará, 1761-1763 99


4

T17 Produção de algodão bruto no Pará, 1759-1819 99

T18 Produção de arroz no Pará, 1773-1852 100

T19 Produção de borracha no Pará, 1785 100

T20 Produção de café no Pará, 1758-1848 101

T21 Produção de óleo de copaíba no Pará, 1759-1792 102

T22 Síntese dos sistemas agrários na Amazônia colonial 52


5

Lista dos Mapas

1 Amazônia continental 1A

2 O Brasil no século XVII ` 104

3 O Brasil na América do Sul/


localização da pesquisa 2A

4 A conquista da Amazônia 105

5 Expedição do capitão Pedro Teixeira,1637-1639 106

6 A conquista de Sergipe d'El Rei, do Nordeste e


Grão-Pará 107

7 O Brasil no fim do século XVI 8A

8 Expansão das missões Jesuítas no norte do Brasil


nos séculos XVII e XVIII 108

9 Principais rios do Amazonas 109

10 Delta do Amazonas 24A

11 Médio Amazonas 24A

12 Baixo Amazonas 25

13 República Federal do Brasil - Estado do Pará 39A


6

APRESENTAÇÃO

É objetivo do presente Memoire, apresentado como requesito acadêmico do


Curso de Doutourado na área de História e Civilização, da École des Hautes
Etudes en Sciences Sociales, estudar a História Social dos Sistemas
Agrários do Vale do Tocantins, Região da Amazônia Oriental, Brasil. Este
abrangerá o espaço histórico-social do período colonial, correspondente aos
anos de 1669 a 1800, aproximadamente. Com este projeto, espera-se
contribuir sob uma forma de história-problema, para o conhecimento sobre
os diversos sistemas agrários, suas mudanças e fragilidades sobretudo quando
pressionados ou subordinados aos rítmos de exploração e uso ditados pelo
capital mercantil.

Este trabalho baseia-se na obra do padre jesuita João Daniel, autor do


"Tesouro Descoberto no Rio Amazonas"1 escrito entre os anos 1757 e 1776.
Seu livro descreve o cenario da Amazônia traçando o perfil da região oriental
nos séculos XVII e XVIII. Na primeira parte deste Memoire utilizamos suas
referências para demonstrar a paisagem humana produzida pela colonização
portuguesa no delta do Amazonas e vale do Tocantins, combinações de
sistemas agrários e o perfil de algumas nações indígenas na Amazônia. Na
segunda parte tratamos da história social desses sistemas agrários do vale do
Tocantins aproveitando elementos descritos pelo padre naturalista que
elucidam, historicamente, as transformações dos ecossistemas e a existência
de diferentes sistemas agrários no vale do Tocantins.

Esta obra central para as reflexões sobre os sistemas agrários organizados no


período colonial foi completada com a consulta de fontes primária 2 e
secundárias. Trata-se dos escritos de historiadores naturalistas, religiosos de
diferentes épocas e perspectivas3 que ampliaram nosso campo de
interpretação.

1
Daniel, J., " Tesouro Descoberto no Rio Amazonas,I e II , ABNR, Rio de Jneiro, 1976.
2
Recenseamento de 1783 e 1797.
3
Esta bibliografia é disponível em várias bibliotecas de Paris (IHEAL; Fundação Caloustre
Gulbenkian, IEDES, Muséé de l'Homme).
7

Essa noção de sistemas agrários deverá ser elaborada na perspectiva de


sistematizar os conhecimentos sobre relações homens e meio ambiente como
singularidades da história do vale do Tocantins.
8

1 - Introdução

A atualidade do debate sobre a destruição da floresta Tropical Úmida, que


corresponde na sua maior extensão à Amazônia brasileira, apela por estudos
de maior abrangência histórica sobre as transformações sucessivas ocorridas
nesse meio. Quatro séculos de dominação da cultura ocidental no vale
amazônico mudaram os diversos ecossistemas4. A grande ilha de Marajó, de
território dos índios Nhengaibas foi transformada em terras de cultivo de cana-
de-açúcar e arroz. Os missionários ou jesuitas organizaram criatórios de gado
vacum e em 1759, mais de 170.000 cabeças, um enorme patrimônio, foi
redistribuído entre um grupo social privilegiado e com poder político no governo
colonial. Os pastos naturais facilitaram essa pecuária extensiva que domina a
economia da ilha. Os rebanhos de búfalos introduziram-se desde 1970 e
atualmente os ecossistemas da ilha estão modificados profundamente.

A história social regional tem dado pouca atenção a esse tipo de estudos. As
transformações do ambiente e das relações homem e meio são percebidas em
curto espaço de tempo, de maneira, por exemplo, a identificar as
consequências desastrosas das políticas de desenvolvimento agro-pastoril de
1984, e exploração madeireira ou mineral em execução aos planos
econômicos de 1966 com suas marcas visíveis e muito evidentes pela rápida
depredação dos ecossistemas da Amazônia.

As lacunas provenientes de não se encarar numa perspectiva de longo prazo


as estabilidades, rupturas e adaptações nos vários ecossistemas do vale
amazônico conduzem a afirmações simplificadoras das relações recíprocas
homem e meio biótico, à maneira das visões antagônicas sobre a Amazônia:
"inferno verde" ou "celeiro do mundo"5.

O estudo sobre a "História Social dos Sistemas Agrários no Vale do Tocantins -


rupturas e estabilidade " objetiva reconstruir as mudanças ocorridas nesta
região da Amazônia Oriental durante quase 150 anos. Parte-se das incursões
portuguesas desde 1669. Esta data é indicada como de início da exploração
4
Garavaglia apresenta idéias sugestivas sobre ecossistema, definindo-o como "comunidades
de seres viventes fundadas en una serie de intercambios recíprocos -cadenas tróficas o
alimentarias- que están enmarcadas por un medio abiótico y que a su vez, modifican
activamente ese medio", GARAVAGLIA, J.C., Las relaciones entre el medio y las
sociedades humanas en su perspectiva histórica, in, Anuário de IEHS, VII, Tandil,
1992, p.42.
5
SUDAM. Seminário sobre a "Realidade Amazônica", Belém, 1973, p.20.
9

da canela6, embora possa anteceder de vários anos a intromissão para extrair


as denominadas "drogas do sertão" no vale. Por volta de 1800 ocorreu a
queda da produção do cacau7, produto que dominou durante várias décadas as
exportações paraenses e para as quais as plantações da região do Tocantins
contribuiram consideravelmente. Nesse intervalo temos uma diversificação dos
sistemas agrários: do domínio da extração de canela, cravo nativo, passou-se
ao cultivo de cana-de-açúcar. Os plantios de cana de açucar cederam o lugar
aos cacauais de cultivo e aos sistemas familiares de produção de algodão,
arroz e mandioca. A caça, a pesca e a extração de madeiras combinaram-se,
em todos esses tempos, com a atividade dominante. É este modelo de
combinações de recursos explorados e de savoir faire de manejo dos recursos
que se revela importante, vis-a-vis os objetivos e rítmos determinados pelas
atividades econômicas, organizadas em função do mercado.

O vale do Tocantins foi o mais povoado da Amazônia colonial, em especial no


círculo próximo de Belém. Essa incursão nos estudos históricos regionais
parece-me relativamente nova e portanto um desafio. Primeiro, considerando
a montagem das peças documentais (relatórios de viajantes, missionários,
mapas, correspondências, recenseamentos), que necessitarão fazer apelo a
um duro trabalho de rastreamento de fontes e, segundo, pelos limites da
teorização sobre história social de sistemas agrários que provêm do encontro
de ciências sociais (História, Economia, Antropologia) e das ciências naturais
(Botânica, Biologia, Zoologia) e mesmo os conhecimentos de Agronomia.

Recorremos à seguinte estratégia para abordar esse tema: primeiro,


recompor os elementos descritivos do vale do Tocantins. Preliminarmente, isto
foi possível a partir da leitura da "bíblia ecológica" do Padre João Daniel 8.
Nesta obra encontramos elementos sugestivos para indagar outros
documentos. Como era o vale do Tocantins? Que transformações ocorreram?

6
Segundo Baena "Em 12 de abril de 1685 o Governador manda comprir a Provisão Régia de
dous de Setembro de 1684, a qual determina que se plante nas abas das Povoções arvores de
canella e cravo da mesma qualidade descoberta em 1669 no rio Tocantins", BAENA, A.L.M.,
Compêndio das Eras da Provincia do Pará, UFPa, Belém, 1969, p.114
7
Segundo Alden "a informação estatística relacionada com a produção de cacau na Amazônia
é mais diversificada e abundante para os anos de 1778-1822, onde evidencia-se que o nível
das exportações permaneceu regularmente estável, ao longo do final da década dos anos 1770
e dos anos 1780; entretanto o papel de Lisboa permaneceu como centro redistribuidor do cacau
brasileiro, durante os anos de 1775-1822", in, ALDEN, F., O significado da produção de cacau
na região amazônica no fim do período colonial: um ensaio de história econômica comparada,
UFPa, Brasil, 1974. p.40
8
Daniel, J., op. cit.
10

Que visões existiram sobre o meio e das relações do homem nele? Segundo:
realizar uma espécie de balanço das transformações econômicas,
demográficas e ecológicas. A idéia é de ordenar os eventos, as marcas das
rupturas, inventariar o que permaneceu. Dois exemplos: a canela
desapareceu das matas, restando apenas nos quintais das casas, enquanto
o cacau é inexpressivo na economia do vale. Significa vir a dimensionar o que
mudou no plano dos ambientes: como foram transformados e quais foram as
práticas dos homens? No final, o que explicaria essa orientação? Aqui, entra-
se na discussão sobre as formas e as forças da economia, sendo aqui o motor
do comércio, para tornar exclusivos as atividades e produtos rentáveis, com o
agravante sobre a frágil estabilidade dos ecossistemas tropicais. Esse é o
quadro para considerar os fenomenos demográficos, como ocorre o
povoamento indigena? O que foi o povoamento colonial? A realidade
demográfica de maiorias a minorias, como aponta-se no caso dos índios, pode
ser vista para grupos socio-étnicos: livres e escravos que interviram e
interagiram nesse meio.
11

2 - A CONQUISTA DO TERRITORIO BRASILEIRO NO SECULO XVII E XVIII

A incorporação do extremo-norte do Brasil ao império lusitano constitui um dos


episódios distintos na história da formação brasileira. Em consequência do
ajuste de Tordesilhas, assinado em 1494, a Amazônia foi conquistada por
sertanistas, militares, funcionários do Estado, religiosos e colonos, como
parte de um programa imperial que o governo português planejou e realizou
com perseverância.

Portugal, para apossar-se da região, precisou vencer os obstáculos físicos e


humanos que existiam. As peculiaridades que distinguem a Amazônia levaram-
nos a uma operação de envergadura a fim de iniciar o conhecimento daquele
espaço territorial; constituía uma necessidade da política de expansão e de
incorporação política, defendendo-a dos concorrentes do reino ibérico e das
potências européias do norte. Fazia parte do empreendimento político-cultural
português9 iniciado desde a conquista das terras desconhecidas da Africa e do
Oriente.

No fim do século XVII e início do XVIII (1656-1706), observam-se dois fatos


importantes que repercutiram no Brasil: as medidas relativas à paz com a
Holanda e Espanha, pondo fim às invasões e conflitos que se estenderam por
todo o período de união das coroas ibéricas, e a questão da expansão
territorial brasileira. D. Afonso VI (1656/1667) e D.Pedro II (1667/1706)
incentivaram bandeirantes vicentinos à procura das minas, constituindo
recurso oficial à iniciativa privada.

A exploração intensiva do pau brasil antecede à corrida pelas riquezas


auríferas. Deste momento em diante organizaram-se as bandeiras
responsáveis pelas entradas no sertão do Brasil10, iniciando o cíclo do ouro,
enquanto os holandeses haviam começado desde o século XVI a organização
da próspera economia açucareira do nordeste.

Desses 60 anos de domínio espanhol sobre Portugal, advindo da união entre


as duas coroas, o Brasil continuou a sofrer as consequências internacionais e

9
VIianna, H. História do Brasil -período colonial, I, Brasil, 1965, p.79.

10
Idem, p.263.
12

econômicas sendo frequentemente atacado pelos inimigos da Espanha; os


franceses no Maranhão, os ingleses na foz do Amazonas e, afinal, pela
tentativa de holandeses na Bahia e por todo o nordeste, tendo como centro de
operações Pernambuco, onde se mantiveram até à expulsão em 1654. A
questão econômica desse período é agravada pela guerra do açúcar11,
quando Recife era capital do Brasil Holandês12 . Desde 1621, a Companhia
das Indias Ocidentais, que teve, por 24 anos, o monopólio do comércio com
as Américas e parte da Àfrica, havia deixado de fora Pernambuco, um dos
focos mais dinâmicos da economia açucareira.

No período que antecede a restauração da Coroa portuguesa, Portugal havia


tido sucessos na ocupação do nordeste e as duas potências ibéricas
encontraram a forma da ligação dos Andes-Atlântico utilizando a rede fluvial
amazônica. Os portugueses esperavam ter melhores resultados, com a
criação do Estado autônomo do Maranhão e Grão-Pará separado do Estado
do Brasil.

Durante todo o primeiro século após a descoberta, praticamente não há


movimento dos portugueses em relação ao norte. Ao contrário, o fracasso das
expedições iniciais desencorajou qualquer iniciativa. Ingleses e holandeses
realizavam explorações na foz do Amazonas e no rio Xingu; enquanto os
franceses tinham interesse no rio Tocantins, buscando estabelecer uma
ligação entre o Pará e a sua colônia no Maranhão. Quando, em 1594, os
franceses fundam uma colônia no Maranhão, os portugueses tomaram
medidas em relação à região.

A conquista das regiões costeiras do Estado do Norte e da Amazônia teve


como fatores prepulsores a preocupação dos Governadores-Gerais récem
instalados e os temores dos portugueses devido a ação crescente e a
ameaça à sua florescente economia açucareira em expansão no nordeste.
Portugueses inciaram a conquista da Paraíba em 1583, continuaram com a
tomada do Maranhão, derrotando os franceses em 1615 e fundaram próximo
ao delta do Amazonas uma fortaleza, origem da cidade de Belém.

11
Segundo Vianna "denominava-se guerra do açúcar pelos danos e perdas de navios
mercantes e assaltos a povoações e engenhos litorâneos", in, VIANNA, H. op. cit., p.262
12
Mauro, F. Nova História da Expansão Portuguesa - O Império Luso-Brasileiro (1620-1750),
Portugal, 1991, p.109.
13

Neste continente Brasil, onde outras potências se afirmavam ao rítmo de uma


crescente ocupação, os portugueses encontraram motivos para avançar na
exploração interna do país. A noção de Ilha-Brasil13 pode aproximar-se das
questões e desafios da interiorização. Da ocupação costeira passou-se ao
progressivo e lento domínio do hinterland14.

A conquista da Amazônia teve inicio em 1613, com uma bandeira organizada


pelo Governador Luis de Souza que passou dos afluentes do alto Paraná aos
do rio Tocantins, seguindo o rio Araguaia, antes de voltar para o Sul, a São
Paulo. Anos mais tarde, um bandeirante paulista, que conseguira escapar ao
naufrágio de sua expedição no sertão, chegara até Belém, seguindo o curso
dos afluentes do rio Tocantins até a sua foz. Este rio que Pedro da Costa
Favela subira a partir de Belém, em 1627, passara a ser a segunda "frente"
desta conquista interior que delimitava a Ilha-Brasil15.

A entrada amazônica de Pedro Teixeira revelou-se como o primeiro elemento


de uma estratégia nova de conquista do interior do continente, que devia
conduzir os lusitanos à captura de uma imensa parte do Novo Mundo atribuida
à Espanha pelo Tratado assinado em 7 de junho de 1494 16.

Pelo rio-mar17, em 28 de outubro de 1637 Pedro Teixeira viaja até Quito,


retornando à Belém em 1639 pelo rio Tocantins. Com isto, Portugal se
apodera de Capitanias que, oficialmente, estavam em terras espanholas.

Conforme o Tratado de Tordesilhas, Cametá, à margem esquerda do rio


Tocantins, foi concedida a Feliciano Coelho de Souza e a Capitania de
Marajó, a Antônio de Souza Macedo, prolongando a conquista de Macapá.
Foram aproximadamente quarenta léguas de litoral, entre o Cabo do Norte e o
Oiapoque, que passaram ao domínio de Portugal. Em 1637, a fim de

13
Idem, pp: 123-124.
14
Expressão utilizada para designar o interior do Estado do Pará ou da Amazônia: "hinterland
paraense", "hinterland amazônico".
15
Mauro, F. op.cit.., 129.
16
Tratado de Tprdesilhas, in FERREIRA, A.C., Aspectos económicos da dominação
portuguesa na Amazônia. in: Ocidente, Revista Portuguesa Mensal, Portugal, 1961, p.128
17
Idem, p.123.
14

completar a conquista da região ocidental do delta, a Coroa atribuiu a Bento


Maciel Parente a Capitania de Cabo Norte.

Com a reunificação da colônia americana, a expulsão dos franceses do


Maranhão e a fundação do Grão-Pará, ampliaram-se os objetivos do governo
do Brasil fazendo surgir um Regimento datado de 31 de agosto de 1612 18, pelo
qual se deveria reger o Governador-Geral. Este documento normatizava sobre
povoamentos e fortificações; sobre os indígenas e as leis que lhes diziam
respeito, quanto à sua catequese e as terras que lhe seriam atribuidas; e da
economia, fixando preços, do cultivo das terras, da conservação das matas,
do pau-brasil, dos salitres, da pesca de baleias e sobre a proibição de
comércio com estrangeiros. O mito do ouro desenvolvido pelos navegadores
espanhóis foi substituido pelas expedições que adentraram ao longo da rede
hidrográfica da bacia amazônica com finalidade de exploração, apresamento
de índios e de coleta das drogas do sertão.

Nesse inicio do século XVII, a administração colonial do Brasil era


19 20
representada por Capitanias reais e Capitanias hereditárias . A Capitania do
Maranhão e Grão- Pará foi elevada a Estado com autonomia do Estado do
Brasil e comunicava-se diretamente com Portugal. Sua localização na costa
atlântica sem dúvida constituía um privilégio. Em 1652, Lisboa concede
autonomia à capitania do Grão-Pará em relação à do Maranhão, revogada
dois anos depois. Porém, a partir do ano de 1673, a cidade de Belém foi
considerada por Portugal sede do Estado do Grão-Pará, oficializada no século
XVIII. Desde então, a ocupação lusitana foi taxativa na maior parte da bacia
amazônica. Santa Maria de Belém do Grão-Pará aparece como o verdadeiro
ponto de partida da conquista amazônica.

18
Mauro, F., op. cit. p.263.
19
As Capitanias eram seis no Estado do Brasil (Bahia, Rio de Janeiro, Paraiba, Rio Grande,
Pernambuco e Colônia do Sacramento) e três no Estado do Maranhão (Ceará, Maranhão
propriamento dito, e Grão-Parã) in, Vianna, H. op. cit., I . p.267.
20
Durante o século XVI foram criadas dezoito capitanias hereditárias; entretanto por
circunstâncias diversas, inclusive abandono e desinterêsse dos donatários, apenas onze
passaram ao século XVII, sendo 5 no Estado do Brasil (Rio Grande, Campos dos Goitacases,
Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém, Ilha de Santa Catarina e Rio da Prata) e seis no
Estado do Maranhão (Cumá,Cumã ou Tapuitapera, Caeté ou Gurupi, Cametá ou Camutá, Cabo
do Norte, Ilha Grande Joanes ou Marajó e Xingu); in, Vianna, op. cit., I, pp.267-268.
15

Entre 1627 e 1632 a população pioneira de Belém atingia entre 200 a 300
habitantes sendo colonos e soldados. Encontrava-se ligada com São Luis não
só por terra: as comunicações fluviais realizavam-se a montante do rio Pindaré
e do rio Capim21. Com a restauração do Reino de Portugal, em 1640, o
interesse pelo Brasil é retomado por D.João IV e explicita-se no
22
estabelecimento do Conselho Ultramarino de 1642 , fato da maior
transcendência para toda a vida colonial que viria.

A rápida expansão do Brasil pelo rio Amazonas, alcançando o rio Javari, no


Mato Grosso, até o rio Guaporé e descendo o rio da Prata, ao sul, recolocou
a questão dos limites entre as possessões portuguesas e espanholas, e
findou na assinatura do tratado de Madri em 13 de janeiro de 1750 23. Ambas
as partes reconheciam haver violado o Tratado de Tordesilhas, pondo fim a
uma longa fase de facto - não de jure - do domínio português muito para oeste
da linha estabelecida em 1494; e, portanto, o reconhecimento internacional de
uma configuração que já era quase os limites do atual Brasil. Os acertos
posteriores, de 1761, assinam novo acordo que anulou o Tratado de Madri e
o Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, mas que não mudaram a situação
básica definida em 175024.

Quanto aos limites com a França, sabe-se que essa potência, objetivando
estar o mais próximo do rio Amazonas, logrou este feito durante o periodo da
Revolução Francesa e do Império. O tratado de Paris, de 23 Thermidor V,
traçou o limite pelo rio Calçoene até suas cabeceiras e destas por uma reta até
o rio Branco. Essa linha foi modificada pelo Tratado de Badajoz, de 6 de
junho de 1801, que alterou o limite para o rio Araguari, desde a foz mais
apartada do Cabo do Norte até a cabeceira e dai até o rio Branco. Mas
anulou-se posteriormente, com a assinatura do acordo de Madri, em 29 de
setembro do mesmo ano, que fixou os limites em Carapanatuba, ou seja,
desde a foz até as cabeceiras próximas do rio Branco. O fecho aconteceu em
11 de abril de 1763 com a assinatura do tratado de Utrecht 25, onde Luis XIV
21
Idem, p.113.
22
Ibdem, p.263.
23
Abreu, C. Capítulos de História Colonial (1500-1800) & E os caminhos antigos e o
povoamento do Brasil, UFBr., Brasil, 1963, p.196.
24
Cardoso, C.F.S., A crise do colonialismo luso na América Portuguesa-1750/1822.p.89.
25
Mauro, F., op. cit., p.121.
16

reconheceu as duas margens, setentrional e meridional, como de propriedade,


domínio e soberania de Portugal. Esta sucessão de Tratados reflete as
concepções geo-políticas e o estabelecimento de hegemonias
frequentemente contestadas.

Na segunda metade do século XVIII viveu-se quase simultaneamente o auge e


o início do declínio da produção aurífera brasileira. Este século, além de ser
marcado pela busca do ouro, também o foi pela concorrência do açúcar
antilhano. A crise de preços e o declínio da produção açucareira fizeram com
que os plantadores vendessem parte de sua escravatura aos mineradores
dispostos a pagar preços muito altos. Tudo isto contribuiu para a decadência
da agricultura colonial costeira. Paradoxalmente, as exportações legais de ouro
sempre estiveram abaixo dos valores exportados de açucar; apesar das
minas, em seu apogeu, garantirem um lucro muito maior por cabeça de
escravo empregado.

Mais tarde pensaram os portugueses transformar a Amazônia numa unidade


política, integrante da monarquia portuguesa, sem qualquer aproximação com
o império que D.Pedro estava fundando no sul.

No norte, a sociedade colonial entra em rítmo de estruturação. A Amazônia


constituiu-se como uma unidade política distante do Estado do Brasil, além de
representar um quadro social marcado pela miscigenação intensiva, que se
processara sob incentivos do poder público. Era uma população que vivia
distante das determinações centrais com suas funções públicas específicas 26.

26
Reis, A.C. A empresa colonial portuguesa na revelação da Amazônia, Rio de Janeiro. p.174.
17

3 - OS ÍNDIOS QUE OS EUROPEUS ENCONTRARAM NO BRASIL

Qunado os europeus chegaram para colonizar o Brasil, encontraram uma


população ameríndia bastante homogênea em termos culturais e linguísticos,
distribuída ao longo de toda a costa e na bacia Paraná-Paraguai. Foram
identificados pelos portugueses em dois grandes blocos. A população ao sul,
composta pelos Guarani que ocupavam a bacia Paraná-Paraguaia e o litoral,
desde a Lagoa dos Patos até Cananéia, no atual Estado de São Paulo; e os
Tupi, que dominavam a faixa litorânea desde Iguapé, pelo menos, até a costa
do Ceará.

Nesta costa, onde se localizavam os Tupi-Guarani, existiam pontos dominados


pelos Tapuia localizados no estuário do Prata, como os Charua; na foz do rio
Paraíba os Goitacá; no sul da Bahia e norte do Espirito Santo, os Aymoré e os
Tremembé na faixa entre Ceará e Maranhão27.

A estimativa de população aborígene, no momento da conquista, oscila entre


as cifras extremas de 1 a 8,5 milhões de habitantes para as terras baixas da
América do Sul28. Os números da população aborígene da Amazônia, Brasil
Central e Costa Nordeste apresentam amplitudes que variam de 500 mil até
6,8 milhões, com densidade de 14,6 habitantes / km 2 na área da várzea
amazônica, e apenas 0,2 habitantes / km 2 para o interflúvio. Existem
avaliações29 demonstrando que de 1492 a 1650 a América perdeu um quarto
da sua população. Os autores afirmam que a depopulação foi de 95% 30.
Fazendo-se um paralelo, vê-se a Europa que em 1500, tinha, do Atlântico aos
Urais, de 60 a 80 milhões de habitantes31; ou seja, na ocasião do
descobrimento, a densidade da Europa era de 17 habitantes / km2 32, não
muito superior à da América. Tem-se, com a colonização do Brasil, um

27
Cunha, M., História dos indios no Brasil. São Paulo, 1992. p. 382.
28
Segundo Rosenblat (1954), "a população era de 1 milhão para o Brasil como um todo";
Moran (1974) diz que era "uns 500 mil para a Amazônia" enquanto que Denevan (1976) avalia
em "6,8 milhões a população aborígene da Amazônia, Brasil Central e Costa Nordeste com
densidade de 14,6 habitantes/km2 na área da várzea amazônica e apenas 0,2 habitantes/km2
para o interfluvio" in: Cunha, M. op. cit., p.14.
29
Rosenblat, in: Cunha, M. op. cit., p.14.
30
Dobyus, in: Cunha, M. op. cit., p.14.
31
Borah apud Denevan, 1976, in: Cunha, M. op. cit., 18.
32
Braudel, 1979, in: Cunha, M. op. cit., p. 42.
18

despovoamento radical num território anteriormente muito habitado. Os


colonos europeus trazidos em ínfimas quantidades fizeram do povoamento um
processo lento.

Quadro 1: Cifras da População Indígena Americana


NUMERO (em milhões) TERRAS BAIXAS AM. DO SUL TOTAL AMERICANO
Sapper (1924) 3 a 5 37 a 48,5
Kroeber (1939) 1 8,4
Rosenblat (1954) 2,03 13,38
Steward (1949) 2,90 (1,1 no Brasil) 15,49
Borah (1964) -- 100
Dobyus (1966) 9 a 11,25 90,04 a 112,55
Chaunu (1969) -- 90 a 100
Denevan (1976) 8,5 (5,1 na Amazônia) 57,300
Fonte: Cunha, M. História dos Indios do Brasil, São Paulo, 1992. (Tableau a partir de Denevan
(1976) e Steward (1949) ), p.14.

Ressalte-se que estas estimativas retratam avaliações diferentes do impacto


da depopulação indígena. É importante observar que os dados demográficos
que procuram determinar a população ameríndia pré-conquista tem uma base
empírica frágil, pois são apoiados em pressupostos particulares de cada autor
e correntes de pensamento33. A Arqueologia busca confirmar e reformular
cálculos e hipóteses sobre o povoamento americano 34.

As crônicas da época deixam claro que tratava-se de populações expressivas,


muito maiores do que as hoje encontradas na Amazônia, constatando-se que
o nível de depopulação durante o primeiro século da colonização foi brutal 35.
Cronistas discorrem que no início do século XVII, ao encontrarem os
Tupinambá no Maranhão, no Pará, na Ilha Tupinambarana, e no médio
Amazonas, as aldeias Tupinambá eram compostas por malocas, em geral

33
Segundo Steward, havia "189 mil Tupinambá no final do século XVI ou 0,6 hab./Km2 (1949);
por outro lado, Denevan sugere uma "densidade de 9,5 hab/Km2 nas Costas ao Sul do
Amazonas, ou cerca de 1 milhão de índios pré-contato (1976)", in: Cunha. M., op. cit., pp:382-
383.
34
Roosevelt, in: Cunha, M. op.cit., p.54.
35
Cunha, M. op. cit., p.383.
19

variando de 4 a 8 unidades, população composta de 2 a 3 mil índios 36. Os


Tupinambá eram muitos e suas aldeias eram grandes quando comparadas
com o padrão amazônico atual.

Sobre a migração desta nação não se encontram sítios ou lugares atribuídos


aos Tupinambá, entre a foz do Amazonas e o Rio Grande do Norte. Isto
originou a narrativa dos cronistas que falam de uma ocupação tardia pelos
Tupi do Pará e Maranhão, realizada por índios provenientes do Nordeste que
fugiam da opressão colonial37.

O fenômeno demográfico e cultural que acompanha os primeiros duzentos


anos da ocupação européia reflete-se, em meados do século XVIII, numa
realidade etnográfica bastante diferente da observada pelos primeiros
exploradores no século XVI. Este fato é consequência do desaparecimento
das nações que viviam ao longo do rio Amazonas e da sua substituição por
novos contingentes indígenas que foram trazidos dos afluentes para a calha
amazônica pelos agentes da colonização. Estas transferências ocasionaram o
desaparecimento dos padrões adaptativos (demográficos, organizacionais e
ergológicos) da população original.

Em meados do seculo XVI, a várzea amazônica apresentava um padrão de


assentamento contínuo ao longo de quilometros de margens fluviais e
baseado numa economia ligada aos recursos aquáticos e da várzea inundável.
Entretanto, nada disso resistiu ao avanço dos missionários espanhóis, e,
especialmente, dos coletores das drogas do sertão38, dos cabos de tropas, e
de missionários portugueses que saindo de Belém do Pará alcançaram os rios
Tapajós, em 1626, o Negro em 1656, e o alto Solimões antes de 169039.

À medida que as margens do Amazonas ficavam despovoadas dos seus


antigos habitantes, novas forças tendentes ao restabelecimento do equilíbrio
demográfico entravam em ação através dos movimentos espontâneos de
36
Cunha, M. op. cit. p.385.
37
Soares de Souza e Abbeville, in: Cunha, M. op. cit., pp:382-383.
38
Drogas do Sertão eram a salsaparrilha, o sassafraz, o cacau, a canafístula, a pita, o urucu, a
canela, o algodão, a carajuru, o cravo fino e grosso, a baunilha, a quina, o puxuri, a casca
preciosa, as sementes oleaginosas e as madeiras.

39
Soares de Souza, in: Cunha, M. op.cit. p.176.
20

acomodação e o da ação forçada de descimento40. Na época colonial os efeitos


das perturbações biológicas, demográficas, econômicas, culturais e políticas
acarretados pela conquista européia sobre as sociedades indígenas
significaram também rupturas das relações homem/meio anteriormente
existentes.

O repovoamento é marcado pelo desenraizamento e pela aculturação


intertribal e interétnica, originando uma população neo-indígena41, que assimila
uma série de técnicas (moradia, navegação, manejo da fauna e flora)
essenciais ao ecossistema fluvial, surgindo a cultura do Tapuio ou Caboclo
amazonense, da qual irão participar, também, outros grupos socio-étnicos42.

Desse processo histórico de desagregação e mudanças, as sociedades


emergentes, têm, em última instância, as mesmas virtudes e fragilidades do
ecossistema amazônico, a saber, a especialização adaptativa às condições do
meio ambiente e as limitações e resistência quando expostas a elementos
perturbadores do seu equilibrio.

40
Descimento era o transporte, para o litoral, de índios aprisionados no sertão, no período
colonial.
41
Cunha, M. op. cit., p.175
42
idem. p.176.
21

PROBLEMÁTICA
22

I - O Tesouro Descoberto no Rio Amazonas do Padre João Daniel

Durante o largo período das viagens de descoberta, enquanto os portugueses


bordejavam os continentes, em busca do enriquecimento do reino, os
espanhóis² penetravam nas terras para ver o que tinham. Desde México até o
Chile, Cortes, Pizarro, Orellana, Palacios, Mendoza, tinham o intuito de
encontrar o Eldorado. A lenda se espalhara na Ibéria, pela voz de Orellana,
propalando a existência de riquezas fabulosas nesta parte do Novo Mundo, o
que alvoroçou os espíritos já propensos a fantasia e inspirou as novas
aventuras.

Parte desta história foi contada por frades Jesuítas, dando apreciável
contribuição. A bem dizer, existe uma crônica sociográfica na forma de
tombamento de fatos do temporal e do espiritual. Os religiosos da Companhia
de Jesus43 tiveram bastante zelo de anotar inúmeras observações em que a
natureza se avantaja à custa de uma narrativa sobre as prodigalidades
tropicais. Período pré-cientifico que com seus registros e visões ajudam a
escrever a história.

O mito de Eldorado migrou para terras brasileiras, recriado com as descrições


medievais do Éden e imprimiu sabor especial à prosa desses primeiros
reveladores de nossa natureza.

Ela foi louvada como se fosse uma Nossa Senhora Ecológica, tomando
forma de um culto panteísta pelo primeiro cronista, Capitão Simão Estácio da
Silveira . O súdito português apresentava a natureza em termos grandiosos por
seus ares salubérrimos, um infinito de fontes, numa terra golfeira e mui
criançola ou ainda terra boníssima, formada de belíssimas ilhas e ribeirões e
fresquíssimos arvoredos, cujos madeiros sobem aos céus e são infinitos 44.
Vimos utilizar-se o mesmo vocabulário impregnado das imagens edênicas para
revelação da Amazônia ao longo dos séculos XVII ao XVIII.

43
No Brasil encontram-se várias obras de missionários com estas características podendo ser
citados como principiais a dos padres Manuel da Nobrega e Antonio Vieira, seguidos pelo
Padre Joao Daniel .
44
Vianna, H., op. cit., p.61.
23

Entretanto, esta marca edênica se exclui no livro do Padre João Daniel 45. Sua
história dramática de beirão amazonotropicalizado fêz-se na sorte ou azar que
teve a Companhia de Jesus, expulsa do Brasil pelo Marquês de Pombal 46.
Expulso e preso em Portugal, nada foi apurado contra João Daniel para
causar-lhe tantos sofrimentos e importunações. Serafim Leite 47 escreveu que o
padre deu provas de fortaleza e ânimo, como beirão que era. A sua profissão
solene de quatro votos, nas margens do rio Moju, fê-la depois de ter sido
notificado do seu próximo desterro. Encerrado nos cárceres e privado de
liberdade, escreveu o Tesouro do Rio Amazonas como forma de dar
continuidade à sua missão no Grão-Pará. Pelo que se conhece e se chegou
a esclarecer, através de devotada pesquisa de Serafim Leite, não havia
provas contra o sacerdote. Sua obra missionária, desvêlo no terreno da cultura
e dos serviços prestados ao Brasil. Ela revela facetas importantes desta
descoberta do vale do Amazonas. Dele extraímos as lições sobre as relações
homem e natureza.

1 - Apresentação do Autor

Talvez a ordem religiosa que teve papel mais importante na fase colonial do
Estado do Grão-Pará e Maranhão tenha sido a Congregação da Companhia de
Jesus. Estes padres receberam a margem direita do rio Amazonas e
fundaram, desde sua chegada em 1669, até 1759, data da sua expulsão,
oitenta e sete aldeias48.

Posicionaram-se sobre questões da escravidão indígena, elaboraram uma


estratégia de catequese e de ocupação territorial. O seu papel foi importante
na articulação da vida política e econômica da colônia com a metrópole.
Tiveram assim pápeis multiplos que implicava percorrer espaços culturais e
sociais geograficamente distintos49.

45
Daniel, J., op. cit.
46
Daniel, J. op.cit. p. 79.
47
SERAFIM LEITE, in: Daniel, J., op. cit., p.16.
48
Mauro, F., op. cit., pp.138-139.
49
Baeta, L.F.N.F., Imaginação social jesuítica e instituição pedagógica -Maranhão e Grão-
Pará- século XVII. UFRJ, Brasil, 1984, V.III, p.198.
24

Entre os vários membros destacados da Ordem, encabeça a lista o Padre


Antonio Vieira (1605 -1697 ) por ter marcado, através de seus escritos, sua
passagem pela Amazônia. Sem dúvida é seguido pelo Padre João Daniel, que
viveu e escreveu sobre a região no século XVIII, e teve o mesmo destino
trágico de ter sido expulso do Brasil, preso e condenado no seu país natal.

Nascido a 24 de julho de 1722, em Travaços, diocese de Viseu, em Portugal,


sede de bispado, João Daniel definiu que seu destino estava ligado à
Companhia de Jesus. Leandro Tocantins50 supôs que o fato de ele ser da
região da Beira51 já o definia preparado para viver coisas maiores. Em 17 de
dezembro de 1739, com 17 anos de idade, determinou seu rumo. Anônimo,
chegou ao Estado do Maranhão e Grão-Pará em 1741. Havia seguido estudos
de Humanidades, Filosofia, Física e Teologia. Provavelmente ordenou-se em
1750, pois em 1751 já se apresentava como padre, entregue aos ministérios
da religião, sobretudo no Pará, onde percorreu muitas das aldeias e fazendas.
Esteve na Amazônia durante 16 anos (1741-1757). Seu trabalho era pautado
nas viagens missionárias como forma de permanente expansão, como
preconizava a ordem. Pode-se acreditar que possuia um temperamento
elevado e dirigido à ação, excluída a rotina, como ele próprio nos conta,
através das crônicas de convento.

Na sua obra, a Amazônia transparece sobre múltiplas vivências e ricas


atuações humanas, portanto retrato do estado d'alma de uma época. A
geografia reflete diversas paisagens, mas também lêem-se seus registros
psicológicos, ditos em muitas palavras partidas do íntimo. Uma espécie de
proclamação de emoções, de alegrias, de tristezas, de desapontamentos ou
reconhecimentos ante o vivido. A emotividade criou, assim, através da
fisiografia, uma técnica que é bem o consórcio do panorama da região e da
moral do autor.

A propósito da visão monótona sobre a planície amazônica, que é inúmeras


vezes repetida para aqueles que não atentam sobre os detalhes de sua
paisagem,a narrativa do Padre João Daniel demonstra o contrário. Trata-se de
um exame em detalhe, observações minuciosas da natureza. Estas
transportam o leitor por um espaço móvel, mutante. Os olhares e os gestos do

50
Prefácio, in: Daniel, J., op. cit., pp.10-11.
51
CF. Tocantins, L., assim se refere à região da Beira pelas influências arquitetônicas e sociais
espanholas dos que nasceram nestas fronteiras entre Portugal e Espanha.
25

escritor passavam da contemplação ao êxtase. O seu leitor é levado a


imaginar o rio, as plantas, os animais e a pororoca 52. Da mesma forma que as
cenas do trabalho ou o conjunto de forças dinâmicas do meio. Traz sua
narrativa toda uma atmosfera em movimento, onde as silhuetas humanas
agitam-se nos contornos e exuberâncias da Amazônia.

2 - Da leitura da obra

O Tesouro Descoberto no Rio Amazonas53 é obra de prisão.


Impressionantemente prolixa, nela desfilam a natureza e o homem através de
uma narrativa despretensiosa mas emocionante na sobriedade de conduzir os
olhos do leitor através dos sítios e do tempo.

Escreveu Serafim Leite54, que o Tesouro Descoberto do Padre João Daniel,


respeitadas as distâncias do tempo histórico-social, se apresenta como
excelente referencial histórico, sociológico, antropológico e etnográfico. O
caráter combativo indica um esforço por causa menos religiosa (no sentido
rigoroso da doutrina de Inácio de Loyola), em outras palavras mais temporal, o
que a diferencia dos frades que escreviam sobre o mundo para indicar os
caminhos para os Jardins do Céu.

A narrativa do Padre João Daniel é afirmação, experiência, adequação ao


real e testemunho existencial. Serafim Leite considerou-a como Tratado de
Economia Agrícola e Indústria Hidráulica55 pelas inúmeras referências a
procedimentos para trabalhar a terra e suas riquezas. Contém, segundo
Serafim Leite, um campo de instruções para a agricultura amazônica, ao
tratar da indústria hidráulica aplicada, da utilização dos ventos, das marés.
Obra etnográfica, antropológica e sociológica quando trata sobre as inúmeras
tribos indígenas, transmite as crendices populares (sobre os homens marinhos
ou bôtos). Penetra nas relações sociais, na ciumeira dos maridos e nos
cultos.

52
Ondas de alguns metros de altura com grande efeito destruidor e forte estrondo, que ocorrem
próximo à foz do Amazonas.
53
Prefácio, in: Daniel, J., op. cit., p.16-17.
54
Idem, p.18.
55
Ibdem, p.19.
26

Singularmente, pelo volume de indicações locais, geográficas e históricas, e


as narrativas sobre diversos fatos de seu tempo constitui-se a obra em fonte
genuína para a história geral do Grande Rio. A Antropologia e a Etnologia
fizeram a descoberta da narrativa como gênero descritivo da literatura e é esta
a demarche que nos oferece a obra de Todorov56. Ensaiamos construção
desse gênero na obra deste padre naturalista.

Padre João Daniel foi um afeiçoado ao mundo amazônico tropical, curioso das
farsas e das realidades da natureza, seguro de que, às custas destas
indagações, também prestava serviço à religião e à humanidade.

Para Leandro Tocantins, é uma obra muito mais de inquérito-participação e


dinamismo-concreto do que ideal místico de exercício espiritual. No seu juízo,
ela se aproxima no ortodoxismo jesuíta, do pecador de Deus. Por toda sua
descoberta, permeia a fraternidade com o Universo. Para este prefaciador do
Tesouro Descoberto, a obra pode ser lida sem descumprir nem desobedecer
os mandamentos de uma possível Sociologia histórica, pensada em termos
empíricos, com as reservas da época de sua elaboração. A Biblia Ecológica da
Amazônia, como a definiu Leandro Tocantins, reflete-se baconiana, nos
moldes de uma ciência compreendida, ainda, em seus primeiros anteprojetos
de esclarecer a inteligência humana e de habilitá-la a conquistar a natureza.

Em 1976, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro publicou a obra completa


incluindo as partes 5a. e 6a. pertencentes à Biblioteca e Arquivo de Évora.
Com uma anterioridade de cem anos, haviam sido impressas as 2 a
(T.2,1840; T.3,1841) e a 6a (1878 - T 41) partes na Revista do Instituto
Histórico do Rio de Janeiro57.

A primeira edição completa do Tesouro do Padre João Daniel, na sua versão


manuscrita, estava composta de 766 páginas no formato de 15,5 x 20,7. A
existencia de duas quintas partes, uma no Rio de Janeiro (códice BN, n°116 de
1881), e outra em Évora, apresentam-se em versões diferentes, embora a letra
do redator seja a mesma. Joaquim Rivara diz que a 5 a. parte pertencente a
Évora, publicada no Rio em 1820, deve-se ao Bispo D. Joaquim de Azeredo
Coutinho e que a 6a. parte teria sido remetida, pelo autor, ao Frei Gregório
56
Todorov, T., Poétique de la prose, choisy, suivi de nouvelles recherches sur le récit., Paris,
1971.
57
Revista do Instituto Histórico do Rio de Janeiro, 1840,1841,1878. in: Daniel, J. op. cit., p.5.
27

José Viegas, seu irmão, que a havia presenteado a D. Frei Manoel do


Cenáculo Vilas Boas (1724-1814). Este, por sua vez, teria doado a 6 a. parte
a Biblioteca de Évora58.

O códice pertencente à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro integrava o


acervo da Real Biblioteca, tendo passado ao Brasil, em 1808, juntamente com
a família real. Incorporou-se ao fundo de manuscritos desta instituição em
1810, data de sua fundação, dirigida naquele tempo por Frei Gregório José
Viegas (1753-1840) e pelo Padre Joaquim Dâmaso (1777-1833). Desde 1810,
salvo as partes 5a. e 6a. , esta peça integra o valioso acervo de manuscritos
da Bibioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em 1820, no segundo volume saiu
dos prelos da Impressão Régia do Rio de Janeiro, o texto da 5 a. parte, a
partir do original existente em Évora59.

3 - Visão de conteúdo

A obra pode ser visualizada primeiro como uma síntese de questões marcadas
por seu tempo, mas que se projetam além da sua datação. João Daniel
escreve entre 1757-1776 e introduziu como primeira interrogação a
descoberta do rio Amazonas. Buscava responder às reflexões que envolviam a
polêmica dos descobridores deste rio. A história contemporânea tem a
herança dessa questão e diversos artigos foram escritos para apoiar uma ou
outra hipótese sobre os primeiros a navegar por suas águas 60. Gonçalo Pizarro,
Pinzon, Orellana buscavam o Lago Dourado61 e ajudaram a criar outros mitos.
São parte das discussões sobre o encontro do Novo Mundo, dos Novos
Climas, dos Grandes Rios62 como também da sugestiva e fértil polêmica sobre
o impacto sofrido pelo homem europeu nos trópicos.

Realidade e visão mítica são construções mentais e João Daniel penetra


nesses domínios para escrever sobre a origem do nome do Rio. As Guerreiras
Amazonas são descritas como um exército de mulheres que habitavam entre

58
Idem, p-6.
59
Revista do Instituto Histórico do Rio de Janeiro, 1840,1841,1878. in, Daniel, J. op. cit., p.7.
60
Vianna, H., op. cit., pp.49-50.
61
ver Glossaire.
62
Daniel, J., op. cit., pp.29-32.
28

os rios Negro e Trombetas, e que, utilizando canoinhas feitas de casca de


árvores, arcos e flechas, sabiam lutar com ânimo varonil.

João Daniel também retoma o mito da fertilidade das terras amazônicas, mas
ele tem uma matriz realista, indicando os limites naturais e quanto a inventiva
humana teria capacidade para romper as barreiras, daí envestir-se em
conselheiro sobre as possíveis soluções técnicas para problemas reais de
cada ambiente. Apenas dois exemplos: 1) ao escrever sobre a ilha de Marajó,
cujas campinas são sujeitas a inundações, recomendou a construção de
sistemas de canais; 2) ao tratar sobre o cultivo do arroz, opinou sobre a
diversificação de espécies63.

Pedagogicamente cita nomes de rios, indica localizações, acidentes,


mostrando domínio pouco comum de Geografia. Desta perspectiva, é uma
obra de alguém que observou diretamente, porque viajou, sistematizou suas
anotações ou suas informações de campo, mas também porque fez leitura,
inquiriu além da sua presença física sobre os lugares. Talvez este seja o fato
mais interessante. Se o Padre João Daniel elaborou uma síntese - O Tesouro
Descoberto no Rio Amazonas - esta resulta de intrincados e complexos pontos
de vista desse empirista perspicaz. Ele escreve a partir de materiais de
primeira mão. Essa vivência completa-se com novas observações e leituras de
outras fontes para realizar o seu inquérito sobre o mundo amazônico.

É difícil estabelecer todos os lugares que conheceu. Enquanto missionário e


visitador deve ter percorrido as missões jesuítas. O Padre João Daniel refere-
se à grande bacia do rio Amazonas e dos seus afluentes principais, aos
lugares ermos e às vilas mais povoadas. Para esta gigantesca bacia dedicou
referências específicas a vários ecossistemas. Invariavelmente indica
referências especiais da geografia, da fauna e flora e dos habitantes.
Podemos recompor o conteúdo deste manuscrito escrito em um tempo que
consumiu 19 longos anos, entre 1757 e 1776, com 776 páginas na versão
recente editada.

Para fins de uma primeira apresentação da obra, podemos apresentar sua


estrutura formada por três partes. A primeira fica bem retratada com o título
O Rio Amazonas divide o Novo Mundo. Trata-se da descrição geral:

63
Idem, pp.64-72.
29

"O Rio Amazonas localiza-se 315° de latitude do Rio Purus e 305° de latitude
do Rio Pongo e com suas 1200 a 1800 legoas divide esse novo mundo em
duas penínsulas; cortando de oeste a este e que entre suas fontes e o
Pacífico tem o estreito do Panamá dividindo a América em Meridional e
Setentrional. Transforma-se no rio Solimões a partir dos afluentes do rio
Negro e Madeira. Para os espanhões, é chamado Rio Orelhana dando
nome a seu descobridor. Tambem é conhecido pelos mesmos
espanhões como Maranhão devido ao emaranhado de outros rios que o
formam, os afluentes"64

Uma série de informações acumuladas e tratadas que lhe permitiram


estabelecer com rigor observações delimitantes do seu universo, começando
por idéias gerais que circulavam sobre a descoberta do rio-mar, sobre os
mitos, mostra a diversidade de ambientes e não parece revelar fortes
preocupações com as fronteiras coloniais, embora seja fiel ao reconhecimento
dos espaços da ocupação portuguesa.

A segunda parte revela-se sinteticamente como o tratado dos Índios, de


algumas Nações dos Naturaes do Amazonas. Vai realizar demostração e
reconhecimento da diversidade de culturas, comentando as línguas, as
práticas de uma dúzia de nações indígenas. Apresenta as situações de
conflitos e os sistemas de escravização dos índios.

A Terceira Parte sugere fortemente aquilo que podemos denominar


Sistemas Agrários do Vale do Amazonas. Parece incansável na
denominação de espécies. São citados diferentes tipos de frutas em sua lista.
Nomeia as searas e legumes indicando os tipos de consórcio ( maniba x
milho; milho x algodão; tabaco x arroz; abacaxi x maniba x hortas - de
quiabo, amendoim, repolho, espinafre). Fala dos gêneros extrativistas. Não
deixa de citar várias dúzias de tipos de madeira e assinala a rica fauna
ictiológica com a mesma prolixidade com que nomeia os animais de caça 65.

Ensaiamos conferir parte do inventário da fauna e flora mencionadas pelo


Padre João Daniel, levantando o nome científico e família. Este tipo de
artesantato intelectual permite avançar o que seria o balanço de

64
Daniel, J. op.cit. pp.27-29.
65
Daniel, J. op. cit., pp.99-109.
30

transformação comparado, por exemplo, com as descrições do século


dezenove.

João Daniel oferece sob a perspectiva de macro-ecossistemas ou extensões


maiores do rio, três segmentos deste universo. Vejamos primeiro o conjunto
do vale do rio Amazonas.
31

4 - O Vale do Amazonas

Suas observações sobre o vale amazônico oscilam entre a opulência das


florestas e o labirinto dos rios. Insinuam-se, mais além, em campinas
aquáticas, verdadeiros lençóis de verdura a cobrir lagoas e paranás,
escondendo, sob a gama da folhagem miúda, os mururés floridos e a soberba
Victória Régia, ou a grande massa líquida quase imóvel do rio Amazonas.

Em grande parte, a planície amazônica, é constituida por uma espessa


camada aluvial, composta de areia finíssima, que se desagrega facilmente ao
sabor do movimento das águas, sobretudo ao tempo das enchentes do
Amazonas e seus afluentes.

Os fenômenos das enchentes e vazantes têm o inverno e o verão como


elementos explicadores. As descargas pluviais, caminhando no sentido sul-
norte, gastam 6 meses, desde os manadeiros dos rios Madeira, Purus e
Juruá, até os Japurá, Negro e Trombetas. Também, o fato não ocorre, ao
mesmo tempo em toda a planície do vale do Amazonas. Enquanto os afluentes
da margem direita, nos seus cursos superiores, enchem, os da esquerda, nos
cursos inferiores, vazam. No entanto, na planície de várzeas, ao centro das
grandes calhas, a subida da água é mais lenta que a descida, normalmente se
processando em 4 meses, enquanto que nos afluentes o tempo varia de 7 a 8
meses.

Á topografia e à estrutura dessa camada meio plutônica, assim como à


evapotranspiração, deve-se o mecanismo desse vai-e-vem alternado, nos dois
períodos do fluxo e refluxo. Dessa alternância, o desbarranqueamento nas
margens dos rios do vale amazônico é muito frequente, originando o
fenômeno das terras caídas66, provocado pela retenção das águas e falta de
drenagem interior.

Constituem a exuberância das 1200 a 1800 léguas de um rio que corta o Novo
Mundo em duas partes ao passar pelo Equinocial. Outro corte para ver o rio
permite

66
"terras caídas" é o fenômeno de desbarranqueamento das margens dos rios do estuário
amazônico.
32

descobrir as várzeas67, as florestas, as planícies. A floresta com sua


biodiversidade notabilizou o rio Amazonas entre os europeus pela variedade
de espécies tais como cacau, cravo, salsaparrilha e a canela. Sem a
preocupação de fronteiras entre várzea e terra firme mostra a variedade dos
ecossistemas deste rio que tem suas nascentes ao sul, na serra da
Mantiqueira, e ao norte, nas cordilheiras dos Andes.

Podemos seccionar as três zonas do vale, descritas pelo Padre João Daniel,
mais a título de introdução sintética.

4.1 - Delta do Amazonas

Complexo formado na parte mais setentrional com a região de Macapá e na


parte meridional próximo à cidade de Belém do Pará, tem sua verdadeira
entrada para o rio Amazonas na parte setentrional por ser o caminho mais
curto para as povoações do interior do Vale, e mais favorável à navegação. A
Ilha do Marajó é zona muito especial neste delta, pois faz frente ao mar num
lugar chamado Barreiras, onde o rio Amazonas está em constante luta com o
oceano Atlântico pela preservação de seu espaço natural. A Ilha é também
destaque do autor, por ter servido de morada para os primeiros portugueses
que chegaram ao vale e se instalaram no rio Arari, um dos principais entre os
rios que banham o arquipélago de Marajó.

Dentre os rios localizados na parte Meridional está o Tocantins que deságua


na embocadura das baias de Marapatá e Limoeiro; além do rio Acara, Capim
e Guamá. O rio Tocantins é o maior afluente do rio Amazonas, afirma o
missionário, que oferece, sinteticamente, informações sobre esse meio

4.2 - Médio Amazonas

O rio Nhamundá pode ser considerado o limite desta segunda divisão do


Grande Rio. Em 1758 serviu de baliza para a demarcação dos limites das
Capitanias de São José do Rio Negro e Grão-Pará68. Outros rios que
pertencem ao Médio Amazonas vindos do Norte são os rios Negro, Branco,
Trombetas, Jamundá, Surubuí, Purus, Parú, Yapoc, Napo e Santiago; vindos

67
Várzea é a planície fértil e cultivada de um vale.
68
DIAS, M.N. A Companhia Geral do Grão Pará e Maranhão (1755-1778), Brasil, 1970. p.43.
33

da parte Sul, são afluentes do Amazonas os rios Ucaiale, Javari, Tefé, Coari,
Japurá, Purus, Madeira, Mamoré, Guaporé, Tapajós, Coroá, Xingu.

4.3 - Baixo Amazonas

A foz do rio Javari delimita esta terceira divisão onde se localiza o início dos
rios Madeira e Solimões e as fronteiras das terras castelhanas e portuguesas.
Não foi esse espaço o que recebeu maior atenção do autor, o que permite
deduzir que esteve fora de suas visitas missionárias.

5 - Nacões Indígenas/ Diversidade de Culturas no Vale Amazônico

João Daniel, no capítulo 15°. da primeira parte, faz uma introdução sobre o
povoamento indígena e o que foi o choque demográfico. Escreve,
retomando afirmações do Padre Vieira, que nas 1.500 léguas do rio Amazonas
haviam índios. Enfatiza a grande fecundidade dos índios e indica que no rio
Urubú foram dizimadas 700 aldeias, enquanto no Rio Negro haviam sido
escravizados 300.000 índios. Tomando dados do seu antecessor, dizia que
em cada missão o número era superior a 5.000 arcos.

No intervalo de 1615 a 1652, foram dizimados dois milhões de índios 69. Os


estudos arquelógicos70 têm portado novas evidências que confirmam as bases
do crescimento e a depopulação como já mencionamos. As regiões de várzea,
plenamente ocupadas no período pré-colombiano permitiram por seus
recursos naturais, tipos de solos (aluvionais) e pela quantidade de biomassa,
um crescimento contínuo da população. A expansão de grupos Arawak foi
realizada por migrações milenárias em direção ao Caribe, entre os séculos
VIII e XII71.
A invenção da agricultura intensiva com adoção do método de defriches-
brules contribuiu para o adensamento dessas populações. Estes dados
servem de contra-argumento à Teoria sobre a Pobreza Ambiental, que avaliou
o ambiente tropical como limitante e responsável por sequências curtas e

69
Daniel, J., op. cit., pp.257-259.
70
Roosevelt, in: Cunha.M., pp:53-86.
71
d'ANS, André-Marcel. Haiti: Paysage et Société, Paris, 1987, pp.6-51.
34

simples de expansão, consideradas ainda como fortemente influênciadas


72
pelas culturas andinas .

As sociedades indígenas amazônicas, com diferenças entre elas, teriam


realizado a transição da caça e coleta para a agricultura intensiva. Para o
sistema extrativo, estabelece-se uma relação de 3 habitantes por km 2. para
áreas de fauna pobre. A várzea e a floresta de terra firme tinham capacidade
de alimentar uma população maior, elevando-se pelo menos a 10 pessoas
por Km2. Considerando a extensão somente do rio Amazonas, chega-se
aproximar a 1.500.000.000 habitantes (1,5 milhões), a populaçao. Outro
dado dígno de mencionar, para ilustrar a violência do processo depopulativo
descrito pelo religioso, é sobre a mortalidade dos índios. No ano 1749
morreram 30.000 índios nas missões vítimas da epidemia de sarampo aliada
com lombrigas (parasitos intestinais)73. Esse quadro de destruição é muito
forte. O balanco de perdas de vida e de culturas esta lúcidamente apontado.
Escreve João Daniel que no rio Amazonas falavam-se 62 línguas diferentes74.

Nesta segunda parte, João Daniel fez inúmeras anotações sobre suas
descobertas junto às sociedades indígenas amazônicas, o mundo cultural, que
o europeu colocou em um nível de inferioridade. O autor, etnologicamente, os
descreve como homens de epiderme e feições variadas e altura média como
os demais homens, sendo pessoas engajadas numa hierarquia de respeito
aos mais velhos, guerreiras e superticiosas. Dos seus costumes relata as
festas de casamentos e nascimento dos filhos onde, durante dias, tocam seus
torés, pau-que-ronca, bebendo mocororó . O vício de bebidas e o canibalismo
são praticados com luxúria e suas ingratidões ressaltam na descrição do
Padre.

Seu nomadismo era total. Homens, mulheres, crianças saíam sobre enormes
distâncias levando todos seus pertences: cabaça de jequitáia ou malagueta
para os guisados; panela e ralador que eram carregados na gutura75 pela
mulher. Os homens carregavam seus arcos e flechas. Seus destinos foram
modificados apesar da resistência, durante 20 anos, que fizeram aos
72
Cunha, M.C., op. cit. pp.53-87.
73
Daniel, J., op. cit., pp: 279-283.
74
I dem, pp: 259-262.
75
gutura: tipo de cesto feminino utilizado pelas indias.
35

colonizadores; suas armas eram arcos e flechas envenenados de bororé76. A


cada batalha prestavam homenagens ao sol, lua e estrelas, através de seus
ritos gentis. Das manifestações da natureza pensavam corresponder a forças
ocultas, com poderes inexplicáveis; um panteísmo evidente, que preside e
regula toda ordem de fenômenos naturais.

Nada acontece independente da vontade de um Deus particular, que a


crendice invoca para solicitar felicidade ou clemência, nos momentos da cólera
divina. A ficção é o ponto de partida de tudo que o aborígene procura investigar
e cuja verdade escapa à sua percepção. Nas suas buscas, em demanda do
infinito, esses mitos, que afinal satisfazem a sua ingênua curiosidade, se
refletem nos gênios do bem e do mal e que se encontram em todos os
lugares. Cumpre dizer, entretanto, que estes e outros mitos indígenas não são
inspirados no sentimento religioso. Fantasias das suas mentes, não lhe
atribuem um poder divino, se bem que sobrenatural.

Dentre as mais populares criações animistas77 do índio amazônico,


encontramos o Curupira, do qual falava o padre Anchieta, Maregravius e
diversos autores do tempo colonial. O Padre João Daniel conta-nos que o
Curupira era um habitante da floresta que não pratica somente o mal, mas
muitas vezes o bem. Para os indígenas e caboclos da Amazônia, os estrondos
que se ouvem na mata, de uma árvore que desaba, do pica-pau que broca um
tronco, em procura de alimento, é atribuído a essa entidade singular, a esse
pequeno caboclo, de grande cabeleira e calcanhares para a frente. O
Anhangá é a alma errante que torna mal-assombradas certas localidades,
onde o indígena não pode permanecer. É incorpóreo. O Uirapuru é um
pequeno pássaro que dá felicidade a quem pode apanhá-lo. O Bôto, sempre
disfarçado em lindo rapaz, vive fazendo seus galanteios nas sombras da roça,
sendo tantas vezes responsável pelo estado interessante (gravidez) das
cunhãs78.

O Jurupary é o espirito diabólico, que mora nos lugares tenebrosos. O índio


acredita que os infortúnios do homem são maldade desse demônio. É invisível
e manifesta-se pelos naufrágios, incêndios e quedas.

76
bororé: mistura feita com ervas para envenenamento das flechas.
77
Ver glossário.
78
Cunhã é a denominação de mulher na lingua indigena.
36

A Yara é o anjo das águas, radiante de beleza, a seduzir o pescador ingênuo


que viaja na igara pelos rios, lagos e igapós da Amazônas. É uma bonita ficção
que saiu do pensamento indígena. Finalmente, um dos mitos mais modernos
dentre as lendas do Amazonas retrata um senhor das florestas que
desorienta os homens e nunca se deixa surpreender: o Mapinguary.

Estas Nações Tupi79, tinham os rios como habitat natural. No Baixo Amazonas,
localizados no rio Tocantins ficavam os canoeiros extratores do cravo, canela e
salsaparrilha. Na ilha do Marajó ficavam os Nheengaíbas e seus aliados, os
Mamainases, habitantes da baia de Paraú até o estreito de Tajupuru. No
médio Amazonas, na margem esquerda, localizados no rio Nhamundá,
ficavam os índios Icamiábas, Cunaris e Uabas. Na margem direita, nos rios
Mamurú, Amana e Paranari estavam os Tupinambás, Sapupês, Maués e os
Mundurucus. Na parte mais ocidental do Grão Pará estava a aldeia Taucuéra
que reunia os índios Cunuris, Chereunas, Paracoianás, Paracuatás e os
Uabois.

No Alto Amazonas, nos rios Madeira e Solimões, localizavam-se os índios


Muras80 conhecidos tradicionalmente pelas suas correrias no Amazonas.
Constituída de uma enorme população, essa Nação provavelmente reunia
trânsfugas de outras etnias.

A base alimentar de grande parte dos índios amazônicos era a farinha de


mandioca preparada de formas variadas. Com água fria (chibé), quente
(mingau), feito beiju (bolo no forno)81.

O extermínio de cerca de dois milhões de índios, no período de 1615 a 1652,


foi superior à sua fecundidade. Ao ser extinta, em 1757, a lei de Redempção
de Cativeiros82, que objetivava trocar os cativos, prisioneiros feitos nas
guerras, deixou como saldo uma população indígena que havia sido dizimada

79
Cunha, M.op. cit.,p.382 e Daniel,J. op.cit. pp:259-262.
80
Muitas das sociedades indígenas ditas isoladas são descendentes de refratários, foragidos de
missões ou do serviço de colonos que se retribalizaram ou aderiram a grupos independentes,
como os Muras,in, Cunha, M. op. cit.,p.12.
81
ver glossário.
82
Daniel, J., op. cit., pp: 229-233.
37

neste processo de comercialização de índios escravos. A outra parte da


83
população ficou à mercê da Lei de Repartição dos Indios como mão-de-obra
livre para os colonizadores.

Na obra há uma separação clara entre a cultura indígena e a organização


social que estava se formando. Haviam transcorridos pouco mais de cem anos
de estabelecimento dos portugueses no vale Amazônico, com a fundação da
cidade de Belém do Grão Pará (1616)84, e precisamente a partir deste evento é
que se irradiava a penetração no vale. No delta Amazônico, em frente a
cidade do Pará, ficava a maior população portuguesa onde as riquezas de
plantas nativas como cacau, baunilha, salsaparrilha, cravo, canela, algodão e
mandioca, aliadas à extração do âmbar, bálsamo de umeri, eram
responsáveis pela economia. E assim, durante anos, os luso-brasileiros, por
temerem as cachoeiras dos rios Tocantins e Trombetas, permaneceram ali
mesmo.

Outras missões na calha do rio Amazonas eram Gurupatuba, emancipada


como vila de Monte Alegre, com grandes campos naturais; Tapajós,
emancipada como vila de Santarém; e Ibirari, emancipada como vila Alter do
Chão.

A entrada na terceira parte é um rápido inventário das riquezas do vale. Nas


suas minas, nos seus muitos e preciosos haveres...e na muita fertilidade das
suas margens85.

O Padre João Daniel é um entusiasta da região Amazônica, onde concebe o


reino da agricultura. Nos primeiros capítulos relata, opina, aconselha e projeta
o bom sucesso do cultivo da terra. O entusiasmo levou-o a citar searas e
legumes, frutas, sem deixar de produzir nos domínios da etnobotânica, as
variedades, as qualidades e as práticas de colheita e cultivo do cacau, arroz,
madeiras e plantas e em especial as palmeiras completam a narrativa sobre o
reino vegetal.

83
Esta Lei apregoava a liberdade dos índios de qualquer jugo; fosse das missões ou de
pessoas.
84
Vianna, H., op. cit., p.145.
85
Daniel, J., op. cit., pp: 284-296.
38

Diferente dos livros de viajantes, não se trata de um diário de viagem que


amarra a geografia e vida social aos seus flashes. Não se trata de uma obra,
como a de Alexandre Rodrigues Ferreira86, muito mais próxima no interesse de
classificar.

A obra termina pelo misterioso Tesouro Descoberto do rio Amazonas - os


gêneros de especiarias ou dos haveres das terras do Amazonas. É uma lista
fascinante de espécies extrativas, como se intencionalmente cedesse ante a
evidência de uma riqueza aguardando ser explorada. Desses gêneros haviam
desaparecido em áreas inteiras a canela, o cravo, ou eram menores as
colheitas, como a salsaparrilha.

O discurso reflete aquilo que Costa analisou como a ideologia extrativo


agrícola. Rejeitou-se o extrativismo, e coloca-se no seu lugar a agricultura, pois
ela disciplinara o trabalho dos homens, sobretudo da força do trabalho
indígena; mas, na prática, o ideal agrícola sucumbe ante a força econômica
que impulsiona o extrativismo87.

Procedeu-se leitura e releitura da obra. Na primeira, fez-se uma leitura


corrente para entendê-la, familiarizar-se com os estilos e as denominações. Na
segunda, efetuou-se um fichamento analítco seguindo a composição do
trabalho.

86
Braun apresenta idéias sobre as primeiras missões científicas realizadas na Amazônia, como
a de Alexandre Rodrigues Ferreira, iniciada em 18 de Setembro de 1781, e que apresenta
informações sobre a viagem onde "durante 10 anos o cientista e naturalista percorreu o Vale do
Amazonas, tendo iniciando a viagem com a expedição do Roteiro Geográfico de Marinho de
Souza e Albuquerque, Governador e Capitão General do Estado do Brasil", in, Braun, J.V.M.
de., Roteiro Corographico in, Revista Trimestral de História e Geographia, Brasil, 1849.
pp:289-305.
87
Costa, F.A. Valor e preço, exploração e lucro da produção camponesa na Amazônia: críticas
à noção de funcionalidade da produção familiar na fronteira agrícola, Belém-Pará, 1991,
pp:177-206.
39

II - O Sujeito: A História Social dos Sistemas Agrários no Vale do


Tocantins baseada na obra do Padre João Daniel

1 - A ocupação colonial do vale do Tocantins

A cartografia do século XVII destacou o rio Pará, depois chamado Tocantins,


que batizou a grande extensão colonial portuguesa no norte com o nome de
Estado do Grão-Pará. Este corresponde a referência mais forte da dominação
portuguesa. Essa via é a segunda em tamanho depois da artéria central ou rio
Amazonas. É o seu maior afluente, situado à margem direita.

O rio Tocantins, entretanto, foi a via encontrada por Pedro Teixeira para
tomar posse e fundar a vila de Belém do Pará 88. Esse rio tem sua foz no delta
Amazônico, na embocadura das baias do Limoeiro e Marapatá,
geograficamente localizado na Amazônia Oriental a 1° 72' 60" de Belém. Ele
atravessa os Estados do Pará, Maranhão, Goiás e o Estado que levou seu
nome89.

Na época colonial não encontravam-se povoações em 15 dias de viagens vale


adentro. Porém, à jusante, ou Baixo Tocantins, a ocupação se deu de forma
rápida. A partir de 1750, com a transformação das missões em vilas, pode-se
observar este fenômeno. A vila de Cabi-Colares foi emancipada em 1757 e
logo em seguida, na ilha de Marajó, fundaram a vila de Santa Ana. Daí em
diante se instalaram no rio Moju 40 moradores portugueses e no rio Acará
foram implantados seis sítios. Foram fundadas as vilas de Cametá, Oeiras e
Melgaço.90

2 - Os Navegadores do Vale do Tocantins

Durante todo o primeiro século após a descoberta do Brasil, somente os


franceses, ingleses e holandeses estiveram na região. Em 1610 os franceses
estabeleceram uma Feitoria na foz do Tocantins 91, provavelmente para manter

88
Vianna, H., op. cit., pp: 166-167.
89
O rio Tocantins com aproximadamente 2.400 quilometros de extensão corta 10% do território
brasileiro ao atravessar desde o Planalto Central até o estuário amazônico, in, Pinto, L.F.
Jornal Pessoal, n°120, março de 1994.
90
Velho, O.G., Frentes de Expansão e Estrutura Agrária, Rio de Janeiro, 1972, p.18.
91
Idem, p.19.
40

uma ligação entre o Pará e sua colônia no Maranhão. Com isto, La Blanjartier
penetra no rio Tocantins e o explora até a cachoeira de Itaboca, a qual era o
grande obstáculo e divisor do curso inferior do Tocantins, facilmente
navegável, e o seu curso médio. Em 1613 Daniel La Touche penetra
novamente no rio Tocantins, e alcança a confluência com o rio Araguaia92.

A colonização portuguesa na Amazônia se restringia à área em torno do delta


do Amazonas, onde se praticava alguma agricultura, especialmente de cana-
de-açúcar. As expedições eram organizadas com a finalidade de exploração,
apresamento de índios e de coleta das drogas do sertão. O retardamento do
povoamento do vale do Tocantins, no seu curso médio reflete, em parte, o
desinteresse dos portugueses pela colonização do norte brasileiro.

Com a desorganização do mercado de açúcar no século XVII, e a perda do


mercado das especiarias no Oriente, iniciaram-se as primeiras incursões
periódicas ao longo dos rios. Com isto, na segunda metade do século XVII
acelerou-se a infiltração no vale do Amazonas. A primeira expedição
portuguesa ao rio Tocantins data de 1625, feita pelo Frei Cristovão de
Lisboa, indo até a cachoeira de Itaboca.

Em 1653, o Padre Antonio Vieira esteve no Tacanhonha (atual rio Itacaiunas)


principal afluente da margem esquerda do rio Tocantins. Porém, a exploração
de maior importância neste rio aconteceu em 1721, qundo foi percorrido desde
a cachoeira de Itaboca à foz do rio Araguaia. Outros navegadores a
alcançarem a foz do Araguaia em 1669, foram Gonçalo Paes e Manuel
Brandão93. Finalmente, em 1724 Bartolomeu Bueno da Silva Filho percorreu
todo o rio Tocantins, vindo de Goiás à Belém.

Apesar da importância marítima do rio Tocantins para a navegação no vale


amazônico, em 1737 o Conselho Ultramarino proibe nele a navegação de
curso. A Coroa, temendo o desvio dos metais preciosos do norte através da
navegação desse rio, somente em 1781, com a decadência da atividade
mineradora, reabriu-o à navegação. Estas medidas atingiram diretamente as
atividades de comércio e de resgate do ouro de Goiás e de Cuiabá, e foram

92
Velho sistematizou os fatos da conquista do vale do Tocantins, Velho. O.G., op. cit., pp.18-
20.
93
Velho, O., op.cit. p.21
41

adotadas com maior rigor pelo governador e Capitão General do Grão-Pará e


rio Negro, José de Nápoles Tello de Menezes, no período de 1780 a 1783.
Estas medidas buscavam evitar o contrabando de ouro e de mantimentos,
assim como de escravos da região de Cametá para as Capitanias vizinhas.
Neste período de interdição, o governo do Grão-Pará e Maranhão concebeu
projetos de vigilância e proteção das comunicações com as Capitanias de
Goiás e Cuiabá, culminando com organizações de nucleamentos abaixo da
cidade de Cametá, localizada sobre o rio Tocantins94.

No rio Tocantins, à margem esquerda superior e na primeira cachoeira de


nome Tapaiunacoara fundou-se o lugar de Alcobaça, com povoadores
indígenas, onde estabeleceu-se o forte de Fachina, com o nome de Nossa
Senhora de Nazaré95.

Com este ponto de fiscalização, os indígenas Timbiras, Carajás, Apinagés,


Gaviões, habitantes d'aquellas margens ficaram igualmente sob controle,
evitando-se as tentativas de agressão às canoas destinadas ao comércio do
governo e de particulares. No baixo Tocantins, os Jesuítas haviam
organizado as aldeias de Minas da Natividade e Arraial Grande; Arraial e
Minas do Carmo, Minas e Arraia de Portugal; Corixas, Minas e Arraial Grande,
Rio Corixas e Arraial e Minas de Amaro Leite96.

No entanto, nesta área tentava-se organizar os negócios, e aos comerciantes


lhes foi atribuído o papel de promotores de intercâmbios com os moradores
das terras mineiras. Para este fim, empreendeu-se a busca de canais e de
facilidades de navegação, que permitissem aumentar o trato mercantil. Do ano
de 1797, data a fundação do povoado de São João do Araguaia97.

No final do século XVII, o rio Tocantins havia sido todo percorrido. A vila de
Cametá foi fundada, em 1635, na foz do rio Tocantins, próximo ao delta do
rio Amazonas, abundante em cravo, canela, salsaparrilha e, sobretudo,

94
Baena, A.L.M., op. cit., p.231.
95
Idem, p.200.
96
Daniel, J., op. cit., pp:41-49.
97
Baena, A.L.M., op. cit., p.231.
42

cacau que já era cultivado pelos colonos. E, em 1694, começava a surgir


acima de Cametá, um aglomerado da atual cidade de Baião 98.

3 - Povoação Colonial: mudança na paisagem humana do Vale do


Tocantins

Depois do colapso demográfico, a região veio recompor seus quadros de


população a partir da metade do século XVIII, em parte com a introdução de
escravos da Àfrica, com participação especial da Companhia de Comércio99.
A força de trabalho escravo passou a ser o elemento da ocupação econômica
de novas terras tropicais do Atlântico brasileiro. A tabela 2 permite visualisar
a população da colônia brasileira. A Capitania do Pará, onde localiza-se a
região de estudo, representava 3,5% e que, somando com a do Rio Negro
totalizava 4,1%. O povoamento colonial mostra situações contrastantes. A
maioria das Capitanias regula um tamanho de população semelhante as duas
do norte, onde o forte foi encontrar populações abaixo de 60 mil habitantes.

No extremo estavam as Capitanias populosas com mais de 215.000


habitantes. Bahia tinha o maior número de habitantes. São Paulo é a única
que contava com um tamanho intermediário (116.975 habitantes). Significa
que a situação do Pará não era excepicional e reafírmam-se as dificuldades
para o repovoamento e a condução desse processo a rítmo lento.

Algumas alterações observam-se na passagem para o século XIX (Tableau 3),


entretanto, o Pará não registrou alterações enquanto outras Capitanias
experimentaram um salto demográfico. Minas Gerais ocupou o primeiro lugar,
seguida por Pernambuco em efetivos populacionais.

98
Velho, O.G., op. cit., p.19.
99
Dias, M.N., op. cit., pp: 58-60.
43

Quadro 2: Distribuição da população do Brasil, 1776

LOCAL TOTAL PERCENTAGEM


Rio Negro 10.386 0,6
Pará 55.315 3,5
Maranhão 47.410 3,0
Piauí 26.410 1,7
Pernambuco 239.713 15,4
Paraíba 52,468 3,4
Rio Grande do Norte 23.812 1,5
Ceará 61.408 3,9
Baía 288.848 18,5
Rio de Janeiro 215.678 13,8
Santa Catarina 10.000 0,6
Rio Grande São Pedro 20.309 1,3
São Paulo 116.975 7,5
Minas Gerais 319.769 20,5
Goiás 55.514 3,5
Mato Grosso 20.966 1,3
TOTAL 1.555.200 100,0

Fonte: Alden, D., "The population of Brasil in The late eighteenth century: a preliminary survey"
Hispanic American Historical Review (HAHR), 43,2 (mayo 1963), pp.173-205 in: Leslie
Bethell ed. História de America Latina.
44

Quadro 3 - Distribuição da população do Brasil entre 1797 - 1810


ANO DE NUMERO DE % POPULAÇÂO
CAPITANIA INFORMAÇÂO HABITANTES TOTAL FONTE
RIO NEGRO/PARÀ 1801 80.000 3,8 A
MARANHÂO 1798 78.860 3,8 A
PIAUÍ 1799 51.721 2,5 B
PERNAMBUCO 1810 391.986 19,0 C
PARAÍBA 1810 79.424 3,8 C
RIO GRANDE NORTE 1810 49.391 2,4 C
CEARÁ 1808 125.764 6,1 D
BAHIA 1799 247.000 11,9 E
RIO DE JANEIRO 1803/1810 249.883 12,1 F
SANTA CATARINA 1797 23.865 1,2 G
RIO GRANDE SUL 1802 38.418 1,8 H
SÂO PAULO 1797 158.450 7,5 I
MINAS GERAIS 1805 407.004 19,7 J
GOIÀS 1804 52.076 2,5 K
MATO GROSSO 1800 27.690 1,3 L
TOTAIS 2.061.657 99,4

Fonte: A. Colin M. MacLahlan, "African slave trade and economic development in Amazonia,
1700-1800", en R. B. Toplin, ed., Slavery and race relations in Latin America, Westport, 1974,
p.136. B. F. A. Pereira da Costa, Chronologia histórica do Estado do Piauhy desde os seus
primitivos tempos até...1889, Recife, 1909, p.109. C. Carta de lord Strangford al marqués de
Wellesley, Rio de Janeiro, 20 de mayo de 1810, PRO, FO 63, 84, ERD, 2.255 (cópia facilitada
por el Dr. F. W. O. Morton). D. Luiz Barba Alardo de Menezes, "Memória sobre a capitania do
Ceará" (1808), Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB), 34 (1871), p.276,
cuadro 3. E. Luiz dos Santos Vilhena, Recompilação de noticias soteropolitanas e
brasílicas...em XX cartas, ed. Braz do Amaral, 3 vols., Bahía, 1921, vol. II, p.481. F. Los datos
para la ciudad de Rio de Janeiro han sido sacados de un censo de 1803, en Strangford a
Wellesley, véase C anterior. También está incluida la capitania subordinada de Espirito Santo,
pero yo he deducido los datos para Santa Catarina. G. João Alberto de Miranda Ribeira, "Dados
estadísticos sôbre...Santa Catarina, 1797", Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (BNRJ), II-35,
30,3. El censo de 1810 (C) da 31.911. H. "Mappa de todos os habitantes da capitania do Rio
Grande de São Pedro do Sul...1802", Arquivo Histórico Ultramarinho (Lisboa), documentos
sueltos (miscelánea de documentos) (AHU, PA), Rio Grande do Sul, caja I. Yo he anãdido al
total existente 1.697 ninõs menores de un anõ no contabilizados. I. "Mappa geral dos habitantes
da capitania de São Paulo no anno de 1797", Arquivo do Estado de São Paulo (DI), Publicação
45

oficial de documentos interessantes para a história e costumes de São Paulo (DI), 31 (1901),
pp.151-155, 157. J. A. J. R. Russell-Wood. "Colonial Brazil", en David W. Cohen y Jack P.
Greene, eds., Neither Slave nor Free, Baltimore, 1972, p.97. K. Luis Antonio da Silva e Souza,
"Memória...de Goiás" (1812), RIHGB, 12 (2a.ed.), 1874, pp.482-494. L. Caetano Pinto de
Miranda Monte Negro al vizconde de Anadia, 17 de abril de 1802, RIHGB, 28,1, (1865), pp.125-
127. in: Leslie Bethell ed. História de America Latina, p.309.
46

A colonização do extremo-norte do Brasil refletiu na entrada do século XIX com


os efeitos da política mercantilista executada pelo ministério Pombalino. A
mudança do sistema de colonização, que se seguiu à liberdade dos índios e à
expulsão dos Jesuítas, tem seu coroamento na lei de 6 de junho de 1755 100.

Os centros mais importantes de povoamento situaram-se às margens do rio


Tocantins e no delta do rio Amazonas. De antigas aldeias indígenas
transformaram-se, no decorrer do século XVIII em Freguezias ou Lugares de
Índios101.

O vale do Tocantins, de forma segmentada e concentrada, viu aumentar sua


população. Batizando as antigas aldeias missionárias com nomes portugueses
em substituição aos indígenas, Mendonça Furtado 102 eleva 46 aglomerados
humanos à categoria de vilas. Dentre elas, destacam-se no vale do Tocantins
as vilas de Acará (1758), Abaetetuba (1758) e Baião (1769)103.

A apresentação dos dados censitários do vale do Tocantins permitem avançar


várias hipóteses sobre o povoamento.

1) O povoamento avança sobre a superfície incorporada a sistemas agrários


diversificados: plantation ( cana-de-açúcar em Igarapé-Miri e cacau em
Cametá).
Quadro 4: População do Vale do Tocantins, 1823
Localisation Esclaves Indiens Total
Cametá 1.382 ---- 9.450
Baião 450 ---- 1.950
Acará 1.437 ---- 2.976
Moju 1.728 ---- 3.157
Igarapé-Miri 1.839 ---- 3.573
Abaetetuba 1.639 ---- 4.064
Barcarena 365 ---- 837
Conde ---- 271 400
Beja ---- 886 886

100
Daniel, J. op. cit.
101
ver glossário.
102
DIAS, M.N., op. cit., p.77.
103
Idem, pp.79-81.
47

Fonte: BAENA, A.L.M., Ensaio Corográfico sobre a Provincia do Pará, 1829. pp: 282-371.
2) Houve perdas de populações indígenas, seja por descaracterização
censitária, seja pelas observações dos índios localizados nos denominados
Lugares de Índios para as Freguezias.

No período 1765-1769 pode-se diferenciar dois tipos de sistemas agrários


integrados ou não ao mercado. As unidades camponesas tinham dois tipos de
inserção. As vilas de Mojú e Acará representam forma integrada ao mercado,
ao contrário das vilas de Beja e Irituia que se apresentam menos integradas.
A agricultura indígena, encontrada nos Lugares de Índios, apresenta-se com
tendências a dominação do mercado.

Quadro 5 - Mapa da população do Vale do Tocantins segundo os "Roes dos


Confessados" em 1765
IGREJAS, PAROQUIAS, NUMERO DE HABITANTES
FREGUEZIAS E POVOAÇÕES Adultos - Menores
Acará 352 200
Moju 204 4
Igarapé- Miri 108 -
Abaetetuba 191 12
Cametá 4.180 551
Beja 157 62
Conde 317 60
..................... .....................
Total da População do Gão-Pará 24.150 3.986
Fonte: A.H.V - C.P.n.27 (1765); A.P.P. - CM.códice n° 954. Estatística da População (1765 -
1769).

Quadro 6 - Estado do Pará e Maranhão: número de Oficiais e índios em


serviço
(1775 - 1777)
1°/07/1775 1°/07/1776 1°/07/1777
FREGUEZIAS TOTAL oficiais TOTAL oficiais oficiais indios
indios indios TOTAL
Conde 77 4 73 75 6 69 62 7 58
Beja 24 7 17 77 6 71 59 7 52
Barcarena -- - -- 15 2 13 13 2 11
Bayão -- - -- 9 1 8 24 1 23
................. ..... ..... ...... .... ..... ..... ... .... ......
48

Total Grão-Pará 3.020 122 2.898 2.618 124 2.494 3.069 150 2.919
Fonte: A.P.P. - C.M. Códice n. 956. Estatisticas da População (1775, 1776 e 1777).

Vários desses povoados têm a definição de Lugar de Índio, que constituíam


resquícios dos antigos aldeamentos. As Freguezias de brancos indicam a
concentração dos colonos, descendentes, inclusive escravos e índios sob sua
dominação. Os quatro Lugares de Índios do vale do Tocantins experimentaram
perda de população conforme depreende-se dos dados da tabela 6. Essa
oscilação ocorria pelas transformações mas, em geral, os Lugares de Índios
decrescem até o final do Diretório do Índio em 1758.
49

4 - Sistemas Agrários do Vale do Tocantins

A sinalização da ruptura provocada pela colonização fez das terras do vale do


Tocantins zonas de extração intensiva com a busca da canela, utilizando os
indígenas submetidos ao regime escravista ou de aldeamento.

A economia extrativa experimenta uma certa transição para a agricultura. O


vale desponta como as terras para os ensaios de agricultura do cacau, em
substituição à destinação de extensões em cana de açucar. A produção
agrícola de exportação com base no cacau convive com a agricultura de
elementos que mantiveram posições oscilantes, entre expansão e retraimento,
sobretudo na segunda metade do século XVIII e início do XIX (quadros pp:81-
85).

Após a queda do cacau, recompõe-se uma agricultura familiar estacionáaria.


Da fase do cacau retem-se o aumento da população escrava de origem
africana, como observou-se em Cametá, e do seu declínio, a estagnação
desse crescimento no século XIX.

O curso do rio Tocantins foi reconhecido como o reino da canella e do cravo


explorados de forma intensiva desde os fins do século XVII. Em 1684
recomendava-se o plantio nas abas das povoações árvores de canella e cravo
da mesma qualidade descoberta neste afluente em 1969, esgotada em
104
algumas dezenas de anos pelo tipo de corte . Em documento de 24 de
novembro de 1686 pedia-se diligência para a sua existência no Tocantins105.

O que aconteceu com a canela revela a pressão do mercado e os efeitos


depredadores da exploração. Debates sobre esta espécie, datados de 1587 106
e 1696107, refletem as dificuldades que remontam à origem da canela
expressas em documentos opostos, tais como: e dá outras árvores que dão
canella, se for à terra quem a saiba beneficiar será como a de Ceilão", ao
mesmo tempo que o francês Labat reflete na possibilidade de aclimatração da

104
Baena, A.L.M., op. cit., p.105.
105
Rodrigues Ferreira, A., Viagem Filosófica no Rio Negro. MPEG:CNPq, Belém, 1971, p.113.
106
"Os Portugueses do Século XVI e a História Natural do Brasil", in: Revista de História,
1926, op. cit., p.114.
107
Idem, p.115.
50

canela: " on sait que les portugais ont un grand nombre de caneliers au Brésil,
soit qu'ils en ayent apporté l'espèce avec eux quand ils furent obligez
d'abandonner l'Isle de Ceylan.

O desconhecimento da existência de espécies diferentes da caneleira gerou


esse tipo de discussão. No Brasil, desde a primeira metade do século XVI, a
canela já era conhecida, enquanto no Ceilão só foi identificada no período de
1765- 1770108.

Encontra-se em Carta de Padre Vieira escrita em 27 de dezembro de 1672 109,


um enorme preâmbulo para justificar os interesses concorrentes entre
portugueses e holandeses, para Duarte Ribeiro de Macedo sobre as Relações
Diplomáticas de Portugal com a França: mais depressa nos darão os
Hollandezes uma das melhores praças de Hollanda, que Ceilão, e muito
menos Ceilão e Cochim, que vem a ser dar-nos a pimenta e canela que são
as principais drogas do seu comércio.

As drogas do sertão passaram a ser a fonte de poder do Reino Português.


Rodrigues Ferreira explicitava esse sustentáculo econômico de Portugal: as
drogas do certão são para o Estado do Pará, o mesmo que as minas tem sido
para Portugal, ao mesmo tempo, em que desencadeia a discussão da
necessidade da racionalidade no processo da exploração dos produtos
extrativos. O naturalista narra a falta de cuidados com a extração da salsa que
era tirada ficando a mamaiapoca110 disposta na terra sem condições de
reprodução, ao mesmo tempo em que o cravo era arrancado das árvores
sem maturação impedindo a sua multiplicação.

O exemplo da comercialização do cravo, serve, também, para desestimular o


extrativismo em 1769: 9$60 réis se vendera o cravo de uma feitoria de seis
meses que só não fez o negocio que projectava, mais ainda em cima,
ajustadas as contas das despezas, que fizeram no espaço de 6 a 7 meses, a
dízima, a quinta do cabo, a sexta do diretor, não veio a caber a cada índio o

108
Ibdem, p.116.
109
Fondation Caloustre Goulbenkian, Quadro Elementar das Relações Políticas e
Diplomáticas de Portugal com as diversas Potências do Mundo, T. IV, Parte II, Pariz,
MDCCCXLIV, p.102.
110
ver Glossário.
51

importe de 1$200 réis por mês...Ainda que tarde, entenderão finalmente estas
máximas os moradores das villas de Cametá e de Óbidos111.

Em seguida a várias argumentações desta natureza, foi elaborado alvará em


22 de março de 1688 onde o rei, através do Governador e Capitão General do
Estado, Sr. Gomes Freire de Andrade, proibia a extração da casca do pau
cravo por 10 anos nas imediações dos rios Capim e Tocantins112.

A colheita de 85.000 arrobas de cacau de cultivo vendida ao preço de 1$500


réis a arroba113 em 1783, reforça a discussão da agricultura das drogas do
sertão. O sucesso de um fazendeiro de cacau 114 de Cametá incentivou o
plantio e a regulamentação desse tipo de agricultura. O efeito demonstrativo é
assim utilizado: tivessem posto em practica, estarião hoje as povoações na
opulência, em que esta a villa de Cametá, colhendo na sua mesma casa
aquelle abundante genero, que tanto aproveita aos seus lavradores, e que
tanto custa aos pobres índios, que os vão buscar ao certão com tanto
deterimento das suas famílias, e as vezes com muito pouco lucro da sua
negociação115.

Parte desse incentivo, que resultou em plantio de cacau, e parte da coleta do


sertão contribuiem para uma fase próspera do Pará. Ferreira fez a trajetoria
dos primeiros anos, escreveu: tirou-o o Estado no ano de 1784, vindos a
acontecer n'elle um phenomeno, que se não póde explicar de outro modo.
Porque tendo sido insignificante a colheita do cacao do certão, foi por outra
parte significantissima a sua exportação, subindo ella ao mappas da
exportação desde seis anno de 1730 por diante. O mais que se tinha feito
desde então até agora sabem todos, que forão 85.000 arrobas no anno de

111
Rodrigues Ferreira, A., op. cit., p. 128.
112
Idem. p.127.

113
Vergolino-Henry, A. & Figueredo, A.N.. A presença Africana na Amazônia Colonial: Uma
notícia histórica, Pará, 1990, p:93.

114
Idem, p: 94.

115
Rodrigues Ferreira, A., op. cit., p.122.
52

1747. Os preços foram caindo 4$800, 4$200, 4$000, 3$600, 2$500, 2$400,
1$600, 1$500, 1$300, 1$200, 1$000 e 960 réis 116.

Dauril117 estudou a economia do cacau e elaborou as curvas do produto,


situando a queda do preço e da produção às vésperas da Independência.

116
Idem, p. 122.
117
Alden, D., O Significado da Produção de Cacau na Região Amazônica. Belém. UFPa. 1974.
53

Quadro 7: O Cacau como uma percentagem das exportações totais do Pará no


período de 1776 - 1822 (em réis)
Exportações Percentagem
Ano Totais Cacau Cacau
1776 156.231.475 87.473.250 55
1777 131.061.955 87.771.100 66
1796 330.464.055 100.563.485 30
1797 255.506.350 155.996.400 61
1798 381.320.280 207.607.400 54
1799 565.109.863 269.766.400 47
1800 598.504.930 305.234.400 50
1801 279.056.983 122.502.500 43
1802 417.127.689 167.519.637 40
1804 478.378.124 188.573.875 39
1805 623.312.420 299.213.550 48
1806 752.708.741 508.980.000 67
1822 560.499.070 310.586.160 55
Média -- -- 50,39
Fonte: Alden,D., O Significado da Produção de Cacau na Região Amazônica. Belém. UFPa.
1974. p.56.

Daí para adiante, o fomento à agricultura das drogas do sertão foi se tornando
menos rotineiro. Em carta de 20 de agosto de 1681 encarregava-se Fernando
Rammes a fomentar a cultura da baunilha (tableau 8) também no rio
Tocantins. A salsaparrilha, insistiam na sua colheita, cujo dízimo dos direitos
já em 1709 alcançara do arremate o preço de 180$000 réis. O anil, em 21 de
março de 1688, teve mandato do rei para que se organizasse uma fábrica em
Cametá por haver muita herva de anil. Finalmente foi instalada uma fábrica
no sítio de Simão Borges Fernandes, no rio dos Tocantins, em 1728 118 .

118
Rodrigues Ferreira, A., op. cit., p. 81.
54

Quadro 8: Produção de Baunilha no Pará no ano de 1759


Ano Arráteis Total
1759 6,5 5$780
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.235.

Quadro 9: Produção de Salsaparrilha no Pará: período 1759-1842


Anos Arrobas Total
1759 100 385$414
1760 531 4.090$761
1761 3.515 21.706$936
1762 804 3.394$346
1763 773 3.757$084
1764 607 3.248$756
1770 1.786 8.801$805
1771 53 265$570
1772 1.439 7.026$425
1773 390 3.151$026
1774 1.372 10.864$324
1775 996 7.871$339
1776 1.408 10.910$380
1777 2.835 21.261$336
1778 1.469 11.571$731
1779 1.702 18.897$857
1780 790 9.060$259
1781 1.272 14.923$680
1782 475 5.418$847
1783 1.969 21.236$429
1842 1.550 19.732$062
Parcial 7.758 89.269$134
Total 25.836 207.576$367
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988, p.242.
55

Quadro 10: Produção de Anil no Pará: período 1775-1779


Anos Arrobas Arretéis Total
1775 -- 18,5 30$428
1776 -- 14,5 23$786
1777 -- 20 19$515
1778 2 16,5 107$501
1779 5 6$928
Soma 2 74,5 188$158
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.234.

Em 28 de junho de 1776, Marcos Joseph Monteiro de Carvalho baixou as


primeiras instruções para a agricultura no Estado do Pará, coincidindo com a
suspensão da remessa de puxuri e baunilha que há tempo não tinha extração
estando em decadência comercial, juntamente com o cravo fino e grosso 119.

119
Rodrigues Ferreira, A., op. cit., p. 162.
56

Quadro 11: Produção de Cravo Fino no Pará: período 1758-1848


Anos Arrobas Total
1758 103 560$401
1759 2.755 12.500$609
1760 323 2.302$555
1761 1.827 13.981$313
1762 461 3.189$756
1762 436 3.200$857
1764 143 1.157$780
1770 691 5.114$647
1771 1.411 10.610$358
1772 2.071 15.266$588
1773 1.400 11.323$973
1774 2.225 16.497$916
1775 3.839 28.413$979
1776 700 5.081$924
1777 800 3.996$740
1778 53 319$304
1779 25 210$902
1780 539 4.634$363
1781 522 4.461$402
1782 275 2.302$947
1783 450 3.516$525
1784 252 1.551$600
1848 1.245 14.141$214
......... ........ ..................
Total 22.546 164.337$653
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.238.
57

Quadro 12: Produção de Cravo Grosso no Pará: período 1758-1788


Anos Arrobas Total
1758 3 9$600
1759 1.814 5.632$806
1760 57 523$832
1761 4.517 21.516$925
1762 1.073 4.601$964
1763 791 3.597$719
1764 769 3.849$999
1770 3.529 14.283$749
1771 337 1.337$661
1772 1.365 5.331$853
1773 870 3.505$111
1774 280 1.107$167
1775 897 3.540$918
1776 605 2.345$593
1777 105 318$487
1778 6 14$711
1779 57 234$282
1780 538 2.312$681
1781 89 381$931
1782 229 1.516$769
1783 249 1.561$923
1784 159 1.110$204
1788 110 594$008
......... ....... ...............
Total 18.449 79.229$893
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.239.
58

Os dados até agora recolhidos nesta pesquisa não permitem distinguir as cifras
da produção extrativa e agrícola do vale do Tocantins. Identificou-se uma
fonte secundária indicando a participação dos índios, deste extraímos os
dados sobre o rendimento do cacau registrado na Tesouraria do Comércio dos
Índios, que apresentou 0,3% do total.

Quadro 13: Rendimento do Cacau da Tesouraria do Comércio dos


Indios(1764)

Localidade Cacau
Arrôba
Beja 1
Conde 226
Barcarena 2
.................. .........
Total da Capitania do Grão-Pará 6.968(*)
Fonte: Cf. Carta de Fernando da Costa de Ataíde Teive a Mendonça Furtado, data do Pará a 18
de abril de 1765 (A.N.R.J. - C.G.C.,1764-1765) in: Reis, p.110.

Segundo Nunes, no ano seguinte, em 1765, a produção cacaueira dos índios


subiu a 10.158 arrobas. A arroba era negociada a 1$500 réis proveniente não
só do cacau mas, ainda, dos demais produtos agrícolas, extrativos e
industriais como a salsaparrilha, a estopa do mato, o tabaco, o óleo de
copaíba, o algodão, o milho, o feijão, a manteiga de tartaruga, o azeite de
andiroba, telhas e louça.
59

5 - AQUISIÇÕES AGRÍCOLAS E NOVOS SISTEMAS AGRÁRIOS NO VALE


AMAZÔNICO

No século XIX, a divisão geral da história da agricultura, distinguia, do ponto


de vista econômico, dois períodos. O primeiro da agricultura doméstica, ou
das atividades para consumo e o novo período, da agricultura industrial
sintetizada na busca de produtos agrícolas para vender 120. Esta segunda
motivação ou objetivo estabelece bem o contexto em que se desenvolveu a
agricultura concebida pelos colonizadores para as terras americanas, e que
nesta fase articula o eixo da organização da economia mercantil.

Integrando uma visão contemporânea do que seja a agricultura, conforme


escreveu Bertrand, pode-se interpretar que a agricultura não é somente uma
ruptura do ecossistema121 natural, mas ela é também uma virada da produção
natural com fins exteriores ao funcionamento do ecossistema.

As intervenções nos ecossistemas do vale amazônico, durante os primeiros


séculos da conquista, significam a implantação de tipos particulares e novos de
agrossistemas122. Esta apreensão ajuda a destacar, provisoriamente, duas
observações. Primeiro: considerar que nos ecossistemas naturais explorados
pelos grupos indígenas realizaram-se rupturas, mas que estes desenvolvem-se
conforme um cheminement circular que tenderia ao equilíbrio. Segundo,
verificar e elaborar hipóteses, sobre as situações de desequilíbrio e quais
seriam suas evidências por marcas na paisagem (grandes desmatamentos,
erosão, sistemas de irrigação).

120
Segundo definição do Grand Dictionaire Universel du XIXéme siècle. Pierre Larousse, Tome
I. p.142, Paris, 1866
121
Écosystème como "une entité ou unité naturelle que inclut les parties vivants pour produire
um système stable dans lequel les échanges entre les deux parties s'inscrivent, dans des
cheminements circularies (E.P.Odum, 1958); ou comme "la représentation globale et
énergétique d'une parte des réseaux d'êtres vivants entre eux, d'autre part des relations entre
ces êtres vivants et leur environnement matériel". in:BERTRAND. G."L'impossible tableau
géographique", en Duby. G. y A. Wallon (eds.). Histoire de la França Rurale. PUB. Paris. Tomo
I. p.

122
Agrosystèmes sont les écosystèmes naturels désorganisés dont la base alimentaire est
essentiellement constituée par les cultures; la lutte contre les "nuisibles" est donc un aspect de
la dynamique permanente de l'agrosystème. in: BERTRAND. G. op.cit. p.
60

A Arqueologia, a Etnobotânica, a Geografia e outras ciências que se


interessam pelas relações de sustentabilidade do homem (CSH) 123 num
ambiente, indicam que os ecossistemas da Amazônia, em especial as
várzeas, foram favoráveis aos aumentos de população com equilíbrio. Dai que
a noção de agrossistema e a manutenção de equilíbrio sejam importantes para
avançar nessa discussão.

A ruptura no ecossistema, que advêm da busca de produtos para o mercado,


produziu mudanças nos ecossistemas e sobretudo gerou desequilíbrios. O
interesse está em conferir quais os agrossistemas que se desenvolveram e a
capacidade e as formas de desequilíbrio (ou condições de equilíbrio) que se
apresentam, o que parte da interpretação de alguns elementos dos modelos de
agrossistemas.

Assim, afirma-se que no período da colonização os ecossistemas naturais


experimentaram mudanças. Estas têm uma intensidade maior e sobretudo
respondem por móveis diferentes (o comércio); que produzem rupturas, com
efeitos desequilibradores, muito facilmente identificáveis. A exemplo dos
efeitos predatórios sobre a flora e a fauna. Nesse ponto pode-se utilizar a
noção de desorganização, que Bertrand emprega na conceitualização de
agrossistema. Escreve ele que os agrossistemas são os ecossistemas naturais
desorganizados nos quais a base alimentar é essencialmente constituída por
cultivos .

Os diversos grupos índigenas desenvolveram atividades na procura de


complementos para sua base alimentícia onde foi priorizado o cultivo da
mandioca. Mas a questão esta em distinguir os níveis de desorganização sobre
o ecossistema produzido por essa necessidade de ampliação da base
alimentícia. Como as roças dos índios afetaram os ecossistemas?

A complexidade maior da implantação dos agrossistemas inicia-se na fase da


colonização. O quadro 20 identifica atividades dos diferentes agrossistemas.
Estes se caracterizam pela intensidade de cultivos ou atividades (extração,
coleta, pecuária) e pelo impacto sobre o ecossistema natural. A maior
desorganização significou maior desequilibrio, ao igual que a homogeinização

123
Fearnside estuda a capacidade de suporte humano (C.S.H) através de um modelo onde
avalia e estima a capacidade de suporte em parte da área da rodovia Transamazônica. apud.
in: Apontamentos para uma reflexão população emeio ambiente no contexto amazônico p.51
61

do biotipo gerou numa série de efeitos, entre eles perda de biodiversidade,


empobrecimento do ecossistema, com repercurssões na população (
mudanças na dieta, dispêndio de energia). A questão é o nexo dessas
mudanças nos agrossistemas coloniais com a base alimentícia. A produção de
cana-de-açúcar e cacau tem outra destinação e serviu de base alimentícia
para os consumidores europeus.

Tableau 22 - Síntese dos agrossistemas na Amazônia colonial


poliatividade dominante
.agricultura
organizado por indígenas "bravos"/não aldeados .pesca
.caça
.coleta
"aldeados" (missões) .redução da poliatividade
grupos de indios aldeados .extrativismo
organizado por europeu em situação de .agricultura
I dependência .pesca
.caça
a)plantations
agroextrativo b)formações camponesas

organizado por europeu agroflorestal .formas camponesas


II
pastoril .extensivo e dominante

Na época colonial, a utilização da floresta foi marcada por três formas


diferentes de manejo124 dos recursos naturais; a dos índios não aldeados, dos
índios aldeados e dos colonos europeus.

Os índios não aldeados tinham um modo particular de cultivar a terra:


limpavam-na por baixo125, maceravam o mato, faziam circunferências nos
124
Anderson considera o manejo como as manipulações conscientes dos ecossistemas, que
visam o aproveitamento futuro de recursos bióticos renováveis, naturais ou introduzidos, num
determinado local, apud. in: Apontamentos para uma reflexão: população e meio ambiente no
contexto amazônico, p.219.
125
Desbaste é a prática de limpeza dos sub-bosques, onde a vegetação é fina
62

troncos das grandes árvores para empatar a circulação da seiva bruta e


elaborada, decorrendo a eliminação da árvore; esperavam secar para atear
fogo. Escreve João Daniel Eles não derrubam; desbastam o mato fino, riscam
as árvores para evitar a circulação das seivas vitais e esperam secar. Põem
fogo e plantam. Afirma que esse sistema evita a coivara, operação demorada e
trabalhosa que aumenta o tempo de trabalho no outro sistema. Quando caíam
as primeiras chuvas, plantavam a mandioca 126 pelo método de estaquia127. A
não utilização de instrumentos de ferro ou outras ferramentas, sendo o
machado de pedras sua única ferramenta, ajudava na manutenção do
equilibrio ambiental. A sua organização social transparecia nas práticas
agrícolas, orientadas para o trabalho coletivo.

Os índios aldeados não faziam o desbaste, derrubando toda a vegetação, que


incluía árvores de grandes diâmetros. Consequentemente, a densidade
causada pelos grandes troncos de ávores impedia que o material fosse todo
carbonizado, levando-os à prática do encoivaramento128. Isto ressalta a
diferença no calendário agrícola, dos índios aldeados ou não, levando os
índios das missões a despreender até 7 meses entre as operações da
derruba e do plantio. Ao contrário dos índios não aldeados, que esperavam no
máximo 4 meses.

Apesar dos índios do vale amazônico utilizarem-se dos gêneros da floresta na


ocasião da chegada dos colonizadores, e terem uma agricultura própria,
existia uma diferenciação acentuada entre a cultura alimentar e as práticas
agrícolas das diferentes Nações indígenas deste vale129.

As práticas agroflorestais dos índios do rio Solimões, localizados entre a boca


do rio Negro até o rio Javari, limite do territorio de Castela ( Maina); e os índios
do território português (Cambebas)130, retratam aspectos diferenciais em

126
ver apêndice
127
estaquia é uma forma de propagação vegetativa onde se utiliza as próprias estacas da
mandioca
128
coivara é um processo de aceiro feito com parte do vegetal derrubado, não seco, que
impede o alastramento do fogo
129
A sintese dessas experiências é importante para o corpo deste estudo, entretanto, é
propósito no prosseguimento da pesquisa.
130
Daniel,J. op.cit.p.13
63

relação aos demais indios amazônicos. Estes não se utilizavam de roças de


mandioca na mata ou de outros cultivos. Sua base alimentar estava nas
frutas e raízes que comiam assadas, cozidas ou cruas. As mais apreciadas
eram as pacovãs (banana da terra), batatas e jeticas (casta de batatas
vermelhas) e a macaxeira131. Praticavam a agricultura nas margens e praias
dos rios e lagos utilizando a fertilidade natural de colmatagem 132 da vazante do
rio Amazonas. Armazenavam as colheitas em celeiros construídos na terra ou
areia, onde as conservavam muitos meses, sendo utilizadas na medida da
necessidade, quando comiam os tubérculos e raízes.

Tendo como suporte maior a floresta, o sistemas agrário dos índios aldeados
era norteado pelo cultivo da mandioca, modelizando, até hoje, o gênero
agrícola mais expandido no vale amazônico. Plantavam em consórcios onde
a mandioca era o componente agrícola juntamente com o cacau, gênero
extrativo do sistema de produção. O conjunto oferecia recursos necessários
para uma dieta alimentar equilibrada, complementados com as frutas
133
tropicais , a caça e a pesca.

Os colonos seguiam as práticas dos índios das missões e introduziram o ferro


e outros instrumentos aptos para cortar e debastar as matas. Com as foices
cortavam as ramagens finas e com os machados de ferro cortavam todo o
árvoredo. Usavam para o corte dos paus delgados golpes de machado; para
os de maior diâmetro, tinham um método de derrubada sui generis, que
praticavam a partir dos cortes das árvores mais finas, em linhas paralelas aos
mais grossos, os quais fazendo pressão e peso sobre as grandes árvores,
diminuiam sua resistência até o seu tombamento. Em seguida, como os
demais índios, esperavam o material secar para atear o fogo pelas bordas dos
roçados seguindo a orientação do vento, que fazia com que a vegetação
permanecesse queimando por mais de um mês. O que não era carbonizado,
encoivarava-se para nova queimada. Geralmente o material derrubado estava
seco entre o segundo e o terceiro mês.

131
A macaxeira é uma variedade de mandioca de ciclo vegetativo variando entre 7 e 8 meses,
pouco exigente aceitando terras úmidas e, não necessariamente, de mata. Daniel, J. op. cit.
132
colmatagem é o processo de fertilização das terras banhadas pelas águas limosas dos rios
do estuário amazônico.
133
cupuaçu, bacuri, abacaxi, pacovãs (ver apêndice)
64

Desta forma, indiferentes às práticas agrícolas anteriores dos indigenas, os


sistemas agrários localizados nas margens férteis dos rios foram se
modificando, surgindo agrossistemas de acordo com a demanda dos produtos
que fazia o grosso comércio dos portugueses134.

Com as varas da maniva135 para plantio, cortadas no comprimento de 2


palmos, que proporcionavam 3 gêmulas, faziam a roça enterrando a maniva
em covas rasas, cheias de cinzas do material lenhoso carbonizado. O
instrumento para abrir as covas era um pau agudo utilizado pelos índios não
aldeados, ou a tacira136 pelos índios aldeados e portugueses. Bastava duas a
três varas por cova, de forma inclinada, a qual brotava facilmente o tubérculo
confirmando o adágio planta-me no pó, e não tenhas de mim dó137.

A agricultura indígena diversificou-se, embora não estivesse generalizada.


João Daniel afirma que os índios Purus não praticavam nenhuma agricultura,
pois alimentam-se exclusivamente de frutas, principalmente do cacau 138. A
descrição da região do rio Madeira resulta da importância do cacau, então
conhecido como o paiol do cacau, diferentemente das plantas encontradas no
rio Solimões e seus colaterais, normalmente aneiros, causando a inquitação
dos feitores, que faziam as feitorias nos rios onde existia a sazonalidade, no
intuito de evitar a ferocidade dos índios Muras e os gastos de deslocamento. A
preferência era a boca do Amazonas, muito perto da cidade do Pará, onde era
possível fazer grandes carregamentos de cacau, abundante nas grandes ilhas
do delta amazônico.

A nação Mura, que também possuía uma dieta alimentar próxima dos
indígenas do Purus, no entanto, praticava a caça e a pesca 139. Os demais
índios do vale amazônico tinham nas roças de mandioca, para a farinha de
pão, o emprego maior de sua força produtiva.

134
resinas e gomas para a indútria; e óleo de copaiba, azeite de andiroba, manteiga de
tartaruga para a farmacopéia.
135
vara de maniva é o material para a propagação vegetativa
136
tacira:instrumento ponteagudo de ferro
137
Daniel, J. op.cit.p.13
138
idem
139
ibdem
65

Com a chegada dos jesuítas e a organização das missões, a coivara passou a


ser uma prática dos índios aldeados, sendo um divisor entre o modo de
produção antes e depois de os colonizadores se instalarem no vale.

A historiografia narra que antes de 1549, os portugueses já haviam


introduzido plantas e animais úteis do Velho Mundo nas Novas Terras,
continuando-se esta difusão entre as colônias, nos séculos XVI e XVII. As
frutas exóticas cultivadas, vindas da Europa, foram jambo, tamarindo, figo,
lima, limão doce, abóbora, melancia, melão, pepino, beringela e tomate. O
côco e a ata vieram da Asia. O amendoim e o feijão chegaram ao Brasil entre
1578 e 1585. As laranjeiras, que chegaram na primeira metade do seculo XVI,
vieram da China; os animais como bois, vacas e cavalos vieram de Cabo
Verde e as ovelhas, cabras e galinhas de Portugal140.

Para 1574141, encontra-se uma descrição da flora que fala da mandioca e da


macaxeira como plantas índigenas, juntamente com as sapucaias, ananases,
cajueiros e batata doce142. Estas e outras espécies , somadas a gêneros como
cacau, cravo, salsaparilha, canela e madeiras, compunham a flora do biotipo
Amazônico quando os portugueses se voltaram para o extremo norte da
colônia.

Os colonizadores portugueses, que se influenciaram pelos gêneros da floresta,


conhecidos como as drogas do sertão, foram os precursores da modificação
dos sistemas agrários índigenas, quando propuseram uma agricultura 143
baseada no plantio dos gêneros nativos do vale e igualmente quando
impuseram a coleta de gêneros extrativos de forma exaustiva.

Os europeus, que possuiam recursos humanos, administraram a força de


trabalho dividindo-a em dois grupos, mantendo os indios ocupados na

140
Rodrigues Ferreira, A. op.cit. pp.701-724
141
Pedro de Magalhães Gondavo,apud. in: Cezar Ferreira, A. Ocidente, Revista Portuguesa
mensal,vol.LX,1961.jan/junho, p.
142
ver apêndice
143
L'agriculture est non seulement une rupture de l'ecosystème naturel, mais elle aussi une
détournement de la production naturelle à des fins extérieures au fonctionnement de
l'écosystème. Elle met en place un écosystème de type particulier que l'on peu qualifier
d'agrosystème. in:BERTRAND. G. op. cit., p.
66

agricultura ou em serviços de construção de canoas 144, de pescarias, de


salgas e de colheitas dos produtos da floresta.

No começo, a economia era baseada nas feitorias, operações mercantis que


duravam entre 6 a 8 meses, extraindo produtos na floresta com garantia no
mercado internacional. Os mais procurados eram o cacau, a canela, a
salsaparrilha e o cravo. Mesmo com a alta rentabilidade das feitorias,
acreditavam que ao invés de prepararem frotas de custos elevados para a
extração das drogas do sertão poderiam desenvolver sistemas baseados nos
produtos extrativistas, onde o custo de produção seria menor. Isto
145
corresponde a um período do calendário agro-extrativo quando preparavam
provimentos de bretanhas, chapéus, panos da terra (de algodão grosso),
ferramentas, farinhas, águas ardentes, somando custos a aproximadamente
300$000146. Saíam em novembro, e, algumas que pretendiam outros gêneros
como manteiga de tartaruga e peixes para salga, saíam em setembro, quando
começava a desova das tartarugas.

Incorporam-se no século XVIII, no discurso do governo português as


interrogações sobre quando? como? por que? ao reconhecer o processo que
se instalara de depredação de espécies nativas. O anil e a canela, produtos
que participavam e faziam frente ao comércio do Oriente 147, foram os
primeiros a se extinguirem.

A força de trabalho índigena representava 95% dos custos das expedições de


coleta, pois eram além de remadores das canoas, coletores dos gêneros do
sertão. O índio recebia duas varas de pano grosso de algodão/mês, levando
por feitoria 12 varas de algodão; 2 a 3 varas de bretanha para camisas;

144
Canoas inteiriças medindo 100 palmos, proporcionais à largura e capacidade de acima de 3
mil arrobas. Construiam diferentes tipos, tendo os índios não aldeados preferência por
pequenas e ligeiras, de formato de casca de noz. Fabricavam sem a utilização de
equipamentos de ferro. As Ibás eram mais fortes e possantes, feitas de troncos de paus e com
toda uma técnica onde o ferro estava presente e era muito utilizada pelos mineiros e pelos
feitores responsáveis pelos carregamentos das "drogas do sertão". Finalmente os burgantins,
preferidos pelos portugueses, que apresentavam porte variável, in, Daniel, J. op.cit.
145
Esse calendário resulta de uma combinação de produtos (extrativos, agrícolas) com a pesca
e a caça. Desenvolve-se o controle do colonizador das atividades desenvolvidas ao longo do
ano.
146
Daniel, J. op.cit.
147
Rodrigues Ferreira, op.cit.
67

calções de baeta; um barrete e um prato de sal com 6 agulhas em cima. Os


jacumaíbas, que eram os pilotos e responsáveis pelas canoas e que possuíam
uma hierarquia superior, ganhavam 3 varas de pano grosso e um corte de
ruão para as saias de suas mulheres. Cada índio tinha um enxoval constituído
de chapéu, barrete, remo, arco, flecha, maquira, balaio para guardar calções,
novelo de linhas, agulha e uma cabacinha de jequitáia ou malagueta moída 148.

Decidiram os portugueses que seria oportuno o remanejamento desta mão-de-


obra para os plantios, nos seus estabelecimentos. Em substituição às canoas
do sertão, trabalhariam na agricultura para plantios de café, cacau, salsa,
cravo, canela, baunilha e algodão. O cálculo era de que 15 índios em 15 dias
preparariam 800 braças em quadras, representando custos inferiores às
canoas do sertão que, com seus gastos de viagem e incertezas dos lucros,
possuiam grandes inconvenientes149. Com isto, os escravos de origem africana
ficariam liberados para semear produtos da Europa, como o trigo, o milho, o
tabaco e o algodão. Evitar-se-ia mudar o lugar das roças, anualmente,
tornando estáveis as terras. O aproveitamento da fertilidade e das matas do
rio Amazonas seria assim otimizado na visão colonial.

A questão da pressão da população sobre os recursos aparece em poucos


momentos na historia regional. Normalmente os estudos são voltados para a
compreensão da dinâmica de interrelações dos ecossistemas encontrados.
Quando trata-se da agricultura itinerante desenvolvida por meio dos pousios, o
enfoque é para a fraqueza dos solos, argumentação que não avança muito,
restringindo-se a reconhecê-la como uma prática viável somente com baixos
níveis de concentração populacional150.

Os antropólogos151, que vêm estudando as culturas índigenas tem levantado


uma considerável quantidade de informações sobre conhecimento que as
tribos possuem, tais como os sistemas de classificação e manejo dos recursos
e as estratégias de sobrevivência consolidadas e aperfeiçoadas ao longo de

148
Daniel J. op.cit.
149
idem
150
Alvim e Subart. consideram o manejo como as manipulações conscientes dos
ecossistemas, que visam o aproveitamento futuro de recursos bióticos renováveis, naturais ou
introduzidos, num determinado local, apud. in: Apontamentos para uma reflexão: população
emeio ambiente no contexto amazônico , p.133 e p.199
151
Roosevelt, in, Cunha, M. op.cit
68

um vasto período. Quanto às informações demográficas sobre estes povos, no


que se refere a análises sobre a relação população/recursos, apenas
começam a ser reveladas.

Na ilha do Marajó, introduziram-se animais (gado vaccum e cavalar) criados


de forma extensiva. Prescindia-se de sistemas de manejo por ser dispendioso,
pois o gado facilmente se criava e se reproduzia em campinas ou terras de
pastagens naturais, permitindo a formação de grandes rebanhos, acima de
1000 cabeças. O maior investimento destes criatórios, na época colonial,
estava na construção de, no mínimo, quatro currais por estabelecimento,
utilizados para recolher o leite para consumo e aleitamento do bezerro . Esta
vaquejada era feita duas vezes por semana, enquanto as ferras e castração
eram feitas no verão, nos meses de julho a setembro. A expansão da
pecuária na Ilha está associada ao surgimento de novos criadores, muitos dos
quais antigos vaqueiros que recebiam as quartas partes do nascimento do
rebanho.

O sistema pastoril no Marajó, experimentado desde a época colonial, ainda


gera polêmica em termos econômicos e técnicos. De sistemas de coiçara152
restaram criatórios extensivos do gado zebu e do búfalo. De habitat natural de
cacau, baunhilha, bálsamo de umeri, cravo, canela, salsaparrilha,
componentes florestais do sistema proposto, restam roças de mandioca.

O projeto econômico português acabou comprometendo a regeneração dos


recursos da floresta. Isto permite levantar a hipótese de que a introdução de
práticas e métodos agrícolas, empregados à revelia dos componentes do
clima e solo, aliado a um distanciamento cultural dos povos indígenas,
contribuiu para o fracasso da agricultura no vale amazônico153.

Os novos produtos com novos métodos tiveram por base a introdução de uma
agricultura nos moldes europeus e no trabalho indígena e do africano. A
formulação de sistemas de manejo dos recursos florestais da região
absorveram apenas algumas práticas indígenas; entretanto, por serem

152
Coiçara era um sistema de rotação de culturas nas áreas de pastos; divisáo de pastagens,
in: Daniel, J. op.cit.
153
Está suficientemente demonstrado que implementos como o arado contribuiam para a
compactação dos solos da Amazônia
69

extremamente ricas, muitas acabaram não sendo assimiladas pelos novos


habitantes da Amazônia.

Estas modificações dos ecossistemes e sistemas agrários amazônicos


apoiaram-se em relações sociais escravistas, transformando o índio em
escravo, ao lado do escravo de origem africana. De extrativista que era, o índio
passou a ser escravo das capoeiras. A mão-de-obra africana, acrescida à do
índio, ajudou na transformação das paisagens, resultando sistemas agrários
voltados para o mercado internacional em expansão.

Do projeto dos colonizadores constavam novas técnicas de produção, como


por exemplo, a proposta de introduzir o arado de aiveca responsável pelo
aumento das colheitas na Europa. Buscava-se a substituição do extrativismo
por cultivos que impulsionariam a economia mercantil, representada pelo
comércio dos derivados da pecuária e dos cultivos do trigo, do milho e do
algodão.

Esta visão mercantil desencadeou o processo de transformação objetivando


sistemas agro-mercantis voltados para a economia européia, onde a
agricultura era baseada na absorção das mercadorias americanas.

5.1 - Os Cultivos: agricultura para consumo e para exportação

Considerada como o segundo ciclo econômico da Amazônia, na fase colonial,


a experiência agrária do Marquês de Pombal desponta como uma política de
substituição das drogas do sertão, objetivando desenvolver atividades
agropecuárias e industriais154.

Nesta fase buscou-se substituir o ciclo extrativista, que permaneceu como


interesse da coroa portuguesa desde a perda do mercado de especiarias no
Oriente, prolongando-se até fins do século XVIII.

O modelo desta atividade agrária envolvia as espécies alimentares, as


extrativas e outros tipos agricultáveis que se estenderam à região e se
importaram de outras partes do Império ou mesmo do estrangeiro. As espécies
extrativas nativas foram o cacau, o cravo, a salsa. Os sistemas agrários foram

154
Cezar Ferreira, A. Ocidente, Revista Portuguesa mensal,vol.LX,1961.jan/junho, p.115.
70

modificados rumo a uma nova ordem econômica e sócio-cultural, sendo a


plantation de cana-de-açúcar, o principal produto, o qual já era cultivado,
desde a chegada dos primeiros colonos portugueses, por holandeses.

Os ensaios agrícolas no vale Amazônico não abandonaram as roças de


mandioca, sendo consorciado o milho graúdo e o algodão. Surgiram os
plantios solteiros155 de cacau, de café e da cana-de-açucar, que eram
desenvolvidos por colonos financeiramente estáveis, pois os investimentos
iniciais eram elevados. As áreas utilizadas situavam-se onde a mandioca156
havia sido plantada, o que exigia muito trabalho. Geralmente capoeiras do
terceiro ano apresentam vegetação bastante modificada 157. As principais
espécies utilizadas nesta agricultura eram algodão, milho, arroz, cana-de-
açucar e tabaco158.

A paisagem foi modificada e no lugar dos antigos sistemas agrários surgiram


plantios de cacau, de café e de plantas tropicais, delineando os contornos dos
estabelecimentos rurais estabelecidos pelos colonos. A implantação do sítio
seguia um modelo bastante frequente. Primeiro se fazia a determinação do
lugar para a casa e balizava-se a implantação do pomar, juntamente com
algum plantio de cacau. As moradas dos escravos surgiam ao redor da grande
casa, formando un conjunto circular.

5.2 - Métodos de plantios/ Produtos

Quando se estima a capacidade de suporte humano da floresta Amazônica


(CSH) tem-se como pressupostos a tecnologia utilizada e os hábitos de
consumo de um número de pessoas que podem ser sustentadas, por prazo
indeterminado, em uma área e a um dado padrão de vida, sem haver
degradação ambiental.
155
Plantio solteiro é quando não há consorcio entre culturas.
156
Nos sistemas de produção do europeu, a partir da mandioca escalonavam-se plantios de
milho para colheita em 3 meses, sendo substituido pelo algodão. No final de 12 meses, colhiam
a mandioca.
157
Lisboa fez experiências em áreas de mata virgem e de capoeira, com diferentes períodos de
pousios (1, 5, 10 e 15 anos) as quais demonstraram que todas as áreas de capoeiras
apresentam profundas modificações em relação à mata primaria. apud. in: Apontamentos para
uma reflexão: população emeio ambiente no contexto amazônico , p.145
158
Em 1670, o índio fôrro recebia, por sete meses de duro trabalho na cultura do Tabaco, no
Grão Pará, 2 varas de pano que equivaliam a 400 réis. Daniel, J. op.cit.
71

Neste contexto, podemos inferir que grande parte das dificuldades analíticas
de classificação das espécies dos sistemas agrários do Novo Mundo está
associada a esta afirmação, ressaltando-se dois pontos: 1°) os índios do vale
amazônico utilizavam os gêneros da floresta, praticavam a agricultura de
plantas e de raízes e utilizavam os campos naturais através de modos de
produção onde as técnicas eram adaptadas a ecossistemas com
biodiversidade produtora de qualidade de vida coerente para os que habitavam
o vale amazônico; e, 2°) a caracterização do sistema agrário, realizada através
de elementos do biotipo e da forma de intervenção, é dificultada pela
inexistência de registros do que havia com a chegada dos colonizadores. Tem-
se uma zona de floresta que esconde o que era flora natural e o que foi
modificado no ecossistema amazônico.

De maneira geral, a floresta Amazônica apresenta um valor elevado de


biomassa (matéria viva presente em espaço e tempo), com cerca de 500t/ha
(peso seco) e um grande potencial de matéria orgânica, 20t/ ha (material seco)
por ano. A biomassa é essencialmente vegetal (principalmente árvores e
plantas lenhosas), cabendo um papel restrito à animal, algumas dezenas de
kg/ha para os vertebrados e algumas centenas de kg/ha para invertebrados
com destaque para os insetos (ambos peso fresco)159. No entanto, o elevado
potencial de produtividade primáaria na Amazônia depende basicamente de
elementos até certo ponto externos aos sistemas (água, gás carbônico e
energia radiante).

Examinando o ecossistema160 de forma ampla, relacionados o clima, a


diversidade biológica e a reciclagem de nutrientes; algumas pesquisas 161
concluem que: 1) o clima quente e úmido oferece condições ótimas para a
produtividade biológica, ao mesmo tempo que promove a lixiviação dos solos e
o desenvolvimento acentuado de insetos e fungos (disseminação de doenças e

159
Shubart, apud.in, Apontamentos para uma reflexão: população e meio ambiente no contexto
amazônico p.129
160
Écosystème como une entité ou unité naturelle que inclut les parties vivants pour produire um
système stable dans lequel les échanges entre les deux parties s'inscrivent, dans des
cheminements circularies (E.P.Odum, 1958); ou comme "la représentation globale et
énergétique d'une parte des réseaux d'êtres vivants entre eux, d'autre part des relations entre
ces êtres vivants et leur environnement matériel. in:BERTRAND. G. op.cit. p.
161
Shubart,Fearnsider et al. apud.in: Apontamentos para uma reflexão população emeio
ambiente no contexto amazônico
72

pragas), ambos limitando em parte a produtividade biológica; que 2) a


diversidade biológica pode ser entendida como: a) resultante dos solos
lixiviados. Nenhuma planta consegue crescer com suficiente rapidez capaz de
exterminar as demais, ocasionando a coexistência de grande número de
espécies; b) como um mecanismo de escape às pragas e doenças
(coevolução das relações entre plantas e animais). Uma espécie
monoespecífica seria muito vulnerável aos predadores e fungos patogênicos; e
que c) sinal de um grau elevado de interrelações, garantindo um
aproveitamento máximo dos recursos disponíveis, expresso na reciclagem de
nutrientes (limitadores da lixiviação dos solos e promovedores da produtividade
biológica).

Portanto, isto sugere que a grande heterogeneidade, incluindo flora e fauna,


está em equilíbrio dinâmico, que ocorre ajuste constante às modificações do
ambiente. As adaptações são fisiológicas e comportamentais. As interrelações
permitem que indivíduos e/ou populações tenham aumentado suas chances de
sobrevivência e reprodução. Como os herbívoros e seus predadores têm uma
importância qualitativa sobre o ecossistema, quer pela polinização cruzada,
quer pela dispersão de sementes, quer ainda pela predação, possibilitando o
surgimento de novas espécies em torno da matriz. A dinâmica florestal é,
portanto essencial e temporal e a sua estabiilidade deve ser entendida no que
se refere à biomassa pelas áreas foliar e basal e a produtividade, e não
somente em termos taxonômicos.

As questões práticas da agricultura no século XVIII 162 indicam diversos


elementos que podem ser considerados e sistematizados numa linguagem
técnica. Ressaltamos a caracterização da agricultura feita nas várzeas, que
não anula a possibilidade de haver o cultivo em terras não alagadas.
Considerando a localização dos estabelecimentos rurais nas margens dos rios,
supõe-se que era uma agricultura feitas nas várzeas alta, média e baixa 163. A
facilidade de fazer agricultura no vale pode ser explicada pelas propriedades
edáficas dos solos que possuem forte estrutura orgânica, decorrente da
colmatagem das águas limosas do estuário amazônico.

162
Daniel,J. op.cit
163
Esta divisão é utilizada segundo o processo de lavagem das terras do Amazonas, o que faz
com que a fertilização seja mais ou menos intensa. As várzeas altas recebem maior
colmategem, seguida pelas médias e baixas.
73

A forma de cultivo dos europeus obedecia a algumas técnicas de


espaçamento, facilitando o consórcio de culturas de ciclo curto, que eram
semeadas entre as ruas das culturas de ciclo longo, e os tratos culturais como
a capina, o desbaste e os tratamentos fitossanitários.

Os tratos culturais eram feitos pelas mulheres índias e negras 164. Dependendo
do estágio florístico, se eram mata virgem ou capoeiras de primeiro, segundo
ou terceiro ciclo; executavam-se um número de capinas recomendadas. Outra
atividade onde existia a participação feminina era na semeadura do arroz, feita
por escravos organizados em duas fileiras, onde os homens iam picando a
terra com a tacira e as mulheres semeando e tapando as covas com os pés

Os plantios de cana-de-açúcar para produção dos engenhos e engenhocas


eram feitos diretamente em terras alagadas. Este sistema de cultivo no vale
do Amazonas diferia do restante do Brasil e o açúcar e as aguardentes eram
feitos por temporadas. Uma explicação é que o cultivo dos canaviais era
praticado nas margens dos rios, permitindo a colheita somente no tempo das
vazantes. A duração média dos canaviais, entre 5 a 7 anos, tinha em
contrapartida, os custos de produção reduzidos. O transporte do produto,
considerado um dos ítens que mais onerava a produção, permitia que os
barcos chegassem próximos dos plantios, sendo a cana colhida e depositada
diretamente no transporte, dispensando carregá-la até os engenhos. Os
engenhos de açúcar e as engenhocas para fabricação de aguardente eram as
atividades preferidas dos que tinham recursos e mão-de-obra, devido serem
as atividades de maior rendimento.

O cacau manso ou cultivado demandava menor investimento, pois era


plantado em terras alagadas, e com plantas oriundas das sementeiras feitas
nas roças de mandioca, entre os tocos, após a colheita das raízes. No
sombreamento do cacau utilizavam as pacoveiras (bananeiras nativas)
plantadas nas várzeas e normalmente em áreas onde o arroz produzia
naturalmente. Estas várzeas, onde o arroz amazônico brotava naturalmente,
foram substituidas por pacoveiras (banana da terra) para sombrear o plantio
de cacau, sem considerar o equilíbrio entre a economia e a ecologia,
desestruturando o ecossistema de arroz. Rodrigues Ferreira e João Daniel se

164
Daniel,J. op.cit.
74

referem ao arroz branco do Amazonas, que nascia em lagos, campinas,


alagadiços, em terra firme e sementeiras, diferenciando-o do arroz da Europa,
que era miúdo e limpo. Classificado como Orysa nutica, tinha origem brasileira,
enquanto que o Oriza sativa é originário da Ásia, o qual começou a ser
cultivado antes de 1587, mas teve sua produção estimulada em meados do
século XVII, dentro do programa agrário do Marques de Pombal. Finalmente,
em 1763 o arroz vermelho (Oryza nutica) foi banido

Os tratos culturais do cacaual exigiam algumas capinas, enquanto as copas


não se fechavam. Outra preocupação dos cacauicultores era o controle
fitossanitário das árvores, combatendo a erva de passarinho e o lagartão.

Os cafezais eram cultivados da mesma forma que o cacau. Entretanto, por


serem mais exigentes em solos, eram implantados em terra firme. Frutificavam
no segundo ano, se fossem plantios com plantas tenras; ao fim do primeiro
ano brotavam espontaneamente onde havia suas árvores, assim quando eram
plantios com ramos ou varas que enterravam. As práticas comuns, para que
ficassem viçosos e copados, eram a capinação e poda.

Utilizavam-se também as várzeas para o milho e legumes que eram semeados


diretamente na terra, a lanço, e sem necessidade de práticas para o preparo
de área.

O tabaco, por ser exigente em solos, era plantado em solos de mata. Era
exigente em muitas capinas, assim como, amiudamente, a decotação ou
capação, para que suas folhas pudessem crescer lateralmente, produzindo
bastante material verde.

Para o plantio das hortaliças utilizavam covas adubadas com esterco e


renovadas a cada seis meses. Dificilmente usavam sementes, salvo a primeira
vez. Os plantios eram por mudas.

Os cultivos mais fáceis eram os pomares que surgiam no segundo ano,


quando a mandioca era colhida; seu cultivo era pouco exigente. Assim, quando
ela foi descrita como a farinha de pão dessa América cultivada em roças de
maniba-meri165, antecipava-se o papel que ela representaria para o povo do

165
denominação indígena para a mandioca, in: Daniel, J. op.cit.
75

vale Amazônico. Pode ser mandioca preta, branca ou amarela, que é sempre
apreciada. Dessa planta aproveita-se, além da raiz para as farinhas, a folha
para a maniçoba e o sumo para o tucupi166, que são pratos típicos da culinaria
do Pará.

A mandioca continuou a ser cultivada e, quando acabavam as matas para as


roças, os colonos compravam a farinha que não podiam produzir, até
conseguirem novas datarias167. Ao conseguirem as terras solicitadas,
reiniciavam o sistema de cultivo da mandioca reproduzindo o mesmo sistema
de produção, que era baseado no sistema de itinerância e pousio. Na época
colonial eram concedidas datarias de três léguas aos moradores que tinham
escravatura, sendo a terra subdividida entre os escravos, ficando os senhores
livres da obrigação de lhes dar provimento, por vezes garantindo a produção
dos escravos, adquirida a baixo custo, como a farinha. Os colonos tinham a
preocupação de fazer seus escravos plantarem suas próprias roças no
intervalo dos grandes plantios, o que lhes desobrigava da alimentação.

Na região amazônica, a alimentação, tendo a mandioca como base, é um traço


cultural indígena reproduzido até hoje. Consumida em forma de farinha
d'água ou seca, faz parte da alimentação cotidiana das populações ribeirinhas,
as quais complementam sua dieta alimentar com peixes frescos e salgados,
caças e frutos . A população urbana a utiliza misturada ao feijão, às carnes, e
nos alimentos que compõem a sua alimentação.

Os que possuiam grandes roçados de mandioca colhiam toda a produção na


época da maturação. Normalmente eram grandes produtores com estruturas
de tipitis168, fornos e implementos que permitiam a transformação de toda a
produção da mandioca em farinhas (d'agua, carimã, tapioca), aguardentes e
beijus.

166
tucupi: sumo extraído da raiz da mandioca, com alto teor de ácido cianídrico mas que, ao ser
fervido, perde o poder venenoso, transformando-se em condimento líquido para o preparo de
pratos da região, como o pato-no-tucupi.
167
dataria era a denominação para as terras concedidas aos colonos que possuiam escravos,
in: Daniel, J. op.cit..
168
Tipiti: utensilio indígena feito de palha trançada, próprio para receber a massa da mandioca
de onde é extraido o tucupi.
76

6 - CONCLUSÃO

As mudanças ocorridas nos dois séculos de colonização podem ser


observadas pelas transformações decorrentes da introdução de novos
métodos e técnicas de produção, em síntese, a implantação de agrossistemas
diversos.

Nestas novas terras, os recursos naturais disponíveis impulsionavam a cobiça


dos colonizadores. Reavivou-se o ímpeto predatório e mercantil que levou à
aceleração econômica de Portugal em termos de uma acumulação de riqueza
em geral rápida e plena de consequências promissoras para o sistema de
trocas internacional169. A devastação ecológica e populacional acompanhou as
marchas colonizadoras do Brasil, indo da zona canavieira ao sertão
bandeirante, deixando como rastro as queimadas, a morte ou a predação dos
nativos. No vale do Tocantins, a extinção das drogas do sertão, principalmente
a canela, o cravo a salsaparrilha e, sobretudo o cacau, testemunham a
depredação do ecossitema amazônico, a partir da segunda metade do século
XVIII quando expedições foram organizadas, dirigindo-se ao interior, ao longo
da rede hidrográfica. A história social da Amazônia, e mais especificamente do
vale do Tocantins, apresenta na sua paisagem agrária atual, a reatualização
do que foram as incursões militares e econômicas dos tempos coloniais.

Analisando-se o sistema colonial como uma totalidade articulada


objetivamente, detectam-se acontecimentos exteriores à sociedade tribal do
século do descobrimento; as epidemias, os genocídios e a colonização
propriamente dita, que efetivou-se com a mudança de uma população
indígena para uma de colonos170. Estes elementos são, entre outros,
responsáveis pela desorganização social e descaracterização da atividade
produtiva.

A paisagem social foi modificada e dos ecossistemas naturais surgiram


agrossistemas onde, raramente, a escolha levava em conta a floresta como
elemento essencial de equilíbrio. Uma agricultura baseada nos modelos de

169
BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização.São Paulo.Companhia das Letras.1992.p19.
170
Idem, p.26
77

plantations é o concreto que se instalou naquela época. No Pará, na


embocadura das baías do Limoeiro e Ajuru, onde desagua o rio Tocantins, dá-
se um lento crescimento da população na primeira metade do século XVIII,
com um certo incremento das atividades agrícolas assim como a criação de
gado na ilha de Marajó.

Relembrando a política colonial de Portugal, que submeteu a costa brasileira à


uma intensa produção agrícola por razões puramente econômicas, observa-se
que a colonização foi direcionada para a especialização de produções
agrícolas, fazendo com que a conquista em marcha dos territórios no
continente Brasil não tivesse a preocupação da poliatividade nem com a
preservação das populações ameríndias que faziam o cultivo diferente do
modelo da Europa. Os colonos europeus, apoiados no escravo africano,
instalaram a monocultura açucareira.

Feita nas margens férteis dos rios, a agricultura dos colonizadores no vale
amazônico era praticada ao lado da produção extrativista, misturando-se nas
matas onde estavam os produtos que participavam do comércio de produtos
como o azeite de andiroba, manteiga de tartaruga, salga de peixe, parte das
carnes, farinha, feijão, arroz, algodão, açúcar e aguardente. A produção natural
dos frutos do abacaxi, ananás, pacovã, cupuaçu e bacuri, ao lado do cultivo
do arroz, do feijão, dos melões e outros legumes, foram cultivados como
produtos secundários, pois as roças eram preparadas para a mandioca.

Explorou-se sistematicamente o outro componente natural dos sistemas


agrários, que eram as madeiras, preciosidades do vale, úteis nas
construções de embarcações, produção de tintas extraídas do pau-Brasil, anil
e caapiranga, das resinas, óleos e gomas com utilidades que vão da indústria
a farmacopéia, sendo o óleo da copaiba antibiotico natural da cura de
infecções das populações amazônicas.

As estações homogêneas, aliadas à fertilidade das terras, fizeram que os


colonizadores imaginassem produções de searas como na Europa. Esse
projeto chocou-se com a realidade dos mercados, hábitos de consumo e com
as condições de aclimatação das espécies.

A inexistência de mercados públicos e feiras nas cidades e vilas, assim como a


falta de barcos públicos, originou a escassez de produtos, apesar da produção
78

existente. O mercado interno era extremamente frágil para absorver esses


produtos, em alguns casos acessíveis nos locais de extração.

A ausência de pesquisas e geração de tecnologias adaptadas aos


ecossistemas amazônico levou a uma reprodução da pequena produção nos
moldes coloniais, onde a mandioca persiste como produto básico alimentar e
de comercialização171.

Da época da colônia até hoje, a mandioca polariza as pesquisas agronômicas.


Como planta que se desenvolve melhor em terras de mata, a cada ano é
responsável por parte do desmatamento da Amazônia, restando, após sua
colheita, grandes capoeiras.

A continuidade de uma pesquisa histórica sobre os sistemas agrários do vale


do Tocantins abrangerá a sistematização, descrição e interpretação dos
materiais e as peças documentais que apoiem a compreensão dos modelos de
agrossistemas, perfazendo a discussão dos métodos e das técnicas que
medearam as relações entre os homens e esses ambientes.

171
Farinha de mandioca
79

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86

ANEXOS 1
87

8 - GLOSSÁRIO

ALDEIA

Povoação de categoria inferior à da vila; povoação de índios.


AfFLUENTE

Curso de água que deságua noutro, ou em um lago.


ANIMISMO

Sistema que atribui alma a todos os seres e fenômenos naturais, e que a


considera como causa de todos os fatos intelectuais e vitais.
ANIMISTA

Adepto do animismo.
ANHANGÁ

Alma errante que torna mal-assombrada certas localidades onde o índigena


não pode permanecer .
BAÍA

Pequeno golfo, de boca estreita, que se alarga para o interior.


BORORÉ

Poção feita com ervas para envenamento das flechas.


BÔTO

Mamífero cetáceo da famímia dos Delfinídeos, pertencente aos gêneros


Delphinus, Steno e outros (marinhos) e da família dos "platanistídeos" (de
água doce).
BEIJU

Bolo de massa de tapioca ou de mandioca.

BRASÍLICA

Referente ao Brasil.
CABAÇA

Fruto do cabaçeiro; vaso feito com esse fruto.


88

CANOA

Barco de popa fina, com popa de escaler, movido geralmente a remos; piroga;
qualquer embarcação pequena.
CAPOEIRA

Mato que cresce naturalmente e se desenvolve em terreno outrora cultivado;


mata talhadiça que se roça ou derruba para lenha, a fim de cultivar a terra ou
para qualquer outro fim.
CURUPIRA

Ente fantástico, tapuio com os pés às avessas, isto é, com os calcanhares para
a frente e os dedos para trás, o qual habita as matas (do Tupi: curupir = o
chegado).
CUNHÃ

Mulher na linguagem indígena.


CHIBÉ

Refresco feito com água e açúcar; jacuba.


CACHOEIRA

Queda de água.
CONFLUENCIA

Lugar onde se juntam dois ou mais rios.


CAPITANIA

Comando; chefia.
DELTA

Foz que tem ilhas de aluvião, geralmente de feitio triangular.


DESCIMENTO

Transporte, para o litoral, de índios aprisionados no sertão, no período colonial.


ESTUÁRIO

Tipo de foz em que o curso de água se abre mais ou menos, largamente.


EMBOCADURA

Foz de um rio.
89

ESTAQUEAR

Reduzir a tacos; tirar pedacinhos de; estraçalhar; rasgar; esfrangalhar.


ESTAQUIA

Referente a estaquear; propagação vegetativa de espécies.


ESPECIARIAS

Qualquer droga aromática - cravo, canela, noz moscada, etc - para


condimentar iguarias.
FROTA

Conjunto de navios comerciais no período dos descobrimentos.


FEITORIA

Entreposto estabelecido pelos portugueses no período colonial para o


escambo das drogas do sertão.
FOZ

Ponto onde um rio, ou outro curso fluvial, deságua, no mar, num lago ou
noutro rio.
FREGUESIA

Povoação sobre o aspecto eclesiástico.


GUERREIRAS DO AMAZONAS

Exército de mulheres que habitavam entre os rios Negro e Trombetas no vale


amazônico.
GUTURA

Cesto feminino utilizado pelas índias


HAVERES

Bens, riquezas.
HOMEM-MARINHO

Ver bôto.
IGARA

Pequena canoa feita de uma só tora de madeira (do tupi).


IGAPÓ

É a mata permanentemente inundada


90

IRAPURU

Pequeno pássaro que traz felicidade a quem consegue apanhá-lo.


JEQUITAIA

Pimenta malagueta.
LUGAR DE ÍNDIO

Resquícios de antigos aldeamentos indígenas.


LAGO DOURADO

Mito criado pelos espanhóis sobre a existência de um lago de ouro na


Amazônia.
MAMAIAPOCA

Sistema radicular da salsaparrilha


MOCORORÓ

Bebida fermentada feita de mandioca.


MINGAU

Iguaria de consistência pastosa feita em geral de leite açucarado e farinha de


mandioca.
MANIBA

Mandioca na linguagem indígena.


MAPINGUARY

Entidade; senhor das florestas que tem o hábito de desorientar os homens.


MISSÂO

Instituição ou instalação de missionários para pregação da fé cristã.


NAÇÕES

Povoamentos indígenas.
PANTEÍSMO

Sistema filosófico que identifica a divindade com as várias forças e agentes da


natureza; crença e adoração de todos os deuses.
PARANÁS

Braço de rio, separado deste por uma ilha.


91

PAU-QUE-RONCA

Instrumento musical indígena semelhante ao tamborim; percurssão.


ROÇA

Terreno de pequena lavoura.


SEARAS

Extensão de terra semeada; campos de cereais.


SERTÃO

Zona pouco povoada do interior do Pais.


TORÉ

Instrumento musical indígena semelhante à flauta; instrumento de sopro.


TERRAS-CAÍDAS

Fenômeno de desbarranquemeanto das terras no vale do estuário amazônico.


JURUPARY

Entidade; espírito diabólico que mora nos lugares tenebrosos e causa os


infortúnios dos homens.
VALE

Planice à margem de um rio.


VILA

õovoação de categoria superior à de aldeia ou arraial e inferior à cidade.


VÁRZEA

Áreas inundáveis em regimes periódicos ou permanentes.


VITÓRIA RÉGIA

Planta aquática ninfeácea.


92

9 - Cronologia

1614-1742
Ficam estabelecidas as comunicações entre os grandes afluentes da bacia do
Amazonas e da Platina, que viriam a servir de limites ocidentais ao Brasil.
1638
Pedro Teixeira chega a Quito.
1652
Os jesuitas obtêm o direito de evangelizar, desencadeando os conflitos com
as entradas dos missionários e dos sertanistas por causa do controle da mão-
de-obra índia fornecedora das drogas do sertão.
1655-1670
O curso médio do Amazonas foi percorrido por missionários e "sertanistas" e
os principais foros de evangelização, como os fortins, foram estabelecidos na
foz do rio Negro e Madeira.
1687-1714
Surgem as "cartas régias", delimitando os locais para as diferentes ordens
religiosas; para os Franciscanos, o Cabo Norte, Marajó e afluentes do norte do
Amazonas; para os jesuitas, o Tocantins, Xingu, Tapajos e Madeira; para os
Carmelitas, os rios Negro, Branco, Solimões; para os Capuchinhos, o Baixo
Amazonas, a partir de Gurupá; e para os Mercedários, a artéria do Amazonas
até o rio Urubu, no médio Amazonas.
1669
Descoberta da canela no Vale do Tocantins.
1697
Morre o Padre Antônio Vieira, em Salvador.
1707-1709
Empresas privadas abriram o eixo norte-sul de penetração.
1733
Proibição da comunicação entre o Madeira e Mato Grosso; a coroa pretendia
evitar confrontos junto as bandeiras paulistas que aspiravam a descoberta de
ouro e diamante no Mato Grosso; portanto, indo de encontro ao monopólio da
coroa que controlava as Minas Gerais.
1742
Apesar da proibição, Manuel Félix de Lima estabelece ligação entre Cuiabá e
Belém do Pará, percorrendo os rios Sararé, Guaporé, Madeira e Amazonas.
93

1747
O paulista João de Souza de Azevedo descobre a via fluvial entre Mato Grosso
e Pará, através dos rios Paraguai, Sipotuba, Sumidouro, Arinos e Tapajós.
1750-1777
Governo do Conde de Oeiras, depois Marquês de Pombal, Sebastião José de
Carvalho de Melo, sob o rei José de Portugal.
1750
13 de janeiro: Tratado de Limites assinado em Madri entre Portugal e a
Espanha.
1750
América Portuguesa herda antigos territórios espanhóis através de conquista
territorial.
1754-1756
Guerra luso-espanhola contra as missões de Santo Angelo, São Borja, São
João, São Luis Gonzaga, São Lourenço, São Miguel e São Nicolau, rebeladas
contra o cumprimento do Tratado de Madri de 1750.
1755
7 de junho: Decreto real institui a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará
e Maranhão.
1755
Liberdade dos índios.
1755
Autorização do casamento com as mulheres da terra.
1758
Instituição do Directório dos índios.
1759
Expulsão dos jesuitas.
1759
Extinção do sistema de capitanias hereditárias.
criação da Companhia do Comércio de Pernambuco e Paraíba.
3 de setembro: E decidida a expulsão dos jesuitas de Portugal e de seus
domínios.
1760
Criação da Capitania do Rio Grande de São Pedro, subordinada à do Rio de
Janeiro.
1761
Tratado de Limites do Pardo, anulando o Tratado de Madri de 1750.
94

1762
A colônia do Sacramento é tomada pela quarta vez pelos espanhóis, em
função da Guerra dos Sete Anos.
1763-1776
Em função da Guerra dos Sete Anos, os espanhois ocupam uma parte do Rio
Grande de São Pedro.
1763
A sede dos vice-reis do Brasil passa de Salvador, na Bahia, para a cidade do
Rio de Janeiro.
1765
Decidida a derrama (cobrança forçada do quinto do ouro)em Minas Gerais.
1769-1779
Governo do mais famoso dos vice-reis com sede no Rio de Janeiro: Luis de
Almeida Silva Mascarenhas, segundo Marquês do Lavradio.
1774
O Maranhão e o Piaui são desmembrados do Grão-Pará.
1777
Ataques espanhóis no sul e no oeste do Brasil: ocupação definitiva da Colônia
do Sacramento e passageira de Santa Catarina e de um forte no Mato Grosso.
Tratado de Limites de Santo Ildefonso entre a Espanha e Portugal.
1778
Extinção da Companhia do Comércio do Grão-Pará e Maranhão.
1779
Interrompe-se o funcionamento da Companhia do Comércio de Pernambuco e
Paraíba.
1783-1788
Governo, em Minas Gerais, de Luis da Cunha e Meneses, malvisto localmente
e tido como uma das causas da "Inconfidência Mineira".
1783-1792
Viagem científica do naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira na Amazônia
portuguesa.
1785
5 de janeiro: Alvará que proibiu a instalação de fábricas e manufaturas no
Brasil, excetuando-se as de panos grosseiros.
1789
Conspiração incipiente em Vila Rica, Minas Gerais, por ocasião das instruções
para a derrama na capitania, logo reprimida, conhecida como "inconfidência
95

mineira" e com frequência considerada como movimento precursor da


independência do Brasil.
1792
21 de abril: Enforcado no Rio de Janeiro o alferes Francisco José da Silva
Xavier, o Tiradentes, participante da "inconfidência mineira".
1798
Conspiração logo reprimida, conhecida como "Revolta dos Alfaiates", na Bahia,
tida como movimento precursor da independência do Brasil.
1799
Maranhão e Grão-Pará tornaram-se unidades administrativas separadas das
capitanias do Ceará e da Paraiba.
1799
8 de novembro: Enforcamento de quatro dos envolvidos na "Revolta dos
Alfaiates" na Bahia.
1800
Crise do cacau.
1801
Hostilidades de fronteira, na Banda Oriental e nos Sete Povos das Missões
(Uruguai) e no Rio Grande de São Pedro, em função da Guerra Peninsular
entre Espanha e Portugal. Em consequência destes conflitos, os portugueses
ocuparam definitivamente os Sete Povos das Missões, que o Tratado de Santo
Ildefonso (1777) entregara à Espanha.
1807
A capitania subalterna do Rio Grande de São Pedro se torna Capitania Geral
de São Pedro do Rio Grande do Sul.
1807
9 de novembro: Sob ameaça de invasão franco-espanhola de Portugal, uma
esquadra deixa Lisboa sob proteção inglesa com destino ao Brasil, levando o
príncipe regente João e a corte lusa.
1808
22 de janeiro: Chegada do príncipe regente à Bahia.
1808
28 de janeiro: Em Salvador, o príncipe regente decreta a abertura dos portos
do Brasil às nações amigas.
1808
7 de março: Chegada do príncipe regente João ao Rio de Janeiro.
96

1808
11 de março: Nomeação, pelo príncipe regente no Rio, do primeiro grupo de
ministros a funcionar no Brasil.
1808
1° de abril: Derrogação do alvará de 1785 que proibia o estabelecimento de
fabricas e manufaturas no Brasil.
1808
Diversas medidas de cunho intelectual, como a criação da Escola Médico-
cirúrgica da Bahia, primeira instituição de ensino superior no Brasil; a fundação
da Impressão Régia no Rio de Janeiro, primeira gráfica brasileira que publicou
também o primeiro jornal (Gazeta do Rio de Janeiro); criação no Rio de Janeiro
da Biblioteca Real.
1808-1809
Medidas de privilégio e isenção fiscal a favor das manufaturas que fossem
instaladas no Brasil.
1809-1817
Depois de conquista efetuada por expedição anglo-portuguesa, Portugal
administra, do Rio de Janeiro, a Guiana Francesa.
1810
Tratados de aliança e amizade e de comércio e navegação firmados entre a
Grã-Bretanha e Portugal.
1811
Inicia-se a longa série de intervenções militares portuguesas (e depois
brasileiras) na Banda Oriental (Uruguai).
1812
17 de dezembro: efetua-se pela primeira vez no Brasil a fusão do ferro, em
Minas Gerais, sob a direção do Barão Guilherme Von Eschwege.
1815
16 de dezembro: elevação do Brasil a Reino Unido ao de Portugal e Algarves.
1816
Chega ao Brasil uma missão artística francesa.
1817
Ocorre, em Pernambuco e capitanias vizinhas, uma revolução logo reprimida,
incluida ordinariamente entre os chamados movimentos precursores da
independência do Brasil.
1818
Criação de uma fábrica de ferro gusa em Sorocaba (São Paulo).
97

1820
Fundação, no Rio de Janeiro, da Academia Real de Desenho, Pintura,
Escultura e Arquitetura Civil.
24 de agosto: início da revolução constitucionalista do Porto, em Portugal.
1821
26 de abril: Volta do rei João VI a Portugal, ficando no Rio de Janeiro o
príncipe herdeiro Pedro como regente do Brasil.
98

10 - LISTA DE SIGLAS

A.H.U
Arquivo Ultramarino
A.P.P
Arquivo Público do Pará
U.F.R.J
Universidade Federal do Rio de Janeiro
U.F.Pa.
Universidade Federal do Pará
B.N.R.J
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
A.N.R.J
Arquivo Nacional do Rio de Janeiro
99

LISTA DA FAUNA E FLORA DESCRITA POR JOÂO DANIEL NO LIVRO


"TESOURO DESCOBERTO NO RIO AMAZONAS"
Quadro A: Da caça altÍlia do rio Amazonas

NOME VULGAR NOME CIENÍFICO FAMÍLIA

Ema Rhea maericana Reidaeo

Gavião-canguera Leucopternis schistrace Acipitrireo

Jaburu Mycteria americana Ciconideo

Maguari Ardea cocoi Ardeideo

Anhuma-caiantau Anhuma cornuta Anhimideo

Urubu Coragyps atratus foetens Catartideo

Pato Anseriformes sp A,atideo

Marreco Anas platyrhynchos Anatideo

Mutum Crax globulosa Cracideo

Jacu Penélope Mer. Cracideo

Quadro A1: Da caça altÍlia do rio Amazonas


NOME VULGAR NOLE CIENTÍFICO FAMÍLIA
Acaua Herpetotheres cachinhans Falconideo
Guara Chrysocyon brachyurus Canideo
Tucano Ramphastos sp. Ranfastideo
Arara Aramacao so. Psitacideo
Papagaio Amazona sp. Psitacideo
Saracura Aramide manglê Ralideo
Pavão Pavo cristatu Fasianida
Inhambu Tinamus sp. Tinamideo
Mergulhão Mergus octosetaceous Colimbideo
Atins ou Atiatis Larus maculipennis Phaetusa
Maçarico Charadrius sp. Caradideo
Garça Philherodius pileatus Ardeideo
Carão Aramus sp. Aramideo
Ainum Crotophaga ani L. Cuculideae
Andorinha Streptoproene zonaris Microlodideae
Japiin Cacicus cela Icterideae
100

Picaflor Rhamphodon naevius Troquilideae

Quadro B: Divertimento de caça no rio Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Anta Tapirus terrestre Tapirídeo
Onça Panthera onça Felídeo
Maracajá Jaguarius pardalis
Javali Sus Scrofa Suidae
Tatu Priodontes giganteus Dasipodídeo
Capivara Hidrochoerus Cauídeo
hidrochoerus
Paca Cuniculus paca Cuniculideo
Lobo-cochiné Chrysocyon brachyurius Canidae
Viado Ozotzcerus bezoarticus Cervídeo
Tamanduá Myrmecophaga tridactyla Mirmecofagídeo
Raposa Vulpes vulpes Canídeo
Preguiça Bradypus tridactilus Bradipodideo
Cotia Dasyprocta sp. Dasiproctídeo
Maritaca Aratinga aurea
Macaco-guariba Alovata sp. Cabídeo

Quadro C: Das pragas especiais do Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Mucuin Tetranychus Trombididas
molestissimus
Tombura-bicho pé Tunga penetrans Hectopsilídeo
Berne Dermatobia hominis Destrídeo
Barata Leucophaea maderea Pancloríneo

QUADRO D: Da praga volátil do Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Mosca Musa domestica Muscídeo
Varejeira Cochliomya hominivorax
Mutuca Tabanus sp. Tabanídeo
Caba Polistes canadensis Vespídeo
101

Tatu-caba Syndeca cyanea Vespídeo


Borboleta Leucocasi niadaedalus
Abelha Apis melífera Apídeo

Quadro E: Das sevandijas do Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Carrapato Amblyomima casannense Ixodideo
Aranha Grammostola sp. Terafosideo
Lagarta-osga Hemidactylus mabovia Giconideo
Sapo Bufo marinus Bufonídeo

Quadro F: De outras pragas do Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Formiga Solenopsis sp. Formicideo
Sauba Atta sp. Formicideo
Turu Teredo sp. Teredinideo
Lombriga Ascaris lumbricoide Ascarideo
Impigen Tinea sp.
Cobrero Larvas migrans cutanea

Quadro G: Das cobras do Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Coral Micrurus sp. Elapideo
Jararaca Brothorps sp. Crotalideo
Cascavel Crotalus durissus Crotalideo
Capelo Leimadophis poecilogyrus Columbrideo
Jiboia Constrictor constrictor Boideo
Surucucu Lachesis muta Crotalideo
das águas Helicopa sp. Columbrideo
102

Quadro H: Da farinha de pão da América


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Maniba-haste Manihot sculenta Euphorbiáceae
Maniçoba-folha Manihot sculenta Euphorbiáceae
Mandioca-raiz Manihot sculenta crantz Euphorbiáceae

Quadro I: De outros produtos da América


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Milho Zea mays Gramineae
Arroz Oryza sativa Gramineae
Tabaco Nicotina tabacum Solanceae
Algodão Gossypium hirisutum
Feijão Phaseolus vulgaris Leguminosae
Feijão verde Vigna unguiculata Leguminosae
Melão Cucumis meo L. Cucurbitaceae
Melancia Citrillus vulgaris Cucurbitaceae
Abóbora Cucurbita pepovar Cucurbitaceae
Couve Brassica oleracea Brassicaceae
Alface Lactuca sativa Chicoriaceae
Quiabo Abelmoschus esculentus Malvaceae
Amendoim Arachis hypofeae L. Leguminosae
Caruru Hibiscus sardarifa Malvaceae
Repolho Brassica sp. Brassicaceae
103

Quadro J: Dos mais excelentes frutos amazônicos


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Abacaxi-Ananas Anans comosus L. Bromeliáceae
Pacovã Musa paradisiaca Musaceae
Manga Mangífera indica L. Anacardiáceae
Jaca Artocarpus heterophyllus Moraceae
Mangaba Hancornia speciosa Apocináceae
Abil Pouteria caimito Sapotaceae
Ata Annona squamosa L. Anonaceae
Araticu Annonamontana maci Anonaceae
Beribá Rollinia mucosa Anonaceae
Tituribá-cutitoriba Ponteria caimito Sapotaceae
Mamão Cacarica papaya L. Caricáceae
Acuju Anacardium giganteum Anacardiaceae
Abacate Persea americana Lauráceae
Goiaba Psidium guajava L. Mirtáceae
Jotai Hymenaea courbaril L. Cesalpinioideae

Quadro J1: Dos mais excelentes frutos aAmazônicos


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Bacuri Platonia insignis Gutífera
Cupu Theobroma grandiflorum Esterculiáceae
Cumã Dipteryx odorata Leguminoseae
Ingá Inga edulis Leguminoseae
Guandu Cajanus cajan Leguminoseae
Ginja Eugênia uniflora Mirtaceae
Pitomba Talisia esculenta Sapindaceae
Maracaujá Passiflora eduli Passifloraceae
Castanha do Brasil Bertholletia excelsa Lecitidaceae
Sapucaia Lecythispisonis usitata Lecitidaceae
Jenipapo Genipa americana Rubiaceae
Laranja Citrus sinensis Rutaceae
Toranja Citrus decumana Rutaceae
Lima Citrus aurantifolia Rutaceae
Açai Eutherpe oleraceae Arecaceae
Ibacaba Denocarpus circuntextus Arecaceae
Cuia Crescentia cujete Bignoniaceae
104

Quadro K: Dos mais preciosos paus do rio Amazonas


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Cotiara Johannesia princips Euforbiaceae
Violeta Peltogyne catingae Leguminoseae
Paricá Piptadenia peregrina Leguminoseae
Goma Vochysia thyrsoidea Voquisiaceae
Pau Santo Zollernia paraensis Cesalpiniaceae
Ébano Diospyros tessezaria Ebenaceae
Pau-Brasil Caesalpiniaechinata Cesalpiniaceae
Arueira Astronium lecointei Muiracatiaceae
Pau amarelo Euxylophora paraensis Rutaceae
Guautaiba Balfourorendron riedelianum Rutaceae
Pau roxo Peltogyne catingae Leguminoseae
Pau preto Cenostigma tocantins Rubiaceae
Jacarandá Jacaranda mimosaefolia Bignoniaceae
Jotai Hymenaea parviolia Caesalpinoideae

Quadro K1: Dos mais preciosos paus do rio Amazonas


Casca preciosa Aniba canelilla Laureaceae
Pau rosa Aniba duckei Laureaceae
Angelim Dinizia excelsa Leguminoseae
Pau ferro - itaita Caesalpinia ferrea Leguminoseae
Maçaranduba Manilkara huberi Sapotaceae
Cumaru Dipteryx odorata Leguminoseae
Piquia Caryocar vullosum Caryocaraceae
Pau d'arco - ipê Tabebuia serratifolia Bignoniaceae
Acapu Vouacapoua americana Leguminoseae
Sucupira Diplotropis purpurea Leguminoseae
Bacuri Platonia insignis Gutifereae
Copaiba Copaifera multijuga Leguminoseae
Cedro vermelho Cedrela odorata Meliaceae
Cedro branco Protium altissimum Burseraceae
Cedro pardacento Cedrelinga catenaeformis Leguminoseae
105

Quadro K 2: Dos mais preciosos paus do rio Amazonas


Pau louro Ocotea guianensis Laureaceae
Sacuzeiro Hura crepitans Euphorbiaceae
Aninga Rhizophora mangue Rhizophoraceae
Andiroba Carapa guianensis Meliaceae
Gergelim Sesamum indicum Pedaliaceae
Jenipapo Genipa americana Rubiaceae
Ambaíba Cecropia sp. Moraceae
Samaumeira Ceiba pentandra Bombacaceae
Taboca Bambusa arundinaceae Poaceae
Cana de açucar Saccharum officinarum Gramineae
Angélica Archangelica officinalis Umbelifereae
Esponjeira Parkia ulei Mimosaceae
Jasmineiro Jasminum sp. Oleraceae
Jasmim de caiana Melia azedarach Meliaceae
Cazajeira Spondiaslotea Anacarreaceae
Timbó Dennis guianensis Leguminoseae
Cipó Combretum leprosum Combretaceae
Tajá Caladium bicolor Araceae
Malvisco Coleus barbatus Labiateae
Figueira do inferno Opuntia ficus Cactaceae

Quadro L: De algumas ervas mais notáveis (medicinais)


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Erva do Paraguaia Ilex paraguayensis Iricineae
Fava de Santo Ignácio Carapa guianenses Meliaceae
Padu Erythroxylum cataractum Eritroxilaceae
Mastruço Chenopodium ambrosioides Quenopodiacea
Fedegoso Cassia occidentalis Caesalpinoideae
Matapasto Cassia tora L. Caesalpinoideae
Flor de Caiana Plumeria alba Apocynacea
106

Quadro M: Das palmeiras da América


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
coqueiro Cocos nucifera) Arecaceae
moroti-buriti Mauritia flexuosa Arecaceae
Muatá-mucajá Acrocomia sclerocarpa Arecaceae
Palmito-açai Eutherpe oleracea Arecaceae
Ambacalata-sagu Metroxylon sp. Arecaceae
Pupunheiro Guilielma speciosa Arecaceae
Tucumã Astrocaryum vulgare Mart. Arecaceae

Quadro N: Gêneros e Especiarias


NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO FAMÍLIA
Anil Indigofera timetoria Leguminosae
Salsaparrilha Smilax papivácea Liliáceae
Café Coffea arabica Rubiaceae
Caju Anacardium occidentale Ancardiaceae
Algodão Gossypium herbaceum Malvaceae
Abutua Chondodendron platyphyllum Minispermaceae
Azeite Olea europeae L Oleaceae
Bacaba Oenocarpus bacaba Arecaceae
Gerzelim Sesamum indicum Pediliaceae
Andiroba Carapa guianensis Meliaceae
Cabriuva Hyrocarpus fastigiatus Papilonaceae
Humeri Humiria floribunda Huminaceae
Copaiba Copaifera multijuga Leguminosae
Cravo Gypsophila paniculata Cariofilaceae
Tabaco Nicotina tzbacum Solonaceae
Comaru Dipterix odorata Leguminosae
Baunilha Vanilla planifolia Orquidaceae
Ibicuiba Myristica bicuhyba Miristaceae
Canela Cinnamomum zeylanicum Lauraceae
Breu Protium sp. Burseraceae
Mutamba Guazuma ulmifolia Sterculiaceae
107

ANEXOS 2
108

Estes quadros correspondem as informações da página 41.

Quadro A: Produção de Açucar no Pará: periodo 1758-1785


Anos Arrobas Total
1758 557 666$500
1759 327 297$000
1785 3.568 8.980$259
Soma 4.452 9.943$759
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.232.

Quadro B: Produção de Aguardente no Pará: período 1771-1784


Anos Canadas Total
1771 438 732$405
1772 3.314 5.388$913
1773 1.519 2.553$773
1774 355 589$006
1775 539 3.777$211
1776 9 5.032$411
1777 8 2.099$451
1778 1.980 4.082$360
1779 8 1.273$100
1781 -- 902$763
1782 5 987$334
1784 -- 946$664
......... ...... .........
Total 8.175 28.365$391
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora
Nacional, 1988. p.233.
109

Quadro C: Produção de Algodão Fiado ou Urdido no Pará: período 1761-


1763
Anos Arrobas Total
1761 17 191$835
1763 -- 15$180
Soma 17 207$015
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora
Nacional, 1988. p.233.

Quadro D: Produção de Algodão em Rama no Pará: período 1759-1819


Anos Arrobas Total
1759 49 206$124
1761 10 66$945
1771 7 48$712
1777 366 2.194$190
1778 178 1.121$939
Soma 610 3.637$910
1779 335 2.936$634
1780 1.181 8.585$504
1781 1.068 9.491$634
1782 288 3.099$377
1783 114 1.484$894
1784 308 2.498$037
1819 787 6.784$080
Soma 4.081 34.880$160
Total 4.691 38.518$070
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.2.
110

Quadro E: Produção de Arroz Descacado no Pará: período 1773-1852


Anos Arrobas Total
1773 241 314$408
1774 4.946 4.075$154
1775 18.181 14.952$907
1776 3.116 2.512$743
1777 38.121 23.807$854
1778 12.831 8.410$902
1781 420 524$001
1782 15.527 16.218$025
1783 15.596 15.503$424
1852 19.369 39.281$859
........ ......... ..........
Total 128.348 125.601$277
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.234.

Quadro F: Produção de Borracha (Seringa) no Pará no ano de 1785


Ano Arrobas Total
1785 233 2.862$551
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.235.
111

Quadro G: Produção de Café no Pará: período 1758-1848


Anos Arrobas Total
1758 107 302$465
1759 3.702 9.574$171
1760 2.037 7.789$873
1761 11.625 47.381$319
1762 3.731 13.752$913
1763 2.603 10.117$313
1764 973 4.168$960
1770 1.736 6.851$747
1771 3.040 12.203$000
1772 4.807 15.034$775
1773 1.880 7.597$765
1774 1.200 4.756$695
1775 2.612 10.322$798
1776 2.200 8.520$764
1777 3.450 10.356$184
1778 1.690 5.331$038
1779 3.222 13.549$254
1780 1.585 6.816$935
1781 2.116 9.035$783
1782 472 2.298$046
1783 100 661$486
1848 2.067 12.868$910
......... ........ ............
Total 56.955 219.292$194
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.237.
112

Quadro H: Produção de Óleo de Copaíba no Pará: período 1759-1792


Anos Canadas Total
1759 1.255 2.124$853
1760 86 233$774
1761 2.806 5.518$174
1762 2.051 5.223$277
1763 1.207 3.332$477
1764 497 1.511$383
1770 330 543$315
1772 55 89$422
1778 142 334$989
1779 232 783$757
1780 228 816$746
1781 296 1.054$035
1785 -- --
1792 428 1.1143$358
........ ........ ..........
Total 9.613 23.009$560
Fonte: Carreira, A. A Companhia Geral do Grão-Pará e Maranhão. São Paulo. Editora Nacional,
1988. p.240.

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