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Família e Poder na Amazônia Setecentista: A trajetória dos Oliveira Pantoja

AUTORA:
Marília Cunha Imbiriba dos Santos, Doutora, aprovada com distinção e louvor, no Programa de
Doutoramento em História, na especialidade de História dos Descobrimentos e da Expansão
Portuguesa - Universidade de Lisboa. Tem experiência em História, trabalhando principalmente
com os temas: Elites, Mobilidade social, Família, migração portuguesa e Familiares do Santo
Ofício. Atualmente dedica-se ao estudo das elites no Grão-Pará setecentista.

OBJETIVO:
Apontar em linhas gerais, as estratégias acionadas pelos Oliveira Pantoja, para
estabelecerem-se como uma das maiores famílias da Capitania do Pará no século XVIII.
Descortinando alguns dos planos, as estratégias e as redes que esta família aciona para
acessar, em um primeiro momento; e depois manter-se enquanto privilegiados de status social
diferenciado em uma sociedade de Antigo Regime

FONTES:
- OFÍCIOS
- CARTAS
- INVENTÁRIOS
- ARQUIVO ULTRAMARINO
- RAFAEL CHAMBOULEYRON

ARGUMENTOS:
[...]Podemos pensar na vinda dos irmãos Oliveira Pantoja ao mesmo tempo em que, no período de uma política
específica para incentivar a migração para o Estado do Maranhão, por outro lado, como partícipes de um fluxo
populacional baseado na iniciativa, ou necessidade, individual. Afinal, o Rei pagava passagem e provimento a
quem quisesse passar àquelas partes. E os irmãos Oliveira Pantoja quiseram buscar uma vida nova em novas
terras. Manoel e José de Oliveira Pantoja saem de Lisboa, da Freguesia de Nossa Senhora de Loures, região de
Estremadura, na segunda metade do século XVII. Estudos sobre migração portuguesa revelam que o maior
contingente populacional de saída de Portugal para “as partes do Brasil” provinha da região chamada Entre -
douro e Minho, norte de Portugal. Ou seja, a migração dos irmãos Oliveira Pantoja não acompanha a tendência
da emigração nortista.- PÁG 3

[...]Não sabemos por que razão os irmãos vieram, o que sabemos é que os Oliveira Pantoja não escolheram
começar uma nova vida no mundo do nordeste açucareiro. Eles aportaram no mundo da exploração das “drogas
do sertão” , do cultivo dos gêneros da terra, da disputa entre colonos e padres pela mão de obra indígena. Ao
descerem em terras da Capitania do Pará, traçaram planos e estratégias; e, como já sabemos, logo se
estabeleceram entre os maiores da região. PÁG 4

[....]Manoel de Oliveira Pantoja, homem que no ano de 1724 já era considerado partícipe de uma das “melhores
famílias” 21 da Capitania do Pará, em carta ao Conselho Ultramarino, pede confirmação de sesmaria destinada à
produção de Cacau no rio Moju. Porém, algo logo nos chama atenção neste documento. Na petição inicial,
Manoel afirma que ele “cidadão desta cidade possui há mais de vinte e seis anos três quartos de legoa de terra
em que tem fabricado hum cacauzal como também outras lavouras”. Este trecho do documento nos indica a
prévia ocupação da terra. O que nos aponta que o cultivo e a ocupação, de algumas terras, se deram antes do
próprio pedido de sesmaria - PÁG 5
[....]Algo que chama atenção nos pedidos de sesmaria da família Oliveira Pantoja é o tamanho das propriedades.
O que Rafael Chambouleyron já nos aponta para as concessões de terras no Estado do Maranhão é a
clara opção pelo tamanho de pequeno e médio das terras que, geralmente, não passavam de duas léguas
em quadro. Para percebermos o mundo das sesmarias em que os Oliveira Pantoja se inseriram, fizemos
um levantamento das concessões no rio Moju e seus igarapés. Dividimos as extensões rurais em pequena
propriedade (até 5.999 hectares), média propriedade (de 6.000 até 13.000 hectares) e grande propriedade (acima
de 13.001 hectares); com o propósito de apreender o perfil das terras cedidas em sesmaria nos rios Moju e
Acará, durante o século XVIII. Objetivando perceber mudanças e permanências na estrutura agrária da região,
dividimos as concessões, e portanto, nossa análise, em dois períodos distintos: o primeiro que vai até 1750 e
outro que abrange as concessões entre 1751 e 1824- PÁG 7

[....]Na Primeira metade do século XVIII é erigida, no Rio Moju, a Ribeira das Naus, onde se fabricava
embarcações, arcos, pranchas, estacas, tabuados para forros, dentre outros produtos onde a madeira era
matéria-prima. A composição da força de trabalho da fábrica de madeiras era diversa, comportando
desde trabalhadores que chegavam do Reino, como mestres, maquinistas, construtores, ferreiros,
carpinteiros; passando pela mão de obra indígena que vinha, principalmente, das vilas e lugares de índios
do Marajó; e, posteriormente, também, será introduzido o trabalho africano - PÁG 9

[...]Nesse sentido, o mundo da agricultura não exclui o mundo do extrativismo e vice-versa, bem como o mundo
das “roças” não exclui o mundo da cidade. Compreendemos que há uma aliança e uma ideia de
complementaridade entre esses dois mundos, o que rompe com a imagem de “ciclo” das drogas do sertão, e, até
mesmo de “preponderância” do extrativismo. Há uma íntima relação entre estas atividades, para além da
dicotomia extrativismo-agricultura. E esta é mais uma razão para não pensarmos o Maranhão e Grão Pará como
“marginal”, “pobre”, “periférico”; posto que é preciso apreender a especificidade da região que engendrou
politicas diferenciadas a partir das experiências vivenciadas na Amazônia Colonial. Mais do que “atrasado” em
relação aos “centros” de colonização, o Pará e Maranhão devem ser compreendidos dentro de sua própria
lógica- PÁG 10

[...]Havia já, claramente, na segunda metade do século XVII uma preocupação da Coroa com o corte predatório
das árvores para extrair o cravo, o cacau e outros gêneros; aplicando-se regimentos que incentivassem a cultura
do cacau, do cravo e do anil, além de afirmar ser preciso aproveitar os frutos sem prejuízo das árvores. No ano
de 1680 era proibido que os governadores cultivam e comercializassem qualquer gênero; no entanto, foi
permitido ao governador Inácio Coelho Silva cultivar cacau para dar exemplo aos moradores Em termos de
incentivos da Coroa à agricultura, ressaltamos que a produção açucareira era incentivada com a isenção de
impostos e direitos, com a importação de escravos africanos, com privilégios judiciais e com a administração
particular de índios. Para os produtores de tabaco, a Coroa concedeu ao longo do século XVII diversos
privilégios proibindo a circulação de tabaco estrangeiro em Portugal e diminuindo ou isentando as taxas
alfandegárias. A produção de café também foi incentivada, por exemplo, no ano de 1731, com isenção de
impostos por um período de doze anos - PÁG 11

[...]O cacau, escolha dos irmãos Oliveira Pantoja, também recebeu incentivos da Coroa. Fato é que a
Coroa Lusa estimula de modo peculiar o plantio de cacau. Peculiar em comparação ao incentivo a outras
culturas (que obtiveram isenção ou diminuição de impostos); no entanto, bastante apropriada a uma
sociedade de Antigo Regime: através da distribuição de mercês.[....] De acordo com Rafael
Chambouleyron em muitas ocasiões a Coroa concedeu privilégios aos produtores de açúcar, tabaco e
cacau. Privilégios estes que vinham na isenção de impostos, benefícios jurídicos e ajuda para a obtenção
de escravos africanos e indígenas- PÁG 12
[...]De acordo com Alden, o cacau só se tornou um produto importante “para exportação” na região
amazônica, na década de 1730. No entanto, esse cacau seria proveniente da floresta, do cacau bravo
(extraído) e não do manso (cultivado). Segundo o autor, os governadores do Estado do Maranhão, obtiveram
sucesso no estímulo à produção de cacau, porque facilitaram o sistema de licenças para que as canoas pudessem
subir o rio e colher o cacau bravo do sertão. Por conta disso, a produção de cacau teria majorado a rebote do
aumento das licenças que pularam de 80 a 110 por ano entre 1723 e 1729; passando no início dos anos de 1730 a
média anual de 250 e, em 1736, pularam para 320 licenças concedidas Por outro lado há, também, como já foi
dito anteriormente, um aumento na concessão de sesmarias, e uma grande parte delas destinadas a plantação de
cacau. De acordo com Rafael Chambouleyron, entre 1690 e meados de 1720, ou seja, antes do chamado
“incremento da economia cacaueira na Amazônia”, há referência a sesmarias dedicadas ao cultivo de
cacau (muito embora muitas destas não eram dedicadas exclusivamente ao cacau) - PÁG 14

[...]Componente importante para pensarmos que a produção de cacau nas sesmarias era mão de obra. Temos
claramente, ao mapear a documentação do arquivo histórico ultramarino referente ao Pará, uma constante: Os
pedidos de licença, dos moradores, para resgatar indígenas nos sertões, ou solicitando indígenas forros e livres
para trabalhar nas fazendas de cacau. [...] Extraído dos sertões ou cultivado, utilizado como moeda, motivo de
discórdias e disputas. Em nome das plantações de cacau pedia-se autorização para descer índios, pedia-se
escravos de África, mercês e hábitos de ordens militares, trocavam farpas padres e colonos; e, em torno do cacau
girou a história dos Oliveira Pantoja neste período de estabelecimento e consolidação da família, até meados do
século XVIII. - PÁG 16

[....]No dia 17 de outubro de 1780 Amândio José de Oliveira Pantoja casou-se com Francisca Xavier de Siqueira
e Queirós. Francisca, com 27 anos, cinco anos mais velha que Amândio, era viúva e possuía dois filhos varões,
fruto do seu casamento com o capitão e Familiar do Santo Ofício Gonçalo Pereira Viana. A família de
Francisca, os Siqueira e Queirós eram pertencentes a elite tradicional da capitania do Pará. O pai de Francisca,
Francisco de Siqueira e Queirós era proprietário de terras, Senhor de Engenho e morava em seu engenho de
Nossa Senhora do Rosário do Rio Acará, onde na capela foi batizada Francisca. A propriedade de Nossa
Senhora do Rosário aparece na descrição de bens no inventário de Amândio- PÁG 20

[...]O casamento com Francisca, talvez, abra para Amândio a possibilidade da familiatura, o primeiro
marido de Francisca foi Familiar do santo Ofício o que a tornava já habilitada pela Inquisição. Oportuno
sublinhar, que antes do casamento, não encontramos documentos de Amândio pedindo terras ou patentes
militares. É depois do casamento que ele pede habilitação, é promovido a capitão e passa a figurar
constantemente na documentação oficial. É, também, através da aliança matrimonial entre a família de
Francisca e Amândio que os Oliveira Pantoja ampliam a base territorial da família para o Rio Acará, que
diferente do Moju, sempre teve as maiores extensões de terra dadas em sesmaria e que, tradicionalmente,
suas terras eram voltadas para a produção açucareira. PÁG 20
CONCLUSÃO DO TEXTO:

FAMÍLIA OLIVEIRA PANTOJA -


1 Geração: Finca raízes na capitania do Pará em finais do século XVII, envolve-se na prévia
ocupação e posterior pedido em sesmaria de terras às margens do rio Moju, destinadas à
produção de cacau.
2 Geração: Os primeiros nascidos no Pará, permanecem na estratégia de ocupar terras e
pedi-las em sesmaria, ainda para a produção de cacau e outras lavouras.
3 Geração: Insere-se na produção do açúcar e amplia a base territorial da família para o
Acará, área tradicionalmente ligada à cultura canavieira, através, principalmente, de aliança
matrimonial entre os Siqueira e Queirós e os Oliveira Pantoja, via casamento de Francisca
Xavier e Amândio José.

O que sabemos é que a família Siqueira e Queirós insere os Oliveira Pantoja em uma rede
familiar tradicionalmente envolvida com o cultivo da cana de açúcar. Estas Questões podem
confirmar que análises mais acuradas sobre as alianças matrimoniais dessa elite, além da
remontagem das genealogias, podem revelar caminhos que levem a compreender a trajetória
da formação e consolidação de fortunas no Pará colonial.

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