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A jovem me procura. Seu olhar ansioso me questiona o indecifrável. Vasculho meu Google mental – nada.

Surpreso, sinto-me um alienígena no Planeta das Novas Gerações…

Ela: “Pastor, deu match no meu Tinder, e agora? Dou Super Like?”

Eu: cri, cri, cri… (silêncio sepulcral da santa ignorância).

Tinder? SuperLike? Match? Ei, alô-ow, péra aí! Dá pra Siri traduzir? Fico com “cara de paisagem” (daquelas que a
gente comprime os lábios e a testa fingindo um QI nababesco), aperto sua mão, sorrindo nervosamente, e
arrisco: hum, ok, like é melhor que deslike, né? (#sqn!) Desesperado, pego meu tele-transporte–nerd até à nave-
mãe da minha casa pra entender este novo idioma.

Agora sim! #ficadica pra você que #partiu coração apaixonado…

O maior aplicativo de relacionamentos do mundo anunciou seu mais novo upgrade: o Super Like. Depois que
seus integrantes encontram a alma gêmea (match), eles podem reforçar o interesse dando uma “estrela” pra
sinalizar que é serio. Como diriam, é pra casar! O Tinder, desde seu início, alega ter gerado mais de 8 bilhões de
encontros pra milhões de usuários buscando cúmplices amorosos neste mundo de solitários.

Solitários? Isso. Neste ano, a Revista Time anunciou a nova pandemia dos terráqueos. Sabe qual é o verdadeiro
mal-do-século? Solidão. Neste emaranhado de tecnologias “aproximativas” tem muita gente se distanciando nas
próprias redes sociais. Seduzidos por atalhos digitais nos ‘xavecos’ pessoais, as ilhas humanas parecem ampliar as
distâncias entre si. É uma grave realidade que o mais sábio depois de Cristo já anunciava: “pôs a eternidade no
coração do homem” (Eclesiastes 3:11). Ou seja, tem espaços na alma que só a conexão com Deus supre – mesmo
com atraentes APPs relacionais.

Em um bate-papo por Periscope perguntei sobre o Tinder. As opiniões variaram: “pastor, é pegação via cardápio
humano”, “tem gente com perfil fake pra mentir que não é casado”, “um casal casou feliz e mora nas Filipinas”,
“prefiro não arriscar ser os 5% de exceção à regra”, “é liberdade pra quem a fila anda”, e por aí vai… Minha
opinião? Vai da Bíblia à prática: “Guarde-se para que não seja também tentado” (Gálatas 6:1). Na maioria, quem
está lá sabe que, na busca do amor verdadeiro, a possibilidade de sexo casual é grande e tentadora. Inclusive,
recentemente, a Revista Vanity Fair entrou em uma polêmica e alegou que mais de 30% dos usuários são casados
e buscam aventuras extra conjugais. Além disso, pela facilidade com que o sexo ocorre (com apenas algumas
telas “arrastadas” conforme a preferencia dos likes) o artigo alerta para o “Apocalipse do Namoro” – reforçando a
ênfase na futilidade facilitada de gente desconhecida terminar a noite na cama de um completo estranho.

Falando nisso, meu queixo caiu com outra informação: em média, os millenials precisam de não mais que dez (só
10!) trocas de mensagens para marcar um primeiro encontro já com as vias de fato. Acredita? Confesso que
petrifiquei. Porque muitos jovens estão confundindo as coisas. Ninguém faz amor só fazendo sexo. A
geraçãoSnapChat corre o risco de transmitir a efemeridade das lembranças instantâneas para os assuntos
emocionais. Com uma grave diferença: você nunca sairá ileso de uma vida emocional descartável. Temo e tremo
com a possibilidade de seres vazios procurarem outros vazios pra se esvaziarem juntos.

Posso ir além? Pelo pavor do isolamento relacional assombrado por uma aparente solteirice digital, internautas de
carne e osso acabam se lançando nas águas rasas das relações sem compromisso. Batem a cabeça sonhadora no
fundo duro da falta de valor próprio e flertam traiçoeiramente com a infelicidade travestida de prazer. Isso é
“pegação” porque “a fila anda”? Desculpe, mas só se for “andar pra trás” enquanto restos dos “largados” se
entulham solitários no saldão do descaso amoroso. Não esqueça: depois de toda “pegação” sempre sobra a
“largação” – e, cedo ou tarde, isso vai cobrar seu preço.

Existem exceções? Pode até ser, mas sugiro não pagar pra ver! Afinal, felicidade mesmo só existe numa vida de
princípios que ousa obedecer a vontade divina. “Sejam vigilantes, permaneçam firmes (…) fortaleçam-se” (I
Coríntios 16:13). Se os Céus ordenam esperar, não são likes na Terra que vão liberar. Pois corpos não existem pra
serem usados, e sim, para materializarem a plena adoração a Deus. Se Ele é amor – e morreu pra honrar o maior
compromisso de fidelidade com suas criaturas – cabe a nós nos lançar de verdade na cumplicidade deste amor
extraordinário.

Por isso, a Bíblia alerta: “Alegre-se jovem na sua juventude (…) sabe, porém, que de todas estas coisas Deus lhe
pedirá conta” (Eclesiastes 11:9). Soa ameaça? Não. Está mais pra preservação da espécie rara de uma juventude
consistentemente feliz. Uma nova geração que salte da mesmice deste mundo sendo visionária por horizontes
maiores e melhores. Gente ousada capaz de dizer NÃO ainda que pareça minoria – amantes do que é certo
somente encontrados nos relacionamentos reais cujas lutas reais se dobram ajoelhadas perante o Senhor real.

 
Aí, sim, serão felizes para sempre…

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