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Do mapa

ao tesouro
Algumas pistas para a vida
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Do mapa
ao tesouro
Algumas pistas para a vida

Joinville
Edição da Autora
2020
Copyright © Mirtes A. L. Strappazzon, 2020

EDIÇÃO
Da autora

ILUSTRAÇÕES
Isadora Weber

MAPAS
Página 6 – Detalhe do mapa extraído das Cartas de João Teixeira
Albernaz, de 1640.
Página 28 – Fragmento da Carta das Cortes, de 1749.

PLANEJAMENTO GRÁFICO
Ayrton Cruz

CAPA
Ayrton Cruz sobre ilustração de Isadora Weber

ISBN 978-65-00-13608-1

Projeto viabilizado por meio da Lei de Emergência


Cultural Aldir Blanc (Lei no 14.017/2020) de Joinville.
Aquele que escreveu o Mapa.
Aqueles que deram a vida.
Aqueles que me inspiram para escrever.
Aquele que é meu companheiro apoiador de sempre.
Aquelas mulheres de nossa família.
Minha dedicação!

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Bússola

Uma carta de apresentação......................................................9


Acessórios para a viagem........................................................11
Um sonho.................................................................................12
Seguindo o Mapa.....................................................................13
Tentando ler o Mapa...............................................................15
Mapeando as palavras.............................................................17
Balanço das ondas...................................................................19
Diário de bordo.......................................................................20
A primeira trilha......................................................................21
O Mapa.....................................................................................25
Amanheceu..............................................................................27
Uma oração..............................................................................29
Saudades...................................................................................31
Na busca de casa......................................................................33
Gratidão, satisfação e felicidade.............................................36
E outra noite chega!.................................................................38
Escuridão..................................................................................40
Andarilhando com meu Amigo............................................41
Mais um acampamento!.........................................................44
Um grito para o Céu...............................................................46
A Vida.......................................................................................49
Olhando para o alto................................................................51
O tesouro..................................................................................53
Minha inspiração ....................................................................57
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Uma carta de apresentação

Sou uma andarilha...


Uma menina de cabelos lisos e escuros, olhos castanhos, sor-
riso claro e sincero, pequenina e como diria meu papai, uma me-
nina fofinha.
Sinto que mamãe e papai me amam e trabalham muito para
que eu possa andar daqui para lá e de lá para cá. Caminhos para casa,
escola, vizinhança, amigos, família, brincadeiras e outros sonhos.
Mamãe diz que sou sonhadora. Eu sonho bastante.
Sabe, eu gosto muito do meu irmão, que é um pouco mais
novo que eu. Sinto-me feliz quando posso cuidar dele na ausência
de papai e mamãe, mas acho que ele nem sabe disso.
Temos uma casa maravilhosa, toda de madeira, com varanda
e uma bela escada que fica em frente ao pé de Cinamomo, uma
árvore muito grande e de folhas bem verdes! Às vezes subimos
nela e fazemos de conta que é um grande helicóptero. Outros dias,
é nossa casa da árvore, e ainda é suporte para o balanço feito de
corda com assento de madeira. Tudo é divertido!
Atrás da nossa casa tem um lindo pomar com laranjeiras,
limoeiros, pessegueiros, limeiras e as frutas são saborosas.
E quase me esqueço do poço! Temos água de nascente e pa-
pai colocará um motor elétrico para puxar a água. Ainda não en-
tendi direito isso, mas acho que não faremos mais força para tirar
água do poço com a bomba manual e o balde.
Meu Amigo disse que teremos água em canos pela casa! Ah!
Claro: tenho um Amigo, que apenas eu vejo e posso escutar.

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Toda criança tem um amigo ou amiga que nenhum adulto
consegue ver, nem ouvir. Sim, ele é invisível e fala o tempo todo.
Mas, na maioria das conversas, meu Amigo diz coisas que eu
ainda não imaginava, nem sabia que poderiam existir, e ainda, me
ensina a escolher coisas boas para essa vida de criança.
Esse Amigo está me ajudando a procurar um tesouro, pois
nós temos um Mapa.
Essa é a razão de estarmos ansiosos planejamento nossa via-
gem.
Da caça ao tesouro!

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Acessórios para a viagem

Precisamos chegar numa ilha, mas antes temos que sair de


nossa cidade de carro, assim, as passagens de ônibus já estão com-
pradas para chegar no cais da Cidade das Luzes. Em seguida, pe-
garemos um barco chamado catamarã para a ilha, são outras pas-
sagens, ainda não compradas!
Gastei todo meu dinheirinho do cofrinho, mas valeu a pena!
E como fiz aniversário no mês passado, pedi alguns presentes es-
pecíficos. Vovô e vovó me deram uma barraca de acampamento.
Tio Pedrinho trouxe uma bela lanterna com três jogos de pilhas.
Não faltará luz.
Tia Lalá e as crianças economizaram para a bússola.
O primo Cantador comprou um saco de dormir. Falando
nisso, faltará outro para meu Amigo invisível.
O fogareiro, as panelinhas, as canecas e os talheres foram pre-
sentes do meu amigo João da casa ao lado. Ele quer ir junto, mas
não será possível. A barraca dá para dois e não para três pessoas.
Papai reservou os mantimentos para toda a viagem e mamãe
bordou as toalhas com meu nome, e quando as colocou na mi-
nha mochila deixou um envelope em cima da cama, endereçado a
mim. O que tinha lá? As passagens do barco para seguir viagem!
Ah! Não posso esquecer de minha pianica, sem música não é
possível percorrer tantos caminhos! Ah sim! Uma pianica é um te-
clado portátil que eu sopro e toco as teclas e tudo vira muitos sons!
Acredito que está tudo pronto.
Podemos partir?

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Um sonho

A noite chegou.
E antes de dormir, como de costume, minha mãe me deu um
beijo, fez a oração da noite comigo e me deu boa noite.
Nessa hora meu Amigo sussurrou: você é uma menina aben-
çoada, e fique firme na rota. Caminhando dia a dia seguindo um
Mapa cheios de enigmas.
Sim, sigo todas as orientações fazendo melhor possível para
encontrar o tesouro que tanto busco! Não ando à deriva, caminho
na linha da trilha estreita que meu Amigo designou e (pre)escre-
veu de modo mais correto para se viver. E agora, tenho a oportu-
nidade de viver uma aventura assim!
Sim meu Amigo! Espero que meus pequenos passos sejam es-
táveis no curso estabelecido para mim. Espero assim, não ter (des)
gosto algum ao comparar minha pequena vida a seu conselho.
Sabe de uma coisa? Te agradeço quando fala comigo do seu
coração para o meu! Por favor não me abandone nessa viagem.
Como uma irmã mais nova, vou considerar te obedecer.
Mas, agora estou com muito sono, podemos dormir eu e
você, meu Amigo?
Ah, sim. Boa noite!!!

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Seguindo o Mapa

Pergunto-me como viver uma vida pura? Se ainda sou crian-


ça! E a resposta surge com um raio de dentro de mim. Seguindo o
Mapa do tesouro, ora!
Estou decidida a procurar essa vida. Não posso falhar em
enxergar as placas que indicam a direção do caminho. Guardar
as palavras no baú do meu coração; assim não errarei o trajeto.
Tenho as placas como promessas para achar o tesouro. Vou estar
atenta às pistas.
Quero pedir aqui um treinamento para meu Amigo: Treina-
-me nos caminhos da vida! Coloco em minha boca os conselhos
que me der. Tenho mais alegria nessas palavras do que em ganhar
presentes.
Sua sabedoria é maior que a minha, assim espero que me
oriente nesse percurso e com o Mapa que temos, e assim vamos
juntos andarilhar.

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Tentando ler o Mapa

Continuo pensando no tesouro e imaginando como será essa


busca.
Dentro do ônibus, tenho me esforçado para ler, embora a
turbulência não me deixa analisar os caminhos do Mapa, da for-
ma que eu gostaria.
Meu Amigo diz que preciso pedir ao Céu uma certa inspira-
ção. Ainda não entendi essa parte, mas sigo em frente. “Talvez o
Universo conspire para que dê tudo certo.” É o que sempre mamãe
fala quando alguma coisa dá errado.
Peço então a generosidade e vida completa. Oh! Precioso
Céu, mostra-me as coisas maravilhosas para que eu possa enxer-
gar nos trajetos que traduzem encruzilhadas que poderão chegar
em minha viagem de vida.
Não sou cartógrafa e são muitos caminhos no Mapa. Mas
tenho a bússola, que pode me levar ao tesouro por direções claras.
Gera-me mais dessas experiências. Não sou como alguns co-
legas que sabem todas as coisas, ou pensam saber. Sabe de uma
coisa? Eu sei que nada sei...
Meu Amigo, cuide de mim para que não me humilhem, pois
tenho sido esforçada em traçar meus pequeninos passos nesse
complexo Mapa. Talvez esse seja o Mapa da minha vida quando
eu crescer um pouco mais...
Estou preocupada em ajustar o seu conselho, Amigo, e não
importa quantas vezes eu tenha que retornar, (in)dependente do
que dirão as pessoas de mim!

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Suas palavras estão nesse Mapa e sigo a direção
que me aconselha, saltitando por caminhos alegres e
que fazem sentido para mim.
E continuo tentando decifrar as linhas do Mapa.

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Mapeando as palavras

Estamos quase chegando ao cais da Cidade das Luzes. E como


me sinto? Frágil, empenhada no processo de conhecer os saberes
desse Mapa. Oh! Céu! Mostra-me suas marcas, suas palavras.
Deixadas aqui, nesse tumulto de linhas, nesses papéis, nesses
rolos, nesse Mapa... Da minha pequena Vida!
Essa vida que se quebra como madeira caindo. Mas, que tem
a esperança do conserto. Por onde? Pelas palavras do Mapa, e pe-
las minhas ações a andarilhar por ele.
Oh! Meu Amigo! Não permita que eu siga a placa do Lugar
Nenhum! Me conduza com sua orientação, fala mansa e cuida-
dosa para Aquele Lugar! Onde possa te encontrar e estar contigo.
Me ensina como fazer isso. E eu correrei de pés descalços se
necessário for.
Oh! Me conduza no caminho que está traçado para mim,
nesse trecho do Mapa ou por todo ele. Me mostre...
E como se terminasse uma oração, abri meus olhos, fechei
o Mapa, guardei na mochila e cochichei para o Amigo que havía-
mos chegado no cais. Descemos do ônibus e caminhamos para o
grande e longo trapiche.
Olhei o mar sem fim, água azul cristalina, pessoas ao redor
procurando seus lugares, filas e marinheiros sorridentes.
Lá estava o nosso catamarã, como imaginei! Branco, grande,
com lugares para sentar, para subir ao segundo andar e ver o gran-
de mar e as ondas que batiam na proa.
E lá fomos para outra aventura...

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Balanço das ondas

As ondas do mar vão e vem. Elas se balançam o tempo todo.


Como sei disso? Observando-as enquanto partíamos do cais da
Cidade das Luzes para a Ilha do Tesouro.
Ocupei num dos assentos da embarcação e novamente fechei
meus olhos, e fiquei com meus pensamentos:
Oh! Céu! Sei que às vezes fecho meus olhos e também, meus
ouvidos.
Mas...
Peço então que me ensine suas lições para eu viver melhor.
Para manter-me no curso da Vida! Dá-me outras percepções
e assim seguirei adiante.
Gosto de trilhar esse caminho, e que não junte riquezas e
coisas, que não seja maldosa, violenta e do mal...
Desvia sim, o meu olhar, de tudo que é maldoso.
De toda bugiganga, afastando todas as más palavras.
Daqueles que não gostam de mim e de certa maneira não me
aceitam.
Preserva o meu caminho pra achar o tesouro, e, mostra-me
com clareza qual trilha devo seguir.
Me põem Naquele Lugar!
E de olhos fechados, rodeada de conversas, segui até a Ilha
do tesouro escutando apenas o balanço das ondas.

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Diário de bordo

Quando chegamos a Ilha, cada um foi por um destino dife-


rente.
O sol estava se pondo. Decidimos que acamparíamos na
praia embaixo da grande árvore que avistei. Armei a barraca, o
saco de dormir, e fiz a fogueira para espantar os bichos. Percebi
outras fogueiras ali por perto. Poderia ser os outros caçadores de
tesouro que comigo chegaram no cais.
Também arrumei o espaço para meu Amigo, pois ele estava
cansado e disse que já iria descansar!
Eu comi barrinhas de fibra com café solúvel, pois queria ter-
minar a primeira escrita no diário de bordo. E como anotei? Assim.
Todas essas coisas que escrevi.
Só serei capaz de fazer ou seguir.
Se for modelada pelo Céu.
Serei como argila na mão de uma oleira.
Serei amassada. Deformada. Modelada para talvez me tornar
um grande e bonito vaso, como os de mamãe!
Guardando dentro dele as suas promessas, revelações, pala-
vras, mandamentos, sabedoria.Tudo que contempla o Mapa.
E o que fazer com tudo isso? Só guardar para mim?
Não...
Me deixe ser achada, e revelar tais guardados do Mapa
Para outra caça ao tesouro com outras pessoas, num outro
tempo...
E fui dormir, sem acordar o meu Amigo.

20
A primeira trilha

O dia amanheceu ensolarado, pássaros cantando ao nosso


redor, ondas se movimentando à beira da praia.
É chegada a hora de planejar a caminhada. Porém, antes dis-
so, um bom café é preciso.
Acendi o fogo com gravetos, coloquei a caneca grande com
água que ainda tinha na mochila, desembrulhei os papéis que
guardei os pãezinhos que mamãe preparou, e fiz o café para mim
e para meu Amigo, que já estava há tempo observando a praia e a
imensidão daquele oceano.
Após o delicioso café, levantar acampamento é a frase que
tenho a dizer, e com tudo na mochila. Peguei o Mapa.
Não me canso de ler esse Mapa, as palavras que nele contém,
pois nelas me apego para que sejam meu sustento verdadeiro.
Depois de algumas observações seguimos pela primeira tri-
lha aberta.
Enquanto caminhávamos, encontramos várias pessoas, as
quais acredito que como eu, também buscam o tesouro!
Algumas desses andarilhos me ridicularizam, dizendo que
estou na contramão...
Outros falam que o Mapa é falso.
Alguns falam que as placas e as setas de indicação não levam
a tesouro nenhum...
E mesmo diante disso, o que enxergo?
Vejo então, que eles voltam sem confiança,
Raivosos.

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Entretanto, eu. Confio plenamente nas palavras que indicam
o caminho certo.
Mesmo sendo elas antigas e ultrapassadas, são memoráveis.
E nessa hora. Irrito-me com aqueles que desistem da caça ao
tesouro.
Porém, logo lembro-me daquilo que permeia o meu coração
desde antes de eu nascer a música.
Converto então, as instruções do Mapa em símbolos de mú-
sica. Para quê? Para caminhar cantando pelas trilhas que o Mapa
me leva.
Junto também as peças como um quebra-cabeça. De dia leio,
à tarde medito e à noite (re)escrevo. Talvez não nessa ordem, mas
na maioria dos dias, sim.
Mesmo que, nos encontros com os outros caçadores, eles me
golpeiem com olhares, risadas, palavras, ofensas e desdém... Eu
sigo adiante aconselhado pelas palavras do Mapa, tentando en-
contrar o tesouro.
E mais um dia se fecha com o lindo pôr do sol que a Ilha nos
presenteia!

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O Mapa

Passamos o dia trilhando, e meu Amigo nada falou como de


costume, me deixou ler, pensar e pensar...
A noite cai!
Deito-me no chão e vejo as estrelas que se parecem como
fagulhas de fogo, umas pequeninas, outras maiores, e o Céu fica
cintilante iluminado pela meia Lua ao lado direito.
Vejo a fogueira do meu lado e as chamas acesas...
Lembro-me das placas do caminho de hoje,
E de todos os dizeres!
Espero o sorriso e a graça do Céu.
É meu sentimento. Do mais profundo ser.
Como disse, Amigo. Sei que retornarei a trilha que marcou
com mais cuidado,
Seguindo as placas e as palavras.
Lembro-me daqueles que me pararam, zombaram e fizeram
de tudo para eu desistir na primeira trilha...
Mas, fui resistente, resiliente.
E sei que o plano todo ainda não está completo, pois não
decifrei todos os enigmas.
Agradeço ao Céu,
Este chão,
O aquecer do fogo ao relento,
A pedra como travesseiro,
E a brisa como cobertor!

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Pois não estou sozinha!
Mal posso esperar o amanhecer...
E treinar para andar no trilho da trilha
do Caminho, da Vida,
Daqueles que encontro como pistas a seguir.

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Amanheceu

Levanto pensando nas leituras do Mapa e no dia que vamos


treinar as trilhas!
Lendo as placas pelo caminho que andamos, vejo o quanto
meu Amigo tem sido bondoso para comigo.
Ele me ensina a ter bom senso, seguir todas as palavras das
placas!
E eu me comprometo em segui-las, é claro!
Agora me sinto em total sintonia.
Amigo, continue sussurrando aos meus ouvidos.
Continue me treinando na tua bondade,
Mesmo que os outros não acreditem que você existe.
E que existe o tesouro...
Mesmo que mentiras sejam espalhadas a meu respeito,
Danço conforme a sua música toca!
Amigo, continue revelando para além das placas, em todos
os textos que podem estar escritos para eu ler.
Ah! Os meus problemas mudaram?
Eu digo que são melhores que antes!
Pois de certa forma essas situações forçaram-me a aprender
nas suas palavras, Amigo!
E como sua amiga, prefiro essas verdades mais do que o pró-
prio ouro que buscamos.
E assim continuo firme na busca perfeita.

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Talvez na trilha imperfeita, pois sou uma menina não total-
mente perfeita.
Mas, certamente, fui feita para caçar histórias além de tesou-
ros.
Andamos mais alguns trechos, com pontes, riachos, águas
saborosas, cristalinas que só são encontradas em lugares em que a
civilização ainda não chegou.
Muitas foram as conversas com meu Amigo e grandes foram
as aprendizagens. Parece que foram vários dias num apenas!
Resolvemos então, descansar. Acampamos numa clareira
que dava para uma espécie de caverna. Lá fizemos nossa fogueira
de sempre. Acomodamos as panelas e outros utensílios a fim de
cozinhar feijão. Fomos ver se o riacho tinha peixe, e aí, bingo: pes-
camos dois peixes. Assados, ficaram saborosos com o feijão.
Após a refeição, contamos boas histórias de pescaria e nos
arrumamos para dormir.
Amanhã temos mais um dia!

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Uma oração

Quase adormecida, tive um breve pensamento daqueles que


se transformam em oração. Lembro-me que eu dizia:

Hoje já sei que me criaste com tuas próprias mãos,


Espero ansiosa teu sopro de sabedoria em minha mente...
Estou à espera da tua palavra
E, todos me veem
E, terão coragem e alegria.
Vejo que suas decisões são justas,
Pois a provocação me ensinou o que é verdadeiro e justo!
Me prometeu amar e me abraçar.
E, nesse momento, conforta-me para eu viver verdadeiramente
a tua revelação, que é música para escutar, dançar, apreciar!
Olho para os trapaceiros e peço que sejam desmascarados.
Mantive-me firme em teu conselho.
Sem me perder na grande lista de produtos.
Todos que o temem se voltem para ti...
Evidência de tua orientação.
E que eu, possa andar no caminho pleno,
Com alma e corpo erguidos,
Sempre na Tua presença.

E dormi, sem saber se falei outras frases ou não.

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Saudades

Hoje, levantei sentindo algo diferente dos outros dias...


Acho que era saudade...
De quem?
De quando?
De onde?
De casa?...
Isso! Saudades de casa, um lugar de
aconchego,
amor,
carinho,
esperança,
salvação,
proteção,
um porto Seguro...

Olhei para meu espelhinho. Que susto! Minha face se tornou


cansada. Mas, de quê? De esperar. O quê? Seu conforto.
Os meus olhos, mesmo lacrimejados e esfumaçados, arden-
do como fogo. Não os fecho.
Continuo esperando e seguindo o Mapa! E me pergunto em
total silêncio: até quando isso durará?
E aqueles arrogantes que querem me desviar do trajeto, que
me fazem pensar por vezes em mudar a trilha. O que faço?

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Todos, sem exceção, andam passeando pelos caminhos do
Mapa. Entretanto, sem estarem atentos para as instruções. As pla-
cas têm direções claras e corretas...
Eles não enxergam, não decifram.
E ainda, me incomodam com seus insultos e mentiras.
“Meu Deus, socorro!”, dei um grito.
Me mantém firme, como as rochas que vejo aqui.
Que eu não vá para longe,
Que eu siga as placas, encontre o caminho que me leva para
casa,
Verdadeiramente!
Peço que me renove com teu imenso amor
Me deixa sempre alerta
Com suas rotas diretivas
Para que eu obedeça às setas e tudo que no Mapa me orienta.
Meu tesouro, assim, estará mais perto de mim e eu dele.
Eu e meu Amigo caminhamos mais alguns quilômetros e a
Lua apareceu.

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Na busca de casa

Continuo dormindo ao relento para apreciar a imensidão


do Céu.
Continuo caminhando firme na busca do tesouro.
E, em minha mente...
Penso, medito, converso, leio e compreendo alguns dos enig-
mas:
O que me fala é tão perene quanto os céus
Sua verdade nunca sai de moda,
Ao contrário, se atualiza a cada raiar do Sol.
Suas palavras e caminhos são altamente
confiáveis,
verdadeiros,
sinceros.
Em qualquer...
segundo,
minuto,
hora,
dia,
mês,
ano,
tempo – kronos ou kairós...
E assim, a Terra se desloca em movimento desde a sua de-
signação!
Revela-me nas instruções, e também,
Nos enigmas das muitas placas...

33
Nas tramas, tecendo todo o Mapa!
Tudo me agrada,
Não desisto de procurar.
Salva-me de situações perigosas.
Salva-me de astutos.
Salva-me de minha própria Vida...
Como?
Com sábias palavras...
Escritas no Mapa
Em (des)ordem,
Em meios,
Em (entre)meios,
Em muitas metáforas.
Em parábolas...
E assim, não me (pre)ocupo com planos que tem para mim.
Enxergo minhas mazelas, minhas (in)certezas, meus limi-
tes simples e não tão simples assim, totalmente humanos, de uma
criança em crescimento!
Entre tantos obstáculos, entre tantos pontos, vejo a linha do
horizonte...
Como um traçado a ser desenhado pelo Artista, que tudo
desenha com os lápis e com os dedos...
Traços soltos e firmes ao mesmo tempo, esboçando mais
uma vez
Minha pequena e singular Vida.
Na tela do mundo... tentando chegar em casa.

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35
Gratidão, satisfação e felicidade

E outro dia resplandece em meio a calor e ventos refrescantes!


Tomando café, muito quieta fico a pensar.
E tudo que me revelar com sabedoria e moderação meditarei
nesse dia.
Sua direção me leva a frente e tenho vantagens sobre aqueles
que querem o meu atraso.
E como essa andarilha que me sinto...
Seus ensinamentos me renovam. Não são obsoletos!
Com isso prossigo como a brincadeira – Siga o Mestre!
Obedecendo, seguindo orientações e revelações que o Mapa
mostra.
Até me tornei mais esperta! Diria mais sábia do que os ve-
lhos sábios... E porquê? Porque sigo a rota.
Espero sempre estar na vigia, como soldado na torre.
Pois assim, posso evitar as trilhas da maldade, da inveja, dos
ciúmes, da (in)satisfação, da (in)gratidão...
Quero ter tempo de pensar e guardar os enigmas.
Não quero me desviar da rota, da direção, da compreensão,
do Mapa que me deu. As coordenadas do Mapa são as melhores,
não sei como, mas estou muito certa disso!
As placas estão escritas com palavra seletas, saborosas, deli-
ciosas. Melhores que os quitutes da vovó.

36
Estou pensando que é melhor ser instruída e compreender
tal direção para ser grata, satisfeita e feliz, assim como sou!

Após esses pensamentos, o café ficou frio e ruim, acho que


lembrei da comida da vovó e de sua casa!
Amigo pegou-me pelo braço e disse:
Vamos arrumar essa bagunça de acampamento e seguir trilha
adentro, pois descobri uma coisa interessante no Mapa...
E lá fomos nós, juntamos tudo, cumprimentamos os amigos
e alguns não tão amigos assim, e subimos caminho adentro.
Mais um dia se passou...

37
E outra noite chega!

Caminhamos iluminados pelo Sol, eu e meu Amigo!


E com suas palavras no caminho,
Enxerguei com maior claridade ainda.
Talvez como um clarão como se fosse de um raio em meio a
estrada escura.
Pensei e conversei comigo mesma desta vez: Não volto atrás.
(Ponto).
Quero viver conforme as orientações do Mapa,
Me sinto (des)moronando, e restaurada,
Estranha...
Plena...
Alegre...
Satisfeita...
Feliz...

Cada vez mais quero cantar, tocar meus instrumentos e tudo


fazer para honrar o Dono do Mapa, ou, Aquele que escreveu o Mapa.
Pois, hoje tive algumas pessoas passando por mim, crianças,
jovens e adultos trazendo propagandas,

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Algumas enganosas,
Me tirando do percurso do Mapa.
Mas, com esperteza da sabedoria não me desviei,
Continuei na rota.
Herdei o Mapa.
Ele me guia...
Que presente esse!
Estou feliz e buscando o tesouro.
Sigo exatamente cada indicação.
Passei por mais um dia.
Cansada.
Quero dormir.
Descansar Naquele que fez o Mapa.
E amanhã?

Mais um trecho,
Uma trilha,
Uma nau,
Uma bússola,
Um ponto cardeal.
Uma longitude,
Mais um dia.
Não igual a esse vivido hoje.

Outro dia,
Outros laços,
Outra latitude,
Outra direção.
Com o mesmo GPS,
Mesmo Mapa,
Mesmo Amigo.

39
Escuridão

Cansada e feliz com o encontro que me leva ao tesouro pre-


cioso, caí em sono.
Estava só? Não, me encontrava no centro escuro e ao redor
muitos malfeitores, com máscaras, sem rostos, mãos esqueléticas.
Tudo escuro!
Um buraco negro!
Um mar de lama preta, assustadora, temerosa e escorregadia.
Resistente, gritei! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!
Acordei! Molhada de suor. Lavei meu rosto e sequei rápido.
Senti a brisa que vinha do lago, onde acampamos. E aí, lembrei do
que tinha lido no Mapa. Então, apenas olho em volta e contemplo
a natureza que me cerca, uma espécie de museu ao ar livre vivo.
Despertada, sigo a tomar o café silvestre que meu Amigo
preparou.
Seguimos adiante com o sol raiando!
E com minha pianica a tocar e cantar pelo caminho.

40
Andarilhando com meu Amigo

Eu e meu Amigo tomamos o Mapa, definimos a rota e segui-


mos conversando pelo caminho indicado.
Sabe, Amigo, eu sou defensora da justiça e do direito,
Por isso vou te pedir uma coisa: não me deixe a mercê de
opressores, neste dia e neste caminho.
Me ensina a permanecer do seu lado,
E você, fica comigo,
Não permitindo que ninguém leve vantagem sobre mim. Ve-
nha também cumprir sua promessa...
Em meu ser,
Em minha Vida,
No meu caminhar.
Com seu amor, vem me guiar.
Ensina-me sobre a vida com seu Mapa-texto
Escrito, desenhado
Cheio de histórias nas belas placas
Que encontro nessas trilhas. Mais pistas!
Como menina servidora que sou,
Ensina-me a compreender, seguir e memorizar todas as ins-
truções desse Mapa. No sentido mais profundo!
E agora, é hora de agir!
Suas instruções, revelações e enigmas não pode ser um cam-
po de batalha! Como os meus jogos lá de casa!

41
Ó, meu Amigo!
que age,
que ama,
que amo seguir,
que deixa escrito para mim...
Com toda minha pequenez...
em tamanho,
em pensamento,
em experiências,
em convivência,
em tudo!
Meu Amigo, me orienta com sua bússola de amor.
Sou grata por isso também...
O tesouro, as joias, o ouro, os diamantes e tudo o mais...
Não são mais preciosos que você meu Amigo!
A minha honra – sempre.
O meu desprezo aos atalhos – sempre.

Seguir o Mapa –
É ser obediente as instruções,
É ser seguidor,
É compreender os enigmas e os comandos deixados,
É transpor do papel para a execução.

Acho que é isso que minha mamãe fala e eu não dou atenção!
E nesse momento, seguindo o roteiro do caminho na prática
me encontro numa encruzilhada.
Vamos para a direita ou para a esquerda?
Não sei, e agora?
Leia o Mapa novamente! Sussurrou Amigo...
Sim, ler completamente a orientação:
Caminhar pelo caminho soletrando

42
A-S L-E-T-R-A-S,
As palavras e as frases contidas nas placas.
Mas a encruzilhada?
Nos diversos percursos
Setas indicadas
Perceba o sussurro do vento
Aquela voz amiga
Olhe para dentro de si
E novamente veja a indicação...
Como milagre, seguimos adiantes no caminho certo.
Pois como deixaria de obedecer?
Enxergo suas palavras como sol que brilha, como luz que ilumina.
E, eu, como menina simples e comum que sou, consigo com-
preender o sentido delas no Mapa.
Cansada e muitas vezes, ofegante. Sedenta.
Como desejei ler e escutar essas orientações.
Me transporta nessas trilhas com seu amor,
Firma meus passos no trajeto e que nenhum mal tire essas
palavras de minha mente.
Ah! Me resgata se por ventura eu cair a beira...
Da estrada,
Do lago,
Do rio,
Da montanha...
Quero encontrar o tesouro, mas quero viver de acordo com a
condução que as pistas direcionam.
Sou uma gargalhada quando sorri para mim, Amigo! E, cho-
ro quando não encontro no caminho algumas pessoas que naque-
la encruzilhada não optaram por seguir o Mapa!
Quero viver com o que foi reservado para eu viver e crescer.
Sopra ainda mais o teu vento em mim, Amigo!
Assim, posso mapear meu caminho e seguir em frente.

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Mais um acampamento!

E no final de mais um dia, ao lado do pequeno rio, de águas


correntes sob as pedras brancas e embaixo de uma grande árvore,
estendemos a barraca e todo o equipamento necessário.
Arrumei os pertences para o jantar, ascendi o fogo e a noite
como um click, simples assim caiu. No mesmo click as estrelas
(re)apareceram, reluzentes como sempre, mas hoje elas contorna-
vam a maravilhosa Lua.
Enquanto, ou talvez sozinha... medito sobre meu Amigo!
É Justo e a justiça pratica.
Acerta sempre o alvo, pelo menos comigo!
Ensina-me a viver.
Meus rivais que quase me mataram com seus olhares raivo-
sos nas diversas trilhas, ignoram as pistas.
No Mapa suas palavras se transformam em promessas. Elas
têm sido testadas, tenho sentido estafada. Mas, sou uma menina,
quase moça, e compreendo as sonoridades que vem das letras, e as
amo com gratidão.
Hoje penso que não sou mais uma menina pequena, nem tão
pouco importante.
Entretanto, jamais esqueço.

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Das palavras,
Das promessas,
Da sua fala,
E, do que me diz dia a dia.

Sou grata pela sua retidão, eterna e justa.


Sou grata pela sua revelação – única verdade!
Ainda que eu enfrente problemas, obstáculos, situações di-
fíceis....
Tenho prazer em seguir...
Suas placas,
Suas linhas,
Seus pontos,
Suas cores,
Sua única legenda...

Quero viver este estilo de vida, compreendendo cada vez


mais o que é ter uma vida regada de pistas!
E quase adormecida, balbucio outra oração pedindo pelo dia
de amanhã, e mais uma noite de sono em sua companhia do meu
Amigo.

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Um grito para o Céu

Gritei com toda minha força...


Me responde, onde está o tesouro?
Farei tudo o que me disser para acha-lo!!
Chorando em soluços audíveis, disse-lhe:
Ampara-me, pois quero seguir esse que criou o Mapa.
Cumprirei todas as instruções!

Acordei antes do sol nascer, gritando por socorro.


Aguardando uma palavra ou...
uma frase,
um cutucão,
uma orientação!
Permaneci a noite toda de olhos fixos, refletindo sobre tudo
que tenho...
Lido,
Ouvido,
E, vivido nessa caça ao tesouro!

E gritando novamente, fui dizendo...


Escute-me por favor!
Mantém meu coração vivo, separada daqueles que querem me
fazer mal.
Eles não entendem as direções, os códigos, as coordenadas, não
sabem ler o Mapa!

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Meu grande Amigo! Mais chegado a mim, mais que um irmão.
Suas palavras,
Evidências,
Que duram eternamente...

E quando menos esperava.


Sou tocada com a mão suave e amorosa do meu Amigo.
E sua voz sussurrou novamente:
Querida menina-moça, foi só um sonho ruim!
Amanheceu o dia vamos acordar, lavar o rosto, aquecer a
água e comer algo?
Senti o meu rosto abrir, deve ter sido meu sorriso de acordar
e saber que segura estava com meu Amigo por perto!
E lembrei do sonho.
O mais importante aprendi: saber ler o Mapa através das pistas.
As evidências aparecerão, os códigos se revelarão, os enig-
mas serão descobertos!!
Nesse dia resolvemos não seguir o caminho na parte da ma-
nhã. Ficamos conversando sobre o nascer, crescer, e viver.

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A Vida

O que é a Vida?
Viver e não ter a certeza de encontrar a felicidade.
Será que o tesouro não seria a felicidade?
Viver e não ter a certeza de encontrar o amor.
Será que o tesouro não seria a amor?
Viver e não ter a certeza de encontrar o sentido da vida...
Será que o tesouro não seria o sentido de viver?
Viver e não ter a certeza de encontrar outras vidas para com-
partilhar...
Será que o tesouro não seria compartilhar tudo o que somos
ou o que temos?
Pode me ajudar, Amigo? Analisa esse problema.
Nunca negligenciei o seu revelar, me tira dessa situação. De-
volve-me o sentido da vida. Salva-me.
Sua compaixão alcançam bilhões e bilhões. Então, me alcan-
ça também!
Sim, os meus adversários, que são muitos e tão empenhados,
tentam me tirar desse caminho. Suas pistas são claras. e com isso, eu
os observo.
Sinto algumas vezes, aversão.

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Eles fogem da (de)codificação, das (co)ordenadas do Mapa por
qualquer razão!
Eu, ao contrário.
Adoro ler outras línguas,
Muitos símbolos,
Amo ligar pontos,
Traçar linhas,
Juntar letras,
Formar palavras,
Seguir as setas
Decifras as pistas...
Ah! E de alguma forma sei que minha vida é prolongada, por
isso, as chamo de verdade para minha vida!

“Menina andarilha, caçadora de tesouro, você não precisa da


minha ajuda”, diz o Amigo. “Pois, já sabe qual é o sentido da sua
vida!”
Compartilhar o que amamos com outras vidas pode ser um
dos tesouros que estamos em busca por toda a Vida.

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Olhando para o alto

Por mais que conversássemos, aquela manhã parecia infin-


dável.
Cansada, encostei a cabeça no colo do meu Amigo. Foi como
sentir o colo de minha mãe, quentinho e fofo. O restante do corpo
estava na grama verde como um belo colchão, o vento macio como
um lençol esvoaçante, e a nuvem como sombra de papai ao meu lado.
Ah! E o som dos passarinhos, das águas correntes do riacho, das
folhas das árvores balançando, tudo era música aconchegante e suave.
Entretanto, meus pensamentos se encontravam inquietos e
falo comigo mesma, no meu íntimo: suas palavras reveladas me
deixam extasiada de alegria. Por isso, canto todos dias. Porque
mantém tudo em pleno funcionamento, mesmo na turbulência de
nossas vidas!
Para mim, tudo se encaixa, tudo se molda, tudo é adaptável...
Assim, não tropeço no escuro, esperando ansiosa pelo mila-
gre. E meu corpo, minha alma, meus pensamentos, seguem adian-
te, conforme as instruções mapeadas.
Eu persisto e não desisto dos ensinamentos.
Sou como esse livro aberto.
Diante daquele criou o Mapa!
E, levanto-me daquele imenso descanso, arrumo o que resta
do acampamento, coloco meu chapéu, e consigo olhar para frente
onde temos algumas placas indicando o final do caminho.
Olho novamente e lá vamos nós!!!
Cantando, caminhando e seguindo pela tarde adentro.

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O tesouro

Conseguimos!
Vejo o final da trilha principal, lá tem uma grande placa. Será
que são mais orientações?
Estou diante de finalizar a grande corrida ao tesouro, e, além
de mim e meu Amigo, não vejo mais ninguém! Os outros devem
ter se perdido pelos inúmeros caminhos, ou não desvendaram to-
dos as pistas!
Chego mais perto e vejo um grande baú. O que será que tem
lá? Joias, preciosidades, outros Mapas?
Diante do baú eu choro, não sei se é de alegria ou outro sen-
timento.
Tem alguma coisa que me faz sentir isso.
Acho que eu gostaria de mais placas, pois elas se tornaram
palavras de promessas para mim nesse tempo de vida caminhante.
E como num relance vejo a cascata que desce como água que
inunda meu corpo, peço que meu canto seja como ela, saindo dos
meus lábios!
Agradeço todos os ensinamentos, aprendidos nesse cami-
nho, nessas trilhas...
E espero que essa aprendizagem, não saiam da ponta
Da minha língua,
Dos meus pensamentos,
Das minhas atitudes...

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Que todas as orientações eu possa...
Seguir,
Ensinar,
Compartilhar,
Guardar em meu coração para sempre...

Oh! Meu grande e inseparável Amigo, me mantém nesse ca-


minho, sem me desviar para outras trilhas, pois já conheço esse
Mapa.
Segui todas as pistas e aqui cheguei contigo...
Ah! Como senti falta de casa! Preciso do Mapa sempre comi-
go, e seguir adiante até o dia que jamais sairei do seu colo.

E nesse momento, aconteceu o inesperado!


O baú se abriu e de dentro dele saiu uma grande Luz, cheguei
a pensar que eram só diamantes, o grande tesouro que procura-
mos tanto... Foi tanto o brilho que fiquei quase cega!
Foi então que ouvi uma voz, lá muito longe. Como um eco
me chamava:
Criança!
Acorde!
Meu amor!
Acorde!
Menininha linda!
Vamos acorde!
E sonolenta ainda, abri meus olhos esfregando-os com mi-
nhas mãos, olhei para aquela janela aberta iluminada pelos muitos
raios de sol que ali refletiam.
Levei alguns minutos para perceber que estava em casa, no
meu quarto, enquanto mamãe me abraçava.
Sem demora ouvi a voz de papai, que chamava para o café de
domingo às 10 horas em ponto!

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Saltei da cama e pensei? Foi só um sonho toda essa aventura?
Eu nunca sai de casa? Não existe a Ilha do Tesouro?
Olho para o lado, e o que vejo?
O baú do tesouro com todos os acessórios da viagem...
O saco de dormir sujo,
O diário de bordo escrito com as pistas para o viver,
A caixa da pianica com os arranhões que deixei cair,
A toalha amassada, bordada pela mamãe,
As pedras que colhemos no caminho,
A lanterna com apenas um jogo de pilha,
O Mapa rabiscado...
Como poderia ter acontecido?

E assim que mamãe saiu do quarto, meu Amigo me disse:


Preparada para encontrar outras pistas em outra aventura
viajante?
E o seu tesouro? Onde está?

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Minha inspiração

Sempre fui uma menina curiosa, sonhadora e aos de 51 anos


de idade, bem vividos, creio ser realizadora. E continuo sonhando
outras realizações.
Estudiosa do que realmente gostava, fazia cadernos e cader-
nos de palavras com pesquisa em dicionário para encontrar o sig-
nificado. Também escrevia poemas, principalmente quando esta-
va mal humorada ou emburrada. Tocava piano, pintava, bordava,
fazia cursos de línguas e etiqueta.
O tempo passou, e a vontade de ser professora de música
nunca saiu de minha cabeça e por fim, me tornei professora, dire-
tora até empreender uma escola de artes, e quando me casei outra
escola de artes ganhou vida com meu esposo.
A escrita e a pesquisa estiveram sempre junto dessa rotina de
dar aulas, tocar, cantar e ler muito. Mas, eu como criança pequena,
nem me dei conta disso.
Somente no Programado Mestrado em Educação e no Nú-
cleo de Pesquisa em Arte na Educação (Umiville) com a pesquisa
sobre musicalização, ensino da música, infâncias e metodologias,
descobri a narrativa escondida por alguns anos. A cartografia que
também sempre esteve comigo!
Como detetive, fui descobrindo algumas pistas de minha
carreira, profissão, enfim de minha vida como um todo. Elas se
atravessaram na minha escrita, percepções de mundo, escutas de
sentidos, tato e olfatos de outras memórias sensíveis com muitas
experiências.

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Tive uma Amiga me ajudando nesse percurso: solidária,
amante da arte e da educação, sensível e socializadora de todo o
conhecimento, da filosofia e da Vida.
E hoje, tudo o que permeia minha existência, sou grata pelas
inundações de criatividade que me é concedida através do Mapa e
de quem o escreveu.
Que você possa se inspirar nesse movimento pelo qual o
mundo está vivendo.
Que você possa seguir pistas para sua realização.
Que você possa viver como uma criança, simples, pura,
aberta, aprendendo, acreditando no melhor, brincando e vivendo,
sonhando e realizando os seus sonhos.

Mirtes Antunes Locatelli Strapazzon


Joinville, 25 de novembro de 2020.

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Retrato da autora quando criança

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