Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução
Capítulo I: Amores
Asclepiadeu Maior
Clepsidra
Reminiscências do Jardim
Canção de Maio
Pastoral
Impermanência
O Desertor
Nascimento
O Vizinho Pianista
A Camélia
Retranca: Epitalâmio
Renka Solene
Jogging and Foxtrot
O Aviso
Um Sonho de Verão
Mercúrio
Indolência
Yes I remember. The sun had not long sunk behind the larches
Crawls and Falls: The fable of one with you in the dark
Um conto de fadas
Ladainha Renitente
Canção enamorada
Prosa Evangélica
Solidão
O Albatroz
Elogio à Cruz
Castidade
Epitáfio de um poeta
Vênus
Pavana da Saudade
À Lua
Do prazer do Egoísmo
A Cidade Jardim
Carmina Secularae
Adeus
Introdução
Não sou o tipo de poeta que busca não ser
entendido - o oposto, na verdade; mas creio que cada
propósito sofre dos mais diversos percalços numa
execução e, em frente a tais percalços, enseja-se a
possibilidade de que a consumação de uma
qualidade seja exatamente o seu contrário. Creio ser
este o caso aqui. Não acho que o leitor culto
encontrará dificuldades em entender ocasionais
referências e analogias que, aos pouco lidos, podem
parecer abstrusas, mas poderia incorrer no erro de
me filiar a tradição dos poetas herméticos na medida
em que deles me aproximo mais por conveniência
que por temperamento. Para ilustração, me lembro
que Bernanos, ao ser questionado pelos supostos
furos no seu Segneur Ouine, respondeu que seu livro
correspondia a estrutura do mal e o mal, sem forma
por excelência, deveria ser representado na sua
confusão aparecente e não numa descrição
impessoal e distante – tarefa mais dos catedráticos
que dos escritores. O leitor verá que uso da mesma
técnica aqui. No primeiro volume, as memórias das
torres abolidas, vários poemas têm imagens
evanescentes como se um Absoluto tépido guardasse
fragmentos que nos são tangíveis e reservasse o
Todo para si. Ora, quem quer que tenha lido o
primeiro dos poemas saberá ser exatamente este o
meu desejo e passará pelos outros poemas sem
grandes dificuldades, utilizando-se como método
hermenêutico essa premissa geral. Os poemas novos
têm descrições muito mais palpáveis, na verdade,
cada poema é uma peça única que tem de relação
com os outros tão somente a sua total independência
do todo: são todos afirmações de fragmentos
evanescentes da percepção humana cujo o vetor fora
a minha própria percepção - o que os diferencia do
primeiro volume, onde o ideal seria uma leitura de
cabo a rabo, fazendo uma meditação sobre as
diferentes opções da atenção humana. Há, portanto,
as três unidades aristotélicas neste livro: o épico,
épico sem espaço como a Invenção de Orfeu de
Jorge de Lima, lírico, cujos poemas novos
epitomizam, e dramático, cujo o título Le Cronace
ed I Dialoghi escancaram a proposta. Sobre o
terceiro livro, que pouco falei, vale a pena comentar
que nele houve o exercício de dramatizar diferentes
elementos em diferentes poemas. Os dialoghi
propriamente ditos usam nomes gregos e latinos, que
tem seus significados para os filólogos, e as elegias
encarnam sucessivamente diferentes espíritos que
pairam sobre a sociedade – o da jovem inocente, do
sobrinho enlutado, do homem em degredo, etc – e o
metro que escolhi, influenciado pelos trabalhos de
Érico Nogueira, mas principalmente por um estudo
trabalhoso de Milton e Virgílio, imita o hexâmetro
dactílico antigo e suas liberdades, eliminando a
concepção pitoresca que temos do mundo clássico.
Eu poderia comentar dos mistérios dessa
metrificação, que vou descobrindo paulatinamente
nos meus experimentos, mas ainda não me sinto
seguro disso, porque o tema cresce na medida em
que é investigado – ao interessado, é manifesta a
minha vontade de explorar todas as consequências
desse tipo de versificação num livro posterior. Até
aqui, o que tenho de mais hábil no manejo deste
verso é o casamento das náiades, uma dramatização
dos problemas da alquimia, onde tentei seguir
fielmente a forma como Mário Ferreira dos Santos
trata a simbologia em seu tratado, mas confesso que
é um livro ainda demais complicado para mim.
Creio faltar assinalar duas principais linhas
de discussão que o livro venha gerar. A primeira é
que devo agradecer imensamente a influência de
figuras como Wladimir Saldanha, João Filho,
Henrique Nascimento, Leonardo Antunes, Érico
Nogueira, Almir Castro Barros e o casal Schadieck
que, alguns sabendo disso e outros não, muito me
ajudaram a definir os propósitos deste livro. Não é
de todo isento dos discutelhos políticos este livro –
área onde me encontrei um satirista de extremo mal-
gosto, mas deixo os dois exemplos que mais
vingaram por motivos mais remotos que a mente
política pode imaginar. A segunda é uma frase que
pode soar um tanto estranha, mas que para mim é
clara como um lago. Eu não possuo nenhuma
ambição poética. Não digo que não busco poetizar,
mas que já me foi o tempo – e muito isso me alegra
– que fiz poesia por só fazer poesia. Para mim, a
poesia está bem localizada como filha da vida, assim
como a matéria do pensamento é filha da matéria
física. Creio ser a poesia a mais perfeita das
ambições imperfeitas, mas isso não faz-me lícito
dizer que vivo por ela. Um homem que vive pela
arte não pode fazer arte; e perceberá o leitor ao ler
este livro, principalmente no Elogio à Cruz, onde
ponho a poesia no grau das minhas prioridades.
Talvez em alguma edição deste livro, será salutar
trazer um livro em que trabalho chamado A Vida
Espiritual, que creio ser o duplo perfeito do livro que
o leitor tem em mãos. Um ilumina o outro, mas este
o serve, porque aquele é um exercício constante de
meditação, enquanto este é só fragmentário.
Naquele, supõe-se que vá se aprofundando o leitor
em si mesmo de formas concêntricas, e neste, a
saltar em abismos. Talvez venha o dia em que eu
consiga imprimir na poesia esse exercício de
meditação que nos diálogos platônicos e ferreirianos
sempre me impressionaram, mas aqui deixo o
testemunho do meu fracasso, por sobre o verniz da
beleza.
Livro I:
Memórias
das Torres
abolidas
Memórias das torres abolidas
Misteriosa é a memória
Com os seus Souvenirs doirados;
Não deixemos a merencória,
Porém, esquecer o lembrado.
Reminiscências do Jardim
Dedo a dedo se escolhem os traços
Da beleza antiga de anos atrás;
E Deus, pouco a pouco montando retratos,
Vai esculpindo estátuas imemoriais.
E em teu corpo, meu amor,
Reside um quê de infinito;
Tuas curvas continuam sendo
Daquele jardim antigo!
Canção de Maio
Escapei da câmara obscura,
Onde a Miséria sustenta a Abundância
E onde Ekho rege os sons das mágoas.
Então segue comigo até o prado
Ver naufragar a carruagem do Sol
Na brisa leste-austral
Do céu azul-carmim.
E juntos, enquanto rimos
Das virações de nossas tão excêntricas
Imagens e tememos que a solerte
Luz nos abandone ao doce mar
Do esquecimento, vamos -
Enquanto nos há tempo!
Afinal, é o tempo o arauto
Dos homens, o anunciador dos presságios,
E a noite vem resplandecer os campos -
Nós ficamos para seus prodígios?
Ah! Com os olhos de Pierrot,
Cantemos com o coração!
Capítulo II:
Luminiscên
-cias
Pastoral
O sol já expôs
A misteriosa clareira;
E as flautas do prado
E seus tamborins
Acedem espaço
Ao seco som dos seus zangões.
O bosque já vai fechando,
Enquanto sobe a lua a colina
Oblíqua, e cessam os rituais
Que estilhaçavam os anos
Em vitrais esfumaçados.
É perplexa a mente de quem vê
A fina neblina
Jazer sob o Sol notívago;
E mouca… a dúvida
Vem – como à terra
Quieta o fogo vivo!
Impermanência
Descendemos dos rios impassíveis
E é nosso amor tão pequeno,
Frente o nosso esquecimento,
Que parece a memória uma fantasia.
Pois mostra-se a mente em tempos,
Enquanto esmaecem os olhos
E nós a encontramos nos sólios
De uma última agonia.
“Serei o segundo dos mortos!”
Nos disse o moribundo
E nós, meditabundos,
Nós encaramos o luar:
E temos a noção no fundo
Que a mente nos é passageira,
E que uma brisa fria e ligeira
Nos levará de volta ao mundo.
Dormi, Iesu, Mater Ridet
I
Dorme com a seda suave,
Marca do que há de entrave,
Entre a vida e o desejar.
Não dormindo tu ouvirias
Lágrimas da Mãe Maria
Num amor de suspirar.
II
Dorme para que o tesouro,
Que se afasta do curioso,
Possa ele te alcançar.
Não dormindo quem viria
Ao encontro da agonia
Para enfim te libertar?
III
Dorme pela dor do cárcere
Que na luta torna acre
O anelar de livração.
Não dormindo quererias
Tu morrer nas agonias
Pela dor do coração.
IV
Dorme assim como Cordeiro,
Que em martírio é primeiro,
O primeiro a morrer.
Não dormindo o olhar do Tigre,
Tigre que brilhando viste,
Desta lança irás sofrer.
V
Dorme com o sono brando
Dos teus olhos que faz tanto
A vigília e o fim no Ser.
Não dormindo o que se sabe,
Com certeza de verdade,
O que lá se há de ver?
VI
Dorme qual à Samaria
Perto Ele lá dormia
Sem um algo a dizer.
Não dormindo, o sofrimento
Todo em todos os momentos
Poderias tu sofrer?
VII
Dorme qual faz o desejo,
Degolando no versejo
Do profeta o professar.
Não dormindo a eternidade,
Nos dizendo suas verdades,
Sempre há de nos salvar.
VIII
Dorme contra do indeciso
O angustiar que busca o Cristo,
Silêncio da dúvida.
Não dormindo, tal insone
Vã promessa que consome,
Ela há de prosperar?
IX
Dorme, Cristo, tua mãe ri-te
Quem em doce sono viu-te
Dorme, Cristo, abranda-te.
Se não dormes, tua mãe chora
Com as cordas canta e ora:
Brando sono, embala-me.
O Desertor
Quem quer que tenha se esquivado
De suas responsabilidades
Com a pátria ou o lar
Vem a mim, pois sou eu o refúgio
Dos covardes e fracos.
Quem quer que tenha se omitido,
Deixando de ser o que o Ser
Outrora quisesse que fosse,
Vem a mim, pois cobrir-te-ei
Com mantos constelados.
Quem quer que tenha ouvido as ondas
Se quebrando no mar noturno
E convalescido ameaçou
Juntar-se às algas em silêncio
Ouve então meu canto angustiado.
Nascimento
Nasceste com a têmpora exposta à Lua
E carregas contigo todos os progressos
Da civilização. Rápido, como a lebre
No prado, vais correndo tu do caçador
E a décima terceira geração invejas -
Tu és sempre o único, último ou primeiro!
Sim! Pois temes e invejas a Morte, Rebento
Maldito, e crescerás roubando as rosas brancas
Que se colhem no ocaso do Ser… Mas o céu
Queima e a salvação de amanhã é incerta:
Tu desejas morrer, desejas ser a morte
Desde o seu próprio berço… elas ficarão,
No entanto, aqui, as rosas brancas que tuas mãos
Colheram, pois levamos só o que pertence
A nós e não pertencem a ti as volúpias
Pelo botão da Rosa, as graças do século,
Pois carregas contigo todas as misérias
Da civilização – e os progressos também!
O vizinho pianista
Ó melodia errante!
Vais e vens com teu sorriso distante…
E adornas com Violetas,
Escolhidas a dedo, um rasto
Jardim.
E ainda me lembro de ti,
Doce Souvenir, ostentando
Comigo a tua insígnia empoeirada,
Esperando a tua música
Se perder no imenso salão.
Afinal, vós sois um Troféu do Sol,
Nobilíssimo e passageiro
Como a graça do Estio -
Ah! e pensar que as Violetas vão morrer…
E deixar o jardim vazio.
Capítulo
III: Névoa
A Camélia
Flor que mais desaparece a cada dia,
Mas que a semente se fecunda nas bocas
Dos povos já moritura, e que a beócia
Docilidade saúda aquelas pétalas
De marfim, que então desfolham-se dos galhos.
É que nos apaixonamos pelo sangue
Que pulsa e nós cremos haver na Medusa
A resposta dos problemas da Quimera:
E, acreditando que o Ser é o que era,
Preservamos os suspiros, sem Camélia!
Retranca: Epitalâmio
E dividem o pão na Mesa;
Também creem que a alma esteja
Em um tal profundo oaristo
Que, sentido, não quer ser visto.
Mas pelo dividir do pão,
Eles podem nutrir o grão?
E conspurca-lhes nos seus corpos
Os miasmas de suas existências:
“Mas, por favor, me passe o copo?”
E pelo dividir do pão,
Não conseguem nutrir o grão.
Renka Solene
Naquele dia não havia
Somente o corpo teu,
Também havia o corpo
De todos homens e mulheres
E Santos que morreram antes
De ti e irão morrer também.
De todos homens e mulheres
E Santos que morreram antes
De ti e irão morrer também
Havia o corpo ali,
E todos os presentes, filho e filha,
Estavam por ali… chorando.
Havia um corpo ali,
E todos que estavam presentes, filho e filha,
Que estavam por ali chorando,
Um não era filho teu, e sim apóstolo,
A outra não era filha tua, e sim Maria,
Chorando pelo Cristo atormentado.
Um não era filho teu, e sim apóstolo,
A outra não era filha tua, e sim Maria,
Chorando pelo Cristo atormentado
E por Francisco, Boaventura ou Cecília…
As Madalenas seguem com os anjos
E sob a cruz a filha tua chorava em Romaria.
E por Francisco, Boaventura ou Cecília,
As Madalenas seguem com os anjos
E sob a cruz a filha tua chorava qual Maria.
Naquele dia não se ouvia
Somente o canto de Roberto Carlos,
Mas todo um coro nos dizia: Miserere Mei…
Naquele dia não se ouvia
Somente o canto de Roberto Carlos,
Mas todo um coro nos dizia Miserere Mei;
E, quando foste sepultada
Por um coveiro de sorriso frouxo,
Tu souberas estar acompanhada por um homem oco.
E quando foste sepultada
Por um coveiro de sorriso frouxo,
Sabendo estar acompanhada por um homem oco,
Fazia válido dizer que a mão,
Enquanto usada pouco,
Um afinado tato tem.
Fazendo válido dizer que a mão,
Enquanto usada pouco,
Um afinado tato tem,
Assim jogávamos as rosas brancas,
Livrando-nos do peso
Nos peitos e nas mãos.
E assim jogávamos as rosas brancas,
Livrando-nos do peso
Nos peitos e nas mãos, e
Naquele dia não havia
Somente o corpo teu
Também havia lá, havia lá o corpo meu…
Jogging and Foxtrot
Júbilo no corpo
De andrajos elásticos
Como fora uma vez
O do palpitar do moço
Que se jogara do prédio
Com um olhar paratático:
“Homem branco cai em
Gueto negro, negro, negro!”;
E a memória empilha-se
Pela mesa de jantar.
O suicídio é uma ofensa
Na era dos progressismos,
E só há perigo
Na tela e na mente,
Que a nossa rotina
Pode desligar:
Foxtrot, foxtrot, jogging
Já viu o novo talento
Da nossa poesia?
Jogging, foxtrot, foxtrot
Foxtrot, jogging, foxtrot.
Mas a chuva primitiva,
Que lá fora bate,
Resguarda-te o inimigo
Que anda a pé.
O Aviso
Que não te fies nas palavras,
Pois não são elas como moedas;
Ao corpo valem quase nada,
Quase nada na primavera.
Germinação! Eclosão! - nasce-se
Mais uma vez. A paixão é um túmulo
Que mesmo que se consumasse,
Seria mudo a vocês…
Eis o mistério claro-escuro
Dos enamorados: ouvir,
Enquanto surdo, um amor
Calado. Afinal, é esta,
É esta a mesma espera
Do amor e da paixão
E, mesmo que se quisesse que não,
São os ossos da primavera.
Um sonho de Verão
Em um terço da noite dividida,
Em três e mais três e mais três e três,
Sonhei com uma figura querida
Que sendo quem é, não soube o que fez.
Já era meia-noite naquele dia
Que equidistava do Ocaso e da Aurora;
O que significava não sabia,
Mas eu posso dizer que sei agora:
No peristilo do conservatório
Que somente pela noite se abria,
Ouvi d’uma contenda o falatório
Mas não posso dar aqui o que ouvia.
Pois infelizmente falha a memória
Às vezes nas coisas mais importantes,
Mas disso não será exemplo a história
Que contarei como contava antes.
Só sobraram no fim as armaduras -
Estilhaçadas, se me lembro bem:
Que mesmo sem devidas bocaduras
Diziam versos faustos, mesmo sem!
Os estudantes vão para o convento
Que habita por cima da maldição;
E então nós respondemos ao evento
Com três dísticos de estranha oração.
Nos confrange um espírito de Luz
Com sua aparição um tanto estranha;
Solerte à oração nos conduz
Mas a nossa mente não acompanha.
No ombro, um anjo, pequena pantera
Ela carregava; e Beatriz tem
Por nome quem eu sabia quem era,
Mas ela não me tinha por ninguém.
À sala correta uma tutora
Nos chamou, entretanto, e muito bem
Sabia tratar-se da protetora
Mas a figura estava lá também.
Em dupla solerte entravam no cômodo
Como a Luz invade o mais fino furo
E rápido então me assustei incômodo
No local que se demonstra inseguro.
E, assim que acordei do sonho sem ciência,
Pus-me a pensar da minha vida um todo
E vi que se tratava da consciência
O sonho que vos compartilho um pouco.
E então mais uma noite passo em claro,
Acrescendo ao nove o três;
Disso do céu à terra aqui se fez
Mais um poema sobre a Ciência e o Ato.
Maximin: uma litania em arquilóquio terceiro
Nasce, no Oriente com Sol já fálico, o dia atribulado
E traz a luz notícias do teu corpo.
Vejo-te, ó Maximin, pendurado por cordas e,
[suspenso,
Tu, desde a noite, o espaço de um quadrado
Tu percorreste com o teu já falecido corpo frio.
Meu tão misérrimo Jacinto negro,
Que Faetonte te crestas a pele em naufrágio pelo
[ocaso
E o sangue jorra no que jaz crestado,
Os tais corcéis do tufão pisotearam-te e fora o ínvio
[Deus
Aquele quem te assassinara e, como
Aldebarã às Plêiades, te perseguira como sempre
Persegue as coisas que parecem belas.
Pela soleira da nossa janela que só erma rua e praças
Desertas te mostrava, ouviste as vozes,
Creio, das prófugas cinzas de Dido e de Lady
[Macbeth;
tanto Chamava a
ânsia de surcar as águas
Do Flegetonte, que, em pélago, vinho e teu sangue
[transformara
A naufragar turícrema, com quente
Líquido, a mesa, mas são eles iguais a ti, a ti e a ele
Em sua doçura e em sua agra torridez, que
[elogios:
Meu caro Maximin, piedade tende
Da miserável miséria que é minha e povoai de
[melros,
O amanhecer silencioso e triste.
Mas tu morreste e resistes ainda em memória, em
[obsessão, que
Resguarda - ou busca resguardar - o gáudio
De todo Mouro na amarga Veneza e que crê que
[esteja em tempo
De resguardar a sua Desdêmona; mas
Sei que, na realidade, a Europa jaz, posta de joelhos,
De Oriente a Ocidente jaz sangrando,
E a esfolar as suas calças rasgadas, enquanto todos
[eles
Rastejam para cá, querendo ver-te.
Os homens enternados,
Empostados como corvos,
De dedos pressionados
Nas carnes das coxas aos ossos,
Contemplam do mesaninho
O canto solitário do oboé.
(Ó frágil helianto,
Ó mendigo miserável
Não hão de te ver aqui
Até o Maio Azul...)
Pudera eu participar
Da sagração sempre evanescente
Das borboletas, dos lírios,
E esquecer os pensamentos incandescentes da carne,
Não me juntar às virgens suicidas;
Ó branca azaléia,
tu roubaste a minha eternidade
E agora, a esperar por ela,
Estou liado a ti.
Sexteto sobre um tema antigo
Lentamente eu vi
Deslindar o nó da serpente
Que desde quando cresci
Punge um veneno doce e quente;
eu te amei, ó
como amei profundamente
tua essência
marcescida:
O teu fasto,
que resplandecia entre
o pinheiro ressecado e o
burburinho dos casais do
belveder,
como amei
este fasto
que compõe hoje a
fina geometria das estrelas
(Oxalá a
noite fosse eterna para
eternamente vê-las);
e por isso
já despeço-me de ti, pois
eu não posso
escrever o que não sinto,
nem o que
dolorosamente eu já senti.
À Lua
II
(Este céspede,
Vale da paciência miseranda,
Não nos entrega de bandeja
O esplendor da Lua
Numa mesa de café)
(Mas e eu?
Eu a vi?)
(Mas morrer lá
E não aqui)
Do prazer do egoísmo
Há simulacros doces,
Amores mais amargos,
Mas somos todos sós,
Ao léu das Potestades.
Nos alegremos! Pois
Somos bem-vindos!
Tudo se passa
Como um vulto ébrio;
E a sombra esparsa
Do velho féretro
É verve elíptica,
É ânsia vaga
A água delida
Que se esfumaça.
O vento morto
Que te carrega
É, pois, o solto
Afã que impregna
Tão desconexo
Tua velha imagem,
Tal vulto bebêdo
Qual a miragem
Eterizante
Do teu piar:
Esse elegante
Eternizar de ossos.
De Senectae feminae mortem
In Anno Aetatis 16
Capitolina,pródiga, e entre
Eles sublimar em transições
Suaves um novo reino nunca
Visitado; e assim, no lugar onde
Viro:
Viro:
Crisaida:
Viro:
Viro:
Crisaida:
Viro:
Nikéos:
Agnes:
Agnes:
Nikéos:
Nikéos:
Alexandra:
Nikéos:
Nikéos: