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07/11/2019 Municípios e reforma tributária - JOTA Info

COLUNA DA ABDF

Municípios e reforma tributária


Propostas não podem retirar recursos, autonomia política e a criatividade scal de municípios

RICARDO ALMEIDA RIBEIRO DA SILVA

04/11/2019 08:44
Atualizado em 04/11/2019 às 08:45

Imagem: Pixabay

Em boa hora, diversas vozes se levantaram contra os despautérios contidos nas


propostas de Reforma Tributária em tramitação no Congresso Nacional, a ponto de
provocarem alguma re exão, refreando o frisson reformista peculiar ao início das
legislaturas.

Por isso, antes de tratar do tema que anima este artigo, vale elencar as principais
críticas dirigidas às atuais propostas de Reforma Tributária: (1) aumento brutal da
1
carga tributária, sobretudo do setor de serviços , com evidente impacto in acionário;
(2) inexistência de números con áveis no embasamento das propostas, impedindo
a simulação de efeitos econômicos e arrecadatórios derivados dos novos tributos
2
tentativos ; (3) restrição das PECs à tributação sobre o consumo, sem trazer
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mudanças na tributação sobre a renda e sobre o patrimônio ; (4) agravamento da
injustiça scal na tributação do consumo, desprezando os princípios da seletividade
e da capacidade contributiva – mandatórios na graduação da imposição tributária
4
sobre despesas essenciais e supér uas ; (5) incapacidade dos modelos-IVA de
5
instrumentalizar a scalização da circulação de bens na economia digital ; (6)
falência da tributação plurifásica (não-cumulativa) diante das fraudes scais
praticadas nas etapas intermediárias da cadeia produtiva (v.g. a “carousel fraud”,
conhecida entre nós como “passeio de notas scais”) e potencial explosão da
sonegação scal com a geração de créditos (dedução do imposto a pagar)
6
decorrente da contratação de serviços (insumos) ; (7) longa transição (de 10 anos)
dos regimes, com a manutenção do atual sistema de tributação sobre o consumo
acrescido de mais um novo (e desconhecido) imposto – quando o país precisa sair
7
imediatamente da crise que ameaça uma geração inteira de brasileiros ; (8)
inexistência de proposta operacional dos novos modelos, não havendo sequer a
apresentação de projeto de lei complementar para regular as inovações
8
constitucionais (141 novos dispositivos!) ; (9) sérias di culdades normativas e
9
semânticas dos textos apresentados nas PECs ; (10) ine ciência do modelo de
Comitê Gestor e de integração de entes federados para a scalização e cobrança de
10
dívidas, como já veri cado na administração do Simples Nacional (v.g. SEFISC) .

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Além desses tópicos, por si sós su cientes para silenciar as fanfarras que embalam
o reformismo irresponsável, cumpre analisar duas outras questões com mais
11
detença: (10) a violação do princípio federativo ; e (11) a e ciência tributária dos
municípios na scalização da prestação de serviços, inclusive diante da economia
digital e das novas tecnologias.

Como já ressaltado por notáveis estudiosos do direito nanceiro e tributário, estes


temas revelam duas grandes questões que se opõem às propostas de Reforma
Tributária atuais (e pretéritas) em face do princípio federativo (cláusula pétrea da
Constituição) e diante da situação dos Municípios como gestores scais e cientes
do Sistema Tributário Nacional.

Diga-se, de plano, que existe enorme preconceito


contra os municípios no Brasil enquanto atores
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institucionais de primeira grandeza.

A pecha ignora o papel do municipalismo na formação e no desenvolvimento do


constitucionalismo brasileiro e, ainda, a performance scal dos entes locais na
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gestão tributária e nanceira dos impostos de sua competência nos últimos anos .

Portanto, não se está aqui simplesmente a evocar o princípio de que “a República


Federativa do Brasil é fundada pela união de Estados e Municípios” (caput do artigo 1º
da Carta de 1988), ou sublinhar que a União sequer gura como um ente ontológico
da Federação no plano da Constituição Federativa nacional, pois seria a simples
resultante juspolítica da integração das comunidades regionais e locais, na
textualidade da norma constitucional.

A perspectiva desta breve análise se estadia na compreensão das dinâmicas


constitucionais e no desempenho dos entes locais como desenvolvedores de boas
soluções scais para a gestão de tributos no Brasil, habilitando-os para os desa os
da tributação das novas tecnologias na economia digital.

É fato que existem municípios que sequer deveriam ostentar a condição de entes
políticos com competência legiferante, pois evidente sua inviabilidade econômico-
13
nanceira , insistindo em se comportar como meras “autarquias territoriais”,
viciadas em repasses nanceiros e em práticas político- siológicas junto aos
14
Poderes Executivos e Legislativos da União e dos Estados . Mas não é desses
“municípios” que aqui se trata. O foco desta análise centra-se nas centenas de
município brasileiros que “carregam o piano” da Federação e atendem a mais de 70%
15
da população brasileira, prestando serviços públicos essenciais à vida nacional .

Por ignorarem a história do Brasil, renomados constitucionalistas chegaram a


a rmar que o país adotou a forma federativa de Estado por simples “imitação” da
16
Constituição Norte-Americana . Contudo, o modelo federativo de três níveis
autonômicos sempre foi a “vestimenta” mais adequada para abrigar e tornar
funcional a dinâmica do corpo político-institucional brasileiro construído ao longo da
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história nacional .

Na formação inicial do Brasil, o poder local era


protagonista nas relações entre autoridades,
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sobrepujando constantemente as determinações


dos governadores-gerais, ao estabelecer
interlocução permanente com o Rei e com o
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Conselho Ultramarino durante o período colonial .

A Constituição do Império é marco eloquente desse fator constitutivo da ordem


institucional brasileira, tendo se legitimado (contra as oligarquias que engendraram a
Proposta de 1823) por meio da rati cação do seu texto em todas as Câmaras
19
Municipais do país . Assim, o Preâmbulo da Carta de 1824 evoca o poder das
municipalidades como o o veículo do “volksgeist”, na expressão “os Povos deste
Imperio, junto em Camaras ”.

A ascensão das Províncias na “República” Velha, como o locus político vitorioso das
oligarquias rurais, tisnou a força difusa dos entes locais no quadro nacional.

Contudo, a importância das cidades manteve-se como polo de irradiação política,


remarcando seu papel como trincheiras de resistência democrática e de criatividade
administrativa, em diversos momentos da história nacional. Essa preponderância
tornou-se incontrastável ao longo do processo de urbanização do país, gurando as
cidades como as locomotivas do país.

Fato é que, após a década de oitenta – quando se assistiu à falência endêmica dos
Estados e da própria União – os Municípios assumiram a quase totalidade dos
serviços públicos elementares ao exercício da cidadania no país.

Não por outro motivo, a Carta de 1988 reconhece de nitivamente a essencialidade


dos Municípios na ontologia constitucional do Brasil, enunciando-os como entes
federados fundantes da República, em igualdade axiológica com os Estados – e até
com prioridade na legitimação da República, para os que a rmam a subsidiariedade
como corolário do federalismo pátrio.

Por outro lado, a partilha e a repartilha das receitas constitucionais e legais sofreu
graves descompassos nos últimos 30 anos, em detrimento do nanciamento das
políticas públicas de competência dos entes locais. Alguns exemplos dessas
distorções: (a) concorrência desleal da União sobre a mesma base tributária
(consumo) mediante a hipertro a do PIS/COFINS; (b) Avanços dos Estados sobre
serviços adicionados a serviços públicos concedidos (v.g. telefonia e energia
elétrica), em detrimento da incidência do ISSQN; (c) manipulação de índices de
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participação no ICMS, IPI-Exportação e FPM; (d) retenção de repasses


constitucionais e legais, alguns de maneira absolutamente arbitrária; (e) eliminação
ou restrição de acesso a operações de crédito nacionais e internacionais, por
aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal e dos cujos critérios de Capacidade de
Pagamento – CAPAG – ditados pela Secretaria do Tesouro Nacional.

A depressão econômica atual (2014-2019)


aprofundou ainda mais a dependência de todo o país
dos serviços públicos municipais.

Os municípios assumiram participações importantes no nanciamento e na


execução de inúmeros serviços públicos de responsabilidade de outras esferas da
Federação, tais como: segurança pública (inclusive com as Guardas Municipais);
serviços educacionais do Ensino Médio; saneamento público (inclusive com o uso
das GAP – Galerias de Águas Pluviais para transporte de esgoto, permitindo a
cobrança das tarifas das empresas estaduais); serviços de saúde de média e alta
complexidade, entre outras centenas de ações administrativas, cujo detalhamento
não cabe nos limites deste artigo.

Não fosse a e cientização das Prefeituras e, sobretudo, das melhorias na gestão


scal dos impostos de arrecadação própria (ISSQN, IPTU e ITBI) nos últimos 15
anos, os Municípios já teriam quebrado sistemicamente.

Mesmo assim, os efeitos da crise, do corte de crédito e da concorrência scal


desleal promovida pelas outras esferas da Federação, gerou mais de 400 Decretos
Municipais de Calamidade Financeira, o que indica o risco de um “apagão” de
serviços públicos no país, caso avance a deterioração das receitas públicas
municipais, nos moldes propostos nas Reformas Tributárias em tramitação no
Congresso Nacional.

Os municípios buscaram organizar novos ambientes de desenvolvimento


tecnológico próprio e incentivaram a criação e o intercâmbio de boas práticas, por
meio de associações representativas, como a ABRASF (Associação Brasileira das
Secretarias de Finanças das Capitais), a FNP (Frente Nacional dos Prefeitos) e
diversas Associações e Fundações de Municípios de âmbito estadual, como a
FECAM (Federação Catarinense de Municípios) e a FAMURS (Federação das
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Associações de Municípios do Rio Grande do Sul) . Entre as diversas soluções

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propostas pelas entidades municipalistas, merece destaque o anteprojeto que


culminou na íntegra da Lei Complementar n. 116/2003, elaborado no âmbito da
ABRASF.

O avanço normativo, amplamente discutido com os maiores setores de serviços do


país, gerou novos critérios de incidência que ajudaram o ISSQN a se tornar o
imposto com a melhor performance scal do Brasil na última década, sendo
destaques: (1) tributo com o maior ganho de arrecadação real, descontada a
in ação de serviços, com redução ou manutenção de carga tributária individual; (2)
menor litigiosidade entre os impostos sobre o consumo; (3) menor custo para
cumprimento de obrigações acessórias e, por tudo isso, (4) menor impacto na
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competitividade das empresas brasileiras .

Apenas o CONFAZ se negou a negociar a disciplina da zona cinzenta entre o ICMS e


ISSQN na lei complementar, ameaçando barrar a tramitação do projeto (então um
substitutivo do Relator ao PLS 169/89). Com isso, os serviços de valor adicionado
caram, até a presente data, sem um bom arbitramento legislativo, tendo os Estados
preferido arrastar as disputas com os contribuintes e com os Municípios no âmbito
do Poder Judiciário.

Além das várias soluções normativas, a ABRASF desenvolveu, por meio dos seus
Grupos de Trabalho e da sua Câmara Técnica Permanente, com o concurso de
auditores, técnicos e servidores das Secretarias de Finanças associadas, diversos
critérios e modelos-conceituais para a gestão scal dos impostos municipais,
transferindo para o mercado o desenvolvimento de aplicações aderentes aos
padrões-ABRASF, sem precisar recorrer, por exemplo, ao SERPRO ou a entidades
estatais de tecnologia, em geral lentas e custosas na execução de tais tarefas.

Este modelo cooperativo de gestão scal permitiu a criação e a nacionalização da


nota scal eletrônica de serviços (NFeS em padrão-ABRASF), a criação e a evolução
da Declaração Eletrônica das Instituições Financeiras (DESIF – padrão-ABRASF), e
outras soluções técnico- scais, com emprego de tecnologias de ponta e baixos
custos para as municipalidades.

Esses modelos conceituais se tornaram referências obrigatórias nacionais em razão


de suas virtudes técnicas e tecnológicas, e não por exigência legal, rmando-se
como exemplos inéditos de normalização scal (e não da “normatização”) de
obrigações acessórias no âmbito da gestão scal brasileira.

Essa nova era da gestão scal disseminada entre os Municípios, por meio de suas
entidades representativas de caráter técnico, já os permite propor e desenvolver
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soluções para os desa os atuais da tributação, tais como: (A) a incidência (total ou
parcial) “no destino”, (B) convergência de informações scais entre os entes
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tributantes nacionais e internacionais; (C) a criação de instrumentos de
scalização dos meios de pagamento; (D) uniformização e uni cação de obrigações
scais em nível nacional.

Portanto, a proposta contida nas PECs em foco, em favor da transferência de


competências tributárias e scais próprias dos municípios para a esfera federal ou
estadual colocará em risco não só o nanciamento dos entes locais, mas a
autonomia de gestão das incidências e das soluções técnicas e tecnológicas para
scalização da tributação sobre o consumo.

Para citar alguns exemplos, vale recordar não só o Simples Nacional e as disputas
por índices de participação dos Municípios no FPM e na cota-parte do ICMS, mas as
restrições a repasses por determinação (ilegal) do ente arrecadador ou por novas
exigências legais em relação a endividamento, condições para operações de crédito,
e uma in ndável miríade de condições impostas aos entes destinatários das
parcelas a serem redistribuídas.

Observe-se, ainda, falta capilaridade às demais esferas federativas (estadual e


federal) para scalizar a miríade de operações realizadas na economia digital, se
comparadas com os Municípios, sendo que as projeções da Receita Federal do
Brasil (que já contou com mais de 12 mil agentes scais e hoje tem o seu quadro
limitado a pouco mais de 8 mil) é de reduzir à metade o quadro atual de servidores,
preferindo investir em tratamento massivo dos dados de contribuintes (big data) e
das operações tributáveis como solução de economicidade.

Por outro lado, não faz sentido, mesmo num viés puramente econômico de “custos
de transação”, centralizar a arrecadação, scalização e gestão (criando novos
órgãos, duplicando o sistema normativo nacional tributário, etc), quando a
arrecadação e os gastos públicos já devem ser realizados em nível mais próximo
(Município) ao destinatário das políticas públicas (o Cidadão).

Não fosse isso o bastante para demonstrar a ameaça das propostas de Reforma
Tributária à higidez da forma federativa enunciada pela Constituição de 1988,
estudos recentes demonstram o impacto do aumento da carga tributária sobre os
orçamentos municipais, onerando em mais de 15% os gastos orçamentários atuais
23
(algo em torno de R$ 30 bilhões/ano) , uma vez que a prestação de serviços
públicos exige a aquisição serviços outros como insumos ou se realiza por meio da
terceirização das próprias atividades- m.

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E, como contribuintes de fato, os Municípios não fazem jus à imunidade tributária


recíproca no regime constitucional vigente, provocando transferência inversa de
recursos para esferas regional ou central, in rmando o princípio federativo em suas
dimensões nanceira, tributária e scal.

Por certo, tal impacto não decorreria apenas da PEC 45/2019 (Deputado Baleia
Rossi) ou da PEC 110/2019 (Senador Roberto Rocha), mas também do famigerado
“IVA-Dual” – que reuniria ICMS e ISSQN sob a titularidade dos Estados. Aliás, a
proposta de um IVA-Dual formulada pelos Estados – veiculada pelo CONSEFAZ –
nada mais é do que um exemplo de deslealdade federativa e de incompetência na
gestão tributária estadual.

A nal, ao invés dos Estados consertarem o seu imposto próprio (ICMS), desfazendo
as barbaridades criadas pelo CONFAZ ou à sua revelia – sobretudo a política de
incentivos scais -, preferem assaltar os municípios, tungando-lhes o seu principal
imposto. Esta iniciativa arrosta o equilíbrio entre responsabilidades (de gastos) e de
capacidades (de arrecadação) federativas, e afronta, sobretudo, a autonomia política
dos municípios no plano das competências constitucionais.

Diante de todos os equívocos e riscos trazidos pelas propostas de Reforma


Tributária anunciadas até aqui, pode-se a rmar que a SIMPLIFICAÇÃO FISCAL
deveria ser o norte das mudanças, favorecendo, ao mesmo tempo, a arrecadação de
receitas pelos entes federados e a melhoria efetiva do ambiente de negócios no
país.

O Brasil precisa urgentemente de uma Reforma Fiscal, muito antes de que qualquer
Reforma Tributária, sobretudo quando as propostas se restringem à uni cação de
incidências e ao agravamento da tributação do consumo.

Neste particular, os avanços alcançados pelos municípios brasileiros na gestão


scal do ISSQN deveriam inspirar as mudanças no plano nacional, orientando
alterações necessárias na legislação infraconstitucional e na administração scal
dos tributos atuais.

Não se pode admitir, portanto, propostas de


Reforma Tributária que retirem recursos, autonomia
política e a criatividade scal que permitiu aos
municípios desenvolverem os melhores avanços de
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gestão tributária dos últimos anos, sob pena de


abalar-se seriamente a forma federativa adotada
pela Constituição de 1988.

Por m, é curioso ver que, apesar das recentes convulsões havidas em diversos
países – inclusive no Brasil, em 2013 – por força do simples aumento de centavos
em tarifas de serviços públicos – não se perceba o “potencial explosivo” das
propostas de Reforma Tributária atuais, que atingem o bolso dos cidadãos e,
sobretudo, os orçamentos dos entes federados que lhes prestam os principais
serviços públicos diários, fragilizando receitas e encarecendo as despesas dos
Municípios brasileiros.

——————————————–

1 Conforme bem ressaltou Gustavo Brigagão, Presidente da ABDF, na coluna

inaugural da Associação aqui no Jota publicada na semana retrasada:


https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-da-abdf/projeto-podera-
acarretar-aumento-de-carga-tributaria-14102019.

2 Cf. ABRASF
http://www.abrasf.org.br/arquivos/ les/NT_CONJUNTA_DOC_ABRASF_ARACAJU.
pdf Nota Técnica Conjunta com a Secretaria de Fazenda de Aracajú/SE: “Os
principais projetos em discussão no Congresso Nacional, propõe a uni cação de
tributos das três esferas da Federação (União, Estados e Municípios), sem que sejam
realizados estudos mais aprofundados e simulações dos efeitos das mudanças para
os contribuintes e para o setor público”. Vide também o artigo de Everardo Maciel,
“Um Elefante na Loja de Louças”, publicado em
https://www.institutomillenium.org.br/artigos/um-elefante-em-loja-de-loucas/: “A
PEC n.º 45, de 2019, autodesignada “reforma tributária”, é um exemplo eloquente de
diagnóstico mal formulado e tratamento inadequado”.

3 Vide a entrevista da Ministra Regina Helena Costa ao Jota, sob o título “Nenhuma
proposta de reforma se preocupa com Justiça tributária”, publicada em 23/08/2019.

4 Cf. ROCHA, Sérgio André. “Justiça é um dos pilares da reforma tributária ideal”.
Publicado no CONJUR, https://www.conjur. com.br/2019-jul-18/sergio-rocha-justica-
entre-pilares-reforma-tributaria-ideal, visitado em 12/10/2019. Vide também a
entrevista das Professoras Betina Grupenmacher e Tathiane Piscitelli no UOL

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Notícias. Projeto eleva imposto em pão, carne e leite e promete pagar pobre depois.
Publicado em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/12/cesta-
basica-desoneracao-reforma-tributaria-bene cios-restituicao.htm?cmpid=copiaecola

5 Cf. “Reforma Tributária na Era da Revolução Digital”, de Dimas Saloé Tafelli e


Talita Ritz Santana, publicado no periódico Valor Econômico, de 27/09/2019.

6 SILVA, Ricardo Almeida Ribeiro da Silva. Reforma tributária e o IVA (Imposto


sobre Valor Adicionado): vale insistir no fracasso? In: Revista Brasileira de Direito
Municipal, v.19, n.70, out./dez. 2018 Belo Horizonte: Editora Forum, 2018, 167-179.

7 “A PBR [Proposta Balei Rossi], infelizmente, faz pior: cria uma nova categoria,
mundialmente inédita, de tributo: o tributo “zumbi”, aquele que, embora morto, persiste
meio vivo, assombrando o contribuinte. Não é só um zumbi. Serão cinco. Enquanto
eles não morrerem, dois novos impostos, no entanto, já terão entrado em vigor, com
suas leis e regulamentos especí cos. Esta é a receita certa para uma escalada nunca
antes experimentada na balbúrdia tributária.” Cf. CASTRO, Paulo Rabello. REFORMA
TRIBUTÁRIA NA VISÃO ECONÔMICA: PROPOSTA BALEIA ROSSI. Publicado em:
https://www.atlantico.org.br/wp-content/uploads/2019/07/ Reforma-
tribut%C3%A1ria-Vis%C3%A3o-econ%C3%B4mica.pdf

8 Cf. Artigo “IBS – Uma Quimera Brasileira” de Urbano M. Martínez e Guilherme M.


Martínez, publicado no Valor Econômico – Legislação de 07/05/2019.

9 Cf. Com o alerta contido no artigo “Onerar mais não é o caminho” subscrito por
Everardo Maciel, Hamilton Dias de Souza, Humberto Ávila, Ives Gandra da Silva
Martins, Kiyoshi Harada, Roque Antonio Carrazza.

10 Vide artigo aqui no Jota: “Vilão das Finanças Nacionais – Simples Nacional vem
se tornando o maior buraco das nanças públicas do país”, publicado em
27/09/2017. https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/vilao-das- nancas-
nacionais-27092017

11 Ameaça que já havia apontado aqui no Jota, em outra vertente, no artigo


“Simples Nacional e a Tentação de Turgot – Reforma Tributária às Avessas pode
destruir Modelo Federativo Tripartite”, publicado em 15/01/2015: https://www.jota.
info/opiniao-e-analise/artigos/simples-nacional-e-tentacao-de-turgot-15012015

12 SILVA, Ricardo Almeida Ribeiro. “Federalismo Fiscal, E ciência e Legitimidade: O


Jurídico para Além do Formalismo Constitucional”. In: Coleção Federalismo e
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/coluna-da-abdf/municipios-e-reforma-tributaria-04112019 10/12
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Tributação, (org.) DERZI, Misabel Abreu Machado; BATISTA Jr., Onofre Alves;
MOREIRA, André Mendes. Belo Horizonte, 2015, p. 55-96.

13 O Brasil precisa enfrentar com urgência o tema da Reforma Federativa,


permitindo a emancipação de localidades que legítima e e cientemente possam
gurar como municípios, mas sobretudo determinando a fusão daqueles que não
detenham condições para se manterem como entes políticos federados. A África do
Sul fez importante Reforma Federativa, reduzindo em 4 vezes o número de
municípios no país e também criando 8 cidades-estado como o melhor mecanismo
para a gestão metropolitana (já que entre nós os modelos constitucionais das
Regiões ou dos Consórcios entre municípios jamais funcionou).

14 Essas práticas são nanciadas por meio da manipulação de mecanismos de


“desconcentração” de recursos públicos, sobretudo por aqueles manejados por
decisões administrativas ou emendas parlamentares (como convênios,
transferências voluntárias, empréstimos e avais para operações de crédito, entre
outros).

15 Hoje, mais de 35% dos gastos com Saúde no Brasil são realizados pelos
Municípios, apesar de contarem apenas com 22,5% da receita pública disponível
total (conforme Relatório de Acompanhamento Fiscal de Julho de 2018, produzido
pela Instituição Fiscal Independente – do Senado Federal).

16 Cf. MIRANDA, Jorge, “Teoria do Estado e da Constituição“, Rio de Janeiro:


Forense, 2003, p. 314.

17 Cite-se em caráter ilustrativo a perspectiva atilada de Carmen Lúcia Antunes


Rocha, hoje Ministra do STF, quando a rmara, para registros nos Anais do XXIV
Encontro Nacional de Procuradores Municipais (p.89) que: “nós brasileiros somos
mais municipalistas que federalistas no sentido de nos atermos à entidade federada,
como entidade estadual. Exemplo disso é que quando se pergunta a alguém ‘– De
onde você é?’ a pessoa sempre faz referência ao Município e não ao Estado. O que é
bem contrário, por exemplo, do que acontece nos Estados Unidos, em que eles são,
evidentemente mais estadualistas – até por que os Estados Unidos no seu próprio
nome indica que as entidades federadas é que se uniram dando origem ao Estado
norte-americano”.

18 Cf. BANDEIRA, Luiz Antonio Moniz. “O Feudo – A Casa da Torre de Garcia D


´Ávila: da conquista dos sertões à independência do Brasil”. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 2000, p: 34.

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19 O mecanismo engendrado por D. Pedro I, com a concordância de D. Leopoldina


e dos irmãos Andrada, mimetizava – aqui sim – o processo de rati cação da
Constituição da Filadél a de 1787, cuja vigência em todos os EUA só aconteceu em
1803, após a rati cação pelo Estado de Rhode Island.

20 Superando os antigos modelo paraestatais surgidos na década de cinquenta,


que teve como expoentes a ABM – Associação Brasileira de Municípios, o IBAM –
Instituto Brasileiro de Administração Municipal (RJ); o CEPAM – Centro de Estudos e
Pesquisas Municipais – Fundação Faria Lima (SP); apesar de ainda hoje sobreviver,
em modelo similar, a CNM – Confederação Nacional dos Municípios.

21 Cf. Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria de outubro de 2018 – ICMS


(42%), PIS/COFINS (16%), IPI (11%), ISS (1% de impacto, apenas). Vide
https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/ economia/icms-e-o-tributo-
mais-prejudicial-a-industria-dizem-empresarios/

22 Vide a proposta do Repositório Nacional de Notas Fiscais elaborado pela


ABRASF em curso no Congresso Nacional (PLP 521/2018).

23 ABRASF
http://www.abrasf.org.br/arquivos/ les/NT_CONJUNTA_DOC_ABRASF_ARACAJU.
pdf Nota Técnica Conjunta com a Secretaria de Fazenda de Aracajú/SE:

RICARDO ALMEIDA RIBEIRO DA SILVA – Diretor da ABDF, Procurador do Município do Rio de Janeiro e
Assessor Jurídico da ABRASF.

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