Resumo crítico referente ao livro “Carnaval Tributário”
Resumo crítico referente ao livro “Carnaval Tributário”
do autor Alfredo Augusto Becker, para disciplina de Direito Tributério II. Faculdade de Direito da Universidade Católica do Salvador, sob a orientação do Prof. Raimundo Luiz de Andrade.
SALVADOR-BA RESUMO CRÍTICO DO LIVRO “CARNAVAL TRIBUTÁRIO”
O renomado escritor e poeta Alfredo Augusto Becker, ao redigir o célebre livro
"Carnaval Tributário", não poderia prever o impacto revolucionário que sua obra teria no campo do pensamento jurídico, causando mudanças profundas no estudo do direito tributário no Brasil. O livro, composto por 24 breves capítulos divididos em quatro partes, retratou, de maneira poética, as reflexões e experiências profissionais desse grande jurista. De acordo com Alfredo Augusto Becker, a interpretação econômica foi a base para a teoria do abuso das formas, que hoje está ultrapassada, mas teve um papel crucial no maior erro da história da doutrina do direito tributário. Essa corrente sustentava que a obrigação tributária não poderia ser evitada ou reduzida por meio do "abuso de formas jurídicas". Isso significa que, no momento em que se convertia o fato econômico em um evento jurídico, era criada uma estrutura legal perfeitamente válida para evitar a ocorrência do fato gerador do tributo. No entanto, com o contexto das reformas que levaram à criação do Código Tributário Nacional, tornou-se evidente uma preocupação em aproximar a economia do direito tributário. Isso resultou, paradoxalmente, na não aceitação da tese da interpretação econômica. Lamentavelmente para nós, simples contribuintes, não parece haver preocupação com a natureza regressiva, complexa, cumulativa, injusta ou insustentável do sistema tributário. O que se prioriza são os números recordes de arrecadação. Alfredo Becker estava surpreendido pela quantidade e diversidade de impostos disfarçados, sugeriu então a criação de um bloco carnavalesco chamado Unidos da Vila Federal, com o presidente da República e seu ministro da Fazenda como figurantes principais. A batida seria marcada pelos ossos dos contribuintes, que também cederiam a pele para os tambores. Becker utilizou da metáfora satírica que critica a alta carga tributária e a diversidade de impostos que os cidadãos enfrentam. A imagem descrita pelo autor sugere uma representação caricatural da realidade tributária, onde os contribuintes seriam os protagonistas do ritmo, marcando a batida do desfile com "ossos", uma referência à sua contribuição financeira por meio dos impostos. A menção à "pele cedida para os tambores" pode ser interpretada como uma alusão à contribuição constante e profunda dos cidadãos para financiar os gastos governamentais. A proposta de Becker parece ser uma crítica ácida à forma como os impostos são cobrados dos cidadãos, destacando a sua diversidade e quantidade excessiva, ao ponto de serem tão onerosos a ponto de "cederem até a pele" para financiar o funcionamento do Estado. A metáfora utilizada procura transmitir a ideia de que os contribuintes são os verdadeiros motores por trás do financiamento estatal, utilizando uma linguagem simbólica e satírica para destacar a gravidade do problema. Becker, por meio dessa metáfora, procurava chamar a atenção para a carga tributária excessiva, a complexidade e a falta de transparência do sistema tributário. Ele criticava a falta de simplicidade e clareza nas regras fiscais, bem como a pressão financeira imposta aos contribuintes para atender às demandas fiscais do governo. Essa crítica se concentra na necessidade de reformas que simplifiquem o sistema tributário, tornando-o mais compreensível, equitativo e menos oneroso para os cidadãos. Atualmente, esse carnaval persiste e está cada vez mais favorável ao grupo fiscal. Os dados do Ministério da Fazenda revelam que, ao longo de 20 carnavais, a arrecadação conjunta da União, estados, municípios e Distrito Federal aumentou de 25% para 35% do Produto Interno Bruto (PIB). Por isso, o Bloco da Reforma Fiscal não está presente na avenida neste e nos próximos anos. A desculpa é a falta de "ambiente político", mas a realidade é que não se mexe em time que está ganhando. Infelizmente para nós, meros contribuintes, ninguém parece se importar se o sistema é regressivo, complexo, cumulativo, injusto ou insustentável. O que realmente importa são os números de arrecadação. E os contribuintes se defendem como podem (aqueles que conseguem), fazendo com que mais de 30% das atividades do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal estejam relacionadas a litígios fiscais. Mas, do Carnaval Tributário de 1989 ao de 2012, até mesmo os confetes e serpentinas mudaram, agora pesados com 55% de impostos e contribuições. Ao longo desse período, mudanças culturais e tecnológicas vigorosas alteraram as diretrizes e as estruturas da relação fiscal. Sociedade, economia, Estado e tecnologia evoluíram. Ao observar o desfile oficial, é notável destacar algumas das "alas". A Ala Tecnológica é uma delas. Hoje, o Carnaval Tributário é assustadoramente tecnológico. Nessa categoria, entram elementos como a nota fiscal eletrônica (NF-e), o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), a Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias (Dimob) e a recente Declaração de Serviços Médicos e de Saúde (Dimed), entre outros. Todos esses componentes dançam rapidamente em um supercomputador, comparável a um carro alegórico, apelidado de T-Rex, que abriga uma "inteligência artificial" chamada Harpia, a maior ave de rapina do mundo. Portanto, aqueles que estão na avenida devem ter cuidado. Se esbarrarem no Imposto de Renda Pessoa Física, o que não é difícil diante das complexidades legais, podem ser atropelados pelo gigantesco T-Rex no cruzamento. Porém, se alguém ganha tão pouco que sequer foi convidado para o Baile do Leão, azar o seu, pois enfrentará uma carga tributária indireta de 53,9%, segundo o Ipea. Uma carga tributária de Rei Momo, especialmente para os contribuintes mais vulneráveis. Uma das alas mais preocupantes é a Ala das Sanções Políticas. É nesse espaço que são aplicadas exigências como as Certidões Negativas de Débito para dispor de bens (CNDs), invalidações do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), proibição de emissão de notas fiscais e até, de forma misteriosa, o protesto de dívidas fiscais, aprovado pelo Conselho Nacional de Justiça. Essa área é bastante restritiva. No pequeno Bloco da Competitividade, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a tributação mina a sustentabilidade econômica, especialmente diante da globalização do mercado. Ou seja, nossos produtos não conseguem espaço nesse baile. Não há saída nessa avenida e, nesse autêntico Carnaval Tributário, a música favorita continua sendo "Me dá um dinheiro aí". Entretanto, é surpreendente perceber como o título de sua obra se relaciona com o contexto das discussões sobre a aprovação da reforma tributária. O termo "Carnaval Tributário", que batizou essa obra jurídica renomada, tem ganhado uma relevância atual sem precedentes nos últimos dias. Inicialmente, é crucial ressaltar que a palavra "Carnaval" evoca alegria e festividade para muitas pessoas, sentimentos que, inegavelmente, a reforma tributária desperta nos contribuintes. Afinal, essa reforma tem sido aguardada e requisitada por grande parte da população brasileira há muitos anos. O sistema tributário vigente no Brasil é considerado complexo e imperfeito, sendo até apelidado de "manicômio". Em meio aos grupos com visões discordantes sobre o caminho a ser seguido em termos de tributação, há um consenso unânime de que é imperativo uma reforma tributária. No entanto, o termo "Carnaval" também possui uma conotação pejorativa, o que apresenta um problema ao considerar uma mudança tão significativa como a reforma do sistema tributário brasileiro. Associar a palavra "Carnaval" a uma festa ou folia contradiz o que uma reforma tributária representa. Ou seja, trata-se de uma transformação de extrema importância, mas está longe de ser uma celebração. É fundamental discutir com seriedade as propostas, deixando de lado interesses individuais e focando no bem-estar geral e no crescimento econômico do país, sem negligenciar as necessidades de diferentes grupos. Não se pode inviabilizar as discussões para proteger interesses próprios ou impulsionar mudanças sem o devido tempo para debater entre os grupos com posições divergentes. Essas considerações são os parâmetros cruciais que devem ser levados em conta daqui em diante. A proposta de reforma tributária foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos Deputados, substituindo cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por um IVA Dual e um Imposto Seletivo. Esse sistema, proposto pelo relator, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, é denominado dual por envolver a divisão entre uma Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), de responsabilidade da União, e um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de competência dos estados e municípios. Além disso, a proposta inclui um Imposto Seletivo (IS) sobre produtos e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, além de alterações no IPTU, IPVA e ITCMD. Com esse avanço importante, a proposta seguirá para o Senado Federal, intensificando as discussões sobre a famosa reforma tributária. Espera-se seriedade e transparência nessa nova fase, pois a aprovação do texto parece estar sendo conduzida rapidamente, sem tempo para a sociedade refletir e discutir seu conteúdo e os impactos nos setores da economia brasileira. É necessário ir além do debate sobre a extinção ou substituição de tributos em prol de uma simplificação na tributação sobre o consumo, focando também nos problemas gerados por esse sistema tributário. Somente uma abordagem séria, considerando todos os aspectos do país, poderá resultar em um verdadeiro remédio para essas questões. Antes de analisar o conteúdo da PEC nº 45/2019 (reforma tributária), é crucial examinar o aspecto formal de como essa proposta está sendo conduzida. Não é aceitável que uma mudança de tal magnitude tramite sem um diálogo necessário com a sociedade. Parece-se querer aprovar a reforma e depois corrigir eventuais problemas, o que não é admissível. A reforma deve beneficiar a todos e não apenas um grupo seleto que a discutiu, evitando que apenas essas pessoas suportem o peso da carga tributária resultante. Embora a discussão sobre a reforma tributária esteja em pauta há muito tempo, o texto foi apresentado recentemente. É crucial observar o processo legislativo e garantir transparência, pois aprovar um texto inconstitucional acarretará malefícios ao país, independentemente das boas intenções. Embora seja necessária uma reforma tributária para tornar o Brasil competitivo globalmente, é essencial obedecer às regras constitucionais devido processo legislativo, transparência e diálogo. Nesse cenário complexo, a proposta de reforma tributária pode ser um remédio para tratar as deficiências do sistema tributário brasileiro. Caso contrário, corremos o risco de repetir erros do passado, criando um novo "manicômio" e perpetuando as patologias desse sistema tributário. Afinal, os manicômios não curam ninguém! O renomado livro "Carnaval Tributário", é considerado um clássico na literatura jurídica do Brasil devido às suas inúmeras críticas, ricamente irônicas, ao complexo sistema tributário nacional. O autor não previa que, nos dias atuais, essa complexidade seria ainda mais acentuada pelo intenso voluntarismo jurídico manifestado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Se estivesse vivo, Becker talvez renomeasse sua obra como "Carnaval Judicial Tributário". Um exemplo ilustrativo dessa complexidade é o recente julgamento (ou a falta dele) acerca da exclusão do ISS da base de cálculo das contribuições ao PIS e à COFINS, uma questão que ainda está pendente de definição pelo STF, no contexto do RE n. 592.616/RS (tema 118 de repercussão geral). Após um longo período de 14 anos tramitando exclusivamente no STF, foi finalmente julgado o RE n. 574.706, que estabeleceu que "o ICMS não compõe a base de cálculo para fins de incidência do PIS e da COFINS", mesmo que haja concordância ou discordância com tal tese. Essa decisão estabeleceu um conceito de faturamento para a incidência das contribuições sociais, excluindo dela os valores correspondentes a tributos pagos pelo consumidor e repassados pelo vendedor ao governo. Essa posição não se limitou à exclusão do ICMS da base de cálculo, mas definiu, de certa forma, o que deveria ser considerado como faturamento. Retomando o caso da exclusão do ISS da base de cálculo do PIS/COFINS, esse julgamento teve início em agosto de 2020, quando o então Ministro Celso de Mello votou pela exclusão do ISS das contribuições, da mesma forma que o ICMS. No entanto, o julgamento foi interrompido quando o Ministro Dias Toffoli abriu a divergência, defendendo a manutenção do ISS na base de cálculo, argumentando que, ao contrário do ICMS, o ISS estaria sujeito ao regime cumulativo e não seria destacado na nota fiscal. Uma pergunta que surge é: qual a relevância desses argumentos para determinar a definição sobre a inclusão ou não dos valores de ISS na base de cálculo? Ambos os regimes (cumulativo e não-cumulativo) implicam no repasse dos tributos para o preço cobrado do consumidor. Entretanto, o caso se complica ainda mais. Após o voto divergente, o Presidente do STF, Ministro Luiz Fux, retirou o caso do Plenário Virtual. Isso significa que todos os votos já proferidos foram descartados e o caso será julgado presencialmente, provavelmente após a nomeação de um novo membro para a vaga aberta no Tribunal. Essa situação gera incerteza e possivelmente mais anos de espera até que o STF, com uma nova composição, retome o tema. Nesse contexto, a existência de uma nova composição do STF deveria influenciar o resultado desse julgamento? Considerando que o STF já definiu um conceito de faturamento no julgamento anterior, a resposta deveria ser "não". Apesar das diferentes visões dos Ministros sobre o assunto, o foco deveria ser a posição da Corte como instituição, e não as opiniões individuais de cada Ministro. Se o STF valorizasse realmente seus precedentes e se preocupasse com a coerência das decisões para promover a segurança jurídica, a exclusão do ISS da base de cálculo do PIS/COFINS não seria uma questão problemática. Deveria ter sido julgada na última sessão, seguindo o mesmo resultado do caso do ICMS, e por unanimidade, com os Ministros concordando com a posição já consolidada pelo Tribunal, mesmo que expressassem suas opiniões individuais. Infelizmente, no país do "Carnaval Tributário", resta ao jurisdicionado torcer para não acabar a festa e se deparar com uma sensação amarga na Quarta-Feira de Cinzas. CONCLUSÃO O livro "Carnaval Tributário", parece oferecer uma crítica contundente e satírica sobre o sistema tributário, utilizando metáforas carnavalescas para transmitir sua mensagem. A obra aborda, de maneira simbólica e provocativa, a complexidade, o peso e a opacidade do sistema tributário brasileiro (e, por extensão, de outros sistemas ao redor do mundo). Becker utiliza a analogia do carnaval para representar a diversidade de impostos, a sobrecarga tributária sobre os contribuintes e a complexidade dos regulamentos fiscais. Assim, uma conclusão possível sobre o livro "Carnaval Tributário" seria a urgente necessidade de reformas no sistema tributário para torná-lo mais simples, transparente e justo. Becker parece defender uma revisão significativa no sistema, visando reduzir a quantidade de impostos, simplificar as leis tributárias e aumentar a transparência, de modo a aliviar o fardo sobre os contribuintes e promover uma relação mais equilibrada entre o Estado e os cidadãos em termos fiscais. Além disso, o uso da metáfora carnavalesca sugere uma abordagem satírica e crítica, procurando despertar a atenção do público para as questões tributárias de maneira mais acessível e impactante. Dessa forma, o livro oferece uma reflexão sobre a necessidade de uma reforma tributária profunda, propondo mudanças estruturais para um sistema mais justo, compreensível e equitativo para os contribuintes.