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Universidade Católica do Salvador

Curso de Graduação em Direito

Gabriela Maciel Melo

Matrícula: 200018118

Resumo crítico referente ao livro “Carnaval Tributário”

Resumo crítico referente ao livro “Carnaval Tributário”


do autor Alfredo Augusto Becker, para disciplina de
Direito Tributério II. Faculdade de Direito da
Universidade Católica do Salvador, sob a orientação
do Prof. Raimundo Luiz de Andrade.

SALVADOR-BA
RESUMO CRÍTICO DO LIVRO “CARNAVAL TRIBUTÁRIO”

O renomado escritor e poeta Alfredo Augusto Becker, ao redigir o célebre livro


"Carnaval Tributário", não poderia prever o impacto revolucionário que sua obra teria no
campo do pensamento jurídico, causando mudanças profundas no estudo do direito tributário
no Brasil. O livro, composto por 24 breves capítulos divididos em quatro partes, retratou, de
maneira poética, as reflexões e experiências profissionais desse grande jurista.
De acordo com Alfredo Augusto Becker, a interpretação econômica foi a base para a
teoria do abuso das formas, que hoje está ultrapassada, mas teve um papel crucial no maior
erro da história da doutrina do direito tributário. Essa corrente sustentava que a obrigação
tributária não poderia ser evitada ou reduzida por meio do "abuso de formas jurídicas". Isso
significa que, no momento em que se convertia o fato econômico em um evento jurídico, era
criada uma estrutura legal perfeitamente válida para evitar a ocorrência do fato gerador do
tributo.
No entanto, com o contexto das reformas que levaram à criação do Código Tributário
Nacional, tornou-se evidente uma preocupação em aproximar a economia do direito tributário.
Isso resultou, paradoxalmente, na não aceitação da tese da interpretação econômica.
Lamentavelmente para nós, simples contribuintes, não parece haver preocupação com a
natureza regressiva, complexa, cumulativa, injusta ou insustentável do sistema tributário. O
que se prioriza são os números recordes de arrecadação.
Alfredo Becker estava surpreendido pela quantidade e diversidade de impostos
disfarçados, sugeriu então a criação de um bloco carnavalesco chamado Unidos da Vila
Federal, com o presidente da República e seu ministro da Fazenda como figurantes
principais. A batida seria marcada pelos ossos dos contribuintes, que também cederiam a
pele para os tambores.
Becker utilizou da metáfora satírica que critica a alta carga tributária e a diversidade de
impostos que os cidadãos enfrentam. A imagem descrita pelo autor sugere uma
representação caricatural da realidade tributária, onde os contribuintes seriam os
protagonistas do ritmo, marcando a batida do desfile com "ossos", uma referência à sua
contribuição financeira por meio dos impostos. A menção à "pele cedida para os tambores"
pode ser interpretada como uma alusão à contribuição constante e profunda dos cidadãos
para financiar os gastos governamentais.
A proposta de Becker parece ser uma crítica ácida à forma como os impostos são
cobrados dos cidadãos, destacando a sua diversidade e quantidade excessiva, ao ponto de
serem tão onerosos a ponto de "cederem até a pele" para financiar o funcionamento do
Estado. A metáfora utilizada procura transmitir a ideia de que os contribuintes são os
verdadeiros motores por trás do financiamento estatal, utilizando uma linguagem simbólica e
satírica para destacar a gravidade do problema.
Becker, por meio dessa metáfora, procurava chamar a atenção para a carga tributária
excessiva, a complexidade e a falta de transparência do sistema tributário. Ele criticava a falta
de simplicidade e clareza nas regras fiscais, bem como a pressão financeira imposta aos
contribuintes para atender às demandas fiscais do governo. Essa crítica se concentra na
necessidade de reformas que simplifiquem o sistema tributário, tornando-o mais
compreensível, equitativo e menos oneroso para os cidadãos.
Atualmente, esse carnaval persiste e está cada vez mais favorável ao grupo fiscal. Os
dados do Ministério da Fazenda revelam que, ao longo de 20 carnavais, a arrecadação
conjunta da União, estados, municípios e Distrito Federal aumentou de 25% para 35% do
Produto Interno Bruto (PIB).
Por isso, o Bloco da Reforma Fiscal não está presente na avenida neste e nos
próximos anos. A desculpa é a falta de "ambiente político", mas a realidade é que não se
mexe em time que está ganhando.
Infelizmente para nós, meros contribuintes, ninguém parece se importar se o sistema é
regressivo, complexo, cumulativo, injusto ou insustentável. O que realmente importa são os
números de arrecadação.
E os contribuintes se defendem como podem (aqueles que conseguem), fazendo com
que mais de 30% das atividades do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal
Federal estejam relacionadas a litígios fiscais.
Mas, do Carnaval Tributário de 1989 ao de 2012, até mesmo os confetes e serpentinas
mudaram, agora pesados com 55% de impostos e contribuições. Ao longo desse período,
mudanças culturais e tecnológicas vigorosas alteraram as diretrizes e as estruturas da
relação fiscal. Sociedade, economia, Estado e tecnologia evoluíram.
Ao observar o desfile oficial, é notável destacar algumas das "alas". A Ala Tecnológica
é uma delas. Hoje, o Carnaval Tributário é assustadoramente tecnológico. Nessa categoria,
entram elementos como a nota fiscal eletrônica (NF-e), o Sistema Público de Escrituração
Digital (Sped), a Declaração de Informações sobre Atividades Imobiliárias (Dimob) e a
recente Declaração de Serviços Médicos e de Saúde (Dimed), entre outros.
Todos esses componentes dançam rapidamente em um supercomputador, comparável a um
carro alegórico, apelidado de T-Rex, que abriga uma "inteligência artificial" chamada Harpia, a
maior ave de rapina do mundo.
Portanto, aqueles que estão na avenida devem ter cuidado. Se esbarrarem no Imposto
de Renda Pessoa Física, o que não é difícil diante das complexidades legais, podem ser
atropelados pelo gigantesco T-Rex no cruzamento.
Porém, se alguém ganha tão pouco que sequer foi convidado para o Baile do Leão,
azar o seu, pois enfrentará uma carga tributária indireta de 53,9%, segundo o Ipea. Uma
carga tributária de Rei Momo, especialmente para os contribuintes mais vulneráveis.
Uma das alas mais preocupantes é a Ala das Sanções Políticas. É nesse espaço que são
aplicadas exigências como as Certidões Negativas de Débito para dispor de bens (CNDs),
invalidações do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), proibição de emissão de notas fiscais e
até, de forma misteriosa, o protesto de dívidas fiscais, aprovado pelo Conselho Nacional de
Justiça. Essa área é bastante restritiva.
No pequeno Bloco da Competitividade, segundo o Banco Interamericano de
Desenvolvimento, a tributação mina a sustentabilidade econômica, especialmente diante da
globalização do mercado. Ou seja, nossos produtos não conseguem espaço nesse baile.
Não há saída nessa avenida e, nesse autêntico Carnaval Tributário, a música favorita
continua sendo "Me dá um dinheiro aí".
Entretanto, é surpreendente perceber como o título de sua obra se relaciona com o
contexto das discussões sobre a aprovação da reforma tributária. O termo "Carnaval
Tributário", que batizou essa obra jurídica renomada, tem ganhado uma relevância atual sem
precedentes nos últimos dias.
Inicialmente, é crucial ressaltar que a palavra "Carnaval" evoca alegria e festividade
para muitas pessoas, sentimentos que, inegavelmente, a reforma tributária desperta nos
contribuintes. Afinal, essa reforma tem sido aguardada e requisitada por grande parte da
população brasileira há muitos anos.
O sistema tributário vigente no Brasil é considerado complexo e imperfeito, sendo até
apelidado de "manicômio". Em meio aos grupos com visões discordantes sobre o caminho a
ser seguido em termos de tributação, há um consenso unânime de que é imperativo uma
reforma tributária.
No entanto, o termo "Carnaval" também possui uma conotação pejorativa, o que
apresenta um problema ao considerar uma mudança tão significativa como a reforma do
sistema tributário brasileiro. Associar a palavra "Carnaval" a uma festa ou folia contradiz o
que uma reforma tributária representa. Ou seja, trata-se de uma transformação de extrema
importância, mas está longe de ser uma celebração.
É fundamental discutir com seriedade as propostas, deixando de lado interesses
individuais e focando no bem-estar geral e no crescimento econômico do país, sem
negligenciar as necessidades de diferentes grupos. Não se pode inviabilizar as discussões
para proteger interesses próprios ou impulsionar mudanças sem o devido tempo para debater
entre os grupos com posições divergentes. Essas considerações são os parâmetros cruciais
que devem ser levados em conta daqui em diante.
A proposta de reforma tributária foi aprovada em dois turnos pela Câmara dos
Deputados, substituindo cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por um IVA Dual e um
Imposto Seletivo. Esse sistema, proposto pelo relator, deputado federal Aguinaldo Ribeiro, é
denominado dual por envolver a divisão entre uma Contribuição sobre Bens e Serviços
(CBS), de responsabilidade da União, e um Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), de
competência dos estados e municípios. Além disso, a proposta inclui um Imposto Seletivo (IS)
sobre produtos e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, além de alterações no
IPTU, IPVA e ITCMD.
Com esse avanço importante, a proposta seguirá para o Senado Federal,
intensificando as discussões sobre a famosa reforma tributária. Espera-se seriedade e
transparência nessa nova fase, pois a aprovação do texto parece estar sendo conduzida
rapidamente, sem tempo para a sociedade refletir e discutir seu conteúdo e os impactos nos
setores da economia brasileira.
É necessário ir além do debate sobre a extinção ou substituição de tributos em prol de
uma simplificação na tributação sobre o consumo, focando também nos problemas gerados
por esse sistema tributário. Somente uma abordagem séria, considerando todos os aspectos
do país, poderá resultar em um verdadeiro remédio para essas questões.
Antes de analisar o conteúdo da PEC nº 45/2019 (reforma tributária), é crucial
examinar o aspecto formal de como essa proposta está sendo conduzida. Não é aceitável
que uma mudança de tal magnitude tramite sem um diálogo necessário com a sociedade.
Parece-se querer aprovar a reforma e depois corrigir eventuais problemas, o que não é
admissível. A reforma deve beneficiar a todos e não apenas um grupo seleto que a discutiu,
evitando que apenas essas pessoas suportem o peso da carga tributária resultante.
Embora a discussão sobre a reforma tributária esteja em pauta há muito tempo, o texto
foi apresentado recentemente. É crucial observar o processo legislativo e garantir
transparência, pois aprovar um texto inconstitucional acarretará malefícios ao país,
independentemente das boas intenções. Embora seja necessária uma reforma tributária para
tornar o Brasil competitivo globalmente, é essencial obedecer às regras constitucionais
devido processo legislativo, transparência e diálogo.
Nesse cenário complexo, a proposta de reforma tributária pode ser um remédio para
tratar as deficiências do sistema tributário brasileiro. Caso contrário, corremos o risco de
repetir erros do passado, criando um novo "manicômio" e perpetuando as patologias desse
sistema tributário. Afinal, os manicômios não curam ninguém!
O renomado livro "Carnaval Tributário", é considerado um clássico na literatura jurídica
do Brasil devido às suas inúmeras críticas, ricamente irônicas, ao complexo sistema tributário
nacional. O autor não previa que, nos dias atuais, essa complexidade seria ainda mais
acentuada pelo intenso voluntarismo jurídico manifestado pelo Supremo Tribunal Federal
(STF). Se estivesse vivo, Becker talvez renomeasse sua obra como "Carnaval Judicial
Tributário".
Um exemplo ilustrativo dessa complexidade é o recente julgamento (ou a falta dele)
acerca da exclusão do ISS da base de cálculo das contribuições ao PIS e à COFINS, uma
questão que ainda está pendente de definição pelo STF, no contexto do RE n. 592.616/RS
(tema 118 de repercussão geral).
Após um longo período de 14 anos tramitando exclusivamente no STF, foi finalmente julgado
o RE n. 574.706, que estabeleceu que "o ICMS não compõe a base de cálculo para fins de
incidência do PIS e da COFINS", mesmo que haja concordância ou discordância com tal tese.
Essa decisão estabeleceu um conceito de faturamento para a incidência das contribuições
sociais, excluindo dela os valores correspondentes a tributos pagos pelo consumidor e
repassados pelo vendedor ao governo. Essa posição não se limitou à exclusão do ICMS da
base de cálculo, mas definiu, de certa forma, o que deveria ser considerado como
faturamento.
Retomando o caso da exclusão do ISS da base de cálculo do PIS/COFINS, esse
julgamento teve início em agosto de 2020, quando o então Ministro Celso de Mello votou pela
exclusão do ISS das contribuições, da mesma forma que o ICMS. No entanto, o julgamento
foi interrompido quando o Ministro Dias Toffoli abriu a divergência, defendendo a manutenção
do ISS na base de cálculo, argumentando que, ao contrário do ICMS, o ISS estaria sujeito ao
regime cumulativo e não seria destacado na nota fiscal.
Uma pergunta que surge é: qual a relevância desses argumentos para determinar a
definição sobre a inclusão ou não dos valores de ISS na base de cálculo? Ambos os regimes
(cumulativo e não-cumulativo) implicam no repasse dos tributos para o preço cobrado do
consumidor.
Entretanto, o caso se complica ainda mais. Após o voto divergente, o Presidente do
STF, Ministro Luiz Fux, retirou o caso do Plenário Virtual. Isso significa que todos os votos já
proferidos foram descartados e o caso será julgado presencialmente, provavelmente após a
nomeação de um novo membro para a vaga aberta no Tribunal. Essa situação gera incerteza
e possivelmente mais anos de espera até que o STF, com uma nova composição, retome o
tema.
Nesse contexto, a existência de uma nova composição do STF deveria influenciar o
resultado desse julgamento? Considerando que o STF já definiu um conceito de faturamento
no julgamento anterior, a resposta deveria ser "não". Apesar das diferentes visões dos
Ministros sobre o assunto, o foco deveria ser a posição da Corte como instituição, e não as
opiniões individuais de cada Ministro.
Se o STF valorizasse realmente seus precedentes e se preocupasse com a coerência
das decisões para promover a segurança jurídica, a exclusão do ISS da base de cálculo do
PIS/COFINS não seria uma questão problemática. Deveria ter sido julgada na última sessão,
seguindo o mesmo resultado do caso do ICMS, e por unanimidade, com os Ministros
concordando com a posição já consolidada pelo Tribunal, mesmo que expressassem suas
opiniões individuais. Infelizmente, no país do "Carnaval Tributário", resta ao jurisdicionado
torcer para não acabar a festa e se deparar com uma sensação amarga na Quarta-Feira de
Cinzas.
CONCLUSÃO
O livro "Carnaval Tributário", parece oferecer uma crítica contundente e satírica sobre
o sistema tributário, utilizando metáforas carnavalescas para transmitir sua mensagem.
A obra aborda, de maneira simbólica e provocativa, a complexidade, o peso e a
opacidade do sistema tributário brasileiro (e, por extensão, de outros sistemas ao redor do
mundo). Becker utiliza a analogia do carnaval para representar a diversidade de impostos, a
sobrecarga tributária sobre os contribuintes e a complexidade dos regulamentos fiscais.
Assim, uma conclusão possível sobre o livro "Carnaval Tributário" seria a urgente
necessidade de reformas no sistema tributário para torná-lo mais simples, transparente e
justo. Becker parece defender uma revisão significativa no sistema, visando reduzir a
quantidade de impostos, simplificar as leis tributárias e aumentar a transparência, de modo a
aliviar o fardo sobre os contribuintes e promover uma relação mais equilibrada entre o Estado
e os cidadãos em termos fiscais.
Além disso, o uso da metáfora carnavalesca sugere uma abordagem satírica e crítica,
procurando despertar a atenção do público para as questões tributárias de maneira mais
acessível e impactante.
Dessa forma, o livro oferece uma reflexão sobre a necessidade de uma reforma
tributária profunda, propondo mudanças estruturais para um sistema mais justo,
compreensível e equitativo para os contribuintes.

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