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Hobbes. Thomas. The English works. London. John Bohn, 1839. v.I.

Ed. Molesworth.
--. ln: Oakshott, Michael. publ. Leviathan. introd. Peters. R.S.
London, Macmillan, 1974.
Horkheimer, Max. Eclipse of reasorz. New York, Oxford University
Press, 1947.
-- & Adorno, Theodor W. Dialectic o/ Enlightenmerzt. New York.
Herder and Herder. 1972.
Husserl. E. Phenomenology and the crisis of philosophy. New York,
2. NO RUMO DE UMA TEORIA SUBSTANTIVA
Harper & Row. 1965. DA VIDA HUMANA ASSOCIADA
--. The Thesis of the natural standpoint and its suspension. ln: Ko­
ckelmans, J.,publ. Phenomenology. Garden City, New York, Double­
Embora a ciência social moderna em geral e a teoria da organiza­
day, 1967.
ção em particular deixem de distinguir suficientemente entre a racio­
Jay, Martin. The Dialectical imagination, a history o[ the Frank[urt
nalidade funcional e a substar.tiva, an1bas constituem, não obstante.
School and the Jnstitute of Social Research. Boston. Massachusetts.
categorias fundamentais de duas concepções distintas da vida humana
Little, Brown, t'973.
associada. f'. propósito deste capítulo diferençar, analiticamente, essas
Keynes, J.M. Econontic possibilities for our children. ln: Essays in
duas concepções, e tal exploração toma-se agora imperativa, porque as
persuasio(I. New York, Harcourt, Brace & World, 1932.
teorias da organização e do desenho de sistemas sociais, exclus1va­
Mannheim, Karl. ldeology and utopy. New York, Harcourt, Brace & men te baseadas na concepção moderna de razão, são desprovidas de
World, 1939. real validade científica. Tal como na crítica da razão moderna, ofere­
--. Men and society in an age o[ reconstruction. New York, Har­ cida no capítulo 1, é também necessário começar esta análise com
court, Brace & World, 1940. Max Weber.
Parsons, Talcott & Shills, E.A., ed. Toward a general theory of action. Poder-se-á afinnar que quando Max Weber decidiu caracterizar a
New York. Harper & Row, 1962. razão moderna estava agindo como um historiador. Em lugar de ado­
--. Evolutionary universais in society. American Sociological Re­ tar urna posição substitutiva em relação à razão clássica, como fez
view, June, 1964. Hobbes, Max Weber impLicitamente advertiu que, nos tempos moder­
Sandoz, Ellis. The Foundations of Voegelin's political theory. The Po­ nos, um novo significado estava sendo atribuído à palavra razão. Não
litical Science Reviewer, l, Autumn 1971. afastou, como um anacronismo, o significado anterior de razão. Na
Vocgelin, Eric. The New science o/ politics. Chicago, Illinois, Universi­ realidade, Weber, como Hobbes, desejava um tipo de ciência social
ty of Chicago Press, 1952. inteiramente comprometido com uma tarefa peculiar a uma determi­
--. E1 Concepto de la 'buena sociedad'. Cuadernos dei Congreso nada época. Mas, ao fazer a distinção entre ZweckrationalitlJ.t (raciona­
por la Libertad, 1960. Suplemento do n<? 40. lidade formal) e Wertrationalitat (racionalidade substantiva) sugeria ele
--. On readiness to rational debate. ln: Hynold, A., publ. Freedom que ou uma, ou a outra, poderia servir de referência para a elaboração
and ser[dom, Dordrecht, Holanda. D. Reidel, 1961. teórica. No entanto, escolheu desenvolver um tipo de teoria baseado,
--. Industrial society in search of reason. ln: Aron, R., publ. World sobretudo, na noção de racionalidade funcional. Embora o respaldo
technology and human destiny. Ann Arbor, Michigan, University of biográfico e histórico da escolha de Weber pudesse constituir interes­
Chicago Press, 1963. sante e importante matéria para investigação, isso estaria além do pro­
--. On debate and existence. The lntercollegiate Reviewer, Mar./ pósito deste capítulo. Não obstante, ofereço à especulação a idéia de
Apr. 1967. que uma teoria substantiva poderia ser fonnulada com base naquilo
--. Reason: the classic experience. The Southem Review, Spring, que Weber não disse, mas que provavelmente diria se tivesse vivido
1974. nas presentes circunstâncias históricas.
Weber, Max. Economy and society. New York, Bedminster Press, Argumenta Max Weber que, embora a ciência social seja neutra,
1968. V. 1. do ponto de vista de valor, os valores adotados por uma sociedade são,
--. Methodology o[ social sciences. New York, The Free Press, eles próprios, critérios indicadores daqueles pontos que são importan-
1969.
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tes para aqúela forma particular de vida humana associada, durante principal categoria de análise. Na medida em que a razão substantiva é
certo período histórico. Admitiria ele, então, que quando as premissas entendida como uma categoria ordenativa, a teoria substantiva passa a
de valor de um certo tipo de vida associada se transformam, elas pró­ ser uma t�oria normativa de tipo específico. Na medida em que a
_
prias, em fatores de um mal coletivo, o cientista social não pode, legi­ raza� funcional é apenas uma definição, ou uma elaboração lógica, a
timamente, desprezar tais premissas como estranhas à sua disciplina. teona formal é uma teoria nominalista de tipo específico. Os concei­
Ao contrário, do ponto de vista de Weber, o cientista social deve tos da teoria substantiva são conhecimentos derivados do e no proces­
focalizar esses valores, embora apenas para mostrar as conseqüências � de realidade., enquanto os conceitos da teoria formal são apenas
práticas que acarretam. O cientista social, como tal, não deveria emitir mstrumentos c�>nvencionais de linguagem, que descrevem procedirnen­
julgamentos de valor, uma vez que valores são subjetivos - ou têm t�s o�erac1onais. A �ergunta: Que é a racionalidade? que requer aten­
,
alicerces demoníacos. çao direta no dom1mo da teoria substantiva, não tem papel a desem­
A posição de Weber não deixa de ser contraditória. Se os valores �nhar n� domínio da teoria formal. Aqui a pergunta é, de preferên­
são simplesmente demoníacos e não têm fundamentos objetivos, c�a: Que� q� e chamaremos de racionalidade? A pergunta seria respon­
então a análise das conseqüências de sua adoção pelos indivíduos não dida, no ultuno caso, por uma afirmação em que uma combinação de
é mais do que um fútil exercício de abstração. Tal análise só teria palavras 1 constitui, essencialmente, a referência para os objetivos da
sentido se fo�e empreendida na esperança de que o indivíduo pudesse análise.
ser persuadido a fazer um julgamento de valor objetivo, racional. 1 Segundo, uma teoria substantiva da vida humana associada é
Essa contradição na posição de Weber reflete-se em sua obra e em sua algo que existe há muito tempo e seus elementos sistemáticos podem
vida. Pretendeu ele ter estudado, s;ne ira ac srudio, a síndrome da ser encontrados nos trabalhos dos pensadores de todos os tempos, pas­
racionalidade formal, mas apesar disso manifestou seu pesar ante a sados e presentes, harmonizados ao significado que o senso comum
culminação de tal síndrome - um mundo de "especialistas sem espí­ atribui à razão, embora nenhum deles tenha jamais empregado a
rito, de sensualistas sem coração" (Weber, 1958, p. 182). expressão razão substantiva. Na verdade, é graças às peculiaridades da
Max Weber viveu num contexto histórico em que a racionalida­ época moderna, através das quais o conceito de razão foi escamoteado
de formal, ou funcional, substituía amplamente a racionalidade subs­ pelos funcionalistas de várias convicções, que temos presentemente
tantiva, como o principal critério para a ordenação dos negócios polí­ que qualificar o conceito como substantivo. Uma descoberta funda­
ticos e sociais. Tomou como certa essa substituição e recusou-se a mental, resultante da herança de ensinamentos dos pensadores clássi­
erigir a ciência social sobre a noção da racionalidade substantiva. Hoje, cos, é a de que é o debate racional, no sentido substantivo, que consti­
porém, é mais difícil do que nos tempos de Hobbes e de Weber pôr de tui a essência da forma política de vida, e também o requisito essencial
lado a viabilidade de uma teoria substantiva da associação humana, para o suporte de qualquer bem regulada vida humana associada, em
porque agora é evidente que o relativismo no tocante a valores condu­ seu conjunto.
ziu a vida associada a um beco sem saída, intelectual e espiritual. Em A propósito, aquilo que o campo da economia e, mais especifi­
conseqüência, a questão dl:l que tratará este capítulo consiste em saber camente, o campo da antropologia econômica referem presentemente
se a razão substantiva deveria ser a categoria essencial para a cogitação como sendo teoria substantiva,3 é apenas subsidiário a esta análise. O
dos assuntos políticos e sociais e, sendo esse o caso, que tipo de teoria atual debate entre economistas que professam de um lado a teoria
iria corresponder a essa ordem de pensamento. Constituirá propósito foanal, de outro a teoria substantiva, diz respeito à natureza do fenô­
dos capítulos subseqüentes a discussão das estruturas sociais emergen­ meno econômico, ao mercado e a suas implicações teóricas. Karl
tes e das implicações de política que daí resultam. Polanyi, fundador da teoria econômica substantiva, assinala que os
Há três qualificações gerais, que realçam as distinções entre a conceitos formais, extraídos da dinâmica específica do mercado, na
teoria substantiva e a teoria formal da vida humana associada. melhor das hipóteses são válidos como instrumentos gerais de análise
Primeiro, uma teoria da vida humana associada é substantiva e formulação dos sistemas sociais apenas numa sociedade capitalista,
quando a razão, no sentido substantivo, é sua principal categoria de durante um período em que o mercado esteja relativamente livre da
análise. Tal teoria é formal quando a razão, no sentido funcional, é sua 2 Sobre o caráter essencialista e nominalista dos conceitos, veja Popper (1971,
p. 32; 1965, p. 13-4).
1 Eric Voegelin e Leo Strauss também frisaram as contradições da noção de
3 Sobre a complexa controvérsia em tomo da teoria econômica substantiva
neutralidade de valor na ciência social, de Weber. Veja obras de Voegelin, E.
(1952, p. 13-22) e Strauss, L. (l 953. p. 35-80). vemis a teoria econõmica formal, veja Kaplan (1968) e Cook (1966).

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tes para aqúela forma particular de vida humana associada, durante principal categoria de análise. Na medida em que a razão substantiva é
certo período histórico. Admitiria ele, então, que quando as premissas entendida como uma categoria ordenativa, a teoria substantiva passa a
de valor de um certo tipo de vida associada se transformam, elas pró­ ser uma t�oria normativa de tipo específico. Na medida em que a
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prias, em fatores de um mal coletivo, o cientista social não pode, legi­ raza� funcional é apenas uma definição, ou uma elaboração lógica, a
timamente, desprezar tais premissas como estranhas à sua disciplina. teona formal é uma teoria nominalista de tipo específico. Os concei­
Ao contrário, do ponto de vista de Weber, o cientista social deve tos da teoria substantiva são conhecimentos derivados do e no proces­
focalizar esses valores, embora apenas para mostrar as conseqüências � de realidade., enquanto os conceitos da teoria formal são apenas
práticas que acarretam. O cientista social, como tal, não deveria emitir mstrumentos c�>nvencionais de linguagem, que descrevem procedirnen­
julgamentos de valor, uma vez que valores são subjetivos - ou têm t�s o�erac1onais. A �ergunta: Que é a racionalidade? que requer aten­
,
alicerces demoníacos. çao direta no dom1mo da teoria substantiva, não tem papel a desem­
A posição de Weber não deixa de ser contraditória. Se os valores �nhar n� domínio da teoria formal. Aqui a pergunta é, de preferên­
são simplesmente demoníacos e não têm fundamentos objetivos, c�a: Que� q� e chamaremos de racionalidade? A pergunta seria respon­
então a análise das conseqüências de sua adoção pelos indivíduos não dida, no ultuno caso, por uma afirmação em que uma combinação de
é mais do que um fútil exercício de abstração. Tal análise só teria palavras 1 constitui, essencialmente, a referência para os objetivos da
sentido se fo�e empreendida na esperança de que o indivíduo pudesse análise.
ser persuadido a fazer um julgamento de valor objetivo, racional. 1 Segundo, uma teoria substantiva da vida humana associada é
Essa contradição na posição de Weber reflete-se em sua obra e em sua algo que existe há muito tempo e seus elementos sistemáticos podem
vida. Pretendeu ele ter estudado, s;ne ira ac srudio, a síndrome da ser encontrados nos trabalhos dos pensadores de todos os tempos, pas­
racionalidade formal, mas apesar disso manifestou seu pesar ante a sados e presentes, harmonizados ao significado que o senso comum
culminação de tal síndrome - um mundo de "especialistas sem espí­ atribui à razão, embora nenhum deles tenha jamais empregado a
rito, de sensualistas sem coração" (Weber, 1958, p. 182). expressão razão substantiva. Na verdade, é graças às peculiaridades da
Max Weber viveu num contexto histórico em que a racionalida­ época moderna, através das quais o conceito de razão foi escamoteado
de formal, ou funcional, substituía amplamente a racionalidade subs­ pelos funcionalistas de várias convicções, que temos presentemente
tantiva, como o principal critério para a ordenação dos negócios polí­ que qualificar o conceito como substantivo. Uma descoberta funda­
ticos e sociais. Tomou como certa essa substituição e recusou-se a mental, resultante da herança de ensinamentos dos pensadores clássi­
erigir a ciência social sobre a noção da racionalidade substantiva. Hoje, cos, é a de que é o debate racional, no sentido substantivo, que consti­
porém, é mais difícil do que nos tempos de Hobbes e de Weber pôr de tui a essência da forma política de vida, e também o requisito essencial
lado a viabilidade de uma teoria substantiva da associação humana, para o suporte de qualquer bem regulada vida humana associada, em
porque agora é evidente que o relativismo no tocante a valores condu­ seu conjunto.
ziu a vida associada a um beco sem saída, intelectual e espiritual. Em A propósito, aquilo que o campo da economia e, mais especifi­
conseqüência, a questão dl:l que tratará este capítulo consiste em saber camente, o campo da antropologia econômica referem presentemente
se a razão substantiva deveria ser a categoria essencial para a cogitação como sendo teoria substantiva,3 é apenas subsidiário a esta análise. O
dos assuntos políticos e sociais e, sendo esse o caso, que tipo de teoria atual debate entre economistas que professam de um lado a teoria
iria corresponder a essa ordem de pensamento. Constituirá propósito foanal, de outro a teoria substantiva, diz respeito à natureza do fenô­
dos capítulos subseqüentes a discussão das estruturas sociais emergen­ meno econômico, ao mercado e a suas implicações teóricas. Karl
tes e das implicações de política que daí resultam. Polanyi, fundador da teoria econômica substantiva, assinala que os
Há três qualificações gerais, que realçam as distinções entre a conceitos formais, extraídos da dinâmica específica do mercado, na
teoria substantiva e a teoria formal da vida humana associada. melhor das hipóteses são válidos como instrumentos gerais de análise
Primeiro, uma teoria da vida humana associada é substantiva e formulação dos sistemas sociais apenas numa sociedade capitalista,
quando a razão, no sentido substantivo, é sua principal categoria de durante um período em que o mercado esteja relativamente livre da
análise. Tal teoria é formal quando a razão, no sentido funcional, é sua 2 Sobre o caráter essencialista e nominalista dos conceitos, veja Popper (1971,
p. 32; 1965, p. 13-4).
1 Eric Voegelin e Leo Strauss também frisaram as contradições da noção de
3 Sobre a complexa controvérsia em tomo da teoria econômica substantiva
neutralidade de valor na ciência social, de Weber. Veja obras de Voegelin, E.
(1952, p. 13-22) e Strauss, L. (l 953. p. 35-80). vemis a teoria econõmica formal, veja Kaplan (1968) e Cook (1966).

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regulação política. Os adeptos da teoria econômica formais alegam
que aqueles conceitos formais são universalmente válidos. Polanyi
corretamente afinna que, uma vez que a economia sempre esteve
"engastada na sociedade",4 a sociedade capitalista tem que ser enten­
dida como um caso excepcional e não como um padrão para avaliar a
história social e econômica. O fato de que essa observação serve para
elucidar um tipo de abordagem é, ele próprio, indicador de peculiar
condição histórica. Os teóricos políticos da fase pré-moderna não
precisaram acentuar esse ponto, porque nunca estiveram expostos a
semelhante condição. Contudo, queriam dizer a mesma coisa que
Polanyi, quando estipulavam que a vida gregária do homem precisava
ser politicamente regulada.
A terceira e última qualificação é a de que a teoria substantiva,
tal como aqui concebida, envolve uma superordenação ética da teoria
política, �bre qualquer eventual disciplina que focalize questões da
vida humana associada.
A fim de esclarecer analiticamente a distinção entre as duas
teorias, é necessária uma explicaç:ro das assertivas apresentadas no
quadro 1. A discussão delas encerra o item restante deste capítulo.

...; a >
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