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Aula 11

Direito Civil p/ OAB 1ª Fase XXXII Exame


- Com videoaulas

Autor:
Paulo H M Sousa
Aula 11

14 de Abril de 2020
Paulo H M Sousa
Aula 11

Sumário

CONSIDERAÇÕES INICIAIS .................................................................................................................................................... 3

DIREITO DAS SUCESSÕES ...................................................................................................................................................... 4

I. Teoria Geral ...................................................................................................................................................................... 4

1. Abertura da sucessão................................................................................................................................................. 4

2. Herança ......................................................................................................................................................................... 5

2.1. Disposições gerais ................................................................................................................................................... 5

2.2. Administração ........................................................................................................................................................... 8

2.3. Aceitação e renúncia ............................................................................................................................................10

3. Legitimidade sucessória ...........................................................................................................................................14

4. Jacência e vacância .................................................................................................................................................16

5. Exclusão da sucessão................................................................................................................................................18

5.1. Indignidade.............................................................................................................................................................18

5.2. Deserdação ............................................................................................................................................................19

6. Petição de herança...................................................................................................................................................23

7. Sucessão legal ...........................................................................................................................................................23

7.1. Ordem da vocação hereditária .........................................................................................................................23

7.2. Sucessão do companheiro e do cônjuge...........................................................................................................25

7.3. Sucessão dos descendentes .................................................................................................................................35

7.4. Sucessão dos ascendentes ...................................................................................................................................40

7.5. Sucessão dos colaterais........................................................................................................................................41

8. Sucessão testamentária ...........................................................................................................................................43

8.1. Noções gerais.........................................................................................................................................................43

8.2. Formas ......................................................................................................................................................................46

8.3. Legado .....................................................................................................................................................................52

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8.4. Disposições ..............................................................................................................................................................54

8.5. Substituições ............................................................................................................................................................57

8.6. Reduções..................................................................................................................................................................59

8.7. Revogação ..............................................................................................................................................................60

8.8. Rompimento ............................................................................................................................................................61

9. Inventário ....................................................................................................................................................................63

9.1. Disposições gerais .................................................................................................................................................63

9.2. Dispensas legais .....................................................................................................................................................63

9.3. Arrolamento ............................................................................................................................................................64

9.4. Inventário extrajudicial ........................................................................................................................................65

9.5. Inventário judicial ..................................................................................................................................................65

9.6. Colações ..................................................................................................................................................................71

9.7. Partilha ....................................................................................................................................................................72

RESUMO DE FINAL DE AULA ................................................................................................................................................76

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Na aula passada, terminei o Direito de Família. Hoje inicio a parte de sucessões, com as regras gerais, a
sucessão legal, a sucessão testamentária e o processo sucessório. O Direito das Sucessões exige um
conhecimento profundo do restante do Direito Civil. Isso porque ele é o mais complexo dos ramos, pois
congloba o conhecimento de todos os outros.

Apenas para ficar num exemplo simples: uma pessoa, que vive em união estável com alguém, após se separar
de fato de outra pessoa, com a qual era casada em regime de comunhão parcial de bens, vem a falecer
enquanto pagava um imóvel financiado, cuja entrada foi dada parte em dinheiro, parte com um automóvel.
O imóvel, porém, apresentava uma série de defeitos construtivos e era pleiteado, numa execução, por um
motorista atropelado pelo de cujus. O morto, sócio de uma empresa, deixa um testamento doando esse
imóvel a um terceiro, sob condição de que este preste um determinado terceiro a uma outra pessoa. Ocorre,
porém, que um dos herdeiros havia manejado uma ação de interdição poucos dias antes do falecimento e
do estabelecimento do testamento.

Percebe? Só aqui temos problemas de capacidade, negócio jurídico, obrigações, contratos, responsabilidade
civil, propriedade e família, o que resume quase todas as aulas que tivemos! Ou seja, a chance de você errar
uma questão dessas é grande, se você não tiver uma “base” legal. Mas eu vou mostrar a você, nesta aula,
que dá pra encarar o desafio!

Nas provas de 1ª Fase dos últimos Exames da OAB, tivemos 31 questões sobre o Direito das Sucessões. Ou
seja, aproximadamente uma questão por Exame. Destaco que no último Exame, o XXX, tivemos uma
questão sobre o tema, vista nesta aula.

Por fim, a respeito dos temas desta aula, como eles se ajustam ao cronograma? A parte da aula que versa
sobre a “sucessão legítima” é de “estudo obrigatório”, porque cai com muita frequência na prova. Por sua
vez, a parte da “teoria geral” e a parte da “sucessão testamentária” são de “estudo importante”, porque
apesar de aparecer menos nas provas, são temas frequentes, sendo que a parte da teoria geral é de
fundamental compreensão do Direito das Sucessões. Já a parte do “inventário e partilha” é de “estudo
opcional (suplementar)”, já que simplesmente não aparece na prova:

26. Direito das sucessões: teoria geral

27. Direito das sucessões: sucessão legítima

28. Direito das sucessões: sucessão testamentária

29. Direito das sucessões: inventário e partilha

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DIREITO DAS SUCESSÕES

I. Teoria Geral

1. Abertura da sucessão

Primeiro, é necessário que você lembre que a sucessão pode ser inter vivos ou mortis
causa. Suceder nada mais é do que se transmitir algo a alguém, em termos bem
gerais. Por isso, o adquirente sucede o alienante quando compra uma casa.
Igualmente, o possuidor sucede o possuidor anterior, podendo somar as posses para
fins de usucapião. E mesmo uma sociedade empresarial pode suceder a outra, numa
incorporação empresarial.

O direito das sucessões, porém, se preocupa com a segunda hipótese. Trata-se da sucessão que se inicia
com um evento muito específico, futuro, certo quanto à ocorrência, mas incerto quanto ao momento
(termo certus an incertus): a morte.

Nesse sentido é que se pode falar em herança e herdeiros. A herança nada mais é do que a
massa patrimonial, que compreende direitos e obrigações do defunto e se transmite aos seus
sucessores, numa universalidade de direito; indivisível, portanto.

De acordo com o art. 80, inc. II, a herança é considerada bem imóvel, ainda que todos os bens
componentes do acervo hereditário sejam móveis. De acordo com o art. 1.791, ela é
considerada bem indivisível. Imóvel e indivisível, portanto, é a herança.

A herança é, desse modo, a parte transmissível do patrimônio, dado que determinados elementos do
patrimônio desaparecem com a morte, como, por exemplo, os alimentos que o morto eventualmente
recebia. De outra banda, a qualidade de herdeiro é intransmissível.

O de cujus, como se convenciona chamar o morto, é, assim, o autor da herança, pois transmite direitos e
obrigações aos que a ele sobrevivem. A transmissão da herança é automática, por força do princípio da
saisine, a todos os herdeiros, consoante dispõe o art. 1.784 do CC/2002.

A saisine advém do francês arcaico e tem origem na expressão “Le roi est mort, vive le
roi!”, “o rei está morto, viva o rei”. Acredita-se que a frase tenha sido proclamada pelo
povo em 1498, quando da morte do rei Charles VIII. Nesse momento, a morte do rei
significava, automaticamente, a ascensão ao trono de um novo monarca, pelas regras
hereditárias da Coroa. Quando um rei morria, o outro “nascia”.

Posteriormente, o bordão popular foi se juridicizando e se aplicando não apenas à sucessão real, mas
também às demais. Assim, ela se tornou a expressão mais conhecida “le mort saisit le vif”. Saisir, no francês
antigo, significa mettre en possession, algo como colocar na posse, ou seja, o morto “coloca na posse” o
vivo.

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No Direito Medieval, a expressão tinha significado mais puro, já que a posse dos bens do morto se
transmitia automaticamente aos herdeiros, sem qualquer formalidade jurídica. Como o sistema brasileiro
adotou, no tocante à transmissão dos bens de raiz, o sistema germânico, a beleza da saisine perde um
pouco da força em sua aplicação prática.

A regra foi pensada no seio do Direito Público do Ancien Régime, para a sucessão do soberano, mas foi no
Direito Privado que ele acabou encontrando aplicação mais comum. Curiosamente, no Direito Público, a
saisine nunca mais foi discutida, em seara alguma...

A morte depende de comprovação, que se dá, em regra, com o atestado de óbito, regulado pelos arts. 77
e ss. da Lei 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos – LRP), ou, excepcionalmente, com a presunção de morte
ou a ausência, institutos que já tratamos anteriormente. Somente é possível se falar em algum efeito sobre
a herança, portanto, após a morte do de cujus.

Com a morte, a herança se transmite automaticamente. A abertura da sucessão, pela regra da saisine, se dá
com a morte. Ou seja, “abertura da sucessão” é um sinônimo de morte; morreu, abriu a sucessão. Se
alguém morre em 08/08/2008, a sucessão se abre precisamente nessa data. Não confunda abertura da
sucessão com abertura do inventário, portanto, já que dificilmente os vivos manejam a ação no mesmo dia
no qual a pessoa morre.

Além disso, não deixe dese atentar para a aplicação dessa regra em se tratando de presunção de morte com
prévia decretação de ausência (art. 6º) e presunção de morte sem prévia decretação se ausência (art. 7º).
No caso de ausência, a saisine se aplica apenas quando houver a abertura da sucessão definitiva, momento
no qual se presume a morte do ausente. Já no caso da presunção de morte direta, a saisine se aplica no
momento no qual faz a presunção, judicialmente.

O foro competente para os procedimentos que envolvem a transmissão patrimonial é, então, o do último
domicílio do falecido (art. 1.785) do CC/2002. Se o falecido não tinha domicílio certo, determina o parágrafo
único do art. 48 do CPC/2015 que será o inventário aberto no foro de situação dos bens imóveis (e se
existirem bens em mais de um, em quaisquer deles), ou, inexistentes imóveis, o foro de quaisquer dos bens
do espólio.

Igualmente, sendo sucessão legal ou voluntária, a lei vigente ao tempo de sua abertura (qual
seja, a morte) é a que regulará a sucessão e a legitimação para suceder, segundo o art. 1.787
do CC/2002. Assim, se uma pessoa faleceu em 2001, regerá a sucessão o CC/1916, ainda que o
inventário seja aberto hoje.

2. Herança

2.1. Disposições gerais

A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade (art. 1.786). Ou seja, a herança será dividida
conforme estabelece a lei, excetuando as disposições do falecido em testamento, por exemplo. Aquilo que
fica de fora do testamento, ou se for caduco ou nulo o testamento, é regido pela lei (art. 1.788). Mas, se
morre a pessoa sem testamento, transmite-se a herança aos herdeiros legítimos (art. 1.788).

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Porém, há uma regra no direito brasileiro que estabelece que a herança não pode ser
livremente regulada pelo falecido por ato de vontade, sob o argumento de proteger os
herdeiros necessários. O art. 1.789 estabelece que se houver herdeiros necessários – forçados
ou reservatórios –, o testador só poderá dispor da metade da herança.

Essa metade, que pertence aos herdeiros necessários, constitui a chamada legítima (art.
1.846). Ou seja, se Enzo tiver 100 de patrimônio, pode ele apenas dispor com liberdade de 50, os outros 50
devem ser divididos, obrigatoriamente, conforme estabelece a lei.

(XVII Exame da OAB) Ester, viúva, tinha duas filhas muito ricas, Marina e Carina. Como as filhas não
necessitam de seus bens, Ester deseja beneficiar sua irmã, Ruth, por ocasião de sua morte, destinando-lhe
toda a sua herança, bens que vieram de seus pais, também pais de Ruth. Ester o(a) procura como
advogado(a), indagando se é possível deixar todos os seus bens para sua irmã. Deseja fazê-lo por meio de
testamento público, devidamente lavrado em Cartório de Notas, porque suas filhas estão de acordo com
esse seu desejo. Assinale a opção que indica a orientação correta a ser transmitida a Ester.
A) Em virtude de ter descendentes, Ester não pode dispor de seus bens por testamento.
B) Ester só pode dispor de 1/3 de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo o restante de sua herança às
suas filhas Marina e Carina, dividindo-se igualmente o patrimônio.
C) Ester pode dispor de todo o seu patrimônio em favor de Ruth, já que as filhas estão de acordo.
D) Ester pode dispor de 50% de seu patrimônio em favor de Ruth, cabendo os outros 50% necessariamente
às suas filhas, Marina e Carina, na proporção de 25% para cada uma.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que toda pessoa pode dispor de seus bens por testamento, de maneira
limitada, claro, independentemente de ter descendentes, ascendentes ou colaterais.
A alternativa B está incorreta. Quase correta, exceto pelo limite disponível e o que sobra, a chamada legítima,
que não é de 1/3.
A alternativa C está incorreta, porque mesmo que os demais descendentes não queiram a herança, a legítima
lhes é resguardada. Posteriormente, ao receber a herança, as filhas poderiam renunciar a ela, mas não
antecipadamente.
A alternativa D está correta, pois a legítima abrange 50% do patrimônio e a parte disponível os outros 50%,
pelo que a irmã de Ester receberia essa metade disponível, dividindo-se os outros 50% entre suas filhas.
Gabarito: D

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Veja, ainda, que consoante regra do art. 1.849, o herdeiro necessário que receber do testador
parte disponível da herança, ou algum legado (em síntese, uma coisa determinada do monte),
não perde o direito à legítima. Ou seja, se o pai morre, com patrimônio de 100, e deixa dois
filhos, 50 podem ser deixados livremente a quem ele quiser e os outros 50 pertencem aos filhos,
necessariamente. Assim, cada filho receberá, com certeza, 25. O pai pode deixar os 50 livres
para um dos filhos, que herdará, então, 75, e o outro fica com os 25 restantes.

Mas, como se calcula o valor da herança disponível e o valor indisponível? Isso porque, como é normal, o
patrimônio da pessoa varia ao longo do tempo, ora para mais, ora para menos. Por vezes, as variações
patrimoniais são bastante grandes. Para resolver esse problema, o art. 1.847 coloca que se calcula a legítima
sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral,
adicionando-se, em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.

Essa é a regra do art. 1.792, que coloca que o herdeiro não responde por encargos superiores
às forças da herança. Porém, cuidado, pois se o inventário estiver aberto é fácil. Mas, se não,
incumbe ao herdeiro provar o excesso, demostrando o valor dos bens herdados.

Vale lembrar que mesmo algumas obrigações do falecido se transmitem aos herdeiros, mas
outras não se transmitem, dada a natureza. No caso do contrato de empreitada (art. 626), os
sucessores do empreiteiro continuam com o ônus, já que o contrato é impessoal. Já no mandato (art. 674),
as obrigações do mandatário não se transmitem aos sucessores deste, salvo a obrigação de concluir negócio
já iniciado, havendo risco na demora. A transmissão não ocorre porque a obrigação é intuitu personae
(personalíssima).

Para aplicar essas regras, você deve ter se perguntado: e quem são os herdeiros
necessários? Segundo o art. 1.845, são herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge. Para saber quem são eles, portanto, você tem que se
lembrar do parentesco: avós, bisavós, tataravós, netos, bisnetos, tataranetos e o
cônjuge.

E o companheiro? Pois é, depois o “pai do CC/2002” se dizia “antenado” com as mudanças sociais... O
companheiro foi esquecido, voluntária ou involuntariamente, pelo que a doutrina e a jurisprudência
entendiam, à luz do malfadado “silêncio eloquente”, que ele não poderia ser considerado herdeiro
necessário.

No entanto, com a declaração de inconstitucionalidade do art. 1.790, o companheiro passou a gozar do


mesmo status hereditário que o cônjuge (art. 1.829). A Corte não se manifestou expressamente a respeito
do assunto, mas me parece incontroverso que o companheiro foi elevado à condição de herdeiro
necessário, ou haveria uma contradição sistêmica sem precedentes. Como alguém que goza de
precedência sobre os colaterais não é herdeiro necessário? A resposta jamais pode pressupor negação,
obviamente, creio.

Por outro lado, os colaterais não são herdeiros necessários. São herdeiros, mas apenas facultativos. Lembra
quem são os colaterais? Irmãos, primos, tios, sobrinhos, sobrinhos-netos e tios-avôs. Ou seja, todos aqueles
parentes que eu tenho que ir até um ancestral comum e, depois, novamente descer, para encontrar. Por
exemplo, o irmão ou o primo. Eu tenho que subir até o pai e depois descer até o irmão; tenho que subir até
o avô e descer até o primo.

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Nesses casos, para excluir da sucessão os herdeiros colaterais basta que o testador
disponha de seu patrimônio sem os contemplar, segundo o art. 1.850. Faço um
testamento deixando todos os meus bens a meu cunhado, irmão de minha falecida
esposa; quanto meu irmão herda? Nada.

Deixado o patrimônio aos herdeiros, sejam os necessários, sejam os testamentários,


posso eu limitar o patrimônio de algum jeito? Em regra, não. Porém, se houver justa causa, declarada no
testamento, pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade (não pode transmitir, onerosa ou
gratuitamente), impenhorabilidade (insuscetível de penhora, como nos casos de impenhorabilidade
presentes no CPC/2015) e de incomunicabilidade (não entra na comunhão de bens do sucessor,
independentemente do regime do casamento) sobre os bens da legítima, na forma do art. 1.848.

Se o falecido insere cláusula de inalienabilidade, ela implica impenhorabilidade e


incomunicabilidade, automaticamente (art. 1.911). O inverso, contudo, não se verifica, pois,
se há apenas incomunicabilidade, o bem pode ser penhorado e alienado.

No entanto, mesmo com essas cláusulas, mediante autorização judicial e havendo justa causa,
podem ser alienados os bens gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão
sub-rogados nos ônus dos primeiros (art. 1.848, §2º, e art. 1.911, §2º). Mesmo assim, o testador não pode
estabelecer a conversão dos bens da legítima em outros de espécie diversa (art. 1.848, §1º).

2.2. Administração

Em havendo herança a ser transmitida aos sucessores, como é ela administrada até sua partilha (lembrando
que, como universalidade de direito, a herança é indivisível)?

Como universalidade (art. 1.791), a herança defere-se como um todo unitário, pelo que o
direito dos coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível. Lembra qual
era o termo apropriado para tratar da situação de multipropriedade? Condomínio.

Por isso, a herança, quanto à propriedade e posse, regula-se pelas normas relativas ao
condomínio (parágrafo único). No caso, a situação retrata um condomínio eventual pro indiviso.

Como no condomínio, em que o condômino pode negociar sua quota-parte, o herdeiro pode negociar sua
herança, ainda não finalizado o inventário. Cuidado, porém, pois não pode ser negociada a herança de
pessoa viva (art. 426), em qualquer aspecto (vendido bens, aceitado negócio, renunciado a quinhão etc.).

(XXIII Exame da OAB) Paulo, viúvo, tinha dois filhos: Mário e Roberta. Em 2016, Mário, que estava muito
endividado, cedeu para seu amigo Francisco a quota-parte da herança a que fará jus quando seu pai falecer,
pelo valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), pago à vista. Paulo falece, sem testamento, em 2017,
deixando herança líquida no valor de R$ 3.000.000,00 (três milhões de reais).
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Sobre a partilha da herança de Paulo, assinale a afirmativa correta.


A) Francisco não será contemplado na partilha porque acessão feita por Mário é nula, razão pela qual Mário
e Roberta receberão, cada um, R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais).
B) Francisco receberá, por força da partilha, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), Mário ficará com R$
500.000,00 (quinhentos mil reais) e Roberta com R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais).
C) Francisco e Roberta receberão, cada um, por força da partilha, R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos
mil reais) e Mário nada receberá.
D) Francisco receberá, por força da partilha, R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais), Roberta ficará com R$
2.000.000,00 (dois milhões de reais) e Mário nada receberá.
Comentários
A alternativa A está correta, de acordo com o art. 426: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa
viva”.
As alternativas B, C e D estão incorretas, portanto.
Gabarito: A

No condomínio, podia o condômino transferir sua copropriedade a qualquer um, de qualquer


jeito? Não, lembra da aula de Direto das Coisas? Ela tinha que oferecer primeiro aos
coproprietários! O que vai acontecer aqui na herança? A mesma coisa... Ou seja, aplica-se a
preempção, preferência ou prelação aos coerdeiros. O art. 1.794 estabelece que o coerdeiro
pode ceder a sua quota a pessoa estranha à sucessão, desde que os outros coerdeiros não
queiram.

E se ele não oferecer primeiramente ao coerdeiro? Acontece a mesma coisa que no condomínio: o
coerdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá, depositado o preço, haver para si a quota
cedida a estranho, se o requerer até 180 dias após a transmissão (art. 1.795). Trata-se da adjudicação
compulsória do bem.

Diferentemente do condomínio, porém, se forem vários os coerdeiros a exercer a preferência, entre eles
se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas quotas hereditárias (parágrafo único).

Como a herança é um todo indivisível, é ineficaz a cessão de direito hereditário sobre qualquer
bem da herança considerado singularmente (art. 1.793, §2º). Deve-se sempre requisitar ao juiz
para que determinado bem componente do acervo hereditário seja negociado (§3º), antes de
ultimado o inventário.

Pelo princípio da saisine, a herança se transmite automaticamente aos herdeiros, mas, como ela
é indivisível, quem a administra? O art. 1.797 estabelece que, até o compromisso do
inventariante, a administração da herança caberá, em ordem, sucessivamente (administrador ah hoc
provisório):

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I - ao cônjuge ou companheiro

II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um


nessas condições, ao mais velho

III - ao testamenteiro

IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes,
ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz

Ou seja, em resumo, buscam-se primeiro os herdeiros necessários, com prevalência do


cônjuge/companheiro. Isso porque, como eles são os mais interessados no procedimento (já que vão receber
o dinheiro, ao final), são os mais indicados a administrar, com o cuidado devido, a herança.

Ademais, veja que o rol previsto é aberto, exemplificativo (numerus apertus) e não fechado, taxativo
(numerus clausus), pelo que o magistrado pode nomear outro parente, não apontado. Agora, mesmo
havendo herdeiros, eles recebem, automaticamente, a herança, e nada podem fazer? Ou têm direito a
refutar a herança, por variadas razões?

2.3. Aceitação e renúncia

Abre-se a sucessão e os herdeiros, então, têm duas escolhas: aceitar ou renunciar à herança. Se aceitar,
torna-se definitiva a transmissão da herança ao herdeiro, desde a abertura da sucessão (art. 1.804 do
CC/2002). Se renunciar, a transmissão tem-se por não verificada (parágrafo único). A aceitação é necessária,
como ocorre com a doação, por força do brocardo invito non datur beneficium (a quem não quer, não se dá
benefício).

Tanto a aceitação quanto a renúncia da herança são atos irrevogáveis (art. 1.812). Se o herdeiro
falecer, renunciando à herança, seus descendentes não terão direito à herança do avô, mesmo
que a quisessem à época do falecimento do avô e mesmo tendo protestado com o pai, já que a
renúncia é ato personalíssimo.

Como se faz a aceitação? Será (1) expressa a aceitação quando feita por declaração escrita (art.
1.805). Pode o documento ser público ou particular, não importa.

Será ela (2) tácita quando resultar de atos próprios da qualidade de herdeiro. No entanto, determinados
atos oficiosos (como o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda
provisória, segundo o art. 1.805, §1º) não exprimem aceitação de herança. Igualmente, a cessão gratuita,
pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros (§2º), não exprimem aceitação.

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A renúncia da herança, por sua vez, deve constar expressamente de instrumento


público ou termo judicial, não podendo ser feita por instrumento particular ou
verbalmente (art. 1.806). Como se considera a herança um bem imóvel, por expressa
previsão do art. 80, inc. II do CC/2002, se o herdeiro for casado, precisa ele de autorização
do cônjuge para renunciar, salvo se for casado no regime da separação de bens (art. 1.647,
inc. II).

Há uma situação excepcional em que “não se admite” renúncia, sendo ela ineficaz. Isso ocorrerá quando
a renúncia prejudicar os credores do herdeiro.

Nesse caso, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do renunciante (art. 1.813), desde
que habilitados no prazo de 30 dias ao conhecimento da renúncia (§1º). Pagas as dívidas do renunciante,
prevalece a renúncia quanto ao remanescente, que será devolvido aos demais herdeiros (§2º).

Tanto a aceitação quanto a renúncia devem ser integrais (in totum), não se as aceitando parcialmente
(sucessão fracionada, sob condição ou a termo (sucessão condicional ou a termo), prevê o art. 1.808. Assim,
não posso aceitar apenas o carro quitado do meu falecido pai, deixando de aceitar aquele que está sendo
executado pelo parcelamento em atraso; ou se aceita tudo, em bloco, ou não se aceita nada. Não posso,
igualmente, renunciar a toda a vasta herança de meu falecido pai, exceto um carro antigo de coleção.

Pode-se, porém, aceitar um legado (nem individualizado estabelecido por testamento) e


renunciar à herança ou vice-versa (art. 1.808, §1º). Isso configura uma exceção à regra?
Tecnicamente, não. A aceitação in totum se justifica porque a herança é indivisível, pelo que se
pode aceitar uma parte e não outra de uma “coisa só” (universalidade de direito).

Se o herdeiro morre antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar


passa aos herdeiros, a menos que se trate de vocação adstrita a uma condição suspensiva,
ainda não verificada (art. 1.809). Nesse caso, os herdeiros do herdeiro têm duas heranças
para aceitar ou renunciar, a primeira, do ascendente em primeiro grau, e a segunda, do
ascendente em segundo grau (os netos têm direito à herança do avô falecido e do pai, que
faleceu antes de aceitar). Segundo o parágrafo único, os chamados à sucessão do herdeiro
falecido antes da aceitação, desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou
renunciar à primeira.

Assim, se seu avô morre, o poder de aceitar ou renunciar a herança é de seu pai. Se seu pai morre,
posteriormente, sem indicar se aceita ou renuncia à herança de seu avô, o poder de aceitar ou renunciar
passa a você.

Você pode aceitar a herança de seu pai (a segunda, no tempo) e, com isso, decidir se aceita ou
se renuncia à herança de seu avô (a primeira herança, temporalmente falando). Isso porque
quando você aceita a herança de seu pai, você se torna herdeiro dele e passa a ter o poder de,
representando-o, aceitar ou renunciar a herança de seu avô.

No entanto, o inverso não se verifica. Se você renuncia à herança de seu pai, você não pode
aceitar a herança de seu avô. Por quê? Porque ao renunciar à herança de seu pai, você deixa de ser herdeiro;
se não é herdeiro, não pode deliberar sobre a herança de seu avô, porque dentro do acervo hereditário de
seu pai estava o “poder de aceitar” a herança do avô. Tecnicamente falando, se você não é herdeiro de seu

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pai (porque renunciou) não existe mais direito de representação quanto à herança do avô. É simples, mas a
redação do dispositivo legal é sofrível de tão truncada, e causa confusão.

(XIV Exame da OAB) Segundo o Código Civil de 2002, acerca do direito de representação, instituto do Direito
das Sucessões, assinale a opção correta.
A) É possível que o filho renuncie à herança do pai e, depois, represente-o na sucessão do avô.
B) Na linha transversal, é permitido o direito de representação em favor dos sobrinhos, quando concorrerem
com sobrinhos-netos.
C) Em não havendo filhos para exercer o direito de representação, este será exercido pelos pais do
representado.
D) O direito de representação consiste no chamamento de determinados parentes do de cujus a suceder em
todos os direitos a ele transmitidos, sendo permitido tanto na sucessão legítima quanto na testamentária.
Comentários
A alternativa A está correta, conforme eu mencionei acima. Cuidado, porém, pois o inverso não ocorre, como
também mencionei acima.
A alternativa B está incorreta, pois o direito de representação só se aplica na linha reta, jamais na colateral
ou transversal.
A alternativa C está incorreta, já que o direito de representação, que somente se aplica à linha reta, só vale
para a descendente, não para a linha reta ascendente.
A alternativa D está incorreta. Na realidade, está quase integralmente correta; só no fim, bem no fim, ela
apresenta um equívoco: “quanto na testamentária”... Direito de representação só é aplicável na sucessão
legítima, determinada por lei, nunca na testamentária.
Gabarito: A

Aceitando, transmite-se a herança. Renunciando, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da
mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente (art. 1.810). Aqui, é necessário
compreender o sentido de classes.

Se seu pai morre e você renuncia à herança, vai ela aos seus irmãos. Se você não tem irmãos (herdeiro “único
desta” classe, portanto), passa-se à próxima classe. Qual é a próxima classe? Os ascendentes. Falecido seu
pai, e renunciando você à herança, seus avós herdariam. E se você tem filhos?

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(XVI Exame da OAB) Márcia era viúva e tinha três filhos: Hugo, Aurora e Fiona. Aurora, divorciada, vivia
sozinha e tinha dois filhos, Rui e Júlia. Márcia faleceu e Aurora renunciou à herança da mãe. Sobre a divisão
da herança de Márcia, assinale a afirmativa correta.
A) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo e Fiona, cabendo a cada
um metade da herança.
B) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia deve ser dividida entre Hugo, Fiona, Rui e Júlia, em
partes iguais, cabendo a cada um 1/4 da herança.
C) Diante da renúncia de Aurora, a herança de Márcia será dividida entre Hugo, Fiona, Rui e Júlia, cabendo a
Hugo e Fiona 1/3 da herança, e a Rui e Júlia 1/6 da herança para cada um.
D) Aurora não pode renunciar à herança de sua mãe, uma vez que tal faculdade não é admitida quando se
tem descendentes de primeiro grau.
Comentários
A alternativa A está correta, dado que com a renúncia acresce-se a parte do renunciante à dos demais
herdeiros da mesma classe, no caso, os irmãos Hugo e Fiona.
A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões da alternativa A. Ainda que os filhos de Aurora
recebessem algo, eles receberiam por estirpe e não por cabeça.
A alternativa C está incorreta, novamente, pelas mesmas razões da alternativa A.
A alternativa D está incorreta, pois a faculdade de renunciar a quinhão hereditário é pessoal e independente
de estado civil ou de descendência. A única exceção fica por conta de eventual prejuízo aos credores.
Gabarito: A

Quando há um único herdeiro numa classe e ele renunciar ou se todos os outros da mesma
classe renunciarem à herança, podem os filhos deles vir à sucessão, por direito próprio, e por
cabeça (art. 1.811). Assim, se você é filho único e renuncia à herança, seus dois filhos herdam,
por cabeça, metade cada um.

Se você e todos os seus irmãos renunciam à herança de seu pai, os netos herdarão, mas por
cabeça. Se você tem um filho, seu irmão tem um filho e sua irmã tem três filhos, eles herdam por cabeça.
Assim, divide-se a herança entre os cinco netos, igualmente. Veja que aqui não se fala em direito de
representação, porque não há direito de representação no caso de renúncia.

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(V Exame da OAB) Heitor, solteiro e pai de dois filhos também solteiros (Roberto, com trinta anos de idade,
e Leonardo, com vinte e oito anos de idade), vem a falecer, sem deixar testamento. Roberto, não tendo
interesse em receber a herança deixada pelo pai, a ela renuncia formalmente por meio de instrumento
público. Leonardo, por sua vez, manifesta inequivocamente o seu interesse em receber a herança que lhe
caiba. Sabendo-se que Margarida, mãe de Heitor, ainda é viva e que Roberto possui um filho, João, de dois
anos de idade, assinale a alternativa correta.
(A) Roberto não pode renunciar à herança, pois acarretará prejuízos a seu filho, João, menor de idade.
(B) Roberto pode renunciar à herança, o que ocasionará a transferência de seu quinhão para João, seu filho.
(C) Roberto pode renunciar à herança, e, com isso, o seu quinhão será acrescido à parte da herança a ser
recebida por Leonardo, seu irmão.
(D) Roberto pode renunciar à herança, ocasionando a transferência de seu quinhão para Margarida, sua avó,
desde que ela aceite receber a herança.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que o herdeiro pode renunciar à herança a qualquer tempo e por qualquer
razão, exceto, apenas, no caso de prejuízo a seus credores. Como João, seu filho, não é credor, nada há a
obstar, independentemente de ser ele menor ou maior.
A alternativa B está incorreta, porque, como eu disse, a renúncia faz acrescer à parte dos demais herdeiros
da mesma classe. João, filho de Roberto, está na classe subsequente dos herdeiros, pelo que nada acresce a
ele.
A alternativa C está correta, pois, uma vez renunciada a herança, acresce-se a parte do renunciante ao monte
mor, partilhando-se-a entre os demais herdeiros da mesma classe.
A alternativa D está incorreta, novamente, pelas mesmas razões expostas na alternativa B, já que a renúncia
faz acrescer à parte dos demais herdeiros da mesma classe. Margarida, avó de Roberto, está na classe
subsequente dos herdeiros, pelo que nada acresce a ela.
Gabarito: C

3. Legitimidade sucessória

Superada a questão a respeito da herança, quem pode, legitimamente, suceder outrem? Evidentemente,
algumas “pistas” já apareceram. Há os herdeiros necessários (descendentes, ascendentes, cônjuge e
companheiro) e os herdeiros facultativos (colaterais até o quatro grau).

Mas somente eles são considerados sucessíveis? Não. É possível estabelecer a sucessão a outras pessoas,
que não as contempladas acima. O CC/2002, passa, então, a regular quem pode suceder. São sucessores,
também:

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1. ART. 1.798

• As pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão

Ou seja, o nascituro, à época do falecimento do ascendente, por exemplo, é considerado


herdeiro. Se, decorridos 2 anos após a abertura da sucessão, não for concebido o
herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do testador,
caberão aos herdeiros legítimos (art. 1.800, §4º).

Nesse caso, nascido, segundo o art. 1.800, os bens da herança serão confiados, após a
liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz. De regra, salvo disposição testamentária em contrário,
a curatela caberá à pessoa cujo filho o testador esperava ter por herdeiro (§1º), e, sucessivamente, às
pessoas indicadas no art. 1.775 (em ordem: cônjuge ou companheiro, pai ou mãe, descendente mais próximo
e mais apto). Aplica-se, então, o regramento referente à curatela dos incapazes (art. 1.800, §2º).

Ademais, aplica-se a teoria da personalidade condicionada, segundo o §3º, pois, se for natimorto, nada
herda, por aplicação do art. 2º do CC/2002.

2. ART. 1.799, INC. I


• Os filhos, ainda não- concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas
estas ao abrir-se a sucessão

Essa situação é diferente da anterior, pois mesmo que ainda sequer concebida a pessoa –
prole eventual –, à época do testamento, ela herdará, se seus pais estiverem vivos à época da
abertura da sucessão (morte do testador). Assim, por exemplo, você, com 20 anos de idade,
solteiro e sem filhos, pode fazer um testamento deixando toda a sua parte disponível para o
primeiro filho do seu melhor amigo, de 20 anos de idade, solteiro e sem filhos. Você falece 60
anos depois, aos 80 anos de idade.

O filho de seu amigo herdará, com base nesse testamento? Sim, desde que ele esteja vivo quando você
morrer. Se você morrer e seu amigo não tiver nenhum filho vivo? Essa disposição é ineficaz, como mostrarei
mais à frente. Se seu amigo estiver vivo, e tiver um filho, ele herda.

3. ART. 1.799, INC. II

• As pessoas jurídicas

4. ART. 1.799, INC. III


• As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação

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Essas são pessoas, físicas ou jurídicas, que geralmente não vêm à mente quando pensamos na sucessão. De
outra banda, há pessoas que, apesar de terem capacidade (fática e jurídica) para suceder, são afastadas pelo
CC/2002 da sucessão por situação circunstancial. Trata-se de ilegitimidade sucessória.

Essas pessoas não podem ser nomeadas herdeiras nem legatárias. Se, mesmo com a
proibição, forem nomeadas, são nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas
não legitimadas a suceder (art. 1.802).

Mesmo que simuladas como contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa, elas são
nulas. O parágrafo único ainda presume que os ascendentes, os descendentes, os irmãos e
o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder são pessoas interpostas. São ilegítimos a suceder
(art. 1.801):

I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os


seus ascendentes e irmãos

II - as testemunhas do testamento

III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato
do cônjuge há mais de cinco anos

IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como
o que fizer ou aprovar o testamento

Cuidado com o inc. III, pois o concubino do testador casado é ilegítimo a suceder, mas se o
testador estiver em união estável com ele, ao tempo de sua morte, sucederá, mesmo que a
união tenha se iniciado ainda na constância do casamento. Isso porque a norma não se aplica à
união estável, independentemente do período de separação de fato (Enunciado 269 da III
Jornada de Direito Civil). Fique atento, também, pois é lícita a deixa ao filho do concubino,
quando também o for do testador (art. 1.803).

4. Jacência e vacância

O que acontece se a pessoa morre sem deixar testamento e sem deixar herdeiros legítimos ou notórios
(art. 1.819)? Ou se, tendo herdeiros, eles renunciam à herança (art. 1.823 do CC/2002)? Essa é a chamada
herança jacente, a herança “sem dono”.

Assim, visualiza-se a jacência hereditária nas seguintes hipóteses:

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1. SUCESSÃO SEM TESTAMENTO

• Se não possui herdeiros sucessíveis notoriamente conhecidos (cônjuge, companheiro,


descendente, ascendente nem colateral até o quarto grau)
• Se possui herdeiros necessários, mas eles renunciam à herança e o falecido não possui
outros parentes sucessíveis (colaterais até o quarto grau)

2. SUCESSÃO COM TESTAMENTO

• Se o falecido não tiver herdeiros necessários (cônjuge, descendente e ascendente) ou


companheiro
• Se o herdeiro nomeado não existir ou não aceitar a herança, inexistindo herdeiros
sucessíveis notoriamente conhecidos
• Se o herdeiro nomeado é nascituro já concebido, mantendo-se a jacência até o
nascimento com vida
• Se o herdeiro é pessoa jurídica ainda não constituída, mantendo-se a jacência até sua
regular constituição
• Se o herdeiro o é sob condição suspensiva, mantendo-se a jacência até que a suspensão
cesse

3. SUCESSÃO INDEPENDENTE DE TESTAMENTO (COM OU SEM)

• Se ausente, nenhum herdeiro comparecer à sucessão provisória, depois de 30 dias do


trânsito em julgado da sentença de sua abertura
• Se pendente ação de estado que atribui a alguém o status de herdeiro (investigação de
paternidade, p.ex.), até o trânsito em julgado favorável

Preste atenção, já que pela literalidade do art. 1.845 o companheiro não é classificado como
herdeiro necessário.

Ou seja, companheiro é herdeiro sucessível, mas não herdeiro necessário! O companheiro não
“concorre” com o Estado, até porque a vacância não lega ao Estado a condição de herdeiro,
mas apenas de depositário de bens vagos cuja jacência se estabelecera previamente.

O curador administrará os bens (art. 739, §1º, incisos, do CPC/2015), arrolando-os em autos de arrolamento
(art. 740, caput), juntamente com o juiz, ou, na falta dele, a autoridade policial (§1º). Questionam-se as
pessoas próximas do morto sobre eventuais sucessores (§3º) e, se aparecer alguém, suspende-se a
arrecadação (art. 740, §6º), convertendo-se a arrecadação em inventário, depois de provada sua condição
(art. 741, §3º).

Para buscar eventuais herdeiros, mesmo depois da arrecadação e da finalização do inventário, são expedidos
editais (art. 741, caput) e, decorrido um ano de sua primeira publicação, sem que haja herdeiro habilitado,
será a herança declarada vacante (art. 1.820 do CC/2002 e art. 743 do CPC), ou seja, “vazia”.

Vagos os bens, são eles arrecadados pelo Município ou pelo Distrito Federal. Se situados em Território
federal, pertencem à União, situação essa irrelevante atualmente. Os Estados, apesar de arrecadarem o
ITCMD, não recebem bens vacantes. Em qualquer caso, o Estado lato sensu é sucessor irregular.
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Assim, herança vacante não se confunde com herança jacente. Jacente é a “herança sem dono”; vacante
é a herança jacente cuja sucessão hereditária não foi possível, e os bens, vagos, vão ao domínio do Estado.
A herança vacante tem de ter sido, em regra, anteriormente jacente, mas a herança jacente pode não se
transformar em vacante.

5. Exclusão da sucessão

A deserdação e a indignidade são situações extraordinárias no Direito brasileiro, bastante limitadas, por força
da noção de necessariedade de herdeiros e de proteção da legítima, como visto anteriormente. Quando,
então, pode alguém ser deserdado ou ser declarado indigno?

Lembre-se daquilo que eu disse no início da aula. Suceder significa “transmitir algo a alguém”. Por isso, a
exclusão da herança significa excluir esse alguém da transferência que ocorreria com a morte. Quando isso
ocorrerá?

Temos duas formas de excluir um sucessor da transmissão mortis causa. De um lado,


há a exclusão da herança por declaração de indignidade de herdeiros e legatários,
que sempre depende de decisão judicial. De outro, existe a deserdação, aplicável
somente aos herdeiros necessários, a partir do testamento.

5.1. Indignidade

Quem pode receber algo pela morte de outrem? Duas categorias de pessoas, os herdeiros (que
sucedem a título universal) e os legatários (que sucedem a título singular.) Por isso, podem ser
excluídos da sucessão tanto os herdeiros quanto os legatários.

Haverá a exclusão, por indignidade, do herdeiro ou legatário nos casos previstos em lei. A
indignidade, porém, dependerá sempre de decisão judicial declaratória. Quanto isso ocorrerá?
Nas hipóteses do art. 1.814, serão excluídos por indignidade os herdeiros ou legatários que:

I - houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa, contra a


pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente

II - houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime


contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro

III - por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor
livremente de seus bens por ato de última vontade

Segundo o §1º do art. 1.815, o direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em 4
anos. Esse prazo é contado da abertura da sucessão (da morte).

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De qualquer, os efeitos da exclusão são pessoais (art. 1.816), preservando os direitos dos
herdeiros do herdeiro excluído. Assim, os descendentes do herdeiro excluído sucedem,
como se ele morto fosse antes da abertura da sucessão.

Ou seja, o filho tentou matar o pai, que sobrevive, mas dias depois morre num acidente de
carro. Ele é excluído pelos irmãos da sucessão, reconhecida a exclusão por decisão judicial.
A parte dele passa aos filhos, netos do falecido, como se o próprio pai deles estivesse morto. Cria-se uma
ficção jurídica para preservar a legítima aos herdeiros necessários, que são inocentes em relação à exclusão
do pai.

O excluído da sucessão ainda sofre outra punição. Ele não terá direito ao usufruto ou à
administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual
desses bens, segundo regra do parágrafo único. Ou seja, se os netos do falecido são menores,
não poderá o pai ser o curador, como normalmente ocorre, nem poderá perceber aluguéis do
imóvel do falecido ou receber tais valores, caso os netos do falecido morram durante o
inventário.

Excepcionalmente, o excluído ou que se pretende excluir da sucessão pode suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico (art. 1.818). Nesse caso, ele adquire
plenamente a capacidade sucessória, sem qualquer outro efeito. Se não houver reabilitação expressa do
indigno, mas o testador, ao testar, já conhecia a causa da indignidade e mesmo assim o contempla no
testamento, o indigno pode suceder no limite da disposição testamentária (parágrafo único).

Assim, na primeira hipótese, o autor da herança perdoa expressamente o indigno, pelo que ele herda em
plenas condições. Na segunda hipótese, o autor da herança não perdoa o indigno expressamente, mas
mesmo sabendo da indignidade (o pai foi testemunha no caso de agressão do filho, indigno, contra a mãe,
mulher do testador) ainda contempla o indigno no testamento. Nesse caso específico, poderá o indigno
receber o quinhão previsto no testamento, mas nada mais.

5.2. Deserdação

Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os


casos em que podem ser excluídos da sucessão, segundo dispõe o art. 1.961. Já mostrei a você
as situações de exclusão da herança por indignidade. Mas, só nessas situações eu aplico a
deserdação? Não. Quando mais?

Primeiro, você tem que lembrar que o direito à sucessão vale entre ascendente e descendente
(o que é mais comum, ou seja, o ascendente falece antes do descendente) e entre descendente e ascendente
(o menos comum, o ascendente sobrevive ao descendente). A deserdação e a declaração de indignidade
podem ser feitas do ascendente em relação ao descendente, ou seja, o pai deserdando o filho, o avô
deserdando o neto; ou podem ser feitas de descendente em relação a ascendentes, ou seja, o filho
deserdando o pai, o neto deserdando o avô.

Autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

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1. Art. 1.962, inc. I: ofensa física 2. Art. 1.962, inc. II: injúria grave

3. Art. 1.962, inc. III: relações ilícitas com a 4. Art. 1.962, inc. IV: desamparo do ascendente
madrasta ou com o padrasto em alienação mental ou grave enfermidade

5. Art. 1.814, inc. I: homicídio doloso, consumado


6. Art. 1.814, inc. II: acusação caluniosa em juízo
ou tentado, contra o ascendente, seu
contra o falecido ou se cometer crime contra a
cônjuge/companheiro, ascendente ou
honra do morto ou de seu cônjuge/companheiro
descendente

7. Art. 1.814, inc. III: impedimento ao autor da


herança de dispor livremente de seus bens por
testamento, mediante violência ou meios
fraudulentos

Por outro lado, autorizam a deserdação dos ascendentes pelos descendentes:

1. Art. 1.963, inc. I: ofensa física 2. Art. 1.963, inc. II: injúria grave

3. Art. 1.963, inc. III: relações ilícitas com a 4. Art. 1.963, inc. IV: desamparo do filho/neto
cônjuge/companheiro(a) do filho/neto com deficiência mental ou grave enfermidade

5. Art. 1.814, inc. I: homicídio doloso,


6. Art. 1.814, inc. II: acusação caluniosa em juízo
consumado ou tentado, contra o descendente,
contra o falecido ou se cometer crime contra a
seu cônjuge/companheiro, ascendente ou
honra do morto ou de seu cônjuge/companheiro
descendente

7. Art. 1.814, inc. III: impedimento ao autor da


herança de dispor livremente de seus bens por
testamento, mediante violência ou meios
fraudulentos

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A deserdação pode ocorrer previamente ou posteriormente à morte, diferentemente da indignidade pura


e simples, que só ocorre por sentença. Previamente, poderá a deserdação ser feita por testamento; nesse
caso, o art. 1.964 estabelece que somente com expressa declaração de causa pode a deserdação ser
ordenada em testamento.

Posteriormente, não resta alternativa que não a ação declaratória de indignidade, movida pelo herdeiro a
quem aproveita a deserdação. A deserdação posterior, portanto, depende de decisão judicial.

Num ou noutro causo, incumbe ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, provar
a veracidade da causa alegada pelo testador (art. 1.965). O direito de provar a causa da deserdação
extingue-se no prazo decadencial de 4 anos, a contar da data da abertura do testamento (parágrafo único).

(XXX Exame da OAB) Juliana, Lorena e Júlia são filhas de Hermes, casado com Dóris. Recentemente, em razão
de uma doença degenerativa, Hermes tornou-se paraplégico e começou a exigir cuidados maiores para a
manutenção de sua saúde. Nesse cenário, Dóris e as filhas Juliana e Júlia se revezavam a fim de suprir as
necessidades de Hermes, causadas pela enfermidade. Quanto a Lorena, esta deixou de visitar o pai após este
perder o movimento das pernas, recusando-se a colaborar com a família, inclusive financeiramente. Diante
desse contexto, Hermes procura você, como advogado(a), para saber quais medidas ele poderá tomar para
que, após sua morte, seu patrimônio não seja transmitido a Lorena. Sobre o caso apresentado, assinale a
afirmativa correta.
A) A pretensão de Hermes não poderá ser concretizada segundo o Direito brasileiro, visto que o descendente,
herdeiro necessário, não poderá ser privado de sua legítima pelo ascendente, em nenhuma hipótese.
B) Não é necessário que Hermes realize qualquer disposição ainda em vida, pois o abandono pelos
descendentes é causa legal de exclusão da sucessão do ascendente, por indignidade.
C) Existe a possibilidade de deserdar o herdeiro necessário por meio de testamento, mas apenas em razão
de ofensa física, injúria grave e relações ilícitas com madrasta ou padrasto atribuídas ao descendente.
D) É possível que Hermes disponha sobre deserdação de Lorena em testamento, indicando, expressamente,
o seu desamparo em momento de grave enfermidade como causa que justifica esse ato.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois os herdeiros necessários podem ser privados da herança, tanto por
indignidade, quanto por deserdação, conforme o art 1.962.
A alternativa B está incorreta, pois Hermes deverá realizar disposição acerca da deserdação, de acordo com
o art. 1.961: “Os herdeiros necessários podem ser privados de sua legítima, ou deserdados, em todos os
casos em que podem ser excluídos da sucessão”.
A alternativa C está incorreta, visto que há outras hipóteses em que o herdeiro será privado da herança.

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A alternativa D está correta, já que, Hermes poderá deserdar sua filha, Lorena, de acordo com o que dispõe
o art. 1.962, inc. IV: “Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes
por seus ascendentes: IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade”.
Gabarito: D

(VII Exame da OAB) Edgar, solteiro, maior e capaz, faleceu deixando bens, mas sem deixar testamento e
contando com dois filhos maiores, capazes e também solteiros, Lúcio e Arthur. Lúcio foi regularmente
excluído da sucessão de Edgar, por tê‐lo acusado caluniosamente em juízo, conforme apurado na esfera
criminal. Sabendo‐se que Lúcio possui um filho menor, chamado Miguel, assinale a alternativa correta.
A) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu irmão, Arthur, tendo em vista
que Lúcio é considerado como se morto fosse antes da abertura da sucessão.
B) O quinhão de Lúcio será herdado por Miguel, seu filho, por representação, tendo em vista que Lúcio é
considerado como se morto fosse antes da abertura da sucessão.
C) O quinhão de Lúcio será acrescido à parte da herança a ser recebida por seu irmão, Arthur, tendo em vista
que a exclusão do herdeiro produz os mesmos efeitos da renúncia à herança.
D) O quinhão de Lúcio se equipara, para todos os efeitos legais, à herança jacente, ficando sob a guarda e
administração de um curador, até a sua entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua
vacância.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque, apesar da premissa estar correta (de fato, Lúcio é considerado como
se morto fosse antes da abertura da sucessão), a conclusão está equivocada, já que o herdeiro do indigno o
representa, dado que os efeitos da deserdação são pessoais, não podendo eles gerar efeitos a terceiros,
notadamente os herdeiros do herdeiro excluído.
A alternativa B está correta, pois, ao contrário da alternativa A, a premissa está correta (de fato, Lúcio é
considerado como se morto fosse antes da abertura da sucessão) e a conclusão também, herdando Miguel
pelo pai, como se este morto fosse.
A alternativa C está incorreta, já que a deserdação a renúncia nada tem a ver, seja nas causas, seja nos
efeitos.
A alternativa D está incorreta, dado que a herança jacente só se verifica nas situações nas quais não há
herdeiros, nem mesmo colaterais, o que não é o caso do exercício.
Gabarito: B

A reabilitação do indigno, no caso de deserdação, também é possível. Pode-se “re-herdar” o deserdado de


maneira expressa (reabilitação expressa, por testamento posterior ao de deserdação ou por escritura
pública) ou de maneira tática (reabilitação tácita, quando o indigno é contemplado em testamento posterior,
conhecida a causa de indignidade).

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6. Petição de herança

Aquele que se julgar preterido pode demandar o reconhecimento de seu direito sucessório,
para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro,
ou mesmo sem título, a possua (art. 1.824). Trata-se de ação de natureza real, dado que a
herança é considerada bem imóvel por força de lei (art. 80, inc. II).

De acordo com o art. 1.825, a ação de petição de herança, ainda que exercida por um só dos
herdeiros, poderá compreender todos os bens hereditários. Explica-se o dispositivo porque a herança é
uma universalidade de direito, ou seja, um bem indivisível (art. 1.791), pelo que não poderia haver demanda
sobre parte dela apenas.

O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do acervo que recebeu,
estabelece o art. 1.826.

7. Sucessão legal

Passadas as regras gerais da sucessão, necessário analisar a sucessão estabelecida por lei, quando o falecido
não deixara testamento. Trata-se da chamada sucessão ab intestatio, na qual se presume a vontade do de
cujus.

Você viu que segundo o art. 1.845, são herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.
Quanto ao companheiro, deve ser considerado também herdeiro necessário por força da decisão de
inconstitucionalidade do art. 1.790. Por outro lado, os colaterais não são herdeiros necessários, mas apenas
facultativos, segundo o art. 1.850. Mas, como funciona a sucessão predeterminada pela lei?

7.1. Ordem da vocação hereditária

Inicialmente, o Código Civil estabelece, no art. 1.829, a ordem da sucessão legítima, que se aplica no caso
de morte sem testamento, quando o testamento é anulado ou em outras situações peculiares. Eu vou,
didaticamente, dividir a ordem da vocação hereditária em três momentos.

Eis a ordem:

I - aos descendentes

II - aos ascendentes

III - ao cônjuge sobrevivente

IV - aos colaterais

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A ordem do art. 1.829 é excludente em relação às demais classes. Assim, se houver


descendentes, todos os ascendentes são excluídos. Não havendo descendentes, chamam-se
os ascendentes, excluindo-se os colaterais. Não havendo descendentes nem ascendentes,
chama-se o cônjuge ou companheiro, isoladamente, excluindo-se os colaterais. Apenas se
não houver descendentes, ascendentes, cônjuge ou companheiro é que os colaterais são
chamados.

(IX Exame da OAB) José, viúvo, é pai de Mauro e Mário, possuindo um patrimônio de R$ 300.000,00. Casou-
se com Roberta, que tinha um patrimônio de R$ 200.000,00, pelo regime da comunhão universal de bens.
José e Roberta tiveram dois filhos, Bruno e Breno. Falecendo Roberta, a divisão do monte seria a seguinte:
A) José recebe R$ 250.000,00 e Mauro, Mário, Bruno e Breno recebem cada um R$ 62.500,00.
B) O monte, no valor total de R$ 500.000,00, deve ser dividido em cinco partes, ou seja, José, Mauro, Mário,
Breno e Bruno recebem, cada um, R$ 100.000,00.
C) José recebe R$ 250.000,00 e Bruno e Breno recebem, cada um, a importância de R$ 125.000,00.
D) A herança deve ser dividida em três partes, cabendo a José, Bruno e Breno 1/3 do monte, ou seja, R$
166.666,66 para cada um.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que Mauro e Mário não são descendentes de Roberta, mas apenas de José,
pelo que apenas os filhos bilaterais de Roberta e José herdariam, não os filhos unilaterais de José.
A alternativa B está incorreta, novamente, pelas mesmas razões da alternativa A, dado que os filhos
unilaterais de José nada herdam em relação ao patrimônio de Roberta.
A alternativa C está correta, porque José fica com a meação do patrimônio do casal, que era de 500mil (300
mil dele e 200mil de Roberta, em vista do regime de comunhão universal de bens). Feita a meação, a parte
que sobra é divisível causa mortis. Como o art. 1.829, inc. I exclui o cônjuge do direito hereditário em caso
de casamento sob o regime de comunhão universal de bens, em havendo descendentes, José nada herda.
Assim, herdam os herdeiros de Roberta, Bruno e Breno, que “racham” a herança em dois.
A alternativa D está incorreta. Essa, talvez, seja uma das alternativas mais estanhas que eu já vi nas questões
de 1ª Fase da OAB! Divide em três a troco de quê?
Gabarito: C

No segundo momento é necessário compreender como ocorre a concorrência do cônjuge ou companheiro


com os ascendentes e os descendentes. Assim, ainda de maneira rudimentar, posso refazer o quadro acima,
dessa forma:

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I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge, a depender do regime de bens


adotado

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge

III - ao cônjuge sobrevivente

IV - aos colaterais

7.2. Sucessão do companheiro e do cônjuge

A. Em concorrência com os descendentes

Havia grande discussão em relação às diferenças na sucessão do cônjuge (casado) e do companheiro (união
estável). O STF, no entanto, colocou pá de cal nessas discussões, de maneira acertada, ao declarar
inconstitucional o art. 1.790 do CC/2002, no RE 878.694 e no RE 646.721, julgados em conjunto.

Certo é que o artigo defenestrado trazia regras matematicamente impossíveis de ser levadas a efeito na
prática, entre inúmeros problemas. O inc. II, por exemplo, tornava o cálculo dos valores sucessíveis de
impossível resolução. A conta simplesmente não fechava.

Igualmente, o inc. III trazia a absurda regra de que o companheiro herda 1/3 da herança se concorrer com
outros parentes sucessíveis. Ocorria, assim, de um tio-avô distante (parente consanguíneo colateral
ascendente em quarto grau) herdar 2/3 do patrimônio do falecido ao passo que o cônjuge, que passara
décadas com aquele que morreu, herdava apenas 1/3.

A distorção, absurda, não tinha razão de ser. Felizmente, o STF fixou, no RE 878.694e no RE 646.721, a
seguinte tese, que acaba com a distinção:

É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros


prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento
quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002

Assim, a partir desse julgado, as regras de sucessão para cônjuges e companheiros tornaram-
se idênticas, a despeito de o artigo non grato continuar estampado no CC/2002.

Vale lembrar que as regras sucessórias, tanto do cônjuge, quanto do companheiro, dependem
do regime de bens do casamento e da união estável, respectivamente. De novo, não se esqueça
de que a meação nada tem a ver com a herança. O cônjuge ou o companheiro sobrevivente têm
direito à meação na forma das regras de Direito de Família.

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Primeiro, somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge ou companheiro


sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam eles separados de fato há
mais de dois anos. A exceção fica por conta da prova de que essa convivência se tornara
impossível sem culpa do sobrevivente (art. 1.830).

Superado o ponto, vou iniciar a sucessão do convivente. A partir daqui, usarei o termo
“convivente”, em substituição à expressão “cônjuge ou companheiro”, para facilitar. Uso os termos
cônjuge ou companheiro apenas quando for necessário.

Além disso, também passarei a usar o termo “união”, em substituição à expressão “casamento ou união
estável”, para facilitar. Uso os termos casamento ou união estável apenas quanto for necessário. Leia o
dispositivo que rege a sucessão do convivente em concorrência com os descendentes:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este


com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens
(art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança
não houver deixado bens particulares.

CÔNJUGE OU COMPANHEIRO HERDA EM CÔNJUGE OU COMPANHEIRO NÃO HERDA


CONCORRÊNCIA NO REGIME DA EM CONCORRÊNCIA NO REGIME DA

Comunhão parcial de bens, Comunhão parcial de bens, NÃO


havendo SIM bens particulares do havendo bens particulares do
falecido falecido

Separação convencional de bens Separação obrigatória de bens

Participação final nos aquestos Comunhão universal de bens

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Para facilitar, vou estabelecer de maneira didática o quadro abaixo que detalha as situações
nas quais o convivente é ou não meeiro e quando ele é ou não herdeiro, em concorrência
com os descendentes (ignoro, novamente a Súmula 377 do STF):

REGIME DE BENS É MEEIRO? É HERDEIRO?


Comunhão universal de bens SIM NÃO
Comunhão parcial de bens, havendo SIM bens particulares do
SIM SIM
falecido
Comunhão parcial de bens, NÃO havendo bens particulares do
SIM NÃO
falecido
Separação obrigatória de bens NÃO NÃO
Separação voluntária de bens NÃO SIM
Participação final nos aquestos SIM SIM

Imagine que os conviventes tenham adquirido onerosamente todos os bens que possuem durante a
constância da união, juntando um patrimônio de 200. Nesse caso, o sobrevivente tem a meação de 100 e o
patrimônio que entrará na herança é de 100, referente à meação do morto.

É esse valor que se discute na herança. Como o convivente não é herdeiro, na concorrência com os
descendentes, ele fica apenas com 100, pelo que os outros 100 são partilhados entre os filhos. Por que
funciona assim?

Se há comunhão universal de bens, comunicam-se todos os bens e o sobrevivente tem direito à meação de
todos os bens (salvo as exceções legais), independentemente de serem bens adquiridos antes da união (bens
particulares) ou depois (bens comuns). Isso porque, nesse regime, não há distinção entre patrimônio
particular e patrimônio comum; há apenas um patrimônio. Por isso, o sobrevivente nada herda, já que não
há como herdar um bem que é seu mesmo, apenas tem direito à meação.

(XXVIII Exame) Flora e Carlos pretendem contrair matrimônio. Flora tem 65 anos e, Carlos, 66. Por se tratar
de segundas núpcias do futuro casal e já terem filhos oriundos de relacionamentos anteriores, eles não
pretendem se tornar herdeiros um do outro e tampouco comunicar seus patrimônios. Diante do
desconhecimento dos efeitos sucessórios do casamento, Flora e Carlos buscam aconselhamento jurídico
sobre a possibilidade de sua pretensão. Assinale a opção que indica a resposta correta dada pelo(a)
advogado(a) consultado(a).
A) Em razão da idade de Carlos, o regime de bens será o da separação obrigatória, o qual afasta a
possibilidade do futuro casal ser herdeiro um do outro.
B) O futuro casal deverá optar pelo regime da separação convencional de bens, que permitirá a exclusão da
qualidade de herdeiro de Flora e Carlos.
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C) O cônjuge, no ordenamento jurídico brasileiro, sempre será herdeiro necessário, independentemente do


regime de bens.
D) O ordenamento brasileiro não oferece alternativa para a pretensão do futuro casal.
Comentários
A questão foi anulada pela FGV, tendo em vista que existem duas alternativas corretas, conforme eu havia
previsto.
A alternativa A está incorreta, uma vez que a separação obrigatória ocorre quando um dos cônjuges conta
com mais de 70 anos, conforme art. 1.641, inc. II.
A alternativa B está incorreta, já que o art. 1.829, inc. I, determina que a exclusão da qualidade de herdeiro
ocorre na separação obrigatória de bens, não na separação convencional de bens.
A alternativa C está correta, mas havia sido apontada como incorreta pela FGV.
A distinção entre o que é um herdeiro necessário e o que é um herdeiro facultativo reside no fato de que os
primeiros não podem ser afastados da sucessão por força de testamento, ao passo que os segundos podem.
Não se pode afastar o cônjuge da sucessão, por força de testamento. O fato de um herdeiro necessário não
herdar não o torna um herdeiro facultativo. Apesar de o cônjuge não herdar em determinadas situações,
como estabelece o art. 1.829, inc. I, isso não muda o fato de ele continuar a ser herdeiro necessário. Até
porque, no caso do inc. II, em concorrência com o ascendente, é irrelevante o regime de bens. E mais; no
caso do inc. III, ele se torna herdeiro universal, ainda que seja casado no regime da separação obrigatória de
bens.
Por isso, pela sistemática dos arts. 1.845 e 1.829, incisos, é possível afirmar sem pestanejar que o “cônjuge,
no ordenamento jurídico brasileiro, sempre será herdeiro necessário, independentemente do regime de
bens”.
A alternativa D está correta, pois o art. 1.829, inc. I, somente exclui o cônjuge da sucessão em caso de
separação obrigatória de bens, não na convencional: “A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: aos
descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime
da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no
regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares”.
Gabarito: C e D

(XXII Exame da OAB) Clara e Sérgio são casados pelo regime da comunhão parcial de bens. Durante o
casamento, o casal adquiriu onerosamente um apartamento e Sérgio herdou um sítio de seu pai. Sérgio
morre deixando, além de Clara, Joaquim, filho do casal.
Sobre os direitos de Clara, segundo os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
A) Clara é herdeira do apartamento, em concorrência com Joaquim.
B) Clara é meeira no apartamento e herdeira do sítio, em concorrência com Joaquim.
C) Clara é herdeira do apartamento e do sítio, em concorrência com Joaquim.
D) Clara é meeira no sítio e herdeira do apartamento, em concorrência com Joaquim.
Comentários

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Primeiro, vejamos se Clara é meeira e de quais bens. Segundo o art. 1.660, inc. I: “Entram na comunhão os
bens adquiridos na constância do casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges”;
por outro lado, diz o art. 1.659, inc. I: “Excluem-se da comunhão os bens que cada cônjuge possuir ao casar,
e os que lhe sobrevierem, na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados em seu
lugar”. Ou seja, Clara é meeira do apartamento, já que adquirido onerosamente durante a constância do
casamento, mas não é meeira do sítio, pois recebido via sucessão.
Segundo necessário ver onde Clara se encaixa na ordem da vocação hereditária. Conforme o art. 1.829, inc.
I: “ A sucessão legítima defere-se aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens
particulares”. Artigo de leitura complicada, não?
Pois é, tão complicada que surgiram quatro correntes para tentar explicá-lo, sendo que duas dessas correntes
acabaram debatendo mais intensamente no STJ, que, ao final, anda se filiando à corrente também
representada pelo Enunciado 270 da III Jornada de Direito Civil do CJF: “O art. 1.829, inc. I, só assegura ao
cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados
no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou
participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência se
restringe a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os
descendentes”.
Esse é o último julgado do STJ a respeito: “RECURSO ESPECIAL. CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE
SOBREVIVENTE. REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS. HERDEIRO NECESSÁRIO. EXISTÊNCIA DE
DESCENDENTES DO CÔNJUGE FALECIDO. CONCORRÊNCIA. ACERVO HEREDITÁRIO. EXISTÊNCIA DE BENS
PARTICULARES DO DE CUJUS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 1.829, I, DO CÓDIGO CIVIL. VIOLAÇÃO AO ART. 535
DO CPC. INEXISTÊNCIA. Nos termos do art. 1.829, I, do Código Civil de 2002, o cônjuge sobrevivente, casado
no regime de comunhão parcial de bens, concorrerá com os descendentes do cônjuge falecido somente
quando este tiver deixado bens particulares. A referida concorrência dar-se-á exclusivamente quanto aos
bens particulares constantes do acervo hereditário do de cujus (REsp 1368123/SP, Rel. Ministro SIDNEI
BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015).
Assim, podemos ver se Clara é herdeira e de quais bens. Sérgio possuía bens particulares, pelo Clara herda.
Qual bem não era objeto da meação? O sítio, pelo que ela herda em concorrência com Joaquim, o filho do
casal. Já o aparamento, bem comum, não atrai a aplicação da regra, pelo que somente Joaquim o herdará,
descontada a meação de Clara.
A alternativa A está incorreta, pois Clara não é herdeira do apartamento, pois bem comum do casal.
A alternativa B está correta, porque Clara é meeira no apartamento e herdeira do sítio, em concorrência com
Joaquim, por aplicação do Enunciado 270 do CJF e da jurisprudência do STJ.
A alternativa C está incorreta, eis que, como dito, Clara é apenas meeira do apartamento.
A alternativa D está incorreta, dado que Clara não é meeira no sítio, apenas herdeira, em concorrência com
Joaquim.
Gabarito: B

Agora, quanto ao regime da separação de bens. Primeiro, necessário distinguir a separação obrigatória de
bens da separação convencional de bens, porque os regimes trazem soluções diversas.

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Segundo a Súmula 377 do STF, no regime de separação LEGAL de bens, os bens adquiridos na constância
da união se comunicam. O entendimento que se firmou é que essa comunicação ocorre apenas se houver
esforço comum. Assim, apesar de o regime ser de separação, há bens que se comunicam.

Dessa forma, no regime da separação obrigatória de bens e no regime da separação


convencional de bens não há meação. No regime da separação obrigatória de bens, além de
não haver meação não há também herança, mas no regime da separação convencional de
bens, apesar de não haver meação, há herança.

Imagine que o convivente falecido tenha adquirido variados bens, juntando um patrimônio de
200. Nesse caso, o sobrevivente não tem a meação alguma, pelo que o patrimônio que entrará na herança é
de 200. Se tiver sido adotado o regime da separação obrigatória de bens, o sobrevivo receberá 0; se tiver
sido adotado o regime da separação convencional de bens, o sobrevivo receberá parcela sucessória sobre os
200, em concorrência com os descendentes.

Agora, quanto ao regime da participação final nos aquestos, o bizarro regime que praticamente não serve
para coisa alguma. Imagine que os conviventes tenham adquirido onerosamente todos os bens que possuem
durante a constância da união, juntando um patrimônio de 200.

Nesse caso, o sobrevivente tem a meação de 100 e o patrimônio que entrará na herança é de 100, referente
à meação do morto. O sobrevivo terá direito hereditário sobre esses 100, em concorrência com os
descendentes.

Por fim, quanto ao regime da comunhão parcial de bens. Vamos supor que os companheiros não tenham
feito pacto algum, como é o mais comum, pelo que vige o regime da comunhão parcial de bens. Vamos supor
que os cônjuges não adotaram regime específico, pelo que vige a comunhão parcial de bens, no silêncio.

Imagine que os conviventes não possuíam bens antes de se unirem e tenham adquirido onerosamente todos
os bens que possuem durante a constância da união, juntando um patrimônio de 200. Nesse caso, o
sobrevivente tem a meação de 100 e o patrimônio que entrará na herança é de 100, referente à meação do
morto. É sobre esse valor que se discute a herança.

O falecido tinha bens particulares? Não. Consequentemente, o cônjuge não tem direito sucessório algum.
Terá direito apenas à sua meação de 100. Os outros 100 serão repartidos entre os descendentes.

Volto ao art. 1.829, inc. I. Se unidos no regime da comunhão parcial, o autor da herança houver deixado bens
particulares, herda. Novamente, parece automático: o falecido tem bens particulares? Tem. Então herda!

Imagine que os conviventes possuíam bens particulares antes de se unirem, cada um deles com 100. Eles
adquiriram onerosamente, durante a constância da união, um patrimônio de 200. Ao final, têm patrimônio
de 400, sendo 200 de bens comuns e 200 de bens particulares de cada um.

Nesse caso, o sobrevivente tem a meação de 100 sobre o patrimônio comum de 200 e tem mais 100 de
patrimônio particular. O falecido, por sua vez, tem a meação de 100 e bens particulares de 100. O patrimônio
que entrará na herança é de 200, referente à soma da meação do morto e de seus bens particulares. É sobre
esse valor que se discute a herança.

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Mais uma vez, é bem lógico, não? Mas herda o quê? Os bens particulares? Os bens
comuns? Tudo? Precisamente aqui que se apresentaram variadas correntes
doutrinárias a apontar soluções diferentes nas diferentes possibilidades.

Cada um diz uma coisa. Eu vou sintetizar cada uma das correntes e mostrar como elas
funcionariam a partir do caso que narrei acima: o falecido deixou 200 de patrimônio
partilhável, 100 de meação dos bens comuns (os outros 100 são da meação do sobrevivente) e mais 100 de
bens particulares. Vamos lá!

PRIMEIRA CORRENTE

• Enunciado 270 da III Jornada de Direito Civil: "O art. 1.829, inc. I, só assegura ao cônjuge
sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança
quando casados no regime da separação convencional de bens ou, se casados nos
regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse
bens particulares, hipóteses em que a concorrência se restringe a tais bens, devendo os
bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes"

Segundo essa corrente, os 100 da meação do falecido seriam destinados exclusivamente aos descendentes.
Já os 100 dos bens particulares seriam divididos, por direito hereditário, entre o cônjuge e os descendentes.

Essa era a corrente majoritária no STJ até a chegada da Quarta Corrente. Ela perdeu espaço,
mas, numa reviravolta, se tornou a corrente majoritária novamente. Atualmente, essa é a
corrente que você deve considerar: “no regime da comunhão parcial de bens, havendo bens
particulares do falecido, o sobrevivo herda, em concorrência com os descendentes, uma
parcela desses bens, mas não herda dos bens comuns, partilhados exclusivamente entre os
descendentes”.

SEGUNDA CORRENTE

• Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os
herdeiros. Como a herança é um todo indivisível, ao se deferir as cotas aos herdeiros,
divide-se igualmente, não havendo que se falar em bens particulares ou bens comuns.
Assim, o sobrevivente herdará, em concorrência com os descendentes, igualmente,
tantos os bens particulares quanto os bens comuns, dado o todo patrimonial verificado
com a morte

TERCEIRA CORRENTE

• Art. 1.829, inc. I: A sucessão legítima defere-se aos descendentes, em concorrência com
o cônjuge sobrevivente, se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não
houver deixado bens particulares

A terceira corrente inverte os raciocínios anteriores. Segundo ela, o “ponto e vírgula” que está no art.
1.829, inc. I, deveria gerar leitura diversa do dispositivo. O cônjuge herda, em regra, e o inciso coloca as

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exceções na sequência (“salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens”).

QUARTA CORRENTE

• Equiparação prática entre a união estável e o casamento (ambos vistos pelo regime da
comunhão parcial de bens)
• Leitura sistemática e conjunta do art. 1.829, inc. I, e do art. 1.790 (reputado
inconstitucional pelo STF)

A quarta corrente se fixou no julgamento REsp 1.117.563/SP, julgado no fim de 2009, no voto da Min.
Nancy Andrighi. O objetivo dessa corrente foi de manter, o quanto possível, a vontade matrimonial do
falecido na sucessão. Em outras palavras, o que se quer é que o regime de bens estabelecido no matrimônio
seja respeitado na morte, e não simplesmente ignorado pelas regras sucessórias.

Pois bem. Superado o ponto, o convivente sobrevivo herda, seja no regime da comunhão parcial de bens,
havendo bens particulares do falecido, seja no regime da separação voluntária de bens, seja no regime da
participação final nos aquestos. Ele concorre com os descendentes. Como?

Essa concorrência é em igualdade (art. 1.832), ou seja, é como se o cônjuge fosse também um descendente.
Volto ao exemplo dado. Imagine que os conviventes possuíam bens particulares antes de se unirem, cada
um deles com 100. Eles adquiriram onerosamente, durante a constância da união, um patrimônio de 200.
Ao final, têm patrimônio de 400, sendo 200 de bens comuns e 200 de bens particulares de cada um.

B. Em concorrência com os ascendentes

Em falta de descendentes, são chamados à herança os ascendentes. Os ascendentes compõem a segunda


classe hereditária. Aqui, convivente e ascendentes são considerados herdeiros de segunda classe.

A concorrência do convivente com os ascendentes é, felizmente, muito mais simples do que a concorrência
com os descendentes. Em quais regimes de bens o convivente é herdeiro e em quais não? Veja o art. 1.829,
inc. II:

Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:

II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge;

Reparou? Em quais regimes ele herda? Em todos! Como assim, em todos? Em qual regime
de bens o convivente NÃO herda? NENHUM; ele é herdeiro SEMPRE! Não pode... Aponte
para mim um regime no qual o convivente não herda, segundo a regra supra transcrita.
Não existe!

O quadro hereditário que resume a meação e a herança do convivente sobrevivente tem de


ser revisto, portanto, quando se trata de concorrência com os ascendentes. Ele pode ser assim estabelecido:

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Regime de bens É meeiro? É herdeiro?


Comunhão universal de bens SIM SIM
Comunhão parcial de bens, havendo SIM bens particulares do
SIM SIM
falecido
Comunhão parcial de bens, NÃO havendo bens particulares do
SIM SIM
falecido
Separação obrigatória de bens NÃO SIM
Separação voluntária de bens NÃO SIM
Participação final nos aquestos SIM SIM

Assim, no regime da comunhão universal de bens, no regime da comunhão parcial de bens, havendo bens
particulares do falecido, no regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do
falecido e no regime da participação final nos aquestos, o sobrevivo tem direito à meação e à herança.No
regime da separação obrigatória de bens e no regime da separação voluntária de bens, apesar de não ter
direito à meação, o sobrevivo tem direito à herança.

Reparou como em concorrência com os ascendentes o sobrevivo tem uma vantagem


enorme? Mas, como será dividida essa herança? Depende de quem são os ascendentes.

Se forem os pais, ascendentes em primeiro grau, ao convivente tocará 33% da herança. Assim,
no exemplo acima, se o convívio era sob o regime de comunhão lato sensu de bens, o
sobrevivo tem 50 de meação, mais 16 de herança (66, no total). O pai receberá 16 e a mãe
outros 16 da herança do filho falecido. Se o convívio era sob o regime da separação lato sensu de bens, o
sobrevivo não tem meação, mas recebe 33 de herança. Opai receberá 33 e a mãe outros 33 da herança do
filho falecido.

Se for apenas um dos pais vivo, um ascendente de primeiro grau vivo (o pai do falecido já estava morto, por
exemplo), ao convivente tocará 50% da herança. Assim, no exemplo acima, se o convívio era sob o regime
de comunhão lato sensu de bens, o sobrevivo tem 50 de meação, mais 25 de herança (75, no total). A mãe
receberá os outros 25 da herança do filho falecido. Se o convívio era sob o regime da separação lato sensu
de bens, o sobrevivo não tem meação, mas recebe 50 de herança. A mãe receberá os outros 50 da herança
do filho falecido.

Se ambos os pais estiverem mortos, havendo ascendente de grau maior (os pais do falecido já tinham
morrido, mas ainda havia os avôs maternos), cabe ao convivente 50% da herança (art. 1.837).Assim, no
exemplo acima, se o convívio era sob o regime de comunhão lato sensu de bens, o sobrevivo tem 50 de
meação, mais 25 de herança (75, no total). Os avôs receberão os outros 25 da herança do neto falecido. Se
o convívio era sob o regime da separação lato sensu de bens, o sobrevivo não tem meação, mas recebe 50
de herança. Os avôs receberão os outros 50 da herança do neto falecido.

C. Isoladamente, sem concorrência

Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao convivente sobrevivente,
conforme regra do art. 1.838. Aqui, fala-se na terceira classe hereditária. Novamente, há alguma restrição a
depender do regime de bens adotado? Não.

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Assim, no regime da comunhão universal de bens, no regime da comunhão parcial de bens, havendo bens
particulares do falecido, no regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do
falecido, no regime da participação final nos aquestos, no regime da separação obrigatória de bens e no
regime da separação voluntária de bens, apesar de não ter direito à meação, o sobrevivo tem direito à
herança na integralidade.

Na prática, o sobrevivo ficará com 100% do patrimônio, pelo que não faz diferença alguma se a origem da
transmissão é de Direito de Família ou de Direito das Sucessões. No entanto, isso é relevante em outros
aspectos, e volto à teoria do fato jurídico, já que a morte é suporte fático não para algumas normas, mas o
é para outras.

De acordo com o art. 1.814, inc. I, “são excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários que houverem sido
autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão
se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente”. Isso tem um impacto descomunal,
patrimonialmente falando.

Assim, o sobrevivo casado no regime da separação lato sensu de bens, se for considerado indigno por decisão
judicial, perderá todo o patrimônio do falecido. Se o sobrevivo for casado no regime da comunhão lato sensu
de bens, e for considerado indigno por decisão judicial, perderá os direitos hereditários, mas continua ter
sua meação. Faz muita diferença.

De qualquer forma, qualquer que seja o regime de bens, será assegurado ao sobrevivente o
direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde
que seja o único daquela natureza a inventariar, sem prejuízo da participação que lhe caiba
na herança, segundo o art. 1.831. De acordo com o STJ (REsp 1.329.993), apesar de a norma
tratar apenas do cônjuge, o direito é também extensível ao companheiro.

(VIII Exame da OAB) Com relação ao direito sucessório, assinale a afirmativa correta.
A) O cônjuge sobrevivente, mesmo se constituir nova família, continuará a ter direito real de habitação sobre
o imóvel em que residiu com seu finado cônjuge.
B) A exclusão por indignidade pode ocorrer a partir da necessidade de que o herdeiro tenha agido sempre
com dolo e por uma conduta comissiva.
C) A deserdação é forma de afastar do processo sucessório tanto o herdeiro legítimo quanto o legatário.
D) Os efeitos da indignidade não retroagem à data da abertura da sucessão, tendo, portanto, efeito ex nunc.
Comentários
A alternativa A está correta, já que o art. 1.831 exige apenas que o bem seja o único a inventariar e destinado
à residência da família. Se o cônjuge sobrevivente “guardará o luto” eternamente ou se no dia seguinte
contrair novas núpcias não importa...

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A alternativa B está incorreta. O Código Civil em momento algum exige dolo para que se verifique a
indignidade; basta a conduta do herdeiro amoldar-se às hipóteses legais. Ademais, há condutas omissivas
também, como o desamparo do ascendente em caso de alienação mental.
A alternativa C está incorreta. Veja, essa aí você nem precisaria saber. Se o nome do instituto é deserdação,
ele se volta à herança! Não é “deslegação”, porque legado é coisa diversa. A deserdação não vale para os
legatários, conforme falaremos mais detidamente adiante. Os legatários podem apenas ser excluídos da
sucessão, nas situações previstas no art. 1.814. Reveja:
Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a
pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a
sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente
de seus bens por ato de última vontade.
A alternativa D está incorreta, porque o objetivo da decretação de indignidade é exatamente que ela retroaja
à data da abertura da sucessão, nos termos do art. 1.815, parágrafo único: “O direito de demandar a exclusão
do herdeiro ou legatário extingue-se em quatro anos, contados da abertura da sucessão.”
Gabarito: A

7.3. Sucessão dos descendentes

Dentro de cada classe, se houver um herdeiro mais próximo ele exclui os mais remotos, prevê
o art. 1.833. Assim, se seu avô falece, sem convivente, deixando dois filhos, um deles seu pai,
você e seus primos, netos do falecido, ficam excluídos da sucessão. Apenas se seu pai e seu tio
estivessem já mortos, herdam os netos.

Os netos, você e seus primos, por sua vez, excluiriam os bisnetos. Ou seja, em cada classe, a
herança permanecerá na mesma linha (filhos, netos, bisnetos etc.). Os herdeiros da mesma classe herdam
por direito próprio e por cabeça.

O que isso significa? Significa que os filhos do falecido herdam precisamente porque são filhos (herança por
direito próprio). Significa que se são cinco filhos, divide-se a herança em cinco, contando-se “cada cabeça”
(herança por cabeça).

Porém, no exemplo acima, imagine que seu pai já faleceu, antes de ter morrido seu avô. Seu tio continua
vivo, mas não seu pai, pré-morto. Nesse caso, você e seu irmão, netos do falecido avô, descendentes do
descendente falecido, são chamados à sucessão. Nesse caso, os netos do falecido, você e seu irmão, têm os
mesmos direitos à sucessão de seu pai (art. 1.834).

A isso se dá o chamado direito de representação, que nada mais é do que a situação em que
a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos, em que ele sucederia,
se vivo fosse (art. 1.851). Segundo os arts. 1.852 e 1.853, o direito de representação só ocorre
na linha reta descendente e na linha transversal, em favor dos filhos de irmãos do falecido,
quando com irmãos deste concorrerem, JAMAIS na linha ascendente.

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Assim, no exemplo acima, se seu avô falece e deixa 100, seu tio herdará 50 e você e seu irmão os outros 50,
pelo que cada um receberá 25. É a regra do art. 1.854, que estabelece que os representantes só podem
herdar, como tais, o que herdaria o representado, se fosse vivo, repartindo-se o quinhão do representado
por igual entre os representantes (art. 1.855).

Daí o nome “representação”. É como se os netos fossem representantes no pai na sucessão do avô. Se
representam o pai, herdam como se fossem o pai. Por isso, os netos, que estão na linha descendente, mas
em grau diferente em relação ao filho do falecido (tio deles), herdam por representação e por estirpe (art.
1.835).

Veja que, diferentemente do seu tio, filho do falecido avô, que herda por direito próprio (porque é filho do
morto), você não herda por direito próprio. Você não herda porque é você, mas porque é filho de seu pai. A
herança, então, é por representação.

Igualmente, você não herda por cabeça, porque só se herda por cabeça quando todos os herdeiros estão na
mesma linha. Você está na mesma linha de seu tio? Não, quem estava na mesma linha era seu pai, pré-
morto. Por isso, você e seu irmão herdam não por cabeça, mas por estirpe.

Superado o ponto, hora de seguir adiante no tema. Na renúncia à herança, os


sucessores do renunciante não podem exigir qualquer direito hereditário. Se seu pai
renunciasse à herança, você e seu irmão nada herdariam, porque vocês nunca teriam
tido direito sucessório (viventes non datur representatio).

No entanto, o renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão


de outra (art. 1.856). Exemplifico. Seu pai morre, rico. Seu avô morre, igualmente rico, depois. Você tem duas
heranças a aceitar, a de seu pai, por direito próprio, e a de seu avô, por direito de representação.

Você pode renunciar à herança de seu pai e de seu avô. Pode aceitar as duas heranças. Pode também aceitar
uma e renunciar a outra. Você pode renunciar à herança do seu pai, e representá-lo na parte da herança do
seu avô que o seu pai receberia.

Veja-se que se você renuncia à herança de seu pai, ela volta ao monte-mor e é partilhada entre os demais
herdeiros daquela classe. Se seu pai era casado e o convivente herda, a parte que você renunciou é dividida
entre o convivente e seu irmão. Veja que aqui você herda por direito próprio.

Agora, se você renuncia à herança de seu avô, o montante que você renuncia não vai para o monte-mor,
mas permanece na estirpe. Como são apenas você e seu irmão a herdar a herança de seu avô, em
representação, quando você renuncia seu irmão fica com o dinheiro todo. Veja que aqui você herda por
representação e, ao renunciar, o montante volta ao representando. Como o representado está morto,
buscam-se os demais herdeiros da classe.

Vou aos exemplos. Seu pai morre, sem um tostão. Seu avô morre, com 100. Da herança, 50 pertencem a seu
tio e 50 pertenceriam a seu pai. Como ele está morto, os 50 são divididos entre você e seu irmão. Se você
renuncia à herança de seu avô, os seu 25 “voltam para seu pai”. Como ele está morto, divide esses 25 entre
os demais herdeiros dele, no caso, seu irmão, que fica com 50.

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Outro exemplo.Seu pai morre, sem um tostão. Seu avô morre, com 100. Da herança, 25 pertencem a cada
um dos seus três tios e 25 pertenceriam a seu pai. Se um de seus tios renuncia à herança, ela volta para o
monte-mor (porque ele herda por direito próprio). Seus primos, filhos do renunciante, ganham 0.

Esses 25 de seu tio renunciante são divididos entre os outros três filhos do falecido, ou seja, mais 8,3 para
cada. Com isso, seus dois tios restantes e seu pai ficam com 33 cada (25 mais 8,3). Esses 33 de seu pai são
herdados por você e seu irmão, por representação. Se você renuncia à sua parte, seu irmão herda tudo o
que seu pai herdaria.

Sim, eu sei no que você está pensando. Eu não disse antes, quando tratei da renúncia à herança, que “se
você renuncia à herança de seu pai, você não pode aceitar a herança de seu avô”. Como é que agora venho
eu dizendo que pode renunciar à herança do pai e aceitar a do avô?

Você estaria certo se não tivesse perdido um detalhe. E o Direito das Sucessões é feito de detalhes, sórdidos,
às vezes. Você não atentou para a ordem da abertura das sucessões. O momento em que as pessoas morrem
é que dita o direito sucessório e a ordem das coisas se altera profundamente.

No caso do art. 1.809, parágrafo único (“Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação,
desde que concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira”), primeiro
seu avô morreu e depois seu pai morreu. Como seu pai morreu sem dizer se aceitava ou não a herança de
seu avô (mas poderia ter dito), a solução é esta: você só pode aceitar a herança de seu avô se aceitar a de
seu pai; renunciando à herança de seu pai, renuncia automaticamente a de seu avô (porque o poder de
aceitar a herança de seu avô estava contido na herança de seu pai, que você renunciou).

No caso do art. 1.856 (“O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na sucessão de
outra.”), primeiro seu pai morreu e depois seu avô morreu. Como seu pai morreu sem dizer se aceitava ou
não a herança de seu avô (e não poderia ter dito, porque estava morto), a solução é esta: você pode aceitar
a herança, aceitando ou renunciando a de seu pai (porque o poder de aceitar a herança de seu avô NÃO
estava contido na herança de seu pai, quando ele morreu, já que o avô ainda estava vivo).

No caso do art. 1.809, parágrafo único, você herda por direito de transmissão, ao passo que no caso do art.
1.856 você herda por direito de representação. Orlando Gomes distingue o direito de transmissão – quando
se substitui o herdeiro pertencente à classe chamada à sucessão depois de sua abertura – do direito de
representação – quando se toma o lugar do herdeiro pertencente à classe chamada à sucessão no
momento de sua abertura – de maneira bastante simples, facilitando a compreensão.

(III Exame da OAB) Josefina e José, casados pelo regime da comunhão universal de bens, tiveram três filhos:
Mário, Mauro e Moacir. Mário teve dois filhos: Paulo e Pedro. Mauro teve três filhos: Breno, Bruno e Brian.
Moacir teve duas filhas: Isolda e Isabel. Em um acidente automobilístico, morreram Mário e Mauro. José,
muito triste com a perda dos filhos, faleceu logo em seguida, deixando um patrimônio de R$ 900.000,00.
Nesse caso hipotético, como ficaria a divisão do monte?
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(A) Josefina receberia R$ 450.000,00. Os filhos de Mário receberiam cada um R$ 75.000,00. Os filhos de
Mauro receberiam R$ 50.000,00 cada um. E, por fim, as filhas de Moacir receberiam R$ 75.000,00 cada uma.
(B) A herança seria dividida em três partes de R$ 300.000,00. Paulo e Pedro receberiam cada um R$
150.000,00. Breno, Bruno e Brian receberiam, cada um, R$ 100.000,00. E, por fim, Isabel e Isolda receberiam
cada uma a importância de R$ 150.000,00.
(C) Paulo e Pedro receberiam cada um R$ 150.000,00. Breno, Bruno e Brian receberiam, cada um, R$
100.000,00. E, por fim, Moacir receberia R$ 300.000,00.
(D) Josefina receberia R$ 450.000,00. Paulo e Pedro receberiam cada um R$ 75.000,00. Breno, Bruno e Brian
receberiam cada um R$ 50.000,00. Moacir receberia R$ 150.000,00.
Comentários
A alternativa A está incorreta, dado que, de fato, a herança será dividida em três montes entre os herdeiros
de entre os herdeiros de José. No entanto, Isolda e Isabel nada herdarão, já que seu pai, Moacir, está vivo
ainda, pelo que ele é o herdeiro, pois na classe mais direta de herdeiros em relação a José.
A alternativa B está incorreta, já que não se partilhou a meação de Josefina nos 900mil.
A alternativa C está incorreta, porque, novamente, de fato, a herança será dividida em três montes entre os
herdeiros de entre os herdeiros de José. No entanto, não se partilhou a meação de Josefina nos 900mil.
A alternativa D está correta, pois primeiro Josefina fica com sua meação de 450mil e posteriormente partilha-
se a outra metade. Desses 450mil, partilha-se entre os três herdeiros, ou 150mil para cada filho. Como Mário
é pré-morto, seus dois filhos, Paulo e Pedro, dividem sua parte, ou 75mil para cada um. Como Mauro também
é pré-morto, seus três filhos, Breno, Bruno e Brian, dividem a parte do pai na herança do avô, ou 50mil para
cada. Por fim, como Moacir ainda está vivo, herda na integralidade a parte que lhe cabia do monte
partilhável, ou 150mil para ele.
Gabarito: D

(VI Exame da OAB) José, solteiro, possui três irmãos: Raul, Ralph e Randolph. Raul era pai de Mauro e Mário.
Mário era pai de Augusto e Alberto. Faleceram, em virtude de acidente automobilístico, Raul e Mário, na
data de 15/4/2005. Posteriormente, José veio a falecer em 1º/5/2006. Sabendo-se que a herança de José é
de R$ 90.000,00, como ficará a partilha de seus bens?
(A) Como José não possui descendente, a partilha deverá ser feita entre os irmãos. E, como não há direito
de representação entre os filhos de irmão, Ralph e Randolph receberão cada um R$ 45.000,00.
(B) Ralph e Randolph devem receber R$ 30.000,00 cada. A parte que caberá a Raul deve ser repartida entre
Mauro e Mário. Sendo Mário pré-morto, seus filhos Alberto e Augusto devem receber a quantia que lhe
caberia. Assim, Mauro deve receber R$ 15.0000,00, e Alberto e Augusto devem receber R$ 7.500,00 cada
um.
(C) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante (R$ 30.000,00) será entregue a Mauro,
por direito de representação de seu pai pré-morto.
(D) Ralph e Randolph receberão R$ 30.000,00 cada um. O restante, na falta de outro colateral vivo, será
entregue ao Município, Distrito Federal ou União.
Comentários

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A alternativa A está incorreta, pois existe direito de representação na linha descendente. Como Raul morreu,
seus herdeiros o representam perante a herança de José.
A alternativa B está incorreta, já que Mario morreu antes de José, pelo que ele nunca adquiriu direito
sucessório algum, relativamente a José. Seus filhos teriam direito a eventual herança de Raul, caso tivesse
ele deixado algo quando do acidente automobilístico, o que não ocorreu.
A alternativa C está correta, porque os descendentes de Mario nada herdarão, já que seu pai era pré-morto
quando da morte do tio-avô José, inexistindo direito hereditário daqueles em relação a este.
A alternativa D está incorreta, já que Raul deixou Mauro de herdeiro, não se cabendo falar em jacência.
Gabarito: C

A deserdação ou declaração de indignidade de seu pai não se equipara com a renúncia,


lembre-se. Em caso de deserdação ou declaração de indignidade considera-se que seu pai é
pré-morto, pelo que você e seu irmão herdam. Os herdeiros do herdeiro indigno herdam,
por estirpe e representação, determina o art. 1.816 (exceção à regra viventes non datur
representatio).

Se você atentar, o art. 1.835 prevê que na linha descendente, os outros descendentes herdam, por cabeça
ou por estirpe, conforme se achem ou não no mesmo grau. Eu falei da herança por estirpe, em caso de
representação. É o caso seu e de seu irmão que recebem os 50 de seu pai pré-morto, sendo 25 para cada
um.

Agora, quando você e seu irmão herdariam por cabeça a herança de seu avô? Quando todos os herdeiros de
seu avô estivessem no mesmo grau. Quando isso aconteceria. Posso mostrar dois exemplos.

Primeiro, seu tio e seu pai são pré-mortos. A rigor, você e seus primos herdariam por representação de seu
pai e seu tio, respectivamente. Assim, você e seu irmão herdariam 25 cada um (correspondentes aos 50 de
seu pai) e seus três primos herdariam 16,6 cada um (correspondentes aos 50 de seu tio).

Mas, como vocês são os únicos herdeiros, e são todos do mesmo grau (não há ascendentes vivos), ao invés
de herdarem por estirpe, passam a herdar por cabeça. Por isso, nesse caso, cada um dos cinco netos herdará
20, não havendo distinção.

O segundo exemplo é bem semelhante. Seu pai é pré-morto. Você e seu irmão herdam 25 cada um, e seu
tio os outros 50. No entanto, se seu tio renuncia à herança, seus primos representam ele? Não, porque não
existe representação de renunciante. O montante dele volta ao monte-mor. E, como todos são netos do
falecido, no mesmo grau, passam a herdar, cada um 20.

Ou seja, a renúncia de seu tio faz você perder, automaticamente, 5. Imagine que você é filho único (e herda,
consequentemente, 50, representando seu pai). Agora, seu tio, que tem nove filhos, renuncia à herança de
seu avô. Você e seus nove primos passam a ser os únicos herdeiros de seu avô. Como estão todos no mesmo
grau, divide-se a herança igualmente, e você passa a herdar apenas 10.

Ademais, lembre que, de acordo com o art. 1.832, se os descendentes concorrerem com o convivente, deve-
se respeitar a quarta parte da herança a ele, caso seja herdeiro, e caso seja ascendente dos herdeiros com
que concorrer. Dou dois exemplos, para mostrar como a situação não é das mais simples.

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Seu avô, casado no regime da separação convencional de bens, falece, deixando 100. Sua avó tem direito à
meação? Não. Portanto, a herança é 100. Ela tem direito à herança? Sim. De acordo com o art. 1.832, ela
tem direito a quinhão igual, preservando-se a quarta parte.

7.4. Sucessão dos ascendentes

Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes (art. 1.836). Porém, de


acordo com o §1º, não existe direito de representação entre os ascendentes, pelo que o
ascendente de grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas.

Se você morre, sem descendentes, toda a herança vai a seus pais. Se seu pai já faleceu, sua mãe
herda 100. Seus avós paternos recebem 0. Herdam os ascendentes por direito próprio sempre,
não havendo representação.

Se ambos os pais morreram, seus avós recebem, dividindo-se a herança em duas linhas, uma materna e outra
paterna (§2º). Se sua avó materna morreu, seu avô materno recebe 50, sua avó paterna recebe 25 e seu avô
paterno outros 25. Porém, se tanto sua avó materna quanto seu avô materno já morreram, seus avós
paternos recebem 100, sendo 50 para cada.

Lembre que, em concorrência com os ascendentes, o convivente herda sempre, sendo irrelevante o regime
de bens. Como se dividirá essa herança? Depende de quem são os ascendentes.

Se forem os pais, ascendentes em primeiro grau, ao convivente tocará 33 da herança da herança de 100,
sendo que 33 ficam com o pai e os outros 33 com a mãe. Sendo apenas um dos pais vivo, um ascendente
de primeiro grau vivo (o pai do falecido já estava morto, por exemplo), ao convivente tocará 50 da herança
e à mãe os outros 50 (os avós paternos nada recebem, porque inexiste direito de representação na linha
ascendente).

Se ambos os pais estiverem mortos, havendo ascendente de grau maior (os pais do falecido já tinham
morrido, mas ainda havia avôs), cabe ao convivente 50 da herança. Os outros 50 se dividem entre os avôs,
conforme o caso.

Se os quatro avôs estão vivos, cada um recebe 12,5. Se a avó paterna faleceu, o avô paterno recebe 25, a
avó materna 12,5, o avô paterno 12,5 e o convivente 50. Se o avô materno faleceu, o avô paterno recebe 25,
o avô paterno 25 e o convivente 50.

(XXVIII Exame da OAB) Matheus, sem filhos, casado com Jane, no regime de comunhão parcial de bens,
falece após enfarto fulminante. De seu parentesco em linha reta são ainda vivos Carlos, seu pai, e Irene, sua
avó materna. A partir da situação acima, assinale a opção que indica a sucessão de Matheus.

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A) Serão herdeiros Carlos, Irene e Jane, a última em concorrência, atribuído quinhão de 1/3 do patrimônio
para cada um deles.
B) Serão herdeiros Carlos e Jane, atribuído quinhão de 2/3 ao pai e de 1/3 à Jane, cônjuge concorrente.
C) Carlos será herdeiro sobre a totalidade dos bens, enquanto Jane apenas herda, em concorrência com este,
os bens particulares do falecido.
D) Serão herdeiros Carlos e Jane, esta herdeira concorrente, atribuído quinhão de metade do patrimônio
para cada um destes.
Comentários
A alternativa A está incorreta, uma vez que Irene é excluída da sucessão, conforme art. 1.836, §1º: “Na classe
dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas”.
A alternativa B está incorreta, conforme art. 1.837: “Concorrendo com ascendente em primeiro grau, ao
cônjuge tocará um terço da herança; caber-lhe-á a metade desta se houver um só ascendente, ou se maior
for aquele grau”.
A Alternativa C está incorreta, já que contrária à previsão do art. 1.837, especialmente porque o regime de
bens só é relevante na sucessão em concorrência com os descendentes, não com os ascendentes.
A alternativa D está correta, pela conjugação do art. 1.836, §1º, com o art. 1.837.
Gabarito: D

7.5. Sucessão dos colaterais

Apenas se não houver descendente ou ascendente em linha reta ou convivente sobrevivo,


serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau (art. 1.839). Chamam-se, assim, os
irmãos (colaterais em segundo grau), tios (colaterais em terceiro grau), primos (colaterais em
quarto grau) e tios-avôs (colaterais em quarto grau) e sobrinhos-netos (colaterais em quarto
grau).

(XXV Exame) Ana, sem filhos, solteira e cujos pais são pré-mortos, tinha os dois avós paternos e a avó
materna vivos, bem como dois irmãos: Bernardo (germano) e Carmem (unilateral). Ana falece sem
testamento, deixando herança líquida no valor de R$ 60.000,00 (sessenta mil reais).
De acordo com os fatos narrados, assinale a afirmativa correta.
A) Seus três avós receberão, cada um, R$ 20.000,00 (vinte mil reais), por direito de representação dos pais
de Ana, pré-mortos.
B) Seus avós paternos receberão, cada um, R$ 15.000,00 (quinze mil reais) e sua avó materna receberá R$
30.000,00 (trinta mil reais), por direito próprio.

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C) Bernardo receberá R$40.000,00 (quarenta mil reais, por ser irmão germano, e Carmem receberá R$
20.000,00 (vinte mil reais), por ser irmã unilateral.
D) Bernardo e Carmem receberão, cada um, R$ 30.000,00 (trinta mil reais), por direito próprio.
Comentários
A alternativa A está incorreta, não se falando em direito de representação na linha ascendente, como prevê
o art. 1.836: “Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes, em concorrência com o
cônjuge sobrevivente”.
A alternativa B está correta, como se extrai do art. 1.836, §2º: “Havendo igualdade em grau e diversidade
em linha, os ascendentes da linha paterna herdam a metade, cabendo a outra aos da linha materna”. Metade
para um lado (30 mil), metade para o outro (30 mil).
A alternativa C está incorreta, pela combinação do art. 1.838 (“Em falta de descendentes e ascendentes, será
deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente”) com o art. 1.839 (“Se não houver cônjuge
sobrevivente, nas condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto
grau”).
A alternativa D está incorreta, só herdando os irmãos, colaterais, se não houver ascendentes.
Gabarito: B

Tal qual anteriormente, na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos,
salvo o direito de representação concedido aos sobrinhos (art. 1.840).

Assim, você morre, sem ascendentes (pais, avós), descendentes (filhos, netos) ou convivente
(cônjuge/companheiro), meu irmão único herda a integralidade dos meus bens, 100. Se você
tem dois irmãos, cada um deles herda 50.

Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais com irmãos unilaterais, os irmãos unilaterais
herdarão metade do que cada bilateral herdar (art. 1.841). Irmãos bilaterais são filhos do mesmo pai e
mãe (irmãos germanos), ao passo que os irmãos unilaterais são filhos apenas do mesmo pai (irmãos
consanguíneos) ou apenas da mesma mãe (irmãos uterinos), os chamados “meios-irmãos”.

Se você não tem irmãos, mas tem sobrinhos e tios, há uma igualdade de graus, já que os sobrinhos e os
tios são ambos colaterais de terceiro grau. Nesse caso, a preferência é dos sobrinhos, em detrimento dos
tios (art. 1.843).

(XXIV Exame da OAB) Lúcia, sem ascendentes e sem descendentes, faleceu solteira e não deixou testamento.
O pai de Lúcia tinha dois irmãos, que tiveram, cada qual, dois filhos, sendo, portanto, primos dela. Quando
do falecimento de Lúcia, seus tios já haviam morrido. Ela deixou ainda um sobrinho, filho de seu único irmão,
que também falecera antes dela. Sobre a sucessão de Lúcia, de acordo com os fatos narrados, assinale a
afirmativa correta.
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A) O sobrinho concorre com o tio na sucessão de Lúcia, partilhando-se por cabeça.


B) O sobrinho representará seu pai, pré-morto, na sucessão de Lúcia.
C) O filho do tio pré-morto será chamado à sucessão por direito de representação.
D) O sobrinho é o único herdeiro chamado à sucessão e herda por direito próprio.
Comentários
A alternativa A está incorreta, na literalidade do art. 1.843: “Na falta de irmãos, herdarão os filhos destes e,
não os havendo, os tios”.
A alternativa B está incorreta, já que o direito de representação alcança somente a linha reta descendente.
A alternativa C está incorreta, igualmente, pelas mesmas razões explicadas anteriormente.
A alternativa D está correta, como dito, já que o art. 1.843 estabelece a preferência dos sobrinhos sobre os
tios.
Gabarito: D

8. Sucessão testamentária

8.1. Noções gerais

O testamento é chamado pela doutrina, usualmente, de “último ato de vontade”. Tecnicamente, ele não é
o último ato de vontade, em vida, em regra, já que depois de elaborar o testamento, o testador
habitualmente continua vivo. No entanto, ele constitui o último ato que, em vida, será observado post
mortem pelos vivos que lhe sucedem. Segundo Pontes de Miranda, o testamento é:

O ato pelo qual a vontade de um morto cria, transmite ou extingue direitos. Porque
“vontade de um morto cria” e não “vontade de um vivo, para depois da morte”? Quando
o testador quis, vivia. Os efeitos, sim, como serem dependentes da morte, somente
começam a partir dali. Tanto é certo que se trata de querer do vivo, que direitos há
(excepcionalíssimos, é certo), que podem partir do ato testamentário e serem realizados
desde esse momento. Digamos, pois, que o testamento é o ato pelo qual a vontade de
alguém se declara para o caso de morte, com eficácia de reconhecer, criar, transmitir ou
extinguir direitos.

Dentro da teoria do fato jurídico, o testamento é negócio jurídico unilateral, mortis causa, personalíssimo
e benéfico. Ou seja, a eficácia do testamento depende da aceitação da contraparte (por isso um negócio
jurídico), mas já é capaz de produzir efeitos na esfera jurídica de outrem desde já, pela regra da saisine (por
isso unilateral). Personalíssimo porque se proíbe qualquer tipo de representação no testamento. Benéfico
porque não há contraprestação ao morto.

Por se tratar de ato personalíssimo, são proibidos os chamados testamentos conjuntivos, segundo o art.
1.863. O que são os testamentos conjuntivos? São aqueles nos quais a vontade do testador não é de todo
isenta. Os testamentos conjuntivos podem ser:

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SIMULTÂNEO
• No qual há mais de um testador no mesmo instrumento

RECÍPROCO
• No qual testa um testador testa em favor um do outro

CORRESPECTIVO
• No qual os testadores testam em condições mútuas, proporcionalmente, no mesmo
instrumento

O testador pode dispor, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua
morte (art. 1.857), desde que respeitada a legítima dos herdeiros necessários (§1º).Sem
herdeiros necessários, basta testar a totalidade patrimonial sem contemplar os herdeiros
facultativos (colaterais de segundo a quatro grau) para que sua exclusão seja visualizada.

É possível inserir, igualmente, disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda


que o testador somente a elas se tenha limitado (§2º). Ainda que o mais comum sejam as disposições
patrimoniais, o defunto pode regular como quer o funeral, reconhecer situações jurídicas, confessar fatos,
instituir bem de família (art. 1.711), estabelecer a destinação dos perfis de suas redes sociais etc. Há quem
defenda a possibilidade dos testamentos genéticos (permissão para uso de material genético para
reprodução post mortem).

(XX Exame da OAB) Antônio deseja lavrar um testamento e deixar toda a sua herança para uma instituição
de caridade que cuida de animais abandonados. O único parente de Antônio é seu irmão João, com quem
almoça todos os domingos. Antônio não possui outros parentes nem cônjuge ou companheiro. Antônio
procura você̂ na condição de advogado e indaga se a vontade dele é tutelada pela lei. Diante da indagação
de Antônio, assinale a afirmativa correta.
A) Antônio pode deixar toda a herança para a instituição de caridade, uma vez que seu irmão não é seu
herdeiro necessário.
B) Antônio não pode testar em favor da instituição de caridade que cuida de animais, uma vez que a herança
cabe inteiramente a parente vivo mais próximo, no caso, seu irmão.
C) Antônio pode deixar por testamento apenas metade da herança para a instituição de caridade, uma vez
que a outra metade pertence por lei a seu irmão, a quem deve alimentos.
D) Antônio pode deixar para a instituição de caridade 3/4 de seu patrimônio, uma vez que é preciso garantir
no mínimo 1/4 da herança a seu irmão bilateral.
Comentários

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A alternativa A está correta, segundo o art. 1.845: “são herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge”.
A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões expostas na alternativa supra.
A alternativa C está incorreta, quase correta, já que o §1º do art. 1.857 estabelece que a legítima dos
herdeiros necessários não poderá ser incluída no testamento, mas Antônio não deve alimentos ao irmão.
A alternativa D está incorreta, pelas mesmas razões expostas na alternativa A, supramencionada.
Gabarito: A

Exige-se que o testador tenha, no mínimo, 16 anos (art. 1.860, parágrafo único) e livre
discernimento, no ato de testar (art. 1.860, caput). Assim, menores púberes podem testar,
sem assistência. Como as alterações promovidas pela Lei 13.146/2015, o Estatuto da Pessoa
com Deficiência – EPD, as pessoas com deficiência são plenamente capazes de testar, salvo se
se enquadrarem nas hipóteses de incapacitação relativa do art. 4º ou se estiverem submetidas
ao regime curatelar, excepcionalmente, na forma do EPD.

Decai em 5 anos o direito de impugnar a validade do testamento e de suas cláusulas, contado o prazo da
data do seu registro (art. 1.859), seja qual for o argumento para a invalidação. Cuidado, porém, porque o
registro referido pelo art. 1.859 não é o registro notarial (ou administrativo, junto à Central de Testamentos,
como ocorre em certos Estados), como se exige no testamento público ou cerrado. Até porque, em se
tratando de testamento particular registro notarial não há. O referido registro é o judicial, processual,
ocorrido quando da abertura em Juízo do testamento.

Assim, mesmo o testamento inválido se convalida após 5 anos de seu registro (judicial, friso), contrariando
a regra geral do art. 169, que determina a incaducabilidade do ato nulo e a impossibilidade de sua
convalidação com o mero decurso do tempo. Raciocínio inverso (incaducabilidade a partir do registro
notarial) permitiria que um testamento nulo, lavrado em 1972 perante as notas do Tabelião, fosse reputado
válido já em 1977, tendo o testador falecido apenas em 2008.

Porém, se o testamento for inexistente, não se aplica esse prazo, podendo-se declarar a inexistência do
testamento a qualquer tempo. Isso ocorre, por exemplo, na situação de inexistência de vontade, como num
caso em que a assinatura do testador é falsificada. Igualmente, sendo a forma elemento essencial do
testamento, testamento realizado fora das formas legais previstas é reputado igualmente inexistente
(“testamento” fixado numa mensagem no Instagram; “testamento” declarado diante de um juiz;
“testamento” gravado numa videochamada de Whatsapp).

Ademais, por expressa – e perplexa – previsão legal, nos casos de erro, dolo ou coação, que são vícios que
tornam o ato anulável (art. 1.909), o prazo para anular a disposição específica ou o testamento todo será
de 4 anos, contados da ciência do vício (art. 1.909, parágrafo único). Boa parte da doutrina entende que
esse prazo deveria ser contado igualmente da data do registro, já que praticamente impossível saber quando
a pessoa tomaria conhecimento do vício; não obstante, a literalidade do artigo estabelece a contagem do
prazo dessa estranha forma.

Por fim, a ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela, não teriam
sido determinadas pelo testador, consoante regra expressa do art. 1.910. A ineficácia de uma disposição
contamina as demais que dela derivam, em exceção ao princípio da conservação (utile per inutile non
vitiatur).

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(X Exame da OAB) Rogério, solteiro, maior e capaz, estando acometido por grave enfermidade, descobre
que é pai biológico de Mateus, de dez anos de idade, embora não conste a filiação paterna no registro de
nascimento. Diante disso, Rogério decide lavrar testamento público, em que reconhece ser pai de Mateus e
deixa para este a totalidade de seus bens. Sobrevindo a morte de Rogério, Renato, maior e capaz, até então
o único filho reconhecido por Rogério, é surpreendido com as disposições testamentárias e resolve consultar
um advogado a respeito da questão. A partir do fato narrado, assinale a afirmativa correta.
A) Todas as disposições testamentárias são inválidas, tendo em vista que, em seu testamento, Rogério deixou
de observar a parte legítima legalmente reconhecida a Renato, o que inquina todo o testamento público, por
ser este um ato único.
B) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a
filiação paterna no registro de nascimento; a disposição testamentária relativa aos bens deverá ser reduzida
ao limite da parte disponível, razão pela qual Mateus receberá o quinhão equivalente a 75% da herança e
Renato o quinhão equivalente a 25% da herança.
C) Todas as disposições testamentárias são inválidas, uma vez que Rogério não poderia reconhecer a
paternidade de Mateus em testamento e, ainda, foi desconsiderada a parte legítima de seu filho Renato.
D) A disposição testamentária que reconhece a paternidade de Mateus é válida, devendo ser incluída a
filiação paterna no registro de nascimento; é, contudo, inválida a disposição testamentária relativa aos bens,
razão pela qual caberá a cada filho herdar metade da herança de Rogério.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a disposição sobre a deixa do filho nada tem a ver com a do
reconhecimento, já que poderia o pai ter reconhecido o filho no testamento, sem nada mais dispor. Assim,
a eventual ineficácia da invasão da legítima não contamina o reconhecimento.
A alternativa B está correta, porque o reconhecimento é válido e a disposição patrimonial também, mas
limita à legítima. Como o testador invadiu a legítima, toda a invasão é desconsiderada. Como poderia ele
dispor de metade do patrimônio, sua disposição deve se limitar a essa compreensão. A outra metade será,
então, dividida entre os dois filhos.
A alternativa C está incorreta, já que mesmo disposições testamentárias não patrimoniais são válidas, mesmo
que o testador se limite a elas.
A alternativa D está incorreta. A primeira parte está correta, mas quanto à segunda, somente se invalida a
invasão da legítima, não a disposição integralmente.
Gabarito: B

8.2. Formas

A. Testamentos ordinários

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O testamento, como ato solene, admite determinadas formas. São três os testamentos ordinários previstos
pelo art. 1.862. Mostro a você cada um deles, com suas respetivas peculiaridades

1. Testamento público

É requisito do testamento público ser (art. 1.864):

Escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo com as
declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou apontamentos

Lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas testemunhas, a um só tempo; ou pelo
testador, se o quiser, na presença destas e do oficial, depois de lavrado o instrumento

Assinado o instrumento, em seguida à leitura, pelo testador, pelas testemunhas e pelo tabelião

Pode o testamento público ser escrito manualmente ou mecanicamente, desde que rubricadas todas as
páginas pelo testador, se mais de uma (art. 1.864, parágrafo único). Ou seja, nada impede que você digite
seu testamento agora, no computador, ou mesmo no celular.

Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o declarará,
assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas. O indivíduo inteiramente surdo,
sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o leia em seu lugar, presentes as
testemunhas (art. 1.866).

Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes,
uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas,
designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento (art.
1.867).

O testamento público não pode ser escrito em língua estrangeira. Somente o testamento
cerrado pode ser redigido em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a seu
rogo (art. 1.871).

Quando o testamento for público, qualquer interessado, exibindo-lhe o traslado ou certidão, poderá
requerer ao juiz que ordene o seu cumprimento (art. 736 do CPC/2015). Na sequência, o juiz mandará
processá-lo conforme o disposto no art. 735 do CPC/2015.

2. Testamento cerrado

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O testamento cerrado, chamado de místico, é aquele escrito pelo testador, ou por outra
pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado. A “mística” se justifica pelo segredo que envolve as
disposições testamentárias, só cognoscíveis depois da morte do testador, ao contrário do
testamento público, facilmente acessível a qualquer um.

Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não obstante, aprová-lo,
prevê o art. 1.870. Ele será válido se aprovado pelo tabelião ou seu substituto legal, observadas as seguintes
formalidades (art. 1.868):

O testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas

O testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado

O tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas testemunhas, e o leia,
em seguida, ao testador e testemunhas

O auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo testador

Tal qual o testamento público, o testamento cerrado pode ser escrito mecanicamente, desde que seu
subscritor numere e autentique, com a sua assinatura, todas as páginas, segundo o parágrafo único.

O tabelião deve começar o auto de aprovação imediatamente depois da última palavra do


testador, declarando, sob sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença
das testemunhas. Na sequência, o tabelião vai fechar e costurar o instrumento aprovado (art.
1.869).

De acordo com o parágrafo único, se não houver espaço na última folha do testamento, para
início da aprovação, o tabelião aporá nele o seu sinal público, mencionando a circunstância no auto. Ademais,
o testamento pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira, pelo próprio testador, ou por outrem, a
seu rogo, permite o art. 1.871.

Contrariamente ao testamento público, não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não
saiba ou não possa ler (art. 1.872). Ao contrário, pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto
que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que, ao entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas,
escreva, na face externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja aprovação lhe pede
(art. 1.873).

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(XXV Exame) Mário, cego, viúvo, faleceu em 1º de junho de 2017, deixando 2 filhos: Clara, casada com Paulo,
e Júlio, solteiro. Em seu testamento público, feito de acordo com as formalidades legais, em 02 de janeiro de
2017, Mário gravou a legítima de Clara com cláusula de incomunicabilidade; além disso, deixou toda a sua
parte disponível para Júlio.
Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) O testamento é inválido, pois, como Mário é cego, deveria estar regularmente assistido para celebrar o
testamento validamente.
B) A cláusula de incomunicabilidade é inválida, pois Mário não declarou a justa causa no testamento, como
exigido pela legislação civil.
C) A cláusula que confere a Júlio toda a parte disponível é inválida, pois Mário não pode tratar seus filhos de
forma diferente.
D) O testamento é inválido, pois, como Mário é cego, a legislação apenas lhe permite celebrar estamento
cerrado.
Comentários
A alternativa A está incorreta, conforme o art. 1.867: “Ao cego só se permite o testamento público, que lhe
será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das
testemunhas, designada pelo testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento”.
A alternativa B está correta, de acordo com o art. 1.848: “Salvo se houver justa causa, declarada no
testamento, não pode o testador estabelecer cláusula de inalienabilidade, impenhorabilidade, e de
incomunicabilidade, sobre os bens da legítima”.
A alternativa C está incorreta, segundo o art. 1.849: “O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua
parte disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima”.
A alternativa D está incorreta, conforme o art. 1.872: “Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado
quem não saiba ou não possa ler”.
Gabarito: B

Segundo o art. 1.874, depois de aprovado e cerrado, será o testamento entregue ao testador, e o tabelião
lançará, no seu livro, nota do lugar, dia, mês e ano em que o testamento foi aprovado e entregue. Falecido
o testador, o testamento será apresentado ao juiz, que o abrirá e o fará registrar, ordenando seja cumprido.

O juiz, então, se não achar vício externo que o torne suspeito de nulidade ou falsidade, o abrirá e mandará
que o escrivão o leia em presença do apresentante (art. 735 do CPC/2015). Do termo de abertura deve
constar o nome do apresentante e como ele obteve o testamento, a data e o lugar do falecimento do
testador, com as respectivas provas, e qualquer circunstância digna de nota.

Depois, deve-se ouvir o MP (art. 735, §2º). A oitiva do MP parece desnecessária, já que o testamento, ao
menos a priori, envolve direitos exclusivamente patrimoniais de caráter privado. Não havendo interesse de
incapaz, a intervenção parece desnecessária para a generalidade dos casos, mas o CPC/2015 o exige.

Não havendo dúvidas a ser esclarecidas, o juiz manda registrar, arquivar e cumprir o testamento. Com o
registro (§3º), intima-se o testamenteiro para assinar o termo da testamentária, ou, em sua ausência –
inexistência de testamenteiro nomeado no documento, estando ele ausente ou não aceitando o encargo
– o juiz nomeará testamenteiro dativo, observando-se a preferência legal.
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Tal qual mente o testamento público, a jurisprudência mitiga a nulidade do testamento em vista de
inobservância estrita das normas legais. O STJ (REsp 233.799) não invalida o ato se a solenidade não
observada não contamina o ato.

3. Testamento particular

O testamento particular, também chamado de hológrafo, pode ser escrito de próprio punho ou
mediante processo mecânico (art. 1.876), não havendo necessidade de qualquer intervenção
registral ou judicial. Ele pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas
a compreendam (art. 1.880).

Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e assinado por
quem o escreveu, na presença de pelo menos três testemunhas, que o devem subscrever (§1º). Se elaborado
por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco, devendo ser assinado pelo
testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos três testemunhas, que o subscreverão (§2º).

Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua leitura
perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o
testamento será confirmado (art. 1.878). O parágrafo único, porém, indica que se faltarem
testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o testamento
poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova suficiente de sua veracidade.

Excepcionalmente, em circunstâncias declaradas na cédula, o testamento particular de próprio punho e


assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado. O testamento hológrafo simplificado,
ou testamento de emergência, pode ser confirmado a critério do juiz, na regra do art. 1.879. Seriam os
casos de a pessoa se encontrar numa UTI, ou, em virtude de um acidente aéreo, não ter testemunhas a
presenciar o ato.

(XIX Exame da OAB) Os pais de Raimundo já haviam falecido e, como ele não tinha filhos, seu sobrinho Otávio
era seu único parente vivo. Seu melhor amigo era Alfredo. Em um determinado dia, Raimundo resolveu fazer
sozinho uma trilha perigosa pela Floresta dos Urucuns e, ao se perder na mata, acidentou-se gravemente.
Ao perceber que podia morrer, redigiu em um papel, datado e assinado por ele, declarando a circunstância
excepcional em que se encontrava e que gostaria de deixar toda a sua fortuna para Alfredo. Em razão do
acidente, Raimundo veio a falecer, sendo encontrado pelas equipes de resgate quatro dias depois do óbito.
Ao seu lado, estava o papel com sua última declaração escrita em vida, que foi recolhido pela equipe de
resgate e entregue à Polícia.
Ao saber do ocorrido, Otávio consulta seu advogado para saber se a declaração escrita por Raimundo tinha
validade.
Com base na hipótese narrada, assinale a afirmativa correta.

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A) O testamento deixado por Raimundo não tem validade em virtude da ausência das formalidades legais
para o ato de última vontade, em especial a presença de testemunhas.
B) O testamento deixado por Raimundo tem validade, mas suas disposições terão que ser reduzidas em 50%,
pelo fato de Otávio ser herdeiro de Raimundo.
C) O testamento deixado por Raimundo poderá ser confirmado, a critério do juiz, uma vez que a lei admite
o testamento particular sem a presença de testemunhas quando o testador estiver em circunstâncias
excepcionais.
D) O testamento deixado por Raimundo não tem validade porque a lei só admite o testamento público,
lavrado na presença de um tabelião.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Estaria correta, em regra, mas como as circunstâncias do caso são peculiares,
o ordenamento dá validade ao escrito, em determinadas situações.
A alternativa B está incorreta, já que Otávio não é herdeiro necessário (lembra que vimos quem são os
herdeiros necessários? Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge),
pelo que não se fala em legítima para os demais herdeiros, que não necessários.
A alternativa C está correta, na forma do art. 1.879, supramencionado. Vale frisar que a validação depende
do arbítrio do juiz.
A alternativa D está incorreta, por vários motivos, e o mais simples? Simplesmente porque a lei brasileira
permite variados testamentos.
Gabarito: C

Consoante o art. 1.877, morto o testador, publica-se em juízo o testamento, com citação dos herdeiros
legítimos. Essa publicação significa a execução do testamento, sendo a decisão uma confirmação judicial de
sua validade.

A publicação do testamento particular pode ser requerida, depois da morte do testador, pelos herdeiros,
legatários, testamenteiro ou terceiro detentor do testamento, impossibilitando-se de entregá-lo a algum dos
outros legitimados para requerê-la (art. 737 do CPC/2015). Na sequência, intimam-se os demais herdeiros
(§1º) e se dá continuidade regular ao procedimento.

B. Testamentos especiais

São três os testamentos especiais previstos pelo art. 1.886. Nas raras vezes em que se fala sobre os
testamentos especiais cinge-se a questionar quais são espécies de testamentos especiais (dica para
lembrar: Forças Armadas!):

Marítimo Aeronáutico Militar

Não veremos, aqui, essas formas especiais. Recomendo a leitura rápida desses dispositivos (arts. 1.888 a
1.896), se você tiver tempo, apenas.

C. Codicilo

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O codicilo, ou pequeno escrito, nada mais é, segundo disposição do art. 1.881, do que um “mini
testamento”, a despeito de outro testamento deixado pelo falecido (art. 1.882). Ele dispõe,
mediante escrito particular, datado e assinado, sobre disposições especiais sobre o seu enterro,
sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos
pobres de certo lugar, assim como legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso
pessoal. O sentido de “pequeno valor” depende do caso concreto.

Pelo codicilo, pode-se nomear ou substituir testamenteiros (art. 1.883). O codicilo pode ser revogado por
codicilos posteriores ou por testamento posterior, de qualquer natureza (art. 1.884), mas não pode codicilo
revogar testamento. Ou seja, o maior (testamento) pode revogar o menor (codicilo), mas não o inverso.

Se estiver fechado o codicilo, abre-se do mesmo modo que o testamento cerrado, segundo estabelece o art.
1.885. Por fim, aplicam-se ao codicilo as regras processuais dos testamentos, no que couber, inclusive quanto
à confirmação (art. 737, §3º, do CPC/2015).

8.3. Legado

A. Noções gerais

A distinção entre herança e legado é simples. Primeiro, a herança pode ser testamentária ou
legal; ao contrário, o legado é sempre determinado por testamento. Isso porque, ao contrário
da herança, que pode ser indicada genericamente, o legado é uma determinação dentro do
acervo transmitido pelo falecido, especificamente. Assim, por exemplo, “deixo o terreno
situado na capital”, “ficará para meu primo o meu carro antigo”, “para minha filha, todas as joias
da família”, são legados.

O legatário, por isso, é sucessor a título singular, ao contrário do herdeiro, que é sucessor a título universal.
Ou seja, o legatário não é herdeiro, mas meramente sucessor. O legado é, assim, muito semelhante à
doação, cuja diferença reside apenas no título de ingresso (inter vivos ou mortis causa). Tal qual ela, o
legado deve ser sempre gratuito, ainda que traga consigo encargo, que não o torna oneroso.

B. Extinção

Dispõe o art. 1.939 a respeito das situações nas quais o legado caduca, ou seja, torna-se ineficaz. Vale dizer,
o legado é válido, mas se torna ineficaz, pelo que não se confundem essas hipóteses com a invalidade
(nulidade ou anulabilidade legatárias). O legado caduca em quais situações?

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Depois do testamento, o testador modificar a coisa legada, ao ponto de já não ter a forma nem
lhe caber a denominação que possuía

O testador, por qualquer título, alienar no todo ou em parte a coisa legada; nesse caso,
caducará até onde ela deixou de pertencer ao testador

A coisa perecer ou for evicta, vivo ou morto o testador, sem culpa do herdeiro ou legatário
incumbido do seu cumprimento

O legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815

O legatário falecer antes do testador

C. Direito de acrescer

Sobre os legados, um último item que merece atenção é o direito de acrescer entre herdeiros e legatários.
E o que é o direito de acrescer entre herdeiros e legatários? Como o nome diz, trata-se da situação na qual
um herdeiro ou legatário será chamado a receber um acréscimo àquilo que estava previsto previamente, por
força do testamento.

Esse direito de acrescer competirá aos colegatários, quando nomeados conjuntamente a


respeito de uma só coisa, determinada e certa, ou quando o objeto do legado não puder ser
dividido sem risco de desvalorização (art. 1.942). Porém, se um dos coerdeiros ou colegatários
morrer antes do testador, se renunciar ou for excluído da herança ou legado, ou se a condição
sob a qual foi instituído não se verificar, acrescerá o seu quinhão, salvo o direito do substituto,
à parte dos coerdeiros ou colegatários conjuntos (art. 1.943).

Por outro lado, quando não se efetua o direito de acrescer, transmite-se aos herdeiros legítimos a quota
vaga do nomeado, por força do art. 1.944. Mas o beneficiário do acréscimo não pode repudiá-lo
separadamente da herança ou legado que lhe caiba, salvo se o acréscimo comportar encargos especiais
impostos pelo testador (art. 1.945).

Por fim, se o legado for o usufruto conjunto a mais de uma pessoa, a parte da que faltar acresce aos
colegatários, arremata o art. 1.946.

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(XXVI Exame da Ordem) Lúcio, viúvo, tendo como únicos parentes um sobrinho, Paulo, e um tio, Fernando,
fez testamento de acordo com todas as formalidades legais e deixou toda a sua herança ao seu amigo Carlos,
que tinha uma filha, Juliana. O herdeiro instituído no ato de última vontade morreu antes do testador. Morto
Lúcio, foi aberta a sucessão. Assinale a opção que indica como será feita a partilha.
A) Juliana receberá todos os bens de Lúcio.
B) Juliana receberá a parte disponível e Paulo, a legítima.
C) Paulo e Fernando receberão, cada um, metade dos bens de Lúcio.
D) Paulo receberá todos os bens de Lúcio.
Comentários
A alternativa A está incorreta, nos termos do art. 1.943 do CC/2002. Se o herdeiro testamentário morrer
antes do testador, os bens serão acrescidos no quinhão dos demais herdeiros.
A alternativa B está incorreta, pois Juliana não deverá receber nada. Como o herdeiro instituído foi o seu pai,
com a morte dele, a herança caberá aos herdeiros legítimos.
A alternativa C está incorreta, apesar de ambos serem colaterais de 3º grau do autor da herança, o art. 1.843
do CC/2002 dá preferência aos sobrinhos se concorrerem com os tios.
A alternativa D está correta, conforme o referido art. 1.843.
Gabarito: D

8.4. Disposições

Mostrei a você os elementos exteriores ou extrínsecos do testamento. Agora, você verá seus elementos
interiores, intrínsecos, ou seja, suas cláusulas, disposições.

Como todo ato jurídico escrito, por vezes a vontade daquele que testa não fica clara, ou é duvidosa, ou é
contraditória, ou é obscura. Isso pode ser ainda mais difícil quando o falecido tem mais de um testamento e
eles não se excluem, mas se complementam, ou mesmo há codicilos.

Por isso, pela regra do art. 1.899, quando a cláusula testamentária for suscetível de interpretações
diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da vontade do testador. Como se fará isso é
algo difícil de estimar, evidentemente, já que se trata da vontade de alguém que está morto.

De maneira geral, pode-se testar livremente. Nesse sentido, a nomeação de herdeiro ou


legatário pode fazer-se pura e simplesmente, sob condição, para certo fim ou modo, ou
por certo motivo (art. 1.897). Assim, o ato pode ser puro e simples, condicional (evento
futuro e incerto) ou submetido a encargo (modo ou ônus).

Inversamente, porém, a designação do tempo em que deve começar ou cessar o direito


do herdeiro tem-se por não escrita (art. 1.898), ou seja, não pode o ato ser a termo (evento futuro e certo).
Isso porque o ato configuraria uma tentativa de contornar a ordem sucessória. A exceção fica por conta das
substituições fideicomissórias.

O art. 1.900, por sua vez, fixa uma série de disposições que se consideram nulas. Vejamos:

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I. Institua herdeiro ou legatário sob a condição captatória de que este disponha, também por testamento,
em benefício do testador, ou de terceiros

II. Se refira a pessoa incerta, cuja identidade não se possa averiguar

Quanto ao inc. I, considera-se condição captatória aquela pela qual a vontade do falecido é “captada”, pelo
que não é externada de maneira livre. Quanto ao inc. II (indeterminação subjetiva absoluta), atente porque
qualquer identificação, por mais simples que seja, é tida como suficiente. Apelidos notórios, ou mesmo
expressões, por exemplo, são suficientes: “o Joãozinho da esquina do Largo”, “meu parceiro, Bolacha”, “meu
melhor amigo” (desde que seja público quem é, é suficiente).

Anula-se a disposição caso o testador erre (erro acidental) na designação da pessoa do


herdeiro, do legatário, ou da coisa legada. A exceção fica por conta da situação na qual, pelo
contexto do testamento, por outros documentos, ou por fatos inequívocos, se puder
identificar a pessoa ou coisa a que o testador queria se referir (art. 1.903).

Assim, se o testador indica a prima Maria no testamento, mas não tem nenhuma prima com
esse nome, cabe à prima Sabrina provar que errou ele, mas que sua intenção era beneficiar a ela.

III. Favoreça a pessoa incerta, cometendo a determinação de sua identidade a terceiro

Proíbe-se tal disposição porque, como é evidente, retira o caráter personalíssimo da disposição
testamentária. No entanto, segundo o art. 1.901, inc. I, vale a disposição em favor de pessoa
incerta que deva ser determinada por terceiro, dentre duas ou mais pessoas mencionadas
pelo testador, ou pertencentes a uma família, ou a um corpo coletivo, ou a um
estabelecimento por ele designado (indeterminação subjetiva relativa).

Uma segunda exceção está presente no art. 1.902, que determina que a disposição geral em favor dos
pobres, dos estabelecimentos particulares de caridade, ou dos de assistência pública, entender-se-á
relativa aos pobres do lugar do domicílio do testador ao tempo de sua morte, ou dos estabelecimentos aí
sitos, salvo se manifestamente constar que tinha em mente beneficiar os de outra localidade. De regra,
consoante o parágrafo único, as instituições particulares preferirão sempre às públicas.

IV. Deixe a arbítrio do herdeiro, ou de outrem, fixar o valor do legado

Novamente, proíbe-se tal disposição porque, como é evidente, retira o caráter personalíssimo da disposição
testamentária. Porém, segundo o art. 1.901, inc. II, valerá a disposição em remuneração de serviços
prestados ao testador, por ocasião da moléstia de que faleceu, ainda que fique ao arbítrio do herdeiro ou
de outrem determinar o valor do legado.

V. Favoreça as pessoas que não podem ser nomeadas como herdeiras ou legatárias e as interpostas
pessoas

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São as pessoas apontadas nos arts. 1.801 e 1.802, lembra?

Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:

I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os


seus ascendentes e irmãos;

II - as testemunhas do testamento;

III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato
do cônjuge há mais de cinco anos;

IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim


como o que fizer ou aprovar o testamento.

Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de pessoas não legitimadas a
suceder, ainda quando simuladas sob a forma de contrato oneroso, ou feitas mediante
interposta pessoa.

Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os descendentes, os


irmãos e o cônjuge ou companheiro do não legitimado a suceder.

Ademais, se o testamento nomear dois ou mais herdeiros, sem discriminar a parte de cada um, partilha-se
por igual, entre todos, a porção disponível do testador (art. 1.904). Trata-se da máxima concursu partes
fiunt, comum nas obrigações conjuntas e solidárias.

Igualmente, se o testador nomear certos herdeiros individualmente e outros coletivamente, a herança será
dividida em tantas quotas quantos forem os indivíduos e os grupos designados (art. 1.905). Assim, se você
disser “deixo uma parte de minha herança a João e a outra parte aos filhos de Antônio”, presume-se que 50
ficam com João e 50 com os filhos de Antônio, ou 25 para cada um dos dois filhos.

Por outro lado, dispondo o testador que não cabe ao herdeiro instituído certo e
determinado objeto, dentre os da herança, tocará ele aos herdeiros legítimos (art.
1.908). Assim, se você deixa a parte disponível na herança ao primo Antônio, exceto a
casa de praia, esta irá aos seus herdeiros legítimos. Igualmente, se forem determinadas
as quotas de cada herdeiro, e não absorverem toda a herança, o remanescente
pertencerá aos herdeiros legítimos, segundo a ordem da vocação hereditária (art. 1.906).
Assim, se você estabelece que deixa uma casa a Francisco e uma casa a Ana Amélia, a casa restante vai aos
demais herdeiros, segundo a ordem da vocação hereditária.

Se forem determinados os quinhões a uns herdeiros e não os quinhões de outros, deve-se distribuir por igual
a estes últimos o que restar, depois de completas as porções hereditárias dos primeiros (art. 1.907). Assim,
se você deixa “20% do meu dinheiro ao caseiro Pedro, uma casa ao primo José e o mais para Juliana, Carlos
e Sara”, depois de separadas as partes de Pedro e José, Juliana, Carlos e Sara herdarão o remanescente, uma
terça parte para cada um.

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8.5. Substituições

Eventualmente, o testador deixa um bem (legado) a alguém ou deixa parte de sua herança a ele e, por uma
série de razões, o receptor do legado ou da herança não pode ou não quer receber. Nesse caso, a disposição
testamentária perderia o efeito.

Haveria também a possibilidade de acréscimo entre herdeiros e legatários. Mas a deixa testamentária, por
exemplo, não permite que isso ocorra. Para impedir que a deixa testamentária perca seus efeitos, criam-se
as substituições.

A) Substituição ordinária

O testador pode substituir outra pessoa ao herdeiro ou ao legatário nomeado, para o caso de
não querer (renúncia) ou não poder (incapacidade ou ilegitimidade) aceitar a disposição,
presumindo-se que a substituição foi determinada para as duas alternativas, ainda que o testador
só a uma se refira (art. 1.947). Trata-se da substituição ordinária ou vulgar, que nada mais é do
que uma simples substituição: se o primeiro não pode, entre o segundo em seu lugar.

“Deixo minha casa a João e, se esse não quiser ou puder, fica ela a Claudio”. Ou, se eu quiser inserir uma
condição ou encargo: “deixo minha casa a João, desde que ele doe R$100.000 à Fundação que eu criei, e, se
aquele não quiser ou puder, será ele substituído por Claudio”. Nesse caso, o encargo recai também sobre
Claudio.

Diferentemente, a disposição pode ser pessoal: “deixo minha casa a João, desde que ele repasse sua coleção
de selos a Mario, e, se aquele não quiser ou puder, fica ela a Claudio”. Nesse caso, o encargo se impõe apenas
a João, de maneira pessoal, não vinculando o substituído.

B) Substituição recíproca

Já a substituição recíproca ocorre quando, ausente um herdeiro ou legatário, os outros o substituem, na


parte faltante. É a regra do art. 1.948, que estipula que também é lícito ao testador substituir muitas pessoas
por uma só, ou vice-versa, e ainda substituir com reciprocidade ou sem ela.

É possível classificar a substituição recíproca em três: I) substituição recíproca geral: todos substituem o
herdeiro ou legatário substituído; II) substituição recíproca particular: herdeiros ou legatários específicos
fazem a substituição; III) substituição coletiva: vários herdeiros sucedem o substituído (mas não todos e nem
alguns específicos) e; IV) substituição singular: apenas um substitui o herdeiro ou legatário substituído.

Se, entre muitos coerdeiros ou legatários de partes desiguais, for estabelecida substituição recíproca, a
proporção dos quinhões fixada na primeira disposição entende-se mantida na segunda (substituição). Se,
com as outras anteriormente nomeadas, for incluída mais alguma pessoa na substituição, o quinhão vago
pertence em partes iguais aos substitutos (art. 1.950).

C) Substituição fideicomissária

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Por outro lado, há a figura da substituição fideicomissária, que é uma das figuras
jurídicas mais complexas do Direito brasileiro. Primeiro, para entender essa figura é
necessário que você tenha conhecimento sólido sobre a propriedade resolúvel e
propriedade fiduciária. Caso essas noções estejam um pouco vagas, eu recomendo
fortemente que você reveja esses dois tópicos.

No fideicomisso, o testador falecido é o fideicomitente; aquele que receberá a propriedade resolúvel é o


fiduciário; e aquele que é o titular do direito eventual é o fideicomissário. O instituto remonta ao Direito
Romano, de modo a permitir que o testador fizesse deixa testamentária a quem legalmente não poderia
herdar, ou seja, era uma forma de burlar as restrições testamentárias (que eram absurdamente mais rígidas
que na contemporaneidade, frise-se), por intermédio da confiança (fidei tua committo).

Mas, qual é o objetivo do fideicomisso? É precisamente beneficiar prole eventual (futura), que, a rigor, não
pode receber herança ou legado, como visto. O grande inconveniente da deixa a prole eventual é que,
segundo o art. 1.798, a pessoa já tem de estar nascida ou concebida no momento da abertura da sucessão
(morte do testador).

O segundo problema, estabelecido no art. 1.799, inc. I, é que a prole eventual pode ser beneficiada, mas
para isso seus pais têm de estar vivos na data de abertura da sucessão (morte). Excepcionalmente, segundo
o 1.800, §4º, espera-se 2 anos da abertura da sucessão para que a pessoa seja concebida, ou, do contrário,
a herança iria para os herdeiros legítimos.

(XIX Exame da OAB) Júlia, casada com José sob o regime da comunhão universal de bens e mãe de dois
filhos, Ana e João, fez testamento no qual destinava metade da parte disponível de seus bens à constituição
de uma fundação de amparo a mulheres vítimas de violência obstétrica. Aberta a sucessão, verificou-se que
os bens destinados à constituição da fundação eram insuficientes para cumprir a finalidade pretendida por
Júlia, que, por sua vez, nada estipulou em seu testamento caso se apresentasse a hipótese de insuficiência
de bens.
Diante da situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) A disposição testamentária será nula e os bens serão distribuídos integralmente entre Ana e João.
B) O testamento será nulo e os bens serão integralmente divididos entre José, Ana e João.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que as disposições testamentárias em prol de constituição de fundação se
preservam, mediante direcionamento dos valores a outra, de mesmo fim, segundo o art. 62 do CC/2002.
A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões da alternativa A, supramencionada.

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Com a morte do fiduciário, passam, automaticamente, os bens ao fideicomissário. O fiduciário, porém,


não tem direito algum sobre os acréscimos à coisa (art. 1.956), mas o fideicomissário responde pelos
encargos da herança que ainda restarem (art. 1.957).

8.6. Reduções

O testador pode testar toda sua parte disponível, por intermédio das disposições testamentárias. De um
lado, pode ele testar menos do que poderia, ou, por outro lado, testar mais do que deveria. O que acontece
nesses casos?

Primeiro quando o testador só em parte dispuser da quota hereditária disponível, o remanescente


pertencerá aos herdeiros legítimos (art. 1.966). Assim, se você testa, de seu patrimônio de 100, 20, os outros
30 disponíveis seguirão a ordem da vocação hereditária prevista em lei, além dos 50 já reservados à legítima.

Se forem simples as reduções a serem feitas, será a redução feita nos próprios autos do
inventário, se já aberto. Se complexas, é necessário intentar ação própria de redução.

Se o testador, prevenindo o caso, dispuser que se inteirem, de preferência, certos herdeiros e


legatários, a redução será feita conforme sua vontade (art. 1.967, §2º).

Porém, o mais habitual é que o testador não tenha tanta clarividência. Nesses casos, segundo o §1º, em se
verificando excederem as disposições testamentárias a porção disponível, serão proporcionalmente
reduzidas as quotas do herdeiro ou herdeiros instituídos, até onde bastem, e, não bastando, também os
legados, na proporção do seu valor.

(XXIX Exame da OAB) Mariana e Maurílio são filhos biológicos de Aldo. Este, por sua vez, nunca escondeu
ser mais próximo de seu filho Maurílio, com quem diariamente trabalhava. Quando do falecimento de Aldo,
divorciado na época, seus filhos constataram a existência de testamento, que destinou todos os bens do
falecido exclusivamente para Maurílio. Sobre a situação narrada, assinale a afirmativa correta.
A) O testamento de Aldo deverá ser integralmente cumprido, e, por tal razão, todos os bens do autor da
herança serão transmitidos a Maurílio.
B) A disposição de última vontade é completamente nula, porque Mariana é herdeira necessária, devendo
os bens ser divididos igualmente entre os dois irmãos.
C) Deverá haver redução da disposição testamentária, respeitando-se, assim, a legítima de Mariana, herdeira
necessária, que corresponde a um quinhão de 50% da totalidade herança.
D) Deverá haver redução da disposição testamentária, respeitando a legítima de Mariana, herdeira
necessária, que corresponde a um quinhão de 25% da totalidade da herança.
Comentários

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A alternativa A está incorreta, pois Aldo só poderia dispor de metade de seu patrimônio, respeitando a
legítima, conforme o art. 1.846: “Pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens
da herança, constituindo a legítima”. Assim, metade do patrimônio de Aldo é dividido entre os dois filhos e
quanto à outra metade cumpre-se o disposto em testamento.
A alternativa B está incorreta, porque as disposições não são nulas, devendo ocorrer a redução das
disposições testamentárias, até que seja respeitada a legítima.
A alternativa C está incorreta, já que as disposições testamentárias deverão ser reduzidas até que seja
respeitada a legítima, ou seja, metade do patrimônio. Assim, metade do patrimônio é dividido entre Mariana
e Maurilio, e a outra metade fica com Maurilio, conforme o testamento. Assim, a totalidade da herança é
dividida em 25% para Mariana e 75% para Maurilio.
A alternativa D está correta, nos termos do art. 1.967: “As disposições que excederem a parte disponível
reduzir-se-ão aos limites dela, de conformidade com o disposto nos parágrafos seguintes”. Assim, deverá ser
reduzida metade para manter a legítima, ficando Mariana com metade da metade.
Gabarito: D

8.7. Revogação

O testamento pode ser revogado por outro testamento, consoante regra explícita do art. 1.969,
independentemente de qual seja ele, já que não há hierarquia entre os testamentos. Por isso,
o codicilo pode ser revogado por testamento, mas o codicilo não pode revogar testamento (o
mais pode o menos, mas não o inverso).

Posso revogar testamento público por testamento particular, ou revogar um testamento


particular um testamento por cerrado, por exemplo. Não há necessidade de se seguir a mesma forma
testamentária para se fazer a revogação, portanto. O que não se pode é “revogar” testamento por post no
Instagram.

Essa revogação pode ser total ou parcial (art. 1.970). Quando parcial ou se o testamento posterior não
contiver cláusula revogatória expressa, o anterior subsiste em tudo que não for contrário ao posterior
(parágrafo único).

(II Exame da OAB) Em 2004, Joaquim, que não tinha herdeiros necessários, lavrou um testamento
contemplando como sua herdeira universal Ana. Em 2006, arrependido, Joaquim revogou o testamento de
2004, nomeando como seu herdeiro universal Sérgio. Em 2008, Sérgio faleceu, deixando uma filha Catarina.
No mês de julho de 2010, faleceu Joaquim. O único parente vivo de Joaquim era seu irmão, Rubens. Assinale
a alternativa que indique a quem caberá a herança de Joaquim.
(A) Rubens.
(B) Catarina.

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(C) Ana.
(D) A herança será vacante.
Comentários
A alternativa A está correta, pois Rubens é o único parente sucessível de Joaquim.
A alternativa B está incorreta, porque ao nomear Sérgio, Joaquim o institui como herdeiro testamentário.
Porém, com a morte de Sérgio, extingue-se a sucessão testamentária.
A alternativa C está incorreta, já que o testamento no qual Ana foi nomeada herdeira foi revogado.
A alternativa D está incorreta, tendo em vista a existência de parente sucessível, ainda que não herdeiro
necessário.
Gabarito: A

No caso do testamento cerrado, se o testador abrir ou dilacerar, ou for aberto ou dilacerado


com seu consentimento, presume-se revogado (art. 1.972). Nesse caso, o juiz não aprecia o
testamento (art. 735 do CPC).

Porém, pode o herdeiro ou legatário afastar a presunção, provando que o rompimento ou


não foi feito pelo testador, ou feito sem seu consentimento. Por exemplo, ao descobrir que
receberia bem menos patrimônio do que esperava, um dos herdeiros dilacera o testamento cerrado, de
modo a evitar sua aplicação. Se provar essa conduta, o testamento não se considera dilacerado e,
consequentemente, continua existente, válido e eficaz.

8.8. Rompimento

Romper tem o sentido de “ignorar, revogar, tomar como não existente”. O rompimento do
testamento equivale a uma revogação ficta, ainda que revogação não seja. Tal qual mente a
revogação, o rompimento ataca o plano da existência do negócio jurídico, tornando inexistente
a disposição testamentária.

Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia quando
testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver ao testador
(art. 1.973). Isso ocorre, por exemplo, quando você testa todo seu patrimônio – não tendo herdeiros
necessários - a um sobrinho e, depois de sua morte, descobre-se que você tinha um filho havido na
juventude.

(XV Exame da OAB) Mateus não tinha mais parentes, nunca tivera descendentes e jamais havia vivido em
união estável ou em matrimônio. Há alguns anos, ele decidiu fazer um testamento e deixar todo o seu
patrimônio para seus amigos da vida toda, Marcos e Lucas. Seis meses depois da lavratura do testamento,

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por força de um exame de DNA, Mateus descobriu que tinha um filho, Alberto, 29 anos, que não conhecia,
fruto de um relacionamento fugaz ocorrido no início de sua faculdade. Mateus reconheceu a paternidade de
Alberto no Registro Civil e passou a conviver periodicamente com o filho. No mês passado, Mateus faleceu.
Sobre sua sucessão, assinale a afirmativa correta.
A) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Alberto.
B) Todo o patrimônio de Mateus caberá a Marcos e Lucas, por força do testamento.
C) Alberto terá direito à legítima, cabendo a Marcos e Lucas a divisão da quota disponível.
D) A herança de Mateus caberá igualmente aos três herdeiros.
Comentários
A alternativa A está correta, pois o art. 1.973 claramente estabelece que o testamento é “rompido” caso haja
herdeiro desconhecido, dispondo o testador de todo o seu patrimônio. Há, aqui, verdadeira presunção.
A alternativa B está incorreta, pelas mesmas razões mencionadas na alternativa A.
A alternativa C está incorreta. Cuidado, porém, pois à época muuuita gente marcou essa, imaginando que
deveria haver a preservação da legítima e a parte disponível continuaria válida.
A alternativa D está incorreta, pelas mesmas razões mencionadas na alternativa A.
Gabarito: A

(XXVII Exame da OAB) Em 2010, Juliana, sem herdeiros necessários, lavrou testamento público deixando
todos os seus bens para sua prima, Roberta. Em 2016, Juliana realizou inseminação artificial heteróloga e,
nove meses depois, nasceu Carolina. Em razão de complicações no parto, Juliana faleceu poucas horas após
o procedimento.
Sobre a sucessão de Juliana, assinale a afirmativa correta.
A) Carolina herdará todos os bens de Juliana.
B) Roberta herdará a parte disponível e Carolina, a legítima.
C) Roberta herdará todos os bens de Juliana.
D) A herança de Juliana será́ declarada jacente.
Comentários
A alternativa A está correta, uma vez que se trata de hipótese de rompimento do testamento, nos termos
do art. 1.973: “Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não o conhecia, quando
testou, rompe-se o testamento em todas as suas disposições, se esse descendente sobreviver ao testador”.
Assim, todos os bens ficarão com Carolina.
A alternativa B está incorreta, porque não há, no rompimento do testamento, a preservação de quaisquer
disposições patrimoniais feitas pelo falecido. Essa assertiva tenta fazer confusão com a preservação da
legítima em caso de invasão no testamento. Seria ela a correta se não fosse o caso de surgimento de novo
herdeiro necessário.
A alternativa C está incorreta, dado o rompimento do testamento.
A alternativa D está incorreta, já que a jacência ocorreria somente na situação em que não houvesse herdeiro
algum. No caso, há dois, um herdeiro necessário e um herdeiro testamentário.

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Gabarito: A

9. Inventário

9.1. Disposições gerais

Pelo princípio da saisine, os bens se transmitem automaticamente aos herdeiros, após a


sucessão. Como os bens, porém, permanecem num estado de indivisão (universalidade de
direito), é necessário, em geral, procedimento próprio para dividir os bens entre os herdeiros.

Surge, então, o inventário, que tem por finalidade localizar todos os bens do morto, catalogá-
los, encontrar os herdeiros, verificar as eventuais disposições de vontade e encontrar ativos e
passivos. Ao final, realiza-se a distribuição dos bens, direitos e obrigações; trata-se da partilha.

No entanto, estatui o art. 2.018, que é válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos (partilha
em vida) ou de última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros necessários. Assim,
em que pese habitualmente se pensar na partilha post mortem, nada impede que seja ela já realizada em
vida pela pessoa.

A partilha em vida pode ser feita de suas formas, a partilha-doação e a partilha-testamento. Na partilha-
doação há, em realidade, doações em adiantamento da legítima, com efeitos imediatos. Já na partilha-
testamento, a prevista no art. 2.018, o testador “faz todo o trabalho” e já minudencia a divisão dos bens,
mas os efeitos são mortis causa apenas.

O procedimento de inventário e partilha deve ser aberto dentro de dois meses a contar da abertura da
sucessão, ultimando-se nos doze meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar tais prazos, de ofício ou a
requerimento de parte (art. 611). A penalidade pelo descumprimento é variável.

É possível que o inventário seja feito por arrolamento, comum ou sumário, ou mesmo que sequer seja caso
de se inventariar ou arrolar bens. Em resumo, com o falecimento, a transferência dos bens do falecido pode
se dar:

INVENTÁRIO JUDICIAL

INVENTÁRIO EXTRAJUDICIAL

ARROLAMENTO
• Comum
• Sumário

DISPENSAS LEGAIS

9.2. Dispensas legais

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Em determinadas situações, dispensa-se qualquer procedimento de inventário, ainda que sob a forma de
arrolamento. Isso porque desnecessário é fazer tantos procedimentos em vista do parco patrimônio a
partilhar.

Assim, segundo o art. 666 do CPC/2015, independentemente de inventário ou arrolamento, realiza-se


mediante alvará judicial o pagamento dos valores previstos na Lei 6.858/1980:

Art. 1º. Os valores devidos pelos empregadores aos empregados e os montantes das contas
individuais do FGTS e do PIS-PASEP, não recebidos em vida pelos respectivos titulares,
serão pagos, em quotas iguais, aos dependentes habilitados perante a Previdência Social
ou na forma da legislação específica dos servidores civis e militares, e, na sua falta, aos
sucessores previstos na lei civil, indicados em alvará judicial, independentemente de
inventário ou arrolamento.

9.3. Arrolamento

Nem sempre é possível simplesmente dispensar os procedimentos inventariais. No entanto, nem sempre é
necessário recorrer ao inventário. Por vezes, permite-se que sejam os procedimentos atinentes à sucessão
simplificados.

O arrolamento nada mais é um inventário mais simplificado. São duas as hipóteses de arrolamento, o
arrolamento sumário e o arrolamento comum.

A. Arrolamento sumário

O arrolamento sumário pode versar sobre herança de qualquer valor (art. 659 do CPC/2015). Ou seja,
nesse caso, é irrelevante o tamanho do monte a partilhar. Quando se permite arrolamento sumário? Nas
seguintes hipóteses:

Partilha amigável, feita por herdeiros que


forem capazes, por escritura pública, termo Adjudicação dos bens do falecido, em
nos autos do inventário, ou escrito particular, havendo apenas um herdeiro
homologado pelo juiz

B. Arrolamento comum

Já o arrolamento comum serve para bens de “pequeno valor”. Ele se aplica quando o valor dos bens do
espólio for igual ou inferior a 1.000 salários mínimos. Nesse caso, cabe ao inventariante nomeado,
independentemente da assinatura de termo de compromisso, apresentar, com suas declarações, a
atribuição do valor dos bens do espólio e o plano da partilha (art. 664).

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9.4. Inventário extrajudicial

Assim, como o divórcio, o inventário também pode ser judicial ou extrajudicial. O art. 610, §1º, do CPC/2015
estabelece que se todos os herdeiros forem capazes e concordes, poderá fazer-se o inventário e a partilha
por escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário. Ou seja, exigem-se quatro
requisitos para o inventário extrajudicial:

1. TODOS OS HERDEIROS TÊM DE SER MAIORES E CAPAZES

• Art. 2.016 do CC/2002

2. TODOS DEVEM CONCORDAR COM A PARTILHA

• Art. 2.016 do CC/2002

3. TODOS OS INTERESSADOS ESTÃO REPRESENTADOS POR


ADVOGADO COMUM OU INDIVIDUAL
• Art. 610, §2º, do CPC/2015

4. NÃO PODE EXISTIR TESTAMENTO

• Art. 610, caput, do CPC/2015

9.5. Inventário judicial

Se não for possível fazer o inventário extrajudicialmente – ou mesmo se não se quiser, ainda que possível –,
resta a via judicial. Segundo o art. 1.991, desde a assinatura do compromisso até a homologação da partilha,
a administração da herança será exercida pelo inventariante.

A. Nomeação do inventariante

O primeiro passo no procedimento judicial de inventário é a nomeação do inventariante. O art. 616 do


CPC/2015 fixa quem pode requerer a abertura do inventário, num rol exemplificativo (numerus apertus)e
não taxativo (numerus clausus). Têm legitimidade concorrente para requerer a abertura de inventário:

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O cônjuge ou companheiro supérstite

O herdeiro

O legatário

O testamenteiro

O cessionário do herdeiro ou do legatário

O credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança

O Ministério Público, havendo herdeiros incapazes

A Fazenda Pública, quando tiver interesse

O administrador judicial
• Da falência do herdeiro, do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro
supérstite

Na sequência, o juiz nomeará o inventariante. A nomeação do inventariante segue a seguinte ordem:

O cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo com o outro ao tempo da
morte deste
O herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não houver cônjuge ou companheiro
sobrevivente ou se estes não puderem ser nomeados

Qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na administração do espólio

O herdeiro menor, por seu representante legal

O testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou se toda a herança estiver
distribuída em legados

O cessionário do herdeiro ou do legatário

O inventariante judicial, se houver

Pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial

demanda contra o espólio, todos os sucessores devem ser chamados a compor a lide.

O inventariante, intimado da nomeação, prestará, dentro de 5 dias, o compromisso de desempenhar o


cargo (parágrafo único do art. 617). Até que o compromisso seja prestado, o administrador provisório,
nomeado ad hoc pelo juiz, continua responsável. Incumbe ao inventariante, então (art. 618):

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Representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele

Administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência como se seus fossem

Prestar as primeiras e últimas declarações pessoalmente ou por procurador com poderes especiais

Exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os documentos relativos ao espólio

Juntar aos autos certidão do testamento, se houver

Trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído

Prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar

Requerer a declaração de insolvência

Em que pese o inventariante administrar e representar o espólio, sua representação não é plena e absoluta.
Por exemplo, entende o STJ (REsp 1.627.286) que o inventariante não pode modificar a estrutura societária
de uma sociedade anônima, da qual o falecido era sócio, em prejuízo aos sucessores. A administração
envolvida aí é a ordinária. Incumbe ainda ao inventariante, com autorização do juiz (art. 619 do CPC/2015):

Alienar bens de qualquer espécie

Transigir em juízo ou fora dele

Pagar dívidas do espólio

Fazer as despesas necessárias com a conservação e o


melhoramento dos bens do espólio

Depois de prestar compromisso, em 20 dias, o inventariante fará as primeiras declarações, das quais se
lavrará termo, no qual serão exarados (art. 620 do CPC/2015):

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O nome, estado, idade e domicílio do autor da herança, dia e lugar em que faleceu e
bem ainda se deixou testamento

O nome, estado, idade e residência dos herdeiros e, havendo cônjuge supérstite, o


regime de bens do casamento

A qualidade dos herdeiros e o grau de seu parentesco com o inventariado

A relação completa e individuada de todos os bens do espólio e dos alheios que nele
forem encontrados, descrevendo-se:
• Os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se encontram,
extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos títulos, números das
transcrições aquisitivas e ônus que os gravam;
• Os móveis, com os sinais característicos;
• Os semoventes, seu número, espécies, marcas e sinais distintivos;
• O dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata, e as pedras preciosas, declarando-se
especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
• Os títulos da dívida pública, bem como as ações, cotas e títulos de sociedade,
mencionando-se o número, o valor e a data;
• As dívidas ativas e passivas, indicando-se as datas, títulos, origem da obrigação, bem
como os nomes dos credores e dos devedores
• Direitos e ações;
• O valor corrente de cada um dos bens do espólio.

O juiz, então, determina que se proceda, segundo o art. 620, §1º, incisos, ao balanço do estabelecimento, se
o autor da herança era comerciante em nome individual e à apuração de haveres, se o autor da herança era
sócio de sociedade que não anônima.

B. Sonegação de bens

Finalizadas as primeiras declarações, entra a possibilidade de sonegação. Só se pode arguir a


sonegação bens relativamente ao inventariante depois de encerrada a descrição dos bens,
com a declaração, por ele feita, de não existirem outros por inventariar, segundo o art. 1.996.
Se a pessoa não for o inventariante, a sonegação ocorrerá depois de declarar-se no inventário
que não os possui.

Nesse caso, o herdeiro que sonegar bens da herança, não os descrevendo no inventário
quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento, no de outrem, ou que os omitir
na colação, a que os deva levar, ou que deixar de restituí-los, perderá o direito que sobre eles
lhe cabia (art. 1.992). Igualmente, como mostrarei mais adiante, a sonegação é causa de
remoção do herdeiro da inventariança, caso seja ele inventariante, em se provando a sonegação,
ou negando ele a existência dos bens, quando indicados (art. 1.993).

Para a imposição dessa pena, porém, só podem mover ação os herdeiros ou os credores da herança (art.
1.994). A sentença que se proferir na ação de sonegados, movida por qualquer dos herdeiros ou credores,
aproveita aos demais interessados (parágrafo único).

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Com o reconhecimento da sonegação, os bens sonegados voltam ao monte-mor para sobrepartilha. Porém,
se não se restituírem os bens sonegados, por já não os ter o sonegador em seu poder, pagará ele a
importância dos valores que ocultou, mais as perdas e danos, na forma do art. 1.995.

C. Remoção do inventariante

O inventariante pode ser removido de ofício ou a requerimento do interessado, em determinadas


hipóteses. Prevê o art. 622 que ele será removido se:

I. Não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações

II. Não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas infundadas ou se praticar atos
meramente protelatórios

III. Por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem dano

IV. Não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de cobrar dívidas ativas ou se não
promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos

V. Não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas

VI. Sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio

O inventariante removido deve imediatamente entregar ao substituto os bens do espólio. Caso não o faça,
será compelido mediante mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse, conforme se tratar de
bem móvel ou imóvel, sem prejuízo da multa a ser fixada pelo juiz em montante não superior a 3% do valor
dos bens inventariados, arremata o art. 625 do CPC/2015. Do contrário, continua ele na inventariança,
regularmente.

D. Últimas declarações

Posteriormente à nomeação do inventariante e às primeiras declarações por eles exaradas, o juiz manda
citar o convivente, os herdeiros e os legatários e intimar a Fazenda Pública, o Ministério Público, se houver
herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento (art. 626). Eles, no prazo de 15 dias
podem (art. 627):

I - arguir erros e omissões;

II - reclamar contra a nomeação do inventariante;

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III - contestar a qualidade de quem foi incluído no título de herdeiro.

Ouvidas as partes no prazo de 15 dias, o juiz decide, estabelece o art. 628, §1º. Julgando procedente a
impugnação referida no inc. I, o juiz mandará retificar as primeiras declarações. Se acolher o pedido, de que
trata o inc. II, nomeará outro inventariante, observada a preferência legal. Verificando que a disputa sobre a
qualidade de herdeiro, a que alude o inc. III, constitui matéria de alta indagação, remeterá a parte para os
meios ordinários e sobrestará, até o julgamento da ação, na entrega do quinhão que na partilha couber ao
herdeiro admitido, tudo na forma dos parágrafos desse artigo.

Findo o prazo, sem impugnação ou decidida a que houver sido oposta, o juiz nomeará um perito para
avaliar os bens do espólio (art. 630). Passa-se, então, à avaliação dos bens.

A avaliação é feita por perito judicial (art. 630), mas se todos os sucessores forem capazes, a
avaliação pode ser dispensada se a Fazenda Pública, intimada pessoalmente, concordar de
forma expressa com o valor atribuído (art. 633).

Na sequência, segundo o art. 635 do CPC, entregue o laudo de avaliação, o juiz mandará que
sobre ele se manifestem as partes no prazo de 15 dias. Versando a impugnação sobre o valor
dado pelo perito, o juiz a decidirá de plano, à vista do que constar dos autos (§1º); se procedente a
impugnação, determinará o juiz que o perito retifique a avaliação, observando os fundamentos da decisão
(§2º).

Aceito o laudo ou resolvidas as impugnações suscitadas a seu respeito lavra-se em seguida o termo de
últimas declarações, no qual o inventariante poderá emendar, aditar ou completar as primeiras (art. 636).
Ouvidas as partes sobre as últimas declarações no prazo comum de 15 dias, procede-se ao cálculo do imposto
(art. 637).

E. Pagamento de dívidas

Captadas as eventuais sonegações, removido o inventariante, se for o caso, feitas as primeiras


e últimas declarações, passa-se ao pagamento das dívidas do espólio. Segundo o art. 1.997 do
CC/2002, a herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido, até o limite (ultra vires
hereditatis); mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em proporção da
parte que na herança lhe coube.

Assim, antes da partilha, poderão os credores do espólio requerer ao juízo do inventário o pagamento das
dívidas vencidas e exigíveis (art. 642 do CPC/2015). A petição, acompanhada de prova literal da dívida, será
distribuída por dependência e autuada em apenso aos autos do processo de inventário (§1º).

Veja-se, ainda, que as dívidas póstumas, derivadas do espólio e dos gastos com o passamento do falecido,
têm prioridade no recebimento. As despesas funerárias, haja ou não herdeiros legítimos, sairão do monte
da herança; mas as despesas de cunho religioso, dos sobreviventes ou do falecido, só obrigarão a herança
quando ordenadas em testamento ou codicilo (art. 1.998). Trata-se, por exemplo, de uma missa requerida
pelo defunto.

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Assim, evita-se que o credor cobre as dívidas do espólio e os herdeiros e legatários aleguem que não há
patrimônio, que aqueles valores fazem parte do patrimônio do herdeiro, não do falecido. A discriminação
permite a separação dos bens do herdeiro.

Por fim, se o herdeiro for devedor ao espólio, sua dívida será partilhada igualmente entre todos, salvo se a
maioria consentir que o débito seja imputado inteiramente no quinhão do devedor (art. 2.001). Há, aqui,
compensação de dívidas, em alguma medida.

9.6. Colações

A colação objetiva igualar as legítimas dos descendentes e do convivente. Ela obriga também os donatários
que, ao tempo do falecimento do doador, já não possuírem os bens doados, evidencia o art. 2.003.

Se, computados os valores das doações feitas em adiantamento de legítima, não houver no acervo bens
suficientes para igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge, os bens assim doados serão conferidos
em espécie (colação em espécie). Se o donatário não mais estiver com o bem, computa-se-o pelo valor ao
tempo da liberalidade (colação ideal).

Veja que, pela literalidade do art. 2.002, somente os descendentes estão obrigados a trazer os
bens recebidos em vida por doação à colação, sob pena de sonegação. Ascendentes e
colaterais, portanto, estão dispensados de trazer tais bens à colação.

No entanto, pela redação do art. 2.003, o cônjuge também deve ser chamado à colação, porque
foi elevado à categoria dos herdeiros necessários. Com a declaração de inconstitucionalidade
do art. 1.790, o companheiro também passou a ter sua sucessão regida pelo art. 1.829, pelo que também
tem de ser reputado herdeiro necessário.

Consequentemente, o companheiro também é obrigado a colacionar os bens recebidos em vida do


falecido, sob pena de sonegação. Se a doação foi feita por ambos os conviventes, exige-se colação pela
metade no inventário de cada um (art. 2.012).

O valor de colação dos bens doados será aquele que lhes atribuir o ato de liberalidade, determina o art.
2.004 do CC/2002. Se do ato de doação não constar valor, nem houver estimação feita naquela época, os
bens serão conferidos na partilha pelo que então se calcular valessem ao tempo da liberalidade (§1º).As
benfeitorias acrescidas, os rendimentos, lucros, bem como os danos e perdas que eles sofrerem pertencerão
ao herdeiro donatário, não entram no valor da colação (§2).

Ocorre, porém, que o art. 639, parágrafo único, do CPC/2015, prevê que os bens a serem conferidos na
partilha serão calculados pelo valor que tiverem ao tempo da abertura da sucessão. Ou seja, o CC/2002 fala
em “tempo da liberalidade” e o CPC/2015 fala em “tempo da abertura da sucessão”.

Cuidado, porque são dispensadas da colação as doações que o doador determinar que saiam da parte
disponível, contanto que não a excedam, computado o seu valor ao tempo da doação (art. 2.005). Essa
dispensa pode ser outorgada pelo doador em testamento, ou no próprio título de liberalidade (art. 2.006),
como na escritura pública de doação.

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Igualmente, não entram na colação os gastos ordinários do ascendente com o descendente,


enquanto menor, assim como as despesas de casamento. Também não entram as despesas
feitas no interesse de sua defesa em processo-crime (art. 2.010), nem as doações
remuneratórias de serviços feitos ao ascendente (art. 2.011).

Ultrapassando a parte disponível, estão sujeitas à redução as doações (art. 2.007), calculado
o excesso com base no valor que os bens doados tinham, no momento da liberalidade (§1º), que retornará
ao monte partilhável (2º). Nesses casos, é lícito ao donatário escolher, dos bens doados, tantos quantos
bastem para perfazer a legítima e a metade disponível, entrando na partilha o excedente para ser dividido
entre os demais herdeiros (art. 640, §1º, do CPC/2015).

Sujeita-se à redução também a parte da doação feita a herdeiros necessários que exceder a legítima e mais
a quota disponível (§3º do art. 2.007). Caso sejam várias as doações realizadas em favor dos herdeiros
necessários, feitas em diferentes datas, serão elas reduzidas a partir da última, até a eliminação do excesso
(§4º).

O herdeiro que renunciou à herança ou o que dela foi excluído não se exime, pelo fato
da renúncia ou da exclusão, de conferir, para o efeito de repor a parte que extrapolava
a legítima, as liberalidades que recebeu do doador (art. 2.008). Mesmo os netos,
representando os seus pais, que sucederem aos avós, serão obrigados a trazer à colação,
ainda que não o hajam herdado, o que os pais teriam de conferir (art. 2.009).

De acordo com o entendimento jurisprudencial consolidado do STJ (REsp 254.894), o prazo prescricional para
que o herdeiro prejudicado maneje a ação de redução pela doação inoficiosa é o geral decenal. Parte da
doutrina entende que a ação seria incaducável, dado que o legislador tratou o caso como nulidade textual.

9.7. Partilha

A. Noções gerais

Pois bem, pagas as dívidas, segundo o art. 647 do CPC/2015, o juiz facultará às partes que, no prazo comum
de 15 dias, formulem o pedido de quinhão. Em seguida proferirá o despacho de deliberação da partilha,
resolvendo os pedidos das partes e designando os bens que devam constituir quinhão de cada herdeiro e
legatário.

Assim, o partidor organizará o esboço da partilha de acordo com a decisão, observando nos pagamentos a
seguinte ordem (art. 651 do CPC/2015):

I - dívidas atendidas;

II - meação do cônjuge;

III - meação disponível;

IV - quinhões hereditários, a começar pelo coerdeiro mais velho.

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Feito o esboço, dirão sobre ele as partes no prazo comum de 15 dias (art. 652). Resolvidas as reclamações,
será a partilha lançada nos autos, constando (art. 1.025):

I - de um auto de orçamento, que mencionará:

a) os nomes do autor da herança, do inventariante, do cônjuge supérstite, dos herdeiros,


dos legatários e dos credores admitidos;

b) o ativo, o passivo e o líquido partível, com as necessárias especificações;

c) o valor de cada quinhão;

II - de uma folha de pagamento para cada parte, declarando a quota a pagar-lhe, a razão
do pagamento, a relação dos bens que lhe compõem o quinhão, as características que os
individualizam e os ônus que os gravam.

Passada em julgado a sentença, receberá o herdeiro os bens que lhe tocarem e um formal de partilha, do
qual constarão as seguintes peças (art. 655 do CPC/2015):

Termo de inventariante e título de herdeiros

Avaliação dos bens que constituíram o quinhão do herdeiro

Pagamento do quinhão hereditário

Quitação dos impostos

Sentença

O formal de partilha poderá ser substituído por certidão do pagamento do quinhão hereditário, quando este
não exceder 5 vezes o salário mínimo. Nesse caso, se transcreverá nela a sentença de partilha transitada em
julgado (parágrafo único).

A partilha, ainda depois de passar em julgado a sentença, pode ser emendada nos mesmos autos do
inventário, convindo todas as partes, quando tenha havido erro de fato na descrição dos bens. O juiz, de
ofício ou a requerimento da parte, poderá, a qualquer tempo, corrigir-lhe as inexatidões materiais, por força
do art. 656.

B. Sobrepartilha

Eventualmente, bens do falecido restam impartilhados. Nesses casos, cabe a sobrepartilha. De


regra, vale à sobrepartilha o mesmo procedimento da partilha (art. 670).

Inclusive, a sobrepartilha correrá nos autos do inventário do autor da herança (parágrafo único).
São as hipóteses de sobrepartilha:

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1. OS BENS SONEGADOS
• Art. 2.022 do CC/2002

2. OS BENS DA HERANÇA QUE SE DESCOBRIREM DEPOIS DA PARTILHA


• Art. 2.022 do CC/2002

3. OS BENS LITIGIOSOS, ASSIM COMO OS DE LIQUIDAÇÃO DIFÍCIL OU MOROSA


• Art. 2.021 do CC/2002

4. OS BENS SITUADOS EM LUGAR REMOTO DO JUÍZO ONDE SE PROCESSA O INVENTÁRIO


• Art. 2.021 do CC/2002

C. Garantia dos quinhões

Julgada a partilha, fica o direito de cada um dos herdeiros circunscritos aos bens do seu quinhão (art.
2.023). Assim, acaba a indivisão dos bens do monte partilhável e não se consideram mais seus bens, de
maneira global, como um imóvel.

Prevê o art. 2.024 que os coerdeiros são reciprocamente obrigados a indenizar-se no caso de evicção dos
bens aquinhoados. Havendo convenção em contrário, dando-se a evicção por culpa do evicto, ou por fato
posterior à partilha, a garantia contra a evicção não mais subsiste (art. 2.025).

D. Invalidação

A partilha é anulável pelos vícios e defeitos que invalidam, em geral, os negócios jurídicos,
extinguindo-se, em um ano, o direito de anular a partilha (art. 2.027, parágrafo único). O
Código Civil, portanto, não restringe a anulação da partilha a qualquer tipo de vício específico.
Por isso, a única conclusão possível é de que todos os vícios do negócio jurídico permitem a
anulação da partilha.

A partilha amigável, lavrada em instrumento público, reduzida a termo nos autos do inventário
ou constante de escrito particular homologado pelo juiz, pode ser anulada, por dolo, coação,
erro essencial ou intervenção de incapaz (art. 657 do CPC/2015). Nesses casos, segundo o
parágrafo único, decai o direito de propor ação anulatória de partilha amigável em um ano,
contado este prazo, quanto a:

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COAÇÃO
• Do dia em que ela cessou

ERRO OU DOLO
• Do dia em que se realizou o ato

INCAPAZ
• Do dia em que cessar a incapacidade

Segundo o art. 658 do CPC/2015, se já julgada por sentença, a partilha é rescindível (no prazo de dois anos,
por aplicação do art. 975 do CPC/2015), do trânsito em julgado da decisão:

Nos casos mencionados de anulação da partilha

Se feita com preterição de formalidades legais

Se preteriu herdeiro ou incluiu quem não o seja

Veja que esses são casos de anulação da partilha. Segundo a doutrina majoritária e a
jurisprudência do STJ (AgRG no Ag 719.924), caso a partilha seja nula, o prazo prescricional é
de 10 anos (art. 205 do CC/2002).

O entendimento é criticável, uma vez que se trata de ação (des)constitutiva, a atrair prazo
decadencial, se estiver o prazo para desconstituição fixado em lei. Como não a ação
desconstitutiva, no caso, não tem prazo fixado, ela é incaducável, na esteira do critério científico de Agnelo
Amorim Filho.

Por fim, caso determinado herdeiro não tenha participado do inventário e da partilha, pode recorrer à
ação de petição de herança, de caráter reivindicatório e com prazo prescricional de 10 anos (art. 205 do
CC/2002), conforme entendimento jurisprudencial consolidado. Tecnicamente falando, não seria o caso de
invalidação da partilha propriamente dito, cujo prazo seria de dois anos, como dá a entender o art. 658, inc.
III, do CPC/2015, mas de petição de herança, cujo prazo é de dez anos.

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RESUMO DE FINAL DE AULA


Sucessão geral

➢ GENERALIDADES
o A transmissão da herança é automática, por força do princípio da saisine
o O foro competente para os procedimentos que envolvem a transmissão patrimonial é o
último domicílio do falecido
➢ HERANÇA
o Se morre a pessoa sem testamento, transmite a herança aos herdeiros legítimos
o Se houver herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança
▪ Essa metade, que pertence aos herdeiros necessários, constitui a chamada legítima
▪ O herdeiro necessário que receber do testador parte disponível da herança, ou algum
legado, não perde o direito à legítima
▪ A legítima se calcula sobre o valor dos bens existentes na abertura da sucessão,
abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos
bens sujeitos a colação
▪ São herdeiros necessários: os descendentes, os ascendentes e o cônjuge
▪ Os colaterais não são herdeiros necessários (incluindo irmãos)
▪ Para excluir da sucessão os herdeiros colaterais basta que o testador disponha de seu
patrimônio sem os contemplar
o Se houver justa causa, declarada no testamento, pode o testador estabelecer cláusula de
inalienabilidade, impenhorabilidade e de incomunicabilidade
▪ Se o falecido insere cláusula de inalienabilidade, ela implica impenhorabilidade e
incomunicabilidade, automaticamente
▪ O inverso não vale, pois, se há apenas incomunicabilidade, o bem pode ser penhorado
e alienado
▪ Mediante autorização judicial e havendo justa causa, podem ser alienados os bens
gravados, convertendo-se o produto em outros bens, que ficarão sub-rogados
o Herança jacente: se a pessoa morre sem deixar testamento e sem deixar herdeiros, ou, tendo
herdeiros, eles renunciam

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▪ Depois de arrecadados, ficam sob a guarda e administração de um curador, até a sua


entrega ao sucessor devidamente habilitado ou à declaração de sua vacância
▪ Nesse caso, vai para o Estado
o Herdam-se dívidas até os limites do patrimônio recebido na herança
➢ ADMINISTRAÇÃO
o Como universalidade, a herança defere-se como um todo unitário, pelo que o direito dos
coerdeiros, quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível
o A herança, quanto à propriedade e posse, regula-se pelas normas relativas ao condomínio
o O herdeiro pode negociar sua herança, ainda não finalizado o inventário. Cuidado, porém,
pois não pode ser negociada a herança de pessoa viva
▪ O coerdeiro pode ceder a sua quota a pessoa estranha à sucessão, desde que os outros
coerdeiros não queiram
▪ Diferentemente do condomínio, porém, se forem vários os coerdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das respectivas
quotas hereditárias
▪ Deve-se sempre requisitar ao juiz para que determinado bem componente do acervo
hereditário seja negociado
o A administração da herança caberá, em ordem, sucessivamente:
▪ Ao cônjuge ou companheiro
▪ Ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver mais de um
nessas condições, ao mais velho
▪ Ao testamenteiro
▪ A pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz

Aceitação e renúncia

➢ GENERALIDADES
o Abre-se a sucessão e os herdeiros, então, têm duas escolhas: aceitar ou renunciar à herança
▪ Se aceitar, torna-se definitiva a transmissão da herança ao herdeiro, desde a abertura
da sucessão
▪ Se renunciar, a transmissão tem-se por não verificada

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▪ Tanto a aceitação quanto a renúncia da herança são atos irrevogáveis


o Como se faz a aceitação?
▪ Será ela tácita quando resultar de atos próprios da qualidade de herdeiro
• Determinados atos oficiosos (como o funeral do finado, os meramente
conservatórios, ou os de administração e guarda provisória) e a cessão
gratuita, pura e simples, da herança, aos demais coerdeiros, não exprimem
aceitação de herança
▪ Será expressa a aceitação quando feita por declaração escrita
o Como se faz a renúncia?
▪ Deve constar expressamente de instrumento público ou termo judicial
▪ Não podendo ser feita por instrumento particular ou verbalmente
▪ Será ineficaz a renúncia se prejudicar os credores do herdeiro
• Nesse caso, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la em nome do
renunciante
• Pagas as dívidas do renunciante, prevalece a renúncia quanto ao remanescente
o A aceitação e a renúncia devem ser integrais, não se as aceitando parcialmente, sob condição
ou a termo
▪ Se o herdeiro morre antes de declarar se aceita a herança, o poder de aceitar passa
aos herdeiros
▪ Os chamados à sucessão do herdeiro falecido antes da aceitação, desde que
concordem em receber a segunda herança, poderão aceitar ou renunciar a primeira
▪ Pode-se, porém, aceitar um legado (nem individualizado estabelecido por testamento)
e renunciar à herança ou vice-versa
o Renunciando, a parte do renunciante acresce à dos outros herdeiros da mesma classe e,
sendo ele o único desta, devolve-se aos da subsequente
▪ Exceção: quando há um único herdeiro numa classe e ele renunciar ou se todos os
outros da mesma classe renunciarem à herança, podem os filhos deles vir à sucessão,
por direito próprio, e por cabeça

Exclusão da herança

o Podem ser excluídos da sucessão tanto os herdeiros quanto os legatários

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o O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou à administração dos bens que a seus
sucessores couberem na herança, nem à sucessão eventual desses bens
o O excluído ou que se pretende excluir da sucessão pode suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autêntico
▪ Se não houver reabilitação expressa do indigno, mas o testador, ao testar, já conhecia
a causa da indignidade e mesmo assim o contempla no testamento, o indigno pode
suceder no limite da disposição testamentária
➢ INDIGNIDADE
o Cabe tanto para os herdeiros quanto para os legatários
o Quando? Aqueles que
▪ Houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro,
ascendente ou descendente
▪ Houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro
▪ Por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de
dispor livremente de seus bens por ato de última vontade
o A indignidade depende sempre de decisão judicial declaratória
o O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se em 4 anos
▪ Esse prazo é contado da abertura da sucessão
o Os efeitos da exclusão são pessoais, preservando os direitos dos herdeiros do herdeiro
excluído
▪ Assim, os descendentes do herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes
da abertura da sucessão
➢ DESERDAÇÃO
o Cabe somente para os herdeiros
o A deserdação pode ocorrer previamente (testamento) ou posteriormente à morte (ação
declaratória de indignidade movida pelo herdeiro), diferentemente da indignidade pura e
simples, que só ocorre por sentença
▪ Incumbe ao herdeiro instituído, ou àquele a quem aproveite a deserdação, provar a
veracidade da causa alegada pelo testador

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▪ O direito de provar a causa da deserdação extingue-se no prazo de 4 anos, a contar da


data da abertura do testamento
o Quando?
▪ Deserdação dos herdeiros necessários por indignidade, pelas causas vistas acima
▪ Deserdação dos descendentes por seus ascendentes
• Ofensa física
• Injúria grave
• Relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto
• Desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade
• Homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o ascendente, seu
cônjuge/companheiro, ascendente ou descendente
• Acusação caluniosa em juízo contra o falecido ou se cometer crime contra a
honra do morto ou de seu cônjuge/companheiro
• Impedimento ao autor da herança de dispor livremente de seus bens por
testamento, mediante violência ou meios fraudulentos
▪ Deserdação dos ascendentes pelos descendentes
• Ofensa física
• Injúria grave
• Relações ilícitas com a cônjuge/companheiro(a) do filho/neto
• Desamparo do filho/neto com deficiência mental ou grave enfermidade
• Homicídio doloso, consumado ou tentado, contra o descendente, seu
cônjuge/companheiro, ascendente ou descendente
• Acusação caluniosa em juízo contra o falecido ou se cometer crime contra a
honra do morto ou de seu cônjuge/companheiro
• Impedimento ao autor da herança de dispor livremente de seus bens por
testamento, mediante violência ou meios fraudulentos

Sucessão do companheiro/cônjuge

➢ GENERALIDADES

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o ATENÇÃO Á DECISÃO DO STF QUE JULGOU INCONSTITUCIONAL O ART. 1.790 DO CC/2002.


A PARTIR DE AGORA, A SUCESSÃO DO COMPANHEIRO E DO CÔNJUGE SÃO IDÊNTICAS. Por
isso, adiante, quando eu mencionar “cônjuge”, entenda “cônjuge/companheiro”, OK?
o Você não pode confundir o direito à meação com o direito à sucessão
o A meação não faz parte do patrimônio do morto; como os casais têm um patrimônio individual
e um patrimônio comum, a meação diz respeito apenas ao patrimônio comum
o Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge/companheiro sobrevivente se, ao
tempo da morte do outro, não estavam separados de fato há mais de dois anos, salvo prova,
neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente
o Qualquer que seja o regime de bens, será assegurado ao cônjuge/companheiro sobrevivente
o direito real de habitação relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde
que seja o único daquela natureza a inventariar, sem prejuízo da participação que lhe caiba
na herança
➢ CONCORRÊNCIA
o Cônjuge NÃO herda se era casado/unido com o falecido nos seguintes regimes bens
▪ Regime da comunhão universal de bens
▪ Regime da separação obrigatória/legal de bens
▪ Regime da comunhão parcial sem bens particulares do falecido
o Cônjuge HERDA se era casado/unido com o falecido nos seguintes regimes bens
▪ Regime da separação convencional de bens
▪ Regime da comunhão parcial com bens particulares do falecido
• Nesse caso, herda apenas os bens particulares, sendo que os bens comuns (da
meação) são divididos entre os demais herdeiros, segundo o STJ
o Quando herda, concorre segundo as seguintes regras
▪ O cônjuge sobrevivente/companheiro concorre com os descendentes, como regra
geral
• Essa concorrência é em igualdade
• No caso de o cônjuge/companheiro ser também ascendente desses
descendentes, faz jus a quinhão igual
• Sua quota jamais pode ser inferior à quarta parte da herança
▪ Concorrendo com ascendentes, no caso de não possuírem filhos, a resposta depende
de quem são os ascendentes
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• Se forem ascendentes em 1º grau, ao cônjuge tocará 33% da herança


• Se for apenas um ascendente de 1º grau vivo ou se ambos já forem mortos,
havendo ascendente de grau maior apenas, cabe a ele a 50% da herança
▪ Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao
cônjuge/companheiro sobrevivente

Ordem da vocação sucessória

➢ PODEM SUCEDER
o As pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão
o Os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao
abrir-se a sucessão
o As pessoas jurídicas
o As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de fundação
➢ NÃO PODEM SUCEDER
o A pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro, ou os seus
ascendentes e irmãos
o As testemunhas do testamento
o O concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do
cônjuge há mais de cinco anos
▪ É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for do testador
o O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como
o que fizer ou aprovar o testamento
➢ ORDEM
o A ordem da vocação hereditária é a seguinte
▪ Descendentes, em concorrência com o cônjuge/companheiro, salvo nos regimes de
bens que mencionamos acima
▪ Ascendentes, em concorrência com o cônjuge/companheiro
▪ Cônjuge sobrevivente
• Se o cônjuge/companheiro for casado/unido sob um regime de bens no qual
não herda (comunhão universal de bens, separação obrigatória/legal de bens,
comunhão parcial sem bens particulares do falecido), ele se torna herdeiro

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universal se o falecido não tem ascendentes nem descendentes, mas só


colaterais
▪ Colaterais
o A ordem é excludente em relação às demais classes
▪ Se houver descendentes, todos os ascendentes são excluídos
▪ Não havendo descendentes, chamam-se os ascendentes, excluindo-se os colaterais
▪ Não havendo descendentes nem ascendentes, chama-se o cônjuge/companheiro,
isoladamente, excluindo-se os colaterais
▪ Apenas se não houver descendente, ascendente, cônjuge/companheiro é que os
colaterais são chamados (até o 4º grau)
o Dentro de cada classe, se houver um herdeiro mais próximo ele exclui os mais remotos
▪ Se há pais, excluem-se os avós
▪ Se há filhos, excluem-se os netos
• Exceção: direito de representação
o Situação em que a lei chama certos parentes do falecido a suceder em
todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse
o Só ocorre na linha reta descendente. Não existe direito de
representação entre os ascendentes, pelo que o ascendente de grau
mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas
o Se pré-morto um dos filhos, os netos do falecido herdam por estirpe
(não por cabeça, como herdaria o filho do falecido)
o O renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na
sucessão de outra
▪ Na classe dos colaterais, igualmente, os mais próximos excluem os mais remotos
• Exceção: direito de representação concedido aos sobrinhos no caso de tios
(irmãos do falecido) pré-mortos
• Se não tenho irmãos, mas tenho sobrinhos e tios, há uma igualdade de graus,
já que os sobrinhos e os tios são ambos colaterais de 3º grau. Nesse caso, a
preferência é dos sobrinhos, em detrimento dos tios
▪ Concorrendo à herança do falecido irmãos bilaterais (filhos do mesmo pai e mãe) com
irmãos unilaterais (filhos apenas do mesmo pai ou apenas da mesma mãe, ou “meios-
irmãos”), os unilaterais herdarão metade do que cada bilateral herdar
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• Se não houver irmão bilateral, herdarão, em partes iguais, os unilaterais


• A mesma regra vale para sobrinhos de irmãos pré-mortos
o Petição de herança
▪ Aquele que se julgar preterido poderá demandar a sua admissão no inventário,
requerendo-o antes da partilha
o Sem nenhum dos parentes sucessíveis, torna-se a herança jacente

Testamento

➢ GENERALIDADES
o Ato personalíssimo, revogável a qualquer tempo
▪ Pode testar desde os 16 anos, contrariamente à regra geral de capacidade relativa
o São proibidos os testamentos conjuntivos
▪ Simultâneo
▪ Recíproco
▪ Correspectivo
o O que o testador pode dispor?
▪ De seus bens, desde que respeitada a legítima dos herdeiros necessários, se houver
• Se não tiver herdeiros necessários, pode dispor da totalidade dos bens
o Sobrevindo descendente sucessível ao testador, que não o tinha ou não
o conhecia quando testou, ignora-se o testamento em todas as suas
disposições, se esse descendente sobreviver ao testador
o Ignora-se o testamento feito na ignorância de existirem outros
herdeiros necessários
o Cuidado! Essas duas hipóteses só se aplicam caso o testador tiver
testado todo o seu patrimônio. Ao contrário, não se rompe o
testamento se o testador dispuser da sua metade
• Se tiver, deve respeitar a legítima
▪ Pode inserir disposições testamentárias de caráter não patrimonial
o Extingue-se em 5 anos o direito de impugnar a validade do testamento, contado o prazo da
data do seu registro

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o Nos casos de erro, dolo ou coação, que são vícios que tornam o ato anulável, o prazo para
anular a disposição específica ou o testamento todo será de 4 anos, contados da ciência do
vício
o A ineficácia de uma disposição testamentária importa a das outras que, sem aquela, não
teriam sido determinadas pelo testador
➢ TESTAMENTO PÚBLICO
o Requisitos
▪ Ser escrito por tabelião ou por seu substituto legal em seu livro de notas, de acordo
com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta, notas ou
apontamentos
▪ Lavrado o instrumento, ser lido em voz alta pelo tabelião ao testador e a duas
testemunhas, a um só tempo; ou pelo testador, se o quiser, na presença destas e do
oficial
▪ Ser o instrumento, em seguida à leitura, assinado pelo testador, pelas testemunhas e
pelo tabelião
o Se o testador não souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o
declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das testemunhas
o O indivíduo inteiramente surdo, sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber,
designará quem o leia em seu lugar, presentes as testemunhas
o Ao cego só se permite o testamento público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma
pelo tabelião ou por seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento
o O testamento público não pode ser escrito em língua estrangeira
➢ TESTAMENTO CERRADO
o Requisitos
▪ Que o testador o entregue ao tabelião em presença de duas testemunhas
▪ Que o testador declare que aquele é o seu testamento e quer que seja aprovado
▪ Que o tabelião lavre, desde logo, o auto de aprovação, na presença de duas
testemunhas, e o leia, em seguida, ao testador e testemunhas
▪ Que o auto de aprovação seja assinado pelo tabelião, pelas testemunhas e pelo
testador
o Escrito pelo testador, ou por outra pessoa, a seu rogo, e por aquele assinado

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o Se o tabelião tiver escrito o testamento a rogo do testador, poderá, não obstante, aprová-lo
o O auto de aprovação imediatamente depois da última palavra do testador, declarando, sob
sua fé, que o testador lhe entregou para ser aprovado na presença das testemunhas. Na
sequência, o tabelião vai fechar e costurar o instrumento aprovado
o Não pode dispor de seus bens em testamento cerrado quem não saiba ou não possa ler
o Ao contrário, pode fazer testamento cerrado o surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e
o assine de sua mão
o Se o testador abrir ou dilacerar o testamento, ou for aberto ou dilacerado com seu
consentimento, haver-se-á como revogado
▪ Pode o herdeiro ou legatário afastar a presunção, provando que o rompimento ou não
foi feito pelo testador, ou feito sem seu consentimento
➢ TESTAMENTO PARTICULAR
o Pode ser escrito de próprio punho ou mediante processo mecânico, não havendo necessidade
de qualquer intervenção de cartório ou judicial
▪ Se escrito de próprio punho, são requisitos essenciais à sua validade seja lido e
assinado por quem o escreveu, na presença de pelo menos 3 testemunhas, que o
devem subscrever
▪ Se elaborado por processo mecânico, não pode conter rasuras ou espaços em branco,
devendo ser assinado pelo testador, depois de o ter lido na presença de pelo menos 3
testemunhas, que o subscreverão
o Pode ser escrito em língua estrangeira, contanto que as testemunhas a compreendam
o Se as testemunhas forem contestes sobre o fato da disposição, ou, ao menos, sobre a sua
leitura perante elas, e se reconhecerem as próprias assinaturas, assim como a do testador, o
testamento será confirmado
o Se faltarem testemunhas, por morte ou ausência, e se pelo menos uma delas o reconhecer, o
testamento poderá ser confirmado, se, a critério do juiz, houver prova suficiente de sua
veracidade
o Excepcionalmente, em circunstâncias declaradas na cédula, o testamento particular de
próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas, poderá ser confirmado, a critério
do juiz
➢ CODICILO

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o Disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e
determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como legar
móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal
o Pelo codicilo, pode-se nomear ou substituir testamenteiros
o Testamento pode revogar codicilo, mas codicilo não pode revogar testamento
➢ LEGADOS
o O legado é sempre determinado por testamento. Isso porque, ao contrário da herança, que
pode ser indicada genericamente, o legado é uma determinação dentro do acervo transmitido
pelo falecido, especificamente
o O legatário, por isso, é sucessor a título singular, ao contrário do herdeiro, que é sucessor a
título universal. O legado é, assim, muito semelhante à doação, cuja diferença reside apenas
no título de ingresso (entre vivos ou mortis causa).

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