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Titulo: Estudo de Prevalência de Parasitas Intestinais nas crianças dos 2 a 12 anos da

Comunidade de Rincão – Santa Catarina.

Autor: MARTINS1, Carlos M.C., Co-Autores PIRES2, Cecílio M., DIAS3, Luís M. A.

1 – Licenciado em Análises Clínicas e Saúde Pública, Universidade Jean Piaget de Cabo Verde,
2 – Licenciado em Biologia C&T, Director técnico do Laboratório de Análises Clínicas do
Hospital Regional Santiago Norte Dr. Santa Rita Vieira, 3 – Licenciado em Medicina, Clínico
Geral, Hospital Agostinho Neto
Tel. 2651950/2657118 E-mail: tcharles6@hotmail.com

RESUMO

Os parasitas intestinais continuam a ser um problema de saúde pública em Cabo Verde,


principalmente nas comunidades onde as condições socioeconómicas e ambientais favorecem o
desenvolvimento destes. O presente trabalho teve como objetivo, determinar a prevalência das
parasitoses intestinais que afetam as crianças dos 2 aos 12 anos da comunidade de Rincão –
Santa Catarina, na ilha de Santiago, Cabo Verde e aprovado pelo Comité Nacional de Ética para
a Pesquisa em Saúde (CNEPS). Os trabalhos de campo decorreram entre Junho a Outubro de
2011. As amostras foram analisadas na Unidade Sanitária Base de Rincão e no Laboratório
análises Clínica do Hospital Regional Santiago Norte.
Das 251 amostras avaliadas, 94,8% tinham amostras de fezes positivos. Os parasitas intestinais
encontrados, foram Endolimax nana 25%, Entamoeba coli 22%, Entamoeba Histolytica 18%,
Giardia sp 14,7%, Hymenolepis nana 7,7%, Ascaris sp 2,1%, Taenia sp 1,5%, Trichuris sp
0,9% e Enterobius sp 0,8%. Houve 72,1% de casos de Poliparasitismo. Verificou-se uma alta
percentagem de parasitas indicadores de baixas condições de saneamento e higiene na
comunidade em estudo, bem como parasitas patogénicas.
De acordo com os resultados obtidos nesse estudo, existe uma alta prevalência de parasitas
intestinais nas crianças da comunidade em estudo, havendo necessidade de expandir estudos do
género a outras comunidades do país, apostando na educação sanitária e campanhas de
desparasitação. A alta taxa de anemia encontrada, é um aspeto que deverá ser continuamente
estudada, de forma a determinar as causas relacionadas com a alta prevalência de anemia no
país, que segundo a classificação da magnitude da anemia da OMS é grave.
Palavras-chave: Parasitas intestinais, Rincão, prevalência, CNEPS, anemia.

INTRODUÇÃO

As parasitoses intestinais constituem um grave problema de saúde pública, sobretudo


nos países em desenvolvimento, sendo uma das principais causas de morbimortalidade
no Mundo (NEVES, 2005).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS/WHO), mais de 2 bilhões de pessoas
são infetados por protozoários intestinais e helmintos no mundo (OMS, 2010).
Estima-se que mais de 10% da população mundial esteja infetada por E. histolytica E.
dispar, sendo a ocorrência estimada em 50 milhões de casos invasivos/ano. Amebas
como Entamoeba coli, Endolimax nana e Iodamoeba butschilii, são encontradas nas
fezes com frequência em todos os países do mundo, apesar de não serem consideraras
patogénicas ao homem em condições normais, devem ser identificadas nas análises
parasitológico das fezes por serem indicadores do nível de saneamento (OMS, 2010).
Dos helmintos intestinais mais frequentes no mundo e que causam maiores problemas
de saúde pública, destacam-se Ascaris lumbricoides (1 bilhão), Trichuris trichiura (795
milhões) e Ancylostoma sp. (740 milhões). As maiores taxas de infeção e transmissão
por helmintos ocorrem na África subsaariana, América Latina, China e leste da Ásia
(OMS, 2010).
Os parasitas intestinais correspondem a uma das principais causas de má nutrição
infantil, podendo levar ao retardamento no desenvolvimento físico e mental das crianças
que na idade pré-escolar e escolar estão mais sujeitas às infeções parasitárias, por não
possuírem ainda consciência dos hábitos corretos de higiene e por terem o sistema
imune ainda em formação (GRAY et al., 1994).
Este trabalho teve como objetivo determinar a prevalência das parasitoses intestinais
que afetam as crianças da comunidade de Rincão/Santa Catarina, Ilha de Santiago, Cabo
Verde.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo foi realizado na comunidade de Rincão (Santa Catarina de Santiago), entre
Junho a Setembro de 2011, a população alvo foram as crianças dos 2 aos 12 anos de
idade, as amostras recolhidas foram analisadas no Laboratório de Análises Clínicas do
Hospital Regional Santiago Norte. Foi aplicado um inquérito epidemiológico
padronizado, incluindo o termo de consentimento informado assinada pelos
pais/encarregados de educação bem como a avaliação Clínica das crianças por um
médico.
Para a pesquisa dos parasitas intestinais usou-se as técnicas de concentração de Willis,
Ritchie Modificado e o exame direto, bem como a realização de alguns exames
complementares (hemograma completo – Sysmex KX 21N) para a correlação de
algumas variáveis. Os dados obtidos foram organizados numa base de dados e
analisados usando os programas estatísticos Excel e SPSS versão 17. Para a correlação
entre as variáveis usou-se o teste X2 (Qui quadrado), com nível significância 95%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram observadas 251 crianças, sendo 128 (51%) eram do sexo feminino e 123 (49%)
masculino, 107 (43%) tinham a idade compreendida entre 2 a 5 anos, 74 (30%) entre 6-
9 anos e 70 (27%) entre os 10 a 12 anos.
Das 251 amostras avaliadas, 94,8% tinham amostras de fezes positivos, estes resultados
poderão ser explicadas pelas significativas dificuldades socioeconómicas. Os parasitas
intestinais encontrados, foram Endolimax nana 25%, Entamoeba coli 22%, Entamoeba
Histolytica 18%, Giardia sp 14,7%, Hymenolepis nana 7,7%, Ascaris sp 2,1%, Taenia
sp 1,5%, Trichuris sp 0,9% e Enterobius sp 0,8%, resultados estes que coadunam com
estudos realizados por Pires et al., 2011.
Gráfico 1: Prevalência dos principais parasitas encontrados.

25,0%
25,0% Prevalência de Parasitas intestinais
22,0%

20,0% 18,0%
14,7%
15,0%
Percentagem

10,0% 7,7%

5,0% 2,5% 2,5% 2,1%


1,6% 1,5% 0,9% 0,8%
0,7%
0,0%

Fonte própria, 2011.

Cerca de 181 (72%) crianças estavam poli-parasitadas, dos quais 98 (54%) eram do
sexo feminino e 83 (46%) eram masculino, com maior associação entre as comensais
E.nana e E.coli (50%), resultado vai ao encontro de estudo realizado por Pires et al.,
2011.

Tabela 1: Frequência de amostras de fezes positivas e negativas em relação a patogenicidade


das parasitas encontradas nas 251 crianças.

Análise parasitológico de fezes


Patogenicidade Total
Positivo Negativo

Patogénico 181 (72,1%) __ 181(72,1%)

Não patogénico 57 (22,7%) __ 61 (22,7%)

Negativo __ 13 (5,2%) 13(5,2%)

Total 238 (94,8%) 13(5,2%) 251 (100%)

Fonte: Elaboração própria, 2011.

Tendo em conta a patogenicidade dos parasitas intestinais verificou-se que 72,1% das
crianças estavam infetadas por um parasita patogénico, 22,7% infetado por parasita não
patogénica e 5,2% das crianças estavam com amostras de fezes negativas. Dentre os
parasitas intestinais patogénica destaca-se a E. histolytica com 40,5% dos casos, 30,6
Giardia sp, 17,2%, 5,5% C. parvum, H. nana, 4,4%; Ascaris sp, 3,3% Taenia sp, 2,2%
Trichuris sp e 1,8% Enterobius sp.
Gráfico 2: Frequência de amostras de fezes positivas e negativas em relação as queixas e sintomas.

Fonte: Elaboração própria, 2011. Observação: Constatou-se correlação estatisticamente entre queixas e
sintomas e presença de parasitas, (X2= 21,804; p=0,000).
Dos sintomas clínicos apresentados, 59,5% das crianças referiam cólicas abdominais,
51% referiam prurido anal, 45% episódios de diarreia, 37% anorexia, e ainda sintomas
clínicos como vómitos 33%, emagrecimento 25%, gases 13%, bruxismo 9%,
convulsão8%, leucorreia vaginal 12%, prolapso rectal e edema 3%, resultados que vão
ao encontro de estudo realizado por Silva et al., 2010.

Os resultados mostraram que, das 251 crianças, 55% usavam antiparasitário


convencional mas estavam infetados por parasitas intestinais, dados explicados pelo
ciclo de contaminação ocorrida nas crianças dessa comunidade, resultados que
coadunam com estudo realizados por Silva et al., 2010, onde mostraram que crianças
com tratamentos por antiparasitário revelaram infeção pós-tratamento sobretudo por
Giardia lamblia.

Tabela 2: Frequência de amostras positivas e negativos em relação ao estado de anemia.

Análise parasitológico de fezes

Estado de Anemia Total


Positivo Negativa
(n=251)

Não 109 (43,4%) 9 (3,6%) 118 (47%)

Sim 129 (51,4%) 4 (1,6%) 133 (53%)

Total 238 (94,8) 13 (5,2%) 251 (100%)

Fonte: Elaboração própria, 2011. Observação: Não verificou-se relação estatisticamente


significativa entre o estado de anemia e a presença de parasitas, (X2= 2,717; p=0,099).
Analisando o estado de anemia, verificou-se que 133 (53%) das crianças eram
anémicas, no qual 129 (51,4%) tinham amostras de fezes positivas. Segundo Cimerman
et Cimerman, 2001, Neves, 2005, alguns parasitas atingem o homem, atuando por
vários mecanismos, desencadeando um estado de anemia.
CONCLUSÕES

Há uma alta prevalência de parasitas intestinais (94,8%) nas crianças dos 2 a 12 anos da
comunidade de Rincão. Verificou-se poliparasitismo em 72,1% das amostras de fezes
analisadas, com destaque para a associação Endolimax nana e Entamoeba coli. Das
crianças que participaram no estudo 72,1% estavam infetados por parasitas patogénicas.

Existe uma relação estatisticamente significativa entre queixas ou sintomas e presença


de parasitas. Não havendo uma relação estatisticamente significativa entre anemia e
presença de parasitas intestinais, esta deve ser alvo de investigação, sendo que as
variáveis socioeconómicas e as práticas alimentares devem ser investigadas para se
obter uma melhor compreensão dos fatores envolvidos na co-morbidade da anemia
ferropénica e parasitas intestinais.

FINANCIAMENTO E COLABORAÇÃO

Este trabalho foi totalmente financiado pelo Região Sanitária Santiago Norte e teve a
colaboração do HRSN, Delegacia de saúde de Assomada e da USB de Rincão.

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