Você está na página 1de 1

HomeBlogsCaçadores de NotíciasMatéria

A tatuagem
conquistou o
brasileiro. Mas
signi!cados
exigem
cuidados!
Escrito por Maria Luiza Piccoli
17/01/19 07h05 - Atualizado: 17/01/19 15h35

Jorge Luiz Werbitzki, perito forense que por 32 anos


acumulou experiência em analisar tatuagens de cadeia.
Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

De um lado a livre expressão. De


outro o estigma. Enquanto para
muitos as tatuagens são vistas
como arte, para outros –
principalmente os mais tradicionais
– os desenhos estão associados à
marginalidade. Apesar da
polêmica, o “boom” na procura por
estúdios regularizados nos últimos
cinco anos mostra que as tattoos,
de fato, caíram no gosto (e na pele)
do brasileiro.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Segundo o instituto alemão Dalia


que, no ano passado, ouviu 9 mil
internautas de 18 nacionalidades, o
Brasil ocupa o oitavo lugar no
ranking mundial de países onde
mais se fazem tatuagens. Se você
faz parte do grupo dos “pintados”
ou pretende entrar para o time, a
Tribuna dá uma de vovó e faz o
alerta: cuidado com o desenho ou
símbolo que escolhe. A!nal, como
em tudo na vida, nem sempre as
coisas são o que parecem e, sem
querer, você pode acabar
marcando a pele com uma !gura
que pode vir a lhe trazer
problemas.

Para te ajudar a escolher com


sabedoria e não acabar numa fria
por conta da arte que, para você
pode parecer inofensiva, a Tribuna
conversou com o perito
prosopográ!co, e estudioso da
simbologia de cadeia, Jorge Luiz
Werbitzki que, por 32 anos
dedicou-se à perícia e à arte
forense. Ele esclarece que, por trás
daquela delicada e pací!ca carpa
oriental ou do simpático
personagem “Taz”, da turma do
Pernalonga, podem existir
signi!cados mais sombrios do que
se imagina.

Prática milenar de modi!cação


corporal, já na Grécia Antiga (V
a.C.), a tatuagem servia como
forma de identi!cação de
prisioneiros de guerra e escravos.
Entre as culturas egípcias, entre
4.000 e 2.000 a.C., a marcação
de!nitiva da pela era atrelada à
religião. Símbolo de identi!cação
tribal desde os primeiros registros
realizados por exploradores
europeus em comunidades
orientais, a prática da tatuagem
difundiu-se pelas civilizações
ocidentais no período das grandes
navegações, chegando a ser
adotada o!cialmente pelo governo
inglês como selo para criminosos,
em 1879: estigma que, até hoje,
representa a visão de boa parte da
população mundial em relação à
técnica. A!nal, quem nunca ouviu
da vovó que “tatuagem é coisa de
bandido”?

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Independente das divergências, a


tatuagem caiu no gosto do
brasileiro. Segundo os dados do
levantamento do instituto Dalia,
37% da população do país é
tatuada. No ranking mundial
liderado por Itália, Suécia e Estado
Unidos (nesta ordem) – ocupamos
o oitavo lugar entre as nações mais
adeptas da tattoo. Vantagem para
os pro!ssionais do ramo que,
segundo o Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae), cresceu quase
25% entre 2016 e 2017.

+ Fique esperto! Perdeu as últimas


notícias de hoje sobre segurança,
esportes, celebridades e o resumo
das novelas? Clique agora e se
atualize com a Tribuna do Paraná!

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Grandes, pequenas, discretas,


clássicas ou coloridas. As
possibilidades são in!nitas. Se você
começou 2019 já pensando na sua
próxima, ou primeira tatuagem,
vale destacar que é bom prestar
bastante atenção antes de
escolher o desenho. Símbolo da
delimitação de grupos, não é raro
que as tattoos guardem ligação
com ideologias de pensamento ou
comportamento, estando muitas
vezes atreladas a códigos de
linguagem, como acontece dentro
dos presídios e entre membros de
facções criminosas. “Na cadeia a
tatuagem tem diversas funções.
Desde identi!car a qual grupo
determinado detento pertence até
seu nível de periculosidade ou
comprometimento com a facção.
As tatuagens delimitam grupos e
expressam aquilo que sentem,
pensam e como agem”, explica
Werbitzki.

Signi!cados
Levado mais a sério do que se
imagina, o ritual da tatuagem
dentro das penitenciárias não
obedece às normas sanitárias,
porém estabelece códigos
invioláveis, cujo descumprimento
pode resultar na própria morte de
quem brinca com o assunto.
“Quem vai preso, seja ligado ou
não a alguma facção, na hora que
entra na cadeia precisa escolher a
que grupo vai pertencer lá dentro,
para sua própria segurança. Para
tanto, os indivíduos são testados
pelos líderes das facções, que
levam em consideração a
‘periculosidade’ dos novos
membros ou os motivos pelos
quais foram presos. A partir disso,
basta um caco de vidro e tinta de
caneta para identi!car às vezes à
força o novato”, conta.

Armas, animais, números, pontos.


Ao todo, o perito contabilizou mais
de 20 mil tatuagens diferentes que
constam nos “catálogos” dos
tatuadores do crime. O material,
resultado de uma apuração de
nada menos que 32 anos de
pro!ssão, será divulgado em breve
num livro de sua autoria, cuja
previsão de lançamento é para o
segundo semestre deste ano. Para
explicar o signi!cado de algumas
das principais tatuagens de cadeia,
a Tribuna pediu ao perito que
selecionasse as mais corriqueiras e
explicasse a respectiva simbologia
atrelada ao desenhos
aparentemente inofensivos.

Carpa

Fotos: Pixabay

Um dos símbolos prediletos do


Primeiro Comando Capital (PCC),
atuante em quase todos os
estados da federação, o exótico
peixe representa aquele que “nada
contra a correnteza”. Enquanto na
cultura chinesa a carpa está
atrelada à honra, entre os
membros da facção criminosa, seu
signi!cado é bem diferente,
estando quase sempre associado
aos indivíduos que possuem
passagens por trá!co de drogas ou
formação de quadrilha. Em posição
acendente (com a cabeça para
cima), o peixe indica que o
indivíduo detém certo status na
organização, como gerente ou
líder. Já em posição descendente
(com a cabeça para baixo), a carpa
indica privilégios dentro do grupo.

Palhaço/Coringa

Simboliza roubo, formação de


quadrilha e homicídio de policiais.
Associada à malandragem, quando
a !gura é tatuada com lágrimas,
indica que amigos ou parceiros do
portador foram mortos. Já quando
cercada por caveiras, indica que o
portador é também matador de
policiais.

Faca na caveira

Indica matadores de policiais,


porém, só pode ser feita em quem,
de fato já cumpriu tal crime.
Costuma ser ostentada com
orgulho por representar
intimidação e força dentro dos
presídios.

Taz

Também associado ao PCC, o


personagem Taz, da turma do
Pernalonga anda envolto a um
redemoinho, destruindo tudo pelo
caminho. Por isso, o desenho
normalmente é gravado na pele
daqueles que já participaram de
roubos coletivos ou arrastões.

Arame farpado

Associado à “trairagem”, o arame


farpado normalmente indica que o
preso é dedo-duro, ou “x-9”.

Pontos

Um dos principais códigos entre


detentos, os pontos podem ter
diversos signi!cados dependendo
da quantidade e parte do corpo
onde são tatuados. Normalmente
tatuados nas costas das mãos, na
região entre o dedo polegar e o
indicador, os pontos indicam o tipo
de crime praticado pelo portador.
Um ponto indica que o criminoso é
de menor potencial ofensivo, como
batedor de carteiras, por exemplo.
Dois pontos indicam prática do
crime de estupro. Três, trá!co de
drogas. Quatro, furto. Cindo pontos
signi!cam roubo. Nove pontos
mostram que seu portador pode
ser chefe de quadrilha ou
homicida. Quando tatuados no
rosto, os pontos acusam que o
portador praticou estupro.

Índia

Comum nos presídios cariocas, a


índia é tatuada naqueles ligados ao
trá!co de drogas. No Rio de
Janeiro das décadas de 80 e 90, a
índia era feita nos chamados
“soldados do morro” e
representava o passaporte
necessário para o porte de fuzis
entre os tra!cantes.

Nossa Sra

Aparecida: pode indicar proteção


quando tatuada em tamanho
pequeno, na região do peito.
Grande e nas costas, porém, a
imagem indica que seu portador
foi violentado sexualmente ou que
foi condenado pelo crime de
estupro ou atentado violento ao
pudor.

Lágrima no rosto

É uma forma de homenagem ou


de recordação a um parceiro ou
amigo morto pela polícia.

Frase “amor só de mãe”

Quem porta a inscrição “amor só


de mãe”, acompanhada ou não de
um coração #echado,
normalmente exerce a função de
servidão sexual dentro da cadeia.
Feita, quase sempre à força pelos
demais detentos, a tatuagem
indica vulnerabilidade a abusos
sexuais dentro das unidades
prisionais.

Teias de aranha

Predadora paciente e fatal, a


aranha prende sua vítima antes de
matá-la. Entre criminosos, a teia de
aranha está associada aos
homicidas implacáveis, ou seja,
aqueles não hesitam em matar em
nome da facção. O número de
teias ou de aranhas numa
tatuagem pode indicar posição
privilegiada dentro do grupo, como
chefe ou conselheiro e,
dependendo da posição do animal
(para cima ou para baixo), indica o
comprometimento do sujeito com
a organização.

Feita nas mãos ou antebraços, a


teia de aranha pode representar a

Você também pode gostar