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Roda da Medicina Sul Americana

Em todas as culturas xamânicas, a Roda da Medicina é um espaço sagrado que serve


como metáfora aos ciclos intermináveis e sagrados da vida (Círculo da Vida). Cada ciclo
da vida é honrado de forma sagrada. As pessoas vão até lá para orar, meditar e buscar
equilíbrio. Nos dias de hoje ela serve como um guia para o autoconhecimento e a busca
de autotransformação, do homem moderno. A Roda da Medicina é um “mapa simbólico”
de um espaço físico-psico-espiritual para a redescoberta de nossa alma. Representa um
meio de comunicação de interrelações multidimensionais e interpenetrantes que estão
em constante interação, demonstrando que todas as coisas são interligadas e mantida em
sincronia harmoniosa. No nosso Caminho Sagrado ao redor dela procuramos resgatar a
memória de nossa conexão com todos os aspectos do Universo, com nossos ancestrais,
com o Grande Espírito, Mãe Terra e com todos outros seres.

Particularmente trabalho exclusivamente com a Roda da Medicina dos Ventos (do


hemisfério sul), que é uma cartografia de um espaço físico, emocional, mental e espiritual,
com um eixo horizontal e outro vertical num contínuo de passado, presente e futuro.
Conforme nos movemos ao redor e pelo círculo, exploramos as leis operacionais de como
a natureza e o universo funcionam, como também completamos os pedaços de
aprendizagem que aumenta nosso desenvolvimento espiritual e da alma. O Eixo Tonal
representado pelas direções Sul e Norte mantêm as chaves para o equilíbrio entre a
sabedoria e a inocência. O Eixo Nagual do Oeste para Leste nos oferece as ferramentas
extraordinárias para funcionar entre a ilusão do corpo e a iluminação do espírito.
Caminhando pelo círculo a pessoa pode ver as qualidades de cada direção que
naturalmente nos conduz pelos caminhos da inocência, da introspecção, da sabedoria e
finalmente o da iluminação, propiciando uma abertura para a consciência do tempo-
espaço cíclico do Spíritu, o taripay pacha.

Entramos na Roda Sagrada pela Porta Dourada ao Leste e começamos a seguir os ciclos
da Boa Estrada Vermelha seguindo as direções. Estes ciclos de plantio, gestação,
nascimento, crescimento, mudança, morte e renascimento são as lições de vida que
aprendemos. Ao completar o ciclo, seguimos a mesma trilha de nossos Ancestrais após
terminarem seu percurso no Sul, que seguem caminhando até à entrada da Estrada Azul
do Espírito. Uma vez dentro da roda, não importa para que lado nós olhamos, pois
encontraremos sempre vida ao nosso redor. Para aproveitarmos a jornada, devemos
enxergar as oportunidades de crescimento que cada direção nos oferece. Basta ficarmos
atentos aos nossos sentimentos e procurando entender o que eles significam. Esse
processo é o ponto de partida de nossa busca interior. Alinhamo-nos com as quatro
direções e nos conectamos com as lições de cada totem, pedimos a eles orientações e
permitimos que eles se aproximem de nós em sonhos ou visão. Após sentirmos a energia
de todo círculo a nossa volta, chegamos ao nosso conhecimento interior. O conhecimento
necessário para buscarmos a Luz.

Analisando a Roda da Medicina atentamente, passamos a valorizar cada passo nosso no


Caminho e adquirimos uma nova compreensão do nosso processo evolutivo. Dentro dela,
sentimos esse poder na nossa mente, possibilitando contato com as forças da natureza e
do Cosmo, levando-nos a uma harmonização interior e exterior com o meio ambiente.
Cada caminho percorrido dentro dela nos traz seu ensinamento e testes. Encontrando
nossa posição na roda, obtemos uma visão holística da vida, descobrimos nosso poder de
cura, passamos a tomar o comando da nossa vida e a orientar conscientemente nossas
ações e as opções que devemos seguir. Movimentamos-nos na Roda dos Ventos no
sentido anti-horário, fazendo o caminho do sol, atravessamos nosso círculo do Leste onde
há unidade em todas as coisas; para emoções no Norte onde nós aprendemos a trabalhar
com as polaridades; para o físico no Oeste onde nós reconciliamos os opostos; para o Sul
onde nós achamos direção e propósito; e para o Centro onde nós nos tornamos iluminados.

Cada direção da Roda da Medicina é um portal energético vigiado por um Espírito


Guardião, que são Quatro Grandes Mestres que trabalham conosco e nos impulsionam a
seguir em frente por uma trilha numinosa. O Leste é guardado pela Harpia que nos auxilia
a ver além. O Norte é o Caminho da Serpente, onde abandonamos as vestes do passado,
como a serpente abandona sua pele. Na direção Oeste fica o Caminho do Jaguar, é onde
perdemos o medo e enfrentamos a morte. Ao Sul trilhamos o Caminho do Dragão, onde
descobrimos a sabedoria dos longínquos antepassados e estabelecemos o elo de ligação
com o divino. Depois de percorrer todas as direções, aprendemos que ao olharmos para o
centro, no mais profundo âmago do nosso Ser, iremos descobrir que o grande
conhecimento da alma e do Universo se manifestará interiormente.

Devemos sempre nos lembrar de que a Roda da Medicina não é estática. Embora nós
possamos estar trabalhando mais em uma direção que outra em um determinado
momento, nós sempre estamos nos movendo. E é naquele movimento que começamos a
compreender e aceitar que todas as coisas que nos cercam estão numa ordem Divina. Com
a expansão da nossa consciência nós ficamos conscientes de nosso lugar na roda e
escolhemos nos render (ir com o fluxo), seguindo nosso Caminho Sagrado, nos tornando
verdadeiros Guerreiros do Espírito, aquele que vive sua vida com impecabilidade. Estar
impecável é ser Divino; ser Iluminado.

Roda da Medicina dos Ventos

Observando as tradições xamânicas da América do Sul encontramos uma de vinte nove


pedras que, segundo descobertas arqueológicas e etnográficas, possivelmente foi utilizada
pelo povos Charrúas, Chiriguanos, Guenoas e Omaguacas, a qual foi adaptada
pelos yachacs da Tradição Iniciática Nativa Andina que deram a ela o nome de Roda da
Medicina dos Ventos. O que aqui será transmitido é uma pequena parcela de um
conhecimento maior, que permeia e perpassa a dignidade do verdadeiro legado vivo do
nosso continente.
Direções Sagradas

Direção Leste: Caminho do Visionário. Poder da Luz. Portal para o Espírito.

Clã: da Harpia.

Cor: Amarelo.

Elemento: Fogo.

Espírito Ancestral: Pai Sol.

Guardião: Kuntur Apu Chin.

Instrumento: Bastão.
Objetos: Flecha, tocha.

Verbo: Ousar.

Direção Norte: Caminho do Curador. Poder da Introspecção. Portal das Emoções, do


Entendimento e da Integridade.

Clã: da Serpente.

Cor: Vermelha.

Elemento: Água.

Espírito Ancestral: Mãe Lua.

Guardião: Yacumama, a Senhora das Emoções.

Instrumento: Pau de chuva.

Objetos: Cabaça e conchas.

Verbo: Calar.

Direção Oeste: Caminho do Guerreiro. Poder da Transformação. Portal do Corpo, do


Grande Mistério da Vida e do Enfrentamento dos Medos.

Clã: do Jaguar.

Cor: Verde.

Elemento: Terra.

Espírito Ancestral: Mamamtuá, nossa Mãe Terra.

Guardião: Otorongo.

Instrumento: Chocalho.

Objetos: Cristais, pedras.


Verbo: Querer.

Direção Sul: Caminho do Mestre. Poder do Conhecimento e da Sabedoria. Portal da


Mente, da Força de Vontade e da Sabedoria.

Clã: do Beija-flor ou do Dragão.

Cor: Azul ou branca.

Elemento: Ar.

Espírito Ancestral: Wayrapamtuá, Pai Céu.

Guardião: Q’enti ou Draco.

Instrumento: Flauta.

Objetos: Cachimbo, penas.

Verbo: Saber.

Centro: Caminho Espiritual. Poder Numinoso e Sagrado. A Fonte. Portal do Equilíbrio


de onde tudo emana.

Cor: Dourado.

Elemento: Éter.

Objetos: Cristal límpido, ovo cósmico.

Verbo: Centralizar-se. Olhar para dentro. Conhecer-se.

Círculo Interno
1. Criação – Fonte criadora da vida, o princípio feminino e masculino do Universo. Esta
pedra nos conecta com o sagrado. Ensina-nos a olhar para dentro e nos dá o impulso para
a nossa evolução como Ser.

2. Fogo – Esta pedra nos dá a medicina da vitalidade e da transformação. Ela nos ensina
que devemos procurar o potencial adormecido dentro do nosso Ser e despertá-lo. Também
nos ensina o poder da transmutação e, a saber, trabalhar a dualidade.

3. Água – Esta pedra ensina a sermos fluídos, e a trabalhar com o nosso emocional. Ensina
que ao nos purificarmos devemos sempre nos regenerar. Devemos sempre procurar
apagar de nossa mente qualquer sentimento de culpa, mágoa, raiva ou ressentimento, pois
esses sentimentos são um veneno para nós.

4. Terra – Esta pedra traz para nós a mensagem que devemos enfrentar os nossos medos,
superar todos os obstáculos e seguir adiante. Ensina-nos a sermos impecáveis com os
nossos atos e perseverantes na jornada pela roda da vida, além do poder do saber parar,
de meditar e conhecer os nossos limites.

5. Ar – Esta pedra nos leva ao encontro do Sagrado e da sabedoria ancestral. Ensina que
devemos nos calar para ouvir e aprender. Devemos praticar o poder da introspecção para
amplificarmos nosso estado de alerta e expandir a consciência.

6. Sol – Pedra da energia masculina. Ela nos transmite o calor, segurança e vivacidade
para que possamos lidar com as intempéries da vida. É também a fonte curativa que
cauteriza nossas feridas internas e externas, e traz vitalidade para nosso Ser.

7. Lua – Pedra da energia feminina. Guardiã do nosso inconsciente, sonhos e visões.


Desenvolve também as nossas habilidades psíquicas e intuição, ensinando-nos a interagir
com a nossa sombra e integrá-la ao nosso Ser. Desperta também a nossa sensualidade e
sexualidade.

8. Mãe Terra – Pedra da força nutridora da Mãe Terra. Desperta a consciência planetária
dentro de nós, ensinando-nos que devemos cuidar de quem nos alimenta. Ensina a magia
da reciprocidade. Representa o amor incondicional da Mãe.

9. Estrelas – Pedra da realização espiritual. Fonte de luz e inspiração divina. Simboliza


o microcosmo (homem) e o macrocosmo (universo). Suas pontas representam a cabeça,
os dois braços e as pernas. Ela ensina que devemos procurar o equilíbrio e a capacidade
de compreensão para transformamo-nos num centro irradiante de vida. Essa pedra pode
levar-nos de volta à nossa origem, onde o nosso espírito foi gerado.

Círculo Externo

10. Espírito do Vento Leste (o Visionário) – Esta pedra nos traz o poder da visão, clareza
e perspicácia. Ensina que devemos ver as coisas holisticamente, sem se fixar nos detalhes.
Ajuda a encontrar a visão de orientação de nossas vidas e a capacidade de auto-superação.

11. Espírito do Vento Norte (o Curador) – Esta pedra representa o poder de cura da
natureza. Simboliza a força vital essencial que busca união e a criação. Ensina-nos a
mergulhar nos lugares mais profundos dentro de nós mesmos, onde nos livramos de tudo
aquilo que não tem mais sentido em nossas vidas.

12. Espírito do Vento Oeste (o Guerreiro) – Pedra da impecabilidade. Ensina-nos a ir


além do medo, da raiva e da morte, como um guerreiro luminoso que não tem inimigos
neste mundo ou no próximo. Representa a Vida e a Morte, o princípio de renovação.

13. Espírito do Vento Sul (o Mestre) – Pedra da sabedoria ancestral. Ao meditarmos


com ela podemos despertar as memórias ancestrais daqueles que pisaram fora do tempo,
que deslizam pelo véu da teia da vida. O caminho do Beija-Flor, ou Dragão, que bebe
diretamente a partir do néctar da vida. Aquele que realiza a viagem impossível e assume
o seu lugar entre aqueles que nasceram duas vezes e venceram a morte.

Lunações

14. Lua do Outono – Pedra que auxilia a captar a energia do sol, ajudando a nos manter
equilibrados. Ela também nos alerta que devemos escutar a voz do coração, para
desenvolver nossas capacidades psíquicas.

15. Lua da Dança do Milho – Pedra que nos dá a habilidade de transmutação, purificação
e cura espiritual. Também nos ajuda a despertar o poder de atração, intuição e de
compaixão, além da facilidade de se adaptar as mudanças.
16. Lua da Grande Noite – Essa pedra tem o dom de despertar a força mental, a busca
de novas perspectivas e de elevação espiritual, mergulhando no desconhecido e
descobrindo o poder da intuição.

17. Lua do Inverno Solar – Essa pedra nos dá a transmissão da energia universal, ensina-
nos o respeito as tradições, cerimônias e rituais ancestrais. Incute o senso de ética e honra,
compreensão do caminho espiritual e prudência na busca pela sabedoria.

18. Lua da Purificação da Terra – Essa pedra desperta a capacidade visionária, de


gentileza, solidariedade e humanitária, como também a habilidade criativa e psíquicas.

19. Lua da Grande Purificação – Essa pedra ensina a entrarmos em sintonia com o
Mundo do Espírito, ensinando-nos a contemplação, a silenciar e a descobrir nossos dons
de cura.

20. Lua da Rainha da Primavera – Com essa pedra aprendemos a canalizar as nossas
energias, nos dá coragem, determinação e clareza de visão. Aprendemos também a sermos
mais pacientes.

21. Lua das Águas Sagradas – Com a pedra do equilíbrio passamos a ser pessoas mais
estáveis, como também desenvolvemos um senso de mantermos tudo a nossa volta
harmonizado, em ordem e segurança. Desperta nossa fidelidade, criatividade, seriedade e
paciência.

22. Lua dos Ancestrais – Essa pedra faz com que descubramos a beleza que habita dentro
de nós, como nos ensina a reconhecer nosso dom de cura e de criatividade. Desperta o
espírito gregário, a agilidade mental, facilidade de comunicação e mobilidade.

23. Lua do Sol – Essa pedra desenvolve a capacidade de amar incondicionalmente,


deixando a vida fluir harmoniosamente. Desperta também a percepção aguçada que nos
ajuda a ver outros níveis de existência.

24. Lua da Maturação – Pedra essencial para revigorar nossa energia vital e a sexual,
como também para dar autoconfiança, coragem e resistência. Desperta o líder que habita
nosso Ser.
25. Lua da Colheita – Essa pedra ensina a termos um senso de justiça apurado, como
também a necessidade de trabalhar e servir. Desenvolve o poder de inspiração e sintonia
com o Mundo do Espírito.

Caminhos dos Ventos Espirituais

26. Vento Emocional – Esta pedra simboliza a purificação do nosso corpo emocional.
Ela nos ensina que devemos nos harmonizar com o elemento água e abrir nossos canais
psíquicos. Indica também que é o momento de transição na nossa vida, só que para isso
devemos ser fluídos como as pakarinas (seres elementais aquáticos) para enfrentarmos as
turbulências diárias, transcendermos nossos limites e seguir adiante para alcançar a
sabedoria e a visão. São nessas jornadas com as pakarinas que mantemos contato com
nosso inconsciente e emoções.

27. Vento Físico – Esta pedra da sustentação, introspecção e do crescimento. Ela nos
ensina a importância da nutrição (alimentar e ser nutrido) e desperta o poder criativo
dentro de cada um de nós. Nos alerta também que devemos cuidar da nossa Mãe Terra,
pois se ela definhar certamente não haverá mais vida em nosso planeta. Pede também que
meditemos com os mukis (seres elementais da terra) que nos ensinarão a entrar em
harmonia com a Mãe Natureza, estimularão nossa criatividade e nos inspirarão
diariamente.

28. Vento Mental – Esta é a pedra do sopro da vida que sustenta toda vida na terra. Ela
nos liga aos nossos ancestrais, impulsionando a trilhar o caminho da sabedoria, tradição
e do contato com os wayras (seres alados). São estes entes que nos ensinam a usar a mente
criativamente para melhorar o mundo a nossa volta. Esta pedra também serve de ligação
entre nossa natureza divina e a consciência, que representa o poder manifesto da elevação
da mente e a inspiração superior, reconectando-nos com o sagrado, além de trazer o vento
da mudança em nossa vida.

29. Vento Espiritual – Esta é a pedra da visão e iluminação. Nina (o elemental do fogo)
representa a centelha do Spíritu que habita dentro de nós e estimula nossa caminhada. Ela
nos ensina a ver tudo a nossa volta de maneira clara e objetiva, verificando todas as opções
possíveis para uma determinada situação. Tem também o poder transmutador e de
renascimento, trazendo a lição de que após uma longa noite escura, o sol volta a nascer e
iluminar-nos. É nesta posição da roda que aprendemos a abrir nossos braços, como se
fossem asas, e aprendemos a voar em direção ao Mundo do Espírito.

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