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Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em p.

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Turismo no Espaço Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013. v.1.

ROTEIRO TURÍSTICO RURAL NO MUNICÍPIO DE ROSANA/SP:


POSSIBILIDADES DE INCLUSÃO
CLEDIANE NASCIMENTO SANTOS
ROSANGELA CUSTODIO CORTEZ THOMAZ

Universidade Estadual Paulista - Unesp


Mestranda do Programa de Pós Graduação em Geografia da UNESP, Presidente Prudente – SP
Docente do curso de Turismo, Rosana- SP
{cledianenasciemnto@yahoo.com.br; rocorthez@rosana.unesp.br}

RESUMO - A abordagem sobre turismo e cultura popular no espaço rural de Rosana/SP, consiste em
considerar a cultura como campo de possibilidade para o desenvolvimento turístico do município em
questão. Propõe - se a compreender o turismo por meio de um estudo de caso, de natureza descritiva e
exploratória, com estudo da literatura pertinente e mediante o uso de entrevistas semi-estruturadas, com
roteiro elaborado previamente e com questões em aberto, pois este tipo de entrevista possibilita mais
flexibilidade à pesquisadora em inserir alguma questão sobre algum aspecto importante surgida no ato da
entrevista, e que não tenha sido contemplada no roteiro. Os atores são a Prefeitura, a Usina Hidrelétrica
Engenheiro Sérgio Motta, o Museu de Memória Regional e os organizadores das manifestações culturais
dos assentamentos rurais. Os dados coletados foram interpretados seguindo a bibliografia pesquisada.
Constatou que os entrevistados consideram a cultura como relevante para o desenvolvimento do turismo
no espaço rural.

Palavras chave: Assentamentos Rurais, Cultura, Roteiro Turístico, Turismo no Espaço Rural.

ABSTRACT - The approach to tourism and popular culture in rural Rosana/ SP is to consider culture as a
field of opportunity for the tourism development of the municipality in question. Propose to understand
tourism through a case study, a descriptive and exploratory, with the study of literature and by using
semi-structured interviews with script prepared and open issues, because this type of interview allows
more flexibility for the researcher to insert a question on some important aspect that emerged during the
interview, and that has not been contemplated in the script. The actors are the City council, the Engineer
Sérgio Motta Hydroelectric, the Museu de Memória Regional and organizers of cultural events of rural
settlements. The data collected were interpreted by following the bibliography searched. It was found that
the interviewees consider culture as relevant to the development of rural tourism.

Key words: Rural Settlements, Cultura, Tourist Itinerary, Tourism at Rural Areas.

1 INTRODUÇÃO fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”


(YIN, 2005, p. 32).
Este trabalho tem o propósito de analisar a Além disso, “parte do principio de que o estudo
potencialidade das manifestações culturais dos aprofundado de um caso pode ser representativo em
assentamentos Gleba XV de Novembro e Nova do Pontal muitos outros, ou mesmo em casos semelhantes”, isso é o
como possibilidade de criação de roteiros turísticos. Dessa que induziria a escolha do objeto de estudo. (GIL, 2008,
forma, este artigo é um estudo de caso de natureza p. 18).
descritiva e exploratória. A natureza descritiva da pesquisa tem como
O estudo de caso é uma “investigação empírica características: observar, registrar, analisar e correlacionar
que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um fatos. Este tipo de pesquisa é utilizado principalmente nas
contexto da vida real, especialmente quando o limite entre ciências humanas, especialmente para obtenção de dados
que não consta em documentos. Dessa forma, a pesquisa

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descritiva, em suas diversas formas, trabalha sobre dados Assim, em 15/11/1983 aproximadamente 800
ou fatos colhidos da própria realidade (CERVO E trabalhadores vindos dos municípios de Rosana, Euclides
BERVIAN; 2002). da Cunha, Teodoro Sampaio, Mirante do Paranapanema e
Do mesmo modo, a pesquisa exploratória é outras localidades, ocuparam as terras da ex-fazenda
importante, porque tem como “finalidade desenvolver, Tucano e Rosanela, ambas em Teodoro Sampaio. A
esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista a ocupação terminou por meio de um pedido de
formulação de problemas mais precisos ou hipóteses desapropriação feito pelos proprietários e foram
pesquisáveis para estudos posteriores”. Este tipo de despejados e fizeram um acampamento na Rodovia
pesquisa se caracteriza como aquela que exige pouco Arlindo Bétio, SP 613 (IOKOI et al., 2005).
rigor no planejamento e envolvem levantamento Após um tempo foram para uma área provisória
bibliográfico e documental e aplicação de entrevistas não cedida pela CESP. Com o agravamento da questão
padronizadas, no qual está muito presente nos estudos de agrária, o governo paulista em 1984, desapropriou uma
casos. (GIL, 2008, p.27). área equivalente a 15 mil hectares (há) para a implantação
A coleta de dados se deu por meio da pesquisa do projeto de assentamento, que hoje é conhecido como
bibliográfica, documental e entrevista semi-estruturada, Gleba XV de Novembro. (SANTOS, 2009).
com roteiro elaborado previamente e com questões em Este assentamento, por ser o mais antigo do Pontal
aberto, pois este tipo de entrevista possibilita mais do Paranapanema, sua história evoca aos bastidores da
flexibilidade à pesquisadora em inserir alguma questão luta pela terra nesta região, protagonizados pelas famílias
sobre algum aspecto importante surgida no ato da que conquistaram o direito de ter o seu lugar, o seu
entrevista, e que não tenha sido contemplada no roteiro. pedaço de chão.
Neste trabalho será ocultado o nome dos Ele é palco de muitos embates internos que faz
entrevistados, apesar do consentimento das entrevistas e deste assentamento um caso típico, no qual a luta
dos nomes para identificação dos mesmos, optou – se por ideológica dos movimentos sociais pela terra se faz
preservar a identidade dos entrevistados nos quais serão presente. Este fato caracteriza este assentamento no
substituídos pela palavra entrevistado que representam município de Rosana como enigmático para se desvendar
aleatoriamente a Usina Hidrelétrica Eng. Sérgio Motta, o o histórico da luta pela terra e para compreender a atuação
Museu de Memória Regional, a Folia de Reis e a Roda de dos movimentos sociais que lutam pela reforma agrária.
Viola. Ele possui algumas festividades popular tais como:
As manifestações com potencialidade para a Folias de Reis, festa de Aniversário da Gleba XV de
criação do roteiro turístico são: Folias de Reis e a Roda de Novembro, Festa da Mandioca, Roda de Viola e as festas
Viola. Elas foram escolhidas dentro do contexto cultural, dos padroeiros, como Nossa Senhora Aparecida, Sagrado
por estar mais associada com o espaço rural e trazem as Coração de Jesus, Santa Luzia.
características da ruralidade, tais como: a musicalidade da Este assentamento é o mais indicado para uma
viola, a transmissão do saber por meio da oralidade e da proposta de Turismo no Espaço Rural - TER que valorize
tradição da Folia de Reis “Estrela Guia”. os aspectos culturais, representados pelas festas
Para entender o ambiente que essas manifestações populares, especialmente a Roda de Viola e a Folia de
estão inseridas, vale uma breve contextualização histórica Reis, para as questões de reforma agrária e assim como os
dos dois assentamentos: Gleba XV de Novembro e Nova aspectos produtivos das propriedades por meio da
do Pontal dos quais são os selecionados para a realização vivência com as famílias assentadas em sua lida diária
deste estudo. com a produção.
O assentamento Gleba XV de Novembro está Já o assentamento Nova do Pontal, originalmente,
localizado em dois municípios, com lotes distribuídos em era composta por 122 famílias, abrangendo uma área de
vários setores, nos quais, o setor I, II, III localizados em 2.786 hectares de terra localizando-se nas margens direita
Rosana/SP e os setores IV, V VI em Euclides da Cunha e esquerda da rodovia que liga distrito de Primavera ao
Paulista. Originalmente, foram criados 571 lotes, dos Paraná, via Diamante do Norte. (CRUZ, 2008). Possui em
quais 438 estão em Rosana/SP. (IOKOI et al., 2005). sua área grande capacidade hídrica por estar próxima a
O inicio deste assentamento está relacionado às margem do rio Paranapanema e do reservatório da Usina
demissões da Companhia Energética do Estado de São Hidrelétrica de Rosana.
Paulo - CESP, das empreiteiras e da Destilaria Alcídia. O Sua fundação está atrelada a concessão da Fazenda
desemprego massivo de milhares de pessoas deixaram Timboril Agropecuária Ltda, para o Estado, em 1998. O
muitas famílias sem ter para onde ir e nem opção de Instituto de Terras do Estado de São Paulo “José Gomes
emprego na redondeza, logo que não havia outras da Silva”- ITESP realizou assembleia com 122 famílias
empesas que pudesse acolher todo o contingente selecionadas para ocupar as terras. Este assentamento foi
dispensado. Aliado a isso, outro agravante que surgiu foi um caso especifico já que foi formado por quatro grupos
à enchente no rio Paranapanema, no ano de 1983 que diferentes: o MST, o MAST, ex-funcionários das
desabrigou muitas famílias ribeirinhas. Estas famílias se fazendas e os sindicatos de Porto Primavera. Cada qual
juntaram em um grande acampamento no trevo de ficou com uma área do assentamento. (CARNEIRO,
Euclides da Cunha Paulista e organizaram um movimento 2007).
que tinha como objetivo a luta pela terra. (SOUZA, 2007).

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Segundo pesquisa de Carneiro (2007) as famílias Segundo Dias (2006) o turismo tem a virtude de
iniciais deste assentamento enfrentaram algumas expor a diversidade cultural, com ênfase na valorização e
dificuldades, pois não havia infraestrutura no local, tais afirmação da identidade, dos valores, tradição, e dos
como: estradas, água canalizada, energia elétrica, meios elementos paisagísticos locais. Da mesma forma, que
de transporte, escolas. Somado a isso a falta de recurso também a atividade do turismo tem o poder de expropriar
para investir na terra fizeram com as famílias buscassem as comunidades quando não planejado e quando tem em
ajuda na gestão municipal da época para sua produção, e vista apenas o aspecto econômico em detrimento dos
para perfurar poços. Do Estado conseguiram ajuda para aspectos sociais e culturais. O turismo deverá ser pautado
construir estradas e escola. Dessa forma com o apoio no compromisso de contribuir para a valorização do
conquistado e com o esforço das famílias as dificuldades espaço rural e a salvaguarda do seu patrimônio cultural.
foram superadas. Entretanto a busca pelo turismo no espaço rural
Atualmente este assentamento é visto com grande encontrou na transformação da estrutura da produção
potencialidade para o desenvolvimento do turismo. agropecuária um campo favorável, pois propiciou ao
Constitui-se, portanto, num assentamento de grande delineamento de um novo modelo produtivo rural, no qual
beleza cênica pela proximidade com o rio Paranapanema o turismo é uma alternativa como provedor de recurso
e em virtude de seu formato ficou conhecido com econômico em virtude de sua fácil adaptação dos recursos
“tuiuiú”. (CARNEIRO, 2007). Este assentamento foi rurais em oferta turística. Assim, em meio à dificuldade
diagnosticado como propício para o projeto piloto de enfrentada pelo agricultor familiar em manter-se no meio
desenvolvimento do Turismo Rural – TR, mas também rural, o turismo surge como saída que poderá agregar
como possibilidade para o TER. valor ao que é produzido. (THOMAZ, 2010).
Portuguez (2005, p. 578) refletindo sobre os
2. TURISMO NO ESPAÇO RURAL – TER conceitos de turismo rural brasileiro, verificou que a razão
para as dificuldades existentes em torno da conceituação
O turismo, dentre todas as suas características, está no amplo conjunto de aspectos que caracterizam essa
pode-se afirmar que tem como elemento substancial para modalidade de turismo no país. As diferentes paisagens
sua efetivação, as peculiaridades de cada local, a existentes no rural brasileiro comportam diferentes
identidade e a cultura. Assim, os assentamentos rurais de tipologias de turismo.
Rosana/SP, é um diferencial para o desenvolvimento da
atividade turística. Dessa forma, é necessário o Em cada configuração espacial, um arranjo de
entrelaçamento dessa singularidade, que leve em paisagens dará origem a distintos entendimentos
consideração a vida dos trabalhadores assentados, a da ruralidade, e desse modo, o turismo que lá for
geração de renda, emprego, autoestima, valoração da praticado terá aspectos próprios de acordo com a
organização histórica, cultural e geográfica de
identidade e do modo de vida do pequeno agricultor, pois cada lugar. (PORTUGUEZ, 2005, p. 578).
a relação entre turismo e cultura é riquíssima.
Há uma forte tendência para a visitação nos Apesar das dificuldades em se estabelecer
destinos de sol e de praia em virtude da concentração de conceitos sobre o Turismo no Espaço Rural – TER e
infraestrutura para o turismo no litoral, com a presença de Turismo Rural – TR, no Brasil, nota-se que o Turismo
empreendimentos estrangeiros, mas, percebe-se que os Rural – TR é uma expressão genérica tanto para o
bens patrimoniais podem colaborar para inverter essa Turismo no Espaço Rural quanto para o Turismo Rural –
lógica, contribuindo para disseminar o turismo em outros TR, mas neste trabalho adotamos o TER, por ser mais
espaços, como por exemplo, o espaço rural. abrangente, no qual adequa-se melhor a esta pesquisa,
pois o TER é uma atividade que não se limita a própria
A exploração turística dos recursos patrimoniais
permite inverter a forte tendência de
modalidade, podendo abranger outros tipos de turismo
concentração da oferta turística junto ao litoral, como, por exemplo, o turismo cultural, turismo de
dispersando o turismo para o interior, para as aventura, dentre outros, sendo que estas não se excluem,
pequenas cidades, com uma distribuição mais mas se complementam.
equitativa dos seus benefícios, funcionando Joaquim (2001, p. 35) em seus estudos europeus
assim como fator de criação de emprego e de sobre o turismo no espaço rural – TER, o conceitua como
revitalização das economias locais. Representa, “um conjunto diversificado de atividades turísticas”,
também, benefícios evidentes no que concerne apresentando profundos contrates, com diferentes
aos custos de preservação do patrimônio que, conceitos de rural e as várias formas que o TER assume,
muitas vezes, não podem ser assegurados pelos
poderes locais. Por outro lado, com frequência
no qual o “traço comum, no âmbito de situações tão
se reclama a utilização do patrimônio para fins contrastadas, é o espaço rural”.
turísticos para se fazer em face de um turismo Os modelos de implantação e desenvolvimento do
massificado que ameaça as identidades locais. turismo rural brasileiro apresenta dissemelhança entre
(THOMAZ, 2010, p. 39). Brasil e Portugal, a iniciar pelo conceito de turismo rural -
TR, que no Brasil, tem um sentido mais abrangente,
abarcando a “fruição de recursos rurais e atividades

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esportivas e ecológicas, bem como a dimensão além disso. O turismo não se limita apenas a espelhar os
relativamente intangível da cultura e modo de vida das fatores econômicos como aspecto primordial, pois pode
comunidades rurais e/ou de montanha”. Nesse sentido, o contemplara a afirmação do modo de vida dos
turismo rural - TR brasileiro é por muitas vezes assentamentos e também a inversão para uma imagem
confundido com TER, ou seja, é utilizada a mesma positiva em detrimento da identidade posta pela mídia no
tipologia como sinônimas. No caso português e de outros qual o assentamento é o lugar de pessoas desocupadas.
países europeus, a segmentação da oferta turística rural Outra questão fortemente atrelada ao turismo é sua
está mais evoluída com tipologias e classificação mais associação como símbolo de degradação do espaço
rigorosas, com delimitações entre TER e TR. (SIRGADO, natural e dos aspectos sociais e culturais. Partindo dessa
2001, p. 79). idéia, o TER de base local é aquele que é planejado em
Para o Ministério do Turismo - MTur (BRASIL, conjunto com a comunidade. A comunidade que
2008), a conceituação de turismo no espaço rural engloba determinará o quer no seu território, quais as suas
as diversas atividades desenvolvidas no meio rural, necessidades prioritárias. Isso poderá minimizar os
independente de suas especificidades, tais como: o impactos do turismo, pois assim como toda atividade
turismo rural, o agroturismo e o turismo rural na econômica, a inserção do turismo acarretará
agricultura familiar. É o conjunto de atividades inevitavelmente, transformações no espaço no qual está
comprometidas com as atividades agropecuárias e com a inserido.
valorização do patrimônio cultural e natural como feições Isso nos leva a refletir em como se dá a construção
da oferta turística no meio rural. e a inserção da atividade turística para que ela seja a
Para Rodrigues (2001, p. 103), o Turismo Rural zeladora dos aspectos culturais e da identidade de uma
estaria relacionado “a atividades agrárias passadas e comunidade. Isso partindo da premissa que a experiência
presentes, que conferem à paisagem sua fisionomia é aquilo que aprendemos por meio da vivência, que
nitidamente rural”. Diferenciando-se das áreas naturais, segundo Tuan (1983), expressa o sentimento, o
cuja característica predominante é a natureza. pensamento, a realidade e a magnitude das relações
Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2003, p. sociais.
11) o Turismo Rural no Brasil é Sem ter o que experimentar não haverá o turismo,
pois as pessoas procuram novas vivências quando
[...] é o conjunto de atividades turísticas investem em viagens turísticas. Por outro lado, os
desenvolvidas no meio rural, comprometidas assentamentos rurais em questão devem proporcionar
com a produção agropecuária, agregando valor a isso, da mesma forma, que deverá ter o mínimo de
produtos e serviços, resgatando e promovendo o infraestrutura para que isso se torne realidade.
patrimônio cultural e natural da comunidade.
Assim, o planejamento torna-se uma ferramenta
importante na organização e utilização desse espaço rural.
O espaço rural pode ser um lugar natural ou
Nesse contexto, o planejamento deve ser uma ferramenta
modificado pela presença humana, representando uma
sempre presente no desenvolvimento da atividade
síntese dos fatores naturais e dos resultados da ação
turística, desde os gestores públicos, abrangendo
humana, especializando-as, com usos de técnicas e
empresas privadas e líderes comunitários.
aproveitamento dos recursos existentes. Pode ser um
De uma forma geral, o ato de planejar ajuda a
espaço com uso recreativo ou de ócio em razão da
distribuir as tarefas e responsabilidades referentes aos
necessidade humana ou natural. Assim, a “paisagem, os
atores envolvidos: comunidade, empresa privada e
modos de vida da sociedade rural, são fatores de atração
governo. É uma forma para estabelecer parâmetros sobre
por si só, pois constituem cenários diferentes do cotidiano
o que é ponderável ao desenvolvimento da atividade que
e ritmos de vida diferente para o homem urbano”.
possa atender as necessidades reais da localidade.
(THOMAZ, 2010, p. 38).
O espaço rural necessita também de planejamento,
Por meio do TER é possível a junção de diversas
pois em muitos casos, o espaço rural denota pobreza, em
atividades tais como o turismo ecológico, pedagógico e o
detrimento da política de desenvolvimento territorial que
cultural e sua relação direta com o patrimônio e a
há muito tempo tem comprometido a sobrevivência dos
identidade local. Desde apresentações culturais, folclore,
pequenos agricultores, especialmente pela ausência de:
modo de vida, a experiência do homem camponês,
assistência médica, educação, habitação, saneamento,
hábitos, costumes, tradições, entre outros, que são
cultura, etc. (YÁZIGI, 2009). Dessa forma, antes de
diferenciais para o turismo. Nesse contexto, o visitante,
qualquer ação na tentativa de desenvolver a atividade
tende a visitar os lugares que se diferem do seu, com o
turística seria de suma importância o melhoramento desse
desejo de conhecer as particularidades inerentes ao lugar
espaço e da qualidade de vida dessa população e
(AVILA, 2009). No caso, os assentamentos muito se
igualmente os valores e identidades construídas nesse
distinguem do turismo do litoral e do urbano.
território.
Percebe-se que o desenvolvimento do TER
O turismo poderá ser um divisor de águas que nas
alcançou seu auge muito mais por questões econômicas,
mãos certas poderiam contribuir para a requalificação do
muitas vezes como sinônimo de geração de divisa, de
espaço com todas as suas nuances e melhorar o que tem
lucro, de bom investimento. Contudo, a atividade, vai,
que ser melhorado (YÁZIGI, 2009).

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O planejamento trabalha com todas as variáveis Este lugar, chamado Rosana/SP, no qual neste
possíveis que possam colaborar e atrapalhar no plano. trabalho estuda a possibilidade de inserção do turismo no
Abordando pontos fracos, pontos fortes, oportunidades e espaço rural, há tempos, desde o período que José Ferrari
ameaças, tentando extrair qualquer intempérie que possa Leite estudou a ocupação do Pontal do Paranapanema,
prejudicar o andamento da atividade. que fora percebido e identificado o seu o potencial e sua
Quando não há o planejamento os impactos vocação para o turismo, no seguinte dizer:
negativos tendem a prevalecer. Por isso salientam
Lohmann; Panosso Neto (2012, p.219): Nesta estação, a vila de Rosana fica envolvida
pelas águas excedentes dos dois rios em
Outro exemplo de impacto negativo é a perda de enchentes colossais. Assim, envolvida pelas
autenticidade de pequenas comunidades, devido águas, Rosana revela toda a beleza de sua
ao fluxo de turistas. Essa perda ocorre geografia selvagem em que o sol vermelho da
geralmente pela constante troca cultural que tarde mostra milhares de garças e patos-
existe no contato entre turistas e residentes, não selvagens voando no horizonte avermelhado em
são estes últimos que mais sofrem seus efeitos. direção ao ocidente. A visão levou um geógrafo
Muitas vezes, para satisfazer as necessidades ou a sonhar com um polo turístico paulista com
a curiosidade dos turistas, os anfitriões elaboram base em Rosana, por sua semelhança com o
pseudofestas e modos de viver que não existem Pantanal. (LEITE, 1998, p. 20-21).
de fato, transformando o turismo e a sua cultura
local em fenômenos inautênticos. O turismo depende de muitos fatores para sua
concretização, para este conjunto de fatores constitui o
Planejar é uma ação importante, pois é sabido que chamado sistema turístico, que há certas particularidades
não há um planejamento que sirva para todas as cidades para seu funcionamento, tais como: demanda, oferta,
ou destinos turísticos. O planejamento é único e produto, potencialidade, o empreendimento turístico, os
direcionado para uma determinada área em que se está atrativos, a infraestrutura. Por este motivo, por depender
estudando. Isso minimizaria os impactos previstos por de inúmeros fatores se faz necessário o seu planejamento,
Lohmann e Panosso Neto (2012) descritos anteriormente. para que seja uma atividade responsável.
Uma das formas de gerenciar o planejamento Assim, o turismo responsável é aquele que atrai as
turístico é por meio de um estudo aprimorado da demanda pessoas para conhecer o lugar e desfrutar de sua cultura,
e mercado turístico, bem como um levantamento dos da beleza natural, assim como, o turista deve ser
atrativos existentes e em potenciais para a confecção de respeitado e acolhido com qualidade, segurança e oferta
produtos com base na potencialidade identificada. de bons serviços. Dessa forma a infraestrutura é
Em uma visão mais mercadológica, o indispensável para que o acolhimento aconteça.
planejamento da atividade, seria uma tentativa de (CORIOLANO, 1997).
conhecer as dificuldades internas e externas do ambiente, Diante da possibilidade de se transformar um
inclusive, elaborando estratégia para a comercialização. recurso ou um bem patrimonial em atrativo turístico
Na mesma proporção, o planejamento turístico surgiu a proposta de criação de roteiros que leve em
serviria como ferramenta para proteção das comunidades, consideração o espaço rural por meio do aproveitamento
tais como as comunidades rurais, quilombolas ou do fluxo de visitante da Usina Hidrelétrica Eng. Sérgio
indígenas. Dessa forma, o planejamento garantiria a Motta e do Museu de Memória Regional.
existência de identidades ao longo do tempo e do espaço. Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta –
Contudo, o cenário das políticas culturais também deve UHE Eng. Sérgio Motta, anteriormente foi chamada de
culminar para a preservação cultural, principalmente com Usina Hidrelétrica Porto Primavera está localizada no Rio
a criação de políticas que incentive a produção cultural Paraná, a 28 km a montante da confluência com o Rio
nos assentamentos, valorizando, dessa forma, a cultura Paranapanema.
popular. A barragem dessa Usina é a mais extensa do
Assim, quanto mais acolhedor for o território para Brasil, tem 11.380 m de comprimento. A seleção pelo
os assentados, para o residente, com acesso a município de Rosana se deu devido às condições
infraestrutura básica mais estimulada a comunidades se geográficas do lugar.
sentirá na preservação do ambiente. E mais motivado para Segundo Entrevistado, a usina foi projetada para
elaborar outras ações culturais que valorize o modo de ter dezoito turbinas, mas só 14 estão operando, no qual
vida rural, os costumes, as estórias, entre outros. Isso seria todas podem gerar 1.980 megawatts. A primeira etapa do
um elemento importante para o turismo, logo que a enchimento do reservatório, na cota 253,00 m, foi
comunidade manifesta interesse pela atividade do turismo concluída em dezembro de 1998 e a segunda etapa, na
como complemento a sua produção agropecuária. cota 257,00 m, em março de 2001. Em Outubro de 2003,
entrou em operação a unidade geradora 14, totalizando
3. PROPOSTA DE ROTEIRO TURÍSTICO PARA assim, 1.540 MW de potência instalada. Devido ao pouco
OS ASSENTAMENTOS RURAIS: GLEBA XV DE declive do local, o tamanho da área a ser inundada para a
NOVEMBRO E NOVA DO PONTAL criação da barragem da usina foi gigantesco – o maior
lago artificial do Brasil e um dos maiores do mundo, com

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2.250 Km², ou 225 mil hectares, com uma capacidade de Usina, segundo o Entrevistado relata, foi desde o
20 bilhões de m³ de água o que aumentou em nove vezes princípio da construção da Usina se tomamos por base o
o leito do rio Paraná. inicio no ano de 1982, já são mais de 30 anos que a Usina
Todo o impacto gerado pela construção dessa recebe visitantes.
usina leva a questionamentos sobre a sua capacidade de Sobre a sistema de vista na Usina foi informado
produção energética e colocando muitas vezes em xeque pelo Entrevistado que há um roteiro no qual inclui três
todo o discurso defendido pela CESP em relação ao custo locais: usina, viveiro de mudas e museu. Geralmente há
– beneficio, atrelado a essa Usina. uma recepção que é feita no auditório, e dependendo da
Os municípios mais afetados do lado de Mato sugestão do responsável é feita a visita a usina, o viveiro
Grosso do Sul, foram: Anaurilândia, Bataguassu, de mudas e o museu, não tendo uma ordem definida. Pode
Brasilândia, Santa Rita do Pardo e Três Lagoas, que fica a ser que um local não dê tempo de ser visitado, o que vai
montante da barragem. Já os municípios do estado de São depender também da disponibilidade do visitante e do
Paulo foram: Rosana, Teodoro Sampaio, Presidente objetivo da visita, mas geralmente ocorrem as visitações
Epitácio, Panorama, Paulicéia, Castilho, Caiuá, Nova nos três locais.
Guataporanga, Nova Independência, Presidente Em relação aos pontos de visitação da Usina foram
Venceslau, Ouro Verde. No total foram dezesseis elencados pelo Entrevistado os seguintes: elevador e
municípios que conseguiram indenização da CESP. escada para peixes, a eclusa e a própria estrutura da UHE
A região inundada pelo lago, em sua maior parte são os principais motivos para sua visitação, já no que diz
no estado de Mato Grosso do Sul, especialmente tratava- respeito ao viveiro todas as técnicas e o processo de
se da maior reserva de argila, no qual havia sítio produção de mudas para o reflorestamento tanto dos
arqueológico e abrigava famílias ribeirinhas e indígenas locais afetados pela construção da Usina quanto do
do grupo Ofayé-Xavante. (SCARPINELLA, 1999). município de Rosana são tidas como atrativos.
Também se tratava de um dos ecossistemas rico Em média o tempo de permanência é de
em biodiversidade com características semelhantes às do aproximadamente 7 horas, com o intervalo de uma ou
Pantanal, abrigando dezenas de espécies animais alguns duas horas de almoço, neste tempo o grupo pode ou não
espécies em extinção como o tamanduá - bandeira, onça ter trazido um lanche, quando não utilizam os restaurantes
pintada, onça parda, jacaré de-papo-amarelo, jaguatirica, e mercados de Primavera. Outras vezes a visita é feita em
tatu - canastra, lobo-guará, ariranha, macuco e bicudo que meio período, parte da manhã ou da tarde, ou seja, há uma
são espécies raras; e espécies vegetais. A grande perda flexibilidade de horários para atender a demanda dos
ambiental foi significativa na parte do Mato Grosso do grupos.
Sul. (SCARPINELLA, 1999). De acordo com o Entrevistado o número de visitas
Na parte sul-mato-grossense também foi mais ao ano é de aproximadamente de oito mil pessoas, com
impactada no ambiente antrópico, no qual foram atingidos uma média de 650 visitas ao mês, tendo nos meses de
olarias, indústrias de cerâmicas, no qual havia uma férias escolares uma queda na média de visitas já que as
reserva natural de argila as margens do rio Paraná de visitas são em grande parte de grupos de estudantes. O
aproximadamente meio bilhão de m³, o que seria gráfico 01 ilustra a visitação por ano na Usina.
suficiente para atender a demanda por longo prazo.
(SCARPINELLA, 1999). Gráfico 01 – Visitas da Usina. Fonte: CESP, 2013. Org.:
Além disso, foram afetados os pescadores, Autora.
agricultores, e toda a cultura local, presentes nos sítios
arqueológicos, e do patrimônio histórico e cultural que
foram perdidos a partir do momento que as famílias foram
realocadas para outro lugar. Por esses e outros motivos,
várias ações judiciais passaram a ser movidas contra a
CESP para que houvesse um reparo por essas perdas, não
que o valor indenizatório recuperasse o que foi perdido,
mesmo com o EIA – RIMA, nem todos os animais
conseguiriam ser resgatados e consequentemente serem
salvos. Igualmente a perda imaterial representada pelo
patrimônio histórico cultural foi irreparável.
Vale alertar que tanto o viveiro de mudas quanto o
O público visitante da Usina são geralmente
museu são obras de compensação da CESP, que de acordo
grupos de estudantes, caracterizando uma visita técnica
com um estudo de impactos realizado precisariam ser
criados para fins de “minimizar” os impactos causados pedagógica, provenientes dos estados de São Paulo,
com a construção da Usina. Paraná e Mato Grosso do Sul, e outros estados que
Conhecendo um pouco sobre o histórico da Usina, aparecem esporadicamente.
O perfil dos visitantes são em sua maioria
entende se o porquê foi necessário indenizar os
constituídos por grupos de estudantes, técnicos, outros e
municípios que foram impactados pela sua construção, no
estrangeiros, sendo respectivamente: 71,12%; 16,25%;
qual estão retratados no Museu. O inicio das visitações na

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12,25%; e 0,38%, este último quase não aparece no entre dois importantes rios. Também poderia ser
gráfico, apresentando apenas uma linha da cor roxa, relacionado ao assentamento, o que não excluiria o
conforme gráfico 02. elemento rio, pois há dois assentamentos as margens dos
rios.
Gráfico 02: Perfil dos visitantes. Fonte: CESP, 2013. Segundo o Entrevistado o turismo poderá
Org.: Autora. aproveitar ainda a eclusa que está parada, o aeroporto, e
também alguns elementos que estão em construção, como
a ferrovia norte-sul sobre a usina formando a
rodoferroviária e o porto intermodal, que são recursos que
poderão contribuir para o desenvolvimento do turismo.
Partindo de uma leitura deste Entrevistado sobre a
visitação na Usina, percebe-se que há um potencial
grande da Usina que permite o entrecruzamento da
proposta de Turismo no Espaço Rural – TER nos
assentamentos rurais por meio de roteiro de visitação.
Também foram entrevistados a Roda de Viola e a
Folia de Reis, que, relataram o desejo de ver essas
manifestações culturais como atrativo turístico, de receber
visitantes, pois seria uma maneira de valorizar o que cada
um faz.
A partir das informações obtidas nessa entrevista Tendo o conhecimento do perfil dos visitantes da
com a Usina, percebe-se que há uma potencialidade Usina, bem como a disposição de tempo de alguns grupos
turística, representada pelos aspectos naturais e propõe-se a elaboração de dois tipos de roteiros, no qual
tecnológicos do município, contudo sua fragilidade englobam os visitantes de meio período e período integral
consiste na questão do fomento, pois segundo o conforme o quadro 01 e quadro 02.
entrevistado da CESP é o que falta para desenvolver o
turismo local. Quadro 01: Roteiro 1. Fonte: Autora.
Há uma procura dos visitantes da Usina por Roteiro 1 – Usina no contexto ambiental e cultural
artesanato o que cria uma perspectiva de desenvolvimento Meio Período Atividade
de um produto que traga as características do local, o que A combinar Recepção no Auditório
pode trazer tanto uma referência dos rios, da paisagem 1h00 minutos Vista a Usina: enfatizar sobre a
natural ou do espaço rural. Isso é outra possibilidade para construção da Usina e a produção de
trabalhar o turismo local. Energia.
O município indiretamente, por meio da Usina faz 00h40minutos Visita ao Viveiro de Produção de
parte do Circuito Oeste Rios, que é um roteiro regional, Mudas: enfatizar sobre os impactos
com o objetivo de dinamizar o turismo regional. Este ambientais.
roteiro poderia ser integrado com a proposta de roteiros - visitar o banco ativo de
que se fará nesse trabalho. O roteiro do Circuito Oeste germoplasma;
Rios poderá ser aprimorado no sentido de contribuir - Trilha até o Auditório ao Ar Livre.
significativamente para o turismo local. 00h40minutos Auditório ao ar Livre: falar dos
Na percepção do entrevistado, é possível aspectos culturais da relação homem
aproveitar o fluxo de visitantes da Usina para outros com a natureza
atrativos do município, inclusive para os assentamentos. - apresentação de Violeiros da Roda
Uma pratica que é extremamente organizada, como de Viola ou do grupo de Folias de
acontece na Usina poderá ser um ponto central para Reis.
iniciar um processo de turistificação nos demais atrativos 00h40 minutos Finalizar a Visita
ou potencialidades do município. No caso dos - Retornar ao Auditório interno.
assentamentos é possível a concretização de um roteiro - Café no local com alimentos
que venha a incorpora-lo dentro das visitações da Usina, caseiros dos assentamentos rurais:
como meio para se conhecer as formas de produção, a queijos, doces, compotas, leite, café,
cultura, tais como, o modo de vida, a culinária, entre sucos, etc.
outros. Este último seria essencial logo que o perfil do - Despedida do grupo.
público visitante da Usina, em sua maioria, permanece o
dia todo e sendo assim, necessitam de serviços de No primeiro roteiro podem ser contemplados os
alimentação. E tendo um prato típico da localidade este aspectos ambientais e técnicos como a escolha do local
poderá ser apreciado pelos visitantes. para a construção da Usina; os benefícios e os malefícios
Como sugere este Entrevistado, esse prato típico da geração de energia por meio de Usina hidrelétrica; os
poderia ser relacionado ao rio, logo que o município está impactos na fauna e flora com destaque para as espécies

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em extinção, bem como os reflorestamentos, unidades de Quadro 02: Roteiro 2. Fonte: Autora.
conservação, manejo da fauna silvestre; e o Roteiro 2 – UHE Eng. Sérgio Motta e o espaço rural
remanejamento populacional com a criação dos Período Integral Atividade
reassentamentos e os impactos que isso ocasionou.
Dos aspectos culturais poderiam ser mencionados A combinar Recepção no Auditório
os espaços ao ar livre que as famílias utilizavam como
1h00 minutos Vista a Usina: enfatizar sobre a
forma de lazer com os piqueniques, entre outras, e fazer
construção da Usina e a produção
essa contextualização ao espaço que eles estão que é o
de Energia
Auditório ao ar livre. Mencionar o modo de vida das
famílias assentadas e sua relação com o meio ambiente 00h40minutos Visita ao Viveiro de Produção de
natural, logo que a maioria das famílias realocadas de Mudas: enfatizar sobre os impactos
suas residências em virtude da construção da Usina ambientais
dependia do meio ambiente para sobreviver, dessa forma - visitar o banco ativo de
poderia ser abordada a questão dos ribeirinhos e sua germoplasma: enfatizar a questão
relação com o rio Paraná, os agricultores e sua relação dos impactos da construção da
com a terra, e os oleiros que retiravam a argila em uma Usina
das áreas que foram inundadas para construção do lago; Trilha até o Auditório ao Ar Livre:
além dos aspectos de alimentação, trabalho, os meios de - área de reflorestamento.
transporte.
Nos meios de transporte pode haver uma breve 01h00minutos Visita ao Museu de Memória
contextualização com o transporte do inicio do Regional: falar dos aspectos
povoamento da região com os que são utilizados pelos culturais da região.
assentados na atualidade, falando de sua importância para - Povoamento;
quem vive no campo. - Cotidiano e Lazer (Painel
Este roteiro poderá ser alterado para se adequar a Cotidiano e Energia) ressaltar as
necessidade do grupo que está visitando, com a inserção brincadeiras, atividades do
de outras atividades ou temáticas que seja mais pertinente cotidiano, atividades esportivas e de
ao grupo visitante. lazer como os bailes, a
Para o segundo roteiro foi Entrevistado o Museu musicalidade, entre outras.
de Memória Regional. Na entrevista com o Museu de 1h45 minutos Deslocamento para o assentamento
Memória Regional, quando foi questionado sobre a - almoço no assentamento
criação do roteiro que integrasse o museu, a usina e os - apresentação do grupo de Folias
assentamentos rurais, o entrevistado foi favorável, de Reis ou Violeiros da Roda de
apontando que esse caminho é possível. Viola.
Dessa forma, quando indagada sobre as atividades 01h00 - visita a algumas propriedades
que poderiam integrar o turismo local, além de pesca, foi próximas ao rio Paranapanema ou
mencionado o turismo de aventura aproveitando os rios, a Paraná.
prática de canoagem, de remo, caminhada, cicloturismo, 01h00 minutos - Apresentação do grupo de Folias
arvorismo, turismo rural, entre outros. de Reis ou Violeiros da Roda de
Como já mencionado, há interesse da Folia de Reis Viola.
e da Roda de Viola, em ser um atrativo turístico e um - Café da tarde no local com
anseio dos organizadores para que haja um alimentos caseiros dos
reconhecimento por parte do poder público local sobre a assentamentos rurais: queijos,
importância dessas manifestações para a cultural doces, compotas, leite, café, sucos,
municipal, conforme entrevistas realizadas. etc.
Estas duas manifestações foram selecionadas por - Despedida do grupo.
serem aquelas que permitem um deslocamento para a
cidade para apresentações e em virtude das características Na visita ao Viveiro de Produção de Mudas
já mencionadas nesse texto. poderiam ser exemplificados com as principais ações que
Neste segundo roteiro é dada ênfase para aspectos a CESP desenvolve para minimizar os impactos causados
técnicos da Usina, como já é de costume se fazer, mas pela construção da Usina; a questão das sementes e o
igualmente os aspectos culturais e a visita nos banco ativo de germoplasma, relatando sobre as principais
assentamentos. Dessa forma, este roteiro tem como espécies de flora que foram retiradas para a construção do
objetivo enfatizar sobre o processo de construção da lago; assim como na parte da trilha os visitantes podem
Usina, com dados técnicos e essenciais para se ver os exemplos dessas espécies cultivadas como meio
compreender o porquê que a Usina foi instalada no para garantir sua existência; mencionar a fauna que foi
município, bem como a questão da produção de energia, a remanejada.
escada para peixes e a eclusa.

C.N. Santos; R. C. C. Thomaz ,661


Anais do VIII Congresso Brasileiro de Turismo Rural e I Colóquio Internacional de Pesquisa e Práticas em Turismo no Espaço
Rural, Rosana - SP, 10-13 de novembro de 2013 v1.
Nos aspectos culturais mencionar na visita ao BRASIL. Ministério do Turismo. Diretrizes para o
Museu de Memória Regional sobre o modo de vida das desenvolvimento do turismo rural no Brasil. Brasília,
famílias que residiam nos municípios impactados, falar 2003. Disponível em: http://institucional.turismo.gov.br.
sobre as formas de lazer, as brincadeiras, os bailes, a Acesso em: 18 abr. 2008.
musicalidade, que podem ser contextualizadas com a
viola e o grupo de Folias de Reis. BRASIL. Ministério do Turismo - MTur. Turismo rural:
Nos assentamentos ficaria a parte da alimentação, orientações básicas. Brasília, 2008. Disponível em: <
o contato com os aspectos culturais, com o modo de vida http://www.turismo.gov.br/export/sites/default/turismo/o_
e produtivo dos assentados. ministerio/publicacoes/downloads_publicacoes/Turismo_
Rural_Versxo_Final_IMPRESSxO_.pdf>. Acesso em 20
3. CONCLUSÕES jan. 2013.

A elaboração de roteiro que integre a visita da CARNEIRO, L. P. M. Proposta de implantação de dois


Usina com os assentamentos é um recurso que poderá roteiros turísticos no assentamento Nova Pontal, em
contribuir para o desenvolvimento do turismo no espaço Rosana, SP: análise das limitações e possíveis soluções.
rural. 2007. 115 f. Monografia (apresentada ao final do curso de
Estes roteiros serão eficazes se tiverem a graduação em Turismo) – Universidade Estadual Paulista
participação da comunidade assentada e o poder público “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Experimental de
local. Para isso a utilização do planejamento é de suma Rosana, Rosana. Disponível em:
importância para pensar em toda a infraestrutura <http://biblioteca.rosana.unesp.br/int_conteudo_sem_img.
necessária para que isso se torne realidade. php?conteudo=168 >. Acesso em: 25 abr. 2009.
Neste contexto, a vivência dos assentados
articulado com a atividade turística é uma possibilidade CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia
que permitirá a esses pequenos agricultores se manterem científica. 5 ed. São Paulo: Perason Prentice Hall, 2002.
em seus lotes ao mesmo tempo em que seu poderá ter a
valorização da sua produção, seu saber - fazer, suas CORIOLANO, L. N. M. T. Da sedução do turismo ao
músicas, suas tradições, suas religiosidades, entre outros turismo da sedução. In: RODRIGUES, Adyr B. (Org.).
aspectos. Turismo, modernidade e globalização. São Paulo:
O aproveitamento do fluxo de visitação que Hucitec, 1997. P. 119-135.
ocorrem na usina hidrelétrica, para trabalhar em conjunto
com as comunidades rurais é um caminho que abre portas CRUZ, P. M.. Restauração e agroecologia: é possível?
para outras atividades, como por exemplo, feira de Estudo de viabilidade no assentamento Nova do Pontal
artesanato com doces caseiros produzidos nos com base na permacultura. 2008. 105 f. Monografia
assentamentos, oferta de produtos diversos que podem ser (apresentada ao final do curso de graduação em Turismo)
desenvolvidos no município. A oferta de roteiro pode – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
favorecer para que outros roteiros sejam elaborados no Filho”, Campus Experimental de Rosana, Rosana.
município e outras atividades de lazer e atrelados a pratica Disponível em: < http://biblioteca.rosana.unesp.br/int_con
do turismo sejam criadas. teudo_sem_img.php?conteudo=258>. Acesso em: 20 jun.
Entretanto, mais uma vez se faz necessário o 2013.
planejamento para que o turismo seja desenvolvido de
acordo com o desejo da comunidade, para que esta DIAS, R. Turismo e patrimônio cultural: recursos que
atividade não seja priorizada em detrimento de elementos acompanham o crescimento das cidades. São Paulo:
que são substanciais para o cotidiano da comunidade Saraiva, 2006.
como: a educação, saúde, transporte, saneamento básico,
lazer, entre outros. GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São
Por isso é de suma importância pensar na Paulo: Atlas, 2008.
responsabilidade que todos tem sobre o turismo, desde o
poder público local, a sociedade civil e as associações. A IOKOI, Z. M. G. et al (Org.). Vozes da terra: história de
atuação em conjunto para pensar o turismo fará com que vida dos assentados rurais de São Paulo. São Paulo:
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