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Blue rave, a ciade dos pescadores

```7:00```

-Darya, acorda ae...- A menina abre os olhos lentamente e os fecha novamente ao


ouvir a voz familiar.

-Que?... Andrew?...- Ela se revira na cama. -Pera... ANDREW?...- Ela se levanta,


assustada e ofegante.

-Que porra de Andrew, Darya?

-Victory?... Ah mano, não me acorda assim.

-Quer que eu te acorde como? gritando? A sua mãe ta chamando pra tomar café.

-Que horas são?

-Sei lá, deve ser umas sete e pouca. A gente vai te esperar na mesa, vai se
arrumando ai, o velho e o Jack vão sair daqui a pouco, acho que você vai querer dar
um tchau.- Victory sai do quarto, fechando a porta e deixando Darya sozinha.

Ela olha em sua volta, observando seu pequeno quarto, as paredes meio rachadas e
cinzas, uma mesinha com cadernos empilhados e um calendário marcando como dia
12/7/2008, suas botas pretas ao lado da porta e seu guarda-roupas velho com algumas
fotos coladas nas portas. Ela se olha no espelho velho, se preparando para levantar
e iniciar mais um dia, diversos pensamentos passam pela sua mente, até que ela
reconhece uma voz vindo de fora do quarto, no corredor.

-DARYA, LEVANTA AE! BORA QUE A GENTE JA VAI SAIR!

-JACK? JA VOU!

Ao finalmente se levantar ela começa a trocar suas roupas, colocando uma blusa
branca por baixo de seu macacão jeans, que tem uma das alças soltas, e suas botas
pretas. Ela sai do quarto, indo até a cozinha, sentindo um cheiro suave de café
saindo de lá e se espalhando pela casa.

-Oi, oi, bom dia.- Ela se senta em uma das cadeiras, pegando um pão de dentro da
bolsa de plástico

-Bom dia, você se esqueceu que tem aula hoje?- Disse Cecília, enquanto lavava
algumas loças.

-Ó mãe, culpa da Victory de não ter me acordado antes.- Darya olha para Victory
dando uma risadinha.

-O O, É MENTIRA ISSO AI, TIA, EU ACORDEI ELA E ELA VOLTOU A DORMIR!

-PARE DE GRITAR, GAROTA! logo de manhã, minha filha sempre te convida pra tomar
café aqui e você não tem o mínimo de respeito.- Diz o velho Harry que está sentado
no sofá.

-Vei' rabugento da porra...- Fala ela após tomar um gole do seu café.

-Vô, a gente vai sair agora?.- Jack aparece no corredor, com a roupa de pescador
que seu pai lhe deu.

-Claro, vamos logo, é agora de manhã que os peixes se movimentam mais.- Fala o
velho, se levantando.

_-Victory... Victory..._- Darya numa tentativa de cochicho. _-Bó' termina de


cabular a aula hoje? Eu to com sono ainda..._

-Olha, vocês podem terminar esse café ai e ir direto pra escola, entenderam?- Diz
Cecília antes que Vic conseguisse responder um "sim" para Darya.

-Sim, sim, tia... _Foi mal. Darya. Não vou desobedecer a dona Cecília._

_-'Cabo com os plano..._- Expressando uma cara emburrada enquanto termina seu café.

Após terminar, as duas começam a sair da casa, a caminho da escola que fica do
outro lado da cidade, por mais que estejamos no inverno de manhã estava um sol
forte, aquela vitamina D boa.

-TCHAU MÃE, TCHAU VÔ, TCHAU JACK.

-TCHAU TIA, OBRIGADA PELO CAFÉ.

-Cuidado no caminho, meninas.

Darya se senta na garupa da bicicleta de Victory. Uma bicicleta jaguar Mark


Schwinn, meio enferrujada com a escrita "Silver" no tubo superior do quadro.

-Ó, no 3 a gente grita, beleza? Beleza?- Diz Vic se preparando para começar a
pedalar.

-Ok, ok... Vai, conta ae.

-1... 2... 3!

-AIÔOOO SILVEEEER!!- As duas gritam juntas enquanto saem com a bike.

Elas chegam atrasadas, como sempre. Talvez comprar o refrigerante no meio do


caminho não tenha sido uma boa ideia, nem terem parado para conversarem com Lucas,
um amigo de Jack.

-Eu não sei o que fazer com vocês, sinceramente. É o 3° atraso só nessa semana e o
18° só do mês, o que está acontecendo?

-Olha, eu juro que tem um bom motivo...

-Diga, Victory.- O diretor Paulo se escora na mesa.

-É que... Você sabe o que esta acontecendo com meu pai... E com minha familia...

-Eu entendo, senhorita, mas não pode continuar se atrasando assim.- O diretor se
vira para procurar o papel das assinaturas.

Darya da uma cotuvelada no braço de Vic _-Como você tem a AUDÂCIA a usar essa
desculpa?_

_-Usei a primeira que veio em mente._

_-Tu sempre usa essa._

-E VOCÊ? Senhorita Darya.- Ela da um pulo com o grito do diretor.


-Eu? Eu tive que ficar acordada de madrugada porque...

-Senhor diretor- Alguém interrompe, abrindo a porta, era o professor Charlie. -


James e Gustavo estão brigando no pátio, novamente.

O diretor suspira. -Vocês estão dispensadas, vou deixar passar a assinatura dessa
vez. Charlie, vá na frente e traga os alunos até aqui.

-Sim, senhor Paulo, meninas, vão para a sala.- As duas concordam com a cabeça e
saem da diretoria.

Assim que entram na sala são recebidas por Ana, a menina mais "popularzinha" mas
que todos odeiam.

-As pobretonas se atrasando de novo?- Ela faz o favor de gritar para todos ouvirem.

-Como se você fosse a mais rica de todos nós.- Darya responde.

-Mal sabem vocês... Mas vocês continuam sendo as mais pobres, de todas as formas.

-E você tem agum problema com isso?- Victory fala irritada, suportar isso todo dia
deve ser dificil para qualquer um.

-Você sabe que eu tenho, Perdedora.

-Isso foi uma piada com o meu nome? Quantas vezes eu vou ter que te dar a
satisfação de responder que esse nome foi dado por causa de um marco importante?

-Foi o dia que seu pai virou um drogado bêbado e sua mãe te abandonou, sua
perdedora do caralho?- Toda a sala pareceu sentir essa frase, pela reação de todos.

-OLHA, EU TO CANSADA DE VOCÊ FALANDO DA MINHA FAMÍLIA, VOCÊ NÃO TEM NADA A SE
METER, ISSO É UM ASSUNTO SÉRIO!- Victory se levanta e se aproxima de Ana ameaçando
bater nela.

-VIC! Não faz isso agora, vai dar ruim pra gente!

-É um assunto tão sério que você usa como uma desculpa pra não ter que estudar,
enfim, vai me bater ou só ameaçar?

-Não é para não ter que estudar, você não entende. Eu sinceramente quero muito mas
não vou te bater, sua filha da puta.

-Ó, que medo, eu estou. Eu to acostumada com esses seus joguinhos, minha querida,
ameaça mas nunca faz nada, e quando faz não tem o mínimo efeito.- Ela e suas amigas
riram, debochando.

-Vic, sente-se na sua cadeira, Ana, deixe Victory em paz.- Charlie entra na sala -
Peguem seus cadernos e vamos começar, ja tivemos muitos imprevistos hoje e eu não
quero atrasar a aula.

Darya olha para a cara de Ana, com desprezo, isso não pode ser um ser humano,
como que em todos esses anos ela continua sendo tão arrogante?

```11:20```

Deixando sua bicicleta na frente da escola junto de sua mochila, Victory vai até
a casa do seu pai, deixando Darya sozinha sem ela saber.
-Pai?... PAI?...- Ela começa a entrar em casa.

-Vi?...- Ela ouve a voz do pai vinda da cozinha.

-Você dormiu na mesa de novo? bebeu muito ontem anoite? Você deixou a porta
destrancada, sabia?

-Não bebi tanto quanto na semana passada... Sobre a destranca, eu esqueci de porta-
la.- Ele tenta se levantar, cambaleando.

Vic esboça um sorriso -Isso é uma conquista né? Menos do que na semana passada.

-Que?... Ah, eu acho que sim.- Ele faz um sorriso nervoso e momentâneo -Ja foi a
aula hoje?

-Sim, o Diretor disse que o pagamento da escola ta atrasado... E como sempre me


zoaram, nada demais.

-Me perdoa Vi, por não ser o melhor pai de todos.

-Como se você fosse lembrar dessa frase, eu sei que você ta pouco se fudendo, não
precisa fingir se importar.

-Ah... Entendo... Ehh... Não te vi chegando ontem, dormiu no porto de novo?

-Aquela ja é praticamente a minha casa, não se preocupe comigo.- O pai fica em


silêncio por alguns segundos sem saber como reagir.

-Vi.. eu...

-ALBERTO, ABRA ESSA PORTA.- Os dois ouvem gritos vindo de fora.

-Você não pagou as dívidas de novo?

-Eu... Não tenho trabalhado... JA VOU, SENHOR MANOEL.

-JA FAZ 1 MÊS QUE VOCÊ NÃO TERMINOU DE ME PAGAR ESSA PORRA.

-Você é um fraco mesmo. Quanto 'ta devendo?

-200 pila, mas não precisa se preo...- Victory passa por ele indo até seu antigo
quarto voltando com 50 reais em mãos.

-Só tenho mais isso pra ajudar, essa vai ser a última vez.

-Vi, onde você conseguiu esse dinheiro?...

Victory passa por ele como se ele fosse inexistente, indo até a porta para abri-la.

-Senhor Manoel, bom dia, desculpe o meu pai.

-Ah, pequena Victory, não sabia que estaria aqui hoje, desculpa meu palavreado você
não merece escutar essas coisas, você não se parece nada com ele, esse cara é uma
vergonha.

-Só vim dar uma passadinha aqui. Não quero que fale assim do meu pai, mas, ao mesmo
tempo obrigada. Enfim, vou indo. TCHAU VELHO, até mais, Sr Manoel.

Darya estava esperando Vic, na calçada da escola, andando de um lado para o


outro, entediada.

-Ai ai, 'sa arrombada vai ver... Vou sair quando ela estiver no banheiro também...
Nem preciso dela mesmo... Chega logo Victory, por favor.

-Opa, Darya.- Ela olha na esperança de ser Vic, mas era Ana, por incrivel que
pareça suas vozes são parecidas.

-Ah, é você.

-Sua amiguinha de deixou?

-Nada que te interesse.

-Ela deve ter resolvido agir como a mãe dela, acho que esse lance de fugir das
coisas é de familia.

-Mas que caralho, o que você tem com ela, sua filha da puta?

-Ta com a boca suja hoje né? Essa menina atazana minha vida, estou apenas
devolvendo, se não fosse você ela não teria aguentado e FINALMENTE fugido daqui, da
minha vida e talvez até da própria.

-Mano, como você consegue ser assim? Sinceramente. Você é minha maior suspeita,
Ana.

-Suspeita? De que merda de conto você ta falando agora?

-Você era amiga do Andrew, não era? Ele não sumiu atoa.

-Não sei por que você ainda se preocupa.

-Diferente de você eu tenho empatia.

-A mãe daquele arrombado só levou ele daqui, não tem nada de mais.

-DARYA!- Victory chega correndo e gritando, interrompendo a conversa.

-VIC!- Darya corre em direção a ela.

-Duas imundas. Mi, pega a minha mochila pra mim, acho que deixei na sala.

-CARAI, ONDE TU FOI, _MENÓ_?

-DEI UMA PASSADA LA EM CASA, VER COMO MEU PAI TAVA.

-E... Ele ta bem?

-Defina "bem", se é o "bem" que eu to pensando que você ta falando, não,


definitivamente.

-Ah, entendi... Enfim, vamo no campo hoje? Queria ver uns bagulho la.

As meninas andam em direção ao campo, deixando novamente a bicicleta na escola.

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