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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial

Mayzon Tayrone Q. dos Santos

SANTA LUZIA (MG) – DISTRITO SEDE E DISTRITO SÃO BENEDITO:


um estudo da estrutura morfológico-funcional de seus espaços urbanos

Belo Horizonte
2020
Mayzon Tayrone Q. dos Santos

SANTA LUZIA (MG) – DISTRITO SEDE E DISTRITO SÃO BENEDITO:


um estudo da estrutura morfológico-funcional de seus espaços urbanos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Márcia M. Alvim

Área de Concentração: Análise Espacial

Linha de Pesquisa: Estudos Urbanos e Regionais

Belo Horizonte
2020
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Santos, Mayzon Tayrone Q. dos


S237s Santa Luzia (MG) - Distrito Sede e Distrito São Benedito: um estudo da
estrutura morfológico-funcional de seus espaços urbanos / Mayzon Tayrone Q.
dos Santos. Belo Horizonte, 2020.
111 f. : il.

Orientadora: Ana Márcia Moreira Alvim

Dissertação (Mestrado) - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.


Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial

1. Geografia urbana - Santa Luzia (MG). 2. Crescimento urbano - Santa


Luzia (MG). 3. Demografia. 4. Desenvolvimento socioeconômico. 5. Percepção
geográfica. 6. Espaço (Arquitetura). 7. Análise espacial (Estatística). I. Alvim,
Ana Márcia Moreira. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
Programa de Pós-Graduação em Geografia - Tratamento da Informação Espacial.
III. Título.

CDU: 711.4(815.12)
Ficha catalográfica elaborada por Fabiana Marques de Souza e Silva - CRB 6/2086
Mayzon Tayrone Q. dos Santos

SANTA LUZIA (MG) – DISTRITO SEDE E DISTRITO SÃO BENEDITO:


um estudo da estrutura morfológico-funcional de seus espaços urbanos

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, como requisito para
obtenção do título de Mestre em Geografia.

Área de Concentração: Análise Espacial

_____________________________________________________________________
Profa. Dra. Ana Márcia Moreira Alvim (Orientadora)

_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Alexandre Magno Alves Diniz (Banca Examinadora)

_____________________________________________________________________
Prof. Dr. Wagner Barbosa Batella (Banca Examinadora)

Belo Horizonte
2020
AGRADECIMENTOS

A todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para que eu pudesse elaborar esta
pesquisa, o meu mais sincero agradecimento.
Gostaria de agradecer em especial:
À Profa. Dra. Ana Márcia M. Alvim, minha orientadora e colaboradora desta pesquisa,
por quem guardo uma imensa admiração pelo seu trabalho, esforço, pelas contribuições e pela
confiança em mim creditada ao me receber como orientando. Gratidão pela condução da
pesquisa e pelas inúmeras correções.
Ao Prof. Oswaldo Bueno Amorim Filho por ser um grande mestre do saber e fazer
geográfico, por sua experiência e dedicação ao nos inspirar a pensar geograficamente.
Ao grupo de professores da Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação
Espacial, por compartilharem seus conhecimentos com sabedoria e entusiasmo, em especial
ao Prof. Dr. Alexandre Magno Alves Diniz
Ao grupo de professores da Pós-graduação em Ciências Sociais – PUC-MG, pelas
conversas, seminários e discussões em sala de aula, em especial à Prof. Dra. Luciana Teixeira
de Andrade e ao Prof. Dr. Carlos Aurélio Pimenta de Faria.
À Regina G. Bastos pelo acompanhamento e desenvolvimento na elaboração das
produções cartográficas, e pela profunda amizade e dedicação.
Aos funcionários da Pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação
Espacial, em especial à Tatiane Dias pela atenção e gentileza no atendimento.
Aos amigos que fiz no curso de Pós-graduação em Geografia – Tratamento da
Informação Espacial.
Finalmente, à Fundação CAPES pelo fomento da pesquisa e oportunidade de poder
progredir em meus estudos.
“Até pouco tempo atrás, a melhor coisa que eu fui capaz de pensar em favor da
civilização, afora a aceitação irrestrita da ordem do universo, foi que ela tornou
possível a existência do artista, do poeta, do filósofo e do cientista. Mas acho que
isso não é o melhor. Hoje acredito que o melhor é aquilo que entra direto em nossa
casa. Quando se diz que estamos muito ocupados com os meios de vida para
conseguir viver, respondo que o principal valor da civilização é simplesmente que
ela torna os meios de vida mais complexos; que ela exige grande combinação de
esforços intelectuais, em vez de esforços simples e descoordenados, para que a
população possa ser alimentada, vestida, abrigada e transportada de um lugar a
outro. Esforços intelectuais mais complexos e mais intensos significam uma vida
mais plena e mais rica. Significam mais vida. A vida é um fim em si mesmo, e a
única questão sobre o valor da vida é tirar dela o máximo possível.”

Oliver Wendell Holmes, Jr. - (Janes Jacobs - Morte e vida de grandes cidades)
RESUMO

O objetivo da pesquisa é comparar um conjunto de elementos que possam gerar a


compreensão da estrutura morfológico-funcional dos espaços urbanos do município de Santa
Luzia-MG (Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH). Esses espaços urbanos foram
gerados pela ocupação e expansão urbana, e ao que hoje são reconhecidos pela população como
duas “Santa Luzia”: o Distrito Sede (espaço urbano simbolicamente constituído pelo Centro
Histórico e onde estão os órgãos públicos) e o Distrito São Benedito (espaço urbano de
representatividade comercial localizado nas imediações da capital mineira). Trata-se de
compreender os processos formados ao longo do tempo, através de espaços singulares e de
importante representação. Além disso, identifica-se a relação e a distinção entre esses espaços
urbanos, considerando seus respectivos sítios e estruturas morfológico-funcionais – as funções
urbanas e os equipamentos urbanos distribuídos sobre o espaço.
A escolha de Santa Luzia-MG se deve ao fato desta dispor de um espaço conurbado a
Belo Horizonte – espaço urbano ocupado por sua proximidade com a metrópole e resultante de
um espraiamento de Belo Horizonte sobre o município. A pesquisa se organiza em partes
articuladas, apresentando discussões teórico-conceituais que contribuem para a compreensão
dos espaços urbanos dos distritos municipais, de forma a orientar a leitura dos processos
ocorridos nesses espaços. Apresenta-se alguns aspectos de desenvolvimento histórico-
geográfico e estudos sobre o traçado urbano, partindo-se da identificação de centros e
subcentros, e análises correspondentes às funções urbanas. Por fim, analisa-se a importância
que o Distrito São Benedito possui para o município de Santa Luzia, e sua polarização devido
à proximidade com a metrópole Belo Horizonte.

Palavras-chave: Estrutura Morfológico-Funcional. Funções Urbanas. Espaço Urbano.


ABSTRACT

This research aims to compare a set of elements that can generate an understanding of
the morphological and functional structure of urban spaces in the municipality of Santa Luzia-
MG, Metropolitan Region of Belo Horizonte (MRBH), which were generated by an urban
occupation and expansion, and to what today are recognized by its population as two “Santa
Luzia”: the Headquarters District (urban space symbolically constituted by the Historic Centre
and where the public bodies are) and São Benedito District (urban space of commercial
representation located in the vicinity of the capital of Minas Gerais). The study aims to
understand the processes formed over time, through singular spaces and important
representation. In additon, it also stablishes the relationship and distinction between these urban
spaces considering their respective sites and morphological and functional structures–urban
functions and urban equipment distributed over the space.
The choice of Santa Luzia-MG is due to the fact that it has a conurbated space–an urban
space occupied by its proximity to the metropolis resulted from a spread of Belo Horizonte over
the municipality. The research is organized in articulated parts, presenting theoretical and
conceptual discussions that contribute to the understanding of the two urban spaces (the
Headquarters and São Benedito District) in the municipality of Santa Luzia, in order to guide
the reading of the processes that took place in these spaces. Some aspects of historical and
geographical development and studies on the urban layout are presented. Starting from an
identification of centres and sub-centres and analyses corresponding to urban functions. Finally,
the importance that São Benedito District has for the municipality of Santa Luzia is analyzed,
and its polarization due to its proximity to the metropolis Belo Horizonte.

Keywords: Morphological and Functional Structure. Urban Functions. Urban Space.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Estrutura metodológica..............................................................................................20

Figura 2: Evolução da RMBH (1973 – 2002).............................................................................22

Figura 3: RMBH e Colar Metropolitano de Belo Horizonte (MG)........................................... 24

Figura 4: Municípios da RMBH e Colar Metropolitano (n° de hab.).........................................25

Figura 5: BH, RRMBH* E RMBH – Taxa Geométrica Média Anual de Crescimento

Populacional, 1940/1950 – 1991/2000......................................................................................26

Figura 6: Crescimento Anual da População – RMBH................................................................27

Figura 7: Mancha Urbana da RMBH.........................................................................................28

Figura 8: Região Metropolitana de Belo Horizonte - Expansão da Mancha Urbana..................29

Figura 9: População total, imigrantes, emigrantes, saldo migratório, taxa de imigração, taxa de

emigração e taxa Líquida Migratória da população dos municípios da Região Metropolitana de

Belo Horizonte, de acordo com os dados da amostra do Censo Demográfico de 2010...............30

Figura 10: Distribuição espacial dos setores censitários segundo o tipo de assentamento - RM

de Belo Horizonte e Colar Metropolitano..................................................................................31

Figura 11: Incremento dos domicílios subnormais em relação aos novos domicílios por

município na RMBH*...............................................................................................................32

Figura 12: Santa Luzia no contexto da RMBH (MG).................................................................33

Figura 13: Santa Luzia – Distrito Sede e São Benedito – Portais de Acesso...............................34

Figura 14: Localização de Santa Luzia em relação aos Compartimentos Morfoestruturais.......35

Figura 15: Divisão político-administrativa e divisão em trechos da bacia do Rio das Velhas....36

Figura 16: Mapa Hipsométrico e Mapa de Declividade - Santa Luzia – MG.............................37

Figura 17: Limite do Perímetro da Zona Urbana, Zona de Expansão Urbana e Zona Rural,

Macrozona de Proteção do Patrimônio Natural e Macrozona Urbana........................................39

Figura 18: Zona de Especial Interesse Social – 1/2 (ZEIS – 1/ZEIS – 2)....................................41
Figura 19: Distritos Sede e São Benedito -Área modificada por novos produtos imobiliários...42

Figura 20: Distrito São Benedito -Áreas modificadas nos períodos 2008/2016/2019................43

Figura 21: Distrito Sede: Áreas modificadas nos períodos 2009/2019.......................................46

Figura 22: Paisagens relativas à função residencial...................................................................48

Figura 23: Distrito Sede: Centro e subcentros............................................................................49

Figura 24: Região do povoamento inicial à margem direita do Rio das Velhas – Alto da Colina

Cruzamento das Ruas Direita, Serro e Santa Luzia....................................................................51

Figura 25: Linha do tempo - Frigorífico Frimisa S/A.................................................................53

Figura 26: Esquema do Centro Histórico - Funções Urbanas....................................................55

Figura 27: Esquema do Centro Histórico - Traçado Urbano......................................................55

Figura 28: Esquema do Subcentro Parte Baixa – Funções Urbanas...........................................60

Figura 29: Esquema do Subcentro Parte Baixa – Traçado Urbano.............................................60

Figura 30: Esquema do Subcentro Parte Alta -Funções Urbanas...............................................65

Figura 31: Esquema do Subcentro Parte Alta -Traçado Urbano................................................65

Figura 32: Esquemas do Distrito Sede – Funções Urbanas e Traçado urbano: Centro Histórico,

Subcentros Parte Baixa e Parte Alta, bairro Frimisa (PMSL).....................................................68

Figura 33: Conjunto Palmital /Conjunto Habitacional Cristina.................................................73

Figura 34: Distrito de São Benedito...........................................................................................74

Figura 35: Avenida Brasília – Trechos.......................................................................................75

Figura 36: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 1 - Funções Urbanas...................................77

Figura 37: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 1 - Traçado Urbano.....................................77

Figura 38: Esquema da Avenida Brasília (e Rua Alvorada) – Trecho 2 - Funções Urbanas........80

Figura 39: Esquema da Avenida Brasília (e Rua Alvorada) – Trecho 2 – Traçado Urbano.........80

Figura 40: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 3 - Funções Urbanas...................................83

Figura 41: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 3 - Traçado Urbano.....................................83


Figura 42: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 4 - Função Urbana......................................86

Figura 43: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 4 - Traçado Urbano.....................................86

Figura 44: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 5 - Função Urbana......................................89

Figura 45: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 5 – Traçado Urbano....................................89

Figura 46: Esquemas do Distrito São Benedito – Funções Urbanas e Traçado urbano...............92

Figura 47: Relação dos moradores frente aos espaços urbanos de Santa Luzia..........................97

Figura 48: Relação dos moradores frente aos espaços urbanos de Santa Luzia..........................99

Figura 49: Santa Luzia - Evolução das manchas de ocupação (1980)......................................101

Figura 50: Santa Luzia - Evolução das manchas de ocupação (1980-2000).............................102

Figura 51: Santa Luzia: evolução das manchas de ocupação (1980/2000/2020)......................103

Figura 52: Metrópole Monodispersa X Policompacta.............................................................106


LISTA DE FOTOS

Foto 1: Santa Luzia - vista para a Matriz (1867).........................................................................52

Foto 2/3: Centro Histórico.........................................................................................................54

Foto 4/5: Centro Histórico.........................................................................................................54

Foto 6: Estação Ferroviária Rio das Velhas................................................................................57

Foto 7/8: Subcentro Parte Baixa................................................................................................59

Foto 9/10: Subcentro Parte Baixa..............................................................................................59

Foto 11/12: Subcentro Parte Alta...............................................................................................63

Foto 13/14: Subcentro Parte Alta...............................................................................................64

Foto 15/16: Subcentro Parte Alta...............................................................................................64

Foto 17: Vista parcial da Avenida Brasília, principal artéria do São Benedito............................72

Foto 18: Conjunto Palmital /Conjunto Habitacional Cristina....................................................73

Foto 19/20: Trecho 1 – Avenida Brasília....................................................................................76

Foto 21/22: Trecho 1 – Avenida Brasília....................................................................................76

Foto 23/24: Trecho 2 – Avenida Brasília....................................................................................79

Foto 25/26: Trecho 2 – Rua Alvorada........................................................................................79

Foto 27/28: Avenida Brasília - Trecho 3.....................................................................................82

Foto 29/30: Avenida Brasília - Trecho 3.....................................................................................82

Foto 30/31: Avenida Brasília - Trecho 4.....................................................................................85

Foto 32/33: Avenida Brasília - Trecho 4.....................................................................................85

Foto 34/35: Avenida Brasília - Trecho 5.....................................................................................88

Foto 36/37: Avenida Brasília - Trecho 5.....................................................................................88


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1/2: Centro Histórico - Cenas do cotidiano..........................................................56-57

Ilustração 3/4: Subcentro Parte Baixa - Cenas do cotidiano.................................................61-62

Ilustração 5/6: Centro Parte Alta - Cenas do cotidiano.........................................................66-67

Ilustração 7/8: Avenida Brasília – Trecho 1 - Cenas do cotidiano..............................................78

Ilustração 9/10: Avenida Brasília – Trecho 2 - Cenas do cotidiano............................................81

Ilustração 11/12: Avenida Brasília – Trecho 3 - Cenas do cotidiano..........................................84

Ilustração 13/14: Avenida Brasília – Trecho 4 - Cenas do cotidiano..........................................87

Ilustração 15/16: Avenida Brasília – Trecho 5 - Cenas do cotidiano..........................................90


SIGLAS

FRIMISA – Frigoríficos de Minas Gerais S/A

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

PDDI – Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado

PMSL – Prefeitura Municipal de Santa Luzia

RM – Região Metropolitana

RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................1

2 BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS....................................................................................3

3 METODOLOGIA................................................................................................................15

4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA RMBH E LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA


LUZIA......................................................................................................................................21

5 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA..........................................34

6 OCUPAÇÃO E EXPANSÃO URBANA EM SANTA LUZIA: DISTRITO


SEDE........................................................................................................................................49

6.1. Centro Histórico....................................................................................................51

6.2. Subcentro Parte Baixa..........................................................................................57

6.3. Subcentro Parte Alta.............................................................................................62

7 OCUPAÇÃO E EXPANSÃO URBANA EM SANTA LUZIA: DISTRITO SÃO


BENEDITO..............................................................................................................................71

7.1. Avenida Brasília - Trecho 1...................................................................................76

7.2. Avenida Brasília (e Rua Alvorada) - Trecho 2.....................................................79

7.3. Avenida Brasília - Trecho 3...................................................................................82

7.4. Avenida Brasília - Trecho 4...................................................................................85

7.5. Avenida Brasília - Trecho 5...................................................................................88

8 SANTA LUZIA (DISTRITO SEDE E SÃO BENEDITO): PROCESSO DE OCUPAÇÃO


E EXPANSÃO URBANA........................................................................................................93

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................104

REFERÊNCIAS....................................................................................................................108
1

1 INTRODUÇÃO

O objetivo ao escrever esta dissertação é analisar a estrutura morfológico-funcional do


município de Santa Luzia-MG (situado na Região Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH),
diferenciando os espaços urbanos constituídos pelo Distrito Sede e pelo Distrito São Benedito.
Os espaços urbanos no município de Santa Luzia-MG (RMBH) foram gerados pela ocupação
e expansão urbana inclusive de Belo Horizonte, e ao que hoje são reconhecidos pela população
como duas “Santa Luzia”: o Distrito Sede, espaço urbano simbolicamente constituído pelo
Centro Histórico e onde estão os órgãos públicos; e o Distrito São Benedito, espaço urbano de
representatividade comercial situado nas proximidades da capital mineira.
A escolha do município deve-se ao fato da disposição de um espaço conurbado a Belo
Horizonte – espaço urbano ocupado por sua proximidade com a metrópole e resultante de um
espraiamento de Belo Horizonte sobre o município, mais precisamente sobre o Distrito São
Benedito. A posição estratégica de Santa Luzia-MG (RMBH) em relação a Belo Horizonte
favoreceu a ocupação deste distrito por uma população de menor poder aquisitivo, resultando
em ocupações e usos diferenciados do espaço urbano, nas proximidades de grandes eixos
viários que permitem maior acessibilidade à capital. No Distrito São Benedito há uma densidade
ocupacional expressiva, intensificada pela proximidade com Belo Horizonte.
À essa ótica, apresenta-se a contribuição não somente da conjuntura de ações no espaço,
mas também na dimensão da cidade como um todo, por tomar como argumento justamente o
que resvala a percepção da relação e das diferenças entre esses espaços urbanos. Segundo Lynch
(1960, p.2), a “nossa percepção da cidade não é abrangente, mas antes parcial, fragmentária,
misturada com considerações de outra natureza. Quase todos os sentidos estão em operação, e
a imagem da cidade é uma combinação de todos eles”. O modo como percebemos a cidade e o
espaço urbano associa-se à maneira à qual devemos lidar com eles, a partir da análise de
fragmentos – marcos, limites, pontos nodais, vias e bairros – e da relação entre eles, através de
nossos sentidos, descrevendo como realmente são. Ao se identificar os elementos principais de
uma cidade, percebe-se a maneira como ela se estrutura.
A fisionomia da cidade, neste estudo – fisionomia dos espaços urbanos –, é algo a ser
considerado, pois resulta de um conjunto de elementos estruturadores do espaço urbano
percebidos ao longo do tempo. A fisionomia indica o reconhecimento das partes/detalhes e
como se organizam e podem ser reconhecidos (simbolicamente identificáveis), como um
sistema de referências e organizador da atividade, pois a cidade e o espaço urbano são frutos de
uma sociedade complexa. Por isso, é interessante ressaltar as informações sobre os meios
2

utilizados para a identificação do espaço urbano, ou seja, é importante compreender os


processos de sua formação ao longo do tempo, através de espaços singulares e de importante
representação. Some-se a isso, a análise da relação e distinção entre esses espaços urbanos,
considerando seus respectivos sítios e estruturas morfológico-funcionais – as funções urbanas
e os equipamentos urbanos distribuídos sobre o espaço.
É necessário reforçar a representação da cidade e dos espaços urbanos por meio de
artifícios simbólicos perceptíveis ao seu entorno, por meio de representações cartográficas, de
imagens fotográficas e ilustrações. Isto é, um diagrama simbólico de como a cidade e o espaço
urbano podem formar unidades e apresentar relações. Esses artifícios simbólicos são úteis para
a identificação de conexões, disposição dos elementos no espaço, funções urbanas e relações
interurbanas estabelecidas. Assim sendo, pretende-se compreender a estrutura morfológico-
funcional dos espaços urbanos de Santa Luzia, buscando-se entender a representatividade que
eles carregam em seu contexto metropolitano.
As questões econômicas e sociais não podem ser ignoradas. O fato deve-se às mudanças
espaciais que desmistificam a ideia de homogeneização do espaço e apresentam novas
fragmentações e rupturas. Essa constituição cria um tecido urbano onde se localizam centros e
subcentros que impõem um novo ritmo de desenvolvimento e de interdependência regional e
local. Essa forma de concentração geográfica de atividades, com efeito, molda a organização
dos espaços urbanos. Sobre a temática da prática espacial e das especializações produtivas,
Raffestin (1993, p. 151) afirma que “[...] não somente se realiza uma diferenciação funcional,
mas ainda uma diferenciação comandada por um princípio hierárquico, que contribui para
ordenar o território segundo a importância dada pelos indivíduos e/ou grupos às suas diversas
ações”.
Portanto, a pesquisa se organiza a partir de bases teórico-conceituais que contribuem
para a compreensão dos espaços urbanos (Distrito Sede e Distrito São Benedito) do município
de Santa Luzia. Logo, evidenciam-se alguns aspectos de desenvolvimento histórico-
geográficos, por meio de estudos sobre o traçado urbano, a constituição de centros e subcentros
e funções urbanas. Por fim, indica-se a importância que o Distrito São Benedito possui para o
município, e sua polarização devido à proximidade com a metrópole.
3

2 BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS

Este capítulo tem por finalidade a sistematização e organização de um estudo que


forneça uma contribuição teórico-conceitual às reflexões abordadas na pesquisa. O desafio
encontra-se na construção do conhecimento relativo à estrutura morfológico-funcional de um
município, de sua sede (cidade) e de seus demais espaços urbanos. A maneira com a qual se
estuda a cidade e o espaço urbano advém das formas de organização de elementos morfológicos
e de atividades que abarcam relações em um espaço. Nesse sentido, o espaço urbano assume
uma complexidade, visto que se apresenta como condição, meio e produto da ação humana ao
longo do tempo, revelando continuidades e descontinuidades, transformações na paisagem,
relações de classes diferenciadas, rupturas de ritmos e fragmentação espacial, todos presentes
na morfologia urbana.
Para tanto, algumas classificações funcionais urbanas são apresentadas com o intuito de
se obter um estudo que possa, inicialmente, descrever a morfologia juntamente com a
localização espacial das atividades constituintes dos espaços urbanos. A morfologia relaciona-
se com a prática cotidiana da vida urbana, refletida na posição das habitações, dos serviços
alocados, dos pontos de trabalhos e da mobilidade populacional. Todos esses elementos do
interior do espaço urbano resultam em transformações na estrutura geográfica, seja pela
movimentação da população, ou pelo aparecimento de novas formas de comercialização e
consumo.
O papel desempenhado pelas cidades e pelos espaços urbanos é analisado através das
relações espaciais por um sistema de circulação, de comércio (processo acumulativo, de espaço
ocupado), e paisagens que remontam os processos históricos – além das atividades que possam
ser identificadas. Assim, o entendimento à noção de função urbana (de nível regional e as que
respondem às imposições da população urbana da própria cidade) se define em termos do
espaço envolvido, criando suporte às definições de formas de relação da cidade e de espaços
geográficos, especialmente urbanos.
Temas como aglomerações urbanas, conurbações, mobilidade e descentralizações,
associados à maneira como a cidade e os espaços urbanos se transformam, têm sido tratados
cada vez mais por profissionais como geógrafos, urbanistas, sociólogos dentre outros.
Principalmente nas regiões metropolitanas, onde a metrópole exerce influência e/ou pressões
sobre municípios e/ou cidades vizinhas que vivenciam dinâmicas e mesmo fragmentações.
Ao se considerar, simultaneamente, o espaço, os habitantes e o papel da cidade, chega-
4

se à uma complexidade “das estruturas internas e nas suas inter-relações múltiplas, ao pôr em
evidência a realidade das relações sistemáticas do quadro urbano; e a obrigação de ter em conta
o fator tempo, introduzindo no sistema, segundo as circunstâncias, o elemento de evolução
linear complexo ou uma descontinuidade suscetível de modificar sensivelmente o equilíbrio da
combinação” (BEAUJEU-GARNIER, 1980, p. 7).
A abordagem geográfica vem se modificando constantemente, mas mantém como
aspectos de análises significantes o sítio e a localização, o espaço e as formas de ocupação, as
funções e o desenvolvimento urbano que se apoiam em diferentes núcleos urbanos, mantendo
relações muitas vezes hierarquizadas. Toda essa projeção que se tem da cidade e do espaço
urbano retrata condições naturais, historicidades, atividades econômicas, ações cotidianas dos
habitantes, e resulta em uma análise descritiva de uma estrutura sistêmica.
A atribuição exercida pela cidade e pelo espaço urbano varia de acordo com a função, a
dimensão e os equipamentos urbanos, tendo a ver com o importante papel desempenhado na
sociedade. Por conseguinte, a cidade e o espaço urbano não são simples justaposições geradas
ao acaso, porém, tratam-se de organizações do espaço, da paisagem e aportam relações de um
espaço maior (zona de influência), constituindo uma realidade, acima de tudo, geográfica. O
dinamismo criado gera vários núcleos que se apresentam na hierarquia urbana compreendendo
vários núcleos de maior ou menor importância.
A Teoria dos Lugares Centrais, elaborada por Walter Christaller (1933), possibilita
estudar e compreender as funções que motivam a centralidade das cidades e a organização do
espaço geográfico. A compreensão das funções centrais de uma cidade permite definir a sua
posição hierárquica, no contexto de uma região. A centralidade de determinada localidade está
diretamente relacionada às funções que desempenha. A demanda diferenciada pelo consumo,
inerente aos diferentes grupos sociais, tem implicações nos arranjos espaciais com níveis
diversos de complexidade e desigualdade.
Christaller (1933) definiu a hierarquia de uma rede urbana, a partir do número, tamanho,
distribuição espacial e funções econômicas que as cidades desempenham. Para o autor, a
centralidade está focada nos bens e serviços disponíveis, isto é, a “função” é central. Christaller
distingue as “funções” – bens e serviços – em dois tipos: “centrais”, que são oferecidos em
poucos lugares; e “dispersos”, encontrados em muitos lugares. Ao oferecer um conjunto maior
e cada vez mais especializado de “funções centrais”, a cidade reforça sua centralidade e,
consequentemente, sua região de influência se amplia aumentando, assim, o número de pessoas
por ela atendido e reafirmando sua importância no contexto local ou regional.
A ideia de centralidade não decorre necessariamente do tamanho do centro urbano ou
5

de sua população, mas das atividades econômicas nele desenvolvidas. Ressalta-se que em um
único centro urbano podem existir vilas e distritos importantes que apresentam uma maior
significância do que a sede do próprio município. Isso pode ser devido à grande densidade de
áreas ocupadas em atividades terciárias que se colocam numa posição de destaque em relação
aos outros elementos do mesmo grupo.
Os diferentes atores entrepostos pelo mercado transformam o espaço urbano em
produto/mercadoria, e, além disso, redefinem a morfologia urbana. Esse conjunto de agentes
revela o estabelecimento de uma forma urbana submetida à ideia de um valor de troca, que
produz na cidade e em espaços urbanos a constituição de centros e subcentros, e de novas
formas e funções que, por conseguinte, geram a valorização de espaços pela concentração
geográfica de atividades. Esses centros e subcentros diferenciam-se pelo tipo de comércio e
serviços, ou seja, essas áreas são geradoras de fluxos e podem ser caracterizadas por: avenidas,
bairros e ruas. Estes influenciam e acentuam diferenciações no espaço.
Os centros e subcentros são incorporadores da dinâmica urbana que reproduz na
sociedade suas relações sociais, históricas, culturais, políticas e econômicas, e também
configuram a paisagem e relações sociais que assumem uma forma única de construção e
reprodução do urbano. Compreende-se que a cidade e o espaço urbano não são somente
condição para a realização da produção – resultado da concentração espacial –, eles constituem
e organizam o consumo necessário à produção. Além disso, concebem a síntese das relações
sociais e, por conseguinte, também são expressão de um jeito de produzir.
Ao se observar a produção de novas formas urbanas, Sposito (1999, p.94) discorre sobre
“a importância da concentração espacial como seu traço principal que é minimizada quando se
produz uma homogeneização dos espaços, no que se refere, não ao papel produtivo desses
espaços, mas ao padrão do seu arranjo e de signos que traduzem o que é o urbano”. As formas
espaciais não só expressam, como também são elementos de redefinição dos processos
econômicos, sociais, políticos e culturais, ao passo que denotam as relações entre o processo de
urbanização e a morfologia da cidade.
Algumas mudanças na morfologia mostram uma concepção de cidade e de espaços
urbanos que demonstram diferenças formais e fragmentações que acarretam diferentes relações
de fluxos e trocas – o espaço urbano e a cidade são frutos de uma sociedade que os produz de
maneira desigual, e deles se apropria. Desta maneira, a cidade e o espaço urbano encontram-se
estruturados não só por práticas urbanas, mas compostos por um sistema constituído de centros
e subcentros – relações intraurbanas e interurbanas que demonstram uma extensão espacial
constituída por concentrações em diversos “nós”. A forma urbana muda historicamente e com
6

isso traz em sua historicidade uma relação dialética entre forma e conteúdo, cidade e
urbanização, paisagem e espaço.
Sposito (1999, p.86-7) afirma que “a análise da relação entre urbanização e cidade
permite-nos compreender o espaço urbano, como materialidade presente, mas também como
processo, como acumulação de outros tempos, como expressão das formas como se
organizaram e reorganizaram as cidades, tendo em vista a urbanização e suas determinações”.
Através da análise das funções dadas às formas criadas, percebe-se que existe uma historicidade
e uma dinâmica, pois “a materialidade da cidade, enquanto paisagem produzida, resulta de um
processo social, mas é igualmente imaginada, e que a importância disso resulta do fato de que
o valor dessa materialidade está também na urbanidade que ela suscita. Se essa materialidade
se redefine, em uma morfologia descontínua e extensa, como que definido a dispersão da
cidade, a sua própria urbanidade perde seu conteúdo, ou melhor, se redefine” (SPOSITO, 1999,
p.95).
Entretanto, ao passo que o espaço, que também não é meramente cumulativo, refere-se
à utilização e à construção atual, e a paisagem, condensada nas formas da cidade, deriva da
acumulação de usos e representações simbólicas expostas na cidade e no espaço urbano,
considera-se que a forma urbana relaciona-se com um arranjo espacial que não é,
absolutamente, estimável empiricamente. Evidencia-se que as formas da cidade e do espaço
urbano apontam uma contradição entre novas exigências e possibilidades do progresso e
acumulação do capital. Some-se a isso, a tendência de acentuação de espaços que condicionam
a segregação socioespacial.
A análise de processos de transformação e (re)definição da forma urbana deve
considerar as mudanças funcionais internas da cidade e, ao mesmo tempo, a do recorte regional.
A morfologia urbana demonstra a organização, a dispersão e a aglomeração, e recria “cidades”
policêntricas com muitos centros de conteúdos diferenciados. Portanto, ao se analisar os
diferentes papéis presentes na realidade urbana, acompanha-se um arranjo teórico da cidade e
do espaço urbano que compreende diferentes dimensões, referentes à localização e à articulação
de centros e subcentros na malha urbana.
O espaço urbano resulta de uma articulação dialética entre forma e funções, por
conseguinte manifesta uma historicidade que não apenas resulta como produto das relações
sociais, mas também como determinante dessas relações. A descontinuidade do tecido urbano
propicia formas e espaços de fluxos constituídos e centros e subcentros estratégicos que se
adequam a uma nova escala – espraiamento das funções urbanas. O crescente estímulo ao
consumo resulta em espaços destinados à troca e à reprodução do capital, pois surgem demandas
7

e necessidades que se apresentam como desafios à compreensão do processo de urbanização.


Ao se tratar do espaço urbano, refere-se ao espaço intraurbano. Este, é “estruturado
fundamentalmente pelas condições de deslocamento do ser humano, seja em quanto portador
da mercadoria força de trabalho – como no deslocamento casa/trabalho –, seja enquanto
consumidor – reprodução da força de trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola,
etc. Exatamente, daí vem, por exemplo, o enorme poder estruturador intra-urbano das áreas
comerciais e de serviços, a começar pelo próprio centro urbano” (CORRÊA, 2004, p.20).
O espaço urbano demasiadamente heterogêneo condiciona efeitos sobre as questões
sociais, ou seja, é definido pela intensidade das relações entre o social e o espacial, através de
articulações espaciais de produção, da circulação e do consumo, na organização social. A
localização, neste caso, é produto do trabalho, sendo a condutora do espaço intraurbano. As
formas (bairros, expansão, mancha urbana, densidades) também são atributos do espaço urbano,
onde é primordial a consideração das relações de pontos definidos, ou conjunto de pontos
definidos. Tudo isso representa processos socioespaciais, conexões e transformações (expansão
dos centros principais, segregação urbana, deslocamento espacial das classes sociais e
verticalizações).
É importante destacar as diferenças na estrutura interna dos espaços urbanos. Essas
diferenças apresentam processos de desenvolvimento e relações existentes, além da
caracterização de centros e subcentros cuja importância constitui elementos à definição de
estrutura urbana. Quando se refere ao espaço urbano, a estrutura diz respeito “à localização
relativa dos elementos espaciais e suas relações, ou seja, dos centros de negócios (não só o
principal, mas também os demais) das áreas residenciais segregadas e, finalmente, das áreas
industriais” (CORRÊA, 2004, p.34).
A análise da estrutura intraurbana deve ter em conta as localizações dos elementos da
estrutura e das relações entre seus elementos e/ou partes, pois os bairros, centros e subcentros
apresentam uma disposição espacial e territorial. Não basta a identificação dessas configurações
espaciais, mas há a necessidade de explicá-las e articulá-las às transformações dos elementos
da estrutura urbana – onde se localizam e por que ali se localizam.
Sobre o processo de reprodução do espaço urbano, o que se revela é uma paisagem em
constante transformação. As práticas urbanas são permeadas de relações conflituosas que
geram, paradoxalmente, estranhamento e identidade, constituindo-se, assim, um espaço
fragmentado. Além disso, há a aceleração do tempo que é revelada na morfologia urbana, por
conseguinte, há mudanças consideráveis condizentes à relação de um tempo momentâneo e de
um espaço esquecido. Isto é, a relação espaço-tempo estabelecida evidencia uma ruptura de
8

referenciais e elementos identitários que se desfazem no espaço urbano.


A constituição do espaço urbano está vinculada ao intenso poder especulativo que
reproduz desigualdades socioeconômicas. O olhar sobre diferentes espaços urbanos possibilita
detectar realidades particulares – formas específicas de complexidade da vida urbana. Para
Lefèbvre (1970, p.160), “o urbano poderia, portanto, ser definido como o lugar da expressão
dos conflitos, invertendo a separação dos lugares onde a expressão desaparece, onde reina o
silêncio, onde se estabelecem os signos da separação. O urbano poderia também ser definido
como lugar do desejo, onde o desejo emerge das necessidades. [...] A natureza (o desejo) e a
cultura (as necessidades classificadas e as artificialidades induzidas) aí se reencontram, no curso
de uma autocrítica mútua que mantém diálogos apaixonados”.
A reprodução do espaço urbano condiciona uma realidade imediata de fragmentação e
de transformações de lugares, em função de demandas e de um conjunto de valores econômicos,
socioespaciais e culturais. Desta forma, ressalta-se a importância de se contextualizar e
visualizar os conflitos, ideologias e metamorfoses (reconfiguração espacial) das dinâmicas
atuais. Estes elementos indicam identidades que orientam sobre as diferentes camadas
sobrepostas temporalmente – e que asseguram sistemas de significações e de representação
cultural múltiplas e cambiantes, dando todo um corpo à construção de pluralismos de
identidades que se materializam no espaço.
De acordo com Santos (1988), “A sociedade urbana é uma, mas se dá segundo formas-
lugares diferentes. É o princípio da diferenciação funcional dos sub-espaços. [...] Se dá de
acordo com ritmos distintos, segundo os lugares, cada ritmo correspondendo à uma aparência,
uma forma de parecer. É o princípio da variação funcional do mesmo sub-espaço. Já uma
mudança estrutural dá-se também pela mudança das formas. [...] Há uma relação entre a
estrutura sócio-econômica e a estrutura sócio-econômica e política. Alterações de velhas formas
para adequação às novas funções são também uma mudança estrutural. [...]” (SANTOS 1988,
p. 24-25).
Ao se tratar da concepção da cidade e do espaço urbano, considera-se que várias
características e atividades se apresentam em diferentes níveis (estrutura estática, as relações
funcionais e o processo dinâmico) e, dessa forma, resultam em combinações de diversos
elementos estruturais que constituem um sistema complexo de suas interrelações. Os fluxos
(circulação e atividades) fazem também a construção do urbano, seja por equipamentos
administrativos ou de serviços e comércios, ou pelas formas relacionais entre esses elementos.
As cidades e os espaços urbanos são distribuídos conforme várias localizações,
revelando padrões que possuem uma lógica própria. Essa lógica resulta de necessidades que
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derivam de funções (de produção e de trocas) que um município aporte. A localização de uma
cidade também implica processos que envolvem duas escalas espaciais, a escala local – o sítio
(localização absoluta) e a escala regional – a posição geográfica (localização relativa).
Como afirma Corrêa (2004, p. 317), “A localização absoluta, o sítio, é o chão sobre o
qual a cidade se estende, podendo ser natural, via de regra alterado pela ação humana, ou
artificialmente produzido. A localização relativa ou a posição geográfica refere-se à situação
locacional de uma cidade face a aspectos externos a ela, envolvendo o conteúdo natural e social
das áreas circunvizinhas. Recursos naturais, produção, demanda e acessibilidade estão entre os
principais aspectos da posição geográfica”. Para mais, é importante que se contextualize a
posição geográfica pois expressa de fato o sentido funcional (complexidade de bens e serviços
e a extensão de sua influência).
A posição define-se pela localização da cidade em referência a fatos naturais, de
processos históricos, ao exercer influência em seu desenvolvimento, que trazem um valor
relativo presente nas funções de urbanização. O sítio define-se pelo composto topográfico onde
se desenvolve a cidade (ao que tange sua origem), atendendo à necessidade da época (do
momento em que a concentração de pessoas e atividades ocorreu). Ambas as escalas estão
conectadas ao passo que os benefícios do sítio propiciam a valorização da posição.
Entretanto, o valor do sítio pode decair muito mais rápido que o da posição, pois
relaciona-se à utilização do espaço quanto ao papel desempenhado na história de seu
desenvolvimento morfológico. A respeito de alguns sítios não oferecerem condições favoráveis
à instalação de determinadas atividades, Dollfus (1973, p. 22) esclarece, “Nos setores onde não
se impõe nenhum sítio particular, a posição pode se tornar determinante para a localização das
atividades”. Sendo o sítio um recurso natural, ele oferece ao homem controle territorial,
justificado por sua posição, ou seja, um sítio utilizado e organizado oferece para a sociedade,
vantagens particulares, que são função dos meios de planejamento e de controle do espaço.
Onde nenhum sítio se impõe, a posição pode ser decisiva na localização das atividades.
A importância do conceito de localização, através da análise do sítio e posição, traz a
constatação dos sistemas que organizam o espaço, ou seja, a posição de uma unidade geográfica
deriva da soma de um ou mais sistemas em relação às atividades e funções de tal unidade. Em
vista disso, a cidade e o espaço urbano acumulam em si elementos de estrutura espacial, social
e econômica que se desenvolvem através de uma organização no ambiente (características que
se integram ao meio físico e à ação humana). O ambiente oferece meios naturais (sítio,
vegetação etc) para a ocupação e desenvolvimento de que necessita, pois consiste na
oportunidade da existência da própria cidade e do espaço urbano – é o ressalto da sociedade
10

frente ao meio físico. Esse ambiente urbano constitui o espaço produzido e, assim, leva-se em
conta não somente sua extensão local e/ou regional, mas as dimensões entre espaço-tempo.
A existência de um complexo sistema que possibilite analisar os fenômenos urbanos que
integram vários aspectos espaciais (combinados), permite perceber os fenômenos específicos
de cada lugar. Esses fenômenos criam relações de dependência e interdependência, sendo que
cada elemento constitui uma necessidade de uma organização, resultando em um complexo de
funções internas. Esse sistema cumpre um papel ativo e a ligação entre os elementos
estabelecidos tornam viável o arranjo de processos e dinâmicas necessárias ao desenvolvimento
da cidade. Ressalta-se o papel que desempenham os componentes desse conjunto e as
interrelações que se traduzem através da ocupação do espaço (solo) e das diferentes funções e
atividades urbanas.
Assim, as funções urbanas resultam do poder de ações específicas e “exercem-se num
certo espaço, graças a meios que podem ser definidos. Existirá uma correspondência lógica
entre os meios, a natureza, a intensidade deste poder de ação e o espaço respectivo. [...] Na
realidade, parece que cada cidade responde a uma série de necessidades, que justificam o seu
estabelecimento e o seu desenvolvimento original, e logo em seguida a sua expansão (contínua
ou entrecortada por períodos de estagnação), e lhe oferecem a sua fisionomia” (BEAUJEU-
GARNIER, 1980, p. 49).
Beaujeu-Garnier (1980, p.53) distingue três importantes grupos que caracterizam as
funções urbanas: de enriquecimento, de responsabilidades e de transmissão. Sinteticamente, as
funções de enriquecimento se relacionam à produção do fluxo monetário, aumentando o ritmo
do crescimento através de fluxos de mercadorias/pessoas; porém, seu objeto primordial é a
acumulação monetária. Tem-se neste primeiro conjunto de funções urbanas: a indústria, o
comércio, o turismo, e os serviços financeiros. A indústria tem como papel principal o
desenvolvimento urbano, contendo relações de transformação dos produtos locais e em sua
redistribuição periférica, implicando a contratação de mão-de-obra num certo perímetro.
Também suscita a criação de bairros operários que se transformam em importantes centros ou
subcentros urbanos. Por conseguinte, a atividade industrial gera a função comercial, cuja
característica principal é a de acumulação monetária produzida pelas trocas. Neste caso, “a
cidade pode ser somente o ponto de dispersão dos produtos vindos de fora que, ou atraem a
clientela da periferia, ou são redistribuídos em sub-centros vizinhos” (p.55). A função comercial
é a de gerar lucro, estimulando o crescimento de conjuntos especializados, resultando no
aumento de poder econômico da cidade.
A função turística conecta-se às demais descritas anteriormente, porém, exibe
11

produtos/atrações (monumentos, paisagens etc) e sua exploração desses produtos, através da


comercialização dos mesmos. Ao atrair clientela, gera empregos e ganho financeiro; logo, a
cidade beneficia-se de uma fonte de enriquecimento. Por fim, a função financeira tem como
objetivo a centralização e multiplicação de bens e recursos. A cidade, nesse caso, torna-se o
lugar de estabelecimentos financeiros concentrados, quer por organismos urbanos ou a própria
população.
Ainda, ressalta-se que as funções econômicas são interligadas e diretamente
relacionadas. Cabe lembrar que todas essas funções descritas anteriormente criam uma
concentração populacional (de grande ou média densidade, permanentes ou não) e resultam na
função residencial que se desenvolve a partir daí. Esta última corrobora para a criação de novas
habitações por um processo cumulativo, provocando o desenvolvimento de outras atividades,
ou seja, “o crescimento da população urbana pode constituir uma carga sem compensação de
desenvolvimento econômico, enquanto os investimentos necessários ao alojamento desviam
uma parte importante do capital, que poderia servir para construir novos equipamentos, mais
diretamente indutores de desenvolvimento econômico” (BEAUJEU-GARNIER, 1980, p. 58).
As funções de responsabilidade apresentam a administração (municipal), ensino e a
saúde, desempenhando uma significância na vida dos habitantes, através de serviços urbanos
acessíveis no município, distrito, bairro etc. Essa função também conduz a criação de empregos
e uma capacidade organizacional (sistema coordenado de implantações espaciais) capaz de
gerar fundos monetários (são apenas secundários, pois não se constituem em um aspecto
principal). Observa-se que a cidade exerce a responsabilidade em relação a uma coletividade.
São funções representadas por autoridades locais e/ou regionais, podendo também ser
conduzidas por entidades privadas.
As funções de transmissão relacionam-se aos meios de ligação, propagação dos modos
de vida através de um raio de atração e um forte poder de formação e informação. Dispõem-se
de meios de transportes (meios de ligações) entre áreas periféricas, garantindo condições de
acessibilidade e aproximação entre os habitantes e instituições. Para mais, todas essas funções
são apenas uma ideia da forma organizacional e funcional que se apresenta em determinados
lugares. As funções urbanas se relacionam com o desenvolvimento local e regional, tanto aos
habitantes quanto às suas motivações, e as relações de ambiente, pois a cidade e o espaço urbano
estão em uma complexa evolução.
A representação da estrutura das funções urbanas e do espaço econômico e social é
muito complexa. Desta forma, exigem-se estudos e conceitos sobre a forma organizacional do
espaço. Com isso, destaca-se a polarização (a noção de gravitação e atração), que determina as
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atividades econômicas e intensifica as relações sociais e espaciais. Quando um determinado


ponto polariza, ele cria uma dinâmica de desenvolvimento em seu entorno. Esse efeito cria uma
repartição espacial nada igualitária, além de novos serviços e infraestruturas que muitas vezes
se constituem pelo crescimento regional.
A dimensão de crescimento populacional e econômica apoia-se na estruturação
produtiva local/regional estabelecida pelo terciário. Esta constituição cria um tecido urbano
constituído de novos centros e subcentros produtivos que impõem um novo ritmo de
desenvolvimento e de interdependência regional e local, além do aumento da competitividade.
A forma de centralização de atividades, com efeito, modifica a forma organizacional local. A
proximidade geográfica, de organização espacial e de modos de vida culturais, fornece os
elementos necessários ao domínio local, através da compreensão do sistema urbano e de atores
sociais e políticos.
Sendo assim, o conjunto de elementos estruturadores do espaço urbano – marcos,
limites, pontos nodais, vias e bairros – permite compreender o sistema de valores estruturais da
cidade e a reprodução social e, além disso, identificar localizações diferenciadas de
infraestrutura e de reprodução socioespacial. Ao se apreender a organização espacial e seu
processo de evolução, é importante que se compreenda a relação entre estrutura, processo,
forma e função – categorias que possibilitam o entendimento geográfico e social dos espaços
urbanos.
De acordo com Santos (1985), a forma seria o aspecto visível, o exterior de um objeto,
sua aparência, e constitui um padrão espacial; ressalta-se que não se pode compreender a forma
por ela mesma. A função, por conseguinte, descreve uma atividade ou significância
desempenhada por um objeto. Este tem a aparência exterior – a forma – e desempenha uma
atividade – a função. Logo, a estrutura se relaciona à disposição de elementos e como estão
interrelacionados, além de ter uma constituição social e econômica da sociedade ao longo do
tempo. Por fim, o processo é descrito como uma ação contínua no espaço e que acarreta tempo
e mudança. O processo acontece dentro de uma estrutura social e econômica, e introduz
contradições internas.
Demonstrando, Santos (1985, p.52) reconhece que, “forma, função, estrutura e processo
são quatro termos disjuntivos associados, a empregar segundo um contexto do mundo de todo
dia. Tomados individualmente, representam apenas realidades parciais, limitadas, do mundo.
Considerados em conjunto, porém, e relacionados entre si, eles constroem uma base teórica e
metodológica a partir da qual podemos discutir os fenômenos espaciais em totalidade”. É pela
estrutura social e econômica que se estabelecem as interrelações entre essas quatro categorias.
13

É possível construir um pensamento sobre a cidade e sobre os espaços urbanos e sua


estrutura morfológico-funcional, frente à relação espaço-tempo. Isto é, o entendimento de se
pensar a cidade e o espaço urbano juntamente da sociedade e de seus momentos históricos –
impostos por profundas mudanças no processo de acumulação.
Os municípios pertencentes a um complexo metropolitano fazem parte da dinâmica
espacial e territorial partindo-se de relações que a integram. Os acessos tais como estradas,
ferrovias e meios de transporte no processo de formação e integração regional fizeram e ainda
fazem parte de um processo de desenvolvimento. Esses acessos são redes técnicas que permitem
maior conexão (em tempos e espaços diferenciados), ou seja, que possibilitam que mais
relações sejam estabelecidas (maiores interações espaciais). Ao se criar condições para a esses
espaços, eles se especializam e se (re)produzem, intensificando a troca que se dá em espaços
mais amplos. Ao se especializar, exige-se um novo desenvolvimento de atividades e uma
crescente ação comercial, que influencia na organização das cidades, tornando-as complexas
organizações econômica e social.
Para Santos (1996. p. 197), a diferença dessas organizações está em que “se distinguem
pela diferente capacidade de oferecer rentabilidade aos investimentos. Essa instabilidade é
maior ou menor, em virtude das condições locais de ordem técnica (equipamentos, infra-
estrutura, acessibilidade) e organizacional (leis locais, relações de trabalho e tradição)”. É uma
combinação de cunho geográfico, onde se revela uma hierarquia de lugares interdependentes e
complementares. O autor ainda menciona a organização do espaço em subespaços articulados
intrínsecos a uma lógica. Ele discorre que “essa articulação se expressa através do movimento
de inúmeros fluxos de produtos, ideias, ordens. Cada sub-espaço pode ser alcançado por uma
ou várias fases de vários circuitos de produção” (SANTOS, 1988, p. 49,50).
O processo descrito ainda enfatiza a desvalorização de certas áreas em detrimento de
outras, que recebem o desenvolvimento de novas atividades. De acordo com Corrêa (1997. p.
295), “As interações espaciais, contextualizadas e tornadas inteligíveis na sociedade capitalista
a partir do desenvolvimento da dimensão espacial do ciclo de reprodução do capital, apresentam
padrões distintos no espaço e no tempo”. Assim, as localidades, as vias, rodovias e fluxos são
elementos estruturadores e de reprodução social. É através desses fluxos que as cidades se
desenvolvem, criam suas concentrações, e é esse movimento que permite estabelecer as
relações e diferenciações espaciais. Porém, ressalta-se a tendência cada vez maior da
diferenciação espacial que colabora com um sistema concentrador e hierárquico de
desenvolvimento desigual.
Raffestin (1993, p. 151), ao tratar da temática das adequações das especializações
14

produtivas, afirma que “[...] não somente se realiza uma diferenciação funcional, mas ainda
uma diferenciação comandada por um princípio hierárquico, que contribui para ordenar o
território segundo a importância dada pelos indivíduos e/ou grupos às suas diversas ações”.
Sposito (2006, p.187) frisa que “a realidade urbana se transforma, pois as ideias
tradicionais de limite e 'de dentro' e 'de fora' dissolvem-se, inclusive porque a extensão do tecido
urbano se dá sem solução de continuidade, quando se analisam as vias por meio das quais a
circulação se realiza”. Assim, consideram-se os limites impostos no tecido urbano que
caracterizam um “estar dentro” ou “estar fora” no que diz respeito à morfologia urbana, ou seja,
definem-se esses dois conceitos como barreiras físicas que segmentam o espaço urbano,
separando os habitantes em áreas distintas – além das possibilidades econômicas e de hábitos
cotidianos.
A escala, nesse sentido, apreende o dentro e o fora dos espaços urbanos, mostrando a
alteração pela qual a forma urbana (extensa e muitas vezes difusa) apresenta uma morfologia
modificada, pois redistribui aspectos econômicos e sociais de forma mais segmentada, com sua
dinâmica de segregação própria. Dessa forma, não é apenas um movimento em direção à
redefinição de estruturação das cidades, mas profundas transformações.
O que resulta dessas mudanças afeta a produção do espaço urbano e as práticas
socioespaciais, isto é, processos de urbanização que retratam a redefinição da estrutura urbana
e da cidade (espaços internos). As metrópoles e os municípios pertencentes às regiões
metropolitanas crescem em um ritmo acelerado, gerando permanências, estabilidades e
instabilidades, criando espaços urbanos caracterizados por temporalidades diferentes – de
aspectos econômicos, políticos, sociais e culturais.
Essa situação, de certos espaços metropolitanos apresentarem baixos custos do solo,
oferece condições em termos de localização. Dessa forma, as espacialidades caracterizam-se
por um alto grau de mobilidade intraurbana e interurbana, somada às situações geográficas que
definem uma continuidade espacial. A respeito da metropolização, exemplificam-se novos
processos de (des)concentração espacial, populacional e de atividades econômicas. Por isso, é
importante uma análise do crescimento urbano, da organização e de dinâmicas de
(des)integração funcional metropolitana, e de processos socioespaciais em questão.
Ao se tratar das relações das partes e do todo, observam-se diferentes escalas que
definem certas periferias na urbanização contemporânea. A integração acontece no plano das
formas urbanas, com continuidades e descontinuidades, caracterizando a fragmentação urbana.
Observa-se um processo de reestruturação que se caracteriza pela expansão de formas de
concentração urbana, e que gera novas áreas periféricas.
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3 METODOLOGIA

Neste capítulo são apresentados os métodos e as técnicas empregadas na pesquisa, que


partem do estudo da estrutura morfológico-funcional de Santa Luzia, sendo organizado em duas
etapas.
A primeira etapa está fundamentada na história local do município de Santa Luzia,
considerando-se assim o tempo-espaço para uma periodização histórico-geográfica, isto é, de
uma periodização histórica orientada ao espaço – tomado aqui como inseparável das relações
sociais. Além disso, o estudo enfatizou a importância do sítio e da posição geográfica em função
das potencialidades oferecidas. Em seguida, identificou-se os centros e subcentros
incorporadores da dinâmica urbana constituídos por dois espaços urbanos: Distrito Sede
(Centro Histórico, subcentro Parte Baixa e subcentro Parte Alta); e Distrito São Benedito
(Centralidade linear – Avenida Brasília). Nestes espaços foram identificadas, por meio de
trabalhos de campo, as funções urbanas desempenhadas nestes espaços urbanos; estas e
elementos urbanos (marcos, limites, pontos nodais, vias e bairros) foram representados
cartograficamente. Também procurou-se identificar as (des)integrações entre os espaços
urbanos (localização e aproximação geográficas). O caráter visual desses elementos foi
representado cartograficamente, juntamente com fotografias e ilustrações.
A segunda etapa constituiu na comparação de dados observados em campo: a existência
de conexões e desconexões entre os espaços urbanos estudados e seus respectivos centros e
subcentros, e a conformação de espaços que apresentem novas funções. Ainda, verificou-se a
importância do Distrito São Benedito para o município de Santa Luzia, e sua proximidade com
a metrópole Belo Horizonte – e a relevância da posição e do sítio geográfico, e de elementos na
conformação de sua estrutura morfológico-funcional. Como a variedade de fatores e elementos
que poderiam ser avaliados é infinita, a melhor maneira encontrada para compreender a
realidade foi por meio da percepção e da avaliação do que se observou em campo: mapas
esquemáticos e entrevistas com alguns residentes – uma análise sistemática da área. Algumas
generalizações foram feitas a propósito da relação percebida através desses dados obtidos.
Inicialmente a análise apresenta os processos históricos de ocupação e expansão urbana
de Santa Luzia referentes aos Distritos Sede e São Benedito. São espaços urbanos que compõem
para a morfologia urbana de Santa Luzia e que contribuíram para o crescimento e evolução do
município. Assim, estabelece-se uma constituição da história local de cada espaço urbano,
enfatizando o sítio e a posição geográfica de ambos. Cria-se, então, uma periodização histórico-
geográfica – uma periodização histórica orientada ao espaço. Para isso, dados secundários
16

foram importantes para a constituição histórica municipal, disponibilizados pela Prefeitura


Municipal de Santa Luzia.
Logo, a análise consta da identificação dos principais centros e subcentros que são
incorporadores da dinâmica urbana. O Distrito Sede figura a posição do Centro Histórico, dos
subcentros Parte Baixa e Parte Alta, nas proximidades do Rio das Velhas (rio que corta Santa
Luzia no sentido sul/norte). O Distrito São Benedito (espaço urbano de representatividade
comercial localizado nas imediações da capital mineira) figura a Avenida Brasília (centralidade
linear). Esta fase aborda técnicas de análise necessárias ao estudo:

• Análise das funções urbanas: o conhecimento desenvolvido por Beaujeu-Garnier (1980)


sobre as funções urbanas serviu de aporte à análise dos espaços urbanos do município
de Santa Luzia. Assim, três categorias e subcategorias principais foram apresentadas no
estudo: funções urbanas de enriquecimento – a indústria, o comércio, o turismo, serviços
financeiros e residencial; funções urbanas de responsabilidades – administração
municipal e serviços urbanos; e funções urbanas de enriquecimento – circulação e
acessibilidade. Por essas definições descritas pela autora, buscou-se identificar e
representar cartograficamente quais categorias e subcategorias o município de Santa
Luzia aporta em seus espaços urbanos, correspondentes aos dois distritos municipais:
Distrito Sede e Distrito São Benedito.

• Reconhecimento de campo sistemático dos espaços urbanos: baseou-se nos aspectos


visuais do município e de espaços urbanos, tendo como apoio conteúdos apresentados
por Lynch (1960). O autor especifica algumas qualidades visuais de construção da
imagem da cidade e de espaços urbanos. Esses aspectos são divididos em: legibilidade,
construção da imagem, e estrutura e identidade. O primeiro aspecto, a legibilidade,
indica a clareza com a qual partes do espaço podem ser reconhecidas e organizadas por
símbolos identificáveis, ou seja, como podem ser distinguidos e agrupados os bairros,
marcos ou vias. Esse aspecto se constituiu por uma análise detalhada das formas
identificáveis nos espaços urbanos através de um estudo exploratório preliminar, com o
intuito de compreender o ambiente pela escala urbana de dimensão, tempo e
complexidade. Essa técnica de orientação resultou em um processo estratégico de
identificação de um sistema de referências, um organizador da atividade. O segundo
aspecto, a construção da imagem, retrata as especificidades e relações constituintes a
uma determinada realidade entre o observador e o ambiente. Buscou-se a coerência da
17

imagem que pode se manifestar de várias formas num processo de interação e


familiaridade com o espaço pesquisado – um objeto pode criar a impressão de ter uma
estrutura devido a características físicas notáveis que sugerem ou geram padrões. A
categoria de análise compreendeu a “imagem pública” – “áreas consensuais que se pode
esperar surjam da interação de uma única realidade física, de uma cultura comum e de
uma natureza fisiológica básica” (LYNCH, 1960, p. 8). O terceiro aspecto, a estrutura
e identidade, é constituído por três componentes: identidade, estrutura e significado; e
se concentrou na representação desses aspectos nas imagens da cidade e dos espaços
urbanos. A condução das qualidades observadas foi representada cartograficamente,
permitindo a investigação e organização da realidade para que significado e forma
desenvolvessem a orientação precisa.

• Mapeamento de elementos estruturais: identificou-se quais seriam os elementos –


marcos, limites, pontos nodais, vias e bairros – determinantes e potencializadores da
morfologia urbana. Esses elementos tiveram uma aplicação mais geral e puderam ser
indicados da seguinte forma: vias são os caminhos de circulação por onde o indivíduo
se movimenta, como ruas, avenidas, eixos viários tais como canais e ferrovias – são
elementos organizacionais e relacionais; limites são elementos lineares, fronteiras,
repartições de continuidade (rios, linhas férreas) – são eixos coordenados e apresentam
uma significativa característica organizacional; bairros são áreas de densidade
ocupacional e possuem características distintas e identificáveis e de estruturação urbana;
pontos nodais são focos atrativos, núcleos, junções, cruzamentos e/ou convergência de
vias, concentrações de pessoas; marcos são elementos externos, indicadores de
identidade, podendo ser objetos físicos tais como edificações, vegetação, sinais que
direcionam a um determinado ponto.

• Fotografias e ilustrações: optou-se pelo registro fotográfico e ilustrações


(desenhos/croquis) dos espaços urbanos que possibilitaram as identificações e o
reconhecimento dos trajetos feitos nos distritos, durante as visitas de campo. Tornou-se
necessário incorporar a realidade local fornecendo elementos importantes para obter um
enriquecimento de análise que permitisse perceber a realidade observada.
18

• Entrevistas com os residentes: as conversas foram realizadas com os moradores e


trabalhadores (de comércios e serviços) de ambos os distritos (Sede e São Benedito). Os
residentes e trabalhadores foram consultados durante as visitas de campo, com o
objetivo de suplementar o reconhecimento de campo, através da imagem que cada
morador pudesse conceber quanto ao meio físico e simbolismos que dizem respeito ao
município como um todo. O material é apenas sugestivo e indicou o meio pelo qual os
residentes percebem e diferenciam os distritos e seus espaços urbanos. As entrevistas
abordaram quais são os lugares preferidos ou admirados pelos habitantes, a história de
Santa Luzia, a percepção dos distritos, transformações perceptíveis na paisagem, a
percepção diária de fluxo e movimentos, e a proximidade do Distrito São Benedito com
Belo Horizonte.

Os elementos estruturadores relacionam-se entre si, e forneceram informações, dados


categóricos à análise, além de serem apresentados e discutidos em esquemas cartográficos
elaborados no programa AutoCAD, com a base cartográfica digital do município
(disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Santa Luzia), que representou cada centro e
subcentro nos espaços urbanos analisados. Desta forma, compreendeu-se a sobreposição e o
caráter visual desses elementos e quais imagens foram representativas de cada centro e
subcentro. A escala foi o artifício analítico que deu a visibilidade ao real. Já que o real só pode
ser assimilado por representação. A escala constituiu, então, uma prática de observação e
elaboração da análise apontada. Esta definiu uma configuração do espaço estudado, que não só
caracterizou o espaço em relação a um referencial, como também um espaço amplo que pôde
ser analisado em sua “totalidade”.
A experiência de campo teve como suporte um diário de bordo, em que o espaço foi
representado por meio de desenhos e anotações, decorrentes das observações e percepções
apreendidas durante o desdobramento das ações da pesquisa. Os trajetos feitos durante as visitas
de campo conformam as vias primárias/secundárias e bairros representados nos esquemas
cartográficos (funções urbanas e traçado urbano) dos centros e subcentros. As visitas aos
espaços urbanos também se alternaram em diferentes horários do dia: manhã, tarde e noite;
além dos dias da semana, finais de semana e feriados. A análise de campo acabou sendo
simplificada, transformando-se numa cobertura sistemática das áreas, feita a pé.
A visita foi condicionada por representações cartográficas impressas da base
cartográfica digital do município (através das imagens impressas foi possível identificar os tipos
19

de edificações presentes nos espaços urbanos), mapeando-se as áreas, indicando-se as funções


de cada edificação (isso permitiu a elaboração de manchas representativas das funções urbanas),
a visibilidade e as relações entre marcos, pontos nodais, vias, limites e bairros – e a observação
da força imagética desses elementos. Esses elementos foram divididos em categorias de maior
e menor importância, sendo os “principais” os elementos de identidade forte.
Das primeiras análises de campo desenvolveram-se as principais hipóteses sobre os
tipos de elementos identificáveis, e como eles contribuem para a criação de uma identidade
forte. Assim, algumas hipóteses foram aprimoradas em entrevistas com os habitantes. O
objetivo estava em desenvolver uma técnica que pudesse prever a imagem urbana dos espaços
estudados. Para possibilitar a comparação, a escala cartográfica utilizada foi a mesma à exceção
da Avenida Brasília, que precisou ser dividida em cinco trechos, por ser uma via longa e
segmentada; além disso, foram usados os mesmos símbolos, percebendo-se assim a hierarquia
dos elementos. As técnicas utilizadas revelaram os pontos especiais de interesse dos espaços
urbanos de Santa Luzia – sua essência visual.
O estudo demonstrou a existência de uma imagem que é usada para descrever ou
recordar os espaços urbanos. Através do desenho e da representação cartográfica dos espaços
estudados, denotou-se suas características mais importantes e interessantes, e se deu o
reconhecimento necessário à análise. O desenho dos elementos segue os trajetos feitos, de
forma a expor as dimensões dos espaços urbanos, seus sistemas hierárquicos, suas conexões e
imagem urbana. Ressalta-se que as análises foram feitas a partir da aparência momentânea
desses elementos de campo. A imagem desses espaços urbanos representou um papel
importante na configuração da estrutura morfológico-funcional
Por fim, abordou-se os dados apontados nas etapas anteriores, contribuindo para a
compreensão dos espaços urbanos analisados (conexões, instabilidades), para então discutir a
importância que o Distrito São Benedito possui para o município de Santa Luzia. Essa fase
discute a proximidade do distrito com a metrópole Belo Horizonte, e a relevância de seu sítio e
posição geográfica. Para tanto, apontou-se a evolução urbana de Santa Luzia, destacando a
organização espacial e de ocupação no Distrito São Benedito.
A evolução das manchas de ocupação e expansão urbana de Santa Luzia (e de seus
principais espaços urbanos) foi apresentada através da comparação de imagens cartográficas,
elaboradas com o uso do software Google Earth, nas quais destacaram-se três importantes
períodos: o primeiro período destaca a evolução das manchas de ocupação (1980) que já
estavam consolidadas a oeste no município (enfatizando sua proximidade com Belo Horizonte),
e intensificado pela implantação dos conjuntos habitacionais na região. Assim, o Distrito São
20

Benedito vai se consolidando como a nova centralidade de Santa Luzia – e tornando-se bairro
periférico da capital; o segundo período (1980-2000) representou a tendência de ampliação das
manchas, intensificando-se a ocupação nos principais núcleos identificados anteriormente; e o
terceiro período (anos 2000 aos dias atuais) considerou uma ocupação intensificada a oeste de
Santa Luzia, no Distrito São Benedito, ocupando toda a região contígua a Belo Horizonte. Isso
claramente caracteriza o processo de conurbação com a capital mineira, reforçando o papel de
centralidade de São Benedito.

Figura 1: Estrutura metodológica

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020


21

4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA RMBH E LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA


LUZIA

Inicia-se agora a contextualização da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)


e a localização do município de Santa Luzia. Este capítulo contribui para a compreensão do
município e de seus espaços urbanos no domínio territorial e socioeconômico. Busca-se, com
isso, compreender quais características e funções Santa Luzia apresenta no contexto ao qual se
insere.
É importante mencionar que os processos de segmentação e segregação socioespacial,
que são presentes em vários municípios constituintes da RMBH, iniciaram-se por uma forte
ação estatal e por ideologias desenvolvimentistas, e que compreendem a constituição da RMBH
como um todo. A concepção da metrópole, na década de 1940, foi impulsionada por ações de
investimentos viários que ligavam os municípios da região e de estímulo à instalação de áreas
industriais em municípios que dispunham de recursos naturais. No caso de Santa Luzia, foi na
década de 1950, que se instalou a empresa FRIMISA (Frigoríficos Minas Gerais S/A),
constituindo uma área industrial no município.
A década de 1970 fora marcada por investimentos em infraestrutura estimulando as
atividades industriais e terciárias, e a organização do território resultou em áreas precárias e
aglomerações, principalmente nos segmentos norte (Santa Luzia, Ribeirão das Neves e
Vespasiano) e oeste (Contagem e Betim). Nessa mesma década, foi institucionalizada a Região
Metropolitana de Belo Horizonte – RMBH, que inicialmente era constituída por quatorze
municípios, a capital do Estado, Belo Horizonte, e os municípios de Betim, Caeté, Contagem,
Ibirité, Lagoa Santa, Nova Lima, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima,
Sabará, Santa Luzia e Vespasiano. A RMBH apresentava uma forte estrutura socioespacial
segmentada, onde territórios com novas formas de produção do espaço foram conduzidos pelas
ações estatais. Nota-se que ainda na década 1970, o estado de Minas Gerais passava por uma
forte e influente fase de industrialização que alterou a geografia da indústria na RMBH – Nova
Industrialização Mineira.
Nos anos 2000, outros investimentos foram realizados no Vetor Norte da RMBH, como
a implantação da Linha Verde, ligando o centro de Belo Horizonte ao aeroporto de Confins
(Aeroporto Internacional Tancredo Neves), além do estabelecimento da nova sede do governo
(indicando a formação de uma nova centralidade). Esses investimentos estão diretamente
ligados ao mercado imobiliário em Belo Horizonte, criando-se, assim, um reconhecimento das
áreas centrais, e a expulsão da população de baixa renda para regiões periféricas. A expansão
22

da periferia, cada vez mais distante da área central, marcou distâncias físicas e sociais. Isso
evidenciou diferenciações sociais do território, um intenso fluxo populacional e de mercadorias,
além de descentralização – porém ainda há um forte vínculo com o município-polo, Belo
horizonte.

Figura 2: Evolução da RMBH (1973 – 2002)

Fonte: MENDONÇA, ANDRADE E DINIZ, 2015


23

O Vetor Norte-Central, no qual Santa Luzia se insere, é constituído por


municípios/cidades dormitórios, ou seja, ligados aos movimentos pendulares de casa-trabalho
(movimentos diários por motivo de trabalho), tornando-se esse vetor uma periferia
metropolitana. Os processos de ocupação nesse vetor são ainda bastante horizontais e as áreas
apresentam uma débil infraestrutura, enquanto em municípios mais próximos a Belo Horizonte,
a ocupação é mais vertical e melhor servida de infraestrutura urbana (investimentos públicos:
provisão de água, luz, pavimentação das vias, redes de esgoto, e equipamentos – escolas,
hospitais etc).
Ressalta-se o crescimento de moradias e aglomerações em toda a RMBH, porém, no
Vetor Norte-Central, essa cena é ainda maior. Isso se deve à criação de graus de integração
metropolitana mais intensos. Essas novas dinâmicas espaciais e de transformações
socioespaciais revelam a consolidação de novas periferias (dotadas de precariedades), cada vez
mais distantes da área central e de processos de descentralização e fragmentação. Todos esses
processos não atingiram todos os municípios ou espaços periféricos da mesma forma. O que se
pode compreender disso é que Belo Horizonte e seu espaço metropolitano continuam a ser
segmentados e segregados.
Atualmente, a RMBH é composta por trinta e quatro municípios interdependentes
(Figura 3), a capital do Estado e os municípios de Brumadinho, Esmeraldas, Igarapé e Mateus
Leme, Juatuba, São José da Lapa, Florestal, Rio Manso, Confins, Mário Campos, São Joaquim
de Bicas, Sarzedo, Baldim, Capim Branco, Jaboticatubas, Taquaraçu de Minas, Itaguara,
Matozinhos, Nova União, Itatiaiuçu. Dentre estes, alguns são conurbados, a saber, Contagem,
Betim, Ibirité, Sabará e Santa Luzia. A malha urbana desses municípios apresenta uma
contiguidade com a malha urbana de Belo Horizonte.
Instituído pela Lei Complementar nº89, de 12 de janeiro de 2006, o Colar Metropolitano
de Belo Horizonte apresenta a formação de municípios do entorno da RMBH que são
influenciados pelo processo de metropolização. O Colar Metropolitano é composto por
dezesseis municípios: Barão de Cocais, Belo Vale, Bom Jesus do Amparo, Bonfim, Fortuna de
Minas, Funilândia, Inhaúna, Itabirito, Itaúna, Moeda, Pará de Minas, Prudente de Morais, Santa
Bárbara, São Gonçalo do Rio Abaixo, São José da Varginha e Sete Lagoas. Esta última é a maior
cidade do Colar Metropolitano, pois apresenta uma forte característica no setor industrial por
abrigar fábricas e empresas como a Ambev, Iveco entre outras.
24

Figura 3: RMBH e Colar Metropolitano de Belo Horizonte (MG)

Fonte: IBGE, 2018 - Elaborado por Mayzon T. Q. Santos e Regina G. Santos, 2020
25

Segundo Souza (2015, p.203-204), o Vetor Norte-Central, no qual Santa Luzia se insere,
apresenta “diferenças que se relacionam às elevadas participações relativas de trabalhadores
no terciário não especializado (prestadores de serviços não especializados; trabalhadores
domésticos; ambulantes e biscateiros) e de trabalhadores no terciário (trabalhadores do
comércio e prestadores de serviços especializados). A grande maioria dos trabalhadores
pendulares da RMBH é formalmente empregada, ressaltando-se que a informalidade – mais
acentuada nos fluxos do Vetor Norte-Central – está associada ao trabalho informal e precário”.
Para autora, o Vetor Norte-Central configura-se como “um espaço de residência principalmente
de população de baixo nível de renda, e os municípios que o compõem estabelecem os mais
altos níveis de integração com o polo, além de serem os principais receptores dos emigrantes
intrametropolitanos de Belo Horizonte” (SOUZA, 2015, p.207).

Figura 4: Municípios da RMBH e Colar Metropolitano (n° de hab.)

Fonte: ABREU, 2014

O crescimento demográfico da RMBH concentra-se cada vez mais nos municípios


periféricos, fazendo com que haja pouco crescimento na capital. A datar de 1980, Belo
Horizonte cresce a taxas bem menores que a média da RMBH. Já na década de 1990, a capital
cresceu apenas 1,1% ao ano, enquanto a RMBH cresceu 3,9% (SOUZA E BRITO, 2006, p.3).
Ressalta-se o reduzido espaço territorial de Belo Horizonte, que encarece o preço da terra na
26

cidade e faz com que a população de baixa renda procure residir em municípios fora da capital.
Os principais municípios da RMBH (Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia)
reúnem cerca de 60% da população da região metropolitana. Segundo as estimativas do IBGE
para 2018, a população total era de 5.916,189 habitantes.
Souza e Brito (2006, p.3) ainda afirmam que “as taxas elevadas verificadas na RMBH,
no período de 1970 a 1980, podem ser explicadas pelas intensas migrações motivadas pelas
seguintes razões: consolidação dos distritos industriais em Contagem; pela expansão industrial
de Betim, tendo como eixo a inauguração da FIAT em 1976 e pela implantação dos loteamentos
populares em diferentes municípios, particularmente, em Ribeirão das Neves e Santa Luzia.
Apesar do declínio posterior, a taxa ainda continuou alta, próxima de 4% ao ano entre 1991 e
2000”.

Figura 5: BH, RRMBH* E RMBH – Taxa Geométrica Média Anual de Crescimento


Populacional, 1940/1950 – 1991/2000

Fonte: SOUZA e BRITO, 2006, (p.3)


27

Figura 6: Crescimento Anual da População - RMBH

Fonte: SANTANA, 2008

Como mencionado anteriormente, o período entre 1970 e 1980 mostra a


institucionalidade da RMBH, porém, os investimentos viários e industriais iniciaram-se entre
1950 e 1960, no Vetor Norte e Norte-Central, enquanto que no Vetor Oeste, esses investimentos
tiveram início entre as décadas de 1930 e 1940. Isso tudo gerou uma mudança no padrão de
moradias e de localização. Já na década de 1990 e 2000, a RMBH evidencia uma fragmentação
territorial, devido à emancipação de alguns municípios – como citado, a RMBH, hoje é
constituída de 34 municípios –, portanto, houve uma diminuição populacional referente a Belo
Horizonte, em contraposição, os municípios vizinhos serviam-se às novas ocupações.
Essas transformações resultaram no aumento e na diversificação de atividades na
RMBH, criando uma valorização fundiária da terra na região central e, assim, um novo quadro
de segregação espacial foi instaurado: a população passa a habitar as áreas de contato com a
área central (espraiamento – mancha urbana).
28

Figura 7: Mancha Urbana da RMBH

Fonte: DINIZ, 2017, p. 39

Desta forma, ao se tratar de segregação socioespacial caracteriza-se, também, o


entendimento da mobilidade pendular que diz respeito ao deslocamento entre a localização da
moradia e o local de trabalho e/ou estudo. Essa migração intraurbana entre municípios
relaciona-se ao fato de os usuários se fixarem em algum local, porém, mantêm algum vínculo
empregatício, ou mesmo de estudo, com a capital. Desse modo, revelam-se as contradições
urbanas que se apresentam no contexto da RMBH.
Segundo Diniz (2017, p. 52), “os fluxos dos pendulares na RMBH por motivo de
trabalho e estudo, em 2000 e 2010, definem-se por duas tipologias: o fluxo periferia-centro-
periferia, qualificado como pendularidade tradicional, e o fluxo centro-periferia-centro,
qualificado como pendularidade reversa. Observa-se que enquanto a primeira tipologia é mais
intensa (periferia-centro-periferia), a segunda (centro-periferia-centro) segue de forma mais
branda”. Para a autora, esta dinâmica é ressonante da descentralização residencial verificada
em Belo Horizonte desde a década de 1970.
29

Figura 8: Região Metropolitana de Belo Horizonte - Expansão da Mancha Urbana

Fonte: DINIZ, 2017, p. 53

Por conseguinte, Diniz (2017, p. 54) afirma que “há na RM um dinamismo peculiar,
relacionado às centralidades e dispersões. [...] Ademais, a análise destes deslocamentos
reafirma a macroestrutura da RMBH que, paradoxalmente, produz por meio das diferenças
socioeconômicas dos municípios e espaços segregados, que corroboram a afirmativa de que a
metrópole é geradora de centros e periferias”. A autora prossegue ao demonstrar que, “Na
RMBH, de acordo com os dados extraídos da amostra do Censo Demográfico de 2010, 365.122
pessoas fizeram migração de última etapa. Ao se analisar as trocas populacionais entre os
municípios da RMBH, três municípios se destacaram por apresentar volumes muito altos de
imigração (34.780 a 58.558): Contagem, Ribeirão das Neves e Betim. Outros municípios se
mostraram com alta atratividade, porém em menor escala (14.791 a 34.779): Belo Horizonte,
Ibirité e Santa Luzia” (DINIZ, 2017, p. 54-55).
30

Figura 9: População total, imigrantes, emigrantes, saldo migratório, taxa de imigração, taxa de
emigração e taxa Líquida Migratória da população dos municípios da Região Metropolitana de
Belo Horizonte, de acordo com os dados da amostra do Censo Demográfico de 2010

Fonte: DINIZ, 2017, com dados extraídos da Amostra do Censo Demográfico 2010, p. 55-56

No caso de Belo Horizonte, Diniz (2017, p. 58) demonstra que “embora tenha atraído
um grande volume de migrantes por sua polaridade, diversificação funcional e oferta de
serviços, expulsou um volume considerável de pessoas (213.908)”. A atratividade de Santa
Luzia é explicada pela concentração de funções industriais desde a segunda fase de
industrialização da RMBH, que ocorreu no período entre 1960-1970, mas também pelo
espraiamento da mancha urbana da capital na direção do município vizinho, que acabou com
uma porção de seu território mais vinculada a Belo Horizonte do que à sua sede.
Sobre a imigração, ressalta-se a questão territorial dos municípios conurbados que
apresentam uma intensa atração populacional desde a década de 1960. Mendonça, Costa e
Borges (2015, p.252) reiteram ao dizer, “[...] o ritmo do crescimento do número de domicílios
31

nos aglomerados supera o dos setores normais, correspondendo ao crescimento periférico


tradicional que continua se adensando e possivelmente também (ainda) se expandindo
espacialmente”. Visualiza-se quais tipos de assentamentos estão presentes na RM,
caracterizando a periferia da RMBH através da concentração desses assentamentos (Figura 10).
É notável que em Santa Luzia a predominância é de assentamentos que caracterizam os setores
comuns de habitação. Porém, o tipo subnormal configura parte do Distrito São Benedito, além
de uma pequena parcela de assentamentos de tipo precário. Por conseguinte, isso implica na
dependência dos municípios com a área central da capital.

Figura 10: Distribuição espacial dos setores censitários segundo o tipo de assentamento - RM de
Belo Horizonte e Colar Metropolitano

Fonte: MENDONÇA, COSTA, BORGES (2015, p.250)


32

Para Mendonça, Costa e Borges (2015, p. 245), “O grande aumento no preço da terra
[...] foi resultante de uma expectativa que ainda passa por um processo de acomodação.
Entrevistas realizadas [...] no distrito de São Benedito, em Santa Luzia, no primeiro semestre
de 2010, mostraram casos de famílias adquirentes de moradias que, ao constatarem
incapacidade de pagamento, colocavam o imóvel à venda, mas os preços praticados no mercado
eram menores do que aquele inicialmente pago”. Os autores ainda apontam que, “Em Santa
Luzia, município que abrigou dois grandes conjuntos habitacionais de interesse social
originários dos anos de 1970/1980¹ e que tiveram várias áreas internas e adjacentes ocupadas
irregularmente, 21% dos novos domicílios da última década foram em aglomerados
subnormais” (MENDONÇA, COSTA, BORGES, 2015, p.252).

Figura 11: Incremento dos domicílios subnormais em relação aos novos domicílios por município
na RMBH*

Fonte: MENDONÇA, COSTA, BORGES (2015, p.253)

____________
¹ “O Conjunto Habitacional Maria Antonieta M. de Azevedo, mais conhecido como Conjunto Palmital, foi implantado pela
Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (COHAB-MG) no final da década de 1970. O empreendimento, que
abrange grande extensão da mancha urbana ao norte da Avenida Brasília, compreende cerca de 4.900 moradias que,
originalmente, seriam financiadas pelo Sistema Financeiro de Habitação – SFH/Banco Nacional de Habitação – BNH, por
intermédio da COHAB-MG” (SARAIVA 2012, p.156). Acrescenta-se que “o Conjunto Habitacional Cristina, também
implantado pela COHAB-MG em 1982, apresenta características semelhantes ao Conjunto Palmital, embora a renda de sua
população seja um pouco mais alta, enquanto as condições urbanísticas e o padrão de construção das edificações se apresentam
bastante superiores”. (SARAIVA 2012, p.158)
33

De acordo com Bogutchi e Rigotti (2015, p. 293), a migração “de muitos residentes de
Belo Horizonte se direcionou aos municípios próximos da própria RMBH, especialmente
aqueles que ofereciam opções de moradias de baixa renda, com destaque para Ribeirão das
Neves, mas também Vespasiano, Santa Luzia. [...] Tradicionalmente, a RMBH tem sido o lugar
de escolha para muitas pessoas procedentes de regiões mineiras de baixa renda”. Trata-se,
portanto, de municípios com alto percentual de pessoas que se deslocam diariamente para
trabalhar em outro município, principalmente, em Belo Horizonte.

Figura 12: Santa Luzia no contexto da RMBH (MG)

Fonte: IBGE, 2018 - Elaborado por Mayzon T. Q. Santos e Regina G. Santos, 2020
34

5 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTA LUZIA

O crescimento de Santa Luzia foi gerado pelos importantes eixos viários, destacando-se
a confluência desses eixos e a importância regional que assumem. Os portais de acesso no
município se apresentam através da MG-020 ou Avenida das Indústrias que corta o município
no sentido sul-nordeste; a MG-010 e MG-434 - Av. Brasília com início na MG-010; a MG-434
– Av. Brasília que estabelece a ligação da região oeste do município, via bairro São Benedito; e
a BR-381 - Av. Beira Rio (AMG-900-0145) que corta o Distrito Sede na sua porção sul, na
direção de Sabará, a leste.

Figura 13: Santa Luzia – Distrito Sede e São Benedito – Portais de Acesso

Fonte: IBGE, 2018 - Elaborado por Mayzon T. Q. Santos e Regina G. Santos, 2020
35

O município de Santa Luzia está localizado de forma estratégica em relação à MG-010


– Linha Verde, Centro Administrativo do Estado de Minas Gerais e Aeroporto Internacional
Tancredo Neves (Aeroporto de Confins). Foram investimentos públicos no Vetor Norte da
RMBH que trouxeram desenvolvimento para a região. Os portais marcam os limites do
município de Santa Luzia com Belo Horizonte e Sabará e, além disso, geram identidade ao
município, por constituir de um sistema de segurança, referentes à entrada e saída. É importante
ressaltar que, com a implantação da Cidade Administrativa na região, ocorreu uma
intensificação dos deslocamentos pendulares. Assim, considera-se a facilidade de acesso ao
município de Santa Luzia, através da MG-010 e MG-434.
O município de Santa Luzia é um dos municípios mais impactados pelo processo de
metropolização e, em função de seu limite com a capital, possui com a mesma uma intensa
vinculação. Afinal, o governo ampliou a acessibilidade a Santa Luzia, contribuindo para a
atração de pessoas principalmente para o Distrito de São Benedito.
Desse modo, “situado na Depressão de Belo Horizonte, uma das três províncias
geomorfológicas da Grande BH, Santa Luzia tem uma paisagem caracterizada por colinas
côncavo-convexas e fundos de vale extensos”. (SARAIVA, 2012, p. 172)

Figura 14: Localização de Santa Luzia em relação aos Compartimentos


Morfoestruturais

Fonte: SARAIVA, 2012, p. 171


36

Conforme dados do IBGE, apresentados por Saraiva (2012, p. 171-172), “com uma
vasta rede hidrográfica, Santa Luzia encontra-se inserida no médio curso da bacia do Rio das
Velhas (Figura 15). O Rio das Velhas é o principal curso d'água que atravessa o município e o
divide ao meio [...]. O Rio das Velhas tem sua nascente principal na cachoeira das Andorinhas,
Município de Ouro Preto, numa altitude de aproximadamente 1.500 m e, segundo IBGE, toda
a bacia compreende uma área de 29.173 Km2, onde estão localizados 51 municípios que
abrigam uma população de aproximadamente 4,8 milhões de habitantes, sendo que
aproximadamente 89% residem em distritos e municípios integralmente inseridos na bacia”.

Figura 15: Divisão político-administrativa e divisão em trechos da bacia do Rio


das Velhas

Fonte: SARAIVA, 2012, p. 173


37

Saraiva (2012. p. 172) acrescenta que, “sendo o principal afluente do São Francisco, o
Rio das Velhas apresenta elevados índices de poluição em Santa Luzia, podendo-se dizer que a
principal causa da poluição das águas da bacia são os efluentes urbanos da Região
Metropolitana de Belo Horizonte, seguido pelos efluentes das mineradoras e indústrias. Neste
sentido cabe ressaltar que, por um lado, ao adentrar o município, o Rio das Velhas já recebeu a
contribuição de seus afluentes Ribeirão Arrudas e Onça, altamente poluídos por parcela
significativa de esgoto de Belo Horizonte e Contagem, sem tratamento e, por outro lado, que a
maioria das indústrias não tem tratamento adequado para seus efluentes e para os resíduos
sólidos gerados”.
O município tem uma “altitude média de 750 metros, suas cotas altimétricas variam de
660 a 1310 metros, tendo seu ponto mais alto na Vargem Bonita (cascalheira), em Água Limpa,
enquanto seu ponto mais baixo encontra-se na foz do Rio Taquaraçu”. (SARAIVA 2012, p.
174).

Figura 16: Mapa Hipsométrico e Mapa de Declividade - Santa Luzia – MG

Fonte: SARAIVA, 2012, p.173/176 (Dados extraídos da base digital do IBGE, 2010a.)
38

Ao proceder à uma análise conjunta do Mapa Hipsométrico e Mapa de Declividade


(Figura 16), “pode-se observar o predomínio de elevadas declividades, fato que impõe
restrições - 31 a 47%, ou impedimento ao processo de ocupação do solo - acima de 47%, ficando
bem caracterizado um extenso fundo de vale no sentido sul-norte, por onde corre o Rio das
Velhas, em cujo vale encontram-se as menores declividades - 0 a 15%”. (SARAIVA, 2012, p.
174-175)
A localização do município de Santa Luzia ressalta a importância do sítio em função das
potencialidades oferecidas. A origem do município de Santa Luzia é resultante de dois sítios
diferentes, porém próximos. A ocupação inicial, às margens do Rio das Velhas, possibilitou a
extração do ouro de aluvião, e funcionava como “sítio defensivo”, protegendo a posição
comercial dessa primeira ocupação. Em seguida, a ocupação voltou-se para as partes mais altas
(devido às enchentes recorrentes), onde o sítio passa a desempenhar o papel de “acrópole”, que
possibilitava ampla visão do entorno. Ambos os sítios ofereceram vantagens à ocupação ali
instalada, assim, a localização dessa ocupação (atual Centro Histórico) passou a ser definida
em relação aos elementos naturais da paisagem, onde a topografia do sítio favoreceu seu
desenvolvimento, a partir de duas colinas suaves, ocupadas pela Igreja do Rosário (1755) e pela
Matriz de Santa Luzia (1778).
O conjunto histórico deu origem ao município, tornando-se ponto de parada dos
tropeiros que vinham negociar e comprar mercadorias, e se fixando como entreposto comercial.
A função adquirida tem a ver com a posição estratégica, sobrepondo-se a importância de seu
sítio. Tem-se uma clara mudança de escala, que passa da local para o âmbito regional,
relacionada ao conceito de posição, que diz respeito à conformação da estrutura viária e aos
transportes, visando proporcionar maiores facilidades nos deslocamentos de pessoas e de
mercadorias. Isso favoreceu os fluxos e transportes por sua “posição de entroncamento”2,
representando uma estrutura urbana condicionante ao seu desenvolvimento.
Com o fim do ciclo do ouro, a economia de Santa Luzia voltou-se para a produção
agropecuária, mas sua estabilidade econômica foi garantida pela sua condição de entreposto
comercial. Da mesma forma, o crescimento das periferias de Belo Horizonte a partir da década
de 1950 favoreceu a ampliação e diversificação das atividades produtivas de Santa Luzia, que
assim inicia novo processo de desenvolvimento.
____________
2 A posição geográfica mais comum é a posição de entroncamento, onde a confluência de vias de acesso e circulação favorecem
o transporte e o mercado. Assim, cada via ou acesso traz uma contribuição particular, e a cidade torna-se o lugar da troca, do
encontro e de atividades. A posição de entroncamento pode também se localizar às margens de rios, permitindo o acesso de
passagem e o fluxo.
39

O Distrito São Benedito tem seu processo de crescimento marcado pela construção de
conjuntos habitacionais voltados ao atendimento da população de baixa renda. A ocupação
predominante encontra-se a oeste do São Benedito, próxima à MG-10 – Linha Verde, tendo
assim, a MG-434 – Avenida Brasília como eixo estruturador, criando uma forte ligação com a
capital e uma fraca relação com o Distrito Sede.

Figura 17: Limite do Perímetro da Zona Urbana, Zona de Expansão Urbana e Zona Rural,
Macrozona de Proteção do Patrimônio Natural e Macrozona Urbana

Fonte: Plano Diretor, 2006, p. 76


40

O Distrito São Benedito, situa-se a oito quilômetros do centro do município (Distrito


Sede), e pode ser considerado inserido no “esquema geral da segregação metropolitana”, pois
é polarizado pela metrópole, com a qual guarda uma relação estreita, de “natureza intraurbana”,
do que com o próprio Distrito Sede de Santa Luzia, com o qual mantém um “descolamento”
socioespacial. Desta maneira, é mais comum a população do Distrito São Benedito se deslocar
para Belo Horizonte, do que para a própria sede.
Esse deslocamento dos habitantes entre os distritos de Santa Luzia, reflete-se na maneira
com a qual os moradores referem-se a esses distritos. Pois ao citarem “Santa Luzia”, os
moradores se referem à Sede municipal, como se o São Benedito não fosse parte integrante da
municipalidade. Entretanto, o Distrito São Benedito destaca-se por sua interdependência em
relação aos demais subcentros de comércio de Santa Luzia (por sua proximidade com a capital,
constitui-se como um grande centro comercial regional). O Distrito São Benedito vivencia um
processo de periferização decorrente de sua posição em relação à capital mineira, enfatizando
desigualdades socioespaciais. Dado que se notam áreas sem regularização fundiária e
urbanística, com infraestrutura por vezes inexistente, conformando-se, assim, como alternativa
de habitação para a população de baixa renda, que trabalha na capital mineira.
Destaca-se que a relação socioeconômica que o município de Santa Luzia possui com a
capital é constatada pelos movimentos pendulares cotidianos. A população de Santa Luzia se
desloca diariamente para Belo Horizonte, por motivo de trabalho e estudo. A atenção recai no
fato de Santa Luzia ser uma “cidade-dormitório”, que se caracteriza como local de moradia.
Essa vinculação socioeconômica se apresenta nos vínculos que Villaça (1997) denomina de
natureza “tipicamente intraurbana”, ao que diz respeito aos deslocamentos rotineiros de
pessoas.
Este cenário representa o processo de formação da periferia metropolitana, que se
iniciou na década de 1950, intensificando-se na década de 1970. Esse processo resulta de um
descompasso entre o volume de produção de parcelamento do solo, no período, e o processo de
conurbação. A conurbação gerou vários vazios urbanos que foram sendo preenchidos e
adensados, com implantações de conjuntos habitacionais e edificações irregulares (Figura 18).
Destarte, ressalta-se que o processo de conurbação mencionado não foi analisado de forma
isolada, ou seja, esse processo foi analisado dentro do contexto histórico que o município de
Santa Luzia se insere.
41

Figura 18: Zona de Especial Interesse Social – 1/2 (ZEIS – 1/ZEIS – 2)

Fonte: Plano Diretor, 2006, p.77-78

Villaça (1997, p.6) trata essa realidade como “contradição entre a cidade como
organismo físico e socioeconômico e a cidade do ponto de vista político-administrativo”, pois
limites político-administrativos não delimitam satisfatoriamente a “cidade” enquanto ente
socioeconômico e físico, frente a complexidade dos processos socioespaciais que se
apresentam, evidenciando-se o “conflito entre, de um lado, os processos socioeconômicos e
físicos da urbanização, e de outro, o processo político-administrativo de delimitação dos
municípios” (VILLAÇA, 1997, p. 7).
Portanto, evidencia-se que Santa Luzia é um município fortemente impactado pelo
processo de metropolização, em função de sua proximidade com a capital. É compreensível
quando os moradores de Santa Luzia se referem a 'Santa Luzia' e a 'São Benedito, pois o Distrito
de São Benedito acaba se mostrando como uma “outra cidade”, devido à segregação de seu
espaço, à homogeneização de suas áreas ocupadas e periféricas da capital. Tudo isso reforça o
meio pelo qual a transformação da paisagem acontece. Mesmo que o município de Santa Luzia
aporte atividades econômicas importantes, que geram emprego, Santa Luzia não é capaz de
manter a população residente que se desloca para trabalhar e estudar em Belo Horizonte – o que
é claro ao se verificar as transformações de sua paisagem.
42

A produção do espaço urbano e da paisagem do município de Santa Luzia,


correspondente aos Distritos Sede e São Benedito, e aos bairros pertencentes a esses distritos
(Figura 19), vem sendo modificada por novos produtos imobiliários que configuram uma nova
paisagem (vertical) em Santa Luzia. Esses produtos retratam a oferta imobiliária que tem se
expandido não somente no município, mas também em outros municípios da RMBH, com
propostas de “habitação popular” para a classe média e média-baixa. Esses novos habitats
urbanos geram também uma nova morfologia urbana (privilegiando o “novo” em detrimento
do velho, ou o desmatamento de áreas verdes e chácaras). Ressalta-se também a proximidade
com as áreas urbanas constituídas e a existência de contiguidade e/ou ruptura com os demais
espaços urbanos no município.

Figura 19: Distritos Sede e São Benedito -Área modificada por novos produtos imobiliários

MONTE CARLO NOVO CENTRO DISTRITO


SEDE

PÉROLA NEGRA
DISTRITO
SÃO BENEDITO

CHÁCARAS
DEL REY
LIBERDADE
CHÁCARAS
SANTA INÊS

MEGA SPACE

BAIRROS/
LIMITE BAIRROS
ÁREA DE EXPANSÃO
4km LIMITE DISTRITOS

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

As principais mudanças observadas são as verticalizações que se consolidam em áreas


do município, mais especificamente em áreas verdes e chácaras no Distrito São Benedito. Ao
mesmo tempo que essas mudanças produzem uma difusão de pequenos condomínios (cidades
fechadas), criam uma periferia ampla, por vezes mal articulada e descontínua.
A forma desses novos empreendimentos consiste em demarcar áreas com muros,
agregadas por um valor provido de campanhas imobiliárias. Todas essas transformações nada
mais são que uma forma de planificação (adaptação do sítio) que demonstra uma incapacidade
de responder às necessidades de ordenamento de áreas urbanas.
43

Figura 20: Distrito São Benedito -Áreas modificadas nos períodos 2008/2016/2019

1km

1km

1km

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

PONTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE TERRA/INSTITUIÇÃO DE NOVAS HABITAÇÕES EM ALTURA

NOVOS EQUIPAMENTOS URBANOS (SUPERMERCADOS BH/APOIO MINEIRO/SUPERMERCADO VILLEFORT)


44

O novo desenho urbano que se configura no município de Santa Luzia perpassa diversas
vertentes de base social, ritmo de produção, transformação do traçado urbano e linguagens
arquitetônicas. A força do mercado firma impulsos que avançam à uma velocidade que leva em
conta as dinâmicas da mobilidade residencial, de novos padrões de consumo (novos, pois o
município não os apresentava), redesenham os contornos do tecido urbano e reorganiza suas
relações funcionais.
Essas novas áreas geradas não apresentam infraestrutura e fomentam a fragmentação
física do espaço urbano, reporta conflitos viáveis de acessibilidade que demandarão ações
públicas posteriores em garantir uma funcionalidade aceitável. É dizer, essas novas iniciativas
residenciais provêm principalmente de empresários privados, porém, em algumas vezes, podem
estar em comum acordo com o poder público. A falta de infraestrutura relaciona-se à saturação
veicular que gera uma crescente sensação de moléstia urbana, já percebida por seus moradores
(relatos de “entrevistas” ocorridas com os mesmos). Acrescenta-se que tudo isso se deve à falta
de informação pública sobre os impactos gerados e da crescente segregação. Essas mudanças
não acontecem de uma hora para outra, mas se desenvolvem lentamente, e geram confusas
fronteiras entre o público e o privado.
O intuito com esta passagem é apenas denotar as conjunturas atuais sobre a oferta de
moradias multifamiliares, assim como a identificação de tensões sociais relacionadas à
urbanização desenfreada e fechada (nem por isso boa). Hoje existe uma propensão a fragmentar,
gerar fronteiras sociais (de classe) com fronteiras edificadas (muros, arames, cercas etc). O que
nos faz pensar que as desigualdades urbanas derivam de um esquema econômico que se agrega
cotidianamente em barreias simbólicas, e que ampliam o processo de exclusão. A vertente social
se conecta à vertente ambiental, e a cidade vai gerando um excessivo consumo de solo e de
recursos naturais sem qualquer busca de equilibro ou a geração de infraestruturas adequadas.
Instituído pela Lei n. 2.699/2006, o Plano Diretor do Município de Santa Luzia é o
instrumento da política de desenvolvimento urbano e de orientação da atuação do Poder Público
e da iniciativa privada, e tem em vista a organização do desenvolvimento das funções sociais
do município de Santa Luzia. Sendo assim, o mesmo institui o desenvolvimento do Município
no aspecto físico, social, econômico, ajustando a ocupação e o uso do solo à função social. O
Plano Diretor fomenta uma adequada distribuição espacial da população e das atividades
urbanas, evitando efeitos negativos sobre o meio ambiente. Entretanto, o processo de
segregação socioespacial no município de Santa Luzia alcançou uma representatividade notável
entre os núcleos urbanos com a implementação de habitações que não visam o interesse social,
além de não preservarem o meio ambiente.
45

O arranjo institucional para a implementação do bairro Novo Centro em Santa Luzia


visou criar condições ao estabelecimento de um “Centro Principal”. Este impulsionaria o
desenvolvimento econômico e áreas de lazer. No início da década de 2000, a COHAB-MG,
juntamente com a Prefeitura de Santa Luzia começaram as obras para a instalação do bairro
Novo Centro. Fora pensado toda uma infraestrutura necessária ao “grande bairro comercial e
residencial”, porém a constituição desse novo bairro foi acusada de agressões ao meio ambiente,
estando interrompido por alguns anos. No ano de 2013, as obras retomaram após o pagamento
de multa, mas era necessário que houvesse alguma ocupação regular.
Desta forma, instalou-se o novo Fórum da Comarca de Santa Luzia, sendo o primeiro
equipamento instalado no bairro, e sucedido pela sede das Promotorias do Ministério Público
do Estado de Minas Gerais; seguido da instalação de um hotel da rede americana Super 8. A
partir de 2015, o crescimento do comércio de residências torna-se perceptível, e esperava-se
que a própria Prefeitura e Câmara Municipal fossem se instalar ali, mas não houve
transferências. A Câmara Municipal continua instalada ao lado da Igreja da Matriz de Santa
Luzia, na rua Direita, no Centro Histórico. A Prefeitura ainda permanece no bairro Frimisa,
ocupando a edificação do antigo abatedouro operante na década de 1950 no município.
Com a implantação do Novo Centro, e com o intuito de amenizar o tráfego de veículos,
estabeleceu-se a ligação da Avenida das Indústrias MG-020 à Avenida Brasília MG-433, através
da via de maior capacidade para o novo centro e para os loteamentos a serem implantados no
“vazio urbano” existente entre as duas áreas que correspondem aos dois distritos municipais.
Tudo isso resultou na expansão residencial (unifamiliar – casas, multifamiliar – conjuntos
prediais), e do estabelecimento de comércios segundo a distribuição espacial da população e
das atividades urbanas. Esses investimentos urbanos são tentativas de inserção dessas novas
áreas no contexto urbano, através da regularização fundiária, principalmente, ao inibir novas
ocupações desordenadas no município. O objetivo desse processo de modernização, de gestão
municipal de “habitação adequada”, visa operacionalizar as ações necessárias ao
desenvolvimento da Política Habitacional.
É enfatizado no Plano Diretor o interesse em parcerias público-privadas de forma a
implantar no Município condomínios horizontais e verticais, destinados a famílias de classe
média e alta. Em contrapartida, a promoção de assentamentos da população de baixa renda se
dá em lotes já urbanizados, preferencialmente em áreas próximas à origem da demanda,
utilizando-se de pequenas áreas inseridas na malha urbana municipal, que já possuam alguma
infraestrutura básica.
46

Ressalta-se que as construções de novos assentamentos estão sujeitas ao estudo de


impacto ambiental e à aprovação do executivo. Porém, esses novos empreendimentos
residenciais ao ocuparem áreas verdes (“vazios urbanos”) e de recursos naturais, não
estabelecem um desenvolvimento sustentável como promovido pelo Plano Diretor.

Figura 21: Distrito Sede: Áreas modificadas nos períodos 2009/2019

DISTRITO
SEDE
DISTRITO DE
SÃO BENEDITO

1km

DISTRITO
SEDE

DISTRITO DE
SÃO BENEDITO

1km

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

PONTOS DE MOVIMENTAÇÃO DE TERRA/INSTITUIÇÃO DE NOVAS HABITAÇÕES EM ALTURA

NOVOS EQUIPAMENTOS URBANOS (FÓRUM DE SANTA LUZIA/HOTEL SUPER 8)


47

O Plano Diretor (2006) é bastante contraditório ao afirmar a delimitação de “espaços


apropriados que tenham características e potencialidades para serem transformadas em áreas
verdes” (p. 47). E continua, ao afirmar a preservação da cobertura vegetal de interesse
ambiental, garantindo índices de permeabilização do solo e controle das “ações de
decapeamento do solo e os movimentos de terra” (p.47). Define-se bem que a legislação
específica sobre as normas urbanísticas é capaz de considerar os aspectos da dimensão
ambiental, como sustentabilidade e conforto ambiental aplicáveis aos loteamentos ou
parcelamentos. Entretanto, as mesmas áreas verdes são tidas como “vazios urbanos” e
tornaram-se áreas onde se observa grandes movimentos de terra e desmatamento, ocorridos
após a instituição pela Lei n. 2.699/2006, do Plano Diretor do Município de Santa Luzia.
Outra incongruência está nas diretrizes do parcelamento do solo, onde destaca-se a
proibição da “implantação de parcelamentos populares em áreas desprovidas de infraestrutura
básica e impactantes ao meio ambiente”; porém afirma-se o incentivo da “criação de
parcelamentos constituídos de lotes com áreas superiores a 1000 m², destinados a condomínios
fechados” (p. 53). Uma outra diretriz do Plano Diretor (Art.67 – VI) prevê através da “lei
Federal 10.257/01, o combate à retenção especulativa de terras na cidade, observando as
características do município no que diz respeito à atratividade de população periférica do
município de Belo Horizonte” (p. 53).
A intenção de se obter um crescimento econômico e ao mesmo tempo preservar o meio
ambiente não tem sido, na prática, algo apresentado pela legislação. O Plano Diretor é bastante
vago quanto às formas de avaliação à prática descarada de ocupação e expansão no solo
municipal. Ressalte-se que esses vazios urbanos em questão, mencionado pelo Plano Diretor,
fica em uma área de Diretrizes Especiais, que compreende áreas de concentração de chácaras
situadas no espaço urbano. Ainda assim, essa orientação ao desenvolvimento do município, não
apresenta sequer uma distribuição equilibrada de atividades e de pessoas. Quer dizer, as novas
áreas residenciais abrigam, majoritariamente, uma população de classe média e média-baixa e,
em alguns casos, a classe média alta.
É notável as transformações na paisagem, principalmente no Distrito São Benedito:
empreendimentos gerados em meio à massa verde (perceptível de longe) que “cede” lugar a
construções verticais padronizadas sem referências ao espaço ocupado e construído.
O município de Santa Luzia-MG (RMBH) se encontra hoje frente a um grande desafio
para com seu futuro. Necessita-se de um sério exercício reflexivo de um esforço de
comunicação, que resulte em acordos entre os diversos atores municipais para garantir a
sustentabilidade do município e de seus espaços urbanos. Pois frente à falta de instrumentos
48

efetivos de controle da terra, o solo acaba sendo um recurso cada vez mais propenso a converte-
se em matéria-prima para a reprodução de capital.
Esses novos empreendimentos residenciais só são bons quando satisfazem a demanda
real, harmoniza-se ao meio ambiente e condizem com o desenvolvimento de infraestruturas e
equipamentos, ou seja, produz-se cidade e cidadania. A sociedade deve alcançar, sim, sua
autonomia para decidir o tipo de cidade que se deseja: ação social juntamente com a
administração municipal. Dessa forma, tem-se um maior controle da expansão urbana que
deverá marcar a atuação no espaço urbano.

Figura 22: Paisagens relativas à função residencial

1 2 3 4

5 6
4
MONTE CARLO

NOVO
CENTRO 6
10 DISTRITO
SEDE

DISTRITO 3 PÉROLA NEGRA


SÃO BENEDITO
2
CHÁCARAS
7 DEL REY
LIBERDADE
5CHÁCARAS
SANTA INÊS 8 9
1 MEGA
SPACE

BAIRROS/
LIMITE LIMITE

7 4k
ÁREA DE EXPANSÃO
BAIRROS DISTRITOS

m 10
8 9

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020


49

6 OCUPAÇÃO E EXPANSÃO URBANA EM SANTA LUZIA: DISTRITO SEDE

Neste capítulo, o processo de ocupação e expansão urbana de Santa Luzia é apresentado


por meio dos elementos estruturantes como o centro principal, os subcentros de comércio e
serviços, os bairros residenciais, ou melhor, os conjuntos de bairros residenciais segundo as
classes sociais e as áreas industriais. Na paisagem de Santa Luzia os elementos estruturantes
são: no Distrito Sede – o Centro Histórico, o subcentro Parte Baixa e o subcentro Parte Alta; e
no Distrito de São Benedito – a centralidade linear, Avenida Brasília. Estas são as centralidades
identificadas sobre as quais discorreremos procurando mostrar como foram se estruturando e
quão estruturantes foram para o processo de ocupação e expansão urbana de Santa Luzia. São
centros e subcentros que compõem para a morfologia urbana de Santa Luzia e que contribuíram
para o crescimento e evolução do município.
No Distrito Sede (Figura 23), a posição do Centro Histórico, dos subcentros Parte Baixa
e Parte Alta demonstra que estão relativamente próximos, estando situados nas proximidades
do Rio das Velhas. Rio que corta Santa Luzia no sentido sul/norte, e foi de suma importância
para a primeira ocupação, que ocorreu às suas margens em função do “garimpo do ouro de
aluvião”.

Figura 23: Distrito Sede: Centro e subcentros

Fonte: Dados extraídos do IBGE, 2018. Elaborado por Mayzon T. Q. Santos e Regina G. Bastos, 2020
50

Constata-se, desta forma, que Santa Luzia se portou como um grande centro comercial
que servia não só a esfera local, mas também a regional. De acordo com Saraiva (2012, p.56),
“com o declínio da mineração do ouro, Santa Luzia reforça seu papel de importante centro
comercial, ponto de parada dos tropeiros que vinham negociar e comprar mercadorias,
chegando a ter na Rua do Comércio [...] um porto para os barcos que navegavam pelo Rio das
Velhas”.
Além do Rio das Velhas, outro elemento que contribuiu para a ocupação de Santa Luzia
foi a antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, atualmente concessão da Ferrovia Centro
Atlântica, fez com que o município de Santa Luzia desempenhasse importante papel em relação
à metrópole. A rede ferroviária, instalada em Santa Luzia, em 1893, estimulou a ocupação e
permitiu o transporte de pessoas e mercadorias, garantindo a conexão de Santa Luzia com os
municípios vizinhos e com a capital Belo Horizonte. Seguido do sistema ferroviário, o sistema
rodoviário garantiu a mobilidade urbana e regional, sendo a MG-434 – Avenida Brasília, MG-
020 – Avenida das Indústrias e MG-381 – Avenida Beira Rio, os eixos de maior destaque e
contribuição para a ocupação e expansão urbana.
A instalação de Santa Luzia, em 1856, figurou-se como “o segundo município mais
antigo, perdendo somente para Sabará (1711) [...]; a despeito dos municípios de Sabará e Santa
Luzia disporem de um rico patrimônio histórico, artístico e cultural, esta condição não foi capaz
de impedir que o fenômeno da metropolização se manifestasse através do processo de
conurbação, principalmente nas suas regiões limítrofes com Belo Horizonte, dificultando a
percepção dos seus limites administrativos”, pelo decorrente processo de produção periférica
de loteamentos populares (SARAIVA, 2012, p. 122).
A origem de Santa Luzia está relacionada ao ciclo do ouro, que possibilitou relações
comerciais com outras localidades (municípios vizinhos), o que lhe garantiu a importância
central no contexto ao qual se insere – escalas diferenciadas de prestígio, indo da local a
regional. Assim, a primeira ocupação em Santa Luzia constituiu-se por volta de 1692, às
margens do Rio das Velhas, visando o garimpo de ouro de aluvião. Desta forma, deu-se lugar
aos aglomerados desprovidos de organização e planejamento. Houve também a ocupação de
áreas por pequenas e médias propriedades rurais que tentavam garantir sua sobrevivência
através da agropecuária e do artesanato. Porém, em 1695 uma grande enchente do Rio das
Velhas destruiu todo o povoado, então, o pequeno vilarejo mudou-se para o alto da colina, onde
hoje encontra-se o Centro Histórico da cidade.
51

Figura 24: Região do povoamento inicial à margem direita do Rio das Velhas – Alto da Colina
Cruzamento das Ruas Direita, Serro e Santa Luzia

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2019

6.1. Centro Histórico

Acerca de 1700, Santa Luzia já apresentava sinais da povoação que se consolidou no


alto da colina. De acordo com referências da Prefeitura Municipal de Santa Luzia (2010), em
1704 já era conhecido o povoado que cresceu com a descoberta de ouro. O povoado definitivo
de Santa Luzia consolidou-se entre 1721 e 1729, no alto das colinas, próximo ao córrego das
Calçadas, o córrego Seco ou Dantas e o córrego dos Cordeiros, explorados, na época, por
mineradores em busca de ouro.
Acrescenta-se que “em 1734, já havia grande povoamento no arraial, que se espraiava
pelo espigão e pelas ladeiras que subiam do Córrego das Calçadas. Existe um registro de 1761
pedindo a elevação do Arraial à categoria de Vila, pois esta já possuía duas grandes igrejas na
parte central e outras cinco no seu entorno. Contudo, o Arraial só conseguiu elevar-se à condição
de Vila 86 anos depois, em 1847. A medida que o arraial progredia formava-se, ali, uma elite
social, com hábitos de vida e cultura sofisticados, podendo-se dizer que Santa Luzia seguiu a
tradição de importantes vilas mineiras que, como Sabará, Diamantina e Ouro Preto, cedo
52

desenvolveram o gosto pela literatura e pelo teatro” (SARAIVA, 2012, p.143).


Após 1856, o povoado foi emancipado e desmembrado de Sabará, recebendo a
denominação de Santa Luzia somente a partir de 1924. “[...] O papel desempenhado pela então
Vila de Santa Luzia, como centro de referência social e cultural, fora preponderante para o
fortalecimento econômico de Santa Luzia que se deu nos primeiros cem anos de atividade”
(SARAIVA, 2012, p. 144).
No que tange as atividades produtivas, o sítio original de Santa Luzia abrigou atividades
que se desenvolveram consideravelmente, a partir do século XVIII. As atividades presentes no
vilarejo se diversificaram a ponto de impulsionar o comercio local, ao longo da Rua Direita, em
diferentes direções. Este processo favoreceu a conformação de um novo desenho.

Foto 1: Santa Luzia - vista para a Matriz (1867)

Fonte: RIEDEL, 2012

A Prefeitura Municipal de Santa Luzia localizava-se próxima aos demais órgãos


públicos (Fórum de Santa Luzia e Câmara Municipal), na Rua Direita, bairro Centro. Porém, o
edifício (atual Solar da Baronesa) começou a apresentar patologias construtivas (ocorrências de
problemas, de falhas ou de defeitos que comprometem as funções do edifício, ao longo do
tempo), resultando na transferência da prefeitura para o antigo frigorífico³ no bairro Frimisa.

____________
³ A Companhia Frigoríficos Minas Gerais S.A.(Frimisa) foi instalada no município na década de 1950, com o objetivo de se construir uma
rede de matadouros e armazéns frigoríficos destinados à industrialização da carne e de produtos derivados, no estado de Minas Gerais. Após
um incêndio, em 1955, o frigorífico foi inaugurado, em 1959, e permaneceu até meados da década de 1980.
53

Depois da falência do Frigorífico, o prédio foi desocupado e ficou abandonado por


aproximadamente duas décadas. Então, em 2014, o ex-prefeito Carlos Alberto Calixto propôs
a instalação da prefeitura no antigo frigorífico abandonado (adaptando parte do prédio para que
fosse a nova sede da administração, onde é mantida até hoje). Durante os anos seguintes, houve
tentativas de limpar e retirar parta da grande quantidade de ferro que existia no local,
pertencentes ao frigorífico e, em uma dessas tentativas, ocorreu um outro incêndio, em setembro
de 2015, que destruiu boa parte das construções anexas.

Figura 25: Linha do tempo - Frigorífico Frimisa S/A

Fonte: Vidal, 2018

O Centro Histórico possui um caráter simbólico, mais do que funcional, para a


população de Santa Luzia. O Centro compreende a Rua Direita, que é uma via de mão única,
além da rua Floriano Peixoto, de menor representatividade funcional e simbólica. Além disso,
apresenta tipologias arquitetônicas de épocas (coloniais, ecléticas, modernistas e
contemporâneas), de uso residencial, institucional, comercial e de serviços (o Fórum do
Trabalho, escritórios de advocacia, o Hospital São João de Deus – único hospital de Santa
Luzia e se encontra inoperante –, Câmara Municipal de Santa Luzia, entre outros). Há também
estabelecimentos de atendimento mais local, tais como lojas de tecidos, armarinhos, mercearias
e clínicas; e a pouca movimentação de pessoas nas ruas gera a sensação de calma e
tranquilidade.
54

Foto 2/3: Centro Histórico

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 - Casas: estilo arquitetônico eclético e colonial/Vista para a Igreja da Matriz (Rua Direita)

Foto 4/5: Centro Histórico

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Vista da Igreja da Matriz/ Vista para a Igreja da Matriz (Rua Direita)

As análises seguintes constam de informações obtidas em campo através de duas


representações esquemáticas do Centro Histórico. A primeira análise (Figura 26) identifica as
funções urbanas (industrial, comercial, serviços, residencial, turística), por meio de manchas
(simbolicamente identificáveis), onde expressam-se as diferenças de ocupações e o regimento
dessas funções sobre o espaço urbano. A segunda análise (Figura 27) representa as
configurações espaciais quanto ao traçado urbano, resgatando os pontos de referências para
localização, ou que de alguma forma tratam de representatividades simbólicas e elementos da
estrutura morfológico-funcional: vias, limites, pontos nodais, bairros e marcos.
55

Figura 26: Esquema do Centro Histórico - Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 27: Esquema do Centro Histórico - Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


56

O primeiro esquema (Figura 26) permite observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, residencial e turística. As
manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou seja, as manchas
correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço. Contudo, foi possível
analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender sobre a estrutura da
imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura 27) aporta
elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal, bairro e
marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois esquemas,
extrai-se a estrutura e a identidade que o Centro Histórico dispõe. Esses elementos usados na
imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância do espaço, a vista
dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Centro Histórico, apontando de que forma o espaço
urbano é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos durante a
visita de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 1/2: Centro Histórico - Cenas do cotidiano


57

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Rua Direita (Caneta nanquim sobre papel)

6.2. Subcentro Parte Baixa

O subcentro à margem do Rio das Velhas, denominado pelos habitantes por Parte Baixa,
está localizado na Rua do Comércio. Destaca-se o fato de o Rio das Velhas ter sido o meio pelo
qual os navegantes transportavam e trocavam mercadorias com os municípios vizinhos, sendo
um meio favorável aos fluxos e gerador de desenvolvimento em Santa Luzia. Assim, “nos
períodos de seca o transporte e a navegação ficavam comprometidos. A alternativa para o
problema veio em 1893, com a chegada da Estrada de Ferro Central do Brasil em Santa Luzia,
tendo grande relevância para a economia local a instalação da Estação Ferroviária 'Rio das
Velhas'" (SARAIVA, 2012, p. 148).

Foto 6: Estação Ferroviária Rio das Velhas

Fonte: SALLES, 2009


58

Atenta-se ao fato de que a Parte Baixa da cidade gerou o crescimento da atividade


comercial no município: comércio de varejo e atacado e exportações de mercadorias para outras
regiões. A instalação da ferrovia propiciou a nova dinâmica presente neste espaço e garantiu os
fluxos e transporte de pessoas e de carga.
Enquanto a Parte Baixa da cidade (Rua do Comércio) se moderniza, o Centro Histórico
(Rua Direita) estava em processo de declínio. De acordo com informações da PMSL:

A constituição da “parte baixa” da cidade inicia-se nesse período (1893),


havendo um incremento da atividade comercial nessa região. Conhecida
popularmente como Carreira Comprida, a área seria fruto da ideologia
republicana brasileira e local mineira. O novo governo tentava criar outra
centralidade no município, deixando para trás o alto da colina, irregular,
colonial, português. Com a nova Estação, imortalizava-se assim o passado
“liberal” de 1842 no Solar Teixeira da Costa, ao mesmo tempo em que trazia
uma nova perspectiva política em torno da positivista Avenida do Comércio.
(SANTA LUZIA, 2010a, p. 16-17)

Ressalta-se que historicamente o Rio das Velhas e a ferrovia figuraram como elementos
estruturantes da paisagem de Santa Luzia, pois afirmaram a posição geográfica do município
no contexto local e regional ocupando, assim, uma “posição de entroncamento”, que se refere
ao papel desempenhado pelas vias de circulação no desenvolvimento de um lugar ou região.
Neste contexto, essa nova centralidade que se formava às margens da ferrovia e do Rio das
Velhas demandou uma nova organização. Com o surgimento da Rua do Comércio, criou-se o
bairro São João Batista, que se desenvolveu e, até hoje, é um dos mais tradicionais de Santa
Luzia. (A história do bairro está ligada aos primeiros moradores, que trouxeram uma imagem
do santo que batizou Jesus Cristo e ergueram uma igreja em sua homenagem.)
O subcentro Parte Baixa localiza-se na Rua do Comércio, via de mão única. Está
próximo à linha férrea e apresenta tipologias arquitetônicas de épocas (ecléticas, art déco,
ferroviária) de uso residencial, comercial e serviços. Os estabelecimentos comerciais possuem
um caráter mais local (lojas de roupa, lanchonetes, oficinas de automóveis e papelarias). A
exceção fica por conta da presença dos bancos Itaú e Bradesco (caracterizando a Rua do
Comércio como outra centralidade de âmbito local), Correios e butiques, que também atendem
moradores distantes. Neste subcentro convivem (e/ou disputam) edificações de época de uso
comercial. Apesar de apresentar estilos arquitetônicos diversos, principalmente de épocas, há
novas construções que configuram a paisagem urbana neste espaço.
59

Foto 7/8: Subcentro Parte Baixa

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 - Vistas para a Rua do Comércio

Foto 9/10: Subcentro Parte Baixa

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Casas à margem da linha férrea/Capela São João Batista

As análises seguintes constam de informações obtidas em campo através de duas


representações esquemáticas do subcentro Parte Baixa. A primeira análise (Figura 28) identifica
as funções urbanas (comercial, serviços, residencial, turística), por meio de manchas
(simbolicamente identificáveis), onde expressam-se as diferenças de ocupações e o regimento
dessas funções sobre o espaço urbano. A segunda análise (Figura 29) representa as
configurações espaciais quanto ao traçado urbano, resgatando os pontos de referências para
localização, ou que de alguma forma tratam de representatividades simbólicas e elementos da
estrutura morfológico-funcional: vias, limites, pontos nodais, bairros e marcos.
60

Figura 28: Esquema do Subcentro Parte Baixa – Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 29: Esquema do Subcentro Parte Baixa – Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


61

O primeiro esquema (Figura 28) permite observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, residencial e turística. As
manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou seja, as manchas
correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço. Contudo, foi possível
analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender sobre a estrutura da
imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura 29) aporta
elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal, bairro e
marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois esquemas,
extrai-se a estrutura e a identidade que o subcentro Parte Baixa dispõe. Esses elementos usados
na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância do espaço, a
vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no subcentro Parte Baixa, apontando de que forma o
espaço urbano é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos
durante a visita de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 3/4: Subcentro Parte Baixa - Cenas do cotidiano


62

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Rua do Comércio (Caneta nanquim sobre papel)

6.3. Subcentro Parte Alta

Um novo subcentro começou a se formar na parte alta da cidade, localizando-se entre o


Centro Histórico e o Subcentro Parte Baixa. Por esse motivo, a Parte Alta teve pouco
desenvolvimento. Todavia, conforme a Prefeitura Municipal de Santa Luzia (2010), a parte alta
da cidade só volta a viver um certo desenvolvimento quando foram efetuados alguns
melhoramentos urbanos em 1913, tais como instalação de luz elétrica, canalização de água
potável, bondes elétricos comunicando o centro com o bairro da Estação Férrea, recebendo uma
certa modernização que estimulou as atividades industriais e comerciais. Observa-se que tanto
a Parte Baixa e a Parte Alta da cidade se desenvolveram após a chegada da Estrada de Ferro,
que possibilitou o crescimento comercial e a ocupação residencial às margens do Rio das
Velhas.
Segundo informações da Prefeitura Municipal de Santa Luzia (SANTA LUZIA, 2010),
com a chegada dos trilhos da Estrada de Ferro Central do Brasil e a construção da estação de
passageiros, forma-se um núcleo na margem esquerda do Rio das Velhas, desempenhando
importante papel nas atividades de comércio e serviços, congregando estabelecimentos como
agências bancarias, companhia telefônica, e outros. E acrescenta:
63

Assim, pode-se dizer que no século XIX a convergência e a interação entre


essas diferentes vias de circulação, possibilitou o aparecimento de relações de
consumo diferenciadas onde a circulação de bens e pessoas deu origem à uma
dinâmica própria, capaz de consolidar a cidade na sua posição, bem como de
projetá-la na escala regional. Neste momento, no cenário nacional a instalação
das ferrovias aparece como sinônimo de prosperidade. Em Minas Gerais, a
ferrovia se desenvolve às margens do Rio das Velhas e, em 1887, chega ao
município de Itabirito. A inauguração das novas estações no estado de Minas
inclui Rio Acima (1890), Raposos (1891), Sabará (1891), Santa Luzia (1893),
Vespasiano (1894) e Pedro Leopoldo (1895) (CAMPOS, 2011).

O subcentro Parte Alta encontra-se acima ao Rio das Velhas, conecta-se com o subcentro
Parte Baixa (Rua do Comércio) através de uma ponte sobre o Rio das Velhas, conhecida pelos
habitantes como “ponte velha”. O subcentro Parte Alta localiza-se na Avenida Nossa Sra. do
Carmo, via de mão dupla, e concentra grandes equipamentos e estabelecimentos: Caixa
Econômica Federal, Banco do Brasil, Senai e Cemitério do Carmo – além de comércio varejista.
Há muitas clínicas médicas especializadas: dentistas, fisioterapias. O subcentro é margeado de
um lado pelo bairro Boa Esperança, bairro de classe média-alta, com fluxo médio e intenso de
pessoas – e é bem servido de pontos de ônibus que se mantêm cheios durante todo o dia.
O bairro Boa Esperança (nomeado Boa Esperança, na esperança de encontrar alívio a
tantos problemas causados pelas enchentes) caracteriza a área residencial do subcentro Parte
Alta. São residências de padrão construtivo médio, médio alto, com uma população de renda
média e média-alta. Os estabelecimentos de comércios e serviços (bares, lojas e clínicas
médicas) margeiam toda a Avenida Nossa Senhora do Carmo e ruas laterais/adjacentes. Alguns
moradores distantes frequentam esse subcentro pelos bancos da Caixa Econômica e do Brasil.

Foto 11/12: Subcentro Parte Alta

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Cemitério do Carmo/ Restaurante Pau terra (Av. Nossa Sra. Do Carmo)
64

Foto 13/14: Subcentro Parte Alta

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Caixa Econômica Federal/ E.E. Geraldo Teixeira (Av. Nossa Sra. Do Carmo)

Foto 15/16: Subcentro Parte Alta

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 - Vista para o Supermercado EPA e Posto Beira Rio (Av. Nossa Sra. Do Carmo)

As análises seguintes constam de informações obtidas em campo através de duas


representações esquemáticas do subcentro Parte Alta. A primeira análise (Figura 30) identifica
as funções urbanas (comercial, serviços, residencial, turística), por meio de manchas
(simbolicamente identificáveis), onde expressam-se as diferenças de ocupações e o regimento
dessas funções sobre o espaço urbano. A segunda análise (Figura 31) representa as
configurações espaciais quanto ao traçado urbano, resgatando os pontos de referências para
localização, ou que de alguma forma tratam de representatividades simbólicas e elementos da
estrutura morfológico-funcional: vias, limites, pontos nodais, bairros e marcos.
65

Figura 30: Esquema do Subcentro Parte Alta -Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 31: Esquema do Subcentro Parte Alta -Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


66

O primeiro esquema (Figura 30) permite observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços e residencial. As manchas
tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou seja, as manchas
correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço. Contudo, foi possível
analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender sobre a estrutura da
imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura 31) aporta
elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal, bairro e
marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois esquemas,
extrai-se a estrutura e a identidade que o subcentro Parte Alta dispõe. Esses elementos usados
na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância do espaço, a
vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no subcentro Parte Alta, apontando de que forma o
espaço urbano é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos
durante a visita de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 5/6: Centro Parte Alta - Cenas do cotidiano


67

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 –Avenida Nossa Senhora do Carmo - Comércios (Caneta nanquim sobre papel)

Em seguida, duas representações esquemáticas de funções urbanas e de traçado urbano


(Figura 32), do Distrito Sede, foram elaboradas com vista à conexão entre o Centro Histórico,
os subcentros Parte Baixa e Parte Alta – e a localização do bairro Frimisa, onde hoje está
instalada a prefeitura de Santa Luzia. Os esquemas buscaram, através da junção dos estudos das
centralidades que foram divididos de acordo com cada espaço urbano do Distrito Sede, ter uma
visão geral do todo organizado que corresponda às funções urbanas e ao traçado urbano, que
compõem o núcleo principal de comércio e serviços referente ao Distrito Sede. Desta forma,
representou-se a estrutura morfológico-funcional correspondente a esse distrito, além da
conexão existente entre os subcentros e/ou espaços urbanos.
As análises foram suplementadas por um reconhecimento dos espaços urbanos através
da visita de campo que se baseou em descrições, fotografias, representações cartográficas
esquemáticas e diagramas, além de ilustrações que demonstraram o cotidiano de cada
subcentro. Diversos elementos configuram a imagem e a paisagem de Santa Luzia,
especificamente no Distrito Sede. Sem dúvida, os elementos estruturadores que demonstraram
as vias principais e secundárias, os pontos nodais primários e secundários, os marcos
referenciais, produziram a consistência necessária à imagem grupal dos subcentros,
relacionando-se, assim, à constituição histórica de cada área. A possibilidade está em perceber
quão fragmentado é o traçado urbano do município e quão diferentes são as áreas ocupadas e a
forma como são ocupadas.
68

Figura 32: Esquemas do Distrito Sede – Funções Urbanas e Traçado urbano: Centro Histórico,
Subcentros Parte Baixa e Parte Alta, bairro Frimisa (PMSL)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


69

As paisagens e os espaços estudados apresentam diferenças quanto à estrutura


morfológico-funcional, à ocupação (espaços abertos ou fechados), à vegetação, à hidrografia, e
à rede viária, configuram paisagens urbanas singulares. Os bairros tendem a ser definidos pelo
sistema viário ou pela própria hidrografia. A função de circulação é marcada por vias
dominantes e vias de suporte ao tráfego. A estrutura viária forneceu informações necessárias à
sistematização das vias públicas: cruzamentos, vias paralelas etc. No Distrito Sede temos um
centro de representação simbólica para a população, e dois importantes subcentros comerciais
que aportam uma certa homogeneidade estrutural que caracteriza os espaços urbanos; pois estes
ocupam pouco mais que seus dois subcentros comerciais e seus arredores.
Os centros e subcentros correspondem à uma organização espacial da vida social e
econômica. Eles se inserem em uma área geográfica de dimensões limitadas exercem atração
por oferecer bens e serviços. Como afirma Amorim Filho (1976, p. 6), uma determinada área
geográfica “corresponde a relações frequentes e locais. Ela é sentida e vivida pelos habitantes”.
O autor deixa claro que centros e subcentros apresentam uma tarefa considerável de
intermediação entre, de um lado, os maiores núcleos e sua influência regional e, de outro, nos
menores núcleos de suas relações mais imediatas e intensas. Tudo isso demonstra que muitos
aspectos estão ligados às funções de intermediação, assim como à posição geográfica. Esses
aspectos se referem à autonomia na criação de pelo menos uma parcela de seus equipamentos
de relações externas, na intensidade e grau de conectividade tais que facilitem as já referidas
interações entre os espaços intraurbanos, com certos níveis de hierarquia urbana.
Dessa maneira, a estrutura morfológico-funcional de espaços intraurbanos está em
consonância com sua posição no processo de evolução. Destaca-se, assim: um centro já
relativamente complexo (com grande número de equipamentos servindo um espaço que
ultrapasse os limites puramente locais – caso do Distrito São Benedito); um número variável de
subcentros (cuja forma, funções e espaço de relações variam grandemente, mas que atendem,
em sua maioria, apenas as necessidades de populações locais – caso do Distrito Sede); e uma
estrutura polinuclear.
Por outro lado, não deve ser desprezado o fato de que aspectos tais como tamanho,
estrutura interna e relações externas do município podem variar bastante, no que diz respeito à
diferenciação espacial, sendo naturalmente função do nível de desenvolvimento, da posição
geográfica e das condições histórico-sociais de formação de cada espaço urbano. Por isso,
qualquer levantamento ou síntese sobre a situação dos estudos dos espaços intraurbanos, em
todas as escalas geográficas, deverá necessariamente contentar-se com balanços incompletos e
que se concentram em temáticas, abordagens e autores da preferência de quem faz o estudo.
70

É necessário ter em mente que toda essa organização intraurbana é também uma
organização social, na qual certos núcleos urbanos mantêm relações de interdependência entre
os elementos singulares. Estes necessitam de uma organização, de um conjunto de funções
internas que são a própria manifestação da vida. Sendo assim, o espaço produzido é resultante
do meio físico e da ação humana que participa em seu desenvolvimento.
Como denota Beaujeu-Garnier (1980, p.34-35) “o sistema urbano desempenha o papel
de um complexo ativo, mas também receptivo e mais ou menos influenciável (...), sendo a
dinâmica necessária à manutenção e ao desenvolvimento da cidade. (...) O essencial é o modo
de ligação entre os diversos elementos. (...) Cada um destes subsistemas pertence a um e a outro
e é exatamente esta combinação local entre os subsistemas que caracteriza o sistema urbano”.
Para a autora, é necessário descrever cada componente do sistema urbano, apontando suas
interrelações, pois cada subsistema está submetido a combinações. Quer dizer, a forma como
cada subsistema se integra em um sistema urbano, participando localmente, estabelece relações
necessárias a seu funcionamento.
Baseando-se na perspectiva da caracterização de cidades médias, levantada por Amorim
Filho (1976, p. 7-8) – tomada aqui para descrever aspectos de espaços intraurbanos –, propõe-
se uma conceituação mais abrangente, baseada na presença dos seguintes atributos: interações
constantes e duradouras tanto com seu espaço regional, quanto com aglomerações urbanas de
hierarquia superior; funcionalidades suficientes para que possam oferecer um leque bastante
largo de bens e serviços ao espaço urbano e ao que a ele se conectam; a diferenciação do espaço
intraurbano, com um centro funcional já bem individualizado e uma periferia dinâmica através
da multiplicação de novos núcleos habitacionais periféricos.
A principal ideia é a de que as (des)continuidades espaciais têm um papel crucial tanto
na evolução temporal, quanto nas diferenciações espaciais. Por mais difícil que seja a
classificação, ela corresponde, entretanto, a uma hierarquia real. Mas, a natureza de espaços
intraurbanos, seu tamanho e seu nível hierárquico são evidentemente ligados à natureza do raio
de influência que eles possuem.
71

7 OCUPAÇÃO E EXPANSÃO URBANA EM SANTA LUZIA: DISTRITO SÃO


BENEDITO

Inicia-se a descrição do Distrito São Benedito ressaltando a perspectiva comercial que


surge em Santa Luzia. A princípio, a economia de Santa Luzia baseou-se no ciclo do ouro, em
seguida, a economia da cidade voltou-se para a produção agropecuária, e a estabilidade
econômica e comercial fora garantida por sua “posição de entroncamento”. Entretanto, novos
ideais comerciais surgiram e direcionaram os investimentos à produção industrial. Algumas
informações disponibilizadas pela Prefeitura Municipal de Santa Luzia (2009, p.28), apontam
que “Santa Luzia começa a diversificar sua economia podendo-se destacar, dentre outros, a
implantação, em 1880, de uma fábrica de tecidos (Fábrica de Tecidos São Vicente)”.
Em 1950, Belo Horizonte passara por grandes mudanças que impulsionaram as
atividades comerciais na capital e nos municípios vizinhos. Em Santa Luzia, foi a implantação
do frigorífico FRIMISA (Frigoríficos de Minas Gerais S/A) que fez com que a cidade se
tornasse privilegiada à atração de indústrias. Juntamente com a implantação do FRIMISA, o
primeiro conjunto habitacional foi criado em suas proximidades, o Conjunto Habitacional
Carreira Comprida. A implantação do frigorífico surgiu por um projeto apresentado pelo
“então governador de Minas Gerais – Juscelino Kubitschek, em 1952, com a missão de ser o
maior centro abatedor de animais e distribuidor de seus produtos, visando atender a demanda
de abate de bovinos e suínos, sobretudo os criados na região norte do estado” (SARAIVA,
2012, p. 151).
Segundo informações do Jornal Muro de Pedra (2000), apontado por Saraiva (2012, p.
152), “em 26/03/1954 a Imobiliária Mourthe de Araújo consegue junto ao Cartório de
Registro de Imóveis de Santa Luzia aprovação do loteamento que recebeu o nome de São
Benedito”. E acrescenta que “em 30/12/1962, através da Lei Estadual no 2764, foi criado e
oficializado o Distrito São Benedito, cujo nome se deve ao fato de Maria Aparecida Ramos
Mourthe de Araújo, esposa do representante legal da imobiliária – Jackes Roberto Ramos
Mourthe de Araújo – ser devota fervorosa do santo da Etiópia”.
Este novo distrito se formara pela ampliação e diversificação das atividades produtivas
de Santa Luzia, que inicia um novo processo de desenvolvimento. Assim, a criação do Distrito
São Benedito se relaciona com a vinda do FRIMISA, dos materiais para a construção do
frigorífico, e dos bois que eram abatidos vindos do norte de Minas Gerais, na década de 1950.
72

A região do São Benedito era o caminho mais curto até a FRIMISA. Desta maneira, as
transformações pelas quais passou São Benedito, que o constituíram no principal centro
comercial da cidade, devem-se ao fato de a Avenida Brasília ter se tornado o principal eixo
que conecta a capital e o Centro Histórico, pelo qual os materiais e animais chegavam do
norte de Minas a FRIMISA.

Foto 17: Vista parcial da Avenida Brasília, principal artéria do São Benedito

Fonte: Acervo pessoal de ANDRADE, 2012, p.

O crescimento do Distrito São Benedito atraiu muitas lojas de grande porte, lojas de
departamentos (Casas Bahia, Ponto Frio etc). Mas a partir de 1998, houve a duplicação da
Avenida Brasília, conformando-se assim, o grande eixo linear comercial, com diversidade de
produtos e serviços, que lhe garantiu a condição de centro principal. Todas essas
transformações fizeram com que as duas centralidades iniciais – Centro Histórico e o subcentro
Parte Baixa – perdessem sua influência e impulsão de crescimento e desenvolvimento
econômico. Portanto, nota-se que, a partir da década de 1970 que há um grande crescimento
industrial e populacional, coincidindo com as transformações pelas quais Belo Horizonte
passava, e também com a institucionalização das regiões metropolitanas no Brasil.
A posição estratégica de Santa Luzia em relação a metrópole favoreceu a instalação de
uma população de menor poder aquisitivo no município. Isso é resultado da política de
(re)estruturação da metrópole, ou seja, ao se valorizar algumas áreas na capital, criou-se
formas de exclusão socioespacial. As populações de baixa renda passaram a ocupar os
municípios vizinhos a Belo Horizonte, onde o custo da terra era menor. A região do São
Benedito, em Santa Luzia, caracterizou-se como o destino dessa população que passou a
73

ocupar e a usar diferentes espaços urbanos, além da criação de novos conjuntos habitacionais
(Conjunto Palmital e Conjunto Cristina, ambos de 1980), que fomentaram os serviços e
atividades comerciais ao longo da Avenida Brasília. Esta desempenha o papel de eixo
estruturador da ocupação e expansão urbana da região.

Foto 18: Conjunto Palmital /Conjunto Habitacional Cristina

Fonte: euamosantaluzia.blogspot.com; Acesso em: 15 março 2020

Figura 33: Conjunto Palmital /Conjunto Habitacional Cristina

Fonte: SANTOS, 2010

Esse deslocamento de atividades produtivas para São Benedito corresponde a


apropriação de um novo sítio urbano, caracterizada por sua posição geográfica, relacionada
também aos grandes eixos viários que permitem uma maior acessibilidade a capital, no caso a
Avenida Brasília.
74

Apesar da existência do Centro Histórico e de subcentros no Distrito Sede do município,


que possuem alguns grandes equipamentos e estabelecimentos atratores de pessoas, nenhum
deles exerce a dimensão funcional e comercial que a Avenida Brasília representa para o
município. A Avenida Brasília é uma via longa e segmentada e aporta diferenciações que se
apresentam em vários trechos (ex.: presença de fábricas versus presença de comércio varejista
versus conjuntos habitacionais etc). Ao longo da Avenida Brasília é possível observar que nela
se concentram diversos tipos de comércios e serviços, além de residências unifamiliares,
multifamiliares e galpões industriais. A Avenida Brasília é a representação da cidade como um
todo. É por ela que se acessa Santa Luzia (seu principal acesso), através da Linha Verde. Pode
se dizer que é a primeira face de apresentação do principal espaço urbano de Santa Luzia. A Av.
Brasília percorre um longo trajeto e vai se diferenciando em vários pontos. Termina próxima a
outras duas vias (Avenida Frimisa e Rua Rio das Velhas) que, por conseguinte, encaminham
aos demais subcentros em Santa Luzia.

Figura 34: Distrito de São Benedito

Fonte: Dados extraídos do IBGE, 2018. Elaborado por Mayzon T. Q. Santos e Regina G. Bastos, 2020
75

É através da Avenida Brasília, e por ela, que os moradores dos bairros limítrofes utilizam
de seus serviços dia a dia. Muitas vezes os moradores que não conseguem muita variedade e
diversidade de produtos nos demais subcentros, encaminham-se para a Avenida Brasília, onde
logo conseguem a mercadoria de desejo. Um fato atual e de relevância é a instalação da Cidade
Administrativa no Vetor Norte. Esta se localiza próxima à Avenida Brasília e gerou uma
valorização dos imóveis e alugueis na região. Com isso, acreditou-se que a Avenida Brasília
serviria agora também a um grupo intelectual (secretários, administradores e oficiais), vindos
da Cidade Administrativa. O fato, porém, é que há uma nova “centralidade” no Vetor Norte
(com um ideal mais “organizado”, talvez até higienista), o Shopping Estação BH, que agora
serve de local de almoço e compras do grupo intelectual.
O estudo que se segue teve por objetivo apresentar as diferenciações ao longo da via e
a concentração de diversos tipos de comércios e serviços, além da identificação de bairros
residenciais e galpões industriais. Intentou-se, dessa maneira, obter um estudo apropriado da
Avenida Brasília, de seus grandes equipamentos e estabelecimentos atratores de pessoas, e sua
dimensão funcional, comercial e de representatividade para o município. Entretanto, por ser
uma via longa e segmentada, optou-se por analisar a Avenida Brasília através de cinco trechos.
Essa divisão baseou-se na diferenciação das formas de ocupação do espaço urbano.

Figura 35: Avenida Brasília - Trechos

TRECHO 1 TRECHO 2 TRECHO 3 TRECHO 4 TRECHO 5

2km

Fonte: Elaborado pelo autor, 2019


76

7.1. Avenida Brasília - Trecho 1

O Trecho 1 compreende o início da Avenida Brasília, também conhecido popularmente


como “região do zero-hora”. É uma via de mão dupla, com canteiro central. Apresenta
tipologias arquitetônicas de uso comercial/serviço e de uso misto, de um a dois pavimentos;
tipologias de galpões que compreendem sacolões e supermercados, além de instituições
religiosas. O eixo comercial é caracterizado por comércio/serviço de “lojinhas”, borracharias,
loja de peças automotivas, lojas de departamentos tais como Pernambucanas, Magazine Luiza,
bancos, açougues, bares e lanchonetes, padarias, farmácias, lotérica, sacolões/verdureiros e
oficinas mecânicas. Predominam nas áreas lindeiras ocupações de população de baixa renda,
em edificações de padrão construtivo médio e baixo, com alguns comércios locais.

Fotos 19/20: Trecho 1 – Avenida Brasília

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Avenida Brasília: vistas ao eixo comercial.

Fotos 21/22: Trecho 1 – Avenida Brasília

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 - Avenida Brasília: vista ao eixo comercial e bancos.
77

Figura 36: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 1 - Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 37: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 1 - Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


78

O primeiro esquema (Figura 36) permitiu observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial e residencial. As manchas tornam-se
significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou seja, as manchas correspondem a uma
predominância quanto ao uso e ocupação do espaço. Contudo, foi possível analisar de modo
mais sistemático esses estudos de campo e aprender sobre a estrutura da imagem urbana. Além
disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura 37) aporta elementos principais e
secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal, bairro e marco. Esses elementos
possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois esquemas, extrai-se a estrutura e a
identidade que o Trecho 1 dispõe. Esses elementos usados na imagem desse espaço urbano, são
atributos que deixam claro a importância do espaço, a vista dos limites constituídos, suas
relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Trecho 1, apontando de que forma o espaço urbano
é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos durante a visita
de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 7/8: Avenida Brasília – Trecho 1 - Cenas do cotidiano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Comércios - Avenida Brasília – Trecho 1(Caneta nanquim sobre papel)
79

7.2. Avenida Brasília (e Rua Alvorada) - Trecho 2

O Trecho 2 apresenta uma maior concentração de ambulantes, comércios e serviços.


Neste trecho convivem tipologias de uso comercial/serviço e de uso misto, de um, dois e três
pavimentos (em alguns casos até quatro pavimentos); tipologias de galpões que compreendem
sacolões, supermercados e lojas de roupas. O eixo comercial é caracterizado por
comércio/serviço de “lojinhas” populares, lojas de móveis, calçados, roupas, óticas, bijuterias,
drogarias, bares e lanchonetes, supermercados, lojas de departamento. Nas áreas lindeiras ao
eixo comercial da Av. Brasília predominam ocupações de população de renda média e baixa,
em edificações de padrão construtivo médio e baixo, com alguns comércios locais.
O eixo comercial expande-se sobre a Rua Alvorada, via que secciona a Av. Brasília e
direciona aos bairros lindeiros. Essa rua é caracterizada por oficinas mecânicas, lojas de roupas
e calçados, lanchonetes, instituições religiosas, marmoraria, papelarias, bares, posto de
gasolina, salão de beleza, etc. As edificações variam entre a um e dois pavimentos (com exceção
de novas tipologias com até três pavimentos), algumas de uso misto.

Fotos 23/24: Trecho 2 – Avenida Brasília

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 - Avenida Brasília

Fotos 25/26: Trecho 2 – Rua Alvorada

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Rua Alvorada


80

Figura 38: Esquema da Avenida Brasília (e Rua Alvorada) – Trecho 2 - Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 39: Esquema da Avenida Brasília (e Rua Alvorada) – Trecho 2 – Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


81

O primeiro esquema (Figura 38) permitiu observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, residencial, residencial (vertical)
e industrial. As manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou
seja, as manchas correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço.
Contudo, foi possível analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender
sobre a estrutura da imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura
39) aporta elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal,
bairro e marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois
esquemas, extrai-se a estrutura e a identidade que o Trecho 2/Rua Alvorada dispõe. Esses
elementos usados na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância
do espaço, a vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao
todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Trecho 2/Rua Alvorada, apontando de que forma
o espaço urbano é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos
durante a visita de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 9/10: Avenida Brasília – Trecho 2 - Cenas do cotidiano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Comércios - Avenida Brasília – Trecho 2 (Caneta nanquim sobre papel)
82

7.3. Avenida Brasília - Trecho 3

O Trecho 3 compreende uma maior presença de indústrias/fábricas e conjuntos de


edifícios de uso residencial multifamiliar de três a quatro pavimentos; tipologias de galpões que
compreendem as indústrias e fábricas. O eixo comercial está presente somente às margens da
Av. Brasília, próximo ao bairro Conj. Cristina (ocupação de conjuntos habitacionais, com
população de baixa e média renda). O pequeno eixo comercial é caracterizado por
comércio/serviço “lojinha” de artigos para casa, Supermercado BH, Motel Mudança de Lua,
floricultura, madeireira, posto de gasolina, o clube SESC, Supermercado Villefort – Atacado e
Varejo, fábrica de peças de tratores, Supermercado Apoio Mineiro. Neste trecho também se
localiza o Centro de Tratamento de Esgoto. O trecho está passando por mudanças e novos
processos urbanos – reconfiguração de novas áreas residenciais de padrão médio e alto, de
múltiplos andares.

Fotos 27/28: Avenida Brasília - Trecho 3

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Conj. Cristina/Supermercados BH

Fotos 29/30: Avenida Brasília - Trecho 3

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Madeireira/Centro de Tratamento de Esgoto


83

Figura 40: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 3 - Funções Urbanas

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 41: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 3 - Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


84

O primeiro esquema (Figura 40) permitiu observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, residencial, residencial (vertical)
e industrial. As manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou
seja, as manchas correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço.
Contudo, foi possível analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender
sobre a estrutura da imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura
41) aporta elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal,
bairro e marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois
esquemas, extrai-se a estrutura e a identidade que o Trecho 3 dispõe. Esses elementos usados
na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância do espaço, a
vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Trecho 3, apontando de que forma o espaço urbano
é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos durante a visita
de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 11/12: Avenida Brasília – Trecho 3 - Cenas do cotidiano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Moradores retornando após as compras/Ambulantes (Caneta nanquim sobre papel)
85

7.4. Avenida Brasília - Trecho 4

O Trecho 4 compreende o trecho margeado pelos bairros Duquesa I e Duquesa II, que
são ocupados predominantemente por população de baixa renda, em edificações de baixo e
médio padrão construtivo, com alguns comércios locais. É uma via de mão dupla com ausência
de canteiro central em toda sua extensão. O eixo comercial é caracterizado por trailers de
sanduíches, depósito de materiais de construção, banca de jornal e mercearia. Há duas grandes
praças, uma em frente ao bairro Duquesa I, com campo de futebol e outra que se localiza em
frente a Escola Municipal José Augusto Resende, no bairro Duquesa II.

Fotos 30/31: Avenida Brasília - Trecho 4

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Praça da Pedra Bonita/Fábrica Café Três Corações

Fotos 32/33: Avenida Brasília - Trecho 4

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Fábrica Serquip Tratamento de Resíduos-MG /Vista para a E.M. José Resende
86

Figura 42: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 4 - Função Urbana

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 43: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 4 - Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


87

O primeiro esquema (Figura 42) permitiu observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, turística, residencial, residencial
(vertical) e industrial. As manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no
conjunto, ou seja, as manchas correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação
do espaço. Contudo, foi possível analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e
aprender sobre a estrutura da imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado
urbano (Figura 43) aporta elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro,
ponto nodal, bairro e marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao
justapor os dois esquemas, extrai-se a estrutura e a identidade que o Trecho 4 dispõe. Esses
elementos usados na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância
do espaço, a vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao
todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Trecho 4, apontando de que forma o espaço urbano
é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos durante a visita
de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 13/14: Avenida Brasília – Trecho 4 – Cenas do cotidiano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Moradores retornando após as compras/Ambulantes (Caneta nanquim sobre papel)
88

7.5. Avenida Brasília - Trecho 5

O Trecho 5 compreende a área que é margeada pelo bairro Monte Carlo, ocupado
predominantemente por população de média renda, em edificações de médio padrão
construtivo, com alguns comércios locais. É uma via de mão dupla com ausência de canteiro
central em uma parte do trecho. O pequeno eixo comercial e de serviço é caracterizado por uma
marmoraria, Centro de Processamento de Merenda Escolar, fábrica Mater Blocos, Motel
Eclipse, oficinas mecânicas, loja de embalagens, moto-escola, posto de gasolina com
restaurante e madeireira. Há a constante presença de vendedores informais, que trazem em seus
caminhões, mercadorias (móveis em bambu/estofados/frutas), onde em cima de caixas ou
usando os espaços vazios, expõem seus produtos, que atraem olhares de usuários de passagem.

Fotos 34/35: Avenida Brasília - Trecho 5

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Borracharia/Mecânico/Comércio de peças para açougue

Fotos 36/37: Avenida Brasília - Trecho 5

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Posto de gasolina Demetrios/Vista para a rotatória onde se finaliza a Av. Brasília
89

Figura 44: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 5 - Função Urbana

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)

Figura 45: Esquema da Avenida Brasília – Trecho 5 - Traçado Urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


90

O primeiro esquema (Figura 44) permitiu observar as manchas referentes às funções


identificadas neste espaço urbano: função comercial, serviços, residencial e residencial
(vertical). As manchas tornam-se significantes em termos de sua inserção no conjunto, ou seja,
as manchas correspondem a uma predominância quanto ao uso e ocupação do espaço. Contudo,
foi possível analisar de modo mais sistemático esses estudos de campo e aprender sobre a
estrutura da imagem urbana. Além disso, o esquema referente ao traçado urbano (Figura 45)
aporta elementos principais e secundários divididos em: via, limite de bairro, ponto nodal,
bairro e marco. Esses elementos possuem uma aplicação mais geral, pois ao justapor os dois
esquemas, extrai-se a estrutura e a identidade que o Trecho 5 dispõe. Esses elementos usados
na imagem desse espaço urbano, são atributos que deixam claro a importância do espaço, a
vista dos limites constituídos, suas relações e posições individuais em relação ao todo.
Os esquemas aportam os atributos espaciais proporcionais à importância funcional e ao
aspecto visual. A vista desses elementos estruturantes e das funções urbanas expõem a análise
da forma urbana, do sistema viário, ao modo como este se organiza frente à sua relação com
outros elementos urbanos e às suas características internas de espaço. Parte-se do pressuposto
de que, a forma deve ser usada para reforçar o significado, e não para negá-lo. Ademais, as
ilustrações seguintes mostram o dia a dia no Trecho 5, apontando de que forma o espaço urbano
é usado e apropriado pelos usuários. Os desenhos desenvolvidos foram feitos durante a visita
de campo, e constam como material representado no diário de bordo.

Ilustração 15/16: Avenida Brasília – Trecho 5 - Cenas do cotidiano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2013 – Ambulantes montando seu estande/Ponto de ônibus: um morador se protegendo na
sombra feita pelo poste de iluminação pública (Caneta nanquim sobre papel)
91

As análises foram suplementadas por um reconhecimento de campo dos trechos


pertencentes à Avenida Brasília. A descrição baseou-se em fotografias, representações
cartográficas esquemáticas e diagramas, além de ilustrações que demonstraram o cotidiano de
cada trecho. Diversos elementos configuram a imagem e a paisagem da Avenida Brasília. Sem
dúvida, os elementos estruturadores que demonstraram as vias principais e secundárias, os
pontos nodais primários e secundários, os marcos referenciais, produziram a consistência
necessária à imagem grupal dos trechos, relacionando-se, assim, ao processo de ocupação de
cada trecho ao longo da avenida. A possibilidade está em perceber quão fragmentado é a
ocupação às margens da avenida e quão diferentes são as formas como são ocupadas.
Sobre a paisagem urbana observada, percebeu-se diferenças específicas quanto à
estrutura morfológico-funcional: espaços ocupados (abertos ou fechados), a vegetação, e a
rede viária, todos dão importância singular na paisagem urbana do Distrito São Benedito. Os
bairros tendem a ser definidos pelo sistema viário ou a própria hidrografia. A função de
circulação é importante ao modo que ela apresenta quais vias são dominantes e quais são vias
de suporte ao tráfego. A estrutura viária não parece ser de difícil compreensão, porém,
forneceu informações necessárias à sistematização das vias públicas: cruzamentos, vias
paralelas etc.
A Av. Brasília configura-se como uma via, onde em suas margens, percebe-se o modo
fragmentário e um caráter diverso de ocupação em toda sua extensão. A Av. Brasília é intrínseca
ao município, onde são percebidos marcos referenciais associados a ela – é sua característica
importante. Os pontos nodais observados ao longo da via são significativos ao ponto de gerar
atividades centrais ou de importância (extra) local. Mas observa-se também que a via tem mais
a aparência de um lugar de passagem do que de um lugar para permanecer/viver. A Avenida
Brasília apresenta-se como o núcleo comercial do município, pois aporta um espaço carregado
de significados e atividades (mutáveis), onde hoje percebe-se, também, um processo de
verticalização com edificações que se diferem do modelo básico dos antigos conjuntos
habitacionais (como caracterizado no subcapítulo 4.1. Transformação da paisagem relativa à
função residencial de Santa Luzia). Toda essa identificação se estabelece através dos processos
históricos do município.
A necessidade de reconhecer os sistemas urbanos no espaço e no tempo permite perceber
as transformações pelas quais passa o espaço urbano, tendo a ver com sua implantação e
influência periférica exercida. As cidades e os espaços urbanos não vivem isolados, mas
mantêm relações de trocas, comportam forças de desenvolvimento e capacidade de produção,
e desempenham um papel em relação ao conjunto.
92

Figura 46: Esquemas do Distrito São Benedito – Funções Urbanas e Traçado urbano

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020 (Base Autocad)


93

8 SANTA LUZIA (DISTRITO SEDE E SÃO BENEDITO): PROCESSO DE OCUPAÇÃO


E EXPANSÃO URBANA

Ao observar o Distrito São Benedito, é difícil lembrar da existência das fazendas e de


atividades agropecuárias, na década de 1950, pois muita coisa mudou com o passar do tempo,
o que gerou uma nova organização do espaço geográfico no município. Os habitantes deparam-
se hoje com a distinção de dois distritos, onde existe a Santa Luzia do Centro Histórico, com a
Rua Direita e seu entorno, e a Santa Luzia do intenso comércio de São Benedito, acrescido de
conjuntos habitacionais, diversas atividades industriais e serviços. O Distrito São Benedito
representa a mudança de um passado histórico à uma modernidade de ritmo acelerado, que cria
no município uma nova história de desenvolvimento. A organização espacial de Santa Luzia
apresenta-se de forma difusa e reflete as desigualdades e contradições presentes em seu
processo histórico de ocupação.
A ocupação inicial nas margens do Rio das Velhas não foi capaz de se estabelecer devido
as enchentes, resultando em sua mudança para o alto de uma colina que permitiu-lhe
desenvolver funções comerciais aliadas à sua posição de entroncamento caracterizada por sua
polarização regional. O atendimento a determinadas necessidades da população de Santa Luzia
se desloca rumo a capital, e o município perde sua função de referência regional, assumindo
uma condição de periferia da capital. Fato evidenciado, na década de 1980, pela implantação
de conjuntos habitacionais para a população de baixa renda.
Ao passo que o espaço urbano é um reflexo de ações realizadas no presente, como
também as que se realizaram no passado, a organização espacial das atividades produtivas
instaladas no Distrito São Benedito contribuíram para que a Avenida Brasília seja considerada
pela população municipal como centro comercial e de serviços, cuja densidade e diversidade
superaram o Centro Histórico, os subcentros Parte Baixa e Parte Alta. O município de Santa
Luzia é caracterizado por uma estrutura polinuclear, onde as atividades encontram-se dispersas
em vários subcentros, hierarquicamente diferenciados. Porém o Distrito São Benedito
concentra tanto o maior contingente populacional, quanto a maior atividade comercial.
As análises referentes aos distritos municipais, seus espaços urbanos, centro e
subcentros, permitiram observar a realização de ações diversas apoiadas no poder público local
e por intervenções estruturais de grandes proporções que possibilitaram uma nova dinâmica ao
município. Essas realizações tiveram como base as esferas administrativas e os grandes
empreendimentos, somados ao crescimento populacional e a disponibilidade de áreas
(solo/terra) desocupadas. Todas essas ações aparecem como elementos importantes ao
94

caracterizar o Distrito São Benedito como destino de ocupações e usos diferenciados do espaço
urbano, podendo-se destacar os novos conjuntos habitacionais e o acréscimo dos serviços e
atividades comerciais conduzidos pelo crescimento populacional.
Assim, a transferência de atividades produtivas para o Distrito São Benedito caracteriza
a apropriação de um novo sítio urbano, na qual suas características e qualidades beneficiam a
posição da cidade em um contexto regional e metropolitano, em relação aos eixos viários
existentes que, por conseguinte, privilegiam a acessibilidade a capital.
Dollfus (1973, p. 31), afirma a importância de “se observar as relações entre o novo sítio
e a posição dos elementos que ocupam o espaço, pois assim será possível conhecer a
organização das estruturas que o compõem e dos sistemas que o regem”. O autor ressalta que
as “questões da localização dos homens e das atividades ocupam papel importante nas ações de
organização do território e do espaço de maneira geral”. Essa organização concretiza-se por
ações e intervenções de diversos agentes do mercado e de atores sociais, tais como o Estado, as
comunidades locais, os proprietários fundiários e os impulsionadores imobiliários.
Os espaços urbanos de Santa Luzia apresentam um processo contínuo de transformações
em ritmos desiguais, e as intervenções advindas dessas ações resultam em transformações que
alteram a paisagem. Algumas descrições da paisagem são acompanhadas de mudanças operadas
nos espaços urbanos municipais, respondendo de forma geral ao modo como o cenário físico
simboliza a passagem do tempo. As análises obtidas em campo permitiram perceber contrastes
do cenário urbano: contraste espacial, de status, de uso, comparações e definições ou elementos
do traçado urbano. Os elementos e atributos apresentados na pesquisa da estrutura morfológico-
funcional tornaram-se perceptíveis em termos de sua inserção no conjunto.
O município de Santa Luzia é dividido em dois distritos que se diferem quanto à imagem
percebida, à função de cada subcentro, à paisagem corporificada através do tempo, e à divisão
de classes sociais que se relacionam com a forma na qual o município é ocupado. A
diferenciação está em que no Distrito Sede temos um centro de representação simbólica para a
população, e dois importantes subcentros comerciais que configuram a forma e a função que o
Distrito Sede apresenta. Existe uma certa homogeneidade estrutural que caracteriza a área, pois
ocupa pouco mais que seus dois subcentros comerciais e seus arredores.
No Distrito São Benedito, entretanto, a Avenida Brasília se configura como uma via
onde em suas margens percebe-se o modo fragmentário e um caráter diverso de ocupação em
toda sua extensão. A Avenida Brasília é intrínseca ao município, onde são percebidos marcos
referenciais associados a ela. Alguns aspectos observados ao longo da via são significativos ao
ponto de gerar atividades centrais ou de importância (extra) local. Mas observa-se também que
95

a via tem mais a aparência de um lugar de passagem do que de um lugar de permanência.


A Avenida Brasília apresenta-se como o núcleo comercial do município, pois apresenta
um espaço carregado de significados e atividades (mutáveis), onde hoje percebe-se, também,
um processo de verticalização com edificações que se diferem do modelo básico dos antigos
conjuntos habitacionais. Toda essa identificação se estabelece através dos processos históricos
municipais.
Ao perceber a cidade e o espaço urbano, cria-se uma imagem pública que é a
sobreposição de muitas imagens individuais. Quer dizer, existe uma série de imagens cada qual
criada por diversos significados pelos cidadãos. A conceituação dos espaços urbanos municipais
de Santa Luzia é de fácil percepção, e trazem conotações de espaço em torno das moradias e da
orientação que se tem da estrutura e identidade, que não foram difíceis de se obter. A forma do
ambiente em si representou um papel decisivo na configuração da imagem municipal e de seus
distritos. E foi nessa relação entre imagem e forma física que se concentrou o interesse da
pesquisa.
As comparações com imagens subjetivas da cidade, dados como fotos, mapas e
diagramas das funções e do traçado urbano, podem parecer como uma descrição “objetiva”
adequada da forma física do município de Santa Luzia. Porém, são excessivamente superficiais
e ainda não generalizadas o bastante. Quer dizer, a variedade de fatores e elementos que
poderiam ser avaliados é infinita, e a melhor maneira de se definir um certa realidade não se
encontra, necessariamente, em métodos quantitativos, mas na percepção e avaliação do que se
observou em campo: mapas esquemáticos e conversas com os moradores – uma análise
sistemática da área. Algumas generalizações foram feitas a propósito da relação percebida
através desses dados obtidos.
A exemplificar, entre os residentes do Distrito Sede existe uma compreensão da relação
dos moradores frente aos espaços urbanos de Santa Luzia. O Centro Histórico, o bairro Boa
Esperança (subcentro Parte Alta) e o bairro Frimisa configuram como lugares desejados pela
população. Além disso, os residentes percebem mudanças na paisagem e na intensidade de
fluxos (pessoas, automóveis). Disse alguns dos entrevistados:

“Já quis morar no Boa Esperança, porque é um bairro mais próximo dos comércios e serviços;
é um ponto estratégico se você quiser ir pra Belo Horizonte, só seguir pela Avenida das Indústrias. “

“Acho 'Santa Luzia' tranquilo de morar. Meu trabalho é próximo de casa, tenho sossego e
tranquilidade, segurança, o 'direito de ir e vir'. Diferente de quando eu morava em Belo Horizonte.”
96

Quando perguntados sobre o cenário físico do Distrito Sede, eles disseram:

“Vejo que se preocupam em preservar o Centro Histórico, lá não passa ônibus e carretas; a
cidade está crescendo, muitos condomínios, prédios de conjuntos habitacionais.”

“O trânsito na Avenida do Carmo e Rua do Comércio, está cada vez mais difícil, pela
intensidade de fluxo, muitas pessoas e grande número de carros. As vias são hoje pavimentadas, antes
eram de pedra, mas estamos tendo muitos alagamentos. Se fossem de pedra não seria assim.”

“Eu me sinto segura aqui em 'Santa Luzia', o trânsito não é tão intenso, é mais fácil se deslocar.
Porém, carece de ofertas de bons restaurantes e lugares para frequentar.”

Quando perguntados sobre o distrito vizinho (São Benedito), fizeram as seguintes


afirmações:

“Eu até gosto de 'São Benedito'. A diferença que se nota está nas pessoas. Elas são mais
simples, mais humildes, e isso me agrada mais do que o comportamento dos moradores de 'Santa Luzia'.
Porém, não me sinto segura em 'São Benedito'.”

“Vejo o 'São Benedito' como um lugar que precisa de muitos investimentos que possam
melhorar a segurança, algo que gere trabalho para as pessoas. Não há lazer em 'São Benedito'”.

“Em 'Santa Luzia' é monótono. Em 'São Benedito' há muito mais movimento, diversos
comércios, mas para mim, é um lugar de passagem. Tudo que eu preciso, recorro a Belo Horizonte, pois
não sinto conforto em comprar em São Benedito... é tudo meio desorganizado.”

“Uma coisa que percebo é que em 'São Benedito' há mais linhas de ônibus do que aqui. 'São
Benedito' é todo diferente, o movimento é intenso, por isso que vamos pra lá.”

Uma mulher fez as seguintes afirmações:

“Nossa. Percebo como se lá fosse Belo Horizonte, tem muito comércio e serviços. Lá parece
uma outra cidade, não parece muito um bairro de Santa Luzia. A população cresceu muito.

A gente deixa de comprar em 'Santa Luzia' para comprar em 'São Benedito', porque um mesmo
produto aqui, é por um preço, enquanto lá, sai mais barato. Então, a gente acha variedade e preço.
Antigamente, quem decidia sobre as eleições e os políticos eleitos, era a população de 'Santa
97

Luzia', mas hoje quem decide é 'São Benedito'. Não sei exatamente porque lá cresceu. Se você observar,
não estamos tão distantes de 'São Benedito'. Há áreas, por exemplo, que também estão próximas a Belo
Horizonte, nem por isso cresceram tanto, pois continuam paradas.”

Figura 47: Relação dos moradores frente aos espaços urbanos de Santa Luzia

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020

Os residentes do Distrito São Benedito também denotam a relação que possuem frente
aos espaços urbanos de Santa Luzia. O Centro Histórico, o bairro Boa Esperança (Subcentro
Parte Alta) e o bairro Frimisa, também configuram como lugares desejados da população do
Distrito São Benedito. Vejamos algumas afirmações:

“Eu gostaria de morar no Centro Histórico ou no bairro Frimisa, lá em 'Santa Luzia'; porque
acho que lá é mais tranquilo, não é tumultuado.”

“O bairro Frimisa, parece ser tranquilo: silencioso e calmo. Gosto da Parte alta e do o Centro
Histórico, pela cultura que lá tem e pelo conjunto arquitetônico da parte histórica.”

“Gostaria de poder frequentar a Igreja da Matriz, no Centro Histórico. Não vou porque é longe.
98

Quando questionados a respeito do cenário físico atual do Distrito São Benedito,


afirmaram:

“Aqui tem mais linhas de ônibus, além da estação do Move. O trânsito também se intensificou
e o comércio em São Benedito aumentou. Hoje tem mais oportunidades de adquirir imóveis.”

“Aqui em 'São Benedito' ficou mais movimentado, veio muita gente para cá. Tem muitos
comércios. É tudo muito feio. É tumultuado. Mas tudo que eu preciso consigo em 'São Benedito'.”

“Vejo 'São Benedito como um lugar que cresceu, tem muitos comércios, trânsito, linhas de
ônibus; pois antes não tinha muito, na década de 1990. Tem muitos assaltos em 'São Benedito' também.”

“'São Benedito' é mais movimentado, uma multidão de pessoas. Acho que em 'Santa Luzia' é
mais tranquilo, pois não tem tantos carros como em 'São Benedito'.”

“A área comercial cresceu, teve aumento de população, asfaltamento das ruas, mudanças de
infraestrutura; outros bairros surgiram. Mas hoje o sossego acabou pois não dá para andar mais sozinha
à noite porque é perigoso, tem muita criminalidade.”

Uma moradora do distrito fez a seguinte afirmação:

“'São Benedito' já quis emancipar e pertencer a Belo Horizonte. 'Santa Luzia' é mais distante.
Se tivesse emancipado... poderia mudar muita coisa. Eu sinto como se não fizéssemos parte, pois não
frequento o 'lado de lá'.

Quando me perguntam onde moro, dizem: 'Você mora no fim do mundo', 'Você não mora, você
esconde'. Realmente, é muito longe. Desde 1979 tenho trabalhado como 'passadeira' em Belo Horizonte,
porque não tenho nenhuma especialidade. Mas preferiria trabalhar em 'São Benedito', mas grande parte
da população trabalha em Belo Horizonte.”

Novamente, houve um grande número de observações sobre a distinção do cenário


físico:

“Acho muito tenso por conta de crimes, poluição visual. Acho que não tenho muito a dizer. A
cidade não oferece opções interessantes, então quando tenho que sair, vou a bairros próximos, em Belo
Horizonte.”

“Eu percebo a existência de periferias com uma população de renda média-baixa. Noto
99

também a diferença de classe, muita poluição sonora e visual. Não se vê muito verde e as casas são
construídas de qualquer jeito, são construções feias.”

“Eu vejo grandes aglomerações. É perigoso em certos horários. Vejo muita miséria. Não vejo
nada bom. O lazer é uma quadra onde jogo bola.”

E quando perguntados sobre o distrito vizinho (Sede), fizeram as seguintes


afirmações:

“Percebo lá como uma área verde, mais tranquila, sem muita poluição e trânsito. Percebo
também que a população lá possui uma renda melhor.”

“Não frequento ‘Santa Luzia’, mas acho que lá tenha mais sossego. O ritmo é mais calmo.”

“Percebo que eles têm a história preservada no patrimônio arquitetônico; mas a população é
mais arrogante, mal-educada no tratamento com o próximo, exigentes. Lá tem bairros mais tranquilos
de morar. Mais áreas verdes do que em 'São Benedito'. Gosto muito da Parte Alta da cidade.”

Figura 48: Relação dos moradores frente aos espaços urbanos de Santa Luzia

Fonte: Elaborado pelo autor, 2020


100

Os comentários apresentados são caracterizações gerais dos distritos e seus espaços


urbanos, baseados em conversas com os habitantes de ambos os distritos. Esses recortes são os
simbolismos perceptíveis que o município de Santa Luzia apresenta, frente às relações que os
moradores possuem com o espaço urbano. A diferenciação entre o Distrito Sede e o Distrito
São Benedito, relaciona-se ao processo histórico de ocupação, e está presente na maneira como
os moradores se referem aos distritos, como se fossem espaços independentes. Quando os
residentes falam de “Santa Luzia”, na verdade eles fazem uma alusão específica à Sede, como
se o São Benedito não fosse parte integrante do município.
Com isso, a forma na qual se expressam configura-se pela fala: morar em “Santa Luzia”
ou morar no “São Benedito”, como se não vivessem na mesma municipalidade. Como apontado
por eles, o São Benedito se destaca pela diversidade dos serviços e comércios, que gera a
sensação de “independência” em relação às demais áreas urbanas no município. Entretanto, o
Distrito Sede preserva uma certa autonomia político-administrativa, caracterizando um claro
processo de fragmentação espacial.
O Distrito São Benedito sofre as consequências diretas do processo de produção da
periferia metropolitana, com implicações nas desigualdades socioespaciais. Pode-se assim dizer
que este cenário representa o processo de formação de uma periferia metropolitana, que teve
início na década de 1950, e intensificou-se na década de 1970. Tudo isso é resultado de um
descompasso entre o volume de produção de parcelamento do solo, no período, e o processo de
conurbação. A conurbação gera vários vazios urbanos que são preenchidos e adensados, seja
pelo parcelamento de áreas, produção de lotes vagos, implantação de conjuntos habitacionais,
construção de várias unidades habitacionais, implantação de loteamentos irregulares, dentre
outras formas de apropriação do espaço, claramente observadas no Distrito São Benedito.
O Distrito São Benedito tem seu processo de crescimento marcado pela construção de
conjuntos habitacionais voltados ao atendimento da população de baixa renda. A ocupação
predominante encontra-se a oeste do São Benedito, próxima à MG-10 – Linha Verde, tendo
assim, a MG-434 – Avenida Brasília como eixo estruturador, criando uma forte ligação com a
capital e uma fraca relação com o Distrito Sede. Neste contexto, observa-se que a conurbação
inicial de baixa densidade gerou vazios urbanos, que foram sendo paulatinamente preenchidos
e adensados, seja pelo parcelamento de áreas intersticiais, produção de lotes vagos, subdivisão
de lotes existentes, implantação de conjuntos habitacionais populares, construção de várias
unidades habitacionais e implantação de loteamentos irregulares.
101

Em 1980, o Distrito de São Benedito já apresentava manchas de ocupação consolidadas


e maiores que a do Distrito Sede. O preenchimento de alguns interstícios consolida uma mancha
de ocupação na região oeste de Santa Luzia, limítrofe a Belo Horizonte. Essa intensificação é
causa da implantação dos conjuntos habitacionais na região. Assim, o Distrito São Benedito vai
se consolidando como a nova centralidade de Santa Luzia – e tornando-se bairro periférico da
capital. Mas observa-se características de um vazio urbano, onde encontram-se as chácaras
(Santa Inês e Del Rey). Já no sentido Novo Centro, destaca-se a extensão de manchas contiguas
à MG-020 - Avenida das Indústrias. Essas ocupações começam a se conformar de uma maneira
linear no sentido sul-norte.

Figura 49: Santa Luzia - Evolução das manchas de ocupação (1980)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

Já ao longo dos anos 1990 e anos 2000, segue-se a mesma tendência de ampliação das
manchas, intensificando-se a ocupação nos principais núcleos identificados anteriormente.
Porém, a ocupação intensifica-se na região entorno do Centro Histórico, no Distrito Sede.
102

Figura 50: Santa Luzia - Evolução das manchas de ocupação (1980-2000)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

O período dos anos 2000 aos dias atuais é representado por manchas de ocupação
anteriormente identificadas, consolidando uma tendência descrita nos períodos anteriores.
Nota-se, agora, uma ocupação intensificada a oeste de Santa Luzia, no Distrito São Benedito,
ocupando toda a região contígua a Belo Horizonte. Isso claramente caracteriza o processo de
conurbação com a capital mineira, reforçando o papel de centralidade de São Benedito. Outra
ocupação linear a formar, apresenta-se ao longo da MG-020 - Avenida das Indústrias, sentido
Novo Centro. Consolida-se também uma ocupação na região do bairro Frimisa, localizada às
margens do Rio das Velhas, que se desenvolveu ao longo da linha férrea. Destaca-se que o
bairro Frimisa abriga hoje a Prefeitura Municipal de Santa Luzia, o que acarretou a ocupação e
expansão urbana das áreas em ao entorno.
A ocupação avança linearmente ao longo da Av. Brasília, demonstrando todo vigor e
vitalidade dos serviços e comércios que paulatinamente ali se instalam, podendo-se neste caso
observar vazios urbanos em direção ao Centro Histórico, com o qual as ligações são mais
frágeis, fazendo com que o São Benedito assuma uma clara condição de periferia da metrópole,
com a qual mantem intensas relações.
103

Figura 51: Santa Luzia: evolução das manchas de ocupação (1980/2000/2020)

Fonte: Elaborado pelo autor com dados do Google Earth, 2020

É notável o papel das avenidas como eixos estruturadores do crescimento e expansão


urbana na região, além da tendência à ocupação linear ao longo das vias. Tudo isso supera o
papel que o Centro Histórico teve como indutor de expansão urbana, no início da formação de
Santa Luzia. Pode-se dizer que a ocupação já consolidada, na década de 1980, caracterizou-se
pela busca de uma maior proximidade e acesso à capital e, ao que hoje caracteriza São Benedito
como uma condição periférica da metrópole, mantendo intensas relações.
Em síntese, a pesquisa se organizou de forma a apresentar discussões teórico-conceituais
que contribuíram para a compreensão dos espaços urbanos (o Distrito Sede e o Distrito São
Benedito) do município de Santa Luzia. Também se evidenciou alguns aspectos de
desenvolvimento histórico-geográfico, por meio dos estudos sobre o traçado urbano dos centros
e subcentros, e análises correspondentes às funções urbanas dos principais espaços urbanos de
Santa Luzia. Finalmente, o estudo demonstrou a importância que o Distrito São Benedito possui
devido à sua proximidade com a metrópole Belo Horizonte.
104

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o processo metodológico, o trabalho apresentou a análise correspondente


à estrutura morfológico-funcional do município de Santa Luzia, e elementos que permitiram
identificar os espaços urbanos constituídos pelo Distrito Sede e pelo Distrito São Benedito.
Procedeu-se à revisão de uma periodização histórico-geográfica que caracterizou a ocupação e
expansão urbana de Santa Luzia. O estudo revelou a forma espacial, o papel desempenhado
pelos importantes eixos viários (MG-434 - Avenida Brasília, a MG-020 em toda sua extensão e
a BR-381 – Av. Beira Rio e sentido Sabará), enquanto indutores e estruturadores desta ocupação
e expansão urbana.
No Distrito São Benedito, a evolução da mancha urbana demonstrou as ocupações
iniciais que ocorreram na porção centro-oeste do município, onde hoje observa-se uma
densidade ocupacional expressiva, mais intensa quando se aproxima da região às margens da
divisa com Belo Horizonte. Isso demonstrou claramente o espraiamento da metrópole sobre o
município. A ocupação assume um caráter linear no entorno da Avenida Brasília e vai se
tornando rarefeita, apresentando vazios urbanos, até sua confluência com a MG-020 – Avenida
das Indústrias.
O estudo historiográfico apontou para a importância da Avenida Brasília, que na década
de 1950, mostrava-se como eixo principal da evolução da mancha urbana, reforçando a
significância desta via para o desenvolvimento do município, em especial, o Distrito São
Benedito, a partir da década de 1980, com a chegada dos conjuntos habitacionais. A implantação
desses conjuntos favoreceu o crescimento populacional no distrito, aumentando a demanda por
serviços e comércios diversos. Tudo isso reafirmou a importância que a Avenida Brasília
representa como eixo estruturador da ocupação.
A ocupação e expansão urbana no Distrito São Benedito está relacionada à instalação
dos conjuntos habitacionais, além do acesso e proximidade com a capital, o que justifica sua
densidade ocupacional. Efetivamente, tem-se o processo de conurbação com Belo Horizonte, e
uma área contínua ocupada e consolidada. Entretanto, o estudo revelou que o Centro Histórico,
apesar de sua representatividade (simbólica), não se conforma como elemento indutor de
atividades urbanas e ocupação urbana.
O trabalho de campo permitiu perceber que o Distrito Sede e seus espaços urbanos
possuem uma dinâmica própria, dispondo de serviços e comércios de caráter local, além da
autonomia dos subcentros (Parte Baixa e Parte Alta), em relação ao Centro Histórico. Este
desempenhou um importante papel na implantação e consolidação regional do município de
105

Santa Luzia, mas não foi capaz de manter-se como elemento indutor de crescimento e expansão
urbana. Ressalta-se que o crescimento do Distrito Sede se relaciona à MG-020 – Avenida das
Indústrias, que passou a apresentar pequenos ocupações que foram crescendo, até tornarem-se
manchas contínuas.
Sendo assim, foi possível identificar também as funções urbanas – bens e serviços – e a
influência dos centros e subcentros distritais, no que diz respeito às influências e
(des)centralização, gerando várias centralidades urbanas – o que cria uma certa
interdependência com a capital. O estudo partiu da representação dessas centralidades
municipais, de forma a perceber a estrutura policêntrica de Santa Luzia, assumindo níveis e
funções hierárquicas diversas, mantidas por suas especificidades e potencialidades.
Dessa forma, foi possível obter uma identidade visual mais geral de Santa Luzia, que
estivesse à altura de sua importância funcional: o estabelecimento das formas potenciais dos
espaços urbanos, os eixos viários estruturadores da expansão e ocupação urbana. A constante
mutação dos espaços urbanos traz consigo a imagem de transformação, ou seja, a construção
de imagens ambientais está aberta a transformações, e essas imagens não podem ser tomadas
(somente) como resultado final das características e elementos identificados. A pesquisa
pautou-se na organização através de diagramas simbólicos que explicassem as relações das
características principais de uma maneira que conduzisse à criação de imagens urbanas.
A mais importante diretriz para estudos futuros tem de levar em conta a compreensão
da imagem urbana como um campo total, as interrelações de elementos, modelos e sequências.
Deve-se levar em consideração a noção temporal, que é um fenômeno que se volta para um
objeto de enormes dimensões. O ambiente tem de ser percebido como um todo orgânico, a partir
da identificação de partes em seu contexto imediato, procurando encontrar caminhos de
entender e lidar com os problemas e indagações. Alguns destes estudos podem ser
quantificáveis, por exemplo, o número de unidades de informação necessárias à especificação
de principais destinos urbanos.
Neste contexto, ressalta-se um referencial importante ao planejamento metropolitano
integrado, visando a criação de um espaço mais integrado socioeconomicamente, contribuindo
à coesão entre os municípios integrantes da RMBH. Assim, demonstra-se a necessidade de uma
abordagem metropolitana a partir do planejamento integrado, que busque uma compreensão da
totalidade, coerente com a realidade contemporânea que tenha a sociedade não apenas como
objeto, mas como sujeito, que integra e legitima os processos de transformação socioeconômica
e ambiental.
106

A proposta de “criação e/ou fortalecimento de centralidades urbanas em rede” (MINAS


GERAIS, 2011) vem ao encontro da proposta de reestruturação territorial constante do Plano
Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que “[...]
visa criar as condições para a implementação de uma estratégia de descentralização concentrada
e seletiva, para que se passe de uma estrutura monocêntrica, com um sistema de transporte
radial e convergente para um único centro, para uma estrutura policêntrica, organizada em torno
de uma rede de mobilidade multimodal” (MINAS GERAIS, 2011, p. 11).

Figura 52: Metrópole Monodispersa X Policompacta

Fonte: MINAS GERAIS, 2011b

De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana


de Belo Horizonte (PDDI – RMBH, 2011, p. 12-13), a rede de centralidades proposta deve
configurar uma nova hierarquia urbana na RMBH, composta pela Metrópole, Centros
Metropolitanos, Subcentros Metropolitanos, Centros Microrregionais e Centros Locais, sendo
que Santa Luzia está enquadrada na categoria Subcentros Metropolitanos.
É fundamental para o planejamento metropolitano integrado a produção de um espaço
mais integrado social, econômica e culturalmente, contribuindo para uma maior coesão
socioespacial entre os municípios integrantes da RMBH. Assim, devem ser identificadas as
fragilidades de cada município para que, dentre as diversas ações estatais, possa ser incluída a
modernização e fortalecimento institucional dos municípios, elevando sua capacidade de
planejamento e gestão do território.
Visando uma política de investimentos públicos voltada para o desenvolvimento do
município de Santa Luzia, deve resultar da conjugação e pactuação de diferentes interesses dos
atores sociais envolvidos, sem prevalência de grupos majoritários, com vistas à promoção
de capital humano e social privilegiando, ainda, o envolvimento das comunidades
com a valorização das várias identidades locais, resgatando e requalificando os
marcos referenciais, centros e centralidades, reconhecidos pelos seus cidadãos.
107

Desta forma, o trabalho de campo foi essencial para o reconhecimento e caracterização


dos espaços urbanos: o Distrito São Benedito como uma nova e significativa centralidade, com
a Av. Brasília, eixo estruturador ao longo do qual localizam-se as principais atividades
terciárias, destacando-se os conjuntos habitacionais Palmital e Cristina; o bairro Frimisa que
vem se constituindo como uma nova centralidade e que hoje abriga a sede da Prefeitura de Santa
Luzia, caracterizado pelas atividades público-administrativas; a Ponte Antiga que faz a
transposição sobre o Rio das Velhas, estabelecendo a ligação da Parte Baixa com a Parte Alta,
conformando-se como elemento referencial; a Avenida do Carmo que dispõe de diversificadas
atividades terciárias, caracterizando-se como outra centralidade, com caráter linear; os portais
de acesso a Santa Luzia que marcam os principais acessos ao município; a Rua do Comércio,
onde localizam-se importantes atividades de serviços e comércios; o Centro Histórico de Santa
Luzia, marco referencial mais amplamente reconhecido, onde localizam-se atividades
administrativas, além de comércios e serviços de caráter local, que têm na Rua Direita seu eixo
principal.
Diante disso, pode-se dizer que o trabalho contribuiu para a compreensão do processo
de organização espacial do município de Santa Luzia e de seus dois principais distritos, tanto
do ponto-de-vista de sua inserção regional, quanto da conformação de seus espaços
intraurbanos com identificação de elementos estruturantes da sua ocupação e expansão urbana
Desta maneira, foi possível perceber que a expansão provocada pelo fenômeno da
metropolização na região do São Benedito é responsável pelas transformações na paisagem
urbana, relacionado às características do processo de produção de periferias, justificando a
fragmentação do espaço urbano e a conformação de múltiplas centralidades.
108

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