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Antonio Jordim
Mesíre em Música / Conserv. Brosileiro de
Música
Douíor em Poéiica /Foculdode de Letras UFRJ
Abstraciz
Inlroduçãm
O que vem a ser Culiuro Ocidenial pode vir a ser pensodo como um conjunto
de componomemos que caracierízam o modo ou os modos de víver. iníciol e
prl'meiromeme, do homem ocidentaL À pcne de como isso se oferece ímedioiomente
o quclquer reflexo'o, a questõo que, de um modo ou de outro, se ímpõe e' índogor
quoís os pressuposios dessa culfurcL qucís os seus princípios, ísio e', como tol culturo
chegou c ser o que é e qucis os seus príncipoís e decisivos deiermínantes. Discutindo
essos questões, tolvez tenhomos como compreender Um pouco melhor c Iegífímídode
de Yermos atribuído ó culiurc ocidentol o coracterístico de ser e de Consiítuir ela o
coniexto hegemôníco dc técníca em que estejo inserido o dímensõo poe"ríca.
O que entendemos por Cultura Ocidentol e' umo con-formoçõo, umc paídéio
inícíodo com c cultura greco~loiino, em especiol com o culturo grega. E e', o nosso
iuízo, no Grécio que tem início o processo que se conduziró oté olconçcr o que hoje
chomcmos Culturo OcidentoL É tombém nc Grécio que se inicio esse per-curso que
fez com que hoje possomos nos entenden aíndc que em porte, como ocidenTois
para além de umo compreensóo meramente geogrófica Oro, porc que isso assím
sejo, ¡sfo e', para que ocidentol queiro dízer mcis do que Umo Iocolizoçõo mercmeme
geogróñca é ímprescindível fozer emergír algo que sejo, por si. copoz de ironscender
o fo1o de Iermos ncscído e vívermos, ou apenos de 1ermos sído críodos desie ou
daquele Iodo, o" díreíTa ou à esquerdc deste ou doquele meridiano. Ser ocidentcL
portonta nõo diz e nõo pode dizer apenos de criférios espocíois e Temporo¡s, em
especíal porque foi 0 pcrtír do ser ocidentol que se consütuiu esse modo de
compreender essc espócio~temporalidode como provída de volor, como provídc de
Um determinodo comportohmemo corcncterízodor e carocfen'zante. O Ser ocidenfol e',
olém e ontes de umo de-cisõo geogrófích umo compreensào e consmuíçõo de mUndo.
O ser ocidentol é menos que Um ociden1e, é Um modo de mundonizcr mundo CI poriir
de certos pn'ncípios. Se ossim e', ccbe-nos entâo perguntor por esses princípios, e pelo
seu modo de constituiçõa permcnêncio e mutoçõa e como esses príncípios pudercm
se Constifuir hegemõnicos nõo openos no Ocídente, mos como esse Ocíden1e cricdo
confunde seu criador e qucse que imperceptívelmente o tomo mero oroufo dos volores
por eIe mesmo cn'0dos.
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A CUIturo Ocidemal e', como dissemos ccimo, um complexo composto de
costumes e volores corocterísticos. É evidenie que olguns pressupostos vierom a se
configuror preponderantes, e o conjunto desses pressupostos falvez seja. na suo
1otolídode, impossíve| de ser enumerodo. No entcnta sob umo certa perspectivo e
paro o que posso nos interessor conjunfurclmenta cremos ser possível fazer-se um
recorte de três determinantes primórios consh'tuín?es do formcçõo do que entendemos
por culfurc ocídeníaL determínantes, fríse-se, do que enfendemos por coniexfo
hegemônico do fécnica Esses frês determinuntes, por ossim dizer, ontogênicos, sõo c
mensurcbilidode, o identidode e a representcçõa Quer-nos parecer que, sem esses
três conceifos por nós eniendidos como on'gina'ríos, o que se entende por Culfuro
Ocidentcí se opresenfaria com um perfil muíto diverso daquele que nos é opresentoda
Esses Três conceifos surgem em trés momemos diferentes dc hísfório do Çulfurc
OcidenwL
A mensurcbílídade se põe dionte de nós oíndc no período dc culfura grego
dominodo pelo mito. no cssím chomodo período míTico, e suo apcríçõo se dó pelc
prímeiro vez no |emo dos Argoncufos, que, digo-se de pcssogem é muilo conhecido
nosso, sejo peIo próprío tema sejo alrcvés de Fernondo Pessoa, seja pelc músíco de
Coefcno Veloso. Este Iemo nos diz: Navegcr e' preciso; víver não é precíso. Tcnto em
Pessoc como em Coeiano temos ¡nterprefcções semelhontes oos do Iemc
orgonóulico, isto e', o Iemo é reduzido oo que é ou nõo necessórío, umc vez que
cmbos entendem o preciso como necessa'r¡o. Lido desto forma, o Iemc gonhc em
sentido existencioL mos. com cerieza perde com respeíto oo vigor de possíbílidade
de estobelecímento de senfidos, pois, oo se ínterprefor o preciso como necessa'n'o.
novegcr e víver ou entõo viver e cricr, como diz Pessoo. se põem cmbos no ômbíto
dos realizaçõe5, víst que nõo existe possíbílidode de ncvegcr, críor ou qualquer outrc
coisc no domínio do existênc¡'c, sem víver, jó que todos essas reolizoções dependem
do viver. O víver é condiçõo sine qua non de quolquer possíbílidade de reclizaçõo. e
é como condiçõo de possíbilídcde que ele nõo pode ser desnecessórío. embora posso
nõo ser suficienta Desse modo, o próprío víver ocaba se vendo reduzido pelo Iimite
dcs realizcções, possondo o ser ele próprío nõo mois que Umc reolízàçõo entre outros,
e assim o Iemo se coloco como configurcdor de umc escolha excludenta do fipo ou
isfo ou cquilo. A interpretaçõo ex1'slencío¡destelemo, portonto, mesmo sendo Iegítíma
nõo e', por certo. cquelo que pode concorrer paro umo compreensõo da
mensurcbilidode como Um crife'n'o, vísto que elo 1em o prerrogmÍVQ de igualcr tudo
no ómbito do que é reolizóveL
O lemo grego oponio pora uma outra possíbílidade que serio precísameme
oquela que poríc esse lemo no plano dc mensurobílídade. Poro que ísso aconteça é
interiac'¡a's'
como o mesmo. índístinguíJoa conduz e, moís do que isso, occbou por conduzir à
indíferenço em reloçõo às quesiões do ser e do pensor. A ontologia perde sentido em
de1r¡'mento do que é cloro, evídente, pràtica objeh'vo, úti|, enfim, do que é copoz de
Ievar a algum Iugor, aindc que esse Iugcr possa nõo ser exciomente o lugor mois
desejóveL Nõo ¡mporto. 0 ímpononte é que sejo olgum Iugar. A quesfõo onfológicc
possa oo Iongo do desenvolvimenlo do Cunuro OcidenfoL o ser considerodo perdo
de tempo. É preciso fer Um Iugor e gonhar tempo. O Iugar é extensõo e o tempo
cronologicL Toda e quolquer possíbilídode de compreensõo de espoço e fempo que
nõo sejam esias, posso o nõo fazer senh'do. A perdc de sentído da quesiõo ontológica
defermínodo pelo predomínio do identidode, troz concomíicntemente consígo c
medido como critério, e mesmo fempo e Iugor, considerados mois íarde por Kont
como conceífos o priori, ccobcm por elo determinodos, e essa deTerminaçÕo e'
empobrecimento quer de fempo quer de espoço. Esso deferminoçõo é, em úlfíma
instóncia empobrecimento da próprio noçôo de mundo. Esse empobrecimento dc
noçõo de mundo 1emvse feíto presenfe, às vezes de forma contundente, oo Iongo da
hístóríc da Culiurc OcidenfoL
Numo 1erceirc1 ínstônciq coIocc-se um ierceiro formonte no constuiÇõo
do Culturo Ocidentcl - o represenioçõa Orígincdc do polovro Iaüno reproesenfafía
o uso do termo foi sugerído oos escolósticos pelo conceílo de conhecimento como
semelhonço do objeto. Represenfcr olgo, poro S. Tomós. significovc conter o
semelhcnço dc coísa. Jó Guilherme de Ockhom estobelecíc três signíficações
fundomemois poro reprcesenfafia Em primeiro Iugor, represenioçõo compreendía
oquílo por meío de que se conhece olgo, e, nesse sentído, o conhecimenío serio
representcfiva e represemor sígnifíccrio ser oquilo por meio de que se conhece olgumc
coisa Em segundo Iugar, Ockhom enfende que represenfor nodo mcis serio que o
imagem volendo por oquilo de que é imogem, no ofo do IembranÇa, por exempla
Em terceiro lugar, represenioçõo serio o que ccusa o conhecímento, do mesmo modo
como o objeto cousu o conhecímenta No primeiro senh'do, c representoçõo sería o
íde'íc. no sentido moís gerol; no segundo senüdo, sen'c o imogem: no 1erceíro sentida
o próprio objeta
Os gregos oinda nõo 1omovom a represenioçõo nesso compertínêncio c co-
nhecímema Paro eles napáommç dízío do que se expõe ou do que nos é trozído dion~
te. Nesío polovro ficc ímplícítc a imobílídode presente como suo consmuinte ncI
polovro máolç , que traz até esiótíco no porfuguês, o estófícc em que occbc por se
converter o conhecímenfo entendido como representaçõa De quolquer modo, os
gregos aindo nõo compreendíom oquilo que se expõe como aquilo que é conhecido
em iodas cs suas possibilídodes, tol como fez o desdobrcmento do Culfuro OcídentoL
oo menos do Idode Médio oté hoje.
De qualquer modo, o importonte pora o que se coloca nesíe momento é a
compreensõo do representoçõo como conhecimenta É exotamenfe por esic
ló compreensõo que o represemoçõo é Um dos conceifos decisivos do Culturo OcídentoL
O sober determínodo pelo representoçõo impõe o verossimilhonço como príorifóñc
em reloçõo à verdode. Orc1, o cceifaçõo do verossímíl como copcz de sotisfczer a
dinômica da verdode se relociono com o descomprometimenio com os questões
que esto pudesse suscich Do mesmo modo que o iden1I'dode, no CuHuro OcidentoL
sufocou o quesfôo do ser, o representoçõo sufocou o verdodez poro estcL mois
ímportcmfe do que ser-verdodeíro é pcrecer~ser-verdodeiro. Com a ofírmcçõo do
represenfoçõo como crífério determinonte poro o que é ou nõo verdodeíro, 1emos o
idéíc e o ímogem tomodos como se fossem o próprio obje1o. Essc sübsütuiçõo se dó
sem que nos opercebomos, e suo primordíal conseqüência é subsíituir c dinómico
impos1o por quolquer objeto de conhecimenio pelo esfótica de suo represemoçõo
Um exemplo em que incontesiemenfe isso ocorre é 0 mu'síco. Estc é um ccso
parodigmófíco de substíluiçõo do dinômíco do objeio pelo estóüco da representaçõa
Vejomosz no plono do CuHuro Ocidental quondo, mesmo no nível do senso comum,
se pergunlo o alguém se esfe sabe mu'sicc, esie olguém responderá cfírmaiivomente
só e 1õo-somenfe se for copoz de |er, de Iidor com os meconismos representofivos
musícois. Se souber Ier. Se nõo for ossim, esTe olguém díró que nõo sabe músíco.
Aindo que esfe olguém canfe, toque olgum ínsirumenfo ou componho. Isio se dó
porque exisfe Umo imposiçõo do sober índelevelmenie co-Iigado à represenfoçõa
Saber se consmuiu se converteu em sober represenion ou Ier c1$ represenfaço'es.
Mesmo numc culfura como o brosílel'rc, onde 0 moior pcrie dos criodores musícois
nõo escreve e nõo lê mu'síca, a Hranía dc represenioçõo nõo deixo de se impor como
crítério defermínonfa
Qucndo apomomos esses três concei1os como deTermínonfes porc o
esfobelecimento do confexfo hegemónico do iécnico e, por conseguinfe paro o
desenvolvímento do Culturo Ocideníoh esso afirmaçõo poderia ser contestada
Alguém poderío pergunfon mensurcbílidoda ideniídade e representoçõo sericm, por
ocoso. prerrogotivas do Culturo OcidenTaB Serío |egí1imo se entender que cpenos o
Culturo Ocidentol dispõe de meconismos pora medir, identífícor e represen10r? Ora,
é óbvío que nõol Todo e quolquer conformaçõo culturcl dispõe de mecanismos poro
reolizor mensuroções, I'den1¡ñcoções e represenfaçõex o diferenço em reSaçõo a esses
conceífosl quondo entendidos ocidentolmema é que, no Culturc OcidentaL eles se
converteram em criférios a priori pcro a consmuíçõo do sober. Somente no Cultura
Ocídentol temos mensurobílídode, identídade e representoçào como criféríos
determínontes pora o saben O sober es1ó, nesse contexm cmplctmente deiermincdo
pelc medida, pelc ídentídade e pelo represenfcçõa o ponto de se pensor que só é
cognoscível o que pode responder, no mínímo, a esses írês princípíos.
Além dísso, o determinoçõo do confexto Culturo OcidentaL como um
interínues
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A dimensõo poéNco
ocredífou, e oindo CCreditq poder consfituír c dimensõo técnico como ccpoz de dcr
conto do que é reoL Ledo engono. A dimensõo hegemônicc pode dor conto de
~O
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muito coiso, mcs deixo esccpar o que oporece intermíteníemente nos íniersh'cios.
Nõo é mois copoz de ver, como vío com clorezo Mcnsuó Boshâ os Iógrímos no olho do
peíxe. Orc, é óbvio que, sob ceno ponto de vísta, é períeitamente possível obñr mõo
destc vísõo. Mas é fõo óbvío qucnto, que a reclídcde e o percepçõo ficam
compromeíidos e muíio empobrecidas por dispensor experíéncios como o de Boshoí
Alguém podeño perguntcr pcrc que serve dizer Primovera não nos deixe; Iógrimas no
olho do peixe. Essc pergunta nunco poderó ter uma respostc sotisfofóría porque essa
pergunto jà vem de umo óptico e de umo dicçõo que impossibílifo a possibilidade de
resposta Hó pergunfos que nõo podem e fundomentolmenfe nõo devem ser feitcs,
porque, oo serem feítos, desmontam nõo só o possibilídode de resposto, mos, o que é
pior, desmontam o própna dimensõo poe'1ícc, _o próprio essêncía do fozen A dímensõo
poe'h'cc nõo se coloca no domínio de perguntcs ou respostm Ela es1ó olém ou cquém
destos. Elc é o Um iempo pergunto e resposfa Ela estó numc outro modolidcde de
espócío-temporo|idode. Angelus Sílesíus ílustro bem essc modclídode com o seu poema
sem porque, em que nos dI'z: A rosc é sem porque / Floresce por rorescer / Não olha
poro sí / Nem peigunfo se olguém a vê (trcd. Corneiro Leõo). Umo espócio-
temporclídade de tc1 forma própric que nõo seró nuncc copaz de sotisfozer umo
outra formuloçõo víndo de umo outro espócio-Temporo|ídade. Elo é umc espócio~
temporalidode de tol forma substcntivo que nõo pode se con-formcr com os
iulgcmentos cdjetivontes. A dimensõo adietivodorc e' mero conjugaçõo de ctributos
que de foro para deníro pretendem dor conto de algo. Esses podem ser monejodos
ao sobor desto ou daquela técníca A dímensõo poélíco nõo. Elo nõo é ortifícío E|a
é crioçõo de Uma espo'c¡'o-temporolídode pro'pr¡c. Poblo Picosso dizicL iolvez nõo
Iiterclmente, que a verdcdeíro obrc de crte é oquela que é ccpaz de geror os seus
próprios meíos de descodíficoçõo, ísto e', o sua próprio espócio-femporolidode. Esto
é c espócío~temporclidode do possíveL enuncioda num poemo de Gíuseppe Ungorettíz
De umo esfrela a oufro / a noíie se encarcera / em furbinosa vazio desmesura / daquela
solídôo de esfrefa / àquela soíidõo de esfrefa A desmesura é próprío da possibilidode.
A possibilidode e', por suo vez, próprio do ser humono. Esie e', onfes de quolquer coisc,
possib1'lidode. E o que o consmui como tol e' o inútil dímensõo poética
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