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‭ ialético e Especulativo‬

D
‭Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio (1830)‬
‭Destaques em‬‭itálico‬‭são de Hegel, em‬‭negrito‬‭foram‬‭inseridos (por nós)‬

‭[PARTE PRINCIPAL, A SER DEBATIDA]‬

‭-‬ [‭ §79]‬‭A‬‭lógica‬‭tem,‬‭segundo‬‭a‬‭forma,‬‭três‬‭lados:‬‭a)‬‭o‬‭lado‬‭abstrato‬‭ou‬‭do‬‭entendimento‬‭;‬‭b)‬‭o‬‭dialético‬
‭ou‬‭negativamente-racional‬‭; c) o‬‭especulativo‬‭ou‬‭positivamente‬‭racional‬‭.‬
‭Esses‬ ‭três‬ ‭lados‬ ‭não‬ ‭constituem‬ ‭três‬ ‭partes‬ ‭da‬ ‭Lógica,‬ ‭mas‬ ‭são‬ ‭momentos‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭[e‬ ‭qualquer]‬
‭lógico-real‬‭,‬ ‭isto‬ ‭é,‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭conceito‬ ‭ou‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭verdadeiro‬ ‭em‬ ‭geral.‬ ‭Eles‬ ‭podem‬ ‭ser‬ ‭postos‬
‭conjuntamente‬‭sob‬‭o‬‭primeiro‬‭momento‬‭—‬‭o‬‭do‬‭entendimento‬‭—‬‭e‬‭por‬‭isso‬‭ser‬‭mantidos‬‭separados‬‭uns‬
‭dos‬‭outros;‬‭mas,‬‭desse‬‭modo,‬‭não‬‭são‬‭considerados‬‭em‬‭sua‬‭verdade.‬‭A‬‭indicação‬‭que‬‭aqui‬‭é‬‭feita‬‭sobre‬
‭as‬‭determinações‬‭do‬‭lógico‬‭—‬‭assim‬‭como‬‭a‬‭[sua]‬‭divisão—‬‭está‬‭aqui‬‭somente‬‭[numa‬‭forma]‬‭antecipada‬
‭e histórica.‬

‭-‬ [‭ §80]‬‭a)‬‭O‬‭pensar‬‭enquanto‬‭entendimento‬‭fica‬‭na‬‭determinidade‬‭fixa‬‭e‬‭na‬‭diferenciação‬‭dela‬‭em‬‭relação‬
‭a‬ ‭outra‬ ‭determinidade;‬ ‭um‬ ‭tal‬ ‭Abstrato‬ ‭limitado‬ ‭vale‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭enquanto‬ ‭entendimento‬ ‭como‬ ‭[se‬
‭fosse] para si subsistente e essente.‬

‭-‬ [‭ §80‬‭Adendo]‬‭Quando‬‭se‬‭trata‬‭do‬‭pensar‬‭em‬‭geral,‬‭ou‬‭mais‬‭precisamente‬‭do‬‭conceituar,‬‭costuma-se‬‭com‬
‭freqüência,‬‭nesse‬‭caso,‬‭ter‬‭diante‬‭dos‬‭olhos‬‭simplesmente‬‭a‬‭atividade‬‭do‬‭entendimento.‬‭Ora,‬‭é‬‭evidente‬
‭que‬‭o‬‭pensar‬‭é,‬‭antes‬‭de‬‭tudo,‬‭pensar‬‭do‬‭entendimento;‬‭só‬‭que‬‭o‬‭pensar‬‭não‬‭fica‬‭nisso,‬‭e‬‭o‬‭conceito‬‭não‬‭é‬
‭simples‬ ‭determinação-de-entendimento.‬ ‭A‬ ‭atividade‬ ‭do‬ ‭entendimento‬ ‭consiste‬ ‭em‬ ‭conferir‬ ‭a‬ ‭seu‬
‭conteúdo‬‭a‬‭forma‬‭da‬‭universalidade;‬‭e,‬‭na‬‭verdade,‬‭o‬‭universal‬‭posto‬‭por‬‭meio‬‭do‬‭entendimento‬‭é‬‭algo‬
‭abstratamente‬ ‭universal,‬ ‭que‬ ‭como‬ ‭tal‬ ‭é‬ ‭sustentado‬ ‭em‬ ‭contraposição‬ ‭ao‬ ‭particular,‬ ‭mas,‬ ‭por‬ ‭isso‬
‭também,‬‭de‬‭novo‬‭determinado‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭como‬‭particular,‬‭ele‬‭mesmo.‬‭Enquanto‬‭o‬‭entendimento‬
‭se‬ ‭refere‬ ‭a‬‭seus‬‭objetos,‬‭separando‬‭e‬‭abstraindo,‬‭ele‬‭é‬‭o‬‭contrário‬‭da‬‭intuição‬‭e‬‭sensação‬‭imediata,‬‭que‬
‭como tal só lida exclusivamente com o concreto e nele permanece.‬
‭A‬ ‭essa‬ ‭oposição‬ ‭entre‬‭o‬‭entendimento‬‭e‬‭a‬‭sensação‬‭referem-se‬‭essas‬‭denúncias,‬‭tantas‬‭vezes‬‭repetidas,‬
‭que‬‭se‬‭costumam‬‭dirigir‬‭contra‬‭o‬‭pensar‬‭em‬‭geral,‬‭e‬‭que‬‭vêm‬‭a‬‭dar‬‭nisto:‬‭de‬‭que‬‭o‬‭pensar‬‭seria‬‭rígido‬‭e‬
‭unilateral,‬ ‭e‬ ‭levaria,‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭conseqüência,‬ ‭a‬ ‭resultados‬ ‭funestos‬ ‭e‬ ‭demolidores.‬ ‭A‬ ‭tais‬ ‭denúncias,‬ ‭na‬
‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭são‬ ‭justificadas‬ ‭segundo‬ ‭seu‬ ‭conteúdo,‬ ‭pode-se,‬ ‭antes‬ ‭de‬ ‭mais‬ ‭nada,‬ ‭replicar‬ ‭que‬‭por‬
‭meio‬ ‭delas‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭atingido‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭em‬ ‭geral‬ ‭—‬ ‭e,‬ ‭mais‬‭precisamente,‬‭o‬‭pensar‬‭racional‬‭—,‬‭mas‬‭só‬‭o‬
‭pensar‬‭do‬‭entendimento.‬‭No‬‭entanto,‬‭além‬‭disso‬‭há‬‭que‬‭reconhecer,‬‭antes‬‭de‬‭todas‬‭as‬‭coisas,‬‭também‬‭ao‬
‭pensar‬‭puramente‬‭do‬‭entendimento,‬‭seu‬‭direito‬‭e‬‭mérito‬‭—‬‭que‬‭de‬‭modo‬‭geral‬‭consiste‬‭em‬‭que,‬‭tanto‬‭no‬
‭domínio‬‭prático‬‭quanto‬‭no‬‭teórico,‬‭sem‬‭entendimento‬‭não‬‭se‬‭chega‬‭a‬‭nenhuma‬‭fixidez‬‭e‬‭determinidade.‬
‭Nesse‬ ‭caso,‬ ‭no‬ ‭que‬ ‭concerne‬‭primeiro‬‭ao‬‭conhecer,‬‭ele‬‭começa‬‭por‬‭apreender‬‭os‬‭objetos‬‭presentes‬‭em‬
‭suas‬‭diferenças‬‭determinadas;‬‭e‬‭assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭no‬‭estudo‬‭da‬‭natureza,‬‭matéria,‬‭forças,‬‭gêneros‬‭etc.‬
‭são‬ ‭diferenciados‬‭e‬‭fixados‬‭para‬‭si‬‭mesmos‬‭nesse‬‭seu‬‭isolamento.‬‭O‬‭pensar‬‭procede,‬‭nesse‬‭caso,‬‭como‬
‭entendimento,‬‭e‬‭o‬‭princípio‬‭desse‬‭último‬‭é‬‭a‬‭identidade,‬‭a‬‭relação‬‭simples‬‭para‬‭consigo‬‭mesmo.‬‭Depois,‬
‭é‬‭também‬‭por‬‭essa‬‭identidade‬‭que‬‭no‬‭conhecimento‬‭é‬‭condicionada‬‭antes‬‭de‬‭tudo‬‭a‬‭progressão‬‭de‬‭uma‬
‭determinação‬‭para‬‭a‬‭outra.‬‭Assim,‬‭notadamente‬‭na‬‭matemática,‬‭a‬‭grandeza‬‭é‬‭a‬‭determinação‬‭segundo‬‭a‬
‭qual‬ ‭se‬‭avança‬‭[no‬‭raciocínio]‬‭com‬‭abandono‬‭de‬‭todas‬‭as‬‭outras.‬‭Na‬‭geometria‬‭comparam-se,‬‭por‬‭isso,‬
‭as‬ ‭figuras‬ ‭entre‬ ‭si,‬ ‭destacando‬ ‭assim‬ ‭o‬ ‭idêntico‬ ‭nelas.‬ ‭Também‬ ‭em‬ ‭outros‬ ‭campos‬ ‭do‬ ‭conhecer,‬ ‭por‬
‭exemplo‬ ‭na‬ ‭jurisprudência,‬ ‭avança-se‬ ‭na‬ ‭identidade.‬ ‭Enquanto‬ ‭aqui‬ ‭se‬ ‭conclui‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭determinação‬
‭para‬ ‭a‬ ‭outra,‬ ‭esse‬ ‭silogismo‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭outra‬ ‭coisa‬‭que‬‭uma‬‭progressão‬‭segundo‬‭o‬‭princípio‬‭de‬‭identidade.‬
‭Como‬ ‭no‬ ‭[campo]‬ ‭teórico,‬ ‭tampouco‬ ‭no‬ ‭prático‬ ‭não‬ ‭há‬ ‭que‬‭faltar‬‭o‬‭entendimento.‬‭Para‬‭agir‬‭é‬‭preciso‬
‭essencialmente‬ ‭caráter,‬‭e‬‭um‬‭homem‬‭de‬‭caráter‬‭é‬‭um‬‭homem‬‭de‬‭entendimento,‬‭que‬‭como‬‭tal‬‭tem,‬‭ante‬
‭os‬ ‭olhos,‬ ‭fins‬ ‭determinados‬ ‭e‬ ‭os‬ ‭persegue‬ ‭com‬ ‭firmeza.‬ ‭Como‬‭diz‬‭Goethe,‬‭quem‬‭quer‬‭algo‬‭de‬‭grande‬
‭deve‬‭poder‬‭limitar-se.‬‭Quem‬‭ao‬‭contrário‬‭quer‬‭tudo,‬‭de‬‭fato‬‭nada‬‭quer;‬‭e‬‭isso‬‭não‬‭leva‬‭a‬‭nada.‬‭Há‬‭uma‬
‭multidão‬ ‭de‬ ‭coisas‬ ‭interessantes‬ ‭no‬ ‭mundo:‬ ‭poesia‬ ‭espanhola,‬ ‭química,‬ ‭política,‬ ‭músicas;‬ ‭tudo‬ ‭isso‬ ‭é‬
‭muito‬‭interessante,‬‭e‬‭não‬‭se‬‭pode‬‭levar‬‭a‬‭mal‬‭quem‬‭se‬‭interessa‬‭por‬‭isso.‬‭Mas‬‭para‬‭realizar‬‭alguma‬‭coisa,‬
‭como‬‭um‬‭indivíduo‬‭em‬‭uma‬‭situação‬‭determinada,‬‭deve‬‭ater-se‬‭a‬‭algo‬‭determinado‬‭e‬‭não‬‭dispersar‬‭sua‬
‭força‬ ‭por‬ ‭muitos‬ ‭lados.‬ ‭Igualmente‬ ‭é‬ ‭importante,‬ ‭em‬ ‭qualquer‬ ‭profissão,‬‭que‬‭seja‬‭desempenhada‬‭com‬
‭entendimento.‬‭Assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭o‬‭juiz‬‭deve‬‭ater-se‬‭à‬‭lei,‬‭dar‬‭sua‬‭sentença‬‭de‬‭acordo‬‭com‬‭ela,‬‭e‬‭não‬
s‭ e‬ ‭deixar‬ ‭desviar‬ ‭por‬ ‭uma‬ ‭coisa‬ ‭ou‬ ‭por‬ ‭outra;‬ ‭não‬ ‭admitir‬ ‭desculpa‬‭alguma,‬‭[julgar]‬‭sem‬‭olhar‬‭para‬‭a‬
‭direita ou para a esquerda.‬
‭Além‬‭disso,‬‭o‬‭entendimento‬‭é,‬‭em‬‭geral,‬‭um‬‭momento‬‭essencial‬‭da‬‭cultura.‬‭Um‬‭homem‬‭cultivado‬‭não‬‭se‬
‭satisfaz‬ ‭com‬ ‭o‬ ‭nebuloso‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭indeterminado,‬ ‭mas‬ ‭apreende‬ ‭os‬ ‭objetos‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭determinidade‬ ‭fixa;‬
‭enquanto,‬ ‭ao‬ ‭contrário,‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭não‬ ‭cultivado‬ ‭oscila‬ ‭para‬ ‭lá‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭cá,‬ ‭sem‬ ‭segurança,‬ ‭e‬ ‭com‬
‭freqüência‬ ‭custa‬ ‭muito‬ ‭esforço‬ ‭entender-se‬ ‭com‬ ‭uma‬ ‭pessoa‬ ‭dessas‬ ‭sobre‬ ‭o‬ ‭assunto‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭fala,‬‭e‬
‭levá-la a manter fixamente ante os olhos o ponto determinado de que se trata.‬
‭Ora,‬‭como‬‭além‬‭disso,‬‭em‬‭conseqüência‬‭de‬‭discussão‬‭anterior,‬‭o‬‭lógico‬‭em‬‭geral‬‭não‬‭há‬‭que‬‭apreender‬
‭simplesmente‬ ‭no‬‭sentido‬‭de‬‭uma‬‭atividade‬‭subjetiva,‬‭mas‬‭antes‬‭como‬‭o‬‭absolutamente‬‭universal‬‭e,‬‭por‬
‭isso,‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo‬ ‭objetivo,‬ ‭isso‬ ‭encontra‬ ‭também‬ ‭sua‬ ‭aplicação‬ ‭no‬ ‭entendimento,‬ ‭essa‬ ‭primeira‬
‭forma‬ ‭do‬ ‭lógico.‬ ‭O‬ ‭entendimento,‬ ‭portanto,‬ ‭há‬ ‭de‬ ‭considerar-se‬ ‭como‬ ‭correspondente‬ ‭àquilo‬ ‭que‬ ‭se‬
‭chama‬ ‭a‬ ‭bondade‬ ‭de‬ ‭Deus,‬ ‭enquanto‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭se‬ ‭entende‬ ‭que‬ ‭as‬ ‭coisas‬ ‭finitas‬ ‭são‬‭,‬‭que‬‭elas‬‭têm‬‭uma‬
‭subsistência.‬ ‭Assim‬ ‭se‬ ‭reconhece,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭na‬ ‭natureza‬ ‭a‬ ‭bondade‬ ‭de‬ ‭Deus,‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭as‬ ‭diversas‬
‭classes‬ ‭e‬ ‭gêneros,‬ ‭tanto‬ ‭de‬ ‭animais‬ ‭como‬ ‭de‬ ‭plantas,‬ ‭são‬ ‭providos‬ ‭de‬ ‭tudo‬ ‭que‬ ‭precisam‬ ‭para‬
‭conservar-se‬ ‭e‬ ‭prosperar.‬‭O‬‭mesmo‬‭se‬‭dá‬‭com‬‭o‬‭homem,‬‭com‬‭os‬‭indivíduos‬‭e‬‭com‬‭povos‬‭inteiros,‬‭que‬
‭igualmente,‬‭por‬‭uma‬‭parte,‬‭encontram‬‭ali‬‭o‬‭que‬‭é‬‭preciso‬‭para‬‭sua‬‭subsistência‬‭e‬‭desenvolvimento,‬‭como‬
‭algo‬ ‭imediatamente‬ ‭dado‬ ‭(como‬ ‭por‬ ‭exemplo‬ ‭clima,‬ ‭constituição‬ ‭natural‬‭e‬‭produtos‬‭da‬‭região);‬‭e,‬‭por‬
‭outra‬ ‭parte,‬ ‭possuem-no‬ ‭como‬ ‭disposição,‬ ‭talento‬ ‭etc.‬ ‭Compreendido‬ ‭desse‬ ‭modo,‬ ‭o‬ ‭entendimento‬
‭mostra-se‬ ‭então,‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭maneira‬ ‭geral,‬ ‭em‬ ‭todos‬ ‭os‬ ‭domínios‬ ‭do‬ ‭mundo‬ ‭objetivo,‬ ‭e‬ ‭pertence‬
‭essencialmente‬‭à‬‭perfeição‬‭de‬‭um‬‭objeto‬‭que‬‭tenha‬‭em‬‭si,‬‭[reconhecido]‬‭por‬‭seu‬‭direito,‬‭o‬‭princípio‬‭do‬
‭entendimento.‬ ‭Assim,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭o‬ ‭Estado‬ ‭é‬ ‭imperfeito,‬ ‭se‬ ‭nele‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭chegou‬ ‭ainda‬ ‭a‬ ‭uma‬
‭determinada‬ ‭diferenciação‬ ‭dos‬ ‭estamentos‬ ‭e‬ ‭das‬ ‭profissões;‬ ‭e‬ ‭as‬ ‭funções‬ ‭políticas‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭autoridade,‬
‭diferentes‬‭segundo‬‭o‬‭conceito,‬‭não‬‭estão‬‭ainda,‬‭do‬‭mesmo‬‭modo,‬‭desenvolvidas‬‭em‬‭órgãos‬‭particulares;‬
‭assim‬ ‭como,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭sucede‬ ‭com‬ ‭o‬‭organismo‬‭animal‬‭desenvolvido,‬‭com‬‭as‬‭diversas‬‭funções‬‭da‬
‭sensibilidade, do movimento, da nutrição.‬
‭Da‬‭discussão‬‭anterior‬‭pode-se‬‭então‬‭concluir‬‭que‬‭também‬‭em‬‭tais‬‭domínios‬‭e‬‭esferas‬‭da‬‭prática‬‭—‬‭que‬
‭segundo‬ ‭a‬ ‭representação‬ ‭corrente‬ ‭parecem‬ ‭estar‬ ‭situados‬ ‭o‬ ‭mais‬ ‭longe‬ ‭[possível]‬ ‭do‬‭entendimento‬‭—‬
‭não‬ ‭lhes‬ ‭pode‬ ‭faltar‬ ‭contudo‬‭o‬‭entendimento;‬‭e,‬‭na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭tal‬‭ocorre,‬‭isso‬‭pode‬‭considerar-se‬
‭uma‬ ‭deficiência‬‭.‬ ‭O‬ ‭que‬ ‭vale‬ ‭notadamente‬ ‭para‬ ‭a‬ ‭arte,‬ ‭a‬ ‭religião,‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭filosofia.‬ ‭Assim‬ ‭na‬ ‭arte,‬ ‭por‬
‭exemplo,‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭se‬ ‭mostra‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭as‬ ‭diversas‬ ‭formas‬ ‭do‬ ‭belo,‬ ‭segundo‬ ‭o‬ ‭seu‬ ‭conceito,‬ ‭são‬
‭mantidas‬ ‭e‬ ‭expostas‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭diferença.‬ ‭Também‬ ‭vale‬ ‭o‬ ‭mesmo‬ ‭das‬ ‭obras-‬ ‭-de-arte‬ ‭singulares.‬ ‭Por‬
‭conseguinte‬‭exige-se,‬‭para‬‭a‬‭beleza‬‭e‬‭perfeição‬‭de‬‭uma‬‭poesia‬‭dramática,‬‭que‬‭os‬‭caracteres‬‭dos‬‭diversos‬
‭personagens‬ ‭se‬ ‭desenvolvam‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭pureza‬ ‭e‬ ‭determinidade,‬ ‭e‬ ‭igualmente‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭diversos‬ ‭fins‬ ‭e‬
‭interesses‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭se‬‭trata‬‭exponham-se‬‭clara‬‭e‬‭distintamente.‬‭No‬‭que‬‭toca,‬‭muito‬‭de‬‭perto,‬‭ao‬‭domínio‬
‭religioso‬ ‭—‬ ‭abstraindo‬ ‭aliás‬ ‭da‬ ‭diversidade‬ ‭de‬ ‭conteúdo‬ ‭e‬ ‭da‬ ‭[sua]‬ ‭apreensão‬ ‭—,‬ ‭a‬ ‭superioridade‬ ‭da‬
‭mitologia‬ ‭grega‬ ‭sobre‬ ‭a‬ ‭nórdica‬ ‭consiste‬ ‭essencialmente‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭na‬ ‭primeira‬ ‭as‬ ‭figuras‬ ‭divinas‬
‭singulares‬ ‭são‬ ‭desenvolvidas‬ ‭em‬ ‭determinidade‬ ‭plástica,‬ ‭enquanto‬ ‭na‬ ‭última‬ ‭fluem‬ ‭umas‬ ‭através‬ ‭das‬
‭outras‬ ‭na‬ ‭névoa‬ ‭de‬ ‭turva‬ ‭indeterminidade.‬ ‭Enfim,‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭filosofia‬ ‭também‬ ‭não‬ ‭pode‬ ‭dispensar‬ ‭o‬
‭entendimento,‬ ‭conforme‬ ‭a‬ ‭discussão‬ ‭precedente,‬ ‭quase‬ ‭não‬ ‭precisa‬ ‭de‬ ‭menção‬ ‭particular.‬ ‭Para‬ ‭o‬
‭filosofar‬‭requer-se‬‭antes‬‭de‬‭tudo‬‭que‬‭cada‬‭pensamento‬‭seja‬‭apreendido‬‭em‬‭sua‬‭precisão‬‭completa,‬‭e‬‭que‬
‭não se fique no vago e no indeterminado.‬
‭Antes‬ ‭disso,‬ ‭costuma-se‬ ‭também‬ ‭dizer‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭não‬ ‭deve‬ ‭ir‬ ‭longe‬ ‭demais,‬ ‭e‬ ‭nisso‬‭está‬‭de‬
‭correto‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭âmbito‬ ‭do‬ ‭entendimento‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭decerto‬ ‭algo‬ ‭de‬ ‭último,‬ ‭mas‬ ‭antes‬ ‭é‬ ‭finito;‬ ‭e,‬ ‭mais‬
‭precisamente,‬ ‭é‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭espécie‬ ‭que‬ ‭ao‬ ‭ser‬ ‭levado‬ ‭a‬ ‭seu‬ ‭extremo‬ ‭se‬ ‭converte‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭contrário.‬ ‭E‬ ‭a‬
‭maneira‬ ‭[de‬ ‭agir‬ ‭própria]‬ ‭da‬ ‭juventude:‬ ‭lançar-se‬ ‭em‬ ‭abstrações‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭lado‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭outro,‬ ‭quando,‬ ‭ao‬
‭contrário,‬ ‭o‬ ‭homem‬ ‭de‬ ‭experiência‬ ‭na‬ ‭vida‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭deixa‬ ‭levar‬ ‭pelo‬ ‭abstrato‬ ‭ou-ou‬‭,‬ ‭mas‬ ‭se‬ ‭atém‬ ‭ao‬
‭concreto.‬

‭-‬ [‭ §81]‬‭b)‬‭O‬‭momento‬‭dialético‬‭é‬‭o‬‭próprio‬‭suprassumir-se‬‭de‬‭tais‬‭determinações‬‭finitas‬‭e‬‭seu‬‭ultrapassar‬
‭para‬ ‭suas‬ ‭opostas.‬ ‭1º)‬ ‭O‬ ‭dialético,‬ ‭tomado‬ ‭para‬ ‭si‬ ‭pelo‬ ‭entendimento‬ ‭separadamente,‬ ‭constitui‬ ‭o‬
‭cepticismo‬ ‭—‬ ‭sobretudo‬ ‭quando‬ ‭é‬ ‭mostrado‬ ‭em‬ ‭conceitos‬ ‭científicos:‬ ‭o‬ ‭cepticismo‬ ‭contém‬ ‭a‬‭simples‬
‭negação‬ ‭como‬ ‭resultado‬ ‭do‬ ‭dialético.‬ ‭2º)‬ ‭A‬ ‭dialética‬ ‭é‬ ‭habitualmente‬ ‭considerada‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭arte‬
‭exterior,‬ ‭que‬ ‭por‬ ‭capricho‬ ‭suscita‬ ‭confusão‬ ‭nos‬ ‭conceitos‬ ‭determinados,‬ ‭e‬ ‭uma‬ ‭simples‬ ‭aparência‬ ‭de‬
‭contradições‬‭entre‬‭eles;‬‭modo‬‭que‬‭não‬‭seriam‬‭uma‬‭nulidade‬‭essas‬‭determinações‬‭e‬‭sim‬‭essa‬‭aparência;‬‭e‬
‭ao‬ ‭contrário‬ ‭seria‬ ‭verdadeiro‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭pertence‬ ‭ao‬ ‭entendimento.‬ ‭Muitas‬ ‭vezes,‬ ‭a‬ ‭dialética‬ ‭também‬ ‭não‬
‭passa‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭sistema‬ ‭subjetivo‬ ‭de‬ ‭balanço,‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭raciocínio‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭para‬ ‭lá‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭cá,‬ ‭onde‬ ‭falta‬ ‭o‬
c‭ onteúdo,‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭nudez‬ ‭é‬ ‭recoberta‬ ‭por‬ ‭essa‬ ‭argúcia‬ ‭que‬ ‭produz‬ ‭tal‬ ‭raciocínio.‬ ‭Em‬ ‭sua‬ ‭determinidade‬
‭peculiar,‬ ‭a‬ ‭dialética‬‭é‬‭antes‬‭a‬‭natureza‬‭própria‬‭e‬‭verdadeira‬‭das‬‭determinações-do-entendimento‬‭—‬‭das‬
‭coisas‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭finito‬ ‭em‬ ‭geral.‬‭A‬‭reflexão‬‭é,‬‭antes‬‭de‬‭tudo,‬‭o‬‭ultrapassar‬‭sobre‬‭a‬‭determinidade‬‭isolada,‬‭e‬
‭um‬ ‭relacionar‬ ‭dessa‬ ‭última‬ ‭pelo‬ ‭qual‬ ‭ela‬ ‭é‬ ‭posta‬ ‭em‬ ‭relação‬ ‭—‬ ‭embora‬ ‭sendo‬ ‭mantida‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭valor‬
‭isolado.‬‭A‬‭dialética,‬‭ao‬‭contrário,‬‭é‬‭esse‬‭ultrapassar‬‭imanente‬‭,‬‭em‬‭que‬‭a‬‭unilateralidade,‬‭a‬‭limitação‬‭das‬
‭determinações‬ ‭do‬ ‭entendimento‬ ‭é‬ ‭exposta‬ ‭como‬ ‭ela‬ ‭é,‬ ‭isto‬ ‭é,‬ ‭como‬‭sua‬‭negação.‬‭Todo‬‭o‬‭finito‬‭é‬‭isto;‬
‭suprassumir-se‬‭a‬‭si‬‭mesmo.‬‭O‬‭dialético‬‭constitui‬‭pois‬‭a‬‭alma‬‭motriz‬‭do‬‭progredir‬‭científico;‬‭e‬‭é‬‭o‬‭único‬
‭princípio‬‭pelo‬‭qual‬‭entram‬‭no‬‭conteúdo‬‭da‬‭ciência‬‭a‬‭conexão‬‭e‬‭a‬‭necessidade‬‭imanentes‬‭,‬‭assim‬‭como,‬‭no‬
‭dialético em geral, reside a verdadeira elevação — não exterior — sobre o finito.‬

‭-‬ [‭ §81‬‭Adendo]‬‭É‬‭da‬‭mais‬‭alta‬‭importância‬‭apreender‬‭e‬‭conhecer‬‭devidamente‬‭o‬‭dialético.‬‭O‬‭dialético,‬‭em‬
‭geral,‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭princípio‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭movimento,‬ ‭de‬ ‭toda‬ ‭a‬ ‭vida,‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭toda‬ ‭a‬ ‭atividade‬ ‭na‬ ‭efetividade.‬
‭Igualmente,‬ ‭o‬ ‭dialético‬ ‭é‬ ‭também‬ ‭a‬ ‭alma‬ ‭de‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭conhecer‬ ‭verdadeiramente‬ ‭científico.‬ ‭Em‬ ‭nossa‬
‭consciência,‬ ‭o‬ ‭[fato‬ ‭de]‬ ‭não‬‭se‬‭ater‬‭às‬‭determinações‬‭abstratas‬‭do‬‭entendimento‬‭aparece‬‭como‬‭simples‬
‭retidão,‬‭conforme‬‭o‬‭adágio:‬‭“viver‬‭e‬‭deixar‬‭viver”,‬‭de‬‭modo‬‭que‬‭um‬‭vale‬‭e‬‭também‬‭o‬‭outro.‬‭Mas‬‭o‬‭que‬
‭está‬‭mais‬‭próximo‬‭[da‬‭verdade]‬‭é‬‭que‬‭o‬‭finito‬‭não‬‭é‬‭limitado‬‭simplesmente‬‭de‬‭fora,‬‭mas‬‭se‬‭suprassume‬
‭por‬‭sua‬‭própria‬‭natureza,‬‭e‬‭por‬‭si‬‭mesmo‬‭passa‬‭ao‬‭seu‬‭contrário.‬‭Diz-se,‬‭assim,‬‭por‬‭exemplo:‬‭o‬‭homem‬‭é‬
‭mortal,‬ ‭e‬ ‭considera-se‬ ‭então‬ ‭o‬ ‭morrer‬ ‭como‬ ‭algo‬ ‭que‬ ‭tem‬ ‭sua‬ ‭razão-de-ser‬ ‭apenas‬ ‭nas‬ ‭circunstâncias‬
‭exteriores;‬‭e,‬‭conforme‬‭esse‬‭modo‬‭de‬‭considerar,‬‭são‬‭duas‬‭propriedades‬‭particulares‬‭do‬‭homem:‬‭ser‬‭vivo‬
‭e‬‭também‬‭ser mortal.‬
‭Mas‬‭a‬‭verdadeira‬‭compreensão‬‭é‬‭esta:‬‭que‬‭a‬‭vida‬‭como‬‭tal‬‭traz‬‭em‬‭si‬‭o‬‭gérmen‬‭da‬‭morte,‬‭e‬‭que‬‭em‬‭geral‬
‭o‬ ‭finito‬ ‭se‬ ‭contradiz‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo,‬ ‭e‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭se‬ ‭suprassume.‬ ‭Ora,‬ ‭além‬ ‭disso,‬ ‭a‬ ‭dialética‬ ‭não‬ ‭pode‬
‭confundir-se‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭simples‬ ‭sofistica‬‭,‬ ‭cuja‬ ‭essência‬ ‭consiste‬‭em‬‭fazer‬‭valer‬‭por‬‭si,‬‭em‬‭seu‬‭isolamento,‬
‭determinações‬ ‭unilaterais‬ ‭e‬ ‭abstratas‬ ‭—‬‭segundo‬‭o‬‭que‬‭implica‬‭cada‬‭vez‬‭o‬‭interesse‬‭do‬‭indivíduo‬‭e‬‭de‬
‭sua‬‭situação‬‭particular.‬‭É‬‭assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭em‬‭relação‬‭ao‬‭agir‬‭um‬‭momento‬‭essencial,‬‭que‬‭eu‬‭exista‬‭e‬
‭tenha‬‭os‬‭meios‬‭para‬‭a‬‭existência.‬‭Mas‬‭se‬‭então‬‭eu‬‭faço‬‭ressaltar‬‭por‬‭si‬‭mesmo‬‭esse‬‭lado,‬‭esse‬‭princípio‬
‭de‬‭minha‬‭felicidade,‬‭e‬‭deduzo‬‭daí‬‭a‬‭conseqüência‬‭que‬‭eu‬‭posso‬‭roubar‬‭ou‬‭trair‬‭minha‬‭pátria,‬‭isso‬‭é‬‭uma‬
‭sofistaria.‬‭Igualmente,‬‭em‬‭meu‬‭agir,‬‭minha‬‭liberdade‬‭subjetiva,‬‭no‬‭sentido‬‭em‬‭que‬‭eu‬‭estou‬‭no‬‭que‬‭faço,‬
‭com‬ ‭meu‬ ‭discernimento‬ ‭e‬ ‭minha‬ ‭convicção,‬‭é‬‭um‬‭princípio‬‭essencial.‬‭Mas,‬‭se‬‭raciocino‬‭a‬‭partir‬‭desse‬
‭princípio‬‭unicamente‬‭, isso é também uma sofistaria,‬‭e todos os princípios da vida ética são arruinados.‬
‭A‬‭dialética‬‭é‬‭essencialmente‬‭diversa‬‭de‬‭um‬‭tal‬‭agir,‬‭pois‬‭ela‬‭tende‬‭justamente‬‭a‬‭considerar‬‭as‬‭coisas‬‭em‬
‭si‬ ‭e‬ ‭para‬ ‭si;‬ ‭e‬ ‭aí‬ ‭se‬ ‭descobre‬ ‭então‬ ‭a‬ ‭finitude‬ ‭das‬ ‭determinações‬ ‭unilaterais‬ ‭do‬ ‭entendimento.‬ ‭Aliás‬‭a‬
‭dialética‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭nada‬ ‭de‬ ‭novo‬ ‭na‬ ‭filosofia.‬ ‭Entre‬ ‭os‬ ‭antigos,‬ ‭Platão‬ ‭é‬ ‭designado‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭inventor‬ ‭da‬
‭dialética,‬ ‭e‬ ‭isso‬ ‭com‬ ‭justiça,‬ ‭enquanto‬ ‭na‬ ‭filosofia‬‭platônica‬‭a‬‭dialética‬‭pela‬‭primeira‬‭vez‬‭se‬‭apresenta‬
‭em‬ ‭uma‬ ‭forma‬ ‭científica‬ ‭livre‬ ‭e,‬ ‭por‬ ‭isso,‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo‬ ‭objetiva.‬ ‭Em‬ ‭Sócrates,‬ ‭o‬ ‭[procedimento]‬
‭dialético‬‭em‬‭consonância‬‭com‬‭o‬‭caráter‬‭geral‬‭do‬‭seu‬‭filosofar‬‭tem‬‭ainda‬‭uma‬‭figura‬‭predominantemente‬
‭subjetiva,‬‭a‬‭saber,‬‭a‬‭da‬‭ironia‬‭.‬‭Sócrates‬‭dirigia‬‭sua‬‭dialética‬‭primeiro‬‭contra‬‭a‬‭consciência‬‭ordinária,‬‭em‬
‭geral,‬‭e,‬‭em‬‭seguida,‬‭particularmente‬‭contra‬‭os‬‭sofistas.‬‭Em‬‭suas‬‭conversações‬‭costumava‬‭então‬‭tomar‬‭a‬
‭aparência‬‭de‬‭querer‬‭instruir-se‬‭mais‬‭exatamente‬‭sobre‬‭a‬‭Coisa‬‭de‬‭que‬‭se‬‭falava.‬‭A‬‭propósito,‬‭punha‬‭todo‬
‭o‬ ‭tipo‬ ‭de‬ ‭questões‬‭e‬‭conduzia‬‭assim‬‭aqueles‬‭com‬‭que‬‭se‬‭entretinha‬‭ao‬‭oposto‬‭do‬‭que‬‭inicialmente‬‭lhes‬
‭tinha‬ ‭aparecido‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭justo.‬ ‭Quando,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭os‬ ‭sofistas‬ ‭se‬ ‭chamavam‬ ‭mestres,‬ ‭Sócrates,‬ ‭por‬
‭uma‬ ‭série‬ ‭de‬ ‭questões,‬ ‭levava‬ ‭o‬ ‭sofista‬ ‭Protágoras‬ ‭a‬ ‭ter‬ ‭de‬ ‭conceder‬ ‭que‬ ‭todo‬ ‭o‬ ‭aprender‬ ‭era‬
‭rememoração.‬ ‭Platão‬ ‭mostra‬ ‭em‬ ‭seguida‬ ‭em‬ ‭seus‬ ‭Diálogos‬ ‭rigorosamente‬ ‭científicos,‬‭pelo‬‭tratamento‬
‭dialético‬‭em‬‭geral,‬‭a‬‭finitude‬‭de‬‭todas‬‭as‬‭determinações‬‭fixas‬‭do‬‭entendimento.‬‭Assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭em‬
‭Parmênides‬‭,‬ ‭ele‬ ‭deduz‬ ‭do‬ ‭uno‬ ‭o‬ ‭múltiplo,‬ ‭e‬ ‭mostra‬ ‭apesar‬ ‭disso‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭múltiplo‬ ‭é‬ ‭apenas‬ ‭isto:‬
‭determinar-se‬‭como‬‭o‬‭uno.‬‭Com‬‭tal‬‭maneira‬‭grandiosa‬‭Platão‬‭tratou‬‭a‬‭dialética.‬‭Nos‬‭tempos‬‭modernos,‬
‭foi‬‭Kant‬‭sobretudo‬‭que‬‭trouxe‬‭de‬‭novo‬‭a‬‭dialética‬‭à‬‭memória,‬‭e‬‭a‬‭instaurou‬‭de‬‭novo‬‭em‬‭sua‬‭dignidade,‬‭e‬
‭isso‬ ‭por‬ ‭meio‬ ‭do‬ ‭desenvolvimento‬‭—‬‭já‬‭discutido‬‭(§‬‭48)‬‭—‬‭das‬‭assim-chamadas‬‭antinomias‬‭da‬‭razão;‬
‭em‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭trata,‬ ‭de‬‭modo‬‭algum,‬‭de‬‭um‬‭simples‬‭vaivém‬‭entre‬‭razões,‬‭nem‬‭de‬‭um‬‭agir‬‭meramente‬
‭subjetivo,‬‭mas‬‭antes‬‭[se‬‭trata]‬‭de‬‭mostrar‬‭como‬‭toda‬‭a‬‭determinação‬‭abstrata‬‭de‬‭entendimento‬‭—‬‭tomada‬
‭somente como ela se dá a si mesma — se converte imediatamente em sua oposta.‬
‭Por‬ ‭mais‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭costume‬ ‭opor‬ ‭resistência‬ ‭à‬ ‭dialética,‬ ‭ela‬ ‭não‬ ‭pode,‬‭de‬‭modo‬‭algum,‬‭ser‬
‭considerada‬‭como‬‭presente‬‭simplesmente‬‭para‬‭a‬‭consciência‬‭filosófica;‬‭mas‬‭antes,‬‭aquilo‬‭de‬‭que‬‭se‬‭trata‬
‭aqui, já se encontra também em qualquer outra consciência, e na experiência universal.‬
‭Tudo‬‭o‬‭que‬‭nos‬‭rodeia‬‭pode‬‭ser‬‭considerado‬‭como‬‭um‬‭exemplo‬‭do‬‭dialético.‬‭Sabemos‬‭que‬‭todo‬‭o‬‭finito,‬
‭em‬ ‭lugar‬ ‭de‬ ‭ser‬ ‭algo‬ ‭firme‬ ‭e‬ ‭último,‬ ‭é‬ ‭antes‬ ‭variável‬‭e‬‭passageiro;‬‭e‬‭não‬‭é‬‭por‬‭outra‬‭coisa‬‭senão‬‭pela‬
d‭ ialética‬‭do‬‭finito‬‭que‬‭ele,‬‭enquanto‬‭é‬‭em‬‭si‬‭o‬‭Outro‬‭de‬‭si‬‭mesmo,‬‭é‬‭levado‬‭também‬‭para‬‭além‬‭do‬‭que‬‭ele‬
‭é‬ ‭imediatamente,‬ ‭e‬ ‭converte-se‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭oposto.‬ ‭Se‬ ‭foi‬ ‭dito‬ ‭antes‬ ‭(§‬ ‭80)‬‭que‬‭o‬‭entendimento‬‭podia‬‭ser‬
‭considerado‬‭como‬‭o‬‭que‬‭está‬‭contido‬‭na‬‭representação‬‭da‬‭bondade‬‭de‬‭Deus,‬‭assim‬‭há‬‭que‬‭notar‬‭agora‬‭[a‬
‭respeito]‬ ‭da‬ ‭dialética,‬ ‭tomada‬ ‭no‬ ‭mesmo‬ ‭sentido‬ ‭(objetivo),‬ ‭que‬ ‭seu‬ ‭princípio‬ ‭corresponde‬ ‭à‬
‭representação‬‭da‬‭potência‬‭de‬‭Deus.‬‭Dizemos‬‭que‬‭todas‬‭as‬‭coisas‬‭(isto‬‭é,‬‭todo‬‭o‬‭finito‬‭enquanto‬‭tal)‬‭vão‬‭a‬
‭juízo,‬ ‭e‬ ‭temos‬ ‭nisso‬ ‭a‬‭intuição‬‭da‬‭dialética‬‭como‬‭da‬‭potência‬‭universal‬‭irresistível‬‭diante‬‭da‬‭qual‬‭nada‬
‭pode‬ ‭resistir‬ ‭—‬ ‭por‬ ‭seguro‬ ‭e‬ ‭firme‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭possa‬ ‭julgar.‬ ‭Com‬ ‭essa‬ ‭determinação‬ ‭sem‬ ‭dúvida‬‭não‬‭está‬
‭ainda‬‭esgotada‬‭a‬‭profundeza‬‭da‬‭essência‬‭divina‬‭—‬‭o‬‭conceito‬‭de‬‭Deus‬‭—;‬‭mas‬‭ela‬‭forma,‬‭na‬‭certa,‬‭um‬
‭momento essencial em toda a consciência religiosa.‬
‭Além‬‭do‬‭mais,‬‭a‬‭dialética‬‭se‬‭faz‬‭vigente‬‭em‬‭todas‬‭as‬‭esferas‬‭e‬‭formações‬‭do‬‭mundo‬‭natural‬‭e‬‭do‬‭mundo‬
‭espiritual.‬‭Assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭no‬‭movimento‬‭dos‬‭corpos‬‭celestes.‬‭Um‬‭planeta‬‭está‬‭agora‬‭nesta‬‭posição,‬
‭porém‬‭é‬‭em‬‭si‬‭[por‬‭natureza]‬‭estar‬‭também‬‭em‬‭outra‬‭posição;‬‭e,‬‭movendo-se,‬‭leva‬‭à‬‭existência‬‭esse‬‭seu‬
‭ser-Outro.‬ ‭Do‬ ‭mesmo‬ ‭modo,‬ ‭os‬ ‭elementos‬ ‭físicos‬ ‭se‬ ‭mostram‬ ‭como‬ ‭dialéticos,‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭processo‬
‭meteorológico‬ ‭é‬ ‭a‬‭aparição‬‭de‬‭sua‬‭dialética.‬‭E‬‭o‬‭mesmo‬‭princípio‬‭que‬‭forma‬‭a‬‭base‬‭de‬‭todos‬‭os‬‭outros‬
‭processos‬‭naturais;‬‭e‬‭pelo‬‭qual,‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo,‬‭a‬‭natureza‬‭é‬‭impelida‬‭para‬‭além‬‭de‬‭si‬‭mesma.‬‭No‬‭que‬
‭toca‬‭à‬‭presença‬‭da‬‭dialética‬‭no‬‭mundo‬‭do‬‭espírito,‬‭e‬‭mais‬‭precisamente‬‭no‬‭âmbito‬‭do‬‭jurídico‬‭e‬‭do‬‭ético,‬
‭basta‬ ‭recordar‬ ‭aqui‬‭como,‬‭em‬‭virtude‬‭da‬‭experiência‬‭universal,‬‭o‬‭extremo‬‭de‬‭um‬‭estado‬‭ou‬‭de‬‭um‬‭agir‬
‭costuma‬ ‭converter-se‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭contrário;‬ ‭[uma]‬ ‭dialética‬ ‭que‬ ‭com‬ ‭freqüência‬ ‭encontra‬ ‭seu‬
‭reconhecimento‬ ‭nos‬ ‭adágios.‬ ‭Diz-se,‬ ‭assim,‬ ‭por‬ ‭exemplo:‬ ‭summum‬ ‭jus,‬ ‭summa‬ ‭injuria‬‭;‬ ‭pelo‬ ‭que‬ ‭se‬
‭exprime‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭direito‬ ‭abstrato,‬ ‭levado‬ ‭a‬ ‭seu‬ ‭extremo,‬ ‭se‬ ‭converte‬ ‭em‬ ‭agravo.‬ ‭Igualmente‬ ‭é‬ ‭bem‬
‭conhecido‬ ‭como,‬ ‭no‬ ‭[campo]‬ ‭político,‬ ‭os‬‭extremos‬‭da‬‭anarquia‬‭e‬‭do‬‭despotismo‬‭costumam‬‭suscitar-se‬
‭mutuamente,‬ ‭um‬ ‭ao‬ ‭outro.‬ ‭A‬ ‭consciência‬ ‭da‬ ‭dialética‬ ‭no‬ ‭âmbito‬ ‭da‬ ‭ética,‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭figura‬ ‭individual,‬
‭encontramos‬ ‭nestes‬ ‭adágios‬ ‭bem‬ ‭conhecidos‬ ‭por‬‭todos:‬‭“O‬‭orgulho‬‭precede‬‭a‬‭queda”;‬‭“Lâmina‬‭afiada‬
‭demais‬‭fica‬‭cega”,‬‭etc.‬‭Também‬‭a‬‭sensibilidade‬‭—‬‭tanto‬‭corporal‬‭como‬‭espiritual‬‭—‬‭tem‬‭sua‬‭dialética.‬
‭Pois,‬‭bem‬‭conhecido‬‭como‬‭os‬‭extremos‬‭de‬‭dor‬‭e‬‭de‬‭alegria‬‭passam‬‭um‬‭para‬‭o‬‭outro;‬‭o‬‭coração‬‭cheio‬‭de‬
‭alegria‬‭se‬‭alivia‬‭em‬‭lágrimas,‬‭e‬‭a‬‭tristeza‬‭mais‬‭íntima‬‭costuma,‬‭em‬‭certas‬‭circunstâncias,‬‭revelar-se‬‭por‬
‭um sorriso.‬

‭-‬ [‭ Adendo‬ ‭2]‬ ‭O‬ ‭cepticismo‬ ‭não‬ ‭pode‬ ‭ser‬ ‭considerado‬ ‭simplesmente‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭doutrina-da-dúvida;‬ ‭ele‬
‭está,‬‭antes,‬‭absolutamente‬‭certo‬‭de‬‭sua‬‭Coisa,‬‭isto‬‭é,‬‭da‬‭nulidade‬‭de‬‭todo‬‭o‬‭finito.‬‭Quem‬‭somente‬‭duvida‬
‭está‬‭ainda‬‭na‬‭esperança‬‭de‬‭que‬‭sua‬‭dúvida‬‭poderá‬‭ser‬‭resolvida,‬‭e‬‭que‬‭uma‬‭ou‬‭outra‬‭das‬‭determinações‬
‭entre‬‭as‬‭quais‬‭oscila‬‭se‬‭mostrará‬‭como‬‭algo‬‭firme‬‭e‬‭verdadeiro.‬‭Ao‬‭contrário,‬‭o‬‭cepticismo‬‭propriamente‬
‭dito‬‭é‬‭o‬‭desespero‬‭rematado‬‭de‬‭tudo‬‭o‬‭que‬‭há‬‭de‬‭firme‬‭no‬‭entendimento,‬‭e‬‭o‬‭sentimento‬‭daí‬‭resultante‬‭é‬
‭o‬ ‭da‬ ‭imperturbabilidade‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭repousar‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo.‬ ‭Este‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭alto‬ ‭e‬ ‭antigo‬ ‭cepticismo,‬ ‭tal‬ ‭como‬
‭encontramos‬‭representado‬‭notadamente‬‭em‬‭Sexto‬‭Empírico‬‭e‬‭tal‬‭como‬‭recebeu‬‭seu‬‭desenvolvimento‬‭na‬
‭época‬ ‭romana‬ ‭posterior,‬ ‭como‬ ‭complemento‬ ‭dos‬ ‭sistemas‬ ‭dogmáticos‬‭dos‬‭estóicos‬‭e‬‭epicuristas.‬‭Com‬
‭esse‬‭alto‬‭cepticismo‬‭antigo,‬‭não‬‭pode‬‭ser‬‭confundido‬‭o‬‭cepticismo‬‭moderno‬‭anteriormente‬‭mencionado‬
‭(§‬ ‭39)‬ ‭—‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭lado,‬ ‭anterior‬ ‭à‬ ‭filosofia‬ ‭crítica;‬ ‭por‬ ‭outro‬ ‭lado,‬ ‭procedente‬ ‭dela‬ ‭—‬ ‭que‬ ‭consiste‬
‭simplesmente‬ ‭em‬ ‭negar‬ ‭a‬ ‭verdade‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭certeza‬ ‭do‬ ‭supra-‬ ‭sensível;‬ ‭e,‬ ‭inversamente,‬ ‭em‬ ‭designar‬ ‭o‬
‭sensível, e o que é dado na impressão imediata, como aquilo a que nos devemos ater.‬
‭Aliás,‬‭se‬‭o‬‭cepticismo‬‭ainda‬‭é‬‭hoje‬‭em‬‭dia‬‭considerado‬‭um‬‭inimigo‬‭irresistível‬‭de‬‭todo‬‭o‬‭saber‬‭positivo‬
‭em‬‭geral,‬‭e‬‭portanto‬‭também‬‭da‬‭filosofia,‬‭na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭nela‬‭se‬‭trata‬‭de‬‭conhecimento‬‭positivo,‬‭há‬
‭que‬ ‭notar,‬ ‭ao‬ ‭contrário,‬ ‭que‬ ‭de‬ ‭fato‬ ‭só‬ ‭tem‬ ‭a‬ ‭temer‬ ‭o‬ ‭cepticismo‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭finito‬ ‭e‬ ‭abstrato‬ ‭do‬
‭entendimento,‬‭o‬‭mesmo‬‭que‬‭não‬‭lhe‬‭pode‬‭resistir;‬‭enquanto‬‭a‬‭filosofia‬‭contém‬‭nela‬‭o‬‭céptico‬‭como‬‭um‬
‭momento,‬‭a‬‭saber,‬‭como‬‭o‬‭dialético.‬‭Mas‬‭a‬‭filosofia‬‭não‬‭fica‬‭então‬‭no‬‭resultado‬‭puramente‬‭negativo‬‭da‬
‭dialética,‬‭como‬‭é‬‭o‬‭caso‬‭com‬‭o‬‭cepticismo.‬‭Este‬‭distorce‬‭seu‬‭resultado,‬‭enquanto‬‭o‬‭sustenta‬‭como‬‭uma‬
‭negação‬ ‭simples‬ ‭—‬ ‭quer‬ ‭dizer,‬ ‭abstrata.‬ ‭Enquanto‬ ‭a‬ ‭dialética‬ ‭tem‬ ‭por‬ ‭resultado‬ ‭o‬ ‭negativo‬ ‭—‬ ‭que‬‭é,‬
‭justamente‬ ‭enquanto‬ ‭resultado,‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo‬ ‭positivo,‬ ‭porque‬ ‭contém,‬ ‭como‬‭suprassumido‬‭em‬‭si,‬
‭aquilo‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭resulta,‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭sem‬‭ele.‬‭Isto‬‭porém‬‭é‬‭a‬‭determinação‬‭fundamental‬‭da‬‭terceira‬‭forma‬‭do‬
‭lógico, ou seja, do‬‭especulativo‬‭ou positivamente-racional.‬

‭-‬ [‭ §82]‬ ‭O‬ ‭especulativo‬ ‭ou‬ ‭positivamente‬ ‭racional‬ ‭apreende‬ ‭a‬ ‭unidade‬ ‭terminações‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭oposição:‬ ‭o‬
‭afirmativo‬‭que‬‭está‬‭contido‬‭em‬‭sua‬‭resolução‬‭e‬‭em‬‭sua‬‭passagem‬‭[a‬‭outra‬‭coisa].‬‭1º)‬‭A‬‭dialética‬‭tem‬‭um‬
‭resultado‬ ‭positivo‬ ‭por‬ ‭ter‬ ‭um‬ ‭conteúdo‬ ‭determinado‬‭,‬ ‭ou‬ ‭por‬ ‭seu‬ ‭resultado‬ ‭na‬ ‭verdade‬ ‭não‬ ‭ser‬ ‭o‬‭nada‬
‭vazio,‬ ‭abstrato,‬ ‭mas‬ ‭a‬ ‭negação‬ ‭de‬ ‭certas‬ ‭determinações‬ ‭que‬ ‭são‬ ‭contidas‬ ‭no‬ ‭resultado,‬ ‭precisamente‬
‭porque‬ ‭este‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭um‬ ‭nada‬ ‭imediato‬‭,‬ ‭mas‬ ‭um‬‭resultado.‬‭2º)‬‭Esse‬‭racional,‬‭portanto,‬‭embora‬‭seja‬‭algo‬
p‭ ensado‬ ‭—‬ ‭também‬ ‭abstrato‬ ‭—,‬ ‭é‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo‬ ‭algo‬ ‭concreto‬‭,‬ ‭porque‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭unidade‬ ‭simples,‬
‭formal‬‭,‬ ‭mas‬ ‭unidade‬ ‭de‬ ‭determinações‬ ‭diferentes‬‭.‬ ‭Por‬ ‭isso‬ ‭a‬ ‭filosofia‬ ‭em‬ ‭geral‬ ‭nada‬ ‭tem‬ ‭a‬ ‭ver,‬
‭absolutamente,‬ ‭com‬ ‭simples‬ ‭abstrações‬ ‭ou‬ ‭pensamentos‬ ‭formais,‬ ‭mas‬ ‭somente‬ ‭com‬ ‭pensamentos‬
‭concretos.‬ ‭3º)‬ ‭Na‬ ‭Lógica‬ ‭especulativa,‬ ‭a‬ ‭simples‬ ‭Lógica‬ ‭de‬ ‭entendimento‬ ‭está‬ ‭contida‬ ‭e‬ ‭pode‬ ‭ser‬
‭construída‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭dela;‬ ‭para‬ ‭isso‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭preciso‬ ‭senão‬ ‭deixar‬ ‭de‬ ‭lado‬ ‭o‬ ‭dialético‬ ‭e‬ ‭racional;‬ ‭torna-se‬
‭assim‬‭o‬‭que‬‭é‬‭a‬‭Lógica‬‭ordinária‬‭,‬‭uma‬‭história‬‭de‬‭variadas‬‭determinações‬‭de‬‭pensamento‬‭reunidas,‬‭que‬
‭em sua finitude valem por algo infinito.‬

‭-‬ [‭ Adendo]‬ ‭Segundo‬ ‭seu‬ ‭conteúdo‬‭,‬ ‭o‬ ‭racional‬ ‭tampouco‬ ‭é‬ ‭simplesmente‬ ‭uma‬ ‭propriedade‬ ‭da‬ ‭filosofia,‬
‭que‬ ‭se‬ ‭deve‬ ‭antes‬‭dizer‬‭que‬‭ele‬‭está‬‭presente‬‭para‬‭todos‬‭os‬‭homens,‬‭em‬‭qualquer‬‭nível‬‭da‬‭cultura‬‭e‬‭do‬
‭desenvolvimento‬ ‭espiritual‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭possam‬‭encontrar-se.‬‭Nesse‬‭sentido,‬‭com‬‭justa‬‭razão,‬‭o‬‭homem‬‭foi‬
‭designado‬ ‭desde‬ ‭sempre‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭ser‬ ‭racional.‬ ‭A‬ ‭maneira‬ ‭empiricamente‬ ‭universal‬ ‭de‬ ‭saber‬ ‭sobre‬ ‭o‬
‭racional‬ ‭é,‬ ‭em‬ ‭primeiro‬ ‭lugar,‬ ‭a‬ ‭maneira‬ ‭do‬ ‭preconceito‬ ‭e‬ ‭da‬ ‭pressuposição,‬ ‭e‬ ‭em‬ ‭conseqüência‬ ‭de‬
‭discussão‬ ‭anterior‬ ‭(§‬ ‭45)‬‭o‬‭caráter‬‭do‬‭racional‬‭é,‬‭em‬‭geral,‬‭ser‬‭um‬‭incondicionado,‬‭e‬‭por‬‭isso‬‭algo‬‭que‬
‭contém‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭sua‬ ‭determinidade.‬ ‭Nesse‬ ‭sentido,‬ ‭o‬ ‭homem,‬ ‭antes‬ ‭de‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭coisas,‬ ‭sabe‬ ‭o‬
‭racional;‬ ‭na‬ ‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭sabe‬ ‭de‬ ‭Deus,‬ ‭e‬ ‭sabe‬ ‭a‬ ‭Deus‬ ‭como‬ ‭determinado‬ ‭absolutamente‬ ‭por‬ ‭si‬
‭mesmo.‬‭Igualmente,‬‭além‬‭disso,‬‭o‬‭saber‬‭que‬‭um‬‭cidadão‬‭tem‬‭de‬‭sua‬‭pátria‬‭e‬‭de‬‭suas‬‭leis‬‭é‬‭um‬‭saber‬‭do‬
‭racional,‬‭na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭essas‬‭valem‬‭para‬‭ele‬‭como‬‭um‬‭incondicionado,‬‭e‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭como‬‭um‬
‭universal,‬‭ao‬‭qual‬‭deve‬‭submeter-se‬‭com‬‭sua‬‭vontade‬‭individual.‬‭No‬‭mesmo‬‭sentido,‬‭o‬‭saber‬‭e‬‭querer‬‭da‬
‭criança já é racional, enquanto sabe a vontade de seus pais, e quer essa vontade.‬
‭Além‬ ‭disso,‬ ‭o‬ ‭especulativo‬ ‭em‬ ‭geral,‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭outra‬ ‭coisa‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭racional‬ ‭(e,‬ ‭na‬ ‭verdade,‬ ‭que‬ ‭o‬
‭positivamente-racional)‬ ‭enquanto‬ ‭esse‬ ‭é‬ ‭pensado‬‭.‬‭Na‬‭vida‬‭ordinária,‬‭o‬‭termo‬‭especulação‬‭costuma‬‭ser‬
‭usado‬‭em‬‭um‬‭sentido‬‭muito‬‭vago‬‭e,‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo,‬‭inferior.‬‭Assim,‬‭por‬‭exemplo,‬‭quando‬‭se‬‭fala‬‭de‬
‭especulações‬ ‭matrimoniais‬ ‭ou‬ ‭comerciais,‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭entende‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭outra‬ ‭coisa‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭seja,‬ ‭de‬ ‭uma‬
‭parte,‬‭que‬‭se‬‭deve‬‭ir‬‭além‬‭do‬‭imediatamente‬‭dado;‬‭e,‬‭de‬‭outra‬‭parte,‬‭que‬‭o‬‭que‬‭forma‬‭o‬‭conteúdo‬‭de‬‭tais‬
‭especulações‬ ‭é,‬ ‭em‬ ‭primeiro‬ ‭lugar,‬ ‭somente‬ ‭algo‬ ‭subjetivo;‬ ‭contudo‬ ‭não‬ ‭deve‬ ‭ficar‬ ‭assim,‬ ‭mas‬ ‭ser‬
‭realizado ou transposto em objetividade.‬
‭Quanto‬ ‭a‬ ‭esse‬ ‭uso‬ ‭corrente‬ ‭da‬ ‭língua,‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭das‬ ‭especulações,‬ ‭aplica-se‬ ‭o‬ ‭mesmo‬ ‭que‬ ‭foi‬ ‭antes‬
‭notado‬ ‭a‬ ‭propósito‬ ‭da‬ ‭idéia;‬‭a‬‭isso‬‭se‬‭liga‬‭ainda‬‭uma‬‭observação‬‭ulterior:‬‭muitas‬‭vezes‬‭pessoas‬‭qué‬‭se‬
‭contam‬ ‭já‬ ‭como‬ ‭as‬ ‭mais‬ ‭cultivadas‬ ‭falam‬ ‭também‬ ‭da‬ ‭especulação,‬ ‭expressamente‬ ‭no‬ ‭sentido‬ ‭de‬ ‭algo‬
‭puramente‬‭subjetivo.‬‭Desse‬‭modo,‬‭ouve-se‬‭dizer‬‭que‬‭uma‬‭certa‬‭compreensão‬‭da‬‭situação‬‭e‬‭das‬‭relações‬
‭naturais‬ ‭ou‬ ‭espirituais‬‭poderia‬‭ser‬‭muito‬‭bela‬‭e‬‭justa‬‭tomada‬‭de‬‭modo‬‭simplesmente‬‭especulativo;‬‭mas‬
‭que‬‭a‬‭experiência‬‭não‬‭está‬‭de‬‭acordo‬‭com‬‭ela,‬‭e‬‭que‬‭na‬‭efetividade‬‭não‬‭se‬‭pode‬‭admitir‬‭uma‬‭coisa‬‭como‬
‭essa.‬‭Ao‬‭contrário,‬‭há‬‭que‬‭dizer‬‭que‬‭o‬‭especulativo,‬‭segundo‬‭sua‬‭verdadeira‬‭significação,‬‭não‬‭é‬‭—‬‭nem‬
‭de‬‭modo‬‭provisório,‬‭nem‬‭também‬‭definitivo‬‭—‬‭algo‬‭puramente‬‭subjetivo;‬‭mas‬‭é,‬‭antes,‬‭expressamente‬‭o‬
‭que‬ ‭contém‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo,‬ ‭como‬ ‭suprassumidas,‬ ‭aquelas‬ ‭oposições‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭fica‬
‭[imobilizado]‬ ‭—‬‭por‬‭conseguinte,‬‭também‬‭a‬‭oposição‬‭de‬‭subjetivo‬‭e‬‭objetivo,‬‭e‬‭justamente‬‭por‬‭isso‬‭se‬
‭mostra‬‭como‬‭concreto‬‭e‬‭como‬‭totalidade.‬‭Por‬‭esse‬‭motivo,‬‭um‬‭conteúdo‬‭especulativo‬‭não‬‭pode‬‭também‬
‭ser‬ ‭expresso‬ ‭em‬ ‭uma‬ ‭proposição‬ ‭unilateral.‬ ‭Se‬ ‭dizemos,‬ ‭por‬ ‭exemplo,‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭absoluto‬ ‭é‬‭a‬‭unidade‬‭do‬
‭subjetivo‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭objetivo,‬ ‭é‬ ‭sem‬ ‭dúvida‬ ‭correto;‬ ‭contudo‬ ‭é‬ ‭unilateral,‬ ‭na‬ ‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭somente‬ ‭a‬
‭unidade‬‭está‬‭expressa‬‭aqui,‬‭e‬‭o‬‭acento‬‭está‬‭posto‬‭nela;‬‭quando,‬‭de‬‭fato,‬‭o‬‭subjetivo‬‭e‬‭o‬‭objetivo‬‭não‬‭são‬
‭somente idênticos, mas também diferentes.‬
‭A‬ ‭respeito‬ ‭da‬ ‭significação‬ ‭do‬ ‭especulativo,‬‭há‬‭que‬‭mencionar‬‭aqui‬‭que‬‭se‬‭tem‬‭de‬‭entender,‬‭por‬‭isso,‬‭o‬
‭mesmo‬‭que‬‭antes‬‭se‬‭costumava‬‭designar‬‭como‬‭místico‬‭—‬‭sobretudo‬‭em‬‭relação‬‭à‬‭consciência‬‭religiosa‬‭e‬
‭a‬ ‭seu‬ ‭conteúdo.‬ ‭Hoje‬ ‭em‬ ‭dia,‬ ‭quando‬ ‭se‬ ‭fala‬‭de‬‭místico,‬‭esse‬‭em‬‭regra‬‭geral‬‭conta‬‭como‬‭sinônimo‬‭de‬
‭misterioso‬ ‭e‬ ‭inconcebível,‬ ‭e‬ ‭esse‬ ‭misterioso‬ ‭e‬ ‭inconcebível‬ ‭é‬ ‭então,‬ ‭segundo‬ ‭aliás‬ ‭a‬ ‭diversidade‬ ‭da‬
‭cultura‬‭e‬‭da‬‭mentalidade,‬‭considerado‬‭por‬‭um‬‭como‬‭autêntico‬‭e‬‭verdadeiro,‬‭por‬‭outro‬‭como‬‭superstição‬
‭e‬‭ilusão.‬‭Deve-se‬‭notar‬‭a‬‭propósito,‬‭antes‬‭de‬‭tudo,‬‭que‬‭o‬‭místico‬‭sem‬‭dúvida‬‭é‬‭algo‬‭misterioso;‬‭contudo,‬
‭só‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭entendimento,‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭fato‬ ‭simplesmente‬ ‭porque‬ ‭a‬ ‭identidade‬ ‭abstrata‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭princípio‬ ‭do‬
‭entendimento,‬ ‭enquanto‬ ‭o‬ ‭místico‬ ‭(como‬ ‭sinônimo‬ ‭do‬ ‭especulativo)‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭unidade‬ ‭concreta‬ ‭dessas‬
‭determinações‬ ‭que‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭só‬ ‭valem‬ ‭como‬ ‭verdadeiro‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭separação‬ ‭e‬ ‭oposição.‬ ‭Se‬
‭então‬‭os‬‭que‬‭reconhecem‬‭o‬‭místico‬‭como‬‭verdadeiro‬‭não‬‭vão,‬‭igualmente,‬‭além‬‭[da‬‭noção]‬‭de‬‭que‬‭é‬‭algo‬
‭absolutamente‬ ‭misterioso,‬ ‭por‬ ‭sua‬ ‭parte,‬ ‭está‬ ‭assim‬ ‭declarado‬ ‭somente‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭tem‬ ‭para‬ ‭eles‬ ‭a‬
‭significação‬‭do‬‭[ato]‬‭abstrato‬‭[de]‬‭pôr-o-idêntico;‬‭e‬‭que,‬‭por‬‭esse‬‭motivo,‬‭para‬‭alcançar‬‭a‬‭verdade,‬‭deve-‬
‭-se‬ ‭renunciar‬ ‭ao‬ ‭pensar,‬ ‭ou,‬ ‭como‬ ‭também‬ ‭se‬ ‭costuma‬ ‭dizer,‬ ‭deve-se‬‭tomar‬‭como‬‭prisioneira‬‭a‬‭razão.‬
‭Ora,‬‭como‬‭vimos,‬‭o‬‭pensar‬‭abstrato‬‭do‬‭entendimento‬‭é‬‭tão‬‭pouco‬‭algo‬‭de‬‭firme‬‭e‬‭de‬‭último,‬‭que‬‭antes‬‭se‬
‭ ostra‬‭como‬‭o‬‭constante‬‭suprassumir‬‭de‬‭si‬‭mesmo‬‭e‬‭como‬‭reverter‬‭em‬‭seu‬‭oposto;‬‭quanto‬‭ao‬‭contrário,‬
m
‭o‬ ‭racional‬ ‭como‬ ‭tal,‬ ‭consiste‬ ‭justamente‬ ‭em‬ ‭conter‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭os‬ ‭opostos‬ ‭como‬ ‭momentos‬ ‭ideais.‬
‭Todo‬‭o‬‭racional,‬‭por‬‭isso,‬‭pode‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭ser‬‭designado‬‭como‬‭místico;‬‭mas‬‭com‬‭isso‬‭somente‬‭se‬
‭diz‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭além‬ ‭do‬ ‭entendimento,‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭modo‬ ‭algum‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭racional‬‭seja‬‭a‬‭considerar‬‭em‬‭geral‬‭como‬
‭inacessível e inconcebível para o pensar.‬

‭-‬ [‭ §83]‬ ‭A Lógica divide-se em três partes:‬


‭I —‬‭A Doutrina do Ser‬
‭II —‬‭A Doutrina da Essência‬
‭III —‬‭A Doutrina do Conceito e da Idéia‬

‭ uer dizer, na Teoria do pensamento:‬


Q
‭I — Em sua‬‭imediatez‬‭— no‬‭conceito em si‬
‭II — Em sua‬‭reflexão‬‭e‬‭mediação‬‭, no‬‭ser-para-si‬‭, e‬‭na‬‭aparência‬‭do conceito‬
‭III — Em seu‬‭ser-retornado sobre si mesmo‬‭e‬‭ser-junto-a-si‬‭desenvolvido — no conceito‬‭em si‬‭e‬‭para si‬

‭-‬ [‭ Adendo]‬ ‭A‬ ‭divisão‬ ‭aqui‬ ‭indicada‬ ‭da‬ ‭Lógica,‬ ‭como‬ ‭toda‬ ‭a‬ ‭discussão‬ ‭anterior‬ ‭sobre‬ ‭o‬ ‭pensar,‬ ‭há‬ ‭que‬
‭considerar-se‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭simples‬ ‭antecipação.‬ ‭Sua‬ ‭justificação,‬ ‭ou‬ ‭prova,‬ ‭somente‬ ‭pode‬ ‭resultar‬ ‭do‬
‭exame,‬ ‭levado‬ ‭a‬ ‭termo,‬ ‭do‬ ‭pensamento‬ ‭mesmo;‬ ‭porque‬ ‭provar‬ ‭significa‬ ‭em‬ ‭filosofia‬ ‭o‬ ‭mesmo‬ ‭que‬
‭mostrar‬‭como‬‭o‬‭objeto‬‭se‬‭faz‬‭—‬‭por‬‭si‬‭mesmo‬‭e‬‭de‬‭si‬‭mesmo‬‭—‬‭o‬‭que‬‭ele‬‭é.‬‭A‬‭relação‬‭em‬‭que‬‭os‬‭três‬
‭graus‬ ‭principais,‬ ‭aqui‬ ‭mencionados,‬ ‭do‬ ‭pensamento‬ ‭ou‬ ‭da‬ ‭idéia‬ ‭lógica‬ ‭estão‬ ‭entre‬ ‭eles,‬ ‭há‬ ‭de‬
‭compreender-se‬‭em‬‭geral‬‭assim:‬‭só‬‭o‬‭conceito‬‭é‬‭o‬‭verdadeiro,‬‭e,‬‭mais‬‭precisamente,‬‭é‬‭a‬‭verdade‬‭do‬‭ser‬‭e‬
‭da‬ ‭essência‬‭;‬ ‭estes‬ ‭dois,‬ ‭fixados‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭isolamento‬ ‭para‬ ‭si‬ ‭mesmos,‬ ‭são‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭a‬ ‭considerar‬ ‭como‬
‭não-verdadeiros:‬ ‭o‬ ‭ser‬‭,‬ ‭porque‬ ‭só‬ ‭ele‬ ‭enfim‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭imediato‬‭;‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭essência‬‭,‬ ‭porque‬ ‭só‬ ‭ela,‬ ‭enfim,‬ ‭é‬ ‭o‬
‭mediatizado‬‭.‬ ‭Poder-se-ia‬ ‭levantar‬ ‭quanto‬ ‭a‬ ‭isso‬ ‭a‬ ‭questão:‬ ‭por‬ ‭que,‬ ‭sendo‬ ‭assim,‬ ‭se‬ ‭começa‬ ‭pelo‬
‭não-verdadeiro,‬‭e‬‭não‬‭logo‬‭pelo‬‭verdadeiro?‬‭A‬‭isso‬‭serve‬‭por‬‭resposta‬‭que‬‭a‬‭verdade,‬‭justamente‬‭como‬
‭tal,‬‭tem‬‭de‬‭verificar-se,‬‭verificação‬‭que‬‭aqui,‬‭no‬‭interior‬‭do‬‭lógico,‬‭consiste‬‭em‬‭que‬‭o‬‭conceito‬‭se‬‭mostre‬
‭como‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭mediatizado‬ ‭por‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭e‬ ‭consigo‬ ‭mesmo,‬ ‭e‬ ‭por‬ ‭isso,‬ ‭ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo,‬ ‭como‬ ‭o‬
‭verdadeiramente‬‭imediato.‬‭Na‬‭figura‬‭concreta‬‭e‬‭real,‬‭a‬‭relação,‬‭aqui‬‭mencionada,‬‭dos‬‭três‬‭graus‬‭da‬‭idéia‬
‭lógica‬‭se‬‭mostra‬‭de‬‭modo‬‭que‬‭Deus,‬‭que‬‭é‬‭a‬‭verdade,‬‭só‬‭é‬‭conhecido‬‭nessa‬‭sua‬‭verdade‬‭—‬‭isto‬‭é,‬‭como‬
‭espírito‬‭absoluto‬‭—‬‭na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭nós‬‭reconhecemos‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭como‬‭não-verdadeiros,‬‭em‬
‭sua diferença para com Deus, o mundo por ele criado, a natureza e o espírito finito.‬

‭[MATERIAL DE APOIO, OCORRÊNCIAS DO ESPECULATIVO EM OUTRAS PARTES]‬

‭-‬ É‭ ‬‭próprio‬‭de‬‭maus‬‭preconceitos‬‭[acreditar]‬‭que‬‭a‬‭filosofia‬‭se‬‭encontre‬‭em‬‭oposição‬‭a‬‭um‬‭conhecimento‬
‭experimental‬ ‭sensível,‬ ‭à‬ ‭efetividade‬ ‭racional‬ ‭do‬ ‭direito,‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭uma‬ ‭espontânea‬ ‭religião‬‭e‬‭piedade.‬‭Essas‬
‭figuras‬‭são‬‭reconhecidas,‬‭e‬‭mesmo‬‭justificadas,‬‭pela‬‭filosofia;‬‭o‬‭sentido‬‭pensante‬‭aprofunda-se‬‭antes‬‭em‬
‭seu‬‭conteúdo,‬‭aprende‬‭e‬‭se‬‭fortalece‬‭nelas,‬‭assim‬‭como‬‭nas‬‭grandes‬‭intuições‬‭da‬‭natureza,‬‭da‬‭história‬‭e‬
‭da arte. Com efeito, esse sólido conteúdo, enquanto é pensado, é a própria‬‭idéia especulativa‬‭.‬‭(p. 17-18)‬

‭-‬ C‭ itei‬‭a‬‭exposição‬‭do‬‭Sr.‬‭Tholuck,‬‭em‬‭parte‬‭porque‬‭casualmente‬‭me‬‭está‬‭mais‬‭perto,‬‭e‬‭em‬‭parte‬‭porque‬‭o‬
‭profundo‬ ‭sentimento,‬ ‭que‬ ‭parece‬ ‭colocar‬ ‭seus‬ ‭escritos‬ ‭no‬ ‭lado‬ ‭totalmente‬ ‭oposto‬ ‭ao‬
‭da,teologia-do-entendimento,‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭mais‬ ‭próximo‬ ‭da‬ ‭profundidade‬ ‭[espiritual].‬ ‭Com‬ ‭efeito,‬ ‭sua‬
‭determinação‬ ‭funda­mental,‬ ‭a‬ ‭reconciliação‬ ‭—‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭ser‬ ‭originário‬ ‭incondicionado,‬ ‭nem‬ ‭um‬
‭abstrato‬ ‭semelhante‬ ‭—,‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭próprio‬ ‭conteúdo‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭idéia‬ ‭especulativa‬ ‭é‬‭,‬ ‭e‬ ‭que‬ ‭ela‬ ‭exprime‬
‭pensamento.‬‭(p. 21-22, nota de rodapé)‬

‭-‬ N‭ o‬ ‭entanto,‬ ‭o‬ ‭proceder‬ ‭de‬ ‭Brucker‬ ‭[no‬ ‭livro‬ ‭Johann‬ ‭Jacob‬ ‭Brucker,‬ ‭História‬ ‭critica‬ ‭philosophiae‬‭,‬ ‭5‬
‭vols.,‬ ‭Leipzig,‬ ‭1742‬ ‭a‬ ‭1744,‬ ‭2ª‬ ‭ed.,‬ ‭1766.‬‭Apêndice‬‭1767]‬‭não‬‭é‬‭despropositado‬‭simplesmen­te‬‭porque‬
‭aqueles‬ ‭filósofos‬ ‭[da‬ ‭História‬ ‭da‬ ‭Filosofia]‬ ‭não‬ ‭tiraram‬ ‭eles‬ ‭mesmos‬ ‭as‬ ‭consequên­cias‬ ‭que‬ ‭deveriam‬
‭residir‬ ‭em‬ ‭seus‬ ‭princípios‬ ‭e‬ ‭não‬ ‭os‬ ‭enunciaram‬ ‭expressamente,‬ ‭mas‬ ‭antes‬ ‭porque‬ ‭com‬ ‭tal‬ ‭deduzir‬
‭silogístico‬‭se‬‭lhes‬‭imputa‬‭um‬‭[modo‬‭de]‬‭admitir‬‭e‬‭utilizar‬‭essas‬‭relações-de-pensamento‬‭sobre‬‭a‬‭finitude,‬
‭o‬‭qual‬‭é‬‭diretamente‬‭contrário‬‭ao‬‭sentido‬‭dos‬‭filósofos,‬‭que‬‭eram‬‭de‬‭espírito‬‭especulativo‬‭;‬‭e‬‭[um‬‭modo‬
‭que], antes, só vicia e falsifica a idéia filosófica.‬‭(p. 24)‬
‭-‬ P‭ ode-se‬‭estimar‬‭como‬‭um‬‭mérito‬‭particular‬‭que‬‭o‬‭Sr.‬‭Franz‬‭von‬‭Baader‬‭continue‬‭não‬‭apenas‬‭a‬‭trazer‬‭tais‬
‭formas‬ ‭à‬ ‭lembran­ça,‬ ‭mas,‬ ‭com‬ ‭um‬ ‭profundo‬ ‭espírito‬ ‭especulativo‬‭,‬ ‭[a‬ ‭trazer]‬ ‭expressamen­te‬ ‭seu‬
‭conteúdo às honras da ciência, ao expor e a corroborar, a partir delas, a idéia filosófica.‬‭(p. 29)‬

‭-‬ [‭ §9]‬ ‭O‬ ‭refletir,‬ ‭na‬ ‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭visa‬ ‭a‬ ‭proporcionar‬ ‭satisfação‬ ‭a‬ ‭essa‬ ‭necessidade‬ ‭[Bedürfnis]‬ ‭é‬ ‭o‬
‭pensa­mento‬‭propriamente‬‭filosófico,‬‭o‬‭pensamento‬‭especulativo‬‭.‬‭Por‬‭isso,‬‭como‬‭reflexão,‬‭que,‬‭em‬‭sua‬
‭natureza‬‭comum‬‭com‬‭aquela‬‭primeira‬‭reflexão,‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭é‬‭diferente‬‭dela,‬‭tem,‬‭fora‬‭das‬‭formas‬
‭co­muns, também‬‭formas peculiares‬‭cuja forma universal‬‭é o‬‭conceito‬‭.‬
‭A‬‭relação‬‭da‬‭ciência‬‭especulativa‬‭com‬‭as‬‭outras‬‭ciências‬‭só‬‭existe‬‭enquanto‬‭a‬‭ciência‬‭especulativ‬‭a‬‭não‬
‭deixa,‬‭como‬‭de‬‭lado,‬‭o‬‭con­teúdo‬‭empírico‬‭das‬‭outras,‬‭mas‬‭o‬‭reconhece‬‭e‬‭utiliza;‬‭e‬‭igualmen­te‬‭reconhece‬
‭o‬ ‭universal‬ ‭dessas‬ ‭ciências‬ ‭—‬ ‭as‬ ‭leis,‬ ‭os‬ ‭gêneros,‬ ‭etc.‬ ‭—‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭utiliza‬ ‭para‬ ‭seu‬ ‭próprio‬ ‭conteúdo;‬ ‭mas‬
‭também,‬‭além‬‭disso,‬‭nessas‬‭categorias‬‭introduz‬‭e‬‭faz‬‭valer‬‭outras.‬‭A‬‭diferença‬‭refere-se,‬‭nessa‬‭medida,‬
‭somente‬ ‭a‬ ‭essa‬ ‭mudança‬ ‭das‬ ‭categorias.‬ ‭A‬ ‭Lógica‬ ‭especulativa‬ ‭contém‬ ‭a‬ ‭Lógica‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭Metafísica‬ ‭de‬
‭outrora;‬‭conserva‬‭as‬‭mesmas‬‭formas-de-pensamento,‬‭leis‬‭e‬‭objetos,‬‭mas‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭aperfeiçoando‬
‭e‬‭transformando‬‭com‬‭outras‬‭categorias.‬‭Deve-se‬‭distinguir‬‭do‬‭conceito‬‭,‬‭no‬‭sentido‬‭especulativo‬‭,‬‭o‬‭que‬
‭habitualmente‬ ‭é‬ ‭chamado‬ ‭conceito.‬ ‭E‬ ‭no‬ ‭último‬ ‭sentido,‬ ‭uni­lateral,‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭pôs‬ ‭e‬ ‭repetiu‬ ‭milhares‬ ‭e‬
‭milhares‬ ‭de‬ ‭vezes,‬ ‭e‬ ‭se‬ ‭erigiu‬ ‭em‬ ‭preconceito,‬ ‭que‬‭o‬‭infinito‬‭não‬‭pode‬‭ser‬‭compreendido‬‭por‬‭meio‬‭de‬
‭conceitos.‬

‭-‬ [‭ §26]‬ ‭–‬ ‭A‬ ‭primeira‬‭posição‬‭é‬‭o‬‭procedimento‬‭ingênuo‬‭,‬‭que,‬‭sem‬‭[ter]‬‭ainda‬‭a‬‭consciência‬‭da‬‭oposição‬


‭do‬ ‭pensar‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭e‬ ‭contra‬ ‭si‬ ‭mesmo‬‭,‬ ‭contém‬ ‭a‬ ‭crença‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭mediante‬ ‭a‬ ‭reflexão‬ ‭é‬ ‭conhecida‬ ‭a‬
‭verdade‬‭,‬‭[a‬‭saber]‬‭que‬‭se‬‭apresenta‬‭ante‬‭a‬‭consciência‬‭o‬‭que‬‭os‬‭objetos‬‭verdadeiramente‬‭são‬‭.‬‭Nessa‬
‭crença,‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭vai‬ ‭direto‬ ‭aos‬ ‭objetos,‬ ‭reproduz‬ ‭de‬ ‭si‬ ‭mesmo‬ ‭o‬ ‭conteúdo‬ ‭das‬ ‭sensações‬ ‭e‬ ‭intuições,‬
‭fazen­do-o‬ ‭conteúdo‬ ‭do‬ ‭pensamento,‬ ‭e‬ ‭nele‬ ‭se‬ ‭satisfaz‬ ‭como‬ ‭na‬ ‭verdade‬‭.‬ ‭Toda‬ ‭a‬ ‭filosofia‬ ‭em‬ ‭seus‬
‭começos, todas as ciências e mesmo o agir cotidiano da consciência vivem nessa crença.‬‭(p. 89)‬

‭-‬ [‭ §27]‬ ‭–‬ ‭Esse‬ ‭pensar,‬ ‭devido‬ ‭à‬ ‭carência-de-consciência‬‭sobre‬‭seu‬‭objeto,‬‭tanto‬‭pode‬‭,‬‭por‬‭seu‬‭conteúdo,‬


‭ser‬ ‭um‬ ‭autêntico‬ ‭filosofar‬ ‭especulativo‬‭,‬ ‭como‬ ‭também‬ ‭demorar-se‬ ‭nas‬
‭determinações-finitas-de-pensamento, isto é, na‬‭oposição‬‭ainda não resolvida‬‭.‬‭(p. 89-90)‬

‭-‬ [‭ §28‬‭Adendo]‬‭Ora,‬‭no‬‭que‬‭toca‬‭mais‬‭precisamente‬‭ao‬‭procedimento‬‭daquela‬‭antiga‬‭metafísica,‬‭deve-se‬
‭notar‬‭a‬‭esse‬‭respeito‬‭que‬‭ela‬‭não‬‭ultrapassa‬‭o‬‭pensar‬‭meramente‬‭do‬‭entendimento‬‭.‬‭Ela‬‭acolhia‬‭de‬‭modo‬
‭imediato‬ ‭as‬ ‭determinações-de-pensamento‬ ‭abstratas,‬ ‭e‬ ‭lhes‬ ‭dava‬ ‭o‬ ‭valor‬ ‭de‬ ‭serem‬ ‭predicados‬ ‭do‬
‭verdadeiro.‬ ‭Quando‬ ‭se‬ ‭trata‬ ‭do‬ ‭pensar,‬ ‭deve-se‬ ‭distinguir‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭finito‬ ‭meramente‬ ‭do‬
‭entendimento‬‭,‬‭do‬‭pensar‬‭infinito‬‭,‬‭racional‬‭.‬‭As‬‭determinações-do-pensamento,‬‭tais‬‭como‬‭se‬‭acham‬‭de‬
‭modo‬ ‭imediato‬ ‭e‬ ‭singularizado,‬ ‭são‬ ‭determinações‬ ‭finitas‬‭.‬ ‭Ora,‬ ‭o‬ ‭verdadeiro‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭infinito‬‭em‬‭si,‬‭que‬
‭não‬‭se‬‭deixa‬‭exprimir‬‭nem‬‭trazer‬‭à‬‭consciência‬‭através‬‭do‬‭finito‬‭.‬‭A‬‭expressão‬‭“‭p‬ ensamento‬‭infinito‬‭”‬
‭pode‬ ‭parecer‬ ‭chocante,‬ ‭quando‬ ‭se‬ ‭está‬ ‭aferrado‬ ‭à‬ ‭representação‬ ‭da‬ ‭época‬ ‭moderna,‬ ‭segundo‬ ‭a‬ ‭qual‬‭o‬
‭pensar‬ ‭seria‬ ‭sempre‬ ‭limitado.‬ ‭Ora‬ ‭de‬ ‭fato,‬ ‭segundo‬ ‭sua‬ ‭essência,‬ ‭o‬ ‭pensar‬ ‭é‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭infinito.‬ ‭Finito‬
‭significa‬‭—‬‭expresso‬‭formalmente‬‭—‬‭aquilo‬‭que‬‭tem‬‭um‬‭fim;‬‭o‬‭que‬‭é,‬‭mas‬‭que‬‭deixa‬‭de‬‭ser‬‭onde‬‭está‬
‭em‬ ‭conexão‬ ‭com‬ ‭seu‬ ‭Outro,‬ ‭e‬ ‭por‬ ‭conseguinte‬ ‭é‬ ‭limitado‬ ‭por‬ ‭ele.‬ ‭Assim,‬ ‭o‬ ‭finito‬ ‭consiste‬ ‭em‬ ‭uma‬
‭relação‬ ‭ao‬ ‭seu‬‭Outro,‬‭que‬‭é‬‭sua‬‭negação‬‭e‬‭se‬‭apresenta‬‭como‬‭seu‬‭limite.‬‭Mas‬‭o‬‭pensar‬‭está‬‭junto‬‭de‬‭si‬
‭mesmo,‬‭consigo‬‭mesmo‬‭se‬‭relaciona,‬‭e‬‭tem‬‭a‬‭si‬‭mesmo‬‭por‬‭objeto.‬‭Enquanto‬‭tenho‬‭um‬‭pensamento‬‭por‬
‭objeto,‬‭eu‬‭estou‬‭junto‬‭a‬‭mim‬‭mesmo.‬‭O‬‭Eu,‬‭o‬‭pensar,‬‭é‬‭infinito‬‭,‬‭pelo‬‭motivo‬‭de‬‭que‬‭se‬‭refere‬‭no‬‭pensar‬
‭a‬‭um‬‭objeto‬‭que‬‭é‬‭ele‬‭mesmo.‬‭Objeto‬‭em‬‭geral‬‭é‬‭um‬‭Outro,‬‭um‬‭negativo‬‭em‬‭relação‬‭a‬‭mim.‬‭Se‬‭o‬‭pensar‬
‭pensa‬ ‭a‬ ‭si‬ ‭mesmo,‬ ‭então‬ ‭tem‬ ‭um‬ ‭objeto‬ ‭que‬ ‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭não‬‭é‬‭um‬‭objeto;‬‭isto‬‭é,‬‭[tem]‬‭um‬
‭objeto‬‭suprassumido,‬‭ideal.‬‭O‬‭pensar‬‭como‬‭tal,‬‭em‬‭sua‬‭pureza,‬‭não‬‭tem‬‭pois,‬‭em‬‭si,‬‭nenhum‬‭limite.‬‭O‬
‭pensamento‬ ‭só‬ ‭é‬ ‭finito‬ ‭na‬ ‭medida‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭permanece‬ ‭em‬ ‭determinações‬ ‭finitas,‬ ‭que‬ ‭valem‬ ‭para‬ ‭ele‬
‭como‬ ‭algo‬ ‭de‬ ‭último.‬ ‭Ao‬ ‭contrário,‬‭o‬‭pensar‬‭infinito‬‭ou‬‭especulativo‬‭,‬‭igualmente‬‭determina;‬‭mas‬‭ao‬
‭determinar,‬ ‭ao‬ ‭limitar,‬ ‭suprassume‬ ‭de‬ ‭volta‬ ‭essa‬ ‭defi­ciência.‬ ‭A‬ ‭infinitude‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭deve,‬ ‭como‬ ‭na‬
‭representação‬ ‭habitual,‬ ‭apreen­der‬ ‭como‬ ‭um‬‭abstrato‬‭Além‬‭e‬‭sempre-mais-Além;‬‭mas‬‭segundo‬‭a‬
‭maneira simples‬‭como a que foi indicada anteriormente.‬‭(p. 91)‬

‭-‬ [‭ §31‬ ‭Anotação]‬ ‭Aliás,‬ ‭a‬ ‭forma‬ ‭da‬ ‭proposição,‬ ‭ou‬ ‭mais‬ ‭precisamente‬ ‭a‬ ‭do‬ ‭juízo,‬ ‭é‬ ‭imprópria‬ ‭para‬
‭exprimir‬ ‭o‬ ‭concreto‬ ‭—‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭verdadeiro‬ ‭é‬ ‭concreto‬ ‭—‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭especulativo‬‭:‬ ‭o‬ ‭juízo‬ ‭é,‬ ‭por‬ ‭sua‬ ‭forma,‬
‭unilateral; e nessa medida é falso.‬‭(p. 93-94)‬
‭-‬ [‭ §32‬ ‭Adendo]‬ ‭O‬ ‭dogmatismo‬ ‭teve‬ ‭seu‬ ‭contrário‬ ‭primeiramente‬ ‭no‬ ‭cepticismo.‬ ‭Os‬ ‭cépticos‬ ‭da‬
‭Antiguidade‬ ‭chamavam‬ ‭em‬ ‭geral‬ ‭dogmatismo‬‭toda‬‭e‬‭qual­quer‬‭filosofia,‬‭enquanto‬‭ela‬‭estabelecia‬‭teses‬
‭determinadas.‬ ‭Nesse‬ ‭senti­do‬ ‭amplo,‬ ‭também‬ ‭a‬ ‭filosofia‬ ‭propriamente‬ ‭especulativa‬ ‭conta‬ ‭como‬
‭dog­mática‬‭para‬‭o‬‭cepticismo‬‭.‬‭Mas‬‭o‬‭dogmático,‬‭no‬‭sentido‬‭estrito,‬‭consiste‬‭em‬‭que‬‭as‬‭determinações‬
‭unilaterais‬ ‭de‬ ‭entendimento‬ ‭são‬ ‭retidas‬‭com‬‭exclusão‬‭das‬‭determinações‬‭opostas.‬‭Em‬‭geral,‬‭é‬‭o‬‭estrito‬
‭ou‬ ‭[uma‬ ‭coisa]‬ ‭ou‬ ‭[outra],‬ ‭e‬ ‭em‬ ‭conformidade‬ ‭com‬ ‭isso‬ ‭diz-se,‬ ‭por‬ ‭exemplo:‬‭o‬‭mundo‬‭ou‬‭é‬‭finito‬‭ou‬
‭infinito,‬ ‭mas‬ ‭somente‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭dois.‬ ‭O‬ ‭verdadeiro,‬‭o‬‭especulativo,‬‭ao‬‭contrário,‬‭é‬‭justamente‬‭o‬‭que‬
‭não‬ ‭tem‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭nenhuma‬‭determinação‬‭unilateral‬‭desse‬‭tipo,‬‭e‬‭nisso‬‭não‬‭se‬‭esgota;‬‭mas‬‭enquanto‬
‭totalidade‬ ‭con­tém‬ ‭nele‬ ‭reunidas‬ ‭aquelas‬ ‭determinações‬ ‭que‬ ‭para‬ ‭o‬ ‭dogmatismo‬ ‭valem‬ ‭em‬ ‭sua‬
‭separação como algo firme e verdadeiro.‬
‭Na‬‭filosofia,‬‭dá-se‬‭frequentemente‬‭o‬‭caso‬‭de‬‭que‬‭a‬‭unilateralidade‬‭ve‬‭pôr-se‬‭ao‬‭lado‬‭da‬‭totalidade‬‭com‬‭a‬
‭alegação‬ ‭de‬ ‭ser‬ ‭algo‬ ‭particular‬ ‭e‬ ‭firme‬ ‭em‬ ‭relação‬ ‭a‬ ‭ela.‬‭Mas,‬‭de‬‭fato,‬‭o‬‭unilateral‬‭não‬‭é‬‭algo‬‭firme‬‭e‬
‭subsistente‬ ‭por‬ ‭senão‬ ‭que‬ ‭está‬ ‭contido‬ ‭no‬ ‭todo,‬ ‭como‬ ‭suprassumido.‬ ‭O‬ ‭dogmatismo‬ ‭ou‬
‭metafísica-de-entendimento‬ ‭consiste‬ ‭em‬ ‭fixar‬ ‭em‬ ‭seu‬ ‭isolamento‬ ‭as‬ ‭determinações‬ ‭unilaterais‬ ‭de‬
‭pensamento,‬‭quando,‬‭ao‬‭contrário,‬‭o‬‭idealismo‬‭ou‬‭filosofia‬‭especulativa‬‭possui‬‭o‬‭princípio‬‭da‬‭totalidade,‬
‭e‬ ‭se‬‭mostra‬‭como‬‭dominando‬‭a‬‭unilateralidade‬‭das‬‭determinações‬‭abstratas‬‭do‬‭entendimento.‬‭Assim,‬‭o‬
‭idealismo‬ ‭dirá:‬‭a‬‭alma‬‭nem‬‭é‬‭só‬‭finita‬‭nem‬‭é‬‭só‬‭infinita,‬‭mas‬‭essencialmente‬‭tanto‬‭uma‬‭[coisa]‬‭quanto‬
‭também‬ ‭a‬ ‭outra,‬ ‭e,‬ ‭por‬ ‭isso,‬‭nem‬‭uma‬‭nem‬‭é‬‭outra.‬‭Quer‬‭dizer:‬‭tais‬‭determinações‬‭não‬‭são‬‭válidas‬‭em‬
‭seu‬ ‭isolamento,‬ ‭e‬ ‭só‬ ‭valem‬ ‭como‬ ‭suprassumidas‬‭.‬ ‭Também‬ ‭em‬ ‭nossa‬ ‭consciência‬ ‭ordinária‬ ‭já‬ ‭se‬
‭encontra‬‭o‬‭idealismo.‬‭Em‬‭consequência‬‭dizemos‬‭das‬‭coisas‬‭sensíveis‬‭que‬‭são‬‭mutáveis,‬‭isto‬‭é,‬‭que‬‭lhes‬
‭advém‬ ‭o‬ ‭ser‬ ‭como‬ ‭o‬ ‭não-ser.‬ ‭Somos‬ ‭mais‬ ‭obstinados‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭das‬ ‭determinações-do-entendimento.‬
‭Essas,‬ ‭enquanto‬ ‭determinações-de-pensamento,‬ ‭passam‬ ‭por‬ ‭algo‬ ‭de‬ ‭mais‬ ‭fixo,‬ ‭mesmo‬ ‭por‬ ‭algo‬
‭absolutamente‬ ‭fixo.‬ ‭Nós‬ ‭as‬ ‭consideramos‬ ‭como‬ ‭separadas‬ ‭por‬ ‭um‬ ‭abismo‬ ‭infinito,‬ ‭de‬ ‭modo‬ ‭que‬ ‭as‬
‭determinações‬ ‭se‬ ‭contrapõem‬‭uma‬‭às‬‭outras,‬‭e‬‭não‬‭podem‬‭nunca‬‭tocar-se.‬‭A‬‭luta‬‭da‬‭razão‬‭consiste‬‭em‬
‭sobrepujar o que o entendimento fixou.‬‭(p. 94)‬

‭-‬ [‭ §36‬ ‭Adendo]‬‭Se‬‭lançamos‬‭ainda‬‭um‬‭olhar,‬‭depois‬‭da‬‭discussão‬‭feita‬‭até‬‭aqui,‬‭para‬‭o‬‭procedimento‬‭da‬


‭velha‬ ‭metafísica‬ ‭em‬ ‭geral,‬ ‭ressalta‬‭para‬‭nós‬‭como‬‭ele‬‭consistia‬‭em‬‭que‬‭aquela‬‭metafísica‬‭apreendia‬‭os‬
‭objetos-da-razão‬ ‭em‬ ‭determinações-do-entendimento‬ ‭abstratas‬ ‭e‬ ‭finitas;‬ ‭fazendo‬ ‭assim,‬ ‭da‬ ‭identidade‬
‭abstrata,‬ ‭seu‬ ‭princípio.‬ ‭No‬ ‭entanto,‬ ‭essa‬ ‭infinidade-de-entendimento,‬ ‭essa‬ ‭pura‬ ‭essência,‬ ‭ela‬‭mesma‬‭é‬
‭apenas‬ ‭algo‬ ‭finito,‬ ‭porque‬ ‭a‬ ‭particularidade‬ ‭está‬ ‭excluída‬ ‭dela,‬ ‭a‬ ‭limita‬ ‭e‬‭a‬‭nega.‬‭Em‬‭vez‬‭de‬‭chegar‬‭à‬
‭identidade‬ ‭concreta,‬ ‭essa‬ ‭metafísica‬ ‭persistia‬ ‭na‬ ‭identidade‬ ‭abstrata:‬ ‭mas‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭tinha‬ ‭de‬ ‭bom‬ ‭era‬ ‭a‬
‭consciência‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭só‬ ‭o‬ ‭pensamento‬ ‭é‬ ‭a‬ ‭essencialidade‬ ‭do‬ ‭essente.‬ ‭Deram‬ ‭a‬ ‭matéria,‬ ‭para‬ ‭essa‬
‭metafísica,‬ ‭os‬ ‭filó­sofos‬ ‭da‬ ‭Antiguidade‬ ‭e‬ ‭especialmente‬ ‭escolásticos.‬ ‭Na‬ ‭filosofia‬ ‭especula­tiva,‬ ‭o‬
‭entendimento‬ ‭é‬ ‭sem‬ ‭dúvida‬ ‭um‬ ‭momento;‬ ‭mas‬ ‭um‬ ‭momento‬ ‭em‬ ‭que‬ ‭não‬ ‭se‬ ‭permanece.‬ ‭Platão‬
‭não‬‭é‬‭um‬‭metafísico‬‭dessa‬‭espécie,‬‭e‬‭menos‬‭ainda‬‭Aristóteles,‬‭embora‬‭habitualmente‬‭se‬‭acredite‬‭no‬
‭contrário.‬‭(p. 99)‬

‭-‬ [‭ §55‬ ‭Anotação]‬ ‭A‬ ‭Crítica‬ ‭da‬ ‭faculdade‬ ‭de‬ ‭julgar‬ ‭tem‬ ‭de‬ ‭notável‬ ‭que‬ ‭Kant‬ ‭expri­miu‬ ‭nela‬ ‭a‬
‭representação,‬‭e‬‭mesmo‬‭o‬‭pensamento,‬‭da‬‭idéia‬‭.‬‭A‬‭representação‬‭de‬‭um‬‭entendimento‬‭intuitivo‬‭,‬‭de‬‭uma‬
‭finalidade‬‭interna‬‭etc.‬‭é‬‭o‬‭universal‬‭pensado‬‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭como‬‭concreto‬‭em‬‭si‬‭mesmo.‬‭Por‬‭isso,‬‭a‬
‭filosofia kantiana só se mostra‬‭especu­lativa‬‭nessas‬‭representações‬‭.‬

‭-‬ [‭ §70]‬ ‭A‬ ‭afirmação‬‭desse‬‭ponto‬‭de‬‭vista‬‭é,‬‭com‬‭efeito,‬‭que‬‭não‬‭são‬‭o‬‭verdadeiro‬‭nem‬‭a‬‭idéia‬‭como‬‭um‬


‭pensamento‬‭meramente‬‭subjetivo‬‭,‬‭nem‬‭simplesmente‬‭um‬‭ser‬‭para‬‭si.‬‭O‬‭ser‬‭só‬‭para‬‭si,‬‭um‬‭ser‬‭que‬‭não‬‭é‬
‭da‬ ‭idéia,‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭ser‬ ‭sensível,‬ ‭finito,‬ ‭do‬ ‭mundo.‬ ‭Com‬ ‭isso‬ ‭afirma-se‬ ‭imediatamente‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭idéia‬ ‭só‬ ‭é‬ ‭o‬
‭verdadeiro‬‭por‬‭mediação‬‭do‬‭ser;‬‭e,‬‭inversamente‬‭,‬‭que‬‭o‬‭ser‬‭só‬‭o‬‭é‬‭por‬‭mediação‬‭da‬‭idéia.‬‭A‬‭proposição‬
‭do‬‭saber‬‭imediato‬‭não‬‭quer,‬‭com‬‭razão,‬‭a‬‭imediatez‬‭vazia,‬‭indeterminada:‬‭o‬‭ser‬‭abstrato‬‭ou‬‭pura‬‭unidade‬
‭para‬‭si;‬‭mas‬‭sim‬‭a‬‭unidade‬‭da‬‭idéia‬‭com‬‭o‬‭ser.‬‭Porém‬‭é‬‭carência-de-pensamento‬‭não‬‭ver‬‭que‬‭a‬‭unidade‬
‭das‬ ‭determinações‬ ‭diferentes‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭simplesmente‬ ‭unidade‬ ‭puramente‬ ‭imediata,‬ ‭isto‬ ‭é,‬ ‭totalmente‬
‭indeterminada‬‭e‬‭vazia;‬‭mas‬‭que‬‭está‬‭justamente‬‭posto‬‭nela,‬‭que‬‭uma‬‭das‬‭determinações‬‭só‬‭tem‬‭verdade‬
‭mediatizada‬‭pela‬‭outra;‬‭ou,‬‭caso‬‭se‬‭prefira,‬‭que‬‭cada‬‭uma‬‭só‬‭é‬‭mediatizada‬‭com‬‭a‬‭verdade‬‭por‬‭meio‬‭da‬
‭outra.‬ ‭Que‬ ‭a‬ ‭determinação‬ ‭da‬ ‭mediação‬ ‭esteja‬ ‭contida‬ ‭nessa‬ ‭imediatez‬ ‭mesma,‬ ‭é‬ ‭por‬ ‭isso‬ ‭mostrado‬
‭como‬ ‭[um]‬ ‭fato,‬ ‭contra‬ ‭o‬ ‭qual‬ ‭o‬ ‭entendimento,‬ ‭conforme‬ ‭o‬ ‭princípio‬‭próprio‬‭do‬‭saber‬‭imediato,‬‭nada‬
‭pode‬ ‭ter‬ ‭a‬ ‭objetar.‬ ‭E‬ ‭só‬ ‭o‬ ‭entendimento‬ ‭abstrato,‬ ‭ordinário,‬ ‭que‬ ‭toma‬ ‭as‬ ‭determinações‬ ‭de‬
i‭mediatez‬ ‭e‬ ‭de‬ ‭mediação,‬ ‭cada‬ ‭uma‬ ‭por‬ ‭si,‬ ‭como‬ ‭absolutas;‬‭e‬‭acredita‬‭ter‬‭nelas‬‭algo‬‭fixo‬‭para‬‭a‬
‭distinção‬‭.‬ ‭Assim‬ ‭produz‬ ‭para‬ ‭si‬ ‭a‬ ‭dificuldade‬ ‭insuperável‬ ‭de‬ ‭reuni-las‬ ‭—‬ ‭uma‬ ‭dificuldade‬ ‭que,‬
‭como se mostrou, tanto não existe no fato como desvanece no conceito especulativo‬‭.‬

‭[AQUI COMEÇA A PARTE DE EXPLICAÇÃO DOS 3 MOMENTOS]‬

‭-‬ [‭ §88‬‭Anotação]‬‭3‬‭–‬‭Pode-se‬‭facilmente‬‭dizer‬‭que‬‭não‬‭se‬‭concebe‬‭a‬‭unidade‬‭do‬‭ser‬‭e‬‭do‬‭nada.‬‭Contudo,‬
‭seu‬ ‭conceito‬ ‭está‬ ‭exposto‬ ‭nos‬ ‭parágrafos‬ ‭precedentes,‬ ‭e‬ ‭nada‬ ‭mais‬ ‭é‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭exposto:‬ ‭conceber‬ ‭sua‬
‭unidade‬‭não‬‭significa‬‭outra‬‭coisa‬‭que‬‭compreender‬‭isso‬‭.‬‭Mas‬‭entende-se‬‭por‬‭conceber‬‭ainda‬‭algo‬‭a‬
‭mais‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭propriamente‬ ‭dito:‬ ‭exige-se‬ ‭uma‬ ‭consciência‬ ‭mais‬ ‭diversificada,‬ ‭mais‬ ‭rica,‬
‭uma‬‭representação‬‭;‬‭de‬‭modo‬‭que‬‭um‬‭tal‬‭conceito‬‭seja‬‭mostrado‬‭como‬‭um‬‭caso‬‭concreto‬‭,‬‭com‬‭o‬‭qual‬
‭o‬‭pensar,‬‭em‬‭sua‬‭práxis‬‭habitual,‬‭estivesse‬‭familiarizado.‬‭Na‬‭medida‬‭em‬‭que‬‭o‬‭“não-poder-conceber”‬‭só‬
‭exprime‬ ‭a‬ ‭falta‬ ‭de‬ ‭hábito‬ ‭de‬ ‭reter‬ ‭pen­samentos‬ ‭abstratos‬ ‭sem‬ ‭qualquer‬ ‭mescla‬ ‭sensível,‬ ‭e‬ ‭de‬
‭apreen­der‬ ‭proposições‬ ‭especulativas‬‭,‬ ‭nada‬‭há‬‭mais‬‭a‬‭dizer‬‭senão‬‭que‬‭o‬‭gênero‬‭do‬‭saber‬‭filosófico‬‭é,‬
‭sem‬‭dúvida‬‭alguma,‬‭diferente‬‭do‬‭gênero‬‭do‬‭saber‬‭a‬‭que‬‭se‬‭está‬‭habituado‬‭na‬‭vida‬‭ordinária,‬‭como‬
‭também do que predomina nas outras ciências‬‭.‬‭(p. 182)‬
‭4‬ ‭–‬ ‭Mas‬ ‭há‬ ‭que‬ ‭notar‬ ‭ainda‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭expressão‬ ‭“ser‬ ‭e‬ ‭nada‬ ‭são‬ ‭o‬ ‭mesmo”,‬ ‭ou:‬ ‭“a‬ ‭unidade‬‭do‬‭ser‬‭e‬‭do‬
‭nada”,‬ ‭e‬ ‭igualmente‬ ‭todas‬ ‭as‬ ‭outras‬ ‭unidades‬ ‭semelhantes,‬ ‭a‬ ‭de‬ ‭sujeito‬ ‭e‬ ‭objeto‬ ‭etc.‬ ‭são‬ ‭com‬ ‭razão‬
‭chocantes,‬‭porque‬‭o‬‭distorcido‬‭e‬‭o‬‭incorreto‬‭residem‬‭em‬‭que‬‭se‬‭faz‬‭ressaltar‬‭a‬‭unidade;‬‭e‬‭a‬‭diversidade,‬
‭aí‬‭está,‬‭sem‬‭dúvida‬‭(pois‬‭é,‬‭por‬‭exemplo,‬‭ser‬‭e‬‭nada,‬‭cuja‬‭unidade‬‭é‬‭posta).‬‭Porém‬‭essa‬‭diversidade‬‭não‬‭é‬
‭ao‬‭mesmo‬‭tempo‬‭expressa‬‭e‬‭reconhecida,‬‭e‬‭que‬‭portanto‬‭dela‬‭só‬‭se‬‭abstrai‬‭indevidamente.‬‭A‬‭diversidade‬
‭parece não ser tomada em consideração.‬

‭-‬ D‭ e‬‭fato,‬‭uma‬‭determinação‬‭especulativa‬‭não‬‭se‬‭exprime‬‭corretamente‬‭na‬‭forma‬‭de‬‭uma‬‭tal‬‭proposição:‬‭a‬
‭unidade deve ser apreendida na diversidade ao mesmo tempo dada e posta.‬‭(p. 183)‬

‭-‬ [‭ §96‬ ‭Adendo]‬ ‭Essa‬ ‭ambiguidade‬ ‭no‬ ‭uso‬ ‭da‬ ‭língua,‬ ‭segun­do‬ ‭a‬ ‭qual‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭palavra‬ ‭tem‬ ‭uma‬
‭significação‬ ‭negativa‬ ‭e‬ ‭uma‬‭significação‬‭positiva‬‭[como‬‭no‬‭caso‬‭de‬‭aufheben‬‭],‬‭não‬‭se‬‭pode‬‭considerar‬
‭como‬‭contingente,‬‭nem‬‭se‬‭pode‬‭absolutamente‬‭fazer‬‭à‬‭linguagem‬‭a‬‭censura‬‭de‬‭dar‬‭azo‬‭à‬‭confusão;‬‭mas‬
‭tem-se‬ ‭de‬ ‭reconhecer‬ ‭aí‬ ‭o‬ ‭espírito‬ ‭especulativo‬ ‭de‬ ‭nossa‬ ‭língua‬‭,‬ ‭que‬ ‭vai‬ ‭além‬ ‭do‬ ‭simples‬ ‭ou-ou‬‭do‬
‭entendimento.‬‭(p. 194-195)‬

‭-‬ [‭ §118‬‭Adendo]‬‭Como‬‭foi‬‭notado‬‭acima‬‭(§103,‬‭Adendo),‬‭se‬‭a‬‭filosofia‬‭mais‬‭recente‬‭se‬‭designou‬‭mais‬‭de‬
‭uma‬ ‭vez‬ ‭ironicamente‬ ‭como‬ ‭filosofia-da-identidade,‬ ‭é‬‭justamente‬‭a‬‭filosofia,‬‭c‬‭de‬‭fato‬‭antes‬‭de‬‭tudo‬‭a‬
‭lógica‬ ‭especulativa,‬ ‭que‬ ‭mostra‬ ‭a‬ ‭nulidade‬ ‭da‬ ‭simples‬ ‭identidade-de-entendimento,‬ ‭a‬ ‭qual‬ ‭abstrai‬ ‭da‬
‭diferença;‬‭e‬‭contudo‬‭também‬‭exige‬‭que‬‭não‬‭se‬‭deixe‬‭ficar‬‭na‬‭mera‬‭diversidade,‬‭mas‬‭que‬‭se‬‭reconheça‬‭a‬
‭unidade interior de tudo que existe.‬‭(p. 233)‬

‭-‬ [‭ §160]‬ ‭O‬ ‭conceito‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭[que‬ ‭é]‬ ‭livre‬‭,‬ ‭enquanto‬ ‭potência‬ ‭substancial‬ ‭essente‬ ‭para‬ ‭si‬‭,‬ ‭e‬ ‭é‬ ‭totalidade‬‭,‬
‭enquanto‬ ‭cada‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭momentos‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭todo‬ ‭que‬ ‭ele‬ ‭[mesmo]‬ ‭é,‬ ‭e‬ ‭é‬ ‭posto‬ ‭com‬ ‭ele‬ ‭como‬ ‭unidade‬
‭inseparável; assim, na sua identidade consigo, o conceito é o‬‭determinado em si e para si‬‭.‬
‭[Adendo]‬ ‭O‬ ‭ponto‬ ‭de‬ ‭vista‬ ‭do‬ ‭conceito‬ ‭é,‬ ‭de‬ ‭modo‬ ‭geral,‬ ‭o‬ ‭do‬‭idealismo‬‭absoluto,‬‭e‬‭a‬‭filosofia‬‭é‬‭um‬
‭conhecimento‬‭conceituante,‬‭enquanto‬‭nela‬‭tudo‬‭o‬‭que‬‭conta‬‭para‬‭outra‬‭consciência‬‭como‬‭um‬‭essente,‬‭e‬
‭autônomo‬ ‭em‬ ‭sua‬ ‭imediatez,‬ ‭é‬ ‭simplesmente‬ ‭sabido‬ ‭como‬ ‭um‬ ‭momento‬ ‭ideal.‬ ‭Na‬
‭lógica-de-entendimento,‬ ‭costuma-se‬ ‭considerar‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭mera‬ ‭forma‬ ‭do‬ ‭pensar,‬ ‭e,‬ ‭mais‬
‭precisamente,‬ ‭como‬ ‭uma‬ ‭representação‬ ‭geral.‬ ‭[...]‬ ‭maneira‬‭inferior‬‭de‬‭apreender‬‭o‬‭conceito‬‭[...]‬‭Nesse‬
‭caso‬‭se‬‭poderia‬‭ainda‬‭levantar‬‭preliminarmente‬‭a‬‭questão:‬‭por‬‭que,‬‭se‬‭na‬‭lógica‬‭especulativa‬‭o‬‭conceito‬
‭tem‬ ‭uma‬ ‭significação‬ ‭totalmente‬ ‭outra‬ ‭da‬ ‭que‬ ‭se‬ ‭costuma‬ ‭aliás‬ ‭unir‬‭a‬‭essa‬‭expressão,‬‭esse‬‭totalmente‬
‭Outro‬‭aqui‬‭se‬‭chama‬‭igualmente‬‭conceito,‬‭e‬‭com‬‭isso‬‭se‬‭dá‬‭ocasião‬‭para‬‭mal-entendido‬‭e‬‭confusão.‬‭A‬‭tal‬
‭questão‬ ‭se‬ ‭teria‬ ‭de‬ ‭responder‬ ‭que,‬ ‭por‬ ‭maior‬ ‭que‬ ‭pudesse‬ ‭ser‬ ‭a‬ ‭distância‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭da‬ ‭lógica‬
‭formal‬‭e‬‭o‬‭conceito‬‭especulativo‬‭,‬‭contudo‬‭resulta,‬‭numa‬‭consideração‬‭mais‬‭precisa,‬‭que‬‭a‬‭significação‬
‭mais‬‭profunda‬‭do‬‭conceito‬‭não‬‭é‬‭de‬‭modo‬‭algum‬‭tão‬‭estranha‬‭ao‬‭uso‬‭ordinário‬‭do‬‭idioma‬‭como‬‭parece,‬‭à‬
‭primeira‬‭vista,‬‭ser‬‭o‬‭caso.‬‭Fala-se‬‭da‬‭dedução‬‭de‬‭um‬‭conteúdo‬‭—‬‭como,‬‭por‬‭exemplo,‬‭das‬‭determinações‬
‭do‬‭direito‬‭referentes‬‭à‬‭propriedade‬‭—,‬‭e‬‭mesmo,‬‭inversamente,‬‭da‬‭redução‬‭de‬‭tal‬‭conteúdo‬‭ao‬‭conceito.‬
‭Mas‬ ‭assim‬ ‭se‬ ‭reconhece‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭não‬ ‭é‬ ‭simplesmente‬ ‭uma‬ ‭forma,‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭carente-de-conteúdo,‬
‭pois,‬‭de‬‭uma‬‭parte,‬‭de‬‭tal‬‭forma‬‭nada‬‭se‬‭poderia‬‭deduzir;‬‭e,‬‭de‬‭outra‬‭parte,‬‭pela‬‭redução‬‭de‬‭um‬‭conteúdo‬
d‭ ado‬ ‭à‬ ‭vazia‬ ‭forma‬ ‭do‬ ‭conceito,‬ ‭seria‬‭esse‬‭conteúdo‬‭apenas‬‭despojado‬‭de‬‭sua‬‭determinidade,‬‭mas‬‭não‬
‭seria conhecido.‬‭(p. 292-293)‬

‭-‬ [‭ §187‬ ‭Anotação]‬ ‭Nas‬ ‭numero­sas‬ ‭descrições‬ ‭e‬ ‭explicações‬ ‭que‬ ‭Aristóteles,‬ ‭seguindo‬ ‭sua‬ ‭maneira‬
‭própria,‬‭fornece‬‭essencialmente,‬‭o‬‭predominante‬‭nele‬‭é‬‭sempre‬‭o‬‭conceito‬‭especulativo‬‭;‬‭nessa‬‭esfera‬‭ele‬
‭não‬ ‭deixa‬ ‭penetrar‬ ‭aquele‬ ‭silogizar‬ ‭do‬ ‭entendimento,‬ ‭que‬ ‭ele‬ ‭expôs‬ ‭primeiro‬ ‭de‬ ‭um‬ ‭modo‬ ‭tão‬
‭determinado.‬‭(p. 321)‬

‭-‬ [‭ §204‬ ‭Anotação]‬ ‭O‬ ‭fim‬ ‭exige‬ ‭uma‬ ‭apreensão‬ ‭especulativa,‬ ‭enquanto‬ ‭é‬ ‭o‬ ‭con­ceito,‬ ‭que‬ ‭contém,‬ ‭ele‬
‭mesmo,‬ ‭na‬ ‭própria‬ ‭unidade‬ ‭e‬ ‭idealidade‬ ‭de‬ ‭suas‬ ‭determinações,‬ ‭o‬ ‭juízo‬ ‭ou‬ ‭a‬ ‭negação,‬ ‭a‬‭oposição‬‭do‬
‭subjetivo e objetivo; e que é igualmente seu suprassumir.‬‭(p. 341)‬

‭-‬ [‭ §229‬ ‭Adendo]‬ ‭Assim‬ ‭Espinoza‬ ‭particularmente‬ ‭começa‬ ‭por‬ ‭definições‬ ‭e‬ ‭diz,‬ ‭por‬ ‭exemplo:‬ ‭“A‬
‭substância‬‭é‬‭causa‬‭sui‬‭”.‬‭Em‬‭suas‬‭definições‬‭está‬‭exposto‬‭o‬‭que‬‭há‬‭de‬‭mais‬‭especulativo,‬‭mas‬‭na‬‭forma‬
‭de asseverações. O mesmo vale também quanto a Schelling.‬‭(p. 361)‬

‭-‬ [‭ §231‬ ‭Adendo]‬ ‭Em‬ ‭Espinoza,‬ ‭que‬ ‭utilizou‬‭principalmente‬‭o‬‭método‬‭geométrico,‬‭e‬‭isso‬‭para‬‭conceitos‬


‭espe­culativos‬‭, o formalismo do método é chocante.‬‭(p. 362)‬

‭-‬ [‭ §235]‬‭Essa‬‭vida,‬‭que‬‭retornou‬‭a‬‭si‬‭mesma,‬‭a‬‭partir‬‭da‬‭diferença‬‭e‬‭da‬‭finitude‬‭do‬‭conhecimento,‬‭e‬‭pela‬
‭atividade do conceito tornou-se idêntica com ele, é a‬‭idéia especulativa ou absoluta‬‭.‬‭(p. 366)‬

‭-‬ [‭ §238]‬ ‭São‬ ‭estes‬ ‭os‬ ‭momentos‬ ‭do‬ ‭método‬ ‭especulativo:‬ ‭[vai‬ ‭do‬ ‭§238‬ ‭ao‬ ‭§242;‬ ‭a‬ ‭partir‬ ‭daí,‬ ‭vem‬ ‭o‬
‭parágrafo a seguir]‬‭(p. 368-370)‬

‭-‬ [‭ §243]‬ ‭O‬ ‭método‬ ‭é,‬ ‭dessa‬ ‭maneira,‬ ‭não‬‭uma‬‭forma‬‭exterior,‬‭mas‬‭a‬‭alma‬‭e‬‭o‬‭conceito‬‭do‬‭conteúdo,‬‭do‬


‭qual‬‭só‬‭difere‬‭enquanto‬‭os‬‭momentos‬‭do‬‭conceito‬‭vêm‬‭também‬‭neles‬‭mesmos‬‭,‬‭em‬‭sua‬‭determinidade‬‭,‬‭a‬
‭aparecer‬ ‭como‬ ‭a‬ ‭totalidade‬ ‭do‬ ‭conceito‬‭.‬ ‭Enquanto‬ ‭essa‬ ‭determi­nidade,‬ ‭ou‬ ‭o‬ ‭conteúdo,‬ ‭se‬ ‭reconduz‬
‭com‬ ‭a‬ ‭forma‬ ‭à‬ ‭idéia‬‭,‬ ‭esta‬ ‭se‬ ‭expõe‬ ‭como‬ ‭totalidade‬ ‭sistemática‬‭,‬ ‭que‬ ‭é‬ ‭somente‬ ‭uma‬ ‭idéia‬‭,‬ ‭cujos‬
‭momentos‬ ‭particulares‬ ‭tanto‬ ‭são‬ ‭em‬ ‭si‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭idéia,‬ ‭como‬ ‭produ­‬ ‭zem‬ ‭pela‬ ‭dialética‬ ‭do‬ ‭conceito‬ ‭o‬
‭ser-para-si‬ ‭simples‬ ‭da‬ ‭idéia.‬ ‭A‬ ‭ciência‬ ‭conclui‬ ‭desse‬ ‭modo,‬ ‭apreendendo‬ ‭o‬ ‭conceito‬ ‭dela‬ ‭mesma‬
‭como conceito da idéia pura, para a qual é a idéia‬‭.‬‭(p. 370)‬

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