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Enciclopédia das Ciências Filosóficas em Compêndio (1830)
Destaques emitálicosão de Hegel, emnegritoforaminseridos (por nós)
- [ §79]Alógicatem,segundoaforma,trêslados:a)oladoabstratooudoentendimento;b)odialético
ounegativamente-racional; c) oespeculativooupositivamenteracional.
Esses três lados não constituem três partes da Lógica, mas são momentos de todo [e qualquer]
lógico-real, isto é, de todo conceito ou de todo verdadeiro em geral. Eles podem ser postos
conjuntamentesoboprimeiromomento—odoentendimento—eporissosermantidosseparadosuns
dosoutros;mas,dessemodo,nãosãoconsideradosemsuaverdade.Aindicaçãoqueaquiéfeitasobre
asdeterminaçõesdológico—assimcomoa[sua]divisão—estáaquisomente[numaforma]antecipada
e histórica.
- [ §80]a)Opensarenquantoentendimentoficanadeterminidadefixaenadiferenciaçãodelaemrelação
a outra determinidade; um tal Abstrato limitado vale para o pensar enquanto entendimento como [se
fosse] para si subsistente e essente.
- [ §80Adendo]Quandosetratadopensaremgeral,oumaisprecisamentedoconceituar,costuma-secom
freqüência,nessecaso,terdiantedosolhossimplesmenteaatividadedoentendimento.Ora,éevidente
queopensaré,antesdetudo,pensardoentendimento;sóqueopensarnãoficanisso,eoconceitonãoé
simples determinação-de-entendimento. A atividade do entendimento consiste em conferir a seu
conteúdoaformadauniversalidade;e,naverdade,ouniversalpostopormeiodoentendimentoéalgo
abstratamente universal, que como tal é sustentado em contraposição ao particular, mas, por isso
também,denovodeterminadoaomesmotempocomoparticular,elemesmo.Enquantooentendimento
se refere aseusobjetos,separandoeabstraindo,eleéocontráriodaintuiçãoesensaçãoimediata,que
como tal só lida exclusivamente com o concreto e nele permanece.
A essa oposição entreoentendimentoeasensaçãoreferem-seessasdenúncias,tantasvezesrepetidas,
quesecostumamdirigircontraopensaremgeral,equevêmadarnisto:dequeopensarseriarígidoe
unilateral, e levaria, em sua conseqüência, a resultados funestos e demolidores. A tais denúncias, na
medida em que são justificadas segundo seu conteúdo, pode-se, antes de mais nada, replicar quepor
meio delas não é atingido o pensar em geral — e, maisprecisamente,opensarracional—,massóo
pensardoentendimento.Noentanto,alémdissoháquereconhecer,antesdetodasascoisas,tambémao
pensarpuramentedoentendimento,seudireitoemérito—quedemodogeralconsisteemque,tantono
domíniopráticoquantonoteórico,sementendimentonãosechegaanenhumafixidezedeterminidade.
Nesse caso, no que concerneprimeiroaoconhecer,elecomeçaporapreenderosobjetospresentesem
suasdiferençasdeterminadas;eassim,porexemplo,noestudodanatureza,matéria,forças,gênerosetc.
são diferenciadosefixadosparasimesmosnesseseuisolamento.Opensarprocede,nessecaso,como
entendimento,eoprincípiodesseúltimoéaidentidade,arelaçãosimplesparaconsigomesmo.Depois,
étambémporessaidentidadequenoconhecimentoécondicionadaantesdetudoaprogressãodeuma
determinaçãoparaaoutra.Assim,notadamentenamatemática,agrandezaéadeterminaçãosegundoa
qual seavança[noraciocínio]comabandonodetodasasoutras.Nageometriacomparam-se,porisso,
as figuras entre si, destacando assim o idêntico nelas. Também em outros campos do conhecer, por
exemplo na jurisprudência, avança-se na identidade. Enquanto aqui se conclui de uma determinação
para a outra, esse silogismo não é outra coisaqueumaprogressãosegundooprincípiodeidentidade.
Como no [campo] teórico, tampouco no prático não há quefaltaroentendimento.Paraagirépreciso
essencialmente caráter,eumhomemdecaráteréumhomemdeentendimento,quecomotaltem,ante
os olhos, fins determinados e os persegue com firmeza. ComodizGoethe,quemqueralgodegrande
devepoderlimitar-se.Quemaocontrárioquertudo,defatonadaquer;eissonãolevaanada.Háuma
multidão de coisas interessantes no mundo: poesia espanhola, química, política, músicas; tudo isso é
muitointeressante,enãosepodelevaramalquemseinteressaporisso.Maspararealizaralgumacoisa,
comoumindivíduoemumasituaçãodeterminada,deveater-seaalgodeterminadoenãodispersarsua
força por muitos lados. Igualmente é importante, em qualquer profissão,quesejadesempenhadacom
entendimento.Assim,porexemplo,ojuizdeveater-seàlei,darsuasentençadeacordocomela,enão
s e deixar desviar por uma coisa ou por outra; não admitir desculpaalguma,[julgar]semolharparaa
direita ou para a esquerda.
Alémdisso,oentendimentoé,emgeral,ummomentoessencialdacultura.Umhomemcultivadonãose
satisfaz com o nebuloso e o indeterminado, mas apreende os objetos em sua determinidade fixa;
enquanto, ao contrário, o homem não cultivado oscila para lá e para cá, sem segurança, e com
freqüência custa muito esforço entender-se com uma pessoa dessas sobre o assunto de que se fala,e
levá-la a manter fixamente ante os olhos o ponto determinado de que se trata.
Ora,comoalémdisso,emconseqüênciadediscussãoanterior,ológicoemgeralnãoháqueapreender
simplesmente nosentidodeumaatividadesubjetiva,masantescomooabsolutamenteuniversale,por
isso, ao mesmo tempo objetivo, isso encontra também sua aplicação no entendimento, essa primeira
forma do lógico. O entendimento, portanto, há de considerar-se como correspondente àquilo que se
chama a bondade de Deus, enquanto por isso se entende que as coisas finitas são,queelastêmuma
subsistência. Assim se reconhece, por exemplo, na natureza a bondade de Deus, em que as diversas
classes e gêneros, tanto de animais como de plantas, são providos de tudo que precisam para
conservar-se e prosperar.Omesmosedácomohomem,comosindivíduosecompovosinteiros,que
igualmente,porumaparte,encontramalioqueéprecisoparasuasubsistênciaedesenvolvimento,como
algo imediatamente dado (como por exemplo clima, constituição naturaleprodutosdaregião);e,por
outra parte, possuem-no como disposição, talento etc. Compreendido desse modo, o entendimento
mostra-se então, de uma maneira geral, em todos os domínios do mundo objetivo, e pertence
essencialmenteàperfeiçãodeumobjetoquetenhaemsi,[reconhecido]porseudireito,oprincípiodo
entendimento. Assim, por exemplo, o Estado é imperfeito, se nele não se chegou ainda a uma
determinada diferenciação dos estamentos e das profissões; e as funções políticas e de autoridade,
diferentessegundooconceito,nãoestãoainda,domesmomodo,desenvolvidasemórgãosparticulares;
assim como, por exemplo, sucede com oorganismoanimaldesenvolvido,comasdiversasfunçõesda
sensibilidade, do movimento, da nutrição.
Dadiscussãoanteriorpode-seentãoconcluirquetambémemtaisdomínioseesferasdaprática—que
segundo a representação corrente parecem estar situados o mais longe [possível] doentendimento—
não lhes pode faltar contudooentendimento;e,namedidaemquetalocorre,issopodeconsiderar-se
uma deficiência. O que vale notadamente para a arte, a religião, e a filosofia. Assim na arte, por
exemplo, o entendimento se mostra em que as diversas formas do belo, segundo o seu conceito, são
mantidas e expostas em sua diferença. Também vale o mesmo das obras- -de-arte singulares. Por
conseguinteexige-se,paraabelezaeperfeiçãodeumapoesiadramática,queoscaracteresdosdiversos
personagens se desenvolvam em sua pureza e determinidade, e igualmente que os diversos fins e
interesses de que setrataexponham-seclaraedistintamente.Noquetoca,muitodeperto,aodomínio
religioso — abstraindo aliás da diversidade de conteúdo e da [sua] apreensão —, a superioridade da
mitologia grega sobre a nórdica consiste essencialmente em que na primeira as figuras divinas
singulares são desenvolvidas em determinidade plástica, enquanto na última fluem umas através das
outras na névoa de turva indeterminidade. Enfim, que a filosofia também não pode dispensar o
entendimento, conforme a discussão precedente, quase não precisa de menção particular. Para o
filosofarrequer-seantesdetudoquecadapensamentosejaapreendidoemsuaprecisãocompleta,eque
não se fique no vago e no indeterminado.
Antes disso, costuma-se também dizer que o entendimento não deve ir longe demais, e nissoestáde
correto que o âmbito do entendimento não é decerto algo de último, mas antes é finito; e, mais
precisamente, é de uma espécie que ao ser levado a seu extremo se converte em seu contrário. E a
maneira [de agir própria] da juventude: lançar-se em abstrações de um lado e de outro, quando, ao
contrário, o homem de experiência na vida não se deixa levar pelo abstrato ou-ou, mas se atém ao
concreto.
- [ §81]b)Omomentodialéticoéoprópriosuprassumir-sedetaisdeterminaçõesfinitaseseuultrapassar
para suas opostas. 1º) O dialético, tomado para si pelo entendimento separadamente, constitui o
cepticismo — sobretudo quando é mostrado em conceitos científicos: o cepticismo contém asimples
negação como resultado do dialético. 2º) A dialética é habitualmente considerada como uma arte
exterior, que por capricho suscita confusão nos conceitos determinados, e uma simples aparência de
contradiçõesentreeles;modoquenãoseriamumanulidadeessasdeterminaçõesesimessaaparência;e
ao contrário seria verdadeiro o que pertence ao entendimento. Muitas vezes, a dialética também não
passa de um sistema subjetivo de balanço, de um raciocínio que vai para lá e para cá, onde falta o
c onteúdo, e a nudez é recoberta por essa argúcia que produz tal raciocínio. Em sua determinidade
peculiar, a dialéticaéantesanaturezaprópriaeverdadeiradasdeterminações-do-entendimento—das
coisas e do finito em geral.Areflexãoé,antesdetudo,oultrapassarsobreadeterminidadeisolada,e
um relacionar dessa última pelo qual ela é posta em relação — embora sendo mantida em seu valor
isolado.Adialética,aocontrário,éesseultrapassarimanente,emqueaunilateralidade,alimitaçãodas
determinações do entendimento é exposta como ela é, isto é, comosuanegação.Todoofinitoéisto;
suprassumir-seasimesmo.Odialéticoconstituipoisaalmamotrizdoprogredircientífico;eéoúnico
princípiopeloqualentramnoconteúdodaciênciaaconexãoeanecessidadeimanentes,assimcomo,no
dialético em geral, reside a verdadeira elevação — não exterior — sobre o finito.
- [ §81Adendo]Édamaisaltaimportânciaapreendereconhecerdevidamenteodialético.Odialético,em
geral, é o princípio de todo o movimento, de toda a vida, e de toda a atividade na efetividade.
Igualmente, o dialético é também a alma de todo o conhecer verdadeiramente científico. Em nossa
consciência, o [fato de] nãoseateràsdeterminaçõesabstratasdoentendimentoaparececomosimples
retidão,conformeoadágio:“viveredeixarviver”,demodoqueumvaleetambémooutro.Masoque
estámaispróximo[daverdade]équeofinitonãoélimitadosimplesmentedefora,massesuprassume
porsuapróprianatureza,eporsimesmopassaaoseucontrário.Diz-se,assim,porexemplo:ohomemé
mortal, e considera-se então o morrer como algo que tem sua razão-de-ser apenas nas circunstâncias
exteriores;e,conformeessemododeconsiderar,sãoduaspropriedadesparticularesdohomem:servivo
etambémser mortal.
Masaverdadeiracompreensãoéesta:queavidacomotaltrazemsiogérmendamorte,equeemgeral
o finito se contradiz em si mesmo, e por isso se suprassume. Ora, além disso, a dialética não pode
confundir-se com a simples sofistica, cuja essência consisteemfazervalerporsi,emseuisolamento,
determinações unilaterais e abstratas —segundooqueimplicacadavezointeressedoindivíduoede
suasituaçãoparticular.Éassim,porexemplo,emrelaçãoaoagirummomentoessencial,queeuexistae
tenhaosmeiosparaaexistência.Masseentãoeufaçoressaltarporsimesmoesselado,esseprincípio
deminhafelicidade,ededuzodaíaconseqüênciaqueeupossoroubaroutrairminhapátria,issoéuma
sofistaria.Igualmente,emmeuagir,minhaliberdadesubjetiva,nosentidoemqueeuestounoquefaço,
com meu discernimento e minha convicção,éumprincípioessencial.Mas,seraciocinoapartirdesse
princípiounicamente, isso é também uma sofistaria,e todos os princípios da vida ética são arruinados.
Adialéticaéessencialmentediversadeumtalagir,poiselatendejustamenteaconsiderarascoisasem
si e para si; e aí se descobre então a finitude das determinações unilaterais do entendimento. Aliása
dialética não é nada de novo na filosofia. Entre os antigos, Platão é designado como o inventor da
dialética, e isso com justiça, enquanto na filosofiaplatônicaadialéticapelaprimeiravezseapresenta
em uma forma científica livre e, por isso, ao mesmo tempo objetiva. Em Sócrates, o [procedimento]
dialéticoemconsonânciacomocarátergeraldoseufilosofartemaindaumafigurapredominantemente
subjetiva,asaber,adaironia.Sócratesdirigiasuadialéticaprimeirocontraaconsciênciaordinária,em
geral,e,emseguida,particularmentecontraossofistas.Emsuasconversaçõescostumavaentãotomara
aparênciadequererinstruir-semaisexatamentesobreaCoisadequesefalava.Apropósito,punhatodo
o tipo de questõeseconduziaassimaquelescomqueseentretinhaaoopostodoqueinicialmentelhes
tinha aparecido como o justo. Quando, por exemplo, os sofistas se chamavam mestres, Sócrates, por
uma série de questões, levava o sofista Protágoras a ter de conceder que todo o aprender era
rememoração. Platão mostra em seguida em seus Diálogos rigorosamente científicos,pelotratamento
dialéticoemgeral,afinitudedetodasasdeterminaçõesfixasdoentendimento.Assim,porexemplo,em
Parmênides, ele deduz do uno o múltiplo, e mostra apesar disso como o múltiplo é apenas isto:
determinar-secomoouno.ComtalmaneiragrandiosaPlatãotratouadialética.Nostemposmodernos,
foiKantsobretudoquetrouxedenovoadialéticaàmemória,eainstauroudenovoemsuadignidade,e
isso por meio do desenvolvimento—jádiscutido(§48)—dasassim-chamadasantinomiasdarazão;
em que não se trata, demodoalgum,deumsimplesvaivémentrerazões,nemdeumagirmeramente
subjetivo,masantes[setrata]demostrarcomotodaadeterminaçãoabstratadeentendimento—tomada
somente como ela se dá a si mesma — se converte imediatamente em sua oposta.
Por mais que o entendimento costume opor resistência à dialética, ela não pode,demodoalgum,ser
consideradacomopresentesimplesmenteparaaconsciênciafilosófica;masantes,aquilodequesetrata
aqui, já se encontra também em qualquer outra consciência, e na experiência universal.
Tudooquenosrodeiapodeserconsideradocomoumexemplododialético.Sabemosquetodoofinito,
em lugar de ser algo firme e último, é antes variávelepassageiro;enãoéporoutracoisasenãopela
d ialéticadofinitoqueele,enquantoéemsioOutrodesimesmo,élevadotambémparaalémdoqueele
é imediatamente, e converte-se em seu oposto. Se foi dito antes (§ 80)queoentendimentopodiaser
consideradocomooqueestácontidonarepresentaçãodabondadedeDeus,assimháquenotaragora[a
respeito] da dialética, tomada no mesmo sentido (objetivo), que seu princípio corresponde à
representaçãodapotênciadeDeus.Dizemosquetodasascoisas(istoé,todoofinitoenquantotal)vãoa
juízo, e temos nisso aintuiçãodadialéticacomodapotênciauniversalirresistíveldiantedaqualnada
pode resistir — por seguro e firme que se possa julgar. Com essa determinação sem dúvidanãoestá
aindaesgotadaaprofundezadaessênciadivina—oconceitodeDeus—;maselaforma,nacerta,um
momento essencial em toda a consciência religiosa.
Alémdomais,adialéticasefazvigenteemtodasasesferaseformaçõesdomundonaturaledomundo
espiritual.Assim,porexemplo,nomovimentodoscorposcelestes.Umplanetaestáagoranestaposição,
poréméemsi[pornatureza]estartambémemoutraposição;e,movendo-se,levaàexistênciaesseseu
ser-Outro. Do mesmo modo, os elementos físicos se mostram como dialéticos, e o processo
meteorológico é aapariçãodesuadialética.Eomesmoprincípioqueformaabasedetodososoutros
processosnaturais;epeloqual,aomesmotempo,anaturezaéimpelidaparaalémdesimesma.Noque
tocaàpresençadadialéticanomundodoespírito,emaisprecisamentenoâmbitodojurídicoedoético,
basta recordar aquicomo,emvirtudedaexperiênciauniversal,oextremodeumestadooudeumagir
costuma converter-se em seu contrário; [uma] dialética que com freqüência encontra seu
reconhecimento nos adágios. Diz-se, assim, por exemplo: summum jus, summa injuria; pelo que se
exprime que o direito abstrato, levado a seu extremo, se converte em agravo. Igualmente é bem
conhecido como, no [campo] político, osextremosdaanarquiaedodespotismocostumamsuscitar-se
mutuamente, um ao outro. A consciência da dialética no âmbito da ética, em sua figura individual,
encontramos nestes adágios bem conhecidos portodos:“Oorgulhoprecedeaqueda”;“Lâminaafiada
demaisficacega”,etc.Tambémasensibilidade—tantocorporalcomoespiritual—temsuadialética.
Pois,bemconhecidocomoosextremosdedoredealegriapassamumparaooutro;ocoraçãocheiode
alegriasealiviaemlágrimas,eatristezamaisíntimacostuma,emcertascircunstâncias,revelar-sepor
um sorriso.
- [ Adendo 2] O cepticismo não pode ser considerado simplesmente como uma doutrina-da-dúvida; ele
está,antes,absolutamentecertodesuaCoisa,istoé,danulidadedetodoofinito.Quemsomenteduvida
estáaindanaesperançadequesuadúvidapoderáserresolvida,equeumaououtradasdeterminações
entreasquaisoscilasemostrarácomoalgofirmeeverdadeiro.Aocontrário,ocepticismopropriamente
ditoéodesesperorematadodetudooquehádefirmenoentendimento,eosentimentodaíresultanteé
o da imperturbabilidade e do repousar em si mesmo. Este é o alto e antigo cepticismo, tal como
encontramosrepresentadonotadamenteemSextoEmpíricoetalcomorecebeuseudesenvolvimentona
época romana posterior, como complemento dos sistemas dogmáticosdosestóicoseepicuristas.Com
essealtocepticismoantigo,nãopodeserconfundidoocepticismomodernoanteriormentemencionado
(§ 39) — por um lado, anterior à filosofia crítica; por outro lado, procedente dela — que consiste
simplesmente em negar a verdade e a certeza do supra- sensível; e, inversamente, em designar o
sensível, e o que é dado na impressão imediata, como aquilo a que nos devemos ater.
Aliás,seocepticismoaindaéhojeemdiaconsideradouminimigoirresistíveldetodoosaberpositivo
emgeral,eportantotambémdafilosofia,namedidaemquenelasetratadeconhecimentopositivo,há
que notar, ao contrário, que de fato só tem a temer o cepticismo o pensar finito e abstrato do
entendimento,omesmoquenãolhepoderesistir;enquantoafilosofiacontémnelaocépticocomoum
momento,asaber,comoodialético.Masafilosofianãoficaentãonoresultadopuramentenegativoda
dialética,comoéocasocomocepticismo.Estedistorceseuresultado,enquantoosustentacomouma
negação simples — quer dizer, abstrata. Enquanto a dialética tem por resultado o negativo — queé,
justamente enquanto resultado, ao mesmo tempo positivo, porque contém, comosuprassumidoemsi,
aquilo de que resulta, e não é semele.Istoporéméadeterminaçãofundamentaldaterceiraformado
lógico, ou seja, doespeculativoou positivamente-racional.
- [ §82] O especulativo ou positivamente racional apreende a unidade terminações em sua oposição: o
afirmativoqueestácontidoemsuaresoluçãoeemsuapassagem[aoutracoisa].1º)Adialéticatemum
resultado positivo por ter um conteúdo determinado, ou por seu resultado na verdade não ser onada
vazio, abstrato, mas a negação de certas determinações que são contidas no resultado, precisamente
porque este não é um nada imediato, mas umresultado.2º)Esseracional,portanto,emborasejaalgo
p ensado — também abstrato —, é ao mesmo tempo algo concreto, porque não é unidade simples,
formal, mas unidade de determinações diferentes. Por isso a filosofia em geral nada tem a ver,
absolutamente, com simples abstrações ou pensamentos formais, mas somente com pensamentos
concretos. 3º) Na Lógica especulativa, a simples Lógica de entendimento está contida e pode ser
construída a partir dela; para isso não é preciso senão deixar de lado o dialético e racional; torna-se
assimoqueéaLógicaordinária,umahistóriadevariadasdeterminaçõesdepensamentoreunidas,que
em sua finitude valem por algo infinito.
- [ Adendo] Segundo seu conteúdo, o racional tampouco é simplesmente uma propriedade da filosofia,
que se deve antesdizerqueeleestápresenteparatodososhomens,emqualquerníveldaculturaedo
desenvolvimento espiritual em que possamencontrar-se.Nessesentido,comjustarazão,ohomemfoi
designado desde sempre como um ser racional. A maneira empiricamente universal de saber sobre o
racional é, em primeiro lugar, a maneira do preconceito e da pressuposição, e em conseqüência de
discussão anterior (§ 45)ocaráterdoracionalé,emgeral,serumincondicionado,eporissoalgoque
contém em si mesmo sua determinidade. Nesse sentido, o homem, antes de todas as coisas, sabe o
racional; na medida em que sabe de Deus, e sabe a Deus como determinado absolutamente por si
mesmo.Igualmente,alémdisso,osaberqueumcidadãotemdesuapátriaedesuasleiséumsaberdo
racional,namedidaemqueessasvalemparaelecomoumincondicionado,eaomesmotempocomoum
universal,aoqualdevesubmeter-secomsuavontadeindividual.Nomesmosentido,osaberequererda
criança já é racional, enquanto sabe a vontade de seus pais, e quer essa vontade.
Além disso, o especulativo em geral, não é outra coisa que o racional (e, na verdade, que o
positivamente-racional) enquanto esse é pensado.Navidaordinária,otermoespeculaçãocostumaser
usadoemumsentidomuitovagoe,aomesmotempo,inferior.Assim,porexemplo,quandosefalade
especulações matrimoniais ou comerciais, não se entende por isso outra coisa que não seja, de uma
parte,quesedeveiralémdoimediatamentedado;e,deoutraparte,queoqueformaoconteúdodetais
especulações é, em primeiro lugar, somente algo subjetivo; contudo não deve ficar assim, mas ser
realizado ou transposto em objetividade.
Quanto a esse uso corrente da língua, a respeito das especulações, aplica-se o mesmo que foi antes
notado a propósito da idéia;aissoseligaaindaumaobservaçãoulterior:muitasvezespessoasquése
contam já como as mais cultivadas falam também da especulação, expressamente no sentido de algo
puramentesubjetivo.Dessemodo,ouve-sedizerqueumacertacompreensãodasituaçãoedasrelações
naturais ou espirituaispoderiasermuitobelaejustatomadademodosimplesmenteespeculativo;mas
queaexperiêncianãoestádeacordocomela,equenaefetividadenãosepodeadmitirumacoisacomo
essa.Aocontrário,háquedizerqueoespeculativo,segundosuaverdadeirasignificação,nãoé—nem
demodoprovisório,nemtambémdefinitivo—algopuramentesubjetivo;masé,antes,expressamenteo
que contém em si mesmo, como suprassumidas, aquelas oposições em que o entendimento fica
[imobilizado] —porconseguinte,tambémaoposiçãodesubjetivoeobjetivo,ejustamenteporissose
mostracomoconcretoecomototalidade.Poressemotivo,umconteúdoespeculativonãopodetambém
ser expresso em uma proposição unilateral. Se dizemos, por exemplo, que o absoluto éaunidadedo
subjetivo e do objetivo, é sem dúvida correto; contudo é unilateral, na medida em que somente a
unidadeestáexpressaaqui,eoacentoestápostonela;quando,defato,osubjetivoeoobjetivonãosão
somente idênticos, mas também diferentes.
A respeito da significação do especulativo,háquemencionaraquiquesetemdeentender,porisso,o
mesmoqueantessecostumavadesignarcomomístico—sobretudoemrelaçãoàconsciênciareligiosae
a seu conteúdo. Hoje em dia, quando se falademístico,esseemregrageralcontacomosinônimode
misterioso e inconcebível, e esse misterioso e inconcebível é então, segundo aliás a diversidade da
culturaedamentalidade,consideradoporumcomoautênticoeverdadeiro,poroutrocomosuperstição
eilusão.Deve-senotarapropósito,antesdetudo,queomísticosemdúvidaéalgomisterioso;contudo,
só para o entendimento, e de fato simplesmente porque a identidade abstrata é o princípio do
entendimento, enquanto o místico (como sinônimo do especulativo) é a unidade concreta dessas
determinações que para o entendimento só valem como verdadeiro em sua separação e oposição. Se
entãoosquereconhecemomísticocomoverdadeironãovão,igualmente,além[danoção]dequeéalgo
absolutamente misterioso, por sua parte, está assim declarado somente que o pensar tem para eles a
significaçãodo[ato]abstrato[de]pôr-o-idêntico;eque,poressemotivo,paraalcançaraverdade,deve-
-se renunciar ao pensar, ou, como também se costuma dizer, deve-setomarcomoprisioneiraarazão.
Ora,comovimos,opensarabstratodoentendimentoétãopoucoalgodefirmeedeúltimo,queantesse
ostracomooconstantesuprassumirdesimesmoecomoreverteremseuoposto;quantoaocontrário,
m
o racional como tal, consiste justamente em conter em si mesmo os opostos como momentos ideais.
Todooracional,porisso,podeaomesmotemposerdesignadocomomístico;mascomissosomentese
diz que vai além do entendimento, e de modo algum que o racionalsejaaconsideraremgeralcomo
inacessível e inconcebível para o pensar.
- [ Adendo] A divisão aqui indicada da Lógica, como toda a discussão anterior sobre o pensar, há que
considerar-se como uma simples antecipação. Sua justificação, ou prova, somente pode resultar do
exame, levado a termo, do pensamento mesmo; porque provar significa em filosofia o mesmo que
mostrarcomooobjetosefaz—porsimesmoedesimesmo—oqueeleé.Arelaçãoemqueostrês
graus principais, aqui mencionados, do pensamento ou da idéia lógica estão entre eles, há de
compreender-seemgeralassim:sóoconceitoéoverdadeiro,e,maisprecisamente,éaverdadedosere
da essência; estes dois, fixados em seu isolamento para si mesmos, são por isso a considerar como
não-verdadeiros: o ser, porque só ele enfim é o imediato; e a essência, porque só ela, enfim, é o
mediatizado. Poder-se-ia levantar quanto a isso a questão: por que, sendo assim, se começa pelo
não-verdadeiro,enãologopeloverdadeiro?Aissoserveporrespostaqueaverdade,justamentecomo
tal,temdeverificar-se,verificaçãoqueaqui,nointeriordológico,consisteemqueoconceitosemostre
como o que é mediatizado por si mesmo e consigo mesmo, e por isso, ao mesmo tempo, como o
verdadeiramenteimediato.Nafiguraconcretaereal,arelação,aquimencionada,dostrêsgrausdaidéia
lógicasemostrademodoqueDeus,queéaverdade,sóéconhecidonessasuaverdade—istoé,como
espíritoabsoluto—namedidaemquenósreconhecemosaomesmotempocomonão-verdadeiros,em
sua diferença para com Deus, o mundo por ele criado, a natureza e o espírito finito.
- É própriodemauspreconceitos[acreditar]queafilosofiaseencontreemoposiçãoaumconhecimento
experimental sensível, à efetividade racional do direito, e a uma espontânea religiãoepiedade.Essas
figurassãoreconhecidas,emesmojustificadas,pelafilosofia;osentidopensanteaprofunda-seantesem
seuconteúdo,aprendeesefortalecenelas,assimcomonasgrandesintuiçõesdanatureza,dahistóriae
da arte. Com efeito, esse sólido conteúdo, enquanto é pensado, é a própriaidéia especulativa.(p. 17-18)
- C iteiaexposiçãodoSr.Tholuck,emparteporquecasualmentemeestámaisperto,eemparteporqueo
profundo sentimento, que parece colocar seus escritos no lado totalmente oposto ao
da,teologia-do-entendimento, é o mais próximo da profundidade [espiritual]. Com efeito, sua
determinação fundamental, a reconciliação — que não é o ser originário incondicionado, nem um
abstrato semelhante —, é o próprio conteúdo que a idéia especulativa é, e que ela exprime
pensamento.(p. 21-22, nota de rodapé)
- N o entanto, o proceder de Brucker [no livro Johann Jacob Brucker, História critica philosophiae, 5
vols., Leipzig, 1742 a 1744, 2ª ed., 1766.Apêndice1767]nãoédespropositadosimplesmenteporque
aqueles filósofos [da História da Filosofia] não tiraram eles mesmos as consequências que deveriam
residir em seus princípios e não os enunciaram expressamente, mas antes porque com tal deduzir
silogísticoselhesimputaum[modode]admitireutilizaressasrelações-de-pensamentosobreafinitude,
oqualédiretamentecontrárioaosentidodosfilósofos,queeramdeespíritoespeculativo;e[ummodo
que], antes, só vicia e falsifica a idéia filosófica.(p. 24)
- P ode-seestimarcomoumméritoparticularqueoSr.FranzvonBaadercontinuenãoapenasatrazertais
formas à lembrança, mas, com um profundo espírito especulativo, [a trazer] expressamente seu
conteúdo às honras da ciência, ao expor e a corroborar, a partir delas, a idéia filosófica.(p. 29)
- [ §9] O refletir, na medida em que visa a proporcionar satisfação a essa necessidade [Bedürfnis] é o
pensamentopropriamentefilosófico,opensamentoespeculativo.Porisso,comoreflexão,que,emsua
naturezacomumcomaquelaprimeirareflexão,aomesmotempoédiferentedela,tem,foradasformas
comuns, tambémformas peculiarescuja forma universalé oconceito.
Arelaçãodaciênciaespeculativacomasoutrasciênciassóexisteenquantoaciênciaespeculativanão
deixa,comodelado,oconteúdoempíricodasoutras,masoreconheceeutiliza;eigualmentereconhece
o universal dessas ciências — as leis, os gêneros, etc. — e o utiliza para seu próprio conteúdo; mas
também,alémdisso,nessascategoriasintroduzefazvaleroutras.Adiferençarefere-se,nessamedida,
somente a essa mudança das categorias. A Lógica especulativa contém a Lógica e a Metafísica de
outrora;conservaasmesmasformas-de-pensamento,leiseobjetos,masaomesmotempoaperfeiçoando
etransformandocomoutrascategorias.Deve-sedistinguirdoconceito,nosentidoespeculativo,oque
habitualmente é chamado conceito. E no último sentido, unilateral, que se pôs e repetiu milhares e
milhares de vezes, e se erigiu em preconceito, queoinfinitonãopodesercompreendidopormeiode
conceitos.
- [ §28Adendo]Ora,noquetocamaisprecisamenteaoprocedimentodaquelaantigametafísica,deve-se
notaraesserespeitoqueelanãoultrapassaopensarmeramentedoentendimento.Elaacolhiademodo
imediato as determinações-de-pensamento abstratas, e lhes dava o valor de serem predicados do
verdadeiro. Quando se trata do pensar, deve-se distinguir o pensar finito meramente do
entendimento,dopensarinfinito,racional.Asdeterminações-do-pensamento,taiscomoseachamde
modo imediato e singularizado, são determinações finitas. Ora, o verdadeiro é o infinitoemsi,que
nãosedeixaexprimirnemtrazeràconsciênciaatravésdofinito.Aexpressão“p ensamentoinfinito”
pode parecer chocante, quando se está aferrado à representação da época moderna, segundo a qualo
pensar seria sempre limitado. Ora de fato, segundo sua essência, o pensar é em si infinito. Finito
significa—expressoformalmente—aquiloquetemumfim;oqueé,masquedeixadeserondeestá
em conexão com seu Outro, e por conseguinte é limitado por ele. Assim, o finito consiste em uma
relação ao seuOutro,queésuanegaçãoeseapresentacomoseulimite.Masopensarestájuntodesi
mesmo,consigomesmoserelaciona,etemasimesmoporobjeto.Enquantotenhoumpensamentopor
objeto,euestoujuntoamimmesmo.OEu,opensar,éinfinito,pelomotivodequesereferenopensar
aumobjetoqueéelemesmo.ObjetoemgeraléumOutro,umnegativoemrelaçãoamim.Seopensar
pensa a si mesmo, então tem um objeto que aomesmotemponãoéumobjeto;istoé,[tem]um
objetosuprassumido,ideal.Opensarcomotal,emsuapureza,nãotempois,emsi,nenhumlimite.O
pensamento só é finito na medida em que permanece em determinações finitas, que valem para ele
como algo de último. Ao contrário,opensarinfinitoouespeculativo,igualmentedetermina;masao
determinar, ao limitar, suprassume de volta essa deficiência. A infinitude não se deve, como na
representação habitual, apreender como umabstratoAlémesempre-mais-Além;massegundoa
maneira simplescomo a que foi indicada anteriormente.(p. 91)
- [ §31 Anotação] Aliás, a forma da proposição, ou mais precisamente a do juízo, é imprópria para
exprimir o concreto — e o verdadeiro é concreto — e o especulativo: o juízo é, por sua forma,
unilateral; e nessa medida é falso.(p. 93-94)
- [ §32 Adendo] O dogmatismo teve seu contrário primeiramente no cepticismo. Os cépticos da
Antiguidade chamavam em geral dogmatismotodaequalquerfilosofia,enquantoelaestabeleciateses
determinadas. Nesse sentido amplo, também a filosofia propriamente especulativa conta como
dogmáticaparaocepticismo.Masodogmático,nosentidoestrito,consisteemqueasdeterminações
unilaterais de entendimento são retidascomexclusãodasdeterminaçõesopostas.Emgeral,éoestrito
ou [uma coisa] ou [outra], e em conformidade com isso diz-se, por exemplo:omundoouéfinitoou
infinito, mas somente um dos dois. O verdadeiro,oespeculativo,aocontrário,éjustamenteoque
não tem em si nenhumadeterminaçãounilateraldessetipo,enissonãoseesgota;masenquanto
totalidade contém nele reunidas aquelas determinações que para o dogmatismo valem em sua
separação como algo firme e verdadeiro.
Nafilosofia,dá-sefrequentementeocasodequeaunilateralidadevepôr-seaoladodatotalidadecoma
alegação de ser algo particular e firme em relação a ela.Mas,defato,ounilateralnãoéalgofirmee
subsistente por senão que está contido no todo, como suprassumido. O dogmatismo ou
metafísica-de-entendimento consiste em fixar em seu isolamento as determinações unilaterais de
pensamento,quando,aocontrário,oidealismooufilosofiaespeculativapossuioprincípiodatotalidade,
e semostracomodominandoaunilateralidadedasdeterminaçõesabstratasdoentendimento.Assim,o
idealismo dirá:aalmanemésófinitanemésóinfinita,masessencialmentetantouma[coisa]quanto
também a outra, e, por isso,nemumaneméoutra.Querdizer:taisdeterminaçõesnãosãoválidasem
seu isolamento, e só valem como suprassumidas. Também em nossa consciência ordinária já se
encontraoidealismo.Emconsequênciadizemosdascoisassensíveisquesãomutáveis,istoé,quelhes
advém o ser como o não-ser. Somos mais obstinados a respeito das determinações-do-entendimento.
Essas, enquanto determinações-de-pensamento, passam por algo de mais fixo, mesmo por algo
absolutamente fixo. Nós as consideramos como separadas por um abismo infinito, de modo que as
determinações se contrapõemumaàsoutras,enãopodemnuncatocar-se.Alutadarazãoconsisteem
sobrepujar o que o entendimento fixou.(p. 94)
- [ §55 Anotação] A Crítica da faculdade de julgar tem de notável que Kant exprimiu nela a
representação,emesmoopensamento,daidéia.Arepresentaçãodeumentendimentointuitivo,deuma
finalidadeinternaetc.éouniversalpensadoaomesmotempocomoconcretoemsimesmo.Porisso,a
filosofia kantiana só se mostraespeculativanessasrepresentações.
- [ §88Anotação]3–Pode-sefacilmentedizerquenãoseconcebeaunidadedoseredonada.Contudo,
seu conceito está exposto nos parágrafos precedentes, e nada mais é que o exposto: conceber sua
unidadenãosignificaoutracoisaquecompreenderisso.Masentende-seporconceberaindaalgoa
mais que o conceito propriamente dito: exige-se uma consciência mais diversificada, mais rica,
umarepresentação;demodoqueumtalconceitosejamostradocomoumcasoconcreto,comoqual
opensar,emsuapráxishabitual,estivessefamiliarizado.Namedidaemqueo“não-poder-conceber”só
exprime a falta de hábito de reter pensamentos abstratos sem qualquer mescla sensível, e de
apreender proposições especulativas, nadahámaisadizersenãoqueogênerodosaberfilosóficoé,
semdúvidaalguma,diferentedogênerodosaberaqueseestáhabituadonavidaordinária,como
também do que predomina nas outras ciências.(p. 182)
4 – Mas há que notar ainda que a expressão “ser e nada são o mesmo”, ou: “a unidadedoseredo
nada”, e igualmente todas as outras unidades semelhantes, a de sujeito e objeto etc. são com razão
chocantes,porqueodistorcidoeoincorretoresidememquesefazressaltaraunidade;eadiversidade,
aíestá,semdúvida(poisé,porexemplo,serenada,cujaunidadeéposta).Porémessadiversidadenãoé
aomesmotempoexpressaereconhecida,equeportantodelasóseabstraiindevidamente.Adiversidade
parece não ser tomada em consideração.
- D efato,umadeterminaçãoespeculativanãoseexprimecorretamentenaformadeumatalproposição:a
unidade deve ser apreendida na diversidade ao mesmo tempo dada e posta.(p. 183)
- [ §96 Adendo] Essa ambiguidade no uso da língua, segundo a qual a mesma palavra tem uma
significação negativa e umasignificaçãopositiva[comonocasodeaufheben],nãosepodeconsiderar
comocontingente,nemsepodeabsolutamentefazeràlinguagemacensuradedarazoàconfusão;mas
tem-se de reconhecer aí o espírito especulativo de nossa língua, que vai além do simples ou-oudo
entendimento.(p. 194-195)
- [ §118Adendo]Comofoinotadoacima(§103,Adendo),seafilosofiamaisrecentesedesignoumaisde
uma vez ironicamente como filosofia-da-identidade, éjustamenteafilosofia,cdefatoantesdetudoa
lógica especulativa, que mostra a nulidade da simples identidade-de-entendimento, a qual abstrai da
diferença;econtudotambémexigequenãosedeixeficarnameradiversidade,masquesereconheçaa
unidade interior de tudo que existe.(p. 233)
- [ §160] O conceito é o [que é] livre, enquanto potência substancial essente para si, e é totalidade,
enquanto cada um dos momentos é o todo que ele [mesmo] é, e é posto com ele como unidade
inseparável; assim, na sua identidade consigo, o conceito é odeterminado em si e para si.
[Adendo] O ponto de vista do conceito é, de modo geral, o doidealismoabsoluto,eafilosofiaéum
conhecimentoconceituante,enquantonelatudooquecontaparaoutraconsciênciacomoumessente,e
autônomo em sua imediatez, é simplesmente sabido como um momento ideal. Na
lógica-de-entendimento, costuma-se considerar o conceito como uma mera forma do pensar, e, mais
precisamente, como uma representação geral. [...] maneirainferiordeapreenderoconceito[...]Nesse
casosepoderiaaindalevantarpreliminarmenteaquestão:porque,senalógicaespeculativaoconceito
tem uma significação totalmente outra da que se costuma aliás uniraessaexpressão,essetotalmente
Outroaquisechamaigualmenteconceito,ecomissosedáocasiãoparamal-entendidoeconfusão.Atal
questão se teria de responder que, por maior que pudesse ser a distância entre o conceito da lógica
formaleoconceitoespeculativo,contudoresulta,numaconsideraçãomaisprecisa,queasignificação
maisprofundadoconceitonãoédemodoalgumtãoestranhaaousoordináriodoidiomacomoparece,à
primeiravista,serocaso.Fala-sedadeduçãodeumconteúdo—como,porexemplo,dasdeterminações
dodireitoreferentesàpropriedade—,emesmo,inversamente,dareduçãodetalconteúdoaoconceito.
Mas assim se reconhece que o conceito não é simplesmente uma forma, em si carente-de-conteúdo,
pois,deumaparte,detalformanadasepoderiadeduzir;e,deoutraparte,pelareduçãodeumconteúdo
d ado à vazia forma do conceito, seriaesseconteúdoapenasdespojadodesuadeterminidade,masnão
seria conhecido.(p. 292-293)
- [ §187 Anotação] Nas numerosas descrições e explicações que Aristóteles, seguindo sua maneira
própria,forneceessencialmente,opredominanteneleésempreoconceitoespeculativo;nessaesferaele
não deixa penetrar aquele silogizar do entendimento, que ele expôs primeiro de um modo tão
determinado.(p. 321)
- [ §204 Anotação] O fim exige uma apreensão especulativa, enquanto é o conceito, que contém, ele
mesmo, na própria unidade e idealidade de suas determinações, o juízo ou a negação, aoposiçãodo
subjetivo e objetivo; e que é igualmente seu suprassumir.(p. 341)
- [ §229 Adendo] Assim Espinoza particularmente começa por definições e diz, por exemplo: “A
substânciaécausasui”.Emsuasdefiniçõesestáexpostooquehádemaisespeculativo,masnaforma
de asseverações. O mesmo vale também quanto a Schelling.(p. 361)
- [ §235]Essavida,queretornouasimesma,apartirdadiferençaedafinitudedoconhecimento,epela
atividade do conceito tornou-se idêntica com ele, é aidéia especulativa ou absoluta.(p. 366)
- [ §238] São estes os momentos do método especulativo: [vai do §238 ao §242; a partir daí, vem o
parágrafo a seguir](p. 368-370)