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Transcrição Mundo Sensorial M2
Transcrição Mundo Sensorial M2
O mundo sensorial
do autismo
com Katrien Van Heurck
Sumário
Aula 1. Apresentação................................................................................................ 4
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MÓDULO 1 – INTRODUÇÃO
Vídeo chamada
Ementa: O curso apresenta brevemente alguns aspectos básicos do autismo e introduz a noção
de percepção sensorial. O curso desenvolve uma explicação sobre o sistema sensorial: seu
desenvolvimento e funcionamento, os sete sentidos, possíveis falhas nesse sistema e
características do sistema sensorial de pessoas com autismo. Trata em detalhes de alguns estilos
sensoriais e características comportamentais decorrentes de falhas no sistema sensorial e
comuns em pessoas com autismo (hipossensibilidade e hipersensibilidade, sobrecarga sensorial
e baixa carga sensorial, entre outros). O curso apresenta diferentes terapias que podem ajudar
pessoas com autismo a superar ou aprender a conviver com essas dificuldades. O participante
aprenderá aspectos básicos do universo sensorial do autismo e formas de atuar levando em
consideração os diferentes estilos sensoriais.
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MÓDULO 2 – INTRODUÇÃO AO SISTEMA SENSORIAL
Aula 1. Apresentação
Autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), não é uma doença e também não
é uma deficiência; essa condição é vista como um transtorno de desenvolvimento, mais
especificamente, como um transtorno global do desenvolvimento (TGD). Isso significa que várias
áreas do desenvolvimento são afetadas, causando um desenvolvimento diferente daquele
observado nas pessoas neurotípicas.
Segundo pesquisas, o autismo surge ainda na fase intrauterina, por volta da vigésima
semana de gestação. Foram descobertos erros de mau contato nas ligações nervosas nessa fase.
Ou seja, a pessoa já nasce com autismo, embora, em geral, as características se manifestem
somente nos primeiros meses e anos de vida.
Não se conseguiu descobrir até agora a causa do autismo. Porém, se sabe que existem
várias causas ou etiologias, e estas três parecem ser as mais importantes:
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O cérebro das pessoas com autismo é formado pelos mesmos componentes que o
cérebro de pessoas neurotípicas. A diferença está na forma como esses componentes estão
ligados uns aos outros, o que causa diferentes reações ou comportamentos.
As estatísticas oficiais informam que uma em cada oitenta e oito pessoas tem autismo,
mas uma pesquisa mais recente, de 2018, apresenta um novo dado: uma em cada sessenta
pessoas tem autismo. Isso significa que é muito provável que todo mundo, em algum momento
de sua vida, no seu ambiente social, já encontrou pessoas com autismo.
Outro dado do qual dispomos é que apenas cerca de dois por cento da população autista
consegue levar uma vida completamente independente. Mesmo adultos com autismo de alto
funcionamento normalmente precisam da ajuda de alguém, seja um terapeuta ou um amigo,
quando se deparam com algum problema.
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Outro dado que, hoje em dia, já não é mais totalmente aceito é que o autismo é mais
comum em homens do que em mulheres. Em geral as pesquisas mostram que o autismo é
diagnosticado quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Porém, hoje se acredita que
isso é devido a uma maior dificuldade de diagnóstico em meninas, uma vez que elas conseguem
“disfarçar” melhor seu autismo, pelo menos até a puberdade ou adolescência.
Para educar uma pessoa com autismo, é necessário conhecê-la, ter um vínculo positivo
com ela e entender o seu autismo. Se não for dessa forma, vamos usar uma linguagem que ela
não entende o que vai gerar frustração para ambos os lados.
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Aula 2. Formação do cérebro e do sistema nervoso
O cérebro é o primeiro órgão que se desenvolve no ser humano. Sua formação começa
a partir do décimo oitavo dia após a concepção e ele continua a se desenvolver após o
nascimento até depois do início da vida adulta.
O cérebro tem dois tipos de células: as células da glia e os neurônios. As células da glia
são células de suporte que desempenham várias funções (participam da produção de mielina e
do processo de migração de neurônios, entre outros). Os neurônios são fundamentais porque é
através deles que são transmitidas todas as informações para o resto do corpo. Qualquer falha
ou defeito na sua constituição ou durante seu processo de formação terá consequências para o
resto da vida. É nesse momento, por exemplo, que a esquizofrenia e o autismo começam a se
desenvolver.
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A primeira coisa que vemos nas imagens que representam os estágios de formação do
feto humano é o cérebro. Mais tarde é que as outras partes do corpo começam a crescer.
Quando a criança nasce, o corpo é proporcionalmente menor do que a cabeça. O cérebro atinge
seu volume quase definitivo por volta dos quatro anos de idade. Depois disso o ser humano
cresce em altura, mas o cérebro praticamente não aumenta mais de tamanho.
Essas três partes se dividem gradativamente até formarem o cérebro com dois
hemisférios, esquerdo e direito, cada um com cinco lobos dentro de uma cavidade cerebral e a
medula dentro do canal vertebral.
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Durante todo seu processo de desenvolvimento, o cérebro produz cerca de duzentos e
cinquenta mil novos neurônios por minuto, para chegar a uma quantidade de vinte bilhões de
neurônios no momento do nascimento.
Neurônio
Uma vez formados, os neurônios são programados para migrar para locais específicos
do cérebro onde exercerão sua função e formarão novas conexões com outros neurônios.
O bebê nasce com vinte bilhões de neurônios, mas não tem necessidade desta
quantidade de células nervosas na primeira fase de desenvolvimento. O cérebro produz uma
quantidade maior de neurônios do que necessita para, de certa forma, garantir que haverá uma
quantidade suficiente. Com as podas neurais, são eliminados neurônios e sinapses que acabam
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não estabelecendo conexões ou que já cumpriram seu papel. Elas também evitam um excesso
de células e neurônios que podem atrapalhar o adequado funcionamento do cérebro.
É por isso que algumas crianças não se comunicam na idade típica; às vezes a
comunicação verbal começa aos cinco ou seis anos. Isso também pode ocorrer bem mais tarde,
inclusive na fase adulta. Algumas crianças autistas nunca falam, outras, falam muito, mas não
usam a fala para se comunicar. Elas podem ter ecolalia, que é a repetição de falas que a criança
já ouviu. O que causa isso é o desenvolvimento diferenciado dos neurônios. Por isso a fase da
vigésima semana de gestação, quando se formam os axônios e as bainhas de mielina, é tão
importante. Se acontece algo de errado nesse momento, deficiências e transtornos podem
aparecer. Já se sabe, por exemplo, que a esquizofrenia infantil surge nessa fase do
desenvolvimento. O autismo provavelmente também surge nesse momento.
O cérebro é o órgão mais importante do corpo humano. Nos primeiros quatro a cinco
anos de vida, o crescimento do cérebro é bastante acelerado. Nesse período ocorre o
desenvolvimento cerebral total de todas as áreas e de todas as suas funções: é quando a criança
aprende todas as habilidades necessárias à vida e tudo o que é importante para começar a
desenvolver as áreas orais abstratas, teóricas e acadêmicas.
A primeira dessas habilidades é a visão. Com seis semanas o bebê já tem a visão como a
de um adulto. Logo depois o bebê começa a se comunicar. Ele não tem comunicação verbal, mas
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já reage quando outras pessoas estão se comunicando, com sorrisos, choro e gestos. Mais tarde,
de um “ser deitado”, a criança se torna um “ser sentado” e alguns meses depois ela começa a
engatinhar e depois caminhar. Juntamente com os primeiros passos, surgem as primeiras
palavras, lembrando que a primeira comunicação já existe desde as primeiras semanas. Tudo
isso são habilidades que o ser humano precisa aprender. Por isso, esses primeiros anos de
desenvolvimento são a base para o nosso futuro como seres humanos, e, se há problemas nessa
fase, consequentemente haverá problemas para o resto da vida. Com a idade de cinco anos, a
criança passa a desenvolver as áreas abstratas.
Como vimos, o cérebro continua se desenvolvendo até o início da vida adulta quando
atinge a maturação. A maturação cerebral é diferente para homens e mulheres. Na mulher essa
maturação se completa por volta dos vinte anos e nos homens, aos vinte e cinco. Uma pessoa
que tem um cérebro com falhas pode nunca atingir uma maturação cerebral completa, e aqui
se encaixam pessoas com autismo.
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Aula 3. Autismo: uma disfunção neurológica
É importante entender que fatores ambientais também são responsáveis pelo autismo,
já que podem influenciar a constituição do genoma da criança. Exemplos de fatores ambientais
são o consumo de álcool e drogas pelos pais ̶ se eles já têm genes com erros no seu DNA, o
consumo de álcool ou drogas pode ativar esse erro e transmiti-lo ao novo genoma ̶ ou poluição
ambiental.
Por que hoje existe tanta atenção para os aspectos neurobiológicos do autismo?
No passado, a ideia que prevalecia era de que o autismo era um problema psiquiátrico,
um distúrbio da mente, e não um distúrbio orgânico, como se sabe que é hoje. Naquela época
não existiam estudos na área da neurobiologia simplesmente porque não existiam os recursos
para estudar o cérebro.
Atualmente existem várias técnicas que permitem visualizar e mapear o cérebro. Com
isso é possível ver o que acontece no cérebro quando uma pessoa ouve, olha, pensa, sente e
tem lembranças. Essas técnicas são chamadas de neuroimagens. Entre elas estão o raio-X, o
eletroencefalograma, a tomografia, a ressonância magnética. Além disso, os exames de autópsia
permitem ver, literalmente, como o cérebro é por dentro. Além desses recursos, temos também
o mapeamento genético.
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A TEORIA GENÉTICA
Em 2018 foram identificados 1019 genes relacionados ao autismo. E esse número deve
continuar a evoluir com o avanço dos conhecimentos.
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Cromossomos com linhas de cor azul são aqueles que têm alterações genéticas do
autismo, como, por exemplo, o cromossomo 13.
Síndrome do X-frágil;
Esclerose tuberosa;
Síndrome de Angelman;
Síndrome de Prader Willi;
Síndrome de Down;
Síndrome de Cornélia de Lange;
Distrofia muscular de Duchenne;
Síndrome de Williams, etc.
A TEORIA NEUROQUÍMICA
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As vias elétricas são impulsos elétricos enviados pelo sistema nervoso. As vias químicas
são impulsos enviados com liberação de substâncias químicas. Essas substâncias químicas são
chamadas de neurotransmissores.
NEUROTRANSMISSORES1
acetilcolina;
noradrenalina: regula o funcionamento da atenção, do alerta e da
velocidade das respostas;
serotonina: regula o humor, sono, apetite, sensibilidade;
dopamina: regula o funcionamento do pensamento complexo, da
resolução dos problemas, das emoções e dos sentimentos;
GABA: regula a sensação de relaxamento;
glutamato.
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A TEORIA ESTRUTURAL: O VOLUME DO CÉREBRO
As imagens da estrutura cerebral mostram que as crianças com autismo têm mais
substância cinzenta, a parte que não contém axônios, que não transmite informações. Isso pode
explicar o desequilíbrio no desenvolvimento.
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uma aceleração no desenvolvimento das habilidades de aprender a falar e de aprender a ler.
Nos dois casos, o desenvolvimento da criança com autismo não segue a sequência cronológica
neurotípica.
problemas sensório-motores;
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baixo tônus muscular;
dificuldades na coordenação motora;
impedimentos nos movimentos de comunicação não verbal, como gestos ou
expressões faciais;
problemas na velocidade dos processos cognitivos e nas interações sociais.
Lobo frontal: área responsável pela associação, conectada com o córtex frontal, o lobo
parietal, as amígdalas, o sistema límbico, o córtex auditivo, o córtex visual. Falhas nessa área
podem causar:
problemas na comunicação;
problemas no processamento auditivo e visual;
epilepsia, convulsões (cérebro hiperconectado);
esclerose tuberosa;
problemas no processamento de informações, planejamento e flexibilidade
cognitiva.
Lobo temporal: responsável pela audição. Pode não haver falhas nesse lobo, mas, por
causa de defeitos em ligações, é possível que o processo auditivo seja afetado. Falhas nessa área
podem causar:
Lobo parietal: responsável por estímulos sensoriais e sentidos. Falhas nessa área podem
causar:
descontrole emocional
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Aula 4. Percepção sensorial
Todo o conhecimento que temos sobre o mundo e sobre nós mesmos entra no nosso
organismo através dos sentidos.
Os sentidos são ativados por estímulos ou informações. Esses estímulos vão enviar as
informações para o cérebro e o cérebro vai transformar essas informações em conhecimento.
Esse conhecimento é o produto de tudo o que vemos, ouvimos, provamos, sentimos e
cheiramos, e a partir desse conhecimento nós vamos reagir.
O processo de percepção
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Sem percebermos, passamos para a segunda fase da percepção.
Nesta fase da percepção sensorial nós vamos fazer associações cognitivas e vamos
compará-las com modelos de tipos de sensações que já apareceram e já estão armazenados na
nossa memória. Neste momento damos significado a essa sensação ou observação. Para dar um
significado, é necessário usar o conhecimento já adquirido.
Fase de sensação: vejo um objeto fino, transparente, que tem outro objeto no
seu interior, tem uma "coisa" para encaixar em uma das extremidades, etc.
Fase de percepção sensorial: reconheço que esse objeto é uma caneta e que ele
serve para escrever.
b) Comer pimenta:
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Porém, nós não pensamos nessas duas fases: sensação e explicação (ou interpretação)
seguem-se uma à outra naturalmente.
O Sistema sensorial
Nós temos cinco sentidos que processam os estímulos externos: tato, olfato, visão,
audição, paladar. E temos também dois sentidos que processam os estímulos internos:
proprioceptivo e vestibular. Portanto, não temos apenas cinco sentidos, mas, sete, e a esse
conjunto chamamos de sistema sensorial.
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A função do sistema sensorial é alertar para o perigo, chamar a atenção para os
estímulos, registrar a informação e, finalmente, lhe atribuir um significado. Na primeira vez que
recebemos um estímulo, não sabemos ao certo como reagir, porque esse estímulo ainda não foi
analisado. Mas, uma vez que esse estímulo fica gravado, as reações começam a se tornar mais
naturais.
O ser humano tem várias reações às informações sensoriais, que vão desde o prazer até
medo que o faz evitar certos eventos.
Existem estímulos que emitem um "sinal forte". Esses estímulos alertam para um perigo.
Quanto mais forte for o sinal, maior o perigo. A reação que um estímulo de perigo provoca é o
de se proteger.
Outros estímulos mandam um "sinal fraco": não chamam a atenção e podem até mesmo
passar despercebidos. Esses estímulos estão, geralmente, relacionados ao prazer.
Nós estamos continuamente expostos a estímulos, porém, nós suportamos toda essa
carga de estímulos porque nosso cérebro tem a capacidade de filtrá-los. Nós somos capazes de
nos concentrar em certos estímulos, deixando outros em segundo plano.
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O excesso de estímulos pode causar problemas no sistema sensorial, dos quais
decorrem complicações como:
comportamento passivo;
isolamento social;
hipersensibilidade;
receio de certas situações;
problemas de concentração;
comportamento inadequado.
Esse tipo de dificuldades são muito comuns em pessoas com autismo porque elas não
têm os filtros que regulam o processamento de estímulos. A ausência de filtros significa que
todos os estímulos chegam com uma intensidade muito alta e isso causa confusão e caos.
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