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Nome Ano Turma N.

o
Educação Literária
Ficha/Questão de aula 1

1. Lê atentamente o texto que se segue.

Mar de Vig

O mar do Norte, verde e cinzento, rodeava Vig, a ilha, e as espumas varriam os rochedos escuros.
Havia nesse começo de tarde um vaivém incessante de aves marítimas, as águas engrossavam devagar,
as nuvens empurradas pelo vento sul acorriam e Hans viu que se estava formando a tempestade. Mas ele
não temia a tempestade e, com os fatos inchados de vento, caminhou até ao extremo do promontório.
5 O voo das gaivotas era cada vez mais inquieto e apertado, o ímpeto e o tumulto cada vez mais
violentos e os longínquos espaços escureciam. A tempestade, como uma boa orquestra, afinava os
seus instrumentos.
Hans concentrava o seu espírito para a exaltação crescente do grande cântico marítimo. Tudo
nele estava atento, como quando escutava o cântico do órgão da igreja luterana, na igreja austera,
10 solene, apaixonada e fria.
Para resistir ao vento, estendeu-se ao comprido no extremo do promontório. Dali via de frente o
inchar da ondulação, cada vez mais densa, como se as águas se fossem tornando mais pesadas. [...]
A família de Hans morava no interior da ilha. Ali, o rumor marítimo só em dias de temporal,
através da floresta longínqua, se ouvia.
15 Mas ele vinha muitas vezes até à pequena vila costeira e, esgueirando-se pelas ruelas,
caminhava ao longo do cais, ao lado de botes e veleiros, atravessava a praia e subia ao extremo do
promontório. Ali, no respirar da vaga, ouvia o respirar indecifrado da sua própria paixão.
Nesse dia, quando ao cair da noite entrou em casa, Hans curvou a cabeça. Pois aos catorze anos
já tinha quase a altura de um homem e, em Vig, as portas de entrada são baixas.
20 Assim é desde o tempo antigo das guerras, quando os invasores que ocupavam a ilha penetravam
nas casas de cabeça erguida, mas exigiam que a gente da ilha se curvasse para os saudar. Então, os
homens de Vig baixaram o lintel das suas portas, para obrigarem o vencedor a baixar a cabeça.
Sören, pai de Hans, era um homem alto, magro, com os olhos cor de porcelana azul, os traços
secos e belas mãos sensíveis, que mais tarde, durante gerações, os seus descendentes herdaram.
25 Nele, como na igreja luterana, havia algo de austero e solene, apaixonado e frio. [...] Havia porém
algo de taciturno e ansioso em Sören: ele pensava talvez que a integridade humana, mesmo a mais
perfeita, nada podia contra o destino. Do dever cumprido, da liberdade assumida, não esperava
sucesso nem prosperidade, nem mesmo paz.
Os seus irmãos mais novos – Gustav e NieIs – tinham morrido no naufrágio de um veleiro que
30 lhe pertencia. Sören sabia que o seu barco era um bom barco, onde ele próprio inspecionara com
minúcia cada cabo e cada tábua, sabia que os seus jovens irmãos eram perfeitos homens do mar, e
hábil e competente o capitão a quem tudo entregara. No entanto, o navio naufragou quando a
experiência e o cálculo não mediram exatamente a força e a proximidade do temporal.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in Saga,
Porto, Porto Editora, 2020, pp. 7-10.

1
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18 pontos
(6 × 3)
2. Classifica como verdadeira (V) ou falsa (F) cada uma das afirmações.
a. A ação do excerto transcrito localiza-se numa ilha do Norte da Europa.
b. A personagem principal é um rapaz de catorze anos chamado Sören.
c. As portas das casas de Vig eram baixas por ordem dos invasores que, em tempos,
tinham ocupado a região.
d. De acordo com Sören, nunca o ser humano conseguiria vencer o seu destino.
e. O naufrágio que aconteceu na família deveu-se às más condições da embarcação.
f. Este acontecimento fatídico deu origem a uma mudança no futuro da família.
18 pontos
2.1 Corrige as afirmações falsas. (6 × 3)

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3. Assinala com um X, nos itens 3.1 e 3.2, a opção que completa corretamente cada uma das 14 pontos
(2 × 7)
afirmações.
3.1 Ao observar a formação da tempestade, Hans

(A) percebia que o mar era a sua paixão.

(B) sentia-se fascinado e, simultaneamente, assustado com a fúria dos elementos.

(C) recordava o naufrágio em que morreram os seus familiares.

3.2 Sören decidiu mudar o rumo da sua vida quando

(A) se cansou de enfrentar perigos e tempestades no mar.

(B) sobreviveu a um naufrágio onde morreram os seus dois irmãos mais novos.

(C) a tempestade e o mar bravo venceram a perícia dos seus irmãos e do capitão.

4. Relê o texto, se necessário, e responde de forma clara e completa às questões seguintes. 20 pontos
(2 × 10)
4.1 Localiza a ação do texto no tempo e no espaço.
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15 pontos
4.2 Faz a caracterização física e psicológica Sören. (2 × 7,5)

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4.3 Transcreve do texto: 15 pontos
(3 × 5)

a. um exemplo de antítese;
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Fichas/Questões de aula
b. um exemplo de comparação;
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c. um exemplo de metáfora.
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Educação Literária
Ficha/Questão de aula 1 – Saga

2. V; F; F; V; F; V.

2.1 b. A personagem principal é um rapaz de catorze anos chamado Hans. c. As portas das casas de Vig eram baixas por
decisão dos habitantes locais. e. O naufrágio que aconteceu na família deveu-se à força do temporal.

3.1 (A); 3.2 (C).

4.1 No que respeita ao tempo, a ação do texto localiza-se entre o início de uma tarde de tempestade e o começo da noite que
se lhe seguiu; em termos de espaço, os acontecimentos decorrem em Vig, uma ilha rodeada pelo mar, inicialmente no
extremo do promontório, a partir do qual Hans observou a formação da tempestade e, mais tarde, na casa da família que se
situava no interior da ilha.

4.2 Caracterização física: Sören era um homem alto, magro, de olhos azuis, traços secos e mãos bonitas; Caracterização
psicológica: o pai de Hans era um homem austero, frio, ansioso, um pouco triste e melancólico, alguém que acreditava na
força do destino.

4.3 a. «apaixonada e fria» (l. 10); b. «A tempestade, como uma boa orquestra, afinava os seus instrumentos.» (ll. 6-7),
«Tudo nele estava atento como quando escutava o cântico do órgão da igreja luterana» (ll. 8-9), «o inchar da ondulação
cada vez mais densa como se as águas se fossem tornando mais pesadas» (ll. 11-12); c. «grande cântico marítimo» (l. 8);
«respirar da vaga» (l. 17); «respirar (indecifrado) da sua própria paixão» (l. 17).

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