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PAUSA MAGIS

TODA ATIVIDADE HUMANA:


O SILÊNCIO

Em um primeiro momento, o
silêncio é pura privação,
carência, vácuo
desconfortável. Arrancar-se
de atividades e pessoas que
preenchiam o silêncio se
percebe como inútil,
aborrecido, perda de tempo.
Cheio do eco confuso das
coisas deixadas para trás é
exigência de companhia, de
atividades.
Se se ultrapassa este
momento, o silêncio se faz
palavra. Os fantasmas
escondidos começam a sair à
luz e a gritar suas exigências.
Antes trabalhavam na
clandestinidade, mascarados
nas atividades, projetos e
pessoas, e passavam
desapercebidos.
Mas também a vida
desafiada começa a brotar
mais firme, mais profunda, e
nos surpreende a
profundidade ignorada que
surge de nós mesmos, desde
nossa abertura ao infinito.
O silêncio se transforma em
luta corpo a corpo entre os
fantasmas com seu exército de
medos e as exigências novas
de uma liberdade
inesgotável.
O silêncio é tenso, implacável,
decisivo. Na luta algo de mim
morre, algo volta a ser
clandestino, algo novo se
afirma marcado ainda pelos
traços da agonia.
O silêncio se cristalizou em um
gesto de repouso sábio, feito
de certezas infinitas, de vida
recém-nascida.
O silêncio se revelou uma
presença, sereno estar em
uma companhia, que me abre
o espaço de seu amor discreto
onde se faz consistente minha
harmonia.
O silêncio se faz silêncio pleno,
confiado, alegre, se faz
repouso estreado.
O silêncio é palavra
agradecida.
(SALMOS PARA “SENTIR E SABOREAR AS COISAS
INTERNAMENTE” - Benjamin González Buelta SJ)
TODA ATIVIDADE HUMANA:
EU NUNCA ESTOU SOZINHO
[...] não tenho ideia de
aonde estou indo. Não vejo
o caminho diante de mim.
Não posso saber com
certeza onde terminará. Na
verdade, nem sequer, em
verdade, me conheço. E o
fato de eu pensar que estou
seguindo tua vontade, não
significa que o esteja. Mas
acredito que o desejo de te
agradar te agrada, de fato.
E espero ter esse desejo em
tudo que estiver fazendo.
Espero jamais vir a fazer
alguma coisa distante desse
desejo. E sei que, se agir
assim, tu hás de me levar
pelo caminho certo, embora
eu possa nada saber sobre o
mesmo.
Portanto, hei de confiar
sempre em ti, ainda que eu
possa parecer estar perdido
e sob a sombra da morte.
Não hei de temer, pois tu
sempre estás comigo, e
nunca hás de deixar que eu
enfrente meus perigos
sozinho.
(Adaptado de: Thomas Merton. Na
liberdade da solidão. 2 ed. Petrópolis:
Vozes, 2001, p. 66.)

TODA ATIVIDADE HUMANA:


SE TIVER PRESSA, ANDE DEVAGAR
O Conta-se que o notável
pintor francês Renoir, já
sexagenário e bastante
afamado pela vitalidade que
deu ao impressionismo, foi
procurado por um jovem
admirador interessado em
aprender as artes do
desenho. Porém, alegando
um tempo escasso para tal
empreitada, o apressado
discípulo desejava saber
quanto tempo duraria o
aprendizado, pois ficou
assombrado ao ver que o
grande mestre era capaz de
fazer uma bela pintura com
delicadas pinceladas, mas
com uma rapidez espantosa.
Diz Renoir: “Fiz este desenho
em cinco minutos, mas
demorei 60 anos para
consegui-lo”.
Esta é a resposta de alguém
que é um sábio consistente e
que ultrapassa o senso
comum e o óbvio, gerando o
novo (em vez de produzir
mera novidade). É a
revelação da sabedoria
daquele que consegue
maturar, sem pressa, a
experiência de vida. Esse é o
problema do mundo
moderno: a agitação e a
preocupação se tornam um
estilo de vida e acabam
controlando nosso ritmo
cotidiano, tornando-se fonte
inesgotável de ansiedade.
Em nosso padrão cultural,
somos pressionados a mostrar
o tempo todo que estamos
ocupados e “produzindo”
alguma coisa. Vivemos
perdidos numa floresta de
compromissos e atividades, ...
incapazes de perceber
alguma trilha estreita para
poder andar e respirar.
Mesmo com tudo que foi
inventado para facilitar a
vida – celular, internet, e-
mail, Whatsup, Instagram –
parece que não temos
tempo para nada. Há muita
inquietação por baixo das
águas do cotidiano.
Acuados pelo relógio, pelo
ativismo, pela agenda, pela
opinião alheia, disparamos
sem rumo feito hamsters que
se alimentam de sua própria
agitação.
A pressa constante é mais
um dos muitos transtornos
que vem afetar nossa
qualidade de vida. Quem
sofre deste mal sente a
necessidade compulsiva de
cumprir tarefas durante 24
horas por dia e, se por algum
instante, se encontra sem
nada para fazer, se sente
culpado. Além disso, a
pressa, ao nos tornar
superficiais, nos impede de
perceber o verdadeiro valor
e originalidade do trabalho
próprio e dos outros. Quanto
vale o trabalho de um
artesão, uma cozinheira, um
mecânico, uma professora,
um palestrantes, um médico,
uma cientista, um místico?
O escritor alemão Lothar J.
Seiwert, autor do best-seller
“Se tiver pressa, ande
devagar”, afirma:
“Se você negligência suas
próprias necessidades e
trabalha até cair de
cansaço, desprezando férias
e lazer, se torna uma pessoa
de difícil trato e uma
ameaça para aqueles com
quem convive, desperdiça o
tempo por falta de atenção
e cria um clima de tensão
permanente”.
Em oposição à pressa
doentia, Inácio de Loyola nos
propõe (EE 76): “no ponto
em que achar o que quero
ali me repousarei, sem pressa
de passar adiante, até que
me sinta satisfeito”. Isto vale
para os tempos de
meditação como:
também para viver e
saborear, de uma maneira
mais tranquila, as atividades
cotidianas. No fundo a
questão é esta: qual o
sentido e a direção daquilo
que fazemos? Para quê?
Para quem? Qual é a
intenção ou a motivação
que está por trás de nossa
ação?
Essa “dica”, inaciana, ajuda
a superar a ansiedade e a
pressa, harmonizando-nos
com o “tempo” e fazendo as
pazes com o relógio.
Normalmente, vivemos
ações “in-sensatas”, ou seja,
sem sentido, sem direção. Se
fizermos uma faxina em
nossos compromissos e
deveres, boa parte
desaparece rápido no ralo
do bom senso. Se
examinarmos o baú de
nossas prioridades,
certamente a nossa
arrumação interior seria
outra. Aliviar a vida, o
coração e o pensamento. Eis
o desafio: não parar de
inventar momentos sem
acumular ali mais alguns
compromissos estéreis e sem
sentido.
Espere o momento Não
apresses a chuva, ela tem
seu tempo de cair e saciar a
sede da terra; não apresses o
pôr do sol, ele tem sem
tempo de anunciar o
anoitecer até seu último raio
de luz; não apresses tua
alegria, ela tem seu tempo
para aprender com a tua
tristeza; não apresses teu
silêncio, ele tem seu tempo
de paz após o barulho
cessar; não apresses teu
amor, ele tem seu tempo de
semear, mesmo nos solos
mais áridos do teu
coração; não apresses tua
raiva, ela tem seu tempo
para diluir-se nas águas
mansas da tua consciência;
não apresses o outro, pois ele
tem seu tempo para florescer
aos olhos do Criador; não
apresses a ti mesmo, pois
precisas de tempo para sentir
tua própria evolução.

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