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O

ALFREDO CORDIVIOLA

futuro, UMA LEITURA DA HISTÓRIA DO FUTURO

a história
O ESBOÇO E O SIMULACRO nosso pequeno trabalho) para que proce-
damos com a distinção e clareza tão ne-
Dentro da profusa obra de Antônio cessárias em toda a história, e muito mais
Vieira, a História do Futuro ocupa um lugar neste gênero, a primeira cousa que se ofe-
singular. Na verdade, houve duas História rece para averiguar e saber é que impérios
do Futuro: uma, cogitada durante uma das tenham sido ou hajam de ser os outros...”
viagens pela Amazônia, cujas primeiras li-
nhas datam de 1649, senão de antes; outra O “nosso pequeno trabalho” deve ser en-
escrita por Vieira às pressas, no cárcere da tendido como tópico de modéstia antes que
Inquisição, em 1664. Da primeira restaram como expressão literal, pois sabe-se que só a
apenas folhas avulsas, anotações, citações primeira parte da obra, segundo as meditações
ALFREDO
que poderiam eventualmente ser usadas. A do autor, prometia mais de sessenta capítulos,
CORDIVIOLA é segunda é a que se imprimiria com este títu- e que, mesmo assim, “não era ainda o livro,
mestrando em Teoria lo e que, no vasto plano do autor, era apenas senão preparação ou aparato” (2) da História
da Literatura na
UFPE. o prolegômeno, a introdução do texto que propriamente dita. Dessa primeira parte, só sete
anunciaria os destinos do mundo. Foi isso capítulos foram concluídos; ao plano de
Este ensaio é uma versão
tudo o que ficou do que Vieira acreditava Vieira – plano que até um deus acharia estar
modificada da Parte Segunda
da dissertação de mestrado Os
que seria sua obra mais grandiosa: um esbo- fora das suas possibilidades – opuseram-se
Tradutores de Deus. ço, fragmentos e um simulacro. vários obstáculos: a própria extensão do traba-
Fragmentos: João Lúcio de Azevedo, um lho, as constantes crises de saúde, e os vinte e
1 J. Lúcio de Azevedo, Histó-
ria de Antônio Vieira, 2ª v.,
dos biógrafos do jesuíta (1), transcreve parte seis meses durante os quais a Inquisição o
Lisboa, Livraria Clássica das páginas iniciais do que teria que ter sido apartou do mundo. E especialmente o tempo,
Editora, 2 ed., 1931, v. 1, p.
193. propriamente a História do Futuro, escritas obstáculo que, passando, derrubaria as princi-
2 Idem, ibidem, v. 2, p. 43. em 1649 ou antes. Essas folhas, como outras pais hipóteses da História.
3 Idem, ibidem, p. 51. escritas já em Portugal a partir de 1664, seri- Algumas daquelas páginas seriam entregues
4 A referência completa é:
am seqüestradas a Vieira pelo Santo Ofício por Vieira perante o Conselho do Santo Ofício
“Representação dos moti-
vos que tive para me pare-
dezesseis anos depois. em ocasião de seu julgamento: “Trinta cader-
cerem prováveis as propo- nos de folha de papel escritos, alguns de sua
sições de que se trata”.
Consta no Processo a An- “Cap. 1. Começando a tratar do Quinto letra. Estes cadernos não eram acabados de es-
tônio Vieira, segunda par-
te, fol. 147. Império do Mundo (grande assunto deste crever, senão somente principiados” segundo

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D O PA D R E A N T Ô N I O V I E I R A

consigna o auto da sessão; incluíam capítulos


da História, a justificativa das Esperanças de
Portugal e notas avulsas (3). Esse material
obrigaria Vieira a escrever as duas Represen-
tações (4), apologia que o réu apresentou a modo
de defesa escrita entre 1665 e 1666.
Na História, Vieira pretendia demonstrar
a validade das profecias de Bandarra, o sapa-
teiro de Trancoso, autor das Trovas (1540).
Esta composição anunciava a aclamação de
D. João IV e a chegada do Quinto Império
que – quando Portugal reconquistasse a Terra
Santa – haveria de inaugurar os mil anos do
reinado de Cristo; depois chegaria o Anti-
Cristo, soltar-se-ia o diabo e viria por fim o
dia do Juízo. O encarregado de consumar o
reino de Cristo na terra, convertidos todos os
infiéis e estabelecida a paz geral, seria um rei
encoberto, e 1666 o ano em que haveria de
começar o Quinto Império. D. João IV tinha
morrido em 1657; conseqüentemente, deve-
ria ressuscitar para obrar o que Bandarra pro-
fetizara. Por isso 1666, ano fatal prognostica-
do pelas Trovas e pelo próprio Apocalipse
(666 é o número da Besta), era o prazo fixado
pelas profecias, contra o qual a História do
O jesuíta
Futuro devia se debater, se queria ser aviso
e retórico
do porvir em vez de mera constatação do já
acontecido. Para Vieira, 1666 marcava o li- Antônio

mite de todas as especulações, e a data na qual Vieira

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o mundo assistiria à aparição do novo Daniel, prever o futuro quase nunca significa
Vieira mesmo, quem sabendo ler adequada- modificá-lo); no pior dos casos, ficará um
mente os vaticínios e as marcas do céu, haveria esboço, uma coisa imperfeita (como o tempo
de esclarecer para os portugueses e para o verbal que utilizamos para enunciá-la: futuro
mundo todo a ciência dos porvires. imperfeito, meramente virtual), uma curiosi-
Mas 1666 chegou e nada extraordinário dade. É assim como permanece hoje e dura a
aconteceu. D. João IV não ressuscitou, o História do Futuro.
Quinto Império continuou sendo um mero Fragmentos de uma obra vastíssima por
assunto livresco, e o Encoberto persistiu na um lado, pelo outro um simulacro. O que hoje
sua ocultação. Ironia da sorte: o presumido chama-se História do Futuro era na verdade
desvelador do mistério passaria o ano todo no o “Livro Ante-primeiro, Prolegômeno a toda
cárcere, e o mistério se desmancharia na tri- a História do Futuro, em que se Declara o Fim
vialidade do presente. Vieira, doente e preso, e se Provam os Fundamentos dela. Matéria,
havia tentado escrever contra o tempo; o tem- Verdade e Utilidade da História do Futuro”,
po agora voltava para contradizer suas espe- texto publicado pela primeira vez em 1718,
ranças e assinalar seu excesso. Contudo, em Lisboa, e escrito por Vieira em 1664. Em
Vieira nunca descartaria a hipótese da consu- relação a este “Livro Ante-primeiro”, em abril
mação do Quinto Império, nem a idéia de de 1664 Vieira informava:
haver futuras felicidades para Portugal, reino
escolhido por Cristo para encabeçar Seu Rei- “Os alicerces e primeiras paredes vão
no. Racionaria essas hipóteses em obras igual- tôdas fundadas em autoridade divina, e
mente inacabadas, como Clavis Prophetarum pasmo de ver quão grandes tesouros estão
e Quinto Império. Como diz Azevedo: escondidos no que todos trazem entre
mãos e diante dos olhos. Já tomara que
“Vieira era um gênio incompleto: nas gran- alguma parte estivera em estado de se
des obras que meditou não correspondeu a apresentar aos de Vossa Senhoria, mas
capacidade de execução à facilidade da Deus ajudará” (6).
concepção; nenhuma pôde acabar, e algu-
ma nem mesmo foi principiada”(5). Já em março do ano seguinte estava o tex-
to em mãos do copista. O manuscrito (ao
Se da magna História do Futuro ficou o parecer, contra a vontade de Vieira) seria lido
esboço, de Clavis Prophetarum ficaria ape- pelo Rei, quem por um decreto mandou que
nas um resumo, feito em latim por outro jesu- o Provincial assistisse ao autor para que fosse
íta. Documentos que servem como prova de terminada em breve a obra toda, o que, de
desengano: desengano do autor, que falhou fato, nunca aconteceria.
como anunciador de futuros, desengano polí- Duas menções auto-referenciais encontra-
tico daqueles que como Vieira acreditaram mos neste “Livro Ante-primeiro”. As duas
nas glórias futuras de Portugal, desengano enfatizam seu caráter introdutório. Na primei-
nosso, que assistimos em Vieira à impossibi- ra Vieira esclarece que a História do Futuro
lidade de desvendar o futuro. Pois se o futuro haveria de se dividir em sete partes ou livros:
deixa avisos no presente, acontece que esses
avisos podem ser interpretados de maneira “No primeiro se mostra que ha de haver no
errada, sempre e quando não forem, por de- Mundo um Novo Império; no segundo, que
feito da percepção ou por indiferença, sim- Império ha de ser; no terceiro suas grande-
plesmente ignorados. No presente juntam-se zas e felicidades; no quarto os meios por
5 J. L. de Azevedo, op. cit., v. as premonições, as suspeitas e os sinais do que se ha de introduzir; no quinto, em que
2, p. 53.
futuro que vem chegando: lendo Vieira sabe- terra; no sexto, em que tempo; no sétimo,
6 Idem, ibidem, p. 38. “Carta
a D. Rodrigo de Menezes”.
mos que de qualquer modo, mesmo decifran- em que pessoa. Estas sete cousas são as
7 Antônio Vieira, História do
do ou não esses avisos, será tarde. No melhor que ha de examinar, resolver e provar a
Futuro. “Livro Ante-primeiro”, dos casos, ficaria o consolo de haver previsto nova história, que escrevemos, do Quinto
São Paulo, Edições e Publi-
cações Brasil, 1937, p. 49. partes do real (consolo pobre, que adverte que Império do Mundo” (7).

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Dessas sete partes, o “Livro Ante-primei- concorda nem se ajusta bem com o título
ro” era apenas um prolegômeno, onde se dis- de história, saiba que nos pareceu chamar
cutiam certos assuntos teóricos relativos à assim a esta nossa escriptura; porque sen-
ciência dos porvires: condição de verdade, do novo e inaudito o argumento della,
interpretação, tempos, profecias: também lhe era devido o nome novo e não
ouvido” (9).
“Também excitaremos a este fim e resol-
veremos várias questões muito importan- Esse título não fala nem por exagerações
tes ao conhecimento das prophecias, pela nem “por hyperboles nem synedoches” (10). O
ordem que a dignidade ou occassião o fôr futuro de que ele fala é aquele que já estava che-
pedindo, e esta será a própria matéria de gando; o tempo, o daquele mesmo século; o
todo este livro, a que, por isso, chamare- mundo, aquele em que os homens viviam: “O
mos ‘Ante-primeiro’, e é como alicerce Mundo que Deus creou, o Mundo que o não
de todo o edifício; e posto que todo este conheceu e o Mundo que o ha de conhecer” (11).
tão largo prolegómeno, em rigor não seja Para Vieira, não há contradição alguma
‘História do Futuro’, senão preparação ou entre “história” e “futuro”. Ambos se
apparato para elle” (8). complementam, como se complementam
“história” e “passado”. Se o passado se revela
Ilusões de Vieira, que o tempo derruba- na história, há uma história que pode revelar
ria: como esses prédios que a burocracia ou a o futuro, não por aproximações, mas com
negligência deixam incompletos, a História idêntico método e guiada por idênticas leis:
do Futuro acabaria sendo um alicerce sem
edifício, um simulacro que, sob o mesmo “E porque havemos de distinguir tempos
nome, agora substitui para sempre o que fora e annos, signalar províncias e cidades, no-
planejado como real. mear nações e ainda pessoas, quanto o
soffrer a matéria, por isso sem ambição
ESPELHO DO PORVIR nem injuria de ambos os nomes, chama-
remos a esta narrativa história, história do
Como a História da Eternidade de Borges, futuro” (12).
o título desta História do Futuro inclui tam-
bém um paradoxo. Entendida a História como “Impossível pintura parece antes dos
narração de feitos passados, disciplina volta- originaes retratar as copias, mas isto é o que
da para o já acontecido, como pretender fará o pincel da nossa história” (13). Se a his-
historiar o futuro? Escrever a História supõe tória é pensada como retrato do já acontecido,
trabalhar com o rigor das datas, com sucessos como reflexo que, narrando, acolhe em um
que estão inscritos definitivamente no passa- discurso os nomes e os eventos passados, como
do; no futuro, no entanto, não há datas, nem tecido urdido pela memória, como cópia de
nomes, salvo os indicados pelas previsões. um original, como é possível que haja cópias
Aplicar o rigor da verdade a essas previsões, do que não sucedeu? Como poderá haver uma
como se no presente e no passado estivesse já memória anterior (sem deixar de ser memória
fatalmente estabelecido o que iria acontecer, e não fantasia), como um espelho que reflita os
é o problema lógico que a obra de Vieira ten- eventos que ainda não foram?
taria resolver. Mas esses reparos não parecem ser perti-
No “Livro Ante-primeiro” (que, todo ele, nentes para alguém que, como Vieira, acredi-
é uma longa justificação), Vieira justifica o tava que tudo já tinha sido escrito, tudo dese-
8 Idem, ibidem, p. 157.
título dizendo que o inaudito de sua “nova e nhado previamente pela inteligência divina:
9 Idem, ibidem, p. 39.
nunca ouvida história” exigia também um
10 Idem, ibidem, p. 53.
título inaudito: “A história mais antiga começa no princí-
pio do Mundo; a mais estendida e conti- 11 Idem, ibidem, p. 54.

“Mas porque não cuide alguma curiosi- nuada acaba nos tempos em que foi 12 Idem, ibidem, p. 40.

dade crítica que o nome do futuro não escripta. Esta nossa começa no tempo em 13 Idem, ibidem, p. 37.

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que se escreve, continua por toda a dura- “O tempo, como o Mundo, tem dois
ção do Mundo e acaba com o fim delle; hemispherios: um superior e visível, que
mede os tempos vindouros antes de vi- é o passado, outro inferior e invisível, que
rem, conta os sucessos futuros antes de é o futuro; no meio de um e outro
sucederem, e descreve feitos heróicos e hemispherio ficam os horizontes do tem-
famosos antes da fama os publicar e de po, que são estes instantes do presente que
serem feitos” (14). imos vivendo, onde o passado se termina
e o futuro começa; desde este ponto tenta
Vieira trabalha com a noção cristã do tem- seu principio a nossa história” (15).
po, já estabelecida por Santo Agostinho: tem-
po linear, tempo como processo teleológico Por sua vez, esta teoria analisa também os
que começa com a Criação e acaba com o futuros:
Juízo. Tempo que obedece por completo à
vontade divina e que, como tal, não pode ser “São Paulo, aquelle philosopho do tercei-
desviado nem alterado. Por isso não é estra- ro Céo, desafiando todas as creaturas, e
nho escrever a história do futuro, porque o entre ellas os tempos, dividiu o futuro em
futuro já aconteceu no plano de Deus, e a dois futuros: neque instantia, neque futu-
história, através das profecias e da Escritura, ra. Um futuro que está longe e outro futu-
funciona como memória e espelho desse pla- ro que está perto; um futuro que ha de vir
no. O plano é anterior aos sucessos que o e outro futuro que já vem, um futuro que
confirmarão, e os sucessos estão necessaria- muito tempo ha de ser futuro neque futu-
mente determinados por esse plano. Para ra; e outro futuro que brevemente ha de
conhecer os sucessos, trata-se apenas de sa- ser presente neque instantia. Este segun-
ber ler o plano, ou seja, de interpretar as marcas do futuro é o da minha história” (16).
deixadas pela divindade. História do futuro,
então, para Vieira, não é adivinhação, senão Sobre a essência dos três tempos, passado
interpretação de fatos e decifração das pala- (que deixou de ser), presente (que passa e é)
vras que os anunciam. e futuro (que não existe ainda), e sobre a es-
Trata-se do mesmo trabalho intelectual que sência do tempo – um dos principais temas da
se precisa para escrever as histórias do passa- metafísica – muitas páginas já foram escritas.
do. “Xenophonte escreveu a dos persas, Houve certo autor – resenhado por Borges na
Herodoto a dos egípcios, Thucydides a dos História da Eternidade (17) – que negava o
gregos e Livio a dos romanos”: eles, escreven- futuro, por considerá-lo “uma mera constru-
do e interpretando, testemunharam e confir- ção da nossa esperança”, e assim reduzia o
maram o passado; Vieira, escrevendo e inter- atual “à agonia do momento presente se de-
14 Idem, ibidem.
pretando, compõe a história que para os ho- sintegrando no passado”. Por outro lado, uma
mens é futura, mas que para o desígnio divino das escolas filosóficas da Índia, segundo
15 Idem, ibidem. Esta imagem
topológica do tempo dividi- já é passado, ou, melhor ainda, já pertence a Borges, nega o presente, por considerá-lo
do “em dois hemisférios”
mostra a presença de dois um tempo que inclui todos os tempos, o tempo inapreensível, por “La naranja está por caer
universos de referência em
Vieira: o icônico e o real. anterior e imutável da Providência divina. de la rama, o ya está en el suelo. Nadie la ve
Para Vieira, são justamen-
te as imagens que deposi- Assim, os historiadores do passado “escreve- caer” (18). Conhecida também por todos será
tam e sedimentam o senti-
do. Ver a este respeito: ram histórias do passado para os futuros, nós a doutrina que supõe que o tempo é circular,
Margarida Vieira Mendes,
“Estética e Memória no
(afirma Vieira) escrevemos a do futuro para e que fala de um eterno retorno do mesmo:
Padre Antônio Vieira”, in presentes”. O tempo, que é ironia, não permi- em algum momento do tempo, alguém dirá as
Colóquio n o 110-111, pp.
24-33. tiria que essa história fosse finalmente escrita. mesmas coisas que está dizendo agora, e que
16 Antônio Vieira, op. cit., p. já foram ditas – por ele – em algum momento
46.
OS HORIZONTES DO TEMPO anterior, e assim ad infinitum.
17 O autor é Bradley, incluído
no ensaio: “História da Eter-
Esta doutrina das eternas repetições pode
nidade”, in J. L. Borges,
Obras Completas, Buenos
Há uma teoria dos tempos em Vieira, na representar uma das mais sugestivas
Aires, Emecé, 1989, p. 349. qual o tempo está embebido de espaços, e o conjecturas acerca do tempo; Vieira, porém,
18 Idem, ibidem, p. 355. espaço embebido de tempos: se hoje vivesse (ou se voltasse, algum dia),

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refutaria essa teoria com todo seu aparato este escudo, que trabalhos, que perigos nos
argumentativo, em infinitos volumes que póde offerecer o mar, a terra e o Mundo, e que
postulariam e defenderiam a linearidade do golpes nos póde atirar com todas as forças de
tempo. Na concepção cristã, o tempo consta seu poder, que não sustentemos nelle com
de um passado (que a memória torna visível), animosa constancia?” (20). Um escudo contra
um presente (marcado pela atenção) e um o tempo; acaso Vieira acharia absurda essa
futuro (invisível, mas já contido na expecta- hipótese. Nós, como leitores, podemos nos
tiva). Essas três potências da alma (memória, entregar a ela.
atenção, expectativa) convivem no conceito
agostiniano de intentio: a intentio da alma UM RECURSO CONTRA
condensa as três (e os três tempos) num único O DESATINO
momento: o presente do presente, o do passa-
do e o do futuro. A intentio corresponde ao Vieira fala do “desejo insaciável” que os
que Vieira chama de “horizontes do tempo”, homens sempre tiveram “de saber os futu-
“estes instantes do presente que imos viven- ros” (21). A continuação apresenta os diver-
do, onde o passado se termina e o futuro co- sos modos que foram usados, e se usam, para
meça”. É nesse território mutável onde o au- os fins da adivinhação, “sciencias, ou
tor situa sua História do Futuro. Território ignorancias das artes, ou superstições que os
entendido menos como um instante (o que já homens inventaram, desde a terra até o Céo,
passou) que como uma era, era efêmera que levados deste apetite”. Cada um dos quatro
existe entre o passado (passado que é basica- elementos tem um modo particular de servir
mente o das verdades da Escritura) e o futuro à adivinhação: a “Agromancia, que ensina a
iminente (onde essas verdades se constata- adivinhar pelas cousas da terra”; a
rão): neque instantia, o “futuro que breve- “Hydromancia, pelas da água; a Aeromancia,
mente ha de ser presente”. pelas do ar, e a Pyromancia, pelas do fogo”.
Vieira escrevia a História do Futuro sa- Também a “Physionomia nas feições do ros-
bendo que a iminência desse futuro a tornava to”, “a Chiromancia, nas raias da mão”, “a
perecível. A grandiosidade da obra consisti- Astrologia judiciária” ou a “triste e funesta
ria em haver anunciado o futuro, mas quando Nicromancia que, frequentando os cemitéri-
esse futuro chegasse, a obra deixaria de ter os e sepulturas no mais escuro e secreto da
sentido, ou em todo caso mudaria de gênero: noite, invoca com deprecações e conjuros as
deixaria de ser profecia, para se transformar almas dos mortos, para saber os futuros dos
em documento. “Só digo que quando assim vivos” (22). Por outra parte, também foram
suceder, perderá esta nossa história gloriosa- consultados os sonhos, “as entranhas palpi-
mente o nome e que deixará de ser história do tantes dos animaes”, os cantos e vôos das aves,
futuro porque o será do presente” (19). “os números, os nomes e as letras, os dias e os
As contingências da sorte, todavia, não lhe fumos, as sombras e as côres”, e até “o ranger
permitiriam cumprir esse propósito. Uma hi- da porta, o estalar do vidro, o scintillar da
pótese (puramente ficcional) diria que Vieira candeia, o topar do pé, o sacudir dos sapa-
não terminou de escrever sua obra para que ela tos”: “tudo notavam como avisos da Provi-
não morresse, para que o tempo, mesmo se a dencia e temiam como presságios do futuro”.
confirmasse, não a recluísse na melancólica Mediante a acumulação (colocando todos
categoria de documento. Outra hipótese (tam- os modos dentro da mesma categoria) Vieira
bém ficcional) diria que Vieira se embarcou ironiza e rejeita de vez o suposto poder
no projeto de escrever a História para se livrar, desvelador destas artes. Tratam-se, para ele,
como se ela fosse um escudo, da opressão do de meras superstições, causadas pela “ceguei- 19 Antônio Vieira, op. cit., p.
47.
tempo, criando um eterno presente, o da escri- ra e o desatino”. Da “Chiromancia” se burla
20 Idem, ibidem, p. 94.
ta, onde o passado “allumia” e o futuro está, dizendo que é uma arte “certamente merece-
21 Idem, ibidem, p. 33.
sempre, por chegar. Praescientiae clypeum: dora de ser verdadeira, pois punha a nossa
“Que vem a ser esta nossa História do Futuro fortuna nas nossas mãos” (23). Na Astrolo- 22 Idem, ibidem, pp. 33-4.

senão escudo de presciencia? Armados com gia, lhe parece absurdo que “uma só hora o 23 Idem, ibidem, p. 34.

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instante da vida – aquele do nascimento – “Estes quatro gêneros de verdade são os
levantam ou figura, ou testemunhos a todos de que repartidamente se comporá toda a
os sucessos della” (24). Acreditar nas revela- História do Futuro, merecendo, segundo
ções das entranhas de um animal lhe é inad- todas as suas partes, o nome de história
missível, “como se um bruto morto pudesse verdadeira, posto que não em todas com
ensinar a tantos homens vivos” (25). igual grão de certeza. Nas do primeiro
Vieira refuta o valor de todas essas ar- gênero, verdadeira com certeza de fé. Nas
tes, por serem falsas ou por dependerem do segundo, verdadeira com certeza
todas elas da “contingência da sorte”. Con- theológica. Nas do terceiro, verdadeira
dena o método dessas artes, mas não o de- com certeza moral. Nas do quarto, verda-
sejo que as anima. “Tanto foi em todas as deira com certeza provável, sendo a
idades do Mundo e tanto é hoje na curiosi- excellencia singular desta história que toda
dade humana o appetite de conhecer o futu- ella, ou provável, ou moral, ou theológica
ro” (26). Esse apetite, que Vieira reconhe- ou canonicamente, será fundada na pri-
ce como natural em todos os homens, é meira e summa verdade, que é o mesmo
conseqüência da ignorância; porque “o Deus” (29).
homem, filho do tempo, reparte com o
mesmo a sua sciencia ou a sua ignorancia: A fé termina assim sendo o recurso contra
do presente sabe pouco, do passado menos, os desatinos, e a garantia de verdade da His-
e do futuro nada” (27). Essa condição do tória. Fé em Deus e nas Escrituras, sim, mas
futuro, a de ser por completo ignorado, aviva também apelo ao leitor para que tenha fé no
o desejo de desvendá-lo: “não buscam os intérprete que, decifrando as páginas escuras
homens os futuros porque os acham, senão e estabelecendo o sentido final das profecias,
que vão sempre após elles, porque os atende sua Palavra e a revela.
amam” (28). Tão grande é esse desejo, esse
“amor”, que acaba por multiplicar – levan-
do-as ao absurdo – as formas de vaticinar. ATÉ QUE AMANHEÇA O DIA:
Vieira compartilha esse desejo, constrói a VIDENTES E INTÉRPRETES
partir desse desejo seu método e sua argu-
mentação, e o sacia numa fonte que não “Temos (diz o príncipe dos Apóstolos) as
admite erros, por ser verdadeira e por ser prophecias e palavras certíssimas dos
revelada: a Escritura. prophetas, as quaes devemos observar e
Contudo, parece haver alguma coisa em attender, usando dellas como de candeia
comum entre essas artes “cegas e desatina- luzente em lugar escuro e caliginoso, até
das” e o caminho de Vieira. Ambas as postu- que amanheça o dia. Lugar escuro e
ras supõem uma determinada maneira de olhar caliginoso é o futuro; a candeia que allumia
o universo, não pelo que aparenta, mas pelo são as prophecias, o sol que ha de ama-
que poderia sugerir. Ambas supõem que é nhecer é o cumprimento dellas” (30).
possível pressentir os desígnios que estão
ocultos numa materialidade qualquer. Muda, Há, nos diz Vieira, dois tipos de figuras
porém, o mundo fáctico ao qual se dirige esse que se encarregam de esclarecer a ciência dos
olhar em procura dos vaticínios: ali é o fogo, futuros. Ambos trabalham com essa matéria
o voar das aves ou as almas dos mortos; aqui “escura e caliginosa” que é o porvir, e ambos
a Palavra de Deus. Para Vieira o futuro só têm um certo tipo de conhecimento sobre ela.
24 Idem, ibidem.
pode ser lido nas Escrituras; os outros méto- Por um lado estão os profetas, cujo saber pro-
25 Idem, ibidem.
dos não poderão aportar mais do que falácias vém da revelação; assim Daniel, por exem-
26 Idem, ibidem, p. 36.
e enganos, por carecerem, basicamente, do plo, ou Isaías viram os futuros porque eles
27 Idem, ibidem, p. 32.
fundamento da verdade. lhes foram revelados pela Providência. Para
28 Idem, ibidem, p. 36. Pelo contrário, e à falta de uma, Vieira os profetas, a adivinhação é um dom divino
29 Idem, ibidem, p. 159. assinala que sua História está sustentada por que neles se personifica, e, quanto mais sim-
30 Idem, ibidem, p. 148. quatro gêneros de verdade: ples for o profeta – como no caso de Bandarra,

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sapateiro ignorante –, maior a garantia de através da inspiração e mediante a “candeia
verdade. São eles os instrumentos, os emissá- luzente” das profecias – se internam nas som-
rios da vontade superior. Vieira os chama de bras até dar com o sentido verdadeiro e com-
“videntes”: pleto das palavras anunciadas.
Como intérprete se assume Vieira na His-
“Por isso os prophetas na Sagrada tória do Futuro. O saber do intérprete não
Escriptura se chamam por antonomasia depende da revelação, mas da razão, da sua
‘Videntes’: porque com o lume da própria capacidade de encontrar o fio que lhe
prophecia entravam nos lugares permita sair com a verdade do labirinto das
escuríssimos e secretíssimos dos futuros, profecias: “por este modo entraremos tam-
e viam nelles claramente aquellas cousas bém nós pelo escuro e intrincado labiryntho
para que todos os outros homens são ce- dos futuros. As prophecias e os doutores nos
gos” (31). servirão de tochas; o entendimento e o dis-
curso de fio, isto é, quanto às prophecias e
Contudo, as revelações feitas pelos viden- prophetas canonicos” (34).
tes, às vezes, ainda participam de alguma clas- No “Livro Ante-primeiro” Vieira descre-
se de escuridão. Não pelas palavras que as ve em que consiste seu método de interpreta-
integram (que, como reveladas, são verda- ção: 1) escolher entre todas as profecias que
deiras e perfeitas), mas pelo sentido, que a pertençam (clara ou presumidamente) ao tem-
finitude de entendimento dos homens nem po a ser revelado; 2) ajuntar as escolhidas,
sempre consegue captar plenamente. ordená-las e “tirar a luz para beneficio públi-
Mas, por que acontece isso? Por que algu- co” (35). Ordená-las significa construir um
mas profecias permanecem sendo tão escu- discurso, explicá-las com outras palavras que
ras quanto o futuro que supostamente des- situarão adequadamente essas profecias no
vendam? Para responder a esta interrogação, tempo e no espaço aos quais se referiam. A
Vieira postula uma idéia interessantíssima: a partir das profecias da Escritura, o discurso
do suspense divino. Deus “encobre as cousas argumentativo será “o architecto de toda esta
futuras, ainda quando as manda escrever pri- grande fábrica, dispondo, ordenando, ajus-
meiro pelos prophetas, que nos não deixa tando, combinando, inferindo e acrescentan-
comprehender, nem alcançar os segredos de do tudo aquillo que por consequencia a razão
seus intentos, senão quando já tem chegado natural se segue e infere de nossos princípi-
ou vem chegando os fins delles, para nos ter os” (36). Interpretação é trabalho de enge-
sempre suspensos na expectação e pendentes nharia, que “dilata e fructifica” as profecias.
da sua providencia” (32). Deus cria o É um trabalho hermenêutico que supõe um
suspense, provoca a expectativa e a curiosi- certo exercício de tradução, baseada numa
dade, e não revela de vez os futuros para for- explicação argumentada e numa justificativa
talecer ainda mais os laços com os homens. dessa explicação. A matéria das profecias é a
Às vezes as profecias são muito claras, mas, palavra revelada; a da interpretação é a lógica
mesmo assim, Deus “costuma atravessar en- e a dedução.
tre ellas e os nossos olhos umas certas nu-
vens, com que sua mesma clareza se nos faz “De sorte que ajuntando o lume natural
escura” (33). do discurso ao lume sobrenatural da
É condição das profecias serem parcial- prophecia, com o cuidado, estudo e
mente ininteligíveis; são como provas que Deus industria própria, lendo, disputando e
31 Idem, ibidem.
impõe para aguçar os raciocínios dos homens, meditando, vinham a estender e a adian-
32 Idem, ibidem, p. 172.
e para que os homens não esqueçam que quem tar muito as mesmas prophecias” (37).
33 Idem, ibidem, p. 173.
manda é sua Vontade. Por isso, além dos pro-
34 Idem, ibidem, p. 155.
fetas, para desvendar a ciência do porvir pre- Esforço solitário, realizado entre livros e
cisa-se de intérpretes, intérpretes para dissipar num espaço fechado, a interpretação em Vieira 35 Idem, ibidem, p. 77.

essas “certas nuvens” que impedem o total é o emblema de toda escrita: trabalho intelec- 36 Idem, ibidem, p. 150.

esclarecimento do revelado, intérpretes que – tual, obstinado e, às vezes, finamente inútil. 37 Idem, ibidem, p. 152.

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GIGANTES E PIGMEUS prime o sentido verdadeiro ao texto.
Dois fatores permitem que a leitura de
Todavia, nesse trabalho de interpretar, Vieira seja mais arguta que as anteriores in-
Vieira não é o primeiro. Vieira lê as profeci- terpretações. O primeiro refere-se ao méto-
as, mas também as interpretações sucessivas do: os intérpretes antigos leram as profecias
que essas profecias foram suscitando ao lon- buscando seus sentidos alegóricos e místicos
go dos tempos. Aqui Vieira introduz a noção e deixando de lado os literais. Vieira, pelo
de novidade, que justifica sua própria tarefa: contrário, lê o que ele chama “sentido genu-
íno e literal do texto”:
“Pigmeus nos conhecemos em compara-
ção daquelles gigantes que olharam antes “Os padres antigos, que buscavam só nas
de nós para as mesmas Escripturas; elles Escripturas a Christo, e nesta
sem nós virão muito mais do que nós preciosíssima margarita empregavam
podemos vêr sem elles; mas nós, como todo o cabedal do seu estudo; os moder-
vivemos depois delles e sobre elles por nos, que se não determinam no thesouro
beneficio do tempo, vemos hoje o que elles das Escripturas a um só genero de rique-
viram e um pouco mais” (38). zas, acham, além da mesma margarita,
muitas outras pedras, também preciosas,
Por benefício do tempo: Vieira postula e tiram daquelle thesouro (como dizia
que existe um tempo para poder interpretar Christo) nova et vetera, riquezas novas e
fielmente cada profecia. Há, no mundo, con- velhas: as velhas, que são as notizias das
dições históricas que permitem desfazer a verdades já passadas; as novas, que são o
escuridão das profecias; sem o auxílio dessas conhecimento das outras futuras” (41).
condições, o sentido permanecerá necessari-
amente oculto: “as prophecias se vão desco- Esse “os modernos” deve ser entendido
brindo e entendendo, ordenada e sucessiva- como uma modesta alusão a si próprio. As
mente, aos mesmos passos, ou mais vagaro- “novas riquezas” são as palavras em si mes-
sos, ou mais apressados, com que se vão se- mas, estudadas nos seus aspectos etimológicos
guindo e variando os tempos” (39). e até fonológicos. Seguindo esse método,
Há um tempo (futuro) que a profecia es- Vieira interpreta uma das profecias de Isaías
clarece, mas a medida da profecia é o tempo (18,1) como destinada aos povos
(presente) no qual ela pode ser interpretada. maranhenses, usando curiosos argumentos
Por isso Vieira sabe “um pouco mais” que os que, às vezes, até recorrem à própria língua
intérpretes anteriores: porque houve uma his- indígena para se confirmar. Assim, “in vasis
tória que se desenvolveu entre eles e Vieira papiri” de Isaías significaria, para Vieira, as
durante os séculos que os separam, e porque canoas, as “igara” dos “iguarunas”. Os
ele próprio é aliado do presente. Se há uma cimbalo alarum seriam “maracás” e, ao
memória que recorre aos intérpretes antigos, mesmo tempo, “maracatim”, nome com que
há também um entendimento (presente) que os indígenas designavam os navios europeus.
dilata e completa as leituras anteriores das E, assim por diante, cada uma das palavras de
profecias. Esse “pouco mais”, essa diferença Isaías é aplicada (alguns dirão: não sem co-
é o que resta entre a memória do passado e o meter alguma falácia ou arbitrariedade) à re-
saber do presente. alidade maranhense que o remoto profeta já
Vieira expõe três razões para legitimar havia entrevisto numa profecia que, agora,
uma nova (a sua) leitura das profecias: “As era esclarecida, com o auxílio da novidade e
razões que nos movem e obrigam são três. à luz de novos fatos, por Vieira.
A primeira, porque os doutores antigos não O segundo dos fatores que distingue as
38 Idem, ibidem, p. 163.
disseram tudo. Segunda, porque não acer- interpretações de Vieira das anteriores é jus-
39 Idem, ibidem, p. 171.
taram em tudo. Terceira, porque não con- tamente esse: o surgimento de novos
40 Idem, ibidem, p. 198. cordaram em tudo” (40). A nova leitura parâmetros históricos e geográficos que, com
41 Idem, ibidem, p. 204. de Vieira anula essas divergências e im- sua aparição, outorgam um novo sentido às

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profecias, e obrigam a lê-las de outra manei- Escrituras, não existe possibilidade de haver
ra. Na época dos primeiros intérpretes, não alguma coisa nova – a menos que haja esque-
havia no mundo “verdadeira e exacta cimento, ou ignorância.
cosmographia”. O mundo ignorava a exis- Falando da sua obra, Vieira deixa claro
tência da América; como, então, os intérpre- que: “Serão novas neste nosso livro cousas
tes iam dar com o significado verdadeiro de que foram primeiro que as que hoje se tem
uma profecia referida à América, se desco- por antigas” (42). A seguir reivindica o cará-
nheciam por completo a existência desse con- ter inédito dessa obra, não porque ela traga
tinente? As profecias falavam de uma nação um conhecimento novo (que, de fato, traz),
que encabeçaria o reino de Cristo, e de um rei mas porque, para os homens, a novidade sur-
dessa nação que iria presidir os destinos do ge das deficiências do conhecimento:
Quinto Império, o da paz e da felicidade, o
último antes da chegada do Anticristo: como “Umas cousas faz novas o esquecimento,
os intérpretes iam saber que essa nação era porque se não lembram; outras a
Portugal, se não existia nação alguma com escuridade, porque se não vêm; outras a
esse nome naquela época? ignorância, porque se não sabem; outras a
Para Vieira, a história desvia e completa distância, porque se não alcançam; outras
o sentido. A interpretação depende das pala- a negligência, porque se não buscam; e de
vras originais dos profetas, mas depende tam- todas estas novidades sem novidades ha-
bém, para ser verdadeira, da história. E, quan- verá muito nesta nossa história” (43).
do falamos de “história” em Vieira, falamos,
é claro, de uma história já interpretada, uma Esquecimento, ignorância, negligência
história que, como tal, está sempre a favor são, entre outras, as portas pelas quais entra a
dos interesses do intérprete. Conforme esses novidade. Novidade que se propõe como ele-
interesses, Portugal está sempre acima de mento unificador entre o conhecimento eter-
tudo; Vieira dedica grande parte do “Livro no (baseado na Escritura, sempre o mesmo e
Ante-primeiro” a convencer a Espanha a acei- um) e a recepção desse saber. No processo de
tar a independência portuguesa (Portugal ti- recepção – por esquecimento ou negligência
nha passado sessenta anos, de 1580 a 1640, – muitos conhecimentos verdadeiros se per-
sob o domínio da coroa espanhola), pois essa dem ou, se escurecendo no caminho, não
independência obedecia a um desígnio divi- chegam a seu destino. A função da novidade
no. A História do Futuro estaria dedicada a seria recuperar essas perdas e unificá-las, atra-
explicar que também era desejo divino que vés do discurso revelador do intérprete, na
Portugal comandasse o Quinto Império. Len- superfície do conhecimento primeiro.
do Vieira, parece-nos que história e profecia E então Vieira, o porta-voz da novidade,
estão feitas do mesmo material; ambas podem o decifrador de sonhos:
ser interpretadas à vontade, e podem (em apa-
rência) adotar com docilidade o direcionamento “Os futuros portentosos do Mundo e Por-
que o intérprete lhe quiser dar. Mas também tugal, de que ha de tratar a nossa história,
ambas – profecia e história – se reservam o muitos annos ha que estão sonhados como
direito de dar, por sobre as ilusões dos intér- os do Pharaó e escriptos como o de
pretes, sempre a última palavra. Balthasar; mas não houve até agora nem
Joseph que interpretasse os sonhos, nem
DIVINAS PROMESSAS Daniel que construísse as escripturas; é
isto o que eu começo a fazer” (44).
Vieira apresenta, no “Livro Ante-primei-
ro”, sua história sob o signo da novidade. É o No passado, Deus ideou Seu sonho; a
recurso retórico que Curtius (analisando os novidade consiste em trazer esse sonho para
42 Idem, ibidem, p. 194.
topoi) denominou “trago coisas inéditas”. o presente, para divulgá-lo. Nesse propósito
Vieira deu um sentido diferente a esse topos; de divulgação do sonho divino, Vieira centrou 43 Idem, ibidem, p. 195.

se tudo já está de alguma forma contido nas todas as suas esperanças, e é nesse propósito 44 Idem, ibidem, p. 60.

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também que está contida a medida de seu os desconfiados devem buscar consolo, mais
excesso. Se a História do Futuro significa uma vez, em outro tipo de promessa.
certamente um desvio (excessus) em relação
ao resto da produção textual jesuítica, é mo- 1666: AS MARCAS DO CÉU
mento agora de nos ocupar – não para
condená-lo (nenhuma autoridade nos assisti- 1666 é um ano que assinala o limite que o
ria) senão simplesmente para mostrá-lo e tempo dera a Vieira para confirmar a verdade
documentá-lo – do papel excessivo que Vieira das profecias. Prazo máximo da esperança,
se outorgou a si mesmo escrevendo a Histó- data fatal na qual finalmente o profetizado,
ria (45). mudando de condição, deixaria de pertencer
Esse excesso tem a ver com a verdade que ao difuso espectro dos vaticínios para se trans-
seu autor atribuía à obra, e com a colocação, formar em História.
no curso da história da humanidade que Vieira Sonhos milenaristas e medos apocalípticos,
imaginava ela iria ter. Quanto à verdade, o hoje, no final deste segundo milênio, parecem
raciocínio de Vieira é o seguinte: as Escritu- aos céticos uma curiosidade, e aos crentes um
ras são necessariamente verdadeiras; minha anacronismo; mesmo esperando que alguma
interpretação, posto que atende ao sentido coisa aconteça, e mesmo mantendo a suspeita
literal e genuíno do Texto (e está “formada e de que alguma coisa irá acontecer, o espírito
como tecida” das mesmas sentenças dessa da época nos impede de acreditar de vez nes-
Escritura), deve ser, conseqüentemente, ver- sas possibilidades. Muitos podem crer ainda
dadeira. A possibilidade de erro na interpre- hoje nas grandes mutações do mundo; essas
tação nunca é admitida por Vieira; nisso con- expectativas, porém, parecem estar sempre
siste sua grandeza, e também sua desmesura: permeadas de algum receio. Todavia, seria bom
lembrar que no século de Vieira, o milenarismo
“Daqui inferimos, sem injuria nem e os pressentimentos apocalípticos faziam parte
aggravo de quantas histórias até hoje es- da corrente do pensar, e eram considerados,
tão escriptas no Mundo, que esta História com diferença de grau, como fatos que o futu-
do Futuro é mais certa e mais verdadeira ro iria corroborar. As opiniões de Vieira po-
que todas ellas (excepto sòmente as histó- dem nos parecer insensatas, mas, como assi-
rias sagradas” (46). nala Azevedo:

Por outro lado, a obra é chamada de “livro “o período em que vivia o jesuíta era agi-
santo”: “sem atrevimento ou demasiada con- tado por um marulhar de aparições vagas,
fiança podemos chamar a esta nossa História em que as almas incertas do porvir busca-
do Futuro, livro santo” (47), remédio com que vam seu rumo. Não as podia satisfazer a
todos os homens, e os portugueses em particu- ciência incompleta, a filosofia incoeren-
lar, contariam para combater todos os deses- te, a religião em debates que o tempo lhes
peros, todas as infelicidades deste mundo: oferecia. Cada um forcejava por desco-
brir a seu modo o segredo, que sempre
45 Ver: Thomas Cohen,
“Millenarian Themes in the “Para esta occasião, e tão apertada, sahe a atraiu o homem, da direção do mundo e da
Writings of António Vieira”,
in Luso-Brazilian Review,
luz e se offerece ao Mundo este livro san- finalidade da vida” (49).
vol. XVIII, no 1, 1991, pp.
23-46. “The argument of the
to, no qual acharão os afflictos allivio, os
‘Livro Ante-primeiro’ is tristes consolação, os atribulados remedio, Mesmo constituindo Vieira, como já dis-
rooted in the expulsion from
the Amazon and in the os combatidos socorro, os desconfiados semos, um excesso, isso não implica de modo
Inquisition is attacks on
Vieira and on the Society esperança, paciencia, constancia e forta- algum que fosse um “marginal” dentro do
as a whole” (p. 31).
leza, tudo por meio da lição e fé das divi- campo das idéias. Para Azevedo, Vieira ex-
46 Antônio Vieira, op. cit., p.
159. nas promessas” (48). primia “a psique da sociedade convulsa da
47 Idem, ibidem, p. 72.
sua época”:
48 Idem, ibidem.
Contrariando os desejos do autor (e tam-
bém os nossos), não houve nem livro santo “Desde o Oriente, onde entre as nações
49 J. L. de Azevedo, op. cit., v.
2, p. 28. nem livro algum, e os tristes, os atribulados e que o Turco oprimia o judaísmo chamava

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o seu redentor, à Inglaterra, no outro ex- opinião de Vieira, mil anos (52). Após esse
tremo, dilacerada por contendas sangren- período o Anticristo liberaria “os povos
tas de religião e governo, a mesma aspira- imundos” do encerro ao qual o Encoberto os
ção de tranqüilidade e equilíbrio social tinha confinado durante todo o Quinto Im-
incitava os homens a buscarem a chave pério. Antes dessa chegada do Anticristo, o
das possíveis transformações do mundo rei iria a Jerusalém e, no monte Gólgota,
nos arcanos do céu, ou de celeste proce- penduraria a coroa real na Santa Cruz. Cruz
dência, que o esforço dos sábios conse- e coroa se levantariam ao céu, o rei entrega-
guira desvendar. Assim, segundo as ter- ria a alma a Deus e seria esse o ato final da
ras e as pessoas, a cabala, a astrologia, a história humana. Depois seria a hora da luta
mística rompiam o mistério dos aconteci- decisiva entre Deus e as forças diabólicas, e
mentos, e davam refrigério aos espíritos, finalmente chegaria o Juízo Final.
na inquietação perene do futuro” (50). Inúmeros avisos certificavam que o ano
da reaparição do Encoberto, quando, venci-
As meditações de Vieira então não têm dos os primeiros inimigos da fé, inaugurar-
nada de extemporâneas. As aspirações se-ia o Quinto Império, seria o de 1666. Men-
lusocêntricas que elas postulam participam, cionaremos aqui apenas alguns desses avi-
de forma difusa ou pontual (e significam uma sos, que giram em torno do número seis:
revisão), dos ciclos legendários de Portugal a) Certas especulações julgavam que
(o de Alfonso Henriques, o de João Prestes, havia firme paralelismo entre os seis dias da
o de Sebastião) e das idéias defendidas pelos Criação (Gen. 2, 2) e as palavras de São Pedro
sebastianistas acerca da existência de um rei “Um dia, diante do Senhor, é como mil anos,
Encoberto (D. Sebastião I) que não estaria e mil anos como um dia” (“2 carta de São
morto, mas “trasladado”, oculto “pela ilu- Pedro” 3, 8). Daí se segue que o mundo du-
são da morte”, e que voltaria para conduzir rará seis milênios (o engenho dos intérpre-
os destinos de grandeza de Portugal. tes sempre conseguia alongar o prazo para
1666 parecia ser o ano marcado para o poder dizer que esse em que viviam era “o
retorno do Encoberto. Vieira, que inicial- último milênio”. Vieira, por exemplo, no
mente não acreditara nas hipóteses “Livro Ante-primeiro” diz que a tradição dos
sebastianistas, já a partir da leitura das Tro- seis mil anos “ainda tem lugar de poder ser
vas de Bandarra tinha passado a confiar fir- verdadeira”, e na segunda Representação,
memente na instauração de um Quinto Im- que ao mundo restam 340 anos, embora de-
pério presidido pelo Encoberto português. pois, afirmando que o Reino consumado de 50 Idem, ibidem, p. 36.
Nessa confiança baseou todo seu aparato Cristo na terra ocupa o sétimo milênio, fale
51 Para maiores dados, ver:
argumentativo. Para ele, não era D. Sebasti- em 1.340 anos) (53). J. Besselaar, “A Profecia
Apocalíptica de Pseudo-
ão (morto na África em 1578; seu corpo b) No Apocalipse, 666 é o número da Metódio”, in Luso-Brazilian
Review, vol. XVIII, n o 1,
nunca foi achado, o que alimentaria a ilusão Besta. O número apocalíptico possuía senti- 1991, pp. 5-22.

de que estava escondido e não falecido) o do místico para os cabalistas, significando a 52 Curtius, em Literatura Eu-
ropéia e Idade Média Lati-
“desejado”, o “encoberto” de quem as pro- renovação do mundo. na, assinala que há um
fecias falavam, senão D. João IV, que fora c) Bandarra, nas Trovas, já tinha aponta- conceito – o de traslatio,
“transferência” – que é fun-
seu amigo e protetor, e morrera em 1657, do o número como indicador de grandes su- damental para a teoria
medieval da história. As-
enquanto Vieira encontrava-se no Maranhão. cessos. Copla C: “E nestes seis/ vereis cousas sim, a passagem do Quar-
to (o romano) para o Quin-
Ressuscitando, o Rei lusitano venceria de espantar”. Copla CXXVIII: “Aqueles que to Império seria entendida
como renovação e trans-
os turcos e todos os inimigos de Deus, e de- aos seis chegarem/ Terão quanto desejarem/ ferência do poder,
provocada pelos pecados
cretaria, como imperador de todo o mundo, E um só Deus será conhecido” (54). do império declinante. Ver,
na Bíblia, Eclesiastes 10,
a paz universal, inaugurando assim o reino d) No número 1666, como nos adverte 8: “Um reino é transferido
duma nação à outra por
de Cristo na terra (51). Esse reino (que, se- Vieira, “todos os números do abecedário la- causa das injustiças, e das
gundo algumas profecias, como a de Pseudo- tino se enchem completamente na conta dêste violências, e dos ultrajes,
e de diferentes enganos”.
Metódio, ia ser efêmero – profecias, é claro, ano, sem acrescentar, nem diminuir, nem tro-
53 J. Besselaar, op. cit., p. 18.
que Vieira deixa de lado para poder armar car ou alterar a ordem dêles: porque o M
54 J. L. de Azevedo, op. cit., v.
suas próprias interpretações) duraria, na vale mil, o D quinhentos, o C cento, e L 2, p. 24.

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cinqüenta, o X dez, o V cinco, o I um; e todos da contra seus próprios desejos), o Enco-
juntos pela mesma ordem fazem 1666: berto de Vieira passaria a ser D. Affonso
MDCLXVI” (55). Este perspicaz argumen- VI, e depois D. Pedro II, e finalmente os
to, que visava a demonstrar a excep- filhos deste, o primeiro morto na infância,
cionalidade do ano em questão, foi exposto o segundo, D. João V. Desta forma obede-
por Vieira na sua defesa perante o Santo cia à lógica das suas interpretações primei-
Ofício. ras; infelizmente, nenhum dos reis assina-
e) Entre as notas de Vieira constava que lados por Vieira tornou-se imperador do
as letras do nome de Mahomet correspondem Quinto Império, e por sua vez foram mor-
ao número 666 (56). rendo, sem poder ter a menor certeza (atre-
f) Um cometa, em fins de 1664, tinha ver-me-ia a dizer) de que chegariam a res-
sido visto em Portugal. Vieira aponta que “o suscitar, algum dia.
cometa de 1577, a que se atribui a perda de Ainda em 1695 – Vieira tinha 87 anos –
El-Rei D. Sebastião, segundo a conta de foi visto nos céus da Bahia outro cometa.
Vossa Senhoria, saiu ou apareceu no mesmo Vieira sempre crera que, além dos profetas,
dia que este, e não falta quem ache grandes os cometas eram o instrumento pelo qual
mistérios nesta correspondência, que verda- Deus fazia saber ao mundo Sua vontade. Era
deiramente é notável” (57). este cometa em forma de espada, e como tal
g) Outros prodígios, não menos notáveis, anunciava golpes, golpes que o infatigável
também foram destacados por Vieira como intérprete se encarregou de analisar no “Voz
prova da proximidade de grandes transfor- de Deus ao mundo, a Portugal e à Baía”,
mações: espécie de tratado astrológico escrito por
inspiração do fenômeno. Nesse ensaio,
“Em Guimarães vomitou um homem en- Vieira adverte que o cometa podia significar
fermo um dragão com duas asas, de cum- para o mundo grandes calamidades: fomes,
primento quási de um côvado, da cabeça inundações, tempestades, pestes, guerras.
até o meio largo de dois dedos, vermelho Tais castigos só podiam ser afastados pela
e escuro, do meio para a cauda mais del- graça da oração e pela penitência...
gado e de côr parda. De Roma se escreve Como em oportunidades anteriores, des-
houve três dias de nêvoas tão espessas e ta vez também as marcas do céu não permi-
escuras, que se não viam os homens nem tiram que seu sentido – se é que tinham al-
os edifícios, e que as trevas eram palpá- gum – fosse desvelado. Infinitas vezes Vieira
veis, como as do Egipto. Tudo são sinais procurou no céu o mapa que o guiasse para
e prodígios que solenizam as vêsperas do andar pela terra. Lendo esses mapas, ou os
ano fatal, por cujas maravilhas nenhum inventando, outras tantas vezes se equivo-
há já tão incrédulo que não espere” (58). cou; até seus últimos dias redigiu os Ser-
mões, no entanto ditava a Clavis
Por outro lado, em Torres Vedras, uma Prophetarum, que não conseguiria terminar.
imagem da Virgem tinha suado sangue: Terá entrevisto, finalmente, que há marcas
“Com o que – dizia Vieira, ainda em 1664 – no céu, como na natureza, que parecem estar
o céu e a terra parece começam a solenizar a ponto de se compreender e nunca se com-
as vêsperas e expectação do ano de 66” (59). preendem?
Todavia, nada fora do comum aconte- Se foi assim, não haverá sido o único a
ceria em 1666. Vieira passou o ano inteiro ter esse pressentimento. No dia da sua morte
no cárcere, do qual sairia só em 1667. Ain- (17 de junho de 1697) uma estrela nova (di-
da assim, sempre manteve a certeza de que zem) brilhou sobre o Colégio da Baía; o
55 Idem, ibidem, p. 25.
era desígnio divino que Portugal dirigisse, orador das exéquias e muitos presentes con-
56 Idem, ibidem.
algum dia, os destinos da humanidade. Tam- firmaram a versão. No relatório do Reitor,
57 Idem, ibidem, p. 35. bém não perdeu as esperanças de que o En- porém, o fato não figura. Verdade ou fábula,
58 Idem, ibidem. coberto retornaria; desprezando ressusci- tanto faz: acaso as marcas do céu se impor-
59 Idem, ibidem. tar D. João IV (como desprezou, sem dúvi- tam com as interpretações dos homens?

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