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Corpo Editorial
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Lariza Gabriele Pereira Da Silva
Matheus Borges Do Amorim
Alex Oliveira de Castro Castelo
Glayciane Costa Gois
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José Antonio Moreira
Alberto Augusto Dos Santos
Gilberto Batista Almeida
Rogério Souza Ferreira
Antônio Silva Amaral
Pedro Macedo de Souza
Gustavo Rodrigues Ferreira
Eduarda Soares Macedo
Ana Carolinna Ribeiro
Henrique Moura dos Santos
Agnaldo Moreira da Silva
Vitória Carolina Pimentel

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Todos os manuscritos foram previamente submetidos à avaliação cega pelos pares, membros
do Corpo Editorial deste Evento, tendo sido aprovados para a publicação.

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APRESENTAÇÃO

O presente livro trata-se de uma coletânea dos artigos científicos submetidos e aprovados no
Congresso Nacional Multidisciplinar em Ciência (COMCIÊNCIA) na área científica das Ciências
Agrárias, Engenharias e Ciências Exatas e da Terra

O Congresso Nacional Multidisciplinar em Ciência (COMCIÊNCIA) foi um evento científico para


acadêmicos e profissionais realizado de forma online nos dias 13, 14 e 15 de janeiro de 2022,
com o intuito de promover a produção e divulgação científica das mais diversas áreas
acadêmicas para todo o país. O evento contou com mais de 800 submissões de trabalhos nas
categorias Resumo Simples e Resumos Expandidos e Capítulos de Livro, incluindo artigos de
todas as grandes áreas Científicas (Ciências da Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Agrárias,
Ciências Exatas e da Terra, Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias e
Linguagens, Letras e Artes) que foram apresentados em exposição durante os três dias do
evento, em concomitância com as palestras ministradas, para as quais tivemos mais de 5000
inscrições. Agradecemos imensamente a participação de todos aqueles que acreditam na
produção científica e embarcaram nessa jornada conosco!

DOI: 10.55232/237922

ISBN 978-65-997239-2-6

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS NO CONTEXTO DA INDÚSTRIA 4.0, Á LUZ DO


SISTEMISMO: UMA REVISÃO INTEGRATIVA - PÁGINA 7

CAPÍTULO 2 - TRATAMENTOS ANTIFÚNGICOS E QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES


DE FAVA D’ANTA - PÁGINA 26

CAPÍTULO 3 - CADEIA PRODUTIVA DE PESCADO NO BRASIL: ATUALIDADES E


PERSPECTIVAS FUTURAS - PÁGINA 42

CAPÍTULO 4 - O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL NA AGRICULTURA -


PÁGINA 69

CAPÍTULO 5 - USO DO MELHORAMENTO GENÉTICO NA REPRODUÇÃO EQUINA - PÁGINA 85

CAPÍTULO 6 - ECOLOGIA DE GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE AMARELÃO (ASPIDOSPERMA


VARGASSII A. DC.) - PÁGINA 104

CAPÍTULO 7 - DESEMPENHO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO CONVENCIONAL


EM CULTIVOS DE HORTALIÇAS - PÁGINA 112

CAPÍTULO 8 - ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA PARA MUNICÍPIOS


DA REGIÃO SUL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO - PÁGINA 122

CAPÍTULO 9 - MÉTODOS DE ADUBAÇÃO DA CROTALARIA SPECTABILIS - PÁGINA 136

CAPÍTULO 10 - DESEMPENHO VEGETATIVO DO FEIJOEIRO COMUM CULTIVADO SOB


DÉFICIT HÍDRICO - PÁGINA 157

CAPÍTULO 11 - IDENTIFICAÇÃO E DANOS DE CONOTELUS LUTEICORNIS ERICHSON


(COLEOPTERA: NITIDULIDAE): NOVA PRAGA DO MARACUJAZEIRO-AZEDO NO ESTADO DO
ACRE - PÁGINA 170

CAPÍTULO 12 - AGRICULTURA 4.0: UM REVISÃO SISTEMÁTICA SOBRE A UTILIZAÇÃO DE


SISTEMAS INTELIGENTES NA AGRICULTURA - PÁGINA 179

CAPÍTULO 13 - GERENCIAMENTO DO VALOR AGREGADO: UMA PROPOSTA COM A


UTILIZAÇÃO DE PLANILHAS WEB - PÁGINA 190

CAPÍTULO 14 - A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA


PROGRESSIVISTA NO ENSINO DE FÍSICA TÉRMICA - PÁGINA 208

CAPÍTULO 15 - SISTEMA DE COMUNICAÇÃO À LONGA DISTÂNCIA COM BAIXO CONSUMO


ENERGÉTICO PARA MONITORAMENTO DE SENSORES NA LAVOURA DE FEIJÃO - PÁGINA
223

CAPÍTULO 16 - UTILIZANDO APRENDIZAGEM DE MÁQUINA PARA CLASSIFICAÇÃO DE


CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) - PÁGINA 232

CAPÍTULO 17 - UMA PROPOSTA INTERDISCIPLINAR EM UM CURSO TÉCNICO EM QUÍMICA:


ANÁLISE E USO DO SOLO - PÁGINA 248

CAPÍTULO 18 - ASTROFOTOGRAFIA COMO RECURSO PEDAGÓGICO MULTI E


INTERDISCIPLINAR PARA ENSINAR CIÊNCIAS E ASTRONOMIA - PÁGINA 252
CAPÍTULO 19 - APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS ONLINE NO ENSINO DE FÍSICA PARA
CORRIGIR DEFICIÊNCIAS DOS FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA EM ALUNOS DO CURSO
INTEGRADO. - PÁGINA 297

CAPÍTULO 20 - SISTEMAS IOT APLICADOS NA AGRICULTURA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA


- PÁGINA 320

CAPÍTULO 21 - UTILIZAÇÃO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA IDENTIFICAÇÃO DE


PADRÕES DE IMAGENS NA AGRICULTURA – REVISÃO SISTEMÁTICA - PÁGINA 333

CAPÍTULO 22 - POTENCIAL DO USO DO WHATSAPP COMO FERRAMENTA NA GESTÃO DE


PROJETOS DE ENGENHARIA: UM ESTUDO DE CASO - PÁGINA 342

CAPÍTULO 23 - PATOLOGIAS DECORRENTES DE FALTA DE IMPERMEABILIZAÇÃO –


SISTEMA DE RECUPERAÇÃO: UM ESTUDO DE CASO - PÁGINA 353

CAPÍTULO 24 - ANÁLISE DE MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM UMA EDIFICAÇÃO


UNIFAMILIAR NA CIDADE DE PALMAS/TO: ESTUDO DE CASO - PÁGINA 371

CAPÍTULO 25 - INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO COMO FERRAMENTAS DE


SOBREVIVÊNCIA EMPRESARIAL EM TEMPOS DE PANDEMIA - PÁGINA 383

CAPÍTULO 26 - NANOTUBOS DE TIO2: UMA REVISÃO DOS MECANISMOS DE FORMAÇÃO,


PARÂMETROS DE CRESCIMENTO E SUAS APLICAÇÕES - PÁGINA 400

CAPÍTULO 27 - DESENVOLVIMENTO DE PROTÓTIPO DE CÁPSULAS POROSAS PARA USO NA


AGRICULTURA IRRIGADA - PÁGINA 428

CAPÍTULO 28 - ANÁLISE E PREVISÃO FUTURA DO CENÁRIO DE CONSUMO DE CARNE DE


FRANGO NO BRASIL - PÁGINA 440

CAPÍTULO 29 - ANÁLISE DO BETA FOSFATO TRICÁLCICO DOPADO COM ÍONS METÁLICOS


- PÁGINA 465

CAPÍTULO 30 - MELHORIA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO: UM ESTUDO DE CASO EM UMA


INDÚSTRIA DE PLÁSTICO - PÁGINA 490

CAPÍTULO 31 - DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMA DE COMPUTADOR PARA


COMPACTAÇÃO DE PÓS DE LIGAS METÁLICAS - PÁGINA 502

CAPÍTULO 32 - REUSO E RECICLAGEM TÊXTIL COMO FORMA DE EDUCAÇÃO PARA


SUSTENTABILIDADE - PÁGINA 518

CAPÍTULO 33 - PROPOSTA DE MELHORIA NO PROCESSO DE REPARAÇÃO DE UMA


SEGURADORA DE AUTOMÓVEIS - PÁGINA 530

CAPÍTULO 34 - IMPACTOS AMBIENTAIS DE UMA REFINARIA DE PETRÓLEO: PROPOSTA


METODOLÓGICA PARA O CURSO TÉCNICO EM PETRÓLEO E GÁS - PÁGINA 548

CAPÍTULO 35 - TDICS, EXPERIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO - PÁGINA 573

CAPÍTULO 36 - PROBLEMÁTICA PERCEBIDA NOS TEMAS SOCIAIS E ECONÔMICOS EM


RELAÇÃO À INFLUÊNCIA DO TEMPO ATMOSFÉRICO EM UMA CIDADE LITORÂNEA
CONSTARRIQUENHA - PÁGINA 591
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 1

COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS NO CONTEXTO DA


INDÚSTRIA 4.0 À LUZ DO SISTEMISMO: UMA
REVISÃO INTEGRATIVA

Paulo César Lapolli, Inara Antunes Vieira Willerding, Édis Mafra


Lapolli e Gertrudes Aparecida Dandolini

RESUMO: O termo Indústria 4.0 foi lançado em 2011 na Alemanha. Um


comitê formado por representantes do governo, universidades e empresas
foi responsável por desencadear o programa de transformação digital
alemão, denominado de Indústria 4.0. Dentre os objetivos deste programa
encontrava-se o aumento da produtividade, da competividade e da
sustentabilidade organizacional. Neste cenário, iniciou-se uma corrida por
novas tecnologias que propiciassem as condições necessárias para a
adaptação das empresas à Indústria 4.0, onde, o ser humano tem a
responsabilidade de ser o principal ator de transformação. Isto remete ao
pensamento de Schwab (2016, p. 1) ao afirmar que “estamos no início de
uma revolução que está mudando fundamentalmente a forma como
vivemos, trabalhamos e nos relacionamos um com o outro”. Este cenário de
profundas transformações nas organizações e nas pessoas irá exigir novas
competências e habilidades, tanto ao nível organizacional como pessoal.
Este artigo tem por objetivo investigar as competências essenciais para a
indústria 4.0 à luz do sistemismo. Para tal, realizou-se uma revisão
integrativa da literatura a fim de desvendar o entendimento de diversos
autores sobre as competências no novo desafio das organizações, a Indústria
4.0.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1.INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, a complexidade e os requisitos da indústria de manufatura vem


aumentando de forma gradual. Este crescimento está relacionado com fatores como
concorrência global, demanda por produtos/serviços individualizados, ciclo de vida reduzido
de produtos/serviços. Aliado a estes fatores o desenvolvimento tecnológico vem gerando novas
oportunidade de negócios para as empresas. Conceitos como digitalização, internet das coisas,
sistemas ciberfísicos estão extrapolando as fronteiras do chão de fábrica e se inserindo no
mundo dos negócios. O termo Indústria 4.0 é definido a partir de 3 grandes revoluções
industriais que aconteceram ao longo da história das organizações. A Primeira Revolução
Industrial (Indústria 1.0) ocorreu no final do século XVIII na Inglaterra e, tinha ana sua essência
a fabricação mecânica baseada em água e vapor. A Segunda Revolução Industrial (Indústria
2.0) ocorreu no início do século XX caracterizando-se pela produção em larga escala e
utilizando fontes de energia como a eletrecidade e o petróleo. A Terceira Revolução Industrial
(Indústria 3.0) inicial o processo de utilização de computadores tornando a produção mais
automática baseada, principalmente em eletrônica e tecnologias da Internet. A Indústria 4.0
precisou de pouco mais de 40 anos para seu surgimento, que aconteceu no ano de 2011 na
Alemanha. Seu lançamento fazia parte da estratégia tecnológica alemã com a proposta de uma
indústria sustenta por tecnologia e digitalmente integrada.
Segundo Galati e Bigliar (2019) a Indústria 4.0 envolve uma interação complexa entre
humanos e máquinas gerando forte impacto nas atividades da indústria, como por exemplo a
criação de novas funções e formas de se executar atividades, criação e desenvolvimento de
competências, aprendizagem continuada, entre outras. Da mesma forma que esses impactos
podem trazer grandes oportunidades, carregam também vários desafios a serem enfrentados
pelas organizações. Neste complexo contexto de constantes mudanças, um dos maiores
desafios a serem superados está relacionado às competências essenciais, tanto da organização
quanto das pessoas. PrahaladEste estudo tem por objetivo investigar as competências essenciais
no contexto da Indústria 4.0 à luz do sistemismo. Competências essenciais representa “o
aprendizado coletivo na organização, especialmente no que diz respeito a como coordenar as
diversas habilidades de produção e integrar as múltiplas correntes da tecnologia” (ULRICH,
2000, p. 58) define, competências essenciais como “o aprendizado coletivo na organização,
especialmente no que diz respeito a como coordenar as diversas habilidades de produção e
integrar as múltiplas correntes da tecnologia”. Para tal, uma Revisão Integrativa da Literatura
foi utilizada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O artigo está estruturado em quatro seções, incluindo esta. A segunda seção apresenta
a metodologia utilizada. A análise e interpretação dos resultados são apresentados. Por fim, a
quarta seção fornece as considerações finais da investigação.

2. METODOLOGIA

O objetivo de uma revisão integrativa da literatura é a sintetização do conhecimento


produzido a respeito de um determinado objeto de estudo. Na visão de Torraco (2005, p. 356)
a revisão integrativa “[...] revisa, critica, e sintetiza a literatura representativa em um tópico de
uma forma integrada, de tal maneira que novos frameworks e perspectivas sobre o tema sejam
gerados”. Neste tipo de revisão da literatura, o pesquisador pode contribuir para futuras
discussões sobre os métodos utilizados e os resultados obtidos pela sintetização do
conhecimento, permitindo a reflexão das pessoas para o desenvolvimento de novas
investigações.
Pompeo, Rossi e Galvão (2009, p. 435) definem a revisão integrativa como:

um método de revisão mais amplo, pois permite incluir literatura teórica e


empírica bem como estudos com diferentes abordagens metodológicas
(quantitativa e qualitativa). Este método tem como principal finalidade reunir
e sintetizar os estudos realizados sobre um determinado assunto, construindo
uma conclusão, a partir dos resultados evidenciados em cada estudo, mas que
investiguem problemas idênticos ou similares. Os estudos incluídos na revisão
são analisados de forma sistemática em relação aos seus objetivos, materiais
e métodos, permitindo que o leitor analise o conhecimento pré-existente sobre
o tema investigado.

Assim, esta revisão integrativa da literatura visa identificar as evidências relacionadas


ao desenvolvimento de competências essenciais, dentro de uma perspectiva sistêmica, no
contexto da Indústria 4.0. Da mesma forma, esta revisão busca apresentar a relevância do tema
para esta tese, bem como identificar os gaps existentes sobre o objeto de estudo, no sentido de
evidenciar as contribuições desta pesquisa para o avanço da ciência.

2.1 OPERACIONALIZAÇÃO DA REVISÃO INTEGRATIVA

Um dos pré-requisitos para elaboração de uma revisão integrativa da literatura se traduz


na utilização de um checklist de verificação a fim de garantir a clareza e a precisão de todos os
procedimentos adotados em uma revisão integrativa da literatura. Assim, o processo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

metodológico definido e utilizado nesta pesquisa corresponde ao ckecklist para revisão


integrativa da literatura proposto por Torraco (2005), conforme Quadro 1.

Quadro 1 – Checklist para revisão integrativa da literatura.


Antes de escrever uma revisão integrativa da literatura
(a) Que tipo de artigo de revisão será escrito (revisão de um novo tópico ou um tema já maduro?). A
revisão integrativa se traduz na forma mais apropriada para abordar o problema de pesquisa?
(b) Existe a necessidade de revisão integrativa da literatura? O artigo de revisão fará uma contribuição
de valor agregado para um novo pensamento no campo?
Organizando uma revisão integrativa da literatura
(c) O artigo de revisão é organizado em torno de uma estrutura conceitual coerente do tópico (por
exemplo, uma teoria orientadora, um conjunto de modelos concorrentes)?
(d) Os métodos para a realização das revisões de literatura são suficientemente descritos? Como foi
selecionada a literatura? Quais palavras-chave e procedimentos foram usados para pesquisar a
literatura? Quais bancos de dados foram usados? Quais critérios foram usados para reter ou descartar
a literatura? Como a literatura foi revisada (por exemplo, leitura completa de cada documento da
literatura, apenas a leitura de resumos, uma revisão encenada)? Como foram as principais ideias e
temas da literatura identificadas e analisadas?
Escrevendo uma revisão integrativa da literatura
(e) O artigo analisa criticamente a literatura existente sobre o tema (isto é, uma crítica é fornecida)?
(f) O artigo sintetiza o conhecimento da literatura em uma avaliação significativa e contribui para
novos conhecimentos sobre o tema?
(g) Que formas de síntese são usadas para estimular mais pesquisas sobre o assunto? Uma agenda de
pesquisa (questões de pesquisa ou proposições), uma taxonomia (ou outra classificação de
construtos), um modelo alternativo ou estrutura conceitual, ou metateoria (teoria que transcende o
tópico e une os domínios teóricos).
(h) O artigo descreve o raciocínio lógico e conceitual utilizado pelo autor para sintetizar o modelo ou
estrutura a partir da revisão e crítica da literatura?
(i) Existem perguntas provocativas para futuras pesquisas apresentadas para capturar o interesse de
estudiosos?
Fonte: Adaptado de Torraco (2005, p. 365, tradução nossa).

O desenvolvimento de uma revisão integrativa da literatura deve seguir padrões


metodológicos rigorosos. Para este estudo, utilizou-se um protocolo com quatro etapas
distintas, conforme apresentado no Quadro 2.

Quadro 2 – Protocolo da revisão integrativa da literatura.


Etapa 1: Planejamento

1) Definição da questão de pesquisa;


2) Definição dos descritores;
3) Definição das bases de dados;
4) Definição das expressões de busca.
Etapa 2: Execução da pesquisa

1) Busca primária de registros nas bases de dados;


2) Definição dos critérios de inclusão/exclusão;
3) Identificação dos registros pré-selecionados.
Etapa 3: Identificação dos registros pré-selecionados e selecionados

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1) Leitura do título, resumo e palavras-chave;


2) Verificação da relevância dos registros;
3) Leitura na íntegra dos registros selecionados.
Etapa 4: Análise e apresentação da matriz de síntese

1) Leitura na íntegra dos artigos selecionados;


2) Desenvolvimento da matriz de síntese;
3) Apresentação da Matriz de síntese.
Fonte: Adaptado de Botelho, Cunha e Macedo (2011, p. 129).

Etapa 1 - Planejamento: foram definidas, para esta etapa, quatro atividades a serem
desenvolvidas. A primeira, diz respeito à definição da questão de pesquisa, pois é a partir desta
que o pesquisador pode selecionar a melhor estratégia a ser adotada para compreender o objeto
a ser estudado. Assim, esta revisão integrativa busca responder a seguinte questão: como as
competências contribuem com o desenvolvimento da Indústria 4.0, a luz do sistemismo?
Como fontes de pesquisa para busca dos registros foram delineadas as bases de dados
Scopus e Web of Science. Para esta revisão integrativa da literatura foram definidos os termos:
Core Competences, Industry 4.0 e Sistemism. Na sequência, partiu-se para a construção das
expressões de busca nas bases. Para tal, adotou-se palavras sinônimas dos descritores e/ou
expressões similares com o propósito de abranger uma quantidade maior de registros. As buscas
foram organizadas em três fases distintas: A, B e C, onde a fase “A”, corresponde a busca por
registros nas bases utilizando-se os descritores de forma isolada. Na fase “B”, os descritores
foram combinados em pares e, na fase “C”, os três descritores foram utilizados em conjunto. O
Quadro 3, apresenta os descritores e os respectivos sinônimos utilizados, bem como as
expressões de busca definidas.

Quadro 3 – Descritores, sinônimos e expressões de busca.


Descritores Sinônimos e/ou Expressões Similares
Core Competences Core Skills, Essential Skills, Essential Competence
Industry 4.0 Smart Factory, Smart Firm
Sistemic View, System Approach, Emergentism, Theory of Systems,
Sistemism
General Theory of Systems, General System Theory, System Theory

Base de Dados
Web of Expressão de Busca
Scopus
Science
A1 A2 (“CORE” or “ESSENTIA*”) and (“COMPETENCE*” or “SKILL*”)
A3 A4 (“INDUSTR* 4.0” or “SMART FACTOR*” or “SMART FIRM*”)
(“SISTEMISM*” or “SYSTEM* VIEW” or “SYSTEM* APPROACH” or
A5 A6 “EMERGENTISM*” or “GENERAL THEORY OF SYSTEMS” or
“GENERAL SYSTEM THEORY” or “SYSTEM* THEORY”)
(“CORE” or “ESSENTIA*”) and (“COMPETENCE*” or “SKILL*”)
B1 B2
and (“INDUSTR* 4.0” or “SMART FACTOR*” or “SMART FIRM*”)

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(“CORE” or “ESSENTIA*”) and (“COMPETENCE*” or “SKILL*”)


and (“SISTEMISM*” or “SYSTEM* VIEW” or “SYSTEM*
B3 B4 APPROACH” or “EMERGENTISM*” or “GENERAL THEORY OF
SYSTEMS” or “GENERAL SYSTEM THEORY” or “SYSTEM*
THEORY”)
(“INDUSTR* 4.0” or “SMART FACTOR*” or “SMART FIRM*”) and
(“SISTEMISM*” or “SYSTEM* VIEW” or “SYSTEM* APPROACH” or
B5 B6
“EMERGENTISM*” or “GENERAL THEORY OF SYSTEMS” or
“GENERAL SYSTEM THEORY” or “SYSTEM* THEORY”)
(“CORE” or “ESSENTIA*”) and (“COMPETENCE*” or “SKILL*”)
and (“INDUSTR* 4.0” or “SMART FACTOR*” or “SMART FIRM*”)
and (“SISTEMISM*” or “SYSTEM* VIEW” or “SYSTEM*
C1 C2
APPROACH” or “EMERGENTISM*” or “GENERAL THEORY OF
SYSTEMS” or “GENERAL SYSTEM THEORY” or “SYSTEM*
THEORY”)
Fonte: Autores.

Etapa 2 – Execução da Pesquisa: A busca nas bases de dados foi realizada no mês de
agosto de 2019. A busca primária não fez uso de critérios de inclusão/exclusão de registros.
Este procedimento visou obter um panorama completo do que está sendo estudado sobre o(s)
descritor(es) pesquisados. Os resultados extraídos desta pesquisa podem ser observados no
Quadro 4.

Quadro 4 – Resultados da busca primária.

Id da Quantidade Primeira Publicação


Busca de Registros Ano Autor(es) Título
Scopus
A1 53.905 1895 ROYCE, J. Preliminary Report on Imitation
ELLIOT, S. W.;
A3 7.070 1989 Meet the Smart Factory of the ’90s
HYDUK, S. J.
Discussion: Moral feeling as a basis of
A5 112.692 1903 HUGHES, P.
the psychology of morals
Web of Science
SOMERS, M.
A2 34.067 1957 Essentials of Social Group Work Skill
L.
ELLIOT, S. W.;
A4 4.176 1989 Meet the Smart Factory of the ’90s
HYDUK, S. J.
A Systematic Approach to the
LOEVINGER,
A6 57.873 1947 Construction and Evaluation of Tests
J.
of Ability
Fonte: Autores.

O total de registros recuperados das bases Scopus e Web of Science, 173.667 e 95.326
registros respectivamente, correspondem a 64,56% e 35,42% do total de registros extraídos das
duas bases, respectivamente. O termo de pesquisa com maior incidência de registros foi
“Sistemism”, com 169.175 (buscas A5 e A6), o que equivale a 63,11% do total de registros,

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enquanto que o termo de menor incidência foi “Industry 4.0” com 11.246 registros (buscas A3
e A4), quantidade essa que representa 4,18% do total de registros encontrados nas buscas das
duas bases de dados pesquisadas.
Na sequência da pesquisa, foram realizadas as buscas, com os descritores isolados e
combinados entre si, utilizando-se os seguintes critérios de inclusão/exclusão de registros:

• Áreas selecionadas na Scopus: Business, Management and Accounting -


Engineering - Multidisciplinary - Social Science;
• Categorias selecionadas na Web of Science: Business - Engineering Industrial –
Engineering Electrical Electronic - Engineering Manufacturing - Engineering
Mechanic - Engineering Multidisciplinary - Management - Multidisciplinary
Sciences - Social Sciences Interdisciplinary.

Os resultados obtidos após a execução das buscas com os critérios de inclusão/exclusão


de registros podem ser observados na Tabela 1.

Tabela 1 – Resultado das buscas com critérios de inclusão/exclusão.


Descritores Descritores
Descritores Isolados
Base de Combinados 2 a 2 Combinados 3 a 3
Dados Id da Quantidade Id da Quantidade de Id da Quantidade de
Busca de Registros Busca Registros Busca Registros
A1 23.588 B1 33
Scopus A3 5.160 B3 210 C1 0
A5 59.805 B5 48
A2 5.853 B2 17
Web of
A4 2.363 B4 37 C2 0
Science
A6 15.699 B6 21
Fonte: Autores.

Com base nos resultados da Tabela 1, foram selecionados os dez registros mais citados
e os 10 registros mais relevantes em cada busca realizada. A busca A2 não utilizou este critério
pois a quantidade de registros extraídos (17), foi inferior a 20 documentos (ver Tabela 2).

Tabela 2 – Resultados das buscas de termos isolados/combinados dos registros mais citados/relevantes.
Scopus Web of Science
Id da Busca Quantidade de Registros Id da Busca Quantidade de Registros
A1 20 A2 20
A3 20 A4 20
A5 20 A6 20
B1 20 B2 17
B3 20 B4 20

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B5 20 B6 20
C1 0 C2 0
Total 119 117
Total Geral: 236
Fonte: Autores.

Etapa 3 – Identificação dos registros pré-selecionados e selecionados: Esta etapa


iniciou pela verificação de possíveis duplicações nos registros pré-selecionados. Do total de
236 registros pré-selecionados, 75 foram descartados por representar duplicatas de outros, o
que resultou em 161 registros para a leitura do título, resumo e palavras-chave. Para cada
registro pré-selecionado foi atribuído uma nota, entre zero e três, para o título e palavras-chave.
O valor da nota foi dado de acordo com a quantidade de ocorrência dos descritores definidos.
A nota atribuída para o resumo, considerou a ocorrência dos descritores, bem como a percepção
da relevância do estudo para esta revisão. Na sequência, para cada registro pré-selecionado foi
calculada a média aritmética, e o desvio padrão de cada registro dentro do seu grupo de busca.
Assim, dos 161 registros pré-selecionados, 127 foram descartados, o que resultou em um total
de 34 registros selecionados para a leitura integral e desenvolvimento das respectivas sínteses
(Quadro 5).

Quadro 5 – Registros finais selecionados.


Ano Autor (es) Título
Industry 4.0: Emerging themes and future research
2019 GALATI, F.; BIGLIARDI, B.
avenues using a text mining approach
Production assessment 4.0: Methods for the
BAUER, W.;
2019 development and evaluation of Industry 4.0 use
POKORNI, B.; FINDEISEN, S.
cases
Review of Industry 4.0 in the light of sociotechnical
2019 IMRAN, F.; KANTOLA, J. System Theory and competence-cased view: A
future research agenda for the evolute approach
ASSANTE, D.; CAFORIO, A.;
2019 Smart education in the context of industry 4.0
FLAMINI, M.; ROMANO, E.
NURMI, J.; PULKKINEN, M.; Systems approaches in the enterprise architecture
2019
SEPPÄNEN, V.; PENTTINE, K. field of research: A systematic literature review
WHYSALL, Z.; OWTRAM, O; The new talent management challenges of Industry
2019
BRITTAIN, B. 4.0
A critical investigation of Industry 4.0 in
2018 FATORACHIAN, H.; KAZEMI, K. manufacturing: theoretical operationalization
framework
A Multi-agent system approach for management of
2018 CAGNIN, R. L. et al.
industrial IoT devices in manufacturing processes
An intelligent system for core competence
PATALAS-MALISZEWSKA, J.; identification for Industry 4.0 based on research
2018
KŁOS, S. results from German and Polish manufacturing
companies

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Analyzing workforce 4.0 in the Fourth Industrial


KAZANCOGLU, Y.; OZKAN- Revolution and proposing a road map from
2018
OZEN, Y. D. operations management perspective with fuzzy
DEMATEL
MIKHAILOV, A. N.; RODIN, A. B.; Humanization of engineering education in
2018
SMIRNOVA, M. I. conditions of the process of Industry 4.0 forming
Integration of 3D printing and Industry 4.0 into
2018 CHONG et al.
engineering teaching
Integration of industry 4.0 and assessment model
2018 LI, C. H.; LAU, H. K.
for product safety
OZTEMEL, E.; Literature review of Industry 4.0 and related
2018
GURSEV, S. technologies
MOGHADDAM, M.; CADAVID,
Reference architectures for smart manufacturing: A
2018 M. N.; KENLEY, C. R.;
critical review
DESHMUKH, A. V..
Smart services for enhancing personal competence
2018 SUN, J. et al.
in Industrie 4.0 digital factory
A review of essential standards and patent
2017 TRAPPEY, A. J. et al. landscapes for the Internet of Things: A key enabler
for Industry 4.0
COTET, G. B.;
Assessment procedure for the soft skills requested
2017 BALGIU, B. A.;
by Industry 4.0
NEGREA, V. -C. Z.
Industry 4.0: A survey on technologies,
2017 LU, Y.
applications and open research issues
GRZELCZAK, A.;
Perspectives of Industry 4.0 development in Poland
2017 WERNER-LEWANDOWSKA, K.;
– Preliminary research results
KOSACKA, M.
HERMANN, M.;
2016 PENTEK, T.; Design principles for industrie 4.0 scenarios
OTTO, B.
FOIDL, H.; Research challenges of Industry 4.0 for Quality
2016
FELDERER, M. Management
A review of industrial wireless networks in the
2015 LI, X. et al.
context of Industry 4.0
Cyber physical systems in the context of Industry
2014 JAZDI, N.
4.0
FORSTNER, L.; Integrierte wertschöpfungsnetzwerke – Chancen
2014
DÜMMLER, M. und potenziale durch Industrie 4.0
Smart factories in Industry 4.0: A review of the
SHROUF, F.;
concept and of energy management approached in
2014 ORDIERES, J.;
production based on the Internet of Things
MIRAGLIOTTA, G.
paradigm
Research on evaluation of enterprise core
2012 ZHANG, Y.
competence based on grey system theory
Knowledge Management and the formation of
2010 ZHU, X.
enterprise's core competence
BOGUSLAUSKAS, V. Difficulties in identifying company‘s core
2009
KVEDARAVICIENE, G. competencies and core processes
KANUNGO, S.; General Systems Theory: A guiding framework for
2007
JAIN, V. IS research
2005 COWPER, D. et al. The Core competencies of systems engineering
LEI, D.; Dynamic core competences through Meta-Learning
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

BETTIS, R.
Core capabilities and core rigidities: A paradox in
1992 LEONARD‐BARTON, D.
managing new product development
PRAHALAD, C. K.;
1990 The core competence of the corporation
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Fonte: Autores.

Etapa 4 – Análise e apresentação dos resultados: Nesta etapa realizou-se a leitura na


íntegra dos 34 registros selecionados com a finalidade de construir uma matriz de sínteses dos
documentos para facilitar o processo de análise e apresentação dos resultados (ver seção 3).
Por fim, norteado pelo checklist de verificação e do protocolo de execução definidos,
pode-se obter uma ampla visão do pensamento de diversos autores sobre o tema estudado nesta
tese. A relevância do conteúdo encontrada na grande maioria dos documentos selecionados
reforça a importância do desenvolvimento de estudos que elucidem a relação existente entre
competência essencial, indústria 4.0 e sistemismo.

3. ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A evolução histórica das transformações industriais, iniciado pela Primeira Revolução


Industrial e culminando na Indústria 4.0 e as diferentes tecnologias aplicadas foram tema do
estudo de Galati e Bigliar em 2019. Segundo os autores, quatro temas foram considerados de
grande importância na história das revoluções: (1) Negócios; (2) Operações; (3) Soluções
tecnológicas e; (4) Trabalho e habilidades (GALATI; BIGLIAR, 2019). Bauer, Pokorni e
Findeisen (2019) alertam que a muitas iniciativas de implementação da Indústria 4.0
concentram esforços somente na tecnologia e sugerem o Design Thinking como uma ferramenta
que pode contribuir para implementações mais assertivas da Indústria 4.0. O plano considera
seis fases que devem ser observadas pelas organizações: (1) Entendimento, (2) Empatia, (3)
Definição, (4) Ideação, (5) Prototipação e, (6) Teste. Neste formato de implementação, o ser
humano passa a ser o centro do processo de desenvolvimento da Indústria 4.0. Imran e Kantola
(2019) corroboram com Bauer, Pokorni e Findeisen ao afirmar que tais iniciativas de
implementação se preocupam somente com aspectos tecnológicos. Organizações que anseiam
ingressar ou evoluir neste novo paradigma industrial necessitam que as implementações no
contexto da Indústria 4.0 devem ser sustentadas por dois pilares centrais. O primeiro pilar trata
da teoria de sistemas sociotécnicos que descrevem os sistemas envolvidos na interação homem-
máquina e do ambiente onde estas interações acontecem. O segundo pilar tem o foco na visão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

baseada em competências, que contribui de forma efetiva para a identificação das competências
necessárias para a realização das atividades dentro da organização.
A arquitetura de empresas é uma abordagem utilizada para gerenciar, planejar e
desenvolver as empresas e seus departamentos de tecnologia. Esta abordagem trata da
constituição de elementos essenciais de uma organização sociotécnica, as relações entre estes
elementos, o ambiente, bem como, os princípios evolutivos da organização. Teorias como a
Teoria Geral de Sistemas, Cibernética, Teoria dos Sistemas Vivos, Sistemas do Pensamento,
entre outras contribuem significativamente para as organizações, mas que teorias isoladas não
conseguem abranger todos os problemas que envolvem a arquitetura de empresas (NURMI;
PULKKINEN; SEPPÄNEN; PENTTINE, 2019). A operacionalização do processo fabril da
Indústria 4.0 enfrenta desafios relacionados com a falta de integridade entre os sistemas de
informação legados pela falta de mecanismos de comunicação eficientes. Tecnologias como
sistemas ciberfísicos, sistema de comunicação máquina-máquina, sistemas em nuvens, entre
outros podem viabilizar uma gerência eficaz de todo o processo de fabricação inteligente. Tais
tecnologias formam um arcabouço que deve considerar a complexidade das relações existentes
nos processos de fabricação inteligente. Dessa forma, os princípios da Teoria de Sistemas
podem contribuir de maneira efetiva para o entendimento do sistema como um todo e as
relações entre suas partes (FATORACHIAN; KAZEMI, 2018).
Ao considerar a organização como um sistema complexo, Kanungo e Jain (2007)
afirmam que o seu entendimento deve contemplar quatro conceitos:

(1) A emergência diz respeito ao processo de derivar algumas estruturas, padrões e


propriedades novas e coerentes em um sistema complexo. Os fenômenos que mostram
emergência ocorrem devido a interações entre os elementos de um sistema ao longo do tempo.
(2) A hieraquia de um sistema representa uma coleção de níveis ordenados por sua
complexidade (seus subsistemas);
(3) A comunicação é a transferência de informações entre os diferentes elementos
(subsistemas);
(4) O controle é exercido quando um elemento do sistema controla outro elemento ou
sistema para que seus objetivos possam ser alcançados.

Pelo fato de utilizar tecnologias de comunicação e interação entre diferentes


componentes (humanos e não humanos), a Indústria 4.0 necessita que, estas aplicações
ofereçam a garantia de uma conexão eficiente, compartilhamento de dados, acessibilidade e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

automação de processos. Este gerenciamento pode ser mais efetivo a partir da utilização de
agentes não humanos, como sistemas multiagentes, arquiteturas orientadas à serviços e
tecnologias utilizando a web semântica com o objetivo de gerenciar dispositivos utilizados no
conceito da Internet das Coisas (CAGNIN et al., 2018). Trappey et al. (2017) enfatizam a
necessidade de criação de padrões para a Internet das Coisas a fim de aumentar a possibilidade
de conexão entre diferentes dispositivos, mas que, para isso acontecer, ainda pode levar em
torno de 10 anos. Apesar das iniciativas, muitas empresas ainda não sabem como utilizar o
potencial da Internet das Coisas, o que está deixando de fora uma gama muito grande de objetos
conectados. Um bom exemplo de implementação de ambientes contemplando sistemas
ciberfísicos pode ser observado no protótipo implementado por Jazdi (2014) no Instituto de
Engenharia de Automação e Software da Universidade de Stuttgart.
Com a Internet das Coisas, fábricas inteligentes podem se conectar a clientes através da
internet para obter informações de seus produtos/serviços inteligentes sobre o uso e/ou
consumo, o que pode contribuir para um melhor entendimento das necessidades e
comportamentos dos clientes. O modelo de arquitetura baseado em Internet das Coisas propicia
uma conexão em tempo real envolvendo clientes, fornecedores, a própria fábrica inteligente,
onde todos os elementos estão conectados entre si por meio de tecnologias presentes em
produtos, máquinas, sistemas, como também de recursos como Big Data e Computação em
Nuvem para armazenamento do gigantesco volume de dados necessários para uma análise
completa de toda a cadeia produtiva (SHROUF; ORDIERES; MIRAGLIOTTA, 2014).
A interoperabilidade na Indústria 4.0 é uma das grandes dificuldades enfrentadas pelas
organizações. Sua compreensão deve considerar aspectos relacionados com os conceitos e
perspectivas da Indústria 4.0, sistemas ciberfísicos baseados na Indústria 4.0, a
interoperabilidade da Indústria 4.0, as tecnologias chaves da Indústria 4.0 e; as diferentes
aplicações da Indústria 4.0, o que necessariamente inclui os níveis: operacional
(organizacional), sistemático (aplicável), técnico e semântico (LU, 2017). Em relação a
arquitetura orientada a serviços, Moghaddam, Cadavid, Kenley e Deshmukh (2018) afirmam
que sua utilização pode pode oferecer benefícios como interoperabilidade, reutilização e
escalabilidade. Redes sem fio industriais podem melhorar de forma efetiva a flexibilidade e
produtividade da Indústria 4.0, mas, aspectos relacionados com outras tecnologias como Big
Data e Computação em Nuvem devem ser avaliados como potenciais aplicações, assim como
os desafios envolvendo a qualidade dos serviços, execução em tempo real, a segurança e
privacidade, a qualidade dos dados, a confiabilidade e a longevidade das redes (LI et al., 2015).
Diferentes dispositivos como computadores, smartphones, smartwatches, robótica, entre outros

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

permitem a interoperabilidade dos sistemas ciberfísicos permitindo a análise de soluções e


tomada de decisão para melhorar a produtividade (LI; LAU, 2018).
A verdadeira essência da Indústria 4.0 está na integração de informações, sendo que,
nos modelos atuais de organização as informações encontram-se separadas. Espera-se que a
Indústria 4.0 reduza os custos de inventário entre 30¨% e 40%, 10% a 20% nos custos de
fabricação, na logística entre 10% e 20%, mas a maior economia irá acontecer nos custos de
complexidade, que poderão ser reduzidos entre 60% e 70% (FORSTNER; DÜMMLER, 2014).
Oztemel e Gursev (2018) fornecem um guia para orientação do processo de
digitalização para novas iniciativas de implementação de manufatura inteligente contemplando
os potenciais de diversas tecnologias utilizadas para a transformação digital da indústria.
Tecnologias de óculos inteligentes quando combinadas com serviços de localização interno
permitem aos trabalhadores obter informações sobre a localização de elementos no chão de
fábrica sem a necessidade de abandonar seus postos de trabalho, sanar dúvidas sobre uma
determinada tarefa, encontrar objetos e, promover melhorias nas competências das pessoas para
lidar com as tecnologias do ambiente (SUN et al., 2018). Na mesma linha de trabalho, Hermann,
Pentek e Otto (2016) identificaram nove elementos que devem compor um projeto para a
Indústria 4.0: (1) Interconexão; (2) Colaboração; (3) Padrões; (4) Segurança; (5) Análise de
dados; (6) Provisão de informação; (7) Decisão descentralizada; (8) Assistência física e; (9)
Assistência virtual.
Fatores como aumento da expectativa dos clientes, concorrência global e o aumento
contínuo da complexidade dos produtos estão tornando a gestão da qualidade indispensável nas
empresas de hoje, sendo que a qualidade passou a ser parte integrante dos objetivos, estratégias
e políticas das empresas. A pesquisa de Foidl e Felderer (2016), realizada na empresa Exceet
Eletronics Gemsbh, descreveu os potenciais e desafios relacionados com a Indústria 4.0. As
análises dos autores concluíram que características como integração horizontal, sistemas
conectados, informações em tempo real sobre o estado dos sistemas, integração digital da
engenharia em todo o processo de manufatura são complexos de implementar, mas contribuem
para reduzir os desafios da Indústria 4.0.
A transição para a Indústria 4.0 traz consigo mudanças orgânicas complexas nas
organizações. Neste contexto existe uma grande necessidade de capacitar profissionais para as
novas tecnologias e de promover a aprendizagem contínua, em que programas de treinamento
devem contemplar habilidades cognitivas, físicas sociais, técnicas, dentre outras (ASSANTE,
CAFORIO; FLAMINI; ROMANO, 2019). Existe grande dificuldade de na identificação de
talentos críticos que pode ter sido aumentada pelas novas demandas exigidas pela Indústria 4.0

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de competências e habilidades. Novas habilidades e comportamentos frente ao contexto da


Indústria 4.0, vão além do conhecimento técnico. Neste cenário, sustentado por novas
tecnologias, se faz necessário que a gestão de talentos evolua em aspectos relacionados a
atração e retenção de pessoas a fim de atender as novas exigências promovida pelo paradigma
4.0 WHYSALL; OWTRA; BRITTAIN, 2019).
Patalas-Maliszewska e Kłos (2018) destacam a importância das competências e das
características dos funcionários dentro do contexto que envolve a capacidade de absorção com
a utilização das novas tecnologias. estudo de caso foi desenvolvido em uma empresa de alta
tecnologia vivenciando mudanças em seus processos, a fim de, adaptá-los ao paradigma da
Indústria 4.0. Kazancoglu e Ozkan-Ozen (2018) desenvolveram um modelo estrutural de
competências estruturais com a finalidade de identificar competências fundamentais da força
de trabalho para a Indústria 4.0, bem como os critérios de seleção de pessoas. A ênfase do
modelo reside na capacidade de lidar com a complexidade e resolução de problemas,
pensamento da sobreposição e processo e, flexibilidade de adaptação às novas regras e
ambientes de trabalho, o que leva à necessidade de adaptação da área de Recursos Humanos
em função das novas demandas da Indústria 4.0 com o suporte da cultura organizacional. Por
meio de um instrumento psicológico para avaliação de competências pode-se construir um
mapa de competências para a Indústria 4.0 (COTET; BALGIU; NEGREA (2017).
As necessidades de formação demandadas pela Indústria 4.0 podem ser facilitadas
utilizando-se uma perspectiva humanitária por meio de modelos de ensino inovadores que
considerem uma educação digital, formação individualizada e, uma abordagem baseada em
projeto. Além das competências técnicas, as humanas passam a ser necessárias na formação dos
engenheiros, mas que essa transição, apesar de algumas iniciativas disparadas a partir da
terceira Revolução Industrial, ainda é muito lenta (MIKHAILOV; RODIN; SMIRNOVA,
2018). Chong et al. (2018) sugerem a utilização de um modelo híbrido com construção da
aprendizagem baseada em encontros presenciais, aprendizagem on-line e sala de aula invertida
com elementos da Indústria 4.0. Isto se deve ao fato de que, diante do cenário atual, a grande
maioria dos cursos de engenharia não estão preparadas para a mudança e que novas
competências precisam ser desenvolvidas nos alunos de engenharia.
No cenário da indústria polonesa Grzelczak, Werner-Lewandowska e Kosacka (2017)
identificaram as competências centrais necessárias e quais devem ser desenvolvidas na
transição das empresas para a Indústria 4.0. Estas competências envolvem a tecnologia (Big
Data, inteligência artificial, suporte ao usuário), os processos (gestão, relacionamento com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

clientes, marketing, e-commerce) e a infraestrutura (administração de redes e de banco de


dados, políticas de privacidade, arquitetura de sistemas).
O estudo de Zhang (2012) utilizou a Grey Theory System para avaliar a competência
central da empresa a fim de confirmar a sua validade e usabilidade. O autor afirma que a
avaliação da competência central deve ser conduzida com base em determinados critérios
aplicados em indexadores predominantes e conhecidos pela organização. Neste contexto, onde
não se conhece todas as variáveis que devem ser estudadas, a Grey Theory System pode
contribuir, pois seu foco está no estudo que envolve as incertezas quanto à dados insuficientes
e pobres. Zhu (2010) partiu da premissa que as competências centrais são formadas a partir de
competências e conhecimentos que incluem capacidade técnica, capacidade gerencial e
organizacional e engajamento na capacidade de marketing, sendo que as competências centrais
se interrelacionam por meio da transformação de conhecimentos, onde essa transformação é
potencializada pelo uso de tecnologias para a Gestão do Conhecimento. Competências e
processos essenciais estão diretamente relacionadas com a criação de produtos/serviços
diferenciados e difíceis de serem copiados por outras empresas, podendo ser obtidas pela
identificação e melhoria das habilidades internas da organização e pela realização de
comparações com outras empresas. Devemos entender que as competências essenciais
contribuem para a formação de processos essenciais e, que estes, não devem ser internos da
organização e não terceirizados (BOGUSLAUSKAS; KVEDARAVICIENE, 2009).
As competências essenciais são dificilmente copiadas, pois exigem dos concorrentes
investimentos em várias áreas, o que muitas vezes é inviável. A aprendizagem organizacional
é declarada como uma das principais estratégias para a formação das competências essenciais.
O modelo proposto por LEI, HITT e BETTIS (1996) para desenvolvimento das competências
essenciais inicia com a transferência e retenção do conhecimento tácito, bem como, pelas
atividades de experimentação utilizando rotinas dinâmicas. Estes insumos são processados por
meio de um mecanismo sistemático integrado para aquisição de aprendizagem, que representa
o insumo fundamental para a criação das competências.
COWPER et al. (2005) analisaram as competências essências no domínio da Engenharia
de Sistemas. Os autores apresentaram um conjunto de etapas para a identificação das
competências essenciais: (1) Definição do problema; (2) Definição dos limites das
competências essenciais na Engenharia de Sistemas; (3) Revisão das atividades atuais e
melhores práticas; (4) Definição das competências essenciais; (5) Definição dos níveis de
competência e; (6) Fornecer orientação para uso das competências essenciais. Leonard‐Barton
(2002) definiu quatro dimensões que formam a competência essencial: (1) Base de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

conhecimentos e habilidades; (2) Sistemas de gestão; (3) Sistemas técnicos e; (4) Normas e
valores.
Por fim, as competências essenciais combinam conhecimentos, habilidades e atitudes,
mas que estas, somente geram valor a partir da sua integração e aplicação. Competências
essenciais somente existem se atenderem três testes: (1) Possibilitar a expansão para novos
mercados; (2) Gerar percepção de valor nos clientes e; (3) Ser muito difícil de ser copiada
(PRAHALAD; HAMEL, 1990).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Indústria 4.0 pode ser compreendida como um bilhete de passagem sem volta para as
organizações. A inserção de tecnologias, se conduzida de maneira planejada pode resultar em
diferenciais de competividade e sustentabilidade para as organizações. Não podemos afirmar
que qualquer iniciativa de implementação ou melhoria da estrutura organizacional representa
uma tarefa fácil. A velocidade da evolução tecnológica cria novos desafios paras as
organizações. Dessa forma, uma postura sistêmica deve ser adota em toda a organização. A
complexidade da Indústria 4.0 exige um olhar sistêmico, uma compreensão de que a
organização é o sistema maior e, que hospeda inúmeros outros sistemas em contínua relação.
Esta relação entre as diferentes partes do sistema organização deve necessariamente buscar a
máxima orquestração possível a fim de garantir o equilíbrio necessário do todo e principalmente
reduzir a possibilidade de influências negativas entre as partes. A visão sistêmica permite
conhecer não somente o sistema interno, mas o ambiente onde este sistema (a organização) se
insere. Buscar um equilíbrio interno é fundamental, o que contribui para a sobrevivência de
qualquer organização em qualquer ambiente. Neste cenário em constante mutação, as
competências da organização são peças chaves da Indústria 4.0. À medida que as mudanças
ocorrem, novas competências e habilidades serão necessárias, processos serão criados e
eliminados com base nas diferentes oportunidades de negócios associadas pelo uso da
tecnologia. A aprendizagem contínua passa a ser uma obrigação de toda a organização e, isto
inclui as pessoas. Pessoas que assumem a responsabilidade de serem o principal ator na
condução do uso das tecnologias. Lembramos que nenhuma tecnologia em si irá propiciar a
sobrevivência das organizações. O que realmente irá fazer a diferença é como essas tecnologias
serão utilizadas. Dessa forma, o ser humano se torna o principal agente de transformação digital
das organizações, contribuição não somente com as suas competências técnicas, mas,
principalmente com suas características e comportamentos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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CAPÍTULO 2

TRATAMENTOS ANTIFÚNGICOS E QUALIDADE


FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE FAVA D’ANTA

Nayara Fonseca do Nascimento, Gabriela Cristina Costa Silva,


Fernando Gustavo dos Reis Freitas, Nilza de Lima Pereira Sales, Leticia
Renata de Carvalho, Christian Dias Cabacinha e Christiano Cesar Souza
Garcia de Carvalho

RESUMO: Os objetivos deste trabalho foram caracterizar a qualidade


sanitária e fisiológica das sementes de Dimorphandra mollis Benth. em lotes
provenientes de quatro procedências, investigar a influência dos fungos
presentes nas sementes sob a qualidade fisiológica e avaliar tratamentos
antifúngicos. A análise sanitária foi realizada pelos métodos Blotter test e
plaqueamento em BDA. Na patogenicidade dos fungos foi utilizado o método
de suspensão de esporos. As sementes foram submetidas aos tratamentos
com o fungicida Carboxina/Tiram, óleos essenciais de citronela e alecrim-
pimenta e hipoclorito. Os principais fungos verificados nas sementes foram:
Aspergillus flavus, Aspergillus niger, Phomopsis sp. e Cladosporium sp. O
lote de Uberlândia apresentou menor taxa de germinação. Os fungos A.
flavus e A. niger foram patogênicos à D. mollis, causando redução na
germinação e vigor das sementes. A inoculação com Penicillium sp.
proporcionou aumento na germinação das sementes. Foram obtidos bons
resultados com o uso do óleo essencial de alecrim-pimenta.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O cerrado do Brasil é considerado dentre as savanas mundiais a que apresenta a maior


riqueza florística, sendo muitas espécies consideradas endêmicas (RATTER et al., 2003;
MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE, 2021) e, portanto, considerada uma área prioritária no
que concerne a conservação da biodiversidade mundial. Além disso, encontra-se constante
ameaça devido à ocupação desordenada que já transformou mais da metade da vegetação nativa
em locais antropizados (MITTERMEIER et al., 2005; MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE,
2021).
Dentre as espécies arbóreas ameaçadas de extinção no cerrado, destaca-se a
Dimorphandra mollis Benth., conhecida popularmente por fava d’anta e pertencente à família
Fabaceae-Caesalpinoideae. Sua ampla ocorrência no cerrado do Brasil compreende os estados
do Pará, Goiás, Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Esta espécie é
empregada desde a confecção de caixas, brinquedos, compensados, painéis, lenha, carvão, bem
como no paisagismo. Suas cascas contêm alta concentração de tanino, substância adstringente
muito utilizada na fabricação de curtumes e com aplicações farmacológicas, além de ser uma
espécie recomendada para plantio em áreas degradadas de preservação permanente (LORENZI,
2008; SOUZA et al., 2017).
Porém, apesar de todas as aplicações atribuídas a D. mollis, uma das principais
utilidades desta espécie é o seu uso medicinal. Especialmente pela presença de um composto
pertencente ao grupo dos flavonoides conhecido como rutina, que está presente na casca e
pericarpo dos frutos. Essa substância química é utilizada pela indústria farmacêutica para
produção de medicamentos que atuam no tratamento de varizes, hemorróidas, problemas de
circulação, acne e também apresentam função antioxidante (LORENZI; MATOS, 2002;
GONÇALVES et al., 2010).
A exploração da D. mollis pela indústria farmacêutica tem ocasionado extrativismo
predatório em alta escala, sendo necessárias medidas para a conservação da espécie (LANDIM;
COSTA, 2012: NUNES et al., 2012). No ano de 2015, a rutina e quercetina, que podem ser
extraídas da D. mollis e a pilocarpina, renderam US$1.638.108,00 para o Brasil até o mês de
fevereiro (ABIQUIFI, 2015). Nesse contexto, estratégias para evitar a degradação ambiental
das áreas exploradas bem como ações de recuperação ambiental, devem ser realizadas (NUNES
et al., 2012).
Uma maneira de recuperar áreas degradadas e preservar as espécies vegetais é através
do enriquecimento por meio de plantio de mudas de espécies nativas (BALLESTRERI et al.,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

2021). A produção em larga escala de mudas enfrenta dificuldades no que diz respeito à
necessidade de obtenção de mudas de qualidade, que são diretamente dependentes de sementes
de qualidade. A qualidade está diretamente relacionada à sua sanidade. A semente é capaz de
abrigar e transportar microrganismos, sendo estes patogênicos ou não (BARROCAS;
MACHADO, 2010). Tais sementes estão sujeitas a vários danos, dentre eles, aqueles causados
por fitopatógenos, especialmente fungos (SOUSA et al., 2012). Estes micro-organismos são
capazes de colonizar as sementes, podendo reduzir sua capacidade germinativa e seu vigor,
tornando-se necessário, conhecer esses agentes, as consequências decorrentes da sua
contaminação e buscar maneiras eficientes de realizar o tratamento destas.
O uso de óleos essenciais e de extratos de plantas medicinais tem apresentado eficiência
quanto ao controle de leveduras e fungos filamentosos. Esse controle de fitopatógenos pode
ocorrer por ação fungitóxica direta, inibição do crescimento micelial e inibição da germinação
de esporos (SOUSA et al., 2012; PEIXINHO et al., 2017). A ação do óleo e extrato vegetal se
deve, em muito casos, a pequenos terpenóides e compostos fenólicos como timol, carvona,
carvacrol, mentol e muroleno, que na forma pura, também exibem atividade antifúngica
(LIMA; CARDOSO, 2007; GOMES et al., 2011; MIRANDA et al., 2016). O alecrim-pimenta
(Lippia sidoides Cham.) apresenta timol e carvacrol, já a citronela (Cymbopogon nardus L.
Rendle.) apresenta os compostos citronelal e o geraniol, que também apresentam atividade
antimicrobiana (MARTINS et al., 2002; SEIXAS et al., 2011).
Neste contexto, os objetivos deste trabalho foram caracterizar a qualidade sanitária e
fisiológica das sementes de Dimorphandra mollis, de diferentes procedências do estado de
Minas Gerais; investigar a influência de fungos no desempenho das sementes e, avaliar
tratamentos antifúngicos utilizando óleos essenciais e fungicida.

METODOLOGIA

Locais de coleta

As sementes de D. mollis foram coletadas no mês de julho de 2013, provenientes de


quatro procedências, constituídas por diferentes localidades de Minas Gerais: Município de
Cônego Marinho – S 15º 18.719’ W 44º31.407’ altitude 678 m, município de Água Boa – S
16º5402.1’ W 44º1134,1’ altitude 684 m, comunidade Olhos D’água (Montes Claros) – S
16º53’34,2’’ W 43º53’20’’ altitude 956 m e a cidade de Uberlândia – S 18º55.893’ W
47º43.564’ altitude de 1001 m, caracterizando assim os tratamentos em questão para a análise
sanitária. Para as análises de patogenicidade e tratamento das sementes foi utilizado apenas o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

lote coletado em Olhos D’água por apresentar maior disponibilidade de sementes. As sementes
foram acondicionadas em sacos de papel e armazenadas em local seco em temperatura ambiente
(29 ºC).

Análise sanitária

As sementes foram desinfestadas superficialmente com o uso de hipoclorito de sódio


2% e enxaguadas três vezes em água destilada esterilizada. Foram realizados experimentos
independentes para cada método testado. O método Blotter test (BRASIL, 2009a) e em meio
BDA.
O segundo método foi constituído pela distribuição de sementes em placas de Petri de
150 mm de diâmetro, contendo o meio Batata Dextrose Ágar (BDA). Foi adotado o
delineamento inteiramente casualizado em ambos os métodos, utilizando 100 sementes por
tratamento. O experimento em Blotter test foi arranjado com cinco repetições constituídas por
caixas gerbox, contendo 20 sementes cada.
Para o experimento em meio BDA foram utilizadas quatro repetições compostas por
placas contendo 25 sementes cada. As caixas gerbox e placas de Petri foram acondicionadas
em incubadora tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.) a uma temperatura constante de
25ºC e fotoperíodo de 12 horas, por 13 dias, quando então foi realizada a avaliação da
microflora.
A avaliação da presença das estruturas fúngicas foi realizada com auxílio de
estereomicroscópio e, quando necessário, foram observadas ao microscópio óptico para
confirmação do fungo identificado.

Análise fisiológica

As sementes de D. mollis foram submetidas à escarificação mecânica com lixa para ferro
nº 50 na extremidade oposta à micrópila até atingir os cotilédones. Em seguida foram tratadas
com fungicida por 5 minutos, para evitar interferência por infestação fúngica (PACHECO et
al., 2010). As sementes foram semeadas em caixas gerbox, contendo o substrato vermiculita,
autoclavada a 121ºC e umedecida com água destilada esterilizada. Após a semeadura, foram
incubadas em germinador do tipo B.O.D. a uma temperatura constante de 30ºC e fotoperíodo
de 8 horas de luz/16 horas de escuro (PACHECO et al., 2010). A semeadura foi realizada no
substrato, e as sementes foram cobertas com uma camada de aproximadamente 1cm de
vermiculita.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O número de sementes germinadas foi avaliado diariamente, adotando como critério de


germinação a protusão da radícula. A porcentagem de germinação foi contabilizada (BRASIL,
2009b).

Patogenicidade

A patogenicidade dos fungos isolados das sementes foi testada pelo método de
inoculação de suspensão de esporos. Para isso, os isolados fúngicos foram selecionados a partir
daqueles de maior ocorrência, detectados na análise sanitária das sementes. As culturas de
trabalho foram obtidas a partir do cultivo dos fungos em meio BDA. Antes da inoculação, foi
realizada a quebra de dormência das sementes conforme metodologia descrita por Pacheco et
al. (2010). Para a obtenção da suspensão de esporos dos fungos, foram transferidos discos de 5
mm de diâmetro retirados das margens de colônias das culturas de trabalho para novas placas
de Petri contendo meio BDA (SALES; CASTRO, 1994). Todas as placas de trabalho foram
acondicionadas em incubadora a uma temperatura de 25ºC, sob fotoperíodo de 12 horas por
sete dias.
O inóculo foi constituído de uma suspensão de esporos, para cada fungo-teste. A
suspensão foi preparada adicionando-se 10 ml de água destilada a cada placa com as culturas
puras e com o auxílio de um escalpelo fez-se a raspagem da superfície da colônia. A colônia
desprendida foi vertida em um béquer com 90 ml de água destilada, para se obter uma suspensão
inicial contendo micélios e esporos de 100 ml. Foi adicionada uma gota de tween 80
(espalhante) para cada 100 ml de suspensão. Em seguida a suspensão foi filtrada em duas
camadas de gaze, e a concentração foi ajustada para 2x105 esporos/ml, por meio de contagem
em câmara de Neubauer e diluições em água destilada esterilizada.
As sementes de D. mollis foram desinfetadas em hipoclorito de sódio 2% por dois
minutos e enxaguadas por três vezes em água destilada esterilizada, 24 horas antes da
inoculação. Posteriormente foram imersas na suspensão de inóculo por trinta minutos e, após
este período, foram semeadas em bandeja de polietileno com o substrato vermiculita,
previamente autoclavada a 121ºC durante 60 minutos, três vezes consecutivas, com um
intervalo de 24 horas entre cada esterilização. As bandejas foram acondicionadas em B.O.D.
em fotoperíodo de 8 horas, a 30 ºC por 20 dias (PACHECO et al., 2010).
Avaliou-se a germinação das sementes conforme metodologia anteriormente descrita no
experimento de análise fisiológica. Procedeu-se, posteriormente, o reisolamento dos fungos em
placas de Petri com meio BDA, a partir das partes da planta que apresentaram sintomas. O
delineamento experimental adotado foi o inteiramente casualizado, com quatro repetições de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

25 sementes.

Tratamento das sementes

O óleo essencial de alecrim-pimenta (L. sidoides) utilizado para o teste de tratamento


de semente foi cedido pelo Laboratório de Plantas Medicinais do Instituto de Ciências Agrárias
da Universidade Federal de Minas Gerais. O óleo essencial de citronela (C. nardus) foi
adquirido em farmácia de manipulação. Testaram-se os seguintes tratamentos: T1 - fungicida
com princípio ativo de Carboxina/Tiram a 2% por 5 minutos (PACHECO et al., 2010); T2 -
óleo essencial de alecrim-pimenta a 5 µl/mL por 15 minutos; T3 - óleo de alecrim-pimenta a 10
µl/mL por 15 minutos; T4 - óleo de citronela a 5 µl/mL por 15 minutos; T5 – óleo de citronela
a 10 µl/mL por 15 minutos; T6 - hipoclorito a 2%; e T7 - testemunha (sem tratamento das
sementes). Para a obtenção das soluções dos óleos essências foi preparado inicialmente uma
solução estoque, contendo 99 mL de água destilada esterilizada e 1mL de Tween 80 ®
(Polisorbato 80) a 1% v/v.
De acordo com metodologia de Aquino (2012) e Soares et al., (2011), com
modificações, para o preparo da concentração de 1 µl/ml, foram acrescentados 100 µl do óleo
essencial em 100 mL de solução estoque. As demais concentrações foram obtidas
proporcionalmente a 5 e 10 µl/mL. Em seguida as sementes foram colocadas em contato com
as soluções dos óleos por 15 minutos, sendo agitadas constantemente com o auxílio de um
bastão de vidro. Após as sementes serem submetidas aos tratamentos montou-se o teste de
sanidade pelo método Blotter test, a fim de verificar a eficiência na redução da micoflora das
sementes. Para tal, foram distribuídas 20 sementes sobre duas folhas de papel mata borrão,
previamente esterilizadas em autoclave a 121ºC por 15 minutos e umedecidas com Ágar-água
(1%) (BRASIL, 2009a), e acondicionadas em caixas gerbox desinfetadas com álcool 70% e
hipoclorito a 2%. Todo o procedimento foi realizado em condições assépticas em câmara de
fluxo laminar. Em seguida as sementes foram mantidas em incubadoras do tipo B.O.D. a uma
temperatura constante de 25ºC ± 2ºC e fotoperíodo de 12 horas, por 7 dias.
Foram avaliados o número de sementes contaminadas e os diferentes fungos
identificados em cada tratamento. A avaliação da presença das estruturas fúngicas foi realizada
com auxílio de estereomicroscópio e, quando necessário, foram confirmadas por meio de
observações das preparações microscópicas do fungo, ao microscópio óptico. O delineamento
estatístico foi o inteiramente casualizado com sete tratamentos e quatro repetições com 20
sementes cada.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Análise estatística

Os dados foram previamente submetidos a testes de normalidade e homogeneidade por


meio dos testes de Lilliefors e de Cochran, respectivamente. Foi realizada análise de variância
e as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, na análise sanitária e no
tratamento das sementes. As médias dos dados de patogenicidade foram analisadas pelo teste
Scott-Knott 5%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Análise sanitária

Pelo método Blotter test foi detectada a ocorrência de 10 diferentes isolados fúngicos,
oito identificados em gênero e dois em espécie (Tabela 1). Os fungos de maior ocorrência entre
os lotes foram Aspergillus flavus, A. niger, “fungo não identificado” e Phomopsis sp.

Tabela 1. Ocorrência (%) de fungos associados às sementes de Dimorphandra mollis Benth.


submetidas ao método Blotter test, provenientes de quatro procedências de Minas Gerais.
Porcentagem de ocorrência (%)
Olhos
Fungos D’Água Cônego Água
Uberlândia
(Montes Marinho Boa
Claros)
Aspergillus flavus 41 18 34 11
Aspergillus niger 29 32 11 66
Fungo não identificado 20 15 8 14
Chaetomium sp. 0 0 0 2
Cladosporium sp. 0 0 0 3
Curvularia sp. 0 0 3 3
Helminthosporium sp. 2 0 0 0
Penicillium sp. 3 0 10 0
Phoma sp. 1 0 0 0
Phomopsis sp. 11 0 33 2

Na análise sanitária pelo método de plaqueamento em meio BDA, foi detectado


presença de bactérias em alguns tratamentos e 8 isolados fúngicos: A. flavus, A. niger,
Cladosporium sp., Curvularia sp., Fusarium sp., Helminthosporium sp., Penicillium sp. e
Phomopsis sp. Os fungos de maior ocorrência foram A. flavus, A. niger, Phomopsis sp. e
Cladosporium sp.
Dentre os fungos detectados, Phomopsis sp. apresenta potencial patogênico, pois trata-
se de um fungo relacionado à redução no desempenho germinativo e podridão de sementes em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

essências florestais (SALES; CASTRO, 1994). Em estudos relacionados à patogenicidade deste


gênero, Walker et al., (2013) constataram sua influência na germinação e vigor de sementes de
angico-vermelho, coletadas de diferentes procedências. Neste estudo, ao inocular Phomopsis
sp. nas sementes, os autores verificaram diferença no número de plântulas normais emergidas
em relação as sementes não inoculadas, causando lesões necróticas escuras nos bordos dos
folíolos e observou-se a presença de frutificações negras (picnídios) sobre as lesões, após o
reisolamento. Mazarotto et al., (2019) identificaram fungos do gênero Phomopsis em todos os
lotes avaliados com sementes de Peroba rosa (Aspidosperma polyneuron), além disso foi
observado a transmissão desse fungo causando danos às mudas.
O gênero Aspergillus é comumente encontrado em sementes armazenadas e se
desenvolve em grãos com baixo teor de água (GOLDFARB et al., 2010) e a sua alta ocorrência
pode estar relacionada ao tempo em que as sementes ficaram armazenadas, possibilitando a
incidência de fungos desse gênero. Ao inocular fungos do gênero Aspergillus em sementes de
aroeira, Araújo et al., (2013) verificaram a ocorrência de apodrecimento tanto nas sementes
quanto nas plântulas originadas por elas. O mesmo foi observado por Sales e Castro (1994) que
constataram, em sementes de Ipê e barbatimão, que Aspergillus sp. foi prejudicial a germinação
e desenvolvimento das plântulas. Botelho, Moraes e Menten (2008) observaram que dentre os
fungos mais transmitidos às plântulas pelas sementes de ipê-roxo e amarelo estavam incluídos
Aspergillus spp. e Phomopsis sp.
O “fungo não identificado” não desenvolveu estruturas reprodutivas que permitissem
seu reconhecimento por análise morfológica, apresentando somente micélios de coloração
branca. O uso de técnicas alternativas, como métodos baseados em extração de DNA, conforme
já adotado por Balini et al., (2015) em sementes de soja e milho, pode ser uma alternativa viável
para a identificação deste fungo.
Altos índices de contaminação em sementes de D. mollis, também foram detectados em
estudos desenvolvidos por Araujo et al., (2009) e Giuliano et al., (2005).
Foi detectada a presença de “fungo não identificado” em todos os lotes, sua identificação
não foi possível, pois o mesmo não desenvolveu estruturas reprodutivas que permitissem seu
reconhecimento por análise morfológica, apresentando somente micélios de coloração branca.
Com relação à porcentagem de sementes contaminadas, não houve diferença estatística entre
os lotes (Tabela 2), apresentando alto grau de contaminação em todas as procedências.
A forma como as sementes são coletadas e armazenadas, também pode influenciar a
contaminação fúngica das mesmas (FERREIRA, 1989). Araujo et al. (2009) verificaram uma
maior contaminação nas sementes de frutos coletados no solo, onde a fonte de inoculo é maior.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Porém, no presente experimento, independente da procedência, os frutos foram coletados da


mesma forma, nas árvores e solo, sendo misturados no momento da coleta o que pode ter
proporcionado elevada contaminação dos lotes.
Como já ressaltado, os gêneros Aspergillus sp. e Phomopsis sp. são responsáveis por
causar danos às sementes e plântulas de espécies florestais, já o fungo Cladosporium sp.,
embora identificado em sementes de espécies florestais por vários estudos (BOTELHO;
MORAES; MENTEN, 2008; MARTINELLI-SENEME et al., 2006; KOBAYASTI et al., 2011;
AIMI; ARAUJO; MUNIZ, MARLOVE FÁTIMA BRIÃO WALKER, 2016; BRESSAN et al.,
2018; SALDANHA et al., 2020), pouco se sabe a respeito do seu potencial patogênico.

Tabela 2. Porcentagem de sementes de Dimorphandra mollis Benth. oriundas de quatro


procedências, contaminadas por fungos e analisadas pelo experimento em Blotter test.
Procedência Sementes contaminadas por fungos (%)
Água Boa 96 a
Cônego Marinho 88 a
Olhos D'água (Montes Claros) 88 a
Uberlândia 75 a
CV (%) 18,99
CV= Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.

Análise fisiológica

As sementes provenientes do lote de Uberlândia apresentaram menor porcentagem de


germinação em relação aos demais lotes, que não diferiram estatisticamente entre si (Tabela 3).

Tabela 3. Características fisiológicas avaliadas nas quatro procedências de sementes de


Dimorphandra mollis Benth.
Lotes Germinação (%) Mortalidade (%) IVG
Água Boa 86,67 a 3,33 a 4,29 a
Olhos D'água (Montes Claros) 71,67 a 13,33 ab 3,50 a
Cônego Marinho 66,66 a 13,33 ab 3,65 a
Uberlândia 33,33 b 28,33 b 4,35 a
CV (%) 17,39 26,59 8,95
IVG = Índice de velocidade de germinação; CV= Coeficiente de variação; Médias seguidas de
mesma letra na coluna não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

A menor porcentagem de germinação no lote proveniente de Uberlândia em relação aos


demais lotes pode estar relacionado à grande quantidade de sementes e plântulas que foram
deterioradas nesse tratamento durante o teste de germinação. Essa deterioração foi causada por
uma bactéria, ainda não identificada, que, embora tenha sido detectada em todos os lotes, as

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

sementes provenientes de Uberlândia apresentaram uma maior vulnerabilidade. Esse


microorganismo foi detectado durante a análise sanitária pelo método de plaqueamento em
BDA. A infecção provocada pela bactéria fez com que o lote procedente de Uberlândia,
apresentasse alta taxa de mortalidade, o que acarretou um aumento no coeficiente de variação
do experimento, com relação à mortalidade das plantas, conforme verificado na Tabela 3.
Embora tenham apresentado valores estatisticamente semelhantes, esta avaliação de
vigor não condiz com os resultados finais de germinação, pois tal método considera apenas a
quantidade de sementes que iniciaram a germinação (protusão de radícula) em função do
número de dias decorridos da instalação do experimento, ou seja, sem considerar fatores que
possam influenciar a germinação no decorrer do desenvolvimento da plântula.

Patogenicidade

Pelo método de inoculação por suspensão de esporos foi verificado que os fungos afetaram
a germinação e o desenvolvimento das plântulas, visto o grande número de plântulas anormais
e mortas (Tabela 4).

Tabela 4. Número de plântulas normais, anormais e mortas de Dimorphandra mollis Benth.


após serem inoculadas com os fungos.
Plântulas (%)
Fungos
Normais Anormais Mortas
Testemunha 3,00 b 51,00 a 46,00 b
Penicillium sp. 36,00 a 58,00 a 6,00 c
Aspergillus flavus 0,00 b 9,00 b 91,00 a
Aspergillus niger 6,00 b 24,00 ab 70,00 ab
CV (%) 20,78 23,45 15,69
CV= Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.

As sementes de D. mollis, sem inoculação, deram origem a um pequeno número de


plântulas normais, um grande número de plântulas anormais e mortas, sugerindo a baixa
qualidade sanitária das sementes, bem como baixa qualidade fisiológica das sementes. Essa
baixa qualidade das sementes pode ter sido ocasionada pela presença de fungos considerados
de armazenamento (WALKER et al., 2013), como o A. flavus e A. niger, presentes no lote em
questão.
A inoculação das sementes com os fungos A. flavus e A. niger, potencializaram a morte,
comprovando a sua patogenicidade. Esses fungos podem causar perda do poder germinativo,
descoloração, apodrecimento e também aumento da taxa de respiração, em função do aumento

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

da taxa de ácidos graxos que provoca rancificação de óleos e aquecimento da massa das
sementes (MACHADO, 1988). Desta forma, estes fungos são capazes de influenciar a produção
final de mudas em consequência das perdas pelo apodrecimento de sementes (CHEROBINI et
al., 2008).
Quando inoculadas com Penicillium sp. as sementes apresentaram um maior número de
plântulas normais e um menor índice de mortalidade comparada a testemunha, ou seja, o fungo
promoveu um efeito positivo sobre a germinação. Isto pode ser explicado devido à ação
benéfica de alguns fungos associados à semente, que degradam o endocarpo, o que pode
facilitar a emergência de plântulas sadias, mesmo estando completamente colonizadas com
fungos como Pestalotia sp., Cladosporium sp. e Penicillium sp. (GRIGOLETTI JÚNIOR et al.,
1999; FOWLER; BIANCHETTI, 2000). Também pode ser explicada pelo fato de que algumas
espécies do gênero Penicillium serem capazes de produzir penicilina, que é reconhecidamente
um antibiótico, o que pode ter impedido o desenvolvimento da bactéria das sementes e
favorecido assim a formação de plântulas normais (NATHWANI; WOOD, 1993).

Tratamento das sementes

O tratamento químico com o fungicida Carboxina/Tiram (T1) foi o mais eficiente na


redução da porcentagem de sementes de D. mollis contaminadas (Tabela 5).

Tabela 5. Porcentagem média (%) de sementes de Dimorphandra mollis Benth. contaminadas


por fungos, após tratamento com diversos produtos.
Tratamentos Sementes contaminadas (%)
T1 - Carboxina/Tiram 11,25 c
T2 - Alecrim-pimenta 5 µl/mL 57,5 b
T3 -Alecrim-pimenta 10 µl/mL 58,75 b
T4 - Citronela 10µl/mL 5 µl/mL 82,5 a
T5 - Citronela 5µl/mL 10 µl/mL 95,5 a
T6 - Hipoclorito 2% 98,75 a
T7 - Testemunha 100 a
CV (%) 19,78
CV= Coeficiente de variação; Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si pelo teste
de Tukey a 5% de probabilidade.

Soares et al. (2011), também verificaram que o fungicida Carboxina/Tiram erradicou


completamente os fungos em sementes de D. mollis e proporcionou uma maior porcentagem de
germinação e IVG. No presente estudo foi constatado que o uso do fungicida colaborou para a
germinação de sementes de D. mollis, já que diminui a infestação de fungos durante o teste de
germinação, na análise fisiológica. O segundo melhor tratamento foi com o uso do óleo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

essencial de alecrim-pimenta, nas duas dosagens testadas T2 (5 μl/mL) e T3 (10 μl/mL) (Tabela
5). Estes tratamentos foram capazes de reduzir em mais de 40% a contaminação das sementes.
Os tratamentos com citronela (T4 e T5, respectivamente), nas dosagens testadas e,
apenas com uso de hipoclorito de sódio 2% (T6) não reduziram os fungos incidentes nas
sementes. O hipoclorito pode ter sido ineficiente devido à concentração testada, visto que em
outros trabalhos foi capaz de reduzir a incidência de fungos de armazenamento (Pinheiro et al.,
2016).
Com relação ao óleo de citronela, outros trabalhos constataram a sua eficácia contra
fitopatógenos (SOUZA JÚNIOR et al., 2009; SEIXAS et al., 2011; SARMENTO-BRUM et
al., 2013), sendo necessários novos estudos para verificar a ação de outras concentrações deste
óleo. Apesar de eficiente, o uso indiscriminado e contínuo de agrotóxicos pode trazer diversos
problemas à saúde humana e ao meio ambiente, além de gerar resistência nos patógenos (LEE
et al., 2008; SOYLU et al., 2010).
Logo, o emprego de extratos vegetais e óleos essenciais com potencial antifúngico têm
se constituído uma das alternativas que vem sendo pesquisadas (PEIXINHO et al., 2017).
Exemplo disso é a confirmação de Leite et al. (2012), de que o uso de óleo essencial de
Pimpinella anisum L. e extrato vegetal de Allamanda blanchetti L. e Momordica charantia L.
possibilitou o aumento da taxa de germinação em sementes de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia
Benth.) e foi considerado viável para o tratamento contra os patógenos de sementes. Bem como
os extratos aquosos de Allium sativum L e Lippia alba (Mill.) N. E. Brown que também
apresentaram atividade antifúngica sobre vários fungos como A. flavus, A. niger, Aspergillus
sp., Curvularia lunata, Fusarium sp. (ARAÚJO et al., 2019).

CONCLUSÃO

Os fungos A. flavus, A. niger, Phomopsis sp., Cladosporium sp. e fungo não


identificado, foram os de maior ocorrência nas sementes de D. mollis. Dentre os fungos
identificados foram observados fungos considerados potencialmente patogênicos.
O lote proveniente de Uberlândia apresentou menor porcentagem de germinação em
relação aos demais. O fungo Penicillium sp. potencializou a germinação de sementes de D.
mollis. E os fungos A. flavus e A. niger inibiram a germinação de sementes dessa espécie.
O tratamento com fungicida foi o que promoveu maior redução nos fungos das
sementes, porém, o uso de óleo essencial de alecrim-pimenta nas concentrações avaliadas
também apresentou uma redução satisfatória, indicando sua eficiência, entretanto, é necessário
testar outras concentrações, visando um controle maior dos patógenos associados a sementes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de D. mollis.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Codevasf pelo apoio técnico.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 3

CADEIA PRODUTIVA DE PESCADO NO BRASIL:


ATUALIDADES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Rafaela Assis Machado, Isabela Vieira Barbosa e Emília Maricato Pedro


dos Santos

RESUMO: A confiabilidade gerada pelo emprego de uma inspeção industrial


e higiênico-sanitária eficiente projetou a pecuária brasileira para o mundo,
entretanto, a produção de pescado no país, ainda, apresenta resultados
incipientes quando comparada com os maiores produtores mundiais dessa
proteína animal. Considerando a importância nutricional, tecnológica e
econômica do pescado, o presente trabalho objetivou realizar uma revisão de
literatura integrativa abordando de forma ampla toda a cadeia produtiva
desse produto, inclusive as perspecivas futuras para o setor. Para isso,
realizou-se uma busca sistematizada das informações em bancos de dados
tradicionais, obtendo-se, aproximadamente, 176 mil resultados, que
passaram por seleção com base na presença dos descritores nos títulos,
sendo selecionados 120 trabalhos para síntese das informações. As
características intrínsecas ao pescado tanto morfológicas quanto
bioquímicas, justificam a sua alta perecibilidade e, considerando este
contexto, para o fornecimento de um alimento seguro, deve-se lançar mão de
métodos de conservação realmente efetivos, como, por exemplo, o
congelamento. Aliado a isso, as etapas de captura, abate e beneficiamento
do produto devem preconizar padrões higiênico-sanitários adequados, a fim
de diminuir a possibilidade de contaminação e mitigar riscos que coloquem
em perigo a saúde do consumidor. Ainda assim, o pescado está susceptível a
alterações, modificações e deterioração, o que reforça a importância da
inspeção sanitária adequada e da aplicação de um forte controle de
qualidade. Considerando o potencial produtivo do Brasil, o incentivo
governamental no que tange ao aumento do consumo e da produção de
pescado é uma ferramenta fundamental no contexto econômico e de saúde
pública. Diante disso, com a consolidação desse segmento no mercado
interno, as perspectivas de crescimento e do alcance de uma posição de
destaque no mercado internacional são mais prováveis e possivelmente mais
consistentes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

De acordo com o Regumento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem


Animal (RIISPOA), em seu Artigo 205, entende-se por pescado peixes, crustáceos, moluscos,
anfíbios, répteis, equinodermos e outros animais aquáticos utilizados na alimentação humana.
Reforça-se, ainda, em Parágrafo Único, que o pescado proveniente da fonte produtora não pode
ser destinado à venda direta ao consumidor sem que ocorra a fiscalização pelos Órgãos Oficiais
de Inspeção, sob o ponto de vista industrial e sanitário (BRASIL, 2017).

Em virtude da confiabilidade gerada pelo emprego de uma inspeção industrial e


higiênico-sanitária forte e eficiente foi possível projetar a pecuária brasileira para o mundo e,
atualmente, o Brasil ocupa posição relevante no contexto de produção de proteína animal.
Entretanto, no que se refere a produção aquícola nacional, essa ainda apresenta números
incipientes quando comparada com os maiores produtores mundiais, como China, Indonésia e
Índia. Além disso, revela, ainda, uma situação de incongruência, principalmente quando se leva
em consideração o potencial hídrico, clima favorável e a presença natural de espécies aquáticas
de interesse zootécnico e com potencial mercadológico no Brasil (BRABO et al., 2016a;
ABIEC, 2021; ABPA, 2021).

Apesar do ano de 2020 ter sido marcado pelas incertezas e desafios em virtude da
pandemia de COVID-19, a piscicultura brasileira apresentou desempenho positivo, com
crescimento de 5,93 % sobre o ano anterior, atingindo a produção de, aproximadamente, 802
mil toneladas de pescado de acordo com o levantamento realizado pela Associação Brasileira
da Piscicultura (PEIXE BR). A mesma instituição assim como o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) afirmam que a Tilápia (Oreochromis niloticus) continuou
ocupando posição de destaque na psicicultura nacional, com participação de 60,6 % da
produção total de peixes de cultivo e liderando as exportações, correspondendo a 88,17 % das
vendas, cujo principais destinos são Estados Unidos, Chile e China (IBGE, 2020; PEIXE BR,
2021).

No que tange ao consumo de pescado pela população brasileira, este é menor do que os
demais principais tipos de carne (frango, bovina, suína) , atingindo em média, cerca de 10
kg/habitante/ano, estando abaixo dos 12 kg/habitante/ano recomendados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e da média global de 20,5 kg/habitante/ano (FAO, 2020). Por outro
lado, nota-se que em comunidades ribeirinhas, principalmente no norte do país, o consumo per

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

capita anual de pescado pode ultrapassar 130 kg (OLIVEIRA et al., 2010; SOARES et al.,
2018).

Em se tratando das formas de obtenção do pescado, dois sistemas de produção


coexistem, sendo eles a pesca por extrativismo, que consiste na captura de recursos pesqueiros
marinhos, e a aquicultura, que consiste no cultivo de espécies aquáticas tanto de água doce
quanto salgada. O cultivo de peixes de água doce (psicicultura), a carcinicultura marinha
(criação de camarão) e a malacocultura (criação de moluscos, como ostra, mexilhão e vieiras)
são os setores mais desenvolvidos da área no Brasil, nos quais se aplicam diversas estratégias
de produção, que incluem ambientes e modalidades diversificadas (KIRCHNER et al., 2016;
BRABO et al., 2016b).

Em relação a composição química média do pescado, os valores variam de 70 a 84 %


de água, 15 a 24 % de proteína, 0,1 a 22 % de lipídeos, 1 a 2 % de minerais e 0,1 % de vitaminas
(como retinol, colecalciferol, complexo B e ácido ascórbico). Em virtude da sua riqueza
nutricional é considerado como uma das mais importantes e ricas fontes de proteína de origem
animal e nutrientes, sendo notório os benefícios relacionados ao seu consumo para a saúde
humana (MAZROUH, 2015; LONGWE & KAPUTE, 2016).

O consumo dessa proteína também deve ser incentivado em razão da presença de ácidos
graxos poliinsaturados de cadeia longa em sua composição, que auxiliam na manutenção da
saúde, prevenindo uma série de enfermidades como doenças coronarianas, neoplasias, doenças
de caráter inflamatório, além de auxiliarem no controle da pressão arterial (MESÍAS et al.,
2015; IOM, 2015; MATOS et al., 2019).

Considerando a importância nutricional do pescado bem como a sua relevância


produtiva do ponto de vista econômico e tecnológico, o presente trabalho objetivou realizar
uma revisão de literatura integrativa abordando de forma ampla a cadeia produtiva de pescado
no Brasil. Além disso, objetivou-se, ainda, elucidar as perspectivas futuras para o setor de
pescado no país.

METODOLOGIA
O presente trabalho configura-se como uma revisão de literatura integrativa que versa
sobre a cadeia produtiva do pescado de forma abrangente, incluindo as perspectivas futuras para
o setor. Para isso, foi realizada uma busca sistematizada das informações nas bases de dados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Portal de Periódicos CAPES/MEC, PUBMED


e Directory of Open Access Journals (DOAJ). Também foi realizada a consulta de dados
estatísticos coletados e sumarizados por instituições da área, além das legislações brasileiras
vigentes para esse produto de origem animal.
As informações foram coletadas em dezembro de 2021, utilizando os descritores
“Composição química do pescado”, “Produção de pescado no Brasil”, "Recursos pesqueiros",
"Perecibilidade do pescado", "Característica muscular do pescado", "Características
bioquímicas do pescado", "Óxido de trimetilamina pescado", "Histidina pescado", "Ureia
pescado", "Fenilalanina pescado", "Métodos de conservação do pescado", "Gelo fundente
pescado", "Técnicas de congelamento de pescado", "Glaciamento pescado", "Defumação
pescado", "Salga pescado", “Abate pescado”, “Insensibilização pescado”, “Métodos de abate
pescado”, “Tecnologias de processamento pescado”, “Rigor mortis pescado”, “Contaminação
pescado”, “Estresse pescado”, “Deterioração enzimática pescado”, “Pescado psicrotróficos”,
“Amônia pescado”, “Histamina pescado”, “Ácido tiobarbitúrico pescado”, “TBA pescado” e
“Perspectivas pescado”.
Preconizou-se a seleção de estudos publicados em língua portuguesa e inglesa, no
período de 1995 a 2021, obtendo-se, aproximadamente, 176 mil publicações, sendo então
selecionados 120 trabalhos para leitura e discussão do tema. A síntese das informações obtidas
foi organizada na forma desta revisão, a fim de apresentar um panorama amplo acerca da cadeia
de pescado no Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Principais recursos pesqueiros do Brasil
A heterogeneidade da categoria pescado é considerável e, nesse sentido, os habitats e,
consequentemente, os métodos de captura também diferem de acordo com a espécie em
questão. Em se tratando de pesca por extrativismo, os principais recursos pesqueiros
empregados no Brasil são a rede de arrasto de fundo, rede de cerco, rede de arrasto e covos
(DIAS NETO, 2010; BRASIL, 2019a).
Os peixes e demais espécies de pescado demersais são aqueles que, apesar da
capacidade de natação, permanecem, na maior parte do tempo, no fundo do mar e, em muitas
das vezes, em associação com o substrato arenoso. Como exemplo pode-se citar o camarão,
linguado, merluza, corvina e cação. Para sua captura é necessário o emprego de redes de arrasto
de fundo, em que maior aplicabilidade está associada à pesca industrial (KENNELY &
BROADHURST, 2021).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Recursos pelágicos são o grupo de peixes marinhos que vivem associados à coluna
d'água, com pouca ou nenhuma relação com o leito marinho, apresentando habitat em
cardumes. Como exemplos podem ser mencionados sardinha, salmão e atum. Para sua captura,
o recurso pesqueiro utilizado é a rede de cerco que, por ser uma pesca não seletiva, acaba
capturando muitas vezes elevadas quantidades de pescado ainda jovens (LIMA et al., 2011;
BRASIL, 2015).
O recurso de meia água objetiva a captura do pescado cujo habitat são as águas
intermediárias, sendo utilizado geralmente para captura de uma única espécie, como acontece
no caso da tilápia, dourado, pintado e pacu. Para esse método de captura é empregada a rede de
arrasto (DOMINGOS et al., 2016; BRASIL, 2021).
Para a captura de crustáceos, como lagosta e camarão, por exemplo, são empregados os
covos, recursos de fundo do mar conhecidos também como cercos fixos, sendo considerado
como um dos métodos mais produtivos, tendo como vantagem a seletividade de acordo com o
tamanho e abertura da estrutura (POSSAMAI et al., 2014).
Por fim, os barcos-fábrica são as embarcações de pesca destinada à todo o
processamento do pescado, incluindo a captura ou recepção, lavagem, manipulação,
acondicionamento, rotulagem, armazenamento e expedição do pescado bem como de seus
produtos (BRASIL, 2020).
Características bioquímicas
O óxido de trimetilamina (OTMA) é um composto presente de forma abundante em
peixes marinhos. Em virtude da ação bacteriana e de enzimas endógenas, tal composto é
reduzido em trimetilamina, corroborando com a degradação proteica, consequentemente
aumentando da produção das bases voláteis e provocando a formação de mal odor. Fatores
como manipulação excessiva e qualidade da água são determinantes para a garantia da
qualidade do produto final que é gerado (SANTOS et al., 2021).
A histidina é um aminoácido que é encontrado de forma livre na musculatura de peixes
escuros, como é o caso do atum. O contato desse aminoácido com enzimas bacterianas provoca
a sua degradação em histamina, que é um mediador inflamatório. Tal reação é extremamente
prejudicial para o organismo, caracaterizando-a como intoxicação alimentar em virtude do
consumo de peixes contaminados, podendo causar reações alérgicas e cefaleia (COLOMBO et
al., 2018; JOENPUTRI & SURYANA, 2020).
A ureia é formada por meio da degradação proteica, sendo comumente encontrada em
peixes cartilaginosos, como a arraia e o cação. O contato da ureia com a urease bacteriana
exógena, oriunda da contaminação, provoca a sua degradação em amônia, sendo este um

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composto extremamente tóxico, que forma o odor amoniacal no pescado (BUCKING, 2016).
A fenilalanina é um aminoácido presente, principalmente, nos crustáeos, como camarão
e lagosta. Ainda em sua forma original, representa um risco para os fenilcetonúricos, ou seja,
aqueles indivíduos que são incapazes de converter a fenilalanina em tirosina e, dessa forma,
pode gerar efeito tóxico no organismo desses indivíduos. Em virtude da degradação por ação
bacteriana, quando a fenilalanina entra em contato com a tirosina bacteriana, ocorre a sua
conversão em melanina e feniltilamina. A melanina é responsável pela produção de machas
negras na carapaça do animal, também conhecidas como black spot e, em casos mais avançados,
pode atingir a musculatura do crustáceo. Tal alteração, apesar de não oferecer riscos à saúde
humana, apresenta grande impacto econômico devido ao aspecto repugnante gerado
(CASTILHO-WESTPHAL, 2017).
Tecnologia de conservação do pescado fresco
O frescor microbiológico é um critério determinante da qualidade do pescado. Nesse
sentido, a legislação vigente, por meio da Instrução Normativa n. 60/2019, do Ministério da
Saúde, estabelece padrões microbiológicos para alimentos. Assim, a tecnologia de conservação
dos alimentos apresenta um papel fundamental na manutenção das suas características
nutricionais e sensoriais, bem como na extensão do seu prazo de validade (ALEXANDRE et
al., 2019; BRASIL, 2019b).
O gelo fundente é uma técnica de conservação provisória, entretanto, muito utilizada,
principalmente no momento da comercialização do pescado. Nesse método, o gelo encontra-se
a 0 ºC, sendo disposto em camadas alternadas entre o pescado, de modo que o seu derretimento
promove o resfriamento do produto. Tal técnica não é capaz de promover o congelamento do
pescado, mas apenas o seu resfriamento (OSÓRIO, 2017; CRIBB et al., 2018).
O congelamento é um dos métodos mais apropriados para a conservação do pescado,
sendo capaz de manter o seu valor nutritivo bem como suas características sensoriais. Antes do
processo de congelamento, que deve acontecer de maneira rápida, o pescado deve ter a sua
cabeça removida e seu corpo eviscerado, a fim de diminuir a carga microbiana inicial. A
temperatura ideal para o congelamento do pescado é entre -35 e -40 ºC, com temperatura
mínima de conservação permitida de -18 ºC (BRASIL, 2017). Se realizado corretamente, o
congelamento garante a qualidade do pescado gordo durante seis meses e do pescado com biaxo
teor de lipídeos por aproximadamente um ano. Os métodos de congelamento empregados
incluem os túneis de congelamento por ar parado ou forçado, o congelador em placas, o
congelamento por imersão em salmoura e, por fim, o congelamento criogênico (MINOZZO,
2011; OETTERER et al., 2012).

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Apesar do congelamento ser uma excelente técnica de conservação do pescado, algumas


ocorrências indesejadas podem ocorrer durante o processo, como a queima superficial e a
oxidação. A fim de evitar tais alterações, a prática de glaciamento, que consiste na adição de
uma fina camada de gelo na superfície do pescado, é bem comum, sendo capaz de excluir o ar
da superfície do produto além de funcionar como uma barreira protetora às oscilações da
temperatura. Por outro lado, deve-se atentar ao fato de que o glaciamento deve ser realizado
após a pesagem do produto, evitando assim a fraude pela venda de água a valores de proteína
(NEIVA et al., 2015).
A defumação é um dos métodos de conservação de alimentos mais antigos, entretanto,
atualmente, tornou-se mais importante na conferência de atributos sensoriais. Sua ação ocorre
por meio da diminuição da atividade de água e dos efeitos antimicrobianos e antioxidantes dos
compostos da fumaça, como fenóis, aldeídos, cetonas, hidrocarbonetos e ésteres, durante o
período de 12 a 16 horas a 70 ºC. Tais componetes são capazes de diminuir os níveis de
oxidação lipídica, porém, em alguns casos, pode ocorrer instabilidade oxidativa. Embora a
atividade da água no pescado defumado seja reduzida, esse método não é capaz de garantir a
conservação prolongada do produto. Existe, ainda, a defumação artificial, que não é capaz de
conferir nenhum atributo conservante, tendo em vista que atua por meio de aditivos alimentares
que irão apenas saborizar o produto (RAIMUNDO & MACHADO, 2017; RIBEIRO et al.,
2018).
A salga, por sua vez, é um dos métodos de cosnervação mais baratos e consiste na
proteção do alimento contra a deterioração microbiológica por meio do controle da atividade
da água, ou seja, cria-se um meio hipertônico, com menor quantidade de água disponível, o
que, consequentemente, diminui a proliferação dos microrganismos. Entretanto, na salga, os
alimentos estão sujeitos à mudanças na sua cor, aroma, sabor e textura (BRÁS & COSTA,
2010).
Na salga seca, método mais simples e empregado principalmente em peixes com miaor
teor de gordura, como a sardinha, o pescado é intercalado em camadas de sal, de modo que todo
o alimento entre em contato com o sal e, à medida que a água vai sendo eliminada da
musculatura, esta será drenada para fora do recipiente. A salga úmida, por sua vez, consiste na
imersão do pescado em salmoura, sendo empregada, por exemplo, para o pirarucu. Nesse
processo a solução saturada de cloreto de sódio fica no recipiente que contém o peixe, o que
assegura uma baixa concentração de oxigênio no meio e, com isso, a proteção da gordura ao
processo de oxidação. Por fim, a salga mista é semelhante à salga seca, com o diferencial de
que a água eliminada da musculatura não é drenada, permanecendo dentro do recipiente em

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forma de salmoura durante o processo (REBOUÇAS et al., 2020).

Captura, abate e beneficiamento


No que se refere ao abate e beneficiamento do pescado, as etapas que antecedem tais
práticas são as que afetam, de forma determinante, a vida útil do produto, envolvendo desde o
método de captura, até processos como a despesca, jejum, transporte e insensibilização do
pescado. Isso porque, quando a manipulação e contenção dos animais é feita de maneira
errônea, há um favorecimento do estresse imposto a estes, impactando diretamente no bem-
estar animal e gerando, de forma consequente, prejuízo na qualidade do pescado (GALHARDO
& OLIVEIRA, 2006; FERREIRA et al., 2018).
Outro fator que influencia na qualidade do pescado é sua origem, ou seja, se os animais
são provenientes do extrativismo ou aquicultura. Quando criados em ambiente controlado,
como ocorre na aquicultura, há maior garantia da qualidade sensorial e segurança do pescado,
visto que é possível realizar o controle da água, alimentação e demais variáveis de criação.
Práticas realizadas na aquicultura, como a depuração do pescado em sistemas de fluxo contínuo
de água limpa, por um período mínimo de 24 horas, conseguem minimizar a chance de
ocorrência de “off flavour”, que compromete a qualidade sensorial do produto (MOURA et al.,
2009).
O abate do pescado pode ser realizado em um ou dois estágios. Primeiramente, os
animais sofrem insensibilização e em seguida são abatidos por meio da sangria, a qual pode ser
realizada por diferentes métodos e procedimentos. Essas etapas podem acontecer
simultaneamente ou em operações distintas, todavia o tempo transcorrido desde o atordoamento
até a morte do animal deve ser sempre minimizado, sendo esta premissa necessária para evitar
a recuperação da consciência antes que ocorra a sua morte (LINES et al., 2003).
Dentre os métodos utilizados para insensibilização do pescado, uma das formas mais
discutidas e praticadas atualmente é o uso da eletricidade, técnica conhecida como
eletronarcose. Tal técnica apresenta como vantagens a promoção da rápida insensibilização, de
maneira eficiente, segura e menos dispendiosa, além da possibilidade de sua execução de forma
individual ou em lotes de pescado. A eletronarcose é um método de insensibilização
considerado humanitário por ser rápido e causar, ao que tudo indica, menos sofrimento quando
comparado as demais técnicas (NORDGREEN et al., 2008).
Entretanto, é um método que exige maiores estudos buscando sua adequada execução,
sobretudo no que se refere ao estabelecimento da metodologia mais correta para aplicação do
choque elétrico, ou seja, existe a necessidade de conhecimento da correta voltagem, frequência,

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tipo de corrente elétrica e tempo de exposição necessários para cada espécie animal (ROBB &
ROTH, 2003). A compreensão destas variáveis é importante na prevenção de alguns defeitos
indesejáveis na carne do pescado, em virtude de hemorragias que podem ocorrer durante a
prática de insensibilização, as quais resultam no aparecimento de manchas de sangue
(BORDIGNON et al., 2017).
O choque térmico com água e gelo ou termonarcose é outro método de insensibilização
e abate, muitas vezes utilizado nas principais espécies de pescado de cultivo marinho e
continental. No entanto, a eficiência desta técnica, do ponto de vista do bem-estar animal, é
muito contestada, sobretudo em virtude do tempo prolongado necessário para promoção da
insensibilização, sendo este variável entre as diferentes espécies, além de promover a morte
lenta dos animais, quando utilizado como método para abate (VIEGAS et al., 2012).
Pescados cultivados e provenientes de climas quentes, quando imersos em água e gelo
e submetidos ao choque térmico, podem apresentar imobilidade e aparente insensibilidade,
todavia, é possível que os animais, embora paralisados ou com redução significativa de sua
movimentação, permaneçam conscientes por um período substancial, ou seja, o choque frio
inicialmente paralisa os peixes, em vez de atordoá-los (LINES & SPENCE, 2011).
A secção da medula é uma alternativa como método de insesibilização prévia à
realização da sangria, pois é feita por meio da introdução de uma faca afiada, com lâmina
unilateral ou bilateral, em um dos opérculos dos peixes até atingir a medula espinhal para sua
secção e, em sequência, é realizada a sangria na mesma região. A secção da medula é
considerada como método mais eficiente, gerando maior insensibilidade à dor, sem apresentar
diferenças significativas quando comparada à métodos mais tradicionais, como a termonarcose,
no que se refere aos padrões de qualidade do pescado (PEDRAZZANI, 2007).
Com relação aos métodos de abate, a sangria por perfuração das brânquias é um dos
mais utilizados. Neste os grandes vasos próximos à base do coração são seccionados e,
posteriormente, o animal é submerso em água gelada (1 °C) (OLSEN et al., 2006). Para a
garantia do bem-estar animal e preservação da qualidade da carne, este método deve ser
realizado em conjunto com prévia insensibilização (FREIRE & GONÇALVES, 2013).
Ademais, ainda é possível realizar o abate de crustáceos por meio do Sistema de
Imobilização e Abate de Crustáceos (SIAC), o qual envolve uma máquina confeccionada em
fibra de vidro, que é capaz de imobilizar e abater crustáceos imersos em água doce ou salgada,
por meio da emissão de pulsos de corrente elétrica alternados. O abate é realizado à temperatura
ambiente e a voltagem usualmente utilizada é de 110 a 220 Volts, com corrente elétrica de até
30 Amperes, todavia, a voltagem e o tempo de exposição e duração dos pulsos elétricos são

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regulados de acordo com a espécie de crustáceo. Do ponto de vista sensorial, após o cozimento,
a carne dos caranguejos abatidos pelo SIAC soltou-se mais facilmente da carapaça (OGAWA
et al., 2008).
Após o abate, o pescado pode ser direcionado a diferentes linhas de produção e
tecnologias de processamento, dependentes da espécie e forma de comercialização adotada pela
indústria. De maneira geral, sofre por evisceração, a qual pode ser manual ou mecânica, com
posterior remoção ou não da cabeça, podendo ser comercializado inteiro ou submetido à
filetagem ou postejamento (ARGENTA, 2012). A esfola para remoção da pele é uma técnica
opcional, visto que diversas espécies são comercializadas sob a forma de filés ou postas com
pele, já outras, como a tilápia, geralmente são submetidas à filetagem e esfola (SIMÕES et al.,
2007).
Uma das últimas etapas de beneficiamento do pescado é a aplicação dos métodos para
sua conservação, para posterior embalagem, estocagem e expedição do produto. Sendo assim,
os métodos tradicionalmente empregados para conservação das diferentes espécies são o uso
do frio, para resfriamento ou congelamento, a salga, a defumação e a fabricação de conservas
(FIGUEIREDO, 2016), tal como já mencionado anteriormente.
A ocorrência do rigor mortis ou rigidez cadavérica é de fundamental importância na
conservação do pescado, visto que este é responsável por retardar a autólise e a proliferação
microbiana. Nesse sentido, três fases são observadas no pescado: pré-rigor mortis, rigor mortis
e pós-rigor mortis. A duração da primeira fase é influenciada pelas reservas de glicogênio
muscular no momento da morte, as quais, por sua vez, são dependentes do estresse sofrido pelos
animais nos manejos pré-abate, sendo essencial que esta fase se prolongue ao máximo,
buscando preservar as características sensoriais e estender a vida útil do pescado (MENDES et
al., 2015).
Na fase de pós-rigor mortis iniciam-se os processos de degradação do pescado,
caracterizados pela ação de enzimas proteolíticas, as quais levam ao amolecimento da
musculatura e formação de peptídeos, aminoácidos livres e aminas e, por este motivo, neste
momento torna-se necessária a adoção de algum método de conservação do produto
(MONTEIRO, 2013).
Alterações e modificações após captura
Uma das principais modificações na qualidade e segurança do pescado ocorre em
virtude do estresse pré-abate e, por esse motivo, sua adequada captura e manipulação correta
exercem tanta influência sobre a conservação post mortem. Isso porque as situações que
provocam um estresse acentuado antecipam o estabelecimento e reduzem a duração do rigor

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mortis e, consequentemente, favorecem a ação de microrganismos (CORRÊA, 2014).


Outra variável importante que influencia a segurança dos pescados é sua origem,
sobretudo no que se refere à qualidade microbiológica de sua água de cultivo. Se as contagens
microbianas já são elevadas no pescado antes de seu beneficiamento, menor será sua qualidade
nutricional, sensorial e, principalmente, higiênico-sanitária após o processamento. A crescente
expansão da aquicultura como fonte de alimentos reforça a importância de um sistema de
controle na criação dos animais e a qualidade da água mostra-se como uma das principais
preocupações (GAZAL et al., 2018).
Características morfológicas e sua relação com a deterioração
A variabilidade entre as espécies de pescado, seu tamanho, composição nutricional,
forma de comercialização (postas, filé ou inteiro) contribuem para o grau de perecebilidade do
alimento, mas, de forma comum, esse produto de origem animal apresenta vida útil curta, e os
processos de deterioração iniciam-se rapidamente após o momento da captura. Assim,
imediatamente após a evisceração, cujo o tempo varia de acordo com o tamanho do pescado,
esse deve ser submetido a alguma técnica de conservação, como refrigeração, congelamento, a
fim de retardar os processos de degradação (ZHAO et al., 2019).
Deterioração do pescado
São diversos os fatores que influenciam na deterioração do pescado, incluindo aqueles
intrínsecos a sua composição físico-química. Por exemplo, a carne possui pH próximo à
neutralidade, na maioria das espécies, além de apresentar um alto teor de ácidos graxos
insaturados facilmente oxidáveis e atividade de água elevada. Aliado a isso, a deterioração
também é favorecida pela ação de enzimas autolíticas endógenas e/ou pelo desenvolvimento de
uma microbiota exógena, nos casos de manipulação inadequada ou ausência de métodos de
conservação do produto (FRANCO & LANDGRAF, 2005; ANDRADE et al., 2012).
O ranço oxidativo no pescado é causado mediante a exposição de seus ácidos graxos ao
oxigênio atmosférico, levando à formação de radicais livres e promovendo alterações de
diversas propriedades da carne, sobretudo as sensoriais. A velocidade da reação de oxidação
depende do grau de insaturação na molécula do ácido graxo, ou seja, quanto maior é o grau de
insaturação, como ocorre em algumas espécies de pescado, tanto maior é a suscetibilidade à
oxidação. Dessa maneira, há alterações não apenas no sabor e odor, mas também existem riscos
associados à formação de peróxidos resultantes da degradação (ARAÚJO, 1995; MINOZZO,
2011).
Com relação ao pH da carne nas diferentes espécies de pescado, preconizam-se valores
inferiores a 7,0 nos peixes, a 7,85 nos crustáceos e a 6,85 nos moluscos, para considerar a carne

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de boa qualidade e com seu frescor preservado. Valores superiores aos discriminados
inviabilizam o consumo do produto quando associados à outras características observadas
durante a inspeção sanitária, sobretudo as sensoriais (BRASIL, 2017).
Em associação, existe ainda a possibilidade de contaminação exógena dos pescados
durante sua industrialização, mediante práticas inadequadas de preservação e processamento,
as quais também favorecem sua rápida deterioração. Da mesma maneira, traumas mecânicos
podem ocorrer em etapas que antecedem seu processamento, tanto a bordo de embarcações
pesqueiras, logo após a captura, como em terra, durante o transporte rodoviário e sua
distribuição e, da mesma maneira, estes contribuem para depreciação do produto por
degradação de seus nutrientes, sobretudo das proteínas, abundantes nos pescados (PEREIRA &
TENUTA-FILHO, 2005).
Outra importante causa de deterioração está relacionada à microbiota do pescado. Isso
porque, mesmo quando há a adoção de métodos para conservação do produto, como o uso do
frio, há a possibilidade de proliferação de bactérias psicrófilas e psicrotróficas, as quais
participam diretamente do processo de deterioração pelo fato de se multiplicarem bem em
pescados refrigerados ou, até mesmo, congelados. Por esse motivo, os animais provenientes de
regiões tropicais apresentam vida útil superior aos pescados de regiões frias ou temperadas, os
quais possuem naturalmente a microbiota endógena adaptada a temperaturas mais baixas
(BRITTO et al., 2007).
Ademais, alguns indicadores de deterioração podem ser encontrados no pescado,
indicando a perda do frescor e qualidade nutricional, como é o caso da presença de
trimetilamina, que também indica alteração da qualidade sensorial pela ação de microrganismos
deteriorantes (EVANGELISTA et al., 2000).
Outra particularidade das espécies de pescado é a composição de suas fibras musculares.
Seus músculos são funcionalmente similares aos dos mamíferos, mas há diferenças importantes
quanto ao comprimento das fibras musculares que são mais curtas no pescado. Além disso, a
carne é abundante em fibras brancas e possui menor percentual de tecido conjuntivo, quando
comparada à carnes de outras espécies e, dessa forma, apresenta menor barreira física de
proteção, tornando-se mais vulnerável à deterioração (SOARES & GONÇALVES, 2012;
VELIOĞLU et al., 2015).
Inspeção do pescado

No Brasil, a inspeção e controle de qualidade das espécies de pescado baseiam-se em


egislações específicas. O controle oficial do pescado está disposto no artigo 209, do RIISPOA

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(BRASIL, 2017), e abrange as análises sensoriais, verificação dos indicadores de frescor,


controle de histamina nas espécies formadoras, controle de biotoxinas ou de outras toxinas
perigosas para saúde humana e controle de parasitas.

De acordo com o artigo 210 do RIISPOA, os peixes considerados frescos devem


apresentar, como características sensoriais, superfície do corpo limpa, com brilho metálico, sem
qualquer pigmentação estranha; olhos claros, brilhantes, convexos, transparentes, ocupando
toda a cavidade orbitária e brânquias róseas ou vermelhas, úmidas e brilhantes com odor natural,
próprio e suave. Seu abdômen deve possuir forma normal, firme, não deixando impressão
duradoura à pressão dos dedos; escamas brilhantes e bem aderentes à pele; carne firme com
consistência elástica, da cor própria da espécie; vísceras íntegras; ânus fechado e odor próprio,
característico da espécie (BRASIL, 2017).

Da mesma maneira, os crustáceos com frescor preservado devem apresentar aspecto


geral brilhante, úmido; corpo em curvatura natural, rígida, com artículos firmes e resistentes;
carapaça bem aderente ao corpo; coloração própria da espécie, sem qualquer pigmentação
estranha; olhos vivos, proeminentes e odor próprio e suave. Já a inspeção sensorial de moluscos
pode variar entre os diferentes grupos, como os bivalves, cefalópodes e gastrópodes, porém, de
forma geral, são avaliados seu vigor, odor, características de sua carne, pele, umidade e olhos,
bem como o aspecto de suas conchas (BRASIL, 2017).

A carne de anfíbios, répteis e quelônios possui algumas semelhanças quanto a avaliação


sensorial de frescor e, dessa forma, são verificadas a coloração e odor do pescado, que devem
ser característicos da espécie, como no caso de rãs e jacarés que possuem a carne branca rosada,
além de outros fatores como a ausência de lesões e elementos estranhos e textura compatível
com o animal. É válido frisar que independente da espécie, o odor do pescado sempre deve ser
suave, pois odores muito fortes e desagradáveis indicam a deterioração e perda da qualidade do
produto (BRASIL, 2017).

Todavia, caso a análise sensorial gere dúvidas ou indique alterações no produto, podem
ser necessárias avaliações físico-químicas complementares, como as dispostas no Manual de
Métodos Oficiais para Análise de Alimentos de Origem Animal, aprovado pela Instrução
Normativa 30/2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que trata sobre os
métodos analíticos para controle de produtos de origem animal. Assim, é possível verificar o
pH, dosar nitrogênio total e proteína total, relacionados à degradação proteica por deterioração,
bem como a dosagem de bases voláteis totais, também relacionadas à proteólise e que devem

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estar em quantidades inferiores a 30 mg de nitrogênio/100 g de tecido muscular (BRASIL,


2017; BRASIL, 2018; BRASIL 2019c).

O teste de amônia ou prova de Éber é uma análise de natureza qualitativa que pode ser
utilizada como indicativo do grau de frescor do pescado, como método complementar. A
amônia identificada na reação é resultante da desaminação de aminoácidos e degradação de
nucleotídeos e seu resultado sugere deterioração do pescado quando positivo (MONTEIRO et
al., 2012). A metodologia oficialmente adotada utiliza como reagentes o ácido clorídrico, éter
etílico e o álcool etílico, os quais são misturados em proporções especificadas para compor o
reagente de Éber. O resultado positivo é observado na forma de um esfumaçado branco, gerado
mediante formação do cloreto de amônio. Isso ocorre pois, em amostras em deterioração, a
degradação proteica leva à produção de amônia, que reage com o ácido clorídrico do teste,
produzindo cloreto de amônio. Para melhor observação do vapor branco, a prova é realizada
contra um fundo negro (LANAGRO, 2014).

A determinação de hipoxantina constitui outro método complementar à avaliação


sensorial para verificação do frescor no pescado. Isso porque, a hipoxantina é um dos produtos
finais da degradação da molécula de Adenosina Trisfosfato (ATP), gerada mediante ação
enzimática e bacteriológica. Dessa maneira, quando presente em altas concentrações na amostra
avaliada, há um indicativo da ação de microrganismos no produto, ou seja, revela a deterioração
do pescado. A avaliação da hipoxantina é um indicador precoce de deterioração em pescados,
se comparada às demais avaliações, como pH e bases voláteis totais (ALMEIDA et al., 2005).

Demais análises também podem ser conduzidas como metodologias complementares e,


dentre elas, a determinação do Nitrogênio das Bases Voláteis Totais (N-BVT) é um dos
métodos utilizados mundialmente para avaliar a qualidade do pescado. Esta avaliação consiste
na quantificação de compostos de baixo peso molecular, como a trimetilamina e dimetilamina,
provenientes do OTMA e também dosagem de amônia, formadas durante o processo de
deterioração do pescado (CICERO et al., 2014).

A extensão da oxidação lipídica do pescado também pode ser monitorada por meio de
testes específicos. Nesse sentido, a determinação do Índice de Peróxido é um método
colorimétrico indireto, baseado na reação dos peróxidos contidos na amostra analisada,
mediante sua prévia oxidação, com o ferro, utilizado como reagente. O resultado do teste é
positivo para rancidez quando há formação de uma cor vermelha característica, mediante
oxidação do ferro. Outras metodologias também podem ser empregadas para determinação da

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oxidação, como o uso de substâncias reativas ao ácido tiobarbitúrico (TBARS) (OLIVEIRA et


al., 2013; MEDINA et al., 2016).

A portaria n.185/1997 (BRASIL, 1997), que trata sobre o Regulamento Técnico de


Identidade e Qualidade (RTIQ) de peixes frescos, dentre outras avaliações, determina os níveis
máximos permitidos de histamina, bem como quais espécies são consideradas formadoras desta
amina biogênica. Assim, o nível máximo permitido é de 100 mg/kg no músculo das espécies
pertencentes às famílias Scombridae, Scombresocidae, Clupeidae, Coryyphaenidae,
Pomatomidae, para considerar o pescado com seu frescor preservado.

Avaliação da qualidade do pescado

O Método do Índice de Qualidade (MIQ) consiste em uma ferramenta capaz de estimar


o frescor e a qualidade do pescado com base em critérios gradativos que têm como referência
a avaliação dos atributos sensoriais, incluindo os aspectos da carcaça e o odor. O sistema de
classificação decorre de pontos por demérito (de 0 a 3), em que, no momento da captura, o
pescado apresenta pontuação zero ou próxima disso, acumulando pontuação mais elevada à
medida em que vai se deteriorando (BREMNER, 1985; AMARAL & FREITAS, 2013).

A avaliação sensorial é o método mais utilizado para determinação do frescor do


pescado e deve ser realizada sob condições laboratoriais e por uma equipe de julgadores. O
sistema MIQ avalia a aparência geral do pescado, incluindo a integridade da pele e escamas,
claridade e visibilidade dos olhos, coloração e odor nas brânquias, firmeza do abdome e área
anal. A pontuação de todos os atributos é somada gerando uma pontuação global sensorial, o
chamado Índice de Qualidade (IQ). Dessa forma, além de avaliar a qualidade do pescado
também é possível estimar a vida útil do produto (BOGDANOVIC et al., 2012; ALTEMIO et
al., 2020).

Programas de Autocontrole

A qualidade higiênico-sanitária é um fator decisivo para a segurança do alimento e sua


importância em toda a cadeia produtiva do pescado é inegável, sobretudo se levado em
consideração o alto potencial de deterioração deste produto. Nesse sentido, a adoção de
Programas de Autocontrole, sobretudo das Boas Práticas de Fabricação (BPF), representa uma
forma de garantia de fornecimento de alimentos seguros, reduzindo a ocorrência de casos de
Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA). Os princípios do programa são gerais e
envolvem o correto manuseio dos alimentos e adoção de métodos de conservação adequados,
abrangendo desde a matéria-prima até o produto final (COSTA et al., 2012).

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Outro princípio fundamental das BPF é o treinamento dos manipuladores de alimentos,


visto que estes são um dos principais focos de contaminação para o produto. Assim, buscando
qualidade superior do pescado, os programas de capacitação devem ser contínuos e planejados,
com objetivo de incorporar, na rotina de beneficiamento, os procedimentos preconizados pelas
BPF. Os treinamentos devem contemplar conteúdos como higiene pessoal e operacional e
manipulação higiênica dos alimentos (SOUSA et al., 2021).

Perspectivas futuras para o setor de pescado


A atual conjuntura do Brasil, marcada por relativa abundância de recursos naturais,
aliada às projeções de crescimento populacional e, consequentemente, ao aumento da demanda
por alimentos, propicia o desenvolvimento das atividades que compõem o setor aquícola do
país. Os impactos positivos ressaltam ainda sobre as questões econômicas, contribuindo para a
geração de emprego e renda para a população. De modo geral, o governo brasileiro vem
apoiando e incentivando, mesmo que discretamenta, a criação de peixes em cativeiro. A criação
do Safra, Pesca e Aquicultura foi uma das medidas públicas implementadas objetivando
formendar o desenvolvimento do setor e consiste no apoio financeiro por meio da apresentação
de projetos e regularização da atividade (OLIVEIRA & PEDROZA FILHO, 2020).
Estudos apontam uma previsão positiva quanto ao crescimento da indústria de pescado
no Brasil, principalmente nos segmentos produtivos de tilápia, tambaqui e camarão. Acredita-
se que as características instrínsecas do país são extremamente favoráveis para o incremento da
produção aquícola, entretanto, são necessárias mudanças institucionais que criem um sistema
de suporte para toda a cadeia produtiva, inclusive com investimentos em ciência e tecnologia
(FONTES et al., 2016; SCHREIBER et al., 2021).
Entretanto, ainda existem uma série de gargalos e desafios que precisam ser
ultrapassados para consolidação dessa cadeia produtiva. Isso inclui a melhoria da organização
do setor produtivo, estímulo do ingresso de novas empresas no ramo, aumento do nível
tecnológico a fim de reduzir os custos com a produção, políticas que fomentem o investimento
estrangeiro e, sobretudo, mão de obra qualificada Além de estimular o consumo dessa proteína
de origem no país (KUBO, 2014; CASTILHO & PEDROZA FILHO, 2019).

CONCLUSÃO
O pescado é um produto de origem animal com características nutricionais singulares,
entretanto, sua alta perecibilidade representa uma limitação para a cadeia produtiva. Nesse
sentido, torna-se indispensável a manutenção das condições higiênico-sanitárias durante todas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

as etapas do processamento, além do emprego de métodos de conservação efetivos.


Considerando o potencial do país como produtor dessa proteína, o incentivo governamental
para o aumento do consumo e produção é fundamental, tanto do ponto de vista de saúde pública
quanto econômico. Assim, as perspectivas de crescimento e alcance de uma posição de destaque
no comércio internacional tornam-se mais consistentes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 4

O USO DO EQUIPAMENTO DE PROTEÇÃO


INDIVIDUAL NA AGRICULTURA

Jussiê Gonçalves de Souza Neto, Larissa Combat Vital, Vivian Torres


Bandeira Tupper e Isabella Combat Vital

RESUMO: A horticultura é responsável por grande parte da utilização de


produtos agrotóxicos. O controle de pragas e doenças é realizado
semanalmente, através de sucessivas pulverizações desses agentes químicos
em grande parte das culturas. Fato este que aumenta a exposição de
trabalhadores rurais a estes produtos químicos e, consequentemente, a riscos
de intoxicação. Estima-se que ocorram no mundo cerca de três milhões de
intoxicações por agrotóxicos, com 220 mil mortes por ano, sendo 70% nos
países em desenvolvimento. No Brasil, o número de intoxicações chega a 800
mil casos por ano. Como medidas protetivas, é recomendado e em muitos
casos, obrigatório, o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI).
Entende-se por EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado
pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a
segurança e a saúde no trabalho. A legislação exige a utilização do EPI por
meio de Normas Regulamentadoras, sendo obrigação da empresa o
fornecimento do EPI adequado a situação de risco, em estado de conservação
e funcionamento perfeito, e de forma gratuita. Ademais, os rótulos dos
agrotóxicos trazem informações necessárias a respeito da utilização
adequada desses produtos, os equipamentos de proteção individual a serem
utilizados e grau de periculosidade. Todavia, é verificado em alguns locais do
país que ao aplicarem os inseticidas, os produtores não utilizam os EPIs
necessários, facilitando os riscos de intoxicações. A subutilização ou
utilização ineficiente de EPI representa grande perigo à saúde do aplicador,
causando elevação significativa no número de intoxicações. Os principais
motivos do não uso ou uso incompleto do EPI são a existência de EPIs
inadequados para a realização das tarefas, o calor e desconforto, o alto custo,
ou não acham necessário. Diante do exposto, conhecer e entender suas
normas de regulamentação, instruções e recomendações de uso, os tipos de
EPI existentes no mercado e seu material de fabricação, bem como sua
utilidade na agricultura e os riscos oferecidos quanto a não utilização. Além
disso, elucidar técnicas visando a conscientização do empregador e dos
trabalhadores rurais, são fundamentais acerca do correto uso desses
equipamentos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1. INTRODUÇÃO

Tendo sido originalmente usados como arma química na Segunda Guerra Mundial, os
agrotóxicos, a partir dos anos 40, começaram a ser produzidos em escala mundial (OPAS/OMS,
1996). Segundo Brum (1988), já nos anos 50, as práticas agrícolas foram sensivelmente
modificadas durante a Revolução Verde, em decorrência do processo de modernização
tecnológica. Além disso, este processo gerou mudanças de cunho ambiental, trabalhista, na
utilização dos agrotóxicos na agricultura e nos seus efeitos sobre a saúde, colocando os
trabalhadores rurais expostos a riscos diversificados (FARIA et al., 2000).
Devido algumas culturas necessitarem de pulverizações semanais para o controle de
pragas e doenças, a horticultura é responsável por grande parte da utilização destes produtos
(ARAÚJO et al., 2000; ALMEIDA; CARNEIRO; VILELA, 2009). Este fato aumenta a
exposição dos trabalhadores rurais a estes produtos e a riscos de intoxicação (MARQUES et
al., 2010).
O número de intoxicações e óbitos de contaminação por agrotóxicos são preocupantes
em todo o mundo (MARQUES et al., 2010), ainda que esta relação seja de complexa
identificação devido a intoxicação crônica. Números da Organização Mundial da Saúde (OMS)
revelam que ocorram no mundo cerca de três milhões de intoxicações por agrotóxicos, sendo
220 mil mortes por ano, destas, 70% nos países em desenvolvimento. No Brasil, segundo a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as intoxicações atingem
o número de 800 mil casos anualmente (CONTAG, 2005). Tendo como exemplo, no estado do
Paraná, 14,3 mil pessoas foram intoxicadas por agrotóxicos, com registros de 1439 óbitos entre
os anos de 1986 a 2004, com média anual de 754 ocorrências de intoxicação e 75 óbitos
(SESA/PR, 2005).

Este quadro pode estar subestimado considerando que, conforme estimativas do


Ministério da Saúde, para cada evento noticiado de intoxicação por agrotóxicos, há cerca de 50
não noticiados (CASADO, 2005). De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde, a
divisão das classificações de intoxicação por agrotóxicos são: a) aguda, determinada por
sintomas claros que surgem rapidamente; b) subcrônica, que ocorrem em função da exposição
moderada ou pequena a produtos altamente tóxicos ou medianamente tóxicos, cujos sintomas
são subjetivos tais como dor de cabeça, fraqueza, entre outros e; c) crônica, caracterizada pelo
seu surgimento tardio, podendo ocorrer após meses ou anos, através da exposição curta ou
moderada a produtos tóxicos ou a diversos produtos (OPAS/OMS, 1996).
O manejo de produtos fitossanitários deve ser sempre executado por pessoas adultas,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

alfabetizadas e esclarecidas quanto aos riscos (MARQUES et al., 2010). As informações mais
confiáveis podem ser encontradas no rótulo e bula do produto (ANDEF, 2005). Os rótulos dos
agrotóxicos são úteis pois reúnem as informações a respeito do grupo químico, ingrediente ativo
do produto e instruções necessárias à utilização adequada dos produtos com o objetivo de evitar
intoxicações, os equipamentos de proteção individual (EPIs) a serem empregados e o grau de
periculosidade. Não obstante, já foi verificado em alguns locais do país que produtores, ao
aplicarem os inseticidas, não utilizam os EPIs necessários, o que gera intoxicações (ARAÚJO
et al., 2000).
Segundo Monquero et al. (2009), o aumento do número de intoxicações é causado,
majoritariamente, devido a subutilização ou utilização ineficiente de EPI, conferindo perigo à
saúde do aplicador. Em função da natureza dos serviços, os trabalhadores do setor agropecuário
estão quase que diariamente expostos a diversas periculosidades, de origem física, química e
biológica, podendo levar a acidentes, tais como máquinas, implementos agrícolas, ferramentas
manuais, agrotóxicos, ectoparasiticidas e animais domésticos ou peçonhentos (ALMEIDA,
1995). Esta exposição múltipla pode resultar em quadros sintomatológicos combinados, que se
confundem com outras doenças comuns, mascarando a real causa da intoxicação e levando a
erros diagnósticos e a tratamentos equivocados (MATTOS et al., 2001).
De acordo com Monquero et al., (2009) as principais respostas por parte dos
entrevistados para a não utilização do EPI foram: o uso do EPI convencional ser
demasiadamente quente, incômodo e dificultar a respiração e a mobilidade. Segundo Marques
et al., (2010), os maiores motivos em não se usar ou seu uso incorreto do EPI são, a saber: o
calor (60,6%), desconforto durante a execução do trabalho (57,6%), não acreditam ser
necessário o uso (24,2%); sendo menos citados a negligência e a falta de tempo (3,3%). Ainda,
segundo NUNES (2010), foi comprovado que 53,3% dos agricultores entrevistados definem
que o principal entrave ao emprego correto destes equipamentos na atividade é a existência de
EPI não elaborados especificamente para a realização das tarefas, dificultando o trabalho, e
40% informam que o desconforto proporcionado pelo EPI, é a causa predominante da
resistência ao uso destes equipamentos e somente 6,7% dizem ser o alto custo do equipamento
a principal dificuldade encontrada para o uso devido.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo esclarecer o que é o EPI, sua
utilidade na agricultura, os riscos oferecidos quanto a sua subutilização ou não utilização, assim
como elucidar técnicas visando a conscientização do empregador e dos trabalhadores rurais
acerca do correto uso desse equipamento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

2. DEFINIÇÃO E ORIGEM

A Norma Regulamentadora 6 – NR 6, item 6.1, define Equipamento de Proteção


Individual – EPI como “todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo
trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no
trabalho”. Do ponto de vista técnico e legal, para serem considerados como EPI, os
equipamentos devem possuir um certificado de aprovação, denominado pela sigla C.A.,
expedido pelo Ministério do Trabalho. Esse certificado identifica que o equipamento passou
por um processo de registro junto ao órgão controlador (FILHO, 2001). A utilização do EPI
nasceu legalmente falando da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) por meio do Decreto
Lei N° 5.452 de 1° de maio de 1943, em seu artigo 160 foi determinado que em todas as
atividades exigidas o empregador forneceria EPI.

3. OBRIGAÇÕES

A legislação exige a utilização do EPI por meio das Normas Regulamentadoras, que
nesse caso é a NR 6. Segundo o item 6.3, é obrigação da empresa o fornecimento do EPI
adequado a situação de risco, em estado de conservação e funcionamento perfeito, e de forma
gratuita: a) quando as medidas tomadas de ordem geral não oferecerem proteção completa
contra os riscos de acidentes e doenças do trabalho; b) durante a implantação das medidas de
proteção coletiva; e c) como resposta a situações de emergência.

4. TIPOS DE EPI E MATERIAL DE FABRICAÇÃO

Além do dever do empregador de fornecer aos empregados o EPI nas circunstâncias


mencionadas anteriormente, segundo o item 6.3, ele também deve atender às peculiaridades de
cada atividade profissional para dispor dos equipamentos adequados (item 6.4). No ANEXO 1
da NR6, são mencionados os EPIs:

A. PARA PROTEÇÃO DA CABEÇA


Capacetes para proteção contra impactos de objetos sobre o crânio, choques elétricos e
agentes térmicos; capuz ou balaclava para proteção contra riscos de origem térmica, agentes
químicos, abrasivos e escoriantes e umidade proveniente de operações com uso de água.
O boné árabe é fabricado em tecido de algodão tratado, tornando-se hidrorrepelente. Ele
tem a função de proteger tanto o couro cabeludo quanto o pescoço de respingos e do sol,
podendo ser substituído pela touca ou capuz.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

B. PARA PROTEÇÃO DE OLHOS E FACE


Óculos, protetor facial e máscara de solda para proteção contra impactos de partículas
volantes, luminosidade intensa, radiações ultravioleta.
A viseira facial confere proteção ao rosto contra os respingos durante a manipulação e
aplicação do produto. Ela deve ser transparente e não pode causar a distorção das imagens.
Além disso, para maior segurança do aplicador, é recomendado que a viseira tenha revestimento
com viés, evitando cortes, e um suporte que permita certo distanciamento do rosto do
trabalhador, de modo a evitar que ela embace, permitindo também a utilização simultânea do
respirador, sempre que necessário.

C. PARA PROTEÇÃO AUDITIVA


Protetor auditivo circum-auricular, de inserção e semi-auricular para proteção do
sistema auditivo contra níveis de pressão sonora superiores ao estabelecido na NR-15, Anexos
n.º 1 e 2.

D. PARA PROTEÇÃO RESPIRATÓRIA


Respiradores purificadores de ar não motorizado ou motorizado, de adução de ar tipo
linha de ar comprimido, de adução de ar tipo máscara autônoma e de fuga.
Os respiradores ou máscaras têm a finalidade de evitar a inalação de fumaça, vapores
orgânicos, névoas ou partículas tóxicas. Para tal finalidade, há os respiradores descartáveis, que
possuem vida útil curta, e os de baixa manutenção, que apresentam filtros especiais para
reposição e são mais duradouros.
A utilização desse equipamento pode ser dispensada em caso de aplicação de produtos
granulados incorporados ao solo por trator ou em pulverizações com trator de cabine
climatizada.
As máscaras devem ser limpas e higienizadas constantemente de modo a evitar a
saturação do filtro. Em caso de filtro saturado, recomenda-se substituí-lo ou descartá-lo. O
usuário, além de estar barbeado, deve proceder a um teste de ajuste de vedação, para evitar falha
na selagem. Elas devem ser armazenadas em local seco, preferencialmente dentro de um saco
plástico.

E. PARA PROTEÇÃO DO TRONCO

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Vestimentas para proteção do tronco contra riscos de origens térmica e mecânica, contra
agentes químicos, riscos de origem radioativa, umidade proveniente de precipitação
pluviométrica e umidade proveniente de operações com uso de água.
O avental é confeccionado com materiais resistentes a solventes orgânicos, de modo a
aumentar a proteção do operador contra respingos durante o preparo da calda ou de possíveis
vazamentos do equipamento de aplicação costal.

F. PARA PROTEÇÃO DOS MEMBROS SUPERIORES


Luvas para proteção das mãos contra agentes abrasivos, escoriantes, cortantes e
perfurantes, choques elétricos, agentes térmicos, biológicos e químicos, vibrações, umidade
proveniente de operações com uso de água e contra radiações ionizantes.
A luva tem que ser impermeável ao produto químico e sua utilização deve seguir o tipo
de formulação do produto a ser manuseado. As luvas confeccionadas com borracha Nitrílica ou
Neoprene podem ser usadas com qualquer tipo de formulação.

G. PARA PROTEÇÃO DOS MEMBROS INFERIORES


Calçado para proteção contra impactos de quedas de objetos sobre os artelhos, agentes
provenientes de energia elétrica, abrasivos, escoriantes, cortantes e perfurantes e umidade
proveniente de operações com uso de água.
A bota deve ser impermeável, de preferência com cano alto e resistente aos solventes
orgânicos. Ela tem a função de proteger os pés e é o único equipamento que não possui C.A.

H. PARA PROTEÇÃO DO CORPO INTEIRO


Macacão para proteção do tronco e membros superiores e inferiores contra agentes
térmicos e químicos, umidade proveniente de operações com uso de água e de precipitação
pluviométrica.
Jaleco e calça hidrorrepelente são fabricados em tecido de algodão tratado se tornando
hidrorrepelentes. Sendo assim, eles criam uma barreira física que evita o molhamento e a
passagem do produto tóxico para o interior da roupa, além de possibilitar a transpiração do
trabalhador.
O jaleco e a calça em não tecido, tipo Tyvek/Tychem QC, são vestimentas que, além de
serem hidrorrepelentes, são impermeáveis e mais resistentes a névoas e partículas sólidas.de
segurança confeccionadas em não tecido (tipo Tyvek/Tychem QC).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

As vestimentas fabricadas em não tecidos tem menor durabilidade e não podem ser
reutilizadas, caso sejam danificadas.

5. RECOMENDAÇÃO DE USO
Segundo o item 6.5, compete ao Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e
em Medicina do Trabalho - SESMT, ouvida a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes -
CIPA e trabalhadores usuários, recomendar ao empregador o EPI adequado ao risco existente
em determinada atividade.
Nas empresas desobrigadas a constituir SESMT, cabe ao empregador selecionar o EPI
adequado ao risco, mediante orientação de profissional tecnicamente habilitado, ouvida a CIPA
ou, na falta desta, o designado e trabalhadores usuários.

5.1 RESPONSABILIDADE QUANTO AO USO


Os itens 6.6, 6.7 e 6.8 da Norma Regulamentadora 6, dispõe sobre as responsabilidades
do empregador, trabalhador e de fabricantes e/ou importadores quanto ao EPI, respectivamente.

6. EMPREGADOR
Sendo assim, cabe ao empregador, quanto ao EPI, a aquisição do equipamento
adequado, a exigência do uso, o fornecimento somente de equipamentos aprovados pelo órgão
competente, a orientação e treinamento do trabalhador quanto ao manuseio e conservação, a
substituição imediata sempre que houver dano ou extraviação, a higienização e manutenção
periódicas, a comunicação ao Ministério do Trabalho e Emprego de qualquer irregularidade
observada e o registro da sua entrega ao trabalhador.
Quanto ao item “a”, a figura 1 apresenta o tipo mais adequado de EPI para cada
operação. É importante ressaltar que os EPI não substituem os demais cuidados na aplicação e
sim os complementam, evitando-se a exposição.

Figura 1. Relação Operação x EPI x Exposição

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Fonte: Norma Regulamentadora 6, 2018.

Quanto ao item "f", alguns cuidados devem ser tomados no momento da higienização
EPI. Na lavagem dos EPIs, recomenda-se que a pessoa utilize luvas a base de Nitrila ou
Neoprene.
As vestimentas de proteção devem ser enxaguadas com água corrente e lavadas com
são neutro, a fim de diluir e remover os resíduos da calda pulverizada. Não é recomendada a
utilização de alvejantes para não danificar o tratamento do tecido. Elas devem secar à sombra.
Para evitar arranhar e diminuir a transparência da viseira, ela não pode ser esfregada
durante a lavagem.
Tratando-se especificamente do item “d”. Para proteger adequadamente, os EPIs devem
seguir a ordem e a forma corretas de vestimenta e retirada, que, geralmente, são:

1. Calça e Jaleco: a ordem de vestimenta é a calça, seguida do jaleco, que deve ficar
sobre a primeira. Os cordões do velcro, após fechado, devem ficar para o interior da roupa.
2. Botas: a boca da calça deve ficar sempre sobre o cano da bota, para evitar a entrada
do produto no calçado.
3. Avental impermeável: deve permanecer sobre jaleco ao preparar a calda e atrás, em
caso de aplicação com utilizando equipamento costal.
4. Respirador: deve ter o encaixe perfeito, evitando aberturas pelas quais o produto
possa entrar em contato direto com o rosto do usuário.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

5. Viseira facial: deve sempre estar bem ajustada na testa.


6. Boné árabe: deve ser colocado sobre a viseira.
7. Luvas: são colocadas por baixo da manga do jaleco. Caso o trabalhador proceder à
pulverização na qual o jato esteja acima da linha do ombro, recomenda-se seu uso por cima da
manga do jaleco.
Durante a retirada dos EPIs, é importante prevenir o contato direto da parte externa do
EPI com o trabalhador, pois ela normalmente está com o resquício do produto aplicado. Por
isso, antes de proceder à retirada dos EPIs, o aplicador deve lavar as luvas ainda vestidas,
objetivando a redução do risco de exposições acidentais. Isto ajudará a reduzir os riscos de
exposição acidental. Abaixo segue um exemplo de uma rotina adequada para a retirada dos
EPIs:

1. Boné árabe: o velcro de ser desprendido e o boné retirado com cautela.


2. Viseira facial: deve ser retirada e colocada em local seguro para evitar arranhões.
3. Avental: o laço deve ser desatado e o velcro desprendido.
4. Jaleco: o cordão deve ser desamarrado. Depois disso, o trabalhador deve se curvar e
retirar o jaleco puxando-o pelo ombro para evitar que ele seja vire ao avesso
5. Botas: recomenda-se retirá-las em um local limpo para evitar que o trabalhador suje
os pés.
6. Calça: deve ser retirada deslizando-a pelas pernas sem que seja virada ao avesso.
7. Luvas: ambas as luvas devem ser puxadas pela ponta dos dedos para que possam se
desprender ao mesmo tempo, evitando que virem ao avesso.
8. Respirador: deve ser armazenado separado dos outros equipamentos para evitar a
contaminação do filtro e da parte interna.
É imprescindível que logo após a aplicação e a retirada do EPI, o trabalhador tome banho com
água abundante e sabonete e, em seguida, vista roupas limpas.

A figura 2 destacada do modelo do rótulo, indica os EPI específicos para cada etapa e a
ordem em que devem ser vestidos e retirados. Vale ressaltar que uma das etapas que mais ocorre
a contaminação é durante a retirada do EPI. Logo, é de extrema importância que as orientações
por parte do empregador/fornecedor sejam bastante claras quanto às etapas de preparo do
produto para que os riscos à saúde sejam os mínimos possíveis.

Figura 2. Precauções gerais antes, durante e após a aplicação do produto

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Agrotóxicos - Guia nº 12, versão 1, 2018.

Por fim, quanto ao item “e”. Em relação ao descarte, os fabricantes devem informar a
durabilidade das vestimentas e a checagem deve fazer parte da rotina do usuário. Quando não
oferecerem os níveis de proteção adequados, os EPIs têm que ser lavados, rasgados e
descartados.

6.1 TRABALHADOR
Cabe ao trabalhado, quanto ao EPI, a utilização de acordo com as determinações dadas
pelo empregador somente para o fim a que foi destinado, a responsabilidade pelo
armazenamento e conservação e a comunicação de qualquer irregularidade que comprometa o
uso ao empregador.
Em referência ao item “b”, os EPIs devem ser lavados e armazenados de forma
adequada, para garantir maior durabilidade. Eles devem ser guardados separados das roupas da
família.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

6.2 FABRICANTES E/OU IMPORTADORES


São responsabilidades de fabricantes e/ou importadores, quanto ao EPI, o
cadastramento, a solicitação da emissão do CA, bem como sua renovação ao término do prazo
de validade, requerimento de CA em caso de alteração das especificações do equipamento
aprovado, a responsabilidade pelo monitoramento da qualidade do EPI que originou o CA,
comercialização apenas do EPI portador do CA, comunicação ao órgão competente de qualquer
alteração dos dados cadastrais fornecidos, comercialização do EPI com instruções técnicas no
idioma nacional, orientando sua utilização, manutenção, restrição e demais referências ao seu
uso, fazer constar a presença do número do lote de fabricação, providenciar a avaliação da
conformidade do EPI no âmbito do SINMETRO, quando for o caso, o fornecimento das
informações referentes aos cuidados de higienização e limpeza de seus EPIs e promover
adaptação do EPI detentor de Certificado de Aprovação para pessoas com deficiência.

7. REGRAS QUANTO À COMERCIALIZAÇÃO OU USO


Segundo o Artigo 167, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o equipamento de
proteção só poderá ser posto à venda ou utilizado com a indicação do Certificado de Aprovação
do Ministério do Trabalho. O Certificado de Aprovação (CA), terá como base, 5 anos de
validade, podendo ser alterado mediante justificativa e quando necessário. Todo EPI deverá
apresentar em caracteres indeléveis e bem visíveis, o nome comercial da empresa fabricante, o
lote de fabricação e o número do CA, ou, no caso de EPI importado, o nome do importador, o
lote de fabricação e o número do CA.

8. COMPETÊNCIA DO MINISTÉRIO DO TRABALHO E


EMPREGO/MTE
Cabe ao órgão nacional competente em matéria de segurança e saúde no trabalho quanto
ao EPI, o cadastro do fabricante ou importador de EPI, o recebimento e exame da documentação
para emissão ou renovação do CA de EPI, o estabelecimento dos regulamentos técnicos para
ensaios de EPI, a emissão ou renovação do CA e o cadastro de fabricante ou importador, a
fiscalização da qualidade do EPI, a suspensão do cadastramento da empresa fabricante ou
importadora e o cancelamento do CA.
Cabe ao órgão regional do MTE quanto ao EPI, a fiscalização e orientação quanto ao
uso adequado e a qualidade do EPI, o recolhimento de amostras de EPI e a aplicação, na sua
esfera de competência, das penalidades cabíveis pelo descumprimento desta NR.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

9. APLICAÇÕES DE PENALIDADES
A parte responsável que não cumprir com as obrigações poderá ser responsabilizada. O
empregador poderá responder no âmbito criminal ou cível, além de receber multa. O
funcionário estará sujeito a sanções trabalhistas e poderá ser demitido por justa causa.
Recomenda-se o registro em documentação adequada tanto do fornecimento do EPI quanto do
treinamento para ser utilizado em eventual esclarecimento em causas trabalhistas.
Na emissão da receita, a atribuição do engenheiro agrônomo na indicação dos EPIs
adequados é fundamental, pois além de considerar as características inerentes ao produto, o
profissional considera os equipamentos disponíveis para a aplicação, as etapas da manipulação
e as condições da lavoura.
A figura 3 apresenta exemplos de faixas contendo pictogramas específicos e que devem
ser representados nos rótulos de agrotóxicos, indicando quais os EPI devem ser utilizados para
manuseio e aplicação dos mesmos e a ordem em que devem ser vestidos. Em complemento, a
figura 4 mostra alguns pictogramas de EPI e seus significados:

Figura 3. Uso do EPI de acordo com o rótulo do produto a ser aplicado

Fonte: Agrotóxicos - Guia nº 12, versão 1, 2018.

Vale salientar que com a reclassificação toxicológica dos agrotóxicos publicado pela
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no Diário Oficial da União no dia 1º de
agosto de 2019, a indicação de quais EPI a serem utilizados, inevitavelmente sofrerá mudanças,
com a finalidade de se ajustar ao novo marco regulatório no país.

Figura 4. Significado dos pictogramas apresentados anteriormente

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Agrotóxicos - Guia nº 12, versão 1, 2018.

Abaixo segue um modelo de rótulo de um produto (Figura 5) para fins de exemplo, no


qual serão destacados as precauções e recomendações acerca da utilização dos EPI.

Figura 5. Rótulo do produto com as devidas recomendações de proteção

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Agrotóxicos - Guia nº 12, versão 1, 2018.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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BRUM, A. J. Modernização da agricultura – trigo e soja. Petrópolis: Ed. Vozes, 200 p, 1988.

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Londrina. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 31, n. 3, p. 547-556, jul./set, 2010.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

NUNES, G. C. Uso do EPI – equipamentos de proteção individual nas pequenas propriedades


rurais produtoras de fumo no município de jacinto machado – SC. Monografia. Universidade
do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, Santa Catarina. 2010.

ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE – OPAS/OMS. Manual de vigilância da


saúde de populações expostas a agrotóxicos. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância
Sanitária. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde/OMS, 1996.

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DO PARANÁ – SESA. Saúde do trabalhador.


Curitiba: SESA, 2005. Disponível em: <www.saude.pr.gov.br>. Acesso em: 20 nov. 2021.

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL - SENAR. Administração Regional


do Paraná. Trabalhador na Aplicação de Agrotóxicos: Pulverizador Costal Manual. Curitiba:
SENAR-PR, 98 p. 2004.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 5

USO DO MELHORAMENTO GENÉTICO NA


REPRODUÇÃO EQUINA

Verônica La Cruz Bueno, Henrique Boll de Araujo Bastos e Sandra Fiala


Rechsteiner.

RESUMO: Diferente de outras espécies domésticas de interesse zootécnico,


os equinos são valorizados como indivíduo e animais de alto padrão genético
atingem valores elevados de comércio e reprodução. Éguas e garanhões são
selecionados para a reprodução de acordo com seu desempenho esportivo,
morfologia, pedigree e não de acordo com sua fertilidade. Fatores fisiológicos
e de capacidade reprodutiva muitas vezes são selecionados negativamente,
o que leva a menores índices reprodutivos. Os reprodutores equinos, assim
como os humanos, geralmente recebem tratamento médico para a
infertilidade. A extração de ácidos nucleicos (DNA e RNA) é o primeiro passo
para a realização da maioria das metodologias de Biologia Molecular. É
possível se obter DNA e RNA a partir de inúmeros tipos de tecidos e células.
Vários estudos encontraram biomarcadores gênicos associados à fertilidade
tanto na fêmea como no macho. Diferentes genes foram associados na égua
com a fisiologia ovariana e uterina, já no garanhão a presença de genes
silenciados na especializada célula espermática vem sendo tema de
pesquisas, demonstrando a importância desses genes após a fecundação. A
identificação de marcadores positivos e negativos referentes à fertilidade
pode ser uma ferramenta para auxiliar a detecção de alterações que
comprometam a vida reprodutiva da fêmea e do macho equino. O presente
trabalho apresenta uma revisão de literaturaq relacionada ao melhoramento
genético na reprodução equina.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O efetivo mundial de equinos é estimado em 60.566.601 de cabeças, das quais cerca


de 54% encontram-se nas Américas (FAO, 2021). O Brasil possui o maior rebanho de equinos
na América Latina e o terceiro mundial. O rebanho equino do Brasil cresceu 1,9% em 2020,
comparado com os dados do ano anterior, somando 5.962.126 milhões de cabeças de cavalos
(IBGE, 2021). A atividade movimenta anualmente R$ 16,15 bilhões e gera mais de 610 mil
empregos diretos e 2.430 milhões empregos indiretos, sendo responsável por três milhões de
postos de trabalho (MAPA, 2017). A equideocultura deu um salto qualitativo, havendo hoje
no mercado animais de alto valor. Isso é possível devido aos avanços na área da genética
animal, os quais permitem identificar diversos genes de interesse econômico (COELHO e
OLIVEIRA, 2008).
O estudo da reprodução equina é fomentado cada vez mais como uma ferramenta para
acelerar o ganho genético e competitividade na indústria do cavalo (HINRICHS, 2013). A
indústria do cavalo é repleta de animais com nível de fertilidade indesejável (VARNER et al.,
2008). Diferente de outras espécies domésticas de interesse zootécnico, os equinos são
valorizados como indivíduo (CHOWDHARY et al., 2008, VARNER et al., 2008). São
selecionados pelo desempenho esportivo e sua genealogia e o aspecto reprodutivo na maioria
das vezes não é levado em consideração (HARALD; OTTMAR, 2012).
A biotecnologia da reprodução se coloca como uma importante ferramenta a serviço
da equideocultura mundial, como instrumento direto do melhoramento genético. Muitas
dessas biotecnologias são utilizadas para aumentar a produção de potros e contribuem com
pesquisadores e profissionais que trabalham com reprodução equina HINRICHS, 2013).
Modernas técnicas de Biologia Molecular vêm sendo utilizadas em estudos envolvendo a
determinação da relação entre a ocorrência de variações no DNA com características
fenotípicas, contribuindo para abordagens preventivas na medicina humana e animal (LEON
et al., 2011).
Os reprodutores equinos, assim como os homens, geralmente recebem tratamento
médico para a infertilidade (ING et al., 2014). A extração de ácidos nucleicos (DNA e RNA)
é o primeiro passo para a realização da maioria das metodologias de Biologia Molecular. É
possível se obter DNA e RNA a partir de inúmeros tipos de tecidos e células (GOUVEIA et
al., 2007). Marcadores biológicos ou biomarcadores são entidades que podem ser medidas
experimentalmente e indicam a ocorrência de uma determinada função normal ou patológica
de um organismo (GARBAN et al., 2006). A identificação de genes e marcadores associados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

com características economicamente importantes, como a reprodução, permite que os


pesquisadores desenvolvam testes específicos de diagnóstico e elaborem medidas preventivas
de manejo e tratamento (BROSNAHAN et al., 2010).
Em relação a outras espécies de exploração zootécnica, as pesquisas na área de
melhoramento genético são proporcionalmente menores em equinos, no mundo todo. Embora
algumas pesquisas publicadas em cavalos envolvam a área de melhoramento genético,
ainda não existem, efetivamente, programas consistentes de seleção nas diferentes raças
criadas no Brasil. Neste sentido, pequenos grupos de pesquisadores ligados às
universidades e institutos de pesquisa têm trabalhado na área, especialmente em relação a
aspectos conservacionistas em raças nacionais ou quantitativos de caracteres de interesse
econômico em raças nacionais e importadas (PEREIRA et al., 2015).
Existem dificuldades e contratempos ao se pesquisar melhoramento genético de
equinos, que são inerentes à espécie equina como: baixos índices reprodutivos; altos
intervalos de geração e parto; baixo número de progênies por parição e longo período de
gestação, e em função de aspectos operacionais como: informações escassas e imprecisas de
caracteres reprodutivos, comportamentais e de desempenho em grande parte das raças; baixa
receptividade das associações de criadores às tecnologias reprodutivas; relação superficial
entre órgãos técnicos e criadores (COELHO e OLIVEIRA, 2008).
A reprodução é um dos principais aspectos na criação de equinos. Estudos foram
realizados buscando correlação entre fatores ambientais, comportamentais e fisiológicos com
a fertilidade de equinos. No entanto, pouco se sabe sobre os fatores genéticos que atuam na
fertilidade (CHOWDHARY et al., 2008; HINRICHS, 2013). A seleção dos equinos é baseada
na genética, desempenho e conformação. Claramente, a saúde reprodutiva do animal não é
inserida nesta seleção. O melhoramento genético tem o objetivo de melhorar uma
característica de importância, ou seja, possui a finalidade de aumentar frequência de alelos
favoráveis na geração seguinte (Batiston, 2017).

FERTILIDADE

O termo fertilidade é habitualmente utilizado na indústria equestre para relatar a


capacidade individual de se reproduzir. Este valor sempre será menor do que a percentagem
de oócitos fertilizados in vivo pelo sêmen de um determinado garanhão (AMANN, 2005). O
resultado de qualquer monta natural, IA ou FIV depende da interação de ambos os gametas
(masculino e feminino). Assim, ao descrever fertilidade, o conceito verdadeiro seria o produto

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

da (fertilidade masculina) X (fertilidade feminina) X (todas as outras fontes de variação), o


que dificulta atribuir o resultado obtido ao reprodutor (AMANN e HAMMERSTEDT, 2002).
As taxas de prenhez por ciclo estão associadas ao ano, estação reprodutiva, centro de
criação, idade das éguas, histórico reprodutivo, tipo de cobertura, manejo reprodutivo e a
natureza do sêmen, entre outros (AMANN et al., 2005). Os esforços empregados, até então,
têm se baseado na otimização da nutrição, cuidados preventivos com saúde, técnicas de
inseminação artificial e manejo reprodutivo de éguas e garanhões, enquanto que as
caracteristicas quantitativas de desempenho reprodutivo não são utilizadas como critérios para
seleção de garanhões (AMANN et al., 2002).
As modernas técnicas de reprodução possibilitam melhorar a fertilidade, no entanto,
não podemos esquecer nem da fonte genética nem da herança epigenética de algumas
situações de infertilidade sob pena de se comprometer a capacidade de gerar descendência nas
gerações subsequentes (GAMBOA, 2011). A descoberta de genes específicos relacionados à
fertilidade é uma necessidade para a indústria do cavalo.

MELHORAMENTO GENÉTICO NO GARANHÃO

A seleção de garanhões é baseada na genética, performance e conformação.


Claramente, a saúde reprodutiva do animal não é inserida nesta seleção. Os garanhões
representam 50% da equação da reprodução e a indústria do cavalo é repleta de garanhões
com nível de fertilidade indesejável (VARNER et al., 2008).
Dentre os fatores que podem alterar os índices reprodutivos, a qualidade seminal
assume um efeito considerável. Os testes laboratoriais de rotina, aplicados na avaliação da
qualidade do sêmen, por muitas vezes não são capazes de determinar o potencial de fertilidade
dos reprodutores (JOBIM et al., 2009; GAMBOA, 2011; MOURA et al., 2011). Diversos
estudos sugerem que componentes moleculares dos espermatozoides, ou do meio que os
cercam, podem influenciar sua capacidade fecundante (BELARDIN et al., 2009). A redução
da fertilidade no garanhão resulta em importantes perdas econômicas para a indústria equina
(MOURA et al., 2011). A fertilidade do macho é complexa, e depende de uma população
heterogênea de espermatozoides que irá interagir de diferentes formas em diversos locais do
trato reprodutor da fêmea, zona pelúcida e oócito (RODRÍGUEZ-MARTINEZ, 2013).
Pesquisas sobre a avaliação da integridade do DNA, identificação de mRNAs dos
espermatozoides, identificação de proteínas espermáticas, identificação de proteínas da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

membrana e proteínas expressas nos fluidos reprodutivos são realizadas com o intuito de
identificar biomarcadores de fertilidade (MOURA et al., 2011).
Os marcadores genéticos podem ser úteis na seleção de garanhões. Como são
conhecidos muitos genes que influenciam a fertilidade em outras espécies, especialmente em
humanos e em camundongos, é provável que mais genes em garanhões se tornem conhecidos
(SIEME e DISTL, 2012).
Em garanhões Hannoverianos, a associação do genoma, para estimar os valores
reprodutivos do componente paterno, no índice de prenhez por ciclo estral foi estudada. Um
total de 228 garanhões Hannoverianos foram genotipados usando o Equine SNP50 Beadchip.
Os polimorfismos não codificantes dentro do gene Phospholipase C zeta (PLCζ) foram
identificados como conferindo a fertilidade do garanhão (SCHRIMPF et al., 2014). Outro
estudo utilizando seis garanhões subférteis com taxa de prenhez inferiores a 30% demonstrou
quantidades inferiores de PLCζ em cinco garanhões quando comparada com garanhões
controle (ZAMBRANO et al., 2016).
O conhecimento de genes específicos do espermatozoide de humanos já está bem
documentado (LAMBARD et al., 2004), enquanto poucos estudos estão disponíveis para
equinos (CHOWDHARY et al., 2008). Foram realizadas clonagens para a caracterização da
PLCζ em espermatozoides de equinos com o objetivo de caracterizar a atividade extracelular
e intracelular de Ca+2 e a expressão da PLCζ no espermatozoide equino. Microinjeções do
gene foram realizadas em oócitos equinos, onde foram observadas aumento das ondas de Ca+2
(SYLVIA et al., 2012). No momento, pouco se sabe sobre a potencial ligação entre a
deficiência de PLCζ e subfertilidade ou infertilidade no garanhão, embora a diminuição dos
níveis de expressão de PLCζ tenha sido previamente relatada em sêmen de garanhões inférteis
(GRADIL et al., 2006). No equino o gene é expresso sob a cabeça do espermatozoide e na
região da cauda (SYLVIA et al., 2012).
A correlação da expressão gênica de Phospholipase C zeta (PLCζ) e
WW domain binding protein 2 N-Terminal Like (WBP2NL) no espermatozoide, com a
qualidade seminal e fertilidade de 40 garanhões da raça Crioula foi avaliada, comprovando
que a expressão do gene PLCζ no espermatozoide equino pode desempenhar diversos papéis
na fisiologia do sêmen, assim como pode tornar-se um biomarcador para a qualidade seminal
e fertilidade do garanhão (BUENO et al., 2018).
Estudos moleculares com os genes Cysteine-Rich Secretory Protein 3 (CRISP3) e
Spermatogenesis Associated 1 (SPATA1) têm sido realizados, demonstrando a sua associação
com problemas de fertilidade em garanhões (GIESECKE et al., 2010). O gene SPATA1 foi

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associado à taxa de prenhez em garanhões, ou seja, garanhões heterezigotos apresentaram


uma taxa melhor de prenhez em relação aos homozigotos para este Polimorfismos de
Nucleotideo Único (GIESECKE, et al., 2009). Os genes que codificam proteínas secretoras
ricas em cisteína equina (CRISPs) são promissores genes candidatos, pois estudos mostraram
que as CRISPs desempenham papel na capacidade de fecundação. Uma relação positiva entre
a proteína CRISP3 no plasma seminal de sete garanhões com a taxa de concepção no primeiro
ciclo foi descrita (NOVAK et al., 2010). Este achado dá suporte ao estudo de Hamann et al.
(2007), no qual foi demonstrado um incremento de 7% nas taxas de fertilidade de garanhões
que eram homozigotos para CRISP3.
A relação do gene e da proteína CRISP-3 com à fertilidade e congelabilidade do sêmen
de garanhão, já foi relatada. O DNA foi obtido a partir de amostras de sangue de 100
garanhões atráves de q-PCR, dos quais 30 garanhões foram selecionados aleatoriamente para
obter 60 ejaculados, o conteúdo proteíco foi obtido através do plasma seminal pela técnica de
Elisa. Conclui-se que a qualidade do sêmen do garanhão é influenciada pelo genótipo da
CRISP‐3 e pela concentração da proteína CRISP ‐ 3 em plasma seminal (RESTREPO et al.,
2019).
Segundo Bueno et al., (2019) a expressão de Sperm Autoantigenic Protein 17 (SPA17)
no espermatozoide equino pode ser utilizada como um marcador para a qualidade seminal e
fertilidade do garanhão, assim como a expressão de TNF-α no espermatozoide equino pode
ser utilizada como um marcador para velocidade espermática após a criopreservação.
O Androgen receptors (ARs) é um fator de transcrição dependente que pertence à
família de receptores esteróides classe 1. Nos garanhões o gene ARs está localizado no
epidídimo e células da próstata, que são diretamente reguladas por andrógenos. O ARs é
necessário para o desenvolvimento epididimal no equino (Hejmej et al., 2006).
O gene Cation channels of sperm – (Catsper 1) codifica uma proteína de canal de
cálcio que é exclusiva dos espermatozoides (Loux et al., 2013). O Catsper 1 regula um canal
de cátion específico do espermatozoide que é essencial para a motilidade espermática
hiperativada (Darszon et al., 2011). No espermatozoide do garanhão, o RNAm de Catsper1
foi identificado e a proteína Catsper 1 foi localizada na peça principal da cauda do
espermatozoide (Loux et al., 2013). Apesar da presença do canal no espermatozoide equino, a
relação entre motilidade hiperativada e o influxo de cálcio é fraca (Leemans et al., 2019).
Um estudo investigou as diferenças na expressão gênica entre embriões resultantes da
fecundação com sêmen fresco ou criopreservado. Os embriões foram obtidos aos 8, 10 ou 12
dias após a ovulação de éguas inseminadas pós-ovulação em sucessivos ciclos com sêmen

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fresco ou sêmen criopreservado. O perfil transcricional de embriões obtidos com


espermatozoides criopreservados diferiram dos embriões derivados de espermatozoide fresco
em todos os dias, mostrando regulação negativa de genes envolvidos em vias biológicas
relacionadas à oxidação fosforilação, ligação de DNA, replicação de DNA e resposta imune
(ORTIZ-RODRIGUEZ et al., 2019).
Os espermatozoides maduros têm pouco citoplasma e uma cromatina altamente
condensada enriquecida em protaminas. A presença de ácido ribonucleico (RNA) no
espermatozoide ejaculado maduro foi demonstrada, pois ocorrem tanto a transcrição quanto a
tradução, não no citoplasma dos espermatozoides maduros, mas nas mitocôndrias (Bianchi et
al., 2019). Os espermatozoides maduros contêm vários tipos de RNAs acumulados em seus
núcleos mitocôndrias (BIANCHI et al., 2019). Inclui RNA mensageiro (mRNA), microRNA
(miRNA), RNA de interferência (iRNA) e RNA antisense (HOSKEN et al., 2014). Após a
fecundação, o espermatozoide fornece um genoma completo, altamente estruturado e marcado
epigeneticamente que, junto com RNAs e proteínas, desempenha um papel distinto no
desenvolvimento embrionário inicial (BIANCHI et al., 2019).
Apesar dos avanços obtidos na análise transcricional de espermatozoides em diversas
espécies, os estudos genéticos de espermatozoides de garanhões ainda são limitados
(SULIMAN et al., 2018). A análise do transcriptoma de espermatozoides de garanhões foi
realizada por SULIMAN et al. (2018) e permitiu a comparação da abundância de genes entre
garanhões férteis e subférteis.

MELHORAMENTO GENÉTICO NA ÉGUA

Diferentes genes já foram associados à fisiologia ovariana (BASTOS et al., 2014),


oocitária (LEON et. al., 2011), embrionária (MORTENSEN et al., 2010) e uterina
(CENTENO et al., 2018). Para manter a gestação, um concepto móvel deve ser reconhecido
pelo útero antes de 14 dias pós-ovulação (KLOHONATZ et al., 2015). O endométrio e o
embrião expressam uma ampla gama de Transportadores de Soluto (SLC) (KLEIN e
TROEDSSON, 2011).
Em embriões do dia 14 (em comparação aos do dia 8) a expressão genica da
osteopontina (SPP1) foi reduzida (KLEIN e TROEDSSON, 2011). A SPP1 é uma proteína de
origem extracelular que se une às 25 integrinas para promover a união e a comunicação
célula-célula, o que contribui na prolongada pré-implantação nesta espécie. Foi detectado pela
técnica de imunofluorescência que a intensidade de coloração da SPP1 no endométrio equino

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é superior nas amostras obtidas nos dias 21 e 27 quando comparadas com as dos dias 14 e 17
de prenhez (AL-RAMADAN et al., 2002).
Fatores de crescimento e citocinas derivadas do útero desempenham papéis essenciais
na regulação do pré-implante e desenvolvimento do concepto. Em várias espécies, o Fator de
Crescimento de Fibroblastos-2 (FGF2) promove embriogênese, migração de células
trofoblásticas e adesão. A expressão do gene FGF2 foi investigada no endométrio e
trofectoderma equino durante o ciclo estral e início da gestação. Este estudo concluiu que
durante a terceira e quarta semana de gestação o epitélio luminal do endométrio equino
produz FGF2, que pode desempenhar um papel no desenvolvimento e adesão de trofoblastos
(RUIJTER-VILLANI et al., 2013).
Foram verificadas alterações na expressão gênica do endométrio de éguas prenhes,
éguas vazias e após o reconhecimento materno da prenhez (MRP) com o objetivo de
identificar possíveis genes envolvidos, através da técnica PCR em tempo real (RT-PCR). Dez
genes foram identificados como tendo maiores ou menores níveis de expressão no endométrio
de éguas prenhes versus éguas vazias nos dias 14, 16 e 18 pós-ovulação. Cada um desses
genes pode ter um papel fundamental na modificação do útero para que haja o
reconhecimento da gestação. Os genes que apresentaram maior expressão no endométrio de
éguas prenhes foram: Juxtaposed with another zinc finger 1-like (JAZF10), S100 calcium
binding protein G (S100G), Solute Carrier Family 36 Member 2 (SLC36A2),
Methyltransferase-like protein 7A-like (METTL7A), Eukaryotic translation initiation factor 2-
alpha kinase 3 (EIF2AK3), Dickkopf 1 homolog (DKK1) and Adrenomedullin (ADM). Já os
genes com menor expressão no endométrio de éguas prenhes foram: Retinaldehyde
dehydrogenase 1-like (RALDH1), Estrogen receptor 1 (ESR1) and phospholipase A2 (SPLA2)
(KLOHONATZ et al., 2015).
O efeito do lado do corpo lúteo na expressão gênica uterina e na localização da
proteína do Receptor de estrogênio α (ERα) e Receptor de progesterona (PR) em éguas
cíclicas e éguas prenhes 13 dias após a ovulação (dia 0) foram investigadas. Biópsias
transcervicais foram realizadas para coletar endométrio ipsilateral e contralateral em relação
ao lado do corpo lúteo no dia 13 pós-ovulação em éguas cíclicas (n = 6) e prenhes (n = 6). A
expressão do receptor foi determinada por imunohistoquímica e a expressão do transcrito por
RT-PCR. O corno contralateral apresentou maior porcentagem de células positivas para ERα
do que o corno ipsilateral, mas o lado não afetou o PR. ERα mostrou baixa coloração e
nenhum efeito principal na prenhez foi encontrado, mas éguas prenhes tiveram menor
expressão de proteína de PR. O corno contralateral tendeu a apresentar maior expressão do

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gene ERα e PR. A expressão relativa do mRNA ERα foi menor no grupo prenhe. A interação
do estado reprodutivo e lado do corpo lúteo tendeu para afetar a expressão de mRNA de PR,
pois éguas prenhes tinham um conteúdo de mRNA de PR mais baixo no corno ipsilateral do
que éguas cíclicas. Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que descreve o
comportamento dos receptores de esteroides no endométrio de éguas em relação ao lado do
corpo lúteo (KALPOKAS et al., 2018).
Ciclos alúteos (AL) foram induzidos em éguas para avaliar os efeitos da privação de
progesterona na expressão gênica de embriões e endométrio coletados 8 dias após a ovulação.
Sete éguas cíclicas foram inseminadas artificialmente. As éguas controle receberam solução
salina, já as éguas do grupo AL receberam Prostaglandina F2 alfa (PGF2α), duas vezes ao dia,
nos dias 0, 1 e 2 e uma vez ao dia nos dias 3 e 4, sendo o zero o dia da ovulação. As éguas
foram monitoradas até retornarem ao estro e foram artificialmente inseminadas. Quatro
transcritos mostraram aumento da expressão em embriões desenvolvidos durante os ciclos
AL: estrogen receptor (ESR1), P19 lipocalin (P19), apolipoprotein B (APOB) e progesterone
receptor (PGR). Quatro transcritos mostraram aumento no endométrio desenvolvido durante
os ciclos AL: SPLA2, PGR, ESR1, fibroblast growth factor 9 (FGF9) e quatro transcritos
apresentaram diminuição na sua expressão: P19, connective tissue growth fator (CTGF),
interferon épsilon (IFNE), hexokinase 2 (HK2). Embriões e endométrio em um ambiente
privado de progesterona durante AL induzidos demonstraram expressão transcrita alterada.
Esses resultados indicam que níveis adequados de progesterona podem ser um mediador
chave do ambiente embrião-materno apropriado durante o período de pré-implantação
(LEISINGER et al., 2019).
Os genes Metaloproteinases 1 (MMP-1) e Metaloproteinases 2 (MMP-2) foram
apontados como genes importantes em todo o processo de remodelamento tecidual, o qual
ocorre durante o desenvolvimento folicular em éguas. O receptor de hormônio luteinizante,
presente no ovário e no epitélio superficial ovariano, pode ter um papel fundamental para o
mecanismo de sinalização para a produção das metaloproteinases, visto que os ovários que
apresentaram maiores concentrações de receptor de hormônio luteinizante tiveram maior
expressão gênica de MMPs (BASTOS et al., 2014). A expressão de MMP2 também já foi
verificada nas células da granulosa em éguas, sugerindo seu envolvimento no processo de
desenvolvimento folicular (SESSIONS et al., 2009). Centeno et al. (2018), quantificaram a
expressão gênica das MMP-1, MMP-2 e TNF-α no endométrio de éguas com diferentes graus
de fibrose. Ambas as MMPs apresentaram valores de expressão inversa, sugerindo ações
opostas na cascata de formação de fibrose endometrial. A expressão de TNF-α foi semelhante

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entre as categorias estudadas, sugerindo uma ação importante na sinalização da fisiologia


endometrial das éguas.
Estudos realizados em humanos também servem como base para estudos em animais,
baseado no conhecimento e resultados obtidos no âmbito genômico sobre a influência do
polimorfismo em problemas reprodutivos de mulheres, o gene da Protein 53 (P53) torna-se
um importante alvo de pesquisa na reprodução equina. Um estudo foi realizado avaliando a
expressão de genes envolvidos no processo de apoptose no complexo cumulus-oócito equino,
onde foi observado que os genes SURVIVIN e P53 são marcadores de viabilidade em
potencial. Oócitos equinos morfologicamente saudáveis apresentam maior expressão de
SURVIVIN e menor expressão de P53, comparados a células do cumulus (LEON et. al.,
2011).
Embriões produzidos in vitro, assim como embriões de baixa qualidade produzidos in
vivo, apresentaram altas concentrações relativas de Heat Shock Protein 70 (HSP70) e baixo
mRNA 18S, quando comparados a embriões produzidos in vivo classificados de alta
qualidade. Os pesquisadores concluíram que oócitos equinos foram sensíveis ao calor durante
o período final de maturação in vitro, e responderam ao estresse térmico com aumento na taxa
de expressão gênica de HSPA1A:18S, a qual foi medida nos blastocistos resultantes. Os
embriões produzidos in vitro (incluindo os controles) apresentaram altos níveis de expressão
de HSPA1A mRNA relativos ao 18S rRNA, quando comparados aos embriões produzidos in
vivo, sugerindo resposta aos insultos ambientais (MORTENSEN et al., 2010).
A infertilidade por causas infecciosas na égua é clinicamente bem descrita, porém
pouco se sabe sobre reação de fase aguda sistêmica e respostas imunológicas locais que
acompanham a endometrite equina. Um estudo monitorou marcadores selecionados da reação
de fase aguda na circulação sistêmica e correlacionou com a resposta imune local inata no
útero durante endometrite infecciosa. Seis éguas adultas receberam uma dose intrauterina de
infusão de 109 UFC de Escherichia coli. Biópsias endometriais foram obtidas 3, 12, 24, 48 e
72 h após a inoculação. A endometrite infecciosa resultou em reação sistêmica de fase aguda,
com concentrações significativamente aumentadas de proteínas séricas de fase aguda, como a
amilóide A e fibrinogênio. Uma maior expressão de Interleucina 1 (IL-1), TNF-α,
Interleucina 8 (IL-8) e Interleucina 10 (IL-10) foi observada às 3 h (CHRISTOFFERSEN et
al., 2010).
Durante o estro a expressão de mRNA para Interleucina-1-beta (IL-1β), TNF-α, IL-6
foi maior em éguas susceptíveis do que em éguas resistentes a endometrite antes de um
estímulo antigênico (FUMOSO et al., 2003). Um quadro semelhante foi observado para a IL-

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8 (FUMOSO et al., 2006). Os resultados obtidos sugerem que o estímulo deveria ultrapassar
certo limiar para induzir uma transcrição coordenada de citocinas e que este limiar seria
menor nas éguas susceptíveis do que nas resistentes (FUMOSO et al., 2003). As proteínas
expressas estariam relacionadas tanto à contratilidade uterina, quanto ao processo
inflamatório, concordando com achados anteriores de que éguas susceptíveis apresentariam
um nível exacerbado de resposta inflamatória (FUMOSO et al., 2003).
A retenção das membranas fetais (RFM) é uma enfermidade pós-parto prevalente em
éguas, pode ser definida como a falha parcial ou liberação incompleta do alantocório 3 h após
o parto. A incidência varia de 2% a 10% dos partos em éguas de raça leve, mas pode chegar a
30% - 54% nas raças pesadas (CANISSO et al., 2013). Durante o parto, várias citocinas pró-
inflamatórias são liberadas na placenta, o que facilita ainda mais as contrações uterinas,
expulsão do feto e membranas fetais. Uma resposta inflamatória alterada nas éguas pode
resultar em RFM. Amostras do endométrio e do alantocórion foram coletadas de 15 éguas
com RFM e de 29 éguas de controle dentro de 2 h após o parto. A expressão do mRNA das
proteínas IL-1b, IL-6 e TNF-α foi analisada por RT-PCR e Western blot. Em éguas com
RFM, a expressão de mRNA da IL-1b no endométrio (p <0,05) e IL-6 na alantocórion (p
<0,0001) foi maior do que nas éguas que expulsaram fisiologicamente as membranas fetais. A
maior expressão de IL-6 no alantocórion foi confirmada por Western blot. O aumento da
expressão de IL-6 no alantocórion e IL-1b no endométrio pode refletir uma resposta imune
local que leva ao descolamento das membranas fetais. A baixa expressão de TNF-α pode
sugerir que essa citocina não está envolvida na expulsão das membranas fetais (JAWORSKA
e JANOWSKI, 2019).
Endometrite persistente induzida por cobertura é uma das principais causas de
infertilidade em éguas. Um estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a perfusão
genital e a expressão de citocinas inflamatórias em éguas classificadas como suscetíveis ou
resistentes. Dez éguas foram examinadas diariamente durante o estro até seis dias após a
ovulação induzida por hCG por dois ciclos estrais, sendo inseminadas 24 horas após a
indução da ovulação em um ciclo com sêmen morto congelado e no outro ciclo com solução
salina estéril. Biópsias endometriais foram obtidas 24 h antes, 2 e 7 dias após a infusão, e
expressões de mRNA de IL1B (Interleukin 1b), IL6 (Interleukin 6), IL8 (Interleukin 8), IL10
(Interleukin 10), TNF (Tumor necrosis factor a), CASP3 (Caspase 3) e COX2
(Cyclooxygenase 2) foram determinados por RT-PCR. A expressão de mRNA endometrial de
IL1B aumentou em 2 dias após a infusão de sêmen morto em éguas suscetíveis, e a expressão
de IL10 aumentou em 7 dias após a infusão dentro do éguas resistentes. O mRNA da IL6 foi

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

aumentado em éguas suscetíveis em comparação com éguas resistentes aos 2 dias após a
infusão. Em resumo, uma infusão intrauterina de sêmen morto aumenta o fluxo sanguíneo
uterino resistência e altera a expressão do gene endometrial de citocinas inflamatórias por
pelo menos sete dias, mas não altera afetam o suprimento sanguíneo ovariano e a função lútea
em éguas suscetíveis à endometrite persistente induzida por cobertura (LÜTTGENAU et al.,
2021).
As b-defensinas são pequenas proteínas catiônicas com potente atividade
imunorregulatória e antimicrobiana. Uma pesquisa sistemática do genoma de Equus caballus
que identificou um cluster de novos genes b-defensina no cromossomo 22, que é homólogo a
um aglomerado no cromossomo 13 de bovino foi realizada. Foram encontradas
correspondências para ortólogos de 13 dos genes bovinos, denominados b-defensinas eqUinas
(eBD) 115, eBD116, eBD117, eBD119, eBD120, eBD122a, eBD123, eBD124, eBD125,
eBD126, eBD127, eBD129 e eBD132. Fragmentos de tecido foram obtidos do testículo,
epidídimo e ducto deferente de três garanhões e do ovário, oviduto, corno uterino, útero, colo
do útero e vagina de três éguas. Os genes b-defensina mostraram padrões distintos de
expressão específicos da região. A expressão preferencial no epidídimo e no oviduto sugerem
um possível papel na imunoproteção do aparelho reprodutor equino ou na fertilidade
(JOHNSON ET AL., 2016).
MicroRNAs (miRNAs) são pequenas moléculas de RNA não codificantes envolvidas
em uma ampla gama de processos biológicos por meio da regulação pós-transcricional da
expressão gênica. Os miRNAs mostraram fazer parte da patogênese de doenças e da fisiologia
da reprodução em animais, tornando-os candidatos a biomarcadores (WINTER et al., 2022).
Donadeu e Schauer (2013), estudaram o papel de miR-21, −23a, −145, −503, −224,
−383, −378, −132 e −212 na regulação do desenvolvimento do folículo ovariano. Em relação
aos folículos ovulatórios, os folículos anovulatórios apresentaram níveis médios mais
elevados de miR-21, −23b, −378, −202 e – 145.
Outro estudo também avaliou o papel do miRNA no fluido folicular e na variação do
miRNA em diferentes idades. MiRNA em exossomos isolados de fluido folicular também
estavam presentes nas células da granulosa e cúmulos circundantes, indicando a comunicação
celular dentro do folículo ovariano de mamíferos. Os miRNAs presentes nos exossomos do
fluido folicular ovariano também variaram com a idade da égua (da Silveira et al., 2012).
Um trabalho estudou a presença de miRNA em soro equino e membrana
corioalantóide (CAM) durante a gestação com o objetivo de caracterizar genes de referência
para normalização da expressão de miRNA em CAM e soro em eguas gestantes. MiR-21-5p,

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let-7a-5p e miR-10a-5p como os três genes de referência mais estáveis para a normalização de
miRNAs de soro equino. Dentro das amostras CAM, miR-8908a-1-5p, −369-5p e -106a-5p
como os três miRNAs mais estáveis (DINI et al., 2018).
Os miRNAs séricos também foram avaliados em éguas gestantes, e um miRNA (miR-
374b) foi regulado diferencialmente no final da gestação e quatro miRNAs (miR-454, −133b,
−486-5p e -204b) foram diferencialmente regulados entre as éguas prenhez e amostras as
vazias. Os miRNAs circulantes têm um enorme potencial diagnóstico para complicações
relacionadas à gestação, incluindo restrição do crescimento fetal e infecção placentária
(LOUX et al., 2017).
Outro estudo elucidou o perfil materno circulante de miRNAs associados a C24MC
durante a gestação e sugeriu que miR-1247-3p, −134-5p e - 409-3p séricos poderiam ser
usados como marcadores específicos da prenhez durante o início da gestação (DINI e EL-
SHEIKH ALI, 2019).
Diversas ferramentas tecnológicas foram criadas para atender as expectativas e
imposições do mercado, sendo uma delas o melhoramento genético, que utiliza dados
estatísticos para selecionar indivíduos que apresentam aumento na frequência dos genes
desejáveis e para diminuir consequentemente a frequência dos genes indesejáveis nas futuras
gerações (BALAN et al., 2016). Após estabelecer o banco de dados, os criadores deverão
contar com métodos genético-estatísticos e computacionais que permitam a organização de
todas as informações disponíveis e ordenar cada indivíduo de acordo com o seu mérito
genético como reprodutor. (BALAN et al., 2016).
Embora o complexo do agronegócio do cavalo seja de grande importância para o
Brasil e inúmeras pesquisas em vários países estejam sendo publicadas na literatura,
envolvendo de alguma forma, o melhoramento genético de equinos, os programas de
seleção não estão sendo praticados de forma consistente. Isto significa, de certa forma,
que a maior parte dos resultados de pesquisas nesta área não gera aplicação prática e,
portanto, pouco contribui para o desenvolvimento da espécie (MOTA & REGITANO,
2012). Mesmo assim, o melhoramento genético em equinos tem grandes chances de ser
aprimorado devido ao excelente rebanho que possui, ao alto potencial de produção que tem
e às ferramentas científicas existentes atualmente.

CONCLUSÃO

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Vários estudos encontraram biomarcadores gênicos associados à fertilidade tanto na


fêmea como no macho. Diferentes genes foram associados na égua com a fisiologia ovariana
e uterina, já no garanhão a presença de genes silenciados na especializada célula espermática
vem sendo tema de pesquisas, demonstrando a importância desses genes após a fecundação.
Os reprodutores equinos, como os homens, recebem tratamento médico para a infertilidade.
A criação de equinos vem crescendo nos últimos anos, porém ainda há uma escassez de
informações sobre genes relacionados com parâmetros de fertilidade desta raça. Com o
avanço das biotecnologias aplicadas a reprodução novos testes poderão estar disponíveis no
mercado fornecendo novas ferramentas para um maior desenvolvimento da reprodução
equina.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 6

ECOLOGIA DE GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE


AMARELÃO (Aspidosperma vargassii A. DC.)

Thais Cristina Ribeiro Pereira, Cleverson Agueiro de Carvalho,


Reginaldo Almeida Andrade, Rychaellen Silva de Brito, Rean Augusto
Zaninetti, Victor Carlos Domingos Neto e Ítalo Felipe Nogueira Ribeiro

RESUMO: O mundo está na década da Restauração de Ecossistema (2021-


2030) e o governo brasileiro assumiu o compromisso internacional de
restaurar 12,5 milhões de hectares até 2030, logo, há necessidade de
pesquisas relacionadas a área de produção de sementes e mudas florestais.
O amarelão (Aspidosperma vargassii) é uma espécie amazônica de
importância econômica e existe um gargalo de estudos voltados a avaliação
do estado fisiológico das sementes e sua ecologia viabilizando programas de
produção de mudas da espécie. Por tanto o objetivo desse trabalho foi
desenvolver um protocolo para teste de germinação para Aspidosperma
vargassi. As sementes foram submetidas aos testes de germinação,
velocidade de germinação e tempo médio de germinação. Os tratamentos
consistiram em temperaturas de 20, 25, 30 e 35ºC no escuro e 20, 25, 30 e
35ºC cm luz durante 12 horas. O teste com temperatura constate de 25 e
30ºC com 12h/luz favoreceu o processo germinativo das sementes de
amarelão.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Compromissos internacionais firmados para a década da Restauração de Ecossistemas


(2021-2030) tornaram o Brasil protagonista nesse cenário. O governo brasileiro assumiu o
compromisso internacional de restaurar 12,5 milhões de hectares até 2030 (BRASIL, 2017), no
entanto serão necessários mais de 5 bilhões de mudas florestais e alta diversidade de espécies.
Deste modo, há necessidade de pesquisas relacionadas a área de produção de sementes e mudas
florestais amazônicas. Porém a difícil aquisição de sementes e mudas de espécies nativas, assim
como o pouco conhecimento sobre o manejo dessas espécies, se tornam um gargalo para o pleno
desenvolvimento dessas metas.
Dentro desse contexto, tem-se a Aspidosperma vargassii A. DC. que é uma espécie
pertencente à família Apocynacea, conhecida popularmente como amarelão, devido ao tom
amarelado de sua madeira. Com ocorrência natural na Amazônia brasileira (MIRANDA;
DUARTE; MIRANDA, 2021), por fornecer madeira nobre, de grande durabilidade, usada
frequentemente na fabricação de tábuas para assoalho, tacos, lambris, painéis, escadas, paredes
divisórias, forros, peças torneadas, móveis, ferramentas e implementos (ALMEIDA;
FIRMINO; RIGAMONTE-AZEVEDO, 1999) torna-se então, muito visada no mercado de
exploração madeireira e já sofre consequências dessa pressão.
De modo geral, o processo germinativo de sementes consiste na retomada do
crescimento do eixo embrionário onde são desencadeados diversos processos metabólicos, que
sofre influência, entre outros fatores, da luminosidade, temperatura, umidade e substrato. O
teste de germinação em laboratório tem por objetivo determinar o potencial máximo de
germinação de um lote de sementes e assim diagnosticar seu potencial para a semeadura em
campo, esses testes são conduzidos em condições controladas, possibilitando a comparação do
vigor entre diferentes lotes e podendo ser replicados.
No que se refere a temperatura, as sementes de diferentes espécies têm reações
distintas em relação a faixa de temperatura ideal para seu processo germinativo. Estas podem
ser classificadas em mínima, ótima e máxima. A temperatura é fundamental para o
desenvolvimento das estruturas iniciais da plântula, tais como a radícula, temperaturas
inadequadas afetam diretamente esta estrutura e o estabelecimento da plântula (OLIVEIRA et
al., 2011).
Outro fator importante nesse processo é a luz, as sementes irão receber os sinais
luminosos e transforma-los em sinais metabólicos, assim, cada espécie irá responder a esse
estimulo a depender da quantidade, qualidade e tempo de exposição a esse sinal, a transcrição

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

desse sinal irá variar de espécie para espécie (YOO et al., 2019). Com relação a luminosidade
e a forma como as sementes se comportam na sua presença/ausência estas podem ser
classificadas como fotoblásticas positivas, negativas ou ainda fotoblásticas neutras.
Assim, o trabalho tem por objetivo avaliar a germinação de sementes de Aspidosperma
vargassii em condições de laboratório, identificando a melhor temperatura e o efeito da luz na
germinação de sementes de amarelão.

METODOLOGIA

O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes da Fundação de Tecnologia


do Acre - FUNTAC, município de Rio Branco, AC, no período de agosto a novembro de 2021,
seguindo o delineamento inteiramente casualizado, no fatorial 4 a 2 (temperaturas e
fotoperíodo). Foram utilizadas sementes de amarelão coletadas de matrizes da Floresta
Estadual do Antimary. Após a coleta, as sementes foram homogeneizadas para obtenção da
fração sementes puras. O teor de água das sementes foi determinado pelo método da estufa a
105 ± 3 °C, por 24 horas (BRASIL, 2009).
As sementes foram previamente desinfestadas com hipoclorito de sódio (2%) por cinco
minutos e, em seguida, lavadas em água corrente. Na sequência, quatro subamostras de 25
sementes foram dispostas sobre 2 folhas de papel germitest, cobertas com uma terceira e
organizadas em forma de rolo, previamente umedecido duas vezes e meia a massa do substrato
seco com água deionizada. Após a distribuição, as sementes foram mantidas em germinador
tipo BOD, regulado para manter as temperaturas constantes de 20, 25, 30 e 35 ºC, no escuro;
20, 25, 30, e 35 °C, com luz durante 12 horas. A contagem de sementes germinadas foi realizada
diariamente por 30 dias, após o início da germinação, foram consideradas germinadas as
sementes que apresentavam protrusão de raiz primária.
Foram avaliadas a percentagem de germinação (G), o índice de velocidade de
germinação (IVG) e o tempo médio de germinação (TMG). O cálculo da porcentagem de
emergência seguiu o modelo proposto por Labouriau e Valadares (1976). O índice de
velocidade de germinação foi obtido para cada subamostra, somando-se o número de plântulas
emergidas a cada dia, divididas pelo respectivo número de dias transcorridos desde a semeadura
(NAKAGAWA, 1999). Ao final do teste foi calculada a velocidade de emergência, conforme

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

fórmula proposta por Maguire (1962). O tempo médio de germinação foi calculado pela
fórmula citada por Silva e Nakagawa (1995) com base no número de sementes germinadas
diariamente, durante os trinta dias do teste de germinação.
Os procedimentos relacionados à análise estatística dos resultados das variáveis
consistiram na verificação inicial da presença de dados discrepantes pelo teste de Grubbs,
normalidade dos resíduos pelo teste de Shapiro-Wilk e homogeneidade das variâncias pelo teste
de Bartlett. Após verificação dos pressupostos, foram realizadas a análise de variância pelo teste
F, através do programa estatístico Sisvar, para verificação de efeitos dos tratamentos e
constatando diferenças, os dados qualitativos foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com Bewley e Black (1994) citado por Oliveira et al, (2011), a maior parte
das espécies vegetais se encontram com uma umidade inicial entre 5 a 20 %. Nesse estudo as
sementes de amarelão apresentaram teor de umidade de 9,4%. Valor que corrobora com o
apresentado por Miranda (2021), também com sementes de amarelão. Resultados similares são
descritos por Oliveira et al., (2015) com A. subincanum (4%) e Oliveira et al., (2011) com
sementes de A. tomentosum (7,7%). Indicando que o gênero Aspidosperma possui valores nessa
faixa de 5 a 10% de teor de água, o que pode ser comprovado com a classificação das especies
A. cylindrocarpon e A. polyneuron como ortodoxas conforme Carvalho et al., (2006).
Observa-se na tabela 1, interação entre fotoperíodo e temperatura, para índice de
velocidade de germinação e tempo médio de germinação. Enquanto que para porcentagem de
germinação esses fatores atuam de forma independentes.

Tabela 1. Resumo da análise de variância de porcentagem de germinação (G), índice de velocidade de germinação
(IVG) e tempo médio de germinação (TMG) de sementes de amarelão em função da temperatura e fotoperíodo.

Fonte de variação GL Quadrado médio

G IVG TMG

Fotoperíodo (F) 1 1638,78* 18,96* 5,15*

Temperatura (T) 3 31,61* 0,89* 14,15*

FxT 3 13,36ns 0,39* 2,63*

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Erro 31 5 0,05 0,68

CV (%) 14,75 14,68 7,77

* Significativo a 5% de probabilidade; Ns: não significativo. Fonte: autora.

Apesar do processo germinativo ocorrer em todos os tratamentos, demostrando uma


boa adaptabilidade da espécie, observou maior porcentagem de germinação no fotoperíodo de
12 h/luz, houve redução de aproximadamente 70% na ausência de luz (Figura 1), de acordo
com Ferreira et al., 2001, citado por Maekawa et al., 2010 , para serem fotoblásticas positivas,
a germinação das sementes deve atingir mais do que o dobro do regime do escuro, portanto esse
resultado indica sementes de fotoblastia positiva. Na literatura se tem resultados semelhantes,
como Aristolochia esperanzae (papo-de-peru-miúdo) (MAEKAWA et al., 2010). No que se
refere a temperatura, não houve diferença significativa entre 25 e 30 °C (Figura 1). Resultado
semelhante ao de Cunha (2021), em seu estudo sobre germinação de Aspidosperma pyrifolium
que obteve nas temperaturas constantes de 25, 30 °C os melhores valores para porcentagem de
germinação. Segundo Biruel et al. (2007), observaram que a temperatura de 25 ºC também foi
favorável para a germinação da espécie Caesalpinia leiostachya (pau-ferro), nativa da região
amazônica. Resultado semelhante ao exposto por Mondo et al. (2008) com sementes de
Parapiptadenia rigida (angico vermelho).

Figura 1. Porcentagem de germinação de sementes de amarelão em diferentes temperaturas e Fotoperíodo.

100
a

75
Germinação (%)

a a
b b
50
b
25

0
Escuro 12 h/luz 20 25 30 35
Fotoperíodo Temperatura (°C)

Médias com a mesma letra, dentro de cada fator, não diferem entre si (p<0,05%). Fonte: autora.

Observa para o tempo médio de germinação nas temperaturas de 25 e 30 °C que os


valores não diferiram significativamente e foram superiores aqueles obtidos na temperatura de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

20 e 35 °C, para o regime de 12 h/luz (Tabela 2). Segundo Santana e Ranal (2004) citado por
Marangoni et al., (2014) quanto maior o valor desse índice, maior será o vigor das sementes,
ou seja, se a germinação ocorrer logo no início da semeadura, seu valor será maior do que se
ocorrer tardiamente se mostrando mais vigorosas. Oliveira et al. (2015) com sementes
de Aspidosperma subincanum obteve como resultado que a temperatura ideal para índice de
velocidade de germinação foi a 25˚C. Miranda et al. (2021) testando diferentes temperaturas e
substratos para germinação de sementes de amarelão, obteve um resultado que entre as
condições estudadas as temperaturas de 20 e 25°C são adequadas para condução do teste de
germinação.

Tabela 2. Índice de velocidade de germinação (IVG) e tempo médio de germinação de amarelão em diferentes
temperaturas e fotoperíodo.

Temperatura (°C)

Característica Fotoperíodo 20 25 30 35

Escuro 0,57 Ba 0,92 Ba 0,71 Ba 0,64 Ba


IVG
12 h/ luz 1,54 Ac 2,61 Aa 2,75 Aa 2,10 Ab

Escuro 12,45 Ab 8,84 Aa 11,56 Bb 11,12 Bb


TMG (dias)
12 h/ luz 12,21 Ab 9,34 Aa 9,54 Aa 9,66 Aa

Médias seguidas da mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, dentro de cada fator, não diferem entre
si (p>0,05%). Fonte: autora.

Na tabela 2 é possível observar que para o tempo médio os tratamentos com 12h/luz
em 25, 30 e 35°C não apresentaram diferença significativa, com tempo médio entre 9 a 10 dias.
Para sementes de paricá (Schizolobium amazonicum) a velocidade do processo germinativo foi
favorecida pelas temperaturas de 30 e 35 ºC (RAMOS; VARELA; MELO, 2006).
A temperatura ótima é primordial no estabelecimento das espécies, responsável por
aumentar o metabolismo e a translocação das reservas para o eixo embrionário (ALMEIDA et
al., 2017). Em seu estudo Lima et al. (2019) explicam que devido a maior eficiência na
velocidade de absorção de água, nas faixas de temperaturas ideais, ocorre aceleração das
atividades metabólicas resultando em uma germinação mais rápida e uniforme, comprovando a
importância de se ter o conhecimento sobre essas variáveis.
A velocidade em que uma espécie consegue se estabelecer em determinado ambiente
é de elevada importância, posto que, ao se estabelecer primeiro em uma área ela aumenta suas
chances de sobrevivência, povoando aquele ambiente. Sementes que demoram muito para

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

germinar podem ser atacadas por fungos ou outros agentes durante o processo metabólico e não
germinar, interferindo na perpetuação da espécie (OLIVEIRA et al., 2011). Desse modo,
reforça o entendimento que sementes mais vigorosas demandam menor número de dias para
germinar.

CONCLUSÃO

O desempenho germinativo é favorecido nas temperaturas de 25 e 30 ºC com


fotoperíodo de 12h/luz, sendo mais adequada para condução do teste de germinação para
sementes de amarelão.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 7

DESEMPENHO DE SISTEMAS DE IRRIGAÇÃO POR


ASPERSÃO CONVENCIONAL EM CULTIVOS DE
HORTALIÇAS

Gracieli Lorenzoni Marotto, Rita de Cássia Azevedo Fraga e Camila


Aparecida da Silva Martins

RESUMO: As hortaliças têm desenvolvimento influenciado pelas condições


de umidade do solo, e esses fatores limitam a produtividade e a qualidade do
cultivo. Por isso, a irrigação por aspersão convencional é um dos sistemas de
irrigação mais utilizados em pequenas e médias propriedades rurais da região
Sul do Estado do Espírito Santo. Na agricultura irrigada o uso inadequado dos
recursos hídricos causa perdas de água e solo em áreas cultivadas, por isso,
se faz necessário realizar a avaliação de sistemas de irrigação em pleno
funcionamento, para adequar o equipamento e seu uso em relação à demanda
hídrica da cultura irrigada e assim minimizar os desperdícios de energia
elétrica, água e fertilizantes. Portanto, objetivou-se avaliar o desempenho de
sistemas de irrigação por aspersão convencional em áreas cultivadas com
hortaliças na região Sul do Estado do Espírito Santo, quanto à uniformidade
de aplicação de água. Nas áreas irrigadas em estudo, realizaram-se os testes
de uniformidade de aplicação de água para a determinação do Coeficiente de
Uniformidade de Christiansen - CUC, do Coeficiente de Uniformidade de
Distribuição – CUD, e do Coeficiente de Uniformidade Estatístico – CUE.
Conclui-se que os três projetos de irrigação por aspersão convencional em
estudo estão operando com coeficientes de uniformidades abaixo do valor
recomendado pela literatura. Assim, verifica-se que o sistema de irrigação por
aspersão convencional apresenta problemas em seu desempenho devido à
ausência de manejo adequado da irrigação e requer ajustes e estratégias que
devem ser adotadas para que a aplicação de água seja realizada de forma
sustentável e eficiente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Dentro do ramo da horticultura, encontra-se a olericultura, que é responsável pelo


cultivo das hortaliças, plantas que apresentam ciclo biológico mais curto e que normalmente
são produzidas em pequenas áreas, características estas que favorecem o cultivo em pequenas
propriedades com predomínio da mão-de-obra familiar. Segundo Pereira e Pereira (2016), cerca
de 60% das hortaliças cultivadas no país são produzidas por agricultores familiares, o que
corrobora a importância do setor em gerar renda e emprego à população, além de garantir a
segurança alimentar por fornecer alimento de qualidade às pessoas.

No Brasil, a área cultivada com as principais hortaliças é de cerca de 1,6 milhões de


hectares, com 5,4 milhões de toneladas comercializadas no país no ano de 2020, que gerou um
valor bruto de 16,3 bilhões de reais (BRAINER, 2021). Segundo o Instituto Capixaba de
Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER (2021), no ano de 2020, a área
cultivada com hortaliças no Estado do Espírito Santo foi de 24.806 mil hectares, com uma
produção de 949.446 toneladas.

A agricultura irrigada tem sido uma importante estratégia para otimizar a produção
mundial de alimentos, principalmente, em virtude do crescimento populacional, e
consequentemente, do aumento da demanda por alimentos. No entanto, o aumento da produção
de alimentos está diretamente associado ao aumento da demanda hídrica, o que consiste em um
dos desafios enfrentados pela agricultura, aliado às mudanças climáticas e a poluição ambiental,
pois a água tem se tornado um recurso limitante. Dessa forma, é visível a necessidade da adoção
de técnicas adequadas e que proporcionem o uso sustentável dos recursos hídricos na
agricultura, com o objetivo de aumentar a produção de alimentos com maior qualidade e
menores danos aos recursos naturais.

Para que o cultivo de hortaliças seja bem-sucedido é necessário que o produtor tenha
conhecimento e orientação técnica sobre as exigências da cultura, uma vez que o
desenvolvimento das hortaliças é intensamente influenciado pela umidade do solo e por outras
características edafoclimáticas (MOROUELLI et al., 2011; CARDOZO et al., 2016). Desse
modo, para o sucesso da produção agrícola, as necessidades hídricas das culturas precisam ser
atendidas, e a irrigação é uma das técnicas utilizadas para suprir a demanda hídrica na
quantidade adequada e no momento oportuno (MENEZES et al., 2013).

O sistema de irrigação mais utilizado pelos produtores em áreas cultivadas com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

hortaliças no Estado do Espírito Santo é a irrigação por aspersão convencional, devido a sua
ampla aplicabilidade. Neste sistema é simulado uma chuva sobre as plantas, que ocorre por
meio do fracionamento de um jato de água em gostas lançadas por vários aspersores
(MANTOVANI et al., 2009). Quando o manejo desses sistemas de irrigação é realizado de
forma adequada é possível alcançar uma alta eficiência com mínimo de perdas. Mas, na
ausência de manejo, a eficiência de aplicação de água é comprometida, o que resulta em
desperdícios de água, energia elétrica e fertilizantes.

Segundo Al-Gaadi et al. (2019), são várias as vantagens de um sistema de irrigação mais
eficiente, tais como: otimização dos recursos hídricos existentes, aumento da produtividade e
consequentemente maior rentabilidade. Para Mantovani, Bernardo e Palaretti (2009) a
uniformidade de distribuição de água de um sistema de irrigação é um dos principais parâmetros
para o diagnóstico da situação de funcionamento do sistema, uma vez que é possível medir a
variabilidade de água aplicada pelo método de irrigação.

A uniformidade de aplicação é um fator de grande importância para o projeto de


irrigação, visto que está diretamente relacionada com o rendimento da colheita e a eficiência de
água (MOHAMED et al., 2019). Em sistemas de irrigação por aspersão convencional, a
uniformidade de aplicação de água pode ser expressa por meio de vários coeficientes. No
entanto, para Bernardo et al. (2019), os três coeficientes mais utilizados são o Coeficiente de
Uniformidade de Christiansen (CUC), Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD) e
Coeficiente de Uniformidade Estatístico (CUE).

Diante do exposto, objetivou-se avaliar o desempenho de sistemas de irrigação por


aspersão convencional em cultivos de hortaliças, quanto a uniformidade de aplicação de água
por meio da determinação do Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC), Coeficiente
de Uniformidade de Distribuição (CUD) e Coeficiente de Uniformidade Estatístico (CUE).

METODOLOGIA

Este trabalho foi desenvolvido na região Sul do Estado do Espírito Santo, em áreas
cultivadas com hortaliças irrigadas por aspersão convencional.

Os projetos de irrigação foram selecionados de acordo com os dados obtidos por meio

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de um levantamento de informações técnicas sobre irrigantes da região, realizado em parceria


com Técnicos do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
(INCAPER).

Para alcançar os objetivos propostos, foram realizadas visitas técnicas em uma


propriedade rural no município de Alegre, com o intuito de realizar a amostragem de solo para
fins de caracterização físico-hídrica em três áreas cultivadas com hortaliças, para avaliação do
desempenho do sistema de irrigação por aspersão convencional, quanto a uniformidade de
aplicação de água.

A determinação da uniformidade de aplicação de água em sistemas de irrigação por


aspersão convencional foi realizada conforme a metodologia preconizada por Mantovani,
Bernardo e Palaretti (2009), que consistiu em distribuir um conjunto de “pluviômetros” ou
recipientes de até 0,3 Litros com abertura na parte superior, equidistantes, em torno do aspersor
a ser testado, e após a instalação dos pluviômetros, o sistema de irrigação foi acionado durante
uma hora. Durante o teste, foi determinada a vazão nos bocais, de maior e de menor diâmetro,
do aspersor e o volume ou lâmina d’água coletada em cada “pluviômetro”, no final do teste.

Para a medição de vazão nos projetos de irrigação, foi coletado em cada aspersor,
previamente selecionado, o volume aplicado em um tempo de três minutos, com auxílio de
cronômetro, mangueiras, coletores e proveta graduada. Para a realização do teste de
uniformidade de aplicação de água, a área em torno do aspersor foi dividida em subáreas
quadradas, de iguais dimensões (3 x 3 metros), e os pluviômetros foram colocados no centro de
cada subárea e o número mínimo de pluviômetros instalados por teste, foi definido com base
no espaçamento entre linhas laterais e entre aspersores adotados no projeto em estudo.

Após a realização dos testes de uniformidade, foram determinadas as respectivas


lâminas e em seguida foram determinados o Coeficiente de Uniformidade de Distribuição
(CUD) por meio da Equação 1; o Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC) pela
Equação 2; o Coeficiente de Uniformidade Estatístico (CUE) pela Equação 3 de acordo com as
equações adaptadas de Mantovani, Bernardo e Palaretti (2009) que estão descritas a seguir:

Lq (1)
CUD = 100 *Lm

Em que:

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CUD = Coeficiente de Uniformidade de Distribuição, em %;

Lq = Média de 25% das observações com menores valores, em mm; e

Lm = Lâmina média de todas as observações, em mm.

∑𝑛𝑖=1|Li − Lm|
CUC = (1 − ) .100 (2)
𝑛Lm

Em que:

CUC = Coeficiente de Uniformidade de Christiansen, em %;

Li = Lâmina obtida no coletor “i”, em mm;

Lm = Lâmina média de todas as observações, em mm; e

n = número de pluviômetros.

Sd (3)
CUE = 100. (1 − Qm)

Em que:

CUE = Coeficiente de Uniformidade Estatístico, em %;

Sd = Desvio padrão dos dados de precipitação; e

Lm = Média das precipitações, em mm.

A interpretação dos valores de CUC, CUD e CUE foram realizadas com base nas
metodologias de Mantovani (2001) e os padrões da ASAE EP 405.1 (2003) descritos por
Borssoi et al., (2012) que estão apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação do Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD), Coeficiente de Uniformidade de


Christiansen (CUC), do Coeficiente de Uniformidade Estatístico (CUE) para sistemas de irrigação por aspersão
convencional.
Classificação CUD (%) CUC (%) CUE (%)
Excelente > 84 >90 >90
Bom 68 - 84 80 - 90 80 - 90
Razoável 52 - 68 70 - 80 70 - 80

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Ruim 36 - 52 60 - 70 60 - 70
Inaceitável < 36 <60 < 60
Fonte: Adaptado de Mantovani (2001) e Borssoi et al. (2012).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 2 estão apresentados os valores do Coeficiente de Uniformidade de


Distribuição (CUD), do Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC), do Coeficiente
de Uniformidade Estatístico (CUE) e respectivas classificações de desempenho dos projetos de
irrigação por aspersão convencional em estudo.

Tabela 2. Valores do Coeficiente de Uniformidade de Distribuição (CUD), do Coeficiente de Uniformidade de


Christiansen (CUC), do Coeficiente de Uniformidade Estatístico (CUE), e respectivas classificações de
desempenho dos projetos de irrigação por aspersão convencional em estudo.

CUD CUC CUE


Projeto Classificação Classificação Classificação
(%) (%) (%)
1 76,24 Bom 81,94 Bom 72,39 Razoável
2 43,66 Ruim 61,16 Ruim 51,57 Inaceitável
3 64,94 Razoável 74,52 Razoável 76,38 Razoável
Fonte: autor (2021).

Ao analisar os valores do Coeficiente de Uniformidade de Distribuição para o sistema


de irrigação em estudo (Tabela 2) nota-se que os três projetos apresentaram resultados entre 43
a 76%. Isto demonstra a variabilidade de aplicação de água pelos projetos em estudo, que
apresentaram desempenho classificado como bom, ruim e razoável. O Coeficiente de
Uniformidade de Distribuição (CUD) é geralmente utilizado como indicador de problemas no
sistema de irrigação, pois baixos valores de coeficiente de uniformidade indicam um mal
dimensionamento dos aspersores ou deficiência no manejo da irrigação, uma vez que quando
as instalações são novas a uniformidade de distribuição de água é alta e com o tempo a mesma
diminui em decorrência da ausência de limpeza periódica dos filtros e das tubulações (Martín-
Benito 1993).

Segundo Bortoluzz e Mattioni (2021), a uniformidade de distribuição também está


associada as características dos aspersores, onde encontra-se uma melhor uniformidade em
sistemas com aspersores que proporcionam gotas maiores, uma vez que a influência do vento é
reduzida, dessa forma, gotas mais finas potencializam a ação do vento, o que promove uma
baixa uniformidade de distribuição de água.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Souza et al. (2017) ao avaliarem a uniformidade de aplicação de um sistema de irrigação


por aspersão em Minas Gerais, encontraram resultados diferentes do presente estudo, pois o
valor obtido em seu trabalho para o CUD foi de 6,87% classificado como inaceitável segundo
a literatura analisada.

Em relação ao Coeficiente de Uniformidade de Christiansen (CUC) os valores


encontrados foram classificados como bom, ruim e razoável respectivamente para os três
projetos, conforme a metodologia descrita por Mantovani (2001) e Borssoi et al. (2012). No
entanto, os valores encontrados encontram-se inadequados, abaixo do valor mínimo
recomendado na literatura (85%).

De acordo com vários autores, entre os quais estão Bernardo et al. (2019), para culturas
de alto rendimento econômico, com sistema radicular superficial, a irrigação por aspersão deve
apresentar alta uniformidade de distribuição, pois os valores dos coeficientes de uniformidade
CUD e CUC devem apresentar valores superiores a 84%. No entanto, pelos resultados obtidos
verifica-se que não foram encontrados valores altos de CUD e CUC para nenhum dos três
projetos avaliados, o que evidencia a necessidade de implementação de estratégias de manejo
do sistema de irrigação.

Szabó et al. (2021), em seus estudos com irrigação por aspersão, encontraram valores
de 74,14 e 75,43% para CUC e CUD, respectivamente, no qual concluíram que a aplicação de
água não é uniforme, já que tais resultados não atingem os valores mínimos para um irrigação
homogênea. Os autores atribuíram os baixos valores de uniformidade encontrados a utilização
de equipamentos mais antigos.

Quanto ao Coeficiente de Uniformidade Estatístico, os valores encontrados foram


classificados como razoável, inaceitável e razoável, respectivamente. Gonçalves et al. (2020),
ao avaliarem um sistema de irrigação por aspersão convencional em uma área cultivada com
Capim-Mombaça, encontraram valores classificados com ruim.

Tais resultados se justificam pelos fatores que afetam o desempenho dos aspersores em
funcionamento, a saber: diâmetro e pressão no bocal do aspersor, pois de acordo com Bernardo
et al. (2019), pressões de serviço acima ou abaixo dos valores recomendados pelos fabricantes
dos bocais podem aumentar a variação na distribuição de água do aspersor, e assim
proporcionar menor sobreposição entre os perfis de distribuição de água dos aspersores ao
longo da linha lateral e entre linhas laterais ao longo da linha principal.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Pelos resultados obtidos nota-se que a baixa uniformidade de aplicação de água pelo
sistema de irrigação por aspersão convencional nas três áreas cultivadas com hortaliças em
estudo, pode estar relacionada com a ausência de estratégias de manejo periódico dos
equipamentos de irrigação, o que contribui com o mau funcionamento do sistema. Dentro desse
contexto, torna-se indispensável a realização da limpeza periódica dos equipamentos de
irrigação por parte dos agricultores que utilizam a irrigação para atender as demandas hídricas
das culturas, visto que, o manejo deficiente pode acarretar em desperdícios de água, energia
elétrica e afetar negativamente a produtividade das hortaliças, com geração de prejuízos aos
produtores rurais.

CONCLUSÃO

Os três projetos de irrigação por aspersão convencional em estudo apresentaram baixa


uniformidade de aplicação de água e os valores de CUC, CUD e CUE são inferiores aos valores
recomendados pela literatura.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 8

ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE
REFERÊNCIA PARA MUNICÍPIOS DA REGIÃO SUL
DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Dayana Silva de Mattos, Camila Aparecida da Silva Martins

RESUMO: A evapotranspiração de referência (ET0) é um importante


componente do balanço hídrico, e sua correta estimativa é essencial para a
execução de projetos agrícolas, manejos de irrigação, modelagem de
processos climatológicos, planejamento do gerenciamento dos recursos
hídricos, entre outros. O método de Penman-Monteith é utilizado como
método padrão para estimar a ET0 e permite avaliar com precisão a eficiência
de metodologias alternativas. Assim, objetivou-se estimar a
evapotranspiração de referência para três municípios da região Sul do Estado
do Espírito Santo, a saber: Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy, com
uma série de cinco anos de dados médios diários, périodo de 01 de janeiro de
2015 à 31 de janeiro de 2020. Os dados foram obtidos nas estações do
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), localizadas nos municípios em
estudo. Após a tabulação dos dados em editor de planilhas eletrônicas, foram
realizados os procedimentos necessários para determinação dos valores de
ET0 por meio da aplicação dos métodos empíricos propostos por Penman-
Monteith-FAO 56, Hargreaves-Samani e Makkink, com o auxílio da
metodologia descrita por Allen (2016). Os resultados obtidos pelo método
de Makkink mostraram que a ET0 estimada foi, em média, 25,19% menor do
que os resultados obtidos por Penman-MonteithFAO 56. Os métodos
alternativos em estudo apresentaram desempenho satisfatório na estimativa
de ET0 para os municípios de Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy,
localizados na região Sul do Espírito Santo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Segundo OLIVEIRA et al. (2017), conforme citado por SANTIAGO et al. (2021), o
fenômeno da evapotranspiração é de fundamental importância para produção vegetal,
constituindo uma das principais variáveis em pesquisas agrometeorológicas. É relevante para
o ciclo hidrológico, manejo de irrigação e gerenciamento de recursos hídricos. Consiste no
processo de perda de água do solo e da planta para atmosfera, logo é um parâmetro de grande
relevância para o dimensionamento e o manejo de sistemas de irrigação.
O conhecimento do consumo hídrico das culturas é importante para a gestão da irrigação
em áreas cultivadas, principalente, no momento em que ocorre forte conscientização popular
da necessidade de otimizar o uso racional dos recursos hídricos disponíveis. Existem diversas
metodologias que propiciam a estimativa do consumo hídrico de culturas com base na
estimativa da evapotranspiração. Mas, a sua utilização é bastante limitada com propósitos
práticos, face à ausência de técnicas apropriadas que viabilizem a estimativa da
evapotranspiração, de forma simples e confiável, de acordo com a disponibilidade dos
parâmetros relacionados à planta, ao solo e à atmosfera (SILVA et al., 2005)
Sendo assim, a variabilidade dos elementos meteorológicos durante o período de
máxima demanda hídrica das culturas irrigadas, acarreta em considerável dispersão dos valores
estimados da evapotranspiração, o que exige uma análise da distribuição de frequência dos
valores estimados para fins de dimensionamento de projetos de irrigação. Isso porque alguns
critérios para dimensionamento de sistemas de irrigação levam em conta o nível de
probabilidade de ocorrência da evapotranspiração e precipitação (SANTIAGO et al., 2021).
O planejamento e o manejo dos recursos hídricos têm sido comumente inadequados,
pois desconsideram que a evapotranspiração pode ser maior que a precipitação e o escoamento
superficial em algumas épocas do ano, pois de acordo com Alencar et al. (2009), a
evapotranspiração é o processo por meio do qual a vegetação e o solo enviam
umidade para a atmosfera, aumentando a umidade do ar, tornando as chuvas
mais constantes. A definição da evapotranspiração (ET0) é de fundamental importância,
pois define o consumo de água pelas plantas e, por consequência, a lâmina de irrigação
a ser aplicada pelo sistema (OLIVEIRA et al., 2020).
Nessa perspectiva, antes da aplicação de qualquer estratégia de manejo da irrigação via
clima, estudos sobre a estimativa da evapotranspiração constituem uma etapa essencial
(TURCO, 2019). Tendo em vista que a evapotranspiração é um indicador do consumo de água
pelas culturas, cujos valores são utilizados para dimensionar e manejar sistemas de irrigação,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

com o intuito de evitar a ocorrência de irrigações deficitárias ou excessivas durante o


desenvolvimento da cultura (BARROS et al., 2019).
De acordo com Bernardo et al. (2019), a evapotranspiração de referência (ET0) é
definida como a quantidade de água evaporada e transpirada por uma cultura hipotética, em
crescimento ativo, que cobre toda a superfície do solo, sem restrição hídrica e nutricional,
durante determinado período. Existem vários métodos diretos e indiretos para a determinação
da evapotranspiração de referência (ET0).
Os principais métodos diretos utilizados para determinar a ET0 são: lisímetros; parcelas
experimentais no campo; controle da umidade do solo; e método da “entrada e saída”, em
grandes áreas (BERNARDO et al., 2019). Mas, apesar da diversidade, os métodos diretos são
considerados por muitos pesquisadores, entre os quais estão Freitas et al. (2019), como métodos
de baixa praticidade, elevado custo de implantação e manutenção, o que inviabiliza a sua
aplicação em áreas cultivadas.
Os métodos indiretos permitem estimar a evapotranspiração por meio da multiplicação
do valor encontrado por um fator, a ser determinado para cada localidade e para cada método
indireto. Entre os métodos indiretos existentes para estimativa da evapotranspiração de
referência estão: os evaporímetros; as equações; e os sensores acoplados a plataformas orbitais
e suborbitais (BERNARDO et al., 2019).
Na literatura há várias equações que necessitam de dados meteorológicos para
estimativa da evapotranspiração. Entre os métodos empíricos estão: Penman-Monteith-FAO
56, Makkink e Hargreaves- Samani, conforme mencionado por Allen et al. (1998).
O método de Penman-Monteith (FAO 56) é considerado padrão devido a sua
consistência técnica na escala diária e mensal (ALLEN et al., 1989) em diferentes condições
climáticas (JENSEN et al., 1990) sem a necessidade de calibração e útil para estimativas em
qualquer intervalo de tempo (LIMA JÚNIOR et al., 2016). Mas, devido à exigência de muitos
elementos meteorológicos como dados de entrada, este método não possui ampla aplicabilidade
em áreas cultivadas, haja vista que os dados de radiação solar, temperatura do ar, umidade
relativa e velocidade do vento não se encontram disponíveis em algumas regiões, conforme
constatado nos trabalhos desenvolvidos por Silva et al. (2018) e Turco (2019).
Para Lima et al. (2016), a ausência de informações meteorológicas em determinadas
localidades impossibilita a aplicação do método de Penman-Monteith-FAO 56, considerado
como o método de maior precisão para estimativa da evapotranspiração de referência. Por essa
razão, outras metodologias devem ser avaliadas localmente para estimar a evapotranspiração
de referência, com menor número de dados meteorológicos, boa precisão e menor custo da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

estimativa da ET0 em diferentes ambientes.


Portanto, este trabalho teve o objetivo de estimar a evapotranspiração para três municípios
localizados na região Sul do Estado do Espírito Santo, com o auxílio de uma série de cinco anos de
dados médios diários por meio da aplicação de diferentes métodos empíricos, onde o método de
Penman-MonteithFAO56 (P.M. FAO 56) foi estabelecido como método padrão de comparação.

METODOLOGIA
O trabalho foi desenvolvido com dados meteorológicos dos municípios de Alegre,
Alfredo Chaves e Presidente Kennedy, localizados na região Sul do Estado do Espírito Santo
devido à ausência de variáveis necessárias na base de dados para a condução da pesquisa em
outros municípios da região.
Os dados meteorológicos foram obtidos nas estações automáticas e convencionais
pertencentes ao Instituto Nacional de Meteorologia – INMET (2020) e devido à
indisponibilidade de dados viáveis para a estimativa da ET0 foram utilizados dados diários entre
o período de janeiro de 2015 a janeiro de 2020, nos municípios em estudo.
Após o levantamento de dados das estações meteorológicas, foi realizada a organização
de dados meteorológicos em editor de planilhas Excel©, para realização de todos os
procedimentos necessários para determinação dos valores de ET0 com o auxílio do programa
REF ET (ALLEN, 2016).
Posteriormente, foram realizados os cálculos da evapotranspiração de referência (ET0),
por meio da aplicação dos métodos empíricos propostos por Penman-Monteith (FAO 56),
HargreavesSamani (H.S.) e Makkink (Mak.) de acordo com as metodologias descritas por Allen
et al. (1998), Hargreaves e Samani (1985), e Pereira et al. (1997), respectivamente.
Para comparação dos resultados obtidos foi estabelecido como padrão o método de
Penman-MonteithFAO56 (P.M. FAO 56).

Método de Penman-Monteith (FAO 56)


Para estimar a evapotranspiração de referência (ET0), em milímetros por dia (mm dia -1), foi
utilizado o método de Penman-Monteith (FAO 56) (ALLEN et al. 1998), descrito na equação
1.
900
0,408∆(Rn -G) + γ T+273 U2 (es -ea )
ET0 = Equação (1)
∆ + γ(1+0,34U2 )

Em que:

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∆ - Declividade da curva de pressão de saturação de vapor, em kPa °C-1;


Rn - Radiação líquida, em MJ m-2s-1;
G - Fluxo de calor no solo, em MJ m-2s-1;
γ - Constante psicrométrica, em kPa °C-1;
T - Temperatura média diária do ar, em °C;
U2 - Velocidade média diária do vento a 2 metros de altura, em m s-1;
es - Pressão de saturação de vapor, média diária, à temperatura do ponto de orvalho, em
kPa; e
ea - Pressão parcial de vapor de saturação, média diária, em kPa.

Método de Hargreaves-Samani
O método de Hargreaves e Samani (1985) foi escolhido para a realização deste trabalho
pelo fato de ser um método simples, que permite estimar a evapotranspiração de referência
(ET0) a partir da relação ente a temperatura máxima, mínima e média de acordo com a Equação
2 apresentada a seguir:

ET0 = 0,023Ra(Tmáx - Tmín)0,5(T + 17,8) Equação (2)

Em que:
Ra – Radiação extraterrestre, em MJ m-2s-1;
Tmáx – Temperatura máxima do ar, em °C;
Tmín – Temperatura mínima do ar, em °C; e
T – Temperatura média do ar, em °C.

Método de Makkink
A evapotranspiração de referência também foi estimada pelo método de Makkink
conforme a Equação 3, apresentada por Pereira et al. (1997).

ET0 = 0,61WRs - 0,12 Equação (3)

Em que:
Rs – Radiação solar global, em mm dia-1;
W - Fator de ponderação dependente da temperatura do ar e do coeficiente
psicrométrico, estimado por meio das Equações 4 e 5.
O fator W foi calculado de acordo com as condições diárias, com o auxílio das Equações

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

4 ou Equação 5, e com base na temperatura (TANAKA et al., 2016).

W = 0,407 + 0,0245T; 0 < T < 16 °C Equação (4)


W = 0,483 + 0,01T; 16,1 < T < 32°C Equação (5)

Para avaliar o desempenho dos métodos de estimativa da evapotranspiração de


referência em relação ao método padrão, foram utilizados como indicadores: o índice de
concordância (D) descrito por Willmott et al. (1985), o erro médio absoluto (MAE), o erro
máximo (EMAX), a eficiência do método (EF) e o índice de desempenho (c) apresentado por
Camargo e Sentelhas (1997).
A classificação da eficiência do método (EF) foi definida de acordo com os critérios de
interpretação do índice de desempenho “c” descritos por Camargo e Sentelhas (1997), que estão
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Critérios de interpretação do índice de desempenho “c”.


Índice de Desempenho “c” Classificação
>0,85 Ótimo
0,76 – 0,85 Muito bom
0,66 – 0,75 Bom
0,61 – 0,65 Mediano
0,51 – 0,60 Sofrível
0,41 – 0,50 Mal
≤ 0,4 Péssimo
Fonte: Adaptado de Camargo e Sentelhas (1997).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
As Tabelas 2, 3 e 4 apresentam os valores médios diários da evapotranspiração de
referência (ET0) estimada para os municípios de Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy
em todos os meses do ano, no período de 2015 a 2020, por meio dos métodos Penman-Monteith-
FAO56 (P.M. FAO 56), Hargreaves-Samani (H.S.) e Makkink (Mak.), respectivamente, com o
auxílio do programa REF ET.
Ao analisar as médias diárias da evapotranspiração de referência (mm dia-1) obtida em
cada mês do período em estudo (Tabelas 2, 3 e 4), observa-se que em todos os municípios em
estudo a evapotranspiração de referência estimadas pelos três métodos empíricos apresentaram

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

tendência semelhante ao longo do ano, ou seja, valores decrescentes de janeiro a junho e


crescentes de julho a dezembro.
Para vários pesquisadores, entre os quais estão Hallal et al. (2017) estes resultados
indicam que a disponibilidade energética interfere diretamente no processo de
evapotranspiração, por causa da posição relativa Terra-Sol ao longo do dia.

Tabela 2. Valores médios mensais da evapotranspiração de referência (ET 0) estimada para o município de
Alegre-ES, em milímetros por dia (mm dia-1), no período de 2015 a 2020, por meio dos métodos de Penman-
Monteith-FAO56 (P.M. FAO 56), Hargreaves-Samani (H.S.) e Makkink (Mak.), respectivamente.
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Penman-Monteith-FAO56 (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 6.83 5.78 4.68 3.49 2.25 2.41 2.68 3.24 4.16 5.15 5.21 5.59
2016/2017 4.77 6.02 4.96 4.38 2.52 2.07 2.78 3.84 4.38 4.32 4.47 4.89
2017/2018 6.11 5.20 4.73 3.67 2.79 2.61 2.47 3.29 4.50 4.98 4.20 4.80
2018/2019 5.90 4.73 4.42 3.43 2.78 2.46 2.82 2.9 3.81 4.12 4.40 5.00
2019/2020 6.55 4.97 4.60 3.79 2.89 2.66 2.94 3.08 4.02 5.02 4.27 4.85
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Hargreaves-Samani (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 7.33 6.30 5.27 4.03 3.03 2.82 3.17 3.97 4.88 5.78 6.08 6.36
2016/2017 5.84 6.82 5.43 4.91 3.28 2.61 3.15 4.21 4.74 4.91 5.31 5.75
2017/2018 6.69 5.92 5.28 4.15 3.20 3.05 2.86 3.83 5.15 5.80 5.08 5.70
2018/2019 6.59 5.44 4.99 3.84 3.21 2.90 3.35 3.39 4.51 5.05 5.31 5.91
2019/2020 7.15 6.00 5.16 4.17 3.35 3.18 3.43 3.61 4.63 5.86 5.25 5.70
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Makkink (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 5.28 4.32 3.79 2.92 2.28 2.23 2.40 3.08 3.25 3.88 3.87 4.48
2016/2017 3.78 4.76 4.07 3.59 2.81 1.84 2.29 3.03 3.38 3.35 3.65 4.03
2017/2018 4.97 4.29 3.91 3.03 2.47 2.35 2.25 2.76 3.70 3.75 3.24 3.89
2018/2019 4.69 3.94 3.74 3.05 2.61 2.24 2.63 2.51 3.01 3.10 3.54 4.07
2019/2020 5.45 3.99 3.87 3.34 2.60 2.41 2.59 2.57 3.04 3.94 3.34 3.98

Pela Tabela 2 observa-se que o menor valor da evapotranspiração de referência (ET0)


obtido pelo método de Penman-Monteith-FAO 56 no município de Alegre-ES foi de 2,07 mm
dia-1 no mês de junho do período de 2016/2017.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Enquanto, o maior valor da ET0 obtida pelo método padrão foi de 6,83 mm dia-1 no mês
de janeiro do período de 2015/2016. Em relação aos métodos alternativos, ou seja, métodos de
Hargreaves-Samani e Makkink, nota-se que os menores valores da evapotranspiração de
referência obtidos foram de 2,61 mm dia-1 e de 1,84 mm dia-1 , respectivamente, no mês de
junho do período de 2016/2017. Em contrapartida, os maiores valores da ET0 obtida por estes
métodos foram de 7,33 mm dia-1 e 5,45 mm dia-1 no mês de janeiro dos períodos de 2015/2016
e 2019/2020, respectivamente.
Resultados semelhantes foram obtidos por Hallal et al. (2017) que encontraram valores
médios diários da evapotranspiração de referência maiores ao utilizarem o método de Penman-
Monteith-FAO 56 para o município de Pelotas, localizado no Estado do Rio Grande do Sul.

Tabela 3. Valores médios mensais da evapotranspiração de referência (ET 0) estimada para o município de
Alfredo Chaves-ES, em milímetros por dia (mm dia-1), no período de 2015 a 2020, por meio dos métodos de
Penman-Monteith-FAO56 (P.M. FAO 56), Hargreaves-Samani (H.S.) e Makkink (Mak.), respectivamente.
Município de Alfredo Chaves-ES
ET0 estimada por Penman-Monteith-FAO56 (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 7.27 5.70 4.69 3.45 2.56 2.59 2.86 3.44 4.09 4.54 4.62 5.68
2016/2017 4.71 6.09 4.79 4.48 3.04 2.15 2.88 3.60 4.03 3.68 4.08 4.56
2017/2018 6.44 4.95 4.65 3.78 2.88 2.34 2.42 3.10 4.18 4.98 3.67 4.31
2018/2019 5.72 4.16 4.11 3.14 2.72 2.55 3.24 2.66 3.71 3.52 3.98 4.42
2019/2020 6.74 5.16 4.63 3.85 3.02 2.83 3.10 2.89 3.85 4.86 3.64 4.74
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Hargreaves-Samani (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 6.57 5.94 4.99 3.85 2.88 2.61 2.96 3.47 4.41 4.84 5.40 5.86
2016/2017 5.33 6.10 4.92 4.40 3.15 2.37 2.87 3.62 4.24 4.37 4.96 5.39
2017/2018 6.15 5.54 4.87 3.84 3.06 2.57 2.56 3.20 4.22 5.00 4.61 5.15
2018/2019 6.00 5.04 4.49 3.58 2.93 2.69 3.16 3.07 3.96 4.38 4.88 5.31
2019/2020 6.63 5.72 5.03 3.99 3.13 2.86 3.01 3.11 4.11 5.16 4.70 5.50
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Makkink (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 5.05 3.89 3.44 2.55 1.90 1.97 2.29 2.74 3.06 3.24 3.44 4.14
2016/2017 3.37 4.47 3.65 3.41 2.33 1.56 2.17 2.70 2.94 2.68 3.04 3.44
2017/2018 4.48 3.65 3.40 2.92 2.27 1.79 1.94 2.49 3.26 3.61 2.69 3.31
2018/2019 4.24 3.15 3.25 2.43 2.21 2.04 2.57 2.10 2.79 2.48 2.96 3.35
2019/2020 4.97 3.73 3.42 2.99 2.42 2.16 2.41 2.16 2.85 3.79 2.68 3.50

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O menor valor da evapotranspiração de referência (ET0) obtido pelo método de Penman-


Monteith-FAO 56 para o município de Alfredo Chaves-ES foi de 2,15 mm dia-1 no mês de
junho do período de 2016/2017 (Tabela 3) e o maior valor da ET0 obtida pelo método padrão
foi de 7,27 mm dia-1 no mês de janeiro do período de 2015/2016.
Em relação aos métodos de Hargreaves-Samani e Makkink, é possível observar na
Tabela 3 que os menores valores da evapotranspiração de referência obtidos foram de 2,37 mm
dia-1 e de 1,56 mm dia-1, respectivamente, no mês de junho do período de 2016/2017 e os
maiores valores da ET0 estimada por estes métodos foram de 6,63 mm dia-1 e 5,05 mm dia-1 no
mês de janeiro dos períodos de 2019/2020 e 2015/2016, respectivamente.

Tabela 4. Valores médios mensais da evapotranspiração de referência (ET 0) estimada para o município de
Presidente Kennedy-ES, em milímetros por dia (mm dia-1), no período de 2015 a 2020, por meio dos métodos de
Penman-Monteith-FAO56 (P.M. FAO 56), Hargreaves-Samani (H.S.) e Makkink (Mak.), respectivamente.
Município de Presidente Kennedy-ES
ET0 estimada por Penman-Monteith-FAO56 (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 8.97 6.99 5.67 3.89 2.90 2.84 3.10 3.84 4.18 5.17 4.73 6.04
2016/2017 5.20 6.93 5.41 5.25 3.53 2.41 3.36 4.45 4.73 4.29 4.88 5.12
2017/2018 7.37 6.16 5.72 4.29 3.32 3.21 2.56 3.63 5.14 5.61 4.44 5.04
2018/2019 6.44 4.91 4.41 3.22 2.78 2.86 3.34 2.91 3.90 4.07 4.55 5.44
2019/2020 7.85 5.63 5.15 4.28 3.38 3.10 3.44 3.24 4.09 5.31 4.25 5.12
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Hargreaves-Samani (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 4.90 4.30 4.09 2.98 2.62 2.47 2.59 3.19 3.96 4.40 4.73 5.38
2016/2017 5.09 5.97 4.90 4.36 3.25 2.40 2.87 3.60 4.11 4.16 4.89 5.20
2017/2018 5.48 5.47 4.87 3.87 2.97 2.71 2.38 3.06 3.90 4.67 4.40 4.83
2018/2019 5.61 4.77 4.41 3.61 2.92 2.77 3.00 2.92 3.78 4.14 4.66 5.32
2019/2020 6.20 5.48 4.76 3.99 3.18 2.82 2.93 3.00 3.75 4.65 4.42 4.94
Município de Alegre-ES
ET0 estimada por Makkink (mm dia-1)
Período JAN. FEV. MAR. ABR. MAI. JUN. JUL. AGO. SET. OUT. NOV. DEZ.
2015/2016 4.42 2.95 2.59 1.82 2.02 2.04 2.32 2.84 2.96 3.48 3.54 4.32
2016/2017 3.73 4.71 3.66 3.38 2.22 1.58 2.12 2.74 2.98 2.91 3.50 3.91
2017/2018 4.39 4.07 3.61 2.80 2.26 2.13 1.95 2.55 3.55 3.55 2.96 3.69
2018/2019 4.57 3.62 3.43 2.27 1.85 1.94 2.47 2.13 2.71 2.74 3.37 4.01
2019/2020 5.40 3.91 3.79 2.11 2.39 2.21 2.31 2.11 2.63 3.79 3.02 3.84

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Para o município de Presidente Kennedy-ES percebe-se na Tabela 4 que o menor valor


da evapotranspiração de referência obtido pelo método de Penman-Monteith-FAO 56 foi de
2,41 mm dia-1 no mês de junho do período de 2016/2017. Já o maior valor da ET0 estimada pelo
método padrão foi de 8,97 mm dia-1 no mês de janeiro do período de 2015/2016.
Quanto aos métodos de Hargreaves-Samani e Makkink, é possível observar na Tabela
4 que os menores valores da evapotranspiração de referência obtidos foram de 2,38 mm dia-1 e
de 1,58 mm dia-1, respectivamente, no mês de julho do período de 2017/2018 e no mês de junho
do período de 2016/2017. Enquanto, os maiores valores da ET0 estimada por pelos métodos
alternativos foram de 6,20 mm dia-1 e 5,40 mm dia-1 no mês de janeiro do período de 2019/2020,
respectivamente.
Entre os métodos em estudo, pode-se observar que por meio da aplicação do método de
PenmanMonteith-FAO 56 e do método de Hargreaves-Samani foram obtidos os maiores
valores da evapotranspiração de referência em relação ao método de Makkink (Tabelas 2, 3 e
4).
O resultado da análise do desempenho dos métodos de Hargreaves-Samani e Makkink,
considerados como métodos alternativos em relação ao método de Penman-Monteith-FAO56,
método padrão de estimativa da Evapotranspiração de referência (ET0) está apresentado na
Tabela 5.

Tabela 5. Evapotranspiração média anual (ET0), mm d-1 (1); percentagem em relação ao método-padrão (PM-
FAO 56) (2); índice de concordância de Willmott, adimensional (3); Erro Absoluto Médio, mm d -1 (4); Erro
Máximo, mm d-1 (5); Eficiência do Método (6); Coeficiente de Correlação de Pearson (7); Índice de
Desempenho “c” (8) e Classificação do índice de desempenho dos métodos de estimativas da evapotranspiração
de referência (9) para os municípios de Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy do Estado do Espírito
Santo.
ET0 % D MAE EMAX EF r c Classificação
Método*
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9)
Alegre
PM-FAO 56 4.12 100 - - - - - - -
H-S. 4.75 115.29 0.98 0.66 2.80 0.74 0.94 0.93 Ótimo
MAKK. 3.39 82.28 0.92 0.76 2.55 0.71 0.97 0.89 Ótimo
Alfredo Chaves
PM-FAO 56 4.01 100 - - - - - - -
H-S. 4.32 107.73 0.99 0.65 3.32 0.76 0.89 0.89 Ótimo
MAKK. 3.00 74.81 0.86 1.01 3.33 0.58 0.97 0.84 Muito bom
Presidente Kennedy
PM-FAO 56 4.56 100 - - - - - - -
H-S. 4.06 89.03 0.97 0.91 6.35 0.94 0.84 0.81 Muito bom
MAKK. 3.07 67.32 0.96 1.49 7.48 0.87 0.89 0.86 Ótimo
*PM: Penman-Montheit FAO 56; HG: Hargreaves-Samani; MAKK: Makking

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

A evapotranspiração de referência média anual obtida por meio da aplicação de cada


método empírico alternativo permite afirmar que método de Makkink nos três municípios da
região Sul do Estado do Espírito Santo em estudo, subestima o valor da evapotranspiração
média anual. Por outro lado, o método de Hargreaves-Samani superestima o valor da
evapotranspiração média anual nos municípios de Alegre e Alfredo Chaves, com exceção do
município de Presidente Kennedy, onde a ET0 também foi subestimada, como pode ser visto na
Tabela 5.
Observa-se que os métodos de Hargreaves-Samani e de Makkink apresentaram índices
de desempenho classificados como “Ótimo e Muito bom”, respectivamente, pelo fato de
proporcionarem as menores taxas de erro e os maiores índices de concordância de Willmott e
de desempenho (Tabela 5). Por isso, estes métodos podem ser utilizados para estimar a ET0 em
todos os municípios em estudo, quando comparados com os resultados obtidos pelo método de
Penman-Monteith-FAO 56.
Os resultados obtidos pelo método de Hargreaves-Samani mostraram que a ET0
estimada foi, em média, 11,51% maior do que os resultados obtidos por Penman-Monteith-
FAO 56 para os municípios de Alegre e Alfredo Chaves. Enquanto, que para o município de
Presidente Kennedy os resultados obtidos pelo método de HargreavesSamani evidenciam que
a ET0 estimada foi, em média, 10,97% menor do que os resultados obtidos por
PenmanMonteith-FAO 56.
Estes resultados permitem afirmar que os métodos de Hargreaves-Samani e Makking
devem ser utilizados como método de estimativa da evapotranspiração em escala diária, mensal
e anual nos municípios de Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy pelo fato de terem
apresentados resultados satisfatórios e correlação forte com o método de Penman-Monteith-
FAO (56).
De acordo com Turco (2019), os métodos empíricos que se consolidam com a variável
temperatura do ar e radiação, que é o caso de Hargreaves-Samani, tendem a superestimar a
evapotranspiração de referência em 15 a 25% de acordo com as condições edafoclimáticas da
região.
O método de Hargreaves-Samani apresentou elevados valores para índice de
concordância, tendo em vista que a concordância aumentou na medida em que o intervalo foi
ampliado, o que indica maior exatidão para maiores intervalos diários.
Na estimativa da ET0 para o município de Alegre pode-se utilizar o do método de
Hargreaves-Samani ou Makking em caso de indisponibilidade de dados meteorológicos para
aplicação de outros métodos, pois apresentaram um excelente desempenho. Para o município

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de Alfredo Chaves, o método de Hargreaves-Samani apresentou o melhor desempenho na


estimativa da evapotranspiração de referência, entre os métodos em estudo, em relação ao de
Penman-Monteith, o que possibilita recomendar o seu uso para determinação da ET0 para a
região. Para o município de Presidente Kennedy, o método que apresentou melhor desempenho
foi o de Makking, sendo recomendado para determinação de ET0 para a região.
Com a utilização do método de Hargreaves-Samani, a ET0 estimada foi superior à obtida
com a utilização do método de Penman-Monteith-FAO 56 para os municípios de Alegre e
Alfredo Chaves. Entretanto, as equações de Hargreaves-Samani e Makkink mostraram-se
satisfatórias para a estimativa da ET0 e podem ser consideradas como metodologias alternativas
para estimativa da ET0 para os municípios de Alegre, Alfredo Chaves e Presidente Kennedy,
localizados na região Sul do Estado do Espírito Santo.
O desempenho da equação de Hargreaves-Samani (1985) em vários municípios de
Alagoas, foi avaliado por Barros et al. (2019) por meio da comparação com o método de
Penman-Monteith-FAO 56. Nas condições avaliadas, a equação de Hargreaves apresentou bom
desempenho na sua forma original para estimativa da ET0, com erro de estimativa médio de
0,69 mm.dia-1 .
Garcia et al. (2017) ao utilizarem os métodos de Hargreaves-Samani, Radiação Solar,
Makkink, JesenHaise, Linacre e Penman Simplificado para estimativa da evapotranspiração de
referência no município de Santa Teresa-ES, concluíram que o método de Hargreaves-Samani
(1985) pode ser indicado para uso em caso de indisponibilidade de informações meteorológicas
necessárias para aplicação de outros métodos empíricos que possibilitam estimar a
evapotranspiração de referência.

CONCLUSÃO
Os métodos de Hargreaves-Samani e Makking apresentaram desempenho satisfatório
na estimativa da evapotranspiração de referência para os municípios de Alegre, Alfredo Chaves
e Presidente Kennedy.
Os métodos de Hargreaves-Samani mostraram que a ET0 estimada foi, em média,
11,51% maior do que os resultados obtidos por Penman-Monteith-FAO (56) para os municípios
de Alegre e Alfredo Chaves.
Os resultados obtidos pelo método de Makkink mostraram que a ET0 estimada foi, em
média, 25,19% menor do que os resultados obtidos por Penman-Monteith-FAO (56) para os
municípios em estudo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem à Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) pelo apoio
técnico e institucional; ao Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) pelo fornecimento de
dados meteorológicos; e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de iniciação científica à primeira autora.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 9

MÉTODOS DE ADUBAÇÃO DA CROTALARIA


SPECTABILIS

Geovane José Estanislau, Natiélia Oliveira Nogueira, Camila Aparecida


da Silva Martins e Junia Maria Clemente

RESUMO: No âmbito da agricultura sustentável, o estudo dos adubos verdes


tem demonstrado um grande potencial na recuperação da qualidade do solo.
Dentre as diversas leguminosas utilizadas, a crotalaria se mostra muito
eficiente como produtora de massa vegetal e como fixadora de Nitrogênio
(N). Nesse sentido, objetivou-se avaliar adubação convencional,
homeopatias, Microrganismos Eficientes (EM) e biofertilizantes na crotalária.
O experimento foi realizado em um sítio localizado no Distrito de Ponte do
Silva, situado no município de Manhuaçu-MG. O experimento foi instalado
sob delineamento em blocos casualizados igual ao número de tratamentos, e
dentro de cada bloco os tratamentos foram distribuídos aleatoriamente para
que o experimento possa ser eficiente e confiável, não havendo assim
interferência do ambiente, sendo instalado com 4 repetições em esquema de
parcelas subdivididas no tempo 6 (tipos de adubações) x 3 (épocas de
avaliação). Os tratamentos foram os seguintes: T1: adubação convencional
utilizando-se o superfosfato simples (P2O5) e o cloreto de potássio (K2O),
como controle positivo; T2: adubação com homeopatias; T3: adubação com
Microrganismos Eficientes (EM); T4: adubação com biofertilizante aeróbico;
T5: adubação convencional + homeopatias + EM + biofertilizante aeróbico;
T6: sem aplicação dos tratamentos – controle negativo. As análises foram
realizadas em subparcelas de três épocas de corte (E1: 64 dias após a
emergência; E2: 137 dias após a emergência; e E2: 165 dias após a
emergência). Avaliaram-se a altura, a produção de massa seca e a
concentração foliar de N da crotalaria. Em todos os três cortes, a homeopatia
proporcionou as valores médios de altura e produção de massa seca em
relação aos outros tratamentos, e as menores médios de altura e massa seca,
em todos os cortes, as plantas que não receberam adubação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Os benefícios proporcionados pela adubação verde são diversos. Por isso, o cultivo de
crotalária ganha destaque, isso porque a leguminosa tem crescimento rápido, é tolerante à seca,
adapta-se a uma grande variedade de solos e pode suprimir alguns tipos de nematóides. Parenti
(2021). Proporcionando também a retenção de umidade, diminuindo a temperatura ambiente e
contribuindo para o controle de plantas espontâneas, com destaque para a prevenção da erosão
do solo, redução dos tratamentos químicos e aumento da multifuncionalidade do setor agrícola,
Parenti (2021). Dentre as espécies estudadas como adubos verdes, as leguminosas são as que
despertam maior interesse, por estabeleceram relações simbióticas com bactérias do gênero
Rhizobium fixadoras de Nitrogênio (N) atmosférico ao agroecossistema (GAMA-
RODRIGUES et al., 2007).
De acordo com Massad e colaboradores (2017), a adubação de origem animal é muito
utilizada, principalmente na agricultura familiar, contudo é um processo que vem se mostrando
cada vez mais desvantagem, tanto no que se refere às questões financeiras nas propriedades que
não dispõe da criação animal, como da fertilidade e preservação do solo, sendo que métodos
melhores se encontram disponíveis, onde ganha destaque o cultivo da crotalaria.
Dessa forma, entende-se que a adubação verde com crotalária é considerada simples,
sendo obtida no local de plantação. Além disso, de acordo com Silva et al. (2009), a vantagem
em se utilizar leguminosas como a crotalária está no fato dessas plantas apresentarem alta
capacidade de realizar a fixação biológica do N.
Com base nessas informações, e pela necessidade de adubações alternativas para o
sistema de produção orgânica, uma opção de adubação verde é a utilização da Homeopatia. A
homeopatia tem como base a experimentação das preparações altamente diluídas e
sucussionadas. Todos os fenômenos da homeopatia são repetitivos, previsíveis, quantificáveis,
descritíveis e tem relação causa-efeito, assim como, base teórica explicativa (CASALI et al.,
2006).
Os preparados homeopáticos são considerados insumos agrícolas (BRASIL, 1999). A
inserção da homeopatia na agricultura, como prática geral, tem o objetivo de levar saúde ao
meio rural, pelo fato de proporcionar uma melhora dos mecanismos de resistência, sementes
mais vigorosas, variação na produção de princípios ativos, alteração de padrão energético,
maior resistência a doenças e pragas, desintoxicação e aumento da produção (LIPPERT et al.,
2007).
Os Microrganismos Eficientes (EM) que são um conjunto de organismos que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

adicionados ao solo aumentam a diversidade microbiológica, sendo utilizados como indutores


da decomposição da matéria orgânica e liberação de nutrientes às plantas, bem como no
aumento da capacidade de resistência a danos causados por patógenos, os quais poderiam
comprometer a produtividade da cultura (ANDRADE, 2009).
Os biofertilizantes são fertiprotetores, provenientes de um processo de decomposição
da matéria orgânica (animal ou vegetal), sendo os mais comuns produzidos através de
fermentação aeróbica (com presença de oxigênio), em meio líquido. O resultado da fermentação
é um resíduo líquido, utilizado como adubo e defensivo natural, normalmente rico em matéria
orgânica e microorganismos.
A literatura existente é muito carente, havendo assim a necessidade de mais informações
quanto a adubação da crotalária, pois existe pouco estudo a respeito. Assim, objetivou-se avaliar
o efeito da utilização de adubação convencional, homeopatias, microorganismos eficientes
(EM) e biofertilizantes no crescimento e estado nutricional da crotalária.

METODOLOGIA

Localização da área de estudo


O experimento foi conduzido em uma propriedade particular com cultivo de cafeeiros,
localizado no distrito de Ponte do Silva, município de Manhuaçu, MG, cujas coordenadas
geográficas são 20º 20 13,77” de latitude Sul e 42º 04 24,8” de longitude Oeste, com altitude
média de 780 m. Esta área foi selecionada por ser uma lavoura de café decepada de 15 anos de
idade, permitindo assim o espaço necessário para a realização do experimento que é voltado
para a sustentabilidade, essa propriedade rural, trabalha totalmente com o manejo orgânico
certificado.

Descrição dos tratamentos


O experimento foi instalado sob delineamento em blocos casualizados igual ao número
de tratamentos, e dentro de cada bloco os tratamentos foram distribuídos aleatoriamente para
que o experimento possa ser eficiente e confiável, em esquema de parcelas subdivididas no
tempo com seis tipos de adubação nas parcelas (T1: Adubação convencional, constituindo a
testemunha; T2: Adubação com homeopatias; T3: Adubação com EM; T4: Adubação com
biofertilizante aeróbico; T5: Adubação com todos os tratamentos; e T6: Solo sem adubação) e
nas subparcelas os três níveis de épocas de corte (E1: 64 dias após a emergência; E2: 137 dias
após a emergência; e E3: 165 dias após a emergência), com quatro repetições. Cada parcela

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

experimental foi constituída por 2 linhas de 6 metros (m) de comprimento, sendo os 4 m centrais
considerados a parcela útil, por 0,50 m de espaçamento entre linhas, como apresentado na
Figura 1 e Anexos. Foram semeadas aproximadamente 90 sementes de Crotalaria spectabilis
por metro linear. Após 15 dias da emergência das plântulas, foi feito um desbaste manual e
deixadas 45 plantas por metro. Para o tratamento 2, foi utilizado um coquetel de homeopatias
descrito no Quadro 1. Os preparados homeopáticos foram manipulados de acordo com as regras
da Farmacotécnica Homeopática Brasileira (DUTRA, 2011). O critério adotado para a
definição de qual homeopatia a ser utilizada foi definido com base na metodologia descrita por
Santos et al. (2012). A aplicação e a dosagem de cada homeopatia, foi realizada por meio da
utilização da radiestesia com o auxílio de um pêndulo. As homeopatias utilizadas foram
adquiridas em uma farmácia homeopática.
No tratamento 3, a obtenção dos EM foi realizada seguindo a metodologia de Pegorer e
colaboradores (1995). O critério utilizado para o número de aplicações e a quantidade a ser
utilizada, foi definido através da utilização da radiestesia. Utilizaram-se 5 aplicações de 10
mililitros (mL) por planta na proporção de 1:1000, utilizando 2,8 litros por tratamento, em cada
aplicação. O EM, foi produzido na própria propriedade para se utilizar os fungos nativos pois
os microrganismos eficientes de cada região estão mais 11 adaptados às condições locais
facilitando o processo de reconstrução do Solo Vivo.

Figura 1. Disposição das parcelas experimentais em campo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Os Autores (2020).

Quadro 1 . Coquetel de homeopatias para ativação do solo


Homeopatias Diluição Quantidade de aplicação
Achillea millefolium CH3 5

Equisentum arvense CH3 5

Quercur robor CH5 5


Matricária chamomilla CH5 5

Taraxacum officinale CH3 5


Urtiga dióica CH3 Uma aplicação. Trinta dias após o plantio

Valeriana ifficinalis CH5 5


Calcária carrbonica CH5 5

Fonte: Os Autores (2020).

No tratamento 4, a obtenção do Biofertilizante, foi realizada de acordo com a


metodologia apresentada pela Embrapa (2007). O critério utilizado para o número de aplicações
e a quantidade a ser utilizada, foi definido através da utilização da radiestesia. Foram utilizadas
5 aplicações de 30 mL por planta na proporção de 20:100, ou seja utilizando 8,4 litros por
tratamento, em cada aplicação. O Biofertilizante, foi produzido na própria propriedade,
proveniente de um processo de decomposição da matéria orgânica (animal e vegetal), que atuou

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

como fertilizante, estimulante da proteossíntese, repelente de insetos e controlador de doenças.


No tratamento 5, foi utilizada a combinação dos tratamentos 1, 2, 3 e 4. O tratamento 6,
controle negativo, não recebeu aplicação de fertilizantes. Sendo o preparo físico do solo,
primeiramente, foi realizada uma coleta de amostra de solo e enviada ao laboratório para
análise, como demonstra a Tabela 1.

Tabela 1. Atributos físicos e químicos do solo estudado


Atributos Valores

pH em água 5,64
2
Fósforo (mg dm-3) 66,65
2
Potássio (mg dm-3) 141,33
3
Cálcio (cmolc dm-3) 3,10
3
Magnésio (cmolc dm-3) 0,66
3
Alumínio (cmolc dm-3) 0,06
4
H + Al (cmolc dm-3) 2,60

C.T.C. potencial (cmolc dm-3) 6,72

Saturação por bases (%) 61,31


5
Matéria orgânica (dag kg-1) 2,38
6
Enxofre (mg dm-3) 9,24
7
Boro (mg dm-3) 0,56
2
Ferro (mg dm-3) 12,31
2
Cobre (mg dm-3) 0,91
2
Manganês (mg dm-3) 18,25
2
Zinco (mg dm-3) 2,37
1Método da Pipeta (Agitação Lenta); 2Extraido com Mehlich-1;3Extraído com cloreto de potássio 1 mol L-1 e determinado por
espectrofotômetro de absorção atômica; 4Extraído com acetato de cálcio 0,5 mol L-1, pH 7,0 e determinado por
titulação;5Extraído por oxidação, via úmida, com dicromato de potássio em meio sulfúrico e determinado por titulação
(EMBRAPA, 1997); 6Extrator monocálcico em ác. Acético; 7Extraído por água quente.

O preparo do solo foi realizado de forma manual, ou seja, após a realização da capina , o mato
foi recuado para a realização dos sulcos que foram abertos com a utilização de uma enxada apropriada
para cavar. As sementes foram colocadas a uma profundidade aproximada de 2 centímetros (cm) junto
ao adubo fosfatado e 10 dias após a germinação o Potássio (K) foi aplicado em cobertura no Tratamento
1. Para os tratamentos 2, 3, 4 e 5, foi feita uma aplicação via solo 10 dias após a germinação, e as 4
aplicações restantes a cada 20 dias. Foi realizado um desbaste 10 dias após a emergência para permitir
45 plantas por metro

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Durante o desenvolvimento da cultura foram realizadas irrigações manuais e controle de plantas


infestantes manualmente de acordo com a exigência da cultura. O ponto de colheita para determinação
da altura, massa seca e determinação do N foliar foi realizado em três épocas: aos 64 dias após a
emergência, 137 dias após a emergência e 165 dias após a emergência. Observa-se que, os cortes foram
programados para os 60, 120 e 150 dias após a emergência. Mas, devido às medidas de Biosegurança
que foram obedecidas de acordo com os decretos municipal, estadual e federal, que estabeleceram o
fechamento das instituições de ensino devido a pandemia, aconteceu assim o atraso, até se conseguir
organizar todas as medidas de segurança cabíveis e necessárias.
Na véspera dos cortes, foram realizadas medições da altura das plantas utilizando-se régua e fita
métrica (Figura 2). Após o corte, foi realizada a retirada das folhas, colocadas em sacos de papel
devidamente identificados com os números dos blocos e tratamentos. Levadas para estufa a uma
temperatura média de 60 a 70°C, após 72 horas, retiradas, pesadas e realizadas as anotações. Levadas
para o laboratório de análises para a verificação de teor de N.

Figura 2. Medição da altura das plantas antes do corte.

Fonte: Os Autores (2020).

O teor de N foliar da parte aérea das plantas de crotalária foi determinado de acordo com a
Embrapa (1999). Posteriormente, os dados foram submetidos à análise de variância e as médias
comparadas pelo teste Tukey ao nível de 1% de probabilidade. Utilizou-se o Software SISVAR
(FERREIRA, 2000).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A interação entre os métodos de adubação e as datas de corte não foi significativa para todas as
variáveis analisadas (Tabela 2).

Tabela 2 . Valores dos quadrados médios e coeficientes de variação (CV) dos valores de altura, massa seca e
teor foliar de Nitrogênio da Crotalaria spectabilis em função dos tratamentos T1, T2, T3, T4 e T5.

Fontes de Variação Quadrados Médios


GL Altura Massa seca Teor de N Foliar

Bloco 3 32,7599** 17631,4574* 16,1313ns


Tratamento 5 462,0553* 74452,0267** 7,2292ns
Erro 1 14 12,8586 5641,3544 6,9757
Época 2 1209,4611* 183481,1437* 44,9822*
ns ns
Tratamento x Época 10 12,1272 3160,8662 4,0709ns
Erro 2 37 15,1026 4184,6869 8,6470
CV1% 10,32 24,91 6,03
CV2% 11,18 21,45 6,71
ns
*Significativo a <1%; ** Significativo a <10%; e não significativo pelo teste F. Altura em cm; Massa seca em gramas; Teor
-1
de N foliar em g kg ; CV: coeficiente de variação.

Ao utilizar diferentes métodos de adubação, observa-se diferença significativa entre os tipos de


adubação e também entre as datas de corte sobre a altura da crotalária (Tabela 2 e 3). Na Tabela 3
verifica-se que as médias de altura das plantas de crotalária foram maiores para o tratamento com a
aplicação do coquetel homeopático. Quanto às épocas de corte, a terceira época influenciou em maiores
resultados de altura e a primeira época em menores resultados.

Tabela 3. Altura média das plantas de Crotalaria spectabilis em resposta a diferentes adubações
Métodos de adubação Altura (cm)

T1: Adubação convencional 31,18 cd


T2: Adubação com homeopatias 44,90 a

T3: Adubação com EM 35,29 bc

T4: Adubação com biofertilizante aeróbico 35,35 bc

T5: Adubação com todos os tratamentos 36,42 b

T6: Solo sem adubação 26,37 d


*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Tabela 4. Altura média das plantas de Crotalaria spectabilis em resposta às três épocas de corte após a
emergência das plantas
Épocas de corte Altura (cm)

E1: 29,30 c
E2: 32,17 b

E3: 42,77 a
*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores.

Os solos do estado de Minas Gerais apresentam, geralmente, baixos teores de nutrientes


(SERAFIM et al., 2011), que são insuficientes para um bom desenvolvimento da crotalária, pois
apresentam baixa CTC, elevada absorção específica de fosfatos, disponibilizando poucos nutrientes, e
consequentemente aumentando o alumínio. Assim, se faz necessário um manejo integrado do solo com
adubações e tratos culturais para proporcionar e manter sua fertilidade, para um melhor desenvolvimento
das plantas. Observando que, no solo de desenvolvimento do experimento, os tratos culturais são
diferentes dos convencionais, as roçadas são alternadas, as adubações são de natureza orgânica e verde,
nota-se que as características físicas desse solo difere das demais por apresentar um equilíbrio em sua
CTC devido ao alto teor de matéria orgânica presente no solo.
Conforme Andrade (2001), para equilibrar o solo e melhorar a produção, faz-se necessário o
uso de diferentes médotos de adubação, seja adubação verde, orgânica ou química. Porém, antes de se
utilizar fertilizantes mineral de fontes não renováveis, deve-se buscar fontes renováveis para um
agroecossistema sustentável, usando como por exemplo uma adubação verde, que pode favorecer
nutrientes residuais a culturas posteriores (GAMA-RODRIGUES et al., 2007).
De acordo com Mannetje (2011), a taxa de crescimento das plantas é influenciada diretamente
pelas condições edafoclimáticas às quais são submetidas, bem como, pela data de plantio e pela idade
de corte. Um estudo semelhante realizado por Leal et al. (2012) demonstrou que as plantas de crotalária
apresentaram um melhor rendimento quando o corte foi realizado entre 3 e 4 meses após a emergência,
na mesma época de plantio realizada neste estudo, corroborando o resultado obtido. Em relação aos
efeitos dos diferentes tratamentos para cada corte é possível observar que em todos três cortes as plantas
submetidas à adubação com homeopatias obtiveram os maiores valores de altura e tendo os menores
valores de altura as plantas que não receberam nenhum tipo de adubação.
Quanto aos valores médios de massa seca das plantas verifica-se na Tabela 2 que houve
diferença estatística entre os tratamentos e entre as datas de corte. A adubação com homeopatia foi o
método que influenciou em maiores valores de massa seca nas plantas de crotalária (Tabela 5). No que
se refere às datas de corte nota-se que o terceiro corte não diferenciou do segundo corte e proporcionaram

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

os maiores valores quando comparados com os resultados obtidos no primeiro corte (Tabela 6).

Tabela 5. Valores médios de massa seca das plantas de Crotalaria spectabilis em resposta a
diferentes adubações
Métodos de adubação Massa seca (gramas)

T1: Adubação convencional 253,13 bc


T2: Adubação com homeopatias 430,67 a

T3: Adubação com EM 324,58 b

T4: Adubação com biofertilizante aeróbico 298,68 bc

T5: Adubação com todos os tratamentos 315,50 b

T6: Solo sem adubação 198,16 c

*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores.

Tabela 6. Altura média das plantas de Crotalaria spectabilis em resposta às três épocas de corte
após a emergência das plantas.
Épocas de corte Massa seca (gramas)

E1: 200,62 b
E2: 349,88 a

E3: 354,17 a
*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores.

Alguns trabalhos atribuíram à Crotalaria spectabilis como uma espécie que apresenta elevada
produtividade de matéria seca (MENEZES; LEANDRO, 2004; COSTA et al., 2012; MENEZES et al.,
2009; SORATTO et al., 2012). Esta observação ressalta a eficiência da adubação com homeopatia na
crotalária visando obter maiores níveis de produtividade. Na Índia, a crotalária semeada no período pré-
monção variou entre 22 e 27 t ha-1 (TRIPATHI et al., 2013). Em Cuba, foi possível obter 3,4 t MS ha-
1
em 2 cortes (MACHADO et al., 1994). Em todo o mundo, o rendimento médio de matéria verde é de
18-27 t ha-1 e o rendimento de forragem é de cerca de 5-19 t ha-1 (SARKAR et al., 2015). Na Tailândia,
quando cultivado como adubo verde após o arroz, a crotalária rendeu 2 t ha -1 de MS de alta qualidade
em 6-8 semanas (FAO, 2017).
De forma geral, percebe-se que a utilização de preparados homeopáticos na produção vegetal
age diretamente nos processos fisiológicos. Segundo (ROSSI et al., 2004) os preparados homeopáticos
atuam como indutores de resistência a insetos e pragas a auxiliam na manutenção da produtividade
através da produção de metabólitos secundários. Estes metabólitos são determinantes nas preferências

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ou não das pragas e doenças pelo hospedeiro.


Em um trabalho conduzido por Andrade e colaboradores 2000, foi observado que a aplicação
de preparados homeopáticos de Justicia carnea (Acanthaceae) influenciaram significativamente a
produção de cumarina atuando no mecanismo de resistência da planta. Rupp e colaboradores (2012)
relataram aumento da produtividade de pêssegos após tratamento com preparado homeopático de
Staphysagria 6CH por resultarem na redução da incidência de larvas de mosca-das-frutas.
Outro tratamento que apresentou resultados significativos para o crescimento das plantas foi o
com biofertilizantes. Percebe-se que cada dia mais, o uso de fertilizantes orgânicos vem sendo estudado
e aplicado em diversas variedades de vegetais (SEDIYAMA et al., 2014; ARAÚJO et al., 2007), por
proporcionarem melhorias nas características produtivas dessas plantas. Esses fatos têm encorajado
pesquisadores e produtores rurais a experimentarem biofertilizantes preparados a partir da digestão
aeróbica ou anaeróbica de materiais orgânicos, como adubo foliar em substituição aos fertilizantes
minerais.
Como afirmou Bernardo e Bettiol (2010), a comunidade microbiana encontrada em
biofertilizantes é variável e depende do processo (aeróbio ou anaeróbio) e do substrato utilizado na sua
produção. Nos biofertilizantes são encontradas principalmente bactérias, tais como Bacillus e
Pseudomonas, que são organismos estudados para o controle biológico de diversas doenças de plantas.
Por outro lado, os biofertilizantes proporcionam melhoria nas propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo e, quando aplicados sobre as folhas, podem contribuir para o suprimento equilibrado
de macro e micronutrientes (MEDEIROS et al., 2007; ALVES et al., 2009; RODRIGUES et al., 2009;
PATIL, 2010) permitindo que o vegetal desenvolva todo o seu potencial genético e produtivo. Seu
emprego na forma líquida proporciona maior absorção dos nutrientes necessários para as plantas, isto
pode contribuir para elevar a produtividade das culturas.
Dentre os nutrientes importantes para as leguminosas está o K. A exigência de K para o ótimo
crescimento das plantas pode variar entre 20 a 50 g kg-1 de massa seca do vegetal. De acordo com
Prezotti e colaboradores (2019), as plantas deficientes em K apresentam colmos finos, raquíticos e pouco
resistentes ao acamamento, as folhas são pouco desenvolvidas e em fase mais avançada de deficiência
ocorre a clorose e posterior necrose nas pontas e nas margens, afetando assim a produtividade. Os
mesmos autores também afirmaram que as plantas em condições de carência deste nutriente apresentam
turgidez reduzida, e sob deficiência de água tornam-se flácidas, sendo pouco resistentes à seca e mais
susceptíveis ao ataque de fungos.
Dessa forma, apesar da fertilidade existente no solo, deve-se considerar a utilização de uma
adubação na crotalária para suprir ou diminuir as exigências nutricionais das plantações, havendo a
necessidade de complementação com a utilização de outras fontes de adubos minerais e/ou orgânicas.
Quanto aos teores de N foliar observa-se na Tabela 2 e 7 que não houve diferença entre os
tratamentos, sendo possível observar diferença apenas entre as épocas de corte para esta variável. Era
esperado que os valores de N foliar diminuíssem de acordo com o aumento da idade de corte, uma vez

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

que os teores são maiores em plantas mais jovens (LEAL et al., 2012), na presente pesquisa foi
constatado que os maiores valores médios de N foliar foram encontrados nas plantas no terceiro e no
segundo corte (Tabela 8).

Tabela 7. Teores médios de N foliar das pla ntas de Crotalaria spectabilis em resposta a
diferentes adubações
Métodos de adubação Massa seca (gramas)

T1: Adubação convencional 44,49 a


T2: Adubação com homeopatias 43,96 a

T3: Adubação com EM 42,73 a

T4: Adubação com biofertilizante aeróbico 42,82 a

T5: Adubação com todos os tratamentos 44,03 a

T6: Solo sem adubação 44,40 a

*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores.

Tabela 8. Teores médios de N foliar das plantas de Crotalaria spectabilis em resposta às três
épocas de corte após a emergência das plantas.
Épocas de corte Massa seca (gramas)

E1: 42,79 b
E2: 43,32 ab

E3: 45,38 a

*Médias seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo testede Tukey ao nível de 1% de probabilidade.
Fonte: Os autores.

Tais resultados diferem dos obtidos por Leal e colaboradores (2012), que observaram uma
diminuição significativa nos teores de N foliar nas plantas cortadas aos 4 meses. A crotalária tem o
potencial de melhorar as propriedades, de construir matéria orgânica e sequestrar carbono (SANKAR et
al., 2015). Percebe-se que a crotalária pode fixar cerca de 50-60 kg N ha-1 dentro de 60-90 dias de
cultivo. Fornece 60 kg N ha-1 ao solo quando é utilizado como adubo verde (SARKAR et al., 2015), ao
observar os resultados obtidos nesta presente pesquisa, entendemos a importância de se utilizar métodos
de fertilização como por exemplo o uso de homeopatias, microrganismos eficientes (EM),
biofertilizantes aeróbios e tratos culturais visando a sustentabilidade do solo melhorando assim, cada
vez mais o desenvolvimento das plantas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CONCLUSÃO
O primeiro corte das plantas de Crotalaria spectabilis apresentou os menores valores de altura,
massa seca e teor de nitrogênio foliar.
O tratamento com a adubação homeopática demonstrou maior potencial no aumento da altura e
massa seca da Crotalaria spectabilis.
Os teores foliares de nitrogênio não tiveram alterações entre as diferentes adubações utilizadas
neste estudo.

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Página 150
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ANEXOS

01- Abertura dos sulcos para o plantio

Fonte: Os autores

02- Irrigação manual após a semeadura.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

03- Três dias após emergência.

Fonte: Os autores

04- Organização em tratamentos e blocos.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

05 - Quinze dias após a emergência.

Fonte: Os autores

06- Próximo ao primeiro corte.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

07- Retirada das folhas dos ramos para secar.

Fonte: Os autores

08- Secagem das folhas na estufa do laboratório do IF Sudeste de Minas de Gerais, Campus
Manhuaçu.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

09- Aferindo o peso da massa seca no laboratório do If Sudeste de Minas Gerais, Campus
Manhuaçu.

Fonte: Os autores

10- Cinco dias após o corte.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

11- Cento e noventa e oito dias após a emergência. Já havia terminado o experimento, estava na
hora de fazer a roçada final.

Fonte: Os autores

12- Após a roçada final.

Fonte: Os autores

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 10

DESEMPENHO VEGETATIVO DO FEIJOEIRO COMUM


CULTIVADO SOB DÉFICIT HÍDRICO

Chansislayne Gabriela da Siva; Camila Aparecida da Silva Martins.

RESUMO: O feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.) é um alimento de alto valor


nutritivo por apresentar elevado conteúdo proteico, além de ser uma cultura
de grande importância socioeconômica. Adisponibilidade de água no solo
afeta diretamente seu crescimento, desenvolvimento e produção, assim,
objetivou-se avaliar o efeito do déficit hídrico na cultivar BRS Pontal,
cultivada em um Latossolo Vermelho-Amarelo, na fase de enchimento de
grãos, por ser um dos principais fatores limitantes para aumento de
produtividade do feijoeiro. Foi conduzido um experimento em esquema de
parcelas subdivididas, sendo as parcelas um fatorial 2 x 4, onde o fator
capacidade de campo apresentou dois níveis (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 =
0,033 MPa) e o fator déficit hídrico no solo apresentou quatro níveis (DH =
0%, DH = 20%, DH = 40% e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO
No Brasil a produção de feijão em 2018/2019 foi de 3.020.974 kg, com uma
produtividade de 1.032 em Kg ha-1 (CONAB, 2020). O feijão-comum (Phaseolus vulgaris L.)
é um alimento de alto valor nutritivo por apresentar elevado conteúdo proteico, além de ser uma
cultura de grande importância socioeconômica, e uma das principais fontes de proteína vegetal
consumida pela população de menor poder aquisitivo (ARAÚJO et al., 2015).
O crescimento das plantas é afetado por diversos estresses que tendem a provocar o
desequilíbrio na interação solo-água-planta-atmosfera, dentre ele destaca-se o estresse hídrico,
decorrente da redução da disponibilidade de água no solo, que ocasiona alterações anatômicas,
morfológicas, fisiológicas e bioquímicas (GAAFAR et al., 2020).
As mudanças no estado hídrico das plantas podem afetar processos fisiológicos, tais
como: transpiração, fotossíntese e respiração (Taiz; Zeiger, 2017), o que afeta diretamente o
crescimento, desenvolvimento da cultura do feijoeiro por meio de alterações da folha, além de
reduzir a abertura estomática e causar mudanças nas vias bioquímicas associadas à fixação de
CO2, assim proporciona uma redução na produtividade em diferentes proporções (SÁNCHEZ-
REINOSO et al., 2018).
Dentro desse contexto, a irrigação é uma das técnicas que pode contribuir com o
aumento da produção do feijoeiro. Mas, o uso indevido da água disponível no solo aliado às
mudanças climáticas, requer um planejamento agrícola para implementação de estratégias de
manejo da cultura que possam proporcionar melhor aproveitamento dos recursos hídricos
disponíveis (HUSEN ET al., 2017). Ante o exposto, objetivou-se avaliar o efeito do déficit
hídrico na fase de enchimento de grãoes do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, cultivado
em um Latossolo Vermelho-Amarelo.

METODOLOGIA
O experimento foi conduzido em ambiente protegido, do Centro de Ciências Agrárias e
Engenharias da Universidade Federal do Espírito Santo (CCAE/UFES), localizado no
munícipio de Alegre, Espírito Santo.
A espécie vegetal utilizada foi Phaseolus Vulgaris L., cultivar BRS Pontal, pertencente
ao grupo comercial do tipo Carioca, que foi cultivada em vaso plástico com capacidade de 8
litros (L).
O experimento foi instalado no esquema fatorial 2 x 4, onde o fator capacidade de campo
apresentou dois níveis (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 = 0,033 MPa) e o fator déficit hídrico no
solo apresentou quatro níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH = 60%) em um

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delineamento inteiramente casualizado, com três repetições, totalizando 24 unidades


experimentais.
Para a realização do experimento, foram coletadas amostras deformadas de um
Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) na profundidade de 0,00 - 0,20 m, no município de
Alegre-ES. O solo foi seco ao ar, destorroado e passado em peneira de 2,0 mm para obtenção
da terra fina seca ao ar (TFSA) e destinadas às análises física e química dos solos no Laboratório
de Análise de Solos do CCAE/UFES, conforme a metodologia da Embrapa (2017).
Os atributos físicos e químicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA) estão
apresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.

Tabela 1. Atributos físicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA)


Granulometria(1)
Solo Ds(2) Dp(3) PT(4)
Areia Silte Argila
------------------ % ----------------- ------- kg dm-3 ------- -- m3 m-3 --
LVA 72 8 20 1,23 2,22 0,45
(1)
Método da Pipeta (Agitação Lenta): Areia (⌀ > 0,05 mm); Silte (⌀ de 0,05 - 0,002 mm); Argila (⌀ < 0,002 mm);
(2) (3)
Ds = Massa específica do solo: Método da Proveta; Dp = densidade de partículas: Método do Balão
Volumétrico; e (4) PT = Porosidade Total: 1 - (Ds/Dp) (EMBRAPA, 2017).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2021).

Tabela 2. Atributos químicos do Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA)


MO P K Na Ca Mg H + Al SB CTC V
Solo pH
(g kg-1) (mg dm-3) ------------- cmolc dm-3 ------------ (%)
LVA 5,85 15,99 1,79 142,00 2,00 1,23 0,86 4,87 2,47 7,34 33,65
Extração e determinação: pH em água (1:2,5); MO: dicromato de potássio (1 mol L -1) e titulação pelo sulfato
ferroso (0,5 mol L-1); P: Mehlich-1 e colorimetria; K: Mehlich-1 e espectrofotometria de chama; Ca e Mg: KCl (1
mol L-1) e espectrometria de absorção atômica; Al: KCl (1 mol L-1) e titulometria; e H + Al: acetato de cálcio (0,5
mol L-1) (EMBRAPA, 2017).
Fonte: Elaborado pelo próprio Autor (2021).

A calagem foi realizada em cada unidade experimental, por meio da aplicação de 10 g


de calcário dolomítico (PRNT = 96%) conforme a metodologia proposta por Prezotti et al.
(2007) e a adubação foi realizada por meio da aplicação de 3,5 g de sulfato de amônio (21% de
Nitrogênio), 10,5 g de superfosfato simples (19% de P2O5) e 1,8 g de cloreto de potássio (58%
de K2O), de acordo com a metodologia proposta Novais et al. (1991).
Realizou-se a semeadura das sementes certificadas de feijãocomum no mês de abril de
2018, na qual foram semeadas quatro sementes por vaso e aos 15 dias após a semeadura

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realizou-se um desbaste para manter a planta mais vigorosa em cada vaso. A análise de
crescimento foi realizada na fase de enchimento de grãos, ou seja, fase R8 da cultura, que
corresponde a aproximadamente 65 dias após a emergência (DAE)
O teor de umidade do solo referente à capacidade de campo nas tensões de 0,010 MPa
e de 0,033 MPa e da umidade do solo no ponto de murcha permanente na tensão de 1,5 MPa
do Latossolo Vermelho-Amarelo, foram obtidos por secamento, conforme a metodologia
descrita pela Embrapa (2017), a partir de amostras deformadas, previamente peneiradas, que
depois de saturadas por no mínimo 12 horas, foram levadas à câmara de pressão de Richards
com placa porosa para estabilização, adotando-se um tempo não inferior a três dias e posterior
determinação da umidade gravimétrica (U). A umidade volumétrica (θ) para cada uma das
tensões foi obtida pelo produto da umidade gravimétrica pela densidade do solo (θ = U. Ds).
A água disponível (AD) foi calculada observando-se os valores de umidade volumétrica
na curva de retenção de cada solo para a capacidade de campo (Cc) determinada nas tensões de
0,010 MPa (TCc1) e 0,033 MPa (TCc2) e para o ponto de murcha permanente (Pmp) na tensão
de 1,5 MPa, como pode ser visto na Equação 1 (Eq. 1).
AD = Cc – Pmp (Eq. 1)
Em que:
AD = água disponível no solo;
Cc = umidade volumétrica nas tensões de 0,010 MPa (TCc1) e 0,033 MPa (TCc2); e
Pmp = umidade volumétrica residual na tensão de 1,5 Mpa.
A partir da água disponível no solo, foram estabelecidas as umidades dos déficits
hídricos de 20%, 40% e 60% (DH = 20, 40 e 60%), destinadas ao cálculo da lâmina de irrigação,
conforme a metodologia descrita por Mantovani, Bernardo e Palaretti (2009). As lâminas de
irrigação a serem aplicadas para elevar o teor de umidade do solo (Ua) à capacidade de campo
nos déficits de 20%, 40% e 60% da AD, foram calculadas pela Eq. 2:
L= [(Cc – Ua)/10] x Ds x Z (Eq.2)
Onde:
L = Lâmina de irrigação, em mm;
Cc = umidade do solo na capacidade de campo, % em peso;
Ua = umidade atual do solo, % em peso;
Ds = densidade aparente do solo, em g cm-3; e
Z = profundidade do sistema radicular, em cm.
Para transformar a lâmina de irrigação (L) em volume (mL vaso-1), multiplicou-se a
lâmina de irrigação pela área do vaso (0,032 m2). Foi realizada a padronização da massa de

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todos os vasos após a semeadura. Após o período destinado ao estabelecimento das plantas,
coletou-se uma amostra de solo dos vasos destinada à determinação da umidade do solo pelo
método termogravimétrico (EMBRAPA, 2017) e em seguida foi reposta a mesma quantidade
de solo no vaso.
Foi elevado o teor de umidade do solo à capacidade de campo determinada na tensão de
0,010 MPa pela câmara de pressão de Richards, com posterior pesagem dos vasos. Uma vez
estabelecido o peso dos vasos e correspondente umidade da TCc1 (0,010 MPa), foi determinado
os pesos dos vasos na TCc2 (0,033 MPa) e os déficits hídricos de 20%, 40% e 60% de todos os
níveis da capacidade de campo do solo de textura média em estudo. Para tanto, foi realizado o
monitoramento da umidade do solo e pesagem dos vasos a cada 12 horas, até que fossem
obtidos os teores de umidade de cada tratamento.
O estabelecimento e controle do teor da umidade dos déficits hídricos da Cc foi
realizado pelo monitoramento do peso do vaso da repetição 1 (R1) de cada tratamento,
incluindo solo, planta e umidade. As irrigações foram realizadas manualmente por diferença de
pesagem, sempre no horário de 6:00 às 8:00 horas, para que a umidade do solo fosse elevada
até o nível de umidade referente aos níveis de déficit hídrico em estudo.
As análises de crescimento foram realizadas aos 65 dias após a emergência (DAE), na
fase de enchimento de grãos (R8), com avaliação de massa seca total (MST), área foliar (AF),
número de folíolos por planta (NFP) e comprimento médio do caule principal (CCP).
Para obter a massa seca total realizou-se um corte no caule das plantas próximo a
superfície do solo, em seguida, o material vegetal coletado foi acondicionado em sacos de papel
e encaminhados para estufas de ventilação forçada na temperatura de 75°C por 72 horas, para
determinação da massa seca da parte aérea e massa seca radicular, onde as raízes foram
separadas do solo por lavagem em água corrente, com auxílio de uma peneira com malha de
0,005 mm. A área foliar foi determinada a partir de um medidor de área foliar, modelo LI-300,
o número de folíolos por planta foi determinado por meio de contagem direta e o comprimento
do caule principal foi determinado utilizando-se uma fita métrica.
Os dados foram submetidos à análise de variância (p ≤ 0,05) e quando significativos foi
utilizado o teste F (p ≤ 0,05) para o fator tensão, que apesar de ser um fator quantitativo, não
possui grau de liberdade suficiente para realização da análise de regressão, pelo fato de
apresentar apenas dois níveis e a análise de regressão, para o fator déficit hídrico. Os modelos
foram escolhidos com base na significância dos coeficientes de regressão, utilizando-se o teste
t de Student, ao nível de 5% de probabilidade e pelo coeficiente de determinação. As análises
estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa Sisvar (FERREIRA, 2011).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Pela análise de variância (Tabela 3), observa-se que houve interação entre os níveis de
tensão e de déficit hídrico no solo, para as variáveis: massas seca total (MST), número de
folíolos por planta (NFP) e comprimento médio do caule principal (CCP), com exceção da área
foliar (AF) que não apresentou interação significativa entre os fatores em estudo (p > 0,05) na
fase de enchimento de grãos do feijoeiro comum, cultivado em Latossolo Vermelho-Amarelo
de textura média.

Tabela 3 - Resumo da análise de variância de massa seca total (MST), área foliar (AF), número de folíolos por
planta (NFP) e comprimento médio do caule principal (CCP) do feijoeiro comum, na fase fenológica R8 1

Quadrados médios
Fonte de variação GL
MST AF NFP CCP

Tensão 1 1247,8347* 580223,3745* 640,6667* 0,250104*

Déficit Hídrico 3 1687,3882* 4119615,0282* 1789,9444* 0,134271*

Tensão*Déficit Hídrico 3 28,1025* 31641,9251ns 26,0000* 0,017137*

Resíduo 16 5,0676 18236,7905 4,2083 0,000467

Média Geral 86,06 4967,20 81,08 1,41

Coeficiente de Variação (%) 2,62 2,72 2,53 1,54


1R8 – Enchimento de grãos.
*Significativo a 5%; e ns não significativo.
Fonte: Autores, 2021.

É possível verificar na Tabela 3 que houve efeito significativo (p < 0,05) para os níveis
de tensão utilizados para definir a umidade do solo na capacidade de campo e para os níveis de
déficit hídrico em todas as variáveis analisadas (p<0,05) na fase de enchimento de grãos do
feijão-comum cultivado em Latossolo Vermelho-Amarelo (LVA). Estes resultados são
explicados pelo fato de que o estresse hídrico pode causar severa inibição da fotossíntese, em
razão da maior resistência difusiva e da consequente redução na assimilação do CO2, o que
resulta em menor crescimento das plantas (TAIZ & ZEIGER, 2017).
A disponibilidade hídrica limita tanto o crescimento como desenvolvimento do
feijoeiro, que justifica uma redução da produção da cultura, diante um conjunto de respostas
morfológicas, fisiológicas e bioquímicas (MAGALHÃES et al., 2019) como observado na

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Tabela 3, pois as variáveis massa seca total, número de folíolos por planta, comprimento médio
do caule principal e área foliar apresentaram decréscimos significativos (p<.0,05) quando as
plantas foram expostas aos maiores níveis de déficit hídrico.
Na Tabela 4, notam-se respostas significativas (p < 0,05) para massa seca total, número
de folíolos por planta e comprimento médio do caule principal analisados na fase fenológica de
enchimento dos grãos do feijoeiro comum submetido a diferentes níveis de tensão para
determinação da umidade do solo na capacidade de campo. Observa-se que à medida que ocorre
aumento do déficit hídrico no solo há uma diminuição dos valores médios observados para as
variáveis de crescimento, tanto na tensão de 0,010 MPa (TCc1), quanto na tensão de 0,033 MPa
(TCc2).

Tabela 4 - Valores médios obtidos para massa seca total (MST), número de folíolos por planta (NFP) e
comprimento médio do caule principal (CCP), em função dos níveis de tensão considerados para umidade do solo
na capacidade de campo (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 = 0,033 MPa), para cada nível de déficit hídrico no solo (DH
= 0, 20, 40 e 60%), na fase fenológica R8¹ do feijoeiro comum.
Déficit Hídrico (%)
Tensão
0 20 40 60

Massa seca total (g)

TCc1 111,1716 a* 102,8633 a 88,8000 a 70,2333 a

TCc2 98,2333 b 83,0766 b 73,3466 b 60,7266 b


Número de folíolos
TCc1 105,6666 a 91,0000 a 80,0000 a 68,3333 a
TCc2 95,6666 b 85,0000 b 70,6666 b 52,3333 b
Comprimento do caule principal (m)
TCc1 1,6300 a 1,5400 a 1,4600 a 1,4000 a
TCc2 1,5200 b 1,3800 b 1,2700 b 1,0433 b
1R8 – Enchimento de grãos.
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas, não diferem significativamente entre si pelo teste F (p < 0,05).
Fonte: Autores, 2021.

Um dos fatores responsáveis pela regulação dos estômatos é a água, pelo fato de ser
essencial em vários processos fisiológicos e metabólicos, entre os quais estão o crescimento
vegetal (SOUZA et al., 2019). À medida em que aumenta a tensão da água no solo diminui a
sua disponibilidade. Nas Tabelas 4 e 5 é possivel observar que na tensão de 0,010 MPa o
feijoeiro apresentou melhor desempenho quando comparando com a tensão de 0,033 MPa, o
que demostra que os níveis de tensão em estudo afeta significativamente o crescimento do

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

feijoeiro.
Nota-se uma diferença significativa (p < 0,05) para as duas tensões em estudo, o que
proporcionou uma redução de 6% na área foliar na tensão de 0,033 Mpa (TCc2) em relação as
plantas que receberam a tensão de 0,010 Mpa (TCc1), pelo fato da água disponível no solo com
a TCc1 ser superior ao solo submetido a TCc2, o que pode ter contribuído para obtenção dos
resultados apresentados na Tabela 5.

Tabela 5 - Valores médios de área foliar (AF) em função dos níveis de tensão (TCc1 = 0,010 MPa e TCc2 =
0,033MPa) do feijoeiro comum, na fase fenológica R8 1
Tensão Área Foliar (cm²)

TCc1 5.122,6825a*

TCc2 4.811,7110 b
1R8 – Enchimento de grãos.
*Médias seguidas de mesma letra, minúscula nas colunas, não diferem significativamente entre si pelo teste F (p < 0,05).
Fonte: Autores, 2021.

Verifica-se na fase fenológica de enchimento de grãos que os níveis de déficit hídrico


no solo, influenciaram significativamente o acúmulo de massa seca total, o número de folíolos
por planta e o comprimento médio do caule principal, que foram decrescentes tanto na tensão
de 0,010 MPa (TCc1), quanto na tensão de 0,033 MPa (TCc2) ao aumentar o nível de déficit
hídrico no solo (Figura 1).
Na Figura 1 observa-se que o déficit hídrico reduziu significativamente o acúmulo de
massa seca total e o número de folíolos por planta em ambas as tensões utilizadas, e as variáveis
apresentaram comportamento quadrático em função o déficit hídrico no solo.
O comprimento médio do caule principal foi reduzido linearmente em resposta ao
aumento do nível de déficit hídrico no solo (p < 0,05) independente da tensão utilizada, assim
a equação com melhor ajuste matemático foi a linear para representar o comprimento médio do
caule principal em função ao déficit hídrico no solo.

Figura 1 - Massa seca total (A), Número de folíolos por planta (B) e comprimento médio do caule principal (C),
em função dos níveis de déficit hídrico no solo níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH = 40% e DH = 60%), para cada
tensão (TCc1 e TCc2), na fase fenológica R8¹ do feijoeiro comum
(A) (B)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

(C)

Fonte: Autores, 2021.

Pelos resultados estimados com as equações quadráticas apresentadas na Figura 1-A,


verifica-se decréscimos de massa seca total de aproximadamente 8, 20 e 37% para a tensão de
0,010 MPa e de 15, 26 e 39% na tensão de 0,033 MPa das plantas cultivadas e submetidas aos
níveis de 20, 40 e 60% de déficit hídrico no solo, respectivamente, em relação às plantas não
submetidas ao déficit hídrico. Para Carvalho et al. (2016) a disponibilidade hídrica para o
feijoeiro comum é um fator decisivo no crescimento e para o acúmulo da fitomassa, o que
corrobora com os resultados apresentados, pois o déficit hídrico exerceu influência negativa
sobre o acúmulo de massa seca total.
Quanto maior acúmulo de massa seca considera-se que a planta desenvolveu melhor sua
parte área foliar e radicular, assim, terá uma quantidade representativa de fotoassimilados na
planta, o que resulta em um maior potencial para produção (POLANIA et al., 2016). Pelos
resultado obtidos verifica-se que o déficit hídrico afetou o acúmulo de biomassa, e ocasionou
menor crescimento da estrutura foliar, e consequentemente em menores valores de área foliar.
Segundo Abid et al. (2017) a seca severa modifica a morfologia vegetal no qual reduz

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

significativamente o comprimento, número e tamanho das folhas, como pode ser observado na
Figura 1-B, pois o número de folíolos por planta apresentou decréscimos de aproximadamente
14, 25 e 36% para tensão de 0,010 MPa e de 11, 26 e 46% para tensão de 0,033 Mpaem plantas
de feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, submetidas aos níveis de 20, 40 e 60% de déficit
hídrico no solo, respectivamente, quando comparado com as plantas não submetidas ao déficit
hídrico.
Houveram reduções de aproximadamente 6, 10 e 14% para o comprimento médio do
caule principal na tensão de 0,010 MPa e de 10, 18 e 32% na tensão de 0,033 MPa de feijoeiro
comum submetido ao nível de 20, 40 e 60% de déficit hídrico no solo, respectivamente, em
relação às plantas não submetidas ao déficit hídrico (Figura 1-C). Segundo Ammar et al. (2015)
a redução da altura da planta pode ser interpretada como um dos mecanismos de resistência à
seca, onde a planta interrompe o fluxo de água do xilema para as células alongadas
circundantes, que regula a fase de alongamento celular.
A área foliar decresce linearmente à medida em que ocorre aumento do nível de déficit
hídrico no solo, onde um déficit hídrico de 60% proporcionou uma redução média de 32%
quando comparada com a planta que não foi submetida ao déficit hídrico (Figura 2). Este
resultado se deve ao fato de que o déficit hídrico reduz relativamente o teor de água nas folhas,
e geraum estresse osmótico que reduz a expansão foliar (GRANGAH et al., 2020).

Figura 2 – Área foliar (AF), em função dos níveis de déficit hídrico no solo níveis (DH = 0%, DH = 20%, DH
= 40% e DH = 60%), fase fenológica R8¹ do feijoeiro comum

Fonte: Autores, 2021.

Para a área foliar, a redução foi da ordem de 13, 24 e 32% para as plantas submetidas
aos níveis de 20, 40 e 60% de déficit hídrico no solo, respectivamente, em relação às plantas

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não submetidas ao déficit hídrico (Figura 2). Resultados semelhantes foram obtidos por Souza
et al. (2017) que observaram efeitos significativos do déficit hídrico no solo sobre a área foliar,
que foi reduzida ,em média, a 47% na fase reprodutiva do feijão-caupi.
O déficit hídrico e a tensão de água adotada para definir a capacidade de campo do solo
exerceram influências negativas nas variáveis em estudo, pois as plantas sofrem um conflito
em relação a sua necessidade de absorver CO2 e de conservar água, devido à perda de água e
entrada de CO2 serem pelas mesmas fendas e quando expostas a um déficit hídrico é ainda mais
difícil está relação (TAIZ & ZEIGER, 2017).
Resultado semelhantes foram obtidos por Conceição et al. (2018) ao trabalharem com
feijoeiro comum irrigado sob diferentes lâminas de irrigação verificaram que ao serem
submetidas à menor lâmina de irrigação, as plantas apresentaram menor altura em relação às
plantas irrigadas com uma maior lâmina. As plantas cultivadas sob condições de restrição
hídrica podem ter o crescimento, o desenvolvimento e a produção comprometidos, em função
da menor disponibilidade de água, que resulta em menor turgescência e expansão celular
(CARVALHO et al., 2016)
Os resultados são explicados pelo fato de que o déficit hídrico no solo afeta diretamente
a planta, onde seus efeitos primários são a redução do potencial hídrico, desidratação celular e
resistência hidráulica, que resulta em efeitos negativos para os processos fisiológicos e os
secundários são a redução da expansão celular e área foliar, redução das atividades celulares e
metabólicas, fechamento estomático seguido de perda de turgor das células, o que
consequentemente induz ao acúmulo de ácido abscísico (ABA), que promove o fechamento
estomático, reduz as trocas gasosas e inibe a fotossíntese (TAIZ; ZEIGER, 2017).

CONCLUSÃO
Na fase de enchimento de grãos do feijoeiro comum, cultivar BRS pontal, os níveis de
déficit hídrico no solo maior que 40% exercem efeitos negativos sobre as variáveis de
crescimento, independente da tensão utilizada na determinação da capacidade de campo.
O melhor desenvolvimento do feijoeiro comum, cultivar BRS Pontal, foi observado para
a umidade do solo na capacidade de campo determinada com a tensão de 0,010 MPa.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 11

IDENTIFICAÇÃO E DANOS DE Conotelus luteicornis


ERICHSON (COLEOPTERA: NITIDULIDAE): NOVA
PRAGA DO MARACUJAZEIRO-AZEDO NO ESTADO DO
ACRE

Rodrigo Souza Santos e Geraldo José Nascimento de Vasconcelos

RESUMO: O maracujazeiro-azedo possui importância econômica e social na


fruticultura nacional, especialmente na região Norte do Brasil, onde é
cultivado comumente em pequenas propriedades por produtores familiares.
Uma gama de insetos e ácaros são relatados associados á cultura no Brasil,
causando mais ou menos danos, de acordo com seus níveis populacionais.
Dentre essas pragas destaca-se o coleóptero Conotelus luteicornis Erichson,
o qual ataca as flores do maracujazeiro, causando abortamentos de flores e
frutos e prejuízos econômicos. Por se tratar de uma espécie registrada
recentemente no Brasil, há necessidade do conhecimento acerca de sua
correta identificação e medidas de controle. Assim, nesse capítulo são
abordados aspectos referentes à morfologia externa e danos causados por
essa espécie em maracujazeiro-azedo no estado do Acre, bem como
proposições de futuros estudos envolvendo essa espécie de nitidulídeo no
país.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO
Originário da região tropical da América do Sul, o maracujazeiro (Passiflora spp.;
Passifloraceae) é amplamente cultivado e comercializado no Brasil, com aproximadamente 150
espécies nativas registradas no País (BERNACCI et al., 2020). Na Amazônia, a espécie mais
cultivada é o maracujá-amarelo ou azedo, Passiflora edulis Sims (Passifloraceae), sendo seus
frutos utilizados, principalmente, para a produção de suco, doces, geleias, sorvetes e outros
produtos culinários (MORAIS et al., 2016). A coloração amarela ou alaranjada intensa da polpa
deve-se aos pigmentos carotenoides, os quais atuam como antioxidantes na prevenção de
doenças e processos de envelhecimento (CARVALHO et al., 2015).
O estado do Acre possui uma área plantada com maracujá de 139 ha, produção de 1.096
t e rendimento médio de 7,8 t ha-1. As maiores áreas plantadas encontram-se nos municípios de
Senador Guiomard, Rio Branco e Plácido de Castro que, juntas, respondem por 67% da área
plantada do estado (IBGE, 2019). A cultivar BRS Gigante Amarelo é uma das recomendadas
para o Acre por sua produtividade e qualidade dos frutos e foi obtida a partir de melhoramento
genético desenvolvido pela Embrapa Cerrados (ANDRADE NETO et al., 2015).
No Acre, a produção caracteriza-se pelo uso de pequenas áreas (de um a quatro
hectares), mão-de-obra familiar, baixo nível tecnológico e não realização da maioria dos tratos
culturais recomendados para a cultura (ANDRADE NETO et al., 2011). O caráter social da
cultura do maracujá é de grande relevância, uma vez que promove a geração de empregos,
absorvendo e fixando mão de obra no meio rural (SOUZA et al., 2002).
No Brasil, o cultivo de maracujá encontra-se cercado por problemas de ordem
fitossanitária, gerando prejuízos econômicos aos produtores. Entre as pragas há um numeroso
complexo de insetos e ácaros, que podem causar severos danos econômicos e comprometer essa
atividade agrícola, dependendo dos seus níveis populacionais. As lagartas desfolhadoras e os
percevejos sugadores são as principais pragas do maracujazeiro no Brasil (FADINI e SANTA-
CECÍLIA, 2000; PICANÇO et al., 2001; AGUIAR-MENEZES et al., 2002; LUNZ et al., 2006).
No Acre são relatados os seguintes insetos e ácaros, associados ao cultivo da ‘BRS
Gigante Amarelo’: ácaro-plano [Brevipalpus yorthesi Baker (Acari: Tenuipalpidae)], ácaro-
branco [Polyphagotarsonemus latus (Banks) (Acari: Tasonemidae)], lagarta-das-folhas [Dione
juno juno Cramer e Agraulis vanillae vanillae (L.) (Lepidoptera: Nymphalidae)], broca-da-
haste Philonis passiflorae (O’brien) e Philonis obesus (Boh.) (Coleoptera: Curculionidae),
moscas-das-frutas [Anastrepha pseudoparallela (Loew) (Diptera: Tephritidae)], percevejos
[Diactor bilineatus (Fabricius) e Leptoglossus gonagra (Fabricius) (Hemiptera: Coreidae)],
abelhas-cachorro [Trigona spinipes (Fabricius) (Hymenoptera: Apidae)], pulgões [Myzus

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

persicae (Sulzer) e Aphis gossypii Glover (Hemiptera: Aphididae)] e o besouro-da-flor-do-


maracujazeiro [Conotelus luteicornis Erichson (Coleoptera: Nitidulidae)] (ANDRADE NETO
et al., 2015; SANTOS e FAZOLIN, 2021; SANTOS et al., 2021). Todavia essas pragas também
ocorrem nas cultivares ‘BRS Rubi do Cerrado’ e ‘BRS Sol do Cerrado’, comumente cultivadas
no Estado.

METODOLOGIA
Em agosto de 2019 foi realizada uma visita técnica a um plantio comercial de
maracujazeiro cultivar BRS Gigante Amarelo, localizado no município de Senador Guiomard
(09º58’39,9” S; 67º58’38,0” O), o qual se encontrava com elevado índice de abortamento de
flores. O plantio foi instalado no ano de 2018 e as plantas receberam os tratos culturais
recomendados à cultura (ANDRADE NETO et al., 2015), com aplicação de produtos
fitossanitários a cada 15 dias.
Em um caminhamento aleatório no plantio no período matutino, foi analisado uma
amostra de dez flores em campo. As flores foram abertas, sendo verificada a presença de
pequenos coleópteros em seu interior (Figura 1), com um número médio de seis insetos por flor
analisada.
Os insetos foram coletados, acondicionados em frasco de vidro contendo etanol (70%)
e posteriormente identificados, com auxílio de literatura especializada e por comparação com
o holótipo da espécie.

Figura 1. Flor de maracujazeiro infestada por Conotelus luteicornis (Coleoptera: Nitidulidae) em plantio
localizado no município de Senador Guiomard, estado do Acre. Foto: Os autores.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os besouros foram identificados como Conotelus luteicornis Erichson (Coleoptera:


Nitidulidae) com base na comparação dos espécimes coletados no estado do Acre, com o
holótipo (espécime único padrão da descrição original de uma espécie) depositado na Coleção
Entomológica do Museu de História Natural, em Berlim, Alemanha.
O adulto de C. luteicornis mede aproximadamente 4,0 mm de comprimento, possui o
corpo alongado e coloração escura (POTIN et al., 2016) (Figuras 2A e 2B), antenas com 11
segmentos e clava de três antenômeros, inseridas entre os olhos e a base das mandíbulas, tarsos
pentâmeros, com o quarto artículo bastante reduzido. Os élitros são reduzidos, tipo
braquiélitros, expondo os últimos cinco escleritos do abdome. Apresenta o protórax bastante
destacado do corpo, maior que o mesotórax e o metatórax, os quais ficam recobertos pelas asas
(HABECK, 2002) (Figura 3).

Figura 2. Besouro-da-flor-do-maracuzajeiro, Conotelus luteicornis (Coleoptera: Nitidulidae), em hábito dorsal


(A) e lateral (B). Fonte: Taxonline – Rede Paranaense de Coleções Biológicas.

Protórax
Clava

Cabeça
Abdome Braquiélitro

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 3. Vista dorsal do besouro-da-flor-do-maracujazeiro, Conotelus luteicornis (Coleoptera: Nitidulidae).


Fonte: Jiří Hájek.

O gênero Conotelus abriga 25 espécies nativas do continente americano (WILLIAMS


et al., 1988). Espécies de nitidulídeos alimentam-se, comumente, de frutos em decomposição e
sucos fermentados de plantas e fungos, e algumas vivem em flores (ARNETT JUNIOR et al.,
2002). Espécies de Conotelus já foram registradas em várias plantas hospedeiras no Brasil e no
mundo como pode ser visualizado na Tabela 1.

Tabela 1. Espécies botânicas com registros de espécies pertencentes ao gênero Conotelus no Brasil e no mundo.
Local na
Espécie botânica Família Localidade Referência
planta
Monotagma
plurispicatum Marantaceae Amazônia Albuquerque (1974)
(Koern.) K. Shum.
Calystegia sepium Estados
Convolvulaceae Price e Young (2006)
(L.) Unidos
Ipomoea alba L.
Ipomoea batatas (L.)
Poiret
Ipomoea cairica (L.)
Sweet
Ipomoea congesta L. Convolvulaceae
Hawaii Nishida (1957)
Brown
Ipomoea crassicaulis
(Bentham) Robin
Ipomoea tuberosa L.
Merremia aegyptia
(L.) Urban
Hibiscus rosa- Flores
sinensis L. Malvaceae Hawaii Nishida (1957)
Gossypium sp.
Hibiscus spp. Malvaceae Austrália Lachance et al. (2001)
Gardenia
Rubiaceae
jasminoides Ellis
Canavalia
microcarpa (D.C.) Fabaceae
Piper
Hawaii Nishida (1957)
Stemmadenia
galeottiana (A. Apocynaceae
Rich.) Miers
Passiflora edulis f.
flavicarpa Degener Passifloraceae
Passiflora sp. Rondônia Potin et al. (2016)
Solanum
Solanaceae
lycopersicum L. Minas Gerais Haro (2011)
Tagetes erecta L. Asteraceae
Cedrela odorata L. Meliaceae Frutos Argentina Sanchez Velasquez

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

(1984)

Conotelus sp. foi registrado por Potin et al. (2016) associado a flores de maracujazeiro
no estado de Rondônia, Brasil. Azevedo et al. (2005) registraram outra espécie de nitidulídeo,
Brachypeplus sp. (Coleoptera: Nitidulidae), infestando flores de maracujazeiro, no estado do
Ceará, Brasil. Esses autores mencionam que alguns produtores de Serra da Ibiapaba, CE,
chegaram a encontrar mais de 100 insetos em uma mesma flor.
Os besouros atacam as flores do maracujazeiro e alojam-se nas sépalas, pétalas e corola,
de onde, por conta da sua alimentação, perfuram a base das sépalas até atingir o ovário da flor,
causando o abortamento floral. Também já foram observados besouros alimentando-se de
frutos em desenvolvimento, embora tenham preferência pelas flores. As larvas permanecem
abrigadas nas brácteas das flores (inclusive em flores secas), embora se movam ao longo da flor
à medida que se desenvolvem. Os frutos em desenvolvimento apresentam-se deformados e
escurecidos (POTIN et al., 2016; SANTOS et al., 2021). Na área visitada no Acre, também
foram verificados frutos enegrecidos e deformados, bem como significativo índice de
abortamento de flores, demonstrando o alto potencial danoso do ataque de C. luteicornis em
maracujazeiro.
Segundo relato de produtores do estado de Rondônia a perda econômica advinda do
ataque desses coleópteros em plantios comerciais de maracujá pode chegar a 80%. Embora haja
necessidade de se identificar de forma específica esses insetos registrados em Rondônia, as
perdas que ultrapassam o nível de dano econômico tornam essa praga relevante na cultura do
maracujazeiro. Ademais, as injúrias causadas pela alimentação desses insetos podem servir
como porta de entrada para patógenos oportunistas (POTIN et al., 2016).
Devido ao hábito das larvas e adultos de C. luteicornis, mesmo com aplicações
periódicas de produtos fitossanitários, a calda dificilmente atinge o besouro, pois a arquitetura
das estruturas florais acaba por proteger o inseto dos produtos.
Por se tratar de uma praga ainda pouco conhecida, as alternativas de manejo ainda não
estão bem estabelecidas. Porém, no controle cultural, é recomendada a limpeza do pomar,
eliminando todo material que possa servir de abrigo para o inseto, como flores secas e flores e
frutos abortados. Essas medidas devem ser intensificadas durante a época chuvosa, devido a
maior ocorrência da praga nesse período (AZEVEDO et al., 2005).
Não há inseticida registrado para o controle de C. luteicornis no Brasil (AGROFIT,
2021). No entanto, Azevedo et al. (2005) sugerem que os inseticidas à base de fosforados,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

carbamatos e piretroide poderão ser empregados para o controle da praga em questão, desde
que possam ser registrados para a cultura.

CONCLUSÃO
Conotelus luteicornis demonstra ter um alto potencial danoso à cultura do
maracujazeiro-azedo no estado do Acre. Dessa forma, devem ser realizadas pesquisas para
compreender o nível de dano econômico, a dinâmica populacional, interação da praga com
fungos causadores de doenças, bionomia e ecologia da espécie, prospecção de inimigos naturais
associados, bem como o desenvolvimento de técnicas de controle, a fim de que sejam
recomendadas estratégias eficientes para o manejo desse besouro na região Amazônica e em
outras regiões produtoras de maracujá no Brasil.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 12

AGRICULTURA 4.0: UM REVISÃO SISTEMÁTICA


SOBRE A UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS
INTELIGENTES NA AGRICULTURA

Evandro da Silva dos Santos, Fernando Fidelis e Gilvan Moisés Bertollo

RESUMO: Através de uma revisão sistemática sobre a utilização de sistemas


inteligentes, objetivou-se, neste artigo, analisar as tecnologias empregadas
no desenvolvimento de ferramentas computacionais para a agricultura. Para
tal, buscou-se nas plataformas como Scopus, Web of Science, plataforma
Sucupira e SCIMago, artigos com elementos que auxiliam no
desenvolvimento de conceitos e tecnologias para as mais diversas atividades
rurais. A presente pesquisa destaca a importância do uso de sistemas
inteligentes no campona agricultura e mostrou diversas possibilidades de
utilização no agronegócio. Por fim, verifica-se que apesar de existirem
pesquisas de alta qualidade sobre sistemas aplicados à agricultura, ainda há
muito a ser abordado, pois trata-se de um vasto campo de pesquisa, e em
constante e rápida evolução, cujo enfoque pode trazer grandes
transformações no setor.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO
Durante a época pré-histórica, a agricultura era praticada com gravetos, foices, colheita
manual e caça de animais (IDOJE et al., 2021). A produção agrícola revolucionou a forma de
alimentação da civilização, porém, outrora era vista como apenas um trabalho de subsistência.
Devido aos baixos recursos tecnológicos e à baixa produtividade, ficou reconhecida
como “Feita à Mão”, hoje chamada de Agricultura 1.0, sendo ela derivada da indústria 1.0
(BRANCO, 2013).
Já a Agricultura 2.0, também derivada da indústria 2.0, incluiu as máquinas e a ciência
em seus processos, por volta da década de 50. Neste cenário, enfatiza-se o início da produção
em grande escala, o comércio global, o abastecimento de insumos, dentre outros (BRANCO,
2013).
Na indústria 3.0, com o surgimento da Agricultura 3.0, entre 1990 e 2010, começou-se
a introduzir no mercado ao conceito de automação e a sustentabilidade. É aí que entra também
a coleta de dados que auxiliam a produtividade do campo e ajudam os produtores rurais a
tomarem as melhores decisões (BRANCO, 2013).
Mas a nova era digital veio mesmo com a Agricultura 4.0, em meados de 2010. A
agricultura 4.0 está evoluindo rapidamente e se expandindo em vários campos, oferecendo
múltiplas oportunidades para agricultores e consumidores (SPANAKI et al., 2021). Dessa
forma, os produtores rurais estão aderindo cada vez mais as tecnologias (FACHIN, 2021), o
que ocasiona uma maior capacidade, planejamento e agilidade na tomada de decisão,
ocasionando uma alta produtividade, tanto na agricultura quanto na pecuária, ambas sob a
interferência e conexão de softwares e sistemas digitais às máquinas.
Para Neto (2009), planejar “é procurar antever as ações do futuro, de uma forma lógica
e organizada, fazendo com que a empresa rural torne seus objetivos mais claros, podendo
propiciar uma melhor coordenação de esforços para atingi-los”.
A tomada de decisões é de grande valia e importância para o produtor rural. Tudo tem
início no planejamento, quando há necessidade de definir como será o investimento em sua
agropecuária (REGINATO et al., 2017).
Segundo Mendes (2020), uma empresa rural sem boa gestão e organização pode entrar
em colapso rapidamente. Atualmente, com a digitalização dos processos e avanço da internet
no campo, pode-se encontrar diversas tecnologias que auxiliam os produtores rurais em
processos operacionais e gerenciais.
Uma das tecnologias que tem mais causando impacto no setor e auxiliando na coleta de
dados e tomada de decisão é a Internet de Tudo (IoE), que diferente da Internet das Coisas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

(IoT), vai além dos dispositivos físicos ao abarcar toda a conectividade que gira em torno desse
universo. Para Takahashi (2017) a IoE, por sua vez, abrange quatro fatores fundamentais, além
das coisas/objetos (things), inclui pessoas, dados e processos. De acordo com Idoje et al. (2021),
a agricultura mudou. Os agricultores agora podem monitorar suas fazendas remotamente de
seus smartphones e controlar dispositivos.
Porém, na maior parte das vezes, os produtores não possuem conhecimento necessário
para compreender adequadamente as evoluções tecnológicas de sua propriedade e dela retirar
as melhores analises possíveis. Portanto, o desenvolvimento de modelos conceituais que
auxiliam em compreensões mais eficazes dos compartilhamentos de dados e práticas de
gerenciamento, cujas políticas contextuais devem ser definidas para os controles de acessos, é
essencial (SPANAKI et al., 2021).
Assim, este artigo fornece uma ampla revisão do uso de tecnologias inteligentes em
agricultura e mostra algumas tecnologias de ponta para agricultura, incluindo Internet das
Coisas, computação em nuvem, aprendizado de máquina e inteligência artificial. Dessa forma,
objetiva analisar na literatura o uso de sistemas inteligentes em atividades agropecuárias e a
evolução tecnológica no agronegócio.

MATERIAL E MÉTODOS
Em um primeiro momento, pretendeu-se fazer uma análise sistemática sobre o uso da
sistemas inteligentes em termos técnicos e suas aplicações em empresas rurais, levando em
conta todas as atividades por ela desenvolvida. Não houve grandes dificuldades em encontrar
tais referencias, pois, há uma grande quantidade de compartilhamento desse tipo de informação,
tanto na internet, como em artigos de pesquisa cientifica. Porém, além de conteúdos técnicos,
observou-se uma grande quantidade de artigos conceituais, dessa forma, foram selecionados
para abranger uma ampla gama de ideias e conceitos por eles propostos á reflexão.
Desse modo, a busca limitou-se a trabalhos relacionados ao uso de IoT, Inteligência
Artificial e Machine Learning, em diferentes atividades do setor agrícola, a fim de analisar para
quais fins os sistemas estavam sendo utilizados. Considerando as palavras-chave definidas,
foram encontrados cerca de 90.559 artigos.
De acordo com o norteamento metodológico de Donato e Donato (2019) selecionou-se
os artigos que possuíam relação à temática da pesquisa, resultando em 15 artigos. Por fim a
leitura do documento, tanto seu resumo/abstract, como seu texto completo, na qual não foi
eliminado nenhum artigo, ficando então selecionados os 15 artigos.

Página 181
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Para a execução da revisão sistemática foram utilizadas as metodologias propostas por


Donato e Donato (2019), os quais indicam algumas etapas essenciais para a realização da
revisão.
O primeiro passo para realizar uma revisão sistemática é formular questões de
investigação (DONATO, DONATO, 2019). As questões que guiaram esta pesquisa foram:
a) Com qual finalidade os autores estão utilizando sistemas inteligentes no
agronegócio?
b) Como os autores estão aplicando sistemas inteligentes no agronegócio?

Foram selecionados os artigos, filtrados por palavras-chave e posteriormente reorganizados


por ano de publicação e Qualis, que por sua vez, fornece um indicativo qualidade dos artigos
stricto sensu e das pesquisas científicas.
Para as fontes das pesquisas, definiram-se as principais, conforme segue o Quadro 1.

Quadro 1 – Nomes e endereços eletrônicos das bases pesquisadas.


BASES PESQUISADAS ENDEREÇO ELETRÔNICO

Scopus https://www.scopus.com
Web of Science www.webofknowledge.com
Plataforma Sucupira https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/
SCImago Journal e Country Rank https://www.scimagojr.com/
Fonte: Autoria Própria, 2021.

Grande parte dos artigos encontrados são de 2021, totalizando 11. Foram encontrados
também 1 artigo de 2012, 1 artigo de 2018 e 2 artigos de 2020. Quanto as palavras-chave, foram
utilizadas várias combinações, a fim de conseguir os melhores resultados. Tais palavras-chave
estão dispostas no Quadro 2.

Quadro 2 – Relação das palavras utilizadas na busca em inglês.


PALAVRAS-CHAVE
IoT 85.392 resultados
IoT Farm 899 resultados
IoT Agriculture 2.956 resultados
Machine Learning Farm 1322 resultados
Fonte: Autoria Própria, 2021.

No Scopus, foram utilizadas as palavras-chave em inglês pois em português não são

Página 182
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

retornados resultados satisfatórios.


Os critérios de inclusão utilizados foram:
a) Artigos que mencionassem o uso da IoT para alguma atividade na agricultura;
b) Artigos que abrangessem áreas conceituais sobre sistemas inteligentes;
c) Artigos com metodologia claramente descrita.
Os critérios de exclusão foram:
a) Artigos que não apresentassem uma boa explanação sobre sistemas inteligentes
em seus resumos e/ou metodologia;
b) Artigos sem relação contextual com o tema estudado.

Os artigos foram, primeiramente, pré-selecionados. Selecionou-se então os artigos que


abordassem os sobre sistemas inteligentes em algum setor da agricultura. Os artigos foram
selecionados em função dos critérios de inclusão, e partir de seus respectivos resumos, que
depois de lidos e analisados em sua integralidade, foram inseridos como objetos de análise.
Foram, ainda, qualificados quanto a estratificação da produção científica dos programas
de pós-graduação do Brasil (Qualis Capes), no qual montou-se o gráfico com os respectivos
Qualis Capes.

Gráfico 1 – Qualis dos artigos

22 % A1
Sem Qualis 14%

B3
7%
B2
A2
7% B1
43%
7%

Fonte: Autoria Própria, 2021.

RESULTADOS E DISCUSSÕES
Verificou-se que a Plataforma Scopus, apresenta um grande número de resultados e um
excelente retorno de material conceituado. Entretanto, um aspecto negativo a essa base de
pesquisa é o fato de não permitir o acesso à informação de maneira ampla, limitando parte do
conteúdo a pesquisadores filiados a instituições públicas, ou mediante pagamento do material

Página 183
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

selecionado.
Dos 15 artigos selecionados, todos eram internacionais e escritos em inglês.
Considerando o ano de publicação, há um maior número de artigos selecionados em 2021. A
partir dos artigos que abrangiam o critério de inclusão, foi avaliada a classificação dos artigos
de acordo com o Qualis Capes. Este índice resultou em 14% de artigos A1, 42% em A2, 7%
em B1, 7% em B2, 7% B3 e ainda 22% sem Qualis, pois foram publicados em eventos não
qualificados na plataforma Sucupira. Os trabalhos selecionados estão listados no Quadro 3.

Quadro 3: Relação dos trabalhos selecionados de acordo com o Qualis, Ano e Revista.
TÍTULO DO ARTIGO QUALIS ANO REVISTA

How will the next-generation of sensor-based decision


A1 2021 Field Crops Research
systems look in the context of intelligent agriculture? A
case-study.

AI applications of data sharing in agriculture 4.0: A A1 2021 International Journal of


framework for role-based data access control. Information Management
Springer Science and
Throughput of distributed queueing-based LoRa for A2 2021
Business Media
long-distance communication.
Deutschland GmbH
Point pattern simulation modelling of extensive An A2 2021 Computers and
innovative IoT based system for precision farming. Electronics in Agriculture
Eurasip Journal on Wireless
Stable routing and energy-conserved data transmission A2 2021
Communications and
over wireless sensor networks.
Networking
Spray patterns and perceptive canopy interaction
A2 2021 Computers and Electronics
assessment of commercial airblast sprayers used in
in Agriculture
Pacific Northwest perennial specialty crop production.
Near ground platform development to simulate UAV
A2 2018 Computers and Electronics
aerial spraying and its spraying test under different
in Agriculture
conditions.
Computers and
A2 2012
Management systems and the Future Internet era. Electronics in
Agriculture
Survey for smart farming technologies: Challenges and B1 2021 Computers and Electrical
issues. Engineering
International Journal of
Internet of things-based agricultural mechanization using B2 2021 Agricultural and
neural network extreme learning on rough set. Environmental Information
Systems
IOP Conference Series:
Design and Implementation Low Cost of Photovoltaic B3 2020
Materials Science and
Monitoring System Network Based on LoRaWAN.
Engineering
Proceedings of 2021 2nd
Internet of Things (IoT); Machine learning; pre-harvest Sem qualis
2021 International Conference on
Loss; precision agriculture; soil moisture sensors; soil Interdisciplinar
Intelligent Engineering and
pH sensors; temperature sensors.
Management, ICIEM 2021
Sem qualis IOP Conference Series:
Evolution of Agritech Business 4.0 - Architecture and 2021
Interdisciplinar Earth and Environmental
Future Research Directions.
Science

Página 184
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Sem qualis
Internet of Things for the Future of Smart Agriculture: A 2021 IEEE-CAA Journal of
Comprehensive Survey of Emerging Technologies. Interdisciplinar Automatica Sinica

Sem qualis Proceedings of: 2020


Real Time Application of IoT for the Agriculture in the 2020 ICCCEEE 2020
Field along with Machine Learning Algorithm. Interdisciplinar

Fonte: Autoria Própria, 2021.

Com qual finalidade os autores estão utilizando sistemas inteligentes no agronegócio?

As tecnologias inteligentes na agricultura irão impulsionar a produção de safras


agrícolas e pecuária, uma vez que os sistemas autônomos serão capazes de controlar os
atuadores de forma eficaz, melhorar a utilidade, controlar o uso de recursos e garantir que os
produtos estejam em conformidade com os requisitos do mercado enquanto maximiza o lucro
e minimiza o custo de produção (IDOJE et al., 2021).
A agricultura inteligente refere-se ao uso de tecnologias como IoT para coleta de dados,
como por exemplo, dados meteorológicos, dados de monitoramento do crescimento da safra,
detecção precoce de doenças nas safras, prevenção de perdas de safras, dados eficazes de
colheita, dados de monitoramento dos padrões de comportamento do gado, localização dos
animais dentro e fora das fazendas, aumento de produção para colheitas e pecuária. IoT envolve
a conexão de dispositivos de hardware de rede, software e, mais importante, seres humanos que
trocam dados para fins específicos (IDOJE et al., 2021).
Contudo, multiplicados exponencialmente com o advento da internet, os dados são
fundamentais para proporcionar a inteligência inerente aos dispositivos conectados.
A coleta, análise e processamento das informações por meio de analises e computação
cognitiva constitui a alma da Internet de Tudo. Somente por meio da geração desses dados é
que os aparelhos são capazes de proporcionar experiências únicas aos usuários, facilitar a
tomada de decisões e aumentar o controle dos mecanismos, garantindo resultados mais
relevantes (IOTRIX, 2017).
Para Colaço et al. (2021) o desenvolvimento de sistemas de apoio à decisão com base
digital e com boa relação custo-benefício é um desafio chave na otimização de na gestão rural
e Gaikwad et al. (2021), explica que a aquisição de informações agrícolas em tempo real para
monitoramento e previsões de rendimento são tarefas desafiadoras. Os dados em tempo real
podem ser usados como entrada para o monitoramento da cultura e modelagem de rendimento.
Porém, para Spanak et al. (2021) a atenção deve ser voltara para as práticas de
gerenciamento e compartilhamento de dados devem impor políticas contextuais definidas para

Página 185
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

controle de acesso, abrangendo assim, um amplo campo relacionado a ética no


compartilhamento de informações e contornos para essa problemática.
Idoje et al. (2021), explana os principais campos onde futuras pesquisas podem ser
orientadas, e demonstra parcialmente a finalidade das mesmas, como por exemplo, rede de
sensores sem fio, agricultura inteligente baseada em nuvem, aplicação de IoT à lavoura,
produção de gado, pós-colheita, monitoramento de safras, monitoramento da atividade
pecuária, efeito do clima na agricultura, uso de inteligência artificial na agricultura, questões de
latência em transmissão de dados em fazendas inteligentes, melhoria da arquitetura de rede de
agricultura inteligente, incorporação de uma plataforma em nuvem para rede de cultivo,
Machine Learning para fazendas inteligentes durante o treinamento de dados nos nós de
extremidade, treinamento de nós de extremidade em rede de aprendizagem dentro de uma
fazenda inteligente.
Portanto, o uso de sistemas inteligentes passa primeiramente pelo crivo de coleta e
análise de dados, para então, serem elaboradas e desenvolvidas novas tecnologias que auxiliam
nas melhores tomadas de decisão.

Como os autores estão aplicando sistemas inteligentes no agronegócio?


Para Takahashi (2017) processos são os benefícios que os sensores podem trazer para
as indústrias. Processos são os pilares, e que considera o valor que todo esse ecossistema gera
para pessoas e empresas, “trata-se de estabelecer os processos adequados que possam aumentar
a relevância das relações e aumentar o valor gerado” (TAKAHASHI, 2017).
Primeiramente é importante analisar o funcionamento desses sensores em locais de
difícil acesso. Dessa forma, o setor de sistemas fotovoltaicos está em plena renovação exigindo
continuamente novas soluções que permitam ao usuário monitorar seus projetos à distância.
Um dos sistemas que atualmente está sendo implantado é conhecido como Internet das Coisas.
Através deste sistema, pretende-se que o utilizador possa conhecer em tempo real o estado dos
seus sistemas (MNATI et al., 2021), assim, garantido o funcionamento. SHUKRY (2021),
ressalta a necessidade, “o roteamento estável e a conservação de energia em uma rede de
sensores sem fio é um problema importante nos aplicativos da Internet das Coisas”.
Outro processo a ser analisado é a transmissão de dados. Para Lee (2021), o LoRa,
devido à sua vantagem de capacidade de comunicação de longo alcance, é promissor para a
Internet das Coisas (IoT) e comunicações espaço-ar-solo.
Não obstante, a utilização de algoritmos para mineração de dados também se faz
necessário como parte do processo. Todos são capazes de cultivar com a ajuda desse sistema,

Página 186
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

contribuindo na resolução de questões como a mineração de dados (ABDALLAH,


THANGADURAI, 2020).
Ou seja, a mineração de dados é essencial como parte do processo de desenvolvimento
tecnológico. A utilização de sensores é extremamente importante, pois atinge valores exatos
dos parâmetros a serem coletados, deixando de lado valores dedutivos sobre os mesmos.

CONCLUSÕES
As pesquisas mostraram que uma das principais finalidades da utilização de sistemas
inteligentes no agronegócio é a coleta de dados. Com eles, atenua-se a capacidade de elaboração
de conceitos e tomadas de decisões com inteligência artificial, podendo ser estas, determinadas
e modeladas conforme as necessidades regionais. Para tal, os autores mostraram a utilização de
redes sem fio, energia solar e sensores, para a coleta e envio dos mesmos.
Portanto, revisões sistemáticas feitas através de análises literárias com peso científico
considerável, demonstra excelentes resultados ao considerar a seleção dos melhores artigos na
área proposta, além de permitir uma ampla análise da evolução das metodologias empregadas
e da forma de tratamento sobre a temática no decorrer do tempo.
O aumento gradual de artigos na área é resultado da rápida evolução tecnológica e maior
oferta de material disponível na internet. Nota-se a predominância de artigos em inglês, sendo
que os autores destes artigos, em sua maioria, são de outros países e com número crescente de
publicações oriundas da China.
Existe a necessidade de fomento a pesquisas relevantes, e de um acelerado
desenvolvimento tecnológico, para que possamos avançar consideravelmente e de forma
competitiva no campo descrito.

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Página 189
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 13

GERENCIAMENTO DO VALOR AGREGADO: UMA


PROPOSTA COM A UTILIZAÇÃO DE PLANILHAS
WEB

André Assis Lôbo de Oliveira, Célia Márcia Gonçalves Nunes Lôbo

RESUMO: A globalização trouxe cenários complexos para o Gerenciamento


de Projetos que podem ser configurados, por exemplo, com equipes virtuais.
Neste contexto, o estudo de aplicativos e softwares que se utilizam das
facilidades proporcionadas pelas tecnologias web com contribuições ao
Gerenciamento de Projetos se torna relevante. Além disso, em muitos
cenários de projetos, é de grande importância reportar o projeto não apenas
em função do tempo, mas também em função do seu custo. Este artigo
propõe uma forma de realizar Gerenciamento do Valor Agregado (GVA), em
contribuição ao Gerenciamento de Custos de Projetos, por meio da utilização
de gráficos em planilhas web. Uma das justificativas para a elaboração desta
proposta consiste na percepção de dificuldades acerca da aplicabilidade do
GVA. Por esse motivo, a metodologia proposta descreve com maiores
detalhes os conceitos de GVA e demonstra sua aplicação prática. Os
resultados apresentados na pesquisa são considerados positivos por
demonstrar a construção de gráfica para a realização do GVA utilizando
planilhas web.

Página 190
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O Gerenciamento de Projetos pode ser definido como a programação, o planejamento e


o controle de tarefas integradas para atingir seus objetivos com êxito em benefício de todos
envolvidos no projeto (Kerzner, 2006). Dessa forma, quando um projeto atende suas
especificações funcionais e de qualidade ele é considerando um projeto de sucesso, pois isso
implica que ele atingiu seus objetivos de prazo de finalização, custo e escopo.
A soma dos percentuais de projetos que negligenciam algum dos atributos de sucesso é
muito maior do que, propriamente, a dos casos de sucesso. Um exemplo disso, como
evidenciado por Sato (2007, p.18), são os projetos da indústria de software:

[...] a porcentagem de projetos não concluídos diminuiu de 31% para 15%; os projetos
bem sucedidos aumentaram de 16% para 34%; o estouro médio dos custos diminuiu
de 180% para 43%, enquanto o estouro médio do prazo diminuiu de 222% para 82%.

Geralmente, um dos fatores que mais contribui para o aumento da complexidade do


gerenciamento de projetos, consiste na forte ligação existente entre os seus elementos
fundamentais: o tempo, o custo e a qualidade. Esse entrelaçamento é evidenciado quando se
analisa a dependência entre as atividades, bastando que uma delas demore mais que o previsto
para ocasionar um acúmulo de atrasos em todas as outras (Csillag, Rodrigues, & Calia, 2009).
O problema é que esse atraso, se não gerenciado de forma correta, poderá impactar entre
a qualidade, tempo e nos custos do projeto. Este forte entrelaçamento pode fazer surgir
possibilidades na interação entre prazos e custos que compõem o planejamento do projeto, por
exemplo, o projeto pode estar cumprindo os prazos dentro dos custos previstos; dentro dos
custos, mas atrasado ou; atrasado e acima dos custos previstos (a pior das situações). Para
gerenciar estas e outras possibilidades, o Gerente de Projetos deve monitorar e controlar,
cuidadosamente, o projeto para que seus resultados estejam em conformidade com a
composição orçamentária planejada. De acordo com Meredith & Mantel (2003, p.188),

[s]e uma composição orçamentária não estiver atrelada aos resultados, a gerência não
irá identificar situações em que os recursos alocados estão sendo gastos muitos antes
de os resultados serem atingidos, mas estão dentro do que foi orçado, considerando-
se o tempo decorrido.

O monitoramento e o controle dos resultados parciais do projeto são essenciais para


garantir o seu bom andamento. Para Meredith & Mantel (2003) os relatórios são uma importante

Página 191
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

forma de reportar desempenho de projetos por fornecerem sinais de alertas antecipados de


problemas potenciais, permitindo uma maior visibilidade da gerencia superior às necessidades
do projeto. Além disso, os relatórios atualizam todas as partes interessadas no projeto acerca de
seu status, custos e marcos. Porém, existem algumas dificuldades comuns no planejamento de
relatórios de projeto: são detalhados demais e usualmente não são lidos, além de estabelecerem
uma correspondência pobre entre o planejamento e os sistemas de monitoração.
Nesse contexto, o objetivo do GVA consiste no estabelecimento de regras para medição
de desempenho que integra medidas de custos, cronograma e escopo, de forma a fornecer
subsídios ao gerenciamento do progresso do projeto.
Portanto, dada a importância do GVA como uma ferramenta para o Gerenciamento dos
Custos de Projetos, a proposta desse artigo centra-se na proposta de aplicação do GVA através
da utilização de gráficos construídos em planilhas web, uma vez que a literatura pontua algumas
dificuldades acerca da aplicabilidade dessa ferramenta técnica, tais como: pouca familiaridade
e falta de entendimento no funcionamento da técnica; consumo de muito tempo para utilização
da ferramenta; inconsistência entre a utilização da ferramenta com os procedimentos
gerenciais/processos de negócios; fracasso em experiências anteriores na utilização de outra
técnica (Thamhain, 1998 apud Vargas, n.d.a).
Além dessas, outra dificuldade é a maior complexidade dos projetos inserida nos
projetos com a globalização, configurando novos ambientes e relações de trabalho onde “[...] é
impossível ter todos os componentes de uma equipe reunidos sob o mesmo teto” (Kerzner,
2006, p. 484). Dessa forma, surge um novo conceito de equipe nos projetos: as equipes virtuais,
o que faz ser de grande valia, a produção de estudos com a utilização de aplicativos web que
mostrem o emprego de ferramentas e técnicas do Gerenciamento de Projetos.
Diante disso, a proposta de que a visualização de gráficos para o GVA permitirá a
sintetização informações gerenciais tornando-as mais objetivas, de rápida compreensão e mais
consistentes, uma vez que as vantagens propiciadas na utilização de gráficos vão ao encontro
das dificuldades apresentadas na aplicabilidade da técnica. Além disso, o fato desses gráficos
serem criados e manipulados em planilhas web poderá ajudar em uma melhor comunicação
para os diversos tipos de projetos, inclusive aqueles que contêm equipes virtuais. Portanto,
partimos da assertiva de que a proposta desta pesquisa poderá contribuir na aplicação do GVA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

no Gerenciamento de Projetos.

GERENCIAMENTO DE CUSTOS NO GERENCIAMENTO DE PROJETOS

O Gerenciamento dos Custos preocupa-se em assegurar que o projeto termine em


conformidade com o orçamento aprovado, considerando todos os recursos necessários para a
realização dos trabalhos que compõe o projeto.
De acordo com o PMBOK® (2008) todos os processos de gerenciamento de custos,
bem como, suas ferramentas e técnicas associadas, integram o Plano de Gerenciamento de
Custos que, por sua vez, consiste na determinação dos recursos físicos (equipamentos, materiais
e pessoas) utilizados para realização do projeto. Basicamente, o Gerenciamento de Custos
compreende três processos fundamentais:
a) Estimativa de custos: é o processo de levantamento dos custos de todas as
atividades do projeto podendo esta atividade ser feita com base na WBS do projeto;
b) Determinação do orçamento: é o processo que integra todas as estimativas de
custos na linha de base aprovada dos custos;
c) Controle dos custos: é o processo de monitoração da execução que subsidia o
gerenciamento das mudanças e todos os fatores que geram ou podem gerar alterações
na linha de base .

A relação do Gerenciamento dos Custos com as outras áreas do Gerenciamento de


Projetos é essencialmente interativa. Essa característica se dá pelo fato de que a maioria das
atividades incorre em custos para o projeto e envolve os stakeholders (todos os interessados)
do projeto. Assim, essa área é vista, por muitos, como uma das mais importantes no
Gerenciamento de Projetos. Diante dessa importância, Meredith & Mantel (2003, p.187)
asseguram que os orçamentos “[...] servem como padrões para efeitos comparativos, como base
para se medir a diferença entre a utilização real dos recursos e aquela que foi planejada”.
Utilizando-se destes orçamentos, o gerente de projetos deve monitorar, cuidadosamente, todos
os custos dos recursos estimados.
Alves (2005) afirma que os ativos de processos organizacionais é um fornecedor de
informações e conhecimentos históricos que devem ser considerados na gestão dos custos,
valendo destacar:
a) Diretrizes e orientações para estimativas de custos e informações coletadas em

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projetos anteriores;
b) Informações sobre as competências de pessoas, custos padrões para materiais,
equipamentos, serviços, etc;
c) Lições aprendidas sobre custos de projetos anteriores.
Dados de projetos passados são muito importantes, não somente para obter informações
acerca de estimativa de valores, mas também, porque eles podem gerar informações temporais
dos custos. Isso pode ser visto durante o processo de orçamentação dos custos quando ocorre
uma associação entre os custos e o calendário. Tal relacionamento gera uma complicação no
Gerenciamento de Custos, pois, além de fatores externos, como, por exemplo, eventuais
mudanças de preços no mercado e falta de mão-de-obra, que são eventos que podem influenciar
na orçamentação do projeto, existe a variável tempo, intimamente ligada aos custos do projeto.
Esse fator agrega complexidade ao Gerenciamento de Projetos.
Diante de tal complexidade, na maioria dos projetos, a experiência das pessoas, na área
em que o projeto está sendo desenvolvido, torna-se favorável à realização da estimativa de
custos, porque se espera uma estimativa com um menor grau de incerteza e variações. Porém,
por mais que uma incerteza seja considerada baixa, dependendo do nível de complexidade e de
magnitude do projeto, as variações geradas podem representar para um projeto como um todo,
um alto custo no orçamento (Meredith & Mantel, 2003).
De forma geral, as variações em projetos são extremamente comuns. Por esse motivo,
devem ser cuidadosamente controladas. Para visualizar a importância da realização desse
controle, basta pensar, por exemplo, na dependência existente entre as atividades dos projetos
em que, um atraso em uma atividade, pode gerar atraso em outra, e assim, sucessivamente.
Um “efeito dominó” pode se alastrar e, como atrasos nas atividades impactam,
diretamente, nos custos, um estouro no orçamento poderá ser inevitável, se não for,
antecipadamente, controlado.
Na realização do controle de custos, percebida alguma variação crítica, uma medida
deve ser tomada para que não ocorra um estouro no orçamento do projeto.
Retomando a característica interativa do Gerenciamento de Custos com as outras áreas
de Gerenciamento de Projetos, para controle de custos, mudanças podem ser feitas e impactar
em todas as áreas de gestão do projeto. Alves (2005) pontua critérios na definição de sistema

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de controle de alterações que valem ser destacados:


a) Realizar o acompanhamento da evolução dos custos no projeto;
b) Levantar e medir os desvios em relação ao previsto nas linhas de base;
c) Prevenir mudanças na linha de base sem autorizações devidas;
d) Efetuar correções conforme o plano de gestão de custos;
e) Informar as alterações aos stakeholders.
Medidas de desempenho são essenciais para a realização de ações preventivas e/ou
corretivas necessárias para o cumprimento da linha de base do projeto. Nesse contexto, surge a
Gerenciamento do Valor Agregado como uma técnica que visa integrar custos e prazos no
projeto, propiciando monitoramento e acompanhamento. Além disso, propicia a geração de
estimativas e previsões futuras para o término do projeto, com base no seu progresso atual.

GERENCIAMENTO DO VALOR AGREGADO: PRINCIPAIS CONCEITOS

Um projeto não pode ser controlado, simplesmente, através da comparação entre o


executado e o planejado, porque a pura variação entre o custo real e o custo previsto não traduz
o que, realmente, foi agregado ao projeto. Para realizar esse cálculo, é utilizado um novo
componente: o valor agregado.
A realização do GVA permite visualizar variações entre o planejado, o valor agregado
e o valor efetivamente gasto. Através desses três principais elementos é possível obter
variações, gerar índices e realizar previsões muito importantes para a tomada de decisões no
projeto.
A seguir, de forma sintética, são apresentados os conceitos principais dessa técnica que
fornecem informações sobre as dimensões de tempo e de custo, essenciais ao Gerenciamento
de Projetos. Tais conceitos tem como embasamento teórico o guia PMBOK® (2008).

VALOR PLANEJADO (VP)


O Valor Planejado corresponde aos valores previstos no orçamento em determinada data
de análise do desempenho do projeto. Serve como uma diretriz a ser seguida e aplicada ao
projeto para realizá-lo dentro da quantia prevista, estabelecida no seu planejamento físico.
O total dos valores previstos, do orçamento do projeto como um todo, é representado
pelo Orçamento no Término (ONT). Dessa forma, é perceptível a relação entre o total dos

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valores previstos e a data de término do projeto, ou seja, a data prevista para a conclusão do
projeto. Logo, o Valor Planejado do projeto, bem como o total dos valores previstos, para
Gerenciamento do Valor Agregado, fornecem a dimensão de tempo.

VALOR AGREGADO (VA)


O conceito de Valor Agregado centra-se no que foi realmente executado em uma tarefa
ou pacote de trabalho. Tal execução agrega um valor em moeda corrente, considerando o que
foi planejado. Dessa forma, o Valor Agregado corresponde ao que foi executado no projeto
expresso em valor monetário. Segundo Vargas (n.d.b, p.2):
Valor Agregado é a avaliação entre o que foi obtido em relação ao que realmente foi
gasto e ao que se planejava gastar, propondo-se que o valor a ser gasto inicialmente por uma
atividade é o valor orçado para ela. Na medida em que cada atividade ou tarefa de um projeto
é realizada, o valor inicialmente orçado para a atividade passa, agora, a constituir o Valor
Agregado do projeto.
Com o objetivo de melhor explicitar e entender esse conceito, segue um exemplo
didático empregado por Alves (2005, p. 141):
Exemplo: se um determinado resultado planejado para uma certa data previa,
digamos, 500 m³ de concretagem e o projeto construiu 350 m³, o valor agregado é
aquele que corresponde a 350 m³. Poderia ser maior, digamos, o valor de 600 m³, se
o projeto tivesse realizado mais do que o planejado. Se o projeto apresentasse 500 m³
de concretagem, ele estaria exatamente como o planejado.

O Valor Agregado do projeto constitui-se na variável-chave para o GVA, pois


estabelece uma conexão das dimensões de tempo e de custo do projeto, com base no custo
planejado e no trabalho efetivamente realizado no tempo decorrido até data de análise.
Uma forma de reportar o trabalho foi executado, acerca de cada tarefa, é através de
informações percentuais. Por exemplo, considere o exemplo anterior e suponha que, até
determinada data, apenas 75% da concretagem planejada foi realizada. Logo, foi agregado 375
m³, ou seja, 500 m³ x 75% de concretagem. Obviamente, para cada m³ existe um custo
associado, sendo que, o custo agregado associado a cada m³ em relação ao planejado dará
informações da dimensão de tempo em termos monetários. Já essa relação do custo agregado
associado a cada m³ com o valor real de cada m³ dará informações para o projeto da dimensão
de custo. Tal relacionamento fica mais claro quando entendidos os conceitos de Custo Real,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Variação de Custos e Variação de Cronograma, a serem abordados nas seções seguintes.

CUSTO REAL (CR)


O Custo Real é o valor total gasto pelo projeto sem levar em consideração se esse valor
foi ou não transformado em resultado para o projeto.
Ainda com o exemplo citado sobre a concretagem, supondo um cenário em que houve
um reajuste por aspectos de mercado no valor pago a cada integrante da equipe do projeto, de
modo que influenciou no aumento no custo real em 10% acima do previsto na linha de base dos
custos aprovados para o mesmo, desde a data de início até a sua data atual. Nesse caso, o CR
do projeto está maior do que o planejado e, se o VP, para aquela atividade, era de R$10.000,00,
logo, o seu Custo Real é R$11.000,00.

VARIAÇÃO DE CUSTOS (VC)


A Variação de Custos pode ser obtida pela diferença entre o VA e o CR, conforme
equação 1:
VC= VP – CR
Quando um projeto tem uma VC negativa, significa que o custo incorrido é maior que
o planejado.

VARIAÇÃO DOS PRAZOS (VPR)


A Variação dos Prazos é obtida pela diferença entre o VA e o VP, conforme equação 2:

VPR= VA− VP

Uma situação ideal seria aquela em que o VA fosse igual ao VP e ao CR, ou seja, se os
três valores fossem iguais em um projeto com a execução, perfeitamente, igual ao planejado.
Porém, na prática, não procede dessa forma. É comum estar com o projeto com um VP x, um
VA y e um CR z. Nesses casos, para uma data específica do projeto, é importante observar:
a) Se x < y (VA menor que VP): o trabalho do projeto está atrasado;
b) Se z > y (CR > VP): o custo do projeto está acima do previsto.
Contudo, obtidos os valores destes três elementos (VA, VP e CR) é possível medir os
desvios da linha de base do projeto através de variações, nas dimensões de tempo e de custo.
Quando um projeto tem uma VPR negativa, significa que o trabalho executado é menor

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

do que foi o trabalho previsto até aquela data. Observa-se no exemplo, dado anteriormente, que
as variações são previstas por aspectos de custos.
Para melhor entender tais variações, basta considerar o exemplo da concretagem, no
caso em que, para uma determinada data, foi planejado 500 m³ de concretagem e foi agregado,
até aquela data, apenas 350 m³. Nesse caso, o projeto está atrasado. Supondo que para cada 1
m³ existe um custo de R$10,00. É possível afirmar que o projeto está atrasado em R$1.500,00,
ou seja, o atraso temporal é reportado, também, sobre os aspectos de custos devido à relação
temporal do planejado até a data.
Dessa forma, obtemos Variações de Custo e dos Prazos que são de grande importância
para tomadas de decisão no gerenciamento de projetos, uma vez que através destas variações é
possível tomar avaliações preventivas e/ou corretivas a fim de alinhá-lo ao, sob todas as
dimensões, ao planejado.

ÍNDICE DE DESEMPENHO DOS CUSTOS (IDC)


O Índice de Desempenho de Custos pode ser obtido pela razão entre o VA e o CR,
conforme equação 3:
VA
IDC =
CR

Por exemplo, um IDC = 0,70 é o mesmo que dizer que para cada R$1,00 de capital
consumido no projeto, apenas R$0,70 estão sendo convertidos em trabalhos agregados no
produto que está sendo produzido.
Assim, o IDC ideal é igual a R$1,00, o que significa que o executado no projeto teve
um custo conforme o planejado. O IDC acima de R$1,00 traduz uma tendência de terminar
acima do orçamento (estouro) e, por sua vez, o CPI abaixo de R$1,00 traduz uma tendência de
terminar abaixo do orçamento previsto, nesse caso, configurando um problema de desempenho.

ÍNDICE DE DESEMPENHO DE PRAZOS (IDP)


O Índice de Desempenho de Prazos pode ser obtido pela razão do VA e a VP, conforme

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

equação 4:
VA
IDP =
VP

Da mesma forma que o IDC, o IDP ideal é igual a R$1,00. Um IDP = R$0,90 é o mesmo
que dizer que o projeto está sendo executado com 90% do tempo previsto no orçamento
convertido em trabalho no projeto.

PROJEÇÕES FUTURAS
Grandes vantagens podem ser observadas na utilização da Gerenciamento do Valor
Agregado e, na mesma perspectiva que Oliveira (2003), vale destacar sua capacidade de
calcular o desempenho do projeto durante seu andamento, e com isso, traçar projeções e
estimativas acerca dos prazos e custos futuros do projeto.
Através dos parâmetros da Análise de Valor Agregado existem várias maneiras de
fórmulas de se estimar custos futuros em um projeto. Dentre elas, podemos encontrar na
literatura projeções baseadas em regressões (lineares e não-lineares), em heurísticas, e em
índices de desempenho (basicamente CPI e SPI) . Esta última certamente sendo a mais simples
e a mais utilizada entre os Gerentes de Projetos (Oliveira, 2003, p.70).
Dentre as várias formas de se realizar as projeções futuras em projetos, a presente
pesquisa aborda sobre o cálculo através dos índices de desempenhos, tendo como base o
trabalho de Oliveira (2003), para estimativa de prazos e custos, conforme segue:
• Para estimativa de prazos, podemos obter a Estimativa para Términar (EPT) pela razão
da Duração Prevista Originalmente (DPO) pelo IDP, conforme equação 5:
DPO
EPT =
IDP

• Para estimativa de custos, podemos obter a Estimativa no Término somando o


CR com a razão da diferença entre ONT e o VA por um Índice de Desempenho (ID),

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

conforme equação 6:
(ONT − VA)
ENT = CR +
ID
O ID, equação 6, pode ser substituído pelos índices:
a) IDC;
b) IDP;
c) IPC (Índice de Prazo e Custo) = IDC x IDP;
Christensen (1999) cita o Departamento de Defesa (DoD) americano que realizou
pesquisas em centenas de projetos, afirmando que o projeto tem poucas chances de melhorar o
seu IDC em mais de 10% (CPI < 0,91), se o projeto já tiver com 20% da sua execução.
Nesse contexto, o monitoramento das variações e dos índices e as projeções possíveis
de serem realizadas desde o início do projeto, são de extrema importância para ajudar a
desempenhar um gerenciamento adequado à conclusão do projeto, com sucesso.

METODOLOGIA

Este trabalho enquadra-se em uma pesquisa aplicada, cujo objetivo é “gerar


conhecimentos para aplicação prática e solução de problemas específicos” (Mendonça, Rocha,
& Nunes, 2008, p. 36), de abordagem qualitativa.
A planilha web eletrônica para a construção dos gráficos tem por nome “Spreadsheets”.
Tal escolha se deu pelo fato dessa planilha ser uma ferramenta web gratuita que compõe o
pacote do “Google Docs”, desenvolvido pela empresa Google, reconhecidamente inovadora,
no que diz respeito à edição e criação de documentos colaborativos online.
Recentemente, a Microsoft lançou uma versão nova de itens do seu pacote Office
semelhante ao Google Docs. Nesse sentido, é importante destacar que o objetivo do trabalho
não está centrado no Gerenciamento do uma ferramenta específica, mas sim, na apresentação
de uma proposta de criação de gráficos em planilhas eletrônicas web para a realização do GVA
apresentando alguns ganhos que podem ser obtidos no Gerenciamento de Projetos.
A sequência de apresentação dos tópicos desse artigo expressa exatamente a linha
executada para a realização desse trabalho. Portanto, após consolidar o objetivo do trabalho,
bem como contextualizá-lo no Gerenciamento de Projetos, com uma breve revisão na literatura
sobre o assunto, realizamos um estudo sobre o Gerenciamento de Custos. Em seguida,
aprofundamos o conhecimento sobre os principais conceitos para a realização do GVA e, após

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

esse embasamento teórico, foram construídos os gráficos no aplicativo web escolhido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Gráficos são largamente utilizados em diversos campos para análise de dados e


informações probabilísticas, estatísticas, enfim, noções matemáticas que fazem parte do
cotidiano da nossa sociedade, porque permitem abstrair informações objetivas de uma gama de
dados.
Esta seção não tem por objetivo servir como um manual da ferramenta selecionada, mas
sim tratar da apresentação e da análise de gráficos construídos em uma ferramenta web como
uma forma de aplicar o GVA no Gerenciamento de Projetos. Além disso, é importante lembrar
que para construir uma planilha no Spreadsheets é necessário que se tenha uma conta de e-mail
no Gmail e, assim, ter acesso ao aplicativo que faz parte do pacote “Docs”, da Google.
Conforme a proposta deste trabalho, para a construção dos gráficos, o primeiro passo
consistiu na elaboração de uma planilha que recebesse apenas os dados necessários para
realização dos cálculos do GVA. Segue a relação dos dados que foram preenchidos para
realização de todos os cálculos do GVA:
Tarefas: recebe os nomes das tarefas;
Início: recebe a data início planejada de cada tarefa;
Término: recebe a data fim planejada de cada tarefa;
Valor Planejado (VP): recebe o valor planejado de cada tarefa;
Custo Real: recebe o custo realizado de cada tarefa;
Início Real: recebe a data de início realizada de cada tarefa;
Término Real: recebe a data de término realizada de cada tarefa;
%Concluído: recebe o percentual concluído de cada tarefa.

Na Figura 1 um preenchimento de dados para exemplificação da realização da GVA.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Observa que os dados estão divididos entre “Planejado” e “Realizado”.

Figura 1 - Campos para inserção de dados

De acordo com os conceitos explicados na seção “Gerenciamento do Valor Agregado:


principais conceitos”, seguem alguns cálculos que a planilha realizou de acordo com os dados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

que foram preenchidos (vide Figura 2):

Valor Agregado (VA);


Variação de Custos (VC);
Variações de Prazos (VPR);
Índice de Desempenho de Custos (IDC);
Índice de Desempenho de Prazos (IDP);
Estimativa no Término (ENT);
Estimativa para Terminar (EPT);
Variação ao Término (VAC) .

Figura 2 - Cálculos Realizados

Na barra de ferramentas do Spreadsheets, através do caminho “Inserir > Gadgets” é


possível inserir ou criar diversos tipos de gráficos. Dessa forma, nesta proposta foram inseridos
modelos de gráficos na planilha, dentre os quais foi escolhido o gráfico “Annoted Time Line”,
que contém uma linha de série temporal interativa (com aproximação de período de análise –
dia, semana, mês e ano), para representação do CR, VP e VA (Figura 3).

Figura 3 - Gráfico 1 (Annoted Time Line): possui um recurso interativo, pois o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

gráfico muda de acordo com a seleção do zoom ou das paletas

Na Figura 3, observa-se que a linha de cor amarela representa o “Valor Agregado (VA)”,
a linha azul representa o “Valor Planejado (VP)” e a linha vermelha representa o “Valor Real
(CR)”. Um recurso no gráfico Annoted Time Line consiste no zoom de aproximação, que vai
desde o zoom máximo do gráfico até o zoom mínimo de um dia, obtidos através dos botões de
zoom (localizado na parte superior da Figura 4) ou das paletas (localizadas na parte inferior da
Figura 3). Ainda na Figura 3, destaca-se outra característica do gráfico Annoted Time Line para
aplicação do GVA: as datas representadas através dos pontos: A (data de início), B (data atual)
e C (data final estimada): uma vez que tais recursos facilitam a leitura e interpretação do gráfico.
O gráfico da Figura 4, “Line Chart”, tem uma característica mais estática, porém, com
um recurso interessante: ao passar o mouse em um dos pontos (data inicial, data atual ou data
final) aparece um balão com o valor do custo correspondente.
Fica evidente a parir da análise dos gráficos, uma relação entre os custos e cronograma
de execução do projeto. A visualização gráfica gera, de fato, uma facilidade na compreensão
do GVA, que consiste em reportar o desempenho do projeto à luz do custo incorrido, planejado
e agregado.
Dentre os gráficos disponíveis, foi encontrado um gráfico com uma função de medidor
de desempenho, intitulado “Gauge”. Nesse sentido, de acordo com o CPI e com a fácil
verificação do percentual de tarefas executadas, em relação ao projeto, pode-se construir um
gráfico que serve como um medidor de desempenho baseado nas conclusões de pesquisas do
Departamento de Defesa Norte-Americano (Figura 5), citadas na seção anterior. O gráfico da
Figura 5 serve, também, como um importante “alarme”, pois, de acordo com os dados
apresentados por ele, pode-se verificar que o projeto possui fortes chances de “estourar em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

orçamento”, no exemplo apresentado.


Figura 4 - Gráfico 2 (Line Chart)

O acompanhamento de todas as atividades planejadas, no gerenciamento de projetos, é


de extrema importância para que o realizado seja igual ao planejado. Neste sentido, as previsões
tem papel fundamental nas tomadas de decisões ao longo desse acompanhamento. Os gráficos
apresentados contribuem de forma facilitada na visualização desses alarmes, para que medidas
corretivas ou preventivas sejam tomadas, de acordo com o seu grau de impacto no projeto.

Figura 5 - Gráfico 3 (Gauge)

Acerca do ambiente de web para a construção dos gráficos, pôde-se constatar que a
planilha, juntamente com os seus gráficos, pode ser facilmente compartilhada (veja o botão
compartilhar, no canto superior direito da Figura 5); além disso, podem ser enviados e-mails

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

para todos os que têm permissão de visualização ou edição das planilhas (veja exemplo na
Figura 6).

Figura 6 – Compartilhamento e envio de mensagens

A edição da planilha pode ser realizada, simultaneamente e, quando isso acontece, é


emitida uma mensagem informando quais são os colaboradores que estão editando. Tal
característica facilita, não somente na adequação dos processos da organização aos processos
gerenciais das organizações que, geralmente, utilizam os serviços de e-mail na comunicação da
empresa, mas também, no trabalho colaborativo necessário em projetos que contêm equipes
virtuais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho, conforme revisão na literatura, pontuou algumas das dificuldades para
realizar o GVA nos projetos. Vale destaca: pouca familiaridade e falta de entendimento no
funcionamento da técnica; consumo de muito tempo para utilização da ferramenta;
inconsistência entre a utilização da ferramenta com os procedimentos gerenciais/processos de
negócios; fracasso em experiências anteriores na utilização de outra técnica. O entendimento
dessas dificuldades, foram determinantes para a construção dos gráficos nas planilhas do
Spreadsheets.
A abstração do GVA nos gráficos, de fato, possibilita maior visibilidade no
relacionamento entro os prazos e os custos de um projeto. Além disso, outra característica
inerente aos gráficos diz respeito aos dados, que se apresentam com uma maior objetividade

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

nas informações, fator que pode torná-lo como um relatório objetivo no monitoramento do
desempenho do projeto.
A facilidade do aplicativo no compartilhamento e colaboração no desenvolvimento dos
gráficos, como também o envio de e-mails para os envolvidos, auxilia na utilização do GVA
em diferentes contextos de projetos, principalmente, entre equipes virtuais em que necessitam
de estratégias decentralizadas nas formas de trabalho.
Porém, mesmo com o auxílio do aplicativo Spreadsheets, o não entendimento do GVA,
pode ocasionar a geração de gráficos errados e inconsistentes, o que prejudica na compreensão
do status e nas estimativas de custo e tempo do projeto. Logo, é de suma importância que a
planilha responsável por realizar os cálculos, bem como os gráficos gerados, sejam validados,
pois a utilização de gráficos para o GVA é apenas uma forma de expressá-la, e a compreensão
da técnica é primordial para que tomadas de decisões do projeto sejam adequadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Csillag, J. M., Rodrigues, I., & Calia, E. G. 2009. Ideias para reduzir tempos de execução.
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brasileiros. (p. 189-211). São Paulo: Atlas.
Christensen, D. S. (1999, Summer). Using the earned value cost management report to
evaluate the contractor's estimate at completion. Acquisition Review Quarterly, 1-16.
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planejamento, execução e avaliação. Goiânia: Faculdades Alves Faria.
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gerencial. 4a ed. Rio de Janeiro: LTC.
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agregado em grandes projetos. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica de São Paulo,
SP, Brasil.
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fracasso?. Recuperado em 17 maio, 2011, de http://www.ricardo-vargas.com/pt/downloads/.
Vargas, R. V. (n.d.b). Construindo previsões de custo final do projeto utilizando a análise
de valor agregado e simulação de Monte Carlo.

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CAPÍTULO 14

A PRÁTICA PEDAGÓGICA DA TENDÊNCIA LIBERAL


RENOVADA PROGRESSIVISTA NO ENSINO DE
FÍSICA TÉRMICA

FLÁVIO JOSÉ DE CARVALHO SOUSA e MARCOS RANGEL DE


MOURA SOUSA

RESUMO: O ensino de física é abordado nesse artigo com um dos pontos mais
cruciais para o aprendizado, as metodologias e técnicas. Os pontos que levam
ao desinteresse dos alunos: matematização dos conteúdos, carência de
infraestrutura, carga horária insuficiente. É apresentado a problemática
predominante nessa área da educação e métodos ou teorias, propostos por
Ausubel (1980), Libâneo (2006), Lima (2016), Moreira (1982) e Silva (2018)
para amenizar esses fatores. O presente trabalho teve como foco de pesquisa
adequar qual das tendências pedagógicas é a melhor a ser adotada quando
se trata do ensino de física térmica para alunos do Ensino Médio. Com a
análise, a Tendência Liberal Renovada Progressivista se mostrou a mais
adequada, por valorizar a experimentação, o estudo ativo e os conhecimentos
prévios, este último defendido por Ausubel na sua Teoria da Aprendizagem,
onde o aluno capta a nova informação e aperfeiçoa à sua preexistente.
Contudo, a pesquisa abordou os conteúdos importantes para o
desenvolvimento do aprendizado na disciplina de física, mesclando os
pressupostos pelas práticas pedagógicas estudadas, onde o papel do
professor e do aluno foram o foco principal na obtenção meios que facilitem
o aprendizado, chegando a verificar que ambas são importantes e devem ser
complementares, pois haverá situações em que uma será mais eficiente que
as outras.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

A grade curricular da formação dos professores de qualquer área é repleta de disciplinas


pedagógicas, voltadas para a prática de ensino, onde é possível trabalhar as principais
dificuldades e metodologias que os docentes podem enfrentar e utilizar quando estiverem em
sala de aula. Porém, a realidade das escolas, muitas vezes, impossibilita a execução dos planos
dos professores iniciantes: a pouca carga horária, trabalho sobrecarregado, carência de
infraestrutura, resulta em um ensino deficiente que não consegue prender a atenção e ativar o
interesse dos alunos.

A Física é uma das disciplinas prejudicadas por esses problemas. Com um ensino que
se predomina o tradicional, onde o professor fala, enche o quadro de cálculos e apresenta
conceitos numa linguagem que, para muitos educandos, não faz muito sentido com a realidade
onde estão inseridos, os alunos acabam desinteressados pela ciência responsável por grande
parte do desenvolvimento tecnológico e que está bastante presente na nossa realidade. “A
ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é um modo de pensar” (SAGAN, 2006, p.
43).

A matematização dos conteúdos é o fator principal na relação teoria-prática, onde


caracteriza essa realidade, na qual os alunos não conseguem acompanhar os assuntos e dar
continuidade para trabalhar os problemas propostos. E como a carga horária estabelecida não é
suficiente, então se faz necessário inovações pedagógicas para suprir essas necessidades além
da sala de aula.

Esta realidade faz com que muitos professores busquem aperfeiçoamento: propostas de
laboratório de baixo custo, materiais que vão além do livro didático, novas metodologias. E
com isso, o objetivo dessa pesquisa foi buscar uma relação entre as Tendências Pedagógicas,
estudadas na disciplina de Didática durante a graduação em licenciatura em física, e a
abordagem dos conceitos introdutórios relacionados à física térmica, com o intuito de definir
qual dessas tendências oferecem metodologias mais adequadas para serem adotadas pelos
futuros professores ou, os já atuantes.

Por isso, o artigo está organizado da seguinte forma: primeiro, apresenta-se uma breve
revisão a respeito dos conceitos analisados, que são os de calor, temperatura e os processos de
propagação de calor. Esses conceitos são a base da física térmica, ou seja, os primeiros a serem
apresentados quando o educando entra em contato com esse ramo das ciências extas no segundo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ano do ensino médio. Além disso, calor e temperatura estão inseridos na nossa realidade
cotidiana, o que faz com que suas abordagens devam ser significativas e proveitosas para um
bom entendimento.

Os tópicos seguintes trazem a metodologia de ensino mais adequada para a abordagem


dos conceitos da física térmica escolhidos, relacionando a física com a didática e mostrando o
porquê tal metodologia é melhor e em qual tendência pedagógica ela está presente. Com a
análise, notou-se que a Tendência Liberal Renovada Progressivista, que nasceu em
contraposição à Tendência Tradicional, foi a que mais se adequou ao bom ensino dessa área da
física, defendidos pelos trabalhos que serviram de base na construção deste.

O trabalho também foi fundamentado na Teoria Significativa da Aprendizagem de


David Ausubel, que defende a valorização dos conhecimentos prévios dos alunos e trata do
processo de absorção do conhecimento. Todos os alunos chegam com um conhecimento prévio
do que se trata os conceitos da física. De acordo com Moreira:

Novas ideias e informações podem ser aprendidas e retidas na medida em que


conceitos relevantes e inclusivos estejam adequadamente claros e disponíveis na
estrutura cognitiva do indivíduo e funcionem, dessa forma, como ponto de ancoragem
para as novas ideias e conceitos. (MOREIRA, 1982, p. 4)

CONCEITOS INTRODUTÓRIOS DA FÍSICA TÉRMICA

A física térmica, abordada geralmente no segundo ano do ensino médio, compreende e


estuda os fenômenos relacionados ao calor e a temperatura. Estes fenômenos fazem parte da
nossa experiência de vida, pois ocorrem diariamente a nossa volta. O conceito de temperatura
é o primeiro a ser abordado quando se estuda esse ramo. A temperatura é uma grandeza escalar
relacionada a energia cinética dos átomos de uma molécula. Ela quantifica o quão quente ou
frio está um objeto, baseando-se em algum padrão (HEWITT, p. 285, 2015).

Os conteúdos acatados como fundamentais para dar prosseguimento ao estudo de física


térmica, estão organizados no quadro abaixo. Dessa maneira, é possível estabelecer uma
continuidade nos assuntos posteriores, visto que é importante a aprendizagem dos mesmos.

Quadro 1. Conteúdos fundamentais para o prosseguimento dos assuntos de física térmica

Assunto Objetivo Metodologia Avaliação

Temperatura Aprofundar e Uso de ilustrações Participação dos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

apresentar (imagens, gifs e alunos ao falarem


intuitivamente o vídeos), manuseio sobre o conceito.
conceito científico do termómetro e Reprodução oral ou
de temperatura, transformações nas por meio de
diferenciando de escalas atividades objetivas
sensação térmica. termométricas. e subjetivas.

Calor Transformar o Uso de animações, Participação dos


conhecimento prévio leitura de materiais, alunos, interação
de calor, apresentar os tipos de durante a aula e
o de cunho científico transmissão de calor averiguação do
e a relação calor- e diálogo com os aprendizado por
temperatura. alunos. meio de perguntas
formuladas.

Processos de Apresentar, Uso de vídeos, gifs e Produção dos alunos


propagação de calor detalhadamente, os experimentos de experimentos
três processos de simples e de baixo simples,
propagação e buscar custo. apresentação dos
nos alunos exemplos processos e um
cotidianos sobre os questionário
três processos. conceitual.

Fonte: Autores, 2021.

Sabe-se que muitos alunos confundem esses conceitos com sensação térmica, por isso
iniciar pela diferenciação destes conceitos é importante. Uma proposta experimental
interessante seria a das bacias com água em diferentes temperaturas, por exemplo. Uma com
água morna, outra a temperatura ambiente e outra com água fria. Os alunos colocariam as duas
mãos, uma na bacia de água quente e outra na de água fria e, depois de um tempo, colocaria as
duas mãos na bacia com água de temperatura ambiente. Com perguntas a respeito, a
diferenciação entre sensação térmica, calor e temperatura seria bem mais proveitosa e
participativa (NETO; TEIXEIRA, 2020).

O instrumento utilizado para medir a temperatura é o termômetro e o primeiro foi criado


por Galileu no ano de 1602. Os medidores de temperatura mais comuns utilizam o mercúrio,
metal líquido que, assim como praticamente todos os materiais, se dilatam quando sofrem um
aumento de temperatura. Dessa forma, o mercúrio é colocado num tubo de vidro que possui

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

escala e é por meio da sua expansão que é possível realizar a medida.

Figura 1. Cópia do termoscópio de Galileu

Fonte: A Origem do Termómetro

Em relação às escalas termométricas, existem três que são mais utilizadas. O


termômetro Celsius, o mais utilizado no mundo, marca o 0 como a temperatura de fusão da
água e o 100 como a temperatura que a água entra em ebulição. A escala é dividida em 100
partes iguais e foi criada pelo astrônomo sueco Anders Celsius. A escala Fahrenheit, utilizada
nos Estados Unidos, define 32 e 212 como temperatura de fusão e ebulição da água,
respectivamente. Entretanto, a escala mais utilizada entre os cientistas é o Kelvin, pois ela é
calibrada em termos de energia e não de pontos específicos da água. Nessa escala, não existem
números negativos e o ponto de fusão do gelo corresponde a +273K. O zero absoluto nessa
escala corresponde a -273°C, menor temperatura que um corpo pode atingir.

A temperatura em graus Celsius é definida pela equação (1):

TC = T − 273,15° (1)1

1
TC é a temperatura em graus Celsius e T é a temperatura em Kelvins

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A temperatura em graus Fahrenheit é definida pela equação (2):

9 (2)2
TF = TC − 32°
5

Já para a variação de temperaturas, as equações anteriores podem ser obtidas com o


seguinte cálculo, observe a figura 2, e em seguida a equação (3):

Figura 2. Escalas termométricas: Celsius, Fahrenheit e Kelvin

Fonte: InfoEscola

A relação entre a variação das temperaturas pode ser obtida da seguinte maneira:

TC − θic TF − θ𝑖F TK − θiK


= =
∆Tc ∆TF ∆TK

TC − 0 TF − 32 TK − 273
= =
100 − 0 212 − 32 373 − 273

2
Em que TF é a temperatura em graus Fahrenheit e TC é a temperatura em graus Celsius.

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TC TF − 32 TK − 273
= =
100 180 100

Simplificando, obtemos:

TC TF − 32 TK − 273 (3)
= =
5 9 5

Outro conceito que sustenta o estudo da física térmica é o de calor. Antigamente, calor
e temperatura eram vistos como sinônimos e foi o físico inglês Joseph Black quem primeiro fez
a distinção entre os conceitos, desenvolvendo a teoria do calórico. Para ele, o calórico era uma
espécie de fluido permeável que todos os corpos possuíam. Este fluido era quem passava de um
corpo para outro, provocando assim uma mudança de temperatura. Entretanto, experimentos
realizados por Rumford mostraram que o calor poderia ser gerado por atrito, e não que já
existisse no corpo.

A ideia do calórico deixou de ser usada apenas no fim do século XIX, com os estudos
de Rumford, depois que ele percebeu que um corpo não contém calor. O calor é uma forma de
energia em trânsito, ou seja, ela é a energia que passa de um corpo para outro devido a uma
diferença de temperatura. E essa passagem acontece do corpo de maior temperatura para o de
menor, sempre dessa forma. O que uma substância contém é energia interna, que é a soma de
todas as energias existentes nela. Quando essa substância cede ou ganha calor, haverá um
aumento ou redução na sua energia interna (HEWITT, p.288, 2015).

Vale destacar também que o fluxo de calor não depende apenas da diferença de
temperatura. Um barril com água quente, por exemplo, transfere mais calor que uma xícara com
água na mesma temperatura, por conta que onde tem maior porção de água existe uma maior
energia interna.

Como o calor flui espontaneamente de um corpo com maior temperatura para um de


menor, esse processo pode ocorrer de três formas básicas: condução, convecção e irradiação. A
condução ocorre em sólidos que possuem elétrons livres. Uma colher metálica, por exemplo, é
um bom condutor do calor. Se uma extremidade da colher for posta próxima de uma chama,
com o passar do tempo, toda colher vai estar aquecida. Ocorre que os:

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[...] átomos e elétrons livres colidem com seus vizinhos e assim por diante. O que é
mais importante, os elétrons livres, capazes de se mover dentro do metal, são
chacoalhados e transferem energia para o material por meio de colisões com os átomos
e outros elétrons livres do mesmo. (HEWITT, p.303, 2015)

Materiais como madeira, borracha, papel possuem os elétrons e átomos mais fortemente
ligados, e são ruins condutores de calor. Quando se trata dos fluidos, líquidos e gases, a
transferência de calor ocorre principalmente através da convecção. Esse processo acontece por
conta dos movimentos desse fluido. Quando colocamos água para ferver, por exemplo, a parte
do líquido que está mais próxima da chama aquece e se torna menos densa. Por conta disso, ela
se desloca para parte de cima, isso forma as correntes de convecção.

O fluido mais frio e mais denso, então, move-se de modo a ocupar o lugar do fluido
mais quente do fundo. Dessa maneira, as correntes de convecção mantêm o fluido em
circulação enquanto ele esquenta – o fluido mais aquecido afastando-se da fonte de
calor e o fluido mais frio movendo-se em direção à fonte de calor (HEWITT, p.305,
2015)

A convecção também explica o porquê dos aparelhos de ar-condicionado serem


colocados na parte de cima dos ambientes. Como o ar de cima será resfriado primeiro, ele irá
ficar mais denso e descer, fazendo com que o ar quente, que estava na parte de baixo, suba. O
outro processo de transferência do calor ocorre através da irradiação. Essa transferência se dá
pelas ondas eletromagnéticas, pois entre o Sol e a Terra, por exemplo, existe uma grande região
de vácuo, onde não ocorre a condução e convecção.

Quando nos aproximamos de uma chama, também sentimos a sensação de quente a


alguns metros de distância. Esse aquecimento que se sente chega até nós por meio da irradiação.
Todos os corpos emitem essa energia radiante, a diferença está na frequência com que essas
ondas são emitidas. A sensação de quente vem dos corpos que emitem essas ondas com
frequências maiores.

Esses são os conceitos da física térmica escolhidos para serem relacionados e analisados
quanto a sua melhor abordagem. Nos próximos tópicos, será apresentado as ideias das
tendências e da Teoria da Aprendizagem significativa em meio aos conceitos da física
abordados neste tópico.

A TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA PROGRESSISTA E OS CONCEITOS DA


FÍSICA TÉRMICA

De acordo com Libâneo (2006), as tendências pedagógicas estão intrinsecamente


relacionadas ao desenvolvimento histórico da Didática, parte da pedagogia relacionada ao

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

processo de ensino. Essas tendências, hoje conhecidas pelo mundo como Pedagogia Tradicional
e Pedagogia Renovada, nasceram das ideias pedagógicas de filósofos como Comênio e
Rousseau. No Brasil, vários estudos relacionados à didática já foram desenvolvidos. Grande
parte dos autores separam as tendências em dois grupos: as de cunho liberal e as progressistas.
As tendências de cunho liberal são divididas em três: tradicional, Pedagogia Renovada e
tecnicista. A Pedagogia tradicional, a mais antiga, apesar de várias críticas a respeito dela, ainda
hoje predomina na educação brasileira. Nela:

A atividade de ensinar é centrada no professor que expõe e interpreta a matéria. Às


vezes são utilizados meios como a apresentação de objetos, ilustrações, exemplos,
mas o principal é a palavra, a exposição oral. Supõe-se que ouvindo e fazendo
exercícios repetitivos, os alunos “gravam” a matéria para depois reproduzi-la, seja
através das interrogações do professor, seja através das provas. (LIBÂNEO, 2006,
p.64)

Esta prática pedagógica é a mais presente não só no ensino de física, mas de toda grade
curricular dos alunos da educação básica e superior, tornando as aulas desvinculadas da
realidade dos discentes. Na física, o uso desta metodologia resulta em desinteresse e medo da
disciplina. Muitos atribuem o fato de conseguir realizar os cálculos aos alunos “gênios” e não
veem necessidade de se estudar todo aquele conjunto de conteúdo matematizado. Para Sagan
(2006, p.363), isso se dá pelo fato de que “os poucos que continuam interessados são difamados
como nerds, geeks ou grinds3.”

A Pedagogia Renovada, ou Didática ativa, nasceu em oposição à prática de ensino


tradicional vigente e é baseada em várias correntes, como a teoria educacional de John Dewey,
a não-diretiva de Carl Rogers, entre outras. Nesta tendência, o foco deixa de ser o professor
para ser o aluno, ou seja, o discente é quem vai produzir o seu próprio conhecimento, e o
professor induz, motiva e apresenta situações-problemas, visando o desenvolvimento das
habilidades dos estudantes. (LIBÂNEO, 2006)

[...] a didática ativa dá grande importância aos métodos e técnicas como o trabalho de
grupo, atividades cooperativas, estudo individual, pesquisas, projetos,
experimentações etc., bem como os métodos de reflexão e método científico de
descobrir conhecimentos. (LIBÂNEO, 2006, p. 66)

A experimentação é fundamental para a boa compreensão dos conceitos da física, pois


a torna mais contextualizada, fazendo com que os alunos possam refletir a respeito dos
fenômenos e conceitos abordados na teoria (COUTO, 2009). Por isso, as práticas defendidas

3
Gírias norte-americanas para designar pessoas chatas, desinteressantes, esquisitas e, nesse caso, estudantes
muito aplicados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

por essa tendência são as mais aconselhadas para serem adotadas em sala de aula.

Além disso, a Pedagogia Renovada valoriza temas relacionados ao cotidiano dos alunos,
que para a física é fundamental, já que, muitas vezes, a escola transmite o conhecimento de
forma desconexa com a realidade dos estudantes (ANDRADE, 2008). Outro destaque da
Pedagogia Renovada é que ela está de acordo com os Parâmetros Nacionais Comuns
Curriculares se tratando da física, já que eles tem como objetivo:

[...] superar as práticas tradicionais, que tratam a física de maneira desarticulada do


mundo vivido pelo aluno e professor, enfatizando predominantemente a memorização
e a automatização de resolução de exercícios. Ao contrário, busca-se uma física que
contribua para a constituição de uma cultura científica nos alunos, para que
compreendam a dinâmica relação do homem com seu meio. (RICARDO, p.16, 2004)

A física térmica traz uma gama de conceitos que, quando relacionados a exemplos do
dia a dia, ou demonstrados através de experimentos, a compreensão se torna bastante facilitada.
Temperatura é o primeiro conceito a ser visto quando se começa estudar física térmica. O
alunado já tem uma ideia do que seja temperatura, pois diariamente está em contato com a
previsão do tempo, ou até mesmo na averiguação da temperatura corporal. Para a pedagogia
tradicional, a noção que os alunos possuem sobre o que seja temperatura não serviria, pois nela:

O aluno era visto como um papel em branco, no qual eram registradas as informações
e o conhecimento. Na abordagem tradicional o aluno não possui cultura, família e
conhecimentos prévios. Ele não significa nada até iniciar o processo escolar, momento
que registrará e acumulará conhecimentos repassados. Cabe ao professor a decisão
quanto aos conteúdos, metodologias e avaliações a serem realizadas. (SILVA, p.100,
2018)

Isso, infelizmente, acontece muitas vezes sem intenção. O professor abre o livro e
apresenta o conceito que está ali registrado; os alunos fazem um resumo e decoram aquilo, não
há uma contextualização, a preocupação maior é concluir o capítulo. O ideal seria aperfeiçoar
a ideia que os alunos possuem do que seja temperatura. A aquisição do conhecimento não ocorre
apenas dentro da sala de aula e muito do que o aluno sabe, precisa apenas de acréscimos e
reforço. A Pedagogia renovada leva em conta o dia a dia dos estudantes. Para ela, o papel da
escola é transformar e formar o aluno através das vivências, por isso se torna a mais adequada
para essa abordagem.

Quando se trata do conceito de Calor, usado cotidianamente para dizer o quão “quente”
está o ambiente, as práticas defendidas pela Pedagogia Renovada também são as mais
adequadas. O calor é uma forma de energia em trânsito; uma energia que passa de um corpo
para outro por existir entre eles uma diferença de temperatura. Este conceito necessita de uma

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

maior participação do professor que, com exemplos e simulações virtuais, pode ajudar o aluno
a compreender e reformular a ideia que os estudantes têm dessa forma de energia.

Por fim, em relação aos três processos de propagação do calor, a Pedagogia renovada,
mais uma vez, se mostra a mais adequada. A condução e a convecção podem ser abordadas
através de simples experimentos produzidos pelos próprios alunos, onde o professor auxiliaria
e construiria o conceito desses três processos juntamente com os discentes, representando o
defendido por essa tendência, pois:

O aprender fazendo está presente nessa concepção, por meio de tentativas


experimentais, pesquisa, descobertas, estudos do meio natural e social e métodos de
resolução de problemas. (SILVA, p.100, 2018)

Para realizar o experimento da condução, por exemplo, o professor pode propor que os
alunos arranjem uma barra de ferro e prendam pregos em sequência na barra, usando cera de
vela. Com os pregos presos, pode-se colocar uma das extremidades da barra próxima da chama
da vela que se utilizou para prender os pregos. Com o passar do tempo, os átomos da barra vão
aquecendo uns aos outros e o resultado é que os pregos cairão em sequência, mostrando assim
a transferência do calor por condução.

Figura 3. Esquema do Experimento da Condução: (a) Colagem dos alfinetes na barra metálica
usando a parafina e (b) A fonte de Calor colocada em uma extremidade e a outra servindo
como um ponto de apoio para segurar a barra, após o aquecimento da barra tem-se o fenômeno
da condução.

Fonte: Freire, 2005.

A irradiação, por envolver conceitos de ondas eletromagnéticas, necessita de uma maior


participação do professor, mas ele poderia explicar e dialogar. O tempo todo já estamos
participando de um experimento desse tipo: a irradiação solar, por exemplo.

Como anteriormente foi visto - tendência tradicional -, onde o professor era o foco e o
aluno somente o ser que aprendia de maneira mecânica e instrucional, na liberal renovada temos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

que o professor trabalha pensando no aluno, em seu crescimento e sua participação ativa nos
conteúdos e formas de aprender. É onde o aluno vai ter sua própria autonomia: investigar,
experimentar, questionar, explanar e posteriormente repassar esse aprendizado. E é esse modelo
de didática que vai dar continuidade a um ensino significativo, onde poderá ser levado à frente
dos problemas de ensino destacados.

A TEORIA SIGNIFICATIVA DA APRENDIZAGEM E SUA RELAÇÃO COM A


TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA

Para a Teoria da Aprendizagem Significativa de David Ausubel, é importante que haja


uma explanação de conteúdo, ampliando assim de forma mais organizada e coesa, fazendo um
aperfeiçoamento com o que o aluno já traz consigo mesmo anterior àquele assunto. É essa
assimilação que concretiza o aprendizado, na qual fortalece a prática de ensino e é o que prega
a Tendência Liberal Renovada, ou seja, valorizar a remodelar o que o aluno já sabe.

O ensino de uma disciplina da área de exatas é sem dúvidas desafiador. São associados
os conteúdos teóricos e práticos para que possam reproduzir em problemas propostos, onde na
física térmica é tratado alguns dos seguintes conteúdos: escalas termométricas, calor,
temperatura, dilatação térmica, mudança de fase. São esses os fundamentos básicos que devem
ser aprendidos. Como meio para um ensino eficiente, são buscadas metodologias inovadoras
que quebre a mecanização dos conteúdos: experimentação, livros atualizados, vídeos, trabalho
em grupo e aplicações tecnológicas.

Segundo Ausubel (1980) “a aprendizagem receptiva significativa implica a aquisição


de novos conceitos. Exige tanto uma disposição para aprendizagem significativa como a
apresentação ao aluno de material potencialmente significativo.” Esse material não significa ser
o único meio ou a forma direta para a absorção do conteúdo, é importante que haja a inserção
da autonomia do discente, é através do seu querer aprender que os materiais serão aproveitados
de forma significativa. Ensinar o aluno aprender a aprender e posteriormente os conteúdos
específicos da disciplina. Para Libâneo (2006), “o professor é o incentivador, orientador e
controlador da aprendizagem, organizando o ensino em função das reais capacidades dos alunos
e do desenvolvimento de seus hábitos de estudo e reflexão.”

A recepção do conteúdo se dá através de uma ancoragem, onde pega a nova informação


e remodela com os conhecimentos preexistentes, produzindo assim uma “facilitação” do
conteúdo. Isso se aplica à Tendência Liberal Renovada Progressivista, onde o aluno é o autor

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principal na aprendizagem. Ou seja, o aluno pode relacionar seus conhecimentos prévios à


medida de temperatura, na qual predomina o senso comum de usar o tato; a importância das
fendas nas pontes; o vapor da panela de pressão; o funcionamento de uma geladeira. Esses
saberes podem ser aperfeiçoados na escola de maneira mais científica, com equações, teorias e
experimentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nota-se que a abordagem dos conceitos da física se torna mais simples quando os alunos
participam e interagem junto com o professor. Das tendências analisadas, a Pedagogia Liberal
Renovada Progressivista foi a que mais se ajustou as metodologias ativas e adequadas ao ensino
da física térmica, pois defende a experimentação, pesquisa e leva em conta o cotidiano e o
conhecimento que os alunos já possuem, diferente da Pedagogia Tradicional, onde as
informações são apenas depositadas e acumuladas, o que tornam desconexas e sem muitas
aplicações.

A teoria da aprendizagem significativa de David Ausubel defende que o fator que mais
contribui para a verdadeira aprendizagem é o que o aluno já sabe, o que está em consonância
com a Tendência Liberal Renovada Progressivista. Muitos alunos já possuem uma noção do
que é temperatura, o que deve ocorrer é uma reformulação, se apropriando do que os discentes
já sabem, ou seja, uma informação agora complementada ou verificada do pontonde vista no
meio científico.

O objetivo deste trabalho foi mostrar qual das tendências estudadas na disciplina de
Didática no curso de licenciatura em física é a melhor de ser adotada no ensino de física térmica,
onde foi feito a relação do conteúdo com a tendência, sendo a Liberal Renovada a que se
mostrou ser a mais eficaz em vários pontos. No entanto, é importante frisar que o professor não
deve se utilizar apenas das metodologias presentes nela. Outras partes da física vão necessitar
de uma maior explicação por parte do docente, não vai ter como realizar alguns experimento.
O que deve ocorrer é uma mesclagem de metodologias, sem tirar o aluno do protagonismo. A
Tendência Liberal se mostra a mais eficiente em relação aos conceitos da física térmica, mas
isso não implica dizer que apenas as metodologias dela devem ser adotadas como absolutas.

O ensino de física é caracterizado não só pela parte conceitual, tanto que requer uma
boa base matemática para que possa ser correlacionado e reproduzido. Ou seja, é necessário um
trabalho em equipe - professores, diretores, coordenadores e todo o corpo que compõe a escola

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

- para que possa haver uma sintonia no desenvolver dos conteúdos, mantendo um ambiente
favorável para a realização da aprendizagem. Já foi visto que um dos fatores que desencadeiam
essa não linearidade no ensino é a pouca carga horária. No entanto, precisa-se de metodologias
que possam contornar, mesmo que aos poucos, este problema.

É interessante que os professores que já atuam, como também os que estão em formação,
prossigam nos estudos, buscando estarem atualizados quanto às novas formas de ensinar.
Muitas pesquisas desenvolvidas sobre o ensino de física são excelentes, mas não trazem
mudanças consideráveis, pois poucos professores têm contato ou não participam da construção
dela. É importante conhecer as diversas metodologias existentes, para saber qual momento usá-
las e, aos poucos, conquistar a confiança e despertar o interesse dos alunos desmotivados em
aprender física.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 15

Sistema de Comunicação à Longa Distância Com


Baixo Consumo Energético Para Monitoramento
de Sensores na Lavoura de feijão

Marcelo Gonçalves Narciso, Guilherme Ribeiro e Ana Karolinna da Silva

RESUMO: Em plantações, é de grande interesse o conhecimento das


condições climáticas e do solo para tomada de decisão quanto à irrigação,
aparecimento de doenças, compactação do solo, radiação solar, etc. Isso é
possível de ser feito sem a intervenção humana, com sensores espalhados no
campo e enviando seus dados a cada instante para serem acionados e seus
resultados vistos pelo agricultor. Estes dados servem para apoiar a decisão
quanto a intervenção, caso necessário, na lavoura. O caso de estudo é para o
caso do feijoeiro, por cauda de aplicativos web e mobile associados, mas pode
ser usado em qualquer lavoura para diversos fins.

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1. INTRODUÇÃO

Os sensores podem ser usados, em uma plantação de feijão, para testas servirem de dados
de entrada para a tomada de decisões quanto a intervir na lavoura para irrigar, ou verificar
se existe alguma doença na planta (mofo branco, antracnose, mancha angular e mela do
feijoeiro). Os sensores pluviométricos podem ser usados para verificar a quantidade de
chuva diária e assim saber se é necessário irrigar ou não. Sabendo -se quantos mm de
chuva ocorreram e sabendo-se quanto a planta necessita diariamente, pode-se então
irrigar ou não pelos dias das chuvas e o quanto irrigar. Um sistema de irrigação para o
feijoeiro, o irrigaFeijão, que está em www.cnpaf.embrapa.br/irrigaFeijao, baseia-se neste
princípio, isto é, faz uma planilha de irrigação para o feijoeiro e o produtor pode
descontar a quantidade de água a ser irrigada descontando a quantidade de chuva
ocorrida, e assim economiza água na irrigação. Um sensor de umidade do solo também
pode ser usado para saber o quanto pode ser irrigado, de forma a irrigar somente o
necessário, estimando-se quanto de água existe no solo. Sensores de temperatura do ar e
chuva/precipitação são usados para verificar a possibilidade de aparecimento de
antraxnose, mancha angular, mofo branco e mela do feijoeiro. Estes dados são usados
para alimentar o sistema Infodoenças, que está em www.cnpaf.embrapa.br/infodoencas.
O produtor pode entrar com seus dados de chuva e tem peratura do ar para predizer a
possibilidade de aparecimentos destes tipos de doença. Sensores de radiação solar,
evapotranspiração, umidade e temperatura do ar podem ser usados também para predizer
aparecimento de pragas. A evapotranspiração mede a ativid ade de saída de água da planta,
indicando que esta está bem e pode ser usada como alimento pelo inseto. A radiação solar
também influi no bom estado na planta por causa da fotossíntese. A temperatura pode
indicar o aparecimento da mosca branca, por exemplo , que gosta de temperatura entre 15
a 30 graus, e assim por diante. Os fatores climáticos podem ser usados então para ver as
condições para aparecimento de doenças, ou pragas, ou se é necessário irrigar, e os
sensores para solo podem indicar a condutividade elétrica do solo e assim saber sobre a
compactação do solo, a umidade do solo e assim saber se é necessário ou não irrigação,
etc. Em suma, os sensores podem ser usados para tomadas de decisão sobre o que fazer
na lavoura. Para o caso do feijoeiro, além dos sistemas web citados, pode-se usar também
o aplicativo mobile Dr Feijão, o qual pode ser baixado para Ios e Android.

Para que os dados dos sensores cheguem até o produtor, por meio de algum aplicativo, é
necessário a transmissão dos dados dos sensores, do campo, local onde geralmente não
existe comunicação pela Internet, para uma base de dados num servidor, com acesso à
Internet, para posterior processamento e apresentação em um aplicativo de celular ou na
web. Este servidor poderá estar na sede da fazenda ou em algum local que tenha acesso
à Internet. Por outro lado, é necessário um sistema que acione os sensores para obter as
medidas em um horário qualquer desejado. Esse sistema de hardware e software, usado
para transmitir dados do campo para um local que tenha acesso à Internet, a qualquer
momento desejado, visando a informar ao produtor sobre dados climáticos, de solo, ou
outros fatores desejados, será discutido neste trabalho, e serve de sugestão para quem
desejar implantar esta infraestrutura. A vantagem deste sistema é que é relativamente de
baixo custo e a transmissão de dados, sem necessidade de repetidor, pode alcançar até 5
km de distância.

1. ARQUITETURA DO SISTEMA PARA A LAVOURA

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Dispositivos conectados, redes em expansão, grandes quantidades de dados, em suma, essa é a


Internet das Coisas. De cidades e carros inteligentes a estetoscópios inteligentes e coleiras de
cachorro, o mundo está se tornando mais interconectado a cada dia. [Alfa, 2021] .

Entre as inúmeras aplicações da tecnologia IoT, podemos citar:

• Conectar veículos;

• Casas inteligentes com dispositivos conectados;

• Segurança e privacidade – monitoração e alarme;

• Agricultura – medição e controle;

• Rastreamento de cargas em armazéns;

• Saúde – monitoração de dispositivos implantados;

• Manufatura – monitoração e controle de processos produtivos;

• Cidades conectadas – mobilidade, energia, gás, água, esgoto, serviços municipais;

• Rastreamento e monitoração de cargas em transporte.

Da lista acima, este trabalho vai se limitar ao escopo da Agricultura - medição e controle. Para
este trabalho, o sistema de hardware e software desenvolvido éconstituído por duas partes:
nós, que são dispostos em diferentes pontos da lavoura, e um gateway, responsável por coordenar,
gerenciar, e receber informações dos nós. A comunicaçãoentre os nós e o gateway éfeita exclusivamente
com o uso do protocolo LoRa [Semtech 2015][Teixeira and de Almeida 2017], que oferece alta
cobertura do sinal e baixo consumo energético em troca de velocidade de transmissão reduzida.
Para o envio de dados, como valores de sensores analógicos ou digitais, esta taxa de
transmissão reduzida não éum problema significante, uma vez que os dados da leitura podem ser
enviados em um único pacote de até 150 bytes de tamanho. O envio de dados maiores, como
imagens, não estáno escopo de uso deste protocolo. Não obstante, sob a limitaçãode a velocidade de
transmissão ser limitada, épossível transmitir tais arquivos.

Figura 1. Arquitetura da rede.

1.1. Comunicação

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O protocolo LoRa foi desenvolvido inicialmente em 2015 e possui como diferencialo baixo
consumo energético e a alta área de cobertura para envio de dados, que em condições ideais (i.e.
sem a interferência de outros sinais e na ausência de obstáculos) pode chegar a até 10 km de
distância. Em troca destas duas características, a velocidade de transmissão émassivamente menor
em comparação a tecnologias como Wi-Fi e bluetooth, podendo alcançar, em média, até 30 kbps
(kilobits por segundo).
Uma outra característica éo suporte a bandas de frequência, que não necessitam de licenças
para o uso, reduzindo a complexidade e o custo de seu uso.
Usualmente, componentes eletrônicos necessitam de um módulo específico para terem
suporte à comunicação LoRa. Entre eles estão o transceptor SX1276 e o módulo E32-915T20D
[Alldatasheet.com 2021]. Existem ainda microcontroladores que nativamente possuem o
transceptor SX1276 instalado e configurado, como o ESP32 WiFi LoRa32 (V2), produzido pela
Heltec Automation [Automation 2021][Automation 2020].

1.2. Nós
Cada nó é constituído por diferentes componentes eletrônicos. No protótipo atual, os de maior
importância são:
• Microcontrolador ESP32-Cam, sensores e câmera OV2640;
• Microcontrolador ESP32 WiFi LoRa 32 (V2), produzido pela Heltec Automation;
• Antena para 915MHz;

Figura 2. Microcontrolador ESP32 WiFi LoRa 32 (V2)

Figura 3. Microcontrolador ESP32-Cam

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O microcontrolador ESP32-Cam éresponsável exclusivamente por obter imagens e enviá-las


por UART (Universal asynchronous receiver-transmitter) para o ESP32 Heltec, sendo este então
responsável por enviar as imagens para o gateway via protocolo LoRa. Assim como é feito para
imagens, os valores dos sensores ligados ao Microcontrolador ESP32 WiFi LoRa 32 (V2) também
enviam dados pelo campo até ao gateway, que será descrito mais adiante.
Foram feitos testes para remoçãodo ESP32-Cam e uso de uma câmera OV2640 e OV7670
apenas, situaçãoem que o ESP32 Heltec seria o único microcontrolador do nó. Entretanto, devido à
alta impedância de entrada nos pinos deste microcontrolador, não foi possível ser feita a leitura dos
sinais de VSYNC e HSYNC (sinais de sincronizaçãovertical e horizontal, respectivamente) que a
câmera emite durante a transmissão da imagem e, portanto, não se conseguiu reconstruir a imagem
obtida pela câmera. Considerou-se o uso de um circuito capaz de amplificar estes sinais de
sincronização, mas devido àpossibilidade dos sinais serem distorcidos devido a flutuações térmicas dos
componentes do circuito, esta abordagem não foi realizada. Outras soluções são mencionadas na seção
de conclusões e trabalhos futuros.
A bateria émensurada com o uso de um divisor de tensão e a leitura pode então ser enviada
para o gateway, tal que o agricultor seja notificado caso algum nónecessite ter sua bateria trocada.
Ainda, existe a possibilidade de se usar uma placa fotovoltaica para alimentaçãode cada nó. Para
isto, seriam necessários a própria placa solar, um módulo TP4056, e um módulo LM2596, sendo o
primeiro módulo responsável por estabilizar a tensão de saída da placa fotovoltaica (que facilmente
oscila devido a variações na luminosidade ao longo do dia) e alimentar a bateria do nó, enquanto o
último regula sua tensão para o funcionamento adequado dos microcontroladores.

Figura 2. Circuito eletrônico do nó.

1.3. Gateway
O protótipo do gateway possui os seguintes componentes:

• Computador de placa única Raspberry Pi 3B+ [Foundation 2021];


• Microcontrolador ESP32 WiFi LoRa 32 (V2), produzido pela Heltec Automation;
• Antena para 915MHz;
O código para recepção das imagens foi escrito em Python, realizando a
comunicação com o microcontrolador ESP32 Heltec que, assim como no nó, é responsável apenas
pela comunicaçãoLoRa. O protocolo usado para interaçãoentre estes dois componentes éo UART. Foi
considerado usar um outro protocolo para comunicaçãoserial, como o I2C, todavia, o UART é suficiente
para obter o comportamento esperado, além de ser mais simples de se implementar. O gateway possui a

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funcionalidade de solicitar o reenvio da imagem automaticamente, caso o arquivo recebido esteja


corrompido.

2. FUNCIONAMENTO DO SISTEMA

O sistema como um todo é constituído por nós dispostos ao longo da plantação, e um gateway e
servidor localizados em algum ponto da lavoura, como na casa do agricultor. Cada nó inclui
sensores, um sistema para gerenciamento da bateria deste nó, e microcontroladores para
captura de dados dos sensores e envio destes para o gateway. O gateway contém um computador
de placa única (SBC), um microcontrolador responsável por comunicações a longas distâncias com
os nós, e conexão com a internet para envio dos dados recebidos ao servidor. Épossível configurar
o sistema para que o SBC atue como servidor também, reduzindo a complexidade e a necessidade
de configurar outros dispositivos para o gerenciamento do banco de dados.
Existem dois modos pelos quais um nó pode iniciar a captura dos dados ou de uma
imagem. O primeiro évia configuraçãode intervalos específicos: por exemplo, a cada 24 horas o nó
iráautomaticamente realizar a captura dos dados e envia a imagem ou dados àcentral. Outro
método épor “request” ou requisição do gateway. Caso seja de interesse do agricultor, este pode
solicitar manualmentea captura e envio de dados dos sensores ou de imagens de alguma
planta a ser monitorada, por exemplo, para um nó específico. Terminado o envio, o nó
automaticamente entra em modo sleep, permitindo que sua bateria seja conservada. Note que
ambos os modos que iniciam uma captura funcionam como uma interrupçãodo microcontrolador:
seja por tempo, ou seja por interrupçãoexterna (como a solicitaçãomanual do envio).
Obtida a imagem ou os dados dos sensores ou outro tipo de dados, éfeita sua divisão em
pacotes de até150 bytes de tamanho, que então são todos enviados sequencialmente ao gateway.
Este deve então enviar de volta uma mensagem contendo um único byte, indicando o recebimento
da mensagem, o que permite o nóenviar o próximo pacote. Caso não seja detectada esta mensagem
indicando o recebimento, o pacote éreenviado. O gateway foi configurado de modo a não considerar
um mesmo pacote duas vezes, no caso de te-lo recebido corretamente mas o nó não ter
conhecimento desta informação
Este processo é repetido para todos os pacotes que criam a imagem. Cada pacote tem
seus dados armazenados em um arquivo, e ao serem recebidos os bytes FFD9 (que indicam o
fim de um arquivo JPEG, caso seja imagem), o gateway reconhece o fim da transmissão e
imediatamente converte os bytes recebidos em uma imagem JPEG. O mesmo processo vale para
dados dos sensores ou outros dados, como dados de gps/localização do sensor.
Testes indicaram que, caso um dos pacotes seja corrompido durante a transmissão, devido
a seu tamanho pequeno, a imagem ou dados numéricos ainda podem ser reconstruídos sem defeitos
significativos. Devido àbaixa velocidade de transmissão, este processo atualmente pode durar até
20 minutos, para o caso de imagens, e segundos ou décimos de segundos para o caso de dados
numéricos ou alfanuméricos..

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3. RESULTADOS

Testes iniciais usaram antenas que acompanham o ESP32 LoRa produzido pela Heltec
Automation. Todavia, estas antenas não possuem a qualidade ideal para a frequência de transmissão
para o qual este microcontrolador opera (915MHz) [Spiess 2018]. Para dados numéricos ou
alfanuméricos, o resultado foi excelente. Para o caso de imagens, que podem ser transmitidas,
será dado ênfase pois se trata de uma informação de maior complexidade, e que deverá ser
remontada em seu destino.
Não obstante, separados por 200m de distância, o nó foi capaz de enviar uma
imagem de testes para o gateway. A imagem possui a resoluçãode 902x875 pixels e tem o tamanho
de 700kb, maior do que uma imagem obtida por uma câmera OV7670. Por ser um teste inicial do
protótipo, com o intuito de verificar a possibilidade de desenvolve-lo mais, foram usados pacotes
de 90 bytes. Isso resulta em uma transmissão mais lenta, com a vantagem de ser menos sujeita a
erros e reenvios. A imagem recebida apresentou amesma qualidade da original, com a exceçãode
ser parcialmente deslocada.

Figura 3. Imagem enviada.

4. CONCLUSÕES
Versões finais do protótipo foram capazes de enviar a imagem completamente, sendo o defeito
principal a demora com o qual a transmissão era finalizada. Não obstante, o sucesso no envio da
imagem indica a possibilidade real de o projeto ser uma ferramenta útil na lavoura.

Os dados numéricos, resultados dos sensores, e dados alfanuméricos, como metadados,


coordenadas geográficas, foram enviados e recebidos de forma satisfatória Com respeito às
imagens, o sistema de comunicaçãodesenvolvido mostra-se como uma extensão particularmente útil
do que o protocolo Lora já oferece, aumentando suas possibilidades de uso. Mesmo em uma
adaptaçãodeste projeto com foco na transmissão de dados de menor tamanho, o sistema de confirmação
de recebimento e reenvio automáticos são uma característica que aumenta a confiança no uso do
sistema.

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Os resultados já encontrados indicam que o sistema é funcional e é uma ferramentaútil em


lavouras. Para o caso demelhorara transmissão dos dados, os nós podem serusados para envio de dados como se fossem
repetidores, e assim garantir que os dados tenham perda muito pequena.
Também estásendo considerada uma reestruturaçãode como os nós se comuni- cam com o
gateway, substituindo a comunicação direta com uma malha de transmissão entre os nós. U m a
possibilidade de evitar falta de sincronização entre o nó e o gateway é o
u s o do um protocolo MQTT (do ingles Message Queue Telemetry Transport, éum protocolo de
comunicaçãoentre máquinas) [Yuan 2017] para organizar as mensagens recebidas e transmitidas
entre todos os nós. Dessa forma, quando um nóenvia um pacote contendo dados da imagem, os nós
próximos irão repetir esta transmissão, permitindo que o sinal permaneça forte e as chances de
dessincronizaçãoe corrupçãodos dados seja reduzida.
Em relaçãoao gateway, além da remoçãodo microcontrolador em favor do uso de um módulo
E32-915T20D, que precisaria ser gerenciado e controlado inteiramente pelo SBC, existe ainda a
possibilidade de se usarem vários destes módulos instalados em paralelo. Isto não aumentaria a
velocidade de recepçãodos dados, mas tornaria possível obter mais estabilidade na recepção, ou ainda,
reduzir a chance de pacotes oriundos de diferentes nós serem embaralhados durante o
recebimento. Para isso, seria necessário apenas configurar cada módulo para operar em uma faixa
de frequências ligeiramente diferente dos demais, e no caso do recebimento de um pacote, seria
apenas preciso solicitar ao nóque altere sua faixa de frequência para a mesma do receptor.

Referencias Bibliográficas

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CAPÍTULO 16

UTILIZANDO APRENDIZAGEM DE MÁQUINA PARA


CLASSIFICAÇÃO DE CRIANÇAS COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)

Maria Adriana Ferreira da Silva, Gabriel Caldas B. e Sá e Samara


Martins Nascimento

RESUMO: O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do


desenvolvimento, caracterizado por alterações na capacidade cognitiva e no
convívio social. Nas crianças, pode apresentar danos ou alterações básicas de
comportamento, interação social e dificuldades para se comunicar. O
diagnóstico precoce deste transtorno pode auxiliar no desenvolvimento das
diferentes formas de comunicação do portador. O uso de tecnologias para
classificação de traços do TEA podem apresentar grande importância no
auxílio desse diagnóstico. Assim, o objetivo deste trabalho se resume na
utilização de três modelos (Árvore de Decisão, K-NN e Naive-Bayes) de
aprendizagem de máquina para ajudar na classificação de crianças com TEA.
Para a realização do experimento, utilizou-se uma base de dados pública
contendo 1054 instâncias e 19 atributos. Com os resultados obtidos, foi
possível identificar que o modelo que apresentou os melhores resultados foi
o K-NN, além disso também foi possível perceber uma relação existente entre
o sexo e a ocorrência dos traços do autismo em crianças de um à três anos de
idade.

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INTRODUÇÃO

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do desenvolvimento caracteri-


zado por alterações na capacidade cognitiva e no convívio social, que, usualmente, tem sua
manifestação a primeira infância (CAETANO; GURGEL, 2018) (MAPELLI et al., 2018). Nas
crianças, pode apresentar danos ou alterações básicas de comportamento, interação social e
dificuldades para se comunicar (GAIATO; TEIXEIRA, 2018). Sua predominância mundial é
da ordem de 10/10.000 crianças, sendo superior em crianças de sexo masculino, onde para cada
menina, cinco meninos são autistas [SANTOS ET AL., 2015].
O diagnóstico precoce desse transtorno pode auxiliar no desenvolvimento das
diversas formas de comunicação do paciente, tanto na comunicação verbal por meio de
frases curtas, como na comunicação não verbal com estimulação do contato visual. Além disso,
pode melhorar o aprendizado e convivência na sociedade com o apoio de profissionais
capacitados (KLIN 2006). Assim, o uso de tecnologias para classificação de traços de
TEA podem apresentar grande importância no auxílio do seu diagnóstico (CALDAS et al.,
2020). Dentre essas tecnologias, as técnicas de Aprendizagem de Máquina (AM) vêm sendo
adotadas por pesquisadores, com a intenção de aprimorar o método de diagnóstico do TEA,
otimizando o tempo de análise e precisão dos sintomas, para conceder aos pacientes acesso
rápido ao devido tratamento do transtorno (THABTAH; KAMALOV; RAJAB, 2018b).
Segundo (FROTA et al., 2020), existe uma grande dificuldade de alcançar o
diagnóstico do autismo com maior precisão. Assim, este trabalho propõe a utilização de três
modelos de AM: Arvore de Decisão, K-Nearest Neighbors (K-NN) e Naive-Bayes; para ajudar
na classificação de crianças com TEA e auxiliar especialistas na busca por um diagnóstico deste
transtorno.
Incluindo esta seção, este artigo está organizado da seguinte forma: a Seção 2 descreve
os conceitos pertinentes para esta pesquisa, a Seção 3 ilustra os trabalhos relacionados, a Seção
4 apresenta os materiais e métodos que envolvem a descrição da metodologia utilizada.
A Seção 5, expõe os resultados e discussões e a Seção 6 apresenta as considerações finais.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Esta seção é destinada a apresentação da fundamentação teórica acerca dos conceitos e


temáticas pertinentes a este trabalho. Inicialmente, são apresentadas algumas características
sobre o TEA, após isso expõe-se sobre a aprendizagem de máquina com foco na aprendizagem
supervisionada e seus principais modelos e métricas de avaliação.

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Transtorno do Espectro Autista


O autismo é um transtorno caracterizado pela presença de déficits significativos na
interação social. Esse déficit pode ser muito severo, levando a problemas gerais tanto na
aprendizagem como na adaptação em si (DONVAN; ZUCKER, 2017). Segundo Cunha (2020)
uma das maneiras mais comuns de identificar casos de autismo em crianças é verificar se ela
aponta para algum objeto ou lugar. Isso acontece, pois a criança tem dificuldades para responder
a sinais visuais e, em geral não se expressa, mesmo quando é estimulada (CUNHA, 2020).
O TEA manifesta-se nos primeiros meses de vida. Mas, em geral, os sintomas tornam-
se aparentes por volta da idade de três anos. Percebe-se na criança o uso insatisfatório de sinais
sociais, emocionais e de comunicação, além da falta de reciprocidade afetiva. A comunicação
não verbal é bastante limitada e as formas de expressão são ausentes (CUNHA, 2020).

Aprendizagem de Máquina
Segundo Mitchell (1997) AM pode ser definida como a habilidade de desenvolver
programas de computadores baseados em tarefas que melhoram seu desempenho por meio de
experiências anteriores. Segundo Géron (2019) existem quatro tipos principais de AM:
supervisionado, não supervisionado, semi-supervisionado e por reforço, os quais são detalhados
a seguir.
• Aprendizado Supervisionado: é baseado em um conjunto de dados de entrada que
incluem as saídas desejadas, também chamadas de rótulos.
• Aprendizado Não Supervisionado: não existe a presença de rótulos e sim a
utilização de agrupamento de dados. Nesse aprendizado, o objetivo é encontrar
grupos semelhantes e descobrir relações existentes entre eles no conjunto de dados.
• Aprendizado Semi-supervisionado: o aprendizado consiste na utilização de um
conjunto de dados parcialmente rotulado, ou seja, dados rotulados e não rotulados.
Nesse caso, faz-se a classificação com base nos dados rotulados e depois realiza o
agrupamento desses dados.
• Aprendizado por Reforço: é caracterizado por uma série de reforços, em que o
sistema de aprendizado seleciona e executa ações, que resultam em recompensas
quando uma ação é considerada positiva ou punições quando uma ação é considerada
negativa.
Neste trabalho será utilizado a abordagem de aprendizagem supervisionada, pois tem-
se como objetivo principal fazer a classificação de traços do autismo em crianças, utilizando
um conjunto de dados rotulados. A aprendizagem supervisionada será melhor detalhada na

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seção a seguir.

Aprendizagem Supervisionada
De acordo com (RUSSELL; NORVIG, 2013), a aprendizagem supervisionada é
caracterizada pela presença de um conjunto de treinamento com 𝑁 pares de exemplos de
entradae saída (𝑥1 , 𝑦1 ), (𝑥2 , 𝑦2 ), . . . , (𝑥𝑛 , 𝑦𝑛 ), onde 𝑥𝑖 é a entrada e para cada 𝑦𝑗 é gerado por
uma função desconhecida 𝑦 = 𝑓(𝑥) para descobrir uma função ℎ que se aproxime da função
verdadeira 𝑓. Os valores de 𝑥 e 𝑦 não necessariamente precisam ser números, logo, podem
assumir quaisquer valores e a função ℎ é uma hipótese.
Para medir a precisão de uma hipótese, é preciso fornecer um conjunto de testes de
exemplos que são diferentes do conjunto de treinamento (RUSSELL; NORVIG, 2013). O
conjunto de treinamento e teste, pode ser definido utilizando uma técnica chamada validação
cruzada em k-pastas (do inglês k-fold cross-validation) (CASTRO; FERRARI , 2016).
A validação cruzada, é uma técnica que divide a base de dados em conjuntos de
treinamento e teste. Essa técnica tem como objetivo avaliar a capacidade de predição do modelo
através da aleatoriedade dos conjuntos (CASTRO; FERRARI , 2016) (STONE, 1974). Na
Figura 1 é apresentado um exemplo da validação cruzada com 𝑘 = 10𝑓𝑜𝑙𝑑.

Figura 1. Validação cruzada do tipo 10-fold.

Fonte: Castro e Ferrari (2016).

Modelos
Dada a importância da AM para a resolução de inúmeros problemas nas mais diferentes
áreas, uma grande variedade de modelos de AM podem ser encontradas na literatura. Dentre
eles, destacam-se: Árvore de decisão, K-NN e o Naive-Bayes, vistos a seguir.
• Arvore de Decisão: sua estrutura é organizada em forma de árvore, em que o nó
mais elevado da árvore é conhecido como nó raiz e os nós internos correspondem as

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folhas. O caminho da raiz até um nó folha corresponde a uma regra de classificação,


em que cada ramo representa um resultado do teste e os nós folhas representam
classes ou distribuições de classes. Após sua criação, a árvore pode ser utilizada para
classificar um objeto de uma classe desconhecida (CASTRO; FERRARI , 2016).
• K-NN: o algoritmo dos vizinhos mais próximos tem variações definidas pelo número
de vizinhos a serem considerados. O modelo k-vizinhos mais próximos, considera-
se os k vizinhos do conjunto de treinamento mais próximos do ponto. Assim, o
classificador k-NN procura pelos vizinhos mais próximos do objeto para determinar
a qual classe ele pertence (FACELI et al., 2018).
• Naive-Bayes: é um modelo estatístico baseado no teorema de Bayes e na suposição
de que os valores dos atributos são condicionalmente independentes de sua classe
(FACELI et al., 2018).

Métricas de Avaliação
É importante levar em consideração métricas que possibilitem fazer a medição e
avaliação do desempenho de cada um desses modelos. Segundo Faceli et al., (2018) é
recomendável seguir procedimentos que garantam a corretude, a validade e a execução dos
experimentos realizados. Essa avaliação pode ser realizada segundo diferentes aspectos, tais
como: acurácia, tempo de aprendizado e outros (FACELI et al., 2018). Dentre as principais
métricas de avaliações disponíveis na literatura para problemas de classificação, encontram-se:
a acurácia, a matriz de confusão, a precisão, o recall e o F1-Score, vistos a seguir.
• Matriz de confusão: uma matriz de confusão é, normalmente, aplicada em um
problemas de classificação e permite uma melhor compreensão dos modelos,
dividindo os resultados em quatro tipos, sendo eles: Verdadeiro Positivo (VP),
Verdadeiro Negativo (VN), Falso Positivo (FP) e Falso Negativo (FN) (FACELI et
al., 2018).
• Acurácia: a acurácia, está relacionada com o número de classificações corretas
dividido pelo número total de classificações (CASTRO; FERRARI , 2016).
• Precisão: é uma métrica utilizada para especificar a qualidade ou exatidão do modelo
e a proporção de exemplos positivos classificados corretamente entre todos aqueles
preditos como positivos e leva em consideração os valores de Verdadeiro Positivo
(VP) e Falso Positivo (FP) (FACELI et al., 2018) (CASTRO; FERRARI , 2016).
• Recall: é uma métrica que corresponde a taxa de acertos na classe positiva dos
valores que foram classificados corretamente, para determinar seu valor a quantidade

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de valores Verdadeiro Positivo (VP) e Falso Negativo (FN) são utilizados (FACELI
et al., 2018).
• F1_Score: essa métrica considera a precisão e o recall, em um intervalo entre 0 e 1,
com o objetivo de analisar o desempenho dos resultados obtidos (CASTRO;
FERRARI , 2016).

TRABALHOS RELACIONADOS

Na literatura, diversas soluções estão sendo desenvolvidas com o objetivo de identificar


o autismo ainda na infância. Muitas dessas soluções utilizam conceitos de inteligência artificial,
mais precisamente os conceitos de AM. Dentre essas soluções, destacam-se o trabalho de
(FROTA et al., 2020) que apresentam uma análise das características do autismo a partir de
algoritmos de AM, com o objetivo de auxiliar no diagnóstico do TEA. No trabalho, foi utilizado
uma base de dados pública, baseada nas características mais relevantes apresentadas por um
paciente. Os algoritmos utilizados foram: árvore de decisão, máquina de vetor de suporte,
perceptron de múltiplas camadas e k-vizinhos mais próximos.
O trabalho de (DA SILVA DORNELAS; LIMA, 2020) analisaram algumas
características individuais de crianças com a finalidade de encontrar padrões do TEA que sejam
capazes de auxiliar no diagnóstico deste transtorno. O experimento foi realizado por meio de
oito algoritmos de classificação, sendo eles: árvore de decisão, naive bayes, support vector
machine, multi layer perceptron, probabilistic neural networks, random forest, tree ensemble
e o gradient boosted. Com os resultados obtidos o algoritmo que apresentou melhor resultado
foi através da técnica probabilistic neural networks, obtendo uma acurácia em torno de 60% e
o pior resultado foi com a técnica multi layer perceptron com acurácia em torno de 58%.
O trabalho de (CALDAS et al., 2020) apresentaram o desenvolvimento de uma Rede
Neural Artificial para o auxílio do diagnóstico do TEA. A rede neural utilizada foi a rede Redes
MultiLayer Perceptron (MLP). A rede neural foi avaliada com base na análise das métricas de
acurácia, precisão, sensibilidade e especificidade da rede. Os resultados obtidos a partir da rede
MLP proposta foram bem satisfatórios, com acurácia de 99,7%, precisão de 99,9%,
sensibilidade de 99,6% e especificidade de 99,8%.
O trabalho de (DE BRITO; FERNANDES; AMORA, 2020) realizaram um estudo com
a implementação e análise das Redes Multilayer Perceptron e Radial Basis Function Neural
Network. Com os resultados obtidos, as duas redes obtiveram resultados satisfatórios para o
melhor e o pior caso. Os autores ressaltam que o pior caso em ambas as arquiteturas obtiveram

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

o mesmo percentual de acertos e erros. Entretanto, a rede neural Multilayer Perceptron


obteve melhores resultados que a rede neural Radial Basis Function Neural Network.
Em uma perspectiva semelhante dos estudos citados, este trabalho é proposto, visando
fazer a utilização de modelos preditivos que possibilitem classificar traços do Autismo em
crianças de 0 a 3 anos de idade, utilizando três diferentes modelos de aprendizagem de máquina,
sendo eles: árvore de decisão, K-NN e Naive Bayes.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho é composta por seis etapas: I) análise das
informações da base de dados original; II) pré-processamento dos atributos da base de dados;
III) relação existente entre os atributos; IV) redução da dimensionalidade e importância dos
atributos; V) definição de dados de treinamento e teste; e VI) definição, construção e validação
dos modelos. Cada uma dessas etapas são descritas a seguir.

Base de Dados
Para este trabalho será utilizada uma base de dados (THABTAH, 2018a) proveniente
da plataforma kaggle1. O conjunto de dados é uma triagem de autismo realizada em crianças
que continham características pertinentes para determinação de traços autistas e inclui 1054
instâncias e 19 atributos.

Pré-processamento dos Dados


Para a realização das etapas de pré-processamento utilizou-se a linguagem de
programação Python, juntamente com a biblioteca pandas no ambiente de desenvolvimento
Google Colaboratory ou Colab.
Inicialmente, removeu-se o atributo Case-No que representava a contagem dos dados
no conjunto e não apresentava relevância para o estudo. Também optou-se pela remoção do
atributo Qchat_10_Score, pois ele era usada para atribuir uma pontuação que poderia interferir
no resultado da classificação. Portanto, se mantivesse esse atributo existiria a possibilidade do
modelo ficar sobre-ajustado, ou seja, o modelo se adaptaria ao conjunto de dados no
treinamento, mas se tornaria ineficiente para prever novos resultados.
A partir disso, verificou-se a existência de valores faltosos, de modo que não foi
identificado nenhuma criança com informações faltosas, não sendo necessário realizar o

1
https://www.kaggle.com

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

tratamento destes casos. Após isso, ao analisar os dados a partir do método duplicated verificou-
se a existência de 79 valores duplicados, com isso para realizar o tratamento desses dados
utilizou-se o método drop-duplicates com o objetivo de remover esses valores duplicados.
No processo de limpeza dos dados, identificou-se que o atributo relacionado a idade
(Age_Mons) das crianças era do tipo contínuo e especificava a idade em meses. Assim, com o
objetivo de melhorar os dados para aplicação das técnicas, de modo que todos os atributos
ficassem com o mesmo tipo, decidiu-se realizar a categorização desse atributos. Dessa forma,
a idade em meses das crianças foi categorizada em quatro grupos, sendo eles apresentados a
seguir:
• Crianças com menos de um ano - De 0 a 11 meses;
• Crianças com um ano - De 12 a 23 meses;
• Crianças com dois anos - De 24 a 35 meses;
• Crianças com três anos - De 36 a 47 meses.
Devido à alguns modelos apresentarem dificuldades para realizar o processamento de
valores de texto (nominais) diretamente, fez-se uma transformação das categorias em valores
numéricos, usando a função replace. Por fim, identificou-se a presença de dados
desbalanceamento no atributo classificatório (ClassASD_Traits). Segundo Azang e Gurgel
(2020), esse desbalanceamento pode ser definido pela pequena incidência de uma categoria
dentro de um conjunto de dados (classe minoritária) em comparação com as demais categorias
(classes majoritárias). Na maioria dos casos, isso faz com que tenha-se muitas informações a
respeito das categorias mais incidentes, e menos das minoritárias, o que pode, em muitos casos,
interferir no resultado dos modelos.
Saber lidar com dados desbalanceados é de suma importância para o desenvolvendo dos
modelos de AM. Assim, uma forma de remover o viés causado pela diferença de proporção das
categorias, consiste em manipular a quantidade de dados que são efetivamente utilizados,
tentando igualar o número de observações entre as classes (AZANK; GURGEL, 2020). Há
diversas maneiras para resolver o problema de dados desbalanceados, dentre elas: o método
NearMiss, Undersampling, Smote e o Oversampling.
O método NearMiss, é um algoritmo que consiste em reduzir, de forma aleatória, os
exemplos da classe majoritária, selecionando os exemplos com base na distância. O
Undersampling é caracterizado por reduzir de forma aleatória os exemplos da classe
majoritária. O método smote consiste em gerar dados sintéticos (não duplicados) da classe
minoritária a partir de seus vizinhos. E o oversampling, é um método que consiste em replicar

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

dados aleatórios da classe minoritária (SANTANA, 2020).


Dito isto, fez-se a aplicação desses quatro métodos, com o objetivo de identificar qual
deles apresentava melhor resultado para o problema do desbalanceamento no atributo
classificatório do conjunto de dados. Com o objetivo de identificar qual apresentou melhores
resultados, aplicou-se o modelo Random Forest para validar cada uma dos métodos, levando-
se em consideração os parâmetros de acurácia, precisão, recall e F1-score. Assim, percebeu-se
que os métodos undersampling e oversampling, foram os que apresentaram melhores
resultados. No entanto, optou-se pela utilização do método undersampling, já que o método
oversampling pode prejudicar a performance do modelo para as classes minoritárias, já que
criou dados aleatórios para a classe e pode causar o problema de sobre-ajuste dos dados.
Após a realização de todos os procedimentos citados, obteve-se um conjunto de dados
contendo 975 instâncias e um total de 17 atributos totalmente preenchidos.

Relação entre atributos


Buscando compreender melhor a relação existente entre os dados para a classificação,
realizou-se uma análise dos dados. Inicialmente, fez-se uma análise para verificar se existia
alguma relação da idade e o sexo para a ocorrência do autismo. Com isso, pôde-se identificar
que em crianças do sexo masculino entre 0 e 3 anos, têm mais ocorrência de autismo, quando
comparada com crianças do sexo feminino na mesma idade. Isso pode ser explicado pelo fato
de que existe uma maior predominância do autismo em crianças do sexo masculino masculino
(SANTOS et al., 2015]). Essas características são melhores observadas na Figura 2.

Figura 2. Relação do sexo e idade com o autismo.

Fonte: Autores, 2021.

Após isso, fez-se uma análise para identificar se o nascimento de crianças com icterícia

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

também teria alguma relação. Nesse caso, observou-se que existe pouca relação do nascimento
com icterícia para a ocorrência do autismo, com menos de 100 casos, quando comparado com
os casos de crianças que nasceram sem icterícia apresentando uma maior quantidade de casos
(Figura 3).

Figura 3. Relação da icterícia com o autismo.

Fonte: Autores, 2021.

Diante dessa análise, foi possível observar que o aparecimento dos traços do autismo,
ocorre com maior frequência em crianças do sexo masculino, com idade entre um e três anos.
Além disso, também foi possível identificar que o nascimento da criança com icterícia não tem
tanta relação com o aparecimento dos traços do autismo, de modo que o número de casos nesse
contexto é quase linear e menor do que o número de crianças com TEA que nasceram sem
icterícia.

A redução da dimensionalidade e importância dos atributos


Ao final da etapa de pré-processamento obteve-se uma base contendo 975 instâncias,
cada qual contendo 17 atributos. O atributo “ClassASD_Traits” foi considerado o atributo
classe, visto que a partir dos demais atributos é possível predizer seu valor.
Com o objetivo de obter atributos com maior relevância e assim conseguir minimizar
os custos de medição bem como aumentar a precisão dos experimentos, buscou-se realizar a
redução da dimensionalidade dos dados. Para isso, utilizou-se o modelo \textit{Random Forest}
para identificar a importância de cada atributo com base no ganho da entropia, por meio da
função feature_ importances_ encontrada no modelo. Ao final foram selecionados os atributos
com maiores níveis de importância, resultando em 15 atributos incluindo o atributo
classificador. A Tabela 1 apresenta os atributos selecionados e a importância de cada um deles.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Tabela 1. Matriz de Confusão de cada técnica.


Atributo Valor
A1 0.131
A2 0.083
A3 0.056
A4 0.073
A5 0.111
A6 0.119
A7 0.097
A8 0.055
A9 0.128
A10 0.028
Age_Mons 0.032
Sex 0.013
Ethnicity 0.043
Jaundice 0.016
Fonte: Autores, 2021.

Por fim, após a realização de todos esses procedimentos, a base gerada foi utilizada
como entrada para os modelos de aprendizagem de máquina. A seguir é apresentada a descrição
dos atributos da base.
• A1 [Seu filho olha para você quando você chama o nome dele?]
• A2 [É fácil para você manter contato visual com seu filho?]
• A3 [Seu filho aponta para indicar que quer algo?]
• A4 [Seu filho aponta para compartilhar interesse com você?]
• A5 [Seu filho finge?]
• A6 [Seu filho segue para onde você está olhando?]
• A7 [Se você ou outra pessoa da família está visivelmente chateada, seu filho mostra
sinais de querer confortá-los?]
• A8 [Você descreveria as primeiras palavras do seu filho como?]
• A9 [Seu filho usa gestos simples? (por exemplo, acenar adeus)]
• A10 [Seu filho não encara nada sem nenhum propósito aparente?]

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

• Age_Mons [Idade]
• Sex [Sexo]
• Ethnicity [Lista de etnias]
• Jaundice [Nasceu com icterícia]

Treinamento e Teste
Para testar e validar os modelos, utilizou-se o método de treinamento e teste baseado
em validação cruzada, estendendo o método k-fold (Seção 2) sendo k = 10. Assim, com o
objetivo de obter o melhor desempenho entre os modelos para o contexto do trabalho, levou-se
em consideração a acurácia média para todas as iterações e o desvio padrão, dado pela raiz
quadrada da variância dos dados, em que quanto mais próximo de zero melhor a
homogeneidade do conjunto de dados. Além disso, também levou-se em consideração a matriz
de confusão, a precisão, o recall e o F1-Score.

Definição do Experimento
Para realizar o experimento foram selecionados três modelos de aprendizado de
máquina para serem avaliados e encontrar o melhor resultado para o problema abordado. Os
modelos selecionados foram: Árvore de Decisão, K-NN e Naive Bayes, essa escolha se deu
pela ampla utilização desses modelos em problemas de classificação. Além disso, foi utilizado
a linguagem de programação Python, fazendo uso das bibliotecas scikit-learn, pandas, seboarn,
matplotlib e a ferramenta Colaboratory ou Colab do Google, para a realização do experimento.
Os resultados obtidos serão melhor discutidos na Seção 5.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para a realização do experimento, inicialmente fez-se alguns etapas, tais como: análise
das informações da base de dados, pré-processamento dos atributos, identificação da relação
existente entre os atributos, redução da dimensionalidade, identificação da importância dos
atributos, definição dos dados de treinamento e teste e a definição do experimento. No
experimento fez-se a utilização dos modelos de Arvore de Decisão, K-NN e Naive Bayes, com
o objetivo de identificar qual apresentou os melhores resultados.
Após a realização dos experimentos obteve-se os resultados dos modelos sobre a base
de dados, por meio da avaliação do desempenho de cada um. Nas Figuras 4 e 5 são apresentados
os resultados da utilização dos modelos de forma individual com relação ao desvio padrão e a
acurácia média, respectivamente. Dada uma análise dos resultados obtidos, identificou-se que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

os modelos apresentaram acurácias médias bem próximas, sendo o modelo Naive Bayes o que
apresentou a melhor média de acurácia, em torno de 93%. No entanto, quando comparado aos
outros modelos, o Naive Bayes foi o que apresentou o maior desvio padrão. O modelo de árvore
de decisão obteve uma acurácia e um desvio padrão próximo do Naive Bayes enquanto o K-
NN, foi o que apresentou a desvio padrão mais baixo.

Figura 4. Desvio padrão em cada técnica.

Fonte: Autores, 2021.

Figura 5. Acurácia média em cada técnica.

Fonte: Autores, 2021.

A Tabela 2 apresenta as matrizes de confusão médias resultantes do processo de


validação cruzada. Os valores nela apresentados correspondem as taxas de acertos, com relação
aos valores que foram classificados como verdadeiros positivos e negativos e os valores
classificados como falsos positivos e negativos.

Tabela 2. Matriz de Confusão de cada técnica.


Técnicas Matriz de Confusão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Árvore de Decisão [[67 10]


[6 88]]
K-NN [[68 9]
[1 93]]
Naive Bayes [[73 4]
[6 88]]
Fonte: Autores, 2021.

Os resultados médios obtidos por cada uma das técnicas, calculados a partir das matrizes
de confusão, podem ser encontrados na Figura 5. Ao analisar as métricas apreentadas na Figura
6, infere-se que o algoritmo Naive Bayes foi capaz de fazer as melhores previsões de
verdadeiros positivos, ou seja, dos casos nos quais é possível identificar traços de autismo nas
crianças. O K-NN, mesmo com bons resultados para o valor da precisão em relação a previsão
correta dos traços do autismo, apresentou um baixo recall para fazer previsões na classe
positiva. Como esperado, os resultados da Árvores de Decisão foram bons, mas inferiores
quando comparado com outros algoritmos.

Figura 6. Resultados obtidos em cada técnica.

Fonte: Autores, 2021.

Diante do exposto, pode-se perceber que tanto o modelo K-NN como o Naive Bayes
apresentaram resultados bem semelhantes. Para identificar qual o modelo que apresentou
melhor resultado, também levou-se em consideração a matriz de confusão e o desvio padrão.
Nesse caso, o K-NN, devido ter apresentado o menor desvio padrão quando comparado com o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Naive Bayes, foi o que apresentou melhor resultado, já que quanto maior o desvio padrão,
menos confiança pode-se ter na generalização alcançada pelo modelo.

CONCLUSÃO

O objetivo principal deste trabalho consiste na utilização de três modelos (Árvore de


Decisão, K-NN e Naive-Bayes) de aprendizagem de máquina para ajudar na classificação de
crianças com TEA e auxiliar especialistas na busca por um diagnóstico deste transtorno.
A partir de uma análise feita nos dados, foi possível observar que a presença dos traços
de autismo em crianças com até 3 anos ocorre com maior frequência em indivíduos do sexo
masculino. Também foi possível identificar que o nascimento da criança com icterícia não total
relação com o aparecimento dos traços do autismo, de modo que o número de casos nesse
contexto, é quase linear e menor que o número de crianças com autismo e que não têm icterícia.
Por fim, dentre os experimentos executados, os modelos K-NN e Naive Bayes
obtiveram os melhores resultados, quando comparados ao modelo de árvore de decisão. No
entanto, o Naive Bayes apresentou um desvio padrão alto o que fez com que o K-NN
apresentasse os melhores resultados. Como trabalhos futuros, pretende-se realizar a aplicação
de outros modelos de AM, como por exemplo redes neurais artificiais e a aplicação de outras
métricas de avaliação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 17

Uma Proposta Interdisciplinar em um Curso


Técnico em Química: Análise e Uso do Solo

Vania de Almeida Pollitti

RESUMO: Neste projeto de pesquisa propõe-se a investigação da


aprendizagem significativa, em que o aluno do curso técnico faça uma
conexão com as disciplinas do curso por meio de uma sequência didática com
o tema Solo, de maneira que contemple a interdisciplinaridade entre as
diversas disciplinas do curso técnico de Química, que torne possível o
conhecimento ampliado dos processos e fenômenos e que, de fato, o aluno
consiga no final da proposta compreender, de forma dinâmica, essa interação
e reconhecer a importância que o solo exerce, integrando as disciplinas de
Química do primeiro módulo do curso. A ideia é que os alunos do curso
técnico tenham competência, por meio de uma sequência didática, utilizando
alguns conceitos e métodos de análise do solo - entre eles o Método de
Kjeldahl, partindo da amostragem do solo em diversos pontos e por meio de
experimentos e aulas teóricas utilizando este Método. Fazendo com que a
parte interdisciplinar das disciplinas do curso possa haver uma integração
maior de algumas disciplinas que são consideradas de difícil entendimento e
menor aprendizado, visto no WebSAI que é uma plataforma de avaliação
institucional do Centro Paula Souza. A metodologia ativa será Aprendizagem
Baseada em Problemas (ABP) – Problem Bases Learning (PBL), como é
conhecida mundialmente –uma metodologia de ensino-aprendizagem
caracterizada pelo uso de problemas da vida real para estimular o
desenvolvimento do pensamento crítico.

Página 248
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

A finalidade deste trabalho consiste em por meio da sequência didática, fazer


um escaneamento com outras disciplinas do curso para verificar se é possível sanar
os problemas de entendimento de algumas disciplinas. Trabalhar também com o
método de Kjeldahl cujo processo aborda vários conceitos que os alunos já tiveram
contato e outros que conhecerão em outros módulos, pois verifica-se que o
aprendizado até o momento se trata de uma aprendizagem mecânica.
Vários autores que têm estudado a interdisciplinaridade e a formação
profissional, oferecem subsídios para a análise dos resultados. Para a instituição
de ensino ser bem estruturada, deve ter a capacidade de articular fontes externas
em âmbito político, econômico e cultural, identificando as necessidades manifestas
pela sociedade, percebendo hoje que uma das demandas é a mediação entre as
disciplinas, isto é, trabalho em equipe.

Página 249
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

OBJETIVOS

1. Objetivo Geral

Investigar vantagens e desvantagens do uso de metodologia de ensino-


aprendizagem ativa, investigativa e interdisciplinar, com temática de análise e
correção de solos, em disciplinas de um curso técnico em química.

2. Objetivos Específicos

- Propor sequência didática interdisciplinar que utilize metodologia ativa,


investigativa com temática “Analise e uso do solo em Escola Técnica”.
- Avaliar aprendizagem dos alunos, incluindo objetivos de aprendizagem
procedimentais e atitudinais.

METODOLOGIA

Será uma pesquisa qualitativa, na Etec Dr. Celso Giglio, situada no município
de Osasco, onde temos os Curso Técnico Modular em Química, com os alunos do
segundo módulo em Química na disciplina de Química Ambiental,sendo no total 26
alunos, a pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2019, como temática
SOLO, sendo aplicado uma Sequência Didática com cinco etapas, envolvendo
disciplinas do primeiro módulo, ocorrendo uma interdisciplinaridade com
professores e alunos do módulo, número de parecer do CEP CAAE
96711318.30000.5473.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após realizarem todas as etapas da sequência didática, onde a primeira etapa foi
coleta do solo e demarcação da área, foi trabalhado a proporção direta matemática
e Química, onde haviam uma dificuldade de menor aprendizado na disciplina do
primeiro módulo em Físico-Química, já na segunda etapa trabalhamos o elemento
nitrogênio na sua totalidade, envolvendo tabela periódica, ligações química e suas
propriedades, já na terceira etapa realizamos o mapa mental do Ciclo do nitrogênio,
relacionando o nitrogênio na sua fixação e com o meio ambiente em relação a
chuva ácida, já na quarta etapa estudo do Método de Kjeldahl, para quantificar o
nitrogênio no solo da Etec, estudo das etapas deste método como: digestão,
destilação e titulação, na última etapa, como este método envolve a parte de
reações químicas, vidrarias utilizadas, segurança no processo e preparações de
soluções, conseguimos envolver várias disciplinas do primeiro módulo reafirmando
uma aprendizagem significativa e diminuindo as dificuldades citadas na plataforma
do CPS, como disciplinas consideradas de menor aprendizado. Como
fundamentação teórica foi baseado na Aprendizagem Significativa de Ausubel e
Aprendizagem Significativa Crítica de Marcos Moreira.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CONSIDERAÇÕES FINAIS/CONCLUSÃO

A realização de um projeto interdisciplinar na formação técnica é


extremamente relevante, pois o professor tem contatos com diferentes
metodologias de aprendizagem para então avaliar a sua eficiência, em que
situações são importantes e eficientes e através de projetos interdisciplinares pode
ser efetivado. No entanto não basta somente observar as situações de
aprendizagens, mesmo que sejam variadas e o tempo de observação for longo é
necessária também a atuação do professor em formação para que enfrente
diferentes situações e que possa então ser protagonista e ter outro ponto de vista
além da observação diária.

REFERÊNCIAS

ANDRAUS, R. C. Olhando para o serviço social numa perspectiva interdisciplinar.


Bauru: EDUSC, 1996. 132 p.

AUSUBEL, D.P. (1968). Educational psychology: a cognitive view. New York, Holt,
Rinehart and Winston.
.
BISSANI, C. A. et al. Fertilidade dos solos e manejo da adubação de culturas. 2.
ed. Porto Alegre: Metrópole, 2008. 344 p.
BLOOM,B.S.; Hastings,J.T.; MADAUS,G.F. Manual de Avaliação Formativa e
Somativa do Aprendizado Escolar. S. Paulo ; Livraria Pioneira Editora, 1983.

BRASIL. Ministério da Educação (MEC), Secretaria de Educação Média e


Tecnológica (Semtec). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio.
Brasília: MEC/Semtec, 1996.

BROUSSEAU, G. Introdução a teorias das situações didáticas: conteúdos e


métodos de
ensino. São Paulo: Ática, 2008.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 18

ASTROFOTOGRAFIA COMO RECURSO


PEDAGÓGICO MULTI E INTERDISCIPLINAR PARA
ENSINAR CIÊNCIAS E ASTRONOMIA

LUCAS FERREIRA DA SILVA

RESUMO: Com o surgimento de novas tecnologias e meios de interação, as


imagens passaram a desempenhar um papel importante na sociedade. Parte
dessas imagens, como as astrofotografias, quando aliadas ao ensino de
ciências apresentam grande caráter multidisciplinar e interdisciplinar. Este
capítulo tem como foco apresentar estratégias, propostas, atividades e
materiais que fomentem o uso e a disseminação das astrofotografias, em
ambientes formais e não formais de aprendizagem em ciências e em diversas
etapas educacionais. Almeja, também, sistematizar conteúdos e atividades
elaboradas a partir de astrofotografias, destinadas ao uso em sala de aula,
eventos de C&T, planetários, provas e olimpíadas, etc., para que professores
e demais profissionais da educação tenham acesso e possam utilizar nos
diversos contextos educacionais. Trata-se de um estudo preliminar acerca da
astrofotografia como recurso pedagógico multi e interdisciplinar no âmbito
das ciências e da astronomia. Por fim, os objetivos esperados deste trabalho
foram alcançados, uma vez que as estratégias, recursos pedagógicos e
práticas multi e interdisciplinares, a partir da astrofotografia, foram propostos
e sistematizados. Assim como contribuiu para uma base teórica inicial acerca
da astrofotografia como recurso pedagógico multi e interdisciplinar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Com o surgimento de novas tecnologias e meios de interação, as imagens passaram a


desempenhar um papel importante na estrutura e apresentação de interfaces e de conteúdos
diversos, entre estes as astrofotografias e fotografias, que são amplamente difundidas e
utilizadas no dia a dia, principalmente em redes sociais, aplicativos, sites, livros, televisão,
filmes, séries, programas para PC, etc.
Diversas inovações tecnológicas também contribuíram para a ocorrência de mudanças
significativas e fundamentais no papel do conhecimento nas inter-relações, e.g. relações sociais,
levando a uma nova linguagem, um novo paradigma, econômico, tecnológico, cultural, etc.,
que se tornou a base da sociedade atual (BICALHO & OLIVEIRA, 2011).
As imagens, principalmente as astrofotografias, quando aliadas ao ensino de ciências
apresentam grande caráter multidisciplinar e interdisciplinar, podendo, então, contribuir para
uma dinâmica e prática pedagógica mais efetiva, lúdica, acessível e interessante.
É necessário, então, os profissionais da área da educação estarem em constante
reciclagem e atualização acerca das astrofotografias e conteúdos relacionados, para que assim
possam melhor utilizar, ou até mesmo melhor compreender as potencialidades das
astrofotografias como recursos pedagógicos (didáticos), principalmente de forma multi e
interdisciplinar.
Este capítulo tem como foco apresentar estratégias, propostas, atividades e materiais
que fomentem o uso e a disseminação das astrofotografias, em ambientes formais e não formais
de aprendizagem em ciências e em diversas etapas educacionais. Almeja, também, sistematizar
conteúdos e atividades elaboradas a partir de astrofotografias, destinadas ao uso em sala de aula,
eventos de C&T, planetários, provas e olimpíadas, etc., para que professores e demais
profissionais da educação tenham acesso e possam utilizar nos diversos contextos educacionais.
Espera-se que os resultados obtidos neste trabalho possam contribuir para o
fortalecimento das bases conceituais e práticas da astrofotografia, especialmente como recurso
pedagógico, assim como instigar a reflexão acerca das questões epistemológicas e
metodológicas que envolvam o desenvolvimento de recursos pedagógicos astrofotográficos.
Trata-se de um estudo preliminar acerca da astrofotografia como recurso pedagógico
multi e interdisciplinar no âmbito das ciências e da astronomia.

REGISTROS DO CÉU

A astrofotografia tem sua origem advinda da fotografia, que surgiu por volta do início

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de 1800, quando experimentalistas desenvolveram materiais fotossensíveis, instrumentos e


técnicas para capturar cenas reais e fixá-las em chapas para observações futuras. No caso da
astronomia, os primeiros registros solares, lunares, estelares, de nebulosas e de objetos do céu
profundo, bem feitos, se deram seis décadas após a primeira fotografia tirada na França, por
Joseph Niépce em 1826 (LIMA, 2007 apud FERREIRA & FURTADO, 2022, no prelo).
Acerca da história da astrofotografia, os trabalhos e pesquisas do astrofotógrafo
português Pedro Ré (2009) são de grande relevância, pois são um compêndio e arcabouço rico
em detalhes históricos acerca da astrofotografia, seus métodos, técnicas, descobertas e registros.

Figura 1. Evolução das astrofotografias. Recorte do fôlder “Astronomia e Astrofotografia: Uma janela para o
Ensino de Ciências” (material didático).

Fonte: Autor; Dennis Asfour; UnB; AEB; MCTI, 2015.

Segundo Ferreira e Furtado (2019) astrofotografia pode ser entendida como sendo “um
método de captura de eventos, fenômenos e objetos celestes, a partir do uso de equipamentos
fotográficos. A astrofotografia se dá através de um processo, sistemático e com pré-requisitos
técnicos, práticos e teóricos”.
Ainda assim, o astrônomo brasileiro Ronaldo Mourão (1987) define em seu Dicionário
Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, que a astrofotografia nada mais é que “a aplicação

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

da técnica fotográfica à astronomia, fotografia celeste”.


Para Ribeiro (2019) apud Ferreira (2021):
A astrofotografia pode ser entendida como uma técnica de investigação em
astronomia, já que está direcionada ao estudo e entendimento dos objetos e corpos
celestes, como estrelas, satélites naturais, planetas, nebulosas, cometas, aglomerados
de estrelas, galáxias, etc. (RIBEIRO, 2019 apud FERREIRA, 2021, p. 77).
A partir da virada do séc. XX a astronomia sofreu um grande avanço quanto à coleta,
armazenamento e observações astronômicas a partir de chapas fotográficas, diversas dessas
chapas eram utilizadas nos antigos observatórios. Um exemplo dessas chapas com materiais
fotossensíveis, que ficavam expostas durante vários minutos a horas, é a famosa placa
fotográfica do astrônomo Edwin Hubble (Figura 2). Com essa placa apontada para a galáxia de
Andrômeda, montada ao Telescópio Hooker de 2,54 m do Observatório Monte Wilson, Hubble
observou diretamente uma estrela variável Cefeida, acontecimento que marcou a era das
grandes observações astronômicas e deu novos rumos à cosmologia e ao entendimento do
Universo. Tal descoberta representa a observação direta de que Andrômeda não era parte da
Via Láctea, como os astrônomos pensavam na época. (SODERBLOM, 2012).

Figura 2. Esquerda: Placa fotográfica da galáxia de Andrômeda de 1923 (45 min de exposição)
capturada por Edwin Hubble. Direita: O Telescópio Espacial Hubble revisitou a famosa estrela variável
Cefeida V1 do Hubble entre dezembro de 2010 e janeiro de 2011.

Fonte: Esquerda: Cortesia Observatórios Carnegie. Direita: NASA; ESA; Hubble Heritage Team (STScI/AURA);
Agradecimento: R. Gendler. Disponível em: https://www.nasa.gov/content/about-story-edwin-hubble.

Com o surgimento das primeiras câmeras digitais, nos anos 60, tal feito possibilitou que
a Agência Espacial Norte Americana (NASA) utilizasse a nova tecnologia numa missão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

espacial, no auge da corrida espacial. Uma câmera fotográfica digital foi utilizada na missão
Mariner IV ao planeta vermelho Marte, que foi a primeira sonda a tirar fotos da superfície
marciana, em 1965. Ao todo foram 22 fotografias tiradas pela sonda em seu sobrevoo (fly-by)
e transmitidas de volta à Terra (VILLEGAS, 2009).

Figura 3. Impressão artística do sobrevoo da sonda Mariner IV em Marte.

Fonte: Corby Waste, NASA JPL.

Figura 4. Campo Ultra Profundo de Hubble (HUDF).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: NASA, ESA, STScI, HUDF Team, 2005.

Na década de 90, com o lançamento do Telescópio Espacial Hubble (HST), outro


impacto científico ocorreu, devido às astrofotografias de campo profundo do potente e
tecnológico telescópio espacial da NASA. Nos anos 2000, o Campo Ultra Profundo de Hubble
(em inglês Hubble Ultra Deep Field - HUDF) representa a observação, no comprimento de
onda do visível, mais antiga do Universo. Nessa astrofotografia (Figura 4) galáxias muito
distantes e primitivas, resquícios de luz das primeiras formações extragalácticas e de fontes
radioagalácticas, de alta energia, são vistas a dezenas de bilhões de anos-luz de distância.
(FERREIRA & FURTADO, 2019).

ASTROFOTOGRAFIA NAS CIÊNCIAS E NA SOCIEDADE

A importância das astrofotografias no meio científico é notável. Desde as primeiras


missões espaciais até os grandes avanços das tecnologias dos telescópios espaciais e terrestres,
com seus sensores CCD e CMOS, muitas descobertas e avanços foram feitos, e registrados.
Mapas estelares astrofotográficos, nebulosas, aglomerados de estrelas, galáxias, astrofotografia
planetária, detalhes que nunca seriam possíveis, caso a astrofotografia não tivesse acompanhado

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

as principais mudanças tecnológicas dos sécs. XIX e XX (FERREIRA & FURTADO, 2019).
A dimensão da astrofotografia nas ciências e em diversos campos de estudo vai além da
sua representação gráfica, ilustrativa ou de seu caráter científico, pois além de serem um registro
verossímil da realidade e dos acontecimentos, podem ser excelentes recursos pedagógicos, tanto
multidisciplinares quanto interdisciplinares, principalmente para ensinar ciências, astronomia e
áreas correlatas. Saber aproveitar esses recursos, por exemplo em sala de aula (aulas de ciências,
de física, de química, de matemática, etc.) e em outros contextos, dão oportunidade para uma
percepção diferenciada e uma abordagem precisa da realidade.
Para se obter uma noção do panorama da aplicação e difusão da astrofotografia, em
diversos contextos e áreas, foi elaborada uma tabela (Tabela 1) a partir de 5 eixos temáticos
(indicadores), sendo eles: Meio digital (MD), meio impresso (MI), meios e ambientes de
divulgação (DIV), meios e ambientes de ensino, pesquisa e extensão (EPE) e, por fim, meios
de entretenimento e notícias (ETN).
Podemos tomar como exemplo espaços formais e não formais de aprendizagem em
ciências e astronomia, para ressaltar a presença de astrofotografias em diferentes contextos e
locais, como no Planetário de Brasília, por exemplo, que tem sua história consolidada e de
grande importância para a divulgação e acesso de conteúdos de ciências e de astronomia ao
público geral.
Tabela 1. Diferentes áreas e contextos onde são encontradas e utilizadas astrofotografias.

Áreas e contextos Exemplos e aplicações MD MI DIV EPE ETN

APOD; ESA Sky; Google Sky; Stellarium;


Solar System Scope; Star Walk 2; Nasa’s Eyes;
Aplicativos, sites, jogos e
Mapa do Céu do Hubble; Native Apps: ✓ ✓ ✓ ✓
programas
ClassAction e NAAP Labs (UNL); Universe
Sandbox; etc.
Cursos de capacitação e Astrofísica Para Todos; CIAA INPE; AEB
✓ ✓ ✓
extensão Escola; Astronomia USP; etc.

Ensino fundamental e médio: ciências, física,


química e geografia;
Ensino superior: astronomia, astrofísica,
Educação básica e ensino
cosmologia, ciências naturais, geologia, ✓ ✓ ✓
superior
geofísica, geociências, meteorologia, engenharia
aeroespacial, engenharia de energia, ciências
ambientais, etc.
Eventos formais e não
Projeções em planetários fixos e móveis;
formais de aprendizagem ✓ ✓ ✓ ✓
eventos de C&T; palestras; oficinas; etc.
em ciências e astronomia

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Da Terra para o Universo (IYA, 2009);


Universo Incrível (ESO, 2012); Exposições do
Galerias e exposições MAST; Futuro Espacial (Space Adventure, ✓ ✓ ✓ ✓
2021); NASA Science Days (NASA; AEB,
2019); etc.
Cosmos; Encontros Brasileiros de
Astrofotografia (CAsB); Guia Ilustrado
Livros didáticos, científicos,
Astronomia; O Livro de Ouro do Universo; ✓ ✓ ✓ ✓ ✓
infantis e de divulgação
Astronomia e Astrofísica; À luz das estrelas;
Astronomia para crianças; etc.
Olimpíada Brasileira de Astronomia e
Olimpíadas, provas e Astronáutica (OBA); Olimpíada Brasileira de
✓ ✓ ✓
vestibulares Geografia (OBG); Olimpíada Brasileira de
Ciências da Terra (OBCT); etc.
Revista Brasileira de Astronomia (RBA);
Revista Latino-Americana de Educação em
Periódicos e revistas
Astronomia (RELEA); Revista Brasileira de ✓ ✓ ✓ ✓
científicas
Ensino de Física (RBEF); Scientific American
Brasil; etc.

Cosmos: Uma Odisseia do Espaço-Tempo


Séries, filmes e notícias (2014); Interestelar (2014); Big Bang: A Teoria ✓ ✓ ✓
(2007-2019); BBC News; G1 GLOBO; etc.

NASA, ESA, ESO, AEB, etc.; Hubble Imagens


Icônicas; Cátalogo Messier do Hubble;
Veículos e meios digitais Canais no Youtube: Astrum Brasil; Ciência ✓ ✓ ✓ ✓
Todo Dia; Space Today; Veritasium, etc.;
Instagram; Facebook; Twitter; etc.
Fonte: Autoria própria.

Além disso, a presença da astrofotografia em galerias e exposições é notável. Um


exemplo é a exposição “Universo Surpreendente” do Planetário de Brasília, que conta com
diversos painéis astrofotográficos impressos em alta qualidade, em comemoração aos 50 anos
do Observatório Europeu do Sul (ESO), originalmente intitulado “Universo Incrível” (ESO,
2012).

Figura 5. Fragmento da exposição “Universo Surpreendente” do Planetário de Brasília.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: autoria própria.

Outro exemplo mundial do uso das astrofotografias como meio de divulgação, ensino e
entretenimento aconteceu durante o ano internacional da astronomia (IYA, 2009), com a
exposição científica pública intitulada “Da Terra para o Universo” (em inglês From Earth to
the Universe - FETTU), com painéis e astrofotografias disponíveis para impressão e exibição
gratuita. Essa exposição foi realizada em diversos continentes e cidades e alcançou públicos em
escala global. Arcand e Watzke (2009) desenvolveram pesquisas e publicaram artigos
direcionados à ciência pública (em inglês Public Science) a partir do projeto e exposição “Da
Terra para o Universo”.
A exposição científica pública “Da Terra para o Universo”, de impacto mundial, se
encontra atualmente em exibição no Planetário de Brasília e atinge visitantes de todos os estados
brasileiros, estrangeiros e de diversas escolas do Distrito Federal. No Planetário de Brasília a
maior parte das visitas são guiadas e seguem um roteiro de apresentação, majoritariamente por
monitores educacionais da área de ciências naturais.

Figura 6. Painéis da exposição “Da Terra para o Universo”, do ano internacional da astronomia (IYA, 2009),
expostos no Planetário de Brasília.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: autoria própria.

Em 2021, para a exposição do Planetário de Brasília “Uma viagem no espaço-tempo:


embarque nessa jornada”, foi elaborado, pelo autor, um recurso pedagógico intitulado “Linha
do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”, contendo astrofotografias e imagens
criteriosamente selecionadas, as distâncias dos corpos celestes a partir do Sol, rótulos com os
nomes, distâncias em tempo-luz e em quilômetros, assim como diversas curiosidades. Baseado
na proposta de atividade da NASA JPL (2021).
A ideia principal da “Linha do espaço-tempo” era do visitante visualizar as distâncias,
em escala e dispostas ao longo do saguão do planetário (31 metros), partindo do Sol até a sonda
da Voyager 1, assim como passear e interagir com as curiosidades, rótulos e imagens. Dessa
forma, o visitante ficaria imerso e faria parte da própria atividade, envolvendo o próprio espaço
do Planetário de Brasília.
Ao percorrer a “Linha do espaço-tempo” o visitante pode simular um feixe de luz que
sai do Sol ou a viagem de uma sonda espacial através do sistema solar, por exemplo, criando
assim a noção de dimensionalidade, proporcionalidade, extensão, dinâmica do sistema solar, da
velocidade de propagação da luz e das viagens espaciais. A estrutura do sistema solar e as
distâncias em escala dos planetas e demais corpos celestes, como o cinturão de asteroides, os
planetas anões e os cometas, também podem ser trabalhadas e assimiladas pelos visitantes ou
mediadas pelos monitores educacionais do próprio Planetário de Brasília.

Figura 7. Recurso pedagógico “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”, no Planetário de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Brasília.

Fonte: autoria própria.

Visitantes de diversas localidades, brasileiros e estrangeiros, assim como escolas do


ensino fundamental e médio, do Distrito Federal e regiões próximas, realizam visitas diárias e
têm contato com o recurso pedagógico “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema
Solar”.

DOCUMENTOS OFICIAIS E OBJETOS DO CONHECIMENTO

Para estabelecer uma fundamentação acerca da aplicação da astrofotografia como


recurso pedagógico multi e interdisciplinar, serão levados em consideração os conteúdos, eixos
e temas abordados nos documentos oficiais, diretrizes de educação, como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) e a Base Nacional Curricular Comum (BNCC).

Uma das diferenças notáveis entre os PCN e a BNCC, na visão de Carvalho e Ramos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

(2020), está:
(...) na maior variedade de conteúdos distribuídos ao longo do Ensino Fundamental e
Médio presentes na BNCC ... Em relação às Ciências da Natureza, pela primeira vez
aparecem conteúdos relacionados à astronomia para serem trabalhados desde a
Educação Infantil ... Na BNCC, a área de Ciências da Natureza do Ensino
Fundamental está estruturada em 3 Unidades temáticas: “Matéria e Universo”, “Vida
e Evolução” e “Terra e Universo”, que aparecem em todos os anos. Dentro delas estão
os objetos de conhecimento, entendidos como “conteúdos, conceitos e processos”
(CARVALHO & RAMOS, 2020, p. 90 ).

Assim, é possível levantar os conteúdos de astronomia trabalhados em cada ano do


Ensino Fundamental, por exemplo, para conhecer e estabelecer critérios acerca dos recursos
pedagógicos multi e interdisciplinares a partir de astrofotografias. Na Tabela 2 é possível
visualizar, com maior clareza, os conteúdos de astronomia trabalhados no Ensino Fundamental.

Tabela 2. Objetos de conhecimento do eixo “Terra e Universo” a cada ano do Ensino Fundamental.

Ano Objetos do conhecimento

1° Escalas de tempo

2° Movimento aparente do Sol no céu; O Sol como fonte de luz e calor.

3° Características da Terra; Observação do céu; Usos do solo.

4° Pontos cardeais; Calendários, fenômenos cíclicos e cultura.


Constelações e mapas celestes; Movimento de rotação da Terra; Periodicidade das fases

da Lua; Instrumentos ópticos
6° Forma estrutura e movimentos da Terra.
Composição do ar; Efeito Estufa; Camada de Ozônio; Fenômenos naturais (vulcões,

terremotos e tsunamis); Placas tectônicas e derivas continentais.
8° Sistema Sol, Terra e Lua; Clima.
Composição, estrutura e localização do Sistema Solar no Universo; Astronomia e

cultura; Vida humana fora da Terra; Ordem de grandeza astronômica; Evolução estelar.
Fonte: Adaptado de CARVALHO & RAMOS, 2020.

Carvalho e Ramos (2020) ainda complementam que:


A inserção de conteúdos de Astronomia em sala de aula tem tudo para contribuir com
o desenvolvimento de conceitos e do pensamento científico, com o desenvolvimento
de funções como a abstração e a percepção, com a formação para a cidadania e a
atuação no mundo de maneira mais ativa e responsável (CARVALHO & RAMOS,
2020, p. 99).
Em 2012, Langhi e Nardi (2012) publicaram um livro de educação em astronomia e um

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

dos capítulos aborda, de forma completa e aprofundada, os diferentes conteúdos propostos e


abordados por diferentes autores, documentos oficiais e instituições. Dentre estes conteúdos
comuns estão: Astrofísica; astronomia de posição e mecânica celeste; astronomia
observacional; campo gravitacional; corpos do sistema solar; cosmologia; dia e noite; estações
do ano; estrutura do universo, estrelas, galáxias, etc.; fases da Lua; forma da Terra; história da
astronomia; instrumentos astronômicos; órbita terrestre; tempo e calendário; vida (abordagem
astronômica). Tais conteúdos são bons indicadores para a elaboração de atividades a partir de
recursos pedagógicos que envolvam astrofotografias.
Desse modo, os documentos oficiais acabam por reconhecer o caráter interdisciplinar e
multidisciplinar da astronomia, pois os conteúdos e assuntos abordados estão relacionados entre
si e também relacionados à outras disciplinas, tais como biologia, física, química, matemática,
história, inglês, etc. Além disso, estão relacionados, também, aos autores envolvidos no
processo, como os profissionais da educação, astrônomos, astrônomos amadores, etc.
(LANGHI & NARDI, 2012).

RECURSOS PEDAGÓGICOS

Para Eiterer e Medeiros (2010) recursos pedagógicos são:


(...) o entendimento daqueles lugares, profissionais, processos e materiais que visem
assegurar a adaptação recíproca dos conteúdos a serem conhecidos aos indivíduos que
buscam conhecer ... Recurso pedagógico é o que auxilia a aprendizagem, de quaisquer
conteúdos, intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente
organizados por educadores na escola ou fora dela (EITERER & MEDEIROS, 2010).
Existem diferentes tipos de recursos pedagógicos, sendo estes: vídeos, músicas, jornais,
histórias em quadrinhos, entrevistas, museus, zoológicos, sites, oficinas, fotografias,
astrofotografias, etc. Portanto, recursos audiovisuais, impressos, materiais, etc., que têm
finalidade pedagógica, visando construir conhecimento, pelos agentes e envolvidos no processo
de ensino-aprendizagem, torna-se um recurso pedagógico (EITERER & MEDEIROS, 2010).
Num outra perspectiva e abordagem os recursos pedagógicos, objetos educacionais,
podem ser definidos como sendo recursos suplementares ao processo de ensino-aprendizagem,
que podem ser usados, ou reutilizados, para favorecer a aprendizagem (TAROUCO, et al. 2003
apud BARDY, et al. 2013).

Acerca da astrofotografia como recurso pedagógico, recurso didático, Ferreira (2021),

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ressalta que:
(...) a astrofotografia como recurso didático, para ensinar ciências e astronomia se
mostra relevante uma vez que tal tema se revela pouco presente ou escasso na
literatura, assim como pouco conhecido, abordado ou aplicado por profissionais da
área da educação. É percebida a falta de recursos, direcionamento e propostas
relacionadas às práticas a partir do uso de astrofotografias. Além disso, contribui para
novas estratégias, práticas e metodologias englobando as astrofotografias ... serve de
aporte para uma melhor definição e direcionamento da astrofotografia como recurso
didático (FERREIRA, 2021, p. 76).
Nesse contexto, alguns trabalhos e pesquisas direcionadas ao uso e aplicação da
astrofotografia como recurso pedagógico estão sendo, aos poucos, implementadas e adotadas
nas práticas educacionais e em diversos ambientes. Tal realidade pode ser considerada recente,
quando comparada a dos anos 90 ou até mesmo dos anos 2000. As pesquisas, os métodos e a
aplicação da astrofotografia como recurso pedagógico, a partir das óticas de Amaral (2019),
Ferreira (2021), Ferreira e Furtado (2019, 2021, 2022 no prelo), Ribeiro (2019), Sant’Anna
(2020), Silva (2016) e Silva Jr (2014), agregam para uma melhor compreensão das qualidades,
potencialidades e possibilidades pedagógicas das astrofotografias.
Num quadro geral sobre a situação brasileira em educação em astronomia, e por
conseguinte do uso de astrofotografias, uma categoria merece destaque, que é a dos materiais
didáticos, recursos pedagógicos, que incluem (Ver tabela 1): apostilas de cursos de extensão e
formação continuada; livros didáticos e paradidáticos; revistas de divulgação especializadas em
astronomia; sites específicos que abordam conteúdos de astronomia; etc. (LANGHI & NARDI,
2012).

MULTIDISCIPLINARIDADE E INTERDISCIPLINARIDADE

A fim de melhor compreender o potencial da astrofotografia como recurso pedagógico,


é necessário aprender, construir, reciclar, etc., a compreensão dos termos multidisciplinaridade
e interdisciplinaridade, em todo seu contexto e complexidade.
Bicalho e Oliveira (2011), ao citar Nicolescu et al. (2000), Dellatre (2006) e Domingues
(2005), trazem definições pontuais acerca da multidisciplinaridade e experiências
multidisciplinares. A principal característica das relações em que ocorre a abordagem
multidisciplinar é a justaposição de ideias (BICALHO & OLIVEIRA, 2011).

Na visão de Nicolescu et al. (2000) multidisciplinaridade pode ser compreendida como:


(...) a busca da integração de conhecimentos por meio do estudo de um objeto de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

uma mesma e única disciplina ou por várias delas ao mesmo tempo ... ultrapassa as
disciplinas, mas sua finalidade continua inscrita na estrutura da pesquisa
disciplinar (NICOLESCU et al. apud BICALHO & OLIVEIRA, 2011, p. 7).
Já Dellatre (2006) ressalta que multidisciplinaridade está ligada a:
(...) uma simples associação de disciplinas que concorrem para uma realização
comum, mas sem que cada disciplina tenha que modificar significativamente a sua
própria visão das coisas e dos próprios métodos (DELLATRE, 2006 apud
BICALHO & OLIVEIRA, 2011, p. 8).
Para Domingues (2005) as experiências multidisciplinares podem ser divididas em:
a) aproximação de diferentes disciplinas para a solução de problemas específicos; b)
diversidade de metodologias: cada disciplina fica com a sua metodologia; c) os
campos disciplinares, embora cooperem, guardam suas fronteiras e ficam imunes ao
contato (DOMINGUES, 2005 apud BICALHO & OLIVEIRA, 2011, p. 8).
A multidisciplinaridade é amplamente utilizada por professores, astrônomos e
profissionais da área da educação, por carregar características histórico-científico-culturais e
seguir os passos da objetividade, do empirismo e também da lógica clássica de visão de mundo,
da fragmentação do saber, assim como da resolução de problemas, compartilhamento e
transmissão de conhecimentos, de conteúdos, etc. (BICALHO & OLIVEIRA, 2011).
Acerca do termo interdisciplinaridade Bicalho e Oliveira (2011) ressaltam que,
morfologicamente, “inter” significa “reciprocidade” e nas palavras de Gusdorf (1990) “a
interdisciplinaridade supõe abertura de pensamento, curiosidade que se busca além de si
mesmo” (GUSDORF, 1990 apud BICALHO & OLIVEIRA, 2011).
Para Marcondes e Japiassu (1993), de acordo com Bicalho e Oliveira (2011),
interdisciplinaridade é um:
(...) método de pesquisa e de ensino susceptível de fazer com que duas ou mais
disciplinas interajam entre si, esta interação podendo ir da simples comunicação das
ideias até a integração mútua dos conceitos, da epistemologia, da terminologia, da
metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização da pesquisa
(MARCONDES; JAPIASSU, 1993 apud BICALHO & OLIVEIRA, 2011, p. 11).
Nas palavras de Langhi e Nardi (2012) a astronomia - assim como a astrofotografia - “é
altamente interdisciplinar, motivadora e popularizável ... portanto, o ensino de astronomia deve
ser tratado de tal maneira, que contemple temas transversais, privilegiando, assim, a
interdisciplinaridade inerente à astronomia ... por se tratar de um assunto que desperta a
curiosidade dos estudantes”.
No caráter multidisciplinar a astrofotografia compreende a integração de diversas
disciplinas, como astronomia, astrofísica, geografia, física, história, matemática, inglês, etc.,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

assim como de diversos conteúdos e conhecimentos, tais como observação do céu, localização
dos planetas e corpos celestes, história e periodicidade das constelações, movimento aparente
e diurno, classificação espectral das estrelas, magnitude e distância das estrelas, galáxias e
objetos do céu profundo, sistemas de lentes e telescópios, conceitos de fotografia, tratamento e
edição de imagens, etc.
Já no âmbito interdisciplinar a astrofotografia compreende novas possibilidades de
interações entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, visando o diálogo,
a troca, o envolvimento em relação às atividades, eventos, projetos, etc. de ciências e
astronomia.
As potencialidades do uso da astrofotografia como recurso pedagógico são notáveis,
pois são capazes de enriquecer o aprendizado de conceitos de ciências, de astronomia e áreas
afins, especialmente quando se envolve a interdisciplinaridade como mediadora desse processo
de troca e de interação, entre os sujeitos envolvidos na etapa de construção do conhecimento
(FERREIRA, 2021).
Por fim, Ferreira e Furtado (2022, no prelo) ressaltam que a astrofotografia, como
recurso pedagógico:
(...) pode ser aplicado em diferentes níveis e etapas educacionais, como no ensino
fundamental, médio e até no ensino superior. Capaz de englobar diversos
componentes curriculares, como: ciências; projeto interdisciplinar; física; química;
história; artes; filosofia; tópicos especiais em educação e recursos didáticos; ensino
de física e ciências; estágios supervisionados; etc. Da mesma forma, sua aplicação em
diversos contextos e eventos educacionais, e também científicos, como em: feiras de
ciências; simpósios; encontros; planetários; clubes e eventos de astronomia (internos
e externos); reuniões; semanas universitárias; escolas; aulas preparatórias para a
OBA; etc. Sendo possível atender uma ampla faixa etária e abranger uma extensa
gama de possibilidades de sua aplicação (FERREIRA & FURTADO, 2022, no prelo).

PROPOSTAS DE ATIVIDADES MULTI E INTERDISCIPLINARES A PARTIR DE


ASTROFOTOGRAFIAS

A seguir serão apresentadas propostas de atividades e recursos pedagógicos a partir de


astrofotografias, com enfoque em cinco categorias: Sites e meios digitais; recursos pedagógicos
em sala de aula; recursos pedagógicos em oficinas; recursos pedagógicos em exposições e
ambientes não formais de aprendizagem em ciências e astronomia; roteiros de atividades a
partir de programas, aplicativos, sites e exposições oficiais. Ao final de cada categoria será
listado, também, um plano de atividade, totalizando cinco planos de atividades para o uso em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

sala de aula e atividades educacionais.

⁕ Sites e meios digitais - “Universarium: O seu guia para o ensino de ciências”


Em 2016, Silva (2016) desenvolveu uma pesquisa sobre o uso de astrofotografia e
imagens como recursos pedagógicos em sites e ambientes virtuais de aprendizagem e elaborou
um site a partir de um processo metodológico prático, gratuito e acessível. O site intitulado
“Universarium” está disponível em https://sites.google.com/site/guiauniversarium/.

Em sua pesquisa inicial Silva (2016) focou na construção, estrutura e disposição dos
conteúdos do site, deixando sua finalização para pesquisas futuras e atividades de pós-
graduação. Portanto, serve de base e contém algumas páginas finalizadas, sendo elas:
6º ano: Planetas do sistema solar; Terra primitiva; Atmosfera da Terra; Biosfera; Movimentos
da Terra; Estações do ano; Clima; Solos; Água; Poluições;
7º ano: Universo em detalhes; Características dos planetas do sistemas solar; Escala, distâncias,
tamanhos e tempo; Seres vivos e biosfera;
8º ano: Dinâmica do Sol;
9º ano: Do macro ao micro; Gravitação universal.
Anos iniciais: Universo.

Figura 8. Página inicial e layout do site “Universarium”.

Fonte: autoria própria.

Figura 9. Página do 7º ano, características dos planetas do sistema solar, Júpiter - o gigante gasoso.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: autoria própria.

PLANO DE ATIVIDADE 1 - SITE “UNIVERSARIUM”

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Proposta de atividade: A partir do site, o professor pode solicitar aos estudantes que acessem as
páginas e selecionem algum tema, e.g. "Características dos planetas do sistema solar", e
escolham no mínimo três astrofotografias do respectivo tema. Em seguida, solicitar aos
estudantes que pesquisem sobre o tema e astrofotos escolhidas e apresentem para os colegas,
para outras turmas ou para professores de outras disciplinas, como geografia, matemática,
história, etc.
Objetivos: Explorar as características dos corpos celestes a partir de astrofotografias; Aprender
sobre o Universo, o Sistema Solar, a Terra e suas interações; Navegar e conhecer um ambiente
didático virtual.
Público-alvo: Ensino fundamental, anos iniciais e finais; Ensino médio.
Metodologia: Multidisciplinar e interdisciplinar.
Conteúdos relacionados: Astronomia; Universo; Sistema solar; Característica dos planetas;
Movimentos da Terra; Estações do ano; Atmosfera terrestre; Clima da Terra; Dinâmica solar;
Evolução da Terra; Biosfera; Ciclo da água; Concepção de escala, Do macro ao micro.
Características: Ambiente didático virtual composto de astrofotografias, imagens e vídeos via
banco de dados e internet.
Abordagem: Expositiva; Uso online ou através de smartphones em sala de aula ou atividade
extraclasse; Uso de laboratório de informática.
Procedimentos: Entrar no site https://sites.google.com/site/guiauniversarium/ e encontrar os
conteúdos no menu à esquerda. Baixar as astrofotos e utilizar em sala de aula, como questões
de provas, atividades ou como divulgação entre os estudantes ou professores.
Tempo necessário: 30 a 45 minutos.

⁕ Recursos pedagógicos em sala de aula - “Bingo Universarium”

A partir do recurso pedagógico “Universarium: O seu guia para o ensino de ciências”,


citado anteriormente, foi elaborado por Silva (2016) um jogo a partir de 25 astrofotografias,
para ser utilizado em sala de aula, e.g. nas aulas de ciências, geografia, inglês, etc. As regras,
modos de jogo e demais informações estão no Apêndice 1. As astrofotografias, em alta
resolução, para a aplicação do recurso pedagógico podem ser encontradas em
https://sites.google.com/site/guiauniversarium/bingo-universarium.

Figura 10. Sugestão de apresentação dos temas relacionados às astrofotografias do recurso pedagógico “Bingo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Universarium”.

Fonte: autoria própria.

Figura 11. Astrofotografias do recurso pedagógico “Bingo Universarium”.

Fonte: autoria própria.

PLANO DE ATIVIDADE 2 - “BINGO UNIVERSARIUM”

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Proposta de atividade: O professor poderá baixar, imprimir ou projetar as astrofotografias. Em


seguida, escrever no quadro o nome dos objetos correspondentes às astrofotografias (Figura
10). Interessante, também, envolver e trocar ideias com professores de outras disciplinas, como
por exemplo, professores de línguas estrangeiras modernas (Inglês, espanhol, francês, etc.).
Desse modo, as palavras do bingo podem ser apresentadas, no quadro ou projetadas, em outro
idioma, por exemplo.
Objetivos: Apresentar astrofotografias como forma de reconhecimento dos objetos do
Universo. Trabalhar questões de noção e alfabetização visual. Introduzir conceitos de escala e
dimensão.
Público-alvo: Ensino fundamental, anos iniciais e finais.
Metodologia: Multidisciplinar e interdisciplinar.
Conteúdos relacionados: Astrofotografia; Astronomia; Imagens de satélites; Noções espaciais;
Estrutura e textura de objetos; Reconhecimento imagético; Geografia; História; Matemática;
Línguas estrangeiras modernas; Formas; Cores.
Características: Jogo pedagógico no formato de bingo baseado em astrofotografias, interativo
para sala de aula.
Abordagem: Dinâmica de grupo em sala de aula a partir de material impresso, ou projetado, das
astrofotografias e nomes dos objetos correspondentes.
Procedimentos: Entrar no link, baixar as astrofotografias, imprimir ou projetar as
astrofotografias, realizar os passos descritos em regras e jogabilidades (Apêndice 1).
Tempo necessário: 30 a 45 minutos.

⁕ Recursos pedagógicos em oficinas - Oficina “Brincando com as constelações de inverno


e verão”

Em 2015, foi proposto ao Programa AEB Escola da Agência Espacial Brasileira (AEB)
uma oficina a partir de astrofotografias para ensinar ciências, astronomia, etc. como forma de
recursos pedagógicos a serem utilizados em eventos locais, regionais e nacionais, tais como:
Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), Reuniões Anuais da SBPC, Semana
Universitária (UnB/FUP), Colônia de Férias do Planetário de Brasília, Jornada Espacial
(AEB/OBA/INPE), etc.
O recurso pedagógico astrofotográfico “Brincando com as constelações de inverno e
verão” consiste numa astrofotografia impressa em alta qualidade e uma folha de acetato
transparente, contendo as artes das constelações, que correspondem à região das

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

astrofotografias capturadas (Figura 12), das estações de inverno e verão.


Pesquisas recentes em astrofotografia como recursos pedagógicos e a publicação da
oficina “Brincando com as constelações de inverno e verão” foram realizadas por Ferreira
(2021), contendo a descrição, a aplicação e o passo a passo da execução da oficina e podem ser
encontradas em https://app.conhecimentolivre.org/book/346.
Junto do material da oficina “Brincando com as constelações de inverno e verão” foi
elaborado um folder (Figura 13), contendo informações acerca da história da astrofotografia,
constelações, evolução das técnicas de capturas de astrofotografias, importância das
observações astronômicas e registros astrofotográficos.

Figura 12. Aplicação do recurso pedagógico astrofotográfico “Brincando com as constelações de inverno”.

Fonte: FERREIRA, 2021; Foto por Dennis Asfour.

Figura 13. Folder “Astronomia e Astrofotografia: Uma janela para o Ensino de Ciências”.

Fonte: FERREIRA, 2021; UnB/AEB/MCTI, 2015.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

PLANO DE ATIVIDADE 3 - “BRINCANDO COM AS CONSTELAÇÕES DE INVERNO E VERÃO”


Proposta de atividade: Realizar uma apresentação de introdução dos conceitos abordados.
Imprimir as astrofotos e moldes das constelações e distribuir aos estudantes, ou participantes.
Realizar o passo a passo da atividade (Apêndice 2).
Objetivos: Introduzir conceitos de astronomia, constelações e astrofotografia; Desenvolver
noções de observação do céu e reconhecimento das constelações; Estimular a motricidade e
reconhecer padrões a partir de imagens;
Público-alvo: Ensino fundamental, anos finais; Ensino médio; Ensino superior.
Metodologia: Multidisciplinar e interdisciplinar.
Conteúdos relacionados: Astrofotografia; Astronomia; História da astronomia; Constelações;
Mitos e histórias das constelações; Observação do céu; Poluição luminosa; Fotografia.
Características: Astrofotografia impressa, com as artes das constelações para recortar e
sobrepor as regiões fotografadas.
Abordagem: Aula expositiva; Aplicação em oficinas e sala de aula.
Procedimentos: Baixar as astrofotos e moldes das constelações disponíveis em em link Cap. 2,
imprimir o material em alta qualidade. Em seguida, realizar os passos descritos no passo a passo
da atividade "Brincando com as constelações de inverno e verão" no Apêndice 2.
Tempo necessário: 1 hora a 1 h e 30 minutos.

⁕ Recursos pedagógicos em exposições e ambientes não formais de aprendizagem em


ciências e astronomia - “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”

A “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar” é um recurso pedagógico


interativo a partir de astrofotografias e imagens (Ver Figura 7), que retratam as distâncias em
escala dos planetas e objetos do sistema solar. Contém, também, informações de distâncias em
quilômetros e em tempo-luz, curiosidades astronômicas e rótulos com os nomes dos objetos.
Os moldes do recurso didático “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema
Solar”, para impressão e confecção, podem ser solicitados ao autor exclusivamente via e-mail.
As distâncias dos planetas e objetos utilizados na “Linha do espaço-tempo” estão
listados no Apêndice 3, nas tabelas 3 e 4. É recomendado atualizar as distâncias dos objetos,
por exemplo das sondas New Horizons, Voyager 1 e 2, do cometa Halley, etc. Estes e outros
dados estão disponíveis em sites oficiais da NASA, ESA, JAXA, etc. É possível, ainda,
adicionar outros objetos e regiões, como o Cinturão de Kuiper, a Nuvem de Oort, a Heliopausa,
as sondas Parker Solar Probe, Pioneer, BepiColombo, OSIRIS-REx, Lucy, etc. Um site

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

interessante, que reúne informações de diversas missões espaciais, num layout atraente e de
fácil navegação, é o https://spaceprob.es/, criado por duas cientistas, da NASA e do Instituto
SETI, Ariel Waldman e Lisa Ballard, que utilizam dados da Rede de Espaço Profundo (em
inglês Deep Space Network - DSN). Vale lembrar que o site pode ser traduzido para português
(pt-BR).

Figura 14. Processo de construção do recurso pedagógico “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema
Solar”, no Planetário de Brasília.

Fonte: Autoria própria.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

PLANO DE ATIVIDADE 4 - “LINHA DO ESPAÇO-TEMPO: UMA VIAGEM PELO SISTEMA SOLAR”


Proposta de atividade: Construir com os estudantes, no pátio da escola ou nas dependências, a
"Linha do espaço-tempo" com as distâncias dos planetas e objetos, envolvendo os estudantes
no processo. Elaborar atividades a partir das astrofotografias e imagens, distâncias, rótulos e
curiosidades. Quando finalizada, introduzir conceitos do sistema solar, dos planetas e demais
conteúdos relacionados. Em seguida, solicitar aos estudantes para ficarem ao lado de cada
planeta e objeto da "Linha do espaço-tempo", para compararem as distâncias e escala do sistema
solar, logo após, realizar uma conversa sobre a atividade e o que foi observado e percebido.
Poderá também ser solicitado aos estudantes que elaborem perguntas ou realizem pesquisas a
partir de algum planeta ou objeto selecionado, e.g. Cinturão de asteroides, podendo selecionar
um ou vários objetos. Outra possibilidade é envolver os professores de educação física,
matemática, artes, línguas estrangeiras modernas, etc. para colaborarem e trocarem
conhecimentos e métodos acerca da disposição das imagens, rótulos e curiosidades. É possível,
também, realizar um projeto interdisciplinar para feiras de ciências e demais eventos escolares.
Objetivos: Trabalhar a noção de distância dos planetas, corpos celestes e objetos em relação ao
Sol; Apresentar a estrutura e as categorias dos objetos do sistema solar; Introduzir o conceito
de tempo-luz; Abordar o conceito de espaço-tempo.
Público-alvo: Ensino fundamental, anos iniciais e finais; Ensino fundamental; Ensino superior;
Público geral.
Metodologia: Multidisciplinar e interdisciplinar.
Conteúdos relacionados: Sistema solar; Escala de distância, estrutura e dinâmica do sistema
solar; Categoria dos objetos do sistema solar; Viagens espaciais; Natureza e comportamento da
luz; Vento solar e clima espacial; Gravitação; Espaço-tempo; Tipos de órbitas;
Telecomunicações.
Características: Astrofotografias e imagens impressas, rótulos com os nomes e distâncias dos
objetos do sistema solar, informações e curiosidades dos objetos.
Abordagem: Expositiva; Guiada e autoguiada.
Procedimentos: 1 - Imprimir os arquivos recebidos via e-mail; 2 - recortar as astrofotografias,
rótulos e curiosidades; 3 - separar em categorias (Figura 14); 4 - medir as distâncias dos planetas
a partir do Sol, com o auxílio de uma trena (Tabelas 3 e 4); 5 - colar as figuras e informações
no chão, com plástico autoadesivo transparente, deixar uma margem de no mínimo 2 dedos
para cada lado no plástico autoadesivo transparente (Figura 14).
Tempo necessário: Construção de 1 a 2 horas. Atividade de 20 a 35 minutos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

⁕ Roteiros de atividades a partir de programas, aplicativos, sites e exposições oficiais

AstroBin
AstroBin é um site que hospeda astrofotografias de astrofotógrafos profissionais e
amadores do mundo inteiro. Nesse site é possível explorar diversos corpos celestes: planetas,
nebulosas, galáxias, aglomerados estelares, etc. A página de busca das astrofotografias está
disponível em https://www.astrobin.com/search/?d=i.

Figura 15. Página de busca de astrofotografias no site AstroBin.

Fonte: AstroBin; Captura realizada pelo autor.

ESA Sky
ESA Sky é uma plataforma online de pesquisa da Agência Espacial Europeia (ESA) a
partir de astrofotografias, dados de missões espaciais, de diferentes objetos do céu profundo e
em diferentes comprimentos de onda. Além disso, ESA Sky é uma aplicação para Web de
ciência aberta onde é possível baixar astrofotografias e dados científicos de alta qualidade. Na
plataforma é possível visualizar, em escala e referenciadas, diversas astrofotografias capturadas
pelos telescópios espaciais, e.g. Hubble.
Tutorias realizados pela ESA de como utilizar a plataforma ESA Sky podem ser
acessados em https://www.cosmos.esa.int/web/esdc/esasky-how-to.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 16. Nebulosa de Órion (M42) vista na plataforma online ESA SKY.

Fonte: ESA Sky; Captura realizada pelo autor.

Stellarium
Stellarium é um aplicativo astronômico open source para visualizar o céu, as
constelações e objetos do céu profundo. Trata-se de um simulador do céu, dos objetos
astronômicos e dos acontecimentos celestes. Contém informações astronômicas e astrofísicas
detalhadas, assim como diversas ferramentas e calculadoras de eventos celestes.
Diversos materiais e vídeo-aulas sobre como usar e sua aplicabilidade estão disponíveis
na internet. Por exemplo, a vídeo-aula do Prof. Canalle da Olimpíada Brasileira de Astronomia
e Astronáutica - OBA, que explica seu uso e ferramentas, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=7rStTehBAcM.
A versão online, para navegador, Stellarium Web pode ser acessada em
https://stellarium-web.org/. O Stellarium possui, também, uma versão para smartphones e
tablets.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 17. Galáxia de Andrômeda (M31) vista pelo aplicativo astronômico Stellarium Web.

Fonte: Stellarium Web; Captura realizada pelo autor.

Solar System Scope


Solar System Scope é um simulador astronômico fácil de usar e prático. A função
“realístico” permite mostrar as distâncias e os tamanhos dos planetas e corpos celestes em
escala, para ativar essa opção basta ativá-la em configurações. Atualmente o Solar System
Scope conta com seis modos: Sistema Solar, Céu Noturno, Explorador de planetas, Explorador
de Estrelas, Estrelas próximas e Objetos do catálogo Messier (Figura 18).
Ao interagir com os objetos do catálogo Messier, clicando neles, é possível ver uma
astrofotografia e informações astronômicas do objeto selecionado.
O simulador está disponível, também, na versão online em
https://www.solarsystemscope.com/.

Figura 18. Modos de apresentação do Solar System Scope.

Fonte: Solar System Scope; Captura realizada pelo autor.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

NASA's Eyes
NASA's Eyes é um recurso imersivo 3D da NASA para a exploração da Terra, do
sistema solar, de asteroides, de missões espaciais, de exoplanetas e de missões em Marte. Pode
ser acessado em https://eyes.nasa.gov/. O NASA’s Eyes possui, também, uma versão para
smartphones e tablets.

Figura 19. Visualização do planeta Marte no "NASA's Eyes: Solar System".

Fonte: NASA JPL; Captura realizada pelo autor.

Da Terra para o Universo (FETTU)


“Da Terra para o Universo” foi uma exposição mundial de ciências pública em
comemoração do ano internacional da astronomia (IYA, 2009), contém diversas
astrofotografias e imagens do Universo (Figura 6). As imagens e demais informações estão
disponíveis em http://www.fromearthtotheuniverse.org/tour_images.php.

Universo Incrível (ESO)


Exposição em comemoração aos 50 anos do Observatório Europeu do Sul (ESO), que
são astrofotografias e fotos impressas em alta qualidade, dispostas no formato de painéis (Figura
5). As astrofotografias e fotos dos painéis da exposição podem ser encontrados em
https://www.eso.org/public/brazil/products/mountedimages/list/7/.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

PLANO DE ATIVIDADE 5 - ROTEIROS DE ATIVIDADES A PARTIR DE PROGRAMAS, APLICATIVOS,


SITES E EXPOSIÇÕES OFICIAIS

Proposta de atividade: A partir dos materiais e programas listados é possível elaborar uma aula
sobre temas astronômicos envolvendo o uso das astrofotografias para descrever os diversos
fenômenos celestes e a composição do Universo, e.g. estrutura do Sol, composição das
nebulosas, tamanhos e distâncias dos planetas, missões espaciais, estrelas próximas e a estrutura
da Via Láctea, etc. Outra possibilidade será projetar em sala de aula, para a turma, uma espécie
de tour ou viagem pelos corpos celestes e abordar em tempo real sobre as dinâmicas e
características astronômicas. É possível também solicitar aos estudantes que acessem os links
dos recursos pelo smartphone ou tablet, para acompanharem e conhecerem os conteúdos,
astrofotografias, possibilidades, etc. Para o sistema solar, planetas e asteroides é recomendado
utilizar o Solar System Scope, NASA’s Eyes, AstroBin e FETTU. Já para nebulosas, galáxias
e objetos do céu profundo o ESA Sky, Stellarium, AstroBin e Universo Incrível. Para a
observação do céu, efemérides e constelações: Stellarium e Solar System Scope. Para missões
espaciais: NASA’s Eyes e Solar System Scope. É aconselhado trabalhar com dois ou mais
recursos para elaborar as aulas ou dinâmicas em sala de aula, a fim de apresentar aos estudantes
novos recursos e visões de mundo. Finalmente, utilizar as astrofotografias e recursos como
questões de provas, lista de exercícios, trabalhos, etc.
Objetivos: Apresentar a estrutura do Universo, do sistema solar e dos planetas; Introduzir
noções de escala de distância e de tamanho do sistema solar, das galáxias, nebulosas e do
Universo; Trabalhar com recursos didáticos virtuais; Utilizar simuladores de astronomia e
ciências em sala de aula.
Público-alvo: Ensino fundamental, anos iniciais e finais; Ensino médio; Ensino superior;
Público geral.
Metodologia: Multidisciplinar e interdisciplinar.
Conteúdos relacionados: Astronomia; Astrofísica; Cosmologia; Sistema solar; Planetas;
Estrutura dos planetas; Asteroides; Missões espaciais; Imagens do céu profundo; Galáxias;
Nebulosas; Observação do céu; Constelações; Observatórios.
Características: Sites, simuladores astronômicos e exposições baseadas em astrofotografias e
imagens.
Abordagem: Expositiva; Interativa; Uso de projetor; Uso de laboratório de informática; Uso de
smartphones e tablets.
Procedimentos: Acessar o link do recurso escolhido (site, programa, exposição, etc.), em
seguida salvar as imagens em um diretório, por último apresentar ou projetar as astrofotografias,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

imagens ou recursos escolhidos. Compartilhar os links com os estudantes e utilizar em


atividades em sala de aula.
Tempo necessário: 45 min a 1 hora.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pesquisas recentes, cada vez mais, têm mostrado as potencialidades da astrofotografia,


especialmente quando utilizada como recurso pedagógico e alinhada às abordagens multi e
interdisciplinares. Pesquisas e trabalhos realizados por Amaral (2019), Ferreira (2021), Ferreira
e Furtado (2019, 2021, 2022 no prelo), Ribeiro (2019), Sant’Anna (2020), Silva (2016) e Silva
Jr (2014), por exemplo, apontam para uma real necessidade de novos recursos pedagógicos e
de práticas educacionais a partir de astrofotografias, assim como de definições e critérios bem
estabelecidos acerca da astrofotografia como recurso pedagógico (didático), principalmente sob
uma ótica multi e interdisciplinar.
Diversos trabalhos, materiais, cursos, pesquisas e estratégias em astronomia e
astrofotografia, muitas das vezes, acabam por adotar um caráter disciplinar e multidisciplinar.
Pouco se vê sobre o uso da astrofotografia como recurso pedagógico interdisciplinar, ainda
menos sobre propostas de atividades, práticas e elaboração de recursos pedagógicos baseados
em astrofotografias.
A astrofotografia como recurso pedagógico multidisciplinar apresenta certa
aproximação, associação entre as disciplinas, no entanto, assim como está dividido o sistema
educacional, tais conteúdos permanecem fragmentados, compartimentados em gavetas
estanques do conhecimento. Desse modo, pode acabar gerando certa dificuldade de
assimilação, ou até mesmo confusão, de processos, conteúdos e conhecimentos, pelos
estudantes e também daqueles que têm contato direto ou indireto com as astrofotografias.
A astrofotografia como recurso pedagógico interdisciplinar carrega em si diversos
desafios, primeiro pelo escasso e limitado número de trabalhos e pesquisas voltadas para esse
contexto, segundo por carecer de profissionais capacitados nas áreas de ciências e astronomia
que compreendam a complexidade das interações interdisciplinares e a aplicação desses
recursos pedagógicos, principalmente aqueles baseados em astrofotografias. Cursos de
Licenciatura em Ciências Naturais/da Natureza tentam suprir essa demanda há algumas décadas
e abordam, em seus currículos e estrutura de curso, disciplinas da área da educação direcionadas
às práticas multidisciplinares e interdisciplinares. Um exemplo desses cursos recentes é o curso
de Licenciatura em Ciências Naturais da Universidade de Brasília (UnB), campus Planaltina

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

(FUP). Eventos como o Congresso Nacional de Ciências Naturais/da Natureza - CONCINAT,


por exemplo, tentam alinhar, debater e aprimorar quesitos estruturais, pedagógicos,
metodológicos, etc., acerca da prática da multidisciplinaridade e interdisciplinaridade nas
ciências, bem como do papel do profissional da educação em ciências naturais/da natureza.
A partir das propostas de atividades multi e interdisciplinares, dos planos de atividades
e dos recursos pedagógicos baseados em astrofotografias, os professores terão a oportunidade
de desenvolver e incluir a multi e interdisciplinaridade em sala de aula, e também além dela. A
ideia é dos professores se envolverem, trocarem ideias e experiências, por mais distantes que
as disciplinas e componentes curriculares pareçam estar. Os professores de línguas estrangeiras
podem ajudar na familiarização em sites, programas, aplicativos, vídeos, etc. que abordem
palavras estrangeiras (inglês, francês, espanhol, etc.), por exemplo. Já os professores de história
e geografia podem trazer curiosidades e fatos históricos, juntos numa aula ou projeto, sobre
determinado tema ou acontecimento, e.g. estações do ano, clima terrestre, gripes e pandemias,
política, economia e relações internacionais, etc. Os professores de educação física, matemática
e ciências, por sua vez, podem elaborar um projeto e trabalhar conteúdos que envolvam as
dimensões das quadras e espaços esportivos, e.g. realizar a construção do recurso pedagógico
“Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar” (Figura 14), assim como
compartilhar conteúdos diversos e propor dinâmicas que envolvam as três ou mais disciplinas.
De forma integrada, os professores - juntos - poderão: elaborar feiras temáticas,
atividades interativas, eventos escola-comunidade, práticas inovadoras, etc., que relacionem os
conteúdos, métodos e recursos de forma a proporcionar uma troca, uma interconexão entre os
professores e as disciplinas, entre os professores e os estudantes, entre os estudantes e as
disciplinas, etc.; estabelecer pontes e diálogos sobre os conteúdos, técnicas e curiosidades
abordadas e sobre as formas de aplicar os recursos pedagógicos de cada área do saber; envolver
os estudantes no processo de projeto, planejamento e construção de recursos e práticas
interdisciplinares, pois assim participam do processo e podem conhecer e exercer a
interdisciplinaridade de uma perspectiva discente, que se adapte à realidade e linguagem dos
estudantes.
Esses são alguns exemplos de situações que podem ocorrer no contexto escolar a partir
de interações e trocas interdisciplinares, e também multidisciplinares. Algumas ideias podem
servir de projeto piloto, para atividades e projetos interdisciplinares, que envolvam
astrofotografias, por exemplo: Feira de ciências interdisciplinar; Cinema interdisciplinar;
Seminário interdisciplinar; Mural interdisciplinar; Semana interdisciplinar; Jogos e atividades
interdisciplinares (sala de aula, corredor, chão, pátio da escola, quadras de esportes, fora da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

escola, etc.); Roda de conversa interdisciplinar; Oficinas interdisciplinares; Palestras


interdisciplinares; Passeios interdisciplinares, etc.
Numa perspectiva prática, acerca dos projetos e vivências multi e interdisciplinares, em
2018, foi desenvolvido com estudantes do 7º, 8º e 9º anos do ensino fundamental, dos
componentes curriculares de ciências naturais e projeto interdisciplinar (PI), atividades multi e
interdisciplinares que envolveram astrofotografia, astronomia, ciências, inglês, matemática,
geografia, geologia, química, astrofísica, astronáutica, entre outras disciplinas e conteúdos.
Esse processo se deu ao longo do ano letivo, onde os estudantes participaram e desenvolveram
diversas atividades, como: Aulas preparatórias para a OBA; Olimpíada Brasileira de
Astronomia e Astronáutica (OBA); Cine Ciências (Filme: Interestelar); Mural do Universo
(Notícias astronômicas e astrofotografias); Visita ao Planetário de Brasília; Visita ao Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET); Visita à Agência Espacial Brasileira (AEB); Visita ao
Museu de Geociências da Universidade de Brasília (UnB); Evento astronômico na escola com
telescópios e observação do céu; Observação do Sol com óculos de observação solar.

Figura 20. Mural com fotos de atividades desenvolvidas com estudantes de uma escola pública de Brasília/DF.

Fonte: Autoria própria.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 21. Exemplo de atividades propostas aos estudantes, após as aulas preparatórias para a OBA, envolvendo
astrofotografias.

Fonte: Google Sala de Aula; Captura realizada pelo autor.

Esse breve relato representa algumas, de muitas, possibilidades de aplicação de


atividades, dentro e fora de sala de aula, a partir de práticas multi e interdisciplinares em
ciências e astronomia. Vale ressaltar que a maioria das atividades descritas envolvia
diretamente ou indiretamente astrofotografias, uso de imagens, vídeos, simulações e recursos
pedagógicos em ciências e astronomia. A partir das atividades e vivências descritas, foi
percebido um maior envolvimento e interesse dos estudantes com os temas de ciências e
astronomia, assim como no desempenho em provas, exercícios e durante as aulas de ciências e
de outras disciplinas. Por exemplo, na colocação dos estudantes na prova da OBA (Figura 20).
Isso demonstra, mesmo que numa primeira aproximação e contexto geral, o rico potencial das
práticas pedagógicas multi e interdisciplinares que envolvem astrofotografias.
Ainda sobre trabalhos direcionados à aplicação de recursos pedagógicos a partir de
astrofotografias, Ferreira (2021) realizou uma pesquisa com 50 participantes da “Jornada
Espacial” (OBA/AEB), nos anos de 2015 e 2016, em São José dos Campos/SP. Após o término
da aplicação do recurso pedagógico astrofotográfico e oficina “Brincando com as constelações
de inverno e verão” os participantes relataram ter compreendido melhor conceitos como
constelações, astrofotografia, astronomia, história da astronomia, técnicas de capturas de
astrofotografias, observação do céu, etc. Alguns comentários, realizados pelos participantes,
mostraram uma reação positiva e de efetividade da oficina e do recurso pedagógico utilizado,
tais como:
Participante A (São Luís - MA): “Facilitou o meu aprendizado por meio de uma
didática mais "concreta" (fotos reais), dinamizando um assunto do qual já gostava”.
Participante B (Serra - ES): “Essa oficina é uma forma excelente de despertar o
interesse pela astronomia e seu estudo. O ensino de astronomia hoje, nas escolas, é
muito fraco e oficinas como essa poderiam melhorar essa situação”.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Participante C (Belo Horizonte - MG): “A oficina é relevante no estudo de matérias


como física e história, além de dar um maior conhecimento de mundo”.
Participante D (Itumbiara - GO): “Acho muito importante para sair do campo
puramente teórico e ver as coisas como são, realmente identificar as estrelas”.
Participante E (São José, SC): “Ajudaria muito os iniciantes em astronomia,
principalmente porque geralmente eles não sabem nada de observação do céu”.
Participante F (São Bernardo do Campo - SP): “A oficina ajuda a incentivar a ciência
em geral” (FERREIRA, 2021, p. 82).

Assim como mostrado na Tabela 1, as exposições “Universo Surpreendente” (Figura 5)


e “Da Terra para o Universo” (Figura 6) e o recurso pedagógico “Linha do espaço-tempo: Uma
viagem pelo Sistema Solar” (Figura 7), aqui citados como exemplos, além de diversos outros
tipos de materiais e recursos, que envolvem astrofotografias, se mostram relevantes para o
acesso e à disseminação da astrofotografia ao público geral, escolas, visitantes estrangeiros, etc.
Para colocar em perspectiva, dados informados pela gestão do Planetário de Brasília
(Anexo 1, Figura 23), de janeiro a novembro de 2021, mostram que 21.981 atendimentos foram
realizados, (19.208 público geral e 2.753 estudantes), 6.121 visitantes de outros estados, 159
visitantes estrangeiros, 64 escolas atendidas, sendo 39 escolas da rede pública e 25 escolas da
rede privada e 205 sessões de cúpula realizadas. A gestão do Planetário de Brasília informou,
ainda, que devido à pandemia o número de atendimentos caiu drasticamente e que 2021
representa a volta das atividades e visitações presenciais, sendo que em anos anteriores, por
exemplo, a média ultrapassava 100.000 atendimentos.
Nesse contexto, é percebido certo interesse, contato direto e interação do público geral
com a astrofotografia, a partir de exposições, materiais, recursos pedagógicos, etc., mesmo sem
conhecer os processos, a natureza ou os métodos da astrofotografia. O Planetário de Brasília foi
citado como exemplo, mas diversos planetários e ambientes não formais de aprendizagem em
ciências no Brasil também fazem uso de exposições, filmes, vídeos Fulldome, materiais e
recursos pedagógicos que englobam, direta ou indiretamente, a astrofotografia.
As propostas de atividades multi e interdisciplinares, os planos de atividades e os
recursos pedagógicos, a partir da astrofotografia, aqui descritos, buscam seus lugares entre as
atividades corriqueiras de planetários, eventos de C&T, oficinas de astronomia, aulas de
ciências e universitárias, etc. Isso se deve, primeiro pela falta de conhecimento da natureza e
das potencialidades da astrofotografia, segundo pela falta de entendimento da astrofotografia
como excelente ferramenta e suporte às diferentes práticas pedagógicas, muitas vezes
desconhecidas pelos profissionais da área de educação, de ciências e até mesmo das ciências

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

naturais/da natureza. Nesse sentido, é necessário um estudo que contemple esses e outros
quesitos acerca da astrofotografia, além de propostas e aplicações, em pequena e larga escala,
que validem e fomentem seu uso, nos âmbitos da pesquisa, do ensino e da extensão.
Durante a oficina “Fotografia e astrofotografia: O que é, como é feita e para que serve?”,
de Ferreira e Furtado (2019), realizada em 2018 no III Congresso Nacional de Ciências
Naturais/da Natureza (III CONCINAT), foi percebida uma nítida defasagem dos estudantes de
graduação e egressos dos cursos de Ciências Naturais/da Natureza de diversas localidades,
acerca do conhecimento da natureza da astrofotografia, seus métodos e principalmente sobre
sua aplicabilidade no contexto educacional, e.g. como recursos pedagógicos multi e
interdisciplinares.
A pesquisa e o desenvolvimento de recursos pedagógicos multidisciplinares e
interdisciplinares a partir da astrofotografia, merecem atenção e são relevantes, principalmente
para o ensino de ciências e para a educação em astronomia. Nesse contexto, num primeiro
momento, é necessário estabelecer critérios, bases teóricas, métodos e recursos consolidados
acerca da astrofotografia como recurso pedagógico e, posteriormente, sua implementação de
forma multi e interdisciplinar. Num segundo momento, estudar os impactos e implicações da
astrofotografia como recurso pedagógico nos contextos educacionais, como em ambientes
formais e não formais de aprendizagem em ciências e astronomia, por exemplo.
Afinal, a astrofotografia quando trabalhada de forma multi e interdisciplinar, em
ambientes formais e não formais de aprendizagem em ciências e astronomia, tem o potencial
de contribuir para uma melhor compreensão e assimilação de conteúdos de ciências e
astronomia, que por vezes se mostram demasiados complexos ou incompreensíveis pelos
estudantes e pelo público geral. Essa aproximação, ponte, diálogo, estratégia, etc., pode ocorrer
através da elaboração e aplicação de um recurso pedagógico multi e interdisciplinar que envolva
a astrofotografia, por exemplo.

CONCLUSÃO

O papel da astrofotografia nos dias atuais se aproxima do caráter das imagens científicas
e cada vez mais está se aproximando dos contextos educacionais, migrando do campo
puramente observacional, técnico-científico e amador para as mãos dos profissionais da
educação, dos estudantes e do público geral, através de materiais impressos e digitais, sites,
redes sociais, programas para PC e aplicativos para smartphones.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

A astrofotografia como recurso pedagógico está longe de ser completamente explorada


e compreendida, em todo seu contexto e complexidade, especialmente quando atrelada às
metodologias multi e interdisciplinares. Por isso, carece de definições, bases teóricas e
pesquisas estabelecidas que fundamentem seu significado e fomentem seu uso, de forma
multidisciplinar e interdisciplinar, em ambientes formais e não formais de aprendizagem em
ciências e astronomia.
Os recursos pedagógicos baseados em astrofotografias, assim como as propostas de
atividades multi e interdisciplinares, aqui apresentados e descritos, representam uma tentativa
inicial de introduzir novas abordagens e incentivar práticas para o ensino de ciências e
astronomia. Cabe a trabalhos, projetos e pesquisas futuras testarem a aplicabilidade e a eficácia
das propostas de atividades, recursos pedagógicos e práticas apresentadas nesse trabalho.
Por fim, os objetivos esperados desse trabalho foram alcançados, uma vez que as
estratégias, recursos pedagógicos e práticas multi e interdisciplinares, a partir da
astrofotografia, foram propostos e sistematizados. Assim como contribuiu para uma base
teórica inicial acerca da astrofotografia como recurso pedagógico multi e interdisciplinar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

APÊNDICE

Apêndice 1 - Regras e jogabilidades do recurso pedagógico “Bingo Universarium” (Adaptado


de SILVA, 2016).
I. Selecionar e realizar o download das imagens do site Universarium, relacionadas aos
nomes das estruturas definidas (Figura 11);
II. Em sala de aula, escrever no quadro as palavras selecionadas (Figura 10);
III. Auxiliar os estudantes na construção de uma cartela, numa folha de caderno destacada,
composta pelo número de células desejadas (Ex.: 3 colunas e 3 linhas, totalizando 9 células,
uma grade 3x3);
IV. Pedir aos estudantes que selecionem palavras, entre as escritas no quadro e em seguida que
preencham toda a cartela com as palavras selecionadas. Não é permitido o uso de palavras
repetidas;
V. Orientar os estudantes sobre as regras e dinâmica do jogo;
VI. Apresentar de forma aleatória as imagens “baixadas” no site Universarium, impressas ou
com o auxílio de um projetor multimídia;
VII. Os estudantes deverão preencher, nas cartelas, um “x” nas palavras associadas às imagens
apresentadas;
VIII. O grupo ou aquele(s) que primeiro completar(em) o(s) objetivo(s) da modalidade escolhida
será(ão) considerado(s) o(s) vencedor(es). Após dizer em voz alta a expressão “bingo” ou
“bingo Universarium”.

Regras e dinâmica de jogo


1. As cartelas deverão conter cabeçalho (nome, ano, turma, etc.). O número de cartelas por
estudante ou grupo fica a critério do professor;
2. As imagens deverão ser apresentadas uma por vez, de forma aleatória em um intervalo de
(no mínimo) 20 segundos; Ou “cantadas” uma por vez;
3. São permitidas conversas e “colas” ao longo da atividade;
4. Sobre o critério de desempate: caso nenhum estudante ou grupo finalize a cartela será
considerado vencedor o grupo ou estudante que mais palavras marcar na cartela. Na
persistência de empates, serão considerados um ou mais vencedores, estudante ou grupo
(A proposta da atividade é educativa e não competitiva);
5. A atividade (cartela) deverá ser entregue ao professor no término da aula, para avaliação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Variantes de jogabilidade
Professor versus estudantes (individual): nesta modalidade o professor interage com a
turma, propondo três etapas de jogo relacionadas aos níveis de complexidade das estruturas
presentes nas imagens selecionadas. A primeira etapa consiste na apresentação das imagens de
menor complexidade, na segunda etapa as de média complexidade e na terceira etapa as de alta
complexidade. Podemos tomar como exemplo algumas das imagens da Figura 11: montanha,
nuvem, aurora, Júpiter, Sol, nebulosa, galáxia, universo, etc. O professor pode pedir para que
os estudantes preparem suas cartelas, possibilitando um jogo justo. Para uma dinâmica
diferenciada é aconselhado a divisão dos estudantes em quatro grandes grupos (Figura 22).
Estudantes versus estudantes (em grupo): nesta modalidade o professor exerce a função
de mediador. A sala é dividida em dois ou três grandes grupos, ficando a critério do professor,
para que os estudantes compitam entre si. São permitidas 3 cartelas por grupo e o jogo funciona
numa espécie de “melhor de três”, vence o grupo que completar mais cartelas ou alcançar o
maior número de acertos.
Rotativa em grupos (individual): nesta modalidade os estudantes interagem através dos
grupos. Ao longo do jogo os estudantes devem se reorganizar nos respectivos “grupos de
acerto”. A sala é dividida em quatro quadrantes (Figura 22). Até 2 acertos todos os estudantes
permanecem no mesmo grupo do início do jogo. O primeiro quadrante é destinado aos que
obtiveram de 3 a 4 acertos, o segundo quadrante aos que obtiveram de 5 a 6 acertos, o terceiro
quadrante aos que obtiveram de 7 a 8 acertos e o quarto quadrante aos que obtiveram mais de
9 acertos. Vencem o jogo os estudantes que conseguirem chegar ao quarto quadrante.

Figura 22. Representação da organização da sala de aula em quatro grandes grupos.

4º 1º

3º 2º

Fonte: Adaptado de SILVA, 2016.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Apêndice 2 - Passa a passo da oficina “Brincando com as constelações de inverno e verão”


(FERREIRA, 2021).
A oficina “Brincando com as constelações de inverno e verão” pode ser descrita e
dividida em três momentos.
Num primeiro momento, é recomendado começar a oficina com uma breve introdução
e reciclagem acerca das constelações do céu, história da astronomia, observação noturna e
astrofotografia, mecânica celeste, estações do ano, etc. servindo de contexto e base para um
melhor aproveitamento da atividade proposta.
No segundo momento, os participantes recortam - com auxílio de tesoura - as artes das
constelações (Ver Apêndice em FERREIRA, 2021) e as fixam - com fita adesiva - em cima das
estrelas representantes, ou da região correspondente, na astrofotografia impressa (Figura 12).
Para tornar o processo mais prático e interessante, uma apresentação de slides, com o passo a
passo das constelações a serem recortadas e fixadas em cima da astrofotografia, pode ser
solicitado ao autor via e-mail. É recomendado recortar e fixar uma arte de constelação por vez.
O terceiro momento é destinado ao esclarecimento de dúvidas, comentar curiosidades
sobre o tema, etc. O tempo estimado da oficina é de 1 hora e 30 minutos.
Como as artes das constelações são transparentes, é possível visualizar a astrofotografia
e as constelações de forma integrada e dinâmica (Figura 12).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Apêndice 3 - “Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”

Tabela 3. Tabela com as distâncias e escala dos objetos do sistema solar, para a confecção do recurso pedagógico
“Linha do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”.

Nomes Distância Escala (31 m)

Sol 0 (Referência) 0 (Referência)

Mercúrio 58.000.000 km 7,87 cm

Vênus 108.000.000 14,65 cm

Terra 150.000.000 km 20,35 cm

Lua* 384.400 km 52 mm (da Terra)

Marte 228.000.000 km 30,93 cm

Ceres 414.000.000 km 56,17 cm

Cinturão de asteroides 428.000.000 km 58,07 cm

Júpiter 778.000.000 km 1,06 m

Saturno 1.429.000.000 km 1,94 m

Urano 2.870.000.000 km 3,89 m

Netuno 4.500.000.000 km 6,11 m

Halley 5.250.000.000 km 7,12 m

Plutão 5.922.000.000 km 8,04 m

New Horizons 7.500.000.000 km 10,18 m

Éris 14.550.000.000 km 19,74 m

Voyager 2 18.988.000.000 km 25,77 m

Voyager 1 22.845.000.000 km 31 m
Fonte: Autoria própria.

Para utilizar outra escala, por exemplo de 20 metros ou 50 metros, basta utilizar “regra
de três” com os valores disponíveis, das distâncias e escala dos planetas e objetos, na Tabela 3.
Interessante, também, compartilhar e envolver os professores de matemática, de
educação física e de línguas, e.g. inglês, para elaborarem um projeto interdisciplinar, disposto
ao longo da quadra de esportes, ou no pátio da escola, por exemplo. Vale lembrar que, quanto
maior a escala, maior será a interação e a noção de dimensionalidade e dispersão dos objetos e
planetas do sistemas solar.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Tabela 4. Tabela com as informações de distância em tempo-luz, para a confecção do recurso pedagógico “Linha
do espaço-tempo: Uma viagem pelo Sistema Solar”.

Nomes Distância Tempo-luz (Distância)

Sol 0 (Referência) 0 (Referência)

Mercúrio 58.000.000 km 3 minutos-luz

Vênus 108.000.000 6 minutos-luz

Terra 150.000.000 km 8 minutos e 20 segundos-luz

Lua* 384.400 km 1,3 segundos-luz (da Terra)

Marte 228.000.000 km 13 minutos-luz

Ceres 414.000.000 km 23 minutos-luz

Cinturão de asteroides 428.000.000 km 24 minutos-luz

Júpiter 778.000.000 km 43 minutos-luz

Saturno 1.429.000.000 km 1 hora e 19 minutos-luz

Urano 2.870.000.000 km 2 horas e 40 minutos-luz

Netuno 4.500.000.000 km 4 horas e 10 minutos-luz

Halley 5.250.000.000 km 4 horas e 52 minutos-luz

Plutão 5.922.000.000 km 5 horas e 30 minutos-luz

New Horizons 7.500.000.000 km Aprox. 7 horas-luz

Éris 14.550.000.000 km 13 horas e 30 minutos-luz

Voyager 2 18.988.000.000 km 17 horas e 36 minutos-luz

Voyager 1 22.845.000.000 km 21 horas-luz


Fonte: Autoria própria.

Para calcular a distância em tempo-luz, do Sol até determinado objeto, basta utilizar
“regra de três” com os valores disponíveis das distâncias e de tempo-luz dos planetas e objetos,
da Tabela 4. Vale lembrar que o termo “tempo-luz” está relacionado à distância e não a tempo,
como o imaginário social e público geral idealizam ou reproduzem, erroneamente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ANEXOS

Anexo 1 - Controle de visitantes no Planetário de Brasília em 2021

Figura 23. Controle de visitantes no Planetário de Brasília, de janeiro a dezembro de 2021.

Fonte: Cortesia do Planetário de Brasília, 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 19

APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS ONLINE NO ENSINO


DE FÍSICA PARA CORRIGIR DEFICIÊNCIAS DOS
FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA EM ALUNOS DO
CURSO INTEGRADO

Djalma de Albuquerque Barros Filho, Antony Ernesto dos Santos Silva


e Marcos Henrique Abreu de Oliveira

RESUMO: Este trabalho trata da utilização de ferramentas online para o


ensino de Física. Embora haja uma variedade de programas, observa-se a
falta de integração entre estes, o que dificulta uma aprendizagem
significativa nesta disciplina. Outro aspecto que também dificulta tal
aprendizagem é que não há interação entre o professor e os alunos na aula
virtual, e os conteúdos são ministrados aligeiradamente, já que não se
permite ao professor desenvolver seu raciocínio como ocorreria na aula
presencial. Sendo assim, percebe-se o seguinte problema de pesquisa: até
que ponto a utilização de plataformas de ensino, associadas às ferramentas
tecnológicas, terão influência na aprendizagem significativa por parte dos
alunos do primeiro ano do Ensino Técnico do Instiuto Federal de Alagoas
(IFAL)? Destarte, um dos objetivos deste trabalho é estabelecer contato
online com os alunos de modo a utilizar ferramentas do Google Classroom,
SIGAA e CANVA; outro objetivo é mostrar como a utilização destas permite
ao professor desenvolver seu raciocínio de modo semelhante a uma aula
presencial. Neste sentido, admite-se a hipótese de que um aspecto que
dificulta o processo ensino-aprendizagem é a falta de interação direta do
professor com o aluno na execução de exercícios. Desse modo, acredita-se
que sendo o professor capaz de escrever fórmulas e desenhar objetos,
através das ferramentas da Canva, os alunos poderão realizar exercícios com
estética superior à comumente utilizada no Microsoft Word, além de utilizar
o mural virtual, o que favorecerá uma análise da assimilação do conteúdo
pelos grupos de alunos, resultando, assim, numa diminuição da fragilidade
matemática destes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

A Física é uma disciplina importante porque permite ao aluno compreender a sua


realidade desde grandes objetos como as estrelas até as invisíveis ao olho humano como o
átomo. A sua aplicação é responsável em grande parte pelo desenvolvimento tecnológico que
a humanidade alcançou no século XX. A aquisição do conhecimento da Física pode levar o
aluno a compreender o mundo que o cerca e incentivá-lo a desenvolver novas ideias que
talvez resulte na criação de um novo produto que proporcione benefícios para a sociedade.

O ensino de Física inicia-se no 1º ano do Ensino Médio. Infelizmente trata-se de uma


matéria com grande dificuldade de aprendizagem para os alunos por envolver uma visão
matemática que eles ainda não dispõem, por não terem sido introduzidas durante a sua
aprendizagem devido à estrutura curricular desta disciplina. Assim sendo, há uma concepção
errônea por parte dos alunos de que o conteúdo da Física é inatingível.

Há também um distanciamento entre teoria e prática que dificulta o ensino de Física


como também de outras disciplinas na educação brasileira. Este dilema tem sido agravado
pelas precárias condições em que se encontram as instituições de ensino no país. Há assim um
grande distanciamento entre professor e aluno bem como uma falta de interdisciplinaridade no
ensino de Física conforme foi reportado por Aurélio (SILVA, 2021). O aluno deve ser
introduzido ao conteúdo da Física por meio de práticas que envolvam aplicação direta da
teoria como ocorre na construção de dispositivos elétricos para verificação da Lei de Ohm.

O ensino de Física também foi atingido pela pandemia do COVID 19 que acentuou a
necessidade de implantar o ensino remoto no Brasil. Tal fato mostrou as deficiências
estruturais da educação no Brasil já que não há disponibilidade de internet para alunos que
não residem em grandes centros urbanos além da falta de capacitação do docente para o uso
de ferramentas tecnológicas. Outros aspectos a serem resolvidos no ensino remoto consistem
na segurança de dados com possibilidade de plágio durante as avaliações bem como a falta da
presença física do professor para orientar os alunos.

Há ainda alguns desafios tecnológicos para o ensino remoto no Brasil como a


possibilidade de pirataria que possibilita ao aluno disponibilizar a aula de uma disciplina sem
nenhum retorno financeiro ao professor. Este aspecto resultou no desenvolvimento de
plataformas próprias para transmissão de vídeos disponíveis apenas às grandes instituições de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ensino. A existência destas plataformas de certa forma possibilitou maior credibilidade à


transmissão de conteúdo e consequentemente o crescimento do ensino remoto no Brasil.
Portanto, há uma tendência ao crescimento do ensino remoto no Brasil devido à sua vasta
extensão territorial e a possibilidade do aluno estudar no seu tempo livre.

De acordo com Débora (GOMES, 2021), o ensino superior a distância no Brasil já


chega a 26% do número total de alunos. O ensino remoto no Brasil começou com cursos por
correspondência e se expandiu para o rádio e a televisão no século XX. Atualmente a mídia
utilizada é a internet através do computador e dos celulares. Tal avanço tecnológico
possibilitou o crescimento do ensino remoto no século XXI, pois se tornou uma alternativa
disponível à população mais carente e que implicava numa redução de custos como
alimentação e transporte. O acesso à internet também contribui para esta expansão já que está
disponível em diferentes plataformas como: computador, TV e celular.

A videoaula tem aspectos que diferem da aula tradicional já que a apresentação do


conteúdo é realizada de forma objetiva sem permitir que haja interrupções por parte dos
alunos e o professor se desvie da aula para comentar assuntos desconexos com a disciplina.
Com relação à Física, a videoaula não permite ao aluno observar o desenvolvimento do
cálculo pelo professor e assim se torna uma aula em que há apenas memorização de fórmulas
o que impossibilita ao aluno aplicá-las em problemas já que não absorveu a essência do
conteúdo do assunto abordado em sala de aula.

O objetivo deste trablho consiste em mostrar de que forma pode haver aprendizagem
significativa de Física através do uso de ferramentas tecnológicas. Entre estas destacam-se: i)-
Google meet para apresentação de vídeo-aula; ii ) - mural virtual (“ padlet”) para execução de
exercícios durante a aula; iii) - Google classroom para disponibilizar conteúdo e controle de
frequência e notas dos alunos; iv ) – Canva para apresentação da aula com desenvolvimento
do cálculo referente ao assunto abordado na vídeoaula

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Este trabalho de pesquisa baseou-se no constructo cognitivista da aprendizagem, no


qual se considerou aprendizagem como um processo de armazenamento de informações, de
forma ordenada/hierarquizada, que seriam incorporadas à estrutura cognitiva, de modo a
serem posteriormente utilizadas. Moreira (2006, p.14) comenta o teórico americano David
Ausubel e define estrutura cognitiva como o conjunto total de ideias, bem como sua

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

organização, em uma área particular de conhecimento. A ala da psicologia genética-cognitiva


tem também sido abordada por David Ausubel que considerava o fator isolado naquilo que o
aprendiz já conhece como mais importante para o aprendizado.

Gimeni Sacristán também representa a ala da psicologia genético-cognitva ao considerar


um modelo de educação em que saberes, valores e práticas são selecionados para o
desenvolvimento do aluno. Desta forma, a aprendizagem siginificativa relaciona-se
diretamente com a aprendizagem escolar, que agora se discute. Sacristàn, ao apresentar a
teoria da aprendizagem significativa, assim comenta:

“Pode-se afirmar que, (...), a importância didática das contribuições de Ausubel é


francamente extraordinária naquele reduzido e significativo espaço da aprendizagem
significativa de materiais verbalmente transmitidos”. (SACRISTAN, 1998, p.40).

O aspecto mais importante que determina a aprendizagem do aluno é aquilo que ele já
sabe como foi ressaltado por Moreira ao comentar a teoria ausubeliana (MOREIRA e
MASINI, 2002., p.7). Há uma definida estrutura de conhecimento do indivíduo na qual
qualquer nova informação será “acomodada” nessa estrutura quando interage com os
conceitos subsunçores. O termo subsunsor (ideia âncora) se refere a um conceito
(ideia/proposição) mais ampla, que funciona como ancoradouro na estrutura cognitiva, para
outros conceitos no processo de assimilação (MOREIRA e MASINI, 2002. p.104). Cabe aqui
comentar que esta palavra (subsunsor) não existe em português, é uma tentativa de se traduzir
subsumer do inglês.

Na verdade, esse termo não traduz de forma satisfatória o processo aqui descrito, já que
para a aprendizagem significativa o processo de aquisição da informação é dialético, de modo
que a nova informação (ideia/ conceito) modifica e é modificado na estrutura cognitiva.
Ausubel assim esclarece: “O processo de vincular novas informações a segmentos
preexistentes da estrutura cognitiva é conhecido como subsunção”(AUSUBEL, 1978, pp.38-
41 ). Neste trabalho, o processo de relacionar a nova informação aos segmentos pré-existentes
na estrutura cognitiva é tomado como subsunção. A aprendizagem significativa ocorre quando
as seguintes condições básicas são preenchidas: o material a ser aprendido é potencialmente
significativo para o aprendiz; o aprendiz deve manifestar uma disposição de relacionar o novo
material de maneira substantiva e não arbitrária a sua estrutura cognitiva.

De acordo com Moreira, a aprendizagem necessita de um material potencialmente

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

significativo que deve preencher duas condições de ordem material e psicológica


(MOREIRA, 2006). Há necessidade de uma ordem lógica no conteúdo a ser aprendido que
não deve ser apresentado de forma lógica, não arbitrária e não aleatória (ordem material). Há,
portanto, uma relação substantiva com a estrutura cognitiva do aprendiz colocada nos
seguintes termos:

[...] independentemente de quão potencialmente significativo possa ser o material a ser


aprendido, se a intenção do aprendiz for, simplesmente, a de memorizá-lo arbitrária e
literalmente, tanto o processo de aprendizagem como o seu produto serão mecânicos (ou
automáticos). E, de modo recíproco, independentemente de quão disposto a aprender estiver o
indivíduo, nem o processo nem o produto da aprendizagem serão significativos, se o material
não for potencialmente significativo – se não for relacionável à estrutura cognitiva, de
maneira não literal e não arbitrária. (Ibdem, p. 20).

Outro aspecto importante para a aprendizagem significativa é a programação do


conteúdo a ser aprendido. Ausubel considera que a presença de elementos gerais deve ser
introduzida em primeiro lugar sendo progressivamente diferenciados e detalhados para que o
processo de ancoragem seja facilitado. Moreira reforça esta concepção ao levar em conta a
presença de subsunçores para que o aluno tenha uma aprendizagem significativa independente
da maturidade intelectual para compreender conceitos e proposições apresentadas
verbalmente (MOREIRA, 2006). Torna-se necessária a utilização de organizadores prévios
para relacionar o que o aluno já sabe e o que precisa saber para aprender o significado do
novo material. MOREIRA (2006), em outra obra com o título A Teoria da Aprendizagem
Significativa e Sua Implementação em Sala de Aula, mais precisamente no capítulo 6,
descreve como o ensino deve ser organizado para que se efetue a aprendizagem significativa.
Moreira apresenta a seguinte definição de organizadores prévios:

Organizadores prévios são materiais introdutórios, apresentados antes de o próprio


material ser aprendido, porém, em um nível mais alto de abstração, generalidade e
inclusividade do que esse material (MOREIRA, 2006, p. 23). Moreira também considera que
este raciocínio deve considerar duas hipóteses (MOREIRA e MASINI, 2002. p.21): aspectos
diferenciados de um todo são mais fáceis de serem assimilados pelo aluno do que chegar ao
todo a partir de suas partes; a mente do aluno organiza o conteúdo de determinada disciplina
através de uma estrutura hierárquica num processo definido como diferenciação progressiva e
reconciliação integrativa. O significado destes elementos é discutido na obra de Ausubel -

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Educational Psycology como mostram estes excertos logo abaixo:

Na teoria de assimilação da aprendizagem apresentada neste livro, a maior parte da


aprendizagem significativa que ocorre pode ser caracterizada como envolvendo diferenciação
progressiva de conceitos ou proposições. Por exemplo, os novos significados que seriam
adquiridos ao longo do tempo para proposições como a lei de Ohm ou conceitos como
democracia ou evolução representariam a diferenciação progressiva dessas preposições ou
conceitos (AUSUBEL, D. P., 1978, p. 124).

E ainda:

[...]idéias estabelecidas na estrutura cognitiva podem ser reconhecidas como


relacionadas, no decorrer de um novo aprendizado. Assim, novas informações são adquiridas
e os elementos existentes da estrutura cognitiva podem assumir uma nova organização e,
portanto, um novo significado. Essa recombinação de elementos existentes da estrutura
cognitiva é conhecida como reconciliação integrativa. (Ibdem, p. 124).

Estes elementos foram apresentados isolados para maior clareza do leitor e não podem
ser considerados isoladamente como ressalta Moreira (MOREIRA e MASINI, 2002, p.97):“A
diferenciação progressiva e a reconciliação integrativa são, portanto, processos que resultam e
que ocorrem simultaneamente com a aprendizagem significativa, bem caracterizando a
dinamicidade da proposição ausubeliana”.

Observa-se então que as ideias de Asubel possibilitam estabelecer um modelo teórico


explicativo para o mecanismo de aprendizagem escolar. Tais ideias são aplicadas
particularmente nesta pesquisa de modo a introduzir a Física a partir de conceitos de
Matemática já assimilados pelos alunos durante o seu ensino básico. Neste trabalho mostram-
se inicialmente como exercícios realizados pela disciplina Matemática podem ser aplicados no
Ensino de Física de modo que o aluno associe o conteúdo ministrado na Física com ideias
desenvolvidas na sua aprendizagem de Matemática em que a sua estrutura cognitiva estava se
formando e a capacidade de absorver estímulos do meio externo é acentuada. Contudo, a sua
realidade é diferenciada a partir de ferramentas tecnológicas disponíveis particularmente a
internet e o computador.

METODOLOGIA
O desenvolvimento de aulas online depende não apenas de um programa para vídeo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

conferência, mas também de uma plataforma que possibilitasse ao professor armazenar


informações e interagir com os alunos de modo a registrar sua frequência, disponibilizar
atividades e provas e enviar informações para os alunos seja via mural ou chat. O
Googleclassroom atende estas necessidades por estar integrado ao G-suite e ser gratuito.
Assim sendo, qualquer professor pode criar uma turma independente de estar vinculado a uma
instituição de ensino.
A criação de uma turma é realizada a partir da página do Google como mostra a
Figura 1A em que o professor deve procurar pelo Googleclassroom no local indicado pela
seta. Após clicar nesta seta o professor é introduzido à página inicial do Googleclassroom
como mostra Figura 1B. Nesta página há um sinal de + que abre uma janela em que o
professor introduz as informações referentes à turma que pretende criar.
Duas turmas foram criadas para o desenvolvimento do método proposto neste
trabalho: i ) – Turma da reoferta; ii ) – Turma online TCC. A primeira turma refere-se a
alunos que estão revendo o conteúdo que lhes já tinha sido ministrado no primeiro ano e que
tinham sido reprovados devido às suas dificuldades com a matéria. Houve um total de 29
alunos inscritos nesta turma que seriam avaliados com duas atividades e uma prova referentes
ao primeiro bimestre do primeiro ano da disciplina Física. A segunda turma correspondeu a
alunos do primeiro ano que ingressaram voluntariamente na turma. O número total de alunos
foi 16 já que eram provenientes de turmas que não tiveram aulas de física decorrente da
paralisação das atividades docentes do IFAL durante a pandemia do COVID 19. Um total de
10 Atividades e uma prova referente ao primeiro bimestre foi aplicado nesta turma que em
princípio não valiam para a disciplina de Física do IFAL.
O Google classroom apresenta vantagens em relação à outras plataformas além da
integração com o G-suite (EDUCADOR DO FUTURO, 2020). O professor pode criar e
organizar diferentes turmas cujo ingresso dos alunos é realizado através de um código de
turma enviado pelo professor. O acesso é disponível tanto pelo computador como pelo celular.
O agendamento de aulas e atividades pode ser compartilhado pela Google agenda o que
permite que os alunos tenham conhecimento do horário e prazo para realizá-las. A interação
do professor com os alunos é facilitada com a introdução de chats nas atividades criados para
dialogar com alunos sobre dúvidas e tópicos apresentados durante a aula. As provas aplicadas
podem ter o conteúdo bloqueado para acesso à internet o que minimiza as possibilidades de
plágio. O professor, por sua vez pode compartilhar com os alunos conteúdo da disciplina
através de vídeos do Youtube que enriquecem o conteúdo da disciplina por mostrar outros
aspectos do tema proposto em sala de aula. Há também suporte permanente e treinamento aos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

professores para que saibam utilizar esta plataforma de maneira eficiente e produtiva para os
alunos. Tal aspecto torna o Google classroom uma plataforma acessível para ser aplicada em
Figura 1. Criação da sala de aula virtual no Google classroom: A ) – Página inicial do Google em que a seta
indica onde se deve clicar para ter acesso ao programa; B ) – Turmas criadas para o desenvolvimento deste
trabalho indicadas por uma seta na figura.

(A) - (B) -

Fonte: Autores, (2021)

larga escala na área da educação.


No entanto, há muitas dificuldades na implantação do Google classroom nas escolas
brasileiras como reportado por Baldez (2017) já que mesmo com o desenvolvimento
tecnológico e novas mídias digitais os professores não estão adaptados para o ensino online.
Há, portanto necessidade de uma redefinição da pedagogia escolar e ferramentas como o
Google classroom fazem parte integrante deste processo. Embora a falta de infraestrutura
adequada e o acesso à internet sejam obstáculos à implantação do ensino online, este pode
proporcionar futuramente a justiça social e a democratização do ensino público numa escala
maior do que a observada no ensino tradicional. O Google classroom pode agir como
mediador no processo ensino-aprendizagem como relatado por (NETO, PEREIRA e
OLIVEIRA, 2018) em pesquisa realizada com 4 professores e 20 alunos da Escola Professor
Cícero Severo Lopes da rede estadual de ensino, localizada na cidade de São Domingos de
Pombal-PB. A principal dificuldade apresentada pelos alunos foi o uso da língua inglesa. No
entanto, esta dificuldade não impossibilitou uma melhoria na aprendizagem devido à
facilidade de acesso ao conteúdo disponibilizado em aula e maior interatividade entre colegas
e professores. Resta apenas esperar que maiores investimentos do setor público em
infraestrutura para ensino online e formação de professores torne o Google classroom e outras
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs) mais utilizadas para a
transposição didática a se realizar nas escolas públicas brasileiras.
Este trabalho mostra como se desenvolve o conteúdo de uma aula utilizando a Canva.

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Esta plataforma tem sido utilizada principalmente pela sua interface gráfica com modelos
disponíveis gratuitamente. Embora haja atualmente versões da Canva para educação, este não
é tão acessível em todas as plataformas como o Google classroom. Há a possibilidade na
Canva de interagir diretamente com o aluno durante a aula através de modelos disponíveis de
melhor qualidade estética do que a encontrada em outros programas e que são gratuitos.
A Canva Pro disponibiliza uma capacidade de armazenamento de até 100 GB e um
banco de imagens de aproximadamente 75 milhões de fotos, 3 mil fontes diferentes e 420 mil
modelos (GARRET,2020). Com estes recursos, a Canva possibilita uma estética visual que
atrai a atenção do aluno para o conteúdo apresentado durante a aula. Há 5 benefícios que
devem ser destacados na plataforma Canva (ALPHESIS, 2016): i ) – exposição visual; ii ) –
simplicidade; iii ) – abrangência; iv ) – abordagem global; v ) – envolvimento da equipe. A
Canva neste caso possibilita a integração dos alunos em grupos. Há uma versão da Canva para
educação cuja interface é similar a do Google classroom como mostra a Figura 2A. Os
modelos de aula encontram-se na barra lateral esquerda que mostra tanto novos
(Recomendados e kit de Marca) quanto utilizados ( Seus designs e Designs Recentes). Os
alunos entregam ao professor seus exercícios no botão Compartilhado com você ou Trabalho
em aula o que facilita a acessibilidade e posterior correção deste material. O Planejamento de
conteúdo permite ao professor colocar as suas apresentações preparadas nas datas
correspondentes às aulas de modo a ter fácil acesso quando for necessário. As apresentações
são organizadas pelo professor em pastas correspondentes ao conteúdo ou a suas turmas. Os
arquivos destas apresentações quando deletados são armazenados na lixeira e podem ser
posteriormente recuperados quando for necessário ao professor. Os alunos podem ser
divididos em Grupos o que facilita a inclusão de Atividades ou material específico para um
número determinado de pessoas.
A Figura 2B mostra os arquivos que podem ser construídos na Canva e disponíveis
para os alunos. Estes são basicamente aulas dispostas em ordem numérica para fácil acesso
pelo aluno ou o professor. Os arquivos apresentam uma capa ilustrativa que atrai o aluno por
ser esteticamente bem elaborada e mostra a disciplina e o assunto do professor. A capa inicial
da aula também procura atrair o aluno para disciplina mostrando que a mesma deve ser
encarada com carinho e dedicação para que alcance os resultados esperados. A mesma
estratégia é utilizada na capa inicial da Atividade (Figura 2C) que trata de assuntos de revisão
necessários para que o aluno fundamente conceitos da Matemática aplicados na Física do
Primeiro Ano. O conceito de vetores e sua aplicação é um dos itens curriculares que os
alunos têm mais dificuldades no primeiro ano já que não é discutido diretamente na disciplina

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Matemática e envolve conhecimento de trigonometria e construção de gráficos. O professor


sempre inicia a aula apresentando o livro texto que é disponível ao aluno e a página em que se
Figura 2. Recursos disponíveis na Canva para execução de aulas de Física: A ) – Página inicial da aula; B ) –
Capa inicial da aula a ser desenvolvida pelo professor; C) - Atividade a ser executada após a aula

(A) -

(B) - (C) -

Fonte: Autores, (2021)

encontra o assunto a ser discutido em sala de aula (Figura 3A). A Canva permite que o aluno
construa este gráfico por disponibilizar um quadriculado com redução de custos para o aluno
e para a escola porque não há necessidade do uso do papel milimetrado (Figura 3B). Este
exercício pode ser realizado durante a aula já que o Googlemeet permite compartilhar a tela
com os membros da reunião. Assim sendo, os alunos poderão ser divididos em grupos e
executar o exercício caso seja disponibilizada a internet nas suas residências ou na escola.
Há iniciativas no estado de Alagoas para utilizar a plataforma Canva especificamente
durante este período de pandemia. Tal iniciativa foi implantada por uma parceria da
Secretaria de Estado de Educação de Alagoas (Seduc-Al) ao firmar uma parceria inédita com
a plataforma de design Canva para a Educação. O acesso foi liberado de forma gratuita para
os professores desde que possuam e-mail institucional. Para isto, houve a criação de 180 mil
e-mails institucionais através de uma parceria entre a Seduc e o Google. A importância desta
parceria para o processo ensino-aprendizagem nas escolas estaduais de Alagoas foi enfatizado
por Marcos Barros nos seguintes termos:
A Canvas possibilita um ambiente colaborativo, mas também permite

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trabalhar cada aluno de forma personalizada. Quando o estudante


conhece a Canva, ele primeiro vai se encantar para seu uso pessoal
Figura 3. Desenvolvimento de conteúdo da disciplina Matemática utilizando o livro texto e a Canva: A ) –
Página inicial da aula mostrando a localização do conteúdo no livro texto de Física; B ) – Exercício aplicado na
turma após a aula.

(A) - (B) -
EXERCÍCIO
ILUSTRE ABAIXO O
SEGUINTE VETOR NO
PLANO CARTESIANO

FÍSICA
1O ANO

AUTORES

Fonte: Autores, (2021)

e, posteriormente, verá que essa mesma ferramenta poderá ser usada


também nos seus estudos. Lá é possível, por exemplo, participar de
uma gincana online, produzir um e-book com vários autores”(LINS,
2020, p.3)
Assim sendo, a Canva tende a ser uma ferramenta importante para o processo ensino-
aprendizagem em todas as disciplinas não apenas a Física. A sua aplicação pedagógica na
Física requer a formação contínua de professores e disponibilidade de infraestrutura para
utilizar as outras TDICs. O seu diferencial, porém consiste na confecção de seus trabalhos que
tornam a aprendizagem significativa para os alunos e permite que eles mostrem o seu
potencial criativo construindo assim uma concepção construtiva que é o objetivo pedagógico
de qualquer professor na sua transposição didática.
Um dos principais desafios para o professor durante a transposição didática consiste
em verificar a assimilação do conteúdo pelo aluno e avaliá-lo em atividades extraclasse.
Existem atividades de gamificação que auxiliam o professor neste processo. Contudo, há
dificuldade em perceber as deficiências dos alunos em realizar cálculos na Física e o professor
necessita analisar quais são as deficiências mais frequentes que os alunos possuem.
Outro aspecto é aplicação de fórmulas no ensino de física. O aluno não percebe que o
exercício aplicado serve para uma situação específica nem que os conceitos envolvidos são os

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fundamentos para a sua resolução. A memorização e o cálculo envolvendo as fórmulas


expostas em aula pelo professor devem ser assimiladas de maneira semelhante ao processo
ensino aprendizagem do ensino básico de forma que o aluno possa aplicar o mesmo
procedimento em outras situações.
O mural virtual denominado de padlet é uma ferramenta tecnólogica que possibilita
ao professor uma avaliação próxima ao ensino tradicional e disponível aos alunos de uma
forma mais ampla. Há necessidade apenas do celular e acesso à internet. O padlet tem sido
utilizado na construção de murais para atividades em grupo ou exposição de uma aula de
forma mais ampla pelo professor a fim de que o aluno tenha um material para estudar o
conteúdo discutido em sala de aula.
Os alunos podem assim desenvolver a sua criatividade e criticidade o que lhes permite
expandir os seus horizontes além da sala de aula para o seu contexto social (MOTA, 2017).
Há necessidade dos professores adaptarem esta ferramenta ao processo ensino-aprendizagem
e este constitui um dos objetivos deste trabalho. O professor não teve acesso a estas
ferramentas digitais durante a sua formação sendo considerados imigrantes digitais por
Prensky (PRENSKY,2001).
O professor deve se adaptar a esta nova realidade e planejar a utilização das
ferramentas tecnológicas que lhe são disponíveis de acordo com a realidade dos seus alunos.
O padlet permite esta integração entre professor e aluno desde que seja utilizado de forma
adequada. No entanto a sua utilização é limitada por não ser um serviço gratuito como a
Canva o que limita a sua aplicação em larga escala. Há então necessidade de incentivo da
gestão escolar para que a sua aplicação pedagógica seja realizada como descrita neste
trabalho. As Figuras 4 e 5 mostram como estes exercícios são construídos e de que forma é
realizada a avaliação do desempenho dos alunos seja de forma individual para sanar as
deficiências nos fundamentos da Matemática.
Um dos principais fatores para o sucesso do processo ensino-aprendizagem é a
comunicação do professor com os seus alunos. O ensino tradicional limitava este contato que
era restrito ao convívio escolar e presencial na sala de aula. Tal aspecto dificultava o processo
ensino aprendizagem do aluno já que as suas dúvidas não poderiam ser esclarecidas no
momento em que surgiam bem como tornavam públicas as suas deficiências na matéria
particularmente de assuntos que já eram conhecidos por muitos de seus colegas.
O ensino remoto, de certa forma, possibilitou um maior contato do professor com os
seus alunos ao estabelecer fóruns de discussão nos quais os alunos discutem temas relevantes
à disciplina. O professor também poderia participar da discussão e receber mensagens

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

privadas dos seus alunos. Contudo, o acesso ao computador é limitado a muitos dos alunos
que não dispõem de acesso para mais de um membro da família. Esta dificuldade pode ser
Figura 4. Exercício aplicado em aula logo após a exposição do conteúdo pelo professor de modo a analisar o
aprendizado de fundamentos da matemática pelo aluno. Este tipo de dinâmica visa que o aluno e o professor
interajam de maneira semelhante à aula presencial e serve para analisar como o aluno assimilou o conteúdo
discutido em sala de aula. O professor tem também uma visão geral das deficiências apresentadas pela turma em
termos do desenvolvimento de cálculos necessários para o ensino posterior de tópicos da Física no primeiro ano.

Fonte: Autores, (2021)

Figura 5. Exercício aplicado após aula como atividade a ser realizado pelo aluno para avaliação da disciplina.
Este tipo de atividade visa que o aluno memorize fórmulas e perceba como elas podem ser aplicadas em
diferentes situações além de estimular o aluno a obter resultados em Física utilizando diferentes valores para as
variáveis. Neste exemplo a massa e velocidade correspondem ao número de chamada que não é o mesmo para
cada aluno o que diminui a possibilidade de plágio dos colegas de turma.

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Fonte: Autores, (2021)


resolvida com o uso de uma ferramenta tecnológica disponível à maioria dos alunos e que eles
tenham privacidade com o professor. O whatsapp pode desempenhar muito bem esta função
ao formar grupos com os alunos de acordo com a sua turma e estabelecer um contato direto
com o professor principalmente no horário predeterminado para o início da aula.
No entanto, o professor teria que ceder o seu telefone privativo para estabelecer o
contato com os alunos o que não seria recomendável já que os alunos poderiam interrompê-lo
em sua vida particular. Isto não ocorreria se o professor tivesse um número a parte para
assuntos profissionais. Este foi o procedimento utilizado para estabelecer contato com os
alunos. Formaram-se dois grupos de whatsapp correspondentes às turmas de voluntários do
primeiro ano e alunos da reoferta que só tinham acesso ao professor por meio de um telefone
exclusivo para assuntos profissionais.
A aplicação do whatsapp como ferramenta pedagógica tem sido relatada por Feliciano
para a disciplina geografia em que se formou um grupo de alunos do 7o Ano com 33
componentes (FELICIANO, 2016). Observou-se neste trabalho também que os alunos
evoluíram na disciplina ao terem mais facilidade de se manifestar e propor os seus pontos de
vista. Assim sendo, o whatsapp proporciona que haja uma sala de aula invertida com maior
participação dos alunos no desenvolvimento do conteúdo da disciplina e incentivando uma
mentalidade crítica que será muito importante para o professor durante a sua transposição
didática. Esta é mais uma das inovações que as TDICs aplicadas à aprendizagem introduziram
na forma de transmissão de conhecimento tornando o mais acessível ao auno ao estabecer um
contato efetivo com o professor. A aula de Física neste trabalho está focada no
desenvolvimento de cálculos envolvendo as equações referentes à Mecânica. Para isto, o
professor deve discutir estas equações de maneira similar ao ensino básico e mostrar a sua
aplicação em fatos que ocorrem no cotidiano do aluno. O encontro de dois corpos com
velocidade constante numa estrada seria um exemplo comum ao cotidiano do aluno.
A Figura 6 mostra como isto poderia ser realizado em sala de aula. O arquivo da
Canva pode ser compartilhado com os alunos presentes na vídeo conferência que realizarão o
cálculo e colocarão o carrinho na posição obtida pela equação da posição discutida em sala de
aula. Desta forma, o aluno visualiza o movimento e se familiariza com a equação da posição.
O cálculo realizado mostra que a matemática realizada para a resolução do problema requer
do aluno conhecimento do conteúdo do ensino básico, mas a interpretação da equação torna-
se simples já que este se trata de um fenômeno observado no seu cotidiano. Discutir a

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resolução desta questão através de um procedimento similar ao realizado no ensino básico


auxilia o aluno também a memorizar as equações e entender as variáveis envolvidas como
Figura 6. Dinâmica em sala de aula baseada em cálculo simples da equação de posição de modo que o
movimento do carro seja visualizado pelo aluno e determinado o instante de encontro de dois corpos.

Fonte: Autores, (2021)

posição inicial e velocidade de modo que o processo ensino-aprendizagem ocorra de uma


maneira efetiva evitando que a transição para o ensino médio seja tão abrupta para o aluno.
Outro diferencial introduzido pelas TDICs refere-se ao uso de murais virtuais com o
conteúdo discutido em sala de aula ilustrado na Figura 7. Tal procedimento é útil por dois
aspectos: i ) – o aluno não necessita escrever durante a aula o conteúdo apresentado pelo
professor; ii ) – o mural apresenta um resumo da aula que poderá ser utilizado pelo aluno
quando tiver que estudar para avaliação. O uso de vídeos no mural também facilita a posterior
assimilação do conteúdo pelo aluno já que poderá assisti-lo a qualquer momento com uma
nova abordagem utilizada por outro professor. Há outros aspectos pedagógicos da Canva que
não serão abordados neste trabalho, mas devem ser citados. A Canva permite a inserção e
rápida formatação de textos durante a aula o que é particularmente interessante para resolução
de exercícios bem como a inserção de formas com diferentes colorações. No entanto, o
compartilhamento de arquivos durante a aula com o aluno talvez seja o principal aspecto da
Canva que o torna uma ferramenta tecnológica de fácil acesso ao aluno permitindo que
interaja com o professor durante a sua apresentação de modo a solucionar as suas dúvidas de
imediato bem como dos demais colegas. Assim sendo, as TDICs permitem que os
fundamentos do ensino tradicional sejam mantidos em um novo contexto adaptado à realidade
do aluno tanto sobre o ponto de vista pedagógico quanto tecnológico de acordo com as
condições de infraestrutura que lhe são proporcionadas pela sociedade.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 7. Resumo para posterior estudo do aluno sobre o conteúdo discutido na aula.

Fonte: Autores, (2021)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A turma da reoferta é constituída por alunos que já tiveram o conteúdo do primeiro


ano e cujo aproveitamento não foi suficiente para que fossem aprovados no primeiro ano.
Tratava-se de um curso regular do IFAL e que teria de ser aplicado na forma online já que a
pandemia impossibilitava a realização de aulas presenciais. A frequência dos alunos poderia
ser registrada já que se tratava de um curso oficial do IFAL e foram registradas no final da
aula por chamada oral a fim de realmente comprovar a presença do aluno durante a
apresentação de todo o conteúdo.

A Figura 08 mostra o histograma de frequência da turma de reoferta no qual se observa


que apenas 29 alunos participaram do curso efetivamente num total de 7 aulas de 100
minutos. Observa-se que 19 alunos tiveram um número de faltas superior a 40% do total de
aulas ministradas. A turma online não teve registro de aulas já que não se tratava de um curso
oficial, mas o número de aulas e a carga horária foi similar a da turma de reoferta. O conteúdo
abrangeu notação científica até movimento retilíneo uniforme (MRU) que corresponde o
primeiro bimestre de Física ministrado nas aulas presenciais anteriores à pandemia.
Houve aplicação de três atividades durante o curso para a turma da reoferta que seriam
executadas individualmente e uma prova constituída por duas questões subjetiva e duas
questões de múltipla escolha. O histograma da Figura 9A mostra que 8 alunos atingiram nota

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

superior a 6,0 pontos de nota final e que 13 alunos não atingiram nota para aprovação no
primeiro bimestre da disciplina de Física.

Figura 8. Histograma das frequências da turma de reoferta.

100,00

Fonte: Autores, (2021)


O conteúdo da turma online TCC abrangeu o segundo bimestre com tópicos referentes à
dinâmica como Leis de Newton, Trabalho e energia. No entanto, para este trabalho foi
avaliado apenas o primeiro bimestre de maneira similar à turma da reoferta. Foram aplicadas
9 atividades e uma prova bimestral cujo histograma encontra-se na Figura 9B. O número total
de alunos na disciplina foi 16 e cerca de 13 alunos atingiram nota superior a 6,0 pontos que é
a nota final para aprovação nas disciplinas do IFAL.

Observa-se nos resultados obtidos como as novas ferramentas tecnológicas aplicadas


neste trabalho podem resultar numa aprendizagem significativa de Física no ensino remoto.
Estas ferramentas utilizam-se de ambientes já conhecidos pelos alunos como smartphone e
computador, o que de acordo com a teoria de Ausubel, atua como um subsunsor indispensável
para que a estrutura cognitiva do aluno se predisponha a assimilar o conteúdo da aula
(AUSUBEL, 1978).

Não se trata apenas de uma aula verbalmente transmitida, mas de um contexto estético
que atrai o aluno e o incentiva a formar organizadores prévios indispensáveis a uma
aprendizagem significativa num espaço restrito. Esta estrutura aliada aos seus subsunçores
possibilita uma determinada geração de conhecimento ao aluno porque o material a ser
aprendido é potencialmente significativo para o mesmo. Não há assim uma relação arbitrária
aluno-professor o que predispõe a sua estrutura cognitiva a assimilar o material discutido no
ambiente virtual. A ordem lógica do conteúdo estabelecida pelo uso de um ambiente virtual
resulta num ordenamento de novos subsunçores de uma forma lógica não arbitrária e não
aleatória. O aluno, portanto, não fixa o conteúdo de forma arbitrária o que não ocorreria no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ensino tradicional formando novos subsunsores que serão importantes para assimilação do
conteúdo da disciplina na sequência do seu curso.

Figura 9. Histograma das notas das turmas: A ) – reoferta; B ) – online TCC.

(A) - (B) -

10,0 10,0
0 0

10,00 10,00

Fonte: Autores, (2021)

Este aspecto constitui um dos fundamentos para que o aluno atinja a sua maturidade
intelectual, compreendendo assim, conceitos e proposições apresentadas verbalmente
(MOREIRA,2006). Os elementos gerais destes subsunsores são progressivmente
diferenciados e detalhados de modo que o processo de ancoragem seja facilitado. Tal conceito
se fundamenta no princípio da aprendizagem significativa que, como anteriormente se viu,
afirma só se poder chegar ao todo a partir de suas partes, através de um processo definido
como diferenciação progressiva e reconciliação integrativa. A diferenciação progressiva é
facilitada pela organização hierarquica do conteúdo no ambiente virtual. A reconciliação
integrativa, por sua vez, foi estabelecida não apenas pelo ambiente virtual, mas fundamental-
mente pela revisão de conceitos de matemática não assimilados no passado e que são
abordados numa concepção didática similar ao ensino básico. Tal abordagem tornou-se
efetiva devido à presença de organizadores prévios estabelecidos pelo planejamento do curso
de uma forma similar à que o aluno já incorporou no seu cotidiano. Há assim uma
dinamicidade característica da proposição ausebiliana que surge devido ao quadro de
pandemia de modo que a aprendizagem significativa ocorra num ambiente virtual.

Desta forma, o melhor resultado obtido pela turma online pode ser associado à
disposição em assimilar conteúdos novos diante de uma situação de paralisação das aulas
devido à pandemia. Há uma pré-disposiçao do aluno pelo seu contexto social a formar uma
estrutura cognitiva referente à disciplina que lhe é ofertada pelo ambiente virtual. Há também

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

organizadores prévios que facilitaram a aprendizagem de Física, embora as dificuldades de


Matemática persistissem e a aprendizagem significativa lhes proporcionassem uma diferencia-
ção progressiva e posteriormente uma reconciliação integrativa com a geração de subsensores.

Observou-se uma ausência significativa de alunos da turma da reoferta à aula (~66%)


que se ausentaram durante aproximadamente a metade do curso. Não foi possível avaliar a
frequência dos alunos da turma online, mas se observou durante as aulas que o número de
atividades foi bem maior que a turma da reoferta porque era uma turma constituída por alunos
interessados em assimilar novos conteúdos sem o temor de uma eventual reprovação. Isto
mostra que a aprendizagem de Física no ambiente virtual para a turma da reoferta não ocorreu
de forma significativa já que não havia predisposição dos alunos em receber o conteúdo
administrado de forma online, o que não lhes permitiria desenvolver uma diferenciação
progressiva que resultasse na reconcialição integrativa com a disciplina. Outro fator a ser
considerado é que a turma da reoferta não teve a mesma disponibilidade de tempo para se
recuperar na metodologia adotada já que se tratava de uma disciplina a ser ministrada em cada
bimestre por um professor diferente. Isto não ocorreu com a turma online TCC que não havia
restrições ao conteúdo a ser ministrado e a aula poderia ser realizada com menor temor de
uma eventual reprovação como ocorreu no passado. Pode haver, portanto, para a turma da
reoferta, uma ausência de subsensores na estrutura cognitiva dos alunos, o que dificultaria
uma efetiva aprendizagem significativa dos conteúdos ministrados, o que justificaria, em
última análise, um menor desempenho dessa turma em comparação com a turma online.

CONCLUSÃO

Este trabalho abordou a integração de plataformas online para que os alunos do


primeiro ano de Física adquirissem uma aprendizagem significativa de Física. Este problema
de pesquisa foi abordado de diferentes formas durante todo este trabalho de pesquisa: i ) -
contato direto do aluno com o professor via whatsapp de forma individualizada o que não se
observa efetivamente nas aulas presenciais; ii ) – desenvolvimento de conteúdo durante a aula
via Canva sem que seja restrito a uma apresentação do professor e sim numa metodologia
similar a uma aula presencial. Tal abordagem permitiu ao aluno compreender detalhes da
Matemática envolvidos na disciplina e consequentemente sanar esta deficiência do seu
aprendizado. O uso das fórmulas com diferentes números também resulta numa compreensão
dos parâmetros envolvidos na sua utilização e consequentemente aplicá-las em situações do
seu cotidiano; iii ) – resumo do conteúdo em murais virtuais via padlet o que implicava numa

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

maior atenção do aluno ao conteúdo abordado pelo professor durante a aula sem a
necessidade de copiar detalhes do texto que desviariam a sua atenção e poderiam conter
alguma falha conceitual durante a sua transcrição em papel. O resumo do mural virtual
também facilitava a posterior revisão do conteúdo pelo aluno; iv ) – o padlet também
permitiria a execução direta de cálculos envolvidos nas questões propostas pelo professor
durante a aula e uma efetiva análise do professor sobre as deficiências de matemática da sua
turma de forma similar a que ocorreria de forma presencial. Assim sendo, o objetivo da
pesquisa foi alcançado de propor uma integração de todas as ferramentas tecnológicas de
modo a permitir que o aluno tenha uma aula online interativa direcionada para diminuir as
suas deficiências em Matemática e aplicar o cálculo em fórmulas de Física. Observa-se que o
conceito de aprendizagem significativa como aquisição de conhecimentos com significado,
com compreensão de forma, a saber, dizer e fazer aplicando a situações novas e conhecimento
foi alcançado (TV GPFEF, 2020). Observa-se também que a menor taxa de frequência de
alunos da reoferta não está apenas associada à obrigatoriedade da disciplina ou à
indisponibilidade da internet, mas sim a um desinteresse dos alunos com relação à matéria
devido às experiências frustrantes anteriores no processo ensino-aprendizagem. Assim sendo,
a formação de subsensores para a turma de reoferta não ocorreu de maneira efetiva e
consequentemente a diferenciação progressiva não foi gerada em sua estrutura cognitiva, o
que não resultou em uma reconciliação integrativa com o conteudo da disciplina. O mesmo
não ocorreu com a turma online, já que esta não tinha conhecimento prévio da disciplina, os
seus integrantes tinham interesse em concluí-la, pois, a pandemia tinha dificultado o
andamento do seu curso e tiveram uma aula online próxima à presencial que estavam
habituados no ensino fundamental. Assim sendo, observou-se nesta turma a diferenciação
progressiva que resultou uma aprendizagem significativa e a geração de subsensores
permitindo posteriormente uma reconciliação integrativa com redução das suas deficiências
em Matemática observadas na transposição didática da disciplina Física. A hipótese
formulada neste trabalho foi comprovada ao longo do desenvolvimento da pesquisa ao
mostrar que a aplicação integrada de ferramentas tecnológicas torna a aula online próxima à
metodologia presencial e consequentemente a aprendizagem de Física significativa ocorre no
aluno tanto por trabalhar com seus conhecimentos prévios de Matemática quanto por torná-lo
um autor efetivo do conhecimento introduzido pelo professor numa didática baseada no
processo de sala de aula invertida. Enfim, pode se concluir que as ferramentas tecnológicas
aplicadas na aula online necessitam agregar conceitos pedagógicos da aprendizagem
significativa estabelecidos anteriormente à pandemia do Covid-19 para tornar o processo

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ensino-aprendizagem efetivo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BALDEZ, M. L. F. A importância do Google Classroom na disciplina de língua


portuguesa na escola de ensino Médio João Pedro Nunes. 2017. 23 f. Trabalho de
Conclusão de Curso (Especialização em Mídias da Educação) – Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, 2017.

BENEFÍCIOS DO GOOGLE CLASSROOM: 12 MOTIVOS PARA FAZER USO DESSA


PLATAFORMA DE GESTÃO DO ENSINO. Educador do futuro, 12 Jun. 2020. Disponível
em:<https://educadordofuturo.com.br/google-education/caracteristicas-google-classroom/>.
Acesso em: 23 de agosto de 2021.

FELICIANO, L. A. S. O USO DO WHATSAPP COMO FERRAMENTA PEDAGÓGI-CA.


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eletrônicos - XVIII ENG, 2016, p. 1-9.

GARRET, F. Canva Pro vale a pena? Veja preço e recursos do editor. Techtudo.com.br, Rio
de Janeiro, 20 Out. 2020. Disponível em: <https://www.techtudo.com.br/listas/2020/10/
canva-pro-vale-a-pena-veja-preco-e-recursos-do-editor.ghtml>. Acesso em: 27 de
Agosto de 2021.

GOMES, D. EAD NO BRASIL: CONFIRA TUDO SOBRE O ASSUNTO, DADOS


IMPORTANTES E TENDÊNCIAS PARA O FUTURO. Sambatech, Minas Gerais, 14 jan.
2021. Disponível em: <https://sambatech.com/blog/cat-ead/ead-no-brasil/>. Acesso em: 9 de
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LINS, A. P. Seduc faz parceria inédita com a plataforma Canva para Educação. SEDUC/AL,
Alagoas, 6 Out. 2020. Disponível em: <http://www.agenciaala-
goas.al.gov.br/noticia/item/34315-seduc-faz-parceria-inedita-com-a-plataforma-canvas-para-
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MOREIRA, Marco A.; MASINI, Elcie Fortes Salzano. Aprendizagem significativa: a teoria
de David Ausubel. Centauro, 2002.

MOREIRA, Marco A. Mapas conceituais e diagramas V. Porto Alegre: Ed. do Autor, 2006.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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ANTÔNIO MOREIRA. YouTube, 28 set. 2020. Disponível em: <https://youtu.be/
vcCUFFrWsL8>. Acesso em: 27 Ago. 2021.

MOTA, Karine Matos; MACHADO, Thallyanna Paiva Pessanha; DOS SANTOS CRISPIM,
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de professores. Redin-Revista Educacional Interdisciplinar, Rio Grande do Sul, v. 6, n. 1,
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NETO, A. R.; PEREIRA, E. L. N.; OLIVEIRA, J. M. L. O GOOGLE CLASSROOM COMO


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transformar o ensino. 4. ed. Porto Alegre: Art Med, 1998.

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Disponível:<https://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/oensinofisi-ca-para-
alunos-ensino-medio.htm >. Acesso: 9 de agosto de 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 20

SISTEMAS IOT APLICADOS NA AGRICULTURA:


UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

Felipe Hister Franz e Claudio Leones Bazzi

RESUMO: A crescente demanda por alimentos faz com que o setor agrícola
se atualize e incorpore novas tecnologias visando o aumento de
produtividade e a diminuição de custos. A internet das coisas (IoT) oferece
diversas ferramentas e soluções para o setor agrícola com o propósito de
otimizar as atividades e auxiliar na tomada de decisões. Diversos trabalhos
científicos vem sendo desenvolvidos para fornecer soluções IoT para a
agricultura, portanto, o objetivo deste trabalho é analisar artigos científicos
que propõem soluções IoT voltadas para a agricultura, portanto, foi realizada
uma revisão sistemática da literatura, que resultou na seleção de quinze
artigos científicos, a partir de buscas em três bases de dados eletrônicas:
Scopus, Web of Science e Science Direct, considerando critérios de inclusão
e exclusão, para trabalhos publicados entre 2017 e 2021. A análise dos
artigos forneceu informações sobre as aplicações IoT que estão sendo
propostas e desenvolvidas pelos pesquisadores, bem como, as diferentes
abordagens, dispositivos e tecnologias que estão sendo utilizadas para
desenvolver as aplicações IoT.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O aumento na demanda por alimentos faz com que o setor agrícola continue a evoluir,
a incorporar e adaptar novas tecnologias para aumentar a produtividade. Por meio de aplicações
baseadas na internet é possível realizar o manejo de safras, obter e explorar informações,
tornando a agricultura mais lucrativa e sustentável ao consumir menos recursos (Farooq et al,
2020; López-Morales et al, 2020; Pérez-Pons et al, 2021).
A internet das coisas (IoT) é uma tecnologia que fornece diversas soluções e ferramentas
uteis ao setor da agricultura, disponibilizando vários equipamentos e dispositivos baseados em
sensores para a modernização da agricultura (Farooq et al, 2019; Ullo e Sinha, 2021).
Os sensores na agricultura permitem os agricultores obterem diversas informações da
lavoura, como temperatura, umidade, pH, velocidade e direção do vento, com estas
informações, pode-se, planejar a próxima safra, ter um auxílio na tomada de decisão ou
automatizar processos por meio do IoT(Mishra et al, 2021); Saqib et al, 2020).
Diversas aplicações IoT estão sendo propostas e desenvolvidas para o monitoramento
da agricultura, portanto, o intuito deste trabalho foi o de levantar e analisar pesquisas recentes
relacionadas com o IoT no contexto da agricultura inteligente, apresentando as aplicações do
IoT na agricultura. Realizou-se uma pesquisa de revisão sistemática em base de dados
eletrônicas. Apenas artigos científicos, publicados na lingua inglesa no período de 2017 a 2021
serão utilizados na análise.

METODOLOGIA

Para a seleção dos artigos foi utilizada a metodologia apresentada por Medeiros et al
(2015)⁠, com a definição da busca em bases de dados eletrônicas e o estabelecimento da
pesquisa. Três perguntas são definidas visando o norteamento da pesquisa:
A) Qual o foco dos trabalhos selecionados referente ao IoT na agricultura?
B) Quais sensores e dispositivos são utilizados?
C) Quais tecnologias de comunicação são utilizados?
Para a pesquisa foram definidas estratégias, com palavras-chave, fonte de pesquisa, o
tipo de trabalho, o idioma, e o ano de publicação. Definiu-se três bases eletrônicas como fontes
de pesquisa, conforme a Tabela 1. As fontes de buscas foram selecionadas por possuírem uma
grande quantidade de trabalhos, assim otimizando a busca e o alcance das palavras-chave. A
fim de buscar trabalhos internacionais, o idioma utilizado nas palavras-chave foi o inglês, por

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ser a linguagem científica universal.


Para realizar a busca de forma precisa, foram definidos conjuntos de palavras-chave,
que consigam contemplar aplicações IoT no contexto da agricultura inteligente. As palavras-
chave são apresentadas na Tabela 2.
Tabela 1. Bases eletrônicas utilizadas.

MECANISMO DE BUSCA ENDEREÇO


Scopus https://www.scopus.com/
Web of Science https://www.webofscience.com/
Science Direct https://www.sciencedirect.com/
Fonte: Autores, 2021.

Tabela 2. Palavras-chave utilizadas, relação português – inglês.

PALAVRAS-CHAVE
Português Inglês
IoT, fazenda inteligente IoT, smart farm
IoT, aplicativo, fazenda IoT, application, farm
IoT, aplicativo, agricultura inteligente IoT, application, smart agriculture
Fonte: Autores, 2021.

Os operadores “OR” e “AND” foram utilizados para gerar a string de busca, com as
palavras-chave, assim é possível otimizar a pesquisa ao informar ao sistema de busca uma
combinação entre as palavras-chave.
Os critérios de inclusão adotados foram:
• Ser artigo científico;
• Ter sido publicado entre 2017 e 2021;
• Ser na área de IoT na agricultura;
• Ser publicado em revistas indexadas na estratificação da produção científica dos
programas de pós-graduação do Brasil (Qualis Capes);
• Artigos disponíveis na íntegra.
Os critérios de exclusão foram:
• IoT aplicado a área que não envolvam agricultura;
• Artigos de revisão bibliográfica;
A pré-seleção dos artigos é realizada pelo título, em seguida é realizada a seleção parcial
pela leitura dos resumos, considerando os critérios de inclusão, por fim, na seleção final foram
lidos de forma integral e colocados na lista de análise deste trabalho. Após a seleção os artigos
foram qualificados quanto ao Qualis Capes na área interdisciplinar, devido a natureza da

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

pesquisa envolver a área da agricultura e da computação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Utilizando as palavras-chave definidas em inglês, no mecanismo de busca Scopus foram


encontrados 580 artigos, no Web of Science 607 artigos e no Science Direct 2339 artigos,
totalizando 3526 artigos encontrados, dos quais, nem todos os trabalhos estavam nos critérios
definidos. Devido ao alto número de resultados, decidiu-se realizar a busca até a quarta página
de cada base de dados, sendo aplicado o filtro de relevância.
Pode-se observar que o número de trabalhos referentes a IoT na agricultura vem
aumentando ao longo nos últimos anos, como apresentado no Gráfico 1. A maioria dos artigos
encontrados nos mecanismos de busca estão publicados nos anos de 2020 e 2021, estes dois
anos contabilizam 2172 artigos, sendo 61,6% dos artigos encontrados. Para os próximos anos,
o número de trabalhos nesta área deve continuar crescendo, devido à necessidade do setor
agrícola de aumentar a produtividade, otimizar o uso de insumos, água e energia e diminuir
custos.

Gráfico 1. Número de publicações encontradas de acordo com o ano de publicação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Utilizando as palavras-chave definidas em inglês, no mecanismo de busca Scopus foram


encontrados 580 artigos, no Web of Science 607 artigos e no Science Direct 2339 artigos,
totalizando 3526 artigos encontrados, dos quais, nem todos os trabalhos estavam nos critérios
definidos. Devido ao alto número de resultados, decidiu-se realizar a busca até a quarta página
de cada base de dados, sendo aplicado o filtro de relevância.
Pode-se observar que o número de trabalhos referentes a IoT na agricultura vem
aumentando ao longo nos últimos anos, como apresentado no Gráfico 1. A maioria dos artigos
encontrados nos mecanismos de busca estão publicados nos anos de 2020 e 2021, estes dois
anos contabilizam 2172 artigos, sendo 61,6% dos artigos encontrados. Para os próximos anos,
o número de trabalhos nesta área deve continuar crescendo, devido à necessidade do setor
agrícola de aumentar a produtividade, otimizar o uso de insumos, água e energia e diminuir
custos.
Durante a pré-seleção selecionou-se os artigos com títulos relacionados à temática desta
pesquisa, resultando em 132 artigos. Na próxima etapa houve a seleção parcial a partir do
resumo, resultando em 45 artigos. Por fim na seleção final houve a leitura integral dos artigos,
resultando na escolha de 15 artigos, conforme generalizado na figura 1.

Figura 1. Desenvolvimento da revisão sistemática.

Fonte: Autores, 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Os artigos que passaram por todas as regras de inclusão, foram avaliados de acordo com
o Qualis Capes, resultando em 6,7% de artigos A1, 66,7% em A2, 6,7% em B1 e 20% como
B2. Quanto ao ano de publicação, 73,33% dos artigos escolhidos estão publicados entre 2020 e
2021, isto ocorreu pois 61,6% (2172) dos artigos encontrados foram publicados entre estes anos.
Os artigos selecionados são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3. Artigos selecionados.

Ano Autor Título Qualis


2021 Yang et al IoT-Based Framework for Smart Agriculture B2
2021 Hu et al Internet of Things-Enabled Crop Growth Monitoring System B2
for Smart Agriculture
2019 Muangprathub et al IoT and agriculture data analysis for smart farm A2
2021 Poyen et al Prototype Model Design of Automatic Irrigation Controller A2
2019 Campos et al Open AccessArticle Smart & Green: An Internet-of-Things A2
Framework for Smart Irrigation
2020 Muñoz et al An IoT Architecture for Water Resource Management in A2
Agroindustrial Environments: A Case Study in Almería
(Spain)
2019 Khattab et al An IoT-based cognitive monitoring system for early plant A2
disease forecast
2020 López-Morales et al Digital Transformation of Agriculture through the Use of an A2
Interoperable Platform
2020 Rodríguez-Robles et al Autonomous Sensor Network for Rural Agriculture B1
Environments, Low Cost, and Energy Self-Charge
2018 Munir et al Design and Implementation of an IoT System for Smart A2
Energy Consumption and Smart Irrigation in Tunnel
Farming
2021 Gaikwad et al An innovative IoT based system for precision farming A2
2021 Benyezza et al Zoning irrigation smart system based on fuzzy control A1
technology and IoT for water and energy saving
2019 Nawandar e Satpute IoT based low cost and intelligent module for smart A2
irrigation system
2021 Podder et al. IoT based smart agrotech system for verification of Urban B2
farming parameters
2021 Akhter et al. Design and development of an IoT-enabled portable A2
phosphate detection system in water for smart agriculture

Fonte: Autores, 2021.

Qual o foco dos trabalhos selecionados referente ao iot na agricultura?

O foco presente nos artigos selecionados são de monitoramento e controle de irrigação,


monitoramento e controle de doenças, monitoramento de fosfato na água e apenas o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

monitoramento, conforme apresentado no Gráfico 2, onde a maioria dos trabalhos focou em


aplicações de monitoramento e controle de irrigação.
Nos trabalhos com foco em monitoramento, os autores Hu et al, (2021) e Gaikwad et al
(2021) apresentam aplicações IoT para coletar informações de temperatura e umidade em um
campo agrícola através de sensores, essas informações são enviadas e armazenadas em uma
plataforma na nuvem, onde podem ser acessadas pelos agricultores. Com acesso as informações
do campo agrícola, os agricultores podem planejar a colheita, o plantio ou a irrigação. Gaikwad
et al (2021) também desenvolveram um kit IoT portátil de fácil instalação, podendo ser utilizado
em qualquer local, permitindo o agricultor obter dados de diferentes locais de sua propriedade,
utilizando apenas um kit IoT.

Gráfico 2. Foco das aplicações IoT.

Fonte: Autores, 2021.

Khattab et al (2019) propõem um sistema IoT para o monitoramento e controle de


doença epidêmicas em um campo agrícola, o sistema utiliza sensores para coletar informações
de temperatura do ar, umidade do ar, temperatura do solo, conteúdo volumétrico de água do
solo, condutividade elétrica do solo, permissividade dielétrica relativa do solo, velocidade do
vento, direção do vento, nível de chuva, radiação solar infravermelha e visível e umidade das
folhas, as informações são processadas em um servidor por meio de inteligência artificial e
algorítimos de previsão, que toma decisões em relação às doenças e emite mensagens de alerta

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

aos usuários antes do surto da doença acontecer, possibilitando ao agricultor tomar medidas a
fim de prevenir a doença e evitar prejuízos.
Akhter et al (2021) desenvolvem um dispositivo IoT portátil para a detecção de fosfato
na água, onde os dados coletados são processados pelo algoritmo KNN (K-Nearest Neighbors)
que determina a concentração de fosfato na água, após o processamento, os dados são
apresentados na tela LCD do dispositivo e transmitidos para o servidor. Com este dispositivo o
usuário pode vigiar e controlar a qualidade da água em qualquer lugar.
Quanto aos trabalhos de monitoramento e controle de irrigação, os autores apresentam
diferentes propostas para a irrigação. Muangprathub et al (2019), Podder et al (2021) e López-
Morales et al (2020) desenvolvem sistemas IoT para controlar a irrigação, que é iniciada se a
umidade do solo estiver abaixo de uma porcentagem pré-definida, já o sistema proposto por
Rodríguez-Robles et al (2020) inicia a irrigação quando as condições de umidade e temperatura
predefinidas são atendidas, porém, considera a previsão de chuva, caso haja uma alta
probabilidade de chuva no dia, a irrigação não é iniciada para economizar água.
Um sistema IoT para controlar uma estufa é apresentada por Yang et al (2021), onde a
irrigação é iniciada dependendo da umidade, esse sistema também gera alertas para abrir ou
fechar a estufa considerando os valores de temperatura, velocidade e direção do vento. Os
autores Benyezza et al (2021), Poyen et al (2021) e Munir et al (2018) propõem sistemas IoT
baseado na lógica fuzzy para controlar a irrigação, utilizando dados obtidos de diversos sensores
para decidir o início e o fim da irrigação, definindo o tempo ou a quantidade de água a ser
utilizada na irrigação. Um sistema IoT de irrigação que utiliza uma rede neural para a tomada
de decisão sobre o início e o fim da irrigação é proposto por Nawandar e Satpute (2019).
Apesar dos autores utilizarem diferentes técnicas para implementar o IoT na agricultura,
todos os sistemas possuem interfaces para que os usuários possam interagir com o sistema e
analisar os dados coletados no campo.

Quais sensores e dispositivos são utilizados?

Diferentes tipos de sensores e dispositivos são utilizados para desenvolver-se aplicações


IoT. Verificou-se que os sensores mais utilizados pelos autores são os de umidade do solo
(93,3%), temperatura do ar (86,6%), e umidade do ar (80%). Também verificou-se que
dezesseis tipos de dados são coletados através dos diferentes sensores, conforme apresentado
no Gráfico 3. Quanto aos dispositivos verificou-se que os mais utilizados pelos autores são os
Arduinos (53,33%) e microcontroladores (26,6%) (Gráfico 4).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

López-Morales et al (2020) apresentam uma plataforma interoperável, podendo utilizar


quaisquer dispositivos utilizando um mesmo conjunto de instruções para implementar o
sistema, possibilitando o usuário utilizar dispositivos com o melhor custo beneficio.
Gráfico 3. Sensores por artigos.

Fonte: Autores, 2021.

Um novo sensor de baixo custo para detectar fosfato foi desenvolvido por Akhter et al
(2021), este sensor possui um limite de alcance de 0,01 ppm, e sua detecção varia entre 0,01
ppm e 40 ppm e seu tempo de resposta é de 1 segundo.

Gráfico 4. Dispositivos por artigos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.


Quais os tecnologias de comunicação são utilizados?

Atualmente existem diversas tecnologias de comunicação que podem ser utilizadas, as


aplicações IoT tem optado por utilizar tecnologias de baixo custo, de ampla faixa de cobertura
e de baixo consumo de energia (Farooq et al, 2020). As tecnologias utilizadas pelos autores são
apresentas no Gráfico 5. O Wifi (73.33%) foi a tecnologia mais utilizada nos artigos, seguida
pelos protocolos de comunicação MQTT (33,33%) e HTTP (26,66%) que são utilizados
principalmente para enviar os dados do campo para um servidor na nuvem.

Gráfico 5. Tecnologias de comunicação por artigos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou uma pesquisa de revisão sistemática sobre artigos científicos
na área de IoT na agricultura. Durante a pesquisa 15 artigos foram selecionados utilizando a
metodologia apresentada por Medeiros et al (2015). Em seguida foi verificado o foco dos
trabalhos selecionados e os sensores, dispositivos e tecnologias de comunicação utilizadas para
a implementação do IoT na agricultura. Os sensores mais utilizados foram o de umidade do
solo, temperatura do ar, e umidade do ar e o Wifi foi a tecnologia de comunicação mais
utilizada.
Durante a pesquisa observou-se que o número de trabalhos relacionados a IoT na
agricultura vem aumentando nos últimos anos, provavelmente, pelo baixo custo na aquisição
de equipamentos e pela necessidade de aumentar a produtividade da agricultura. Através desta
revisão sistemática foi possível observar as diferentes estratégias e tecnologias utilizadas pelos
autores para desenvolver sistemas IoT voltados para a agricultura, apesar das diferenças, todos
os sistemas possuem interfaces para o usuário interagir e observar os dados coletados no campo.
Quanto a trabalhos futuros, indica-se a pesquisa de sistemas IoT para o manejo de animais para
verificar as estratégias e tecnologias que estão sendo utilizadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 21

UTILIZAÇÃO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA


IDENTIFICAÇÃO DE PADRÕES DE IMAGENS NA
AGRICULTURA – REVISÃO SISTEMÁTICA

Fernando Fidelis, Evandro da Silva dos Santos e Fabiana Costa de


Araújo Schutz

RESUMO: O objetivo do presente trabalho foi levantar publicações obtidas


através de pesquisas realizadas nas plataformas de busca cientifica, com o
intuito de obter informações relevantes sobre as variadas técnicas que
utilizam inteligência artificial, mais especificamente redes neurais, através de
reconhecimento de padrões em imagens aplicadas à produção agrícola. Esta
análise foi realizada através de uma revisão sistemática de literatura de
artigos pesquisados nas bases “Scopus”, “Web of Science” e “Science Direct”
utilizando critérios de filtros e seleção, que demonstra que as várias métricas
aplicadas aos diversos algoritmos de redes neurais, independente do
segmento a ser utilizado, traz resultados positivos no auxilio nas tomadas de
decisão, classificação de processos, mapeamento, previsão de evolução de
plantas e mesmo análise não invasiva dos cultivos, algumas técnicas utilizam
mais recursos de processamento, em contra partida própria evolução e
pesquisas, tem mostrado grande evolução, com a utilização de congelamento
de camadas, aprendizado por transferência, minimizando a demanda
computacional.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Com a população mundial em constante crescimento e a grande demanda por alimentos,


em conjunto com a escassez de recursos naturais, surge a necessidade de novas tecnologias para
o constante avanço da agricultura. O setor agrícola vem realizando melhorias e desenvolvendo
técnicas de cultivo gerando maior produção e rentabilidade, com os recursos naturais
disponíveis. Com avanço tecnológico, o advento das tecnologias computacionais de
inteligência artificial em conjunto com a tecnologia de posicionamento global, viu-se a
possibilidade de avanços ainda maiores. Através da agricultura de precisão, a utilização de
tecnologias computacionais tem se tornado o facilitador garantindo uma melhor utilização do
solo, semeadura otimizada, aplicações corretas de nutrientes e herbicidas, gerando pontos
positivos em todos os processos.

Segundo EMBRAPA (2018), as projeções mundiais mostram um aumento de consumo


de água (+50%), energia (+40%) e alimentos (+35%) até 2030, relacionados diretamente com
o aumento populacional e longevidade. Diante de tais projeções, vê-se a necessidade de
encontrar técnicas e recursos afim de alavancar a produção com o intuito de atender essa
demanda projetada, com isso a utilização de inteligência artificial chega com força total e
disponibilidade de recursos tecnológicos agregando conhecimento com o aprendizado de
máquina, usando como referência pesquisas anteriormente elaboradas, que servem como base
de informação.

As tecnologias computacionais, estão cada vez mais próximas e cada vez mais
acessíveis, já fazendo parte do dia a dia nas diversas áreas. Mesmo com todo esse avanço, os
estudos analisados mostram que é apenas um pequeno passo em direção a todas possibilidades
que ainda estão por vir, permitindo novas pesquisas.

O objetivo do presente trabalho foi realizar uma análise sobre as publicações, voltadas
a utilização de imagens e inteligência artificial, com o intuito de obter informações relevantes
sobre redes neurais e inteligência artificial na utilização de imagens voltadas para a agricultura.
Para os artigos analisados, foi utilizado como critério, a seleção de artigos científicos com
período de publicação entre 2017 e 2021, pois tratando-se de tecnologia, a atualidade da
informação é primordial, obtendo como resultado uma coletânea de artigos recentes abordando
tecnologias atuais.

Página 334
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

METODOLOGIA
Segundo GALVÃO e PEREIRA (2014), as revisões sistemáticas são consideradas
estudos secundários que se utilizam de estudos primários como fontes de dados. A pesquisa
possui caráter exploratório, pois visa um estudo das técnicas utilizadas em cada artigo,
relacionadas à utilização de imagens e inteligência artificial.
DONATO e DONATO (2019), propõe a utilização de etapas para elaboração da revisão
sistemática. Partindo da formulação de uma ou mais questões para direcionar a pesquisa. Nesta
revisão será abordado o seguinte questionamento:
a) Qual a eficiência das redes neurais utilizadas nos estudos selecionados?

Para iniciar as buscas, foi estabelecido um conjunto de palavras-chave que


representassem a proposta da pesquisa atual, sendo os seguintes termos: “machine learning”,
“deep learning” e “lettuce”. Os termos citados estão em inglês, de forma a obter os melhores
resultados, devido a internacionalização e globalização dos motores de busca.
Para a pesquisa, foram selecionadas as seguintes bases de busca científicas: “Scopus”, “Science
Direct”, ligadas a Elsiever e “Web of Science” ligada a Claravite, utilizando o sistema de
autenticação disponibilizado pela instituição de ensino, conforme descritas no Quadro 1.

Quadro 1 – Base de buscas selecionadas.


Bases de Busca Link
Scopus https://www.scopus.com/
Web of Science https://www.webofknowledge.com/
Science Direct https://www.sciencedirect.com/
Fonte: O Autor (2021).

Na condução da busca, além das palavras chave, foram considerados alguns pontos
importantes como critério de exclusão no resultado, sendo todos documentos de acesso aberto,
no período de 2017 até 2021 e somente publicações do tipo artigo científico. Um fator muito
relevante e de suma importância, foi estabelecer o período das publicações, visto o foco da
pesquisa ser de cunho tecnológico, o período consegue retratar com uma abordagem atual.
No Scopus, inicialmente obtivemos um resultado de 463.683 publicações, utilizando
somente as palavras-chave “machine learning” e “depp learning”, após aplicar as demais
palavras-chave e os critérios de exclusão, chegou-se a 14 publicações, dentre as quais, após
uma leitura do resumo da obra, pertinente a cada documento, foram selecionadas 5 publicações

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

com maior relevância.


No Web of Science, foi aplicado o mesmo critério de pesquisa inicial, obtendo 312.812
publicações, e após aplicação dos critérios de filtro e exclusão, chegou-se a 12 publicações,
seguindo o mesmo conceito, foram selecionadas 5 publicações.
Na última base pesquisada, Science Direct, os resultados iniciais foram, 98.922
publicações, após aplicação dos critérios de filtro e exclusão, chegou-se a 28 publicações,
resultando 5 artigos selecionados.
Durante o processo de busca, não foi constatado artigos repetidos entre as plataformas, pois
seria um ponto a se considerar na seleção, mesmo utilizando o mesmo conjunto de palavras
chaves e critérios de filtragem, demonstrando que cada autor priorizou a plataforma em que
foi publicada, evitando redundância de publicações.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a realização do processo de pesquisa nas bases de busca e realizar o processo de
triagem, leitura e classificação dos artigos, resultou uma listagem com 15 artigos conforme
listado no Quadro 2, sendo apresentados agrupados por base de pesquisa e por seguinte o Qualis
do artigo.

Quadro 2 – Artigos selecionados com a informação de Qualis.


Artigo Autores Ano Base Revista Qualis
Identification of crop type
in crowdsourced road view
Wu F., Wu B., Zhang M.,
photos with deep 2021 Scopus Sensors A2
Zeng H., Tian F.
convolutional neural
network
MNet: A framework to Ingénierie Des
Meshram V.A., Patil K.,
reduce fruit image 2021 Scopus Systèmes B2
Ramteke S.D.
misclassification d’Information
Weed identification using
deep learning and image
X. Jin, J. Che e Y. Chen 2021 Scopus IEEE Access B3
processing in vegetable
plantation
Lettuce classification using
Hassim, S.A. e Chuah,
convolutional neural 2020 Scopus Food Researsh C
J.H
network
Lettuce life stage Lauguico S. C., 2020 Scopus International N/Q
classification from texture Concepcion R. S., Journal Of
attributes using machine Alejandrino J. D., Tobias Advances In
learning estimators and R. R, Dadios E. P. Intelligent
feature selection processes Informatics
Modeling hyperspectral Osco L.P., Ramos A. P. 2019 Web of Remote Sensing A1
response of water-stress M., Moriya E. A. S., Science
induced lettuce plants Bavaresco L. G., Lima B.

Página 336
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

using artificial neural C., Estrabis N., Pereira D.


networks R., Creste J. E., Júnior J.
M., Gonçalves W. N.,
Imai N. N., Li L.,
Liesenberg V., Araújo F.
Leaf-Movement-Based Nagano S., Moriyuki S., 2019 Web of Frontiers In Plant A1
growth prediction model Wakamori K., Mineno H., Science Science
using optical flow analysis Fukuda H.
and machine learning in
plant factory
Evaluation of freshness of Tsukahara A., Kameoka 2020 Web of Journal Of Applied B1
lettuce using multi- S., Ito R., Hashimoto A., Science Botany And Food
spectroscopic sensing and Kameoka T. Quality
machine learning
Training instance Toda Y., Okura F., Ito J., 2020 Web of Communications N/Q
segmentation neural Okada S., Kinoshita T, Science Biology
network with synthetic Tsuji H., Saisho D
datasets for crop seed
phenotyping
Continua

Continuação Quadro 2
Artigo Autores Ano Base Revista Qualis
Combining computer Bauer A., Bostrom A. G., 2019 Web of Horticulture N/Q
vision and deep learning to Ball J., Applegate C., Science Research
enable ultra-scale aerial Cheng T., Laycock S.,
phenotyping and precision Rojas S. M., Kirwan J.,
agriculture: A case study of Zhou J.
lettuce production
Deep learning classifiers M.E. Paoletti, J.M. Haut, 2019 Science ISPRS Journal Of A1
for hyperspectral imaging: J. Plaza, A. Plaza Direct Photogrammetry
A review And Remote
Sensing
Computer vision based Velesaca H. O., Suarez P. 2021 Science Computers And A2
food grain classification: A L., Mira R., Sappa A. D. Direct Electronics In
comprehensive survey Agriculture
A survey: Deep learning Jia S., Jiang S., Lin Z., Li 2021 Science Neurocomputing A2
for hyperspectral image N., Xu M., Yu S. Direct
classification with few
labeled samples
Towards resource-frugal Nalepa J., Antoniak M., 2020 Science Microprocessors B2
deep convolutional neural Myller M., Lorenzo P. R., Direct And Microsystems
networks for hyperspectral Marcinkiewicz M.
image segmentation
Fruits and vegetables Bhargava A., Bansal A. 2021 Science Journal Of King N/Q
quality evaluation using Direct Saud University -
computer vision: A review Computer And
Information
Sciences
Fonte: O Autor (2021).

No processo de busca, as publicações de maior Qualis, representam artigos de maior


relevância, mas após o processo de leitura e avaliação, levou-se em consideração artigos com

Página 337
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Qualis mais baixo e até mesmo sem nenhum tipo de Qualis (N/Q). Nesse ponto foi considerado
a abordagem do tema em pauta, a condução do termo pelos autores e os resultados obtidos,
tomando por considerar de grande valia para a revisão sistemática, pois seguiu-se com linhas
diversas de pesquisa, inclusive de cultivos variados.
Os Qualis listados no Quadro 2, referenciam-se a classificação das produções de artigos
científicos dos programas de pós graduação no Brasil, avaliados pelo Capes, relacionados a
toda a área de conhecimento com a base na classificação de periódicos no quadriênio 2013-
2016.
Com essa pesquisa foi possível responder a pergunta proposta inicialmente, “Qual a
eficiência das redes neurais utilizadas nos estudos selecionados?”.
No processo de revisão, para cada 1 dos 15 artigos selecionados, foi encontrada uma abordagem
diferente quando a utilização de rede neural, forma de treinamento, utilização das imagens, no
conceito a ser aplicado, todos artigos demonstraram que é viável a utilização de redes neurais.
Cada artigo utilizou-se de caminhos diferentes, alguns casos mais de uma rede foi treinada,
permitindo comparações entre si, congelamento de camadas treinadas e possibilidade de ajustes
no decorrer do desenvolvimento, avançando no nível de precisão ao processo que foi aplicado,
proporcionando aos seus utilizadores um alto nível de eficiência e resultados.

No Quadro 3 foram listados os métodos aplicados e os resultados obtidos pelos autores.


Autores Métodos Resultados
WU et al., 2021 Estratégia de fusão de camadas para Aumento em até 3,5% na precisão
conjunto de poucos dados comparada ao modelos único de CNN.
MESHRAM; PATIL; Geração de modelo através da mescla de Melhoria de 5,98% no processo de
RAMTEKE, 2021 2 modelos pré-treinados classificação errônea, gerando 99,92%
de precisão
JIN; CHE; CHEN, Utilizado método de segmentação Modelo treinado atingiu uma precisão de
2021 baseado em altura, usando análise de 95,6%
dimensão de profundidade
HASSIM; CHUAH, Utilizar Rede Neural Convolucional CNN foi capaz de determinar a obter
2020 (CNN) no MATLAB com uma precisão previsão de porcentagem de alta precisão
de pelo menos 90% na simulação do MATLAB
LAUGUICO et al., Análise comparativa utilizando recursos Modelo mais consistente ao olhar para a
2020 de outros modelos treinados, aplicando a validação cruzada e de validação com
novos algoritmos, obtendo modelo uma precisão de classificação de 86,67%
cruzado otimizado
OSCO et al., 2019 Utilizar resposta hiperespectral de O modelo conseguiu identificar o
estresse hídrico usando redes neurais estresse hídrico com até 80% de precisão
artificiais nos estágio iniciais do experimento e
após o termino, atingiu 93% de precisão
NAGANO et al., 2019 Modelo de previsão baseado nos O modelo de previsão de crescimento
resultados da análise do vetor normal, de usando os recursos extraídos da análise
fluxo óptico concentrado no movimento fluxo óptico teve um bom desempenho
folhar com uma razão de correlação de 0,743

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

TSUKAHARA et al., Modelo de aprendizado de máquina, Precisão na validação cruzada foi de


2020 utilizando detecção multiespectral para a 83,3%, e precisão usando o conjunto de
identificação de mudança de frescor dados de avaliação foi de 80,9%
baseado na cor da folha
TODA et al., 2020 Treinar uma rede neural de segmentação O modelo atingiu uma média de 95 e
utilizando conjunto de dados gerado 96% nos conjuntos de dados de teste
sinteticamente sintético e real, respectivamente
BAUER et al., 2019 Apresentar a plataforma analítica AirSurf Após a plataforma ser personalizada, foi
combinando algoritmos de visão capaz de pontuar e categorizar alfaces
computacional para um classificador de iceberg com alta precisão acima de 98%
aprendizado profundo
PAOLETTI et al., 2019 Revisão abrangente do estado da arte Os modelos baseados na arquitetura
atual em aprendizado profundo para a CNN foram considerados
classificação de imagens hiperespectrais particularmente eficazes, devido à sua
capacidade de extrair características
altamente discriminatórias
MIRA et al., 2021 Visão computacional para classificação O uso de imagens multiespectrais
de grãos. combinadas com quimiometria
apresentou os melhores resultados da
classificação
Continua

Continuação Quadro 3
Autores Métodos Resultados
JIA et al., 2021 Revisão sistemática sobre aprendizado A tecnologia de aprendizado profundo
profundo para classificação de imagens não precisa projetar padrões de recursos
hiperespectrais com poucas amostras artificialmente e pode aprender padrões
rotuladas automaticamente a partir dos dados
NALEPA et al., 2020 Redes neurais convolucionais O processo de quantização pode ser
quantizadas com economia de recursos e perfeitamente aplicado durante o
reduzindo seu tamanho sem afetar treinamento, e leva a modelos profundos
adversamente a capacidade de muito menores e ainda bem
classificação generalizantes.
BHARGAVA; Apresentar uma visão geral detalhada de O desenvolvimento em aprendizagem
BANSAL, 2021 vários métodos de visão computacional profunda e rede neural convolucional
são muito eficientes para classificação e
reconhecimento de frutas
Fonte: O Autor (2021).

A abordagem realizada nesta revisão sistemática de utilizar artigos com temáticas de


cultivos variados com a base focada na utilização de imagens para reconhecimento, demonstra
que ao analisar ao índices de performance, foi possível identificar que os melhores resultados
estão associados a técnicas adicionais as já utilizadas como base empregada, criando camadas
de aprendizado, cruzamento de algoritmos, comparativos, uso qualificado de recursos,
minimizando as exigências de recursos, abrindo uma grande janela para a utilização em
dispositivos de pequeno poder de processamento. Essas possibilidades de utilização de redes
neurais profundas e ou convulacionais respondem com grande assertividade a pergunta
estabelecida na pesquisa, a predição com altos índices de eficiência é uma realidade possível.

Página 339
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

De forma geral, todos algoritmos tiveram resultados positivos, alguns a custos altos quanto a
aquisição de imagens para treinamento, outros custo de processamento devido ao alto nível de
pixels das imagens, mas em contra partida, foi possível identificar a possibilidade de
treinamentos direcionados, utilizando congelamento de camadas, com custos reduzidos a
utilização de recursos, viabilizando a inserção em dispositivos de menor poder de
processamento.

CONCLUSÃO
Com o presente trabalho concluiu-se que a utilização de imagens em conjunto com redes
neurais resulta altos índices de predição, nas diversas tarefas realizadas com a assertividade
consideravelmente alta. Vários artigos analisados nesta revisão sistemática, apontaram novos
métodos de obtenção de melhores resultados se comparados às redes neurais tradicionais,
confirmando que a evolução das redes neurais trará ainda mais benefícios às tecnologias
computacionais para o agronegócio.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 22

Potencial do uso do Whatsapp como ferramenta


na gestão de projetos de engenharia: um estudo
de caso

Alef Mendes da Silva Sousa, Vitor Vinicius Rodrigues de Matos,


Flaviany Luise Nogueira de Sousa, Ricardo Chagas da Silva, Leonard
Garrido de Andrade, Gedeon Dias Barbosa, Salomão Lopes Azulay
Neto, Nuria Pérez Gallardo, Ricardo Allen Filgueira Pontes e Eduardo
de Araújo Mesquita

RESUMO: Este estudo de caso aborda uma ferramenta de apoio à Gestão da


Comunicação (GC) em um projeto de expansão ferroviária no sudeste do Pará.
Foi analisada a influência da estratégia de comunicação adotada na eficácia
da comunicação. A literatura foi verificada para averiguar se estudos como
este já haviam sido desenvolvidos na área de construção. A adoção do
mensageiro instantâneo possibilitou uma melhor integração entre a equipe
de gestão da empresa antes da tomada de decisão de implantação do projeto.
Como resultado, percebeu-se um aumento da integração e cooperação
proporcionado pelo design simples e popular da interface do app, sem curva
de aprendizado devido à sua popularidade, assim, diferentes profissionais
puderam, de forma integrada, utilizar a ferramenta reduzindo o tempo gasto
em debates para tomada de decisão. Além de relatar experiências do estudo,
este artigo sugere investigações futuras a fim de viabilizar a padronização da
estratégia como ferramenta oficial de GC. O estudo indica que o app tem alto
potencial na GC geral pela possibilidade de integração com ferramentas
tradicionais. É acessível, fácil de usar, ágil para divulgar e verificar
informações, possibilitando a criação de fóruns para debates online e geração
de relatórios.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Não é novidade que os avanços tecnológicos, proporcionados ao longo das últimas


décadas, foram de grande relevância para a evolução das sociedades mundiais. O setor da
comunicação foi um dos que disfrutou de maior benefício, passamos de uma espera de dias
desde o envio ao recebimento de comunicações para instantes desde o envio ao recebimento
das mesmas.
Não há dúvidas, entre os teóricos, que o surgimento dos smartphones representou um
avanço sem precedente na maneira das pessoas se comunicarem. No segundo trimestre de 2015
o número de brasileiros que usavam os smartphones para acessar a Internet ultrapassou a marca
de 72 milhões, representando um aumento de 23,5% em relação ao semestre anterior (OPUS,
2018). Já em 2017 praticamente toda a população do país, abrangendo todos os níveis
socioeconômicos e faixas etárias possuíam um celular, cerca de 94% dos brasileiros (KANTAR
WORLD PANEL, 2017).
Atualmente o brasileiro usa mais o aparelho celular do que o computador pessoal para
acessar a internet, e o número de acessos em banda larga móvel já supera em muito o de banda
larga fixa, fechando o ano de 2015 no brasil com 191,8 milhões de acessos, contra 25,4 milhões
em banda larga fixa (OPUS, 2018)
Uma pesquisa realizada pela Kantar World Panel (2017), apontou a troca de mensagens
instantâneas como um dos principais usos dos aparelhos móveis: 83,3% dos lares monitorados
disseram usar aplicativos de mensagens instantâneas. Na mesma linha uma pesquisa realizada
pela Conecta, plataforma web do IBOPE Inteligência (2015), realizada com internautas
brasileiros revela que o WhatsApp é usado por 93% deles, o que o torna o app mais utilizado
por esse público mais conectado.
Um mapeamento sistemático da literatura foi realizado por Scapin Filho, Ursino e
Rodrigues (2016) com relação ao uso do WhatsApp no ambiente coorporativo e constataram,
entre outros, que as corporações vêm tendo sua estrutura organizacional impactada pelo uso de
softwares de comunicação, onde aponta que entender os impactos e conseguir utilizar
efetivamente os meios de comunicação é uma tarefa que pode reduzir custos, otimizar processos
e criar um ambiente mais sociável, do ponto de vista da interação humana.
Segundo Dave e Koskela (2009), a natureza temporária e fragmentada, bem como a
intensidade do fluxo de informações dos projetos de construção, faz destes um processo
significativamente complexo, onde a combinação dos dois faz com que o gerenciamento de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

informações e gestão do conhecimento se torne uma tarefa muito difícil, resultando em baixa
eficiência do processo global.
Por outro lado, Bowden et al. (2016), apontam que o uso de Tecnologias da Informação
e Comunicação oferece o potencial de melhorias significativas na redução do tempo e custo de
construções, destacando o acesso a informações precisas e atualizadas, o agendamento proativo
de manutenção e entrega remota de ordens de trabalho, o fornecimento de informações precisas
sobre progresso e custo da obra em tempo real, sendo o fator responsável por esse efeito.
Nesse sentido, a engenharia civil, com seu leque de especialidade que se exige para
elaboração e execução de projetos vem incorporando cada vez mais os avanços do setor de
tecnologia, pois na busca por excelência na execução de projetos, redução de prazos, ganhos na
qualidade e redução de custos, as empresas de engenharia estão cada vez mais buscando
trabalhar em diferentes disciplinas englobando uma gama de especialidades, e a comunicação,
entre as diversas áreas que compões a gestão e execução desses projetos, é o principal fator para
o sucesso do empreendimento (SCARPELINI, 2016).
Logo, o WhatsApp desponta-se como um potencial aliado à gestão de comunicação de
projetos de engenharia, dada sua eficácia, facilidade de manuseio, facilidade de aquisição,
popularidade, possibilidade de criação de fóruns de discussão on-line (chats), poder de
detalhamento, fácil acesso ao histórico, transferência de dados para o e-mail e
compartilhamento de arquivos diversos.
Neste estudo, apresenta-se o método de comunicação rápida, utilizado como apoio à
gestão da comunicação de projeto no canteiro de obras do Posto de Abastecimento 3, do
programa de Expansão da Estrada de Ferro Carajás, não sendo objeto desse estudo o
detalhamento das obras, mas somente o relato da experiência com a incorporação do Aplicativo
de Compartilhamento de Mensagens Instantâneas (ACMI): WhatsApp; bem como propor a
exploração do tema por estudos posteriores a fim de inferir uma regulamentação dessa prática
em meio as práticas de gestão de projetos.

METODOLOGIA
No dia 19 de outubro de 2017, foi criado um “grupo/chat” no ACMI: WhatsApp, e
inseridos os membros envolvidos na gestão da obra de implantação do Posto de Abastecimento
3, do programa de Expansão da Estrada de Ferro Carajás, com o intuito de facilitar e agilizar o
tráfego das informações, bem como melhorar o rendimento da equipe que faz a gestão da obra.
Os membros foram orientados a enviar diariamente relatórios das atividades executadas nas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

frentes de serviço, além de compartilharem informações relevantes ao projeto e relatar em


tempo real as problemáticas ocorridas na obra.
Foram inseridos no grupo os membros da gestão da obra (Quadro 1) para que fossem
informados e ao mesmo tempo compartilhado informações acerca do objeto do projeto.

Quadro 1. Relação dos membros inserido no grupo no WhatsApp

FUNÇÃO
Líder Sênior de Projetos
Líder de Implantação
Líder de Planejamento
Líder de Engenharia
Eng. de Implantação - Gestor do Contrato
Eng. De Planejamento
Eng. De Engenharia
Estagiário
Técnico Fiscal de Campo
Topógrafo
DPA
Fonte: Autores, 2021.

A coleta de dados deu-se pela observação do ambiente experimental através da


observação dos resultados do processo, uma vez que as informações iniciais, aquelas que
gerariam ações, podendo ser, essas últimas, intermediadas até por outro meio de comunicação
(e-mails oficiais), quase que predominantemente, eram capturadas do compartilhamento das
informações de campo fornecidas pelos fiscais no app e por entrevistas semiestruturadas. Um
resumo da orientação para a construção desse trabalho pode ser visualizada na Figura 1, a
seguir.

Figura 1. Esquema de coleta de dados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Observação do Ambiente
Experimental

COLETA DE
DADOS

Observação dos
Resultados do Entrevistas
Processo Semiestruturdas

Fonte: Autores, 2021.

Para embasar e comparar os resultados a literatura de artigos publicados em língua


inglesa foi revisada na base de dados ScienceDirect da editora Elsevier usando as strings:
“project management” AND “instant messaging applications” AND “construction” AND
“smartphones”, e após essa etapa, foi utilizado o gerenciador de referências Mendeley,
valendo-se da ferramenta related para fazer uma segunda busca em artigos relacionados (bola
de neve), de modo à verificar a existência de estudos em que o método fora usado em campos
da engenharia civil, porém nenhum estudo foi capturado pelo método de revisão empregado,
sendo encontrado apenas dois estudos com temas correlatos.
A literatura brasileira também foi revisada na base de dados scholar google, no campo
da engenharia civil, onde nada foi capturado pelo método empregado, encontrando apenas
artigos correlatos com o WhatsApp sendo usado em outros campos do conhecimento. A
limitação deste estudo é que não houve amostra de controle para a era pré-WhatsApp, a qual,
também, poder-se-ia analisar os resultados quantitativamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Como resultado, observou-se um aumento imediato da cooperação e interação entre os
setores, tal fato foi atribuído à interface acessível e já popularizada que se fazia muito mais
convidativa ao compartilhamento de informações, fato também condicionado à observação
anterior de que o aplicativo já permitia que gerações distintas de profissionais pudessem, de
forma integrada, utilizar da mesma ferramenta, sem gaps na curva de aprendizado.
Na Figura 2, podemos observar o compartilhamento do relatório das atividades
executadas na frente de serviço no dia 12 de janeiro de 2018.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 2. Compartilhamento do relatório de atividades executadas

Fonte: Autores, 2021.

Como era informado, diariamente, sobre as atividades executadas na frente de serviço,


verificou-se que o grupo no app começou a servir de histórico, constituindo assim apoio, de
rápido acesso, às respostas do Relatório Diário de Obra – RDO (documento contratual entre a
contratante e a empreiteira), as mais diversas reuniões e até mesmo chegando a tornar obsoleto
a elaboração do Boletim Diário de Obra – BDO.
Nas Figuras 3 e 4, podemos observar o relato imediato de problemáticas à execução do
objeto de contrato, no que se refere a disponibilização de tempo para trabalho no gabarito
dinâmico da estrada de ferro e a problemáticas por questões climáticas, conforme apresentado
respectivamente.

Figura 3. Relato em tempo real de situação problema, por ocasião da negação de tempo de trabalho no gabarito
dinâmico da estrada de ferro.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Figura 4. Relato em tempo real de situação problema, por ocasião de questões climáticas

Fonte: Autores, 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

A disponibilização ou negação de tempo pela Central de Controle (Figura 3) para


realização de trabalho em uma obra que atinge o gabarito dinâmico da via de uma ferrovia ativa,
é um dos pontos mais críticos e constitui objeto de atenção dos gestores do projeto, uma vez
que o trabalho no gabarito dinâmico dispõe de regulamento de operação próprio, e que impede
o trabalho fora de tempo de interdição na via. Para o bom andamento das atividades e sucesso
do empreendimento, a comunicação rápida e eficaz entre os membros da equipe é de
fundamental importância para que se consiga aproveitar todas as oportunidades de tempo para
o trabalho. Nesse contexto, observou-se desempenho positivo singular do WhatsApp para
compartilhamento eficaz e rápido dessas informações.
Na Figura 5 pode-se observar o relato do andamento de atividades na frente de serviço,
sendo o registro da mesma em tempo real uma importante rotina para alimentação de histórico
com riqueza de detalhes, dada pelas imagens, registro de data e hora da execução (efetuadas
pelo próprio aplicativo).

Figura 5. Relato do andamento de atividades

Fonte: Autores, 2021.

Na Figura 6, observa-se a utilização do ACMI para registro de finalização de etapa de


trabalho, alimentando assim o histórico de informações no aplicativo.

Figura 6. Informação e detalhamento de finalização de etapa de trabalho.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Na Figura 7 pode-se observar uma situação típica do fluxo de informações no grupo,


onde o engenheiro de planejamento ao efetuar a leitura do relatório e ficar com dúvidas, valeu-
se do aplicativo para saná-la de imediato, facilitando seu trabalho de acompanhamento.

Figura 7. Exemplo de discussão e retiradas de dúvidas pelo ACMI

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Outra facilidade observada, que foi relatada mediante pesquisa não estruturada com os
membros da equipe, foi quanto a não ruptura do compartilhamento das informações, dessa
maneira, os integrantes que entrassem de férias, ao regressarem, poderiam contar com todas as
informações arquivadas em seu aparelho celular.
Como ponto fraco desse método, destaca-se a necessidade de acesso à internet para
envio das informações, porém é paleado pelo fato de que todos os meios modernos de
compartilhamento de informações também precisarem de tal tecnologia.
Este estudo aponta os ACMI como uma potencial ferramenta no apoio ao gerenciamento
de projetos haja vista sua praticidade e eficácia. Nota-se singular desempenho principalmente
na sua função de reportador de informações para a equipe do planejamento e controle da obra,
uma vez que, por esses profissionais estarem inseridos nos fóruns de discussão on-line, os
mesmos tinham acessos as informações diárias necessárias à atualização de suas planilhas de
controle nas ferramentas tradicionais.
Mediante pesquisa de opinião semiestruturada, a experiência foi caracterizada como de
sucesso pelos membros envolvidos na gestão do empreendimento. Em entrevista com o
engenheiro de planejamento e controle Salomão Azulay (2018), quando questionado sobre os
benefícios do uso desses aplicativos sob a ótica do planejamento e controle da obra, o mesmo
respondeu que trazer agilidade aos processos resulta em redução de custos, e exemplificou que
ao contrário de uma obra predial, uma obra de expansão ferroviária é muito dispersa, mesmo
dividindo o espaço de trabalho em blocos, tem-se blocos que abrangem mais de um estado
(como o Maranhão e Pará), logo, para ele, os ACMI são de extrema importância.
Assim, o primeiro benefício a ser apontado ao se utilizar os ACMI, é a instantaneidade
em fóruns de discussão on-line, que gera proximidade entre as várias frentes de atividades. O
segundo ganho é com relação ao histórico gerado pelo aplicativo, que alimentado pelos reports
diários e aliado ao fórum de discussão on-line possibilita a retirada de dúvidas, de imediato,
facilitando o acompanhamento e alimentação das planilhas nos programas tradicionais de
planejamento e controle, onde revela que o aplicativo, objeto desse estudo, é a principal
ferramenta utilizada para o seu acompanhamento.
Por fim, o engenheiro supracitado ainda classifica esses aplicativos como o próximo
passo nas ferramentas de envios de reports, citando/relembrando o demorado processo que era
feito anteriormente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CONCLUSÃO
Os aplicativos de compartilhamento de mensagens instantâneas para smartphones se
mostraram uma importante ferramenta no acompanhamento e apoio à gestão de projetos de
engenharia na construção civil, dada à facilidade de transmitir informações, uma vez que estes
aplicativos possuem interface convidativa e já popularizada. Destaca-se ainda, o poder de
detalhamento destes aplicativos, visto que o mesmo possui recursos de envio de mídias digitais,
tais como imagens, PDFs, áudios, entre outros, e que estas ainda podem ser legendadas, dando,
assim, dimensão dos problemas que surgem na implantação da obra em tempo real aos setores
de gestão interessados.
A popularidade e interface simples do mensageiro instantâneo, ainda, permite que
gerações distintas de profissionais possam, de forma integrada, utilizar sem grandes gaps na
curva de aprendizado, da mesma ferramenta, por exemplo, para resolver uma questão ou tirar
dúvidas de projeto, que demanda uma resposta rápida. Destaca-se também a necessidade de
mais estudos sobre o tema, a fim de disseminar e regular o uso dessa ferramenta, uma vez que
ela é utilizada de maneira, ainda, informal.

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Acesso em: 14 dez. 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 23

Patologias decorrentes de falta de


impermeabilização – sistema de recuperação:
um estudo de caso

Alef Mendes da Silva Sousa, Vitor Vinicius Rodrigues de Matos,


Flaviany Luise Nogueira de Sousa, Ricardo Chagas da Silva, Leonard
Garrido de Andrade, Gedeon Dias Barbosa, Salomão Lopes Azulay
Neto, Nuria Pérez Gallardo, Ricardo Allen Filgueira Pontes e Eduardo
de Araújo Mesquita

RESUMO: Enfatizando os sistemas de impermeabilização em calhas e rufos


tão importante quanto em áreas laváveis e molhadas, o presente trabalho
visa demonstrar algumas patologias ocasionadas pela falta de
impermeabilização e falhas no dimensionamento das calhas, rufos e tubos
para escoamento das águas pluviais em uma residência unifamiliar de padrão
médio, no município de Jacundá-PA, descrevendo dois tipos de técnicas de
impermeabilização que foi levado em consideração para tomada de decisão
na tratativa patológica. Além disso, o presente trabalho ocupa-se em abordar
os principais aspectos de execução do sistema de impermeabilização. O
estudo foi realizado primeiro através de uma revisão bibliográfica, para se
obter melhor entendimento do assunto, e no segundo momento um estudo
de caso nas calhas e rufos na cobertura da residência, onde foram
identificadas manifestações patológicas tais como: mofo, goteiras e manchas
nas lajes, manchas nas paredes, oxidação do aço da estrutura da laje e nas
tubulações de aço. Como forma de tratativa foi realizada a impermeabilização
rígida dos elementos que estavam permitindo a infiltração, seguindo as
orientações das normas técnicas, NBR 9575/2003 e NBR 9574/86. Concluiu-
se que os problemas foram decorrentes da falta de impermeabilização correta
e falta de projeto específico, bem como a falta de acompanhamento de
profissional capacitado durante a fase de execução das obras.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1. INTRODUÇÃO
A impermeabilização está presente nas técnicas construtivas do homem a muito tempo,
desde os tempos dos romanos e incas os construtores utilizavam claras de ovos, óleos e até
sangue, para impermeabilizar as saunas e aquedutos. (VEDACIT, 2010)
E, de acordo com o Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI, 2021b), no Brasil
era utilizado óleo de baleia nas argamassas de assentamento, para tornar os componentes menos
permeáveis. O que com o passar dos anos foram desenvolvidos produtos próprios para a
estanqueidade da água na construção civil. No entanto, faltava o processo de impermeabilização
na construção civil ser normatizada, e as normas só começaram a ser criadas devido as
construções dos metrôs em São Paulo em 1968.
Segundo a ABNT NBR 9575 (2010, p. 5), a impermeabilização é “o conjunto de
operações e técnicas construtivas (serviços), composto por uma ou mais camadas, que tem por
finalidade proteger as construções contra a ação deletéria de fluidos, de vapores e da umidade.”
Em resumo, trata-se, de um sistema que visa proteger a estrutura, garantindo, assim, eficiência
no desempenho das funções de projeto, além de garantir a conservação do período de vida útil.
Mesmo com a evolução tecnológica no setor da engenharia civil, o que fez com que
surgissem produtos específicos no setor da impermeabilização, a falta de mão de obra
especializada, é o principal fator de influência fazendo com que, nos últimos anos, venham se
tornando cada vez mais comum casos de patologias decorrentes da falta ou má aplicação da
impermeabilização, conforme apontou os estudos feitos por Rodrigues e Mendes (2017) e por
Silva (2009).
E como destaca o IBI (2021d, p1), “problemas relacionados a mão-de-obra são, de
longe, os principais motivadores de problemas relacionados à impermeabilização”
Durante o andamento de obras residências, em decorrência da má execução ou do uso
de materiais inadequados, podem surgir patologias na edificação. Em alguns casos, além de
causar danos à estrutura, essas patologias podem representar riscos à saúde do usuário,
principalmente em casos onde a patologia é proveniente da percolação de agua em partes da
edificação, pois esses fenômenos podem causar mofos no seu interior, além de proporcionar a
liberação de substancias provenientes da matriz cimentícia.
Na obra em questão, desse estudo de caso, apareceram problemas de infiltração que se
desenrolaram em patologias no interior da edificação ainda na fase de construção,
comprometendo o prosseguimento da obra, até ser efetuado tratativa para os problemas
apresentados, uma vez que que o mofo e a umidade estavam provocando o destacamento das
placas do piso cerâmico e a desmontagem do forro de gesso, além de estar provocando fissuras

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

nas esquadrias e lodo nos locais onde estava acontecendo escorrimento constante.
Portanto, nesse estudo pretende-se avaliar as causas e propor soluções para os problemas
patológicos provocados pela falta de impermeabilização, durante a fazer de execução de uma
residência unifamiliar no município de Jacundá-PA.

2. OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho é avaliar e evidenciar a importância da
impermeabilização de lajes e de calhas de drenagem de águas pluviais em edificações
unifamiliares; cumprindo como objetivos específicos:

• Identificar quais os erros cometidos no projeto;


• Analisar comparativos de preços entre a manutenção com execução da
impermeabilização rígida (camada de concreto impermeável) e aplicação da manda
asfáltica;
• Sugerir possíveis soluções.
• Elaborar planilha quantitativa e orçamentária para a execução das medidas
preventivas.

3. METODOLOGIA
Está pesquisa se caracterizará como um estudo de caso, e discorrerá sobre as patologias
relacionadas a umidades e infiltrações provenientes da falta de impermeabilização da laje e dos
aparelhos de escoamento das águas pluviais, mostrando o método corretivo utilizado para
solucionar os problemas patológicos ocorridos durante a fase de execução de uma residência
unifamiliar no município de Jacundá-PA.
Para isso, se ocupará em:
• Identificar as patologias na edificação, com o diagnóstico da origem das mesmas;
• Propor sugestões de correções para as patologias, fazendo o acompanhamento das ações
de correção.

Como auxilio para obtenção dos dados, esta pesquisa valeu-se das seguintes
ferramentas:
• Projeto arquitetônico;
• Visitas de inspeção com registro fotográfico;
• Acompanhamento das ações de correção e verificação dos resultados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Este trabalho tem como base de estudo os projetos de execução, sendo que este estudo
de caso tem como foco principal a análise de patologias causadas por infiltrações.

4. A IMPERMEABILIZAÇÃO
Segundo aponta o IBI (2021b), a umidade é um dos problemas mais complexos na
construção civil, e que esse problema está relacionado com inúmeras hipótese e fenômeno
envolvidos. Como aponta Silva (2009), a umidade quando surge sempre traz desconforto, pois
degradam o ambiente e a construção.

“Fazer a impermeabilização durante a obra é mais fácil e econômico do que executá-


la posteriormente quando surgirem os inevitáveis problemas com a umidade, tornando
os ambientes insalubres e com aspecto desagradável, apresentando eflorescências,
manchas, bolores, oxidação das armaduras, etc.” (VEDACIT, 2010, p. 6)

Segundo a Associação de Engenharia de Impermeabilização (EAI, 2021) a qualidade,


custos e os prazos são as principais preocupações, e com a impermeabilização eliminaria várias
dores de cabeça, assim comparando com o custo e benefício de impermeabilização no decorrer
do projeto o custo se torna baixo pela eficiência e garantia do ambiente.
Segundo o IBI (2021c) há muitos anos procuram-se soluções para evitar o aparecimento
de umidade nas obras, além de assegurar um ambiente melhor até a vida útil da obra.
Ainda o IBI comenta que no decorrer do tempo a impermeabilização foi entendida como
item na construção civil, que necessita de normatização, e foi no ano de 1968 em São Paulo
com as obras do metrô da cidade que impulsionou a ideia para a normatização, e então foi criada
as primeiras normas técnicas brasileiras na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
após alguns anos e normas já publicadas em 1975 foi fundado o IBI (Instituto Brasileiro de
Impermeabilização) para prosseguir com os trabalhos de normatização que prossegue até nos
dias de hoje.
4.1. A importância da impermeabilização

De acordo com a Vedacit (2021a), a impermeabilização goza de considerável


importância na durabilidade das edificações, pois os agentes que a água possui e os poluentes
que existem no ar, causam grande danos irreversíveis para a estrutura, tendo, portanto, a
impermeabilização um importante papel na manutenção da vida útil e segurança da obra e
integridade física dos seus usuários.
De acordo com a ABNT NBR 9575/2010, aditivo impermeabilizante é o produto que

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adicionado à argamassa ou ao concreto em até a quantidade de 1 %, em relação ao peso do


produto, consegue promover propriedades impermeabilizantes.

4.2. Impermeabilização flexível

O sistema de mantas ou pré-fabricado é o sistema de aplicação de mantas compostas de


asfaltos e elastômeros, como material impermeabilizante, obtido através de processos de
extrusão ou calandra e fornecido em rolos com comprimentos e larguras definidos pelo
fabricante.
Segundo a ABNT NBR 9575/2010, impermeabilização flexível é o conjunto de
materiais ou produtos que apresentam características de flexibilidade compatíveis e aplicáveis
às partes construtivas sujeitas à movimentação do elemento construtivo, sendo que para ser
caracterizada como flexível, a camada impermeável deve ser submetida a ensaio específico.
De acordo com Silva (2009), dentre os materiais disponíveis no mercado os mais
encontrados são as mantas asfálticas, mantas butílicas e mantas de PVC estruturadas com filme
de poletileno, não tecido, de poliéster e filme PVC. Indicando o sistema pré-fabricado também
como um sistema de mantas poliméricas sintéticas.
As mantas asfálticas proporcionam uma impermeabilização de espessura e desempenho
comparáveis (às vezes até mesmo superiores) ao sistema moldado no local feltro asfáltico e
asfalto, com economia de mão-de-obra e tempo, e a custo menor que as mantas de polímeros.
Alguns fatores diferenciam no Sistema de Mantas Asfálticas de uma para outra, e um fator
preponderante é o tipo de asfalto utilizado na sua fabricação. As variações são quanto ao tipo
de asfalto utilizado, espessura da manta, material de recobrimento e tipo de armadura.

4.3. Impermeabilização rígida

Segundo a ABNT NBR 9575/2010, a impermeabilização rígida é conjunto de materiais


ou produtos que não apresentam características de flexibilidade compatíveis e aplicáveis às
partes construtivas não sujeitas à movimentação do elemento construtivo.
De acordo com a IBI (2021e), a impermeabilização deve ser compatível com a rigidez
ou flexibilidade da estrutura na área impermeabilizada, sendo os sistemas rígidos aplicáveis em
estruturas sujeitas a pequenas variações térmicas, e pequenas vibrações e exposição solar.
Destaca-se nos últimos anos a evolução dos sistemas rígidos que se originaram pela
adição de aditivos impermeabilizantes em argamassas de cimento e areia, passando pela pré-
fabricação destas argamassas em escala industrial e atualmente são oferecidas prontas para uso,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

com metodologia de aplicação mais simples e rápida.


Segundo a IBI (2021a), o sistema de impermeabilização rígida está entre os sistemas de
impermeabilização mais difundidos e utilizados no Brasil, sendo este processo de aplicação
tradicional normalizado pela ABNT através da NBR 9574/2008 sendo denominada “Argamassa
Impermeável”.
Os cimentos poliméricos também podem ser utilizados em estruturas antigas, que
apresentam problemas de umidade por capilaridade, pois estes aditivos reagem com a cal livre
do cimento formando sais cálcicos insolúveis. A ação que acontece por hidrofugação do sistema
capilar reduz o ângulo de molhagem dos poros do substrato e ainda permite a respiração dos
materiais.
De acordo a ABNT NBR 9575/2010, argamassa com aditivo impermeabilizante é o tipo
de impermeabilização de argamassa dosada em obra, aplicada em substrato de alvenaria,
constituída de areia, cimento, aditivo impermeabilizante e água.
De acordo com o IBI (2021a) os impermeabilizantes rígidos têm a função de tornar uma
área impermeável por meio da inclusão de aditivos químicos na matriz cimentícia utilizada para
sua construção. Essas adições reduzem a porosidade dos componentes conferindo melhor
resistência a absorção de agente externos. A Vedacit (2010), destaca que no caso dos
impermeabilizantes rígido, os mesmos não trabalham junto a estrutura, o que desfavorece o uso
desse sistema em áreas expostas a grandes variações de temperatura.
Para a ABNT NBR 9575/2010, a impermeabilização rígida é o conjunto de materiais ou
produtos que não apresentam características de flexibilidade compatíveis e aplicáveis às partes
construtivas não sujeitas à movimentação do elemento construtivo. E Segundo a ABNT NBR
9574/2008, pode variar o tipo em função do material empregado, podendo ser:

a) Argamassa impermeável com aditivo hidrófugo;


b) Argamassa modificada com polímero;
c) Argamassa polimérica;
d) Cimento cristalizante para pressão negativa;
e) Cimento modificado com polímero;
f) Membrana epoxídica.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo de caso buscou analisar a execução do projeto, mostrando as patologias que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ocorreram e a suas formas de correção e melhorias.

5.1. Identificação da causa do problema

Foi identificado como causa geradora do problema:

• A falta de impermeabilização da laje;

• A má execução das calhas de concreto,

• O mal dimensionamento e distribuição das águas pluviais nas calhas;

• O mal dimensionamento das tubulações de escoamento da água captada pela calha;

• A falta de revestimento nas platibandas;

• Falta de pingadeiras nas platibandas.

Foi verificado que a calha e tubulação de drenagem foi subdimensionada e que no período
de chuvas, uma vez que a canalização não é suficiente para drenar o grande volume, a água
transbordava para a parte coberta da laje, conforme pode ser observado na Figura 1.

Figura 1. Esquemático do perfil da calha em relação ao telhado.

Fonte: Autores, 2021.

Na Figura 2, é possível observar a vista da calha observada por cima. A mesma se


caracteriza por possuir dimensões de 25x20cm, e dois canos de 60 mm para fazer o escoamento
da água acumulada, o que se caracteriza por pouca área para garantir a vazão necessário ao
completo escoamento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 2. Calha de concreto vista de cima.

Fonte: Autores, 2021.

Foi verificado que os tubos instalados para fazer a canalização da água das calhas (em
sua maioria tubo de 60 mm), não foram dimensionados de maneira adequada. Na Figura 3, é
possível visualizar a condição em que as tubulações estavam.
Figura 3. Tubulação destinada ao escoamento da água captada pela calha.

Fonte: Autores, 2021.

Um outro problema identificado era que as platibandas não possuíam pingadeiras, o que
possibilitava a percolação de água pelo interior da parede colaborando com a infiltração na
existente pela percolação de água pela calha e rufos, aparecimento de mofos no rodapé do forro,
nas paredes internas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 4. Platibanda sem pingadeiras.

Fonte: Autores, 2021.

Colaborando com a situação anterior, também foi observado que não foi realizado o
acabamento em argamassa na parte interna da platibanda, o que permitia o avanço da umidade
nas paredes internas e externas.

Figura 5. Platibanda sem revestimento.

Fonte: Autores, 2021.

5.2. Identificação das Patologias

Foi iniciada a inspeção predial verificando as manifestações patológicas no interior da


edificação. Diversas patologias foram observadas devido à ausência da impermeabilização e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

falhas de execução e projeto. O mofo causado pela infiltração na laje superior deteriorou uma
parte do revestimento da laje, além de causar manchas ao longo da parede danificando a pintura,
como mostra na Figuras 6.

Figura 6. Manchas pretas e presença de umidade no gesso do corredor de entrada

Fonte: Autores, 2021.

Foi identificado que a presença da umidade estava gerando patologias no lado interno das
paredes, gerando bolhas no revestimento da parede e descascamento da pintura.

Segundo o proprietário da edificação, após as primeiras patologias começarem a aparecer


ocorreram tentativas de reparo e o problema não foi solucionado.

Pelo fato do causador da infiltração ser a umidade gerada na parede externa, voltando a
gerar as mesmas patologias e defeitos na parede interna. Ainda segundo o dono da edificação,
na época que a obra foi construída não foi aplicado nenhum sistema de impermeabilização e
não foi deixado inclinação na calha.

Figura 7. Corredor de entrada com o forro estragado em virtude das infiltrações.

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Fonte: Autores, 2021.

Figura 8. Manchas nas paredes no interior da edificação.

Fonte: Autores, 2021.

Alguns danos foram causados pela ausência de impermeabilização nas calhas de concreto
da edificação, pois através destes também foram apresentadas manifestações patológicas.

A situação dos rufos era precária uma vez que existiam várias fissuras na platibanda na parte
interna e seguiam até o rufo, sendo que estas fissuras causaram infiltrações entre o rufo e a
platibanda. Além disso, pode-se observar que abaixo do rufo existia um substrato aparente de
alvenaria e sem nenhum revestimento, que é um possível ponto de infiltração pelas paredes já
que o rufo não foi protegido. Com isso, pode ser visto que como não havia impermeabilização
nos mesmos as águas das chuvas estavam infiltrando pelas fissuras e afetando a fachada do
edifício e alguns cômodos dentro da edificação.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 9. Presença de patologias na cozinha, decorrentes de infiltrações.

Fonte: Autores, 2021.

4.3 Sugestão para as patologias encontradas

Foi utilizado produto tipo veda calha para fazer a impermeabilização entre as telhas e
os rufos, de modo a impedir a entrada de água na área coberta da laje.

Figura 10. Produto utilizado para realização da vedação entre telhas e rufos.

Fonte: Autores, 2021.

Para solucionar o problema de infiltração foi aplicado um contra piso por cima laje, e depois
a aplicação de uma manta líquida, para gerar a estanqueidade.

Figura 11. Aplicação da armadura a ser colocada na argamassa para evitar fissuras.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Foi sugerido a troca dos tubos de escoamento, para garantir maior capacidade de
drenagem.

Figura 12. Antes e depois da troca do tubo de escoamento.

Fonte: Autores, 2021.

Os tubos de 60mm foram trocados por tubos de 100mm de modo a aumentar a


capacidade de escoamento e evitar que a água acumulada na calha transbordasse para a parte
coberta da laje.

Figura 13. Antes e depois da aplicação da camada de argamassa e troca do tubo de escoamento.

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Fonte: Autores, 2021.

Foi apicada resina para fazer a interface entre o concreto antigo e a argamassa de
impermeabilização, de modo a melhorar a aderência.

Figura 14. Antes e depois da aplicação da camada de argamassa.

Fonte: Autores, 2021.

Na Figura 15, é possível visualizar a argamassa já aplicada, onde foram aplicados uma
camada de 5cm.

Figura 15. Canaleta já aplicada a camada de argamassa impermeabilizante.

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Fonte: Autores, 2021.

Foi utilizada manta líquida para fazer a impermeabilização das áreas de transição entra
a argamassa impermeabilizante aplicada e o concreto e entre a argamassa e a tubulação.

Figura 16. Manta líquida utilizada na impermeabilização das regiões de transição de material.

Fonte: Autores, 2021.

Após a aplicação da camada de argamassa foi realizada impermeabilização com a manta


líquida, de modo a impermeabilizar a região de transição entra a argamassa e o tubulação.

Figura 17. Aplicação da manta líquida.

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Fonte: Autores, 2021.

Após a conclusão dos reparos nas calhas de concreto, foi realizado teste de
estanqueidade durante 72 horas, para verificação da estanqueidade de modo a corroborar que
os trabalhos efetuados na obra obtiveram total impermeabilização.

Segundo a ABNT NBR 9575/2010, a estanqueidade é propriedade de um elemento (ou


de um conjunto de componentes) de impedir a penetração ou passagem de fluidos através de si.
A sua determinação está associada a uma pressão-limite de utilização (a que se relaciona com
as condições de exposição do elemento ao fluido).

Figura 18. Realização do teste de estanqueidade.

Fonte: Autores, 2021.

Os resultados do teste de estanqueidade comprovaram a eficiência do sistema de


impermeabilização adotado. O teste seguiu as orientações da NBR 9574 (ABNT, 2008),
utilizando água limpa, tendo duração mínima de 72 horas, sendo verificado se aconteceria a

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surgimento de bolhas dentre demais anomalias.

Após as tratativas das patologias a obra pode ser retomada, e está com previsão de
entrega em janeiro de 2022.

6. CONCLUSÃO
Neste estudo de caso foi possível observar a importância da correta aplicação da
impermeabilização em calhas e rufos, pois a não observâncias de critérios de qualidade pode
refletir em problemas na edificação. Além disso, foi possível concluir que apesar dos avanços
da tecnologia e técnicas construtivas, essas melhorias tardam a chegar em cidades de pequeno
porte - como é o caso da cidade em que se situa a edificação objeto desse estudo de caso, sendo
a falta de mão-de-obra qualificada o principal fato gerador de patologias em construções de
pequeno e médio porte; no caso da construção em estudo, foi identificado que a mesma não
possuía acompanhamento de engenheiro na obra, antes das manifestações patológicas
começarem a aparecer. Com relação a erradicação dos problemas foram realizados reparos no
caimento tanto das calhas como dos rufos, nas tubulações de descida de prumada, foi
arredondado os cantos das calhas, e foi executado a regularização de trincas e fissuras, e a
limpeza da área a ser impermeabilizada, e após aplicado impermeabilizante liquido.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9575: Projeto de


Impermeabilização: São Paulo. SP, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9574: Execução de


Impermeabilização: São Paulo. SP, 2008.

Associação de Engenharia de Impermeabilização, AEI. História da Impermeabilização. Rio


de Janeiro. 2021. Disponível em: < https://www.aei.org.br/downloads >. Acesso em 18 de nov.
de 2021.

IBI. Manual de utilização de aditivos para concreto dosado em central. São Paulo, 2021a.
Disponível em: <http://ibibrasil.org.br/wp-content/uploads/2018/03/Manual-de-utilização-de-
aditivos-para-concreto-dosado-em-central-IBI-1-edição.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2021.

IBI. Por que impermeabilizar?. São Paulo, 2021b. Disponível em: <http://ibibrasil.org.br/wp-

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

content/uploads/2018/01/Porque-impermeabilizar.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2021.

IBI. Tratamento de paredes com umidade. São Paulo, 2021c. Disponível em:
<http://ibibrasil.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Informe-tratamento-de-paredes-com-
umidade.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2021.

IBI. A capacitação de mão-de-obra para a impermeabilização. São Paulo, 2021d.


Disponível em: <http://ibibrasil.org.br/wp-content/uploads/2018/01/Informe_A-capacitação-
de-mão-de-obra-para-a-impermeabilização.pdf>. Acesso em: 13 nov. 2021.

IBI. Impermeabilização rígida. São Paulo, 2021e. Disponível em: <http://ibibrasil.org.br/wp-


content/uploads/2018/01/Impermeabilização-rígida.pdf>. Acesso em: 11 nov. 2021.

RODRIGUES, J. P. P.; MENDES, M. MA. PATOLOGIAS OCORRIDAS POR


INFILTRAÇÕES RELACIONADAS COM A IMPERMEABILIZAÇÃO E MÉTODOS
DE CORREÇÕES. Trabalho de Conclusão de Curso, p. 58, 2017.

SILVA, D. C. SISTEMA DE IMPERMEABILIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO NAS


CALHAS E RUFOS DO FÓRUM FILINO BASTOS EM FEIRA DE SANTANA – BA.
Trabalho de Conclusão de Curso, p. 104, 2009.

VEDACIT. Manual técnico: impermeabilização de estruturas. 6. ed. São Paulo, 2010.


Disponível em: <https://docente.ifrn.edu.br/valtencirgomes/disciplinas/construcao-civil-ii-
1/manual-sobre-impermeabilizacao>. Acesso em: 11 de novembro de 2021.

VEDACIT. Manual técnico: recuperação das estruturas. 3. ed. São Paulo, [200-?].
Disponível em: < https://vedanews.com.br/uploads/biblioteca/manual-tecnico-recuperacao-
deestruturas-%0A8.pdf >. Acesso em: 11 de novembro de 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 24

Análise de manifestações patológicas em uma


edificação unifamiliar na cidade de Palmas/TO:
estudo de caso

Vitor Vinicius Rodrigues de Matos, Alef Mendes da Silva Sousa,


Flaviany Luise Nogueira de Sousa, Leonard Garrido de Andrade,
Salomão Lopes Azulay Neto, Nuria Pérez Gallardo e Ricardo Allen
Filgueira Pontes

RESUMO: O estudo relacionado a fundações vem sendo aperfeiçoado há


muito tempo pelos engenheiros de estruturas, tal fato se deve, por ser uma
parte de extrema importância nas construções em geral, isso porque a
fundação inadequada pode ser a causa de futuros recalques diferenciais e/ou
manifestações patológicas. A grande dificuldade existente no
dimensionamento do alicerce é a falta do estudo de solos antecedentes a
obra, que implica em projetos equivocados, ,através da utilização de técnicas
de inspeção a perícia pode identificar as causas de possíveis manifestações
patológicas originadas da deformabilidade do solo adjacente às fundações,
aprimorando os estudos na área. O trabalho tem por objetivo analisar uma
residência unifamiliar e compreender os fatores que estão ocasionando o
recalque diferencial e consequentemente as anomalias existentes. O estudo
de caso em conjunto com a revisão bibliográfica, foi feito por meio de uma
perícia técnica que geraram pontuações para os eventos encontrados: suas
possíveis causadas das patologias; Finalmente, a investigação demonstra a
importância do conhecimento das causas e tendências dos danos para um
posicionamento correto, evitando futuros acidentes e evidenciando a
relevância dos estudos que antecedem a qualquer obra.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1. INTRODUÇÃO

A engenharia atual tem buscado com uma maior frequência, a multidisciplinaridade


entre os profissionais da engenharia e arquitetura, além das intervenções construtivas, as
relações extrapolam o campo micro e se envolvem diretamente com o contexto social e
ambiental, desenvolvendo novas tendências e tecnologias que abordem essa conexão. Os
profissionais da construção civil também começaram a sentir a necessidade de padronizar os
processos e aplicar os conceitos de qualidade para dentro das obras civis, uma imagem
semelhante aos processos de produção industrial. Na atualidade, existe o lado da ampla
concorrência no mercado de trabalho e a mudança de comportamento do consumidor, que agora
possui um maior nível de exigência em relação à qualidade do produto e do serviço, já que a
falha construtiva onera nos custos durante o início da ocupação.
O aprofundamento em todas as disciplinas que compõe o quadro construtivo é essencial,
desta forma foi necessário adentrar em assuntos de extrema importância para estruturação e
cultivo dessa ciência. Um exemplo é o estudo sobre patologias, que apesar de terem sido
realizadas diversas pesquisas, permanece sendo um campo com inúmeras vertentes a serem
inspecionadas, o que justifica a série de cursos e pós graduações na área.
A fase de diagnóstico tem alta complexidade, pois necessita de uma periodicidade das
tarefas que devem ser executadas, além de não existir um único método especifico a anomalia
também pode possuir diversos procedentes. Mesmo com as variantes existentes, reconhecer a
manifestação e a recuperação posterior a sua análise são de extrema importância e está
diretamente ligada a efetividade da construção e a experiencia do profissional que realizará o
diagnóstico.
Podemos considerar que o estudo sobre patologias também é uma ciência, pois a partir
dessa prática podemos identificar sua natureza, comportamento e os mecanismos dos
fenômenos envolvidos. Segundo Helene (1992), entende-se que a patologia é a parte da
engenharia que analisa os sintomas, os mecanismos, as causas e as origens das anomalias em
construções. De acordo com Franca et al. (2011), no estudo das patologias analisa-se tudo o que
envolve a degradação de uma construção.
A manifestação patológica tem se tornado cada vez mais presente nas indagações dos
profissionais e suas causas, sintomas e formas possuem diversas ramificações, desta forma
necessita cada vez mais, conhecimento amplo do profissional que realizará o diagnóstico e
propor a solução. Além disso, a manifestação pode comprometer o desempenho da estrutura e
prejudicar a estabilidade do imóvel, como também a desvalorização no quesito estética, em suas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

condições de serviço e na durabilidade tanto dos materiais, como também da habitação no geral.
O recalque das fundações, é um grande exemplo do que foi explicitado, apesar de todo
avanço tecnológico ainda se possui um expressivo número de edificações, inclusive recentes,
apresentando ocorrências sobre essas deformidades civis. Segundo Velloso e Lopes (2004),
recalque é o deslocamento vertical que pode ocorrer na estrutura da fundação de uma
edificação. Segundo Silva (2008), esse comportamento anômalo ocasiona surgimento de
fissuras que comprometem a funcionalidade da construção.
Muitos estudos constataram que em sua maioria, os surgimentos desses problemas são
causados por falhas construtivas, ou seja, como precedente pode possuir a falta de qualidade da
mão de obra, erros de profissionais que elaboraram o projeto ou responsáveis de execução do
projeto. Baseado nisso, Vargas (1998) cita que vários fatores dão origem ao recalque, e não
apenas a fundação de forma isolada.
Diante desse contexto, o trabalho teve como objetivo identificar e analisar
manifestações patológicas encontradas em uma Residência Unifamiliar localizada no município
de Palmas no estado do Tocantins. Além disso buscou-se vistoriar de forma técnica in loco,
coletar dados específicos e registros fotográficos das manifestações patológicas recorrentes no
local designado. Identificar e correlacionar os tipos patológicos, manifestando argumentos
sobre devidas causas, possíveis consequências e gravidade delas. Por fim, propor um
diagnóstico adequado e eficaz para solucionar as manifestações patológicas individualmente e
como um todo, a fim de orientar o morador sobre as ações a posteriori.

2. METODOLOGIA
O trabalho consistiu na perícia de uma residência unifamiliar, localizada no município
de Palmas no Tocantins. O estudo de caso forneceu a partir de uma anamnese um grande acervo
de conhecimentos sobre o local, que em conjunto com os referenciais teóricos tornou possível
alcançar resultados categóricos.
Constituído pela área construída distribuída pelo pavimento térreo, apresentando idade
de 2 anos de construção. O local do estudo encontra-se na cidade de Palmas, TO, Jardim Aureny
3, rua 25, quadra 54 lote 15C, Plano Diretor Sul como mostra a figura 1 e 2.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 1. Localização da residência enquadrada da escala macro para micro, (a) localização referente ao bairro
Jardim Aureny III, (b) localização referente ao bairro Jardim Aureny III em um raio aproximado de 100 metros,
(c) fachada da residência objeto de perícia.

Fonte: Autores, 2021.

Figura 2. Situação de residência, em vista superior.

Fonte: Autores, 2021.

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Figura 3. Croqui arquitetônico

Fonte: Autores, 2021.

Para Verly (2015), o começo de um estudo de caso deve conter uma visita in loco, tal
procedimento representa a fase de menor custo e gera uma grande quantidade de informações
para a pesquisa. Para o autor, normalmente as anomalias manifestam-se na parte externa, o que
permite por meio de uma inspeção a sua caracterização e identificação.
Neste trabalho foram adotados os conhecimentos teóricos e práticos adquirido em
conjunto com a metodologia da Norma de Inspeção Predial do IBAPE e da Norma de
Manutenção em Edificações - NBR 5674, da ABNT. Além da utilização de instrumentos como
o fissurômetro, trena, pacômetro e máquina fotográfica para realizar o registro do que foi
encontrado, para a obtenção dos resultados da classificação das manifestações patológicas.
Foi utilizada como referência a Norma de Inspeção Predial do IBAPE, as anomalias e
falhas são classificadas em três diferentes graus de recuperação, considerando o impacto do
risco oferecido aos usuários, ao meio ambiente e ao patrimônio.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na casa foram encontradas fissuras de diversos tamanhos, dimensões, espessuras e
inclinação, o que leva a pensar que o recalque em algum ponto é bem acentuado. Para a
conclusão de que o principal fator a considerar foi o recalque das fundações, inicialmente
observou-se o seguinte:
A casa foi executada em um terreno com inclinação acentuada, com seção de corte e
aterro, indicando que o aterro pode não ter sido bem compactado.
A fundação da casa é composta de sapatas e vigas baldrames. Pelo que relata o morador,
todas as fundações foram executadas sobre a região de aterro.
Por fim, foram inspecionadas as fissuras, observando a direção, altura e espessuras
localizadas nas paredes, os desníveis e a presença de fissuramento no piso, a indicação de tensão
de cisalhamento ou tração, a fim de diagnosticar onde ocorreu o maior recalque, ou seja, em
qual local ocorreu consideravelmente o adensamento do solo e sua posterior redução de volume.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

É isso que mostraremos no quadro de imagens a seguir:

Região: Encontro do muro da fachada com muro do Região: Encontro de viga com elemento de vedação
vizinho. (muro).
Forma: Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa Ambiente: Área Externa

Região: Encontro do muro de divisa com parede


externa do banheiro da suíte. Região: Encontro do muro de divisa com parede
Forma: Mapeadas e Isoladas externa do banheiro da suíte.
Atividade: Ativas Forma: Mapeadas e Isoladas
Ambiente: Área Externa Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa

Região: Encontro do muro de divisa com parede Região: Encontro do muro de divisa com parede
externa do banheiro da suíte. externa do banheiro da suíte.
Forma: Mapeadas e Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa Ambiente: Área Externa

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Região: Canto superior de janela da cozinha.


Região: Canto inferior de janela da cozinha.
Forma: Isoladas
Forma: Isoladas
Atividade: Ativas
Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa
Ambiente: Área Externa

Região: Canto inferior de janela da cozinha.


Forma: Isoladas Região: Encontro entre viga baldrame e parede da
Atividade: Ativas residência, fotografia retirada da residência do
Ambiente: Área Externa vizinho.
Forma: Isoladas
Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa

Região: Encontro entre viga baldrame e parede da


residência, fotografia retirada da residência do
vizinho Região: Encontro entre viga baldrame e parede da
Forma: Isoladas residência, fotografia retirada da residência do
Atividade: Ativas vizinho.
Ambiente: Área Externa Forma: Isoladas
Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa

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Região: Encontro entre viga baldrame e parede da Região: Encontro entre viga baldrame e parede da
residência, fotografia retirada da residência do residência, fotografia retirada da residência do
vizinho. vizinho.
Forma: Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Área Externa Ambiente: Área Externa

Região: Parte central da parede. Região: Piso limite entre ambientes (corredor e
Forma: Isoladas cozinha).
Atividade: Ativas Forma: Isoladas
Ambiente: Sala de Estar Atividade: Ativas
Ambiente: Cozinha

Região: Encontro de paredes. Região: Canto superior das portas, fissuras


Forma: Isoladas interligando as aberturas.
Atividade: Ativas Forma: Isoladas
Ambiente: Área de Serviço Atividade: Ativas
Ambiente: Corredor

Região: Canto superior da porta, fissuras interligando Região: Canto superior da porta, fissuras
as aberturas. interligando as aberturas.
Forma: Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Corredor Ambiente: Corredor

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Região: Inferior da parede, encontro do piso com Região: Inferior da parede, encontro do piso com
alvenaria. alvenaria.
Forma: Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Corredor Ambiente: Corredor

Região: Superior nos cantos da porta do quarto,


interligando duas paredes.
Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Região: Canto inferior da janela.
Ambiente: Corredor Forma: Isoladas
Atividade: Ativas
Ambiente: Quarto

Região: Canto inferior da janela, fissuras interligando Região: Central a parede da janela, interligando
as aberturas. porta a interruptor.
Forma: Isoladas Forma: Isoladas
Atividade: Ativas Atividade: Ativas
Ambiente: Quarto Ambiente: Quarto

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Região: Canto inferior da janela.


Região: Parte inferior da parede. Forma: Isoladas
Forma: Mapeada Atividade: Ativas
Atividade: Ativas Ambiente: Suíte
Ambiente: Suíte

Região: Superior nos cantos da porta do quarto, Região: Parte central e inferior da parede.
interligando as aberturas. Forma: Isoladas
Forma: Isoladas Atividade: Ativas
Atividade: Ativas Ambiente: Suíte
Ambiente: Suíte

4. CONCLUSÃO
O presente estudo remete-nos a conclusão da importância do conhecimento que se deve
haver a respeito das patologias das fundações, o que contribui para uma maior segurança e vida
útil das construções, a fim de minimizar os custos.
Este trabalho retratou as principais causas das aberturas da alvenaria e recalques das
fundações, bem como as manifestações patológicas presentes nas estruturas de concreto armado
nas edificações, numa relação solo-fundação, que altera e afeta a qualidade dos materiais
existentes.
No decorrer do artigo, pôde-se verificar que os problemas patológicos podem ser
diagnosticados e evitados, sendo o papel do profissional habilitado de grande valia que consiga
apontar os erros possíveis de sondagem, além de obter dados acerca das edificações vizinhas.
Por meio das manifestações patológicas encontradas, verifica-se a necessidade de se promover
investigações geotécnicas. Só após a fundação ser reforçada poderá haver o fechamento das
aberturas.
As fundações mal executadas ou a carga aplicada maior que a capacidade resistente das

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fundações são as principais causas do recalque de fundação. Como vimos no presente artigo,
os danos físicos oriundos de recalque de fundações além de comprometerem a estabilidade da
edificação, resultam em trincas de espessuras elevadas ocasionando um mau aspecto da
construção e esse fenômeno abala não apenas a estrutura física da casa, mas o sentimento das
pessoas.
Assim, com base no estudo bibliográfico utilizado, tem-se a necessidade de conhecer
mais o solo, a fim de que possa ser utilizada uma fundação propícia capaz de suportar todas as
tensões geradas pelos esforços solicitantes, evitando que comprometam nas estruturas de
concreto.
Neste caso, foi sugerido posteriormente aos moradores a evacuação da residência
devido os graves danos estruturais constatados na vistoria, como foi demonstrado nesse artigo.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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fundações. Rio de Janeiro, 2010.

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Feira De Santana Departamento De Tecnologia, Feira De Santana – Bahia, 2008.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 25

INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO COMO


FERRAMENTAS DE SOBREVIVÊNCIA
EMPRESARIAL EM TEMPOS DE PANDEMIA

Jeferson Hugo da Silva, Samuel Clemente de Souza Geraldo e Manuel


de Jesus Lucas

RESUMO: A pandemia gerada pelo Covid 19, que já dura cerca de dois anos, gerou
uma crise sem precedentes em todos os setores da sociedade e os obrigou a criar
novos hábitos e posturas comportamentais, tanto a nível de indivíduo como de
sociedade, empresa ou governo. Este trabalho apresenta um estudo de caso
conduzido numa empresa de médio porte que atua num dos setores mais afetados
pela crise, o setor têxtil, e relata as medidas que foram tomadas para superar os
efeitos dessa crise e evitar sua insolvência e provável falência. Precede o estudo de
caso uma ampla revisão bibliográfica na literatura especializada sobre alguns
aspectos ligados ao conceito de crise, bem como qual é o papel dos gestores e da
inovação, criatividade e do empreendedorismo no ambiente empresarial para superar
os efeitos dessa crise. O estudo de caso mostra como a empresa estudada, antes do
advento da crise eficiente, produtiva e lucrativa, teve seu fluxo de caixa
comprometido a ponto de não auferir os recursos necessários para honrar seus
compromissos com funcionários e fornecedores. Para sobreviver e voltar a ser
lucrativa em meio a um cenário incerto, a empresa implantou uma série de medidas
que contemplaram, inicialmente, a adesão às medidas mitigadoras oferecidas pelo
governo e à renegociação com clientes e fornecedores. Tais medidas se mostraram
apenas paliativas e insuficientes, principalmente devido à longevidade da crise, o que
fez com que, por necessidade, o lado empreendedor e inovador de seus proprietários
e funcionários aflorasse. Num esforço para se adequar aos novos tempos, a empresa
passou, então, a utilizar seu know how e a expertise adquiridos ao longo de sua
existência para lançar produtos inovadores, cuja demanda foi motivada pela
pandemia - ironicamente o fato gerador da crise - e investiu no e-commerce e em
novas formas de comercializar seus produtos. A combinação dessas medidas ajudou
a empresa a se reerguer e dar lucro novamente e permite concluir que, além de
possuir bons processos de gestão, os aspectos inovação, criatividade e
empreendedorismo assumem papel fundamental para qualquer empresa que passe
por dificuldades e deseje se manter no mercado de forma competitiva e lucrativa,
principalmente em épocas de crise como a gerada pela pandemia do Covid-19.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1. INTRODUÇÃO

A pandemia gerada pelo vírus Covid-19 no final de 2019 e início de 2020 desencadeou
uma crise econômica e social que afetou e continua afetando a sociedade de diversas formas.
No ambiente empresarial, algumas organizações do setor secundário, onde atuam, por exemplo,
as empresas que compõem a indústria têxtil, e outras do setor terciário, como as que atuam nas
áreas de turismo e entretenimento, sofreram um impacto tão profundo no seu nível de atividade
que é praticamente impossível prever quando elas conseguirão retomar os níveis existentes
antes do seu surgimento. Essa situação obrigou tanto o governo, nos seus três níveis, quanto a
iniciativa privada a tomar uma série de medidas visando reduzir ou mitigar os efeitos de tais
impactos que, seguramente, afetaram a saúde financeira e até mesmo a sobrevivência de uma
série de empresas.
Sob a ótica do empreendedorismo e da inovação, contudo, tal situação, apesar dos
enormes prejuízos socioeconômicos causados para a sociedade como um todo, não deixa de ser
uma excelente oportunidade de crescimento, já que, não raro, é nesses momentos que as
organizações conseguem aprender com seus erros, sejam eles previsíveis ou não, e permitem
aflorar talentos que podem contribuir para transformar a situação e contribuir para superá-la.
Empresas que utilizam métodos práticos, eficientes e ágeis nas decisões diárias que dizem
respeito às áreas produtivas, comercial, marketing e logística frequentemente se adaptam com
mais facilidade aos problemas e geram soluções eficientes e inovadoras. Em alguns casos isso
ocorre de forma natural e paulatina e tais organizações costumam passar incólumes por
situações adversas. Em outros a transformação é mais demorada, já que demanda um processo
de aprendizado que pode não corresponder às necessidades e urgências momentâneas e,
eventualmente, levá-las a insolvência e até ao desaparecimento.
Grande parte da indústria têxtil brasileira, após algumas décadas estagnada, se
modernizou depois que passou a ser submetida à concorrência com empresas globais e
atualmente se encontra preparada para responder de forma eficiente às crises que porventura
surjam. A crise gerada pela pandemia do Covid-19 é o tipo de evento que submete as empresas
à prova e demonstra se elas se encontram preparadas ou não para superá-la e retomar suas
atividades de forma economicamente sustentável.
Como consequência da pandemia, diversas fábricas e suas cadeias produtivas tiveram
suas atividades drasticamente reduzidas o que as levou a reduzir de tamanho, encerrar suas
atividades ou, simplesmente, declarar falência. Ainda não se sabe quando essa crise será
superada, mas é possível afirmar que as empresas que sobreviverem a ela se tornarão mais fortes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

e competitivas do que antes. No setor têxtil os sinais de retomada econômica já são evidentes e
demonstram que o pior já passou. Para as sobreviventes, conhecer o mercado, entender os
motivos e as consequências da crise, envolver os colaboradores e parceiros, inovar nos
processos de gestão e saber tomar as medidas necessárias, como o lançamento de novos
produtos e serviços na hora adequada, mostrou-se ser essencial para que fosse possível superar
os momentos de dificuldade causados pela redução da demanda e consequentemente
diminuição das vendas.
Este artigo relata as medidas que foram usadas por uma empresa do setor têxtil para
superar a crise gerada pela pandemia da covid-19. Não se trata de uma receita que pode ser
utilizada por todos os tipos de empresa, já que tais medidas dependem, entre outras coisas, da
situação econômico-financeira em que a empresa se encontrava antes do início da crise, da
competência de seus gestores e do produto fabricado, local e contexto em que a mesma se
encontra inserida. Independentemente do tipo e setor em que a empresa se encontra inserida, a
retomada rumo ao sucesso, contudo, não é impossível de acontecer como fica demonstrado
neste trabalho.

2. OBJETIVO

Este artigo objetiva demostrar como uma empresa do setor têxtil superou os impactos


negativos causados pelo Corona vírus e, através da implantação de uma série de medidas
inovadoras e de mudança comportamental e gerencial, conseguiu mitigar e superar os efeitos e
perdas resultantes da crise gerada pela pandemia tanto no que diz respeito à sua sobrevivência
e à preservação do emprego e qualidade de vida seus colaboradores, seus proprietários e
parceiros comerciais e produtivos.

3. METODOLOGIA

O trabalho utiliza como metodologia uma pesquisa conceitual e qualitativa que segundo
Gil (2008) leva em consideração uma pesquisa bibliográfica, interpretação de dados e estudo
de caso relacionados ao tema, utilizando fontes primárias e secundárias para obter informações
e assim, efetuar uma análise das ações tomadas pela empresa durante a crise. A pesquisa
encontra-se suportada por um estudo de caso conduzido numa empresa de médio porte que atua
no setor têxtil cuja matriz se encontra localizada no estado de Santa Catarina e possui unidades
produtivas no interior de estado de São Paulo e no Paraguai. Segundo Gil (2008) o estudo de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

caso é recomendado para ilustrar uma pesquisa conceitual por se tratar de um estudo profundo
que permite o conhecimento amplo e detalhado do assunto estudado. Para embasar o estudo de
caso foi necessária uma ampla revisão literária a artigos e autores especializados em crise,
inovação e empreendedorismo com o objetivo de identificar as dificuldades que uma empresa
enfrenta durante uma crise e que medidas poderiam ser tomadas para que a mesma possa se
reinventar. Finalmente, como forma de complementar o estudo e apresentar as conclusões
finais, foram realizadas entrevistas com agentes e gestores atuantes no setor têxtil.

4. REVISÃO TEÓRICA

4.1. O COVID-19 E A CRISE MUNDIAL

4.1.1. CONCEITO DE CRISE

Segundo ARAÚJO (2005), uma crise pode ser definida como sendo uma turbulência ou
perturbação do sistema social e econômico que, considerado sua duração e extensão geográfica,
pode pôr em perigo a existência e os mecanismos essenciais de reprodução dos afetados por
ela. Em alguns casos, a situação permite aos atingidos se recomporem livrando-se de
componentes e comportamentos nocivos e incorporando inovações salvadoras. Via de regra
uma crise leva à decadência e, posteriormente, se não for adequadamente combatida, ao
colapso. No caso de uma possível recomposição ela pode até ser qualificada como uma "crise
de crescimento" já que seu advento facilita a adoção de renovações que já se encontram
disponíveis, mas que não seriam implantadas caso a situação não tivesse de ser
obrigatoriamente enfrentada.

4.1.2. CRISE NO BRASIL

O A crise que atualmente assola o Brasil teve origem em dezembro de 2019 na cidade
de Wuhan, localizada na província de Hubei, República Popular da China, quando o mundo
tomou conhecimento da existência do denominado “coronavírus”, uma infecção respiratória
aguda causada pelo vírus SARS-CoV-2, na época divulgada como potencialmente grave e de
elevada transmissibilidade que, segundo o Ministério da Saúde (2021), gerou uma situação
crítica e de calamidade pública que resultou no surgimento de uma crise sem precedentes em
vários setores no mundo todo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Em março de 2020 a doença foi declarada pela OMS – Organização Mundial da Saúde
– como pandêmica e chegou ao Brasil sem uma previsão de término causando impactos nas
áreas sociais, econômicas, sanitárias, políticas e, principalmente, de saúde. Segundo Silva
(2020) seus impactos superaram a crise da dívida da América Latina (1980), a crise financeira
mundial de 2008-2009 e, mais recentemente, a crise brasileira de 2014 a 2017 que surgiu através
do não alinhamento entre a oferta e a demanda de vários produtos no país devido a erros na
condução da política econômica.
No ambiente empresarial seus impactos foram imediatos, já que ocorreu uma drástica
diminuição nos pedidos de clientes, levando a grande diminuição no ritmo produtivo e, por
consequência, obrigando as empresas a tomarem atitudes, como por exemplo, o corte de gastos
e até mesmo a fim de evitar o encerramento de suas atividades. Segundo um diagnostico
realizado pela GEM - Global Entrepreneurship Monitor - publicada em setembro de 2020 no
Brasil, foi evidenciado que em um curto período de 6 meses, de março a agosto, 29% das
empresas foram fechadas temporariamente tendo que suspender contratos de funcionários; as
vendas diminuíram em 51%; e 18% precisaram reduzir seus dias de trabalho com uma redução
salarial concomitante.
Como forma de prevenção para evitar a proliferação da doença e o estado de calamidade
pública na saúde, no Brasil foram estabelecidas várias medidas de prevenção sendo as mais
comuns o lockdown (restrição obrigatória de circulação de pessoas e afastamento social), toque
de recolher, fechamento ou restrição de horário de funcionamento para estabelecimentos
comerciais, autorização de funcionamento somente de serviços essenciais, etc. Tais medidas
impactaram, em maior ou menor grau, diversos setores da atividade econômica e obrigaram as
empresas e a sociedade de uma forma geral a se reinventar e a rever seus hábitos e posturas e a
adotar estratégias de sobrevivência fazendo prevalecer a máxima de Araújo (2005) que afirma
que “em qualquer caso a crise é um tempo de decisão onde o sistema opta (se houver lugar para
isso) entre reconstituir-se de uma maneira ou decair (também transitando algum dos vários
caminhos possíveis)”.

4.1.3. CRISE NO SETOR TÊXTIL

O setor têxtil, a exemplo do que aconteceu com os setores de turismo, serviços e


entretenimento, foi um dos que mais sentiu os efeitos da crise do coronavírus e, para enfrenta-
la num primeiro momento, muitas indústrias decidiram alterar suas linhas de produção e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

passaram a fabricar itens que estavam com demanda aquecida, como máscaras e aventais para
o setor de saúde.
Em pesquisa realizada pelo Sebrae com 62 representantes da cadeia produtiva do setor
de moda, têxtil e de confecção, mostrou que mais de 70% das empresas consultadas pararam a
produção e que 41% acreditavam que voltariam a produzir em 15 dias, mas essa expectativa
não se realizou. A mesma pesquisa revelou que cerca de 70% das empresas afirmaram que não
estavam preparadas financeiramente para situações como a pandemia de coronavírus e
passaram a adiar ou negociar o pagamento a fornecedores, além de solicitar empréstimos junto
a instituições financeiras. A maioria das empresas (51,6%) sofreu os efeitos da pandemia no
fechamento da produção. Para outras (24,2%), o maior impacto foi observado no fornecimento
de produtos a clientes, enquanto 6,5% foram afetadas no abastecimento de materiais e insumos.
Do total de entrevistados, 49,2% tiveram seus pedidos reduzidos; para 47,5%, as datas de
entrega foram postergadas e 20% das empresas do setor não souberam informar como será seu
modelo produtivo depois da pandemia. (SEBRAE, 2020).

4.2. GESTOR

Segundo o dicionário Infopédia, um gestor é o administrador ou gerente de uma


empresa, de um patrimônio ou de uma organização. O conceito não é novo e, segundo Marques
(2020), foi utilizado inicialmente no século XX por Henry Fayol para definir a pessoa que está
apta a interpretar os objetivos traçados pela empresa, atuando com base no planejamento,
organização, liderança e controle e convergindo tais fatores para a obtenção dos objetivos
estipulados. Segundo o mesmo autor atualmente compete ao gestor, entre outras coisas,
determinar as metas e objetivos da organização, organizar e dirigir as atividades das equipes,
controlar e avaliar resultados, prover incrementos aos processos buscando melhorá-los,
gerenciar as possíveis crises e trabalhar na resolução de conflitos promovendo um bom clima
organizacional.
Tal gama de funções é ampla, complexa e difícil de ser alcançada e, para que isso ocorra,
segundo Fraia (2020), o gestor deve colaborar ativamente para a formação de um time altamente
qualificado e organizado, sendo necessário alguém muito preparado para coordenar os
diferentes tipos de situações que podem ocorrer no dia a dia da organização, propondo soluções
e proporcionando um ambiente de trabalho seguro para que a equipe exerça suas tarefas de
maneira efetiva tornando-se o elo entre os colaboradores e a diretoria da empresa, já que “ao
transitar entre esses dois níveis da organização, o gestor tem uma visão muito ampla sobre o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

que funciona ou não em todas as ações praticadas. Durante a instabilidade, o gestor precisa ser
um motivador de funcionários, ter uma alta capacidade crítica e analítica para auxiliar a cúpula
da empresa a rever e adaptar estratégias ao contexto imposto pela crise” (FRAIA, 2020).

4.2.1. O PAPEL DO GESTOR NA CRISE

Um gestor deve rotineiramente nortear suas atitudes e decisões visando evitar o


surgimento de uma crise. No entanto, por diversas razões, frequentemente as crises ocorrem de
forma inesperada e, nesses momentos, compete a ele buscar um olhar novo para o negócio já
que toda crise também pode se transformar numa oportunidade de inovação. Segundo a Escola
de Negócios PUCPR o aprendizado gerado pela crise proporciona que sejam experimentados
novos negócios e serviços e formas de atuação no mercado que poderão ser inclusive mantidos
no pós-crise. Nesse caso, a oportunidade de antecipar o lançamento de determinado produto
pode contribuir com a sociedade nesse momento de crise (ESCOLA DE NEGÓCIOS PUCPR,
2020, p.4).
De acordo com Fraia (2020), durante um período de crise se faz necessário lançar um
olhar mais apurado que permita analisar as falhas existentes e os processos vigentes até então,
bem como permita enxergar quais são os possíveis caminhos e soluções que podem contribuir
para passar pela situação com o mínimo de perdas possível. Cabe ao gestor responsável
observar o ponto de vista de todos os envolvidos no processo, tais como os colaboradores,
acionistas, clientes e comunidade, atentando-se a soluções que agradem seu público e aos
interesses da empresa, a fim de evitar a perda de oportunidades e monotonia diárias, com ideias
inovadoras que beneficiem todo o conjunto de stakeholders ou a maior parte deles.

4.3. GESTOR

Empreender significa realizar ou colocar algo em desenvolvimento e/ou execução.


Segundo Dornelas (2008), empreendedor seria a pessoa que detecta uma oportunidade e age
criando um negócio a fim de capitalizar através do mesmo assumindo riscos calculados. Para o
autor os seguintes aspectos referentes ao empreendedor podem ser destacados: iniciativa para
inovar criando um negócio e o fazer com gosto; utilizar a criatividade e os recursos disponíveis
para transformar o ambiente social e econômico e aceitar assumir riscos calculados sabendo
que a possibilidade de fracasso existe e deve ser evitada.
“Empreender passa a ser uma atitude proativa de pessoas que buscam atender certas
necessidades e atingir o desenvolvimento. O empreendedor não é só aquele que monta seu

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

próprio negócio, ele passa a ser buscado pelas empresas (intraempreendedores) para que possa
melhorar o processo de trabalho” (PINHEIRO; SOUSA, 2015, v. 2, p. 119).
Para Chiavenato (2004), o espírito empreendedor nutre a economia, alavanca recursos,
impulsiona talentos e dinamiza ideias, sendo o responsável por encontrar oportunidades e
aproveitá-las de maneira ágil antes que outros o façam. Esse autor define o empreendedor como
sendo a pessoa que inicia ou gerencia um negócio a fim de realizar uma ideia ou projeto,
assumindo seus riscos, responsabilidades e o inovando continuamente. Esse raciocínio é
corroborado por Drucker (1998) que, apesar de não reconhecer os empreendedores como
agentes de mudança, os enxerga como exploradores das oportunidades criadas por elas, seja na
tecnologia, preferência de consumidores, normas sociais, dentre outros, definindo, então, o
empreendedor como sendo aquele que busca ou percebe a mudança, responde à mesma e a
explora como uma oportunidade.

5. ESTUDO DE CASO

Este estudo de caso relata as dificuldades enfrentadas por uma empresa do setor têxtil
causados pela pandemia gerada pelo Covid-19 e destaca como ela enfrentou os desafios, se
transformou e adaptou em meio ao estado de calamidade pública saindo fortificada e resiliente
ao implantar boas práticas de gestão e medidas inovadoras e empreendedoras para superar a
crise que se abateu sobre o setor.

5.1. EMPRESA KAZZO

O estudo de caso que ilustra este trabalho acadêmico foi conduzido na empresa Kazzo
Confecções que fica localizada no interior de São Paulo e antes da crise gerada pelo Covid-19
atuava prioritariamente na confecção de vestuário em jeans. A empresa foi fundada em 2003
na cidade de Botucatu quando seu atual proprietário adquiriu uma pequena confecção de peças
sociais e resolveu transformá-la numa confecção de peças em jeans, criando assim a empresa
atualmente denominada Kazzo Confecções. Em 2005, ou seja, apenas dois anos mais tarde, a
empresa inaugura uma segunda unidade fabril no município de Macatuba, interior do estado de
São Paulo, agregando valor aos produtos confeccionados através dos processos de lavanderia e
lixamento das peças jeans processadas pela mesma.
Com o passar do tempo, devido aos benefícios oferecidos pelo poder público e
objetivando maximizar seus lucros e reduzir os custos produtivos, a empresa foi paulatinamente
desativando a unidade de Botucatu e concentrando seus processos produtivos na unidade de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Macatuba. Desde então a empresa tem procurado, a cada dia, inovar no lançamento de novos
produtos e se consolidar como referência na confecção de jeans e produtos de moda jovem em
geral oferecendo aos seus clientes as últimas tendências do jeanswear.
Atualmente, além da fábrica de Macatuba, o proprietário também possui outras duas
unidades produtivas localizadas no estado do Paraná e no Paraguai, além de ter inaugurado uma
série de lojas próprias no interior dos estados de São Paulo e Paraná, localizadas nas cidades de
Botucatu, Lençóis Paulista, Macatuba, Bauru, Gaspar e Brusque, além de Fernando de la Mora
– PY, que comercializam apenas produtos de marca própria com as denominações Kazzo
Confecções, Karamba, Nova Jeans e Doct. Apesar da estratégia de diversificar seu canal de
vendas ao abrir lojas próprias, a maior parte do faturamento do grupo ainda é obtido através da
celebração de contratos de fornecimento exclusivo firmados com grandes marcas que atuam no
varejo como: Renner, Marisa, Hering, Amaro, Restoque e C&A. Por causa dessa estratégia de
vendas, foi possível fazer com que toda a sobra de produção ou peças com pequenos defeitos
de manufatura fossem escoadas através das lojas próprias, fazendo com que os prejuízos
gerados pelo excedente dos pedidos de um cliente sejam enviados para a venda nas lojas
próprias e transformado uma mais uma fonte de receita.
A escolha de Gaspar para sediar a fábrica que se transformaria na matriz do grupo Kazzo
Confecções demonstra que seus proprietários possuem uma visão empreendedoras e que
enxerga com facilidade oportunidades que não devem ser desprezadas para consolidar suas
operações e maximizar o lucro e foi fortemente influenciada pelo fato de a cidade oferecer
benefícios fiscais relacionados à importação e exportação de insumos e produtos têxteis. Esta
fábrica apresenta uma pequena produção e trabalha diretamente com corte e costura de malha,
sendo a maior parte da produção distribuída para as lojas do grupo ou para atender alguns
pedidos de clientes lojistas que possuem lojas na região. A fábrica localizada no Paraguai,
conhecida como Karamba, serve como estoque de tecidos fornecidos por terceiros e produz de
acordo com a ficha de uma Ordem de Produção (OP) que é gerada no Brasil. Isso acontece
porque nesta fábrica o último procedimento no local é a costura, após os produtos são enviados
para a Kazzo Macatuba.
Dentre as três unidades produtivas a fábrica de Macatuba é a que mais se destaca pois
está equipada com equipamentos e processos que possibilitam oferecer um alto nível de
complexidade durante a manufatura das peças que possibilitam atender a programação da OP
de diferentes formas para cada tipo de produto devido a variedade de setores. Todas as unidades
produtivas são suportadas e integradas entre si e às lojas próprias ou terceirizadas por um Centro
de distribuição localizado na fábrica de Macatuba.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

5.2. PANDEMIA E OS DESAFIOS ENCONTRADOS

A pandemia gerada pelo Covid-19 no final de 2019 se espalhou rapidamente pelos cinco
continentes e teve seu primeiro caso confirmado no Brasil em fevereiro de 2020. Inicialmente
subestimada tanto pelo pela sociedade como pelo poder público, teve 5.717 casos confirmados
e 201 mortes registradas até o final do mês de março daquele ano. Esse incremento levou o
governo a tomar atitudes mais drásticas para conter o avanço da doença, podendo ser citado,
como exemplo, o Decreto Nº 64.879 de 20 de março de 2020, emitido pelo governo do estado
de São Paulo e que “determinou o estado de calamidade, [...] decorrente da pandemia do
COVID-19, que atinge o Estado de São Paulo, e dispõe sobre medidas adicionais para enfrentá-
lo”. Outra atitude tomada pelo estado de São Paulo foi a publicação do Decreto nº 64.881 de 22
de março de 2020 que “decreta a quarentena no Estado de São Paulo”. Com isso, o comércio
foi fechado durante o horário comercial e as pessoas deveriam sair de casa apenas em casos de
real necessidade. Para atender o decreto, apenas os estabelecimentos considerados como
atividades essenciais poderiam continuar operando, mas com certas restrições de quantidade de
pessoas e horário.
Tais medidas afetaram significativamente a economia e o fluxo de produtos e serviços
e, de forma específica, o setor de moda têxtil. Segundo dados postados no site do SEBRAE
(2020), em pesquisa realizada pela entidade com 62 representantes da cadeia produtiva do setor
de moda, têxtil e de confecção, foi possível constatar que mais de 70% das empresas
consultadas pararam a produção [...] e a maioria das empresas (51,6%) sofreu os efeitos da
pandemia no fechamento da produção”.
Tais medidas impactaram nas vendas dos produtos tanto nas lojas próprias quanto nas
de fornecimentos exclusivo do grupo Kazzo, principalmente nos grandes centros e lojas
localizadas em pontos de grande movimentação, uma vez que as mesmas estavam de portas
fechadas, fato que levou os clientes da Kazzo a tomar alguma das seguintes opções: diminuir a
quantidade dos pedidos já realizados, postergar a entrega dos pedidos e, no pior dos casos,
realizar o cancelamento total dos pedidos com o intuito de diminuir os gastos desnecessários
uma vez que não seria possível concretizar a venda dos produtos nas lojas físicas. Como
consequência disso, a empresa se viu impedida de enviar para as lojas o estoque parado que já
havia sido produzido e, numa medida mais radical, encerrou a linha de produção do que já havia
começado e manteve guardado, até chegar o dia da entrega, mais estoque parado. Já com os
pedidos que houve uma diminuição na grade, gerou um estoque parado ou uma redução no

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

faturamento. Quando essa situação virou realidade, e sem perspectiva de volta à normalidade,
a empresa parou de receber novos pedidos, fato que comprometeu definitivamente seu fluxo de
caixa e, por consequência, a perda da capacidade de arcar com seus compromissos financeiros,
inclusive aqueles que diziam respeito à folha de pagamento de seus colaboradores.

5.3. A GESTÃO E RECURSOS UTILIZADOS

Antes da crise gerada pela pandemia do Covid-19, o grupo Kazzo era uma organização
extremamente sólida e frequentemente elogiada por seus principais clientes devido à qualidade
dos produtos e à confiabilidade com que os pedidos eram atendidos. Seus 497 colaboradores
eram responsáveis pelo atendimento de cerca de 187 pedidos por mês que geravam uma
produção de quase 213 mil peças mensais e proporcionavam um faturamento mensal médio
superior a 7,5 milhões de reais. A pandemia, contudo, alterou significativamente essa situação
e seus reflexos não demoraram a se fazer sentidos. Em abril de 2020 seus pedidos despencarem
de 187 para 54, enquanto a eficiência da produção de 213 mil peças caiu para 60 mil, gerando
assim uma receita de apenas 2,7 milhões por mês, quantia insuficiente para manter seus
colaboradores e honrar os compromissos financeiros assumidos anteriormente.
A eminência da falência e a falta de perspectiva de futuro obrigaram a empresa e seus
colaboradores a tomar uma série de decisões emergenciais a fim de sobreviver em meio à crise.
Num primeiro momento a empresa tentou uma solução tradicional e entrou em contato com
algumas instituições financeiras para verificar a possibilidade de tomar empréstimos com juros
de baixo custo, mas essa tentativa se revelou infrutífera, já que tais instituições possuem
restrições naturais aos riscos exagerados e não enxergavam até aquele momento perspectivas
de melhoria e muito menos o final da crise. Paralelamente a isso, outras negociações foram
realizadas junto aos clientes que postergaram as entregas dos pedidos que já haviam sido
colocados e a outros que diminuíram a grade propondo que eles adiantassem parte do valor dos
pedidos já colocados para ajudar a empresa a se manter e entregar exatamente o que o cliente
estava solicitando. Essa estratégia resultou na adesão de apenas uma pequena parcela dos
clientes, que alegaram que também se encontravam descapitalizados e, apesar de ter fortificado
o relacionamento com os aderentes, não se mostrou suficiente para resolver a crise do fluxo de
caixa que se abateu sobre a organização.
A partir de então a empresa procurou voltar suas ações para as medidas implantadas
pelos governos federal, estadual e municipal para tentar mitigar os efeitos da pandemia e aderiu,
entre outras, à Medida Provisória nº 936, de 1 de abril de 2020, que previa no seu “Art. 3º [...]

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

I - o pagamento de Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda; II - a


redução proporcional de jornada de trabalho e de salários; e III - a suspensão temporária do
contrato de trabalho.” Respaldada por essa medida, de comum acordo com seus colaboradores
e com o objetivo de preservar a continuidade das atividades da empresa, parte dos funcionários
teve sua jornada reduzida em 50% e outros, que faziam parte do grupo de risco, tiveram seus
contratos de trabalho suspensos temporariamente já que, neste caso, o governo arcava com 70%
do salário dos funcionários, cabendo à empresa os outros 30%.
Outra Medida Provisória utilizada pela empresa foi a Nº 927, de 22 de março de 2020,
que permitiu que algumas funções fossem executadas na modalidade remota (teletrabalho) por
alguns funcionários do escritório. Apesar de reduzir os riscos aos colaboradores e os custos dos
processos, essa medida mostrou-se na prática pouco efetiva, já que a empresa não possuía
infraestrutura tecnológica adequada e estava passando por uma troca de sistema que havia sido
iniciada antes do início da pandemia e demorou para ser totalmente implantada justamente
devido às incertezas geradas pela crise.
Outras medidas adotadas durante esse período foram a antecipação das férias e também
de alguns feriados sem a contrapartida, prevista na medida provisória, do pagamento dos
encargos legais e do aviso prévio. Além disso, alguns funcionários ficaram devendo horas no
banco de horas.
A empresa também fez o uso da Circular N° 945, de 28 de abril De 2021, que “Dispõe
sobre a suspensão da exigibilidade do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
- FGTS referente às competências abril, maio, junho e julho de 2021[...]” e que permitiu à
empresa adiar o pagamento do FGTS dos meses de abril a julho.
O uso de tais recursos revelou-se apenas uma solução paliativa cujos efeitos foram
positivos e sentidos no primeiro semestre de 2020, mas não resolveram a situação de forma
definitiva. Por causa disso, outras medidas precisavam ser tomadas e foi nesse momento que a
inovação e o espírito empreendedor de seus proprietários e de alguns colaboradores entrou em
ação.

5.4. A INOVAÇÃO E O EMPREENDEDORISMO COMO SOLUÇÃO PARA


VENCER A CRISE

A adoção das medidas descritas anteriormente, também adotadas por outras empresas
dos diversos setores produtivos, foi determinante para que a empresa pudesse sobreviver no
pior momento da crise, mas se revelou insuficiente para superá-la definitivamente. Foi então

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

que a empresa percebeu que precisava se reinventar e tomou algumas decisões que nunca teria
tomado caso a crise não se abatesse sobre ela. Norteados pela máxima que diz que “toda crise
também é cheia de oportunidades de crescimento” seus gestores recorreram à expertise
adquirida ao longo de sua existência e resolveram lançar novos produtos explorando os nichos
gerados pela pandemia utilizando total ou parcialmente as instalações e os equipamentos
utilizados no processo produtivo de uma confecção de calças.
A primeira oportunidade detectada para gerar receita e sair da crise foi a produção de
álcool 70% em gel, uma vez que a procura por esse produto aumentou exponencialmente de
uma hora para outra devido ao fato de esse produto ter se mostrado extremamente eficiente para
eliminar os micro-organismos que transmitiam a covid-19. Essa solução, criativa, inovadora e
que demandava baixos investimentos, já que a empresa detinha todos os produtos e máquinas
necessárias para a produção, não foi levada adiante devido a algumas restrições e proibições
impostas por parte dos órgãos de fiscalização. Por causa disso esse produto não chegou a ser
oferecido ao mercado e foi produzido apenas para consumo interno.
A frustação oriunda do fato de a primeira ideia não ter se mostrado viável não demoveu
os gestores da empresa da ideia de desenvolver novos produtos. Como consequência disso, em
um segundo momento, a empresa resolveu inovar explorando um nicho criado pelo decreto nº
40.648, que previa o uso obrigatório de máscaras de proteção em locais onde há fluxo constante
de pessoas e que preconiza que o infrator (a pessoa que não estiver usando máscara) será julgado
de acordo com as penalidades presentes na Lei 6.437/77. Resultou desse decreto a decisão de
produzir máscaras de proteção facial cuja demanda se encontra em alta até hoje. Utilizando o
maquinário e a mão de obra já disponível e com baixíssimo investimento, a empresa começou
a produzir máscaras de tecido usando as máquinas de corte e costura e os equipamentos de
lavanderia. O produto revelou-se um sucesso e pouco tempo depois a empresa adquiriu algumas
máquinas especificas para viabilizar a produção de máscaras em TNT e viabilizar o atendimento
da crescente demanda do mercado por esse produto, utilizado não só por parte de hospitais e
farmácias que tem contato diretamente com pessoas e devem utilizá-las obrigatoriamente, mas
também por parte de comerciantes, pequenas empresas, vendedores ambulantes, entre outros.
O sucesso oriundo da fabricação de máscaras de proteção facial teve impactos tão
significativos, tanto no fluxo de caixa da empresa quanto no ambiente corporativo, que a
empresa resolveu inovar também na forma de comercializar seus produtos. Aproveitando o fato
de que as lojas físicas se encontravam fechados por força de lei, a empresa resolveu investir
numa plataforma de comércio eletrônico para expor seus produtos e reforçar sua área de vendas.
A repaginação do seu site proporcionou obter melhorias no departamento de marketing, que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

passou a atingir praças e públicos maiores e resultou num aumento substancial nas vendas de
produtos tanto na loja virtual quanto nas lojas físicas. Atualmente as vendas pelo e-commerce
representam em torno de 10% do faturamento mensal da empresa e sua participação tem
crescido cada vez mais.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo tem como objetivo principal demonstrar que inovar e empreender,
principalmente em momentos de crise, é fundamental para a sobrevivência de uma organização.
O estudo de caso desenvolvido na Kazzo Confecções demonstra que se não fosse a
inovação e o empreendedorismo a empresa não teria sobrevivido à crise gerada pela pandemia
do Covid-19. Apesar de tradicionalmente inovadora no que dizia respeito ao lançamento de
novos produtos na sua área de atuação, no quesito inovação à empresa limitava-se a atender a
moda vigente da estação. Foi necessária uma crise para que seus gestores percebessem que a
inovação e o empreendedorismo devem fazer parte do dia a dia de uma empresa e não devem
se restringir apenas à alta direção ou ao lançamento ou relançamento de produtos.
A empresa soube fazer bom uso das medidas provisórias e decretos gerados pelos
governos durante a pandemia e conseguiu evitar a falência e manter a segurança e a saúde de
seus colaboradores, bem como minimizar suas perdas econômicas durante um certo período de
tempo, mas percebeu que tais medidas não eram suficientes para evitar sua falência e para
retomar suas atividades. Foi a necessidade, gerada pela crise, que a levou realmente a adotar
soluções empreendedoras e inovadoras. Graças a tais ações, a Kazzo conseguiu minimizar os
riscos, sobreviver à crise e posteriormente obter lucros, agora fortificada pela situação que
enfrentou.
Atualmente a empresa, que chegou a contar com apenas 200 funcionários ativos no pior
momento da pandemia, se encontra com 516 colaboradores ativos que são responsáveis pelo
atendimento de cerca de 209 pedidos por mês, gerando uma produção de aproximadamente 240
mil peças mensais que proporciona um faturamento mensal médio superior a 9,6 milhões de
reais. É possível afirmar, portanto, que a medidas deram certo e que a empresa “deu a volta por
cima” e já superou os resultados que alcançava antes do surgimento da crise. O trabalho
demonstra que a adoção de medidas convencionais não são o bastante para superar uma crise
aguda e longa e que inovar e empreender é fundamental para evitar o encerramento das
atividades empresariais.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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março de 2020. Decreta quarentena no Estado de São Paulo, no contexto da pandemia do
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Estado de São Paulo, São Paulo: Imprensa oficial, ano 2020, 22 mar. 2020. Disponível em:
http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao=20200323&Cadern
o=Suplemento&NumeroPagina=1. Acesso em: 1 out. 2021.

ATOS DO PODER EXECUTIVO. Medida Provisória nº 927, de 22 de março de 2020. Dispõe


sobre as medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido
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importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), e dá outras providências.
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ATOS DO PODER EXECUTIVO. Medida Provisória nº 936, de 1 de abril de 2020. Institui o


Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e dispõe sobre medidas
trabalhistas complementares para enfrentamento do estado de calamidade pública reconhecido
pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da emergência de saúde pública de
importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), de que trata a Lei nº 13.979,
de 6 de fevereiro de 2020, e dá outras providências. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, Brasília,
p. 1, 1 abr. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 26

Nanotubos de TiO2: Uma Revisão dos


Mecanismos de Formação, Parâmetros de
Crescimento e Suas Aplicações

Lucas Sevieri Chagas; Thiago Luiz de Almeida Cortiz; João Francisco


Almeida; Katia Franklin Albertin Torres, Anibal de Andrade Mendes
Filho

RESUMO: Os nanotubos de TiO2 são estruturas bastante complexas, e


podem ser obtidos de forma ordenada através da rota de processamento
chamada anodização eletroquímica. Além de ser de baixo custo, essa rota
possui parâmetros de processo que podem ser facilmente controlados de
forma a se obter um controle preciso da formação dos nanotubos de TiO2, o
que permite a obtenção de propriedades desejadas para diversas aplicações.
O fator dominante no crescimento e ordenação dos nanotubos é a migração
iônica assistida por campo elétrico, responsável por gerar uma competição
entre crescimento óxido e dissolução óxida, permitindo que cavidades sejam
prolongadas, levando ao aumento do comprimento dos nanotubos de TiO2.
Esse processo de migração iônica pode ser manipulado por diversos fatores,
como o tipo de eletrólito, a tensão utilizada, a concentração de flúor, o pH e
a temperatura do processo. Além deste, outro fator de controle do processo
de crescimento anódico que tem se mostrado promissor é o tipo de substrato
utilizado. Alterando-se a orientação cristalina, tamanho dos grãos e
composição química do substrato metálico é possível ajustar a morfologia e
as dimensões dos nanotubos. Por meio destes parâmetros, os nanotubos se
tornam mais viáveis para diferentes aplicações, sendo as principais: sua
utilização em células solares para obtenção de maiores rendimentos por um
custo reduzido; utilização em degradação de poluentes orgânicos por meio de
fotocatálise, proporcionando uma solução auto-sustentável para problemas
de poluição; e, implantes ortopédicos, facilitando a recuperação óssea por
meio do recobrimento de implantes com nanotubos que aceleram a deposição
de hidroxiapatita, um composto responsável pelo crescimento ósseo. Esse
capítulo irá apresentar uma revisão sobre a influência dos diferentes
parâmetros de obtenção de nanotubos de TiO2 sobre sua morfologia,
microestrutura e propriedades.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Os nanotubos de dióxido de titânio (NTT) são estruturas tubulares, de escala


nanométrica, que tem ganhado protagonismo entre pesquisadores nas últimas décadas devido
às suas propriedades específicas, que se estendem a diversas áreas de aplicação, como
biomedicina, fotocatálise e geração de fotoeletricidade (CIPRIANO; MILLER; LIU, 2014;
MOR et al., 2006; REGONINI et al., 2013)⁠. Uma das propriedades que desperta grande
interesse é a sua razão área/volume, já que em decorrência de sua morfologia, essa proporciona
uma área superficial específica muito elevada e consequentemente permite uma grande
superfície de contato para deposição de moléculas, sensoriamento ou absorção de luz
(OYĚWÙMÍ et al., 2016)⁠.
Os NTT foram estudados metodicamente pela primeira vez por Zwilling et al., em 1999
(ZWILLING et al., 1999)⁠, obtidos através do processo de anodização eletroquímica. Este
processo consiste em um sistema de dois eletrodos, sendo um ânodo, no caso a amostra de
titânio metálico (Ti) e o outro o cátodo inerte (geralmente platina). Os elétrodos são submersos
em um eletrólito fluoretado e submetidos a uma diferença de potencial, permitindo que uma
série de reações eletroquímicas ocorra. Como resultado dessas reações, ocorre o crescimento
de uma fina camada de óxido de titânio compacta, que pela ação dos íons de flúor irá ser
dissolvida em pequenas regiões, gerando nanoporos e posteriormente, nanotubos altamente
ordenados (ROY; BERGER; SCHMUKI, 2011)⁠.
Com o avanço das pesquisas nessa área, os mecanismos envolvidos na formação dos
nanotubos de TiO2 ficaram muito mais claros, o que permitiu que um maior controle sobre a
síntese dessas nanoestruturas fossem estabelecidos. Com isso abriu-se margem para a obtenção
dos nanotubos de TiO2, com um grande controle de sua morfologia por meio do ajuste de
parâmetros de síntese do processo de oxidação anódica, o quais permitem alterar algumas
características como o diâmetro das bocas dos tubos, a espessura da camada tubular, a espessura
das paredes dos tubos, o comprimento, o grau de ordenamento e seu arranjo atômico, seja
amorfo ou com diferentes fases cristalinas (HU et al., 2020; MOR et al., 2006)⁠. Por meio dessas
alterações, outras propriedades de interesse prático podem ser alteradas, como, por exemplo,
sua área superficial, seu módulo de elasticidade, a dureza, molhabilidade, band-gap e a
condutividade elétrica da camada tubular (REGONINI et al., 2013).⁠
Os principais parâmetros de controle da morfologia dos tubos podem ser distribuídos
em 3 grupos correspondentes as diferentes fases de processo: i) pré anodização (composição
química, tamanho e orientação do grão do substrato); ii) durante a anodização (tensão, tempo,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

eletrólito, pH da solução, distância entre os eletrodos, temperatura da solução e composição do


eletrólito); e, iii) pós anodização (tratamento térmico). Embora os dois últimos sejam bastante
conhecidos, os parâmetros pré anodização são muito pouco explorados e até mesmo,
controversos.
Com isso o objetivo deste capítulo é discutir a influência dos parâmetros de controle
dos tubos na fase de pré-anodização e de anodização, direcionando maior atenção para o
período de pré anodização, abordando os efeitos das diferentes orientações cristalográficas e
microestrutura na morfologia e propriedades dos nanotubos de TiO2; além de apresentar
algumas das aplicações nas área de fotocatálise e biomédica.

METODOLOGIA
A revisão da literatura, aqui apresentada, foi realizada em revistas científicas indexadas
e vinculadas aos bancos de dados do Periódicos Capes, SciELO e Google Acadêmico. A busca
nos bancos de dados usou as seguintes palavras chaves: nanotubos de TiO2, mecanismo de
formação, parâmetros de anodização, efeito do substrato, aplicações. A análise das informações
foi feita por meio da leitura exploratória dos materiais encontrados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Formação dos Nanotubos de TiO2
O meio de obtenção amplamente utilizado para o crescimento altamente ordenado NTT
sobre substratos de Ti é a anodização eletroquímica, que permite um alto grau de controle da
morfologia dos tubos, por meio da alteração dos parâmetros de síntese; trata-se de um processo
simples, de baixo custo e com possibilidade de produção em larga escala (ALI et al., 2018;
INDIRA et al., 2015; OYĚWÙMÍ et al., 2016; REGONINI et al., 2013)⁠. A formação dos NTT
ocorre através do processo de oxidação de um substrato ou filme fino de Ti, que é usado como
ânodo em uma cela eletrolítica, submerso em uma solução eletrolítica na presença de íons de
flúor, geralmente, submetidos a uma tensão constante. O esquema abaixo representa uma cela
eletrolítica na qual ocorre o crescimento anódico dos nanotubos de TiO2.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 1. Representação da cela eletrolítica no crescimento de NTT

Fonte: Autoria própria, 2021.

No ânodo (substrato de Ti) irá ocorrer o crescimento óxido, e como contraeletrodo, usa-
se a platina ou grafite. O processo se inicia com a aplicação de uma diferença de potencial entre
os eletrodos, promovendo a hidrólise da água (reação 1), liberando íons (OH⁻) que interagem
com o substrato de Ti (reações 2 a 5), resultando no crescimento de uma fina camada compacta
de TiO2. Todo o processo de crescimento óxido pode ser resumido pela reação 6 (ROY;
BERGER; SCHMUKI, 2011)⁠. Após formado o espessamento do filme óxido, o flúor inicia o
processo de nucleação de poros no filme compacto de TiO2 em determinadas regiões de
instabilidade (reação 7), dando início a formação dos nanoporos, que posteriormente, devido a
ação do campo elétrico, irão se tornar nanoporos mais ordenados, e por fim, encerrando com a
conversão das estruturas para nanotubos de TiO2 (REGONINI et al., 2013; ROY; BERGER;
SCHMUKI, 2011)⁠.

1. H2O + 2e⁻ → H2↑ + OH⁻ (cátodo)


2. Ti → Ti4+ + 4e⁻ (ânodo)
3. Ti4+ + 4OH⁻ → Ti(OH)4 (ânodo)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

4. Ti4+ + 2O2⁻ → TiO2 (ânodo)


5. Ti(OH)4 →TiO2 + 2H2O (ânodo)
6. Ti + 2H2O → TiO2 + 2H2 (resumo dos processos)
7. TiO2 + 6F⁻ + 4H+ → TiF62⁻ + H2O (ânodo)

Esse processo é geralmente caracterizado por uma curva de densidade de corrente em


função do tempo , dividido em três fases bem características, conforme ilustrado na Figura 1
abaixo:

Figura 2. Curva de anodização típica observada durante a obtenção de NTT

Fonte: Autoria própria, 2021.

A primeira fase (fase I) é marcada pela queda significativa na taxa de densidade de


corrente, o que indica o crescimento e espessamento de uma fina camada de dióxido de titânio,
promovendo o aumento da resistência elétrica, e resultando na redução da mobilidade iônica,
que é o fator chave responsável pela formação e ordenação das nanoestruturas (MINAGAR et
al., 2012)⁠. A segunda fase, fase II, ocorre devido à presença de íons fluoreto, que agem
geralmente em regiões de maior instabilidade dos grãos do óxido, atacando o TiO2, formando
compostos fluoretados solúveis no eletrólito, como o ([TiF6]2⁻) que é o mais estável,
favorecendo pequenos pontos de dissolução no filme óxido. Devido à presença desses pontos
de dissolução há um aumento na taxa de densidade de corrente (fase II), consequentemente,
um aumento da mobilidade iônica, permitindo a formação de uma nova camada de óxido
devido a penetração de íons O2⁻, através do filme, e a reação com o substrato de Ti, o que serve
para tornar a camada óxida mais espessa e com pontos de dissolução mais uniformemente

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

distribuídos (ZHANG et al., 2010)⁠. Quando a terceira fase (fase III) é atingida, observa-se a
constância da densidade de corrente, o que é geralmente atribuída a teoria de Dissolução
Assistida por Campo Elétrico, que propõe taxas iguais de dissolução e oxidação, permitindo
então o constante crescimento dos NTT (REGONINI et al., 2012, 2013)⁠. A figura abaixo ilustra
detalhadamente as condição da amostra de Ti anodizada nas diferentes fases do processo:

Figura 3. Diferentes Estágios da Formação dos NTT

Fonte: Autoria própria, 2021.

Parâmetros Relevantes para Crescimento dos NTT


Alguns parâmetros de síntese podem ser controlados durante o processo de anodização
eletroquímica a fim de se alterar as propriedades dos NTT, como a espessura da matriz tubular
(comprimento dos tubos) , o diâmetro dos tubos, seu grau de ordenamento e sua estrutura
cristalina. Nos tópicos a seguir serão discutidas a influência de alguns parâmetros de síntese
pré-anodização e de anodização na morfologia e propriedades dos nanotubos de TiO2 (MACAK
et al., 2007; REGONINI et al., 2013; TSUCHIYA; SCHMUKI, 2020)⁠.

Composição do Eletrólito
Existem três gerações de eletrólitos empregados no crescimento de nanotubos de TiO2.
A primeira geração é marcada pela utilização de ácido fluorídrico (HF) e outras misturas ácidas,
como ácido fosfórico (H3PO4), ácido nítrico (HNO3) e ácido sulfúrico (H2SO4) em água.
Quando se trata do HF, utiliza-se, por exemplo, de 0,5 a 3,5% em massas desse ácido em
eletrólito aquoso (BAUER; KLEBER; SCHMUKI, 2006)⁠. Entretanto, esses eletrólitos são
muito ácidos (pH próximo a 2), o que promove uma alta taxa de crescimento e de dissolução
óxida, promovendo o crescimento de matrizes com um menor controle, obtendo-se baixos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

comprimentos dos nanotubos (0,5 m), matrizes desordenadas, e com a presença de


rugosidades em suas paredes conectando tubos vizinhos (BERGER et al., 2010)⁠.
A segunda geração de eletrólitos é baseada na composição mais neutra, evitando-se a
utilização de ácidos. Nesse caso são empregados principalmente sais fluorados, como fluoreto
de amônio (NH4F) e fluoreto de sódio (NaF) em meio aquoso, por exemplo, 1M Na2SO4 + 0,3%
a 1% de NaF em água. Essa geração de eletrólito leva ao aumento do pH do meio, logo,
reduzindo a taxa de dissolução óxida, e consequentemente, formando matrizes de nanotubos
melhor ordenadas, com maiores comprimentos (2-4 m), e com uma menor densidade de
rugosidades em suas paredes (CAI et al., 2005)⁠.
Finalmente, a partir da terceira geração, os eletrólitos usados passam a ser orgânicos em
meio neutro (com pHs próximos a 5), com baixíssimas concentrações de água (até 5%) em sais
fluoretados neutros como o fluoreto de amônio (NH4F) e fluoreto de sódio (NaF). Um exemplo
recorrente de solução empregada é o etilenoglicol; com ~ 0,3% de NH4F e 2% em volume de
água. Nanoestruturas obtidos por essa rota tendem a apresentar maiores comprimentos
tubulares (100 m), um alto grau de ordenamento e praticamente não apresentam rugosidades
em suas paredes, sendo perfeitamente lisas. Essas características podem ser explicadas pela
maior viscosidade e menor concentração de íons do eletrólito, permitindo assim uma menor
taxa de dissolução e migração iônica, promovendo um maior controle do processo, o que torna
o crescimento da matriz de nanotubos mais lento, levando a melhor qualidade dos nanotubos
(REGONINI et al., 2009)⁠.
Quando se tratam de meios onde tanto a corrente elétrica, quanto a migração iônica é
muito baixa (comum em eletrólitos da terceira geração), o mecanismo de Fluxo Plástico
Assistido por Campo Elétrico (FPA) é referido como sendo dominante (BERGER et al., 2010;
GARCIA-VERGARA et al., 2006; WEI et al., 2010)⁠. Por meio desse mecanismo, tubos
extremamente ordenados, ausentes de rugosidades residuais e de grande comprimento podem
ser explicados, formados sob longas horas de anodização, pois mesmo que a taxa de dissolução
e formação óxida sejam igualadas, o crescimento óxido prevalece. Seu funcionamento se dá
pelas tensões que ocorrem na interface metal-óxido, nas regiões de base dos poros, devido a: i)
migração de íons de flúor da base dos poros para interface metal-óxido (OZKAN; MAZARE;
SCHMUKI, 2018)⁠; ii) expansão de volume resultante da formação óxida do TiO2 e sua
subsequente dissolução (HUANG et al., 2019). Essas tensões pressionam o óxido contra as
paredes dos tubos, e consequentemente, empurram toda a parede óxida em um ângulo normal
à base do substrato, proporcionando o crescimento vertical dos tubos (BERGER et al., 2009).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Esse mecanismo sozinho não é capaz de justificar o crescimento dos NTT, portanto, acredita-
se que sua associação com a Teoria de dissolução assistida por campo elétrico seja necessária
⁠(GARCIA-VERGARA et al., 2006; HUANG et al., 2019; REGONINI et al., 2013)⁠.

Figura 4. Representação do mecanismo de fluxo plástico assistido por campo elétrico

Fonte: Autoria própria, 2021.

Concentração dos Íons de Flúor


A concentração de íons de flúor no eletrólito deve ser moderada (0,05-1,5% em massa).
Essa concentração varia muito de eletrólito para eletrólito, já que o o flúor é o maior responsável
pelo mecanismo de dissolução da camada compacta óxida, e consequentemente, se maiores
quantidades do íon de flúor forem utilizadas em um meio muito agressivo, haverá aumento
considerável da condutividade do eletrólito, e consequentemente, elevando drasticamente a
curva de densidade de corrente como está retratado na Figura 5, em que a anodização ocorreu
a 20V em 70% de volume de glicerol e 30% de água, variando assim a concentração do NH4F.
Dessa forma, com a elevada condutividade do meio, é possível ocorrer a total dissolução da
camada óxida, expondo a superfície do substrato de Ti. Por outro lado, utilizar quantidades
muito baixas de flúor em eletrólitos muito neutros irá manter a camada óxida compacta de TiO2
praticamente intacta, pois como pode ser notado para a concentração de 0,5% de NH4F
observada na Figura 5, não é possível delimitar a região em que a segunda fase do processo de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

anodização ocorre, que é responsável pela iniciação da nucleação do óxido compacto (BAUER;
KLEBER; SCHMUKI, 2006; LEE et al., 2009; MACAK et al., 2008)⁠.

Figura 5. Curvas de anodização obtidas com diferentes concentrações de íons de F ⁻ no eletrólito

Fonte: Adaptado de Lee et al, 2009.



pH do Eletrólito
Conforme já mencionado, o pH da solução é extremamente importante, pois é
responsável pela condutividade do eletrólito e pela mobilidade iônica (CRAWFORD;
CHAWLA, 2009a)⁠. Ele irá influenciar no processo de dissolução do filme de TiO2, portanto,
nanotubos crescidos em eletrólitos mais ácidos tendem a ter maiores taxas de dissolução,
apresentando uma limitação em seu comprimento. Kang conduziu estudos de obtenção de
nanotubos de TiO2 controlando o valor de pH da solução aquosa de NaF, Na2SO4 e H3PO4
realizando o ajuste de pH a partir do uso de hidróxido de sódio (NaOH). As anodizações foram
realizadas utilizando-se uma tensão de anodização de 20V por 18 h. Foram obtidos de diâmetros
semelhantes para todos os valores de pH, enquanto que o comprimento dos tubos variou de 1
a 3 µm, conforme o pH foi alterado de 1 a 5, demonstrando que a para baixos valores de pH há
uma limitação no comprimento final dos nanotubos (KANG et al., 2008; MACAK;
SCHMUKI, 2006).

Temperatura
Em eletrólitos orgânicos, a temperatura apresenta uma relação proporcional em relação
ao diâmetro dos tubos quando está entre 0 a 40ºC. Já em eletrólitos inorgânicos, a mesma
relação não é observada, sendo que em temperaturas inferiores (~2ºC), o crescimento oxido é
inibido pela redução da movimentação dos íons (MACAK; SCHMUKI, 2006; REGONINI et

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al., 2012, 2013)⁠. Na Figura 6, a anodização é percorrida em etilenoglicol e ácido fluorídrico,


com uma concentração de 0,5% em massa de NH4F, submetidas a uma tensão de 60V por 1 h,
sendo então apresentada a relação do comprimento e diâmetro dos nanotubos em função da
temperatura de síntese, sendo possível observar um aumento considerável tanto no diâmetro
quanto no do comprimento dos nanotubos em função da variação da temperatura de -5ºC a
60ºC. Isso provavelmente ocorre devido a um aumento da viscosidade da solução com o
aumento da temperatura, ou seja, tem-se um efeito semelhante ao de se aumentar o valor de
tensão aplicada ou da concentração de íons flúor, já que conforme D. Wang menciona, é
observado também o aumento da densidade de corrente em função da elevação da temperatura
(WANG et al., 2009a)⁠.

Figura 6. Influência da temperatura de anodização no comprimento e diâmetro dos NTT

Fonte: Adaptado de Wang, 2009.

Tempo de Anodização
Conforme mencionado, o tempo de anodização está associado a taxa de crescimento, e
consequentemente ao mecanismo de dissolução do TiO2. Esse processo de crescimento
eletroquímico pode ser de alguns minutos, em meios mais agressivos (inorgânicos ou com
maiores proporções de água), a várias horas (orgânicos ou com baixa concentração aquosa).
Em geral, maiores valores de comprimentos de matrizes de nanotubos são obtidas, em
eletrólitos orgânicos e aquosos, para maiores tempos de processo de anodização (MACAK;
SCHMUKI, 2006; WANG et al., 2009a)⁠. Por exemplo, de acordo com a Figura 7, é apresentado
o comprimento e o diâmetro dos nanotubos em função do tempo de processo, obtido a partir da
síntese realizada em solução de etileno glicol, 1% em volume de ácido fluorídrico e 0,5% de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

NH4F com tensão de 60V. Nota-se que a taxa máxima de crescimento do comprimento e
diâmetro dos tubos ocorre após passadas 5-10 h. Entretanto, existe um limite a partir do qual o
valor do diâmetro dos tubos passa a reduzir devido, provavelmente, a uma intensa dissolução
do topo dos nanotubos, e consequentemente, das paredes dos mesmos, o que pode levar ao seu
colapso, gerando estruturas cuneiformes formando uma espécie de nanocone (MACAK et al.,
2008; WANG et al., 2009a, 2009b)⁠. É interessante mencionar que nanotubos extremamente
compridos e ordenados, de 1000 µm foram obtidos em solução de glicerol contendo NH4F e
H2O, a 60V durante 16 h de anodização, o que se deve provavelmente à baixíssima taxa de
dissolução associada ao mecanismo de FPA (PAULOSE et al., 2007).
Figura 7. Influência do tempo de anodização no comprimento e diâmetro dos NTT

Fonte: Adaptado de Daoai Wang, 2009.

Potencial de Anodização
A anodização geralmente acontece em condições de tensão constante, e comumente se
observa uma relação linear entre a tensão aplicado e os valores de diâmetro e comprimentodos
nanotubos até potenciais de 50-60V. A partir desse valor, uma relação inversa pode ser
observada (REGONINI et al., 2009)⁠. Essa correlação ocorre pelo efeito da dissolução assistida
por campo elétrico, que irá impulsionar a migração iônica em campos elétricos mais fortes,
levando a maiores taxas de dissolução e crescimento óxido. Devido a variação da taxa de
dissolução e formação óxida, esse comportamento linear ocorre para um potencial aplicado
que varia de 5 a 30V em eletrólitos aquosos, e de 10 a 60V em eletrólitos orgânicos. Valores
de tensões superiores a 60V além de promover o colapso dos tubos devido a dissolução
exagerada do topo e das paredes, também não apresentam um comportamento tão bem definido
de padrão de diâmetro em função da tensão, como pode ser verificado na Figura 8, sendo duas
condições analisadas, o meio aquoso (a), composto por 1M de H3PO4, em 0,3% em massa de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

HF submetidos proporcionando um crescimento menor para os tubos, e (b), em meio orgânico,


contendo 0,5% de NH4F em 4 mL de água em etilenoglicol, propiciando a ocorrência do
mecanismo de fluxo assistido e subsequente aumento do comprimento dos tubos (BAUER;
KLEBER; SCHMUKI, 2006; MACAK et al., 2007, 2008; REGONINI et al., 2012)⁠.
Figura 8. Influência da tensão no crescimento dos NTT em meio aquoso: (a) e orgânico (b)
a) b)

Fonte: Adaptado de a) Bauer et al, 2006 e b) Alsammarraei et al, 2014.

Concentração de Água
A água é essencial em praticamente qualquer rota de formação de nanotubos de TiO2
por meio de anodização, possuindo dois papeis fundamentais: i) doação de íons O2⁻ para a
formação do dióxido de titânio, (reações 1,4 e 7; citadas acima, no tópico Formação dos NTT)
(REGONINI et al., 2013)⁠; ii) Conversão de poros para tubos, pela dissolução uma fina camada
interfacial de [TiF6]2-, que se aglutina entre as paredes de diferentes nanoporos de TiO2,
geralmente pelo mecanismo de FPA (AÏNOUCHE et al., 2014; BERGER et al., 2011;
TSUCHIYA; SCHMUKI, 2020)⁠. Além disso, Macak et al, em 2008 verificou que reduzindo a
concentração de água em eletrólito orgânico, ocorre também a redução da curva de densidade
de corrente, e consequente, diminuição do diâmetro dos tubos. Portanto, em rotas orgânicas
com concentrações de água muito reduzidas, apenas a formação de nanoporos de TiO2 mal
definidos podem ser observados (BERGER et al., 2010; MACAK et al., 2008; SOPHA et al.,
2016)⁠. Como já mencionado, podem existir eletrólitos compostos prioritariamente por água,
outros por soluções orgânicas e outros em condições mistas, logo, a concentração de água pode
variar muito a depender de outros parâmetros, principalmente aqueles que possuem forte
influência na taxa de mobilidade iônica e condutividade (MACAK et al., 2008).⁠

Efeito da Orientação do Grão do Substrato

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O efeito da orientação e tamanho do grão do substrato de Ti na morfologia dos


nanotubos de TiO2 ainda não foi muito abordado, entretanto, alguns estudos já foram realizados
e deixaram teorias bastante interessantes que se encaixam com outras propostas já estabelecidas
(CRAWFORD; CHAWLA, 2009b; LEONARDI et al., 2015; SOPHA et al., 2018)⁠⁠. De forma
a compreender a influência do substrato na morfologia dos nanotubos, é interessante, realizar
um estudo comparativo do efeito do substrato de Ti em relação a camada compacta de TiO2,
totalmente isenta da presença de porosidades, que é naturalmente uma fase predecessora a
camada nanotubular.
Em um filme passivo de TiO2, a condutividade elétrica e a concentração de portadores
são dependentes da orientação cristalográfica dos grãos do substrato, e portanto, a taxa de
transferência de elétrons e taxa de transferência de íons apresentam variações de grão para grão
(CRAWFORD; CHAWLA, 2009b). Naturalmente, a transferência iônica é responsável pelo
crescimento da camada de filme fino de óxido, enquanto a transferência de elétrons será
responsável pela evolução do oxigênio (formação de gás O2)(LEONARDI et al., 2015)⁠. Logo,
é possível notar que tanto a taxa de transferência iônica, responsável pela reação de crescimento
óxido (oxidação do Ti), quanto a taxa de transferência de elétrons, responsável pela evolução
do O2, requererão íons de oxigênio, o que torna ambos os processos competitivos entre si
(LEONARDI et al., 2012, 2015; TSUCHIYA; SCHMUKI, 2020)⁠.
Em um substrato de Ti com grãos de orientação (001), existe uma concentração
significativa de doadores, com isso a evolução de oxigênio é muito grande, promovendo a
formação de filmes cristalinos finos, de maior condutividade elétrica do óxido de titânio.
Entretanto, em substratos de Ti com grão com planos cristalográficos de orientação Ti(hk0) e
desordenados, a predominância é de formação óxida, o que leva portanto a formação de filmes
óxidos mais espessos com predominância da fase amorfa (CRAWFORD; CHAWLA, 2009a;
LEONARDI et al., 2012; TSUCHIYA; SCHMUKI, 2020).
De acordo com alguns estudos, o mesmo comportamento é observado no caso de
matrizes de nanotubos de TiO2, obtidas pela técnica de oxidação anódica na presença de flúor.
Leonardi et al; observou que utilizando um eletrólito constituído de 1 M de (NH4)H2PO3 e
0,5% de NH4F, e tensão de anodização de 20V por 1 h, a partir de substrato de Ti com grãos
de orientação Ti(hk0) observa-se a formação nanotubos ordenados amorfos parcialmente
recobertos por uma camada espessa e amorfa de nanoporos de TiO2, comumente observados
em nanotubos obtidos em eletrólitos orgânicos em consequência da baixa taxa de dissolução
proveniente da solução (LEONARDI et al., 2012; MARQUES et al., 2019)⁠⁠. Entretanto, para
substratos de Ti com grãos de orientação basal Ti(001), observou-se uma fina e compacta

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

camada de TiO2, composta por ambas as fases anatase e rutilo nanocristalino, com um alto grau
de desordem. Portanto, acredita-se que a alta concentração de doadores de elétrons presentes
na orientação Ti(001) provavelmente são responsáveis pela ausência de íons O2- para
crescimento óxido (CRAWFORD; CHAWLA, 2009b; LEONARDI et al., 2015; TSUCHIYA;
SCHMUKI, 2020)⁠.
Conforme, já mencionado, o processo de dissolução química por fluoreto apresenta
preferências de ataque em nanotubos crescidos sobre certas orientações cristalográficas, sendo
que em regiões próximas à orientação basal - Ti(001), existe uma taxa mínima ou praticamente
nenhum crescimento de nanotubo ordenado ou vestígio de porosidade; e sobre substrato de Ti
com grãos de orientação próximos ao Ti(111), obtém-se estruturas mais espessas e melhor
ordenadas (LEONARDI et al., 2012)⁠. De acordo com Leonardi, pode-se observar que para os
respectivos planos cristalográficos: Ti(017), Ti(134), Ti(115), Ti(-160), Ti(-151) e Ti(111),
tem-se as seguintes comprimento dos tubos: 175nm, 290nm, 330nm, 650nm, 920nm e 1750nm,
consecutivamente. É importante ressaltar, que quanto mais próxima da orientação do grão
(111), maiores diâmetros são verificados, seguidos de uma menor espessura da camada
compacta de TiO2 sobre a estrutura nanotubular, tornando-se totalmente ausente em nanotubos
crescidos sobre substrato de orientação (111)(CRAWFORD; CHAWLA, 2009b; LEONARDI
et al., 2012, 2015)⁠⁠. Além disso, Lee et al, observou que sobre grãos cuja orientação é muito
próxima à basal, nota-se a presença da fase anatase ou uma mistura de anatase e rutilo (LEE et
al., 2009).
Por fim, é possível se obter uma relação ainda mais interessante entre as dimensões dos
nanotubos crescidos sobre diferentes grãos e a orientação dos mesmos. Essa relação se dá pela
densidade atômica planar dos grãos, que indica a quantidade de átomos presentes na superfície
do substrato, revelando que para densidades maiores, tem-se menores taxas de crescimento do
filme óxido. Essa relação é novamente condizente com a proposta de competição entre taxa de
transferência iônica e a taxa de transferência de elétrons, uma vez que o plano Ti(001) é o mais
denso, possuindo ao menos o dobro da densidade de um plano Ti(hk0), e consequentemente,
sendo responsável também por uma maior concentração de doadores de elétrons
(CRAWFORD; CHAWLA, 2009c; DAVEPON et al., 2003; KONIG; DAVEPON, 2001;
SCHULTZE; LOHRENGEL, 2000)⁠. Essa relação pode ser claramente observada na Figura 9
abaixo, relacionando orientação cristalográfica, densidade superficial atômica e comprimento
dos NTT:

Figura 9. Correlação entre comprimento tubular, orientação cristalina e densidade planar

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Adaptado de Leonardi, 2015.

Além disso, outro fator que corrobora nessa conclusão é a concentração de defeitos no
grão de Ti, que é reduzida em estruturas cristalinas, que ocorrem em orientações próximas à
basal e aumentadas em estruturas amorfas, consequentemente levando a uma redução na
densidade atômica superficial e portanto, aumentando a taxa de migração iônica que leva ao
crescimento óxido (KONIG; DAVEPON, 2001; LEONARDI et al., 2012, 2015).⁠
Como a orientação (001) do titânio possui uma maior densidade atômica, isso resulta
no crescimento de um óxido com uma maior condutividade, implicando na maior quantidade
de elétrons livres, e com isso o campo elétrico sobre o óxido é de baixa intensidade,
desfavorecendo a ocorrência de pontos de dissolução, e consequentemente, implicando no não
crescimento subsequente dos nanotubos. A densidade de doadores está associada a densidade
atômica, logo, em planos com uma menor densidade atômica, haverá o crescimento de uma
camada de óxido amorfo, havendo sobre esse óxido a presença de um campo elétrico
significativo, favorecendo a formação de pontos de dissolução e o consequente crescimento da
matriz de nanotubos (LEONARDI et al., 2012; TSUCHIYA; SCHMUKI, 2020)⁠. Com isso, é
possível concluir que, a intensidade do campo está associada à condutividade da camada de
óxido, e portanto está associada à densidade atômica, promovendo uma relação de
espessamento dos NTT em função da densidade atômica.
Em contrapartida às conclusões mencionadas, Macak et al; sintetizou nanotubos
ordenados crescidos sobre substrato de Ti(001), utilizando eletrólito envelhecido de
etilenoglicol, NH4F e H2O, a 60V, o que contrapõe em parte os resultados obtidos por Leonardi,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

demonstrando que as condições de anodização podem se sobrepor ao efeito da orientação do


substrato (LEONARDI et al., 2012, 2015; MACAK et al., 2016; SOPHA et al., 2016)⁠. Existem
alguns pontos interessantes que podem justificar os resultados contraintuitivos obtidos por
Macak et al, sendo os 3 seguintes fatores: i) devido a escolha de utilização de um eletrólito
orgânico envelhecido, a concentração de íons (F⁻, Ti4+ e O2⁻) na solução é aumentada,
resultando na amplificação da condutividade elétrica e movimentação iônica ;(SOPHA et al.,
2015)⁠ ii) a tensão utilizada de 60V é mais comum quando aplicada em eletrólitos orgânicos,
pois sua maior viscosidade impede uma rápida migração iônica, ao contrário da tensão usada
por Leonardi, de 20V, que seria a mais comum quando aplicada a eletrólitos inorgânicos,
conforme foi feito (REGONINI et al., 2012)⁠; e iii) planos basais de Ti apresentaram uma menor
densidade de corrente (CRAWFORD; CHAWLA, 2009b)⁠; portanto, somado aos fatores
anteriores, esse fenômeno pode ter retardado drasticamente ao ponto de não permitir o
crescimento efetivo do óxido quando submetidos a menores tensões, portanto, novos estudos
dispondo de anodizações em tempos ou tensões superiores devem ser realizadas para elucidação
deste fenômeno, o que poderia servir para tornar o mecanismo de FPA ainda mais acentuado
para maiores potenciais, permitindo assim a formação de matrizes tubulares em orientações
basais.

Efeito do Tamanho do Grão do Substrato de Ti


Outro parâmetro intrínseco que tem se mostrado promissor na manipulação da
morfologia e propriedades dos NTT é por meio do estudo do efeito do tamanho de grão do
substrato nos nanotubos de TiO2. Para alterar o tamanho dos grãos, várias rotas podem ser
utilizadas, por meio de tratamentos mecânicos de deformação plástica, a fim de refinar-se o
grão; ou tratamentos térmicos, para aumentar o tamanho do grão.
Naturalmente, com o refinamento do grão, a concentração de defeitos cristalinos, tais
como discordâncias e vacâncias é elevado, facilitando o processo de difusibilidade atômica e
eletrônica, sendo por isso interessante para aplicações fotovoltaicas. Como o refinamento dos
grãos gera um aumento das microtensões superficiais, disponibilizando maior energia livre
sobre a superfície do substrato. Assim, o processo de nucleação é facilitado, fazendo com que
o crescimento óxido seja favorecido, o que torna-se ainda mais relevante com a maior
mobilidade iônica permitida aos íons F⁻ e O2⁻ devido a disposição de falhas cristalinas, tornando
possível o crescimento óxido de nanotubos de comprimentos maiores. Embora ocorra um
aumento da condutividade e densidade de corrente em decorrência do refinamento do grão,
nenhuma alteração no diâmetro dos tubos foi verificada (Hu et al., 2016). Conforme relatado

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

por Hu et al, o refinamento dos grãos levou a uma melhor adesão do substrato de Ti à camada
nanotubular, sendo este efeito provavelmente atribuído ao aumento da superfície de contato que
ocorrem nas regiões de limites de grãos, que são muito mais numerosas em grãos
nanocristalinos (HU et al., 2020)⁠.
Atualmente, os principais registros na literatura dos efeitos do tamanho do grão na
morfologia dos NTT ocorrem por meio de tratamento de atrito mecânico superficial e torção
sob alta pressão (HU et al., 2020; HU; GAO; STARINK, 2016)⁠⁠, realizando anodização em duas
etapas sobre o substrato refinado. O processo de anodização em duas etapas possui como
principal vantagem a capacidade de remover efeitos externos provenientes da superfície do
substrato, como rugosidade, resultando em superfícies mais regulares, permitindo o
crescimento de nanotubos melhor ordenadas, com elevado comprimento e adesão ao substrato,
comparadas a matrizes crescidas pelo processo de anodização em apenas uma etapa. Portanto,
essa rota de anodização é interessante ao se examinar o efeito de diferentes grãos, por permitir
condições ideais. Com a aplicação de diferentes pressões sob torsão nos grãos, verifica-se o
extremo refino dos grãos, que possui uma taxa que reduz à medida que o grão torna-se menor.
Os principais efeitos verificados com o refino do grão é o aumento da concentração de limites
de grão e microtensões superficiais, que são regiões promissoras ao crescimento óxido por
fornecer, respectivamente, maior disposição de sítios instáveis para início das nucleações e
energia livre para o crescimento óxido (REGONINI et al., 2013; ROY; BERGER; SCHMUKI,
2011)⁠. Além desses, o efeito do tratamento térmico a 1000ºC por 24 h para aumento do tamanho
do grão do Ti e redução da quantidade imperfeições e defeitos cristalinos também foi testado,
obtendo resultados semelhantes aos já mencionados, como a menor taxa de crescimento óxido
sem alteração do diâmetro dos tubos (FERREIRA et al., 2013)⁠.
Existem ainda controversas a respeito da aceleração do crescimento óxido em substratos
de tamanho de grão refinado conforme verificado por Sopha et al., que obteve matrizes
tubulares idênticas quando submeteu diferentes amostras com tamanhos de grãos muito
distintos (100 nm a 25 m) às exatas mesmas condições. Esse resultado é inesperado tomando
em conta que grãos de Ti menores deveriam tender a formação de tubos maiores, e, embora o
estudo tenha sido realizado em uma única anodização, impossibilitando a redução de efeitos
residuais da morfologia do substrato, ainda não é possível afirmar que o tamanho do grão possui
papel definitivo no crescimento dos nanotubos, carecendo portanto de maiores estudos
(SOPHA et al., 2016, 2018)⁠.
Como já foram citados os mais relevantes meios de parâmetros de controle da
morfologia dos nanotubos de TiO2, o presente trabalho irá abranger algumas das principais

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aplicações dessas nanoestruturas, sendo elas as aplicações em implantes ortopédicos, a


degradação de poluentes orgânicos e em células solares sensibilizadas por corantes.

Aplicações Biomédicas
Existem diversas aplicações no setor biomédico para os NTT, principalmente no
recobrimento de implantes ortopédicos de ligas de Ti. A grande área superficial dos NTT
possibilita melhor adesão do implante ao osso e acelerada recuperação óssea (osseointegração),
comparada a metais que não possuem recobrimento (FU; MO, 2018; KANG et al., 2015). As
principais vantagens de usar camadas espessas de nanotubos de TiO2 para implantes médicos é
a sua grande área superficial, que possibilita a deposição de hidroxiapatita (HAP). Essa é a
responsável pelo tráfico de compostos celulares e células, consequentemente, promovendo o
crescimento de células osteoblásticas e ajudando na recuperação óssea (MELLO et al., 2017)⁠.
Além disso, outra propriedade importante dos nanotubos de TiO2 é a alta resistência ao
desgaste, o que previne que resíduos sejam lançados dentro do corpo biológico (LI et al., 2019).
Alguns parâmetros são recorrentes tratando-se da morfologia de tubos ideais para essa
aplicação, que seriam diâmetro de boca entre 70 a 100 nm, não sendo requeridos nanotubos
extremamente ordenados, sendo citadas inclusive estruturas colapsadas como promotoras à
osseointegração, módulos elásticos de 10 a 30 GPa; alta capacidade hidrofílica (geralmente
encontrada em estruturas menos ordenadas e mais rugosas) e com cristalinidade de anatase
(ALI et al., 2018; HU et al., 2020; WANG et al., 2020)⁠. A principal liga utilizada para essa
aplicação é o Ti-6Al-4V, que possui suas propriedades melhoradas após crescimento anódico,
entretanto, por ser uma liga de maior toxicidade, tem-se cogitado outra liga substituta, sendo a
a principal, a de TNTZ (Ti-Nb-Ta-Zr, com diferentes composições (SAJI; CHOE;
BRANTLEY, 2009)⁠, que possui menor toxicidade, entretanto, suas propriedades mecânicas não
são tão favoráveis, sendo necessário o crescimento de nanotubos sobre a liga e posterior
tratamento térmico em temperaturas elevadas para formação de anatase (BOCCHETTA et al.,
2021; NIINOMI; BOEHLERT, 2015; SWAIN et al., 2021).⁠

Degradação de Poluentes Orgânicos

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Em relação às aplicações fotocatalíticas, os NTT possuem duas características


importantes: i) grande estabilidade a fotocorrosão; e ii) seu band gap específico, que garante
sua aplicação para degradação de poluentes orgânicos por fotocatálise, convertendo compostos
tóxicos (como pesticidas aromáticos) em H2O e CO2 (LIU et al., 2012; PARAMASIVAM et
al., 2012)⁠⁠. O mecanismo regente deste processo é o de fotocatálise heterogênea, em que um
fóton de determinada carga excita o elétron da banda de valência para a banda de condução,
gerando um “buraco” na banda de valência, que representa a ausência do elétron, e
consequentemente, irá possuir grande poder oxidante . Após esse processo, tanto o elétron
quanto o buraco, gerados, são difundidos através da camada de nanotubos de TiO2, até que
atinjam a interface óxido/eletrólito, onde ambos irão reagir com suas devidas espécies redóx
(H2O), formando O2⁻ e OH⁻, compostos com capacidade de reduzir praticamente qualquer
poluente orgânico (KUO, 2009)⁠. O efeito da degradação de biocompostos por irradiação pode
ser observado no Figura 9 abaixo, em que sob a irradiação de luz, nota-se a redução da
concentração de alaranjado de metila através do tempo, observando-se que a taxa de degradação
de compostos orgânicos é maior para os nanotubos de TiO2 e os nanotubos recobertos com

prata, comparados a nanopartículas e TiO2 compacto (LIU et al., 2012; MACAK et al., 2007)⁠.
A função do recobrimento dos nanotubos será mencionada no tópico a seguir.

Fig 9. Efeito da decomposição do alaranjado de metila pela ação fotocatalítica de diferentes materiais

Fonte: Adaptado de Macak, 2007.

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Aplicação em Células Solares Sensibilizadas por Corante


Uma das mais promissoras aplicações para os NTT ocorre na área de células solares. O
mecanismo fundamental, envolvido no funcionamento das células baseadas em TiO2, é
semelhante ao que ocorre no processo de degradação de compostos orgânicos, envolvendo a
ação do par elétron-buraco. Entretanto, os NTT possuem um bandgap muito alto (~3,2 eV),
requerendo então fótons mais mais energéticos que se encontram dentro da região UV, que
representam uma parcela muito baixa do espectro de emissão solar se comparado a luz visível.
Devido a esse fator, faz se o uso de corantes para recobrir os nanotubos, promovendo uma
redução de seu bandgap, favorecendo a absorção de luz na faixa do visível para que ocorra a
geração do par elétron- buraco (ROY; BERGER; SCHMUKI, 2011).⁠
A excitação do elétron se dará a partir de sua injeção da banda de valência do corante
para a banda de condução do TiO2, com isso ocorre a liberação do buraco, com capacidade de
anulação do elétron livre caso ambos se encontrem. O elétron liberado flui através do circuito,
com potencial para gerar eletricidade, entretanto, elevando-se em muito a concentração de
elétrons e buracos, além de aumentar-se o potencial de geração de eletricidade, aumenta-se
também o processo de recombinação de cargas reduzindo o rendimento de conversão de
fotoeletricidade (BANDARA et al., 2011; HOU; AITOLA; LUND, 2020)⁠.
Algumas condições tendem a ser favoráveis para a obtenção de maiores rendimentos
de fotoconversão, sendo as principais delas a disposição de nanotubos bem definidos,
ordenados, longos, cristalinos e com menor diâmetro (~30 nm), já que estes não apresentarão
muitos contornos de grão, como o que é observado em nanopartículas, que funcionam como
armadilhas para os portadores de carga, facilitando o aprisionamento dos mesmos e
consequentemente, favorecendo a recombinação elétron-buraco(WANG; LIN, 2012)⁠j. Outro
meio de reduzir a recombinação das cargas é a utilização de certos íons dispostos na composição
da matriz tubular, como o Nb, que pode ser utilizado por meio da anodização de uma liga com
determinada composição do mesmo, promovendo o crescimento de nanotubos compostos
majoritariamente por TiO2 e pontos de Nb2O5 (OZKAN; MAZARE; SCHMUKI, 2015; YANG
et al., 2011)⁠.

CONCLUSÃO
Em suma, é visível que os nanotubos de TiO2 são muito promissores, podendo ser
aplicados em diversos setores industriais; sendo que até o momento, seu meio de produção mais
notável é a anodização eletroquímica. Esta rota de obtenção possibilita uma ampla gama de
morfologias e propriedades a serem alcançadas dependendo aplicação desejada. Embora grande

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parte dos mecanismos que regem o crescimento e ordenação da camada nanotubular já tenham
sido esclarecidos, a literatura carece de estudos a respeito do efeito do substrato de Ti e de
anodizações em condições não convencionais. Pelo pouco que se tem relato, mostrou-se um
caminho bastante promissor para formação de nanotubos altamente ordenados em menores
tempos de anodização quando se utilizam substratos com composições químicas e
microestruturas mais complexas, o que é benéfico economicamente e ecologicamente.

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CAPÍTULO 27

DESENVOLVIMENTO DE PROTÓTIPO DE CÁPSULAS


POROSAS PARA USO NA AGRICULTURA IRRIGADA

Jônatas de Oliveira Sousa, Carlos Henrique Valente de Barros Medeiro,


Daniel Fonseca de Carvalho, Belmira Benedita de Lima-Kuhn e Antonio
Renato Bigansolli

RESUMO: Os materiais cerâmicos são compostos por matérias-primas inorgânicas

que o estado de pó, que após conformação e sinterização torna objetos sólidos com

diversas aplicações e utilidades. O presente trabalho teve como objetivo preparar os

corpos de prova de cápsulas tensiométricas utilizadas em diversas áreas com o

intuído de se estabelecer padrões viáveis de monitoramento da umidade do solo.

Foram confeccionados 8 corpos de prova que continham apenas argila. Os corpos de

prova foram separados em 2 grupos para queima em 700°C e 900°C

respectivamente. As amostras foram secas em uma estufa aos 110ºC, e submetidas

à queima em 700ºC. Foi feita a análise da porosidade aparente e absorção de água,

massa especifica aparente e análise em microscopia ótica. Os resultados

evidenciaram que as amostras sinterizadas aos 900°C formaram uma maior

quantidade de poros e maior massa específica aparente depois da sinterização

indicando uma possibilidade de uso para pesquisas posteriores.

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INTRODUÇÃO

Os produtos cerâmicos apresentam uma vasta aplicabilidade, desde um produto


simples de fácil acesso na construção civil, até as mais complexas aplicações na indústria
nuclear, de eletrônicos e biomateriais. Das diversas aplicações dos materiais cerâmicos, a
maior produção no Brasil é destinada a construção civil (SMITH, HASHEMI, 2012).
Em geral, a produção de cerâmica brasileira tem grande importância para a economia
do país na geração de renda e de empregos, com valores próximos a R$ 18 bilhões anuais. A
principal matéria-prima utilizada na produção de cerâmicas é a argila, que é um material
natural e em geral é formada por silicatos hidratados, ferro, magnésio e alumínio. A argila
utilizada na indústria tem uma granulometria fina, adquirindo plasticidade quando adicionado
água (SANTOS, 1989).
Na classificação e análise das argilas para produção industrial, algumas
características são necessárias, como apresentar distribuição granulométrica uniforme e uma
combinação compatível de materiais de diferentes plasticidades. Contudo, a localização de
extração e formação geológica são fatores importantes na caracterização da argila que são
constituídas em geral por materiais muito heterogêneos (FUJIKI, 2001).
Para análise das características dos materiais cerâmicos, alguns ensaios como
difração de raios X, distribuição granulométrica, porosidade e microscopia de luz polarizada
dentre outros são essenciais. Nota-se que quando feitas as caracterizações dos materiais, é
possível identificas as propriedades do material em si e destina-lo a sua melhor aplicação na
indústria e na pesquisa (DAVIES, 2001).
Os materiais cerâmicos são compostos por matérias-primas inorgânicas que o estado
de pó, que após conformação e sinterização torna objetos sólidos com diversas aplicações e
utilidades Os produtos cerâmicos apresentam uma vasta aplicabilidade, desde um produto
simples de fácil acesso na construção civil, como as mais complexas aplicações na indústria
nuclear, de eletrônicos e até em biomateriais. Das diversas aplicações dos materiais
cerâmicos, a maior produção no Brasil, é destinada a construção civil (SMITH, HASHEMI,
2012).
Ao longo da historia, peças feitas de cerâmicas e de metais eram confeccionadas a
partir de pós. Contudo, apenas no século passado que a tecnologia do pó ganhou destaque na
rotina industrial. Montadoras de carros automotivos estão buscando peças obtidas a partir da
tecnologia do pó em seus motores. Isso evidencia o zelo e a busca pela eficiência dos motores

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e a preocupação com o meio ambiente visto que tais condições reduzem a emissão dos
automóveis (FUJIKI, 2001).
Na atualidade a tecnologia do pó se tornou imprescindível não apenas pelo processo
de obtenção de novos materiais, também pelo seu caráter econômico tanto em questões de
matéria prima como também pela conservação de energia.

A tecnologia do pó tem desempenhado um papel de importância crescente na tecnologia


moderna. Isto se deve tanto ao seu potencial de conservação de energia e de matéria, quanto
à sua capacidade de produzir materiais que, de outro modo, seriam processados a um custo
maior e ou com qualidade inferior (DAVIES, 2001).

A análise do tamanho de partícula, assim com o conhecimento da distribuição


granulométrica, é fundamental para os processamentos que utilizam sistemas de materiais
particulados. JILLAVENKATESA et al (2001), classificam a distribuição do tamanho como
uma etapa crítica em todos os processos que de alguma forma façam uso de materiais sob a
forma de pó e afirma que a partícula influencia diretamente em várias etapas do processo de
produção
A chamada agricultura irrigada passou por longas etapas de desenvolvimento e foi se
adaptando a diferentes nichos ambientais. Ela faz parte de um conjunto de tecnologias que
contribuem efetivamente para suprir as necessidades alimentícias do planeta. O Brasil é um
dos únicos países no mundo que consegue aumentar a sua produtividade alimentícia a níveis
sustentáveis, contudo, já apresenta limitações para esse crescimento em diversas áreas em
potencial no país (WENDT et al., 2015).
A agricultura é a atividade humana que mais consome água. Ela sozinha faz uso de
70% da água utilizada nas atividades humanas. É importante lembrar que mesmo com esse
consumo elevado de água parra a agricultura irrigada, é uma forma comum e eficiente de
produzir alimentos (MEDICI et al, 2010).
Dessa forma, as técnicas de irrigação devem ser vistas como um pratica importante
para o uso consciente da água, reduzindo o desperdício e otimizando a produção. Essa
conservação dos contribui para a sustentabilidade do meio ambiente e dos meios produtivos
minimizando os danos caudados. Segundo PAZ et al, (2000), o manejo adequado dos
sistemas de irrigação conduz a ótimos resultados na produção agrícola.
O uso de novas tecnologias na agricultura é capaz de melhorar a eficiência da
irrigação. Não obstante, apesar de inúmeros delas disponíveis e acessíveis, a grande maioria
dos produtores ainda irriga de forma inapropriada. Um dos fatores que mais embarram a
adoção dessas tais tecnologias no ponto de vista dos agricultores esta ligado diretamente ao

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custo de obtenção, manuseio complicado e, sobretudo a insatisfação quantos aos resultados


que geram um baixo retorno financeiro (MAROUELLI, 2003).
No Brasil, a prática de irrigação é feita de forma generalizada sem manejo adequado.
Os profissionais da área entendem a necessidade da aplicação de critérios racionais na
irrigação, otimizando a quantidade e o tempo de fornecimento de água. (ABCERAM, 2021).
Para se verificar a efetividade das atividades de irrigação, tem sido recomendado o
acompanhamento do nível de umidade do solo na área de ação das raízes. Essa análise pode
ser feita a partir de medidas de tensão da água retida no solo. Com esses dados é possível se
estabelecer se o solo está com concentração de água adequada ou se é necessário iniciar um
ciclo de irrigação ou cessar o fornecimento de água. O tensiômetro é uma ferramenta que de
forma pratica pode suprir essa necessidade. É um aparelho utilizado para medir a retenção de
água pelo solo a partir da tensão também conhecida como potencial matricial. A partir da
leitura do equipamento, pode-se criar uma relação entre a quantidade de água no solo e a
tensão em que ela se encontra, encontrando então a concentração de água no solo. MORENO
et al (2009) afirmam que de todos os métodos empregados, o tensiômetro seja o mais
utilizado.
O sistema de irrigação autônomo pode ser pode ser aplicado de forma simples
fazendo uso de poucos materiais de fácil acesso. O acionador da irrigação é composto por
uma cápsula porosa que se conecta (essa conexão é feita por meio de um tubo flexível
preenchido com água) a um pressostato com um desnível. A redução da disponibilidade de
água no substrato para o cultivo acarreta uma mudança de pressão dentro da cápsula porosa
que é transmitida ao pressostato através do tubo flexível. Assim, o pressostato aciona uma
bomba hidráulica ou a abertura de uma válvula solenoide permitindo a passagem da água para
a linha de emissores. Em caso reverso, a água fornecida da irrigação será absorvida tanto pelo
substrato quanto pela cápsula porosa. Essa absorção relaxa a tensão gerada anteriormente pela
necessidade de irrigação gerando uma pressão positiva no pressostato. Agora o pressostato
gera uma resposta contraria no processo cessando o fornecimento de água ao sistema de
irrigação (LEAL et al, 2014).
No entanto, se comparado com outros métodos de controle de irrigação, o
tensiômetro ainda apresenta uma maior aceitação devido à:

• Sua facilidade de uso e manuseamento;


• Análises e resultado em tempo real da concentração de água no solo;
• Conveniência na sua instalação.

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O conhecimento sobre o uso adequado do tensiômetro, aliado com o emprego de


metodologia de manejo e irrigação por técnicos e produtores, além da sua alta difusão na
agricultura, impulsionam pesquisas voltadas para o melhoramento tanto das técnicas como
também o desenvolvimento melhorias no tensiômetro que ampliam a eficiência da irrigação
em áreas de concentração da agricultura irrigada (ALVES, 1999).
O esquema de funcionamento da cápsula porosa e descrito abaixo por meio de um
fluxograma em sistema de acionamento de irrigação do cultivo e o processo reverso de
inibição da irrigação

Fluxograma 1: Funcionamento da cápsula porosa.

SISTEMAS DE Sistemas
IRRIGAÇÃO

SISTEMA SISTEMA
ACIONADOR DE INIBIDOR DE
IRRIGAÇÃO IRRIGAÇÃO

↓umidade do solo ↑Umidade do solo


para o substrato e para o substrato e
para a cápsula para a cápsula

Mudança de Redução da tensão


pressão na cápsula na cápsula
porosa

Pressostato Tensão positiva no


acionado pressostato.
Interrompido

Abertura da Fechamento de
válvula solenoide válvula solenoide

A IRRIGAÇÃO A IRRIGAÇÃO É
ACONTECE CESSADA

(LEAL et al, 2014).

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As cerâmicas porosas possuem alto potencial de aplicação em diversas áreas tais


como: Catalisadores, isolantes térmicos, queimadores de gás, material para proteção contra
fogo, dentre outros. Utilizando as técnicas certas é possível se obter cerâmicas porosas para
diversas aplicações com alta resistência mecânica. Existem varias formas de obtenção de
cerâmica porosa. O mais amplamente utilizado consiste na incorporação de material orgânico
na massa cerâmica, que serão futuramente removidos a partir do processo de queima restando
apenas os espaços deixados pelo material orgânico (LEMOS, 2001).
O objetivo desse trabalho foi desenvolver um protótipo de cápsulas tensiométricas de
baixo custo e utilizar duas temperaturas diferentes de sinterização de modo a verificar se
houve ou não influência da temperatura de tratamento na eficiência da produção das cápsulas.
MATERIAL E MÉTODOS

O material utilizado foi argila amarela extraída no município de Seropédica,


processada em maromba na olaria do Km 42, no mesmo município. A argila passou por um
processo de secagem por 72 horas em temperatura ambiente, e para a redução do tamanho da
argila, ela passou por um processo de cominuição no moinho de bolas por aproximadamente
uma hora.
O moinho de bolas utilizado na construção do trabalho era da marca LUCADEMA e
do modelo Luca 226/6. O material teve um tempo de residência no equipamento de 2h. O
material passado pelo moinho de bolas apresentou um material rico em diversidade de
tamanhos das partículas bem visíveis aos olhos.
O material resultante passou por uma separação granulométrica a fim de obter
uniformidade. O material permaneceu no agitador mecânico por cerca de 20 minutos.
Utilizou-se um conjunto de peneiras de 16#, 28#, 32#, 60#, 80#, 150# e 200# (
respectivamente com aberturas de 1,0mm, 600µm, 500 µm, 250 µm, 180 µm, 106 µm e 75
µm).
O material foi peneirado durante 10 minutos. Em seguida o procedimento foi repetido
por mais 10 minutos para assegurar a estabilidade das massas retidas nas peneiras. O
procedimento foi realizado com o auxilio de um agitador elétrico de peneiras da EDUTEC.
O tamanho padrão de partículas para essa pesquisa foi de aproximadamente 200 mesh.
A amostra de argila passou por análise da sua distribuição granulométrica. A argila foi
hidratada com água em temperatura ambiente calculando-se 8% do peso.
A umidificação da massa cerâmica aconteceu pulverizando a quantidade de água
calculada e misturando manualmente até se obter uma massa modelável. Os corpos de prova

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foram pesados e padronizados em 30g com uma margem de erro de 1%. Os corpos de provas
foras feitos em 4 amostras para grupo de temperatura. Cada grupo foi submetido à
sinterização em temperaturas de 700°C e 900°C.

Tabela1: Formulações dos corpos de prova (CP).

CP TEMPERATUTA
S1, S2, S3 e S4 700°C
N1, N2, N3 e N4 900°C
Fonte: Arquivo pessoal (2021)

Para confecção do corpo de prova foi utilizado uma seringa de 10 mL adaptada (foi
utilizado o cilindro e o êmbolo da seringa, contudo, do cilindro foi retirado o bico sendo assim
possível a produção de corpos de prova). Foram confeccionados 12 corpos de prova (CP)
conforme figura 1b apresentada abaixo.
Com o auxilio de uma haste metálica foi feito a parte interior do corpo de prova que
consiste em um espaço vertical sem material de 4 cm indicado na figura 1a. A figura também
apresenta o corpo de prova antes e depois da sinterização respectivamente.

Figura 1: Corpo de prova antes e depois da queima.

Figura 1a: Corpo de prova antes da Figura 1b: Corpo de prova pós-sinterização com
sinterização seção tubular no interior do corpo de prova.

Os corpos de prova passaram por um processo de secagem aos 110oC em estufa por 3
horas sendo aferidos de 20 em 20 minutos a perda de massa do material com o auxílio de uma
balança de precisão até a sua estabilidade, sendo assim anotados suas massas secas para
análise de porosidade feita posteriormente.

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Após o processo de secagem, os corpos de prova foram sinterizados aos 700oC e


900°C por uma hora com uma rampa de aquecimento de 10oC por minuto. O equipamento
utilizado foi um Forno Mufla Novis N1030 da CienlaB.
As análises de microscopia óptica foram feitas com o uso do equipamento Kontrol
IM 100i, com uma amplificação de 100X dos laboratórios de engenharia de materiais da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Na análise de custo foram aferidos os valores de obtenção de cápsulas porosas em
circulação de 5 fabricantes de maior aceitação no mercado online. Nessa análise foram
mensurados apenas custo de fabricação sem pensar em valor de distribuição e tributação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a sinterização foi feita a análise de porosidade do material para avaliar a


formação de poros segundo a composição de cada grupo de amostras. Para isso foi utilizado o
principio de Arquimedes. As amostras passaram 24 horas em estado de absorção, imerso em
água destilada para aquisição da massa úmida e posteriormente peso submerso.
Os dados utilizados para obtenção da porosidade aparente (PA), absorção de água
(AA) e massa específica aparente (MEA) estão apresentados na tabela abaixo.

Tabela 2: Dados utilizados nos cálculos de PA, AA e MEA.

Amostras Massa seca Peso imerso Peso úmido


(g) (g) (g)
S1 6,776 3,979 9,208
S2 6,481 3,776 8,649
S3 5,509 3,226 7,570
S4 5,533 3,251 7,650
N1 6,603 3,919 8,678
N2 6,612 4,040 8,820
N3 1,899 1,084 2,593
N4 2,606 1,570 3,570
Fonte: Autoria própria (2021)

Os resultados foram obtidos através das equações de porosidade aparente (PA),


absorção de água (AA) e massa específica aparente (MEA) descritas nas formulações (A),
(B), e (C) respectivamente dispostas abaixo:

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Onde PSAT é a medida do peso saturado,


PS é a medida do peso seco,
PI é a medida do peso da amostra imersa.

Onde PSAT é a medida do peso saturado,


PS é a medida do peso seco.

Onde PSAT é a medida do peso saturado,


PI é a medida do peso da amostra imersa.

O resultado do teste de porosidade apontou que as amostras apresentaram alta taxa de


porosidade com melhores resultados nas amostras queimadas a 900°C. Os valores de
porosidade aparente (PA), absorção de água (AA) e massa específica aparente (MEA) são
apresentados na tabela abaixo.

Tabela 3: Resultado das análises das amostras:

Amostras PA AA MEA
(%) (%) (g/cm3)
S1 46,51 26,41 1,76
S2 44,49 25,06 1,77
S3 45,58 27,22 1,74
S4 48,12 27,67 1,73
N1 43,60 23,91 1,82
N2 46,19 25,02 1,84

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N3 48,20 27 1,79
N4 45,99 26,76 1,71
Fonte: Autoria própria (2021)

Em análise pode se constatar que as amostras não apresentaram variação significativa


na massa aparente específica.
A microscopia óptica das amostras sinterizadas aos 700ºC e 900ºC revelou uma
concentração de poros visivelmente notável, o que resalta a importância da sinterização aos
900ºC na formação de poros, cujo resultado foi mais satisfatório. Segue abaixo uma
micrografia das amostras S2 e N3 como comparativo na concentração de pros de ambas as
imagens.

Figura 2: Microscopia óptica das amostras em diferentes temperaturas.

Figura 2a: Corpo de prova sinterizado aos 700ºC Figura 2b: Corpo de prova sinterizado aos 900ºC

A figura 2a sinterizada aos 900ºC também apresentou uma quantidade de poros mais
uniforme por todo o corpo de prova conforme visto nas imagens. Apesar de terem apenas 4%
de diferença na quantidade de poros nota-se visualmente uma melhor disposição dos mesmos,
o que sugere a formação de regiões porosas e não porosas nas amostras sinterizadas aos
700ºC.
Os valores praticados nos dias atuais para aquisição de cápsulas porosas possui um
valor médio de R$23,00 (vinte e três reais), enquanto que na cápsula porosa desenvolvida no
presente trabalho custou em média R$6,00 (seis reais). Observou-se uma redução significativa
nos valores de confecção dos processos atuais para a cápsula porosa oriunda de argila tratada
no presente trabalho.

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CONCLUSÃO:

A argila se mostrou eficiente na produção dos corpos de prova com fácil


moldabilidade e apresentou uma coloração avermelhada ao final da sinterização. A
porosidade aparente das amostras ficou entre 43,6% e 48,20% com maiores resultados nas
amostras sinterizadas aos 900°C e a massa especifica aparente apresentou os maiores
resultados também nas amostras sinterizadas a 900°C.
Os resultados apontam que a sinterização aos 900°C se mostrou mais efetivo na
formação de poros. Os mecanismos de formação de poros são gerenciados pelos fenômenos
decorrentes da difusão superficial e também da difusão pela rede a partir da superfície,
ocasionando o transporte por vapor (evaporação e condensação). Outrora, no caso de
densificação (que se refere à redução da quantidade de poros), A difusão ocorre pelos
contornos de grão e pelas redes a partir dos contornos que gera um fluxo por deformação
plástica que encerram o poro.

REFERÊNCIAS

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ALVES, C. R.; ASSIS, O. B. G. Caracterização estrutural e da eficiência de Filtragem de


velas cerâmicas porosas modificadas. São Carlos, SP: EMBRAPA-CNPDIA, 1999. 13p.
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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 28

ANÁLISE E PREVISÃO FUTURA DO CENÁRIO DE


CONSUMO DE CARNE DE FRANGO NO BRASIL

Carla Adriana Pizarro Schmidt; Eduardo Tomaz Da Silva; Neron Alípio


Cortes Berghauser

RESUMO: A previsão de demanda é de grande importância nas organizações


atualmente, tendo grande valor para o planejamento estratégico da
produção, com o objetivo de alcançar vantagens competitivas e com o
objetivo de auxiliar na tomada de decisão. Este trabalho teve o intuito de
apresentar os principais conceitos para a aplicação do estudo de previsão de
demanda, juntamente com um estudo e análise de produção de carne de
frango no Brasil e realizar a previsão de produção para os próximos anos.
Para realização do estudo foram aplicados os métodos de pesquisa básica
com enquadramentos descritivo, quantitativo, documental e operacional,
onde buscou-se entender as variáveis responsáveis pela demanda da carne
de frango em nosso país utilizando-se para tanto de dados disponibilizados
em relatórios da Associação Brasileira de Proteína Animal e de softwares
estatísticos para análise de dados. Após a modelagem e avaliação de
diferentes metodologias de previsão estatística, percebeu-se que as
melhores previsões encontradas foram apresentadas pelo método de
suavização exponencial, por meio do qual se chegou a uma previsão de que a
produção de carne de frango no Brasil para o ano de 2021 será de
aproximadamente 14,209 milhões de toneladas, para 2022 de 14,575
milhões de toneladas e para o ano de 2023 de 14,942 milhões de toneladas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

A avicultura é um setor de extrema importância para agronegócio brasileiro, setor no


qual o país em 2019 segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA,
2019) é o terceiro maior produtor e o maior exportador de carne de frango do mundo,
exportando 32% do total produzido. No fator socioeconômico do país, a avicultura também tem
uma importância elevada, por gerar cerca de três milhões e meio de empregos de forma direta
e indireta.
Segundo a Embrapa (2019) cada brasileiro consumiu uma média de 42,84 kg de carne
de frango, sendo um consumo de 9,84% e 180,65% a mais se comparado ao consumo de carne
bovina e carne suína respectivamente. Com diversos fatores que influenciam diretamente na
avicultura e no aumento de consumo da carne de frango, como por exemplo: aumento do preço
de outros tipos de carne, aumento populacional, condições socioeconômicas, entre outros. Com
o aumento da procura pela carne de frango, se faz necessário uma previsão de demanda
referente a produção de carne de frango no Brasil, com o intuito de ajudar as empresas do ramo
se organizarem com questões de abates de aves, questões contratuais, possíveis ampliações e
abertura de novas empresas no ramo.
Previsões são necessárias como suporte do processo decisório em operações. Para cada
antevisão tem uma inércia decisória diferente, e um tempo distinto para causar efeito, sendo
previsões de horizontes desiguais necessárias no processo produtivo (CORRÊA; CORRÊA,
2007).
Do ponto de vista operacional, não é produtivo esperar uma previsão exata, mas com
um grau aproximado de confiança, pois, para obter-se uma previsão exata, demandaria um
enorme esforço que surtiria pouco efeito no resultado. Para isso, é recomendado uma
reavaliação constante da previsão, buscando-se atingir um nível satisfatório entre oferta e
demanda (PERREIRA, 2017).
Na maior parte das empresas a previsão de demanda é realizada pela área comercial,
porém ela está diretamente ligada com a sua capacidade produtiva, se tornando de grande
interesse o envolvimento de pessoas do setor da produção. Por tanto, com uma previsão de
demanda futura se torna possível planejar e responder estrategicamente a acontecimentos
futuros e não apenas reagir a eles.
Mesmo sendo um assunto recorrente dentro das organizações, há uma carência de
publicações envolvendo a previsão de demanda. De acordo com Santos (2015), em um
levantamento bibliográfico, constatou-se que nos últimos 10 anos, houve somente 371

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

publicações, e destas, somente 4 em português. Vale ressaltar que estudos sobre o tema vêm
crescendo no Brasil, visto que a maioria dessas publicações são recentes.
Segundo as projeções para o agronegócio brasileiro, o consumo de carne de frango per
capita para 2029 tende a chegar a cinquenta e dois quilos e duzentas gramas, tendo um aumento
de aproximadamente de 4,7% referente ao consumo no ano de 2019 (FIESP, 2020).
O intuito principal do trabalho conta em adquirir maior conhecimento a respeito do
tema estudado, e de certa forma colaborar com pesquisas futuras. Com o aumento da procura
da carne de frango, o mercado aviário se tornou muito promissor, com isso busca-se auxiliar de
certa forma quem tiver interesse sobre o tema estudado e por ser uma maneira de diminuir as
dificuldades e preparar estrategicamente as empresas do ramo, também propõe a realização de
um estudo de forma quantitativa, feito através de dados históricos de produção de carne de
Frango no Brasil e aplicados alguns métodos para realizar a previsão para os próximos 3 anos.
O objetivo geral do estudo foi o de construir modelos e apresentar uma previsão de
demanda futura de carne de frango, com base em dados da produção.
Enquanto que os objetivos específicos encontram-se listados a seguir:
a) Apresentar dados sobre a produção de carne de frango a partir do ano 2000 até o
ano de 2020;
b) Aplicar de métodos de previsão de demanda em dados de consumo de carne de
frango no Brasil;
c) Escolher e apresentar um modelo adequado de previsão futura e validar a previsão.

REFERENCIAL TEÓRICO

Para o embasamento teórico do presente estudo algumas referencias específicas que


apresentam as metodologias estatísticas de previsão forma apresentadas.

Previsão

Previsões, grosso modo, sempre estão erradas, pois se deseja ter uma “visão” das
coisas antes mesmo delas acontecerem. Pode-se dizer que é mera coincidência quando se acerta
exatamente o que foi previsto. Porém o intuito de realizar uma previsão é obter o menor erro
possível e para isso acontecer é necessário ter dados de qualidades e saber o que fazer com eles
para realizar uma previsão. Para Corrêa (2017) a qualidade das previsões está nos olhos de
quem as faz.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Previsões são necessárias para suportar o processo decisório em operações. Como


diferentes decisões têm inércias decisórias diferentes (levam diferentes períodos para
tomar efeito), previsões de diferentes horizontes são necessárias para um adequado
suporte à decisão. (CORRÊA; CORRÊA, 2017, p. 250).

Demanda

Demanda pode ser definida como sendo a quantidade que o consumidor deseja adquirir
de um bem ou serviço, por um determinado preço e dentro de um espaço de tempo pré-
estabelecido (DELAZZARI, 2017)
A demanda é dividida em dois tipos: demanda dependente e demanda independente.
A demanda dependente está correlacionada com outros produtos, ou seja, sendo calculada com
base nas necessidades dos produtos relacionados. Um exemplo muito claro desse tipo de
demanda é que, para cada carro produzido, existe a necessidade de quatro pneus. Por sua vez,
a demanda independente é uma demanda futura, exigindo uma previsão, um exemplo disso é a
demanda por carros (LAGE JÚNIOR, 2019).
Sendo variações causadas por eventualidades, quando todas as causas forem
conhecidas, o que resta é uma porção não conhecida da demanda, e á isso se atribui a
aleatoriedade (JACOBS; CHASE, 2009).
Tomando início das linhas de tendências para se obter uma previsão, deve-se realizar
ajustes a fim de acrescentar efeitos sazonais, elementos críticos e outros tipos de eventos
(JACOBS; CHASE, 2009).
Jacobs e Chase (2009, p. 265) citam também que:

Uma tendência linear é obviamente um relacionamento contínuo e reto. Uma curva S


é tí- pica do crescimento do produto e do ciclo de maturidade. O ponto mais
importante na curva S é onde a tendência muda de crescimento lento para crescimento
rápido, ou de rápido para lento. Uma tendência assintótica começa com o crescimento
maior no início, mas depois diminui. Essa curva poderia acontecer quando uma
empresa entra em um mercado existente com o objetivo de saturar e captar uma grande
participação no mercado. Uma curva exponencial é comum em produtos com
crescimento explosivo. A tendência exponencial sugere que as vendas continuarão a
aumentar – uma suposição que não é segura.

As Figuras 1 e 2 demonstram o comportamento da demanda sazonal de acordo com o


tempo e as tendências, respectivamente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 1 - Exemplo de demanda no decorrer de tempo com sazonalidade

Fonte: Jacobs; Chase (2009).

Figura 2 - Representação de linhas de tendência estatística

Fonte: Jacobs; Chase (2009).

Em alguns casos, os dados apresentarão uma tendência que não se encaixa em qualquer
das citadas.

Previsão de demanda

A previsão de demanda, também conhecida por prognóstico de vendas, abrange


questões de vendas que o departamento projetou para os próximos meses, seja em curto ou
médio prazo. Para demandas de longos prazo é muito difícil trabalhar, pela razão de mudanças
de mercado. De acordo com Lobo e Silva (2014) para se realizar uma estimativa confiável, é
preciso que algumas premissas sejam adotadas, sendo elas:

a) Quanto maior for o horizonte da estimativa, maior será a chance de erro;

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

b) Nunca se chegará em uma estimativa de 100% correta;


c) As demandas são imprevisíveis, podendo ter mudanças de um dia para o outro.

Existem diversas maneiras de realizar uma previsão de demanda, porém a abordagem


a ser utilizada dependerá da quantidade de dados e qualidade deles. Uma abordagem qualitativa
é realizada quando não se tem dados, ou eles são de má qualidade, ou ainda se existir um alto
custo para obtenção. Por outro lado, quando existem dados quantitativos em abundância e
confiáveis, pode-se utilizar uma abordagem causal ou baseada em séries temporais (LAGE
JÚNIOR, 2019).
Um modelo de previsão de demanda é composto por cinco etapas. A primeira consiste
em definir qual o objetivo da previsão. Após isso, é necessário realizar a coleta e análise de
dados para que seja definido o método que melhor se encaixa nos dados obtidos. Com a previsão
realizada, a quinta e última fase requer um acompanhamento e atualizações de novos
parâmetros, conforme a necessidade, com intuito de manter a previsão sempre atualizada
(TUBINO, 2017).
A Figura 3 representa o passo-a-passo para a elaboração de uma previsão proposta por
Tubino (2017).
Figura 3 - Passos para executar uma previsão de demanda

Fonte: Tubino (2017).

Para os gestores que acompanham as previsões, é de suma importância além de saber


o quanto se espera de demanda, saber também qual o erro esperado para a previsão. Por muitas
vezes, isso não é realizado, ainda mais quando as previsões são confundidas com metas, ou
seja, o profissional responsável por analisar e acompanhar a previsão, necessita de dois valores
de acordo com Corrêa e Corrêa, (2007):

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

a) Estimativa de previsão;
b) Estimativa de erro.
Visto que, a estimativa de previsão é o somente o valor previsto, de acordo com o
modelo, e a estimativa de erro, é a variação que o modelo pode vir a ter.

Métodos qualitativos

São métodos baseados unicamente na opinião e análise crítica de pessoas envolvidas


diretamente com a gerência, especialistas nos produtos ou pessoas atuantes no seu mercado. De
forma geral, são utilizadas devido à falta de dados confiáveis ou de tempo para a realização de
métodos matemáticos, e são mais fáceis de serem aplicados. Ocasionalmente, são empregadas
em conjunto com as previsões quantitativas, com o objetivo de dar apoio para a tomada de
decisão (TUBINO, 2017).
A pesquisa de mercado geralmente é realizada por ligações ou formulários, em que
são abordadas questões socioeconômicas, e perguntas relacionadas a um determinado tipo de
produto. O intuito dessa pesquisa consiste em levantar-se se o público alvo tem realmente a
intenção de compra futura do produto (CORRÊA; CORRÊA, 2017).
O consenso por meio de painel são reuniões abertas que estimulam a troca de ideias
entre pessoas de diferentes setores, buscando uma visão comum sobre a demanda futura. Porém
existe um problema nesse tipo de método, onde em que, os funcionários de setores mais baixos
operacionais sentem-se intimidados e, muitas vezes, acabam não se pronunciando por não se
sentirem confortáveis (JACOBS; CHASE, 2009).
O Método Delphi é uma abordagem parecida com o método de consenso por meio de
painel, se diferenciando pela omissão de identidade dos participantes no processo. O modelo
cria e distribui um questionário, para que seja respondido pelos participantes, onde as respostas
são analisadas pelo grupo, juntamente com novas perguntas de acordo com Jacob, Chase,
(2009)
Segundo Jacob e Chase (2009) para ser realizado é necessário levar em conta alguns
pontos, sendo eles:
a) Participantes escolhidos devem ser de diversas áreas;
b) Aplicar o questionário e obter as previsões de todos;
c) Realizar um resumo dos resultados;
d) Fazer um novo resumo e novas perguntas e, aprimorar as previsões;
e) Repetir a etapa do caso necessário

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

f) Distribuir os resultados.

Métodos quantitativos

Consiste em uma análise de dados históricos para alimentar modelos matemáticos, que
tem a finalidade de calcular a demanda futura. Esses métodos são divididos em dois grupos:
séries temporais, e as baseadas em correlação (TUBINO, 2017).
Para se utilizar a abordagem por meios de correlações, precisa-se que exista um fator
de causalidade e que esse fator seja conhecido. Podendo ser utilizados métodos como: regressão
linear, curvilínea e múltipla (JÚNIOR, 2019)
Já por sua vez, o método baseado em séries temporais, deseja-se prever o futuro com
base no histórico de dados passados (LAGE JÚNIOR, 2019). Jacobs, Chase, (2009) mostram
que para a escolha do melhor método de previsão depende de alguns fatores, sendo eles:
a) Horizontes de tempo da previsão;
b) Disponibilidade de dados;
c) Precisão necessária;
d) Tamanho do orçamento de previsão;
e) Disponibilidade de pessoal qualificado.

No Quadro 1 pode-se ver os padrões necessários para a utilização de alguns dos


métodos citados.
Quadro 1 – Síntese de alguns Métodos de previsão
Horizonte de
Método de Previsão Quantidade de Dados Históricos Padrão de Dados
Previsão
Estacionários (Sem
6 a 12 meses, dados semanais são
Média Móvel Simples tendência ou Curto
utilizados com Frequência
sazonalidade)

Média Ponderada Móvel e Estacionários (Sem


5 a 10 observações, necessárias
Suavização Exponencial tendência ou Curto
para iniar
Simples sazonalidade)

Suavização Exponencial 5 a 10 observações, necessárias


Estacionário e tendência Curto
com Tendência para iniar

10 a 20 observações com
Estacionário, tendência
Regressão Linear sazonalidade, pelo menos 5 Curto a médio
e sazonalidade
observações por temporada
Fonte: Autoria própria com base em Tubino; Box; Reinsel.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Séries temporais

Séries temporais são uma sucessão de observações realizadas de tempos em tempos.


Usualmente essas observações acontecem em sequências de meses, semanas ou dias. Pode-se
notar exemplos de séries temporais em diversas áreas, processos químicos, engenharia,
negócios, ciências sociais e naturais. (BOX; JENKINS; REINSEL, 2011).
Parte do princípio de que demanda do passado será utilizada para uma projeção do
futuro. Sendo um método simples e usual, oferece bons resultados. Uma curva temporal pode
conter: tendências, sazonalidade, variação irregular e randômicas. (TUBINO, 2017). Tubino
(2017, p.30) cita que:
A tendência consiste num movimento gradual de longo prazo, direcionando os dados.
A sazonalidade refere-se a variações cíclicas de curto prazo, relacionadas ao fator
tempo, como a influência de alterações climáticas ou férias escolares. Já as variações
irregulares, como o próprio nome indica, são alterações nas demandas passadas
resultantes de fatores excepcionais, como greves ou catástrofes climáticas, que não
podem ser previstos e, portanto, incluídos no modelo. Esses dados, conforme já foi
colocado, devem ser retirados da série histórica e substituídos pelos valores mais
prováveis. Finalmente, excluindo-se os fatores de tendência, sazonalidade e
excepcionalidade, restam as variações aleatórias, ou normais, que serão tratadas pela
média.

A Figura 4 representa a influência dos fatores na demanda.

Figura 4 - Representação das influências dos fatores

Fonte: Tubino (2017)

Método de Suavização Exponencial

Para suavizações, será utilizado o modelo mais íntegro para análise dos dados, onde
será realizado a análise da sazonalidade e tendência dos dados e, por algum a caso os dados em

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

questão não possuírem qualquer das características, a soma da variável será nula, e com isso o
método ficará mais simples. Segundo Júnior (2019), essa forma de suavização é denominada
de Holt-Winters Multiplicativo (Equação 1)
𝑥𝑡 = 𝑘 + 𝑎𝑡 + 𝑆𝑡 + 𝑒𝑡 (1)
Em que:
𝑡 = 1,2,....,n;
𝑥𝑡 = variável aleatória observada no tempo t;
𝑎 = tendência do modelo;
𝑘 = valor da constante do modelo;
𝑆𝑡 = componente sazonal no tempo t;
𝑒𝑡 = erro aleatório no tempo t.
As equações 2,3,4 são componentes de nível, tendência e sazonalidade,
respectivamente. A equação 5 retorna a previsão.
𝑥𝑡
𝐿𝑡 = 𝛼 (𝑆 ) + (1 − 𝛼)(𝐿𝑡−1 + 𝑇𝑡−1 ) (2)
𝑡−𝑚

𝑇𝑡 = 𝛽(𝐿𝑡 − 𝐿𝑡−1 ) + (1 − 𝛽)𝑇𝑡−1 (3)


𝑥
𝑆𝑡 = 𝛾 (𝐿𝑡) + (1 − 𝛾)𝑆𝑡−𝑚 (4)
𝑡

𝐹𝑡+𝑛 = (𝐿𝑡 + 𝑛𝑇t )𝑆𝑡−𝑚+𝑚𝑜𝑑(𝑛−1,𝑚)+1 (5)

Em que:

𝐿𝑡 = Componente de nível;
𝑇𝑡 = Componente de tendência;
𝑆𝑡 = Componente de sazonalidade;
𝑚 = período sazonal;
𝑛 = 1,2,....,h;
ℎ = horizonte de previsão;
𝑚𝑜𝑑(𝑛, 𝑚) = resto da divisão de n por m
𝐹𝑡+𝑛 = é a previsão
𝛼(0 < 𝛼 < 1) = constante de suavização da componente de nível (𝐿𝑡 );
𝛽(0 < 𝛽 < 1) = constante de suavização da componente de tendência (𝑇𝑡 );
𝛾(0 < 𝛾 < 1) = constante de suavização da componente de sazonalidade (𝑆𝑡 );

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Existem algumas maneiras de se iniciar essas variáveis, entre elas usa-se as Equações
6, 7 e 8.

1
𝐿𝑚 = (𝑥1 + 𝑥2 + 𝑥3 + ⋯ + 𝑥𝑚 ) (6)
𝑚

1 𝑥𝑚+1 − 𝑥1 𝑥𝑚+2 −𝑥2 𝑥𝑚+𝑚 − 𝑥𝑚


𝑇𝑚 = ( + +⋯+ ) (7)
𝑚 𝑚 𝑚 𝑚

𝑥1 𝑥2 𝑥𝑚
𝑆1 = , 𝑆2 = , … . , 𝑆𝑚 = (8)
𝐿1 𝐿2 𝐿𝑚

Em que:
𝐿𝑚 = Componente de nível;
𝑇𝑚 = Componente de tendência;
𝑆𝑚 = Componente de sazonalidade;
𝑚 = período sazonal;

Média móvel simples (MMS)

O método de média móvel simples (MMS) tem finalidade de estimar a média de uma
série temporal, retirando os efeitos da flutuação aleatória, sendo mais eficaz quando os dados
não possuem sazonalidade ou tenências relevantes. Resume-se em calcular a média para os n
períodos mais recentes e utilizá-la como a previsão para o período posterior (KRAJEWSKI;
RITZMAN; MALHOTRA, 2009). A mesma pode ser calculada a partir da Equação 9:

𝑠𝑜𝑚𝑎 𝑑𝑜𝑠 𝑢𝑙𝑡𝑖𝑚𝑜𝑠 𝑛 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟𝑒𝑠


𝐹𝑡+1 = (9)
𝑛

Em que:
𝐹𝑡+1 = previsão para o período t + 1;
n = número de períodos;
t = índice do período (t = 1, 2, 3, ….).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Média móvel ponderada (MMP)

O método da Média Móvel Ponderada se diferencia do método Média Móvel Simples,


pelo fato de atribuir peso para cada um dos valores da composição da série histórica (JÚNIOR,
2019).
A Equação 10 demonstra como obter a média móvel ponderada.

𝑀𝑀𝑃𝑛 = ∑𝑛𝑡=1 𝑤𝑖 𝑑𝑡 (10)

Em que:
𝑃𝑛 = Previsão para o n=ésimo período a frente;
𝑑𝑡 = demanda do período t, com t = 1,2,...., n;
𝑤𝑖 = pesos dados aos valores de demanda, sendo a soma igual a 1.

Métodos Causais

Denominados de modelos de correlação e regressão, são utilizados quando a variável


dependente, está correlacionada com um ou mais fatores, conhecidos como variáveis causais
ou independentes. A população e o PNB (Produto Nacional Bruto) são exemplos de variáveis
causais, sendo escolhidas de acordo com a associação lógica com a variável a ser prevista
(MOREIRA, 2011).
Dessa forma é possível determinar a previsão de variável dependente a partir do
conhecimento dos valores das variáveis independentes (LUSTOSA et al., 2008).
Os métodos causais são compostos por dois grupos principais: a regressão linear e a
regressão múltipla, de acordo com a quantidade de variáveis independentes correlacionadas.

Regressão Linear

É explicada pela obtenção de uma equação entre duas variáveis, sendo que uma delas
é dependente e a outra é independente, onde a independente explica a variação da dependente
(LAGE JÚNIOR, 2019)
A Equação 11 traz o formato de uma equação linear.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

𝑌 = 𝑏𝑋 + 𝑎 (11)

Em que:
𝑎= Coeficiente angular da reta;
𝑏= Coeficiente linear da reta.

A partir do método dos mínimos quadrados, os valores de a e b são obtidos pelas


Equações 12 e 13.
𝑛 ∑𝑛 𝑛 𝑛
𝑡=1 𝑥𝑡 𝑑𝑡 − ∑𝑡=1 𝑥𝑡 ∑𝑡=1 𝑑𝑡
𝑏= 2 (12)
𝑛 ∑𝑛 2 𝑛
𝑡=1 𝑥𝑡 −(∑𝑡=1 𝑥𝑡 )

1 𝑏
𝑎= ∑𝑛𝑡=1 𝑑𝑡 − ∑𝑛𝑡=1 𝑥𝑡 (13)
𝑛 𝑛

Em que:
n = Número de pares ordenados;
xt = Valor da variável independente no período t, com t = 1,2,....,n;
dt = Valor da variável dependente no período t, com t = 1,2,....,n.

Para se adquiri informações sobre a regressão realizada, é importante conhecer os


valores de (r) e (r²). Que são responsáveis por medir a direção e força da relação entre as
variáveis. Quanto mais perto de +1 mais forte a correlação positiva entre as variáveis em
questão. O contrário também é verdadeiro (LAGE JÚNIOR, 2019).

𝑛 ∑𝑛 𝑛 𝑛
𝑡=1 𝑥𝑡 𝑑𝑡 − ∑𝑡=1 𝑥𝑡 ∑𝑡=1 𝑑𝑡
𝑟 = 2 2
(14)
√[𝑛 ∑𝑛 2 𝑛 𝑛 2 𝑛
𝑡=1 𝑥𝑡 −(∑𝑡=1 𝑥𝑡 ) ][𝑛 ∑𝑡=1 𝑑𝑡 −(∑𝑡=1 𝑑𝑡 ) ]

O coeficiente de determinação é o quadrado do coeficiente de correlação, onde o R²


mede o grau em que a linha de regressão se ajusta aos dados. Valores acima de 0,85 indicam
uma boa previsão.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Regressão Múltipla

Na maior parte das vezes, uma variável dependente não está ligada a apenas uma
variável independente, mas a várias delas. Nesse sentido, a regressão múltipla busca estabelecer
uma relação entre as variáveis, por meio de um modelo estatístico-matemático, com o intuito
de conhecer os efeitos de cada variável independente e prever a variável dependente
(BARBETTA; REIS; BORNIA, 2010).
A Equação 15 representa a Regressão Múltipla.

𝑌 = 𝑎𝑋1 + 𝑏𝑋 + 𝑐𝑋3 + ⋯ + 𝑛𝑋𝑛 (15)

Em que:
a,b,c,....,n = Coeficientes;
X1, X2, X3, Xn = Variáveis independentes.

Para a análise do modelo de regressão múltipla também se costuma usar o coeficiente


de determinação (R²). Assim, da mesma forma que o r2 para regressões simples, o coeficiente
de determinação múltiplo (R2) avalia a proporção de variação da variável dependente em
relação as variáveis independentes, avaliando a qualidade do ajuste. Entretanto, o R2 apresenta
um resultado indesejável, sendo que conforme o número de variáveis independentes aumenta,
o valor de R2 cresce e nunca diminui, tendendo a oferecer uma superestimação do ajuste
(GUJARATI; PORTER, 2011; ROSSI; NEVES, 2014).

METODOLOGIA

Esse tópico do presente trabalho pretende descrever em detalhes a metodologia


aplicada ao estudo, com a apresentação da classificação metodológica da pesquisa, local de
coleta e tratamento dos dados.

Classificação do Tipo de Pesquisa

A pesquisa é um procedimento formal, que requer um tratamento científico com base


em métodos reflexivos, constituindo-se de um meio para conhecer a realidade ou descobrir

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

verdades parciais (MARCONI; LAKATOS; 2010). A pesquisa de caráter quantitativo tem


como argumento que tudo pode ser mensurado numericamente, em forma de opiniões e
informações para análise. Porém para que isso aconteça, são necessários recursos matemáticos
e estatísticos (MATHIAS-PEREIRA, 2016).
Para Köche (2002), o planejamento de uma pesquisa depende do problema a ser
analisado, podendo assim, existir um número infinito de tipos de pesquisas. A Figura 5
apresenta as formas de classificação de uma pesquisa, destacando-se as quais se enquadram
neste trabalho, que posteriormente serão detalhadas.

Figura 5 – Representação da classificação da pesquisa

Fonte: Adaptado de Kuark, Manhães e Medeiros (2010) e Cardoso (2011)

“No tocante às suas finalidades a pesquisa pode ser pura ou aplicada. Na pesquisa pura
ou básica visa à satisfação do desejo de adquirir conhecimentos, sem que para isso exista uma
aplicação prática prevista” (MATIAS-PEREIRA, 2016, p.19).
Dessa forma pode-se perceber que a natureza da pesquisa ora descrita, possui caráter
básico, pois procura por meio de análise de dados documentais, elaborar previsões estatísticas
relacionadas a produção de carne de frango no Brasil.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Com relação a sua abordagem, refere-se ao um estudo quantitativo devido a utilização


de dados numéricos como, por exemplo, a produção de carne de frango no Brasil ao longo dos
anos. Mattar e Ramos (2021) explicam que a pesquisa quantitativa se utiliza essencialmente de
números que podem ser coletados em bases de dados e registros públicos.
Com relação aos seus objetivos, o trabalho se enquadra como uma pesquisa descritiva,
por conta da utilização de dados reais, além da observação, registro e correlação de variáveis
sem a manipulação delas. Matias-Pereira, (2016), explica que uma pesquisa descritiva em geral
tem como propósito observar e descrever fenômenos e podem se apoiar em métodos de análise
estatística descritiva, entre outros.
A respeito dos procedimentos utilizados, o presente trabalho foi classificado como
documental e operacional. Para Severino (2007) e Gil (2008), a pesquisa documental utiliza
não apenas documentos impressos, mas também documentos como jornais, fotos, filmes,
gravações, documentos legais, relatórios de empresas e tabelas estatísticas, sendo que estes
ainda não passaram por nenhum tratamento analítico e serviram de base ao pesquisador para
realização da pesquisa.
Garcia et al. (2016) ao realizarem uma análise de estudos que se utilizaram da pesquisa
documental perceberam que em 70% deles a abordagem foi qualitativa, apesar dessa elevada
relação entre pesquisa qualitativa e documental em 15% dos estudos por eles avaliados a
abordagem foi somente quantitativa, o que deixa clara a possibilidade de pesquisas documentais
serem apenas quantitativas.
De acordo com Mattar e Ramos (2021) a pesquisa documental é uma estratégia útil de
investigação e pode ser realizada em diversos materiais entre eles os registros públicos, sendo
que estes são o tipo mais comum de documento empregado nesse tipo de pesquisa.

Podem incluir: dados estatísticos; documentos legais, como leis, decretos, portarias e
resoluções; documentos governamentais e corporativos; documentos de planejamento
de escolas e instituições de ensino superior, programas de cursos, planos de ensino e
de aula (que, todavia, nem sempre estão disponíveis publicamente); matérias
publicadas em jornais e revistas; poemas, romances e canções; etc. Devem-se
considerar, também, documentos classificados como literatura cinzenta, semipúblicos
ou em desenvolvimento (MATTAR; RAMOS, 2021, p.125).

A pesquisa operacional é caracterizada pela busca de soluções para um problema


proposto, além de prever e comparar estratégias para auxiliar na tomada de decisões, a partir da
construção de modelos matemáticos (CARDOSO, 2011), dessa forma ela se enquadrou
perfeitamente ao foco do presente estudo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Coleta de dados

Para a elaboração deste trabalho a coleta de dados baseou-se na pesquisa documental,


disponibilizada em relatórios da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA, 2021). As
informações necessárias referem-se a dados históricos de produção da carne de frango no Brasil.
O levantamento de dados referente a produção de carne de frango no Brasil foi
realizado por meio de leitura dos relatórios e coleta dos dados organizados em planilha
eletrônica para posterior análise. O levantamento de dados ocorreu de forma anual, a partir do
ano de 2000. Para um grau de confiabilidade maior na pesquisa, foi utilizado o maior número
possível de dados visando detectar variações de tendências e sazonalidade.

Análise de dados

Após o levantamento de dados, foi realizada uma análise detalhada utilizando o


software Microsoft Excel, adicionado do suplemento NNQ, tendo sido utilizado, também, o
software Gretl, para elaboração dos modelos de regressão. Com base nos resultados, foram
avaliadas as previsões e utilizados os erros dessas previsões, para que se pudesse definir o
melhor método de previsão, que se enquadrasse na proposta do trabalho. No próximo capítulo
são apresentados alguns dos modelos obtidos e apresentada a escolha do método mais indicado
para a previsão.

RESULTADOS E DISCUSSÂO

Nesta parte do trabalho, encontram-se os resultados das análises realizadas a partir dos
dados históricos coletados a partir do ano de 2000 até o ano de 2020, de produção de carne de
frango no Brasil.
Todas as análises realizadas foram apresentadas, bem como a discussão dos resultados
obtidos por cada um dos tipos de modelos avaliados, o que por fim culminou com a
apresentação das previsões esperadas para os próximos períodos pelo modelo que se apresentou
mais coerente e com menores erros de previsão.
Primeiramente foram realizados testes utilizando alguns métodos de previsão, que não
obtiveram impactaram o sucesso que se esperava para o resultado da pesquisa, até definir o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

método mais apropriado para realizar a previsão de produção de carne de frango no Brasil para
os próximos anos, que foi o método de suavização exponencial.

Utilização de métodos de previsão

Métodos quantitativos “são os métodos de previsão baseados em séries de dados


históricos nas quais se procura, por meio de análises, identificar padrões de comportamento
para que estes sejam projetados para o futuro” (CORRÊA; CÔRREA, 2009, p. 167).
Desta forma, por meio de gráficos e análises estatística analisou-se o comportamento
dos dados históricos de produção de carne de frango no Brasil.
Foram levantados dados de produção entre os anos de 2000 e 2020, totalizando assim
21 períodos, os quais foram utilizados nos cálculos da previsão, conforme pode ser visto na
Tabela 1. A partir desses dados, foi também efetivada a plotagem do gráfico e realizadas as
análises da estatística descritiva, conforme visto na Figura 6.

Tabela 1 - Produção de Carne de Frango no Brasil entre os anos de 2000 e 2020


Período Ano Produção (kg)
1 2000 5.980.000.000
2 2001 6.740.000.000
3 2002 7.520.000.000
4 2003 7.840.000.000
5 2004 8.490.000.000
6 2005 8.950.000.000
7 2006 9.340.000.000
8 2007 10.310.000.000
9 2008 10.940.000.000
10 2009 10.980.000.000
11 2010 12.230.000.000
12 2011 13.050.000.000
13 2012 12.650.000.000
14 2013 12.309.000.000
15 2014 12.691.000.000
16 2015 13.140.000.000
17 2016 12.900.000.000
18 2017 13.050.000.000
19 2018 12.855.000.000
20 2019 13.245.000.000
21 2020 13.845.000.000
Fonte: Autoria Própria com base em dados da ABPA, (2021).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 6 - Produção de Carne de Frango no Brasil


16.000.000.000
Produção de Carne de Frango no
14.000.000.000
12.000.000.000
10.000.000.000
Brasil (Kg)

8.000.000.000
6.000.000.000
4.000.000.000
2.000.000.000
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Valor da Série

Fonte: Autoria Própria com base em dados de produção de carne de frango através relatórios da
ABPA (2021).

A Tabela 2 ilustra os resultados da análise descritiva realizada sobre os dados


históricos de produção de carne de frango no Brasil, dos períodos descritos anteriormente.

Tabela 2 - Estatística descritiva de produção de carne de frango no Brasil


Medida Produção
Média (kg) 10.907.380.952,38
Erro padrão (kg) 536.701.107,19
Mediana (kg) 12.230.000.000,00
Moda (kg) 13.050.000.000,00
Desvio padrão (kg) 2.459.473.449,26
Curtose -0,94
Assimetria -0,69
Intervalo (kg) 7.865.000.000,00
Mínimo (kg) 5.980.000.000,00
Máximo (kg) 13.845.000.000,00
Soma (kg) 229.055.000.000,00
Contagem 21,00
Nível de confiança (95,0%) 1.119.538.891,70
Fonte: Autoria Própria

Após a plotagem do gráfico e realização das análises, foram efetivadas algumas


tentativas utilizando o método de regressão múltipla, porém sem sucesso, pois a colinearidade
foi muito alta, que é definido pelo alto grau de correlação entre as variáveis independentes
(FREUND; WILSON; SA, 2006), dessa forma o FIV fica muito elevado. Foi tentado também
realizar a previsão com método de regressão simples, porém não se obteve um R² bom o
suficiente para a aplicação do método.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Depois de tentar esses dois métodos sem sucesso, foi aplicado o método de regressão
polinomial, por meio do qual se obteve um R² maior que 0,85 significando um grau muito bom
de precisão, o que é esperado em uma previsão confiável.
Após a coleta e organização dos dados coletador, foi realizado uma análise estatística
do seu comportamento.
Para a utilização deste modelo é necessário o conhecimento da linha de tendência que
melhor se encaixa na distribuição dos dados históricos, que entregue um R² > 0,85, considerado
um valor confiável para utilização do método. Utilizando um polinómio de grau 2, obteve-se
um R² = 0,98, que significa que é um método com um grau de confiança bem alto.
Utilizando o software Microsoft Excel, foi plotado o gráfico de dispersão conforme
apresentado pela Figura 7.

Figura 7 - Gráfico de dispersão da Produção em Kg de carne de frango no Brasil

Fonte: Autoria Própria com base em dados da ABPA (2021).

Após a plotagem do gráfico e aplicada a linha de tendência, a equação 16 é utilizada


para achar os valores futuros e, a equação 17 apresenta o valor do R².

𝑦 = −21087164,55 ∗ 𝑥 2 + 85145266432,8 ∗ 𝑥 − 85936051447799 (16)

𝑅 2 = 0,98 (17)

Após a obtenção da Equação 16, utilizou-se os cálculos para as previsões futuras e


plotou-se o gráfico com os resultados, como mostra a Figura 08.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 8 - Comparação da produção real (kg) com a previsão futura apresentada pelo modelo

Fonte: Autoria Própria com base me dados da ABPA (2021).

Pode-se notar que a previsão nos mostra uma queda na produção de carne de frango
nos próximos anos, que indica uma ação contrária ao estudo da FIESP (Federação das indústrias
do estado de São Paulo), que prevê que a tendência da produção é aumentar a cada ano que vai
se passando. Por isso, chegou-se à conclusão que mesmo que o método apresente um R² > 0,85,
não seria muito indicado para utilização com grande confiança para uma a previsão, este método
pode ser usado apenas para ilustrar o movimento dos dados passados e presentes dentro do
espaço de dados já existentes, então se indica para o uso como um modelo de descrição do
ocorrido, mas não para uma previsão futura.

Previsões com o modelo de suavização exponencial

Para realizar a análise e previsão do conjunto amostral, utilizou-se o software


Microsoft Excel, com o suplemento NNQ. Realizou-se previsões para um conjunto amostral de
21 dados, para a produção de carne de frango no Brasil, com dados anuais que datam do ano
2000 até o ano 2020.
Apesar de o software indicar métodos alternativos para a análise dos dados, optou-se
pela escolha do método de suavização exponencial, visando analisar o comportamento do
método.
Para a produção de carne de frango no Brasil, o software gerou a previsão para o ano
de 2021, considerando α(0,99), β(0,01), γ(0,00) e φ(0,00). A avaliação do modelo proposto está
na Tabela 3.

Página 460
Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Tabela 3 - Avaliação do Modelo


desv pad e(t) DPAM U de Theil AIC
511067822,673 3,96% 0,645 913,226
Fonte: Autoria Própria

O valor de α aponta uma constante de valor próximo de 1 o que direciona a percepção


de uma elevada variação de nível, β apresentou um valor menor indicando a um peso reduzido
na elevação decorrente da tendência a qual não foi amortecida pois φ calculado foi zero, o
modelo não apresenta constantes para sazonalidade pois se trata de previsão de dados anuais o
que inviabiliza o estudo da sazonalidade que precisaria de repetições mensais ou semanais para
ser avaliada.
Em seguida apresenta-se a previsão para os anos de 2021, 2022 e 2023, junto com o
intervalo de confiança de 95%, número de amostras e os respectivos limites inferiores e
superiores na Tabela 4.
Tabela 4 - Dados refertente a previsão
Datas t Previsão (kg) L.inf (kg) L.Sup (kg)
2021 22 14.209.291.350,29 13.554.331.582,05 14.864.251.118,54
2022 23 14.575.941.572,71 13.649.734.897,14 15.502.148.248,28
2023 24 14.942.591.795,12 13.804.488.039,11 16.080.695.551,12
Fonte: Autoria Própria

Pode-se visualizar o comportamento dos dados, tanto da série observada como da


prevista por meio da Figura 09.

Figura 9 - Previsão atual e futura de Produção de Carne de Frango


17980000000,00
Produção de Carne de Frango (kg)

15980000000,00

13980000000,00
Dados Reais
11980000000,00 Previsão
Previsão futura
9980000000,00
Limite Inferior

7980000000,00 Limite Superior

5980000000,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 101112131415161718192021222324
Nº da Ordem de série temporal

Fonte: Autoria Própria com base em dados disponibilizados pela ABPA (2021) e tratados estatisticamente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Com a realização da previsão por esse método, visualizou-se um resultado que indica
um aumento de produção de carne de frango no Brasil para os próximos anos, o que portando
é condizente com as previsões apresentadas pelos estudiosos do setor e disponibilizada pela
FIESP.
Para o ano de 2021 a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), prevê uma
produção de carne de frango no Brasil entre 14,1 e 14,3 milhões de toneladas. O modelo
utilizado para a pesquisa traz uma previsão de produção para o ano de 2021, que é representado
pela Nº 22 na ordem de série temporal, de aproximadamente 14,209 milhões de toneladas,
significando que o modelo está trazendo resultados dentro do esperado para a previsão.

CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo realizar um estudo da produção de Carne de


frango no Brasil por meio de previsões estatísticas para o ano atual e os próximos dois anos, ou
seja, para 2021, 2022 e 2023. Para o alcance desse objetivo geral, buscou-se coletar dados sobre
a produção de carne de frango entre os anos 2000 e 2020, interpretá-los, avaliar e gerar a
previsão para o ano atual e os próximos dois anos.
Com a realização da previsão, notou-se que a previsão tende a crescer com o passar de
cada ano, fazendo com que o mercado da avicultura como um geral cresça e se desenvolva
simultaneamente com o aumento de produção, onde espera-se um aumento de número de
empresas no ramo, expansão das empresas já existentes e uma melhoria contínua para estar
sempre na frente do concorrente, tornando um mercado mais forte a cada ano que passe.
O modelo de suavização exponencial se aproximou muito das previsões dos
especialistas para o setor sendo, portanto, o modelo mais interessante a ser escolhido e a
previsão para 2021 é de uma produção de aproximadamente 14 milhões de toneladas de carne
de frango e indica um crescimento se comparado com o ano de 2021, de aproximadamente
2,5% e 4,9% para os anos de 2022 e 2023, respectivamente.
Espera-se que o presente estudo seja útil às empresas ligadas ao setor agroalimentar,
bem como aos produtores, cooperativas e governos (estadual e federal) com vistas a auxiliar no
planejamento para o setor em termos de desenvolvimento, economia, importação, exportação e
todas as ações mercadológica envolvidas.
Como sugestão de futuros trabalhos pode-se elencar o uso de outras técnicas de
previsão tais como ARIMA, SARIMA ou Redes Neurais, que podem gerar resultados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

diferentes, podendo tanto serem mais quanto menos eficientes na previsão, tendo em vista que
nem sempre métodos mais complexos rendem melhores resultados.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 29

ANÁLISE DO BETA FOSFATO TRICÁLCICO DOPADO


COM ÍONS METÁLICOS

José Rosa de Souza Farias, Victória Régia Alves Sales, Genivaldo Melo da
Rocha, Ycaro Breno Alves de Almeida, Ketelly Estefane da Silva Alves,
Diogenes de Moura Junior, Slanna Larissa Olimpio Costa, Veruska do
Nascimento Simões e Aluska do Nascimento Simões Braga

RESUMO: O desenvolvimento de biomateriais constitui uma área de investigação


onde a colaboração entre a biologia, a bioquímica, a química, a medicina, a farmácia
e as engenharias se revela fundamental à necessidade de se obter um material
artificial que possa ser usado em diversas aplicações, tais como enxertos ósseos,
implantes, e no processo de regeneração óssea, de maneira segura e satisfatória sem
riscos ao paciente. Entre os biomateriais, as biocerâmicas de fosfatos de cálcio se
sobressaem entre os demais, principalmente devido a sua semelhança química e
cristalográfica com o osso humano, onde o beta fosfato tricálcico (β-TCP) é um grande
promissor nesse grupo por conta de suas excelentes propriedades de
biocompatibilidade, bioatividade in vivo, biorreabsorbilidade e osteocondutividade,
liberando íons de cálcio e fosfato promovendo a osteogênese, sendo parcialmente
reabsorvido entre 6 a 15 semanas após ser implantado no organismo. Por outro lado,
a baixa resistência mecânica à flexão e tração das cerâmicas e seu comportamento
biológico, faz com que haja necessidade de buscar materiais que satisfaçam tais
deficiências. Os metais e suas ligas respondem de forma funcional no que se refere a
substituição de estruturas que suportam cargas a fim de regenerar ossos e
biocompatibilidade. Dessa forma, os cientistas têm buscado na dopagem uma
alternativa a fim de melhorarem o desempenho dessa biocerâmica promissora. Desse
modo, o objetivo deste trabalho foi realizar uma pesquisa exploratória dos artigos
publicados nos últimos seis anos, utilizando a base de dados Science Direct, Web of
Science e Scopus, sobre o β-TCP dopado com metais e ligas. Foram encontrados um total
de 62 artigos sobre o tema, onde o país que mais publicou foi a China, seguida da Índia.
Em relação aos dopantes, o magnésio foi o mais utilizado. Os resultados mostraram
que as pesquisas vêm crescendo ao longo dos últimos anos e que a inserção de íons
estrangeiros no β-TCP acarreta inúmeros benefícios para a origem de um biomaterial
promissor para aplicações biomédicas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O desenvolvimento de biomateriais constitui uma área de investigação onde a


colaboração entre a biologia, a bioquímica, a química, a medicina, a farmácia e as engenharias
se revela fundamental à necessidade de se obter um material artificial que possa ser usado em
diversas aplicações, tais como enxertos ósseos, implantes, e no processo de regeneração óssea,
de maneira segura e satisfatória sem riscos ao paciente (Duarte, 2009; Bose et al., 2012).
Biomaterial pode ser definido como qualquer material, natural ou artificial, que
compreende o todo ou uma parte de uma estrutura viva ou um dispositivo biomédico que
executa, acrescenta ou substitui uma função natural (Chim e Gosain, 2009). Biomateriais
utilizados como substitutos do tecido ósseo devem possuir características peculiares. Eles
devem ser biocompatíveis, biodegradáveis e osteocondutivos, proporcionando a condução de
osteoblastos ou de células precursoras de osteoblastos para o sítio lesado e de fatores
regulatórios que promovam esse recrutamento, assim como o crescimento celular neste sítio.
Além disso, precisam proporcionar uma estrutura adequada, que servirá de suporte para a
neoformação óssea, possuir função imediata após a implantação e ter habilidade de
remodelação e integração com o organismo (Liu e Ma, 2004; Chen et al., 2009).
Dentre os biomateriais, as biocerâmicas também chamadas de cerâmicas de alta
tecnologia ou cerâmicas avançadas são definidas como sólidos inorgânicos podendo ser
constituídas por fases cristalinas ou amorfas, podendo ser quimicamente inertes ou não. A
aplicação das biocerâmicas se deve especialmente à sua bioatividade, apresentando uma
capacidade de se aderir, como exemplo, ao tecido ósseo circundante ou ainda como substituto
a fragmentos danificados do corpo humano. Apesar dos variados tipos de biocerâmicas
existentes, poucas são as que atualmente são utilizadas na clínica, pois para aplicações
biológicas, devem ser inertes, biodegradáveis e bioativas. Os materiais inertes são
biocompatíveis, causando respostas mínimas nos tecidos; os biodegradáveis são incorporados
aos tecidos vizinhos, podendo ser degradados com o tempo e os bioativos estimulam o
crescimento ósseo (Farias et al., 2020; Azevedo et al., 2008).
As biocerâmicas à base de fosfato de cálcio se sobressaem entre as demais,
principalmente devido a sua semelhança química e cristalográfica com o osso humano. Como
resultado, além de não serem tóxicas, são biocompatíveis, não são reconhecidas como materiais
estranhos no corpo e o mais importante, exibem comportamento bioativo e se integram ao
tecido vivo pelos mesmos processos ativos na remodelação de ossos saudáveis. Isso leva a uma
ligação físico-química íntima entre os implantes e os ossos, denominada osteointegração.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Outras principais razões para o sucesso do uso dos biomateriais de fosfato de cálcio para
substituição óssea é a facilidade de manipulação e moldagem, sem que haja necessidade de
forma prévia ao implante, adaptando-se totalmente à forma da cavidade óssea e por não
aquecerem durante o processo de endurecimento, evitando a necrose tecidual no sítio de
implantação (Moraes et al., 2004; Dorozhkin, 2010).
De formulação química Ca3(PO4)2 o beta fosfato tricálcico (β-TCP), se destaca por conta
de suas excelentes propriedades de biocompatibilidade, bioatividade in vivo,
biorreabsorbilidade e osteocondutividade liberando íons de cálcio e fosfato promovendo a
osteogênese, podendo ser parcialmente reabsorvido entre 6 a 15 semanas após ser implantado
no organismo (Eslaminejad et al., 2013; Leucht et al., 2013; Stefanic et al., 2013). Desta
maneira, esta biocerâmica tem tido destaque na utilização em procedimentos que visem à
reconstrução óssea devido sua ausência de toxicidade local ou sistêmica, ausência de respostas
de corpo estranho ou inflamações e aparente habilidade de se ligar ao tecido hospedeiro, uma
vez que sua natureza química é formada basicamente por íons cálcio e fosfato que participam
ativamente do equilíbrio iônico entre o fluído biológico e a cerâmica (Pinto, 2015).
Apesar das excelentes propriedades que essa biocerâmica apresenta, existem algumas
desvantagens como: baixa resistência mecânica devido à sua estrutura porosa e presença de
infecções, problema este frequente nos implantes. A fim de solucionar essa deficiência, estudos
comprovam que a adição de íons metálicos melhora as propriedades mecânicas e propriedades
biológicas como: a osteogênese e a proliferação de células osteoblásticas, além de mudanças
estruturais nos parâmetros de rede (He et al., 2020; Santos et al., 2020).
Partindo desse pressuposto, o objetivo deste trabalho consistiu em realizar uma pesquisa
exploratória dos artigos publicados nos últimos seis anos sobre o β- TCP dopado com íons
metálicos, mostrando o efeito do dopante incorporado na estrutura desse fosfato de cálcio, a fim
de apresentar as consequências que a dopagem induz em suas funções biológicas, estruturais,
químicas e mecânicas.

METODOLOGIA
A coleta de dados se deu através de busca eletrônica na base de dados Science Direct,
Web of Science e Scopus. Os critérios de inclusão definidos foram: artigos publicados nos
últimos seis anos sobre o β-TCP dopado, isto é, aqueles que apresentam trocas de íons
metálicos, entre o período que compreende os anos de 2016 até 2021. Foram utilizadas como
palavras-chaves, no campo de busca, a combinação das seguintes palavras: “beta tricalcium
phosphate doped”. Foram excluídas da pesquisa: artigos de revisão e capítulos de livros. Para

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

esta revisão, a pesquisa inicial resultou em um total de 62 (sessenta e dois) artigos encontrados
na busca. Foram excluídos quaisquer outros trabalhos que não faziam parte do tema da pesquisa
tais como: dopagem com outro polimorfo que não era o β-TCP, por exemplo o α- TCP ou a
fabricação de compósitos. Após a análise dos trabalhos restantes foram selecionados os
trabalhos que apresentaram potencial relevante para o estudo em questão, estes foram obtidos
na íntegra e avaliados quanto a dopagem, levando em conta a quantidade de artigos no decorrer
dos anos, os países que mais publicaram, bem como os íons mais utilizados nas substituições
com o β-TCP.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Figura 1 exibe a quantidade anual de publicações dos últimos 6 anos.
Figura 1. Número de artigos por ano.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021

Analisando a figura 1, percebe-se que, de uma forma geral, há uma proporção crescente
no número de artigos publicados, evidenciando o aumento das pesquisas sobre o β-TCP dopado
com íons metálicos. Observa-se que no ano de 2016 foram encontrados 14 (quatorze) artigos,
em 2017 o número diminuiu para 10 (dez) artigos, em 2018 houve uma queda no número de
publicações totalizando 09 (nove) trabalhos, em 2019 o número passou a crescer para 12 (doze)
artigos e em 2020 o total de resultados apontou para 15 (quinze) artigos, onde até o presente
momento da pesquisa foram encontrados 02 (dois) artigos para o ano de 2021. O aumento no
número de publicações nos últimos anos mostra o interesse da comunidade científica sobre essa
biocerâmica que tem se tornado alvo de inúmeras pesquisas visando distintas aplicações.

A figura 2 exibe de maneira simplificada os principais países com as respectivas


quantidades de publicações. Verificou-se que a China com 13 artigos é o país que mais publicou
nos últimos seis anos, seguido da Índia e Estados Unidos que possuem 8 e 6 publicações,
respectivamente. É possível notar que os países de primeiro e segundo mundo lideram a grande
parte das pesquisas, onde o Brasil ocupa a oitava posição nesse ranking.

Figura 2. Quantidade de publicações por país.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021

Analisando os dados com relação aos íons utilizados no processo de dopagem,


constatou-se que há um total de 62 artigos que sintetizaram o β-TCP dopado com íons. Dentre
os íons utilizados o magnésio (Mg) foi o mais utilizado, com um total de 18 contribuições,
seguido do estrôncio (Sr) e prata (Ag) com 9 e 8 contribuições, respectivamente. Em virtude da
importância do magnésio ao corpo humano, os íons Mg2+ têm sido alvo de inúmeras pesquisas
e aplicações, principalmente visando melhorias nas propriedades mecânicas do β-TCP.

Figura 3. Íons utilizados no processo de dopagem do β-TCP.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021

Neste sentido, apresenta-se a seguir, as citações dos principais artigos encontrados nas
bases de dados Science Direct, Web of Science e Scopus, desde do ano de 2016 até o presente
momento da pesquisa, ressaltando os íons que foram utilizados, o método de síntese, as

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

características do material após a sinterização (substituições iônicas), bem como a importância


do estudo para pesquisas futuras e seus resultados promissores para aplicações biomédicas.

Guo et al. (2016) sintetizaram com sucesso nanopartículas compostas por prata e β-TCP,
fabricado pelo método de redução química, com o intuito de se superar os problemas
relacionados à infecções de biomateriais como implantes e próteses que tenham em sua
composição o β-TCP como material principal, onde foram avaliados também as propriedades
finais do material formado. Os resultados concluíram que a estabilidade térmica do β-TCP foi
alterada com a adição das nanopartículas de prata, o tamanho médio das nanopartículas de prata
pode ser diminuído diminuindo-se a razão molar entre o nitrato de prata e o beta-TCP, onde se
concluiu também que o material formado pode ser utilizado como um material de revestimento
para melhorar a propriedade de superfície do poli (ácido láctico).

Zhu et al. (2016) sintetizaram nanoesferas porosas multifuncionais e fotoluminescentes


de β-TCP preparadas por rota solvotérmica dopadas com gadolínio, cério e térbio. A pesquisa
concluiu que as nanopartículas possuem tamanhos variados de poro e área de superfície
específica, o que beneficia a adsorção de drogas. Além disso, a co-dopagem confere às
nanoesferas características luminescentes e magnéticas, o que as tornam úteis em processos de
geração de imagens de fluorescência e ressonância magnética exibindo ainda alta capacidade
de liberação controlada de medicamentos. Portanto, tais nanoesferas são promissoras em
aplicações biomédicas, como em sistemas de entregas de drogas e scaffolds na engenharia
tecidual com orientação da bioimagem.

Stahli et al. (2016) analisaram as propriedades cristalográficas do beta fosfato tricálcico


onde os átomos de cálcio são parcialmente substituídos por átomos de hidrogênio junto com a
inversão do tetraedro P1O4, adotando o modelo da estrutura cristalina da whitlockita. Os
resultados da pesquisa concluíram que independentemente das condições de síntese a relação
Ca/P convergiu para 1.443 ± 0.003 (n = 36), corroborada pela presença de HPO4, conforme as
absorções no espectros FTIR, concluindo-se que se trata de uma fase termodinamicamente
estável, concluindo-se ainda que tal estudo é pioneiro na dopagem de átomos de hidrogênio na
estrutura cristalina do β-TCP, instigando a substituição do hidrogênio na solubilidade do β-
TCP.

Pham et al. (2016) relataram uma nova maneira de sintetizar hidroxiapatita dopada com
érbio visando emissão de luz infravermelha por meio da temperatura de recozimento ideal. Tal

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

método consiste em utilizar misturas bifásicas de fosfato de cálcio por meio da introdução do
beta fosfato tricálcico junto a hidroxiapatita e o dopante érbio. Desse modo, concluiu-se que o
processo resultou em uma emissão de luz mais forte cujo comprimento de onda é de
aproximadamente 1540 nm, tornando-se um material de possíveis aplicações na
telecomunicação e na biomedicina que utilizam o processo de ondas guiadas.

Silva et al. (2017) desenvolveram nanopartículas luminescentes de conversão


ascendente de β-TCP dopado com itérbio/ túlio a partir de hidroxiapatita deficiente em cálcio
sintetizado pelo método de coprecipitação em solução aquosa tratado termicamente com
radiação de microondas em diferentes temperaturas (de 900 ° C a 1000 ° C) e tempos (2–10
min). Os resultados experimentais de análise de luminescência e micrografias indicaram que a
melhor temperatura e tempo para se obter as nanopartículas é a 900 ° C por 3 min usando
microondas de radiação, capaz de converter fótons NIR para fótons de alta energia. Desse modo,
acredita-se que as nanopartículas podem ser usadas como agentes diagnósticos e terapêuticos
no futuro, resultando em uma estratégia importante para ajudar a superar certos desafios e
permitir que sejam traduzidos com sucesso em uso clínico, tratamento e monitoramento do
estágio da doença usando uma única partícula all-in-one, melhorando a qualidade da imagem
biomédica luminescente, rotulagem e terapia.

Goldberg et al. (2017) sintetizaram nanopós de beta fosfato tricálcico (β-TCP) dopado
com alumínio avaliando o teor de alumínio na composição da fase, parâmetros de rede, tamanho
do cristalito, área de superfície específica e morfologia dos pós. De modo geral, com o aumento
do conteúdo de alumínio, o tamanho da partícula diminui e a área superficial aumenta. Dos
produtos de síntese foram encontradas duas fases semelhantes ao mineral whitlockita: alumínio
enriquecido com solução sólida de Ca9Al(PO4)7 e β-TCP, onde a tendência geral é uma
diminuição dos parâmetros A e C da célula conforme o conteúdo de alumínio aumenta em
ambas as fases, onde a fase Ca9Al(PO4)7 ainda não havia sido relatada pela literatura e a segunda
fase é a solução sólida baseada em β-TCP com menor grau de substituição. Desse modo, foi
suposto que a coexistência de duas soluções sólidas distintas é devido a existência de cristalitos
nanométricos nas amostras sintetizadas.

Singh et al. (2017) sintetizaram beta fosfato tricálcico dopado com ferro, avaliando a
capacidade do β-TCP de hospedar o ferro em sua rede estrutural, sua susceptibilidade
magnética, o efeito da hipertermia, a biocompatibilidade e as características mecânicas. As
avaliações comprovaram que é possível o beta fosfato tricálcico hospedar até 5,02 mol de íons

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fe3+ em sua rede sem distorções estruturais onde o excesso dos íons causa uma redução
subsequente no comportamento ferromagnético e nas propriedades mecânicas do β-TCP, além
disso, os testes comprovaram que 7,54 mol de íons de ferro é a quantidade ideal para produzir
o efeito de hipertermia, confirmando a biocompatibilidade do ferro em sistemas de fosfato de
cálcio substituídos.

Hoover et al. (2017) projetaram scaffolds de beta fosfato tricálcico poroso dopado com
diferentes níveis de prata usando o método baseado em porogênio líquido com o objetivo de
reduzir os riscos de infecção em procedimentos de enxerto ósseo. O estudo concluiu que a
porosidade geral final é proporcional à porcentagem de volume da cerâmica na mistura, onde a
morfologia dos poros é ditada pela estabilidade do porogênio, que é controlado pela variação
da concentração de emulsificante. A adição de diferentes concentrações de prata teve um efeito
significativo sobre o tamanho e distribuição dos poros, pois introduziram interações adicionais
à mistura, desestabilizando a emulsão. Estudos in vitro na cinética de dissolução e
citotoxicidade mostraram que a porosidade aumenta com a taxa de dissolução e, portanto,
aumentando também a liberação de íons, onde não foi constatado também qualquer
citotoxicidade causada pelos scaffolds dopados com prata.

Meenambal et al. (2017) desenvolveram agentes de contraste multifuncionais


utilizando β-TCP dopado com gadolínio e disprósio (Gd3+/Dy3+) analisando de forma detalhada
as implicações estruturais devido às substituições simultâneas com o suporte de técnicas
analíticas. Foi demonstrado que Gd3+ e Dy3+ β-Ca3(PO4)2 co-substituído poderia ser formado
através de uma simples rota de precipitação aquosa. A análise quantitativa revelou a influência
da substituição combinada, declarando assim a ocupação Gd3+ e Dy3+ em Ca2+ (1), Ca2+ (2) e
locais de Ca2+ (3) de β-Ca3(PO4)2. Concluiu-se também alterações significativas nos parâmetros
estruturais com excesso de adições de Gd3+/Dy3+, levando a formação de componentes
adicionais GdPO4 e Dy2O3, onde foi confirmada a ausência de efeito citotóxico significativo,
tornando os agentes de contraste multifuncionais candidatos eficientes para agentes de contraste
de imagem multimodal.

Singh et al. (2017) investigaram os efeitos da co-substituição de Fe3+ e Ni2+ na estrutura


cristalina do β-TCP visando aplicações no campo da hipertemia. Os resultados confirmaram a
contração significativa da célula unitária β-Ca3(PO4)2 devido às substituições de Ni2β e Fe3β.
As co-substituições de Ni2β exibem características magnéticas superiores do que as de Ni2β
substituídas. Os testes de capacidade de indução exibiram boa corroboração com as medições

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

magnéticas como co-substituições Fe3β / Ni2β manifestando melhor efeito de hipertermia do


que substituições apenas de Ni2β. Teores elevados de Ni2β induziram toxicidade significativa,
enquanto a presença em nível ótimo no caso de co-substituições Fe3β / Ni2β revelaram
toxicidade insignificante. Os resultados gerais da investigação destacam a importância das co-
substituições Fe3β / Ni2β no β-TCP para aplicações em hipertermia.

Meenambal et al. (2017) sintetizaram beta fosfato tricálcico dopado com gadolínio
visando aplicações como agente de contraste para ressonância magnética no tecido ósseo. Todas
as amostras foram sintetizadas pelo método de precipitação aquosa e caracterizadas por difração
de raio X, Espectroscopia Raman e análise quantitativa por refinamento de Rietveld para
determinar o limite substitucional do gadolínio na estrutura cristalina do β-TCP. Os resultados
da pesquisa confirmaram a ocupação do dopante em três sítios atômicos distintos com
alterações significativas nos parâmetros estruturais, o limite de substituição do dopante foi
determinado como 4,35 mol% nas presentes condições de reação, ao passo que o excesso da
adição do dopante levou à formação de uma fase adicional. Além disso, foram realizadas
medições de magnetização do comportamento paramagnético que confirmaram uma forte
influência da dopagem com gadolínio sobre a magnetização de saturação, onde se confirmou
também comportamento não tóxico das amostras em células humanas. Desse modo, o estudo
concluiu que o beta fosfato tricálcico substituído com Gadolínio parece ser um meio de
contraste promissor para imagens de ressonância magnética de enxertos ósseos.

Meenambal et al. (2017) sintetizaram β-TCP dopado com disprósio (Dy3+) visando
aplicações em imagem por ressonância magnética e tomografia computadorizada. As análises
dos resultados confirmaram a ocupação do íon Dy3+ em três sítios atômicos distintos, o limite
de substituição do dopante foi determinado como 4,35 mol%, os comportamentos
paramagnéticos e não tóxicos foram confirmados a partir dos testes magnéticos e o ensaio de
citotoxicidade, respectivamente. Além disso, o material formado possui alta capacidade de
absorção de raios-X para tomografia computadorizada de raios-X, mostrando-se eficiente no
aumento de contraste. Desse modo, o estudo concluiu que o sistema proposto poderia ser usado
como uma sonda promissora para multimodalidade com imagem óptica, computadorizada
tomografia e ressonância magnética.

Vahabzadeh et al. (2017) investigaram a concentração do ferro no beta fosfato tricálcico


nas propriedades físico-mecânicas e na proliferação e diferenciação in vitro de osteoblastos. Os
resultados mostraram que a adição de ferro em concentrações de 0,5 e 1,0% em peso inibiu a

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

transformação de fase β-TCP em α-TCP a 1250 °C, levando à formação da fase líquida, a adição
de 0,25% em peso de ferro aumentou a resistência à compressão do β-TCP de aproximadamente
167,27 a 227,10 MPa, onde maiores concentrações de ferro não alteraram a força de
compressão. Além disso, a presença de ferro aumentou tanto a massa relativa quanto a
densidade aparente das amostras e a proliferação e diferenciação de células osteoblásticas foram
aprimorados em todas as amostras dopadas onde a mais alta atividade osteoblástica foi
encontrada em amostras dopadas com 0,5% em peso de ferro.

He et al. (2018) sintetizaram uma biocerâmica de beta fosfato tricálcico (β-TCP) pelo
método de reação em estado sólido com vidro a base de fosfato (SPG), contendo estrôncio como
aditivo de sinterização visando melhorias na densificação e na estabilidade da biocerâmica. Os
resultados concluíram que o aditivo SPG permitiu a sinterização em estado líquido de β-TCP,
promovendo visivelmente a densificação da biocerâmica β-TCP, além disso, os íons de metal
do SPG foram substituídos pelos íons de cálcio do β-TCP, inibindo efetivamente a
transformação da fase β-TCP em α-TCP, aumentando a resistência à compressão com a
introdução de 10% em peso de SPG. Dessa maneira, o SPG pode servir como um aditivo eficaz
para melhorar a estabilidade das fases e a resistência mecânica dos poros da biocerâmica β-
TCP.

Van et al. (2018) foram pioneiros na síntese de fósforo pelo método de co-precipitação
a partir de cerâmicas bifásicas de hidroxiapatita e beta fosfato tricálcico dopadas com európio
e disprósio, com emissão de luminescência dupla vermelha e amarela aplicados no cultivo de
plantas. A análise dos resultados da pesquisa concluiu que a luminescência dos fósforos foi
significativamente afetada pela temperatura e tempos de recozimento. Além disso, sob um
comprimento de onda de excitação adequado, os fósforos exibiram a emissão característica do
Eu3+ dominante a cerca de 590, 616, 650 e 700 nm com o centro de emissão adicional de Dy3+
a cerca de 482 e 572 nm. Essas descobertas sugerem que a combinação de Eu 3+ e Dy3+ no
hospedeiro é muito útil para obter fósforos únicos vermelhos e amarelos, o que é de particular
importância para aplicações potenciais na agricultura, como cultivo de plantas, onde uma
combinação de luz vermelha e amarela é necessária para estimular a produção de frutas.

Van et al. (2018) sintetizaram β-TCP codopados com Európio (Eu2+) e Manganês
(Mn2+) investigando a função da concentração dos dopantes e da temperatura de recozimento
no controle de emissão de luz azul e vermelha dos fósforos dos fosfatos tricálcicos sintetizados.
Os resultados da pesquisa comprovaram a fotoluminescência azul-vermelha em fósforos

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

obtidos a partir de fosfatos tricálcicos dopados com európio e manganês, onde a emissão de luz
do TCP é máxima em concentrações de 7,5 mol. % para Mn2+ e 0,3 mol. % para Eu2+ após
recozimento à temperatura de 1100 °C. Tais fósforos possuem aplicações potenciais na
agricultura, como por exemplo, para o cultivo de plantas,e nanomedicina, que requerem uma
combinação de materiais ecológicos e emissão de luz.

Cheng et al. (2019) analisaram os efeitos do β -TCP dopado com manganês, analisando
a influência nos parâmetros de rede, parâmetros de átomo e na estrutura molecular das amostras.
O estudo constatou que a incorporação do manganês pode causar a contração da rede, onde os
parâmetros de rede e os volumes de células unidas diminuem com o aumento do conteúdo de
dopagem sem alterar seu grupo espacial R3c. Além disso, os sítios Ca (5) e Ca (4) podem ser
substituídos por Mn2+, resultando na distorção do poliedro Ca (5) O6 e na expansão do poliedro
Ca (4) O3, onde tal distorção pode contribuir para o aumento da bioatividade e a mineralização
do beta fosfato tricálcico substituído com manganês.

Konishi et al. (2019) estudaram o efeito da substituição do cobre na estrutura cristalina,


na estrutura química local e na propriedade de dissolução, visando esclarecer o mecanismo de
dissolução do β-TCP. O estudo verificou que foram formados fosfatos de cobre de fase única,
e que a dissolução desses fosfatos diminui com o aumento do teor de cobre. Além disso, o
estudo propôs o modelo do mecanismo de dissolução, segundo o qual as partículas de fosfato
de cobre inicialmente poderiam se dissolver por hidrólise com base no componente de
dissolução rápida. Posteriormente, como a camada hidratada formada em sua superfície
causaria a dissolução controlada por difusão, o componente de dissolução lenta torna-se
dominante, levando à diminuição da taxa de dissolução. Neste sentido, esse estudo fornece uma
estratégia química para a liberação controlada de cobre em biomateriais terapêuticos.

Han et al. (2019) estudaram os efeitos da adição de diferentes proporções de Cu na


composição de fase, porosidade, microestrutura e interação in vitro com células osteoblásticas.
A pesquisa concluiu que o cobre estabiliza a estrutura do β-TCP, enquanto nenhum efeito
significativo da microestrutura e porosidade foi encontrado, concentrações menores que 1% em
peso de cobre não tiveram efeito citotóxico, enquanto a diminuição da proliferação de células
osteoblásticas foi observada em 1% em peso de TCP dopado com Cu. Além disso, a adição de
cobre reduziu a expressão de genes inflamatórios nos osteoblastos humanos, o que mostra que
a adição de Cu ao β-TCP pode fornecer uma estratégia terapêutica que pode ser aplicada na
engenharia tecidual.

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Altomare et al. (2019) sintetizaram beta fosfato tricálcico tri dopado com manganês,
níquel e cobre onde foram analisadas as propriedades químicas e luminescentes. Segundo as
caracterizações realizadas no material o estudo concluiu que o material formado consiste em
agregados microcristalinos subesféricos, onde todos os compostos de fosfato substituídos pelos
íons cristalizaram no formato romboédrico do tipo whitlockita R3c, a análise das ocupações nos
locais octaédricos disponíveis mostra uma forte tendência de ordenação dos íons no octaedro
M5 energeticamente mais favorável. Além disso, foram constatadas leves mudanças de banda
dos modos de fosfato correlacionados ao tamanho em evolução do cátion de substituição, onde
a espectroscopia de luminescência mostrou propriedades de luminescência significativas e
tempos de decaimento consistentes para as fases Mn e Cu e revelando uma redução parcial da
espécie Cu2+ para Cu+.

Sinusaite et al. (2019) analisaram o efeito da dopagem com Mn na síntese a baixa


temperatura de polimorfos de fosfato tricálcico (α- e β-TCP) preparados pelo método de
precipitação úmida sob condições idênticas e recozidos a 700 °C. O estudo relatou que embora
o conteúdo de Mn não tenha afetado a estrutura dos precipitados conforme preparados,
verificou-se que o aumento do conteúdo de Mn resultou na formação de β-TCP, enquanto α-
TCP foi obtido com baixo nível de dopagem de Mn, enquanto uma mistura dos dois polimorfos
foram obtidos para concentrações intermediárias de Mn. Foi demonstrado que a substituição
parcial do Ca por íons Mn levam a mudanças estruturais na rede cristalina α-TCP. Além disso,
a dopagem com íons Mn permitiu a síntese de β-TCP a temperatura relativamente baixa (700
°C). O teste de citotoxicidade não revelou quaisquer efeitos tóxicos de íons Mn, mesmo para as
amostras com maior concentração de Mn, pelo contrário, a introdução de 1% molar de Mn para
α-TCP resultou em maiores valores de viabilidade celular.

Uskoković et al. (2019) desenvolveram um cimento integrativo ósseo de fosfato de


cálcio auto-endurecível a partir de β-TCP dopado com ferro que foi transformado em brushita
nanocristalina pelo processo de endurecimento visando melhorar as deficiências do cimento,
tais como: propriedades mecânicas fracas, osteoindução insignificante sem o uso de fatores de
crescimento exógenos e a falta de atividade antibacteriana intrínseca. Os resultados concluíram
que a brushita dopada com ferro foi o último produto formado, a transformação de fase de β-
TCP em brushite durante o endurecimento foi relativamente rápido e também seguiu um
processo relativamente simples, virtualmente livre de intermediários complexos. O pequeno
tamanho desses cristais contribuiu para a redução da porosidade e, consequentemente, para o
aumento das propriedades mecânicas. Especificamente, a resistência à compressão do produto

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endurecido dobrou devido à dopagem com ferro, além disso, apresentaram efeito positivo
contra as espécies bacterianas testadas. No geral, esses resultados indicam que cimentos
dopados com ferro submetidos a transformação β-TCP → em brushita durante o endurecimento
são promissores em vista do efeito positivo que apresentaram.

Samanta et al. (2019) avaliaram o efeito da carga dinâmica no desempenho da


regeneração óssea de diferentes biocerâmicas porosa de β-TCP dopado. Foram desenvolvidas
3 dopagens na mesma proporção de 5% com os dopantes zinco, magnésio e titânio e a síntese
da fase β-TCP pura, onde todas as amostras foram implantadas em modelo de defeito ósseo
femoral (coelho) para avaliar a regeneração óssea sob carga dinâmica. O estudo concluiu que a
baixa frequência de vibração axial, combinada com dopagem de íons metálicos, teve um efeito
proeminente na formação de osso novo, onde a amostra Ti-β-TCP comparada às demais,foi a
que apresentou melhor desempenho. No geral, as amostras dopadas mostraram regeneração
óssea significativamente melhor com condições de carregamento cíclico do que as amostras de
β-TCP puro, concluindo-se que o carregamento externo na forma de vibração axial intermitente
de baixa frequência com beta fosfato tricálcico poroso (ambos puros e implantes dopados)
estimulam a formação óssea precoce apresentando uma possibilidade emocionante para
desafios cirúrgicos ortopédicos.

Ates et al. (2019) avaliaram os efeitos dos dopantes níquel e manganês nas propriedades
estruturais e magnéticas das biocerâmicas β-TCP, bem como seu desempenho in vivo e in vitro.
Os resultados da avaliação concluíram que o tipo e a quantidade de dopantes usados causaram
mudanças notáveis no tamanho do cristalito, parâmetros de rede e volume da célula unitária do
β-TCP. O tamanho de cristalito das amostras dopadas foi superior ao das amostras puras, as
propriedades de magnetização foram significativamente afetadas tanto pela quantidade quanto
pelo tipo de dopante, onde a amostra Ni-TCP mostrou os efeitos de inibição no crescimento de
cepas bacterianas de S. aureus e E. faecalis, concluindo que os resultados das amostras
preparadas são promissores em aplicações biomédicas.

Spaeth et al. (2020) sintetizaram β-TCP dopado com cobre (Cu2+) analisando o perfil
cristalográfico das amostras quanto às mudanças ocorridas na dopagem. A análise concluiu que
os parâmetros de rede a e c e, consequentemente, o volume da célula unitária mostrou uma
diminuição significativa com o aumento da quantidade de Cu2+ até 15% molar. A técnica de
refinamento Rietveld indicou uma incorporação preferencial de Cu2+ no sítio Ca (5). Após a
ocupação quase total do sítio Ca (5), o sítio Ca (3) e posteriormente o Ca (2) foram ocupados

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por Cu2+, onde o limite de solução sólida constatado foi no nível de 14 a 15 mol%, concluindo-
se que tal descoberta é particularmente importante para estimar a taxa de liberação de íons
durante a hidratação ou degradação em futuras aplicações médicas.

Viana et al. (2020) avaliaram o efeito anti-erosivo de soluções contendo nanopartículas


de β-fosfato tricálcico (β-TCP) funcionalizadas com flúor ou com flúor mais estanoso no
esmalte e dentina. A pesquisa concluiu que o β-TCP dopado com fluoreto foi mais eficaz para
o controle da erosão dentária. Para o esmalte, as nanopartículas β-TCP funcionalizadas com
flúor não apresentaram melhoria na proteção contra erosão quando comparadas à solução de
flúor. Além disso não foi constatado nenhum efeito superior significativo das nanopartículas
β-TCP funcionalizadas com flúor + estanoso em ambos os substratos.

Pazarçeviren et al. (2020) sintetizaram cerâmicas bifásicas de hidroxiapatita e beta


fosfato tricálcico com o intuito de se estudar a absorção do boro e correlacionar as alterações
na estrutura cristalina do material pela adição incremental de boro. O resultado das análises
concluiu que a adição do boro distorceu a rede cristalina da apatita, aumentando a cristalinidade
e o tamanho do cristalito do β-TCP, a área superficial total e a mesoporosidade foram
expandidos conforme o teor de boro foi aumentado. Além disso, a adição de boro favoreceu
uma maior atividade de fosfatase alcalina, cálcio intracelular e armazenamento de proteínas
sem atividade citotóxica. Desse modo os resultados demonstraram um potencial muito alto para
serem utilizadas em compósitos na engenharia tecidual.

Van et al. (2020) sintetizaram um novo material baseado em cerâmicas bifásicas de


fosfatos de cálcio compostas por hidroxiapatita e beta fosfato tricálcico tri dopadas com érbio,
itérbio e molibdênio visando emissão de luz verde intensa ascendente. O estudo demonstrou
que a emissão seletiva de luz verde pode ser controlada e aumentada por meio da concentração
da dopagem, o material formado possui boa cristalinidade, a incorporação de molibdênio na
rede cristalina hospedeira favoreceu tanto a formação da fase única β-TCP, quanto orientou os
contornos de grão, desempenhando um papel importante no aumento da emissão de luz
ascendente.

Gokcekaya et al. (2020) investigaram a incorporação da prata na estrutura cristalina do


β-TCP, buscando novas informações pertinentes sobre a localização estrutural dos átomos de
Ag nos cristais de β-TCP. A pesquisa concluiu que átomos de Ag estavam localizados nos locais
e vacâncias Ca (4), enquanto a incorporação nas vagas Ca (4) equilibrou a valência da estrutura

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cristalina, na qual os átomos de Ca divalentes foram trocados com os átomos de Ag


monovalentes. Desse modo, o estudo fornece a primeira observação microscópica de átomos
incorporados na estrutura cristalina do β-TCP, estabelecendo a possibilidade de observação em
escala atômica de fenômenos de incorporação de várias apatitas.

Zhao et al. (2020) utilizaram β-TCP dopado com lítio visando aumentar a resistência a
compressão de scaffolds sintetizados por meio da técnica de impressão 3D visando aplicações
na engenharia tecidual. O estudo concluiu que a resistência à compressão é aumentada pela
mudança na composição, como também pela otimização do processo e o ajuste das
microestruturas. A adição de lítio ao β-TCP tem pouca influência na propriedade degradável,
nos efeitos de mineralização in vitro e na citotoxicidade preliminar, concluindo-se desta
maneira, que os scaffolds sintetizados são adequados para restaurações de defeitos ósseos, com
base na avaliação da porosidade, tamanho dos poros, distribuição de poros e resistência à
compressão.

Sinusaite, et al. (2020) analisaram as propriedades de síntese, estruturais, magnéticas,


mecânicas e biológicas do β-TCP substituído por ferro e zinco sintetizado pelo método de
coprecipitação por via úmida. As análises concluíram que houve a diminuição gradual nos
parâmetros de rede das amostras sintetizadas com o aumento do nível de substituição, ambos
os íons ocupam preferencialmente o sítio octaédrico Ca (5) e Ca (4) no nível de substituição
mais alto. A espectroscopia Raman confirmou a distorção da rede de amostras co-substituídas
por mudança gradual na forma dos espectros obtidos. Todas as amostras substituídas exibiram
comportamento paramagnético, onde os valores de magnetização foram considerados
proporcionais à porcentagem de Fe nos pós sintetizados. Ensaios de citotoxicidade in vivo não
revelaram comportamento tóxico dos pós sintetizados, mesmo com o maior teor de íons
estrangeiros. Propriedades mecânicas do β-TCP sinterizado não foram melhoradas pela
substituição do Ca por íons estrangeiros, e os valores de dureza Vickers foram determinados
como sendo menores para amostras substituídas em comparação com a de cerâmica β-TCP
pura, concluindo-se que a biocerâmica dopada pode desempenhar um papel significativo em
aplicações biomédicas, podendo ser considerada um material eficaz para aplicações de
regeneração de tecido ósseo.

Motameni et al. (2020) sintetizaram partículas mesoporosas de β-TCP dopado com


Lantânio usando o método de precipitação úmida acoplado com sistema de refluxo de
microondas, realizando a análise estrutural e biológica do produto formado, visando aplicações

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como material de enxerto ósseo. O estudo revelou que os íons La3+ foram incorporados com
sucesso na rede cristalina do β-TCP e causaram expansão nos parâmetros de rede e no tamanho
de poro, diminuindo o tamanho do cristalito e área superficial das partículas. Da mesma forma,
a adição de íons La3+ exibiu liberação sustentada de proteína sérica ao longo de 24 horas de
incubação, diminuindo a taxa de degradação do β-TCP. Os resultados mostraram que todos os
materiais preparados eram citocompatíveis. Baseado nos resultados, conclui-se que o La- βTCP
têm um bom potencial para uso no osso para regeneração de tecidos.

Qiu et al. (2020) sintetizaram β-TCP dopado com gálio investigando sistematicamente
as influências da quantidade de Ga na estabilidade da fase, microestrutura, resistência mecânica,
citocompatibilidade, diferenciação osteoblástica in vitro e atividade osteoclástica da
biocerâmica Ga-TCP. As análises concluíram que a dopagem de Ga3+ no β-TCP foi capaz de
inibir a transformação da fase β-TCP em α-TCP, o que permitiu a sinterização de β-TCP em
temperaturas mais elevadas livre de transformação de fase. A fase α-TCP substituída com Ga
liberou íons Ga substanciais, resultando assim em notável citotoxicidade. De maneira geral, o
produto formado apresentou boa citocompatibilidade, inibindo a osteoclastogênese in vitro e
expressões gênicas relacionadas à atividade osteoclástica como também a diferenciação
osteoblástica, concluindo-se que a biocerâmica sintetizada é considerada um biomaterial
potencial para enxerto ósseo visando tratar defeitos ósseos com rápida reabsorção óssea,
precisando apenas de melhorias na osteogênese.

Wu et al. (2020) sintetizaram beta fosfato tricálcico (β-TCP) dopado com íons de
manganês bivalente (Mn2+) incorporado ao cimento de fosfato de cálcio (CPC) visando
melhorar sua capacidade osteogênica. A incorporação dos íons de manganês promoveu a reação
de hidratação do CPC, tornando os produtos de hidratação mais finos. Ao adicionar 10% em
peso do Mn-TCP no CPC, o tempo de configuração do CPC foi reduzido, enquanto a força e a
injetabilidade não foram alteradas. Os comportamentos celulares foram relacionados a dois
pontos: um foi o aumento da capacidade de adsorção de proteínas (por exemplo, BSA) após
alteração das propriedades de superfície dos cimentos ósseos; e o outro foi o papel biológico do
Mn2+ liberado do CPC na osteogênese. Todos os resultados indicaram que o CPC incorporado
com 10% em peso de Mn-TCP tem boa osteogênese e propriedades físico-químicas adequadas,
formando um biomaterial prospectivo com aplicação na área de regeneração óssea.

Wang et al. (2021) sintetizaram hidroxiapatita e β-TCP com as seguintes concentrações


de estrôncio: 1, 5 e 15 mol % através de precipitação química e calcinação em alta temperatura.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Os resultados mostraram que com o aumento da concentração de Sr, primeiro houve uma
redução de Hap, fenômeno esse ocasionado pela distorção da estrutura de Hap, porém, quando
a concentração de Sr atingiu 15% a porcentagem de Hap começou a aumentar, esse último pode
ser explicado pelo fato de ocorrer a transformação de fase β-TCP para uma apatita deficiente
em Ca. Portanto, o aumento nos parâmetros de rede e volume indicam que houve com sucesso
a incorporação de Sr na estrutura cristalina de β-TCP e Hap, sendo que o raio iônico do Sr2+ é
maior que o Ca2+.

He et al. (2021) sintetizaram β-TCP contendo vidros de fosfatos dopados com Ga e Sr


através do método de extrusão e microperfuração. Os scaffolds (TCP/PGs) contendo Gálio
apresentaram proliferação celular e inibiu a diferenciação osteogênica in vitro , bem como as
atividades osteoclásticas, já as amostras contendo Sr e Ga alcançaram melhores resultados
quanto a proliferação celular, além de testes in vitro também foram feitos os testes in vivo, os
resultados contendo o Ga inibiram a reabsorção óssea, já as amostras implantadas em defeitos
de coelhos contendo Ga e Sr não suprimiram a reabsorção óssea mas também não promoveram
a regeneração óssea.

Com base nos resultados descritos, percebe-se que são cada vez mais constantes as
pesquisas envolvendo a dopagem com íons metálicos na estrutura cristalina do beta fosfato
tricálcico, com o intuito de aperfeiçoar as propriedades dos biomateriais já existentes, atuando
em distintas áreas clínicas tais como ortopedia, odontologia, e engenharia tecidual. Desse modo,
torna-se imprescindível o conhecimento das características dessa importante biocerâmica de
fosfato de cálcio, visando contribuir com a ciência, no intuito de reparar, restaurar ou regenerar
defeitos ósseos, melhorando assim, a qualidade de vida dos portadores de tais patologias.

CONCLUSÃO

Através do presente estudo constatou-se que as biocerâmicas de fosfato de cálcio vêm


se destacando por apresentar diversas aplicações, tais como: cirurgias reconstrutivas,
desenvolvimento de substitutos e enxertos ósseos, na regeneração óssea guiada, na engenharia
de tecidual, no cimento ósseo entre outros. Neste sentido, percebeu-se que a sinterização do β-
TCP com íons dopantes melhoram as características do material, favorecendo seu uso em
diferentes aplicações biológicas melhorando as propriedades de manuseio, desempenho
angiogênico e osteogênico, atividade antimicrobiana, entre outras propriedades. Além disso,
após o processo de dopagem com íons metálicos o β-TCP apresenta boa resistência à corrosão

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

e excelentes características bioativas, ausência de efeito citotóxico significativo bem como


aumento da resistência à compressão. Segundo os bancos de dados utilizados, de 2016 até o
presente momento, foram publicados 62 artigos, onde, de maneira geral, houve um crescimento
da quantidade de trabalhos, o que demonstra o interesse da comunidade científica sobre as
propriedades do β-TCP. Neste sentido, a China foi o país que mais publicou trabalhos seguido
da Índia. Em relação ao íon dopante, o magnésio foi o mais explorado nos últimos seis anos.
Diante disso, pode se concluir que são crescentes as pesquisas estudos e aplicações acerca do
beta fosfato tricálcico (β-TCP), com o intuito de aprimorar e melhorar as aplicações já
existentes, visando contribuir com a medicina e a engenharia tecidual na síntese de biomateriais
mais eficientes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 30

MELHORIA DO PROCESSO DE PRODUÇÃO: UM


ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA DE
PLÁSTICO

Marcone Freitas dos Reis e Maxwel Herculano Gomes

RESUMO: Após a segunda guerra mundial a gestão da qualidade surgiu como


forma de corrigir erros de determinados processos, ganhando força e
tornando-se fundamental para a competitividade das organizações, para a
economia mundial e para a sociedade. Desta forma, o trabalho em questão
tem como foco trazer propostas de melhorias no processo de atendimento ao
cliente em uma indústria do plástico, utilizando o diagrama de causa-efeito
que tem por objetivo aprimorar a investigação da causa raiz dos defeitos que
ocorrem nos produtos, o diagrama de Pareto que é a representação das
frequências das ocorrências em ordem crescente e sugerir a filosofia kaizen
que visa a melhoria contínua, propondo tratativas simples, de fácil aplicação
e com o menor custo possível. A empresa que aplica essa filosofia em sua
gestão, recebe como benefício a otimização de seus processos, confiança e
credibilidade no mercado, agregando valor em seus produtos e/ou serviços,
garantindo a satisfação do cliente e de seus colaboradores, gerando um
ambiente organizacional saudável e propícios a novas mudanças de
melhorias.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Atualmente o mercado exige mais rapidez em todos os âmbitos, seja na tomada de


decisão, respostas rápidas, como na entrega do cliente e com produtos de alta qualidade,
forçando as empresas a estarem sempre dispostas a inovar. Com isso, as empresas estão tendo
que se desdobrarem ainda mais, quando se trata de atualização desejando a inovação, pois
diferentemente de um passado recente, a concorrência não está mais restringida apenas no
bairro local, com a globalização, qualquer empresa do mundo pode se tornar concorrente.
Desta forma é de extrema importância e a adoção de técnicas de melhorias contínuas,
pois a partir delas, as empresas podem buscar melhorar seus processos, assegurando a redução
dos custos, garantia de atendimento dos prazos e impulsionar a satisfação do cliente.
No atual ambiente competitivo, no mercado de trabalho, as empresas precisam, cada
vez mais, de uma responsabilidade contínua com a excelência dos serviços. Desta maneira,
passam a se utilizar do mapeamento dos processos, para alcançarem maior conhecimento e
controle sobre suas tarefas e atividades, que consequentemente gera uma ascensão na qualidade
dos serviços e da organização (SANTOS et al., 2015).
Segundo Cotec (1999), a melhoria contínua pode ser empregada para adquirir melhoras
em qualquer das proporções de negócios, cooperando com causas básicas que colaboram para
que a organização seja capaz incidir seus custos, tempo, capaz de trabalhar com agilidade e
maior confiança, e principalmente desenvolvendo seu serviço.
Segundo Nicoletti Júnior e Oliveira (2016), na busca de caminhos para manterem-se
competitivas em seus mercados de atuação, as organizações têm implantado práticas para
aumentarem seu desempenho e, consequentemente, sua eficiência e eficácia visando atender o
crescente aumento de expectativas dos consumidores por melhores produtos e serviços. Neste
cenário, a gestão da qualidade mostra-se uma alternativa viável e efetiva para melhoria do
desempenho organizacional.
O desenvolvimento econômico e tecnológico mundial e a busca pela melhoria de
qualidade de vida fizeram crescer também o consumo de plásticos no Brasil, inicialmente
através de importações e, a partir da década de 70, por meio da implantação de unidades
produtoras de resinas no País (SCHWARZ, 1992).
Refletindo sobre isso, o termo qualidade já é conhecido, no entanto suas ferramentas e
métodos são desconhecidas pela maioria, e isso faz com que os produtos e/ou serviços não
atendam às suas respectivas propostas.
Dessa forma, para minimizar os problemas recorrentes nos processos e reduzir o número

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de reclamações, faz-se necessário a utilização de ferramentas que são fundamentais na


resolução de não conformidades, pois possuem um custo baixo e é de fácil aplicação.
É importante destacar que o mercado está em constante evolução e uma empresa que
não se enquadra ou não se adequa as novas tendencias em que o mercado está inserido, está
destinada a perder espaço e dificilmente seus objetivos.
Por esse motivo, a aplicação de ferramentas da qualidade tem como foco a melhoria dos
processos, a mitigação dos defeitos, padronização, competitividade e consequentemente
aumento na margem de lucro.
Atualmente, a excelência no atendimento ao cliente virou algo indiscutível devido ao
tema ser um dos maiores diferenciais competitivos no mundo dos negócios, onde tornou-se um
dos principais fatores que potencializam o crescimento das empresas. Segundo Gonçalves
(2018), proporcionar um serviço de qualidade ao cliente é muito mais do que zelar pelas suas
necessidades ou encaminhar suas reclamações. Superar suas expectativas e encantá-lo requer
uma preparação prévia. Um ótimo atendimento passa pela antecipação dos problemas dos
clientes. Portanto, a forma como a organização lida ao recepcionar seu cliente pode ser o
diferencial entre obter sucesso ou fracassar nos negócios.
O presente estudo tem como finalidade propor melhorias no processo de produção em
uma indústria do plástico, mapeando os processos, sugerindo métodos de identificação de causa
raiz, melhorar o relacionamento cliente/fornecedor e assim poder alcançar melhores resultados.

METODOLOGIA

Segundo Gil (2010), a pesquisa pode ser definida como um processo formal e
sistemático de construção de um método científico e tem o objetivo de descobrir respostas para
problemas através do emprego de procedimentos científicos.
A pesquisa realizada é de caráter exploratório, de natureza qualitativa e quanto aos
procedimentos técnicos, se classifica como pesquisa bibliográfica, documental e estudo de caso,
visando à identificação das falhas propor melhorias no processo.
Foi realizado um estudo de caso no perído de janeiro a julho de 2021, após uma
observação no processo de produção e aplicação de melhorias. A empresa objeto de estudo, é
uma empresa multinacional situada no estado do Rio de Janeiro, que atua na produção de resina,
aditivos e embalagens rígidas e flexíveis.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Processo de gestão da qualidade

De acordo com Paladini (2019) o fato de o termo qualidade ser de uso comum não é,
implicitamente, algo ruim. Na verdade, isso pode decorrer de profundo esforço feito em passado
recente para popularizar o termo. A questão é que os conceitos usados para definir qualidade
nem sempre são corretos; ou, melhor, com frequência são incorretos... E isto, sim, é um
problema, porque não se pode “redefinir” intuitivamente um termo que todo mundo já conhece;
nem restringir seu uso a situações específicas, se ele for de domínio público.
A Gestão da Qualidade deve ter uma visão abrangente do mercado, evitando concentrar
suas ações que enfatizam um único item do produto (ou serviço) ou omitem determinado
elemento (que pode ser crucial na decisão do cliente na hora de comprar). Deve, também,
considerar posturas equivocadas acerca da qualidade (por parte do mercado) e passar a
desenvolver estratégias de atuação com base nelas – e não contra elas (o cliente, como se sabe,
costuma ter razão)
Paladini (2019) diz que o conceito tradicional de Gestão da qualidade sempre envolve
duas áreas básicas de atuação: uma no âmbito global e outra no âmbito operacional, conforme
pode ser observado no Quadro 1 a seguir.

Quadro 1. Gestão da qualidade

Fonte: Paladini, 2019.

Segundo Costa (2014, Apud Campos, 2004), defende que um processo também pode
ser visto como um conjunto de causas, que provoca um ou mais efeitos, e que pode ser divisível
em outros processos menores, para facilitar seu gerenciamento. Um processo pode ainda ser
visto como a transformação de requisitos de clientes em produtos, através da realização de
atividades que adicionam valor. A Figura 1 a seguir, apresenta um exemplo de processo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 1. Processo

Fonte: Costa, 2014.


Se você é gestor de uma organização, com certeza é responsável por um ou mais
processos. Sem nos darmos conta, estamos cercados por processos, seja na organização em que
trabalhamos, seja no nosso dia a dia. Desde o momento em que acordamos para trabalhar até o
final do nosso dia, iremos presenciar e participar de vários processos. De forma bem simples,
podemos dizer que processo é a transformação, com agregação de valor, de recursos em alguma
coisa esperada (MARSHALL JUNIOR et al., 2012).

Atendimento ao cliente

Face as constantes mudanças no cenário mundial, o mercado torna-se cada vez mais
disputado, com produtos bastante semelhantes e clientes que buscam por valores agregados e
inovação. Nesse contexto, as empresas voltadas para seus produtos, mudaram o foco para os
clientes, principalmente, na qualidade dos serviços prestados e sua satisfação, com o objetivo
de atrair, reter e cultivar consumidores (COSTA; SANTANA; TRIGO, 2015).
Para atender e entender seus clientes, a empresa precisa conhecê-lo e dessa forma,
conhecendo-os, pode atender melhor. Se uma organização almeja por clientes fiéis, primeira
precisa saber quem são eles e quais são as suas necessidades. Esse fato não é uma tarefa fácil,
porém, é preciso que exista um entendimento de todos da empresa para a fidelização do cliente.
(COSTA; SANTANA; TRIGO, 2015).
Excelência no atendimento é fundamental. Não adianta focar, apenas, nos produtos e na
propaganda, pois a realidade só é percebida quando interagimos com as pessoas que trabalham
nas empresas, atendendo ou não às nossas necessidades e expectativas. A procura do algo a
mais deve ser persistente. Um atendimento de qualidade pode, entre outras coisas, decidir o
jogo a seu favor quando o cliente não percebe a diferença entre o produto vendido pela sua loja
e o exibido na vitrine da loja ao lado (GONÇALVES, 2018).
De acordo com Souza (2015), A preocupação com o bom atendimento e satisfação dos
clientes deve estar presente constantemente no cotidiano das organizações que pretendem
manterem-se firmes no mercado. Essa satisfação se dá através do julgamento que o cliente e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

usuário faz do serviço ou produto ofertado. É preciso ter foco no cliente, pois, sua insatisfação
gera perdas para a empresa.

Indústria do plástico

Criado no início do século XX, o plástico figura hoje um material de eleição para as
mais diversas funções, produtos e sectores do mercado mundial. A indústria plástica, que no
ano de 2018 produziu 359 milhões de toneladas de plástico (PlasticsEurope, 2019), é a 8ª maior
indústria dos Estados Unidos da América (Plastics Industry Association, 2019) e a 7ª maior
indústria Europeia (PlasticsEurope, 2019).
A plasticidade, a característica fundamental do plástico (Freinkel, 2011) permite que
este seja adaptado às mais diversas formas, funções e setores de mercado, sendo hoje alternativa
económica a materiais como o papel, madeira, vidro e metal.
Nos EUA, a indústria plástica é a 8ª maior indústria nacional, dá emprego a 993 mil
pessoas e gera lucros de 450 mil milhões de dólares anuais (Plastics Industry Association,
2019). Na Europa, a indústria é a 7ª maior contributária para o produto interno bruto europeu,
é responsável por 1.6 milhões de postos de trabalho e engloba 60 mil empresas distribuídas pela
fabricação, transformação e reciclagem de plástico (PlasticsEurope, 2019).
Segundo a mais polímeros (2019), em 2018, a indústria de transformação do plástico no
Brasil apresentou um faturamento de R$ 78,3 bilhões, com produção física de 6,2 milhões de
toneladas e 312.934 empregos gerados. É o quarto setor que mais emprega no Brasil, gerando,
atualmente, um total de 326 mil empregos. 90% de todos os empregos estão na cadeia do
plástico. A cada R$ 1 milhão adicional de produção, são gerados 29 novos empregos, e
aumenta-se R$ 3,35 milhões na produção total da economia e R$ 1,3 milhão no PIB brasileiro.
A indústria do plástico segue forte e cria muitas oportunidades de emprego, sendo esse
o segundo setor que mais cresce no estado do Rio de Janeiro, segundo o SIMPERJ (2019),
devido ao incentivo fiscal e a localização são fatores que ajudam.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Processo de atendimento ao cliente

As reclamações são recebidas e formalizadas através do canal de comunicação externa,


o SAC (serviço de atendimento ao cliente). Após o recebimento, o SGI (Sistema de gestão
Integrado), avalia os dados e as evidências recebidas, caso falte alguma informação, o SGI

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

solicita ao cliente dados que complementem a reclamação.


A partir daí, as ocorrências são enviadas ao LCQ (Laboratório e Controle de Qualidade)
para levantamento de dados através do sistema ERP e após o levantamento das informações a
área responsável tem a responsabilidade de realizar a análise de causa e as devidas ações
corretivas. Na Figura 2 a seguir, é apresentado o processo de atendimento das reclamações dos
clientes atual da empresa.

Figura 2. Processo de atendimento das reclamações dos clientes

Fonte: Autores, 2021.

As ocorrências são classificadas em normais e emergenciais, de acordo com a gravidade


do problema. Para cada reclamação há um prazo diferente de atendimento, conforme
apresentado na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1. Prazo de atendimento da reclamação dos clientes

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Aplicação das ferramentas da qualidade para identificação das falhas e oportunidades de


melhoria no processo

Através do diagrama de Pareto foi possível mapear os principais defeitos que impactam
na produção e que geram reclamações dos clientes. O Gráfico 1 a seguir, apresenta os principais
defeitos que ocorrem na injetora de plástico durante o processo de produção.

Gráfico 1. Principais defeitos no processo de produção

Fonte: Autores, 2021.

Foram destacados os principais defeitos que ocorrem no processo de injeção da empresa


estudada. O Gráfico 1 apresentou a aplicação do diagrama de Pareto em um processo de
produção de injeção de plástico, onde é possível identificar que as principais ocorrências são os
pontos pretos nas embalagens de plásticos produzidas gerando um total de 15 ocorrências, em
seguida 10 ocorrências de falha no finish, 09 de preforma ovalizada, 04 de variação de cor e 03
de ponto não fundido.
Com isso foi possível organizar as informações estabelecendo prioridades e dar direção
as ações corretivas ao time de melhoria e a área responsável, que por sua vez, deve priorizar os
defeitos com maior frequência ou que representa uma perda significativa de recursos.
O mesmo conceito pôde ser aplicado nas injetoras, como apresentado no Gráfico 2 a
seguir, as injetoras que mais ocorrem problemas referente as reclamações de clientes recebidas.

Gráfico 2. Quantidade de Reclamação por Máquina

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Após o levantamento das causas potenciais que levaram ao problema, foi identificado
que o problema que levou a não conformidade foi o item Máquina. A partir desta estrutura, as
causas podem ser identificadas e as ações corretivas tomadas baseadas na investigação.
Através da investigação, descobriu-se que as ocorrências de ponto preto, que é o
problema mais reclamado, são oriundas de partículas de material degradado e pó de PET que
ficam incrustado na parede interna da injetora que ao longo do tempo se desprendem gerando
pontos pretos nas embalagens produzidas.
No primeiro trimestre deste ano, um cliente do setor de bebidas abriu sete RNC´s
(Reclamação de Não Conformidade) sendo quatro procedente, duas improcedentes e uma em
análise. O resultado foi claramente superior em relação ao mesmo período do ano de 2020,
considerando que a média por trimestre foi de 19 RNC´s abertas. Redução de 63% na
quantidade de RNC´s.

Proposta de melhoria para o processo de produção

Durante o estudo foi observado a necessidade de implantar um formulário padrão, a fim


de facilitar a identificação dos possíveis problemas e traçar um plano de ação eficaz. Desse
modo, o fluxo das reclamações fica padronizado e o prazo de retorno da análise de causa
respeitado.
Esse modelo possibilita que o gestor da área possa investigar a causa que levou a ocorrer
o problema, mapear essas causas e propor as devidas soluções para o seu processo. Sua principal
aplicação é em situações indesejadas em que a empresa passa, e essa RNC é ideal para expor
as não conformidades que ocorrem no processo. Além da aplicação, esse registro de não
conformidade é utilizado para:
1. Distinguir uma situação de modo mais abrangente;

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

2. Enxerga não apenas o problema principal, como também outros problemas potenciais;
3. Encontra tratativas para as ocorrências com recursos disponíveis que a organização
possui;
4. Cria melhoria contínua no processo
O formulário em questão traz diversas vantagens para a organização, pois pode ser usado
em conjunto com outras metodologias e tem como característica a melhoria contínua que são:
− Maior velocidade na análise das reclamações dos clientes.
− Melhoria do processo.
− Identificação da causa raiz dos problemas
− Registro visual das não conformidades.
− Comprometimento dos colaboradores.
A proposta para a verificação da eficácia visa que as ações impostas devam suprir os
aspectos de eliminação do defeito, que são as medidas para correção de falhas nas fabricações
de modo que seja possível atingir o objetivo determinado, ou a mitigação do problema raiz que
é a diminuição dos impactos causados pelo defeito.
Este método reúne informações complementares que auxiliam a realização de uma
síntese da situação anterior com a situação atual proporcionando uma análise crítica e detalhada
expondo se a ação está sendo eficaz ou não.
Avaliar a eficácia tornou-se um critério para ser competitivo e ganhar mercado, pois
esta metodologia mostra o quanto a empresa está empenhada em satisfazer seus clientes e
manter o bom relacionamento.
Uma outra proposta de melhoria é a implantação de um software de gestão da qualidade,
onde os documentos, formulários, treinamentos e POPs (procedimento operacional padrão)
possam ser geridos de uma melhor forma. O software facilitaria para o gestor de cada área
acompanhar o status de cada ação e monitorar a eficiência das ações.

CONCLUSÃO

Pode-se verificar que a gestão da qualidade é o intermediário entre o cliente e o


fornecedor, tendo um papel fundamental no desenvolvimento das ferramentas da qualidade
dentro da empresa.
Após algumas análises foi detectado que o principal motivo de reclamações dos clientes
é pinta preta, que são oriundas de partículas de material degradado e pó de PET que ficam
incrustado na parede interna da injetora que foi priorizado e solucionado o problema, e também

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

identificou a injetora com maior geração do problema e estabeleceu ações para solucionar.
Portanto, pode ser comprovado a efetividade na identificação de problemas e através
desse estudo, conseguiu-se obter solução de problemas no processo de produção e
consequentemente uma redução no número de reclamações dos clientes.
Por fim, pode-se afirmar que o presente trabalho acadêmico contribuiu para a
organização com propostas de ação viáveis, de custos acessíveis, que investigassem os pontos
mais vulneráveis da mesma, inclusive, utilizando ferramentas de gestão para que estes sejam
trabalhados de modo a aperfeiçoá-los e adaptá-los ao perfil da organização.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 31

DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMA DE
COMPUTADOR PARA COMPACTAÇÃO DE PÓS DE
LIGAS METÁLICAS

Raphael Basilio Pires Nonato e Thomaz Augusto Guisard Restivo

RESUMO: A metalurgia do pó é uma área em constante crescimento que


requer um controle relativamente rigoroso de seus parâmetros governantes
para que possa apresentar resultados que justifiquem sua viabilidade. Nesse
contexto, o processo de compactação de pós de ligas metálicas é relevante
com vistas a fornecer matéria-prima de características mais adequadas ao
posterior processamento desses materiais. Isso se explica porque o grau de
compactação do pó influi diretamente no processo de densificação, o que
afeta a resistência mecânica do compactado. Diante disto, neste trabalho, um
programa de computador é apresentado com o objetivo de delinear e agilizar
a configuração do processo de compactação de pó de ligas metálicas,
tomando como base uma prensagem isostática a frio de punção único. Visto
que este programa foi desenvolvido em Microsoft Visual Basic 6.0®, sua
instalação e operação podem ser feitas em qualquer dispositivo baseado em
Windows®. Se os valores adequados dos dados de entrada forem inseridos
e as instruções de operação forem observadas, o referido programa pode
fornecer satisfatoriamente os seguintes dados de saída: (a) pororsidade do
pó compactado; (b) carga mínima para plastificar toda a massa do pó; (c)
carga para extração do pó compactado; (d) tensão radial durante a
compactação; (e) efeito de mola (recuperação da deformação elástica); e (f)
distribuição de tensão axial ao longo da altura do compactado. Diante do
exposto, o programa desenvolvido pode contribuir para acelerar e padronizar
o processo de compactação do pó, servindo também como linha de base para
futuras melhorias no processo de predição dos parâmetros envolvidos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

1. INTRODUÇÃO

A metalurgia do pó consiste no processo de fabricação em que uma forma sólida


definida (componente ou produto) é obtida a partir de pó na forma de partículas secas. Por
vezes, o produto deste processo apresenta propriedades mecânicas que permitem que possa ser
utilizado sem nenhum pós-processamento, ou seja, trata-se do chamado compactado verde
(THÜMMLER e OBERACKER, 1993). No entanto, a fim de aumentar a gama de
possibilidades de aplicação, muitas vezes processamentos adicionais se fazem necessários. Esse
conjunto de transformações adicionais comumente compreende tratamentos para melhorar as
propriedades, cujo escopo está relacionado aos parâmetros geométricos da peça, natureza do
pó, características metalúrgicas e mecânicas necessárias (UPADHYAYA, 1998). Em algumas
circunstâncias, o condicionamento do pó somente é possível pela mistura de aditivos na massa
do pó. Esses aditivos possuem as funções de ligação (aumento da resistência dos compactados
verdes), plastificação (provisão de condições adequadas para promover a plastificação) e
lubrificação (facilidade de deslizamento entre as partículas).

Em relação à reatividade do pó com o meio ambiente, uma das relações mais


importantes é aquela entre as forças superficiais e as forças inerciais, que aumenta com a
diminuição do tamanho das partículas. Visto que o processamento de cerâmicas e metais duros
comumente utiliza pós de granulação fina, estes apresentam alta atividade superficial. Os
problemas específicos referentes a este grau de atividade remetem a: (a) possível aglomeração
descontrolada (menor fluidez); e (b) desgaste do adesivo entre o punção e a matriz (pode causar
danos às ferramentas). Depois de obtida, a massa de pó bruto frequentemente apresenta baixa
compressibilidade (por exemplo, processo de atomização, onde as partículas são resfriadas
rapidamente), endurecimento por trabalho de cominuição mecânica, impurezas intersticiais
residuais, como oxigênio, carbono ou nitrogênio, e camadas de óxido formadas durante a
exposição do pó. Portanto, a massa do pó frequentemente passa por tratamentos térmicos para
aumento de tamanho, recozimento, desgaseificação, redução química, descarbonetação, etc.
(CHIAVERINI, 1992).

No que se refere à etapa de compactação, que está no escopo deste trabalho, visa
proporcionar a resistência mecânica necessária à peça, além de conferir as características
geométricas finais ou quase finais. Além disso, o contato com a intensidade requerida entre as
partículas do pó proporciona densificação adequada à preparação para as etapas subsequentes.
No tocante ao método de operação, existem duas operações de conformação assistidas por

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

pressão: métodos de compactação a frio e a quente. Na prensagem a frio, ocorrem as seguintes


prensagens: (a) axial (os punções impõem carga axial à massa do pó); (b) prensagem isostática
(onde o pó é selado em um molde elástico e uma pressão hidrostática vem de um líquido). Já
na prensagem a quente, a aplicação de pressão é feita concomitantemente com uma temperatura
superior à temperatura ambiente. As principais técnicas são: (a) prensagem axial e isostática a
quente, (b) forjamento a quente e (c) extrusão a quente (THÜMMLER e OBERACKER, 1993).

A etapa inicial da compactação é a densificação do pó metálico em uma matriz


considerada rígida em relação à massa a densificar. Esta matriz tem uma determinada cavidade
na qual o pó é sujeito a pressão por um punção vertical que se movimenta de cima para baixo,
ou dois punções verticais (um de cima e outro de baixo). Esta condição de contorno implica na
compressão das partículas de tal forma que um dos principais efeitos físicos diretos é a
soldagem a frio de suas superfícies. A ejeção da massa compactada ocorre após o processo de
compactação. O compactado deve possuir resistência suficiente para ser estável nos estágios
posteriores. Um lubrificante é frequentemente misturado ao pó antes da compactação para
minimizar a energia gasta e aumentar a vida útil da ferramenta (GERMAN, 2005).

O problema físico pode ser descrito da seguinte maneira: conforme a densificação


aumenta, as partículas vão sendo deformadas plasticamente e se tornam cada vez mais
resistentes pela deformação (comumente aumentando seu limite de escoamento). Em termos
microestruturais, as maiores partículas de pó estabelecem ligações em torno das menores. Isso
causa um aumento em suas áreas de contato, o que leva à diminuição das tensões de
cisalhamento internas às partículas. Se a pressão externa for mantida constante, à medida que
esse processo avança, se o limite de escoamento crescente atingir um nível alto o suficiente
para superar o efeito das tensões de cisalhamento decrescentes, então a densificação cessa.
Além disso, devido ao rearranjo das partículas, as mesmas podem ser deformadas
elastoplasticamente e endurecidas por trabalho a frio ou a quente, ou mais fragmentadas a fim
de aumentar a eficiência de compactação. Este processo de ponte pode ser alcançado
simplesmente pela aplicação de carga e / ou pela lubrificação das interfaces de partículas
(HÖGÄNAS, 2013).

Para descrever o comportamento da massa do pó quantitativamente, existem várias


abordagens, das quais três são listadas a seguir. A primeira considera a massa compactada do
pó como uma amostra homogênea, extraindo a relação entre pressão e densidade, e pressão
radial, por exemplo. Outra maneira de lidar com esta situação física é aplicar a mecânica do

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

contínuo e / ou simulação computacional, obtendo as tensões de resposta, deformações e


distribuição de densidade. A última abordagem, adotada neste artigo, se refere à micromecânica
da compactação, onde o comportamento das partículas individuais sob pressão é analisado.

Portanto, este artigo apresenta o programa de computador “PComp” desenvolvido em


Microsoft Visual Basic 6.0® com o intuito de definir e acelerar o planejamento da etapa de
compactação de pó de ligas metálicas. Devido ao fato de poder ser operado em qualquer
dispositivo cujo sistema operacional seja o Windows®, o programa também pode ser levado a
campo com vistas à operação remota. Ao seguir as instruções de preenchimento dos próprios
campos do programa, o mesmo pode fornecer os seguintes resultados: (a) pororsidade do
compactado; (b) carga mínima para que toda a massa de pó esteja em regime plástico quando
da compactação; (c) carga para extrair o compactado; (d) tensão radial durante a compactação;
(e) efeito de mola (recuperação da deformação elástica); e (f) distribuição de tensão axial ao
longo da altura do compactado. Com base nestes tipos de dados de saída, o processo de
prensagem pode ser adequadamente conduzido para obter as propriedades requeridas de
compactado e servir como base para futuras melhorias no processo e no programa.

METODOLOGIA

A expressão matemática para pressão de compactação corresponde ao método adotado.


Se o agente for um punção em uma matriz de compactação, a pressão de compactação é dada
pela razão entre a força e a área da face compactada, enquanto a pressão de uma compressão
isostática corresponde simplesmente à pressão hidráulica do fluido. O modelo para formular
matematicamente os fenômenos físicos envolvidos neste trabalho baseia-se em uma prensagem
isostática a frio de um punção de uma massa homogênea de pó.

No que se refere a porosidade,  , primeiro resultado do programa de computador

“PComp", definem-se os volumes real Vr e teórico Vt do material antes do processo de

compactação para comporem a Eq. (1), em que as massas específicas real e teórica são,
respectivamente,  r = m / Vr e  t = m / Vt .

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  
 (% ) = 1 − r  100 . (1)
 t 

No instante em que se inicia a densificação, as partículas de pó são comprimidas em


uma magnitude suficiente para que os poros interconectados se transformem em poros menores
esparsamente distribuídos. Esta situação pode ser modelada para cada partícula e sua
circunvizinhança, considerando a aproximação de modelo matemático de uma esfera oca sob
pressão hidrostática externa P (Fig. 1, parte (a)), em que  r é a tensão radial,  t é a tensão

tangencial. O círculo de Mohr correspondente ao estado de tensão da situação descrita está


representado na parte (b) da Fig. 1, em que  1 ,  2 ,  3 são as tensões principais 1, 2 e 3,

respectivamente, e  min e  max são as tensões de cisalhamento mínima e máxima,


respectivamente.

Figura 1. (a) esfera oca sob pressão hidrostática externa representando uma partícula de pó; (b) círculo de Mohr
representando uma esfera oca sob pressão hidrostática externa.

Fonte: Autores, 2021.

Neste trabalho, adota-se o critério de falha de Tresca com o intuito de ser conservador.
Consequentemente, a deformação plástica ocorre no momento em que a tensão de cisalhamento
máxima na superfície externa da esfera oca excede o limite de escoamento em cisalhamento,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

i.e.  (b) = SY / 2 , em que S Y é o limite de escoamento do material; a , b e r são,


respectivamente, os raios interno, externo e um genérico, tal que a  r  b . Observando o
estado de tensão representado na Fig. 1, parte (a), as tensões radial e tangencial estão
comprimindo o elemento infinitesimal.

Portanto, a Eq. (2) expressa a função de escoamento para o referido elemento


infinitesimal sob o critério de falha de Tresca, onde se assume que um resultado positivo não
nulo não é possível devido à adoção de um modelo matemático de material elástico-
perfeitamente plástico:

f ( t , r ) =  r (a, r , b, P ) −  t (a, r, b, P ) − S y , (2)

o que implica que, se a função de escoamento resultar em um valor negativo, todo o domínio
da esfera oca estará no regime elástico. Isso ocorre porque a superfície externa é onde se
localizam os valores mais baixos das tensões radial e tangencial. Caso contrário, inicia-se o
fenômeno do fluxo plástico e, de acordo com o modelo matemático adotado para o
comportamento do material sob escoamento plástico, o material não irá endurecer.

Observando a Fig. 1 e recorrendo à teoria da elasticidade (Sadd, 2021), as expressões


gerais governantes para os dois tipos de tensões envolvidas são dadas pelas Eqs. (3) e (4),
respectivamente:

Pa 3b 3 Pb 3
 r (a, r , b, P ) = 3 −
( )
b − a3 r 3 b3 − a3(,
) (3)

Pb 3 Pa 3b 3
 t (a, r , b, P ) = − −
( ) (
b3 − a3 2 b3 − a3 r 3
,
) (4)

A particularização r = b , que representa a plastificação da superfície externa da esfera,


produz as seguintes expressões (Eqs. (5) e (6)):

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 r (a, r , b, P ) r =b = − P, (5)

2b 3 + a 3
 t (a, r , b, P ) r =b = −P
(
2 b3 − a3 ). (6)

A substituição das Eqs. (5) e (6) na função de escoamento (Eq. (2)), resulta na Eq. (7),
que é o requisito mínimo para Pmin produzir a plastificação da superfície externa, o que inclui
a plastificação de toda a esfera oca, pois o fenômeno plástico começa na superfície interna da
esfera (Kholdi et al., 2020).

 2 b3 − a3 
Pmin   3
 S y (7)
 3 a  .

Em outras palavras, a pressão hidrostática externa necessária para induzir a deformação


plástica na superfície externa da esfera oca é tanto maior quanto menor for o volume oco em
relação ao volume da esfera como se fosse maciça.

Em comparação com a massa do pó, a rigidez da matriz cilíndrica é muito maior. Esta
suposição simplifica um pouco o modelo matemático ao analisar a situação do pó sob
compactação, pois não é necessário investigar a deformação da matriz. A pressão axial exercida
sobre a massa de pó pelo punção não é inteiramente transferida via pressão radial para a parede
da matriz.

(Long, 1960) sugeriu um modelo matemático para inter-relacionar as pressões axial e


radial. Consiste em um tampão cilíndrico metálico sobre o qual é aplicada uma pressão axial
(faces superior e inferior). Outra suposição feita por este autor é que o atrito é desprezado
porque a lubrificação é eficaz o suficiente para causar perdas consideráveis).

Um modelo aprimorado foi então proposto por (Bockstiegel, 1965), que utiliza o
modelo de Long como base para incluir o fenômeno de fricção. O modelo modificado enuncia
que a força de atrito entre a massa de pó e a matriz é aproximadamente proporcional à pressão

radial, Pr , causada pela pressão axial, Pa . Portanto, a tensão axial,  a , agora é uma função

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

das pressões axial e radial, onde  é o coeficiente de atrito entre a parede da matriz e a massa

do pó, e Pr é igual à tensão radial  r . Consequentemente, de acordo com o modelo de


Bockstiegel, o carregamento radial plástico durante o processo de compactação é dado pela Eq.
(8):

Pa − S y
Prp = , (8)
1+ 

Quando se trata de um corpo sólido prismático sob carga axial compressiva, o princípio
de Saint Venant pode ser verificado na distribuição de tensões axiais, onde as maiores
magnitudes são encontradas nas regiões de aplicação de carga direta. A uma distância suficiente
dessas regiões, o efeito da aplicação de carga diminui e a tensão assume uma magnitude quase
homogênea, a chamada tensão média. Um fenômeno análogo ocorre com uma massa de pó.
Conforme a distância da face do punção aumenta,  a diminui. Em contato com as faces do

punção, a massa de pó sofre uma pressão axial mais alta, resultando em uma densificação
também maior. Consequentemente, em termos de distribuição de partículas, quanto mais longo
o corpo, mais heterogêneo ele pode resultar. Para modelar este fenômeno, uma matriz cilíndrica
regular com rigidez infinita é a fronteira de um disco de massa de pó de raio rd (igual ao raio

interno da matriz), cujo eixo longitudinal é denominado y e o comprimento infinitesimal dy .


Na face superior deste disco, presume-se que a tensão axial seja  a ( y ) . Devido ao atrito entre

a parede interna da matriz e a superfície lateral do disco, a tensão axial que atua na face inferior
do disco é  a ( y + dy ) . Portanto, as Eqs. (9), (10) e (11), respectivamente, fornecem as forças

na superfície superior do disco ( Fu ), inferior ( Fl ) e o atrito ( F f ) entre o disco matriz:

Fu (rD , y ) =  rD  a ( y ) ,
2
(9)

Fl (rD , y ) =  rD  a ( y + dy ) ,
2
(10)

F f ( , rD , y ) =  2  rD dy  a ( y ) . (11)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Do equilíbrio, pode-se extrair a Eq. (12):

Fu − Fl = F f   rD  a ( y ) −  a ( y + dy ) =  2  rD dy  a ( y ) .
2
(12)

A reorganização da Eq. (12) implica na Eq. (13), que é a distribuição de tensão axial ao
longo do eixo longitudinal de um cilindro de massa de pó:

 y
 a ( y ) =  a (0) exp − 2   . (13)
 rD 

Conforme mencionado, mesmo após o cessar do carregamento, há uma tensão radial


remanescente. Consequentemente, uma determinada magnitude de força é requerida para
extrair o compactado do cilindro. Portanto, a força Fe necessária para ejetar a massa

compactada do cilindro é expressa pela Eq. (14):

Fe ( , rD , h,  rr ) =  2  rD h  rr , (14)

onde h é a altura do pó compactado,  rr é a tensão radial residual correspondente à obtenção


do regime plástico quando o pó foi compactado.
Após a ejeção da matriz, o efeito de retorno elástico, S b , vem da expansão elástica
natural do pó compactado, que depende principalmente das propriedades do pó, pressão,
aditivos e lubrificantes usados e características da matriz. Sua quantificação segue a seguinte
fórmula (Eq. (15)), que coincide com a definição de deformação:

D f − Di
S b (%) = 100 , (15)
Di

onde Di e D f são, respectivamente, os diâmetros inicial e final do pó compactado.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Portanto, a modelagem matemática aqui apresentada abrange as situações de


carregamento e ejeção. A primeira etapa se baseia principalmente em fornecer a carga
necessária para provocar o fenômeno plástico em partículas aproximadas por esferas ocas sob
pressão externa. Este último é governado pela tensão radial remanescente sobre a área de
contato entre o pó compactado e a parede do molde, com o objetivo de encontrar a carga para
extrair o pó.

No que se refere ao programa desenvolvido, “PComp”, o mesmo foi concebido no


Microsoft Visual Studio 10.0®, emulando o ambiente do Microsoft Visual Basic 6.0®. Visa
fornecer uma ferramenta para prever os seguintes dados: (a)  , representada pelo campo

“Porosidade (%):”; (b) Fe , correspondendo ao campo “Carga para extração do compactado de

pó ( N ):”; (c) Pmin , associado ao campo “Carga mínima para plastificar as superfícies externas

das partículas ( N ):”; (d) Pr , representado pelo campo “Pressão radial ao pressionar( MPa

):”; e (e), S b , correspondendo ao campo “Efeito de mola (%):”. Além disso, o campo “Área de

plotagem” fornece um gráfico que relaciona a distribuição de tensão axial ao longo da altura da
massa de pó (ver Fig. 1).

Figure 1. Interface inicial do programa “PComp”, com: (a) parte superior apresentando dez campos de dados
de entrada e os botões para cálculo e reinício; (b) parte inferior apresentando seis campos de dados de saída.

PLOT AREA
Fonte: Autores, 2021.

Ao fornecer dados de entrada de forma adequada, o programa pretende garantir que


todas as partículas de pó atinjam o regime plástico. Esta condição pode facilitar um eventual
processamento posterior, como por exemplo, a sinterização do pó compactado. Além disso, o

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

outro dado principal de saída é a magnitude da carga para extrair o pó compactado, o que é
valioso em termos de minimizar o gasto de energia. Essas duas saídas principais também tratam
da capacidade necessária do equipamento de prensagem.

Como pode ser observado na Fig. 1, existem dez campos de dados de entrada na
interface “PComp” a serem preenchidos. Cada campo em forma de retângulo corresponde ao
texto que lhe é imediatamente adjacente. Há seis campos como dados de saída, sendo cinco
destes numéricos e um gráfico (“Plot área”). A Tabela 1 apresenta a correspondência entre a
descrição de cada campo do programa (primeira coluna) e a respectiva variável presente nas
equações apresentadas (segunda coluna). Adicionalmente, associa-se a estas duas informações
a equação em que a variável ocorre.

Tabela 1. Dados de entrada no programa “PComp”, variáveis correspondentes e equações associadas.


Dados de entrada Variáveis Equação
Powder mass / Massa de pó (g) m 1

Bulk volume / Módulo volumétrico (mm3) Vbu 1

Theoretical volume / Volume teórico (mm3) V th 1

Compacted powder height / Altura do compactado (mm) h 14


Particle inner radius / Raio interno da partícula (mm) a 7
Particle outer radius / Raio externo da partícula (mm) b 7
Material yield strength / Limite de escoamento do
SY 7
material (MPa)
Friction coefficient between powder and die /  8
Coeficiente de atrito entre o pó e o punção
Punch diameter (mm) / Diâmetro do punção 2 rD 9
Compacted powder diameter after extraction / Diâmetro
Df 15
do compactado após a extração (mm)
Fonte: Autores, 2021.

É importante notar que, devido às mais diversas fontes de incerteza inerentes ao


processo de compactação, não é possível garantir que a situação real corroborará com o que é
calculado pelo programa de computador ou vice-versa, mesmo que todos os dados sejam
introduzidos de forma adequada. Por exemplo, o tamanho de partícula normalmente se refere a
um tamanho médio, não abrangendo os diferentes tamanhos de todas as partículas da massa de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

pó. Além disto, ao adotar o modelo matemático de partícula esférica oca, deixa-se de
contemplar com maior exatidão as partículas de outros formatos. Outras fontes de incerteza
referem-se a processos de medição, estimativas sobre parâmetros desconhecidos, etc. Em vista
disso, os dados de saída fornecidos pelo programa são apenas estimativas hipotéticas da
situação real.

O processo de abertura do programa “PComp” proporciona o surgimento da janela


mostrada na Fig. 1. Antes do preenchimento, todos os campos estão em branco. Dez campos
devem ser preenchidos como um requisito mínimo para o cálculo. Caso contrário, o programa
mostrará uma mensagem de erro. Depois que esse requisito for atendido, o botão verde
“Calculate !!!” deve ser pressionado, o que resultará nos cinco dados de saída preenchidos pelos
processos de cálculo internos e o gráfico da tensão axial versus a altura da massa do pó. Se uma
nova rodada de cálculo tiver que ser realizada, o botão vermelho “Restart” deve ser pressionado.
O programa é reiniciado com todos os campos na condição em branco.

Em relação à arquitetura interna, as sentenças de programação adequadamente dispostas


estão relacionadas a cada caixa de texto, botão e área de impressão. Isso é feito para fornecer
os referidos dados de saída. Especificamente relacionado à carga mínima para plastificar as
superfícies externas das partículas, a programação visa fornecer uma magnitude de carga tal
que toda a massa do pó esteja no regime plástico.

Alternativamente, um fluxo de operação é fornecido na Fig. 2 para mostrar o processo


de operação do programa. O fluxograma começa ao realizar a digitação das informações
adequadamente nos dez campos de entrada. Caso contrário, o programa retornará uma
mensagem de erro. Erros de digitação podem resultar em erros de cálculo após a execução do
mesmo ou em não execução do programa. No que se refere a este último tipo de erro, por
exemplo, se uma letra for inserida em qualquer campo, uma mensagem de erro aparecerá, pois
admite-se somente algarismos. Se aparecer alguma mensagem de erro, o botão “Restart” deve
ser pressionado para reiniciar e prosseguir. Um procedimento alternativo é clicar no botão “X”
na janela do programa, que fecha o programa. Para reabri-lo, é necessário clicar no ícone
correspondente ao programa. No entanto, se o valor numérico incorreto for inserido em
qualquer campo, o cálculo continuará de qualquer maneira. Posteriormente, o botão
“Calculate!!!” deve ser pressionado para iniciar o processo de cálculo. Se todos os dados de
entrada forem preenchidos de maneira adequada, os resultados agora podem ser lidos e o
processo para esses dados de entrada pode ser concluído.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figure 2. Fluxo de operação do programa de computador “PComp”.

Fonte: Autores, 2021.

O problema proposto neste trabalho refere-se à massa de pó de liga metálica a ser


transformada num componente compactado, cujos dados de entrada encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2. Dados de entrada para o problema proposto a ser calculado pelo programa “PComp”.
Dados de entrada Variável Valor
Powder mass / Massa de pó (g) m 30

Bulk volume / Módulo volumétrico (mm3) Vbu 3822

Theoretical volume / Volume teórico (mm3) V th 3632

Compacted powder height / Altura do compactado (mm) h 20


Particle inner radius / Raio interno da partícula (mm) a 0,015
Particle outer radius / Raio externo da partícula (mm) b 0,020
Material yield strength / Limite de escoamento do
SY 500
material (MPa)
Friction coefficient between powder and die /  0,05
Coeficiente de atrito entre o cilindro e o punção
Punch diameter (mm) / Diâmetro do punção 2 rD 15,6
Compacted powder diameter after extraction / Diâmetro
Df 15,7
do compactado após a extração (mm)
Fonte: Autores, 2021.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados para o problema descrito são apresentados na Fig. 3. Os dados de entrada


foram inseridos na parte superior da interface de acordo com a Tabela 2, o botão verde
“Calculate !!!” foi pressionado e os resultados podem ser lidos na parte inferior da janela do
programa. Abaixo dos resultados numéricos, o gráfico da distribuição de tensão axial em
relação à altura do pó compactado é apresentado.

Figura 3. Janela do programa “PComp” apresentando os resultados para o problema proposto.

Fonte: Autores, 2021.

De acordo com a Fig. 3, o pó compactado tem uma porosidade de 4,971%, uma pressão
radial de 139,182 MPa durante o processo de prensagem, um efeito de retorno elástico de
0,641%. Em termos de cargas, o máximo para plastificar as superfícies externas das partículas

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é 123499,910 N , e a carga para extrair o pó compacto é 23337,545 N . Em outras palavras, a


carga de extração corresponde a 18,9% da carga de compactação. Além disso, ao observar o
gráfico “Tensão axial versus Altura do pó compactado”, o valor da curva garante que no ponto
mais distante ( h = 20 mm ), ou seja, na base do compactado, o valor da tensão axial não seja
inferior ao valor correspondente ao limite de escoamento do material. Isso indica que todo o
domínio do pó compactado está no regime plástico. Portanto, o programa aqui apresentado pode
ser utilizado como uma ferramenta para auxiliar no processo de prensagem observando as
condições descritas neste trabalho, embora possa ser facilmente adaptado para atender a outros
requisitos.

CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou o software “PComp” para auxiliar no processo de prensagem


de pós de ligas metálicas, visando assegurar que toda a massa do pó esteja no regime plástico.
Foi desenvolvido em Microsoft Visual Basic 6.0®, dotado de dez campos de dados de entrada
e seis dados de saída para serem lidos.

Um exemplo de massa de pó foi submetido a cálculos neste programa de computador.


Especificamente no que se refere à distribuição de tensões axiais ao longo da altura do pó
compactado, o valor mínimo garante matematicamente que todo o volume está no regime
plástico.

O programa desenvolvido pretende: (a) ser um ferramenta única que englobe o


embasamento teórico para conduzir de forma mais fácil o processo de prensagem; (b) prover
agilidade na preparação e execução da prensagem; (c) prever o comportamento e os resultados
relacionados ao pó compactado; (d) ser uma ferramenta portátil, que pode ser acessada em
qualquer dispositivo baseado em Windows®.

Agradecimentos

Os autores são gratos à FAPESP pelo suporte financeiro à pesquisa por meio do projeto de
pesquisa 2020/09736-3.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOCKSTIEGEL, G. The Porosity-Pressure Curve and its Relation to the Size Distribution of
Pores in Iron Powder Compacts, Proceedings of the 1965 International Powder Metallurgy
Conference, New York, USA, 1965.

CHIAVERINI, V. Metalurgia do Pó, Técnica e Produtos, 3a. ed., São Paulo: Associação
Brasileira de Metais, 1992.

GERMAN, R. M. Powder Metallurgy & Particulate Materials Processing, New York: Metal
powder industry, 2005.

HÖGANÄS. Handbook for Sintered Components, 1a. ed., vol.1-3, Stocolm: Höganäs, 2013.

KHOLDI et al. Analysis of thick-walled spherical shells subjected to external pressure:


Elastoplastic and residual stress analysis. Journal of Materials: Design and applications, v. 234,
n. 1, p. 186-197, 2020.

LONG W. M. Radial pressure in powder compaction. Powder Metall, v. 6, p. 73–86, 1960.

SADD, M. H. Elasticity, Theory, Aplication, and Numerics, 4a. ed., London: Elsevier, 2020.

THÜMMLER, F. and OBERACKER, R. An Introduction to Powder Metallurgy, London: The


institute of materials, 1993.

UPADHYAYA, G. S. Powder Metallurgy Technology, Cambridge: Cambridge International


Science Publishing, 2002.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 32

REUSO E RECICLAGEM TÊXTIL COMO FORMA DE


EDUCAÇÃO PARA SUSTENTABILIDADE

Taynara Thais Flohr, Brenda Teresa Porto de Matos e Catia Rosana


Lange de Aguiar

RESUMO: A Indústria Têxtil vem buscando alternativas para que possa


desenvolver produtos e processos adequados aos conceitos de consumo e
produção sustentável. Considerando o problema ocasionado com o descarte
inapropriado de materiais têxteis, a orientação à população, no que diz
respeito ao uso, reuso, reciclagem e descarte de materiais têxteis, traz ganhos
e corrobora com o conceito de sustentabilidade, que leva em consideração o
tripé economia, sociedade e meio ambiente. Os diversos setores da sociedade
preocupam-se com as questões ambientais e adotam políticas e
procedimentos que minimizem impactos negativos. Uma forma de minimizar
tais impactos é prolongar o ciclo de vida de produtos, buscar novas
alternativas e conscientizar a população por meio de políticas de educação
ambiental, fazendo com que os consumidores conheçam os diferentes
substratos têxteis e possam escolher aqueles cujos impactos ambientais
sejam minimizados e, quando isso não for possível, saibam como prolongar
seu ciclo de vida e coloquem estes conhecimentos em prática. Ao procurar a
necessidade de preservação e redução de impactos ambientais e a busca por
práticas mais limpas, o presente estudo vem ao encontro desta realidade,
através da adoção de práticas socioambientais, apresentando alternativas de
reciclagem e reutilização de resíduos têxteis, além de aumentar o ciclo de vida
dos materiais. Desse modo, contribuiu com o conceito de sustentabilidade por
meio de um processo de interação social e reutilizou um total aproximado de
2 kg de tecido em aproximadamente 115 itens artesanais produzidos. Ao
transpor estes valores para aplicações constantes, é possível retirar do meio
ambiente toneladas de resíduos têxteis todos os anos.

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INTRODUÇÃO

O Brasil configura-se como um dos maiores produtores mundiais do setor têxtil


(ZONATTI et al., 2016), visto que os produtos têxteis e de vestuário estão presentes em todos
os aspectos de nossas vidas e movimentam a economia mundial (AMARAL, 2016). Segundo
a ABIT – Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, não por acaso,
atualmente, o Brasil já tem o sexto maior parque têxtil do mundo, empregando mais de 1,5
milhão de trabalhadores diretos, sendo o segundo maior empregador da indústria de
transformação. Hoje, há mais de 30 mil empresas produtoras de fibras naturais e químicas, de
fiações, tecelagens, confecções e de moda no país (OLIVEIRA et al., 2013).
Todavia, apesar de trazer movimentação para a economia, a indústria têxtil também
propicia diversos problemas ambientais, como a geração de resíduos sólidos oriundos dos
processos industriais, confeccionistas e também do pós-consumo (ZONATTI et al., 2016).
Além da contaminação causada pelos descartes incorretos dos resíduos sólidos têxteis, a
indústria gera um alto índice de poluição ao longo da sua cadeia produtiva, devido à utilização
em larga escala de matérias-primas extraídas da natureza ou da produção de fibras químicas,
desencadeando, assim, perturbações ao ecossistema, elevado consumo e poluição de água,
consumo de energia e emissões atmosféricas de poluentes. Com base nesses fatores, a
indústria têxtil está em segundo lugar no ranking das mais poluentes, perdendo apenas para a
indústria do petróleo (MENEGUELLI, 2017).
Segundo a ABIT, em 2019 foram produzidas cerca de 2,04 milhões de toneladas de
têxteis no Brasil; dessas, anualmente, aproximadamente 200 mil toneladas se transformam em
resíduos advindos somente dos cortes dos enfestos nas confecções brasileiras, posto que mais
de 90% desses resíduos de tecidos são descartados incorretamente (ZONATTI et al., 2016).
Com base nessa perceptível produção desenfreada, pode-se afirmar que a indústria têxtil
segue um modelo econômico de produção linear: “extrair, transformar e descartar”
(AMARAL, 2018). De acordo com a Fundação Ellen MacArthur, numa perspectiva mundial,
aproximadamente 2.625 kg de roupas são queimadas ou enviadas para aterros a cada segundo,
isso é equivalente a 8.782.000.000 kg de roupas descartadas anualmente (REICHART;
DREW, 2019). Fundamentados nessas informações, percebe-se a necessidade crescente do
incentivo a práticas sustentáveis, para que ocorra a minimização de impactos ambientais, estes
que são causados pelo consumo descontrolado e descarte inadequado.
Como forma de promover a redução ou não gerar resíduos, surge o princípio dos 3 R's:
reduzir, reutilizar e reciclar; reduzir o consumo ao máximo, reutilizar produtos e materiais

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

enquanto puderem ser reutilizados e, por último, reciclar aqueles que tiverem chegado ao fim
de sua vida útil (PIRAMIDAL, 2020). Estas ações têm sido promovidas como forma de
proteger os recursos naturais e minimizar o desperdício, focando no tripé da sustentabilidade,
formado pelo que é considerado ecologicamente correto, economicamente viável e
socialmente responsável. Deste modo, afirma-se que, atualmente, é extremamente importante
obter uma gestão sustentável, analisar um produto como um todo, ou seja, analisar desde o
seu processo até a obtenção do produto final, buscando verificar a possibilidade de
recuperação ou reciclagem do mesmo.
Com base no desenvolvimento sustentável e para manter um ecossistema harmonioso,
considera-se ideal a implementação de um processo cíclico, um conjunto de práticas cujo
objetivo é minimizar o impacto ambiental causado pelo desperdício de materiais e produtos
provenientes de recursos naturais, além de poupar a natureza da extração inesgotável de
recursos (PIRAMIDAL, 2020), dando opções para que tudo que venha a ser retirado da
natureza volte a ela sem prejudicá-la, corroborando com a Economia Circular, concebida
como a utilização de resíduos como insumos para a produção de novos produtos (ECYCLE,
2019). Tendo em vista a importância do estudo dessa problemática, o objetivo deste projeto é
expressar a importância do reuso e reciclagem de artigos têxteis bem como promover a
educação ambiental.

METODOLOGIA

A pandemia da doença COVID-19 pelo novo coronavírus foi reconhecida pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020. Após este reconhecimento diversas
medidas foram tomadas, dentre elas a restrição social, englobando o fechamento temporário
de escolas em todos os níveis, comércio e instituições. Desta forma, este projeto foi aplicado
em caráter remoto.
Foram desenvolvidos protótipos de produtos para posteriormente serem aplicados em
oficinas presenciais. Porém, com o período de isolamento e restrição social, foi adotado o uso
das redes sociais como forma de compartilhar os artigos produzidos, estimulando as
comunidades interessadas a confeccionarem artigos à base de resíduos têxteis, mesmo em
isolamento.
Os materiais empregados foram retalhos de tecidos fornecidos por uma indústria têxtil,
fabricante de artigos de cama, mesa e banho, sendo retalhos em tecido plano, malha e
enchimento de travesseiros.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Produção de vídeo com tutorial de produção de máscara caseira


Com a alta transmissão do coronavírus e o decreto do uso obrigatório de máscaras, a
procura pelas mesmas foi maior que sua oferta no mercado, onde surgiu a necessidade de
adaptação deste meio de proteção. Assim, foram introduzidas as máscaras caseiras,
produzidas em tecido. As máscaras de tecido, apesar de possuírem estruturas diferentes das
máscaras recomendadas, as cirúrgicas ou N95, têm a vantagem de poderem ser lavadas e
reutilizadas.
Para a produção de máscaras caseiras, foi elaborado um vídeo explicativo, onde o
passo a passo da produção de um modelo de máscara caseira foi apresentado. Neste mesmo
vídeo também foram apresentadas as formas corretas de manejo e cuidado.

Produção de máscaras caseiras para doação


Para doação a entidades beneficentes, foram confeccionadas 100 máscaras caseiras em
três tamanhos diferentes. Estas máscaras foram doadas a duas entidades de um município do
estado de Santa Catarina, sendo a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) e uma casa
de repouso.

Produção de artigos artesanais e elaboração de tutorial


A partir de pesquisas realizadas com o objetivo de determinar os artigos a serem
confeccionados e que tivessem um processo construtivo simplificado, deu-se início à
confecção de artigos de artesanato, bem como seus tutoriais.
Foram desenvolvidos dez produtos diferentes, sendo estes itens: almofadas, peso de
porta, porta-copos, jogo americano, vaso de flores decorativo e um trilho de mesa, jogos e
itens para crianças, como um jogo de dominó, marca-páginas e chaveirinho, e também um
absorvente ecológico. Posteriormente foi feito um tutorial em formato de slides, mostrando o
produto confeccionado, os materiais necessários e o passo a passo para confecção. Esse
tutorial foi publicado no site e mídias sociais da instituição (UFSC), durante as duas primeiras
semanas do mês de junho de 2020, fazendo uma publicação diária.
Em todos os artigos confeccionados foram utilizados tecidos descartados. Para a
confecção do jogo de dominó, dos porta-copos e do marca-páginas foi empregada também
caixa de leite longa vida, conforme a figura 1, por meio de um recorte de 12 x 5 cm e sobre
este foi colado um tecido com cola branca, formando o dominó e o marca-páginas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 1: Recortes de caixa de leite longa vida utilizados

Fonte: Autores, 2020.

Para a confecção das almofadas, feitas com tecido e preenchidas com enchimento de
poliéster, do peso de porta e do jogo americano, foram empregadas máquinas de costura,
overlock e reta, para a realização dos acabamentos. Para a confecção das almofadas, foram
utilizados retalhos de tecidos retangulares e quadrados e enchimento de poliéster. No peso de
porta, utilizaram-se duas peças de tecido retangulares, no tamanho de 15 x 25 cm, onde 3
laterais foram fechadas em máquina de costura overlock para depois ser preenchido com
areia, pedrinhas ou até mesmo retalhos de tecido para a conformação do formato e estrutura
do peso de porta. Ao final, o fechamento foi manual.
Para a confecção do trilho de mesa e um chaveiro, foram confeccionados diferentes
fuxicos, que, emendados uns nos outros, culminaram em um produto final. Confeccionou-se
também um vaso de flores decorativo, onde utilizaram-se pequenos retalhos de tecido e
preenchidos com enchimento de poliéster, formando uma tulipa.
Outro artigo produzido foi o absorvente ecológico feito de tecido, visto que além do
reuso de retalhos de tecidos ainda é feita a diminuição de absorventes descartáveis que são
grandes poluidores do ambiente. Novamente é um artigo onde se utiliza a máquina de costura,
sendo de uma confecção mais complexa, conforme tutorial apresentado na figura 2, porém,
sendo um artigo de grande potencial de venda.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 2: Tutorial para confecção de absorvente ecológico

Fonte: Autores, 2020

Produção de enfeites natalinos e elaboração de tutorial


Para encerrar o projeto, foi feito um vídeo de produção de uma guirlanda de Natal.
Este vídeo foi divulgado na época do advento, nas redes sociais da autora Taynara, bem como
na página do curso de Engenharia têxtil da UFSC, atingindo aproximadamente 600
visualizações, tendo uma grande aceitação pelo público.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nesta seção serão apresentados os resultados obtidos com o projeto.

Produção de vídeo tutorial para confecção de máscara caseira


O vídeo da produção de máscaras caseiras (figura 3), mostrou-se satisfatório,
alcançando grande público e promovendo conhecimentos sobre produção, uso e conservação
das máscaras. O vídeo foi publicado no youtube da UFSC, campus de Blumenau, no dia 26
de maio de 2020.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 3: Imagem do vídeo de produção da máscara caseira

Fonte: Autores, 2020

Produção de máscaras caseiras para doação


Receberam as 100 máscaras uma casa de repouso e uma unidade da Rede Feminina de
Combate ao Câncer, por se tratar de organizações sem fins lucrativos. Estas instituições
necessitaram de maior apoio durante a pandemia, assim a doação das máscaras (figura 4)
promoveu renda e amparo àqueles que as receberam.

Figura 4: (a) Máscaras confeccionadas; (b) tamanhos diferentes

(a) (b)

Fonte: Autores, 2020

Produção de 10 peças de artesanato, com elaboração de tutorial


Com a criação das 10 peças de artesanato mostrou-se que mesmo um pequeno retalho
resultante do corte ou da costura pode ser utilizado para confecção de itens, como pôde-se
observar no tutorial divulgado do jogo de dominó (figura 5) onde foram utilizados pedaços de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

tecidos de 3 x 3 cm.
Figura 5: Tutorial do jogo de dominó

Fonte: Autores, 2020

Também é possível utilizar os menores resíduos para incorporar o enchimento como


utilizado no peso de porta (figura 6).

Figura 6: Peso de porta

Fonte: Autores, 2020

Todas as peças tiveram seu tutorial publicado na página do curso de Engenharia Têxtil
da UFSC, bem como na sua rede social (Facebook).
Importante também evidenciar que para compor grande parte dos itens foram

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

utilizados outros materiais reciclados, além do tecido reutilizado, corroborando com o


conceito dos 3 R’s e da sustentabilidade. É o caso do porta-copo visto na figura 7-a e o marca-
páginas, figura 7-b que também empregam tiras de caixa de leite.

Figura 7: (a) Conjunto de porta copo e jogo americano; (b) marca páginas

(a) (b)
Fonte: Autores, 2020
Considerando que a cada ciclo menstrual uma mulher fértil utilize em média 15
absorventes descartáveis, ao longo de um ano ela terá utilizado cerca de 180 absorventes,
gerando um grande volume de resíduos. Assim, decidiu-se por fazer absorventes ecológicos
(figura 8) que podem ser lavados e reutilizados, evitando a produção em massa de um resíduo
que gera alto índice de poluição. Além de ser favorável ao meio ambiente, é confortável, evita
odores indesejados que um absorvente descartável pode causar por conta de seus
componentes e pode tornar-se uma fonte de renda para quem o produz.

Figura 8: Absorvente ecológico de tecido

Fonte: Autores, 2020

Outros itens selecionados e produzidos, além do apelo pela produção sustentável,


podem ser alternativas para geração de renda. São exemplos as almofadas (figura 9-a), que

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

podem ser produzidas de diversas formas e tamanhos, sendo de simples confecção, chaveiros
(figura 9-b) que podem ser utilizados tanto em chaves, bolsas ou estojos, agregando valor ao
produto, bem como o trilho de mesa (figura 9-c) e o vaso de flores (figura 9-d), que podem ser
opções de decoração e presentes.

Figura 9: (a) Almofadas; (b) chaveiro; (c) vaso de flores; (d) trilho de mesa

(a)
(b)

(d)

(c)
Fonte: Autores, 2020

Produção de enfeites natalinos com tutorial


Com a proximidade do Natal optou-se por elaborar um item natalino, e após
pesquisas, decidiu-se por confeccionar uma guirlanda natalina (figura 10-a), com o emprego
de fuxicos. O resultado da publicação do tutorial de produção da guirlanda foi excelente,
atingindo cerca de 600 visualizações (figura 10-b).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Figura 10: (a) Guirlanda de natal produzida; (b) vídeo de produção da guirlanda.

(a)
(b)
Fonte: Autores, 2020

CONCLUSÃO
O projeto promoveu a reutilização de aproximadamente 1,2 kg de tecido e 0,8 kg de
enchimento de poliéster. Levando em conta que foram produzidos em média 115 itens, foram
utilizados aproximadamente 0,02 kg de resíduos por produto confeccionado. Deste modo,
considerando que o estado de Santa Catarina possui aproximadamente 65 RFCC, conforme
dados disponibilizados pela própria rede, se cada instituição proporcionasse no mínimo duas
oficinas de reutilização de resíduos têxteis mensais, com 10 participantes, similarmente ao
presente estudo, em um ano, estima-se que seriam reutilizados em torno de 312 kg de
resíduos, com participação de, no mínimo, 650 voluntárias em aproximadamente 24
encontros. Extrapolando esta ideia a nível nacional, considerando cerca de 2.500 de
municípios atingidos, a marca chegaria a 12.000 kg de resíduos reaproveitados ao ano e
25.000 voluntários participantes. Ou seja, cerca de 12 toneladas de resíduos têxteis poderiam
estar sendo reaproveitadas na fabricação de artesanato com a valoração dos resíduos e ganhos
socioambientais.
Levando em consideração a divulgação em mídias sociais, onde foi possível atingir
um público superior a 1.200 pessoas, supondo que destes um total de 400 pessoas atingidas,
correspondente a um terço do público tenha feito somente um dos artigos divulgados, já se
observa a reutilização de 8 kg de resíduos que seriam descartados. Extrapolando, a um nível
nacional, considerando que 5% da população, aproximadamente 10 milhões de brasileiros,
resolvessem fazer 1 peça de artesanato de aproximadamente 0,02 kg, conforme o projeto, ter-

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

se-ia a reutilização de 200 toneladas de resíduos sólidos.


O projeto apresenta resultados promissores com a reutilização de sobras de materiais
de corte, atingindo um grande público por meio das divulgações pelas redes sociais

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://www.abit.org.br/cont/perfil-do-setor/>. Acesso em: 01 fev. 2021.
AMARAL, M.C. Industrial textilerecyclingand reuse in Brazil: case study and
considerations concerning the circular economy. Gest. Prod. 2018. v. 25, n. 3, p. 431-443.
AMARAL, M.C. et al. Reaproveitamento e Reciclagem Têxtil no Brasil: ações e prospecto
de triagem de resíduos para pequenos geradores. Dissertação (Mestrado em Têxtil e Moda).
Escola de Artes, Ciências e Humanidade, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2016. p. 07.
Versão corrigida.
ECYCLE, Equipe. O que é Economia Circular? 2019. Disponível em:
https://www.ecycle.com.br/2853-economia-circular/. Acesso em: 01 fev. 2021.
MENEGUELLI, G. Moda: A indústria que ocupa o 2º lugar no ranking das mais poluentes.
2017. Disponível em: https://www.greenme.com.br/consumir/moda/5181-moda-ranking-
poluicao. Acesso em: 01 fev. 2021.
OLIVEIRA, E. A. G. de.; WANDERLEY, R. G.; et al. Reuso de Resíduos Têxteis em
Comunidades Artesanais do Agreste Pernambucano. 9° Colóquio de Moda, Fortaleza
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PIRAMIDAL. Reduzir, reutilizar e reciclar: Conhecendo os 3R’s. 2020. Disponível em:
https://www.piramidal.com.br/blog/economia-circular/3-rs-da-sustentabilidade/#. Acesso em:
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REICHART, E.; DREW, D. 2019. Os impactos econômicos e sociais da Fast Fashion.
Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/blog/2019/02/os-impactos-economicos-e-sociais-da-
fast-fashion. Acesso em: 01 fev. 2021.
ZONATTI, W. F.; ARAÚJO, F. B. de. Levantamento das atividades de reuso e reciclagem
têxtil na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ciência e Sustentabilidade. Juazeiro do
Norte v. 2, n. 2, p. 7-27, jul/dez 2016.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 33

PROPOSTA DE MELHORIA NO PROCESSO DE


REPARAÇÃO DE UMA SEGURADORA DE
AUTOMÓVEIS

Marcone Freitas dos Reis e Igor Antônio Mendes

RESUMO: Nos dias atuais as empresas vem atuando em um ambiente


extremamente competitivo fazendo com que aumente consideravelmente a
necessidade de alternativas rápidas para encontrar respostas e atender as
exigências dos clientes. Dentro desse cenário, todos os esforços convergem
para o aumento da qualidade, redução de custos e desperdícios, garantindo
assim a confiabilidade de seus produtos e serviços no mercado. O Brasil está
atravessando um período de recessão na economia, porém, o setor de
seguros está indo na contramão dos demais setores da economia nacional.
Entretanto, a disputa por conquista de clientes para uma seguradora não é
tarefa fácil, pois cada dia que passa as seguradoras estão inovando para
conquistar uma maior participação no mercado. Portanto, um dos principais
desafios da seguradora em estudo tem sido em relação a manutenção do
cadastro de oficinas de funilaria e pintura para atendimentos aos segurados
e terceiros, devido à alta dos insumos e falta de profissionais no mercado, os
proprietários de oficinas tradicionais têm desistido do negócio para investir
em outras atividades. O estudo trata da aplicação de ferramentas da
qualidade para melhoria no processo de reparação de automóveis com o
objetivo de apresentar viabilidade e o aumento da satisfação dos clientes que
a seguradora pode ter montando o seu centro de reparação de automóveis
nas cidades de maior volume de vendas.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

O processo de reparação de um automóvel que sofre uma colisão, normalmente envolve


a atuação de uma seguradora, que após ser acionada, é a responsável por levantar os custos e
negociar a melhor forma de liquidação, diretamente com a oficina reparadora escolhida caso os
danos sejam parciais ou diretamente com o cliente em caso de indenização integral.
Para que os custos de reparação sejam definidos no processo atual, é indispensável a
figura da oficina reparadora, que entrará apoiando tecnicamente o regulador de sinistro da
seguradora, indicando o que consegue reparar e o que trocar de peças de acordo com capacidade
técnica de seus colaboradores.
O cenário conta com as seguradoras lutando para se manter no mercado buscando
reduzir custos para concorrer com suas congêneres e não perder segurados para as associações
de proteção veicular. As oficinas reparadoras por sua vez buscam sempre um melhor valor de
mão de obra por ser a única coisa que ainda se torna negociável.
Conforme Cunha (2021) o número de associações passa de duas mil contra 119
seguradoras, estas associações oferecem um serviço com o valor 60% menor que o das
seguradoras, o que atrai os clientes no momento de crise atual que vivemos. As associações não
fornecem seguros pois, esta atividade é restrita as seguradoras, elas oferecem um produto de
proteção patrimonial, que muitas vezes é confundido com o seguro.
Como a seguradora e reparadora buscam o lucro em suas operações, em um determinado
momento esta relação entre as empresas pode não ser mais viável diante do sucesso de uma
depender de redução da outra.
De acordo com Santos (2018) o lucro das oficinas começou a reduzir a partir do
momento que as seguradoras buscaram a redução dos custos para serem competitivas no
mercado transferindo para as mesmas o envio de orçamentos por sistemas sem a figura
presencial de um regulador e fornecendo peças diretamente das distribuidoras.
As empresas normalmente têm como objetivo obter o lucro em suas operações e por
isso deve utilizar as ferramentas adequadas de tomada de decisão para que não perca seus lucros
para sua concorrência. (SANTOS, 2018)
Apesar do lucro da oficina reparadora e seguradora se confundirem, vamos nos
aprofundar nos interesses da seguradora neste trabalho, trazendo pontos que fundamentam a
necessidade das seguradoras a planejar e estruturar uma melhoria do processo de reparação de
automóveis utilizado atualmente.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

METODOLOGIA

De acordo com Minayo (2002) metodologia é o caminho do pensamento e a prática


exercida ao se abordar a realidade, ela se compõe das concepções teóricas de abordagem, o
conjunto de técnicas para a construção da realidade e o sopro divino dado pelo potencial criativo
do investigador.
O tipo de pesquisa utilizada é descritivo e exploratório por se tratar de tema com
referencial teórico, mas que contém apresentação de dados reais coletados, e estudo de caso por
se tratar de uma análise profunda de um único problema descrevendo o mesmo de forma
detalhada e de fácil entendimento.
O universo deste trabalho é o setor de seguros brasileiro e a amostra a estudada são os
resultados financeiros, indicadores da qualidade e satisfação do cliente da operação de uma
seguradora de automóveis na cidade do Rio de Janeiro.
Os dados da pesquisa foram coletados em pesquisas bibliográficas e documentos da
empresa objeto de estudo no período de janeiro de 2020 a junho de 2021.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Mercado Segurdaor

A busca pela proteção sempre foi uma preocupação do homem que, mesmo no início da
sua existência onde a primeira proteção era a da preservação da vida. De acordo com Azevedo
(2009) por volta de 2250 a.C. já existia a percepção de risco dividindo-se as cargas em várias
embarcações e também em camelos espalhados em caravanas distintas.
O conceito foi se aprimorando com o passar dos anos diante das necessidades do
transporte marítimo, e à medida que se necessitavam e estudavam novas coberturas. Segundo
Azevedo (2009) o seguro só se estabeleceu em suas bases como é conhecido hoje durante a
Revolução Industrial da Inglaterra, onde foram criadas as primeiras sociedades de seguros.
De acordo com Azevedo (2009) somente após a chegada da família real no Brasil em
1808 houve uma preocupação com o desenvolvimento deste país, dentre várias iniciativas, foi
aberta a seguradora chamada Boa-fé, com normas reguladas pela Casa de Seguros de Lisboa.
Segundo Malacrida (2018) durante o império as atividades seguradoras foram marcadas
pelas regulamentações, muitas seguradoras foram constituídas no país e as estrangeiras
começaram a se interessar pelo mercado nacional.
De acordo com Tojal (2013) a revolução industrial foi propulsora de diversas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

transformações, neste contexto, o mercado segurador despontou no Brasil e no mundo devido


as grandes organizações realizarem grandes investimentos em ferramentas e maquinários
sofisticados, não podendo arriscar o capital empregado. Como todas as empresas, além de
qualidade e produtividade maximizada, as seguradoras passaram a atender as necessidades de
seus clientes ampliando seu roll para outras áreas de atuação como, seguro de automóveis, de
vida, de saúde, entre outros.
De acordo com Azevedo (2009) este tipo de seguro é importante por normalmente ser o
primeiro contato do cliente com a seguradora, convém mencionar que a muito tempo o seguro
de automóveis deixou de cobrir simplesmente sinistros do automóvel e seus componentes,
existe também uma seria de assistências oferecidos para atrair e cativar os clientes.
De acordo com Donzelli (2020) os tempos de crise obrigam as seguradoras a
aprimorarem a prestação de serviços aos clientes, os padrões de qualidade e eficiência devem
estar sempre altos devido os clientes ficarem mais criteriosos em momentos de crise buscando
o melhor custo-benefício, a satisfação de se ter um bom produto de uma marca conceituada já
não é importante, independentemente do tamanho da seguradora o que importa no momento é
ter um bom retorno do seu dinheiro.

Ferramentas da Qualidade

As ferramentas de qualidade nos ajudam a criar métodos para solução de problemas


através da análise de dados e fatos apresentados. De acordo com Pezzatto (2018) as ferramentas
da qualidade facilitam a manutenção, desenvolvimento do sistema de gestão da qualidade e são
utilizadas como apoio no processo de tomada de decisão e solução de problemas.
De acordo com Buchanan (2006) o estudo da tomada de decisão é uma mescla de várias
ferramentas do saber, a filosofia indica que a decisão reflete uma parte do nosso eu e nossos
valores, já a história relata que a tomada de decisão é tomada por líderes em momentos críticos.
O estudo do risco e do comportamento organizacional nasce com o desejo de ajudar os
administradores a obter maiores resultados.
Conforme Santos (2018) ao se pensar na concorrência, a tomada de decisão deve ser
feita de forma precisa, para que não se tenha prejuízo causado pelo uso de ferramentas
inadequadas e ou de forma imprecisa.
Com o avanço dos estudos na área da qualidade, percebeu-se que a maioria dos
problemas fabris poderiam ser resolvidos com o uso de ferramentas, estas foram agrupadas
conforme descrito na Figura 1 seguir, são: diagrama de causa-efeito, diagrama de Pareto,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

diagrama de dispersão, histograma, fluxograma, folhas de verificação e cartas de controle.

Figura 1. Ferramentas da Qualidade

Fonte: Coutinho, 2019.

De acordo com Pezzatto (2018) as sete ferramentas da qualidade contribuem para o


controle e melhoria da qualidade pois, permitem a organização de dados e informações a serem
utilizados na análise dos processos.

Processos

Os processos são um conjunto de ações especificas, necessárias para a produção de um


produto específico. Segundo Paim et al. (2011) consolidar conceitos e práticas que compõe uma
gestão de negócios é uma tarefa difícil devido a divergência sobre o que seja esta gestão.
De acordo com Araujo et al. (2016) processo é um conjunto de atividades sequenciadas
formado por um conjunto de tarefas elaboradas com o objetivo de levar um resultado
surpreendente ao cliente.
Segundo Paim et al. (2011) a melhoria de processos é uma ação básica que as
organizações devem fazer para acompanhar o desenvolvimento do mercado que atuam. Os
movimentos recentes da gestão de processos, estão ligados diretamente a tecnologia da
informação, assim como a reengenharia aderiu aos sistemas ERP, a gestão adere aos sistemas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

de informação trazendo a melhoria dos processos nas organizações, como exemplo é citado os
softwares de modelagem de processos, ferramentas CASE, plataformas de workflow, SOA,
entre outros.
A modelagem de processos consiste em representar em forma de modelo, mapa ou
diagrama o processo estudado com a finalidade de entender e documentar como está sendo feito
o trabalho e se necessário modificar ou automatizar. Segundo Rocha et al. (2017) devido os
avanços da tecnologia da informação, destacando o uso mais massificado da internet, faz com
que as empresas aumentem a velocidade de se adaptar à nova situações e oportunidades. Porém
criar novos produtos, serviços e processos no ambiente atual se torna inviável diante do risco e
custos elevados, surge assim a estrutura de modelagem para representar, descrever, testar e
predizer os possíveis comportamentos do sistema físico em situações especificas.
O BPM (Business Process Management) ou Gerenciamento de Processos de negócio
foi desenvolvido para atender à necessidade das empresas de conhecer o processo para poder
medir, gerenciar e posteriormente avaliar e propor melhoria. Segundo Brocke e Rosemann
(2013) o contexto de BPM se define como um conjunto de ferramentas técnicas capazes de
apoiar e possibilitar atividades ao longo do ciclo de vida de um processo e demais iniciativas
que podem abranger o processo como um todo. São exemplos os métodos que facilitam a
modelagem, analise e técnicas de melhoria de processos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Processo de reparação de automóveis atual

O processo de sinistro de automóvel se inicia após o segurado se envolver em um evento


coberto pelo contrato de seguro (colisão, roubo, furto, incêndio e alagamento) e realizar o
contato com a seguradora para abertura do sinistro, se falando se seguro auto, neste momento
o cliente respondera perguntas relacionadas ao acontecimento e definirá o local que deseja
realizar a reparação do seu veículo.
A escolha de uma oficina e ou centro de atendimento da seguradora, ditará a modalidade
de regulação do sinistro. As seguradoras normalmente não indicam oficinas, mas oferecem
algumas facilidades e benefícios para que os veículos sejam levados pelos reclamantes em
oficinas reparadoras com acordo formalizado entre as partes, esta escolha será crucial para que
a equipe de regulação de sinistros realize o primeiro atendimento em uma de suas modalidades.
Nos casos em que o cliente escolhe levar seu veículo em uma oficina que tem acordo
com a seguradora para realização de processo via imagem, ela vai se encarregar de enviar as

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fotos e seu orçamento para reguladores internos que realizaram a conferência e ajustes finais
para a reparação do bem, para os casos de oficina que não possuem este sistema de importação
digital será necessário a presença de um regulador de sinistros de forma presencial para
realização do mesmo serviço.
Existe ainda a opção de o cliente escolher ser atendido em um posto especializado que
conta com estrutura de realização da vistoria, liberação de carro reserva e direcionamento para
oficina escolhida sem intervenção do cliente, que pode buscar seu veículo pronto neste mesmo
local. A Figura 2 a seguir, demonstra o processo descrito.

Figura 2. Processo de reparação de automóveis atual

Fonte: Autores, 2021.

As três formas acima possuem uma diferença relacionada ao tempo entre o atendimento
da seguradora e o início dos reparos pela oficina, mas tem o processo como um todo com pouca

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diferença no seu tratamento, analisando do ponto de vista do proprietário do veículo.


São muitas as ações que as seguradoras têm feito, relacionadas a uma rápida resposta de
analise, regulação e liberação dos reparos, para trazer uma boa experiência ao cliente, mas nem
sempre o final é feliz, devido ao processo como um todo depender da oficina escolhida.
Caso ela atrase no prazo combinado, preste um atendimento ruim e ou realize um serviço
de má qualidade teremos a satisfação dividida entre a reparadora e seguradora independente do
atendimento prestado na abertura e regulação do sinistro.

Volume de atendimento e direcionamento

Nesta etapa serão apresentados os números relativos a abertura e atendimento de


sinistros bem como o direcionamento de acordo com a escolha dos clientes, lembrando que a
escolha da oficina reparadora é sempre do cliente.
O Gráfico 1 a seguir, apresenta a quantidade de sinistros e direcionamento no ano de
2020.

Gráfico 1. Quantidade de Sinistros e Direcionamento

Fonte: Autores, 2021.

Os dados apresentados são relativos à quantidade total de sinistros em todo país. A


coluna azul representa a quantidade total de sinistros de automóvel abertos e este total é dividido
entre a coluna verde que são os atendimentos em oficinas que trabalham realizando vistorias
por imagem e a coluna cinza que representa os atendimentos realizados in loco pelas empresas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

especializadas em regulação denominadas reguladoras.


É possível notar nitidamente uma queda brusca em abril e uma recuperação gradativa
no número de sinistros até o final do ano, esta queda se deu devido a primeira fase de
quarentena, com a chegada da corona vírus ao Brasil. Após esta data a empresa interrompeu
todas atividades presenciais de funcionários e fechou os centros de atendimento deixando
somente duas modalidades de regulação, o fechamento dos centros de reparação trouxe
reduções imediatas no direcionamento para oficinas com regulação via imagem.
Como resultado do fechamento dos centros de atendimento observa-se uma queda de
quase 70% de direcionamento para pouco mais de 50%, comprovando que mesmo sendo
somente um canal que tem por objetivo realizar o primeiro atendimento, tem grande poder de
atrair e direcionar cliente a rede com atendimento via imagem de menor custo pela Cia.
Existe nestes centros de atendimento uma política de concessão de descontos e extensão
de dias extras de carro reserva para convencer o cliente que opta por utilizar uma oficina que
não é atendida via imagem a não utilizar esta modalidade, mas podemos notar que a
oportunidade de o cliente poder ter o contato direto com um grupo de atendentes e a experiência
de ter informações rápidas e corretas com um canal que faz o acompanhamento dos reparos do
seu veículo também faz grande diferença.
O cliente que opta por um atendimento diretamente com a oficina fica com duas opções
de contatos para alguma dúvida ou realiza o contato com a própria oficina e ou com a central
de atendimento, que normalmente não consegue analisar o processo para fornecer uma resposta
e precisa enviar por e-mail para os setores e aguardar a resposta para realizar novo contato com
cliente para repassar.
O Gráfico 2 a seguir, apresenta uma média do comportamento de escolhas do cliente no
ano de 2020 e demonstra o atendimento das oficinas referenciadas, particulares e revendas, não
levando em consideração o tipo de atendimento de cada oficina visto que temos oficinas
referenciadas atendidas presencialmente na regulação externa.

Gráfico 2. Direcionamento por tipo de oficina

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

Como não possuí o cadastro da maioria das oficinas não referenciadas escolhidas pelos
clientes não é possível precisar o percentual entre oficinas particulares e revendas na primeira
coluna.
Os dados exibidos neste gráfico nos indicam que, se falando de escolha de oficina
referenciada, em média 15% dos clientes desta seguradora tem tendência a realizar reparos
somente na rede de revendas das montadoras. Também percebe-se que existe uma grande
parcela de clientes que optam por levar seus veículos em oficinas não referenciadas, geralmente
são oficinas de confiança do proprietário a quem ele acredita que cuidará do seu bem e fará o
melhor na reparação com menor tempo possível.

Volume de atendimento

Foi escolhido a região metropolitana do Rio de Janeiro para ser a primeira localidade a
receber a melhoria por alguns motivos que são, a alta concentração de sinistros na capital e
também por ser um estado com poucos clientes comparados a outras localidades, este fator
prova que não é necessário um volume grande de sinistros para implementação da melhoria e
facilita o entendimento e exposição dos dados. No Gráfico 3 a seguir, apresenta o
direcionamento na região metropolitana do Rio de Janeiro, e pode ser observado que é bem
semelhante ao já exposto no Gráfico 2, mas possui uma tendência um pouco maior dos clientes
escolhendo reparar seus veículos em revendas.

Gráfico 3. Direcionamento na região metropolitana

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

O Gráfico 4 a seguir, apresenta informações sobre o volume de sinistros na região


metropolitana do Rio de Janeiro do mês de janeiro a dezembro de 2020, pode ser observado a
queda nos meses específicos do início da pandemia e a média mensal que será utilizada para
cálculos futuros.

Gráfico 4. Volume de Sinistros Região Metropolitana do Rio de Janeiro

Fonte: Autores, 2021.

Levantamento dos problemas no processo dereparação atual

Fundamentando a necessidade de mudança no processo de reparação utilizado na


atualidade será apresentado um gráfico contendo as principais reclamações recebidas no setor.
A saber que se trata de reclamações recebidas em uma caixa de e-mail que recebe tanto
questionamentos dos clientes via central de atendimento quanto outras reclamações dos demais
setores.
Foi aplicado o gráfico de Pareto no tratamento das maiores causas de recebimento de e-
mail e no Gráfico 5 a seguir, é apresentado as principais causas a serem resolvidas para melhoria
da qualidade no atendimento.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Gráfico 5. Reclamações do SAC

Fonte: Autores, 2021.

Análise de viabilidade da seguradora montar centro de reparo próprio

A melhoria do processo proposta está relacionada a mudança da estrutura de reparação


de automóveis utilizando como base uma estrutura de atendimento já existente que na
atualidade tem a missão de atendimento ao cliente e oferecer uma rápida confecção do
orçamento, inserindo um centro de reparação próprio da seguradora que pode ou não ser no
mesmo local que já funciona este centro atendimento, o importante é termos uma estrutura de
atendimento exclusivo aos clientes desta seguradora composto por colaboradores capazes de
entregar um trabalho com qualidade e rapidez trazendo total transparência e respeito ao cliente.
Na Figura 3 a seguir, apresenta o fluxo do processo de reparação proposto, o centro de
atendimento, que somente faz o primeiro atendimento do cliente, foi substituído pelo centro de
reparação que continuará realizando o atendimento e será responsável por todo processo.

Figura 3. Processo de reparação de automóveis proposto

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Fonte: Autores, 2021.

A implantação do centro de reparação da própria seguradora traz uma série de vantagens


para a empresa, por se tratar de um negócio sem a finalidade principal de obter lucros, este novo
negócio tem a missão de reduzir os custos pagos as oficinas, proporcionar a seus clientes uma
experiência única no ramo segurador trazendo qualidade, transparência e tratamento
diferenciado ao seu bem e reverter os frutos deste trabalho em vantagens competitivas para
atração de novos clientes no mercado.

Comparativo de custos da operação e montagem da estrutura

Para demonstrar a viabilidade foi realizado um levantamento de gastos com a prestação


de serviço do processo de reparação e os gastos mensais levantados em uma empresa do ramo,
que solicitou não ser identificada, demonstrando também a viabilidade financeira da mudança
do processo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O Gráfico 6 a seguir, indica os pontos de maior custo da empresa, eles também serão
trabalhados na implantação do novo processo.

Gráfico 6. Levantamento dos custos operacionais

Fonte: Autores, 2021.

Os levantamentos realizados têm como base a operação de sinistros da região


metropolitana do Rio de Janeiro. O Gráfico 7 a seguir, apresenta o custo médio mensal e a
média ponderada para fins de cálculo que é de R$7.738,97.

Gráfico 6. Custo médio por veiculo atendido na região metropolitana

Fonte: Autores, 2021.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Na Tabela 1 a seguir, apresenta resumidamente todos os custos operacionais e ao final


subtrai o valor bruto de peças menos a porcentagem de 25% pago as oficinas para emissão de
notas, em resumo é o valor real de peças que será pago ao fornecedor independente da operação
logo não deve entrar neste cálculo que possui fins comparativos.
Para facilitar o entendimento, no campo regulação obeteve de média o atendimento de 32 casos
em regulação externa e 75 em regulação via imagem, ambos foram multiplicados pelos seus
custos unitários e somados para alcançar o valor total.

Tabela 1. Custo Operacional Sinistro de Automoveis

Fonte: Autores, 2021.

Na Tabela 2 a seguir, é apresentada a receita média mensal do centro de reparação


baseado nos números estudados, nesta tabela foi incluído o valor médio de franquia que é a
participação do cliente na reparação e retornará a seguradora para ajuda de custo do reparo.

Tabela 2. Receita média do centro de reparação

Fonte: Autores, 2021.

O custo mensal de um oficina em localidade de fácil acesso na região metropolitana do


Rio de Janeiro, levando em consideração a capacidade de atendimento de 150 automóveis/mês
é de R$345.329,71, sendo considerados os valores de R$25.000,00 de aluguel, R$110.000,00
de salários e R$210.329,71 de impostos, taxas e insumos.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Com a montagem do centro de reparação não serão necessários os serviços de recepção


de notas, regulação, auditoria, ajuda de custo a oficinas e o custo da central de atendimento que
será parte integrante do agora centro de reparação. Com isso o lucro total da operação é de
R$264.037,89, sendo considerados R$209.476,97 de lucro e R$54.560,92 de economia com
despesas.
O valor de R$264.037,89 é o valor médio que o centro de reparação traria de retorno a
seguradora, levando em consideração a montagem de estrutura customizada e compra de
ferramental ter um custo de cerca de R$1.000.000,00, calcula-se que em 4 meses o investimento
estaria pago e o valor retornado poderia ser utilizado a favor da empresa.

Principais vantagens com o desenvolvimento do centro de reparação próprio

O desenvolvimento do centro de reparação trará a continuidade do sistema do centro de


atendimento já existente, que com o advento da pandemia está sendo considerado como um
custo operacional alto com possibilidade reduzido, mantendo o que ele tem de melhor, que é a
recepção e disponibilidade de manter os clientes cientes de todos os passos do processo.
Melhora o prazo para finalização dos reparos, que hoje não é medido devido à grande
diferença de estrutura e estratégias de negócios de cada oficina, devido não existir mais a
necessidade de se aguardar uma vistoria e também por se tratar de centro de reparação voltado
totalmente para atendimento aos seus clientes, sejam segurados ou terceiros.
Redução na abertura de reclamações por falta de contato com as oficinas e demora para
iniciar reparos, onde não será necessário aplicar os procedimentos de conferência relacionado
a fraudes por parte da oficina aplicando peças não recomendadas no reparo.
Melhoria significativa na qualidade final dos reparos devido ao uso de material
adequado para cada reparação, pois o objetivo deste projeto não é ter lucro, mas sim aumentar
as vendas pela percepção do cliente e mercado, tendo somente a missão de manter sua estrutura
financeiramente, sendo mais lucrativo que o trabalho com prestadores, reduzindo burocracia e
trazendo melhor experiência ao cliente.
Redução dos custos com a regulação de sinistro, pagamento de reparos, auditorias e toda
estrutura para gerenciamento, atendimento e pagamento aos prestadores.

CONCLUSÃO

Foi realizado análise da viabilidade de desenvolvimento de um centro de reparação de


automóveis próprio para a seguradora e através do levantamento de gastos com a prestação de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

serviço do processo de reparação e os gastos mensais, pode ser identificado que 91,0% dos
gastaos são com peças de reposição e mão de obra e também foi possível verificar o custo médio
por automóvel é de R$7.738,97.
O valor médio que o centro de reparação traria de retorno a seguradora por mês é de
R$264.037,89, com esse retorno estima-se pagar o investimento em aproximadamente 4 meses,
demontando a viabilidade e trazendo vantagem competitiva para a seguradora.
Portanto, ao finalizar os levantamentos pode-se concluir que a montagem do centro de
reparação de automóveis da seguradora é viável e traz além de economia financeira melhora no
atendimento, redução de prazos para entrega do bem ao cliente, atendimento fácil e rápido,
desburocratização do processo retirando etapas de auditoria agora desnecessárias e melhoria na
qualidade dos reparos trazendo para a seguradora vantagem competitiva relacionada a
percepção e satisfação do cliente no momento que utiliza o serviço.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Processos - Melhores Resultados e Excelência Organizacional, 2ª edição. São Paulo: Grupo
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São Paulo: Editora Saraiva, 2009.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 34

IMPACTOS AMBIENTAIS DE UMA REFINARIA DE


PETRÓLEO: PROPOSTA METODOLÓGICA PARA O
CURSO TÉCNICO EM PETRÓLEO E GÁS

Sandro José Baptista; Sílvia Cristina de Souza Trajano

RESUMO: A fragmentação do saber em forma de disciplinas que não


conversam é a principal dificuldade a ser enfrentada na organização dos
conteúdos formativos em direção a um ensino integrado e um dos princípios
norteadores para essa organização é a interdisciplinaridade. Essa
interdisciplinaridade é fundamental para tratar questões ambientais,
desenvolvendo a aprendizagem por meio de projetos que visem a integração
das diferentes disciplinas ministradas em sala de aula, como temática
transversal e integrador ao meio ambiente. No refino de petróleo
identificamos os impactos socioambientais que essa atividade promove,
apresentando características positivas e negativas em seu entorno regional.
A refinaria apresenta uma estrutura complexa de processos de refino e é
durante o processamento do petróleo que são gerados emissões
atmosféricas, efluentes hídricos ou águas residuais, resíduos sólidos e
poluição sonora e os principais afetados é a população de entorno a refinaria.
Nesse sentido, o objetivo deste capítulo é apresentar uma breve análise do
impacto ambiental da atividade de uma refinaria de petróleo, no município de
Duque de Caxias, sobre sua população vizinha, por meio de uma proposta
metodológica de ação interdisciplinar no curso técnico em petróleo e gás do
IFRJ / Campus Duque de Caxias. Os referenciais teóricos que nos
fundamentam são Frigotto; Araujo (2018), Chassot (2003), Costa (2014),
Miranda e Ravaglia (2010), Ramos e Heinsfeld (2017), a Lei de Diretrizes
Bases da Educação Nacional de 1996, entre outros documentos que se
embasam na legislação da educação brasileira. A metodologia está baseada
em um revisão bibliográfica, articulada com as práticas da docencia no curso
técnico em petróleo e gás e as pespectivas socioambientais do contexto do
Campus em análise, com levantamento de informações sobre o impacto
ambiental que a atividade de uma refinaria causa na sua vizinhança, no
município em questão. Como Resultados, o presente estudo apresentou

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

sugestões para a práxis metodológica da Educação Ambiental como tema


transversal em cursos técnicos, de forma a auxiliar na familiaridade de
problemas da realidade social dos discentes, o que evidencia a necessidade
de ações interdisciplinares no curso técnico em petróleo e gás, preparando o
discente, não só para o mundo de um trabalho com mais consciência, mas
principalmente, para a vida. Consideramos que as disciplinas articuladas com
foco nas questões socioambientais, interdisciplinariza diferentes áreas que se
integram na vida, com sujeitos preparados para o mundo, produzindo
pensamento crítico dos conteúdos apresentados, articulados, problematizado
com a realidade.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, tem se verificado que o ensino é apresentado de uma forma


fragmentada, não sendo percebida a integração existente entre as disciplinas lecionadas em cada
etapa da vida escolar, sendo elas apresentadas em suas especificidades, sem conexão com a
realidade sociocultural do aluno. É importante ressaltar que essa especificidade e objetividade
de cada disciplina é fundamental, no entanto é necessário que ocorra uma ação interdisciplinar
que permita o aluno a compreender como as disciplinas se fundem, se complementam e como
irão agregar ao desenvolvimento cidadão e futuro profissional na indústria. (MIRANDA,
MIRANDA e RAVAGLIA, 2010; SILVA, 2017).
Dessa forma, a interdisciplinaridade na educação é o meio pelo qual se pode promover
a integração e a participação ativa dos docentes de diferentes disciplinas a partir de um tema
integrador que provoque o aluno o pensamento crítico e reflexivo sobre o conhecimento
adquirido e que impacte positivamente no processo de ensino e aprendizagem.
Sendo assim, a interdisciplinaridade se apresenta com um papel fundamental na
educação, visto que conduz a novos saberes, assim como permite ter uma visão geral da
realidade social e das dimensões socioculturais em um mundo globalizado (COSTA; DUARTE;
COSTA, 2015).
Nesse sentido, quando o tema a ser discutido é o impacto ambiental industrial no meio
ambiente, a interdisciplinaridade é essencial para se discutir sobre o assunto, seja nas empresas
de consultoria ambiental, nas secretarias ambientais, dentro da própria indústria e nas escolas,
posto que abrange diferentes áreas de conhecimento e formação profissional para atuação no
próprio mercado industrial. E quando esse olhar se volta para a educação ambiental, a escola,
torna-se mais atrativa a uma ação integradora entre alunos, professores, comunidade e indústria.
Para se compreender melhor a complexidade do que seja impacto ambiental, pode-se
definir como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas
(CONAMA, 1986) podendo resultar em impacto positivo ou negativo.
Ainda, pode-se definir impacto ambiental como um processo de mudanças sociais e
ecológicos, provenientes de perturbações no meio ambiente, sendo um processo de
transformação contínua e que são descritos no tempo e incidem diferentemente, promovendo
alteração das estruturas das classes sociais e reestruturando o espaço (PEREIRA e CURI, 2012).
Dentre as diversas atividades econômicas que impactam o meio ambiente, destaca-se
o refino do petróleo, visto que a obtenção de combustíveis, lubrificantes e matérias-primas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

petroquímicas demandam o arranjo de diferentes tipos de processos e estes são potenciais


poluidores do meio ambiente por meio de emissões atmosféricas, pela produção de grandes
quantidades de resíduos de difícil tratamento e efluentes líquidos que necessitam de tratamento
prévio antes da disposição final adequada.
Nesse sentido, pode-se destacar o impacto direto ou indireto que essa atividade resulta
na população de entorno a esse empreendimento, visto que existe uma apreensão por parte da
população, moradores dos arredores, em função de um eventual, mas possível acidente,
causando uma tragédia local. No entanto, existe o dilema por parte da população vizinha entre
consentir riscos na esperança de se obter oportunidade de trabalho ou denunciar estes que são
geradores de renda (RAULINO, 2009).
Mediante a isso, o tema proposto para o desenvolvimento do trabalho final de curso de
Pós-graduação Latu Sensu em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica surgiu da
inquietação em tornar dinâmica as aulas da disciplina técnica “Processamento de Petróleo”
lecionada no último período do curso técnico integrado em Petróleo e Gás no Instituto Federal
do Rio de Janeiro (IFRJ), Campus Duque de Caxias. Nas aulas da disciplina Processamento de
Petróleo, trabalha-se com os conhecimentos técnicos dos processos para a obtenção dos
derivados de petróleo e ao longo delas surgem questionamentos por parte dos alunos quanto
aos impactos que a atividade do refino pode causar no meio ambiente, uma vez que existe uma
refinaria no município de Duque de Caxias. Busca-se explicar e exemplificar alguns impactos
ambientais que uma refinaria pode causar no meio ambiente, mas se baseando nos processos de
refino que são as principais fontes geradoras de poluentes, principalmente de gases.
Contudo, o tema acaba sendo visto de uma forma fragmentada e sob um outro olhar em
outras disciplinas, não ocorrendo a comunicação entre elas para se abordar o tema (meio
ambiente) de uma forma integrada. Essa integração seria enriquecedora para o crescimento dos
alunos como cidadão e futuro profissional da indústria de petróleo e gás.
É com esse intuito que se deseja trazer para a discussão ações interdisciplinares, porque
além de trabalhar o contexto situacional local, dando melhor significância às aprendizagens
teóricas e práticas, podem permitir que o aluno estude e pesquise sobre a temática abordando a
situação real e complexa de sua cidade como os impactos ambientais causados por dada
refinaria de petróleo, preparando-o melhor para a prática cidadã e autônoma, a partir de
questionamentos promovidos para uma educação ambiental que se pense crítica. Essas
qualidades contemplam uma formação holística diante da realidade contemporânea que o cerca,
qualificando multiplicadores de ações coerentes com o meio ambiente e para os desafios de
uma realidade que extrapolem os muros da escola.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Com uma perspectiva de ensino interdisciplinar, o aluno pode colocar em prática os


conteúdos que foram obtidos em sala de aula, contudo não mais fragmentados e sim integrados,
resultando em um olhar mais crítico e reflexivo do tema proposto e, ainda, estimulando a sua
autonomia mediante o trabalho em equipe, algo muito demandado nas empresas e na vida em
sociedade.
Nesse sentido, o objetivo geral do trabalho é analisar o impacto ambiental da atividade
de refinaria de petróleo no município de Duque de Caxias em seu entorno, por meio de uma
proposta metodológica de ação interdisciplinar aos discentes do curso técnico em petróleo e gás
do IFRJ/ Campus Duque de Caxias. Para tal propósito, busca-se: conceituar a
interdisciplinaridade destacando a sua importância no ensino e aprendizagem do estudante de
curso técnico em petróleo e gás, tendo como tema gerador a educação ambiental, identificando
os principais impactados ambientais, decorrentes das atividades desenvolvidas pela refinaria
em análise, que afetam direta e indiretamente a população local; verificar por meio do
levantamento bibliográfico a percepção da população abarcada pela refinaria, quanto aos
impactos ambientais que promove com suas atividades diariamente.
Assim, questionamos: de que forma o trabalho interdisciplinar agrega valores, por se
constituir em relação de rede de conhecimentos, troca e interação entre as disciplinas? Por que
o formato de trabalho pedagógico interdisciplinar ainda é complexo na escola e, ainda, quais
mudanças podem provocar na formação dos alunos do curso de petróleo e gás?
O emprego da metodologia proposta permitiria que os alunos desenvolvam a sua
capacidade de trabalho em equipe, além da sua autonomia e sua visão geral sobre a influência
das atividades industriais sobre o meio ambiente. Somado a isso, minimizaria as lacunas
provenientes da fragmentação dos saberes e pelo ensino conteudista e disciplinar.

REFERENCIAL TEÓRICO

Ensino Médio Integrado e seus Desafios


O ensino integrado não é somente um ato de vontade dos docentes e dos gestores do
ensino médio integrado, mas depende, além disso, de condições concretas de sua realização, ou
seja, de meios facilitadores que permitam o docente desenvolver sua prática pedagógica tendo
a percepção das realidades específicas, a totalidade social e os sujeitos envolvidos
(FRIGOTTO; ARAUJO, 2018).
Araujo (2014, p.75) preconiza que a organização curricular do ensino integrado
demanda por “um conjunto de saberes, de diferentes tipos, selecionados e organizados

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

deliberadamente em função da necessária formação ampla dos alunos e da emancipação social


da classe trabalhadora”. Chassot (2003) cita que não se pode delinear um ensino de ciências
sem que haja a inclusão dos aspectos sociais e pessoais dos estudantes nos currículos escolares,
ainda que haja resistência nos diferentes níveis de ensino.
Costa (2014) verificou a partir de sua pesquisa, que existem problemas que podem
dificultar a realização do ensino integrador, sendo eles: os problemas de ordem conceitual, de
operacionalização curricular e de organização dos sistemas de ensino. Somado a isso, no ensino
médio integrado, nem sempre se tem a compreensão plena em Projeto Político-Pedagógico do
compromisso com a formação ampla dos indivíduos, ou seja, um ensino que promova a
formação de indivíduos conscientes, responsáveis e críticos e protagonistas de sua caminhada,
atuando coletivamente na sociedade.
O ensino integrado não deve ser visto como uma simples estratégia de organização dos
conteúdos escolares, mas deve ir além disto, deve ter o conteúdo ético-político que permita a
sua operacionalização (FRIGOTTO; ARAUJO, 2018). Isso dificulta a efetivação da proposta
de integração do ensino médio e técnico nas escolas e nos sistemas de ensino (COSTA, 2014).
Somado a isso, “a fragmentação do saber é o principal problema a ser enfrentado na
organização dos conteúdos formativos em direção ao ensino integrado.” (ARAUJO, 2014, p.
75). No entanto, Araújo (2014) alerta que não significa que a organização dos currículos
escolares em disciplinas inviabilize essa integração, assim como a inexistência da disciplina
propicie a formação integrada. Ainda, aponta que é necessário o diálogo entre as áreas do
conhecimento, as pessoas envolvidas e as experiências em curso, pois qualquer atividade
promotora de integração pode resultar “no esvaziamento de seu conteúdo, fazendo com que sua
concretização seja meramente formal.” (ARAUJO, 2014, p. 78), perdendo assim, sua
essencialidade. Assim, um dos princípios norteadores para a organização de um currículo
integrado é a interdisciplinaridade (FRIGOTTO; ARAUJO, 2018).
Em suma, existem diferentes obstáculos a serem vencidos ao longo da caminhada para
se ter um ensino médio integrador que possa se pautar, não somente em um currículo clássico
de ensino, mas se debruçar em um conteúdo ético-político. Adicionado a isso, é necessário que
os docentes tenham meios que agreguem seu desenvolvimento e práticas pedagógicas no
ambiente escolar, proporcionando ao aluno, uma melhor aprendizagem.

Interdisciplinaridade e Educação Ambiental


A interdisciplinaridade tem sido fundamental ao longo dos tempos nas diferentes áreas
de conhecimentos, tais como, na engenharia, na medicina, no marketing de uma empresa, etc.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Cada vez mais, os projetos demandam a participação de diferentes profissionais para se obter o
sucesso no desenvolvimento de uma determinada atividade, mas sem esquecer a importância
da especialidade de cada um, visto que cada qual contribui com o seu conhecimento, com o seu
saber. Pode-se dizer que o mesmo não tem sido percebido na educação, há uma fragmentação
do conhecimento em disciplinas para formar o cidadão. Mediante a isso, há a necessidade de se
integrar as diferentes disciplinas, permitindo que o aluno não tenha uma visão fragmentada do
saber, tornando a aprendizagem mais estruturada, mais completa no sentido de o permitir a
capacidade de interligar diferentes conteúdos e ter uma visão mais universal do assunto,
tornando-o capaz de ser o protagonista crítico e transformador na sociedade.
Segundo Miranda e Ravaglia (2010), pensar a interdisciplinaridade enquanto processo
de integração recíproca entre as disciplinas e os campos de conhecimento, demanda um esforço
para romper a racionalidade positivista da sociedade industrializada e desta forma, o sistema
escolar como se encontra estruturado, não favorece o trabalho em conjunto.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Nº 9.394/96 criou condições
propícias para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva interdisciplinar, pois a
organização em áreas de conhecimento tem como base a união dos conhecimentos que
compartilham objetos de estudo que facilmente se comunicam (BRASIL, 2000). A LDB Nº
9.394/1996 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e, no artigo 1 e parágrafo 2,
preconiza que “a educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social”
(BRASIL, 1996).
No entanto, a nova reforma curricular, Lei Nº 13.415/2017, parte do currículo destinada
à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e a outra para itinerários formativos que deverão
ser organizados por meio da oferta de cinco arranjos curriculares (Linguagens e suas
Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias,
Ciências Humanas e Sociais e suas Tecnologias e Formação Técnica e Profissional), abre
caminhos para um possível estímulo à visão utilitarista do conhecimento, intensificando à
dualidade estrutural do ensino em detrimento da abrangência de finalidades do ensino médio
proposta pela LDB Nº 9.394/1996 (RAMOS; HEINSFELD, 2017). Ramos e Heinsfeld (2017),
relatam que é necessário superar a visão dualista entre formação para o trabalho e formação
intelectual, visando a busca por um ensino que valorize a formação integral.
É importante ressaltar que a interdisciplinaridade é uma orientação para o ensino médio
como apresentado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Nesse documento, na esfera
escolar, a interdisciplinaridade não vem com a proposta de criar novas disciplinas ou saberes,
mas agregar os conhecimentos das disciplinas em prol a resolução de um dado problema

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

concreto ou compreender um determinado fenômeno sob diferentes pontos de vista. Pode ter
função instrumental de criar condições necessárias para uma aprendizagem motivadora, uma
vez que professores e alunos tenham a liberdade de selecionar conteúdos relacionados aos
assuntos ou problemas que dizem respeito à vida da comunidade (BRASIL, 2000). Ao encontro
dessa proposta, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) apontam que “a abordagem
interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes
disciplinas, por meio da ação didático-pedagógica mediada pela pedagogia dos projetos
temáticos” (BRASIL, 2013, p. 28). Ainda, indica que a pesquisa, associada ao desenvolvimento
de projetos contextualizados e interdisciplinares, torna-se mais significativa para os alunos.
Somado a isso, as DCN indicam que “se a pesquisa e os projetos objetivarem, também,
conhecimentos para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de seu forte sentido
ético-social” (BRASIL, 2013, p. 164). É importante salientar que a Resolução Nº 3, de 21 de
novembro de 2018, no artigo 1°, atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio, a serem observadas pelos sistemas de ensino e suas unidades escolares na organização
curricular, considerando as modificações introduzidas na LDB Nº 9.394/1996 pela Lei Nº
13.415/2017.
Dessa forma, a interdisciplinaridade é o processo que envolve a participação conjunta
de educadores num trabalho de forma que ocorra a interação das disciplinas do currículo escolar
com a realidade, de forma que ultrapasse a fragmentação do ensino, tendo como meta a
formação integral dos alunos (LÜCK, 2003). Para tal propósito, é necessário coragem para
romper com o velho paradigma e ir ao encontro da construção social do conhecimento, à
construção cultural dos sujeitos (COSTA; DUARTE; COSTA, 2015). Em suma, a
interdisciplinaridade ultrapassa a simples unificação de saberes e isto vai ao encontro das
orientações para um trabalho com tema gerador (OLIVEIRA et al., 2017).
Segundo Freire (1987, p. 56), “o tema gerador não se encontra nos homens isolados da
realidade, nem tampouco na realidade separada dos homens. Só pode ser compreendido nas
relações homens-mundo.” Sendo assim, o tema gerador permite estabelecer o diálogo entre a
teoria e a prática, contextualizando com o meio social e, desta forma, permitindo que o
educando tenha uma melhor compreensão de sua realidade. (OLIVEIRA et al., 2017). É
possível desencadear a discussão problematizadora que gera novos níveis de
consciência/conhecimento (ZITKOSKI; LEMES, 2015). Assim, o ensino por meio de temas
geradores pode transpor a prática do professor nas diferentes disciplinas que leciona (COSTA;
PINHEIRO, 2013).
Nesse sentido, quando se trata da educação ambiental nas instituições de ensino, direito

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

garantido pela Constituição Federal no artigo 225 (parágrafo 1, inciso VI), esta deve ser
trabalhada de forma interdisciplinar em função de sua complexidade, posto que ela é definida
como os processos aos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio
ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade (BRASIL, 1999). Além disso, de acordo com a Lei Nº 6.938, de 31 de agosto
de 1981, artigo 2, inciso X, a educação ambiental não se restringe somente no ambiente escolar,
ela deve estar presente na educação da comunidade, visando a sua capacitação para se ter uma
participação ativa em defesa do meio ambiente (BRASIL, 1981). De acordo com Hammes
(2002), a eficiência da educação ambiental no contexto de melhoria ambiental global, dá-se
pelo projeto coletivo de transformação da realidade local, pela ação política de apoio a formação
da cidadania, como estratégia de busca da viabilidade do desenvolvimento e da conservação.
A Lei Nº 9.795, de 27 de abril de 1999, aponta que a educação ambiental é um
componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma
articulada, em todos os níveis e modalidade do processo educativo, em caráter formal e não-
formal. Em função disso, cabe à instituição de ensino promover a educação ambiental de
maneira integrada ao seu programa educacional que desenvolve, assim como suas ações de
estudos, pesquisas e experimentações devem estar voltadas para o desenvolvimento de
instrumentos e metodologias que incorporem a dimensão ambiental de forma interdisciplinar,
visto que dos seus princípios básicos destaca-se o enfoque humanista, holístico, democrático e
participativo; o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e
transdisciplinaridade; a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais
(BRASIL, 1999). Contudo, a partir da educação ambiental, desenvolve-se a compreensão
integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos
ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos.
Nos cursos de formação e especialização, o técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser
agregado temas que abordem a ética ambiental das atividades profissionais a serem
desenvolvidas pelos futuros profissionais (BRASIL, 1999).
A interdisciplinaridade é fundamental para se tratar de questões ambientais nas
instituições de ensino, desenvolvendo a aprendizagem por meio de projetos que visem a
integração das diferentes disciplinas ministradas em sala de aula para se discutir um tema
transversal e integrador, o meio ambiente.
A partir de uma metodologia ativa, o aluno ao estudar e pesquisar sobre questões
ambientais da região onde mora e estuda, adquire uma visão holística e reflexiva do seu papel

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

como futuro profissional na indústria e dessa forma, torna-se um agente que poderá contribuir
para mitigar os possíveis efeitos deletérios que as atividades industriais atuam sobre o meio
ambiente, caso estas não desenvolvam práticas preventivas de impacto ambiental.
Nesse sentido, segundo Pereira (2014), a educação ambiental surge com uma proposta
que contribui para a formação de um novo agir social, moral e ético, mas para se atingir seus
objetivos, o tema deve ser desenvolvido sob uma perspectiva da interdisciplinaridade com a
participação dos alunos.

Correlações da aprendizagem e as disciplinas de um curso de Especialização em Docência


em Educação Profissional e Tecnológica (DocEPT)
Este trabalho está em consonância com os objetivos das disciplinas “A EPT e sua
Relação com o Mundo do Trabalho”, “Currículo e Trabalho na EPT” e “História da Educação,
Legislação e Políticas da EPT no Brasil” disciplinas lecionadas no segundo semestre de 2020,
no curso de especialização em Docência para a Educação Profissional e Tecnológica, onde
preconizou ações interdisciplinares que contribuiram para o ensino e aprendizagem com vistas
ao aprimoramento da práxis docente.
Nesse contexto, a disciplina de “A EPT e sua Relação com o Mundo do Trabalho” visou
compreender o conceito de trabalho como princípio educativo e integrador do currículos entre
a EPT e a educação básica. Analisando a relação trabalho-educação e dando destaque as
diferentes relações de trabalho que os homens estabelecem entre si. Entendendo de que forma
a revolução científica contribuiu para o desenvolvimento do mundo atual.
Já, a disciplina “Currículo e Trabalho na EPT” tem como objetivo refletir práticas de
ensino, analisando-as a partir de um currículo que priorize a formação cidadã, humanística e os
Arranjos Produtivo Local numa perspectiva crítica de um currículo que seja plural, a partir da
reflexão das ações educativas, com aquisição de conhecimentos teóricos em consonância com
o contexto histórico local social e nacional, possibilitando a compreensão da formação do
currículo e suas influências de prioridades para o ensino-mediação-aprendizagem.
A disciplina “História da Educação, Legislação e Políticas da EPT no Brasil” visa
possibilitar a compreensão da constituição, transformações e organização da educação
profissional e tecnológica brasileira, por meio da análise contextual da história, das políticas
públicas, das legislações e normas, focalizando as questões presentes que perpassam as
demandas inerentes ao exercício da docência na modalidade educação profissional.
Podemos que a Interdisciplinaridade do cursso trouxa a oportunidade de melhor
compreender questões pontuais da Educação Ambiental, sendo abordada pela Nova Reforma

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Curricular, Lei Nº 13.415/2017 cujo tema foi apresentado na disciplina “A EPT e sua Relação
com o Mundo do Trabalho” na Unidade III (O Trabalho como princípio educativo). Nessa
unidade a disciplina apontou a relação trabalho e educação no regime de acumulação flexível
que se expressa através de uma diferente forma de materialização da dualidade estrutural. Essa
reforma propõe-se a flexibilizar o ensino médio, pela possibilidade de escolha do aluno, de um
percurso de formação em uma área acadêmica ou técnica e profissional, partindo de sua
trajetória e de seu projeto de vida, desde que assegurada a Base Nacional Comum Curricular.
Essa Lei também foi discutida na disciplina de “Currículo e Trabalho na EPT” na mesma
Unidade III, nas Aulas 7 e 8.
A Interdisciplinaridade e a Educação Ambientaltrouxe trambém a Lei de Diretrizes e
Bases daEducação Nacional (LDBEN) Nº 9.394/1996, apresentada na disciplina “História da
Educação, Legislação e Políticas da EPT no Brasil” na Unidade III do material didático, “A
Educação Profissional na LDBEN N° 9.394/1996” e na disciplina de “Currículo e Trabalho na
EPT” na Unidade IV, aula 9, cujo material didático denomina-se, a “Memória a Serviço da
Construção da Identidade Docente (Didática)”. Nesse contexto, a Lei Nº 9.394/96, artigo 1º e
parágrafo 2º, preconiza que a educação nas escolas deve estar vinculada ao mundo do trabalho
e a prática social.
A partir daqui apresentaremos nossas percepções da realidade prática do curso técnico
em petróleo e gás e a presença de uma refinaria de petróleo, estruturada em suas proximidades.
A intenção é perceber potenciais impactos ambientais que essa atividade pode promover sobre
o meio ambiente.

Reflexos das Atividades da Refinaria sobre sua Vizinhança


Nesta seção, a partir do levantamento bibliográfico, será apresentada a percepção da
população vizinha ao empreendimento quanto aos potenciais impactos ambientais que, direta
ou indiretamente, ela promove com suas atividades de refino no seu dia a dia. São alguns
aspectos ambientais que os alunos podem perceber em sua primeira visita a localidade, assim
como, o exposto nas respostas da comunidade ao questionário aplicado.
A escolha da implantação de uma refinaria na cidade de Duque de Caxias foi baseada
em alguns fatores, a: facilidades para o recebimento e escoamento do petróleo e seus derivados
devido à proximidade com as principais vias de acesso Rodovia Washington Luiz, Presidente
Dutra e Avenida Brasil; as características e o isolamento da área, específicos para um complexo
industrial e com possibilidade de expansão; proximidade com rios e riachos para suprir a
necessidade de água e o esgotamento dos resíduos industriais (PREVOT et al., 2014).

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

O atrativo da instalação da refinaria na região teria como impacto a geração do


crescimento econômico local, resultando em emprego na região e o desenvolvimento local
(DINES, 1972). O bairro era uma parte completamente rural da cidade de Duque de Caxias e,
historicamente, o bairro foi criado como resultado da presença desse empreendimento
(PREVOT et al., 2014). No Brasil, segundo Vaz (2013), é possível localizar bairros que se
desenvolveram ao redor de plantas industriais, uma vez que estes locais acabaram abrigando a
classe trabalhadora em busca de emprego e de maior facilidade de locomoção.
Dessa forma, com a inauguração do referido empreendimento na cidade de Duque de
Caxias, resultou no surgimento do complexo industrial, principalmente do setor químico
(RAULINO, 2013), onde essas indústrias dependiam das matérias-primas que, no geral, eram
produzidas pela refinaria. Segundo Raulino (2009), o desenvolvimento nessa cidade resultou
em bons indicadores econômicos, tendo em 2012 o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB)
do Estado do Rio de Janeiro, mas de acordo com os dados mais atualizados obtidos do site do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, passou a ficar na 18ª posição
no Estado.
No entanto, apesar do crescimento industrial no entorno dessa refinaria e em regiões
vizinhas, não foi percebido pela população que, sem planejamento urbano necessário, cresceu
no seu entorno em função da vinda de mão de obra de diferentes lugares do Brasil, em especial
nordestinos, em busca de emprego que ao término das obras, construíram suas residências nesse
local. (RAULINO, 2009; PREVOT et al., 2014). De acordo com Santos (2011), segundo relatos
de moradores mais antigos, foram atraídos para a região com a promessa de participarem da
construção da refinaria e, posteriormente, teriam a possibilidade de permanecer empregados,
mas isto não ocorreu.
Ao se promover a visita na região vizinha à refinaria, os alunos do curso técnico em
Petróleo e Gás se deparariam com situações descritas por diferentes autores em seus estudos
sobre a área em questão. Esses apontamentos sobre a realidade da população que mora nessa
região são apresentados a seguir.
Nesse cenário, Vaz (2013), aponta que o bairro onde se encontra a refinaria possui claros
sinais de pobreza e abandono, evidenciado pelas condições de vida da maioria dos moradores
locais, pela falta de infraestrutura urbana e por seus indicadores de qualidade ambiental, sendo
considerados pela autora os níveis de poluição do ar, dos rios, dos mangues, a presença de
resíduos sólidos e a carência em saneamento básico. O abastecimento de água já foi questão de
conflito entre os moradores e a refinaria, pois não conseguiam compreender o porquê o
empreendimento possuía bastante água e um reservatório próprio enquanto suas casas não eram

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

abastecidas por água (RAULINO, 2009). Conforme Prevot et al. (2014), de acordo com dados
obtidos da Prefeitura Municipal, apenas 20% de todas as residências da região têm acesso ao
sistema de água e esgoto canalizado. É possível verificar que as estradas secundárias da região
não apresentam pavimentação devida.
De acordo com Raulino (2009), a população vizinha a refinaria estaria mais exposta a
diferentes situações consideradas de risco, assim como: habitações precárias, em locais com
possibilidade de enchentes; falta de equipamentos públicos de saúde; abastecimento irregular
de água tratada e de outras ações de saneamento; riscos de vazamentos de óleo e gases;
lançamento de efluentes industriais nos rios e Baía de Guanabara; contaminação de solos;
transporte de cargas perigosas; proximidade de oleodutos e gasodutos; áreas de armazenamento
de combustíveis e outros derivados do petróleo; emissões fugitivas de gases poluentes,
explosões e incêndios. É importante, ressaltar que alguns acidentes ocorreram ao longo do
tempo, mas o que ainda permanece no imaginário da população local foi o que ocorreu em 1972
(RAULINO, 2009). Três explosões em tanques de gás liquefeito de petróleo (GLP), sendo
considerado por parte da imprensa na época, como o maior acidente da história da refinaria.
(COSTA, 2011). Algumas dessas situações de risco citadas por Raulino (2009), também foram
constatadas por trabalhos de outros pesquisadores, como, Irigaray, Vergara e Santos (2013),
Vaz (2013) e Prevot et al. (2014).
Vaz (2013), para verificar a percepção da população com relação ao seu local de
moradia tendo como vizinha a refinaria, aplicou questionários para os moradores e a partir
destes, a autora conseguiu elencar fatores positivos e negativos. Os fatores positivos quanto à
percepção dos moradores foram: a presença da refinaria gera empregos, apesar de estarem
cientes que não seriam captados por ela; a presença do empreendimento resultar em melhoras
na economia do município; investimento na qualificação profissional por parte do município e
da própria refinaria que poderia contribuir para a inserção no mercado de trabalho; quanto à
preservação ambiental, os moradores consideraram importantes as campanhas de proteção
ambiental e o projeto de replantio do manguezal; os moradores aprovaram a realização de
projetos sociais, tais como, cursos oferecidos pelas empresas do entorno da refinaria (canto,
teatro, dança, informática etc.) aos jovens da comunidade, assim como as doações feitas a
creches, igrejas e festas; a presença da refinaria no município dá mais reconhecimento e
visibilidade no cenário estadual e que, sem ela, não seria possível esse destaque.
Em relação aos fatores negativos destacados por Vaz (2013), eles foram: segundo
percepção dos entrevistados, a poluição do ar no município de Duque de Caxias é maior quando
comparada com os demais municípios, visto que muitas crianças apresentam quadros de

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

alergias e problemas respiratórios; os moradores são temerosos quanto aos riscos de explosão
dos tanques, uma vez que já existe histórico de acidentes, e caso ocorra, suas residências podem
ser afetadas podendo resultar em mortes; a população vizinha a refinaria se queixou da emissão
de fumaça constante e para ela, isto pode ser um dos causadores de doenças respiratórias; os
moradores se queixaram do cheiro de gás e de produtos químicos, apesar de que alguns digam
que já estejam acostumados; a presença do flares incomodava os moradores, pois as labaredas
de fogo que saem deste equipamento geram uma apreensão quando estão muito altas e fazem
barulho em decorrência do vento, chegaram a pensar que a chama pudesse atingir suas casas;
alguns moradores acreditavam que os bairros próximos a refinaria são mais quentes e que o
calor excessivo fosse provocado pelo fogo que sai do flares, pelo funcionamento da indústria e
pelo grande volume de combustíveis armazenados e transportados; a totalidade dos moradores
relatou o descaso com a comunidade local, onde questionou-se o abandono e a pobreza das
comunidades do entorno, e acreditava que a refinaria poderia solucionar os problemas de
infraestrutura existentes no bairro.
Segundo Raulino (2009), apesar da população estar consciente dos potenciais riscos de
impacto ambiental inerentes a atividade de refino, como, poluição atmosférica, poluição de
corpos hídricos e contaminação de solos, e dos conflitos ambientais que envolve moradores e a
refinaria por abastecimento de água, dutos, pavimentação e enchentes, retirada de populações
em decorrência da ampliação da refinaria, ainda assim, a maioria apresenta uma postura de
consentimento mediante a importância econômica dada a refinaria.

METODOLOGIA DA PESQUISA

O Curso Técnico em Petróleo e Gás / IFRJ – Campus Duque de Caxias


O Campus Duque de Caxias está instalado desde 11 de setembro de 2006 na cidade de
Duque de Caxias, no 1º Distrito, oferecendo cursos técnicos, de graduação e pós-graduação,
atendendo a população deste município e de municípios vizinhos.
No primeiro semestre de 2009, o IFRJ Campus Duque de Caxias iniciou o Curso
Técnico em Petróleo e Gás na modalidade Integrado ao Ensino Médio e sua matriz curricular é
dividida em 7 períodos. A implantação do curso Técnico em Petróleo e Gás na cidade de Duque
de Caxias contribuiria para atender a demanda por profissionais especializados do setor de
petróleo e gás e áreas afins.
De acordo com o Projeto de Curso Técnico em Petróleo e Gás, o objetivo do curso é

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

proporcionar ao aluno competências e habilidades que conduzirão o profissional a ter


capacidade técnica no controle de processos de produção, domínio das principais tendências de
aplicação dos princípios de conservação ambiental e da qualidade e a capacidade de contribuir
com a gestão de políticas internas das empresas. O técnico em Petróleo e Gás com seus
conhecimentos adquiridos na Instituição de Ensino poderá atuar em atividades relacionadas ao
setor produtivo da indústria de petróleo e gás natural e afins, tais como, operador de plantas
industriais, controlador de processos industriais por meio do planejamento e controle da
produção e em pesquisa e desenvolvimento de produtos (IFRJ, 2019).
Em suma, o profissional técnico formado nessa área deverá ser capaz de desenvolver
atividades técnicas/tecnológicas e administrativas junto às empresas de produção de derivados
de petróleo e biocombustíveis, desenvolver atividades técnicas/tecnológicas junto às empresas
de pesquisa e desenvolvimento de fluidos de perfuração; auxiliar e/ou realizar análise das
propriedades de rochas da indústria do petróleo e gás natural; operar, controlar e monitorar os
processos de refino de petróleo e de processamento de gás natural (IFRJ, 2019).

Metodologia para o Desenvolvimento do Trabalho


O tipo de pesquisa desenvolvida é exploratória, partindo de uma revisão bibliográfica
articulada com as experiências docente. Trata-se de um levantamento de informações sobre
impactos socioambientais, de uma refinaria, no município de Duque de Caxias, podemos dizer
que é uma pesquisa descritiva, devido a forma de registro e análise (GIL, 2002).
O método é o qualitativo, por ser um estudo desenvolvido a partir de bibliografias, pois
Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos sobre
pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador com a situação
estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da
situação em estudo. Em relação à técnica de coleta de dados para o desenvolvimento da
pesquisa, foram consultadas monografias, dissertações, teses e artigos científicos de autores que
desenvolveram pesquisas na região em estudo e que abordaram os impactos ambientais da
atividade de refino de petróleo na região em questão, visando obter informações necessárias
que contribuíssem para a análise dos dados qualitativamente.

As Ações Interdisciplinares Propostas


No plano do curso Técnico em Petróleo e Gás, está presente a busca da integração da
Educação Básica com a Educação Profissional e para isto, são destacados alguns procedimentos
didáticos pedagógicos que norteiam as ações para a formação dos alunos, bem como, visitas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

técnicas, projetos que envolvam pesquisa e outras estratégicas didático-metodológicas que


minimizem lacunas provenientes da fragmentação de saberes e pelo ensino conteudista e
disciplinar, destacando a importância do trabalho interdisciplinar como base para a
aprendizagem, sem deixar de considerar as especificidades de cada componente curricular.
(IFRJ, 2019).
A proposta e que os alunos do curso técnico em petróleo e gás, do 7º período de nível
médio, participem de uma atividade interdisciplinar onde o ensino, a pesquisa e a extensão
estejam interconectados, é uma proposta de metodologia para tratar o meio ambiente como tema
transversal e interdisciplinar. É será composta pelas seguintes etapas.
- Primeira Etapa
Na primeira etapa, será realizada uma visita à vizinhança no entorno da refinaria para
fazer um levantamento dos possíveis aspectos e impactos ambientais proporcionados por sua
atividade na redondeza. Nessa etapa, será feito um check list dos aspectos ambientes que
poderiam ocasionar impactos positivo e/ou negativo àquela vizinhança pelas atividades
desenvolvidas pela refinaria. Para tal propósito, os alunos terão a orientação e a articulação
conjunta de professores das disciplinas de Processamento de Petróleo, Operações Unitárias e
Segurança, Meio Ambiente e Saúde, que são lecionadas, respectivamente, no 7º período, 6º
período e 3º período. A escolha das disciplinas está intrinsicamente relacionada com a
característica da atividade do refino de petróleo.
Na disciplina Processamento de Petróleo é apresentado o conhecimento técnico das
etapas do processamento de petróleo, assim como os processos responsáveis para a obtenção
dos derivados de petróleo e suas principais características. Nessa disciplina, os alunos têm a
noção da complexidade da refinaria, verificando como os processos estão interligados para se
obterem os produtos desejados, assim como as emissões atmosféricas, efluentes do processo e
resíduos gerados na atividade de refino. Em relação à disciplina Operações Unitárias, são
apresentadas definições e classificações das operações unitárias existentes em uma atividade
industrial, tal como uma refinaria. Dentre as operações unitárias, pode-se exemplificar, bombas
hidráulicas, câmaras de poeira, ciclones e hidrociclones, centrífugas, destilação, extração
líquido-líquido entre outros. A partir dessa disciplina, os alunos têm o conhecimento técnico da
importância de cada equipamento existente em uma refinaria e caso não esteja sendo realizada
a manutenção devida, pode ocasionar acidentes graves ao funcionário e ao meio ambiente. Já a
disciplina Segurança, Meio Ambiente e Saúde, visa apresentar leis e normas que auxiliam as
indústrias a trabalharem dentro dos parâmetros de funcionamento exigidos à saúde e segurança
no trabalho e desta forma, evitar acidentes que possam causar danos aos funcionários e ao meio

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

ambiente. Sendo assim, os alunos são conscientizados da importância do seu trabalho em seguir
as normas estabelecidas dentro da indústria para prevenir possíveis acidentes e reduzir o índice
de dano geral que a atividade industrial pode ocasionar no seu entorno.
Nessa etapa, os alunos colocariam em prática os conteúdos que foram obtidos em sala
de aula, não mais fragmentados, e sim integrados, resultando em um olhar mais crítico do tema
proposto e contribuindo para o seu processo de aprendizagem.
- Segunda Etapa
Após a etapa de levantamento dos aspectos e impactos ambientais ocasionados na
vizinhança, a segunda etapa do projeto é a realização de uma visita a comunidade local para
fazer um novo levantamento a partir do emprego de um questionário para verificar a percepção
dos moradores quanto aos impactos ambientais que as atividades desenvolvidas pela refinaria
promovem no dia a dia da população local. Esse questionário se baseará nos levantamentos
obtidos a partir do check list realizado na etapa anterior e os alunos também terão a orientação
de um professor de Sociologia (a disciplina é lecionada em todos os períodos do curso) para
auxiliar a compreender melhor a convivência entre a comunidade local e a refinaria, assim como
entender como ocorreu o ordenamento territorial daquela região. Tendo em mãos as
informações obtidas, ainda na segunda etapa será feita a avaliação e a discussão dos dados
coletados pelos alunos com a participação e a orientação de todos os professores envolvidos no
projeto. Nessa segunda etapa, pode-se verificar a articulação entre o ensino e a pesquisa.
Nessa etapa, os alunos deverão adquirir mais autonomia, sendo capazes de discutir os
resultados em grupo adquirindo uma consciência crítica da realidade local.
- Terceira Etapa
A terceira etapa será a apresentação dos resultados em forma de exposição na Semana
Científico Tecnológica (SEMACIT), com convite extensivo os moradores da região para a
participação em uma mesa redonda, com representantes da refinaria, da Secretaria Municipal
de Meio Ambiente de Duque de Caxias, da Associação de Moradores, dos alunos envolvidos
no projeto e de especialistas ambientais para discutirem a importância da participação da
sociedade na preservação do meio ambiente, com a temática relacionada a educação ambiental
nas escolas o alicerce para a conscientização da comunidade. Nesta etapa, a pesquisa e a
extensão estão articuladas de forma que a abordagem do tema venha contribuir para o
aprendizado e o amadurecimento de alunos e comunidade.

Desafios do Trabalho Interdisciplinar e a sua Influência na Formação dos Alunos do


Curso Técnico em Petróleo e Gás

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

De acordo com Frigotto e Araújo (2018), existem desafios a serem superados para a
construção de novas práticas pedagógicas, tendo o foco principal, as diferenças individuais, o
social. O ensino integrado não é somente um ato de vontade docente e do gestor do ensino
médio integrado, depende também das condições concretas de sua realização, ou seja, de meios
auxiliares que permitam o docente desenvolver práticas pedagógicas associadas a percepção da
realidade específica, a totalidade social e os sujeitos envolvidos. O ensino integrado vai além
de estratégias de organização dos conteúdos escolares, com o conteúdo ético-político
transformador da proposta ou da materialidade de sua operacionalização. Frigotto e Araújo
(2018) apontam que isso dificulta a efetivação da proposta de integração do ensino médio e
técnico nas escolas e nos sistemas de ensino e de acordo com os autores, um dos princípios
norteadores à organização de um currículo integrado é a interdisciplinaridade.
Dessa forma, ao se propor uma metodologia interdisciplinar no curso técnico em
Petróleo e Gás integrado ao ensino médio em um espaço não formal de aprendizagem, como o
da comunidade ao redor da refinaria, busca-se integrar os conhecimentos técnicos e
socioambientais de forma que eles possam ser explorados em suas potencialidades, assim como
permitir a troca de experiências percebidas por alunos e professores. Ao se promover uma ação
interdisciplinar, os alunos estabelecem relações entre os conhecimentos desenvolvidos e a sua
realidade (AVILA et al., 2017), tal como, o que é vivenciado por moradores que possuem suas
residências próximas à refinaria.
Contudo, os conteúdos lecionados no espaço escolar muitas das vezes são distantes da
realidade vivida dos que fazem parte do ambiente escolar e isso pode inibir o desenvolvimento
de projetos interdisciplinares. Os projetos integram os conhecimentos das diferentes disciplinas
com a realidade de cada participante do ambiente escolar, devendo estar atendo que, tanto o
aluno como o professor, apresentam experiências distintas e dessa forma, ao se interligar:
“[...]os conhecimentos, as experiências e a percepção que a educação trata de seres humanos é
possível perceber que as dificuldades existem, mas que as tentativas devem persistir.”
(CASALI, TOMAZI e SOARES, 2013, p. 7). O emprego de um projeto interdisciplinar pode
ser uma forma para superar no ensino, a fragmentação dos conteúdos escolares e assim, torná-
lo contextualizado, de forma a contribuir para compreensão de sistemas mais complexos
(AVILA et al., 2017).
Segundo Freire (1987), a investigação de um tema gerador está constituída de partes em
interação e que elas ao serem analisadas devem ser percebidas pelos integrantes do grupo como
dimensões da totalidade. Em permitir que o aluno participe de forma autônoma de atividade
investigativa e interdisciplinar, ele percebe a importância e as dificuldades que se tem em um

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

trabalho em grupo (BILAR; BORTOLUZZI; COUTINHO, 2018).


Nesse sentido, ao se propor a junção da educação ambiental com a interdisciplinaridade,
é possível que ocorra uma renovação na organização dos conteúdos escolares, permitindo novos
modos de compreender, ensinar e aprender, possibilitando a desconstrução de práticas
educacionais tradicionais. No entanto, Pereira (2014, p. 575), alerta que “a educação ambiental
e a interdisciplinaridade consistem em uma dificuldade prática que envolve o tradicional
modelo curricular cientificista, fragmentado e compartimentado” que se torna difícil a sua
superação.
Desse modo, a visita dos alunos no entorno da refinaria para fazer um levantamento por
meio de um check list dos aspectos ambientes que ocasionam impactos àquela vizinhança pelas
atividades desenvolvidas por esse empreendimento, é de grande relevância para o ensino e
aprendizagem. De acordo com Avila et al. (2017), ao se estabelecer relações entre os conteúdos
desenvolvidos pelos professores e as transferências de aprendizagens dos alunos para situações
reais, poderá estimular a capacidade reflexiva e de análise de situações complexas do cotidiano,
assim a preparação para resolução de futuros problemas. Nesse contexto, a Lei Nº 9.394/96,
artigo 1º e parágrafo 2º, preconiza que a educação nas escolas deve estar vinculada ao mundo
do trabalho e a prática social.
Entretanto, para se implementar ações interdisciplinares conforme o proposto neste
trabalho, requer reconhecer que existem fatores que podem ser agentes limitadores para a
realização das três etapas apresentadas.
Incialmente, pode-se destacar o raso conhecimento dos professores das disciplinas que
irão participar da ação interdisciplinar, o que dificulta compreender como elas estão interligadas
ao tema; a falta de planejamento em conjunto entre os docentes e a direção e a possível confusão
com o conceito e prática interdisciplinar, apesar de existir no Plano de Curso em Petróleo e Gás
a recomendação que o trabalho interdisciplinar deve ser a base para a aprendizagem dos
conteúdos e deve ocorrer ao longo do processo de ensino (IFRJ, 2019). Avila et al. (2017) citam
que a barreira da interdisciplinaridade em um ambiente escolar está relacionada à fragmentação
disciplinar e à falta de diálogo e de conhecimento dos professores e da coordenação pedagógica.
Outros fatores podem dificultar a ação interdisciplinar proposta, seriam eles: transporte
de alunos e professores para uma região de difícil acesso, a pavimentação é precária, sinalização
deficiente e falta de faixa de segurança, o que dificulta o tráfego dos veículos (RAULINO,
2013). Sendo assim, é necessária a contração de uma empresa especializada para fazer o
transporte; a segurança dos participantes durante a visita no local; a disponibilidade e o
envolvimento dos moradores em responder o questionário produzido pelos alunos e

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

professores. Soma-se a isso, a aceitação dos envolvidos na questão ambiental, representantes


da refinaria, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Duque de Caxias, da Associação de
Moradores e de especialistas ambientais, em participar da mesa redonda, promovida na Semana
Científico Tecnológica (SEMACIT), conforme calendário acadêmico, para discutir a
importância da participação da sociedade na preservação do meio ambiente, bem como
implantar propostas de conscientização por parte do moradores e da empresa, quanto à
importância da preservação do meio ambiente e seu reflexo no bem estar dos que dividem o
espaço.
Apesar dos desafios a serem superados, é importante destacar a importância das ações
interdisciplinares para o processo de ensino e aprendizagem no curso técnico em Petróleo e
Gás, visto que permitirá uma melhor articulação entre as disciplinas, demonstrando que pode
existir integração entre elas por meio de um tema gerador e a realidade do aluno, produzindo
um pensamento crítico do conteúdo apresentado e desenvolvendo a capacidade lógica de
pensamento (MIRANDA; MIRANDA; RAVAGLIA, 2010; OLIVEIRA et al., 2017). Na
contramão a essa metodologia, a aprendizagem direcionada de forma fragmentada ocasiona um
problema na formação do aluno, pois “não desenvolve seu senso crítico e reflexivo,
demonstrado na sua falta de capacidade de agrupar e interagir ideias” (FERNANDES, 2018,
p.110).
Partindo desse pressuposto, há uma previsão de que a metodologia proposta
desenvolverá a capacidade reflexiva do aluno quanto à sua participação como futuro
profissional na indústria de petróleo e gás e como cidadão. Atuando de forma consciente,
estabelecendo relações entre as organizações e contexto social, político, econômico e ambiental
nas diferentes esferas da sociedade, dando a devida importância dos conhecimentos técnicos e
sua aplicação na indústria, pois caso não sejam seguidos os protocolos de segurança, poderá
comprometer a qualidade e a segurança ambiental dos funcionários e da população que vive no
entorno daquele empreendimento, assim como da sua própria segurança. Segundo Freire (1987,
p.7), o seu método “não ensina a repetir palavras, não se restringe a desenvolver a capacidade
de pensá-las, segundo as exigências lógicas do discurso abstrato”, mas insere a pessoa em
condições que possa compreender criticamente as palavras de sua realidade. Com essas ações
interdisciplinares propostas, busca-se trabalhar com o aluno no meio em que vive, na sua
realidade e a partir dela, estimular a ação em busca de transformações ambientais.
Dessa forma, evita-se a educação bancária citada por Freire (1987), onde ele defende
uma educação problematizadora, tendo três elementos principais: conscientização, reflexão e
ação. A teoria e a prática caminham juntas para que o aluno seja um cidadão crítico, autônomo,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

cooperativo e consciente dos seus atos na sociedade e que seja o protagonista de sua própria
história.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação brasileira vem sofrendo reformas ao longo do tempo e com ela surge a
demanda de um ensino integrado e transformador das práticas pedagógicas que tenham a
percepção das realidades específicas, a totalidade social e os sujeitos envolvidos. Apesar das
tentativas de se trabalhar com um currículo integrador, existem obstáculos que dificultam a sua
realização plena, pois o ensino integrado não deve ser visto apenas sob a ótica de simples
estratégia de organização dos conteúdos escolares. Nesse sentido, a interdisciplinaridade é uma
ação que pode conduzir a organização curricular integrada, pois a partir de um tema gerador,
pode-se promover a integração e a participação ativa docente e de diferentes disciplinas,
propiciando o desenvolvimento de um saber crítico e reflexivo.
Em se propor uma metodologia de ação interdisciplinar aos alunos do 7º período no
curso Técnico em Petróleo e Gás, os inserindo em um tema onde está próximo de sua realidade
social, busca-se estimular a capacidade reflexiva e de análise de situações complexas do
cotidiano, traçando um paralelo entre os conceitos e conhecimentos vistos em sala de aula com
o contexto social, despertando interesse pela aprendizagem e pesquisa. Além disso, visando
minimizar o efeito da fragmentação do ensino, demonstrando que as disciplinas podem se
comunicar e serem trabalhadas em conjunto a partir de um tema integrador. Dessa forma,
permitindo ir além dos conceitos memorizados, pondo em prática a educação problematizadora
defendida por Paulo Freire.
Cada etapa proposta pela metodologia apresentou objetivos que desenvolveriam
diferentes competências dos alunos. Na primeira etapa, os alunos colocariam em prática os
conteúdos que foram obtidos em sala de aula, contudo não mais fragmentados e sim integrados,
contribuindo para o seu processo de ensino-aprendizagem. Já na segunda etapa, os alunos
adquiririam mais autonomia, seriam capazes de discutir os resultados em grupo e, ainda,
adquiririam uma consciência crítica da realidade local. Na terceira etapa, ao promover um
evento para apresentar os resultados obtidos pelos alunos, discutir e dar encaminhamento a
possíveis soluções para mitigar os impactos ambientais que as atividades da empresa causam
sobre a população local, a pesquisa e a extensão estariam articuladas de forma que contribuiriam
para o aprendizado e o amadurecimento dos alunos.
Mediante a essas ações interdisciplinares, um olhar mais atento dos alunos em relação
às questões socioambientais seria despertado e isto reverberaria no futuro profissional como

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

agentes atuantes na indústria de petróleo e gás. Os alunos perceberiam que a sua intervenção
como profissional poderá comprometer a qualidade e a segurança ambiental dos funcionários e
da população local caso não sejam seguidos os protocolos de segurança preconizados pelos
órgãos ambientais. No entanto, existem desafios a serem superados para que se possa
implementar as três ações interdisciplinares propostas pela metodologia do trabalho. Sendo um
dos mais relevantes, o relacionado à fragmentação do conhecimento, pois fragiliza a integração
do currículo e se perde a ideia da colaboração mútua entre as disciplinas e de um ensino
contextualizado. Contudo, isso não pode ser um desestímulo para o desenvolvimento das ações
interdisciplinares no Campus. Pode-se, inicialmente, promover reuniões entre os docentes de
cada período para dialogar e identificar temas integradores onde cada disciplina possa dar sua
contribuição, propondo uma ponte de encontro entre os conhecimentos e saberes. Essa ação
inicial, provocaria os docentes a ter uma noção da ementa de cada disciplina e isto facilitaria a
partilha do conhecimento, minimizando dessa forma, o efeito da fragmentação disciplinar.
Nesse sentido, ao se propor uma análise dos impactos ambientais ocasionados pela
atividade econômica desenvolvida pela refinaria sobre a população vizinha, foi possível
identificar por meio dos relatos apresentados em teses e artigos, que a área foi ocupada
desordenadamente por antigos funcionários que participaram da obra desse empreendimento,
resultando em problemas de saneamento básico e de infraestrutura. Ainda, algumas construções
foram construídas próximas a dutos de petróleo que chegam à refinaria, sendo uma preocupação
diária para a população local, pois existe o risco de rompimento dessas tubulações, podendo
ocasionar acidentes sérios. Perante a esse cenário que alunos e professores encontrariam, o local
é um celeiro de informações e de potenciais estudos, sendo possível promover e desenvolver
trabalhos interdisciplinares entre as disciplinas do curso Técnico em Petróleo e Gás. A partir
desse trabalho, novas ações de cooperação podem ocorrer, novos temas geradores podem ser
propostos, novos locais podem ser explorados cientificamente para auxiliar a construção do
conhecimento do aluno sob uma ótica integrada aos conteúdos teóricos apresentados em sala
de aula. Em suma, a interdisciplinaridade pode ser o caminho inovador para que a aprendizagem
seja mais dinâmica e atrativa para os alunos, onde a teoria e a prática possam caminhar juntas
em prol ao desenvolvimento do cidadão consciente de seu papel transformador na sociedade.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 35

TDICs, EXPERIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Murillo Pereira Azevedo e Flávia Wosniak

RESUMO: Neste texto vamos trazer ao conhecimento do leitor os motivos que


nos fazem crer que as TDICs (Tecnologias Digitais de Informação e
Comunicação) são os fatores mais relevantes para as mudanças dos cérebros
(ou pelo menos a forma de pensar) dos nativos digitais e por consequência
das sociedade que estes integram. Numa primeira parte mostraremos
estatísticas que destacam a crescente dependência das pessoas de todas as
idades pelas TDICs, e também por isso enfatizar a oportunidade que as
instituições de ensino e educadores têm para trabalhar com o vídeo,
explorando suas especificidades e convidando a entender a leitura em
tempos de internet. Em uma segunda parte, o leitor irá se deparar com uma
abordagem anti mercadológica sobre os videoclipes e a publicidade
intrinsecamente associada a ele, e logo em seguida trazer para dentro da sala
de aula as mesmas ferramentas utilizadas pelos marqueteiros para trabalhar
com estudantes de todas as idades enquanto oferece estratégias de auto
conhecimento. Já na última parte o ensaio dedica a atenção do leitor para a
experiência e formação, aborda brevemente o funcionamento do cérebro e o
trabalho de neuroeducadores e neurocientistas, fechando essa terceira
sessão teorizando a aprendizagem por vieses de autores já conhecidos pelos
profissionais da educação e profetizando qual modalidade de ensino será
predominante num futuro próximo.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

A suspensão das atividades pedagógicas presenciais por todo o mundo transformou a


forma de estudar e trabalhar no ano de 2020, exigiu que estudantes e professores migrassem
para a realidade online, longe das salas de aulas, bibliotecas e laboratórios convencionais,
forçados a aprender a aprender e a aprender a ensinar de forma totalmente digital. A mudança
parece ter sido menos radical para nossos jovens e crianças, nativas do mundo digital, porque
elas estão começando a socializar usando meios muito diferentes dos seus pais. Os nativos
digitais jogam mais videogames do que seus pais (com a mesma idade) porque têm
Playstation 5, Xbox 720, PSP, Tablets, IPhones e computadores conectados à internet,
enquanto seus pais tinham Super Nintendo, Mega Drive e internet discada. Eles enviam e
recebem mais mensagens do que seus pais, porque têm internet ilimitada e dispositivos
portáteis enquanto seus pais tinham cartão de chamadas (orelhão) e 50 SMS por mês. Os
adolescentes assistem mais TV do que seus pais, porque hoje existem centenas de canais além
das plataformas de streaming, enquanto seus pais tinham SBT, Globo, Record, Band e MTV.
Eles veem mais anúncios do que seus pais porque o único lugar que o comercial não alcança
é dentro dos livros, justamente a mídia menos procurada1, enquanto seus pais faziam buscas
em enciclopédias impressas (na Barça), em jornais e livros impressos do acervo da biblioteca,
e a literatura infantil eram os gibis da Turma da Mônica.

OS CONSUMIDORES DE TDICs NO BRASIL

Contaremos com os dados do IBGE de 2010 e 2020 com referência ao uso da internet,
partindo do princípio que o acesso à rede é sempre a partir de um dispositivo de tela. Segundo
essa fonte, o percentual de pessoas que utilizaram a Internet no grupo etário de 10 a 13 anos
foi de 24,4% em 2010 e 77,7% em 2020. Em 2010 o grupo que mais acessou a grande rede de
computadores, 33,9%, tinha entre 15 a 17 anos de idade, esse percentual foi declinando com o
aumento da faixa de idade, atingindo 7,3% no contingente de 50 anos ou mais de idade. Já em
2020 o grupo que mais utilizou a internet foi o de 20 a 29 anos, alcançando 93,0%, passando
depois a declinar até atingir 45,0% no grupo de 60 anos ou mais. Segundo o levantamento, as
crianças em idade escolar estão usando 3 vezes mais a internet do que há dez anos; os jovens
que usam a internet passaram de ⅓ para mais de 90%; e o grupo da terceira idade também têm
adotado a nova tecnologia em sua rotina.

1
Pisa 2018 revela baixo desempenho escolar em leitura, matemática e ciências no Brasil.
(IBGE, 2020)

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Os jovens têm maior empatia cognitiva e expressiva com as tecnologias e com os


novos modos de perceber o espaço e o tempo, a velocidade e a lentidão, o próximo e o
distante (MARTIN-BARBERO, 2000). Trata-se de uma nova experiência cultural, novos
modos de perceber e de sentir que se choca com a forma de experimentar dos adultos. Existe,
por exemplo, na velocidade e na sonoridade a capacidade de distanciar os jovens dos mais
velhos. Houve aceleração do discurso televisivo, da publicidade, dos videoclipes, dos relatos
audiovisuais e na maneira como os jovens se movem entre as novas sonoridades, “essas novas
articulações sonoras que, para a maioria dos adultos, marcam a fronteira entre a música e o
ruído, são, para os jovens, o começo de sua experiência musical” (ibidem, p. 54).

Essa apropriação dos bens culturais, diferentes em cada época, importam consigo
estilos diferentes de linguagens, o conflito de gerações exige mudar o sentido das prioridades
e do que é importante, é fundamental que os professores aprendam a se comunicar na “língua
e estilo” dos mais jovens, usar linguagens capazes de produzir significado a partir do que o
estudante já conhece.

Pense em um exemplo fictício, uma pessoa adulta que adormece-se por cem anos em
1300 não veria quase diferença nenhuma ao acordar de seu sono em 1400. Já uma pessoa que
adormece-se em 1985 , em 2020 estaria praticamente incomunicável. “Vou te mandar um e-
mail com um arquivo ponto pdf, não muito pesado, com 2,5 mega. Por favor me responda se
o arquivo não está corrompido, posso compartilhar também por whatts”. Atravessamos o
período de mais rápidas transformações tecnológicas que já ocorreram na história da
humanidade e mesmo assim os nativos digitais estão naturalmente habituados.

A EaD E O VÍDEO

O Decreto Nº 9.057/2017 da Lei de Diretrizes e Bases legitimou a Educação a Distância


ao conceder equivalência aos cursos Superiores presenciais, além de possibilitar que parte das
atividades, assim como avaliações dos cursos, sejam feitas a distância. Essa nova
determinação é geradora de muitos questionamentos e desconfianças por parte de professores
e alunos principalmente quanto a qualidade do ensino ser inferior às atividades presenciais.
Justamente por isso é necessário debater sobre como integrar a EaD nos hábitos escolares
mantendo a qualidade e diligência pelo ensino, utilizando de Mídias e TDICs (Tecnologias
Digitais da Informação e Comunicação).
Uma estratégia promissora, mas que carrega uma série de dificuldades técnicas consigo, é
a utilização dos vídeos como ferramenta educacional. Destaca-se um primeiro lugar que, as

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

dificuldades técnicas que são intrínsecas ao uso das tecnologias podem justificar a sua não
utilização nos processos educacionais. As dificuldades que podem, e vão aparecer, serão
superadas à medida em que a sociedade estiver mais preparada para receber as novas
tecnologias, tanto em termos de infraestrutura quanto em termos de conhecimento para a sua
utilização.
Existem possibilidades de se estudar usando o vídeo primeiramente complementando as
aulas presenciais e posteriormente protagonizando outras estratégias de ensino como no caso
da EaD, pois, como vimos, o vídeo já faz parte do mundo da maioria dos membros da
sociedade moderna pelo menos nas grandes cidades.
Se desejamos usá-lo como estratégia pedagógica é importante conhecer o vídeo em suas
especificidades. Na obra Cinema, vídeo, Godard, o autor aborda o vídeo sem tentar defini-lo,
deixando-o em um limbo, mas também como um coringa, sem dono, mas que pertence a todas
as artes, a publicidade, ao cinema, a tv, aos games, a internet, entre outros.

Não vejo resposta, fundada e pensável, à questão: o que é o vídeo?. Para mim, o
vídeo é e continua sendo, definitivamente, uma questão. E é neste sentido que é
movimento. Neste trajeto, se “o vídeo” permanece em suspenso como um problema
não resolvido, é no sentido genérico de uma forma de imagem e de pensamento. A
meu ver, não existe, apesar das aparentes facilidades que ela poderia oferecer, uma
verdadeira especificidade do “vídeo”, seja como imagem, seja como dispositivo. [...]
creio que só podemos pensar o vídeo seriamente como um “estado”, estado do olhar
e do visível, maneira de ser das imagens. (DUBOIS, 2004, p. 23).

O termo vídeo funciona como uma espécie de sufixo ou prefixo, aparecendo antes ou
depois de um nome: videogame, videoclipe, tela de vídeo, etc. Por outro lado, video (sem
acento) é também “de um ponto de vista etimológico, um verbo (video, do latim videre ‘eu
vejo’). E não de um verbo qualquer, mas do verbo genérico de todas as artes visuais, verbo
que integra toda a ação constitutiva do ver: vídeo é o ato mesmo do olhar” . (Ibidem)
Assim, o vídeo está presente em todas as outras artes da imagem, independente de seu
suporte e sua constituição, pois todas estão fundadas no princípio do “eu vejo”. Nesse sentido,
mesmo que seja ambíguo e que, conceitualmente, não se constitua em um corpo próprio, o
vídeo é “o ato fundador de todos os corpos de imagens existentes” (DUBOIS, 2004, p. 72).
Em latim, vídeo é um verbo conjugado na primeira pessoa do singular do presente do
indicativo do verbo ver. É o ato de olhar sendo exercido por um sujeito em ação. Implica uma
ação em curso (um processo), um agente operando (um sujeito) e uma adequação ao tempo
presente: “‘eu vejo’ é algo que se faz ao vivo, não é o ‘eu vi’ da foto (passadista), nem o ‘eu
creio ver’ do cinema (ilusionista) e tampouco o ‘eu poderia ver’ da imagem virtual (utopista)”
(DUBOIS, 2004, p. 72). Daí um certo paradoxo da palavra vídeo, designando ao mesmo

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tempo o objeto e o ato que o constitui: uma imagem-ato. Vídeo, lugar de todas as flutuações.
Ao falarmos sobre vídeo falamos de uma técnica ou de uma linguagem? De um processo ou
de uma obra? De um meio de comunicação ou de uma arte? De uma imagem ou de um
dispositivo? Neste lugar entre, ambíguo, o autor situa o vídeo.
Situado como imagem, estetizado, acaba ocultando sua outra face, a de processo,
dispositivo, meio de comunicação. Pensando historicamente, o autor o situa entre o cinema e
as tecnologias digitais e informáticas. Cinema como arte da imagem que atua sobre o vídeo.
Últimas tecnologias informáticas e digitais, como dispositivos, sistemas de transmissão que o
prolongam. Nesse espaço entre o entretenimento e a comunicação, a esfera artística e a
midiática, o vídeo se movimenta.

LEITURA EM TEMPOS DE INTERNET

Para discutir sobre a comunicação no âmbito escolar é fundamental entender os tipos


de dinâmica que movem as mudanças na sociedade. A primeira manifestação de
transformação do ecossistema comunicativo é a relação 
com as novas tecnologias, muito
mais claramente visíveis entre os mais jovens. O ecossistema comunicativo constitui o
entorno educacional difuso de informações - linguagens e saberes - e descentralizado pela
relação com dois centros - escola e livro - que ainda organizam o sistema educativo vigente
(DA SILVA; DE CARVALHO, 2014, p. 88).
No entanto, a geração Z aprendeu desde muito cedo a estudar sem os livros, optam
pelos aplicativos ao quadro negro, pois os primeiros parecem mais com os games, apreciam
mais os experimentos do que os textos, porque são mais interativos e dinâmicos, e preferem
vídeo-aulas às explicações orais que não têm pause nem replay. A ótica, o “ver”, é uma das
formas privilegiadas de metaforização do conhecimento. O jovem lê o que pode visualizar, a
explicação não lhe basta, precisa ver para entender. Toda a sua fala é mais sensorial-visual do
que racional e abstrata. A geração Z compreende o que assiste, o nativo digital lê, vendo
(MORÁN, 1995).
Em contrapartida, em seu livro “Nietzsche e a educação”, Larrosa destaca alguns
aspectos do leitor moderno. Argumenta que o leitor moderno não tem por hábito arriscar-se, e
se o faz, calcula estatisticamente suas perdas; compromete-se apenas com objetivos pequenos
e limitados; “não conhece o infinito do mar onde nenhum caminho está traçado; em lugar da
astúcia, suas virtudes são a constância e a boa vontade; não conhece a embriaguez e se
conforma com o trabalho forçado e com os prazeres sensatos” (LARROSA, 2004, p. 44).

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Apoia-se nos modelos e percursos já conhecidos; ignora os enigmas, pois lhe agradam as
perguntas cujas respostas pode antecipar. Evita ser seduzido pelos atalhos e caminhos
alternativos, prefere os itinerários retos que levam com rapidez ao destino. Evita rotas não
planejadas, em todo caso, se alguma vez cai em um labirinto, não o explora, mas procura a
saída mais rápida. Ao procurar, se satisfaz apenas com o olhar ligeiro e superficial ao que está
explícito. Não conhece as fronteiras pois não costuma visitar as excentricidades. “O leitor
moderno é o homem do rebanho, [...] é pequeno, metódico, gregário, pragmático e
trabalhador, só é capaz de seguir os hábitos estabelecidos e as regras comuns. Só lê o que já
foi lido” (idem).

OS ESTUDANTES DA CONTEMPORANEIDADE

O modelo educativo vigente (tradicional) é escoltado por um sistema vertical,


autoritário na relação professor-aluno e linearmente sequencial no aprendizado. A educação
no mundo em trânsito carece de constante manutenção nos espaços, nas metodologias e nos
modelos de aprendizagem há muito reproduzidos. Escolas atentas às mudanças buscam
alternativas à oralidade em sala de aula simplesmente porque os alunos não aceitam o modelo
hierárquico, catedrático e uniforme de aprender.

Os nativos digitais são acostumados a receber informações muito rápido. Eles


gostam de processos paralelos e multi-tarefa. Eles preferem os gráficos antes do
texto ao invés do oposto. Eles preferem acesso aleatório (como hipertexto). Eles
funcionam melhor quando em rede. Eles prosperam em gratificação instantânea e
recompensas frequentes. Eles preferem jogos ao trabalho "sério". Mas imigrantes
digitais normalmente têm muito pouco apreço por estas novas competências que os
nativos têm adquirido e aperfeiçoado apesar de anos de interação e prática. Essas
habilidades são quase totalmente estranhas para os imigrantes, que aprenderam - e
por isso optam por ensinar - lentamente, passo a passo, uma coisa de cada vez,
individualmente, e acima de tudo, a sério (PRENSKY, 2001, p. 3, tradução nossa).

Integrar alunos e professores ao mundo das tecnologias digitais conectadas é um


caminho importante para prepará-los para o mundo atual, para uma sociedade complexa, que
exige domínio das tecnologias de linguagens e recursos digitais.
Antes da criança chegar à escola, já passou por processos de educação importantes:
pelo familiar e pela mídia eletrônica. É prudente perceber que os estudantes também são
educados pela mídia, principalmente pela televisão. “[...] a relação com a mídia eletrônica é
prazerosa - ninguém obriga - é feita através da sedução, da emoção, da exploração sensorial,
da narrativa” (MORÁN, 2007, p. 4). Vale lembrar que os nativos digitais não conhecem o
mundo antes da popularização dos videogames, smartphones, redes sociais e do Google,
porém insistimos em oferecer-lhes uma educação bancária planejada para a cultura do

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iluminismo e na circunstância econômica da revolução industrial. “Os estudantes de hoje não


são as pessoas que o sistema educacional foi delineado para ensinar” (PRENSKY, 2001, p. 2).
Marc Presnky usou o termo nativos digitais (ibidem) para identificar as pessoas que
são “falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, vídeo games e internet. Apesar
de ter adaptado o termo em trabalhos posteriores, prefiro usar a definição inicial pois entendo
que seja mais abrangente sem prejudicar o aprofundamento no assunto. O autor chama
atenção para o fato de que os alunos de hoje – do maternal à faculdade – representam as
primeiras gerações que cresceram com estas novas tecnologias. “Eles passaram a vida inteira
cercados e usando computadores, videogames, tocadores de música digitais, câmeras de
vídeo, telefones celulares, e todos os outros brinquedos e ferramentas da era digital” (ibidem,
p. 1). Aqueles que não nasceram no mundo digital, mas em alguma época de suas vidas, ficou
fascinado e adotou muitos ou a maioria dos aspectos das novas tecnologias são chamados de
Imigrantes Digitais (ibidem).

PUBLICIDADE EM MEIO AOS VIDEOCLIPES

Antes de começar a refletir sobre o videoclipe, não podemos esquecer que se trata de
uma ferramenta publicitária, e como tal, tem único e exclusivo objetivo: vender mercadorias.
Diferente do teatro, por exemplo, que tem o fim – entre outras coisas - em si mesmo, na
própria produção, ou na música, que esgota seu objetivo – entre outras coisas - na mensagem,
o videoclipe tem como norteador a constante troca de mercadorias no comércio globalizado.
Para Umberto Eco, as mídias mais antigas, rádio e tv, são pluralidades incontroláveis de
mensagens que cada um usa e compõe como quer usando o controle remoto. E de dentro
dessas mídias surgem outras mídias que multiplicadas dão origem às mídias ao quadrado
(ECO, 1984). As mídias ao quadrado, como é o caso do videoclipe, são instrumentos
publicitários para propagar a aparência de satisfação de necessidades dos consumidores
quando reforçam-se as mensagens dos produtos que veiculam.

Santos (1986) usa a definição de videoclipe como a integração de imagens televisuais


e as músicas produzidas pela indústria fonográfica veiculadas pelo sistema de radiodifusão.
Na década de 80 já havia espaço para a nova mídia, nas TVs assistiam-se os primeiros
minutos de músicas vestidas com imagens (ibidem), e não demorou para que alguns canais
dedicassem sua programação à difusão da novidade. O videoclipe cumpre majestosamente o
objetivo primário: vender a música, o grupo, o disco, a imagem do cantor, a execução
radiofônica, ingresso para os shows. E executa com excelência a tarefa de disfarçadamente

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

vender: o carro, a roupa, o corte de cabelo, a bebida, o cigarro, o ingresso para visitação de
determinado lugar, o celular, a guitarra, o amplificador, a produtora, etc. Dada a embalagem
visual para difundir a música, o clipe vende ao ser consumido.

Não existe uma linguagem própria do videoclipe, pois é originário da TV, que existe
pela faculdade do vídeo. Inclusive a publicidade da TV se apoderou da dinâmica do clip para
os cronometrados anúncios.

Só que o videoclipe toma a linguagem da TV e imprime um ritmo frenético, uma


velocidade de cortes e sobreposições de imagens maior que em qualquer outro
produto veiculado na televisão. A linguagem do clipe é a dos recursos televisuais
elevada a sua máxima potência que permite o avanço tecnológico: uma enxurrada de
imagens provém de uma edição elaborada, mais que de uma produção ou gravação
bem feita (SANTOS, 1986, p.100).

A velocidade da publicidade toma os espaços necessários para a reflexão, sobre o que


acabou de se assistir, consome o silêncio da interpretação. O vídeo não deixa tempo para a
análise das informações, pois o próximo vídeo sugerido, ou publicidade, já está rodando na
tela do dispositivo. Não é diferente na televisão, que preenche todos os minúsculos espaços
entre os programas com publicidade. Porém, na internet o próximo vídeo sugerido tem a
intenção de dar continuidade ao assunto assistido, por vezes com sucesso, enquanto que na
TV a programação é tão ampla e aleatória, que é quase impossível manter o foco sobre o que
quer que esteja assistindo.

Esse tipo de mídia, publicitária, não acrescenta, não enriquece, não contém nada que
nunca tenha sido oferecido pela tv, rádio, cinema, a novidade é que integra características de
todas. A mercadoria a ser vendida pode ser outra, mas a forma de oferecê-la é a mesma,
variando o estilo e a forma de consumir este produto: o clipe é uma peça publicitária que se
vende, vende vários produtos sem dizer o que vende.

O VÍDEO EM AULA

O trabalho de professor poderá ser mais eficaz caso aproveite a predisposição que os
alunos têm para aprender os conteúdos que já fazem parte de suas vidas. A versatilidade dos
dispositivos e aparatos tecnológicos cativa naturalmente os jovens aprendizes, as novas
tecnologias mostram diferentes formas de representação da realidade, possibilitam o
desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de
inteligência, habilidades e atitudes.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

As tecnologias permitem mostrar várias formas de captar e mostrar o mesmo objeto,


representando-o sob ângulos e meios diferentes: pelos movimentos, cenários, sons,
integrando o racional e o afetivo, o dedutivo e o indutivo, o espaço e o tempo, o
concreto e o abstrato (MORÁN, 2007, p. 165).

No artigo “O vídeo na sala de aula” José Manuel Morán oferece algumas propostas
para a utilização do vídeo em âmbito escolar, destas, creio que a mais interessante seja a
produção audiovisual.

As crianças adoram fazer vídeo e a escola precisa incentivar o máximo possível a


produção de pesquisas em vídeo pelos alunos. A produção em vídeo tem uma
dimensão moderna e lúdica. Moderna, como meio contemporâneo, novo e que
integra linguagens. Lúdica, pela miniaturização da câmera, que permite brincar com
a realidade, levá-la junto para qualquer lugar. Filmar é uma das experiências mais
envolventes tanto para as crianças como para os adultos (MORÁN, 1995, p. 30).

A facilidade com que as imagens são registradas e compartilhadas aguça o desejo de


criação dos alunos, estimula a produção e promoção dos vídeos pelos próprios educandos. Os
estudantes podem ser incentivados a produzir dentro de uma determinada matéria, dentro de
trabalhos interdisciplinares ou produzir programas informativos – jornalísticos, publicitários –
transmitidos em lugares visíveis dentro da escola e em horários em que muitos alunos possam
assistir. Compartilhados em sites como o Youtube e o Vimeo, através das redes sociais, por
aplicativos como o Facebook e o Whatsapp a partir dos smartphones. Os jovens são ótimos
em autopromover sua imagem.
Já o vídeo-espelho é uma excelente ferramenta para conhecer-se. Ver-se na tela para
descobrir o próprio corpo, os gestos, trejeitos e cacoetes. “Vídeo-espelho para análise do
grupo e dos papéis de cada um; para acompanhar o comportamento de cada um, do ponto de
vista participativo; para incentivar os mais retraídos e pedir aos que falam muito para darem
mais espaço aos colegas” (Ibidem, p. 31).

TECNOLOGIA ÓPTICA DE AUTO CONHECIMENTO (VER-SE)

No texto Tecnologias do Eu e Educação, o autor desafia-nos a pensar como chegamos


a nos conhecer, como a experiência de si pode ser analisada pelas tecnologias óticas de auto-
reflexão. Para Larrosa “ver a si próprio, é uma das formas privilegiadas de nossa
compreensão do autoconhecimento” (1994).
Enxergar-se na tela do celular e/ou do computador é semelhante a olhar-se no espelho,
admirar seu próprio reflexo. Reflexão, do latim “reflectere”, pode significar tanto “virar”, “dar
a volta”, “voltar para trás" quanto “jogar ou lançar para traz”. No entanto, para a física,
quando um feixe de luz incide na interface entre dois meios diferentes, tal como a interface

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

entre ar e vidro, parte da energia da luz é refletida, “reflexão” é o trânsito que a luz faz ao
encontrar outro meio de propagação e voltar ao primeiro, como acontece em uma superfície
polida ou na água. Podemos interpretar a reflexão como a reprodução dos objetos nas imagens
oferecidas por um espelho que tem lugar entre o objeto e sua imagem (Ibidem). Quando a
imagem é deslocada para fora, é possível que o proprietário da imagem também a observe,
como se seus olhos fossem arrancados de sua cabeça e postos em um ponto estratégico à sua
frente virado para ele. No caso do espelho isso acontece instantaneamente, e no caso do vídeo
o tempo é uma variável que pode ser controlada. De qualquer forma a consequência dessa
conotação ótica, quando o termo reflexão é utilizado para designar o modo como a pessoa
humana tem um certo conhecimento de si mesma. O autoconhecimento é a percepção que a
pessoa tem de sua própria imagem, é a leitura que faz de si.

Teríamos assim um desdobramento entre a própria pessoa e uma imagem exterior a


si própria aqui aparece no exterior a que aparece no espelho, a qual, pelo efeito feliz
de uma mudança na direção da luz faz-se visível para a própria pessoa como
qualquer outra imagem. O autoconhecimento aparece assim como uma modalidade
particular na relação sujeito objeto. Só que o objeto percebido, neste caso, é a
própria imagem exteriorizada que, por uma certa propriedade da luz ao bater na
superfície polida, está diante do sujeito que a vê. Para que o autoconhecimento seja
possível, então, se requer uma certa exteriorização e objetivação da própria imagem,
um algo exterior, convertido em objeto, no qual a pessoa possa ver a si mesma”.
(LARROSA, p. 56)

Sendo assim, o vídeo pode ser um dispositivo disparador pedagógico que oferece a
oportunidade da experiência no sujeito. Um dispositivo pedagógico será, então, qualquer
lugar no qual se constitui ou se transforma a experiência de si. Qualquer lugar no qual se
aprendem ou se modificam as relações que o sujeito estabelece consigo mesmo (LARROSA,
1994). Não há lugar, pois, para os universais antropológicos, nem tampouco para ignorar o
caráter construtivo, e não meramente mediador, da pedagogia. O ser humano, na medida em
que mantém uma relação reflexiva consigo mesmo, não é senão o resultado dos mecanismos
nos quais essa relação se produz e se medeia. Os mecanismos, em suma, nos quais o ser
humano se observa, se decifra, se interpreta, se julga, se narra ou se domina. E, basicamente,
aqueles nos quais aprende (ou transforma) determinadas maneiras de observar-se, julgar-se,
narrar-se, ou dominar-se. (Idem)

EXPERIÊNCIA E FORMAÇÃO

Existe a suspeita de que o cérebro se adequa ao ambiente de acordo com os


conhecimentos prévios e as tecnologias disponíveis. Os jovens de hoje têm adaptado seus
cérebros, ao longo dos anos, para reagir à velocidade, interatividade e outros fatores das

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mídias modernas, internet e dos games, assim como os cérebros dos seus pais eram
“programados” para acomodar-se à televisão (PRENSKY, 2011b). Cada qual em sua época
experienciando fisicamente os dispositivos de seu tempo. A experiência física consiste na
ação sobre os objetos, retirando deles qualidades que são intrínsecas a eles ou ainda que
existem neles antes da ação do sujeito sobre eles (CORREA, 2017).

A experiência pode ser entendida como: isso que me passa (LARROSA, 2002, 2011).
No artigo “Experiência e alteridade em Educação”, encontramos uma argumentação do autor
que destaca a ideia de que isso em isso que me passa é algo que não se reduz a mim, “que não
sou eu”, que significa outra coisa que não eu. O autor chama a isso de “princípio de
alteridade”. Para que haja experiência, é preciso que se passe algo exterior a mim, estranho a
mim, estrangeiro a mim, fora do meu lugar, do meu território conhecido, da minha
propriedade. E é importante que esse outro não seja reduzido a mim, ao mesmo, ao já sabido e
já conhecido. A formação, nessa perspectiva, envolve um contato com algo que não domino e
a relação não será de tentar dominar, mas de estabelecer um contato com a alteridade
(irredutível a mim).
Ao mesmo tempo, o me é lugar da experiência, sou eu, é em mim onde se dá a
experiência, onde ela acontece (LARROSA, 2011). Não o que se passa no mundo, o que
acontece em geral, mas a forma como sou atravessado, marcado pelos acontecimentos. “Não
se ajusta à ontologia do ser, mas a do acontecer” (idem). De tudo que acontece à minha volta,
experiência é aquilo que me marca, me transforma, me atinge em um movimento de ida e
volta. Ida, porque supõe um movimento de saída de mim mesmo, indo ao encontro do
acontecimento (ao que passa, ao que acontece) e volta porque supõe que o acontecimento me
afeta, produzindo efeitos no que sinto, no que sei, no que quero, no que sou.
Aqui a palavra passa tem dois sentidos. O sentido de travessia remete a passagem,
passageiro, antônimo de definitivo, que em algum momento deixará de ser como é, pressupõe
a mudança que não assume certezas absolutas no processo de transição. Finito, momentâneo,
instantâneo, temporário. Conjuga o verbo estar no presente, pois em algum momento no
futuro se extingue. Ainda neste mesmo sentido, a vida individual é passageira.
Procuramos sentido na vida durante sua passagem, já que a única certeza é que ela é
findável. A palavra experiência tem o per – “radical indo-europeu para palavras que tem a ver
com travessia, passagem, caminho, com viagem” – e ex, que tem a ver com exterior. Portanto,
experiência supõe “uma saída de si para outra coisa” e algo que me advém. Envolve “um

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sujeito que perde seus poderes precisamente porque aquilo de que faz experiência dele se
apodera" (LARROSA, 2004, p. 25).
A palavra passa tem outro sentido, remete à paixão. Experimentar, fazer uma
experiência, ou padecer uma experiência. Em latim, se diz ex/periri. Periri significa perigo.
Esses dois sentidos estão bem próximos, e é inevitável pensar que paixão tenha a ver com
perigo. A paixão se torna algo passageiro, perigoso e imprevisível. Mas não uma simples
passagem, pois quando se passa por algo ou por alguém, sempre se deixa alguma coisa, e no
caso da experiência, a passagem por ela deixa marcas.

Se a experiência é “isso que me passa” o sujeito da experiência é como um território


de passagem, como uma superfície de sensibilidade em que algo passa “isso que me
passa” ao passar por mim ou em mim, deixa um vestígio, uma marca, um rastro,
uma ferida (LARROSA, 2011, p. 8).

Pensando a vida individual como um fluxo constante de transformações, no qual cada


indivíduo está mergulhado em diversos ambientes sociais, percebemos que a experiência
modifica o corpo, que violentado desestabiliza o sujeito que o encarna e exige a criação de um
novo corpo que venha encarnar este estado inédito.

As marcas são exatamente estes estados inéditos que se produzem em nosso corpo a
partir das composições que vamos vivendo. Cada um destes estados constitui uma
diferença que instaura uma abertura para a criação de um novo corpo, o que significa
que as marcas são sempre gênese de um devir. (ROLNIK, 1994, p. 2).

No artigo “Formação, experimentação, invenção”, Braga e Kasper afirmam que a


subjetividade é importante componente dos investimentos do poder nas sociedades
capitalistas contemporâneas. Os autores entendem a formação como um processo amplo de
constituição das subjetividades, extrapolando “os espaços e tempos das instituições formais,
sendo vista como um processo vital de construção de si, no embate com as forças do social.
Envolve, portanto, uma articulação ética, estética e política”. (BRAGA, KASPER, 2013, p.
39-40). Larrosa pensa a formação como um devir plural que opera na ausência de uma
prescrição para seu desenvolvimento, de uma antecipação rígida de seu itinerário, de uma
ideia normativa e excludente de seu resultado. (LARROSA, 2007). Formação que está ligada
a uma capacidade de não se prender apenas aos modelos estabelecidos, aos procedimentos
escolares seguros, justamente porque transcende as instituições formais, fazendo-se também
experimentações vitais (BRAGA; KASPER, 2013).
Formação e experiência, nessa perspectiva, envolvem um processo de transformação
que atravessa os processos de subjetivação. Muito mais do que adquirir um conhecimento, ou
uma habilidade específica, envolve a possibilidade de singularização, que conforme Braga e

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Kasper (2013, p. 39), é “concebida como produção de um estilo de vida, um modo de


existência. [...], afirmando outros modos de viver, pensar e sentir, para além das formas
dominantes de subjetivação no capitalismo globalizado”. A formação

só poderá realizar-se intempestivamente, contra o presente, inclusive contra esse eu


constituído, cujas necessidades, desejos, ideias e ações não são outra coisa que o
correlato de uma época indigente. A luta contra o presente é também, e sobretudo,
uma luta contra o sujeito. Para ‘chegar a ser o que se é’, há que combater o que já se
é (LARROSA, 2004, p. 61).

NEUROEDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIA

Antes de explicar (ou pelo menos tentar) como o cérebro funciona, ainda é preciso
desmentir algumas noções que, embora a ciência já tenha determinado que estão erradas,
permanecem teimosamente ressoando, graças às repetições, crenças ou simples negacionismo.
No século 4 a.C., Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.) considerava o cérebro um órgão
secundário que servia para resfriar o sangue que o coração usava para funções mentais. Não
haviam evidências para isso, mas como Aristóteles era muito respeitado entre seus pares essa
ideia foi tomada como verdadeira por muito tempo. Séculos depois, o médico romano Galeno
de Pérgamo desenvolveu muitas experiências com ligações nervosas que apoiaram a teoria de
que o cérebro controla todos os movimentos dos músculos por meio do crânio e do sistema
nervoso periférico e que o também era o grande responsável por nossas funções mentais e não
o coração, como Aristóteles havia sugerido. Há outras noções mais modernas e igualmente
erradas sobre o funcionamento do cérebro, como a ideia de que usamos apenas 10% da nossa
capacidade mental. Essa ideia serviu de enredo para o filme “Lucy” de 2014. Caso isso fosse
verdade seria metabolicamente ineficiente. Seu cérebro responde por cerca de 20% de seu
gasto metabólico diariamente e não faz sentido desperdiçar 90% de sua capacidade. Outra
ideia equivocada é de que a principal função do cérebro é pensar, quando na verdade o mais
importante que ele tem a fazer é manter o corpo vivo. Algumas funções vitais devem
funcionar automaticamente, (a digestão por exemplo). Seria impossível, evolutivamente,
pensar em tudo o que o corpo precisa fazer enquanto se preocupa com alimentação, proteção,
etc. O cérebro é responsável por manter o corpo vivo enquanto o sujeito dorme, manter a
comunicação entre os órgãos em plena atividade, enviar e receber os sinais de entrada e saída
do corpo (pele, ouvidos, o nariz, olhos, boca) e interpretar esses sinais, sem falar das
memórias que precisam ser acessadas instantaneamente para que o sujeito não precise
aprender tudo desde o início sempre, além de administrar as emoções as quais o sujeito é
exposto e os encontros com o ambiente que divide com os outros seres.

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A Neuroeducação é um campo interdisciplinar que combina a neurociência, psicologia


e educação para decifrar processos cognitivos e emocionais que originem melhores métodos
de ensino e currículos e nos ajudam a pensar conteúdos adaptados para a preferência dos
estudantes. Já as neurociências são responsáveis pelos estudos metódicos do sistema nervoso,
formado pelo cérebro, medula espinhal e nervos periféricos, e as ligações com toda a
fisiologia do corpo humano.

O Sistema Nervoso Central (SNC) é a parte do sistema nervoso formada pelo encéfalo
e pela medula espinhal. No encéfalo, o cérebro está dividido em quatro lóbulos com ligações
entre si, no centro das fissuras, a região mais externa do cérebro possui coloração mais
acinzentada formando o córtex cerebral e internamente a coloração é mais esbranquiçada. A
substância cinzenta é composta de corpos celulares de neurônios, e é responsável por
interpretar os impulsos nervosos das regiões do corpo até o encéfalo, produzir e coordenar
atividades musculares e reflexos. A substância branca é composta de pacotes de processos de
células nervosas mielinadas (ou axônios), os quais conectam diversas áreas de substância
cinzenta (os locais dos corpos celulares nervosos) do cérebro umas às outras e mandam
impulsos nervosos entre neurônios. A capacidade do neurônio é conferida por sua membrana
plasmática, uma estrutura especializada na produção e na propagação de impulsos
eletroquímicos. Sua característica mais importante é o impulso nervoso que age desde a mais
elementar das formas, que consiste em uma partícula química que se movimenta pela
membrana externa da célula, até as sinapses que são locais de comunicação, em que os
neurônios transmitem entre si os impulsos nervosos (MUSSAK, 1999 apud DOS SANTOS
BRANDÃO; CALIATTO, 2019). O SNC é o local onde acontecem não apenas os
pensamentos, mas, também as emoções, os comportamentos e a mobilidade muscular. Para
Vygotsky, existe a subordinação dos processos biológicos ao desenvolvimento cultural.

Tal relação entre o plano biológico e o plano cultural é delineada em termos de uma
diferenciação das funções psicológicas elementares, funções comuns a homens e
animais, tais como a atenção e a memória involuntárias, das funções psicológicas
superiores, funções exclusivamente humanas que possuem gênese
fundamentalmente cultural e não biológica, tais como a atenção voluntária e o
pensamento abstrato (CORREA, 2017, p. 382).

A qualidade do cérebro de se adequar ao ambiente de acordo com os conhecimentos


prévios e as tecnologias disponíveis é o que difere os cérebros das crianças e adolescentes de
seus pais e professores. Embora ainda não tenhamos observado diretamente os cérebros dos
Nativos Digitais para ver se eles são fisicamente diferentes (como os dos músicos parecem
ser) a evidência indireta para isso é extremamente forte. Por meio de experimentos

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comportamentais e do uso de aparelhos como os de ressonância magnética e de tomografia,


que permitem observar as alterações no cérebro durante o seu funcionamento, foi possível
comparar os cérebros de músicos e de não músicos, a ressonância magnética mostrou um
volume 5% maior nos cérebros dos músicos que foi atribuído a treinamento e prática musical
intensiva. (PRENSKY, 2001b). Os estudiosos atribuem essas diferenças entre os cérebros, ou
pelo menos sua maneira de funcionamento, a neuroplasticidade ou neuromaleabilidade
cerebral. Ela possibilita a reorganização da estrutura do SN (sistema nervoso) e do cérebro e
constitui a base biológica da aprendizagem e do esquecimento (GUERRA, 2011).

Neste sentido os desafios nas neurociências são descobrir qual a influência das TDICs
e da crescente estimulação do córtex visual a partir de luzes artificiais vibrantes das telas
digitais na maneira de pensar dos nativos digitais. entender como a neuroplasticidade do
cérebro permite que ele se acomode a diferentes situações a partir de intensidades e estímulos
externos variados e uma metodologia que permita estabelecer uma linguagem funcional
mediadora entre neurociência e a pedagogia que esclareça as descobertas científicas e a
possibilidade de utilização na educação.

TEORIZANDO A APRENDIZAGEM

Os autores convidados para compor a discussão sobre o tema dialogam entre si e o


problema de investigação na medida que são solicitados. Evocamos primeiramente Prensky
(2011a, 2011b) pela atualidade dos temas que aborda. Os nativos digitais, em sua maior parte,
apropriam-se dos bens culturais intrínsecos ao lugar e tempo que dividem com a sociedade.

Invocamos também Vygotsky (1978), já que para ele a chave do aprendizado está na
distância entre o que já se sabe e o que se pode saber com alguma assistência, é onde fica a
ZDP (zona de desenvolvimento proximal). Vygotsky também aponta que o caminho do objeto
até a criança e desta até o objeto passa por outra pessoa. Por isso, o conceito de aprendizagem
mediada confere um papel privilegiado ao professor. A teoria vygotskiana estabelece que, no
fluxo do pensamento, nem a mão nem o intelecto prevalecem por si sós, mas se veem
modelados pelos instrumentos e pelas ferramentas usados pelo homem, que os usa para o
desenvolvimento da sua linguagem interiorizada e de seu pensamento conceitual, caminhando
paralelamente e/ou fundindo-se, influenciando-se mutuamente (LABURÚ et al. 2013). Tal
relação entre o plano biológico e o plano cultural é delineada em termos de uma diferenciação
das funções psicológicas elementares, funções comuns a homens e animais, tais como a
atenção e a memória involuntárias, das funções psicológicas superiores, funções

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

exclusivamente humanas que possuem gênese fundamentalmente cultural e não biológica, tais
como a atenção voluntária e o pensamento abstrato (CORREA, 2017, p. 382). Os legados de
Freire, Piaget, Vygotsky, Ausubel estarão sujeitos a validação de novos prismas, agora sob o
olhar das neurociências e parece que as descobertas da neurociência sobre o processo de
aprendizagem se assemelha ao que os teóricos mostravam por diferentes caminhos.

O Ensino Híbrido, será majoritariamente oferecido pelas Instituições de ensino em


alguns anos pela comodidade dos encontros remotos, porque o cérebro dos jovens está
adaptado a rotina conectadas, e também pela vivência com os Digital gadgets, que lhes
proporcionaram informações básica para navegação que se usa pelos AVAs (ambientes
virtuais de aprendizagens). O ensino híbrido deixou de ser uma opção e passa a ser a garantia
de continuidade dos estudos de muitas pessoas, e por isso é importante que docentes e
comunidade escolar saiba como lidar com as transformações que as ferramentas digitais
podem trazer, e apropriar-se das mídias e das novas tecnologias para interferir positivamente
na formação de alunos, cada dia mais conectados e multifuncionais.

Concluímos com as vozes de Paulo Freire (2018) e a sua pedagogia da autonomia que
carrega em seu bojo características de todos os autores citados anteriormente com a
aprendizagem construtivista. O conhecimento não é moeda mas é construído em colaboração
com professores, colegas, família, sociedade, corpo e tecnologias.

REFERÊNCIAS

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

CAPÍTULO 36

PROBLEMÁTICA PERCEBIDA NOS TEMAS SOCIAIS E


ECONÔMICOS EM RELAÇÃO À INFLUÊNCIA DO
TEMPO ATMOSFÉRICO EM UMA CIDADE LITORÂNEA
CONSTARRIQUENHA

Adrián Guillermo Ruiz Rodríguez

RESUMO: A cidade de Jacó é a mais dinâmica zona costeira do governo local de


Garabito, na zona costeira do Pacífico central na Costa Rica, com múltiplos os
desafios para a promoção do desenvolvimento socioeconômico e sustentável. O
trabalho teve o objetivo de identificar desde a perspectiva dos locais, os principais
problemas sociais e económicos associados com o tempo atmosférico, incluindo uma
hierarquização feita pelos moradores e trabalhadores acerca dos problemas que
ameaçam o bem-estar e qualidade de vida local. segundo os relatórios da Comissão
Nacional de Emergência, Jacó tem problemas relacionados com o assentamento de
pessoas em áreas com risco de inundação, o desmatamento e o desenvolvimento
urbano não planejado. Esses problemas implicaram efeitos na dinâmica produtiva,
social e económica que foi consultada com questionários estruturados e grupos focais
para ser hierarquizada e determinar aquelas propostas de mitigação ou soluções
desde o ponto de vida dos moradores e trabalhadores locais. Assim, segundo os
entrevistados, as prioridades para eles têm a ver com o consumo de energia, de água,
o pioramento dos efeitos da onda quente do sul (ENOS, “el niño”), aumento de
doenças e estresse, perda na qualidade ambiental, baixas na produtividade dos
trabalhadores e na demanda turística o comercial. O projeto foi desenvolvido através
do método indutivo, sendo que a percepção dos fenómenos atmosféricos foi
consultada num conjunto de pessoas amostradas (N=73). Os dados obtidos nos anos
2019 e 2020 através de métodos como grupos focais, revisão de fontes primarias e
secundarias, tomadas de anotações, fotografias e avaliação de espaços
representativos, assinalaram que Jacó desde a perspectiva da gestão de riscos, é
vulnerável principalmente aos deslizamentos fora da cidade e inundações leves.
Apesar do que terremotos, inundações, tormentas ou furacões tem atingido nos
últimos anos a cidade e redondezas; os danos, impactos e baixa letalidade indicaram
que embora a exposição existe, a fragilidade e letalidade e baixa. Talvez por causa
disso; os problemas socioeconómicos são percebidos com maior importância e
impactos do que os produzidos pela geodinâmica interna.com maior importância e
impacto do que os produzidos pela geodinâmica interna.

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

INTRODUÇÃO

Jacó é considerado o maior e mais dinâmico espaço costeiro do Cantão de Garabito e


do Pacífico Central da Costa Rica, portando cenários e desafios para o desenvolvimento
relacionado à concatenação dos sistemas costeiros e meio ambiente. Apesar dos desafios,
grande parte dos estabelecimentos que utilizam o espaço costeiro da cidade de Jacó, não seguem
as recomendações e regulamentos técnicos elaborados pelo plano de regulamentação e pela
Comissão Nacional de Emergências e Gerenciamento de Riscos (CNE). Esses fatores atribuem
a Jacó, a condição de vulnerabilidade gerando urgência na elaboração de projetos para
promoção de medidas de contingência necessárias, balizando minimizar os impactos causados
aos habitantes da região quanto aos fenômenos hidrometeorológicos (CNE, 2006, 2008).
De Solano et al. (2012), afirmam que de acordo com o relatório do Ministério do
Ambiente e Energia e Instituto Nacional de Meteorologia (MINAE/IMN), tendo como base
estimativas dos modelos canadenses Canadian Centre for Climate Modelling and Analysis
(CCCMA), está prevista uma redução de até 10% na precipitação do pacífico nacional
costarriquenho no período de 2071 a 2100 em comparação com a média atual. Sendo assim, as
porcentagens de redução seriam inferiores a 35% em 2050. Também se estimam aumentos
percentuais inferiores a 10% em qualquer período sazonal do ano.
Conforme apontado pelo relatório da Costa Rica (2013), construído pelos moradores
das comunidades costeiras, estima-se uma exposição de 70% da cidade aos efeitos do aumento
do nível do mar e a diminuição em 17% do impacto quanto a utilização de recursos públicos de
infraestrutura. Nesse ínterim, os impactos sobre esses recursos podem envolver a alteração da
dinâmica econômica local, por exemplo, no uso de portos e de navegação de embarcações,
causando danos de superestrutura ou atividade de turismo e em aspectos críticos, como a
disponibilidade de água e eletricidade. Esses fenômenos ocorrem principalmente devido às
inundações e aos efeitos sinérgicos, com variabilidade climática, crescimento populacional e
processos de desenvolvimento costeiro.
Diferentes publicações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
apresentadas nos anos de 2013, 2017 e 2018, indicam que algumas localidades da América
Central na Costa do Oceano Pacífico fazem parte das áreas mais vulneráveis e expostas aos
fenômenos hidrometeorológicos. Alguns destes eventos ocasionaram impactos econômicos e
sociais devido à falta de medidas de gerenciamento de riscos. De acordo com Magrin (2015),
os dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe junto das Nações Unidas
(CEPAL-ONU) destacaram que as vulnerabilidades sociais e econômicas poderão se

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

intensificar devido aos efeitos que os furacões e as secas causam.


Portanto, considerou-se este estudo de relevância para a promoção da sustentabilidade
regional, pelo fato de “dar voz” aos moradores da região como participantes da pesquisa, no
interesse em obter as suas visões de vulnerabilidade e da capacidade local de recuperação e
adaptação em resposta às mudanças nos cenários dos sistemas de influência no seu
desenvolvimento socioeconômico.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em três fases básicas, a saber: I) Enquadramento teórico como
a fase “ex ante” de revisão, consulta, seleção e resumo de fontes primárias e secundárias,
utilizada para fornecer dados e aspectos fundamentais ao longo das etapas posteriores da
pesquisa, determinando as influências gerais dos eventos meteorológicos na dinâmica
socioeconômica das cidades costeiras tropicais. Procurando manter vigência nas fontes, foram
eleitos os estudos com menos de 10 anos de publicação.
Essa fase de enquadramento foi desenvolvida desde o começo e simultaneamente ao
longo do processo, desde 2018 até 2020, incluindo periódicos, jornais, teses, mapas e fontes
eletrônicas. Se fez importante neste primeiro momento, a determinação dos aspectos e
características hidrometeorológicas da cidade de Jacó e redondezas. Abordou-se a estatística de
riscos e ameaças por parte da geodinâmica interior e exterior, para assim apontar os feitios
teóricos fundamentais em disposição dos outros estágios da pesquisa, como a amostragem,
seleção de pessoas para inquerir e características institucionais do local.
Fontes como o Censo Nacional de População, o Atlas de Riscos e Ameaças Naturais e
o Plano Regulatório Local foram os clássicos mais antigos da média, mas de revisão obrigatória
pelo conteúdo. Em termos da percepção dos entrevistados, foram aplicados relatórios nacionais
acerca das atitudes populacionais em prol da mudança climática, e de modo a complementar os
dados, realizou-se uma revisão nas bases de dados acadêmicos JStor, VPN e Google Scholar.
II) Amostragem dos entrevistados onde se procurou um intervalo de confiança de 95%
e como critério de seleção levou-se em consideração: morar ou trabalhar na cidade pelo menos
a partir do ano de 2013, ser maior de idade e ter ensino médio finalizado. Com efeito, foi
considerada uma População Ativa Economicamente (PAE) com pessoas acima de 15 anos,
totalizando em 4970 indivíduos. Destes, 81,5% são residentes de Jacó e 93,2% trabalham no
mesmo distrito. Além disso, 54,2% da amostra possui escolaridade secundária completa. Os
18,5% não residentes podem estar expostos devido a práticas de atividades laborais. Com base

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

nesses dados, a população aproximada seria de 4970×0,815×0,932×0,542, o que equivale a


aproximadamente 2050 pessoas. Em suma, o cálculo da amostra foi baseado na fórmula (n) =
Z 2 × p × q / e 2, com 95% de confiança, sendo a população de 2041 pessoas e a amostragem
de 71.
III) Aplicação do questionário estruturado considerando as características como: a
memória coletiva, as datas dos eventos extremos que atingiram a cidade e as possibilidades de
manter uma adequada comunicação com os inqueridos. Foram determinados elementos como
categorias de dados nos questionários (demografia, atividades econômicas, percepções dos
fenômenos hidrometeorológicos associados às atividades locais, entre outras) (SAMPIERI;
FERNÁNDEZ COLLADO; BAPTISTA LUCIO, 2000), critérios dos informantes e teste do
questionário após a revisão de um especialista.
A aplicação do questionário (n=74) foi feita aleatoriamente segundo a vontade dos
informantes, em diferentes lugares da cidade, procurando representação do uso do território,
por exemplo, na praia, academias, comércio ou hotéis. Sendo aplicado entre julho e agosto do
ano 2019.
No que consiste aos inquéritos, foram analisados os efeitos, impactos, perigos e
condições afins, obtidos com a revisão de literatura e questionários estruturados. Após a busca,
as informações foram então listadas e hierarquizadas em amostragem não probabilística. Os
moradores da cidade foram convocados por meio das redes sociais, pelo coletivo de Jacó, e pelo
celular daqueles que deixaram os dados para serem contatados (22 pessoas participaram nesta
fase). Para isso e por causa das medidas de confinamento pela pandemia da doença Covid-19
(RUIZ RODRÍGUEZ, 2021), entre maio e junho de 2020, realizou-se uma consulta eletrônica
pelo Google Forms no qual os informantes foram solicitados para hierarquizar em uma escala
de Likert os problemas que julgavam prioridade (1= importância baixa, 2= importância média,
3= importância alta). Os valores foram somados e definidos do maior ao menor.
Após a coleta das respostas e dos dados de contato, os informantes foram divididos em
grupos de 3 a 6 pessoas para a participação de um grupo focal em meio a plataforma Zoom,
sendo então apresentados os problemas sociais e econômicos, somando os cinco maiores
valores para o estabelecimento das propostas, utilizando a técnica de chuva de ideias para a
exposição dos principais problemas. O quadro 1 inclui um resumo do processo metodológico:

Quadro 1. RESUMO METODOLÓGICO DA PESQUISA


Etapas e atividades Fontes consultadas

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

Para associar a dinâmica atmosférica e as percepções consultadas, foi


preciso: revisão e resumo de artigos e relatórios acerca das percepções de
populações específicas no continente americano. Definição da população,
amostra e critérios de seleção de informantes:

a) Os moradores e trabalhadores locais: baseado no último censo nacional


do ano 2011 e com ajuda estatística, foram estabelecidos critérios de
informantes segundo o que a ética e normas do país por exemplo, maiores
de idade, trabalhadores ou moradores locais no momento da aplicação do
questionário, ensino médio completo. Bases de dados “DesInventar”
b) Cálculo de amostra, com fórmula (n) = Z 2 × p × q / e 2, com 95% de e as “Estatísticas de Corpo de
confiança, sendo a população de 2041 pessoas e a amostra de 71. Bombeiros” foram
fundamentais para comparar e
- Revisão do questionário por parte estatística. Prova de campo do complementar o que os
questionário no mês de julho 2018. entrevistados falaram.
- Mudanças do questionário estruturado, especialmente na redação de
perguntas e uso de conceitos ou códigos de resposta fechada. No tema da percepção o
- Trabalho de campo para aplicar o questionário estruturado aos moradores “Relatório Nacional” do
entre os meses de julho e outubro 2019, em diversos pontos da cidade e “Inquérito Nacional de
dias da semana diferentes; procurando as maiores possibilidades de Mudança Climática” do ano
respostas representativas por sexo e idade (embora os mais jovens tiveram 2021 foi fundamental.
maior vontade de responder).
- Tabulação e resumo por categorias das respostas.

Baseado nisso, foram consultados sobre propostas de soluções para os


problemas hierarquizados, ao final do mês de julho e início do mês de
agosto 2020, com a técnica de chuva de ideias com a plataforma Zoom.

As respostas hierarquizadas e as suas propostas de solução foram


organizadas em tabelas de resultados.

Fonte: Autoria própria (2021).

A seguir, os resultados obtidos no processo de pesquisa, apresentados em forma de


tabelas com valores em ordem do menor para o maior segundo a soma das respostas para cada
número da escala Likert. Após a hierarquização em ordem de importância, foram consultadas
propostas de mitigação da problemática, também discriminadas nos resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As tabelas a seguir apresentam os resultados da hierarquização com a escala Likert para


cada categoria. O número fora do parêntesis significa a quantidade de respostas obtidas para os
valores de importância (1= baixa, 2= média, 3= alta) e dentro, a soma desse total. Os problemas
são listados segundo o valor do menor para o maior.

Tabela 1. HIERARQUIA DOS PROBLEMAS SOCIAIS PERCEBIDOS E RELACIONADOS COM A


DINÂMICA DO TEMPO ATMOSFÉRICO NA CIDADE DE JACÓ (QUANTIDADE E SOMA DE

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

RESPOSTAS PARA CADA VALOR DE PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA)


Quantidade de Quantidade de Quantidade de
Problema social
respostas e soma de respostas e soma de respostas e soma
segundo a literatura e Soma
valores para a valores para a de valores para a
os entrevistados
importância baixa importância média importância alta
Redução do uso de
4 (4) 11 (22) 7 (21) 47
áreas abertas.
Redução do tempo
gasto em esportes ou 5 (5) 9 (18) 8 (24) 47
recreação.
Empobrecimento da
beleza da paisagem 6 (6) 7 (14) 9 (27) 47
local.
Redução do trânsito
nas estradas ou 1 (1) 15 (30) 6 (18) 49
calçadas.
Aumento de doenças
tropicais (dengue, 2 (2) 11 (22) 9 (27) 51
Zika, etc.)
Aumento das pessoas
que perdem ou tem
2 (2) 10 (20) 10 (30) 52
suas casas
danificadas.
Aumento do estresse
2 (2) 5 (10) 15 (45) 57
das pessoas.
Soma 22 (22) 68 (136) 55 (192) 350

Frequência relativa 6,28% 38,86% 54,86 % 100%


Fonte: Autoria própria (2021).

Conforme apresentado na tabela 1, o aumento do estresse soma 57 pontos, atingidos ou


afetados somam 52 pontos. Aumento de doenças obteve 51 pontos e a redução do trânsito, 49
pontos. Tiveram empate com 47 pontos a perda na qualidade da paisagem, empobrecimento da
beleza local e menos uso das áreas abertas. Estes foram os problemas eleitos para os quais foi
preciso aplicar o questionário “chuva de ideias” para propor soluções e responsáveis.
É apresentada a resposta com maior valor na categoria social, sendo o estresse uma
característica tanto biológica, quanto física e mental, produzida por muitas condições naturais
e artificiais, por exemplo, o estresse térmico, hídrico ou o fisiológico. Sendo um possível motivo
especulativo da alta quantidade de respostas na percepção dos participantes do grupo focal,
superando na conta dos problemas que têm a ver com indicadores de desenvolvimento, bem-
estar ou qualidade de vida como os quase empatados com 52 e 51 pontos respetivamente. São
elas equivalentes às perdas ou danos nas moradias e o aumento das pessoas com doenças de
transmissão por insetos vetores de vírus.
O tema do trânsito é muito comum no país e a cidade de Jacó não ficou fora das
menções. Contudo, apesar da possível alta quantidade de veículos no local, o problema está

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

mais imbricado nos atrasos da débil mobilidade que ocorre na locomoção por carro, a pé ou por
outros meios, uma vez que a acumulação de água pluvial em pontos específicos do centro da
cidade atrapalha e compromete a circulação de pessoas, independente do tipo de locomoção,
conforme demonstrado na figura 1.

Figura 1. PROBLEMAS DE ACUMULAÇÃO DE ÁGUA POR FALTA DE CAPACIDADE HIDRÁULICA


NOS ESGOTOS, SARGETAS E DESIGN COM INSUFICIENTE PERCOLAÇÃO

Fonte: Autoria própria (2020).


Ao nível inferior ficaram com igual valor os problemas de qualidade da paisagem e
atividades de lazer, que indiretamente podem ser relacionados a outros empecilhos, por
exemplo, à acumulação de lixo e de água resultando na redução da qualidade da paisagem,
aumentando a quantidade de ninhos para insetos vetores de doenças, implicando a chuva no
fechamento das piscinas e consequentemente a perda de interesse pela população no que tange
às atividades esportivas ou de lazer nas áreas públicas.
A seguir, as respostas obtidas por meio da chuva de ideias são apresentadas no quadro
2. Conforme mencionado anteriormente, as propostas foram consultadas para os 5 principais
problemas. Esclarece-se que quando ocorreram respostas repetidas, apenas uma resposta foi
considerada para a transcrição e nela foi indicada entre parêntesis a quantidade de repetições,

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Pesquisas e Inovações Nacionais em Engenharias, Ciências Agrárias, Exatas e da Terra

entretanto, os casos sem resposta não foram incluídos.

Quadro 2. PROPOSTAS PARA MITIGAR A PROBLEMÁTICA SOCIAL PERCEBIDA COM RELAÇÃO


AO TEMPO ATMOSFÉRICO NO LOCAL
Problema Propostas-soluções Responsável (eis)
- Atividade física (2: yoga, esportes), esporte.
- Recreação (2).
- Beber água. Bebedouros de água para o público (2). O próprio indivíduo (2),
- Fomento de atividades grupais em família. Instituto Costarriquense
- Aumentar a capacidade dos abrigos. de Eletricidade (ICE),
Estresse nas - Prevenção dos riscos desde os grupos expostos. Instituições públicas,
pessoas atingidas- - Multas e penalidades para os invasores das zonas de risco. Prefeitura (4), Sociedade,
afetadas. - Melhoria da cultura ambiental.
Comissão Nacional de
- Aumentar a aplicação e capacidade das regulações.
- Gestão de emergências. Emergências e Prevenção
-Aumentar a capacidade dos esgotos e bueiros. de Riscos (CNE).
- Reflorestamento (2).

- Eliminar ninhos dos vetores (3). Ministério da Saúde


- Cuidado com hipertensos e pessoas com maiores riscos (Minsa, 3), O próprio
de desidratação. indivíduo. Universidades,
Doenças - Multas para quem tem ninhos de vetores nas casas.
- Alerta para a população. Prefeitura, Grupos locais,
- Campanhas de sensibilização. Comunidade,Moradores.
- Melhorar o gerenciamento do lixo.
Conselho de Segurança
Vial (COSEVI),
- Expandir larguras nas ruas. Conselho Nacional de
Alteração no - Eliminar engarrafamentos. Vialidade (CONAVI) e
trânsito - Melhorar a condição das estradas. Prefeitura (2),
- Melhorar a drenagem. Comunidade,
Associações de
desenvolvimento.
- Melhorar aspectos técnicos do design das obras.
- Estudos de drenagem e geotécnicos no solo.
- Aumentar a quantidade de espaços recreativos abertos para
Prefeitura (4),
esportes, artes, zonas de uso diverso.
Paisagem e espaço Comunidade (2).
- Gestão do lixo desde a classificação, lixeiros, voluntariado Hotéis,
público
comunal. Pessoas.
- Educação ambiental.
- Plano regulatório para o melhoramento da paisagem.
- Aumentar a capacidade das drenagens. Reflorestar (2).
Fonte: Autoria própria (2021).
Uma vez que se trata de problemas de infraestrutura e gestão do desenvolvimento local,
o Governo Local (Prefeitura), foi a pessoa jurídica mais mencionada nas propostas de solução
e mitigação dos problemas sociais. Tal responsabilidade relaciona-se com o fato que na Costa
Rica, a prefeitura representa localmente a Comissão de Emergências, e é a entidade que pode
realizar investimentos para as melhorias, mantendo o espaço público ativo de desenvolvimento
como na implantação de pontes, estradas ou calçadas. O segundo responsável com maior
menção se fez pela mescla de grupos locais, associações, comunidade e das “próprias pessoas
ou cada um”. Quanto à Comissão de Emergências, não foi possível identificar se local ou
nacional, foi mencionada em terceiro lugar.
Os responsáveis relacionados ao Governo Central e autônomo, cujos ministérios têm

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tarefas muito específicas como o Ministério de Saúde (MINSA), universidades, conselho de


Segurança nas Vias (COSEVI), Conselho Nacional Vial (COSEVI), ficaram em quarto lugar.
São diversas as medidas propostas por meio da “chuva de ideias”, no entanto, todas
estão relacionadas entre si. Observa-se que a temática saúde, remete a um tema complexo, uma
vez que se relaciona aos processos fisiológicos, anatômicos, mentais, relações sociais, entre
outros. Outras propostas também se relacionam a temas variados, como, por exemplo, a
importância do consumo da água, tirar ninhos e fazer atividades esportivas e recreativas. Essas
propostas também obtiveram maior número de respostas estando todas ligadas à
responsabilidade de cada indivíduo. Outras propostas estão imbricadas aos setores acadêmicos,
prefeitura e grupos sociais, por exemplo, o voluntariado, reflorestar, gerenciamento do lixo,
educação ambiental e tarefas preventivas de riscos e multas aos infratores. Acerca da
problemática econômica, os resultados obtidos apresentam-se nas tabelas 2 e 3.

Tabela 2. HIERARQUIA DOS PROBLEMAS ECONÔMICOS PERCEBIDOS E RELACIONADOS COM A


DINÂMICA ATMOSFÉRICA NO LOCAL (QUANTIDADE E SOMA DE RESPOSTAS PARA CADA
VALOR DE PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA)
Quantidade de Quantidade de Quantidade de
Problema econômico
respostas e soma de respostas e soma de respostas e soma de
segundo a literatura e valores para a valores para a Soma
entrevistados valores para a
importância baixa importância média importância alta
Aumenta consumo de 1 (1) 4 (8) 17 (51) 60
água
Maior consumo de 3 (3) 3 (6) 16 (48) 57
energia (A/C)
Menor demanda no 0 (0) 9 (18) 13 (39) 57
comércio
2 (2) 7 (14) 13 (39) 55
Baixa demanda turística
Baixa produtividade 2 (2) 8 (16) 12 (36) 54
dos
trabalhadores
Pioram os efeitos 1 (1) 10 (20) 11 (33) 54
do ENOS
Aumentam os impactos 2 (2) 9 (18) 11 (33) 53
da Niña
2 (2) 9 (18) 11 (33) 53
Aumentam as secas
Baixa quantidade de 3 (3) 7 (14) 12 (36) 53
pesca
Maior investimento em 4 (4) 6 (12) 12 (36) 52
consertos na casa ou
trabalho
Baixa produtividade 3 (3) 8 (16) 11 (33) 52
agrícola
Maiores danos nas 4 (4) 8 (16) 10 (30) 50
telecomunicações
Menor demanda 2 (2) 13 (26) 7 (21) 49
imobiliária
Maiores danos nas 3 (3) 11 (22) 8 (24) 49
instalações elétricas
32 (32) 112 (224) 164 (492) 748
Soma

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4,28% 29,95% 65,77% 100%


Frequência relativa
Fonte: Autoria própria (2021).

O aumento do consumo de água obteve os maiores valores, somando 60 pontos. Infere-


se por essa informação que, a consequência dos desastres causados pelos fenômenos
hidrometeorológicos, como o aumento do consumo de água, ocasiona proporcionalmente o
aumento de consumo de energia, o qual se obteve 57 pontos, demandando também o aumento
das tarefas pagas por esses serviços. A queda ou baixa da demanda turística obteve 55 pontos e
os problemas anteriormente mencionados (aumento do consumo de água e de energia elétrica)
relacionam-se aos efeitos associados à escala local, o que significa para a cidade a entrada de
menos clientes para os setores turísticos e comerciais, implicando menor ingresso de impostos,
comissões ou salários para os trabalhadores.
No que concerne ao empate ocasionado pela soma de 54 pontos para os maiores
impactos do ENOS e baixa da produtividade dos trabalhadores, o problema eleito foi baseado
na quantidade de seleções da categoria de maior importância, como reflexo da quantidade de
votos para a escala de maior importância segundo os consultados, ou seja, os 36 votos para o
valor 3 de maior importância, o que demonstra a diminuição da produtividade dos
trabalhadores. A seleção desse problema econômico também se relaciona à produtividade da
força laboral, assunto permanente, seja em temas econômicos ou nos alvos sociais e de
desenvolvimento. Por outra parte, o ENOS é um fenômeno que atinge principalmente o setor
agropecuário, gerando secas breves ou ocasionais sem maiores impactos à atividade, conforme
abordado nas comunicações acerca do ENOS por parte do IMN (2008), baseia-se que para os
meses de março, abril e maio do 2020 o fenômeno foi classificado como “neutro”.
Assim, foram obtidas as propostas para mitigar os 5 principais problemas econômicos
locais do tema, segundo o questionário “chuva de ideias” divididos nas categorias já
mencionadas apresentadas no quadro 3, a seguir:

Quadro 3. PROPOSTAS PARA MELHORIA DOS PROBELMAS ECONÔMICOS PERCEBIDOS E


ASSOCIADOS À DINÂMICA DO TEMPO ATMOSFÉRICO EM JACÓ

Problema Propostas/soluções Responsável (eis)

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- Uso responsável do recurso (2).


- Adequado mantimento das instalações.
- Educação e conscientização. Própria e Sociedade.
- Reservas de água. Serviço Nacional de
- Infraestrutura de sombra. Águas e Saneamento
Maior gasto de - Macro túneis. (SENARA).
água - Racionalização: economia de água na estação seca. Instituições relacionadas
- Ideias de outros países para coletar água da chuva para com o uso comunal,
irrigação em tempos de escassez. privado e doméstico.
- Reflorestar. Organizações ambientais.
- Adaptar design da produção as condições locais.

Própria.
- Desligar. Ministério de Obras
- Uso eficiente dos aparelhos. Públicas e Transportes
- Energia solar com postes em sinais dos caminhos. (MOPT).
Maior consumo
- Incentivos para infraestrutura privada, casas e, Governo.
energético
regulamentações para deixar uma percentagem do Ministério de Ambiente e
consumo produto das energias limpas. Energia (MINAE).
- Reflorestar. Instituto Costarriquense
de Turismo (ICT).
- Mudar preventivamente, incrementar o design e
materiais (4).
Maiores - Design original, desde materiais até uso doméstico. O próprio indivíduo.
investimentos para - Incentivos à infraestrutura privada. Governo.
consertar casa ou - Prevenção e manutenção preventiva. Cada dono (3).
local de trabalho - Medidas de prevenção a partir do projeto econstrução.
- Limpeza de descidas e canoas.
- Preços mais baixos, pacotes especiais, finanças, preços
acessíveis.
- Incentivos para o setor imobiliário e o mercado Hotéis e comerciantes.
hipotecário. Empresas e imobiliárias.
Baixa demanda
- Diversificar a oferta turística, não apenas a praia, mas Instituto Costarriquense
imobiliária,
também outras atividades. de Turismo (ICT).
turística e comercial Empreendedores e
- Todos os empreendedores em coerência com a
comunidade e município, promover o turismo nacional. clientes.
- Melhorar a cultura de prevenção e redundância.
- Seguros de produtividade.
- Hidratação, uso de bebedores (2), uso roupa de saúde
Próprio e padrão.
ocupacional e manga comprida, sombra artificial,
Menor Sociedade e governo.
bloqueador solar (2).
produtividade Nenhum deles.
- Aumentar a disponibilidade de água para o consumo
laboral e agrícola Empreendedor e
humano.
trabalhador.
- Aumentar as sombras (2).
Fonte: Autoria própria (2021).

Como pode ser observado, a referência ao consumo de água e energia diz respeito não
somente aos problemas de consumo de recursos naturais, como também econômicos. As
prioridades foram consideradas no componente econômico, tendo em vista que ambos são
serviços públicos com tarefas estabelecidas na localidade pelo ICE e o Instituto Nacional de
Aquedutos e esgotos, isto é, podem ser considerados problemas econômicos com origem no
mercado dos recursos naturais, especialmente considerando que quase a totalidade da energia
elétrica do país é produzida por recursos hídricos. Especificamente em Jacó, há depoimentos

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de moradores que mencionam uma alta taxa da tarifa, uma vez que no país existem tarifas para
empresas, setores e para uso residencial. No entanto, no caso de Jacó, não há distinção, a taxa
pela prestação desses serviços é chamada de “tarifa turística” e, essa tarifa é comum a todos,
além de ser muito maior que a residencial cobrada em outras partes do país.
A elevação do consumo de água e energia elétrica relaciona-se com a sensação de calor
que, por conseguinte demanda maior consumo de água para os jardins, para consumo humano,
entre outros, como exemplo a eletricidade para o ar-condicionado ou ventiladores. Decerto,
como pode ser observado pelas respostas constantes do quadro, algumas medidas assinaladas
são de responsabilidade individual, como desligar os aparelhos, realizar a manutenção e
consumir com responsabilidade, além disso, podem ser aplicadas medidas de adaptação, visto
que o consumo se reflete na tarifa a ser paga mensalmente, seja aquela consumida em casa, seja
a consumida no trabalho. Enfaticamente observou-se a resposta que indica que os governos
locais e nacionais poderiam estabelecer regulações para os novos projetos de construção e assim
incluir preventivamente essas medidas no caso das casas, locais e prédios existentes, destacando
que essas intervenções precisariam ser contínuas.
Outras alternativas que embora possam ser executadas pelos moradores foram indicadas
para estes locais estando cabível também em ações do governo ou ONGs, estão a
implementação do: reflorestamento e construção de reservas de água, que com o uso de
estruturas produtivas que reduzem a temperatura e velocidade do vento são de uso agrícola.
Isso também ocorre com medidas no uso de fontes de eletricidade, alternativas no espaço
público, como a energia solar nos sinais do trânsito.
Para os últimos dois problemas, muito sinérgicos no setor e espaço local devido às
relações associativas e comerciais, as medidas mencionadas demandam maiores
responsabilidades para o setor privado e para o governo, uma vez que implicam intervenções e
regras específicas para trabalhar com a complexidade dos atores envolvidos. No que diz respeito
à demanda imobiliária, turística e comercial, são vários os setores envolvidos desde o
administrativo cuja atribuição é licenciar a água (AYA), a energia (ICE) e construir (prefeitura
e Colégio Federado de Engenheiros e Arquitetos), até a venda de prédios e pacotes ou serviços
turísticos (Câmara de Comércio e Turismo Sustentável, Governo Local e ICT). Por isso os
responsáveis são tanto comerciantes e empreendedores quanto empresas e governo central e
local.
As medidas específicas de fácil intervenção para os negócios dizem respeito à alteração
de preços e criação de pacotes mais atraentes e diversificados para o turista nacional, bem como
a aquisição de serviços de companhias de segurança para a cobertura de possíveis perdas e

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danos. Outras medidas econômicas são de responsabilidade institucional como os incentivos e


as subvenções ao mercado hipotecário.
No caso da produtividade agrícola e laboral, as medidas são concernentes ao trabalhador
e empresário, com pouca necessidade de investir muito dinheiro, mas requerem consciência dos
problemas e intervenções demandadas pela saúde ocupacional e pelo trabalho, como: usar
roupas e equipamentos adequados para trabalhar nas redondezas da cidade e no espaço aberto,
lembrando-se sempre de usar protetor solar e chapéu ou touca, tendo sempre consigo água,
buscando quando possível o abrigo das sombras das árvores.

CONCLUSÃO

Os principais efeitos dos fenômenos hidrometeorológicos sobre os assuntos


socioeconômicos públicos, estão relacionados principalmente aos impactos na infraestrutura
decorrente das inundações e chuvas intensas. Algumas preocupações locais têm a ver com
temas de saúde tanto pública quanto ocupacional. Além da qualidade e quantidade das águas,
das inundações, lixo, ninhos vetores de doenças e da perda da produtividade dos trabalhadores,
respostas associadas à qualidade de vida, saúde ambiental e pessoal, foram mencionadas dentro
das preocupações cuja ação deveria ser mais individual e privada. A mesma situação foi
observada na maior parte de propostas de mitigação dos problemas econômicos hierarquizados.
Pequenas áreas de intervenção pública podem acrescentar o bem-estar e qualidade de
vida local, por exemplo, a eliminação de ninhos de vetores, o aumento da capacidade hidráulica
dos bueiros e esgotos, a implantação de bebedouros públicos, e ampliação de áreas com sombra.
Outras ações requerem investimentos técnico e vontade política, a exemplo o fomento do design
sustentável da infraestrutura ou melhoramento, amplificação das estradas, de obras públicas e
até mesmo a diversificação da oferta turística e espaço de lazer.
Os registros de deslizamentos ou de emergências com outros elementos como o vento e
quedas de árvores, fogos, aspectos da geodinâmica externa como terremotos, maremotos,
tsunamis ou liquefação dos solos, embora sejam indicados nos mapas de risco da cidade, mais
precisamente no caso da geodinâmica, não estão associados com o tempo atmosférico.
A cidade fornece fortalezas importantes acerca do que são os serviços públicos e ativos
de desenvolvimento: uma população jovem, ativa economicamente e um destino turístico
competitivo, porém, tarefas sobre design sustentável, limitações de uso e ocupação das zonas
de risco, crescimento imobiliário, participação local nos projetos de desenvolvimento ou
instituições com voluntariado, restauração nos ecossistemas costeiros e ripários, são aspectos

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importantes na mitigação de vulnerabilidades que podem adequadamente acrescentar as


oportunidades e capacidades de um desenvolvimento resiliente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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