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1.

Introdução

A água do ponto de vista econômico é considerada um bem escasso; porém, ela é

muito mais do que uma simples matéria-prima ou um insumo fundamental. A sua utilidade

vai desde a manutenção básica da vida até a produção de alimento e energia. De um modo

geral, a água está presente em todas as atividades econômicas desempenhando então um papel

fundamental para a manutenção da vida e da produção econômica. O crescimento

demográfico junto com o uso desenfreado desse bem pode levar à escassez, uma vez que, o

consumo tende a aumentar enquanto o mesmo não acontece com a oferta, isto é, a

disponibilidade de água tem diminuído e a demanda por ela só aumenta. Cabe então, ao

governo promover uma alocação ótima desse recurso, já que a água é um bem econômico e

um recurso estratégico para o desenvolvimento social e econômico de uma região.

A estimação de uma função de demanda por água de uma região é importante,

pois auxilia a implementação de políticas voltadas para a ampliação, regulação e

modernização do setor de abastecimento de água no Brasil. No quesito de ampliação da rede

de distribuição, conhecer a função de consumo pode servir de base para o dimensionamento

dos sistemas de abastecimento de água e esgoto, uma vez que, permite calcular as projeções

das vazões físicas do sistema de acordo com o consumo per capita estimado através da função

de demanda.

Outra vantagem em se estimar a demanda por água é que esta fornece a disposição

a pagar do consumidor de acordo com o seu perfil socioeconômico, que pode auxiliar a

aprimorar os estudos de cobrança por água, tanto no âmbito federal como estadual uma vez

que se analisam os impactos econômicos que uma variação na renda do consumidor ou no

preço do produto gera em diversos segmentos sociais. Tais estudos, apesar de imperfeitos

devido à dificuldade de informações e pelo fato da cobrança pelo uso da água ser
relativamente recente, podem ser de fundamental importância para a tomada de decisões e

elaboração de políticas públicas.

Estudos que visam estimar a função de demanda por água já vêm sendo

desenvolvidos desde a década de 60 (Ribeiro, Lanna e Pereira, 1999). Naqueles trabalhos, a

quantificação da função de demanda por água costumava ser feita obtendo de coeficientes de

necessidade de serviço, como os índices da Organização Mundial de Saúde, sobre estimativas

do crescimento da população. Apesar da facilidade de aplicação dessa metodologia, os

resultados são considerados questionáveis do ponto de vista econômico por não considerarem

variáveis econômicas que usualmente determinam as quantidades demandadas como a renda

do consumidor, o preço que ele paga pelo serviço e as preferências de consumo (ANDRADE,

1995).

Além do problema relacionado à quantificação futura da demanda, há também a

utilização inadequada da hipótese da inelasticidade - preço da demanda por serviços de

saneamento em estudos de revisão de tarifas públicas. A crítica a esse critério está no fato de

que usar tal hipótese sem testá-la na população em geral e em diferentes níveis de renda

poderia levar a uma superestimação da receita prevista das empresas de abastecimento de

água (ANDRADE, 1995).

O intuito do trabalho é o de investigar a sensibilidade do consumo por água

quando ocorre uma variação na renda e preço para os consumidores da Saneamento de Goiás

(Saneago). Para esse estudo será necessário encontrar os determinantes da demanda por água

para o estado para os anos de 2014 a 2016 em relação à variação da renda dos municípios

usuários da empresa e do preço exercido pela companhia nesse período. Será feita uma análise

para verificar se uma variação positiva na renda dos consumidores acarretará em um aumento

do consumo e se um aumento no preço do bem em estudo (água) levará a uma diminuição da

demanda, conforme enunciado pela teoria econômica.


2. Revisão de Literatura

As políticas de saneamento e abastecimentos de águas dos centros urbanos

dependem de várias questões. A primeira é uma questão de saúde pública uma vez que existe

uma correlação direta entre diversas doenças infecciosas e a inexistência de sistemas de

abastecimento e saneamento de água capaz de garantir o acesso à água potável e condições

mínimas de higiene à população. A segunda é uma questão ambiental, uma vez que a água é

um recurso natural escasso e o uso desordenado desse recurso junto com a poluição resultante

do processo produtivo está tornando a disponibilidade de água imprópria para o consumo

humano. A terceira está relacionada ao fator econômico, pois a manutenção e expansão dos

sistemas de saneamento e abastecimento de água é algo complexo e envolto em altos custos

operacionais. Posto isso, para que a política de saneamento e abastecimento seja mais

assertiva é necessário que estas estejam apoiadas nas melhores informações a respeito das

diversas áreas que compõem o sistema de abastecimento.

Nesse contexto, um estudo econômico com o intuito de estimar uma função de

demanda por água é um instrumento fundamental porque possibilita a análise que o impacto

decorrente das atividades econômicas vem causar em diversos segmentos da sociedade indo

desde a arrecadação obtida pela empresa até a retração do consumo. A importância da

obtenção de parâmetros de elasticidades (preço e renda) dessa demanda para a elaboração de

políticas de regulação tarifária para o setor, como afirma Melo e Neto (2007), deve-se ao fato

de que esses parâmetros revelam a sensibilidade do consumidor frente a uma variação de

preço ou de renda.
Foi apenas no final da década de 1960 que variáveis econômicas começaram a ser

incorporadas aos estudos de demanda de água. E ainda assim, eles ignoravam o tipo de

cobrança feito pelas companhias de abastecimento, utilizando em seus cálculos apenas o

preço médio como representação do preço com o qual o consumidor se defrontava.

(MATTOS, 1998).

Existem duas questões amplamente discutidas na literatura econômica e empírica

a respeito da estimação da demanda por água. A primeira controvérsia está relacionada ao

conflito decorrente da especificação do preço. A estrutura tarifária das companhias de

abastecimento, em geral, é composta por blocos de consumo, o que acarreta preços não-

lineares e leva a questão de qual preço usar, se o preço médio ou o preço marginal (Andrade,

1995). Os preços não lineares são decorrentes de uma importante diferença entre preço médio

e preço marginal do serviço. Do ponto de vista microeconômico o preço médio é obtido

através da divisão do valor total da compra pela quantidade de itens adquiridos, enquanto o

preço marginal é o valor ao se adquirir uma unidade a mais do bem ou serviço (Vivas, 1996).

No caso da demanda por água, o preço médio é dado dividindo o valor total da fatura pelo

volume consumido no período, e o preço marginal é o valor da tarifa para cada nível de

consumo.

Uma estrutura tarifária composta por blocos de consumo traz em si a diferença

entre os dois preços e uma dificuldade de se obter o valor preciso do preço marginal,

principalmente para dados agregados, gerando uma discussão entre os autores desse campo

sobre qual variável utilizar e qual o melhor método de cálculo.

A segunda questão gira em torno da simultaneidade existente entre a determinação

do preço e da quantidade consumida, também decorrente à estrutura de cobrança por bloco de

consumo. Desta forma, como afirmam, por exemplo, Melo e Neto (2007), a estimação de uma

equação de demanda pelo método tradicional de MQO leva frequentemente a um sinal


positivo do coeficiente de preço, contradizendo o esperado pela teoria econômica. Uma vez

que o consumo é um fator determinante do preço, e este também, acaba por determinar a

quantidade consumida (MATTOS, 1998).

Desta forma, a literatura empírica sobre os determinantes da demanda por água

tenta controlar essas duas questões por meio de diversas técnicas econométricas, com

destaque para o uso de estimativas por variáveis instrumentais. As duas seções seguintes

apresentam um apanhado geral dessa literatura, com um enfoque nos dois principais

elementos considerados chaves para a determinação da demanda por água, isto é, o preço e o

nível de renda dos consumidores.

2.1 Estudos Internacionais sobre a estimação da demanda

O primeiro estudo que sumarizou o debate de qual preço considerar na estimação

da função de demanda foi Taylor (1975), ele faz uma vasta pesquisa em onze estudos

realizados sobre a demanda por eletricidade nos Estados Unidos. Ao analisar os problemas

presentes nos onze estudos, decorrentes da estrutura de preços por blocos de consumo, ele

argumenta que o uso de apenas uma variável preço, seja marginal ou médio, em geral, levará

a uma estimativa tendenciosa do coeficiente para a variável de preço e, além disso, há ainda, a

possibilidade da existência de um viés no coeficiente de renda, Taylor, portanto aconselha o

uso de ambos.

Para considerar o efeito causado pela estrutura tarifária em bloco o estudo de

Nordin (1976), em um artigo com o intuito de complementar o estudo de Taylor (1975),

sugere a inclusão na função de demanda de mais uma variável, denominada de diferença. Essa

variável seria a diferença entre o valor da conta de água efetivamente pago e o valor da conta

ao preço marginal.
Billings e Agthe (1980) em concordância com as especificações de Nordin e

Taylor estimaram uma função da demanda por água em Tucson (EUA) para o período de

setembro de 1973 a setembro de 1977. O modelo foi estimado a partir de dados agregados e

testados nas formas linear e log-linear utilizando o preço marginal, a diferença e a renda como

variáveis independentes. Como resultado obtiveram uma elasticidade preço no ponto médio

da amostra de -0,49 para a especificação na forma linear, e para a versão log-linear a

elasticidade preço, constante foi de -0,27. Todas as versões explicam 80% das variações no

consumo de água.

Porém, cabe aqui a ressalva, de que tanto os modelos que utilizaram como

variáveis explicativas apenas o preço médio como aqueles que utilizaram as variáveis

sugeridas por Nordin (1976), apresentaram problemas de simultaneidade.

No intuito de solucionar a questão da simultaneidade entre consumo e preço,

MacFadden, Puig e Kirshmer (1977) desenvolvem um método em dois estágios que consistia

na geração de uma variável proxy para o preço marginal, não correlacionada ao erro aleatório,

o que levaria a estimativas de MQO mais consistentes. Modificações dessa abordagem foram

empregadas por Hausman, Kinnucan e MacFadden (1979), Barner, Gillingham e Hageman

(1981) e Dubin (1982) e esses estudos comparam os resultados obtidos pela estimação por

MQO e por variável instrumental concluindo que a estimativa da elasticidade do preço

marginal da demanda é significativamente tendenciosa quando obtida pelo MQO, em relação

à consistência dos resultados obtidos pelo método de variável instrumental (Henson, 1984).

Nieswiadomy e Molina (1989) usaram este método e estimaram uma elasticidade preço entre

-0,36 e -0,86 para uma base de dados em cross section mensal da cidade de Denton, Texas,

Estados Unidos, com 101 consumidores residenciais para o período de 1976 a 1980, para

consumidores com tarifas em blocos decrescentes.


Há ainda na literatura uma linha de pensamento alternativo, que ao invés de

considerar toda a tabela de preços no momento de tomada de decisão do consumidor,

argumenta que grande parte da indeterminação que envolve a especificação da função de

demanda ocorre devido ao desconhecimento de qual preço o consumidor reage, se é o preço

médio ou o preço marginal (Shin, 1985). Essa teoria foi testada por Nieswiadomy e Molina

(1991), para a mesma base de dados do estudo anterior, em 1989, porém nessa nova versão do

estudo, os autores consideram também o período de 1981 a 1985 para os consumidores com

tarifas em blocos crescentes. Utilizando o método do MQO em dois estágios, os autores

concluem que na presença de uma estrutura tarifária em blocos crescentes, como é caso da

Saneago, os consumidores respondem ao preço marginal, e se a for decrescente respondem ao

preço médio.

A linha de pesquisa que prevalece na literatura é a que inclui a estrutura

tarifária no processo de estimação da função de demanda. E o método de estimação mais

usado tem sido o das variáveis instrumentais (MATTOS, 1998).

Houve uma grande produção científica sobre a demanda por água durante as

décadas de 70 até meados da década de 90, sendo a partir daí bastante escasso os estudos

nessa área. A atenção de vários desses estudiosos voltou-se para o setor de energia elétrica e a

busca de um melhor método que estimasse a crescente demanda por energia elétrica.

2.2 Abordagens nacionais a respeito da estimação da demanda

O estudo pioneiro realizado no Brasil com o intuito de estimar a função de

demanda de água levando em consideração o impasse da precificação em bloco foi o de

Andrade (1995). Ele considera como variáveis explicativas o preço marginal, a diferença
intramarginal, renda familiar e o número de pessoas residentes e utiliza a metodologia do

MQO em dois estágios em uma base de dados fornecida pela Companhia de Saneamento do

Paraná (Sanepar) para o ano de 1986. Os valores encontrados para a elasticidade apresentaram

valores, em módulo, menor que um, indicando que um aumento no preço reduz a quantidade

demandada por água em uma proporção menor que a variação no preço.

Mattos (1998) em um estudo feito para a cidade de Piracicaba, em São Paulo,

considerando os dados mensais de consumo dessa cidade para os anos de 1993 a 1995,

empregou três técnicas de estimação da função de demanda. Sendo os dois primeiros métodos

o da variável instrumental e o último foi o método do MQO em dois estágios. Os resultados

confirmam os problemas de especificação e de estimação decorrentes da tabela de preços

crescentes. A comparação feita entre os três métodos confirma a superioridade dos métodos

de variáveis instrumentais em relação ao método do MQO através do teste de Hausman.

O trabalho de Melo e Neto (2007) tem o intuito de estimar funções residenciais de

demanda de água no contexto de escolhas contínuas e discretas do consumidor decorrente da

tarifação progressiva em bloco para municípios do nordeste do estado de Minas Gerais. Os

dados desse estudo são compostos pela subamostra do consumo de água residencial por rede

pública de abastecimento, fornecida pelo estudo do Banco do Nordeste do Brasil (BNB,

1997). Os autores utilizam o modelo de dois erros e estimam um modelo de regressão linear

da demanda de água em função do preço marginal e da renda domiciliar. Em termos

numéricos os autores encontram o valor da elasticidade preço em um intervalo de -0,959 e -

1,0078 e a elasticidade renda entre 0,15102 e 1,08129. Os resultados apresentaram uma

relação positiva entre o preço marginal da água e o consumo, ou seja, o resultado indicou que

um aumento no preço acarreta em um aumento do consumo, contradizendo assim a relação

esperada entre preço e consumo.


Em um estudo para a cidade de Belo Horizonte Dias, Martinez e Libânio (2010)

fazem uma avaliação do impacto que uma alteração na renda familiar causa sobre o consumo

de água tratada fornecida pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) para o

periodo de agosto de 2003 a junho de 2006. Consideram como variáveis explicativas o

volume residencial micromedido, o rendimento absoluto da população e a evolução

populacional da região. Os autores concluem que a variável evolução populacional interfere

no consumo de água. Portanto, o consumo está intimamente ligado a variáveis

socioeconômicas da população e, consequentemente, ao poder aquisitivo.

A tabela apresentada abaixo traz um apanhado dos resultados dos estudos acima

citados.

Tabela 1 - Resumo dos resultados das elasticidade-preço da demanda por água.


Autor Título Elasticidade Região
Price elasticities for water: a 0,27 e 0,49
Billings e Agthe (inverno)
case of increasing block Tucson, EUA
(1980)
rates 0,67 e 0,70 (verão)
Specification of block rate
Billings e Agthe
variables in demand 0,56 e 0,72 Tucson, EUA
(1982)
models.
Comparing residential water
demand estimates under
Nieswiadomy e
decresing and increasing (-0,36 e -0,86) Denton, Texas, EUA
Molina (1988)
block rates using household
data.
Saneamento urbano: a
Andrade (1995) demanda residencial por (-0,1652 a -0,6247) Paraná, Brasil
água
Uma análise da demanda
residencial por água usando (-0,25, -0,21 e - Piracicaba, SP,
Mattos (1998)
diferentes métodos de 0,19)¹ Brasil
estimação
Estimação de Funçoes de
Melo e Neto Demanda Residencial municípios do
(-1,0078 e -0,9597)
(2007) deÁgua em contexto de nordeste do estado
Preços Não-Lineares de Minas Gerais
¹elasticidade obtidas pelos método MacFadden (1970), Deller (1986) e Wilder (1989)
respectivamente.
Fonte: Elaboração própria.
Em geral a elasticidade preço para as regiões estudadas indicam que os
consumidores são pouco sensíveis à variação no preço da água, ou seja, a variação percentual
da quantidade consumida é menor que a variação percentual do preço. Cabe ressaltar que a
discussão a respeito da elasticidade renda da demanda por água e a sua estimação é bastante
incipiente. Apesar de ser considerada uma importante variável explicativa, nenhum dos
autores citados se atentaram para a discussão desse fator, salvo Melo e Neto (2007) que
estimaram a elasticidade renda porém não aprofundaram a discussão.

3. Metodologia

Esta seção consiste na descrição metodológica empregada neste trabalho. Ela está
dividida em duas partes: a primeira é a descrição da base de dados utilizada e a segunda é a
apresentação do método de estimação usado para estimar a demanda por água.
De acordo com a teoria neoclássica do comportamento do consumidor, a
quantidade demandada é determinada pelo preço dos bens, o preço dos bens substitutos, a
renda do consumidor e pelas preferências individuais (Foster e Beattie, 1979). A partir dessa
afirmação é possível determinar nesse primeiro momento, uma função bem simples para a
demanda por água:
Qdem =f ( P , R , x)

Onde o Q é a quantidade demandada, o P é o preço, R é a renda do consumidor e


x são outras variáveis de controle. As variáveis selecionadas para explicar o consumo de água
no estado de Goiás foram o rendimento médio (ou PIB per capita), a porcentagem de ligações
comerciais, a densidade demográfica dos municípios, a altitude e a temperatura.

3.1 Descrição dos dados

A base de dados que compõem esse estudo é composta por dados de consumo da
população goiana atendida pela empresa de Saneamento de Goiás, a Saneago. São dados antes
nunca antes trabalhados, obtidos através de um processo fundamentado na lei 12.527, que
regulamenta o direito de todos os brasileiros, previsto na Constituição, de solicitar e receber
dos órgãos e entidades públicos, de todos os entes e Poderes, informações por eles produzidas
(BRASIL, 2011).
São dados desagregados por bairro dos 225 municípios atendidos pela companhia
da seguinte maneira: número de ligações em cada categoria (residencial social, residencial,
comercial, comercial social, público e industrial) de cada bairro de cada cidade, o consumo de
cada bairro, o valor correspondente do consumo em reais de cada bairro, o número de ligações
faturadas dividido em ligações medidas e ligações estimadas, a quantidade de inadimplentes
por bairro e o valor da tarifa praticada por mês durante o período analisado. Os dados
referente a renda, foram obtidos pelas séries históricas das estatísticas municipais fornecidas
pelo Instituto Mauro Borges (IMB), ambas disponíveis nos sítios eletrônicos dos respectivos
institutos, assim como as características demográficas e físicas de cada cidade do estado.

3.2 Estimação do modelo


Para estimar a demanda por água no estado de Goiás e obter aproximações da
elasticidade-renda e elasticidade-preço da demanda são empregados métodos econométricos.
Como a base de dados obtida acompanha os municípios goianos ao longo dos anos, eles
possuem a dimensão tanto de corte transversal quanto temporal. Por isso, os dados são
agrupados em um painel e em seguida é escolhido o modelo mais apropriado para o conjunto
de dados.
De acordo com xxxx (xxxx) estimar a demanda por água pede atenção a um
possível problema de endogeneidade, com origens na ambiguidade da causação da oferta e da
demanda por água. Além de um problema de causação circular entre oferta e demanda por
água é possível que fatores não captados no modelo influam na referida demanda, e assim
tornem o termo de erro da regressão correlacionado com as variáveis dependentes do modelo.
Se existe um ou ambos os problemas, estimar a demanda usando um método de regressão
comum, como em Mínimos Quadrados Ordinários, além de ferir as hipóteses gerais do
estimador de eficiência e consistência, pode trazer resultados de parâmetros atípicos a uma
equação de demanda, com por exemplo sinais contrários aos esperados na variável de preços.
A literatura indica que uma solução para a endogeneidade da demanda por água
consiste em modelos com variáveis instrumentais. Uma variável é dita ser um instrumento se
é correlacionada com as variáveis dependentes da equação, mas ao mesmo tempo é exógena
aos erros (GUJARATI, xxxx). Em Xxxxxxxxx (xxxx), é escolhida como instrumento o preço
marginal. Além disso, combinar variáveis instrumentais a um modelo de efeitos fixos para
dados longitudinais trata o problema dos fatores não observados, porque permite o controle de
características não captadas pelas variáveis presentes. A vantagem do modelo de efeitos fixos
se deve pois as características não observadas viram constantes, então, se estas não mudam no
passar do tempo, se controlam heterogeneidades, e isso confere mais precisão às estimativas e
trata as fontes de viés e inconsistência do estimador.
Desse modo o modelo adequado selecionado para explicar a demanda por água e
obter elasticidades corresponde a:
******
Onde o instrumento adotado é o preço marginal.
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