Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
classe residencial
Resumo
Introdução
1
Graduando em Ciências Econômicas pela UFG – GO. E-mail: erickcarmo@discente.ufg.br
2
Significado e preços
As bandeiras são classificadas em três cores: verde, amarela e vermelha, sendo esta última
subdividida em patamar 1 e patamar 2. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica 1,
1
Disponível em: <https://antigo.aneel.gov.br/bandeiras-tarifarias>. Acesso em 12 de fevereiro de 2023.
3
A própria ANEEL, anualmente e ao final do período úmido, em abril, define o valor das
Bandeiras Tarifárias para o ciclo seguinte, sempre considerando
“a previsão de variação dos custos da energia relativos ao risco hidrológico das usinas
hidrelétricas, à geração por fonte termelétrica, à exposição aos preços de liquidação no
mercado de curto prazo e aos encargos setoriais (Encargo de Serviços do Sistema – ESS
e Encargo de Energia de Reserva) que afetem os agentes de distribuição de energia
elétrica conectados ao Sistema Interligado Nacional – SIN” (ANEEL, 2015).
Em primeiro lugar, deve-se salientar que o consumo de energia elétrica vem crescendo a
uma taxa anual praticamente linear ao longo do tempo, condizente com um igual crescimento
linear do número de consumidores. Esses dois movimentos podem ser observados nos gráficos 1
e 2, respectivamente:
Gráfico 1 – Consumo mensal de energia elétrica (GWh) – Classe residencial (2004 – 2022)
1
A bandeira de escassez hídrica foi uma bandeira temporária, iniciada em setembro de 2022 com término em abril de
2022. Tal bandeira foi acionada em um cenário de forte crise hídrica e risco de apagão no país, representando um
acréscimo extra de R$0,142 por KWh consumido.
5
Estas são algumas considerações que precisam ser levadas em conta antes de tomar
qualquer julgamento apenas com a observação de dados estatísticos. Posto isto, podemos agora
iniciar uma análise geral em um cruzamento bandeiras x variação percentual de consumo para
períodos de destaque da Tabela 1.
Análise geral
Se voltarmos à tabela 1, percebe-se logo de início que o ano de 2015 foi um período
crítico, com acionamento da bandeira vermelha em todos os meses do ano, além de janeiro de
2016. Pelo gráfico 3, é evidente que houve uma queda abrupta do consumo em relação ao ano
anterior, sendo, inclusive, os primeiros registros de variação negativa significativa desde 2004.
Esse seria um forte indício de funcionamento das bandeiras tarifárias para com seu objetivo
principal, no entanto, é importante lembrar que este também foi um ano de crise político-
econômica, em que a queda na renda da população em geral provavelmente exerceu influência
sobre o consumo de eletricidade.
O segundo momento longo e preocupante aconteceu entre os meses de abril e dezembro
de 2017, com apenas um mês de acionamento da bandeira verde. Neste período, houve
novamente uma queda forte no consumo, chegando a -5,49% em abril, e um crescimento
próximo de zero nos meses subsequentes.
Entre maio e novembro de 2018 houve mais um longo período delicado, com a bandeira
vermelha de patamar 2 sendo acionada por 5 meses em sequência. Não houve nenhuma variação
negativa neste período, mas considerando que o mesmo intervalo de tempo no ano anterior
também foi ruim, as baixas taxas de crescimento podem significar um efeito eficaz das
bandeiras. O mesmo não é válido para este intervalo no ano de 2019, em que houve um
crescimento do consumo mesmo com a vigência de bandeiras desfavoráveis.
Por fim, o período mais crítico ocorreu entre dezembro de 2020 e março de 2022, mas
principalmente entre junho de 2021 e março de 2022, com o acionamento de bandeiras
vermelhas de patamar 2 e logo em seguida as bandeiras de escassez hídrica, de aumento
substancial nos custos. Neste período, houve novamente uma forte queda no consumo, chegando
a cair em patamares negativos logo após a implementação das bandeiras de escassez.
9
Análise vertical
Esses meses são caracterizados por picos de consumo, mas não necessariamente por
variações muito altas em relação ao ano anterior. Não se nota uma eficácia tão grande das
bandeiras nessa época, ainda que possa se observar fortes reduções no consumo em alguns
momentos de acionamento de bandeiras vermelha ou de escassez.
Aqui se nota uma eficácia melhor na sinalização das bandeiras. Com exceção do mês de
junho de 2021, em todos os outros momentos em que as bandeiras vermelhas foram acionadas, a
variação no consumo foi negativa, baixa ou abaixo da média dos anos anteriores à
implementação do sistema.
11
Novamente pode ser verificada uma eficácia interessante, sendo que em praticamente
todos os meses de acionamento de bandeiras vermelhas e de escassez, o consumo foi baixo ou
abaixo da trajetória média de crescimento.
12
Desta vez, as bandeiras de escassez hídrica parecem ter surtido um bom efeito, mas em
pelo menos 5 acionamentos das bandeiras vermelhas, os resultados foram muito aquém do que
seria esperado pela sinalização das mesmas.
13
Por fim, ainda que fosse de certo proveito observar as mesmas variações para o caso de
acionamento das bandeiras verdes, não é exatamente a questão que se procura investigar neste
trabalho, que trata da resposta da demanda por energia elétrica em um cenário de utilização do
sistema de bandeiras, quando comparado ao cenário sem esse sistema. A resposta de demanda,
segundo SOUZA (2014) e MORAES (2018) é percebida quando o consumidor altera ou adapta o
seu perfil de consumo em resposta a algum estímulo. Desse modo, “a resposta da demanda pode
ser definida como o fornecimento de incentivos destinados a induzir um menor consumo de
eletricidade nos momentos em que os preços estão altos ou quando a confiabilidade do sistema
está prejudicada” (MORAES, 2018, p. 17). Assim, o mais importante aqui foi verificar o
comportamento do consumidor diante da sinalização de alta de preços proporcionada pelas
bandeiras amarela, vermelhas ou de escassez.
Considerações finais
Sem muita pormenorização, podemos concluir que, em geral, para períodos críticos de
longa extensão, as bandeiras tarifárias tem, de fato, um impacto significativo nas decisões de
demanda dos consumidores residenciais. Evidentemente, outras variáveis macroeconômicas
podem estar influenciando essas decisões em períodos extensos, entretanto, principalmente
quando se observa o gráfico 3, vemos um movimento discrepante na variação de consumo entre
períodos de escassez com a vigência das bandeiras e períodos anteriores em que o sistema não
existia. Em intervalos mais delicados, sobretudo, há uma queda forte no consumo (relativo aos
anos anteriores) quando se aciona bandeiras de maior preço.
Desafortunadamente, quando se analisa de forma mais criteriosa cada mês em relação ao
seu próprio histórico, não se percebe explicitamente uma relação definitiva ou estável entre esses
fatores, o que reflete justamente os pontos psicológicos que podem exercer maior influência
sobre a sinalização econômica dentro da perspectiva do consumidor.
Por último, tem-se em conta que este trabalho, nitidamente, não teve a pretensão de
elaborar uma análise profunda no que diz respeito aos cálculos de sensibilidade que poderiam ser
realizados com tais dados. A observação geral aqui deve ser vista em total característica
circunspecta e assisada, com o entendimento de que esta conclusão apresentada pode se alterar à
medida em que novos estudos são adicionados.
14
Referências
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Bandeiras Tarifárias. 2015. Disponível em: <
https://antigo.aneel.gov.br/bandeiras-tarifarias>. Acesso em: 13 fev. 23.
MME – Ministério de Minas e Energia. Sobre bandeiras tarifárias. 2022. Disponível em <
https://www.gov.br/aneel/pt-br/assuntos/tarifas/bandeiras-tarifarias>. Acesso em: 13 fev. 23.
EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Consumo mensal de energia elétrica por classe.
Disponível em: < https://www.epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/consumo-de-
energia-eletrica>. Acesso em 13 fev. 23.
EPE – Empresa de Pesquisa Energética. Anuário estatístico de energia elétrica 2022. 2022.
Disponível em: < http://shinyepe.brazilsouth.cloudapp.azure.com:3838/anuario-livro/>. Acesso
em 13 fev. 23.
SOUZA, Rafael Valim Xavier de. Análise dos impactos de políticas de resposta da demanda
na formação do preço da liquidação das diferenças no mercado de energia elétrica
brasileiro. 2014. Dissertação (Mestrado em Engenharia Elétrica) – Fundação Universidade
Federal do ABC, Santo André.
MORAES, Felipe Augusto Cardoso. Impacto econômico das bandeiras tarifárias nos
processos tarifários das distribuidoras de energia elétrica. 2018. Dissertação (Mestrado em
15