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FACULDADE DE AGRONOMIA E ENGENHARIA FLORESTAL

Mestrado Em Economia Agrária – Recursos Naturais

Dissertação de Mestrado

Análise de Factores Determinantes da


Procura da Água no Posto Administrativo de
Sábie, Distrito de Moamba

Mestrando:

Manjate, Hélder António

Supervisor:

Prof. Doutor João Mutondo

Maputo, Agosto de 2015


Aos meus pais António Manjate e Gilda Simão (in memorian), que com
seu amor me receberam e me permitiram chegar onde hoje cheguei...

A minha esposa Carla e aos meus filhos Jenny e Hélder que tanto os amo….

DEDICO

i
Agradecimentos

A Deus, por me permitir viver grandes momentos e conhecer pessoas maravilhosas.

Esta tese foi desenvolvida no âmbito do projecto Using IWRM Best


Practices to Develop Appropriate Capacity and Training for the benefit of Sub-Saharan
Africa Water Security [ACT4SSAWS] financiado pela União Africana através de fundos da
União Europeia que vai o meu muito obrigado.

Ao meu supervisor, João Mutondo, pela competência, orientação segura e total apoio em
todos os momentos deste trabalho.

Ao técnico Fredónio, extensionista do Sábie, que gentilmente ajudou na colecta de dados;

Ao meu amigo Tomás Bastique pelo apoio e incentivo constantes.

Aos meus colegas de trabalho e amigos Agnaldo Ubisse, Nelson Rafael, Jaime Macuácua e
Noé Hofiço pelo companheirismo durante o trabalho.

Aos meus irmãos, tios, primos e sobrinhos pelo carinho e apoio incondicionais.

A todos que directa ou indirectamente contribuíram para a elaboração desta tese.

MUITO OBRIGADO!

ii
Resumo

Com o aumento da população e a intensificação das actividades económicas, a água está se


tornando um recurso escasso em todo o mundo. Em Moçambique, particularmente no rio
Incomáti em Sábie a escassez da água é um facto e deve-se à introdução de novas sociedades
agrícolas como empresa indiana com 7.000 ha e COFAMOSA com 29.000 ha. A pressão
sobre os recursos hídricos gera a necessidade de se estudar mecanismos que induzam
alocações eficientes dos recursos existentes. Uma dificuldade que os decisores da política da
água e os operadores dos sistemas de abastecimento enfrentam é o desconhecimento de
factores que determinam o desempenho dos vários instrumentos. É neste contexto que o
presente estudo analisou os factores que determinam a procura da água no Posto
Administrativo de Sábie considerando os usos domésticos e irrigação em pequena escala. O
modelo de regressão linear foi usado para analisar os determinantes da procura de água para
fins de irrigação agrícola enquanto que o método custo de viagem foi aplicado para analisar
os determinantes da procura de água para os agregados familiares. Os resultados mostram que
um aumento de 1hora de rega a procura de água aumenta em 362,04 m3 e o acréscimo de uma
rega por semana a procura de água aumenta em 1.065,61 m3. Os efeitos marginais do tempo
de irrigação e o número de regas por semana são enormes principalmente devido a
predominância da rega por gravidade que utiliza grande quantidade de água por causa das
perdas e pouca quantidade é utilizada por culturas. A falta de taxas de água para pequenos e
médios produtores também podem estar por detrás do uso de grande quantidade de água do
rio Incomáti pelos produtores agrícolas. Desenvolvimento de tecnologia de uso eficiente de
água, bem como a aplicação de taxas de água pode ajudar na gestão da demanda de água na
bacia do rio Incomáti especificamente no Posto Administrativo de Sábie. Finalmente, os
resultados mostram que, o número de viagens por dia na busca de água aumenta em 0,446,
0,569, 0,487 unidades quando a fonte for rio, poço e fontanário respectivamente comparando
com situações em que a fonte é água canalizada. O aumento em 1% de membros envolvidos
na colecta de água, o número de viagens por dia reduz em 23,6%. O aumento de 1% no
tempo de colecta de água reduz o número de viagens em 0,3%. O acréscimo de 1% de
recipiente reduz o número de viagens em 7,6% enquanto que o aumento de 1% no consumo
de água o número de viagens aumenta em 0,1%.

Palavras-chaves: procura, água, rega e agregados familiares.

iii
Abreviaturas

UNESCO Conferência das nações unidas para o ambiente e desenvolvimento

SADC South African development Countries

GIRH Gestão Integrada dos Recursos Hídricos

MAE Ministério de Administração Estatal

INE Instituto Nacional de Estatística

CV Custo de Viagem

AFs Agregados familiares

PAS Posto Administrativo de Sábie

iv
Lista de tabelas

Tabela 1: Número de localidades e de agregados familiares do PAS .....................................13

Tabela 2: Tamanho de amostra para produtores médios.........................................................29

Tabela 3: Tamanho de amostra para consumidores domésticos .............................................29

Tabela 4: Teste de comparação de médias de consumo de água por cultura ..........................32

Tabela 5: Estatísticas descritivas dos produtores médios .......................................................33

Tabela 6: Resultados dos testes do modelo dos produtores médios .......................................33

Tabela 7: Resultados do modelo de procura de água pelos produtores médios ......................35

Tabela 8: Estatística descritiva das variáveis do modelo da procura de água doméstica .......38

Tabela 9: Comparação de médias do número de viagens nas principais fontes de água .......39

Tabela 10: Resultados do modelo da procura doméstica de água (regressão de poisson) ......39

v
Lista de figuras

Figura 1: Distribuição de produtores por cultura ....................................................................32

Figura 2: Distribuição da procura de água por fonte ..............................................................36

Figura 3: Distribuição de procura de água por tipo de pessoa ................................................37

Figura 4: Distribuição da renda dos AFs ................................................................................37

vi
Índice

Resumo .................................................................................................................................... iii

Abreviaturas ........................................................................................................................... iv

Lista de tabelas .........................................................................................................................v

Lista de figuras ....................................................................................................................... vi

Índice ...................................................................................................................................... vii

1. Introdução ............................................................................................................................1

1.1. Problema do estudo .........................................................................................................3

1.2. Justificação do estudo......................................................................................................5

1.3. Objectivos........................................................................................................................5

1.3.1. Geral .....................................................................................................................5

1.3.2. Específicos ...........................................................................................................5

2. Revisão bibliográfica ...........................................................................................................6

2.1. Procura da água para rega ...............................................................................................6

2.2. Procura da água para o consumo doméstico ...................................................................8

3. Metodologia ........................................................................................................................13

3.1. Caracterização da área de estudo ..................................................................................13

3.2. Métodos e procedimentos..............................................................................................15

3.2.1. Procura da água para rega .......................................................................................15

3.2.2. Procura da água para o consumo doméstico ...........................................................18

3.3. Testes de diagnóstico dos pressupostos dos modelos ...................................................25

3.4. Dados .............................................................................................................................28

3.5. Análise de dados............................................................................................................30

4. Resultados e discussão .......................................................................................................31

4.1. Determinantes da procura de água para irrigação .........................................................31

4.1.1. Características dos sistemas de irrigação dos produtores médios ..........................31

4.1.2. Factores que determinam a procura de água de rega ..............................................33

4.2. Determinantes da procura de água para uso doméstico ................................................35

vii
4.2.1. Características socio-económicas dos agregados familiares do PAS .....................35

4.2.2. Estatísticas descritivas da procura de água doméstica............................................38

4.2.3. Factores que determinam a procura doméstica de água .........................................38

5. Conclusões e recomendações ............................................................................................42

6. Referências bibliográficas .................................................................................................44

Anexos .....................................................................................................................................51

viii
1. Introdução

No universo, a água é o recurso imprescindível em todos os aspectos da vida. Contudo, em


excesso, ela causa inundações e calamidades ambientais e sua escassez provoca fome e miséria.
O maneio adequado da água pode conduzir a excelentes resultados na produção de alimentos,
porém seu mau uso provoca degeneração do meio físico natural. A água é um recurso natural
indispensável à sobrevivência do homem e demais seres vivos do Planeta. A água é uma
substância fundamental para os ecossistemas da natureza, solvente universal e importante para a
absorção de nutrientes do solo pelas plantas (Paz, 2000).

As pessoas consideram a água como sendo infinitamente abundante e que a sua renovação é
natural. Contudo, apesar de a água ocupar 71% da superfície do planeta, 97% deste total são
águas salgadas, 2,07% são águas doces em estado sólido e apenas 0,63% representa água doce
que também não é totalmente aproveitável devido a inviabilidade técnica, económica e financeira
e de sustentabilidade ambiental (Maia e Neto, 1997).

Em escala global, estima-se que 1,386 biliões de km3 /ano de água estejam disponíveis, porém a
parte de água doce de fácil aproveitamento para satisfazer as necessidades humanas, é de
aproximadamente 14 mil km3/ano. Desde o início da humanidade, a procura de água é cada vez
maior e as tendências das últimas décadas são de excepcional incremento, devido ao aumento
populacional e a elevação do nível de bem-estar. Devido ao incremento anual na procura da
água, este líquido torna-se cada vez mais escasso. Por exemplo, em 2000, cerca de 250 milhões
de pessoas em 26 países sofreram de falta crónica de recursos hídricos e a previsão até 2020, o
número será de 3.000 milhões em 52 países (UNESCO, 2003).

Estima-se que a agricultura irrigada consome entre 75% e 90% de toda a água consumida em
países em desenvolvimento e contribui com 38% da produção de alimentos no mundo
(Christofidis, 2006). A procura da água é para satisfazer as necessidades de consumo e utilização
da água. Sendo assim, nota-se aqui a diferença entre os conceitos de utilização e consumo de
água. O conceito de utilização contabiliza a quantidade efectivamente utilizada de água em uma
dada actividade enquanto que o conceito de consumo leva em conta a quantidade efectivamente
consumida, ou seja, a diferença entre a quantidade utilizada e reaproveitada (Paz, 2000). A
agricultura irrigada é uma das actividades que mais consomem água no mundo, porque a
quantidade reaproveitada de água após a irrigação é praticamente nula (World Bank, 2001).

1
De acordo com Seckler et al. (1998), o consumo doméstico representa uma mínima porção no
consumo total mundial (de 5% a 10%) em relação à indústria (20%) e ao sector agrícola que
absorve cerca de 80% dos consumos de água doce. A quantidade de água disponível por pessoa
por ano passou de 12.900 m3 em 1970 para 7.000 m3 em 2004 e atingiu 5.100 m3 em 2005. Nas
regiões com maior densidade populacional da Ásia, África e Europa Central e do Sul, a
quantidade de água por pessoa por ano situa-se entre 1.200 m3 e 5.000 m3 (Shiklomanov, 2000).

Conforme o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (2008), na actual partilha da água,
3.000 milhões de pessoas estarão em “stress hídrico” até 2025. O volume de água salgada na
terra é de 1.400 milhões de km3 e as reservas de água doce situam-se nos 44 milhões de km3.
Além disso, 70% das reservas de água doce, ou seja, 30 milhões de km 3 encontram-se em estado
de gelo e neve nas serras e pólos. Assim, o remanescente das restantes reservas está nos
subsolos, nas águas dos lagos e ribeiras. A quantidade efectivamente utilizável situa-se entre
12.500 km3 e 14.000 km3 (Seckler et al, 1998).

As fortes pressões sobre as reservas de água doce trazem uma grave deterioração da sua
qualidade. A falta de água doce poderá provocar, a médio prazo, um verdadeiro problema a nível
mundial. Até um passado recente, as necessidades de água cresceram gradualmente,
acompanhando o aumento populacional. No entanto, a era industrial trouxe a elevação do nível
de vida e o rápido crescimento da população mundial, a que se associaram a expansão
urbanística, a industrialização, a agricultura e a pecuária intensivas e a produção de energia
eléctrica, levando a crescentes exigências de água (Rossa, 2006).

Moçambique possui treze bacias hidrográficas principais, sendo de Sul a Norte, as bacias dos
rios Maputo, Umbeluzi, Incomáti, Limpopo, Save, Búzi, Pungué, Zambeze, Licungo, Ligonha,
Lúrio, Messalo e Rovuma. No entanto, Moçambique é um país de jusante, partilhando nove (9)
das quinze (15) bacias hidrográficas internacionais da região da África Austral. Os rios são os
maiores transportadores dos principais recursos hídricos do país, dos quais mais de 50% são
originados nos países de montante (ENGRH, 2007).

De acordo com ENGRH (2007), o escoamento superficial total de água em Moçambique é de


cerca de 216 km³/ano, dos quais cerca de 100 km³ (46%) são gerados dentro do país e os
restantes 116 km³ são gerados nos países vizinhos. Em termos de valores per capita,
Moçambique dispõe de um total de cerca de 11.500m³/pessoa/ano.

2
O consumo de água na bacia do Incomáti é elevado e os grandes consumidores de água são os
sectores de irrigação e plantação florestal, seguido de transferências de água entre bacias. Estes
sectores representam 91% de todo o consumo da água na bacia. A agricultura irrigada é o maior
consumidor de águas superficiais e subterrâneas da bacia de Incomáti. Estima-se que 102.000 ha
estão actualmente a ser irrigada, consumindo 870 milhões de m3 / ano de água e este valor
poderá subir no futuro próximo devido o aumento das áreas irrigadas principalmente para
plantações de árvores exóticas e para a indústria de papel na Suazilândia e África do Sul,
respectivamente. Para além da agricultura, espera-se com a população em crescimento e um
maior desenvolvimento económico vai pressupor um maior uso da água. A cidade de Maputo em
breve irá exigir 85 milhões m3/ano de água do Incomáti para completar a sua fonte corrente do
rio Umbeluzi (JIBS, 2001).

Para Rossa (2006), além do problema da satisfação actual das necessidades de água, coloca-se
ainda o problema de algumas utilizações prejudicarem a sua qualidade, sendo esta muitas vezes
restituída aos meios naturais com características que lhe são prejudiciais. É bem conhecida a
poluição provocada pela evolução tecnológica quer no uso doméstico (detergentes), quer no uso
agrícola (pesticidas e fertilizantes) quer ainda no uso industrial (produtos químicos variados).

A pressão sobre os recursos hídricos gera a necessidade de se estudar mecanismos que induzam
alocações eficientes dos recursos existentes. Sendo assim, a cobrança pelo uso da água pode ser
um importante indutor de eficiência na alocação da água, encorajando, inclusive, a sua
conservação. Dentro dessa óptica, o Banco Mundial instituiu, em 1993, com a resolução Water
Resource Policy, que empréstimos para o financiamento de projectos de investimento
envolvendo recursos hídricos incluíssem obrigatoriamente uma componente exigindo a
implementação de algum tipo de esquema de cobrança pelo uso da água (Johansson, 2000).

1.1. Problema do estudo

A gestão sustentável da água tem sido discutida frequentemente nas últimas décadas devido cada
vez mais evidentes os desequilíbrios entre a oferta e a procura de água. A degradação da
qualidade das águas de superfície e subterrâneas e a crescente competição entre sectores
utilizadores resulta em permanentes conflitos inter-regionais e internacionais no equilíbrio entre
a oferta e procura da água (Shiklomanov, 2000).

De acordo com Beukman (2002), na África Austral e em particular em Moçambique a gestão da


água é um problema de investimentos, alocação da água, desenvolvimento institucional,

3
capacitação das partes interessadas e que os principais paradigmas para resolver problemas de
gestão da água são: o orientado para a oferta (missão da hidráulica) e o orientado para a procura
(Gestão Integrada dos Recursos Hídricos – GIRH). GIRH é um conceito que olha para a gestão
da água, considerando a sua componente humana e não apenas os aspectos técnicos de
engenharia.

Segundo Vas e Zaag (2003) a concorrência sobre a água do rio Incomáti é real, e captações de
água estão se aproximando dos limites da sustentabilidade devido, principalmente, à criação de
novas empresas agrícolas na bacia, como a fazenda dos Indianos com cerca de 7.000 ha e
COFAMOSA com cerca de 29.000 ha na região do Sábie, a necessidade de aumentar a oferta de
água para a cidade de Maputo juntamente com a inexistência de uma adequada infra-estrutura de
armazenagem. Apesar de existir a barragem de Corumana, esta não é capaz de responder à
procura de água uma vez que não têm portões para controlar o fluxo de água.

Perante este cenário, o debate centra-se nos mecanismos de sustentabilidade. De acordo com
Martins et al. (2009) entre as possíveis políticas alternativas do lado da procura, existem duas
estratégias a salientar: cobrança pelo uso da água (aplicação de tarifas) e, a outra, conhecida
como “non price-policy”, que é o controlo das utilizações de água através de instrumentos como
campanhas públicas de informação ou imposição de restrições à utilização de água.

Para além da necessidade de orientar a gestão da água para uma utilização sustentável do
recurso, a opção deve recair no instrumento que melhor promova os objectivos da política.
Contudo, para o desenho de orientações conducentes ao uso sustentável de água é necessário
conhecer os factores determinantes da procura da água. Estudos sobre a gestão de água em
Moçambique e em Sábie em particular centram-se nos aspectos da oferta da água (perspectiva
hidráulica do lado da oferta que inclui infra-estruturas de armazenamento) e organização
institucional da gestão de recursos hídricos nas bacias hidrográficas (Juízo, Souto e Matsinhe,
2012; Magaia, 2009; DNA, 1999; Chilundo, Munguambe e Massingue, 2010 e Munguambe,
Chilundo e Massingue, 2010; Muaievela, et Al., 2013). Sendo assim, existe lacuna em termos de
conhecimento científico sobre os factores determinantes da procura da água. É neste contexto
que o presente estudo pretende analisar os factores determinantes da procura de água pelos
diferentes utilizadores no Sábie. Especificamente, as questões de estudos são: (a) Quais são os
factores que determinam a procura da água para rega? e (b) Quais são os factores que
determinam a procura de água para o consumo doméstico?

4
1.2. Justificação do estudo

A água é um recurso que é usado tanto para o uso doméstico assim como para a irrigação. Os
factores que determinam a procura da água variam dependendo do uso da água. Por exemplo, na
agricultura a água é usada para irrigar várias culturas e estas tem necessidades diferentes do uso
de água. Apesar de existirem necessidades diferentes do uso da água nas culturas agrárias, os
retornos económicos podem ser menor para as culturas que usam muita água. Sendo assim,
conhecer a cultura que demanda mais água comparando com outras culturas pode ajudar a
implementar sistemas de produção que trazem retornos económicos altos e com menor uso da
água. Adicionalmente, as técnicas usadas para a irrigação variam de um produtor para o outro e
estas usam quantidades diferenciadas de água. Assim, estudar a procura da água para diferentes
técnicas de irrigação ajuda no delineamento de sistemas de uso eficiente da água.

Outrossim, nas zonas rurais as famílias não pagam pelo uso da água e este facto pode levar ao
uso ineficiente deste recurso. Assim, entender os factores que levam ao aumento do consumo da
água pelas famílias pode ajudar no desenho de políticas de sensibilização das famílias com vista
ao uso eficiente da água. Para além do uso ineficiente da água, as famílias rurais tem levado
muito tempo para a busca da água e esta é feita em diferentes fontes. Assim, conhecendo o efeito
dos diferentes tipos de fonte de água na procura de água, pode se delinear programas para
construção de fontes de água localizadas em zonas onde as famílias vivem o que pode reduzir o
tempo de ida e volta e número das pessoas envolvidas e consequentemente aumentar o tempo
para a realização das actividades de geração de renda.

1.3. Objectivos

1.3.1. Geral

O presente estudo tem como objectivo geral analisar os factores determinantes da procura da
água no Posto Administrativo de Sábie.

1.3.2. Específicos

a) Analisar os factores que determinam a procura da água para rega pelos produtores
agrários médios e;
b) Analisar os factores que determinam a procura de água para o consumo doméstico.

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2. Revisão bibliográfica

Neste capítulo estão descritos estudos realizados por diversos autores e especificamente
referentes aos factores que determinam a procura de água para rega e consumo doméstico.

2.1. Procura da água para rega

A agricultura irrigada é uma das actividades que mais consomem água no mundo, porque a
quantidade reaproveitada de água após a irrigação é praticamente nula (World Bank, 2001).
Alguns autores como Speelman et al. (2007), Andrade (2001) citado por França (2006) reportam
que os factores que afectam a procura de água para a irrigação são relacionados com técnicas de
produção (tipo de rega, tipo de cultura, área cultivada ou irrigada e acesso a serviços de
extensão) e características sócio económicas (idade, género e nível de escolaridade do produtor
assim como o tamanho do agregado familiar do produtor).

Speelman et al. (2007) realizaram um estudo na zona norte da África do Sul para analisar a
eficiência técnica do uso da água e seus determinantes em sistemas de irrigação de pequena
escala. A análise de factores determinantes da eficiência técnica do uso da água foi feita através
de um modelo econométrico tobit. Entre as variáveis explicativas usadas foram a área cultivada,
técnicas de irrigação ou métodos de irrigação, tipo de cultura, género, idade, nível de
escolaridade do produtor assim como o tamanho do agregado familiar. De acordo com os autores
a variável área cultivada teve um efeito negativo, o que significa que o aumento da área cultivada
reduz a eficiência do uso de água. Os sistemas de rega por gotejamento e por aspersão tiveram
um efeito positivo e significativo no índice de eficiência do uso da água relativamente a rega por
gravidade. Quanto ao tipo de cultura, a eficiência técnica do uso da água aumenta quando são
usadas culturas que geram maior rendimento em cada m3 de água gasta relativamente as que
produzem menor renda em cada m3.

Mahdi et al. (2009) avaliaram os determinantes da eficiência técnica do uso da água através de
um modelo tobit, sendo que as varáveis explicativas foram idade do produtor, nível de educação
do produtor, área irrigada, tipo de rega, tipo de cultura, experiência do produtor na prática da
agricultura, área da machamba e participação de membros do agregado familiar do produtor na
produção. Os resultados indicaram que a idade e o nível de educação do produtor, tipo de rega e
área da machamba tiveram o impacto significativo no uso eficiente da água. Estes resultados
revelaram que a eficiência do uso da água aumenta quando a área da machamba aumenta o que
significa que os agricultores com machambas grandes apresentaram altos índices de eficiência no

6
uso da água. Os sistemas de rega por aspersão e gotejamento aumentam a eficiência do uso da
água em relação a outros sistemas como rega por gravidade.

Chebil et al. (2012) avaliaram a eficiência técnica do uso da água e seus determinantes em
sistemas de irrigação colectivos na Tunísia. Os determinantes do uso eficiente de água foram
analisados através de um modelo tobit. A variável dependente usada neste estudo foi o índice de
uso eficiente da água, a qual foi relacionada com a idade do produtor, nível de educação do
produtor, área irrigada, acesso ao crédito e serviços de extensão por parte do produtor e sistemas
de posse da terra. Os autores reportam que o nível de educação do produtor, acesso ao crédito e
serviços de extensão por parte do produtor foram positivos o que era esperado e estatisticamente
significativos. Estes resultados revelam que o índice de uso eficiente da água é maior em
produtores com acesso a serviços de extensão em relação aos que não tem acesso a este serviço.
O índice de uso eficiente da água aumenta quanto maior for o nível de educação e acesso ao
crédito.

Chebil et al. (2014) em estudos de eficiência técnica do uso da água para produção de trigo em
sistemas de irrigação na zona central da Tunísia, usaram uma abordagem estocástica e um
modelo econométrico tobit para avaliar o score do uso eficiente da água. Foram analisadas as
variáveis idade e nível de escolaridade do produtor, experiência do produtor na prática da
agricultura, área irrigada, fonte de água, uso de pesticidas, maneio da irrigação (número de regas
e o tempo) e se o produtor é ou não membro da associação de produtores. Os resultados mostram
que o score do uso eficiente da água tende a aumentar em produtores com maior experiência na
prática da agricultura relativamente a produtores com menor experiência. Relativamente ao
tempo e número de regas, o score do uso eficiente da água aumenta quanto menor for o tempo e
o número de regas. O facto de o produtor estar filiado a uma associação o seu score de consumo
aumenta tende a aumentar relativamente a produtores que não estão associados.

Ayana et al. (2015) analisou o impacto da aplicação da tarifa da água e seus determinantes
através da disposição a pagar dos produtores de pequena escala. Para tal usou um modelo
logístico e foram analisadas as variáveis tamanho do agregado familiar, nível de oferta da água,
nível de educação, renda do produtor, área da machamba, acesso ao crédito, experiência do
produtor na produção agrária e declive da área. Os resultados do estudo reportam que quando a
área da machamba aumenta a disposição a pagar reduz, quando a renda aumenta a disposição a
pagar também aumenta. A disposição a pagar por mais água para rega aumenta em produtores
com mais experiência na irrigação relativamente aos com menor experiência enquanto que a

7
disposição a pagar aumenta em produtores com acesso ao crédito comparando com os produtores
sem acesso a crédito.

2.2. Procura da água para o consumo doméstico

De acordo com Whittington (1998) a estimativa de procura residencial de água nos países
desenvolvidos foi o cerne de muitos trabalhos empíricos, começando com o trabalho de Gottlieb
(1963) e Howe e Linaweaver (1967), posteriormente por Foster e Beattie (1979), Agthe e
Billings (1980), Chicoine et al. (1986), Nieswiadomy e Molina (1989), Hewitt e Hanemann
(1995), Hansen (1996), Höglund, (1999); Hanemann (1998) e Pint (1999). No século XXI
destaca-se estudos feitos por Nauges e Thomas (2000), Martínez-Espiñeira (2002), Renwick e
Green (2000), Arbués-Gracia et al., (2003) e Dalhuisen et al. (2003).

De acordo com Nauges e Whittington (2005), em quase todos os estudos, a função da procura de
água é especificada como uma equação de procura única para a água fornecida na torneira. Tal
abordagem supõe implicitamente que não há nenhum substituto para água disponível, qualidade
da água, bem como a qualidade do serviço de abastecimento de água. A principal razão é que
não há muita variação em termos de qualidade de serviço em unidades de distribuição. O foco,
em vez disso, foi sobre a estimativa da elasticidade dos preços e a medição do impacto das
características socio-económicas (renda principalmente) na procura de água do agregado
familiar. As principais questões metodológicas que têm sido discutidas desde o início são a
escolha do preço marginal versus preço médio e preço por categoria do consumidor quando as
famílias enfrentam um regime de preços não lineares.

A teoria advoga o uso do preço marginal (o preço do último metro cúbico), preço médio
(computado como valor total da factura dividida pela quantidade total consumida). Autores que
usam o preço médio argumentam que as famílias raramente são bem informadas sobre a estrutura
de preço e, portanto, são mais propensos a reagir ao preço médio do que o preço marginal. Para
controlar a endogeneidade (preço por bloco), a abordagem de variáveis instrumentais (IV) tem
sido comum na análise da procura de água (Agthe et al. 1986; Deller et al. 1986; Nieswiadomy e
Molina, 1989).

De acordo com Hausman (1978) a utilização de variáveis instrumentais para a variável preço
num modelo de mínimos quadrados de dois estágios permite obter estimativas imparciais do
coeficiente preço na equação de procura. A principal desvantagem desta abordagem, porém, é
que a interpretação do coeficiente de preço como uma elasticidade preço é dependente do

8
agregado familiar dentro do bloco observado do consumo (Olmstead et al. 2007). A abordagem
teoricamente consistente até agora é a de duas fases, descrevendo a escolha do bloco (primeira
etapa) e a escolha do consumo dentro do bloco (segunda etapa) (Hewitt e Hanemann, 1995).

Fontenele et al. (2009) na estimativa da procura residencial da água, utilizaram o método dos
mínimos quadrados ordinários (MQO), em que foram estimadas diversas regressões lineares,
semilog e log-linear. Neste caso, a variável dependente considerada foi o consumo de água por
pessoa nos domicílios, enquanto as principais variáveis explicativas da procura de água foram o
preço da água tratada, preço dos bens relacionados, podendo ser o preço da água em fontes
alternativas, medida da renda e dos activos da família, características socio-económicas e
demográficas da família, tais como o nível de escolaridade do chefe da família tamanho da
família, presença de esgoto sanitário na família entre outras variáveis. Os resultados mostraram
que um aumento em 1% da renda do agregado familiar o consumo de água aumenta em 0,077%
e quando o preço aumenta em 1% o consumo reduz em 0,318% confirmando a hipótese de que a
água é essencialmente um bem com procura inelástica.

Num estudo sobre a cobrança pelo uso da água bruta realizado por Pizaia et al. (2002), foi
estimada uma função de procura residencial de água usando quatro métodos de estimação da
função procura: o método de mínimos quadrados ordinários (MQO); o método de McFadden, e
dois métodos de estimação de equações simultâneas, o de mínimos quadrados em dois estágios
(MQ2E) e o da variável instrumental (MVI). As variáveis explicativas usadas foram a renda
familiar, número de habitantes por domicílio, diferença intra marginal (diferença entre o valor
pago e o que seria pago ao preço marginal, pela quantidade de água consumida, por ligação por
mês) e preço marginal, sendo que a variável dependente foi a quantidade de água consumida por
domicílio. Com base nos métodos de mínimos quadrados em dois estágios (MQ2E) e das
variáveis instrumentais (MVI), os resultados mostram que o aumento do preço marginal em uma
unidade, o consumo da água reduz em 2,9 m3 e quando a renda do agregado familiar aumenta em
uma unidade o consumo aumenta em 0,047 m3. O aumento em uma unidade da diferença intra
marginal e do número de agregado familiar o consumo da água aumenta em 7,31 e 0,78 m3
respectivamente.

Billings e Agthe (1980) especificaram uma equação de procura usando o preço marginal e a
variável diferença, definida como a diferença entre o valor da conta de água efectivamente pago
e o valor da conta ao preço marginal. O modelo foi estimado a partir de dados agregados e
testado nas formas linear e log-linear. Ambas as versões explicam mais de 80% da variação no

9
consumo de água. Para a especificação linear, a elasticidade preço medida no ponto médio da
amostra foi de -0,49. Para a especificação log-linear a elasticidade preço foi de -0,267. A
elasticidade preço composta das variáveis preço marginal e diferença comportou-se de modo
similar à estimada em estudos anteriores, que utilizaram apenas preços médios.

Nieswiadomy e Molina (1989) analisaram a procura residencial de água da cidade de Denton nos
EUA usando o método de McFadden. Os resultados mostraram uma elasticidade-preço de
procura que variou entre –0,36 e –0,86. O método de McFadden foi também usado pelo Instituto
de Pesquisa Económica Aplicada [IPEA, (1995)] que analisou a procura residencial de água no
Paraná. Os resultados obtidos mostraram uma elasticidade-preço média da procura da água de –
0,24.

A procura da água por parte dos utilizadores domésticos nos países em desenvolvimento também
tem sido foco de vários estudos. Contudo, evidências empíricas sobre os factores que explicam a
procura da água nestes países são ainda escassos (Nauges e Whittington, 2005). A maioria dos
estudos sobre a procura de água do agregado familiar foram sob a forma de estudos de valoração
contingente para derivar a disposição a pagar por uma conexão de casa a uma rede de água
canalizada (Whittington et al. 1990a e Whittington et al. 2002) e estudos de preço hedônico para
inferir a avaliação de uma ligação canalizada através de observações de preços da habitação
(North et al. 1993 e Komives, 2003).

Outros autores como Farolfi et al. (2007), Banda et al. (2006) e Jansen e Schulz (2006)
consideram para além do preço e renda, características sócio económicas (tamanho do agregado
familiar, idade do chefe do agregado, tempo de colecta de água, custo oportunidade entre outras
variáveis), fonte de água, tempo de colecta de água, número de pessoas envolvidas no processo
de busca de água, tipo e capacidade do recipientes usados para a busca da água assim como as
condições climatéricas.

Banda et al. (2007) aplicou o método de custo de viagem (CV) para estimar o valor que as
famílias rurais na sub-bacia hidrográfica Steelpoort da África do Sul, gastam para colectar água
do rio e das torneiras ou fontanários. Enquanto que os cálculos do custo de viagem baseiam-se
no custo de oportunidade do tempo que os membros do agregado familiar passam na colecta de
água, os valores resultantes de bem-estar aproximam-se em magnitude para as estimativas
obtidas usando o método de avaliação contingente. O estudo mostrou que na ausência de dados
de preços, o CV fornece estimativas satisfatórias de benefícios directos onde a estimativa de

10
elasticidades da procura, caso contrário, seria impossível usando métodos directos da função de
procura. Os autores constataram que um aumento de 1% do custo oportunidade causa uma
redução de 4% do número de viagens para famílias cuja fonte é fontanário e 10% para famílias
cuja fonte é o rio.

Whittington et al. (1990a) usaram dois procedimentos (custo de viagem e avaliação contingente)
para estimar o valor do tempo gasto transportando água nos países em desenvolvimento. Ambas
as abordagens foram usadas para derivar estimativas do valor de tempo gasto a procura da água
para as famílias em Ukunda, no Quénia. Os resultados indicaram que o valor é alto sobre o
tempo que passam a colectar água. Este valor foi aproximadamente equivalente à taxa de salário
para trabalhos não qualificados. Estes resultados revelaram que os benefícios económicos dos
serviços de água melhorada nos países em desenvolvimento podem ser muito maiores do que é
comummente realizado.

Whittington et al. (1990b) aplicaram os métodos de custo de viagem e avaliação contingente


para estimar o preço da água e o tempo que as famílias gastam na colecta de água. Cada um dos
69 domicílios na amostra enfrentou uma escolha entre três fontes de água: (1) quiosque que
vende o balde de água, (2) fornecedores que entregam água de poço em casa e (3) fonte aberta.
O preço de um balde de água de um fornecedor de água do poço foi cerca de 10 vezes maior que
o preço de um balde comprado de um quiosque. Não havia nenhum preço para água obtida de
forma aberta. A primeira abordagem descrita para estimar o valor do tempo assumiu a decisão
de escolha da fonte de água de um agregado familiar e baseou-se em dois factores: o preço da
água na fonte e o tempo gasto de colecta de água da fonte. A segunda abordagem baseou-se
numa análise multivariada dos determinantes das decisões de escolha da fonte da água pelas
famílias. Os resultados das ambas abordagens mostraram que o número de viagens reduz em
0.1% e 0.3 % quando a fonte for fornecedores que entregam água de poço em casa relativamente
a outras fontes o que sugere que as famílias neste exemplo consideram o tempo gasto de colecta
de água como um custo económico significativo.

Kanyoka (2008) num estudo de análise da procura da água para diversos usos na zona rural da
África do Sul, usou o método de modelagem de escolha para determinar a disposição a pagar.
Uma das variáveis independentes usadas foi a fonte de água. Esta variável foi significativa e
coincidente com o sinal positivo esperado, mostrando que famílias sem água canalizada e
distantes das fontes de água tinham maior disponibilidade a pagar pela instalação de uma fonte
próxima de água. A disponibilidade a pagar aumenta em 11,6 unidades para instalação de fonte

11
de água mais próxima, em termos monetários a disposição a pagar é de cerca de 27.67
Rands/mês para estalação de uma fonte privada de água. De notar que segundo Banda et al.
(2006) e Farolfi et al. (2007), a maioria dos agregados familiares prefere água canalizada, isto é,
que as fontes de água estejam mais próximas das suas residências.

Farolfi et al. (2007) aplicou o método de valoração contingente para analisar os determinantes da
disposição a pagar pelos serviços de melhoria da quantidade e qualidade de água em Suazilândia.
As variáveis explanatórias usadas foram: fonte de água, tempo de colecta de água, consumo de
água e variáveis sócio económicas (renda, idade, género, nível de escolaridade do chefe de
agregado familiar, presença de crianças com menor de 5 anos, número de membros do agregado
familiar, localização do agregado familiar). Os resultados mostraram que quando o consumo de
água aumenta a disposição a pagar pelos serviços de melhorias da quantidade de água reduz em
zonas urbanas e o efeito é contrário nas zonas rurais onde as comunidades estariam dispostos a
pagar mais pelos serviços de aumento da oferta da água. Quando a renda aumenta a disposição a
pagar pelos serviços de melhoria de água também aumenta. Relativamente a fonte, a
disponibilidade de pagar pelos serviços de melhorias na quantidade de água fornecida reduz
quando a fonte principal é água canalizada relativamente a outras fontes de água como fontanário
e poços. O aumento no tempo de colecta de água aumenta a disposição a pagar.

Banda et al. (2006) estimou a procura de água doméstica usando o método de custo de viagem,
tendo em conta duas fontes de água (fontanários colectivos e rio). A variável dependente usada
foi o número de viagens a busca de água e foi relacionada com custo oportunidade, renda,
tamanho de agregado familiar, uso de carinho de mão e a percepção da família sobre qualidade
de água. Os resultados obtidos evidenciam que relativamente a fontanários colectivos apenas
renda e tamanho do agregado familiar foram positivos e significativos, o que significa que um
aumento em 1% na renda e no agregado familiar o número de viagens aumenta em 52% e 35%
respectivamente. Em relação ao rio uma variação da renda em 1% cria uma variação no número
de viagens em cerca de 31% e quando o consumo e o número de agregado familiar aumenta em
1% o número de viagens aumenta em 4% e 10% respectivamente.

12
3. Metodologia

Este capítulo descreve a área de estudo, os procedimentos usados para analisar os objectivos
específicos do estudo, o processo de amostragem e a análise de dados.

3.1. Caracterização da área de estudo

O estudo foi efectuado no distrito de Moamba no Posto administrativo de Sàbié. O distrito da


Moamba está situado na parte Norte da Província de Maputo, a 75 km da capital do país, e está
ligado pela EN4, e posicionado entre os paralelos 24º27’e 25° 50’Sul e os meridianos 31º59’e
32° 37’ Este. O distrito tem uma superfície de 4.628 km² e uma população de 45.984 habitantes e
a densidade populacional é de 10 hab/km² (INE, 2009).

O distrito de Moamba é dominado pelo clima seco de estepe, com uma temperatura média anual
que oscila entre 23° a 24° C e pluviosidade anual entre 580 a 590 mm. Junto à fronteira com
Ressano Garcia o clima é de estepe com Inverno seco e uma temperatura média anual entre os
23° e 24° C e uma pluviosidade inferior à do resto do distrito (INE, 2009). De acordo com INE
(2009), a pluviosidade média é de cerca de 571 mm e com maior ocorrência de precipitação no
período de Dezembro a Fevereiro. O distrito de Moamba está dentro da bacia do Incomáti que
abastece água ao sistema de regadio Sábiè-Incomáti e a central hidroeléctrica de Corumana. O
Distrito da Moamba possui terras férteis, constituindo, assim, grande produtor de batata-reno,
milho, hortícola, feijão, para além da produção animal.

O Posto Administrativo de Sàbie esta situado a 80 Km em linha recta e a 110 Km por estrada
(Estrada Nacional N.4) da cidade de Maputo. Encontra-se localizado a 25o19’ de Latitude Sul,
32o14’ de Longitude Este e a 80 m de altitude. De acordo com o Governo do distrito (2014), o
Posto Administrativo de Sábie tem um total de 3.984 famílias com a localidade de Sábie-Sede a
registar a presença da maioria (55,7%) das famílias (Tabela 1).

Tabela 1: Número de localidades e de agregados familiares do PAS

Item Localidade Número total de famílias


1 Sábie-Sede 2.220
2 Matucanhane 428
3 Sunduíne 107
4 Malengane 638
5 Macaiene 591
Total 3.984

13
O Posto Administrativo de Sábie é limitado a norte pelo distrito de Magude através do rio
Massintonto, a leste pela localidade de Vundiça, a sul pelo povoado de Muxia e a oeste pela
província Sul-africana de Transvaal (FDHA, 1994 citado por Pitoro, 1998). De acordo com o
governo de Sábie (2013) o Posto Administrativo de Sàbie tem aproximadamente 16.041
habitantes. Estima-se que mais de 50% da população é falante da língua Xichangana e praticante
da actividade agro-pecuária. Os agregados familiares dedicam-se a agricultura de subsistência,
tendo como a cultura de milho a sua maior fonte de alimento. O gado bovino e caprino
representa a maior produção animal e de fonte de renda para as famílias locais.

De acordo com FDHA (1994), citado por Pitoro (1998), a região de Sábie é caracterizada
fundamentalmente por um clima sub-tropical segundo a classificação de “Koppen”, com verão
quente e húmido e inverno frio e seco. A temperatura média anual é de 23oC, com a máxima de
26,9oC em Janeiro e mínima de 18,7oC em Junho. A humidade relativa varia de 67% a 73% com
5 meses em que a média é de 72% (de Fevereiro a Junho). A evapotranspiração média anual é de
1.740 mm, com uma média mensal máxima de 158 mm no mês de Janeiro e mínima de 70 mm
no mês de Julho. A precipitação média anual é de 560 mm, com uma média mensal máxima de
158 mm no mês de Janeiro e mínima de 70 mm no mês de Julho.

Os solos são derivados de sedimentos aluvionais do rio Sàbie, profundos e estratificados, de


textura arenosa a franca (leito do rio) e de textura franca a argilosa leve á medida que se afasta
do leito do rio e a fertilidade natural é média a alta e apresenta uma aptidão para a agricultura
que varia de marginal, moderada a boa (INPF, 1992 citado por Pitoro, 1998).

A região do Sábie faz parte da bacia do Incomáti, que apresenta um volume médio anual de
escoamento de 2.060 milhões de m3. O principal afluente do rio Incomáti é o rio Sàbie, que
possui um volume anual de 652,6 milhões de m3 no qual está instalada a Barragem de Corumana,
que se destina a regular os caudais para rega dos terrenos à jusante da confluência deste com o
Rio Incomáti (INPF, 1992 citado por Pitoro, 1998). Do ponto de vista de disponibilidade de
recursos hídricos subterrâneos, a região apresenta condições muito limitadas devido a excessiva
salinidade. Em geral, os aquíferos são de baixos rendimentos e encontram-se a profundidade
muito elevadas.

14
3.2. Métodos e procedimentos

Nesta secção são descritos os métodos e procedimentos usados para a operacionalização dos
objectivos específicos do estudo. Em seguida descrevemos os métodos usados para analisar os
determinantes da procura da água para rega e consumo doméstico respectivamente.

3.2.1. Procura da água para rega

Moldura teórica de análise da procura de água para rega

A água na agricultura é um factor preponderante na produção de alimentos. A teoria de produção


diz que a produção de um bem normal para o mercado depende do custo médio do factor de
produção e do preço do produto no mercado. A derivação da função de procura do factor de
produção baseia-se na maximização dos lucros dos produtores. A teoria micro-económica
tradicional parte da premissa de que as empresas tem como objectivo a maximização de lucros,
seja a curto ou a longo prazos. De acordo com Chambers (1988), a maximização de lucro pelos
agentes económicos pode ser expressa como sendo:

(1)

onde p é o preço do produto, w é o vector de preços dos insumos, x o vector de quantidades dos
insumos usados, e f(x) representa a função de produção. Ainda de acordo com Chambers (1988)
e pelo lema de Hotelling, diferenciando a função do lucro temos:

(2)

onde x representa a quantidade do factor de produção, w é o preço do factor de produção e p é o


preço do produto. Assim, pode-se dizer que a procura da água depende do preço da água e do
preço do produto produzido usando a água. Contudo, para além das variáveis resultantes da
derivação teórica, estudos sobre uso de água em pequenos sistemas de irrigação realizados por
Speelman et al. (2007), Mahdi et al. (2009), Chebil et al. (2012), Chebil et al. (2014), Ayana et
al. (2015), relacionam o uso ou a eficiência do uso da água com área irrigada, tempo e número
de regas, tipo de culturas a produzir, época de produção (seco e chuvoso), técnicas de produção
associadas ao tipo ou método de rega (rega por aspersão, rega por gravidade, rega localizada ou
micro rega e rega subterrânea) e o tipo de cultivo (monocultura ou consorciação).

15
Modelo Empírico

A equação (3) (regressão linear múltipla) abaixo foi usada para analisar a procura da água para a
rega no Posto Administrativo de Sábie usando mínimos quadrados ordinários.

(3)

onde Yi é a quantidade de água procurada por mês pelo produtor i, e Xi é um vector de variáveis
independentes que representa a área irrigada, tempo de rega, número de regas por semana, tipo
1
de cultura, época de produção , preço de diesel, tipo de rega, tipo de cultivo, é o vector de
parâmetros a serem estimados, é o intercepto e o εi é o erro que segue uma distribuição
normal com a média de zero e uma variância constante. De notar que a derivação teórica da
procura dos factores de produção e neste caso do factor água está em função do preço da água e
do produto produzido. Dado que os produtores não pagam uma taxa de uso da água usou-se o
preço do diesel como proxy do preço da água. Contudo, esta variável foi eliminada na estimação
dado que o seu valor foi constante em todos os produtores inquiridos. Adicionalmente, os
produtores produzem culturas diferenciadas e não sendo possível ter uma série de preços dos
produtos produzidos. Assim, o preço do produto teve como variável proxy a variável dummy que
representa o tipo de produto produzido por cada produtor.

O cálculo da quantidade procurada de água por mês baseou-se no caudal da água que sai de uma
bomba num determinado tempo de rega e o número de regas por mês. O caudal da água da
bomba foi deduzido através da fórmula de Bresse, citado por Luís (2012), que expressa uma
relação directa entre a vazão (volume de água) a ser bombeada (caudal da água) e o diâmetro
interno do tubo (tubo de descarga) como sendo:

(4)

onde φ é a quantidade de água consumida, em m³/s; D é o diâmetro do tubo de descarga, em


metros e K= 0,9 é o coeficiente ou constante de Bresse.

As variáveis tipo de rega, tipo de cultivo e tipo de cultura são categóricas, sendo que para o tipo
de rega temos duas categorias: gravidade e aspersão; para tipo de cultivo temos também duas

1
Esta variável foi eliminada na estimação dado que o seu valor foi constante em todos os produtores inquiridos.

16
categorias: monocultura e consórcio. Relativamente ao tipo de cultura temos seis categorias que
representam tomate, repolho, pimento, feijão, pepino e outras culturas. Assim sendo foram
constituídas as seguintes variáveis binárias: (a) A variável tipo de rega que possui valor igual a 1
(um) quando a rega for por gravidade e 0 (zero) caso contrário (rega por aspersão). A variável
tipo de cultivo que é igual a 1 (um) quando o tipo de cultivo é monocultura e 0 (zero) caso
contrário (cultivo em consórcio). A variável tipo de cultura possui valor de 1 (um) quando o
produtor produz tomate e 0 (zero) quando não produz tomate, 1 (um) quando o produtor produz
repolho e 0 (zero) quando não produz repolho, 1 (um) quando o produtor produz pimento e 0
(zero) quando não produz pimento, 1 (um) quando o produtor produz feijão e 0 (zero) quando
não produz feijão, 1 (um) quando o produtor produz pepino e 0 (zero) quando não produz
pepino. A categoria de produção de outras culturas (neste caso a cultura de batata) ficou como
referência para todas as variáveis dummies de tipo de culturas descritas acima.

Do modelo espera-se uma relação positiva entre a quantidade procurada de água e área irrigada.
Esta relação foi reportada por autores como Speelman et al. (2007), Mahdi et al. (2009), Chebil
et al. (2012) e Ayana et al. (2015), em estudos de análise de eficiência da água em sistema de
irrigação de pequena escala. Isto significa que quanto maior for a área irrigada maior será a
quantidade de água procurada.

O tempo de rega é uma variável que segundo Chebil et al. (2014) relaciona-se de forma positiva
com a quantidade de água procurada em sistema de irrigação de pequena escala. Esta relação está
adjacente a vazão média bombeada pela motobomba que é função do tempo. Isto é quanto maior
for o tempo de bombagem maior será a quantidade de água consumida na machamba.

Ambos os sinais (positivo e negativo) são esperados na relação entre a quantidade de água
procurada e o tipo de rega. De acordo com Andrade (2001), citado por França (2006), o método
de rega por gravidade é o que menos economiza água, quando comparado ao sistema de rega
localizado e aspersão. Todavia representa uma tecnologia normalmente utilizada por pequenos
produtores. A rega por aspersão é eficiente relativamente a rega por gravidade em termos de uso
de água, mas de acordo com o Ferreira et al. (1998) e Marinozzi (1997), citados por França
(2006), quanto a economia de água é menos eficiente que o sistema de rega localizada. Estes
autores defendem que a procura de água será maior no caso em que o tipo de rega for por
gravidade e menor no caso em que o tipo de rega é por aspersão ou localizada.

17
O maneio das culturas (tipo de cultivo) segundo Chebil et al. (2014) influencia na procura de
água para irrigação. O consórcio de culturas pode procurar maiores quantidades de água devido a
diferentes necessidades de água por cultura relativamente a monocultura. Neste estudo a variável
tipo de cultivo é binária (1=monocultura e 0=outro), assim sendo espera-se relação negativa
entre o consumo da água e se o tipo de cultivo for monocultura.

3.2.2. Procura da água para o consumo doméstico

Moldura teórica de análise de procura de água para consumo doméstico

De acordo com Farolfi et al. (2011), os métodos de valorização da água para consumo doméstico
dividem-se em métodos de preferência revelada (Custo de Viagem e Preços Hidônicos) e
declarada (Avaliação Contingente e Modelagem de Escolha). Estes métodos fazem uso do
comportamento dos indivíduos em mercados reais ou simulados a fim de inferir sobre o valor de
um bem ou serviço ambiental.

Este estudo adoptou o método de preferência revelada, sendo neste caso o método do custo de
viagem (CV) para estimar a procura de água para usos domésticos no Posto Administrativo de
Sábie. Este método foi usado primeiramente por Hotelling (1947) e mais tarde por Trice & Wood
(1958) e Clawson (1959), onde o custo de viagem foi aplicado para estimar a procura por
serviços de recreação (ecoturismo).

Os modelos de custos de viagens (CV) são sinónimos dos modelos empíricos de procura por
serviços ambientais por meio de observações do custo de acesso a um local ambiental. O método
de CV é aplicado a um modelo de procura de recreação e assume que o número de viagens que
uma pessoa faz para fins de recreação em uma temporada depende do preço da viagem, da
qualidade do local de recreação, do seu rendimento e outras características socio-económicas da
pessoa (Haab & McConnell, 2002).

Os modelos de procura de recreação são classificados em dois tipos: (1) modelos de sítio único e
(2) modelos de vários sítios. Os modelos de sítio único usam dados agregados de zonas onde as
visitas per capita de cada zona são relacionadas com os custos para viajar da zona para o sítio.
Outros estudos utilizam observações individuais como uma unidade de medida, em vez dos
agregados zonais. Os modelos de vários sítios generalizam os modelos de sítio único por estimar
a procura por um conjunto de sítios ao longo de um período de tempo (Haab & McConnell,
2002).

18
Há várias vantagens em utilizar a abordagem do custo de viagem na valoração dos recursos
naturais. Em primeiro lugar, o CV fornece estimativas do valor de uso dos recursos naturais dos
quais são derivados os serviços de recreação. Em segundo lugar, o CV fornece uma moldura para
estimar o valor das características únicas de um sítio. Em terceiro lugar, a ausência de
informação, especialmente preços, não impede a estimativa da procura. Normalmente, conjuntos
de informações podem ser imputados a partir de dados colectados durante a pesquisa e de fontes
secundárias. Por exemplo, quando se mede o uso do tempo juntamente com a ocupação dos
entrevistados, o tempo pode ser valorizado em termos monetários utilizando preços de mercado
de trabalho. Vários estudos assumem um custo oportunidade de tempo igual ou abaixo da taxa de
salário de mercado (Smith et al., 1983; Haab & McConnell, 2002).

Embora o CV tenha sido tradicionalmente utilizado para estimar a procura de recreação, o


método pode também ser usado em outros modelos comportamentais que analisam a alocação de
tempo das famílias. A versatilidade do CV pode ser explorada para analisar situações em que o
custo oportunidade do tempo gasto no acesso aos recursos é utilizada para estimar medidas de
bem-estar associadas com o recurso em questão. Por outro lado, a medida do bem-estar do CV é
sensível à especificação da variável custo de viagem como uma aproximação para o preço na
equação de procura (Smith et al., 1983).

O modelo CV foi especificado por Banda et al. (2006) para estimar a procura da água para uso
doméstico rural onde não há preços nominais para água. Os aspectos comportamentais da
procura de água foram inferidos a partir de indicadores de utilização de água do agregado
familiar incluindo consumo de água per capita, o número e duração das viagens necessárias para
colectar a água, o número dos membros do agregado familiar envolvidos na busca de água, o tipo
de contentores utilizados e a fonte de água. O modelo identificou aspectos sociais que são
importantes na avaliação dos benefícios de investir em infra-estruturas destinadas a melhorar
acesso à água e também para classificar as partes interessadas pelo tipo de benefícios.

As famílias nas áreas rurais Africanas usam água do rio e fontanários comunais para beber,
cozinhar, tomar banho, lavar roupa e outros usos domésticos. Enquanto a medição é um
mecanismo de preços comum em sistemas de água canalizada nas áreas urbanas, o arranjo nas
áreas rurais é diferente porque a procura de água não tem dados sobre os preços correspondentes,
mas varia com o tempo necessário para uma viagem a uma fonte de água, da renda familiar e dos
membros da família envolvidos na colecta de água (Banda et al. 2006). Assume-se o tempo gasto

19
na busca da água e os riscos ambientais da qualidade das fontes de água como sendo os
principais determinantes da procura de água para uso doméstico.

A procura de água é especificada para uma família rural i, escolhendo o número de viagens (j) a
fazer por dia ou mês para colectar a água da fonte preferida. O número de viagens está
directamente relacionado com a quantidade de água que a família usa em cada período e é
influenciado por uma série de factores tais como o tempo de ida e volta que se gasta para viajar
para a fonte de água, o número de membros da família envolvidos na colecta de água, a renda da
família, a disponibilidade de fontes alternativas de água, o número do agregado familiar e
qualidade da água.

De acordo com Farolfi et al. (2011), Banda et al. (2006), o tempo gasto na colecta de água tem
um custo oportunidade igual ao salário que um indivíduo (com uma determinada habilidade)
poderia auferir no mercado de trabalho local. Uma vez que a família tem renda de outras fontes,
incluindo remuneração referente ao trabalho, a restrição orçamental para a família é escrita da
seguinte forma:

(5)

onde H é o tamanho da família, tij é o número de viagens feitas pelo membro j da família i, hij é o
tempo gasto por viagem para buscar água do membro j da família i, Z é um conjunto de bens de
mercado, cujo consumo pode ser suportado pela renda familiar M e wij é o salário do indivíduo j
pelo seu tempo. A equação (5) aborda a questão da variabilidade dos salários para os indivíduos,
dependendo da qualidade do trabalho. Ela também diz que uma família poderia aumentar seu
consumo de bens de mercado, trabalhando as horas extras comprometidas com a busca de água.
De acordo com Becker (1965), a alocação de tempo às tarefas domésticas e actividades do
mercado de trabalho é limitada pelo tempo máximo disponível (Ti) como está representado na
equação 6 abaixo:

(6)

onde Li é o tempo de participação da família i no mercado de trabalho, e as outras variáveis são


definidas acima.

20
A procura de lazer oferece uma aplicação clássica das funções de geração de viagem, o
correspondente custo de viagens e o custo oportunidade do tempo. Ao contrário da aplicação
clássica na qual a pessoa que procura lazer selecciona os locais a visitar, a maioria das famílias
rurais possui uma fonte principal de água. A função clássica de geração de viagem é modificada
para especificar a procura em termos de número de viagens para a fonte de água como sendo
influenciada por mudanças em uma ou mais variáveis independentes. Assume-se que a procura
da água varia directamente com o número de viagens, mas indirectamente, com factores como o
número de contentores, os membros da família envolvidos na busca de água e o uso de carrinhos
de mão, os quais afectam todo o volume de água colectado numa viagem (Banda et al., 2006).

De acordo comBecler (1965), citado por Englin & Shonkwiler (1995), os valores inteiros para o
número de viagens podem ser modelados como uma variável latente da seguinte forma:

(7)

onde é o custo oportunidade médio de tempo para cada família, por viagem, tal como definido
abaixo na equação (8), é um vector de características da família, é um vector de atributos
de qualidade percebida da fonte de água, é um vector de parâmetros por estimar e νi é um
factor de erro.

(8)

Uma vez que o número de viagens feitas por membros de uma família para colectar água é
aleatório com o valor inteiro não negativo e com uma média não negativa, o número de viagens
pode ser modelado usando uma distribuição de Poisson. A probabilidade de observar um número
não-negativo de viagens tij é dada pela função densidade de probabilidade de Poisson como
sendo:

; n = 0,1,2,…. (9)

onde λi é a média e a variância da distribuição que se assume ser positiva para um dado vector de
variáveis explicativas e um conjunto de parâmetros β. A função de verossimilhança da amostra
em termos de número observado de viagens por família é dada pela probabilidade de se observar
tal número de viagens como sendo:

21
(10)

onde o β são parâmetros por estimar e V é um vector de variáveis que determinam o número
esperado de viagens, ti é o número de viagens realizadas pela família i. O número esperado de
viagens é uma representação equivalente da procura de água uma vez que cada agregado familiar
regista a quantidade de água que recolhe em cada viagem. Por outras palavras, observar o
número de viagens que uma família faz para buscar água é o mesmo que observar a procura de
água da família. Do exposto, a procura de água é uma função exponencial das variáveis que
determinam o número esperado de viagens como sendo:

(11)

Alternativamente, a curva de procura pode ser expressa como uma função semi-logarítmica
como indicado na equação (12) abaixo:

(12)

O CV não sofre as mesmas limitações teóricas como os modelos de ecoturismo. Em particular,


quando a proporção de não-participantes aumenta com a distância do local de recreação, o
modelo de ecoturismo teria o problema de uma amostra truncada. Nesta aplicação particular, há
apenas um propósito para uma viagem para a fonte de água e, portanto, não se coloca a limitação
espacial de múltiplos objectivos de uma viagem (Smith et al., 1983; Shaw, 1988). Além disso, o
problema de amostras truncadas não se aplica neste caso porque em um determinado grupo de
famílias não haverá nenhuma que não participa da actividade de colecta de água para uso
doméstico.

Modelo Empírico

O modelo especificado abaixo assume que a qualidade da água é a mesma entre as diferentes
fontes de água, e também não leva em conta a possibilidade de que as famílias podem querer
escolher entre as diferentes fontes de água, tendo em conta alterações nas circunstâncias
contingentes. No entanto, assume-se que um agregado familiar escolhe o número de viagens que
leva à fonte primária da água em uma estrutura consistente de maximização de utilidade.

22
Assim sendo, o número de viagens que o agregado familiar leva a colectar água dependem do
número de membros do agregado familiar, da renda do agregado, do tipo de fonte de água, do
número de membros do agregado familiar que buscam água, do consumo de água do agregado
familiar, do tempo de ida e volta para a colecta de água, do número de recipientes (bidons) que o
agregado familiar usa para a colecta de água, do volume do recipiente e do custo oportunidade
por viagem.

Neste caso, o modelo abaixo baseado na regressão de Poisson, foi usado para estimar a equação
(13). Este modelo foi adaptado do modelo usado por Haab & McConnell (2002), Banda et al.
(2006). Os coeficientes do modelo são elasticidades e o termo de erro é independente (Strand &
Walker, 2005). Especificamente o modelo é dado pela seguinte equação:

(13)

ondeYij corresponde ao número de viagens que a família i faz pelo membro j na busca de água e
Xij representa o vector de variáveis explicativas. As variáveis explicativas incluídas no modelo
são: NAGREG que representa o número de membros do agregado familiar, REND que é a renda
do chefe do agregado familiar, FAGUA que representa a principal fonte de água da família,
PBUSAGA que é o número de membros do agregado familiar que buscam água, CONS que é o
consumo de água do agregado familiar em m3/mês, TCOLAGUA que é o tempo gasto de ida e
volta na colecta de água, NBIDONS que representa o número de recipientes usados por viagem,
VBIDOM que é volume em litros dos recipientes usados para buscar água e COPORT que é o
custo oportunidade por viagem. O representa o vector de parâmetros a serem estimados,
representa o intercepto e é o erro estocástico.

O consumo de água por mês para cada família foi calculado através da seguinte fórmula:

(14)

onde CONSUMO é o volume de água procurado por mês, Vd representa o volume de água
utilizada por dia.

Num estudo realizado por Van Zyl et al. (2000), o custo oportunidade foi deduzido a partir da
taxa mínima por jornada de trabalhos em actividades agrícolas. Pare este estudo o custo
oportunidade foi deduzido seguindo Banda et al. (2006) que considera que homens adultos

23
perdem 50%, mulheres adultas perdem 25% e crianças perdem 12,5% da taxa mínima paga por
jornada de trabalho em actividades agrícolas. Em Sábié, a taxa mínima paga para as actividades
agrícolas é de 100 mts/dia. No entanto para cada família o custo de oportunidade por viagem foi
calculado como sendo:

(15)

onde: nh é o número de homens adultos que buscam água, nm é o número de mulheres adultas e
ou esposas que buscam água e nc é o número de crianças envolvidas na busca de água.

A variável fonte de água foi classificada em quatro (4) categorias (rio, poço, fontanário e água
canalizada). No entanto foram formadas três (3) variáveis dummies sendo Rio = 1 se a fonte
principal de água da família é o rio e 0 caso contrário, Poço = 1 se a fonte principal de água da
família é o poço e 0 caso contrário, Fontanário = 1 se a fonte principal de água da família é o
fontanário e 0 caso contrário. De referir que a categoria água canalizada serviu de referência para
todas as categorias. A variável volume do recipiente teve duas categorias sendo 1 se o recipiente
é de 20 litros e 0 caso contrário (outras capacidades).

A variável renda do chefe do agregado familiar também foi categórica com três níveis, a saber:
renda que varia de 500 a 2500 Mts (Renda1), 2500 a 5000 Mts (Renda2) e maior que 5000 Mts
(Renda3). Assim sendo foram formadas duas variáveis dummies sendo Renda1 = 1 se a renda é
igual a categoria renda1e 0 caso contrário; Renda2 = 1 se a renda é igual a categoria renda2 e 0
caso contrário e a renda3 serviu de referência.

Do modelo descrito acima, espera-se relação positiva entre o número de viagens que a família
faz na busca de água e o número de membros do agregado familiar dado que quanto maior for o
número de membros do agregado familiar maior é o consumo e consequentemente maior será o
número de viagens na busca de água (Farolfi et al. 2007; Banda et al. 2006).

Relativamente a renda, espera-se que quanto maior for, maior é o poder de compra das famílias
de bens que procuram água e maior será o número de viagens na busca de água. Vários estudos
mostram relação positiva entre a procura de água e renda em termos de elasticidades (Fontenele
et al., 2009; Gonçalves et al., 2002).

A variável fonte de água é categórica (poço, rio e fontanário). Espera-se uma relação positiva
entre o número de viagens na busca de água e a fonte fontanário uma vez que esta fonte tende a

24
ser construída próxima as comunidades. De acordo com Kanyoka, (2008), Farolfi et al. (2007) e
Banda et al. (2006), o número de viagens a busca de água é menor no caso em que a principal
fonte de água esteja distante e maior se a principal fonte estiver próxima da zona de residência
do agregado familiar.

Espera-se uma relação negativa entre o número de viagens na busca de água e o número de
membros do agregado familiar envolvido na busca de água. Quanto maior for o número de
membros do agregado familiar envolvido na colecta de água, maior será a quantidade de água
colectada por viagem, o que irá reduzir o número de viagens na busca de água (Banda et al.,
2006).

Espera-se relação positiva entre o consumo de água e o número de viagens na busca de água.
Espera-se também uma correlação forte e positiva entre o tamanho do agregado familiar e o
número de viagens na colecta de água. O estudo realizado por Banda et al. (2006) afirma que
famílias de tamanho grande tendem a aumentar o número de viagens quer porque as famílias
grandes precisam de mais água.

Estudos realizados por Wittington et al. (1990a, 1990b) e Marrett (2002) mostram relação
negativa entre o número de viagens na busca de água e tempo de ida e volta na colecta de água, o
que significa que quanto mais tempo durar uma viagem menor será o número de viagens na
busca de água. Quanto maior for o número de recipientes e seu volume, maior será a quantidade
de água colectada por viagem o que consequentemente irá reduzir o número de viagens na busca
de água. Esta relação também foi reportada por Banda et al. (2007).

Espera-se relação negativa entre o número de viagens e o custo oportunidade. O tempo gasto na
colecta de água para o consumo poderia ser gasto em actividades remuneradas, o que significa
que as pessoas que colectam água para o consumo doméstico perdem rendimentos que poderiam
ser adquiridos em trabalhos remunerados. Sendo assim espera-se que quanto maior for o custo
oportunidade por viagem, menor será o número de viagens na busca de água (Banda et al., 2006
e 2007).

3.3. Testes de diagnóstico dos pressupostos dos modelos

O modelo da procura de água para a rega foi testado para a normalidade, heterocedasticidade,
autocorrelação e multicolinearidade. A normalidade dos resíduos foi testada usando o teste de
Jarque & Bera. A heterocedasticidade foi testada usando o teste de White. A autocorrelação foi
testada com o teste de Durbin Waston e o teste de Breusch-Gogfrey foi usado para confirmar o

25
teste DW e finalmente a multicolinearidade foi testada com o teste de factor de inflação de
variância (FIV).

O Teste de normalidade de Jarque-Bera consiste em testar se os resíduos do modelo estimado


apresentam-se normalmente distribuídos. O teste de Jarque-Bera é dado como sendo:

N ( K  3) 2
JB  [S 2  ] ~  (22, )
6 4 (16)

onde JB é o estatístico de Jarque Bera, N é o número de observações, S é a medida de skewness e


K é a medida de kurtosis. Este teste tem como hipótese nula que os resíduos do modelo estimado
estão normalmente distribuídos. Se o valor de Jarque-Bera calculado for maior que o valor
crítico rejeita-se a hipótese nula e caso contrário reprova-se de rejeita a hipótese nula.

A Heteroscedasticidade é o fenómeno estatístico que ocorre quando o modelo de hipótese


matemático apresenta variâncias para Y e X (X1, X2, X3, Xn) não iguais para todas as
observações, contrariando o postulado de homogeneidade da variância. A hipótese nula para
qualquer teste de heteroscedasticidade postula que a variância é constante. O teste da
heteroscedasticidade proposto por White não requer a hipótese da normalidade e é facilmente
implementado. O teste de White consiste em correr a regressão inicial do modelo e obter os
resíduos e depois correr a regressão auxiliar tendo como variável dependente os resíduos ao
quadrado e variáveis independentes incluídas na regressão inicial, seus quadrados e produtos
cruzados. Usando a regressão auxiliar, calcula-se o valor de Multiplicador de Lagrange (ML)
como sendo o produto do número das observações (T) com o coeficiente de determinação da
regressão auxiliar. O estatístico de ML segue uma distribuição de qui-quadrado e rejeita-se a
hipótese nula de homoscedasticidade se o valor calculado de ML é maior que o valor crítico de
qui-quadrado.

Autocorrelação também é chamado às vezes "correlação defasada" ou "correlação serial", que


refere-se a correlação entre os membros de uma série de números dispostos no tempo. A hipótese
nula do teste da autocorrelação serial entre os resíduos do modelo estimado postula que, os
valores de erro estocástico ( u i e u j ) não apresentam qualquer relação linear entre si, ou seja, a

relação linear entre eles é nula.

26
Dentre os procedimentos estatísticos existentes para determinar se os termos de erro são
correlacionados, pode-se utilizar o teste Durbin-Watson (DW). Este teste consiste em computar
uma soma ponderada dos resíduos, de tal forma que seja possível detectar algum padrão no seu
comportamento. O teste de Durbin Watson possui o problema de captar apenas a autocorrelação
de primeira ordem. Em paralelo ao teste de DW sugere-se o uso do teste Breush-Godfrey para
confirmar resultados do teste do Durbin Watson.

O teste de Breusch-Godfrey (BG), de certa forma é semelhante ao teste de White, e consiste em


efectuar uma regressão do resíduo como variável explicada tendo como variáveis explicativas o
próprio resíduo defasado no tempo e as variáveis explicativas do modelo original. Usa-se a
estatística “F” de significância conjunta dos parâmetros da equação do teste. Suponha que o
termo de perturbação  i seja gerado pelo seguinte esquema auto-regressivo de p-ésima ordem:
As hipóteses a serem testadas são:
t  p1t 1  p2 t 2  ...  p p t  p   t
(17)

H 0 : p1  p2  ...  p p  0
H1 : p1  0; p2  0;... p p  0

Se o valor da estatística F calculado for maior que o valor crítico rejeita-se a hipótese nula,
concluindo que há evidências de autocorrelação residual. Caso contrário, não se rejeita a hipótese
nula, concluindo-se não existirem evidências de autocorrelação residual. Este teste é considerado
o mais indicado para verificar autocorrelação, pois considera a possibilidade de resíduos
correlacionados com valores defasados acima de um período e pode ser usada com variáveis
explicativas defasadas.

A multicolinearidade é usada para designar casos em que as variáveis explicativas são


correlacionadas de forma perfeita ou não (Gujarati, 2004). Duas medidas mais comuns utilizadas
são o valor de tolerância ou seu inverso, chamadas factores de inflação da variância (FIV)
representado na equação 18 abaixo.

1
FIV  (18)
1 R2

Esta medida permite-nos avaliar o grau em que cada variável independente é explicada pelas
demais variáveis independentes. Quanto maior for o factor de inflação da variância, mais severa

27
será a multicolinearidade. Rejeita-se a hipótese nula (ausência de multicolinearidade) caso a
estatística do teste (FIV) seja superior a 5.

O modelo da procura de água para o consumo doméstico foi estimado através da distribuição de
Poisson e a dispersão dos dados foi verificada através do teste de qui-quadrado. Um dos
pressupostos do modelo de Poisson segundo Wooldridge (2006) citado por Farolfi, et al. (2007)
é que a variância do valor esperado da equação seja igual à média, não havendo indícios de sobre
dispersão dos dados. Se o valor calculado de qui-quadrado for maior que o valor crítico rejeita –
se a hipótese nula que diz que a variância do valor esperado da regressão é igual a média
concluindo que há sobre dispersão dos dados. Adicionalmente, a multicolinearidade foi testada
com o teste de FIV no modelo da procura de água para o consumo doméstico, sendo que os
outros testes não são aplicáveis neste modelo, uma vez que não é um modelo linear (Gujarati,
2004).

3.4. Dados

Os dados usados para analisar a procura da água para irrigação e usos domésticos foram colhidos
com os produtores agrários e agregados familiares, respectivamente usando dois questionários
(um questionário para cada grupo) e estes encontram-se nos anexos I e II. O processo de
amostragem para a selecção dos produtores médios e dos agregados familiares (AFs) a serem
entrevistados, baseou-se numa amostragem aleatória estratificada proporcional, onde cada uma
das localidades do Posto Administrativo constituiu um estrato (tabela 2 e 3). A selecção dos
agregados familiares e produtores agrários em cada povoado/bairro foi feita de forma aleatória
com base nas listas fornecidas pelo Posto Administrativo de Sábie. O tamanho da amostra foi
calculado pela fórmula proposta por Gil (2007) dado que a população é estatisticamente finita
como sendo:

N  Z c2 pq
n
 2 N  1  Z c2 pq (19)

onde n representa o tamanho da amostra, Z é nível de confiança escolhido, P é a percentagem


com a qual o fenómeno se verifica, q é a percentagem complementar (1-p); N é tamanho da
população e é o erro máximo permitido.

28
Foi considerado um nível de confiança de 95% e um erro tolerável de 5% para produtores
médios e 9% para consumidores domésticos. Não se conhecendo a proporção populacional de
uma das variáveis de interesse, foi usado 50% como sendo a percentagem com a qual o
fenômeno se verifica. De um total de 79 produtores médios foram selecionados aleatoriamente
66 (tabela 2), sendo que três deles foram retirados da amostra por apresentarem características
extremamente diferentes dos restantes produtores, sendo assim considerados outliers.

Tabela 2: Tamanho de amostra para produtores médios.

Item Local Nr total de Percentagem% Nr. de produtores


Produtores seleccionados
1 Sábie-sede (Bondoia,
Chavane, B. comercial, 34,0 42,4 28,0
Chiquíssima)
2 Sunduino (Goane1) 1,0 1,5 1,0
3 Mal engane (Malengane
44,0 56,1 37,0
sede, Daimane, Kwezine)
Total 79,0 100,0 66,0

Para os consumidores domésticos, devido as distâncias e aos custos inerentes para o alcance dos
povoados, não foi possível colher informação dos agregados de todo Posto Administrativo, tendo
se restringido apenas aos povoados mais próximos das localidades sedes. Assim sendo, a amostra
foi composta por 110 observações recolhidas de um total de 1.145 famílias (tabela 3). O grupo
alvo foi os chefes dos agregados familiares e os chefes de agregados familiares ausentes foram
substituídos por outros membros das famílias e por outras famílias (famílias seleccionadas como
substitutas) nos casos em que todos membros da família com capacidade de responder ao
questionário estavam ausentes.

Tabela 3: Tamanho de amostra para consumidores domésticos.

Item Localidade Nr total Percentagem Nr. de


de (%) famílias
famílias seleccionadas
1 Sábie-sede (Incomáti, Chiquizela, 633 53,6 59
Matadouro e Comercial)
2 Sunduíno 107 9,1 10
3 Malengane (Malengane sede) 187 16,4 18
4 Matucanhane (Mahungo) 218 20,9 23
Total 1145 100 110

29
3.5. Análise de dados

Os dados foram digitalizados no Excel e posteriormente importados para o STATA 10 onde


foram processados. As variáveis categóricas foram introduzidas com as respectivas categorias e
depois criou-se as variáveis dummies. Relativamente a procura de água para rega calculou-se as
frequências relativas para as variáveis categóricas (tipo de rega, tipo de cultivo e tipo de cultura)
e fez-se teste de comparação do consumo médio da água por cultura através do teste t student.
Foi feita estatística descritiva das variáveis quantitativas (consumo da água, área irrigada, tempo
de rega e número de regas por dia). Finalmente foi corrido um modelo linear (equação 3 acima)
no pacote estatístico STATA.

Quanto a procura de água para o consumo doméstico calculou-se as frequências relativas das
características socio-económicas dos agregados familiares do local de estudo (sexo do chefe do
agregado familiar, nível de escolaridade, principal fonte de água e tipo de pessoa que busca
água). Fez-se estatística descritiva de variáveis qualitativas como: distância a principal fonte de
água, tempo de ida e volta na busca de água, número de viagens por dia na busca de água,
consumo de água por mês, número de agregado familiar, número de recipientes e custo
oportunidade. Foi feito um teste de comparação de médias do número de viagens por dia nas três
principais fontes de água (fontanário, poço e rio). Com base nos resultados do teste de médias
entre o número de viagens foi feito um modelo para analisar os determinantes da procura de água
para consumo doméstico através da regressão de Poisson (equação 13 acima). O modelo teve
como variável dependente o número de viagens por dia na busca de água e variáveis
independentes analisadas incluídas no modelo foram: fonte de água com três categorias
(fontanário, poço e rio), consumo por mês, renda (renda1, renda2 e renda3), número de pessoas
que buscam água, número de recipientes, volume do recipiente (binária) e custo oportunidade.

30
4. Resultados e discussão

Neste capítulo são apresentados os resultados da análise dos factores determinantes da procura
da água para rega e para o consumo doméstico no Posto Administrativo de Sábie.

4.1. Determinantes da procura de água para irrigação

4.1.1. Características dos sistemas de irrigação

Todos os produtores inquiridos usam água do rio para produzir em todas as épocas do ano.
Quanto aos tipos de rega constatou-se haver dois sistemas de rega a saber: rega por gravidade e
rega por aspersão. Dos 63 produtores inquiridos, a maioria (93,7%) usa o sistema de rega por
gravidade. Em termos da quantidade da água demandada para cada tipo de sistema, os resultados
mostram que não existem diferenças estatisticamente significativas ao nível de significância de
5% (p-value = 0,6494) na quantidade de água demandada nos dois tipos de rega (2.488,89 m3 no
sistema de rega por gravidade e 2.349,32 nos sistemas de rega por aspersão). Para a rega por
gravidade assim como por aspersão os produtores usam dois tipos de bombas (bombas eléctricas
e a gasolina) sendo que a maioria (92.1%) dos produtores usam bombas a gasolina.

O sistema de produção identificado é maioritariamente de monocultura onde é praticado por


cerca de 98.41% dos produtores. A figura 1 abaixo mostra a percentagem de produtores por
cultura produzida, sendo que 93,7% produz tomate, 34,9% produz repolho e pimento, 65,1%
produz feijão verde e 58,7% produz a cultura de pepino. Estes resultados demonstram claramente
a predominância de produtores que produzem tomate no Posto Administrativo de Sábie.
Comparando o consumo de água de cada uma das culturas produzidas com outras culturas,
constatou-se que apenas a cultura de pimento apresentou-se com um consumo de água maior e
estatisticamente diferente de restantes culturas a 5% do nível de significância com um p-value de
0,0385 (tabela 4).

31
Tabela 4. Teste de comparação de médias de consumo de água por cultura.

Consumo médio Coeficiente de


3
Cultura por mês (m ) Er. padrão Desvio padrão variação
Tomate 2.313,16ª 78,21 600,74 0,26
b 0,23
Pimento 2.569,70 127,99 600,32
Repolho 2.146,91ª 149,46 701,02 0,33
Feijão verde 2.306,76ª 128,51 822,87 0,36
Pepino 2.383,18ª 118,41 720,26 0,30
Média 2.343,95
Nota: médias com letras iguais não diferem estatisticamente entre si, a 5% de significância

Fig. 1: Distribuição de produtores por cultura.

Referente ao consumo de água no geral, os resultados da tabela 5 abaixo mostram que os


produtores médios no Posto Administrativo de Sábie consomem cerca de 2.335,61 m3 de água
por mês para irrigar cerca de 3,8 ha de terra, sendo que o tempo médio de rega é de cerca de 6
horas e meia por dia.

32
Tabela 5. Estatísticas descritivas dos produtores médios.

Variáveis Obs Médias Des. Padrão Min Max


Consumo por mês (m3) 63 2.335,6 527,1 711,1 3200,0
Área irrigada (ha) 63 3,8 3,1 1,0 12,0
No de regas por semana 63 2,1 0,4 2,0 4,0
Tempo de rega (horas) 63 6,5 1,3 2,0 8,0

Apesar de excluir os valores aberrantes da amostra o consumo da água apresenta um desvio


padrão bastante alto o que indica que a média não é um bom indicador.

4.1.2. Factores que determinam a procura de água de rega

A tabela 6 apresenta os resultados dos testes feitos ao modelo referente a procura da água de
rega. Relativamente ao teste de normalidade dos resíduos, a 5% de nível de significância não há
evidencia suficiente para rejeitar a hipótese nula de que os resíduos distribuem-se normalmente.
Quanto ao teste de heteroscedasticidade, não há evidência suficiente para rejeitar a hipótese nula
de que os resíduos são homocedásticos.

No caso da multicolinearidade, os resultados evidenciam que não há evidencia suficiente para a


rejeição da hipótese nula, pois o valor do VIF encontra-se abaixo de 5, portanto pode-se concluir
que as variáveis explicativas não são correlacionadas entre si. Quanto ao teste de autocorrelação
residual, o teste DW e Breusch-Godfrey, permite-nos concluir que os resíduos não são
autocorrelacionados, visto que o valor do p-value é superior ao nível de significância
considerado. Os resultados reportados acima indicam que os pressupostos do modelo não foram
violados e sendo assim os parâmetros estimados não são viseados.

Tabela 6. Resultados dos testes do modelo dos produtores médios.

Hipóteses Tipo de teste Estatística do teste P-value


Normalidade Jarque Bera 1,14 0,57
Heteroscedasticidade Teste de White 37,53 0,39
Multicolinearidade VIF 1,88
DW 1,27
Auto correlação serial
Breusch-Gogfrey 0,48 0,49
*5% de nível de significância

A tabela 7 abaixo apresenta os resultados do modelo referentes aos factores que determinam a
procura de água para a rega. Relativamente ao poder explicativo (coeficiente de determinação

33
ajustado), os resultados indicam que este tem uma alta capacidade preditiva, pois o coeficiente de
determinação ajustado mostra que 97,91% da variação da quantidade de água consumida na rega
é explicada através das variáveis incluídas no modelo.

No que tange a significância estatística dos parâmetros estimados, as variáveis contínuas como
tempo de rega e número de regas por semana foram significativas a 5% de nível de significância
enquanto que a área irrigada apresentou um sinal negativo e não significativo. Estes resultados
mostram que um aumento de 1hora de rega a procura de água aumenta em 362,04 m3 e o
acréscimo de uma rega por semana a procura de água aumenta em 1.065,11 m3. Chebil et al.
(2014) em estudo de eficiência do uso de água em sistemas de irrigação em pequena escala
reportaram que o score do uso eficiente da água é maior em produtores que regam em menos
tempo e poucas vezes por semana. O efeito marginal destes factores é bastante alto na procura de
água para rega e estes factores estão relacionados com o maneio dos sistemas de produção e as
técnicas usadas para rega. O resultado deste estudo mostra que uma das formas para melhorar o
uso eficiente de água é uso sistemas de irrigação mais eficientes, isto é, regar em períodos em
que a água é necessária para a planta e melhorar os desperdícios no uso da água através de usar
um sistema de irrigação mais localizada tais como irrigação por aspersão ou gota a gota.
Contudo, estudos de custo benefício destes tipos de irrigação são necessárias para aferir a
viabilidade destes sistemas. Adicionalmente, a falta de tarifa de água pode de um lado motivar o
uso excessivo de água de rega no Posto Administrativo de Sábie. Sendo assim, a introdução de
tarifa de água pode pressionar os agricultores a optar pelos sistemas de irrigação que reduzam o
tempo e o número de regas.

A variável tipo de rega é categórica e apresentou um coeficiente negativo para rega por
gravidade e é contraditório ao esperado porém não foi estatisticamente significativo ao nível de
significância de 5%. Este resultado confirma o resultado obtido na parte descritiva que revelou
não existir diferenças significativas ao nível de significância de 5% entre a média da quantidade
de água demandada para rega num sistema de rega por gravidade e por aspersão revelando falta
de eficiência no uso da água pelos produtores que usam rega por aspersão.

As variáveis categóricas como tipo de cultivo e tipo de cultura também não apresentaram
coeficientes estatisticamente significativos ao nível de significância de 5%. Este resultado ilustra
claramente que no Posto Administrativo de Sábie a quantidade de água demandada para
irrigação não depende do tipo de cultura o que sugere que os produtores não demandam a água
tendo em contas as necessidades hídricas das culturas. Este fenômeno faz com que haja

34
possibilidade de os produtores demandarem água que na sua maioria não é potencialmente usada
pela planta.

Tabela 7. Resultados do modelo de procura de água dos produtores médios.

Variáveis independentes Coef. P>t


Área irrigada (ha) -6,77 0,237
Tempo de rega (horas) 362,04 0,00***
Número de regas por semana 1.065,61 0,00***
Tipo de rega (1=gravidade, 0= não é gravidade) -36,07 0,57
Tipo cultivo (1=monocultura, 0 = não é monocultura) -16,07 0,89
(1 = produz tomate, 0 = não produz tomate) 0,51 0,99
(1 = produz repolho, 0 = não produz repolho) -15,65 0,17
(1 = produz feijão, 0 = não produz feijão) 10,81 0,85
(1 = produz pepino, 0 = não produz pepino) -15,96 0,75
(1 = produz pimento, 0 = não produz pimento) -68,37 0,16
_Constante -2091,89 0,00***
Obs.: * Significativo ao nível de 10%; ** Significante ao nível de 5%; *** Significante ao nível de 1%. A variável
dependente é consumo de água (m3/mês).

4.2. Determinantes da procura de água para uso doméstico

4.2.1. Características socio-económicas dos agregados familiares do PAS

A maioria (71,8%) das famílias inquiridas são chefiadas por homens. Cerca de 46,67% dos
chefes do agregado familiar frequentaram escola, dos quais 91,43% tem um nível não superior a
sétima classe e 8,57% possui um nível não superior a décima segunda classe.

O tempo de ida e volta a busca de água não foi estatisticamente diferente ao nível de
significância de 5% (p-value=0,9591) entre as famílias lideradas por homens e famílias chefiadas
por mulheres (62,44 minutos para família lideradas por homens e 44,07 minutos para famílias
lideradas por mulheres). A maior parte das famílias tem como principal fonte de água o rio, isto
é, cerca de 56,4% usam água do rio para diversos usos domésticos enquanto que 14,6% busca
água em fontanários públicos também para uso doméstico. Relativamente a outras fontes como
poço e água canalizada, cerca de 10,9 e 12,7% das famílias usam estas fontes respectivamente e
cerca de 5,5% tem outras fontes principais de água como por exemplo a água canalizada do
vizinho (figura 2). A predominância do rio como fonte de água para o uso doméstico pode

35
afectar a saúde das famílias dado que a água do rio não é segura para o consumo humano. Assim,
o desenvolvimento de sistemas de tratamento de água e construção de fontenários públicos é
recomendado para minimizar o surgimento de doenças provenientes do consumo de água
imprópria.

Figura 2: Distribuição da procura de água por fonte.

A figura 3 abaixo mostra a distribuição da procura de água por tipo de pessoa que busca água,
sendo que, cerca de 53,6% das famílias inquiridas as mulheres e seus filhos são as pessoas que
buscam água para uso doméstico e cerca de 30,9% das famílias apenas as mulheres é que buscam
água. O teste de médias mostrou não haver diferenças significativas ao nível de significância de
5% (p-value=0.4573) entre o número de viagens por dia efectuadas apenas por mulheres e por
mulheres juntamente com os seus filhos (2,4 viagens por dia para apenas mulheres e 2,43 para
mulheres juntamente com os seus filhos). As famílias que reportaram que apenas os filhos
buscam água foram cerca de 12,7%.

36
Figura 3: Distribuição de procura de água por tipo de pessoa.

A maioria (89,1%) das famílias inquiridas usa bidons como recipiente para a busca da água.
Quanto ao volume dos recipientes, cerca de 88,2% dos agregados familiares usam bidons de 20
litros enquanto que os restantes usam bidons de outra capacidade.

Quanto ao trabalho remunerado apenas 42,7% dos chefes dos agregados familiares tem trabalho
remunerado o que corresponde a 47 chefes dos agregados familiares, destes 59,6% estão no
sector formal. Relativamente a renda, cerca de 59,1% das famílias revelaram não possuir renda
proveniente do trabalho mas sobrevivem através de transferências não periódicas dos filhos que
trabalham na vizinha África do Sul. Cerca de 3,6% das famílias inquiridas revelaram rendas
abaixo do salário mínimo e cerca de 19,1% possuem rendas acima de um salário mínimo que
corresponde a 3.183,00 mts no sector da agricultura (figura 4).

Figura 4: Distribuição da renda dos AFs.

37
4.2.2. Estatísticas descritivas da procura de água doméstica

A tabela 7 mostra que as famílias inquiridas fazem duas viagens em média por dia na busca de
água nas três principais fontes de água (rio, poço e fontanário) e cada viagem demora em média
cerca de 48 minutos. Num estudo realizado por Banda et al. (2006) a viagem de ida e volta
demorou cerca de 45,3 minutos. Este resultado implica que os agregados nas zonas rurais gastam
um pouco menos de uma hora na busca de água e este tempo podia ser gasto em actividades
remuneráveis. Em média as famílias inquiridas perdem cerca de 37,5 mts/dia por buscar água
para fins domésticos e são envolvidas dois membros em média nessa actividade. Este resultado
revela que as famílias do Posto Administrativo de Sábie perdem 35% do salário mínimo mensal
(1.125 meticais) buscando água para fins domésticos e este valor está acima do valor médio pago
pelas famílias urbanas em taxas de consumo de água canalizada.

Relativamente ao consumo de água, o desvio padrão foi bastante alto e o consumo varia de 0,5 a
7 m3/mês, sendo que o consumo médio é de 2,4 m3/mês o correspondente a 14 litros/pessoa/dia
para um agregado de 6 (seis) membros. Segundo UNESCO (2003), o consumo médio de água
por dia em Moçambique encontra se no intervalo de 10 a 20 litros/pessoa/dia o que significa que
o consumo por dia por pessoa no Posto Administrativo de Sábie encontra-se no intervalo do
consumo de água por pessoa recomendado.

Tabela 8. Estatística descritiva das variáveis do modelo da procura de água doméstica.


Des.
Variáveis Obs Média Min Max
Padrão
Número de viagens por dia 110 2,4 1,0 1,0 7,0
Número de agregado familiar 110 5,6 2,6 1,0 15,0
Distância a fonte de agua (m) 110 783,1 773,0 0,0 4000,0
Tempo de ida volta a busca de água
110 48,3 45,4 0,0 240,0
(minutos)
Custo oportunidade (mts/dia) 110 37,5 17,9 12,5 87,5
Número de pessoas que buscam água 110 2,3 1,3 1,0 6,0
Consume por mês (litros) 110 2.445,8 1.324,6 480,0 7280,0
Numero de recipientes por viagem 110 2,7 2,4 1,0 20,0
Numero de viagens por mês 110 24,1 6,7 8,0 28,0

4.2.3. Factores que determinam a procura da água para o uso doméstico

Foi estimado um único modelo de procura de água para as três principais fontes de água (rio,
poço e fontanário) porque o número médio de viagens por fonte não se difere estatisticamente a

38
5% de nível de significância (vide a tabela 9). Os parâmetros do modelo foram estimados através
da regressão de Poisson com o erro padrão robusto de modo a minimizar o efeito de variância
que pode advir do efeito sexo do chefe de agregado familiar.

Tabela 9. Comparação de médias do número de viagens nas principais fontes de água.


Média de no de Coeficiente de
Fonte de água viagens/dia Er. padrão Desvio padrão variação
Rio 2,32ª 0,14 1,13 0,48
Fontanário 2,56ª 0,30 1,21 0,47
Poço 2,92ª 0,15 0,51 0,18
Média 2,41 0,95 0,38
Médias com letras iguais não diferem estatisticamente entre si, a 5% de significância

A tabela 10 abaixo mostra os resultados do modelo de procura doméstica de água estimada


através de regressão de Poisson. Os coeficientes estimados representam elasticidades das
variáveis explicativas em relação a variável dependente. Um dos pressupostos do modelo de
Poisson, segundo Wooldridge (2006) citado por Farolfi, et al. (2007) é que a variância do valor
esperado da equação seja igual à média, não havendo indícios de sobre dispersão dos dados.
Uma das formas de verificar a dispersão é através do teste de qui-quadrado que para o modelo
estimado, apresentou um valor de 19,24 o que sugere que os dados seguem a distribuição de
Poisson. Adicionalmente, verifica-se que não foram constatados problemas de
multicolinearidade, pois o valor médio de inflação da variância calculado foi de 2,16.

Tabela 10. Resultados do modelo da procura doméstica de água (regressão de Poisson).

Variáveis independentes Coeficiente P>z


Número de membros de agregado familiar 0,009 0,685
Rio 0,446 0,014**
Poço 0,569 0,004***
Fontanário 0,487 0,013**
Tempo de busca da água (minutos) -0,003 0,005***
Número de pessoas que buscam agua -0,236 0,000***
Volume do recipiente (1 = 20 litros, 0 = outros) -0,208 0,010**
Número de recipientes -0,076 0,004***
Custo oportunidade 0,005 0,653
Consumo/mês (m3/mês) 0,001 0,002***
Renda1 (500 a 2500) 0,346 0,182
Renda2 (2500 a 5000) -0,062 0,528
_cons 0,685 0,001***
Obs.: * Significativo ao nível de 10%; ** Significante ao nível de 5%; *** Significante ao nível de 1%. Variável
dependente é o número de viagens por dia.

39
O coeficiente da variável número de membros de agregado familiar apresenta um sinal positivo
concordando com o sinal esperado, porém não é estatisticamente significativo. A variável fonte
de água apresentou coeficientes com sinal positivo estatisticamente significativos para as três
principais fontes de água (rio, poço e fontanário). Estes resultados indicam que o número de
viagens a busca de água por dia aumenta em 0,446 unidades quando a principal fonte de água é
rio quando comparado com outras fontes (água canalizada). O número de viagens na busca de
água por dia aumentam em 0,569 e 0,487 quando a principal fonte de água for poço e fontanário
respectivamente quando comparado com água canalizada. Estes resultados indicam que as
famílias efectuam mais viagens em fontes não próximas das suas residências, gastando tempo
que poderia ser útil para outras actividades de renda. O estudo realizado por Farolfi et al., (2007)
mostrou que a disponibilidade de pagar pelos serviços de melhorias na quantidade de água
fornecida reduz quando a fonte principal é água canalizada relativamente a outras fontes de água
como fontanário e poços. Este resultado mostra que as famílias consideram o tempo perdido na
busca de água como bastante significativo.

O coeficiente da variável tempo de colecta de água é estatisticamente significativo com um sinal


negativo como esperado. O resultado mostra que o aumento de 1% no tempo de colecta de água
reduz o número de viagens em 0,3%. Um estudo realizado por Farolfi et al. (2007) diz que um
aumento no tempo de colecta de água tende aumentar a disposição a pagar pelos serviços de
melhorias de acesso a água como fontanários e torneiras privadas. O resultado deste estudo é
consistente com a teoria de Sullivan (2002), citado por Farolfi et al. (2011) que diz que famílias
que andam longas distâncias para buscar água em uma base diária (das torneiras colectivas, do
rio e poços) têm um alto índice de pobreza da água. Projectos de abastecimento de água como
fontanários e torneiras privadas teriam maiores benefícios para as comunidades por estarem
próximas as residências.

O número de pessoas envolvidas na busca de água também foi estatisticamente significativo,


com sinal negativo coincidindo com o esperado, isto é, o aumento em 1% no número de
membros na colecta de água, o número de viagens por dia reduz em 23,6%. Um estudo realizado
por Banda et al. (2006), embora o coeficiente não tenha sido significativo, o sinal mostra que as
famílias que envolvem esposa e filhos tendem a colectar mais água por viagem, reduzindo assim
o número de viagens do que famílias que envolvem apenas as esposas.

O coeficiente da variável volume do recipiente foi negativo e estatisticamente significativo ao


nível de significância de 5%. Isto significa que o número de viagens por dia na busca de água

40
reduz em 20,8% quando se usa recipientes de 20 litros relativamente a outras capacidades de
recipientes (maiores que 20 litros). Este resultado é contraditório e bastante intuitivo e sugere
que apesar de maior volume do recipiente significar maior volume de água colectado por
viagem, o uso deste relaciona-se com a sua disponibilidade e não com o propósito de aumentar o
volume reduzindo assim o número de viagens. Adicionalmente, este resultado pode estar
associado a capacidade humana para o carregamento de bidons de água onde as famílias
preferem bidons de capacidade menor dado que estas podem ser usadas pela maioria dos
membros da família (crianças assim como adultos).

O coeficiente da variável número de recipientes teve influência negativa e significativa ao nível


de significância de 5%, concordando com o esperado e mostra que o acréscimo de 1% de
recipientes reduz o número de viagens em 7,6%. Isto implica que as famílias combinam o
volume e número de recipientes através de uso de carrinhos de mão entre outros como estratégia
para reduzir o número de viagens.

O custo oportunidade apresentou sinal positivo contraditório ao sinal esperado embora não
significativo. Estudos feitos por Whittington et al. (1990b) mostraram uma influência negativa
entre o número de viagens e o custo oportunidade. Neste estudo não se percebe a influência desta
variável no número de viagens na busca de água. No entanto, este facto pode estar relacionado
com estratégias que as famílias utilizam para substituir a necessidade de fazer viagens, sendo
uma delas o uso de carrinhos de mão que aumentam o volume colectado por viagem, envolvendo
menos pessoas na busca de água reduzindo assim a frequência e o número de membros na busca
de água.

O consumo de água foi também estatisticamente significativo e apresentou sinal positivo o que
era esperado. Este resultado sugere que o aumento de 1% no consumo de água o número de
viagens aumenta em 0,1%. Este resultado corrobora com o resultado obtido por Banda et al.
(2006) na estimativa da procura de água doméstica usando o método de custo de viagem, tendo
em conta duas fontes de água (fontanários colectivos e rio) e reportou que quando o consumo de
água aumenta em 1% o número de viagens aumenta em 4%. Relativamente a renda, o sinal do
coeficiente da renda1 foi positivo e da renda2 foi negativo embora ambos não foram
significativos. Este resultado mostra que a renda não é um factor que determina a procura da
água em Sábie.

41
5. Conclusões e recomendações

A procura de água para irrigação em pequenos sistemas de rega é determinada pelo tempo de
rega por dia e número de regas efectuadas por semana. Um aumento de 1hora de rega a procura
de água aumenta em 362,04 m3 e o acréscimo de uma rega por semana a procura de água
aumenta em 1.065,61 m3.

Embora o tipo de rega (gravidade vs. aspersão) seja importante factor na demanda da água de
rega, este factor não foi determinante no Posto Administrativo de Sábie. Assim, para que a água
seja usada de uma forma eficiente é necessário melhorar a eficiência de rega por aspersão para
que este use menos água comparando com o sistema de rega por gravidade.

Similarmente, embora as necessidades de água variem para cada cultura, o tipo de cultura não foi
um factor determinante para a procura da água de rega. Este resultado ilustra claramente que no
Posto Administrativo de Sábie a quantidade de água demandada para irrigação não depende do
tipo de cultura o que sugere que os produtores não demandam a água tendo em contas as
necessidades hídricas das culturas. Este fenômeno faz com que haja possibilidade de os
produtores demandarem água que na sua maioria não é potencialmente usada pela planta. Assim,
recomenda-se melhorar o uso sustentável da água através de combinação de vários
procedimentos: (i) usar a água quando esta é necessário durante o ciclo de crescimento da planta,
(ii) irrigar culturas tendo em conta as suas necessidades hídricas e (iii) introduzir tarifa de água
com vista a valorizar este recurso. Estes procedimentos podem concorrer na redução no número
e duração das regas que consequentemente vai concorrer na redução do uso da água.

O número de viagens que as famílias fazem no Posto Administrativo de Sábie na busca de água é
determinado pelo número de pessoas envolvidas na busca de água, da fonte de água, tempo de
ida e volta, volume do recipiente, número de recipientes e consumo mensal de água por parte do
agregado familiar. O número de viagens por dia na busca de água aumenta em 0,446, 0,569,
0,487 unidades quando a fonte for rio, poço e fontanário respectivamente comparando com
situações em que a fonte é água canalizada. O aumento em 1% de membros envolvidos na
colecta de água, o número de viagens por dia reduz em 23,6%. O aumento de 1% no tempo de
colecta de água reduz o número de viagens em 0,3%. O acréscimo de 1% de recipiente reduz o
número de viagens em 7,6% enquanto que o aumento de 1% no consumo de água o número de
viagens aumenta em 0,1%.

42
Os resultados também mostram que a maior parte (56,4%) das famílias tem como principal fonte
de água o rio. A predominância do rio como fonte de água para o uso doméstico pode afectar a
saúde das famílias dado que a água do rio não é segura para o consumo humano. Assim, o
desenvolvimento de sistemas de tratamento de água e construção de fontenários públicos é
recomendado para minimizar o surgimento de doenças provenientes do consumo de água
imprópria.

Outrossim, os resultados revelam que as famílias inquiridas perdem cerca de 37,5 mts/dia por
buscar água para fins domésticos o que representa 35% do salário mínimo mensal (1.125
meticais) buscando água para fins domésticos e este valor está acima do valor médio pago pelas
famílias urbanas em taxas de consumo de água canalizada. Esta constatação sugere a necessidade
de construir sistemas de abastecimento de água localizadas nas proximidades das zonas de
residência.

43
6. Referências bibliográficas

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Whittington, D., Lauria, D. T & Mu, X. 2002. A study of water vending and willingness to pay
for water in Onitsha, Nigeria. World development. 19(2): 179 – 198.

Whittington, D., Mu, X. & Roche, R. 1990a. Calculating the value of time spent collecting
water: Some estimates for Ukunda, Kenya. World Development, 18(2), 269–280;

Wooldridge, J. M. 2006. Introdução à Econometria: Uma abordagem moderna. Thomson


Learning, São Paulo;

World Bank Water Demand Research Team. 2001. The demand for water in rural areas:
Determinants and policy implications. The World Bank Research Observer Vol. 8: 47-70.

50
Anexos
GUIÃO DE ENTREVISTA AO AGREGADO FAMILIAR
Questionário dirigido aos agregados familiares do Posto Administrativo de SABIE
Nome do Inqueridor ______________________________________Nr. Do Questionário
Nome do chefe do Agregado Familiar _______________________
Sexo ,Idade Estado Civil______________
Nº de agregado________ crianças (≤ 5)_____ Adultos _________ Idosos _______
Província _______________, Distrito _____________________, Aldeia /povoado ____________________
Data ___ / ___ de 2014

1. Já frequentou a escola? Sim Não

2 .Qual o grau de ensino que completou? ______

3. Qual é a sua fonte principal de água?

1. Poço_____, 2. Canalizada____, 3. Rio______ 4. Fontanário. 5.Outras______________.

4. A que distância fica a fonte de água______________(Km)_;ou quanto tempo leva___________(horas).

5. Quem é que busca água

1. Marido______; 2.Esposa_______; 3. Marido e esposa_____; 4. Filhos

6. Quantas pessoas buscam água?.__________

7. Que tipo de recipientes usam para buscar água? 1. Bidons______; 2. Outros

8. Qual é a capacidade dos recipientes que usam? 1. 20L ______; 2. 25L _______; 3. 50L ________

9 . Quantos Recipientes levam por viagem? 1. ______; 2. _______; 3. ________

10. Quantos recipientes de água usam? Por dia_______; Por semana ________

11. O chefe do agregado familiar tem feito algum trabalho remunerado? Sim Não

12. Que tipo de trabalho faz? Trabalho formal Trabalho informal

13. Quanto ganha? 500 a 2500 2500 a 5000 > 5000

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GUIÃO DE ENTREVISTA AOS PRODUTORES AGRÍCOLAS
Questionário dirigido aos produtores agrícolas na bacia do incomáti
Nome do Inqueridor ______________________________________Nr. Do Questionário
Nome da associação ou empresa_________________________________________
Província _______________, Distrito _____________________, Aldeia /povoado ____________________
Data ___ / ___ de 2014

1. Qual é a area da machamba? ________________


2. Quantos hectares são irrigados? ______________
3. Quanto tempo leva a regar? __________________
4. Quantas vezes rega? 1. Por dia _________ 2. Por semana _________
5. Que fonte de água usa? ____________________
6. Qual é o diâmetro do tubo que usa? _________________
7. Que tipo de combustível usa? 1. Diesel ________ 2. Gasolina ________
8. Quanto custa o litro de combustível? _____________
9. Que tipo de rega usa?
1. Aspersão ______ 2. Gravidade _______ 3. Microrega/localizada _______ 4. Outros
_______
10. Tipo de cultivo. 1. Monocultura _______ 2. Consorciação _______
11. Em que época do ano produz?
1. Seca_______ 2. Chuvosa _______ 3. Ambas __________
12. Quais são as culturas que produz? 1. Tomate______ 2. Repolho______ 3. Batata reno______
4. outras ___________________________________________________________________
13. Qual é o preço de venda? 1. Tomate______ 2. Repolho______ 3. Batata reno______
4. outras ___________________________________________________________________

Observações
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
__________________

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