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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BRAGANÇA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA AMBIENTAL
MESTRADO EM ECOLOGIA DE ECOSSISTEMAS COSTEIROS E
ESTUARINOS

ANÁLISE DO CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E DO SISTEMA PRODUTIVO


COMO SUBSÍDIO PARA GERAR INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA ATIVIDADE DE

EXPLORAÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ (Ucides cordatus Linneaus, 1763) NOS


MANGUEZAIS DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU,
BRAGANÇA-PA

DENIS DOMINGUES

Bragança – PA
2008
DENIS DOMINGUES

ANÁLISE DO CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E DO SISTEMA PRODUTIVO


COMO SUBSÍDIO PARA GERAR INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA ATIVIDADE DE

EXPLORAÇÃO DO CARANGUEJO-UÇÁ (Ucides cordatus Linneaus, 1763) NOS


MANGUEZAIS DA RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU,
BRAGANÇA-PA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em


Biologia Ambiental: Mestrado em Ecologia de Ecossistemas
Costeiros e Estuarinos da Universidade Federal do Pará,
Campus de Bragança, como requisito para a obtenção do
título de Mestre em Biologia Ambiental.

Orientador: Prof. Dr. Marcus E. B. Fernandes


Co-orientador: Prof. Dr. Keid N. S. Sousa

Bragança – PA
2008
AGRADECIMENTOS

Aos professores Dr. Marcus E. B. Fernandes e Dr. Keid N. S. Sousa, pela orientação e

contribuição para o meu aperfeiçoamento profissional e dos valores científicos, pelas

sugestões e críticas que ajudaram a delinear o presente trabalho.

Ao Programa BECA do IIEB, pela concessão da bolsa de mestrado concedida (projeto

B/2007/01/BMP/06).

À Associação dos Usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu

(ASSUREMACATA), pela parceria firmada.

À comunidade de Tamatateua pelo acolhimento e contribuições que auxiliaram na

efetivação do trabalho, e aos trabalhadores dos manguezais, por dividir suas experiências e

conhecimentos comigo.

À Agência de Cooperação Internacional do Japão - JICA e a International Society for

Mangrove Ecosystems – ISME pela contribuição na minha formação através da oportunidade

de participação no curso Conservation and Sustainable Management of Mangrove

Ecosystems.

À minha família pela oportunidade e educação que me conferiram em todos os

momentos.

Em especial a Kelli Garboza da Costa pelo carinho, paciência, dedicação,

companheirismo e apoio, que sempre demonstrou.

A todos os amigos pelos momentos de descontração, eventos gastronômicos e festivos,

bem como, pela ajuda e contribuições.

Obrigado.
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS................................................................................................. iii
SUMÁRIO.................................................................................................................... iv
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E ANEXOS........................................................ v
RESUMO...................................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 1
1.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA............................................................................... 1
1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA....................................... 4
2 OBJETIVOS.................................................................................................................. 7
2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................................ 7
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................................... 7
3 MATERIAL E MÉTODO................................................................................................ 8
3.1 ÁREA DE ESTUDO................................................................................................ 8
3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................................... 9
3.3 ANÁLISE DE DADOS............................................................................................ 13
4 RESULTADO E DISCUSSÃO.......................................................................................... 14
4.1 APRECIAÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO DO CARANGUEJO-UÇÁ NA RESERVA
EXTRATIVISTA MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU.................................................................. 14
4.1.1 Análise do Cadastramento..................................................................... 14
4.1.2 Ensaio de Tipologia das Formas de Organização da Produção.......... 21
4.2 CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E PRÁTICAS LOCAIS DE MANEJO............... 25
4.3 IMPLICAÇÕES PARA A GESTÃO............................................................................ 30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................. 36
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 38
7 ANEXOS....................................................................................................................... 50
LISTA DE FIGURAS, TABELAS E ANEXOS

FIGURAS
Figura 1. Localização da área de estudo. Modificado de MMA/IBAMA (2005)................ 9
Figura 2. Número de coletores cadastrados nas comunidades da RESEX Marinha Caeté-
Taperaçu, Bragança-PA....................................................................................................... 14
Figura 3. Média diária do número de caranguejos capturados e respectivos valores de
desvio padrão no âmbito da Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................... 16
Figura 4. Renda média mensal e respectivos valores de desvio padrão das comunidades
no âmbito da Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA........................................... 16
Figura 5. Número percentual das vias de acesso às áreas de captura utilizados na
Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................................................................ 18
Figura 6. Número percentual dos tipos de transporte utilizado para o deslocamento às
áreas de captura na Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................................. 18
Figura 7. Número percentual dos processos de comercialização do caranguejo-uçá na
RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................................................................. 19
Figura 8. Número percentual das formas de comercialização do caranguejo-uçá na
RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................................................................. 20
Figura 9. Número percentual das formas de comercialização do caranguejo-uçá na
RESEX Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA................................................................. 25

TABELAS
Tabela 1. Documentação e filiação dos coletores cadastrados na RESEX Marinha Caeté-
Taperaçu, Bragança-PA....................................................................................................... 15

ANEXOS
Anexo 1 . Formulário relativo ao processo de cadastramento dos coletores de caranguejo
da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança - PA...................................... 50
RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise do conhecimento ecológico local e das práticas locais de
manejo, visando fornecer subsídios à formulação e discussão de instrumentos de gestão
compartilhada e adaptativa da atividade de exploração do caranguejo-uçá nos limites da
Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu. Um formulário contendo questões relativas aos
aspectos da produção, filiação aos órgãos de classe e identificação dos coletores foi obtido na
Associação dos Usuários da Reserva para auxiliar, em sinergia com elementos da literatura, a
estruturação de um ensaio de tipologia das formas de organização da produção do caranguejo-
uçá. Para obter informações acerca do conhecimento local e práticas de manejo, foram
empregadas técnicas de entrevistas abertas e observação participante. Os resultados
permitiram compreender que a atividade é constituída de forma dinâmica e complexa. Os
padrões de utilização deste recurso apresentam-se de forma a responder os diferentes
estímulos produtivos e assim sendo, o comportamento dos produtores não se apresenta
homogeneamente. Os coletores de caranguejo apresentaram um relevante conjunto de
conhecimentos e práticas locais de manejo, permitindo-os adaptar-se às condições ambientais,
sociais e econômicas. Essas informações poderão ser utilizadas para a formatação de
restrições que assim como, nas práticas de gestão centralizadas, regulam o acesso e a
utilização dos recursos. Estas restrições podem incluir limitações espaciais, temporais,
tecnológicas, no esforço, quantidade e na espécie-alvo de captura. Destaca-se que
independente da formatação das medidas regulatórias, há a necessidade de gestão enfocando a
resiliência do sistema. Portanto, é necessária uma contínua avaliação, aprendizado e o
desenvolvimento do conhecimento e compreensão, para lidar com as mudanças e incertezas
nos sistemas complexos adaptativos.
1 INTRODUÇÃO

1.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nos últimos anos, autores têm reportado que as convencionais prescrições de


gerenciamento de recursos naturais, em muitos casos, não têm resultado em sustentabilidade
(Ludwig et al.,1993; Berkes & Folke, 1998; Vieira & Weber, 2002). Apesar da importância
dos bens e serviços proporcionados pelos ecossistemas marinhos, aparentemente, os esforços
da governança pesqueira têm falhado (Botsford et al., 1997; NRC, 1999), uma vez que
recursos pesqueiros social e economicamente importantes encontram-se sobre-explotados.
Conseqüentemente, alguns autores têm se referido a uma crise dos sistemas pesqueiros
(McGoodwin, 1990; Buckworth, 1998).
Segundo Cochrane (2000), fatores como a alta imprevisibilidade dos sistemas
biológicos, conflitos entre os objetivos da sustentabilidade e as prioridades sociais e
econômicas, objetivos mal definidos e falhas institucionais relacionadas aos direitos de acesso
e participação dos usuários na gestão, têm contribuído para o fracasso das propostas de
gerenciamento pesqueiro. Berkes et al., (2001) destacam que grande parte da ciência
pesqueira tem devotado seus esforços na realização de avaliações com o objetivo de fixar e
otimizar taxas sustentáveis de extração, privilegiando, assim, as disciplinas biológicas e, por
vezes, incluindo aspectos econômicos. Os autores concluem que a não inclusão da temática
social faz com que as abordagens convencionais não considerem adequadamente as
necessidades socioeconômicas das populações pesqueiras e o potencial benefício da
governança colaborativa.
Considerando tais aspectos descritos acima, Pitcher et al., (1998) sugerem que há
necessidade de “re-inventar” o sistema de gerenciamento pesqueiro. Conceitos como
“gerenciamento adaptativo”1 (Walters, 1986), “gerenciamento ecossistêmico”2 (Schramm &
Hubert, 1996) e o código de conduta para pescarias responsáveis3 (FAO, 1995) representam a
procura por alternativas às práticas de gerenciamento dominantes.
Como descrito por Berkes et al. (2001), há um número promissor de novas ou

1
Processo de gerenciamento ambiental e de recursos naturais que objetiva através do monitoramento do sistema,
reduzir as incertezas, nas escalas de tempo e espaço. Desta forma, as informações originadas em um processo de
monitoramento, subsidiam as ações e planejamentos futuros.
2
O gerenciamento ecossistêmico enfatiza o potencial produtivo do sistema em oposição à idéia de conservação
do estoque de um único recurso.
3
Código de escopo global que apresenta princípios e normas aplicáveis ao desenvolvimento, gerenciamento e
conservação, para as atividades pesqueiras.
revisadas abordagens disponíveis para gestores pesqueiros de países em desenvolvimento.
Entre essas há métodos que enfatizam os processos de decisão participativa incluindo novos
regimes de governança, como o gerenciamento comunitário e a co-gestão.
Co-gestão ou gestão compartilhada pode ser definida como um acordo de parceria no
qual a comunidade local ou os usuários de determinado espaço ou recurso, governo, outros
agentes da cadeia produtiva (donos de barco, atravessadores, etc.) e agentes externos como
ONGs, instituições acadêmicas e de pesquisa, dividem a responsabilidade e a autoridade de
gerenciar determinado recurso (Pomeroy & Rivera-Guieb, 2006). Existe na literatura uma
crescente produção científica enfocando essa temática (Jentoft, 1989; Pinkerton, 1989;
Pomeroy, 1995; Sen & Nielsen, 1996; Pomeroy & Berkes, 1997; Jentoft et al., 1998;
Pomeroy et al., 2004; Davis & Wagner, 2006; McConney & Baldeo, 2007).
Atualmente, alguns pesquisadores reconhecem que os recursos pesqueiros são melhor
gerenciados e há diminuição nos conflitos associados ao uso, quando pescadores e outros
agentes envolvidos são incluídos no processo de gerenciamento e os direitos de acesso são
distribuídos mais equitativamente (Pomeroy, 1995).
Uma ferramenta analítica amplamente usada para endereçar a problemática dos
direitos de acesso e a equidade destes, é a “Teoria dos Comuns”. As idéias popularizadas por
Hardin (1968) ou a “Tragédia dos Comuns” foram largamente aceitas e utilizadas para
analisar a relação de acesso e degradação da base natural de recursos. Em seu pensamento
Hardin destacou a divergência entre a racionalização individual e coletiva, utilizando um
exemplo imaginário de campos de pastagem na Inglaterra medieval, onde cada pastor tendo
livre acesso ao pasto adicionaria mais animais almejando maior rendimento, resultando,
assim, em perda de recursos para toda a comunidade de pecuaristas. As soluções possíveis à
“tragédia” propostas por Hardin seriam somente a privatização e a estatização dos comuns
assim consequentemente esses regimes de propriedade regulariam o acesso e a utilização
desses recursos.
Segundo Berkes (2005), na década de oitenta, pesquisadores começaram a apresentar
exceções à “regra” estabelecida pelo pensamento de Hardin, derivadas de toda parte do
mundo e enfocando diferentes tipos de recursos (ex. florestais, pesqueiros, terras de
pastagens, irrigação). Essas exceções possibilitaram a reformulação de definições e conceitos
e a construção de um novo modelo de análise.
A construção dessa nova teoria definiu os recursos comuns como aqueles em que: i) a
exclusão ou controle de acesso dos potenciais usuários é custoso e ii) a exploração por um
usuário reduz a disponibilidade para os outros (Feeny et al., 1990), ou seja, uma classe de
recursos para a qual a exclusão é difícil e o uso conjunto envolve subtração (Berkes et al.,
1989). De acordo com o trabalho de Feeny et al. (1990), esses recursos podem ser manejados
sob quatro categorias de direito de propriedade: i) propriedade privada - refere-se à situação
em que um indivíduo ou uma corporação possuem o direito de regular o uso e excluir outros
usuários; ii) propriedade estatal - significa que é o governo que possui o direito de exclusão
e regulação do uso; iii) livre acesso - é a falta de direitos de propriedade bem definidos, o
acesso é livre e aberto a todos e iv) propriedade comunal – onde os recursos são manejados
por uma comunidade identificável em que os usuários podem excluir outros e regular o uso
dos recursos. Estes quatro regimes de propriedade são tipos analíticos ideais, sendo que na
prática os recursos podem ser geridos por combinações dessas categorias.
As exceções ao postulado de Hardin reconheceram a importância e a existência da
auto-regulação dos sistemas de manejo comunitários para lidar com os problemas da exclusão
e subtrabilidade. Em seu modelo Hardin não incluiu a capacidade das relações sociais
resolverem problemas e formular regras práticas de uso, ou instituições (Ostrom, 1990). Desta
forma, o modelo de Hardin é compreensivo, mas incompleto. As conclusões sobre a
inevitável tragédia baseiam-se em seus pressupostos sobre livre acesso, ou seja, ausência de
restrições aos comportamentos individuais, condições pelas quais demandas excedem ofertas
e, deste modo, colapsam a base natural de recursos (Feeny et al., 1990).
Contrariamente à visão de muitas agências pesqueiras, as comunidades locais estão
aptas a desenvolver instituições que podem ser bem sucedidas na restauração da equidade e
nos limites de acesso às pescarias (Schreiber, 2001).
A incorporação do conhecimento ecológico local nos processos de tomada de decisão
pode prover importantes informações (Johannes, 1998). Pescadores podem fornecer
informações sobre variações sazonais diárias, inter-anuais, lunares, relacionadas com o hábitat
ou com a maré, que afetam o comportamento e a abundância de certas espécies e como essas
variações influenciam as estratégias pesqueiras (Johannes et al., 2000). Portanto, como
Hilborn (2007) enfatiza, a compreensão do comportamento dos pescadores é fator-chave para
uma gestão de sucesso.
Desta forma, espera-se que a gestão compartilhada melhore a eficácia do
gerenciamento pesqueiro devido a melhor aceitação das medidas de gestão, quando os
usuários estão envolvidos nos processos de tomada de decisão. Além disso, o conteúdo dessas
medidas será mais adequado e refletirá melhor a situação corrente se o conhecimento dos
usuários for incluído no desenvolvimento destas (Nielsen et al., 2004).
Destaca-se o fato de que alguns desses sistemas de manejo “tradicionais” são
caracterizados por utilizar os conhecimentos ecológicos locais para interpretar e responder aos
feedbacks para guiar o manejo e a gestão local de recursos. Desta forma, esses sistemas
”tradicionais” possuem certa semelhança ao gerenciamento adaptativo, com ênfase no
aprendizado para lidar com esses feedbacks e o tratamento de incertezas e imprevisibilidades
intrínsecas a todos os ecossistemas (Berkes et al., 2000).
A utilização de formatos participativos dessa forma experimental de gerenciamento
possui potencial para promover a conservação e melhoria das condições dos estoques. Desse
modo, a confiabilidade das informações adquiridas e as alternativas de gestão resultantes
dessas informações são legitimadas pela participação de cientistas, tomadores de decisão e
pescadores (Castilla & Defeo, 2001).

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA E JUSTIFICATIVA

O manguezal é um sistema ecológico de grande importância e proporciona valiosos


recursos econômicos. As florestas de mangue são importantes áreas de criação e alimentação
para aves, peixes, crustáceos, moluscos, répteis e mamíferos. São fonte renovável de madeira,
áreas de acumulação de sedimentos, carbono e nutrientes e, frequentemente, oferecem
proteção contra a erosão costeira (Alongi, 2002).
Com relação ao uso de recursos provenientes desse sistema, alguns autores têm
reportado o emprego de produtos medicinais, madeireiros e pesqueiros (Rasolofo, 1997;
Bandaranayake, 1998; Dahdouh-Guebas et al., 2000; Walters, 2005).
A utilização dos recursos dos manguezais no Brasil remonta a um período anterior à
chegada dos colonizadores portugueses, como atestam os depósitos conchíferos, ou
sambaquis, distribuídos ao longo do litoral (Diegues, 2001).
Na região de Bragança, nordeste do Estado do Pará, Glaser (2003) analisou as inter-
relações entre a economia local, a sustentabilidade social e os manguezais, enfocando 21
comunidades rurais abrangendo 2.500 lares (aproximadamente 13.000 habitantes). A autora
enfatizou a importância da utilização dos manguezais para a manutenção dos meios de vida
locais, observando que 83% dos domicílios dependem da subsistência ou do comércio de
diversos recursos desse sistema, com destaque para as 36 espécies de peixes (Glaser &
Grasso, 1998), e o caranguejo-uçá (Ucides cordatus) que, somando as atividades de coleta,
beneficiamento e comércio, envolvem mais da metade dos lares locais.
Apesar da captura desse crustáceo ocorrer historicamente na região, foi somente na
década de 70 que se acentuaram importantes mudanças na sua organização, em razão da
intensificação da comercialização derivada, sobretudo, da evolução ocorrida nos sistemas de
transporte4 e conservação, bem como das dificuldades de algumas famílias conservarem seu
modo de produção polivalente (Maneschy, 2005). Ainda segundo esta autora, nos municípios
litorâneos do estado, as transformações técnico-econômicas incentivaram migrações e a
inserção de muitas famílias rurais nas atividades pesqueiras, somando-se a isso o fato das
restrições na oferta de trabalho nas cidades da região terem fornecido um contingente para a
lide nas atividades relacionadas à extração do caranguejo-uçá. Devido aos baixos
investimentos iniciais, elevado crescimento demográfico, poucas alternativas de fonte de
renda, alta demanda do produto e um sistema de produção que se apresenta muito moldado
pelas condições de livre acesso, a captura do caranguejo-uçá tornou-se uma alternativa para o
emprego da mão-de-obra local, e encontra-se entre as profissões locais que mais cresce
(Glaser & Diele, 2004).
Portanto, a configuração do cenário descrito acima permitiu que a captura do
caranguejo-uçá evoluísse de uma atividade de subsistência, com comercialização esporádica e
pulverizada, para uma atividade mercantil. Esse processo foi acompanhado por diversificação
das técnicas, reorganização do trabalho e a abertura de novas áreas de exploração (Alves,
2003; Maneschy, 2005; Magalhães et al., 2007). Consequentemente houve um aumento na
pressão de captura dessa espécie, todavia ainda não apresentou evidências de sobre-
exploração (Glaser & Diele, 2004; Diele et al., 2005). Porém, como exposto por Diele (2000),
conflitos territoriais entre grupos de coletores têm demonstrado que as atuais formas de
utilização do recurso apresentam sinais de limitação em cenários vindouros.
A intensificação dessa atividade provocou preocupações dos órgãos competentes a
respeito da necessidade de medidas de ordenamento da mesma. No cenário legal, no ano de
1997 foi instituído um dos primeiros instrumentos de ordenamento da atividade no estado. A
Lei no6082 criou o programa de preservação do caranguejo-uçá, proibindo a captura e a
comercialização das fêmeas, como também a captura de caranguejos na época da andada
(período do ciclo reprodutivo) sem, porém, determinar o período. Foi somente em 2003,
através da portaria do IBAMA no034, que foi determinado o período de defeso dessa espécie,
sendo delegada aos gerentes executivos do IBAMA de cada estado, a competência para em
portaria específica, estabelecer em caráter experimental, e segundo as peculiaridades locais,
a suspensão da captura,...,da espécie Ucides cordatus, exclusivamente, durante os dias de

4
Na primeira metade da década de 1970, foi iniciada a construção da rodovia PA-458, com o objetivo conectar a
cidade de Bragança à Ajuruteua. Ver: Carvalho (2000).
andada.
Esse instrumento de ordenamento (período de defeso) vem sendo aplicado atualmente,
porém, apesar de sua efetividade não ter sido ainda devidamente investigada do ponto de vista
científico, há indícios de que essa estratégia, nos moldes que se propõe, não vem
apresentando condescendência por parte dos usuários. Possivelmente esse fato decorra da
incipiente comunicação entre gestores, tomadores de decisão e acadêmicos com os usuários
do recurso, resultando em uma prática de gestão centralizada, que muitas vezes não representa
os interesses e a realidade em que estes usuários estão inseridos. Como conseqüência dessa
prática, há redução dos incentivos para o cumprimento das normatizações estabelecidas pelas
agências reguladoras. Desta forma, podem ser acirradas as disputas pelo acesso às áreas de
captura entre grupos de coletores de caranguejo, o que poderá intensificar as condições de
livre-acesso ao recurso, diminuindo assim, as alternativas de sustentabilidade no manejo da
atividade de exploração do caranguejo-uçá.
Com o objetivo de assegurar legalmente a alocação dos direitos de uso dos recursos
naturais à comunidade de usuários, bem como, desenvolver mecanismos de gestão
compartilhada, foi criada através do decreto de 20 de maio de 2005, a Reserva Extrativista
Marinha Caeté-Taperaçu. A adoção desse modelo de alocação de direitos de uso é baseada na
abordagem da propriedade comunal, que sugere que os direitos de propriedade poderão criar
entre os usuários, arranjos institucionais para a administração coletiva de sua base de recursos
(Ostrom, 1990). Espera-se também que tais formas de governança pesqueira participativa
possam contribuir para uma execução mais efetiva das regulações, aumentando assim, a
probabilidade de condescendência por parte dos usuários (Jentoft et al., 1998; Gelcich et al.,
2007).
Baseado no cenário descrito nos parágrafos acima e na teoria apresentada na
fundamentação teórica foram desenvolvidas as seguintes perguntas norteadoras do presente
estudo:
I) As práticas locais de manejo e o conhecimento ecológico local podem auxiliar na
formatação de estratégias de co-gestão do caranguejo-uçá no âmbito da Reserva Extrativista
Marinha Caeté-Taperaçu?

II) Quais as formas de incorporação dos saberes e percepções locais na formulação de


instrumentos de gestão da atividade?
2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

A presente proposta pretende analisar o conhecimento ecológico local e as práticas


locais de manejo, visando fornecer subsídios à formulação e discussão de instrumentos de
gestão compartilhada e adaptativa dos caranguejo-uçá (Ucides cordatus) nos limites da
Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

· Caracterizar o sistema produtivo da atividade de exploração do caranguejo-uçá,


através de um ensaio sobre as tipologias das formas de organização da produção,
no intuito de avaliar as conseqüências da diversificação dos meios de produção
para a gestão dessa atividade;
· Descrever aspectos do conhecimento ecológico local e práticas de manejo
empregadas na atividade de exploração de caranguejo-uçá;
· Avaliar as formas de incorporação dos saberes e percepções locais na formulação
de instrumentos de gestão da atividade.
3 MATERIAL E MÉTODO

3.1 ÁREA DE ESTUDO

A zona costeira amazônica estende-se ao longo dos estados do Maranhão, Pará e


Amapá com aproximadamente 2.250 km de extensão, excluindo-se as reentrâncias do litoral e
as ilhas, ao longo da quais dezenas de estuários recortam a linha de costa (Souza Filho et al.,
2005). Além de constituir uma das maiores extensões contínua de manguezais do planeta, a
costa de manguezais do Maranhão, Pará e Amapá, com aproximadamente 8.900 km2 de área
(Kjerfve et al., 2002), é caracterizada pelo baixo relevo, extensa planície costeira, alta
drenagem e processos ativos de erosão e sedimentação (Souza Filho et al., 2004). Essa região
apresenta também diferentes sistemas, como marismas, restingas e outras vegetações costeiras
(Bastos, 1988; Santos & Rosário, 1988).
A área de estudo está localizada no nordeste do Estado do Pará, entre os estuários dos
rios Taperaçu e Caeté. O clima predominante da região é equatorial quente e úmido do tipo
“Amw”, segundo a classificação de Köppen, caracterizada por uma estação chuvosa, que na
maioria das localidades compreende os meses de dezembro a maio, e por uma estação menos
chuvosa (estação seca) que corresponde geralmente ao período de junho a novembro (Moraes
et al., 2005). A temperatura média e a precipitação pluviométrica anual são de 25,5ºC e 2.500
mm, respectivamente, com 75% da precipitação ocorrendo na estação chuvosa entre janeiro e
maio (INMET, 1992).
A vegetação é caracterizada por espécies de mangue (Rhizophora mangle L.,
Avicennia germinans (L.) Stearn e Laguncularia racemosa (L.) Gaertn. f. Essas florestas de
mangue são caracterizados por bosques bem desenvolvidos, com árvores alcançando mais de
20 m de altura (Schwendenmann, 1998). As planícies elevadas, durante a estação seca, são
dominadas por Sporobolus virginicus (L.) Kunth, enquanto na estação chuvosa por Eleocharis
geniculata (L.) Roem. & Schult e Fimbristylis spadicea (L.) Vahl (ciperáceas). Já as restingas
são dominadas por Chrisobalanus icaco e Bulbostylis capillaris (L.) C.B.Clarke, entre outras
(Mendes et al., 2001; Lara & Cohen, 2003).
Criada pelo decreto de 20 de maio de 2005, a Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçu abrange uma área de aproximadamente 42.068 há, onde estão localizadas 46
comunidades (O. S. Rocha, com. pessoal). A comunidade do Tamatateua foi selecionada para
a realização desse estudo por apresentar características importantes, as quais estão
explicitadas na seção 3.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.
A comunidade está localizada a aproximadamente 12 km da sede municipal de
Bragança. Está inserida em uma área formada por campos, capoeiras em vários estágios de
regeneração, manguezais, rios, igarapés e lagos sazonais. Sua economia está baseada na
pesca, pecuária, agricultura (principalmente de milho, feijão e mandioca) e mais recentemente
na venda de mel (Oliveira, 2005).

Tamatateua

Figura 1. Localização da área de estudo. Modificado de MMA/IBAMA (2005).

3.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Com o propósito de cadastrar os tiradores de caranguejo, a Associação dos Usuários


da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu (ASSUREMACATA) desenvolveu um
formulário contendo questões relativas aos aspectos da produção, filiação a órgãos de classe e
identificação dos coletores.
Em meados de 2007 foi estabelecida uma parceria entre o autor do presente trabalho e
essa associação, com o objetivo de auxiliar na gestão das informações obtidas no
cadastramento. Tais informações foram utilizadas em sinergia com os elementos disponíveis
na literatura, no intuito de estruturar um ensaio sobre a tipologia das formas de organização da
produção do caranguejo-uçá (Diegues, 1983). O propósito do ensaio é analisar a extração do
caranguejo-uçá, enfocando as relações sociais e instrumentos de produção, buscando melhor
compreensão das similaridades e heterogeneidades que cercam essa atividade produtiva
regionalmente. O método para a criação das tipologias será apresentado na seção 3.3 ANÁLISE
DE DADOS.

Uma observação deve ser feita no que concerne à utilização de tipologias para a
representação do cenário local. Como destaca Diegues (op. cit.), as categorias utilizadas
devem ser consideradas antes como instrumentos de trabalho, destinados a explicar
processos de mudança e não como modelos estáticos e universais. Desta forma, a obtenção
das categorias não se prestará ao simples propósito de caracterização do sistema produtivo,
mas sim, permitirá considerar implicações da diversificação dos meios de produção para
gestão da atividade.
Uma vez construído o cenário local, o próximo passo foi aprofundar a discussão sobre
o papel dos conhecimentos e percepções dos usuários locais, como subsídio para a elaboração
de novas estratégias de gerenciamento.
Infelizmente, não haveria a possibilidade de abarcar em bases satisfatórias, a
totalidade de comunidades inseridas na unidade de conservação, devido às limitações
financeiras, necessidades metodológicas e curto espaço de tempo para a realização da
pesquisa. Desta forma, preferiu-se selecionar uma comunidade que fosse representativa para o
tema pesquisado, e que permitisse o maior aprofundamento na realidade local.
Tamatateua foi selecionada para este estudo em função de múltiplos fatores, dentre os
quais se destaca o fato da comunidade: i) apresentar grande número de coletores de
caranguejo; ii) oferecer fácil acesso; iii) contar com a presença de líderes locais bem
articulados e envolvidos nas discussões das problemáticas sócio-ambientais locais e,
principalmente, iv) possuir contato prévio (desde julho de 2005) do autor do presente estudo
com os moradores da comunidade. Esse último fator deve ser destacado, pois possibilita a
maior interação entre as partes, o que pode agregar qualidade às informações obtidas, uma vez
que a proximidade com a realidade local permite a redução de possíveis erros de
interpretação.
Com o intuito de investigar aspectos do conhecimento ecológico local e práticas de
manejo empregadas na atividade de exploração do caranguejo-uçá, bem como, obter
informações acerca da percepção dos coletores de caranguejo sobre o conteúdo dos
instrumentos legais que regem a atividade, foi utilizada uma técnica de entrevista sem
restrições na duração ou aprofundamento das respostas. Esse processo de entrevista aberta
(semi-estruturada) é muito flexível, na medida em que, a partir das respostas, novos assuntos
podem surgir, passando a ser explorados durante a entrevista (Seixas, 2005).
Apesar da flexibilidade caracterizada pelo emprego desse método, há a necessidade da
elaboração prévia de um roteiro com os assuntos e/ou questões a serem abordadas. As
entrevistas semi-diretas ou semi-estruturadas são mais uma conversação do que,
simplesmente, uma sessão de perguntas e respostas, dessa forma permitindo ao entrevistador
um melhor aprofundamento na realidade local (Huntington, 2000).
Essas entrevistas foram realizadas individualmente (n=23) ou em grupo (n=31),
dependendo da circunstância e tema abordado, pois não era desejável o condicionamento das
respostas, o que poderia distorcer fatos que compõe a realidade local. Também não houve
uma preocupação no sentido de selecionar os entrevistados, pois existia a necessidade de
atenuar a formalidade entre entrevistador e entrevistado(s), portanto as entrevistas foram
aleatórias e oportunísticas. Essa escolha também tem relação com o objetivo do trabalho, que
pretendeu analisar as informações obtidas de uma forma qualitativa. Obviamente, isso não
significa desprezar a importância de quantificar as informações, mas para o propósito desse
estudo, não se faz essencialmente necessário. Para registrar essas informações, grande parte
das entrevistas foi gravada com a devida autorização dos entrevistados. Berkes et al. (2001)
ressaltam que as informações obtidas por esse tipo de entrevista podem ser complementadas
pela técnica de observação participante.
A técnica da observação participante baseia-se na escuta e observação das pessoas e
do ambiente que são objetos de estudo durante a participação nas atividades cotidianas. Trata-
se de um processo flexível, aberto e oportunístico. É uma prática que exige bastante tempo de
permanência em campo, permitindo a investigação, mais aprofundada, das práticas de manejo,
das regras informais de gestão e dos processos de interação e organização social. É também
adequada para a investigação do conhecimento ecológico local, que muitas vezes é
transmitido por demonstrações práticas, ao invés de verbalizações (Seixas, 2005). Segundo
Berkes et al. (2001), é a mais efetiva técnica para apreciação das práticas pesqueiras,
permitindo ao gestor observar a ocorrência de instituições para a gestão dos comuns.
Esse procedimento foi utilizado na observação das atividades cotidianas dos
comunitários, com destaque para o acompanhamento dos coletores aos manguezais. As idas
aos manguezais foram realizadas com o propósito de observar e melhor compreender a
atividade de captura do caranguejo-uçá e, desta forma, aprimorar as bases para formulação e
formatação das questões a serem abordadas. Deste modo, espera-se atenuar as diferenças
culturais entre observador e observado e, assim, obter maior representatividade do cenário
local. O acompanhamento dos tiradores de caranguejo foi realizado de maneira a abarcar: i)
as variações sazonais de produção desse recurso; ii) as diferentes formas de deslocamento aos
manguezais (ex. bicicleta, canoa e barco motorizado) e, consequentemente, iii) os diversos
grupos de tiradores.
A organização de tais campanhas foi realizada através de contato com indivíduos ou
grupos no momento em que estavam preparando-se para as incursões aos manguezais. Nos
casos de empreitadas com barcos motorizados, foi solicitada a autorização prévia do
proprietário da embarcação e acertado o horário de partida. Para a efetivação desse método foi
necessário estabelecer o Porto do Atalaia5 como local-chave para a observação da
organização e para o estabelecimento do contato com esses produtores.
O processo de inquirição, no momento de suas atividades, foi realizado de forma a não
tolhê-los na sua lide, procurando-se, neste momento, observar suas práticas e registrar
informações para posterior averiguação. Para tanto, em determinados momentos foi utilizado
um caderno de anotações e/ou um gravador para o registro de informações.
Histórias orais (relatos históricos) foram utilizadas para melhor compreensão da
conjuntura da problemática de pesquisa. Segundo Baines & Hviding (1992), pescarias e
comunidades pesqueiras possuem um contexto histórico que molda o comportamento dos
pescadores. Desta forma, relatos históricos podem prover valiosas informações sobre
mudanças ocorridas ao longo do tempo, como por exemplo, a abundância ou escassez de
determinado recurso. Essas entrevistas foram realizadas, preferencialmente, com pessoas mais
antigas, com o intento de obter informações acerca da atividade de exploração do caranguejo-
uçá no passado, assim como, alcançar elementos das transformações ocorridas ao longo do
tempo.
Informantes-chave são indivíduos que possuem informações diferenciadas sobre
determinado tema. A identificação destes peritos é um processo muito importante, que pode
ser realizada, perguntando a diversos comunitários quem é conhecedor de certo tópico, ou o
próprio pesquisador reconhece-los através de suas atividades (Seixas, 2005). Essa técnica foi
utilizada, por exemplo, na procura por informantes para a concretização das histórias orais.

5
O Porto do Atalaia, é o maior porto de Tamatateua, e representa importante ponto de observação das atividades
locais ligadas à pesca, pois há grande concentração de profissionais (pescadores, coletores de caranguejo,
vendedores, marreteiros, etc.).
Possíveis erros de amostragem originados da metodologia empregada foram
abrandados através de entrevistas em grupo, com o objetivo de validação dos dados. Esse
procedimento foi realizado em ocasiões previamente acordadas ou momentos informais onde
houve condições para tanto.

3.3 ANÁLISE DE DADOS

Para organização das informações obtidas no cadastramento dos coletores de


caranguejo, foi confeccionado um banco de dados no software Microsoft Access, onde as
linhas da planilha representaram os tiradores (amostras) e as colunas as variáveis.
Esses elementos foram utilizados para a quantificação de algumas informações, assim
como, contextualizar o cenário do problema nos limites da reserva e a conjuntura em que a
comunidade de Tamatateua, alvo central do estudo, encontra-se imersa. Portanto, para este
propósito foram utilizadas ferramentas da estatística descritiva.
As tipologias das formas de organização da produção foram criadas a partir da seleção
de variáveis obtidas no cadastramento, de forma a agrupar os tiradores por semelhança de
suas práticas. Por exemplo, uma variável-chave para esse modelo é a forma de
comercialização do caranguejo, que pode estar apresentada por duas formas: venda in natura
e beneficiamento, logo, temos duas classes de venda distintas. Assim, os coletores foram
classificados a partir dessa variável, como: i) coletores com destinação da produção para o
beneficiamento ou ii) coletores com produção destinada para comércio in natura. A
combinação das situações ou classes, para as diferentes variáveis, em conexão com as
informações disponíveis na literatura, deram origem às tipologias.
As informações registradas através de gravador, originadas das variadas formas de
entrevista e da observação participante, foram transcritas na sua totalidade, respeitando a
estrutura lingüística do discurso. A análise dos dados obtidos foi procedida de posterior
codificação e agrupamento por similaridade de temas.
Os dados foram analisados a partir da triangulação das informações obtidas pelos
diferentes informantes e métodos, e no exame de dados secundários. A partir disso, os
aspectos convergentes e divergentes foram destacados e relacionados.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 APRECIAÇÃO DO SISTEMA PRODUTIVO DO CARANGUEJO-UÇÁ NA RESERVA EXTRATIVISTA


MARINHA CAETÉ-TAPERAÇU

4.1.1 Análise do Cadastramento

Foram cadastrados 723 coletores de caranguejo oriundos de 21 comunidades, sendo


que a maioria dos cadastros obtidos corresponde às comunidades do Treme, Tamatateua e
Caratateua (Figura 2). Tais valores representam, exclusivamente, os coletores que foram
registrados no processo censitário organizado pela ASSUREMACATA. Segundo o presidente
da associação, esse número representa aproximadamente 50% do total de coletores da
RESEX. Em estudo realizado na mesma área, Araújo (2006) registrou 1.195 coletores em seis
localidades (Acarajó, Bacuriteua, Caratateua, Tamatateua, Treme e Bragança). Destaca-se que
as cinco primeiras comunidades são localmente reconhecidas como as mais populosas e com
maior número de tiradores. Portanto, a contribuição numérica do restante das localidades,
aparentemente, é pequena quando comparada àquelas comunidades, o que sugere uma
aproximação dos valores obtidos.
o
N de cadastros
200
180
160
140
120
100
80
60
40
20
Vila São Benedito
Porto da Mangueira

Taperaçu-Campo

Vila Qui-Era
Vila do Meio
Acarajozinho

Rio Grande
Bacuri Prata

Bacuriteua

Tamatateua

Taquandeua
Caratateua

0
Bragança

P. Socorro

Pontinha
Patalino
America
Aciteua

Retiro
Acarajó

Treme

Figura 2. Número de coletores cadastrados nas comunidades da RESEX Marinha Caeté-


Taperaçu, Bragança-PA.
O número de cadastrados apresentados para algumas comunidades, mais
especificamente Bacuriteua e Acarajó, está muito abaixo do esperado. Talvez esses valores
estejam refletindo certo grau de desorganização das comunidades em relação aos esforços da
associação dos usuários da RESEX. Essa informação é importante para futuros esforços de
gestão participativa, pois permite a formatação prévia de estratégias que venham a contribuir
para a organização comunitária.
Devido ao baixo número de cadastros em algumas comunidades e, por isso, não
conformarem um cenário representativo, não foi possível realizar comparações ao nível
comunitário. Ao invés disso, serão apresentadas algumas informações objetivando prover, um
breve panorama da atividade de exploração do caranguejo-uçá, no âmbito da Reserva
Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu.
O processo de cadastramento dos coletores permitiu a obtenção de informações
relativas à documentação e filiação aos órgãos de classe por parte dos coletores (Tabela 1).
Percebe-se que pouco mais de 70% são filiados à associação da RESEX, cerca de 37% são
associados às colônia de pescadores, e pouco mais de 40% possuem a carteira profissional da
SEAP (Secretaria de Pesca e Aquicultura). Em relação aos documentos pessoais, 90%
possuem carteira de identidade e cerca de 80% possuem CPF (Cadastro de Pessoa Física),
porém somente 40% têm título de eleitor.

Tabela 1. Documentação e filiação dos coletores cadastrados na RESEX Marinha Caeté-


Taperaçu, Bragança-PA.
Cadastro %
Reserva 71,8
Colônia 36,9
SEAP 43,4
Título de eleitor 40,9
Identidade 90,5
CPF 82,8

A idade média dos tiradores foi de 37 ± 11 anos, que trabalham em média quatro dias
na semana e capturam 169 ± 43,83 caranguejos/dia/homem (Figura 3). Valores similares
foram registrados nos manguezais paraenses. Em estudo realizado no Furo Grande por Diele
et al. (2005), foi determinada uma CPUE (Captura por unidade de esforço) de 150
caranguejos/dia/homem. Araújo (2006) encontrou valores de CPUE de 189 para áreas
localizadas fora e 140 para dentro da península bragantina. Fiscarelli & Pinheiro (2002) e
Jankowsky et al. (2006), em estudos realizados no litoral paulista, reportaram rendimentos
diários de aproximadamente 132 e 136 caranguejos por produtor, respectivamente.
Como apresentado por Glaser (2003), as atividades relacionadas à produção do
caranguejo-uçá (captura, beneficiamento e comércio) representam a principal fonte de
rendimentos mensais para mais da metade dos lares locais. A média mensal obtida para
coletores das 21 comunidades foi de R$ 228,00 ± 125,06 (Figura 4). Esse valor, quando
comparado ao estudo de Glaser & Diele (2004) não apresentou grandes variações, pois as
autoras registraram uma renda mensal de R$ 176,00.
o
N de caranguejos/dia
350

300

250

200

150

100

50

Vila São Benedito


Porto da Mangueira

Taperaçu-Campo

Vila Qui-Era
Vila do Meio
Acarajozinho

0 Rio Grande
Bacuri Prata

Bacuriteua

Tamatateua

Taquandeua
Caratateua
Bragança

Pontinha
Patalino
P. Socorro
America

Retiro
Aciteua
Acarajó

Treme

Figura 3. Média diária do número de caranguejos capturados e respectivos valores de desvio


padrão no âmbito da Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA.

Renda mensal
1000

800

600

400

200
Vila São Benedito
Porto da Mangueira

Taperaçu-Campo

Vila Qui-Era
Vila do Meio
Acarajozinho

Bacuri Prata

Rio Grande
Bacuriteua

Tamatateua

Taquandeua

0
Caratateua
Bragança

P. Socorro

Pontinha
Patalino
America
Aciteua
Acarajó

Retiro

Treme

Figura 4. Renda média mensal e respectivos valores de desvio padrão das comunidades no
âmbito da Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA.

O deslocamento dos coletores até as áreas de coleta é realizado através de vias


terrestres ou aquáticas (Figura 5). Os coletores de caranguejo utilizam várias formas de
transporte como condução aos manguezais (Figura 6), tais como, embarcações motorizadas
ou não, transportes via terrestre próprio (ex. bicicleta) e transporte via terrestre pago (ex.
ônibus, caminhão) . A utilização dos meios de transporte é dependente das condições
disponíveis em cada localidade. Coletores de algumas comunidades, tais como: Treme,
Tamatateua, Vila Que Era e Caratateua possuem portos para o embarque e desembarque,
dessa forma, possibilitando o acesso às áreas por meio de embarcações, sejam motorizadas ou
não. Os portos localizados nas referidas comunidades também são utilizados por tiradores
provenientes de comunidades próximas, como é o caso de produtores do Patalino, os quais se
deslocam até Tamatateua.
Por outro lado, comunidades localizadas próximo à rodovia PA-458 (Bragança-
Ajuruteua), tais como: Bacuriteua, Acarajó, Pontinha e Bragança utilizam-se de bicicletas,
ônibus e caminhão (quando dependentes de um “patrão”) para o acesso às áreas de captura.
Existe também a possibilidade de deslocamento até alguns locais como, por exemplo, o Furo
Grande, onde os coletores organizam-se em grupos para a condução através de embarcações
até os locais de captura.
Logicamente, há aqueles que se dirigem aos manguezais próximos às residências. No
entanto, atualmente essa prática dá-se de forma esporádica, devido à escassez de caranguejos
de tamanho comercial nestas áreas. Provavelmente, esse fato seja conseqüência de elevada
pressão pesqueira e crescimento demográfico, podendo resultar em desmatamento de áreas de
manguezal para a criação de áreas agricultáveis e/ou para a construção de habitações (Glasser
& Grasso, 1998; Araújo, 2006).
Como observado na Figura 6, os transportes utilizados, na maioria das vezes, não são
de propriedade do coletor, com exceção daqueles que utilizam bicicletas e alguns poucos que
possuem uma canoa. Porém, a propriedade dessa embarcação, em muitos casos, permite que
esses proprietários tornem-se “empresários”, como eles nomeiam a si próprios, e, assim, não
necessitem ir ao manguezal.
As duas figuras permitem inferir que a coleta de caranguejo-uçá está dependente de
áreas mais distantes das comunidades, uma vez que grande parte dos coletores desloca-se por
via aquática com embarcação motorizada. Esta informação é de suma importância para a
avaliação futura da atividade, e também indica um possível crescimento das condições de
dependência dos “patrões” locais, por parte dos tiradores, uma vez que estes não possuem
acumulação de capital suficiente para o investimento em tecnologia para otimizar sua
produção.
Vias de acesso

Ambos

22

Via terrestre

74

Via aquática

0 20 40 60 80 100

Figura 5. Número percentual das vias de acesso às áreas de captura utilizados na Reserva
Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA

Tipos de transporte
16
Ambos
11
Transp. terrestre próprio
10
Transp. terrestre pago
25
Embarcação não motorizada
37

Embarcação motorizada

0 20 40 60 80 100
%

Figura 6. Número percentual dos tipos de transporte utilizado para o deslocamento às áreas de
captura na Reserva Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA.

Aproximadamente 92% dos coletores cadastrados não detêm o domínio do processo


de comercialização (Figura 7). Dessa forma, esses produtores ficam atrelados aos
intermediários ou “marreteiros”, em uma relação, onde baixos preços são pagos aos
produtores (Glaser, 2003; Glaser & Diele, 2004, Araújo, 2006).
A dependência de atravessadores deve-se, em parte, à natureza da atividade, uma vez
que os tiradores de caranguejo despendem grande parte do dia na captura, e deste modo,
pouco tempo lhes resta para a comercialização. Associado à longa jornada de trabalho, as
condições estafantes as quais esta classe de trabalhadores é submetida, pode limitar sua
disponibilidade para comercialização da produção. Em relação às condições a que são
submetidos os tiradores de caranguejo, Maneschy (1993), em estudo realizado no município
de São Caetano de Odivelas, relatou a interrupção de suas atividades devido à fadiga e às
lesões decorrentes da lide. Ressalta-se que esses trabalhadores, não possuem as condições
para a estocagem da produção, uma vez que o caranguejo é um produto de alta perecibilidade
e que as tentativas para o beneficiamento da produção estão condicionadas aos investimentos
de capital.

0,6

Ambos

8,2

Consumidor

91,2

Atravessador

0 20 40 60 80 100

Figura 7. Número percentual dos processos de comercialização do caranguejo-uçá na RESEX


Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA.

O processo de escoamento da produção é complexo e dependente do sistema de


produção. A produção é comercializada via dois sistemas, in natura e beneficiamento. O
primeiro é destinado a atender a demanda do produto in natura, ou seja, o caranguejo ainda
vivo, que é distribuído no mercado através de unidades designadas localmente como
cambada, que é composta por 14 caranguejos atados por um fio (atilho). O sistema de
produção destinado para o beneficiamento atende a demanda por dois produtos: i) a carne de
caranguejo e ii) as patas (quelípodos), que normalmente são comercializados em embalagens
contendo 1 kg. Informações mais detalhadas sobre os sistemas de produção e,
consequentemente, de comercialização podem ser encontradas em Blandtt & Glaser (1999),
Cunha & Glaser (1999), Glaser (1999), Alves (2003) e, mais recentemente, em Araújo (2006),
que apresenta elementos sobre os canais de comercialização e caracterização dos agentes
mercantis evolvidos.
Os dados apresentados neste trabalho apontam para uma dedicação de cerca de 60%
dos tiradores de caranguejo cadastrados, ao sistema de produção com destinação à
comercialização do caranguejo in natura (Figura 8). Esse resultado ilustra, exclusivamente,
uma estimativa da proporção de coletores de caranguejo que estão envolvidos em cada
sistema de produção. Apesar dos dados apresentados aqui não acusarem grandes diferenças
no rendimento diário de caranguejo entre os trabalhadores dos diferentes sistemas de
produção, Blandtt & Glaser (1999) encontraram valores de rendimentos duas vezes superiores
para trabalhadores inseridos no sistema de produção com destinação ao beneficiamento. Um
elemento que pode estar influenciando diferentes resultados é a desconfiança, por parte dos
tiradores do sistema com destinação ao beneficiamento, em relatar valores reais de produção,
pois eles podem ser superiores ao permitido no plano de utilização da RESEX.

2,6

Ambos

36,9

Beneficiamento

60,5

In Natura

0 20 40 60 80 100

Figura 8. Número percentual das formas de comercialização do caranguejo-uçá na RESEX


Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança-PA.

Apesar de previamente identificados, à exceção do estudo de Araújo (2006), nenhum


dos trabalhos que compõe as informações disponíveis, regionalmente, acerca das formas de
produção do caranguejo-uçá abarcaram as diferenças existentes entre grupos de tiradores
atuantes em um mesmo sistema de produção. Além disso, embora alguns trabalhos já tenham
investigado a exploração do caranguejo-uçá na área em questão e, conseqüentemente,
fornecido importantes informações para a gestão, não houve ainda um esforço na tentativa de
compreender as conseqüências da diversificação dos meios de produção para o gerenciamento
da atividade na área em estudo. O tópico abaixo pretende preencher parte desta lacuna,
visando aprimorar as bases para a discussão e a formatação de futuros esforços de gestão.
Porém, antes de passar ao próximo tópico, um fato deve ser destacado no que concerne
à utilização destes dados para a administração da atividade. Os dados aqui apresentados são
produto dos esforços dos usuários e da associação da RESEX, no sentido de melhor
compreender as dificuldades e potenciais gargalos para a efetivação de medidas de gestão
participativa no âmbito da RESEX. Desta forma, os primeiros passos estão sendo dados em
direção ao desenho de instituições locais para a resolução e representação dos problemas e
conflitos associado ao uso de recursos naturais na RESEX.

4.1.2 Ensaio de Tipologia das Formas de Organização da Produção

O ensaio de tipologia das formas de organização da produção do caranguejo-uçá na


Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu foi fundamentado na análise descrita por
Diegues (1983). Em um livro intitulado Pescadores, Camponeses e Trabalhadores do Mar,
no 8°capítulo, o autor analisa a produção pesqueira do litoral norte de São Paulo, utilizando
instrumentalmente, um ensaio de tipologia das formas de organização de produção da pesca.
Segundo esse autor, os agentes da produção (pescadores/não pescadores) interagem sob
formas ou modelos constituídos historicamente, e embora em dados momentos uma dessas
formas seja dominante, elas coexistem e se articulam.
Do mesmo modo, a atividade de exploração do caranguejo-uçá, através de diferentes
combinações dos fatores produtivos nas relações sociais de produção, permitiu a formatação
de distintas formas de organização da produção.
Como foi relatado anteriormente, diversos trabalhos abordaram as relações sociais de
produção na cadeia produtiva do caranguejo-uçá, no litoral paraense (Bemerguy, 1992;
Maneschy, 1993; Blandtt, 1999; Blandtt & Glaser, 1999; Cunha & Glaser, 1999; Glaser,
1999; Cardoso, 2000, Blandtt, 2002; Alves 2003; Drude; 2003; Maneschy, 2005; Araújo
2006; Magalhães, et al.; 2007; Reis, 2007).
Para a realização deste ensaio, foram tomados de empréstimo, da literatura relacionada
ao tema investigado, elementos que objetivamente possam compor distintos cenários (formas)
de organização da produção. As informações que deram origem à caracterização dos
diferentes modos de organização da produção são aqui mencionadas como “variável
balizadora”. O resultado desse procedimento está apresentado no organograma (Figura 9),
onde os polígonos com molduras simples, assim como o com linha pontilhada, representam os
atores envolvidos na cadeia produtiva. Os polígonos com molduras compostas representam os
processos de distinção entre as categorias e subcategorias.
Alguns autores (Blandtt & Glaser, 1999; Glaser, 1999) distinguiram duas formas de
organização da produção de caranguejo-uçá: o sistema tradicional e o sistema moderno, ou
como previamente apresentado, os sistemas com a produção destinada à comercialização in
natura ou para o beneficiamento.
Para o presente estudo, foi considerada essa classificação com o objetivo de distinguir
dois sistemas de produção. Para tanto a variável balizadora ou o “fator variável”, como
utilizado por Diegues (1983), foi a qual demanda de mercado se destina a produção, se para o
beneficiamento, ou para a comercialização do produto in natura. Portanto, como mostrado no
organograma (Fig. 9), a atividade de exploração do caranguejo-uçá (AEC) na Resex Caeté-
Taperaçu é composta por dois sistemas de organização da produção, sistema tradicional (T) e
sistema moderno (M). Estes sistemas foram caracterizados pela presença ou ausência de
beneficiamento (B).
O beneficiamento, geralmente, é feito por mulheres das comunidades do Treme e do
Caratateua (Araújo, 2006). Entretanto há informações de catações6 em outras localidades,
como por exemplo, em Tamatateua, porém a freqüência e escala de produção são inferiores.
Alves (2003) e Magalhães et al. (2007) fornecem informações mais detalhadas desse
elemento da cadeia produtiva.
Apesar de distinguir dois sistemas de organização da produção (tradicional e
moderno), esses sistemas não operam de forma homogênea, portanto o próximo passo foi a
identificação dos subsistemas inseridos. Para tanto, a variável balizadora selecionada, foi a
presença de agentes mercantis na cadeia produtiva, utilizando como referência, os trabalhos
de Araújo (2006) e Reis (2007).
O primeiro fator de separação foi a presença (CA) ou ausência (SA) de atravessadores.
O segundo fator só se aplica ao sistema moderno e é diferenciada pela atuação de um agente
mercantil, aqui referido como comerciante local. Conseqüentemente, a presença deste agente
é representada por (CCL) e a ausência por (SCL). Desta forma obtemos oito classes para a
organização da produção do caranguejo-uçá, na Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçu.

Sistema Tradicional:
· Tipologia I - O caranguejo capturado é comercializado diretamente, sem
intermediação.
· Tipologia II - O caranguejo capturado é comercializado através da intermediação de
um atravessador (A).
· Tipologia III - O caranguejo capturado é comercializado através da intermediação de
um atravessador (AP), porém esse é “patrão” do produtor (tirador de caranguejo).

6
O processo de beneficiamento é denominado localmente como catação. Esse processo consiste basicamente em
lavar, esquartejar e cozinhar caranguejo, depois separar a carne.
Desta forma, o produtor não tem poder de barganha, sendo o preço definido pelo
patrão.
· Tipologia IV – Essa classe representa uma atividade que é realizada principalmente
aos finais de semana (sexta-feira e sábado), onde os produtores são agenciados por um
componente da cadeia produtiva, chamado “organizador de turma” (O). O organizador
de turma é geralmente um comerciante local, que é responsável por selecionar um
grupo de tiradores para embarcar em um caminhão fretado pelo comerciante do
caminhão (AC). O comerciante do caminhão é um atravessador que freta o veículo
para levar os tiradores às áreas de captura, com a condição de que a produção total de
cada tirador seja vendida a ele. Esses agentes mercantis compram em grande
quantidade e a produção é destinada ao mercado externo, a cidade de Bragança. Para a
venda da produção, os comerciantes do caminhão “contratam” os vendedores de
caranguejo (V). Estes são, na maioria das vezes, jovens que não trabalham na captura
do caranguejo, mas são responsáveis por comercializar a produção.
Sistema Moderno:
· Tipologia I - O caranguejo capturado é beneficiado e comercializado diretamente, sem
intermediação.
· Tipologia II - O caranguejo capturado é beneficiado e comercializado através da
intermediação de um atravessador (A), que revende a um varejista (VAR) e esse
repassa ao consumidor (C).
· Tipologia III - O caranguejo capturado é beneficiado e comercializado através da
intermediação de um atravessador (AP), porém esse é “patrão” do produtor (tirador de
caranguejo). Desta forma, o produtor não tem poder de barganha, sendo o preço
definido pelo patrão. O atravessador (AP) revende a um varejista (VAR) e esse, por
sua vez, repassa ao consumidor (C).
· Tipologia IV - O caranguejo capturado é beneficiado e adquirido por um comerciante
local (CL), que possui as condições para o armazenamento do produto. Este
comerciante normalmente está vinculado a um atravessador (A) externo da
comunidade, com grande poder de compra. Esse atravessador revende a produção a
um varejista (VAR) e esse, por sua vez, repassa ao consumidor (C).

Alguns autores utilizaram, instrumentalmente, o recurso das tipificações para avaliar a


evolução dos sistemas técnicos pesqueiros. Diegues (1983) analisou as formas de organização
pesqueira do litoral norte paulista, utilizando como variáveis, entre outros elementos, os
aspectos tecnológicos, informações acerca da percepção do espaço marítimo e a procedência
do conhecimento pesqueiro, os instrumentos produtivos e sua propriedade, bem como, as
características do processo de comercialização e a estrutura social. O autor verificou que os
fatores produtivos nas relações sociais de produção assumem diferentes modelos de operação
e caracterizam distintas formas de organização da produção na pesca.
No litoral paranaense, Andriguetto-Filho (2002, 2003) enfocou a mudança técnica e o
processo de diferenciação dos sistemas de produção pesqueira. O autor descreveu, por meio
de um modelo evolutivo a partir de um ancestral agro-pesqueiro, os padrões de diferenciação
de seis sistemas de produção. Para o autor, a diferenciação dos sistemas é causada, sobretudo,
pela evolução do mercado, dinâmicas demográficas e inovações técnicas.
Ainda que os autores acima tenham abordado as heterogeneidades que configuram os
sistemas de produção pesqueiros, sob uma grandeza de complexidade superior ao do presente
estudo, uma vez que ambos não se limitaram a analisar as atividades referentes à explotação
de exclusivamente um alvo pesqueiro, pode-se dizer que, o cerne dos padrões de
diferenciação dos sistemas, responde às variáveis de natureza similar.
Dessa maneira, a formatação de diferentes formas de organização da produção, assim
como o surgimento de diferentes atividades e, consequentemente, de novas classes de
trabalhadores (catadoras, vendedores, etc.), configura a evolução da atividade em resposta aos
estímulos de mercado, mudanças tecnológicas, sociais e alterações ambientais. Portanto, a
atividade de exploração do caranguejo-uçá, na área da Reserva Extrativista Marinha Caeté-
Taperaçu, assume diferentes graus de complexidade, baseado no número de componentes da
cadeia produtiva.
A realização deste ensaio permitiu compreender, ainda que de forma preliminar, que
os tiradores de caranguejo respondem a diferentes estímulos produtivos, e desta forma seu
comportamento responde a esses incentivos. Essas diferenças poderão ser melhores
compreendidas com análises ao nível individual, buscando informações acerca de suas
percepções da atividade, assim como: idade, período de tempo que exerce a atividade e de que
forma dedica-se a ela, se em um período total ou parcial combinando com outras atividades,
pesqueiras ou não.
Vale destacar que a obtenção das tipologias responde às variáveis selecionadas, desta
forma, a percepção e a inclusão de outras variáveis no modelo de análise poderão resultar em
diferentes classes. Portanto, o presente ensaio não é mais do que uma simplificação da
realidade, utilizado para facilitar a compreensão da complexidade e dinâmica inerentes à
atividade de exploração do caranguejo-uçá.

AEC

B
T M

CA SA CA SA

O
A AP AC C SCL CCL C

C C V A AP CL

Legenda C VAR VAR A


A - atravessador
AC - atravessador comerciante de caminhão
AEC - atividade de exploração do caranguejo-uçá
AP - atravessador patrão
B - beneficiadores
C - consumidor
C C VAR
CA - presença de atravessador
CCL - presença de comerciante local
CL - comerciante local
V - vendedor de caranguejo
M - sistema de produção moderno C
O - organizador de turma
SA - ausência de atravessador
SCL - ausência de comerciante local
T - sistema de produção tradicional
VAR - varejista

Figura 9. Organograma representativo das formas de organização da produção e atores


envolvidos na atividade de exploração do caranguejo-uçá na Reserva Extrativista Caeté-
Taperaçu, Bragança-PA.

4.2 CONHECIMENTO ECOLÓGICO LOCAL E PRÁTICAS LOCAIS DE MANEJO

O complexo formado pelos conhecimentos, práticas e valores é denominado


conhecimento ecológico local. Esse complexo incorpora não somente o conhecimento sobre
os recursos e ecossistemas, mas também sobre os regimes de manejo e instituições sociais
(normas, acordos, regras) que intermedeiam o uso dos recursos naturais (Berkes, 1999). Davis
& Wagner (2003) definem o termo Conhecimento Ecológico Local (a partir de agora aqui
tratado como CEL), como um sistema de compreensões e “saber-fazer” que evolui ao longo
do tempo, a partir de experiências e observações individuais e coletivas, mediadas pela
cultura, considerando fatores ambientais, características comportamentais e a dinâmica
ecológica.
Embora haja na literatura uma ampla terminologia sobre esse corpo de conhecimentos
(Local, Tradicional, Nativo, Indígena, entre outras), preferiu-se neste trabalho utilizar o CEL
para facilitar a compreensão através da padronização do termo. Todavia, a opção por
determinado termo, segundo Berkes (1999), é controverso e passível de críticas. Não é
objetivo do presente trabalho a discussão sobre a nomenclatura desses sistemas de
conhecimentos, portanto, deixaremos essas discussões para aqueles que objetivam a mesma,
como é o caso de Palmer & Wadley (2007).
Alguns autores têm apresentado estudos relativos à estruturação desses conhecimentos
(Ruddle, 2000; Houde, 2007). Em interessante trabalho, Houde (2007), através da revisão da
literatura, identificou seis faces (características) do CEL: i) observações, classificações e
dinâmicas; ii) sistemas de manejo; iii) usos presentes e passados; iv) ética e valores; v) cultura
e identidade e vi) cosmologia.
São diversos os exemplos na literatura onde aspectos do CEL e os sistemas locais de
manejo são apresentados e analisados (Johannes, 1978; Evans et al., 1997; McClanahan et al.,
1997; Veitayaki, 1997; Anuchiracheeva, 2003; Aswani & Hamilton, 2004; Lobe & Berkes,
2004; Silvano & Begossi, 2005). Através do CEL pescadores definem os direitos de uso e as
formas de utilização, os territórios de pesca, os códigos e as regras de uso (Berkes, 1993;
Johannes et al., 2000). Essas normatizações locais são embasadas na cosmologia local
(Houde, 2007). Portanto, a incorporação dessas pelos processos de gestão pesqueira, pode
desempenhar um importante papel na efetivação dos instrumentos de ordenamento nas
comunidades locais.
As entrevistas e a observação das atividades dos tiradores de caranguejo revelaram
interessantes aspectos do conhecimento desses produtores. O primeiro tema abordado é sobre
a organização das idas aos manguezais e a escolha das áreas de captura.
A escolha das áreas de captura está relacionada à decisão de “como ir pro mangal”.
Em Tamatateua há três possibilidades. A primeira refere-se à captura de caranguejos próximo
às áreas da comunidade, em que os tiradores se deslocam à pé, organizam-se em pequenos
grupos, ou como observado, na maioria das vezes, deslocam-se sozinhos ou no máximo em
dupla. De acordo com os tiradores, essa atividade só é realizada quando a motivação de
captura é para a obtenção de alimento, ou quando não há mais canoas disponíveis ou lugar
nos barcos motorizados.
A segunda possibilidade diz respeito aqueles que se deslocam por meio de canoas. As
áreas freqüentadas correspondem àquelas próximas ao porto da comunidade (Porto do
Atalaia), principalmente nos rios Manitil e Velho. A escolha dos pontos de captura é
dependente do conhecimento prévio de alguns locais de captura, na observação da quantidade
e tamanho dos caranguejos e na observação de sinais deixados por outros tiradores. Segundo
os entrevistados, quando o manguezal está todo “mexido” ou “esbandalhado”, não vale a
pena tentar a captura nestes locais, então eles buscam outros pontos para a coleta. Foi
observado que os tiradores deslocam-se às áreas em pequenos grupos de duas a oito pessoas e,
normalmente, desembarcam em locais próximos, pois segundo eles os manguezais mais
contíguos das comunidades já não possuem a mesma quantidade de caranguejo de alguns
anos atrás, assim há a necessidade do deslocamento às outras áreas.
Quando utilizam barcos motorizados para o acesso às áreas formam grupos maiores,
de dezoito a trinta tiradores, e as áreas de captura são mais distantes do porto. Segundo as
observações realizadas, o tempo médio de deslocamento é de aproximadamente duas horas.
Os tiradores vão desembarcando em grupos pequenos no percurso de deslocamento. Portanto,
a escolha dos pontos de coleta é individual e é baseada no acaso, porém o destino da
embarcação é acordado entre o tirador, que vai conduzindo a embarcação, e o proprietário.
Algumas vezes, outros tiradores também foram observados envolvidos nos processo de
decisão para a escolha da área de captura. Normalmente eles relatavam experiências mal ou
bem sucedidas, ocorridas na mesma semana ou na semana anterior, com o propósito de
diminuir os riscos e otimizar a produção.
Independentemente do modo como se deslocam para a captura do caranguejo, os
coletores demonstraram possuir um conhecimento sobre as população de caranguejos e os
bosques de mangue. Segundo eles há manguezais que são berçários, pois há grande
quantidade de caranguejos pequenos e fêmeas. Mas existem bosques em que o caranguejo é
mais raso ou mais fundo (a relação raso ou fundo corresponde a profundidade da toca), há
também locais onde o caranguejo é graúdo. Também os tiradores associam as características
da população de caranguejo às peculiaridades do sedimento e da espécie arbórea dominante
no bosque. Os manguezais denominados areais (nomenclatura utilizada para o sedimento com
maior presença de areia), normalmente possuem caranguejos menores e flora dominada por
siribeiras (Avicennia germinans) e menos frequentemente tinteiras (Laguncularia racemosa).
Em contrapartida, há locais onde predomina o tijuco (nomenclatura utilizada para o sedimento
com maior presença de silte e argila), onde o caranguejo é maior e há dominância de bosques
de mangueiro (Rhizophora mangle).
Miranda (2003) analisou as dinâmicas de apropriação dos recursos bênticos de
manguezais no complexo estuarino da baía de Paranaguá, no litoral paranaense, e concluiu
que estas são, profundamente, articuladas com os saberes dos comunitários, sobre as
fisiografias locais e com o conhecimento específico sobre abundância, distribuição e distintos
aspectos da biologia da fauna explorada. Segundo a autora, as relações simbólicas e materiais
dessas comunidades com as heterogeneidades dos ecossistemas e seus recursos condicionam
uma dinâmica de relações socioambientais marcada por interdependências ecológicas,
econômicas, e socioculturais, embasadas em relações ora de solidariedade, ora de
rivalidade, tanto intra como intergrupais.
A identificação de sítios com diferentes estruturas populacionais revela ainda outra
habilidade dos tiradores, a distinção entre o tamanho e o sexo dos caranguejos. Segundo os
coletores o tamanho dos caranguejos está relacionado com a dimensão da abertura da toca. Os
informantes relataram que algumas vezes encontram caranguejos pequenos em tocas grandes,
porém, segundo eles, isso ocorre em áreas onde a pressão de captura é intensa, desta forma a
presença de caranguejos de menor tamanho em aberturas maiores seria decorrente da captura
dos indivíduos maiores.
Quando indagados sobre como identificam as diferenças entre fêmeas e machos,
relataram que além das tocas dos machos possuírem maiores aberturas, elas frequentemente,
apresentam rastros mais espessos. Porém em determinadas situações, decorrentes de
condições de maré e pluviosidade, sentem-se impossibilitados de fazer tal distinção, desta
forma, a identificação do sexo é realizada no momento em que capturam o caranguejo. As
características que permitem a identificação, segundo os coletores, são o tamanho da
carapaça, a presença de pêlos em maior ou menor quantidade na região inferior das patas, o
perfil mais ou menos delgado da unha (primeiro segmento das patas) e o imbigo (umbigo), a
parte inferior da carapaça. Com o objetivo de avaliar a habilidade dos coletores de caranguejo
no litoral paraibano em relação à identificação do sexo desse crustáceo, Alves et al. (2005)
evidenciaram cerca de 75% de acerto na diferenciação do sexo.
O ciclo de vida dessa espécie é compreendido através de alterações no comportamento
ao longo do ano. Segundo os coletores, a reprodução do caranguejo acontece nos primeiros
quatro meses do ano, quando os caranguejos permanecem fora das galerias em grande
quantidade. Esse evento é localmente designado como souatá ou andada. Além disso, relatam
diferenças entre a ocorrência destes eventos, sendo que nas três primeiras andadas (janeiro,
fevereiro e março) há dominância dos machos, e em abril, acontece a andada da condurua
(fêmea). A partir de maio o caranguejo começa a procurar locais mais altos no manguezal, e
em junho e julho se enterram em profundas galerias, permanecendo deste modo até o final de
agosto ou meados de setembro. Esta fase é observada pelo decréscimo na quantidade de
caranguejo nos manguezais e pelas tocas tapadas, sendo entendido pelos coletores como o
período de crescimento do caranguejo. Eles relatam que o caranguejo muda de casco
(carapaça) e passa por uma fase em que fica de leite, expressão utilizada com referência à
presença de uma substância viscosa de coloração branca, que ocorre em período anterior ao
endurecimento da nova carapaça.
Neste período, segundo os coletores a atividade de captura é extremamente difícil, pois
não há muitas tocas abertas, e o caranguejo que está enterrado está muito fundo, e muitas
vezes, está de leite, ficando frágil e impróprio para o consumo.
Apesar de pequenas diferenças encontradas na duração dos períodos da ecdise (troca
de carapaça) e na nomenclatura utilizada, o resultado dos trabalhos de Alves & Nishida
(2002) e Souto (2007), realizados no litoral nordestino, apresentam percepções similares às
relatadas por tiradores de caranguejo no presente estudo. Aproximadamente em outubro, após
a troca de carapaça, os caranguejos saem das tocas e começam a fase de engorda. Esse
período é tido como o início da safra, que se estende até dezembro ou a primeira lua de
sizígia (cheia e nova) de janeiro, quando começa a fase reprodutiva. Destaca-se que os
tiradores relacionam as fases do ciclo de vida do caranguejo com as variações lunares e,
consequentemente, de maré, corroborando com as informações relatadas por Diele (2000) e
Alves & Nishida (2002).
O conhecimento sobre as variações de maré também permite aos tiradores de
caranguejo a identificação de melhores períodos para a captura. Da mesma maneira, Nishida
et al. (2006) relataram a influência dos ciclos lunares nas atitudes de captura de crustáceos e
moluscos no litoral paraibano. Portanto, as informações sobre as variações de maré, em
sinergia com o conhecimento sobre o ciclo de vida, a identificação do tamanho e sexo dos
caranguejos, bem como, a percepção de diferentes características das áreas de captura,
representa importantes aspectos na estruturação e adequação de estratégias para otimização da
captura.
Estes saberes também permitem a formatação de práticas locais de manejo. No caso da
explotação do caranguejo-uçá, uma prática é a seletividade de captura, onde as fêmeas não
são apanhadas e somente os machos de maior tamanho são capturados. Embora atualmente a
seletividade seja influenciada pelo mercado, no caso do sistema de produção para a venda do
caranguejo vivo o preço pago é proporcional ao tamanho do caranguejo, havendo também
restrição na compra de fêmeas. Tal prática já vem sendo empregada tradicionalmente. Os
coletores relataram que quando iniciavam suas atividades no manguezal, os profissionais mais
experientes, normalmente avôs, pais, tios ou vizinhos, explicavam-lhes que deveriam ser
preferencialmente capturados os caranguejos com maior tamanho, e que as fêmeas deveriam
ser deixadas no manguezal, pois elas eram responsáveis pela manutenção do estoque. Apesar
de não haver dados precisos de quanto tempo essas práticas são empregadas, entrevistas com
tiradores aposentados fornecem indícios de que em um período muito anterior à inserção da
atividade no mercado essa técnica já era utilizada.
Outra prática associada ao manejo deste recurso é o descanso das áreas de captura, ou
seja, intervalos de tempo para a utilização da mesma área. Ainda que o valor deste intervalo
tenha variado muito entre os informantes (de uma semana a mais de um mês), todos os
coletores entrevistados disseram praticar esse manejo. A causa para os intervalos seria a
grande quantidade de tiradores de caranguejo nos manguezais atualmente, o que segundo eles,
não permite que haja caranguejo em quantidade nos pontos de captura. Daí a necessidade de
um intervalo para que a população se restabeleça, pois relatam que o caranguejo é mina. A
palavra mina é utilizada para definir o processo de repovoamento de determinada área. Piou et
al. (2007) sugerem que a recolonização das áreas poderiam ocorrer devido ao deslocamento
de caranguejos de locais onde a captura é prejudicada, em função de características
fisiográficas, como, por exemplo, áreas de grande densidade de raízes de Rhizophora spp., e
que a competição intra-específica seria o principal agente causador desta movimentação.
Embora a percepção dos tiradores de caranguejo sobre a origem destes processos de
recolonização não tenha sido avaliado no presente estudo, o desenvolvimento desta prática de
manejo é um indicador de que estes produtores possuem certa adaptabilidade às dinâmicas
populacionais do recurso por eles explorado.

4.3 IMPLICAÇÕES PARA A GESTÃO

Pescadores desenvolvem e implementam táticas e estratégias pesqueiras em resposta


às coações a que são submetidos e aos seus objetivos, baseado em um contexto humano,
social, cultural e econômico particular (Béné, 1996). Em outras palavras, pescadores possuem
diferentes preferências sobre o uso dos recursos, dependendo de suas metas grupais ou
individuais. Possuem também limitações impostas por variabilidades ambientais e do
mercado, as quais podem influenciar o modo que os pescadores exploram os recursos.
Gestores pesqueiros, geralmente, têm realizado suposições simplistas sobre as atitudes
dos pescadores quando definem as medidas de gestão. Hilborn (1985) sugere que o colapso de
muitas pescas pode ser melhor explicado como o resultado da falta de compreensão do
comportamento dos pescadores, ao invés da deficiência no conhecimento dos recursos
pesqueiros. Tradicionalmente, as abordagens da gestão pesqueira têm enfatizado as dinâmicas
populacionais dos recursos pesqueiros e a proteção ambiental. Segundo Salas & Gaertner
(2004), a pesca tem sido gerenciada através de regras sobre a quantidade de recurso que pode
ser explotada, ao invés de avaliar como, onde e quando os usuários dos recursos operam.
Esses autores concluem que é importante reconhecer a necessidade de uma mudança nos
arranjos regulatórios institucionais, permitindo a participação mais ativa dos usuários, e que
esta mudança requer o reconhecimento e a compreensão dos níveis organizacionais internos
das comunidades, o pluralismo ocupacional, as percepções de risco dos usuários e suas
atitudes em relação ao uso dos recursos.
Na análise do sistema de produção do caranguejo-uçá, na Reserva Extrativista
Marinha Caeté-Taperaçu, foram identificadas oito formas de organização da produção. As
diferentes configurações dos modos de produção, apesar de articulados, respondem a
diferentes estímulos e, dessa forma, operam distintamente. Conseqüentemente, os
rendimentos, o comportamento dos tiradores, a divisão social do trabalho, as áreas de captura
e os instrumentos de produção não se apresentam distribuídos homogeneamente. Além das
variações no comportamento dos tiradores estarem sendo influenciadas pelos estímulos das
formas de produção em que estão inseridos, diferenças individuais no comportamento dos
tiradores também configuram o modo que eles atuam. Assim, a compreensão da
complexidade e da dinâmica das estratégias de operação deverá ser incluída na procura por
alternativas de gestão mais efetivas.
Utilizando como referência os mapas das áreas de captura das comunidades de
Caratateua, Treme e Tamatateua, apresentados por Araújo (2006), é possível perceber que os
tiradores dessas comunidades atuam em diferentes locais e com distintos esforços.
Claramente, os tiradores oriundos de Caratateua concentram-se nas áreas da península
bragantina, já os tiradores procedentes de Tamatateua freqüentam áreas a oeste da península e
os do Treme a leste, chegando às áreas de manguezal no Estado do Maranhão. Em sendo
assim, o uso dos sítios de captura parece respeitar a localização de cada comunidade. Begossi
(2001) estudou a apropriação dos espaços produtivos marinhos no litoral norte paulista e
concluiu que a estabilidade temporal no uso dos locais de captura, juntamente com a
proximidade das comunidades desses locais, podem ser um importante fator na limitação do
acesso a essas áreas por usuários externos à comunidade. Miranda (2003) relatou que algumas
comunidades pesqueiras do complexo estuarino da baía de Paranaguá parecem possuir uma
organização social, a qual permite a condução de controles comunais de acesso às áreas de
manguezal.
No estudo realizado em Tamatateua, foi questionado aos tiradores se existiriam locais
nos manguezais onde haveria esse controle de acesso por comunitários dessa ou de outra
comunidade, a resposta de todos os entrevistados foi “não”. Portanto, os locais de captura de
caranguejo na Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, com exceção da restrição legal
ao acesso de coletores externos da Reserva, parecem não possuir nenhuma relação de
propriedade. Isso não quer dizer que não haja conflitos internos e externos entre grupos de
tiradores. Diele (2000) já relatava conflitos entre grupos de tiradores. Da mesma maneira, no
presente estudo, entre os coletores de caranguejo de Tamatateua, foi identificada a
insatisfação resultante da invasão, como eles próprios nomeiam, de grupos de tiradores de
caranguejo oriundos, principalmente, das comunidades do Treme e Caratateua. Segundo eles,
tais coletores vêm em grandes turmas e não praticam uma coleta seletiva, ou seja, capturam
caranguejos fêmeas e machos de tamanho inferior ao permitido.
É relevante salientar que os coletores dessas duas comunidades são influenciados em
seu processo produtivo pelo mercado de caranguejo beneficiado diferentemente de
Tamatateua, onde os coletores destinam a sua produção para o mercado do caranguejo vivo.
Tais diferenças podem acirrar disputas territoriais entre grupos de coletores e, assim, a
compreensão dos modos de operação e, por extensão, do comportamento dos coletores,
podem fornecer importantes diretrizes para o ordenamento da atividade e resolução de
conflitos.
Analisando a distribuição espacial dos pontos de captura, há indícios de que a
dinâmica de utilização desses locais está associada à evolução tecnológica, diversificação do
processo produtivo, intensa demanda pelo produto e falta de alternativas para o emprego da
mão de obra local. Em uma reunião técnica na sede da Secretaria Estadual de Aqüicultura e
Pesca (SEPAq), ficou clara a pretensão dessa instituição em estimular o beneficiamento da
produção do caranguejo-uçá no litoral paraense, através da adequação e construção de plantas
de beneficiamento, criação de normas sanitárias e legislação pertinente.
Provavelmente, essa política apresente implicações na atividade pela criação de
incentivos. Conseqüentemente, é necessário um acompanhamento da evolução dos sistemas
de produção do caranguejo-uçá, bem como da dinâmica de utilização das áreas de captura,
identificando, principalmente, as áreas em que há conflitos decorrentes da utilização desse
recurso. Ao mesmo tempo, é imprescindível que haja um esforço no sentido de compreender
o desenvolvimento dessa atividade, relacionando as influências estabelecidas pelo mercado
com aspectos ecológicos do recurso e do ambiente em que ele está inserido, com a percepção,
com o conhecimento e práticas locais e, finalmente, com as regulações das agências gestoras.
Nas últimas décadas, a consciência sobre o papel do CEL na conservação tem
aumentado (Redford & Stearman 1993; Diegues, 2000; Schwartzman et al., 2000). Do mesmo
modo, a aplicabilidade das várias faces do CEL, nos processos de gerenciamento de recursos
naturais, tem crescido internacionalmente (Johannes, 1989; Johnson, 1992). Esta tendência
crescente deve-se, principalmente, ao reconhecimento dos valores de perspectivas distintas da
científica, reconhecimento legal dos direitos das populações tradicionais e um crescente corpo
científico na temática (Johnson, 1992; Inglis, 1993; Johannes, 1993).
No Brasil, unidades de conservação como as Reservas Extrativistas e as Reservas de
Desenvolvimento Sustentável são exemplos de instrumentos de ordenamento territorial, os
quais possibilitam a utilização dos saberes locais na formatação de propostas de gestão. De
acordo com IBAMA (2004), nas Reservas Extrativistas tem-se como premissa o controle
social nos métodos de exploração, sendo que o sistema de ordenamento e normatização são
baseados no manejo tradicional e na gestão compartilhada dos recursos naturais.
Neste sentido, Begossi (no prelo) destaca quatro elementos relevantes para o
gerenciamento pesqueiro: i) a compreensão do ambiente em que é realizada a atividade
pesqueira e dos recursos naturais utilizados pelos usuários, ii) o conhecimento da área
utilizada pelos usuários, incluindo a localização dos pontos de captura das diferentes espécies,
iii) a compreensão do comportamento dos usuários e iv) o conhecimento dos usuários em
relação à biologia e ecologia das espécies. Silvano & Valbo-Jorgensen (no prelo) ressaltam
que estudos investigando o CEL dos pescadores em relação aos recursos pesqueiros, têm
indicado que o conhecimento desses pescadores pode ser, potencialmente, importante para a
melhora da gestão pesqueira, através do fornecimento de novas informações sobre a ecologia,
comportamento e tendências de abundância dos recursos pesqueiros.
Alguns autores sugerem que as estratégias de conservação, as quais consideram o
conhecimento ecológico local, as práticas de manejo e as instituições de apropriação locais,
têm uma alta porcentagem de aceitação e, consequentemente, importante valor para a
conservação (Ruddle, 1998; Johannes, 2002; McClanahan, 2006). Porém, o aumento da
inserção no mercado, o colapso dos sistemas de valores tradicionais, o crescimento
populacional, as mudanças tecnológicas, inapropriados incentivos governamentais e
centralização do poder, são as principais causas de desestruturação dos sistemas de
propriedades comunais (Goodland et al. 1989).
Os conflitos associados à sobreposição das áreas utilizadas para captura e os métodos
empregados para tanto, representam indícios desta desestruturação. Como já foi apresentado
anteriormente, outrora os coletores de caranguejo respeitavam regras estabelecidas localmente
para a realização da captura. Porém, na atualidade, a maior inserção no mercado, com a
criação de novos nichos, possibilitou a diferenciação dos sistemas técnicos e sociais de
produção. Em decorrência desse fato foram gerados novos incentivos produtivos, aos quais os
tiradores respondem efetivamente. Entretanto, as práticas locais de manejo são sistemas
dinâmicos que, continuamente, evoluem através de processos adaptativos, abarcando a
introdução, perda, invenção e sincretismo de conhecimentos (Berkes & Folke, 1998). Desta
forma, o cenário atual da atividade de exploração do caranguejo-uçá na área de estudo, é um
produto e, ao mesmo tempo, condicionante de sua evolução.
O conhecimento apresentado pelos coletores de caranguejo a respeito do ciclo de vida
da espécie representa uma importante ferramenta a ser trabalhada para a efetivação de
medidas de regulação. Um exemplo de aplicação desse conhecimento é a criação de períodos
de paralisação de captura nos meses de ecdise do caranguejo.
Os tiradores de caranguejo de Tamatateua relataram que nesta fase do ciclo de vida do
crustáceo, devido à dificuldade de captura, eles necessitam procurar alternativas na busca de
seus rendimentos e muitas vezes não encontram. Essa informação é importante, pois permite
inferir certa restrição imposta a esses produtores, pelas condições de disponibilidade do
recurso. Essas restrições, por sua vez, acabam por estimular a redução dos esforços na
dedicação a esta atividade, forçando-os a dedicar-se às outras atividades produtivas. Desta
maneira, regulações baseadas em períodos onde os estímulos ao não cumprimento dessas
normativas são atenuados, poderão ser mais efetivos. Soma-se a isso o fato dessa regulação
propiciar maior proteção a essa espécie em um período sensível de seu ciclo de vida.
Logicamente, o desenvolvimento de novos períodos de defeso requer maiores esforços
para a compreensão de sua efetividade. As informações apresentadas no parágrafo acima
representam alternativas aos modelos estabelecidos para a formatação de medidas de gestão.
No entanto, isso não significa que a proteção das populações deste recurso em sua fase
reprodutiva, como atualmente está baseado o defeso, não seja importante. Porém, é certo que
paralisações no processo de captura, qualquer que seja o período, deverão ser muito bem
ponderadas, e considerar também a natureza da atividade, onde o produtor recebe sua
remuneração logo após entregar sua produção. Isto significa que para esse produtor não há
condição para interrupções em sua atividade. Portanto, se não forem criadas as condições para
uma diversificação de suas atividades, que seja tão ou mais rentável que a coleta de
caranguejo, ou compensações a esses produtores pela suspensão temporária de suas
atividades, como o seguro defeso, qualquer resolução terá, muito provavelmente, diminuídas
as chances de serem cumpridas.
O presente trabalho não irá abordar o sistema de seguridade social, como por exemplo,
o seguro defeso e outros direitos dos tiradores, para melhor compreensão da temática ver
Lourenço et al. (2006). Porém, a inclusão de outros agentes da cadeia produtiva, que não só
os coletores, como por exemplo, as catadoras, é um processo que terá que ser levado em
consideração para uma distribuição mais justa e eqüitativa dos benefícios.
Práticas de manejo locais, como o descanso das áreas de captura, deverão ser mais
estudados e poderão ser importantes instrumentos na construção de instituições para a gestão
comunal do caranguejo-uçá. Porém, a criação, aplicação e fiscalização dessa prática são
problemáticas, podendo acirrar conflitos, causando desestruturação social e,
consequentemente, dificultando ainda mais a efetivação de medidas de gestão. Há a
possibilidade da criação de acordos onde, algumas áreas são manejadas rotacionalmente para
a exploração do caranguejo ou áreas onde é proibida a exploração do caranguejo ou de outros
recursos.
São várias as possibilidades na busca por alternativas para o gerenciamento do
recurso, porém é preciso lembrar que não há somente caranguejo no manguezal e áreas
contíguas. Deve-se pensar sob uma ótica ecossistêmica para que não haja implicações sobre a
utilização de outros recursos ou espaços. Além disso, a inclusão de variáveis sociais, culturais
e econômicas deverá compor os processos de avaliação e implementação das medidas de
gestão.
Walters et al. (no prelo) enfatizam que a pesquisa da dimensão humana em áreas de
manguezal ainda é pouco estudada. Os autores concluem que a compreensão de como e
porque os usuários exploram os recursos no espaço e tempo, e de como estes padrões de uso
afetam o manguezal é fundamental para uma gestão efetiva, ainda que essas informações
quase sempre sejam ausentes no planejamento e discussões políticas.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados apresentados, foi observado que a atividade de exploração do


caranguejo-uçá, realizada por usuários da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, é
constituída de forma dinâmica e complexa. Os padrões de utilização deste recurso
apresentam-se de forma a responder os diferentes estímulos produtivos e, por isso, o
comportamento dos produtores não se apresenta de forma homogênea.
Os coletores de caranguejo apresentaram um relevante conjunto de conhecimentos e
práticas locais de manejo, permitindo a adaptação deles às condições ambientais, sociais e
econômicas.
A incorporação da diversidade dos padrões de utilização e do conhecimento e práticas
locais podem prover valiosas ferramentas para a construção de instituições locais, capazes de
viabilizar regulações, as quais promovam a transformação de um regime de livre acesso para
uma efetiva forma comunal de gestão.
Portanto, essas informações poderão ser utilizadas para a formatação de restrições, que
como nas práticas de gestão centralizadas, regulam o acesso e a utilização dos recursos. Estas
restrições podem incluir limitações no espaço, no tempo, nas técnicas, no esforço, na
quantidade e na espécie-alvo de captura.
Vale destacar que o presente estudo abarcou a problemática sob um enfoque regional
(Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu), no entanto, uma informação sobre as
características biológicas do recurso indica que há a necessidade de ampliação da escala de
trabalho. Diele & Simith (2006) apresentaram resultados que sugerem uma estratégia de
exportação larval. Considerando esta estratégia, há a possibilidade da população local de
caranguejo depender do recrutamento de larvas provenientes de outros estuários. Assim,
estratégias focando somente a utilização dos manguezais locais podem ser insuficientes para a
viabilidade dessa atividade.
Ressalta-se ainda que na costa paraense foram instituídas nove Reservas Extrativistas
Marinhas, abrangendo uma área de aproximadamente 255.000 ha. Chama-se atenção para o
fato de que grande parte dessas unidades de conservação não possui um plano de manejo
elaborado, o que confirma a necessidade de estudos, os quais incorporem as realidades locais.
Nesse sentido destaca-se o esforço da Associação dos Usuários da Reserva Extrativista
Marinha Caeté-Taperaçu (ASSUREMACATA). O processo de cadastramento realizado pela
associação representa uma importante ação de mobilização local, no sentido de compreender
as especificidades da atividade de exploração do caranguejo-uçá no âmbito desta unidade de
conservação. Recomendam-se iniciativas semelhantes nas outras Reservas Extrativistas
Marinhas Paraenses, assim como a padronização das metodologias utilizadas para a coleta de
informações, possibilitando análises comparativas e a confecção de uma agenda comum.
Conclui-se, então, que independentemente da formatação das medidas regulatórias, há
a necessidade de gestão, cujo enfoque seja direcionado à resiliência do sistema. Assim, como
enfatizam Carpenter & Gunderson (2001), é necessária uma contínua avaliação, aprendizado,
desenvolvimento e compreensão do conhecimento para lidar com as mudanças e incertezas
inerentes aos sistemas complexos adaptativos.
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7 ANEXOS

Anexo 1 . Formulário relativo ao processo de cadastramento dos coletores de


caranguejo da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçu, Bragança - PA.

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