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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO


LICENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL

Análise dos impactos ambientais da mineração artesanal na Localidade de


Mutala, Distrito de Alto Molocué/ Zambézia (2016 - 2019)

Wildo Pinto Eugénio

Maputo, Dezembro 2019


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE ECONOMIA E GESTÃO

LICENCIATURA EM GESTÃO AMBIENTAL

Análise dos impactos ambientais da mineração artesanal na Localidade de Mutala,


Distrito de Alto Molocué/ Zambézia (2016 - 2019)

Monografia científica entregue ao centro de recurso de Maputo no departamento de


Ciências Sociais e Humanas, como requisito para obtenção do Grau Académico de
Licenciatura em Gestão Ambiental.

O Candidato O Supervisor:

Wildo Pinto Eugénio

Maputo, Dezembro 2019


Declaração de Honra

Eu, Wildo Pinto Eugénio, com identidade do aluno número 31160103, estudante do
curso de Licenciatura em Gestão Ambiental do Instituto Superior de Ciências e
Educação a Distância, declaro que o conteúdo do trabalho intitulado: Análise dos
Impactos ambientais da mineração artesanal na Localidade de Mutala, Distrito de
Alto Molocué (2016 – 2019), é reflexo de meu trabalho pessoal e manifesto que perante
qualquer notificação de plágio, cópia ou falta em relação à fonte original, sou
directamente o responsável legal, económica e administrativamente, isentando
Orientador, a Universidade e as instituições que colaboraram com o desenvolvimento
deste trabalho, assumindo as consequências derivadas de tais práticas.

Assinatura:

/Wildo Pinto Eugénio/

i
Resumo
A mineração é uma actividade de uso temporário da terra, que altera as condições
ambientais e naturais, também é forte modificadora da paisagem, pós degrada extensas
áreas, que muitas vezes a sua recuperação é difícil. O presente trabalho aborda acerca
dos impactos ambientais dos recursos minerais nas comunidades locais: Estudo de caso
mineração artesanal na Localidade de Mutala, Distrito de Alto Molocué/ Zambézia
2016-2019), foi feito um levantamento da mineração artesanal, sua importância cultural,
económica e social na região, seus principais impactos ambientais bem como as
medidas mitigadoras. Este estudo teve como objectivo analisar os impactos ambientais
da mineração artesanal no povoado, o mesmo foi possível através de 75 entrevistados,
incluindo membros da comunidade, garimpeiros, líderes comunitários e também os
membros do governo. A pesquisa foi qual-quantitativa, o que faz desta uma pesquisa
mista. Na recolha de dados foi feita análise bibliográfica, entrevistas, inquéritos, e
observações no campo. Para identificação e sistematização dos impactos ambientais da
mineração foram utilizados vários métodos tais como: Ad-Hoc, checklist, matrizes de
Leopold, redes e diagramas. Com resultados concluiu-se: (i). Que a actividade tem
resultado na destruição do meio ambiente, sobretudo a fauna e a flora e aponta se a falta
de informação sobre técnicas adequadas de exploração e também a inexistência de
outras fontes de renda familiar. (ii). Fez-se elaboração das medidas de mitigação
estruturais e não estruturais com vista a minimizar os impactos ambientais nas áreas
degradadas. (iii). Igualmente foram deixadas recomendação nos sectores da saúde no
tratamento das águas destinadas ao consumo humano, autoridades locais na fiscalização
e penalização dos infractores das normais ambientais, e aos garimpeiros, na sua
organização em cooperativas e associações, para minimizar os impactos ambientais e
melhorar as condições socioculturais, económicas e da saúde da população de saúde na
região.

Palavras-chave: Extracção mineira, Impactos ambientais, Meio Ambiente.

ii
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus pela dádiva da vida que deu, aos meus pais, pela
educação e determinação e pela motivação transmitida e por me proporcionarem muito
amor, carinho e amizade.
Em seguida agradeço a minha esposa, Sonália Reginaldo, pelo encorajamento força e
determinação, transmitido na vida social e estudantil.
Aos colegas do trabalho, da escola e amigos, pelo suporte incondicional, ao supervisor
desta monografia Dr. Eufrásio João Nhongo, pelo apoio prestado e aos demais docentes
pelos ensinamentos dados durante o período de aprendizagem.
Manifesto, igualmente a minha gratidão a todos que, directa ou indirectamente,
contribuíram para o sucesso deste trabalho, principalmente aos garimpeiros que
aceitaram fazer as entrevistas, e partilhar algumas experiências por eles vividas na
comunidade. Por fim, agradecer a minha família que sempre me deu força para a
realização deste sonho.

iii
Dedicatória
Aos meus pais Sr. Eugénio Januário e Sra. Inácia Pinto Zeferino pelo apoio
incondicional para continuação com os estudos, aos meus irmãos Ercílio, Inalcidia,
Nito, Fatima e Winete que estiveram do meu lado diante de várias adversidades.
As minhas filhas e sobrinhos para que lhes sirva de exemplo por seguir em suas vidas.

iv
Lista de Abreviaturas e Siglas

AIA -Avaliação de Impacto Ambiental;


CANOMA-Conselho Nacional do meio Ambiente;
EIA- Estudo do Impacto Ambiental;
ETA- Estação de Tratamento de Água;
GPS- Sistema de Posicionamento Geográfico;
HGQ- Hospital Geral de Quelimane;
INE - Instituto Nacional de Estatística;
IVR – Infecções das vias Respiratórias;
MAE- Ministério da Administração Estatal;
MITADER- Ministério da terra, ambiente e Desenvolvimento Rural;
MICOA- Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental;
Rima/ RNT- Relatório não Técnico;
REIA- Relatório do Estudo do Impacto Ambiental;
SIG- Sistema de Informação Geográfica;
SIDAE/AM- serviços de actividades económicas de Alto Molocué.

v
Lista de Gráficos

Gráfico 1: Distribuição dos recursos mineira.................................................................16


Gráfico 2: Distribuição da população da localidade de Mutala.....................................18
Gráfico 3: Inquérito sobre causas da perda da vegetação............ ..................................40
Gráfico 4: Inquérito sobre fontes de água na localidade de Mutala... ...........................42
Gráfico 5: Inquérito sobre causas da alteração da camada do solo................................43
Gráfico 6: Inquérito sobre causas da poluição da atmosfera em Mutala........................44
Gráfico 7: Inquérito sobre causas da erosão na localidade de Mutala...........................45
Gráfico 8: Inquérito sobre causas da alteração da paisagem natural.... .........................46

vi
Lista de Tabelas

Tabela 1: Resumo comparativo dos impactos identificados em Mutala .......................48


Tabela 2: Medidas de Mitigação dos impactos da mineração artesanal em Mutala.......48

vii
Lista de Figuras

Figura 1: Representação cartográfica da área de estudo................................................15


Figura 2: Imagens ilustrativas os rios Lice e Mulela......................................................17
Figura 3: Imagem ilustrativa da vegetação em Mutala..................................................17
Figura 4: Fluxograma da pesquisa..................................... ...........................................31
Figura 5: Imagem da empresa Sul Africana de extracção Maneira de Hapua ..............39
Figura 6: Imagem ilustrativa de áreas queimadas para a pratica de garimpo...................40
Figura 7: Imagem ilustrativa das fontes de água na localidade de Mutala.......................41
Figura 8: Imagem ilustrativa da remoção da camada superficial do solo.........................43
Figura 9: Imagem ilustrativa de zonas de Mutala assoladas por desabamento de solos..45
Figura 10: Imagem ilustrativa de zonas com alteração da paisagem de Mutala..............46

viii
ÍNDICE

Declaração de Honra.......................................................................................................i
Resumo..........................................................................................................................ii
Agradecimentos............................................................................................................iii
Dedicatória...................................................................................................................iv
Lista de Abreviaturas e Siglas.......................................................................................v
Lista de Gráficos ..........................................................................................................vi
Lista de Tabelas...........................................................................................................vii
Lista de Figuras..........................................................................................................viii

Introdução ................................................................................................................... 11
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO .................................................................................. 12
1. Contextualização ................................................................................................. 12
1.1. Problematização ............................................................................................... 13
1.1.1. Formulação do problema .............................................................................. 13
1.2. Objectivos ............................................................................................................ 13
1.2.1 Objectivo geral ................................................................................................... 13
1.2.2 Objectivos Específicos ....................................................................................... 14
1.3. Hipóteses .............................................................................................................. 14
1.4. Justificativa .......................................................................................................... 14
1.5. Delimitação temporal, espacial e explorativa ...................................................... 14
1.6. Limitações do trabalho......................................................................................... 18
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA ......................................................... 20
2. Mineração ............................................................................................................ 20
2.1. Mineração no mundo ........................................................................................... 20
2.2. Mineração em Moçambique ................................................................................ 22
2.3. Recursos naturais ................................................................................................. 25
2.4. Recursos naturais na Zambézia............................................................................ 26
2.4. Impactos Ambientais ........................................................................................... 27
2.5. Impactos ambientais nos recursos naturais .......................................................... 27
2.6. Desenvolvimento e desafios nos recursos naturais .............................................. 28
2.7. Sustentabilidade da Mineração ............................................................................ 29
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO TRABALHO .............................................. 31
3.1 Tipo de Pesquisa ................................................................................................... 31
3.2. Métodos de Pesquisa ............................................................................................ 32
3.3. Método de Abordagem ........................................................................................ 33
3.4 Tipo de Dados ....................................................................................................... 34
3.4.1. Vantagens e Desvantagens de usar dados primários......................................... 34
3.4.2. Vantagens e Desvantagens de usar dados secundários .................................... 34
3.5. A colecta de dados ............................................................................................... 34
3.6. Universo e Amostra ............................................................................................. 35
3.6.1 Amostragem não probabilística ......................................................................... 35
3.6.2 Amostragem probabilísticas .............................................................................. 35
3.7. Questões Éticas Da Pesquisa ............................................................................... 36
CAPITULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .......................... 37
4.1. Legislação da actividade mineira no contexto Moçambicano ............................. 37
4.2. Indústria extractiva no distrito de alto Molocué .................................................. 38
4.3. Identificação dos principais impactos ambientais................................................ 39
4.3.1. Perda de vegetação local ................................................................................... 39
4.3.2. Poluição da Água .............................................................................................. 41
4.3.3. Alteração da camada superficial do solo .......................................................... 42
4.3.4. Poluição atmosférica ......................................................................................... 44
4.3.5. Erosão do solo ................................................................................................... 44
4.3.6. Alteração da paisagem natural .......................................................................... 46
4.4. Impactos sociais, económicos e saúde da população ........................................... 47
4.5. Impactos antes e depois da massificação da mineração artesanal em Mutala ..... 48
4.6. Medidas de mitigação dos impactos ambientais na mineração artesanal ............ 48
CAPÍTULO V: CONSIDERACOES FINAIS ............................................................ 50
5.1. Recomendações ................................................................................................... 51
Referências Bibliográficas .......................................................................................... 52
Apêndices .................................................................................................................... 55
Anexos ........................................................................................................................ 59
Introdução
A província da Zambézia ocupa um dos lugares cimeiros no que refere aos recursos
minerais do país, o povoado de Mutala, situado no distrito de Alto Molócuè a Norte da
Província da Zambézia, o sector mineiro tem-se mostrado de grande importância na
economia local como também, um dos maiores empregadores de mão-de-obra e tem um
grande impacto rural o que constitui uma forte fonte de desenvolvimento e de combate à
pobreza no povoado de Mutala.
A presente pesquisa, foi apresentada em seguintes capítulos: (i) introdução, que contém
uma apresentação do tema e do problema; os objectivos; as hipóteses de trabalho e a
justificativa. (ii) revisão literária que aborda sobre conceitos relacionados ao tema no
mundo e em Moçambique em particular. (iii) o capítulo metodologias que aborda sobre
os procedimentos usados para a realização da pesquisa. (iv) discussão e apresentação de
resultados, onde foram apresentados os impactos causados pela mineração artesanal em
Mutala bem como os impactos sociais, na saúde da população, economia e na
agricultura. (v) as conclusões e recomendações da pesquisa, onde estão resumidas as
implicações da actividade e as recomendações deixadas aos envolvidos na actividade
mineira (garimpeiros, comunidade e autoridades locais).
A escolha desta área de estudo deve se facto de ser terra natal dos meus pais e ser uma
região que apresenta uma vasta gama de recursos minerais e com eles a existência de
mais garimpeiros, e pelo facto de pretender trazer a real situação sócio ambiental de
Mutala decorrente da actividade de extracção mineira.

O tema motivou me pelo facto do distrito de Alto Molocué ter vindo a envidar esforços
nos últimos quatro (4) anos, na redução dos impactos ambientais da mineração artesanal
e pelo registo do aumento do número dos praticantes da actividade mineira.

A sua realização justifica-se pela necessidade de perceber quais são os impactos


ambientais da actividade mineira, no Povoado de Mutala, Distrito de Alto Molocué e
analisar o cenário dos impactos sócio ambientais da actividade mineira no povoado de
Mutala.

Espero que os resultados obtidos ao longo desta investigação possam ajudar a promover
a compreensão do tema em estudo e contribuir para a implementação de estratégias e
programas eficazes, no sentido de promover uma vida sã da população e
sustentabilidade dos recursos minerais na região.

11
CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO
1. Contextualização
Para Bacci et. al. (2000), em todo mundo, ao longo de muitas décadas a exploração
mineral têm se destacado, como uma actividade que, além de gerar empregos e ser fonte
extra de renda para pequenos proprietários rurais, sobretudo nas localidades onde não há
desenvolvimento ou expectativa de melhoria social, também é uma actividade que causa
enormes impactos ambientais, muitos desses irreversíveis.

Segundo Farias, (2002, p. 13), os principais problemas gerados pela mineração


abrangem as seguintes categorias: poluição da água, poluição do ar, sonora e
subsidência do terreno, onde afectam directa e indirectamente a fauna, flora e a
comunidade local.

Para Mechi e Sanches (2010), a maioria das actividades de mineração causam grandes
prejuízos à vegetação, podendo prejudicar sua regeneração. No predomínio dos casos
retira-se o horizonte pedológico superficial “A”, o qual possui a maior quantidade de
minerais primários, imprescindíveis para boas taxas de fertilidade. Além dos impactos
negativos nas coberturas vegetais, a actividade de exploração mineral acarreta também
assoreamento de corpos hídricos, bem como prejuízo às populações circunvizinhas.

Segundo o Decreto nº 26/20041, de 20 de agosto em Moçambique, a extracção mineira é


uma das actividades em franca expansão com representatividade ao nível nacional com
maior destaque para o centro e norte do país. Na província da Zambézia a mineração é
mais notória a ocorrência de mineiros nos Distritos de Nicoadala, Mocuba, Alto
Molocué e Gilé; os Distritos de Alto Molocué e Gilé, são tidos como potenciais.
Em Alto Molocué sobretudo no povoado de Mutala, foco do presente estudo regista-se
uma exploração desenfreada e ilegal dos recursos minerais, tais como a extracção do
ouro que pode resultar em problemas de destruição ambiental, dos solos e recursos
florestais, pois a extracção é feita de uma forma desordenada e sem controlar os riscos
ambientais que desta actividade advêm.

1
BOLETIM DA REPUBLICA. (2004). Decreto 26/2004 de 20 de agosto. Regulamento ambiental para
actividade mineira em Moçambique ; Maputo. Imprensa Nacional.

12
1.1. Problematização
Na localidade de Mutala, a mineração tem um grande impacto e tem servido de ponte
para o desenvolvimento e de combate à pobreza, nesta região, e a mineração de pequena
escala surge como alternativa para as populações carentes deste povoado, sobretudo na
renda familiar, e mostra-se fundamental para um desenvolvimento das economias
locais.
De acordo com a secretaria da localidade de Mutala, nos últimos quatro anos (2016-
2019), a extracção de ouro de aluvião constituiu uma das actividades mais praticadas
pela população. O sistema empregue pelos garimpeiros para exploração das minas em
Mutala é fundamentalmente artesanal praticada por pequenos grupos de indivíduos
(garimpeiros) que utilizam instrumentos rudimentares e devastam grandes áreas com
objectivo de extracção de ouro aluvionar.

Este tipo de mineração pratica-se de forma desordenada e inconsciente, muitas vezes


com desconhecimento dos problemas ambientais, tendo em conta que a população de
Mutala sobrevive desta actividade torna-se difícil a sua descontinuação e com base nisso
a maior preocupação deve centrar-se na identificação dos problemas e recuperação de
áreas devastadas durante a exploração por forma a minimizar estes problemas.

1.1.1. Formulação do problema


Sabendo-se que a mineração causa danos consideráveis ao meio ambiente, em Mutala
pratica-se na sua maioria mineração a céu aberto, onde é notória a modificação de
grandes áreas da paisagem, existência de poeiras, turvação das águas, o que de certa
maneira prejudica grandemente o bem-estar da comunidade local a curto e médio prazo,
comprometendo também a sustentabilidade dos recursos naturais.

Tendo em conta o enunciado acima, levanta-se a seguinte questão da partida:

 Quais são os impactos ambientais da actividade mineira no Povoado de Mutala,


Distrito de Alto Molocué?

1.2. Objectivos
1.2.1 Objectivo geral
Analisar os impactos ambientais da actividade mineira em Mutala.

13
1.2.2 Objectivos Específicos
 Identificar os impactos ambientais que resultam da actividade mineira neste
Povoado;

 Descrever as alterações ambientais resultantes dos impactos (nos rios, solo e ar),

 Propor medidas para minimizar as alterações ambientais resultantes da actividade


mineira.

1.3. Hipóteses
De acordo com a questão de base acima levantada, apontam-se as seguintes hipóteses:

 H1: A extracção de ouro aluvionar no povoado de Mutala, tem resultado na


destruição do meio ambiente, sobretudo a fauna e a flora.
 H0: A extracção de ouro aluvionar no povoado de Mutala não tem resultado na
destruição do meio ambiente, sobretudo a fauna e da flora.
 H2: É possível que a extracção de ouro aluvionar no povoado de Mutala tem
resultado na destruição, destruição do meio ambiente, sobretudo a fauna e da flora.

1.4. Justificativa
O tema em estudo, justifica-se pelo facto do distrito de Alto Molocué, ter vindo a
envidar esforços nos últimos quatro (4) anos, na redução dos impactos ambientais da
mineração artesanal. Entretanto, as informações existentes sobre a exploração destes
recursos, mostram que de 2016-2019, registou incremento do número dos praticantes
desta actividade mineira (Secretaria da localidade, 2019).
A motivação para realização do estudo nesta localidade, foi pelo facto de ser terra natal
dos meus pais, por conseguinte, onde passei parte da minha infância e assistia o
garimpo de perto, como sendo a base de sustento das famílias. Neste contexto, surgiu a
necessidade de perceber o cenário que se continua vivendo nesta localidade, e sendo
estudante do curso de Gestão Ambiental achei pertinente voltar as minhas origens para
desenvolver uma pesquisa.

1.5. Delimitação temporal, espacial e explorativa


A presente pesquisa decorreu no povoado de Mutala, está situado a Sudeste do posto
administrativo de Alto Molócuè sede no Norte da Província da Zambézia, dista cerca de
60km da vila sede do distrito e cerca de 337km da cidade capital Quelimane.

14
A cobertura temporal desta pesquisa foi de quatro (4) anos, e baseou se na análise dos
impactos ambientais da mineração artesanal do povoado de Mutala, Distrito de Alto
Molocué – Zambézia, o estudo teve um suporte bibliográfico através de artigos ligados
ao tema.

Povoado de Mutala

Distrito de Alto Molocué

Figura 1: Representação cartográfica da área de estudo.


Fonte: Secretaria distrital do distrito, 2019

i) Clima
Segundo a classificação climática de Thornthwaite, o clima de Mutala é húmido,
megatérmico, moderado com deficiência de água no inverno. A quantidade de água das
chuvas registada, em termos de média anual é de 1402.6 mm com uma
evapotranspiração de 1258.1 mm.
O balanço hídrico segundo Thornthwaite permite apurar que o período de excesso de
água ocorre no último mês do quarto trimestre e no trimestre Janeiro – Março, no qual
precipitação é maior em relação a quantidade de evapotranspiração. Durante a época
fresca, a evapotranspiração é superior, em todos os meses, à quantidade de precipitação,
com este padrão da precipitação apenas é possível uma colheita por ano, considerando a
produção agrícola de sequeiro.

ii) Relevo

15
Segundo MAE (2005), o relevo da localidade de Mutala é irregular em todo o território.
A parte do interior das minas verifica-se formações planálticas (0-500m de altitude),
sendo a montanha de Mutala o ponto mais alto da localidade.

iii) Solos
Segundo MAE (2005), no distrito de Alto Molocué e na localidade de Mutala
predominam solos pesados, argilosos e com uma textura avermelhada.

iv) Recursos Geológicos


A localidade de Mutala é potencial em recursos minerais e encontram-se na região os
maiores jazigos do distrito, que não estão sendo racionalmente explorados por falta de
operadores minerais capazes e honestos. Devido à sua localização num planalto a região
é propensa a erosão. No povoado há ocorrência de diversos recursos minerais conforme
o gráfico abaixo.

Gráfico 1: Distribuição dos recursos mineira.


Fonte: Secretaria da localidade, 2019

v) Hidrografia
De acordo com a imagem (2), a localidade é atravessada pelos Rio Lice e Mulela,
caracterizados por possuírem regime periódico, não obstante estão sujeitos a caudais
diferenciados: bastante caudalosos e por vezes, com ocorrências de inundações, no
período chuvoso, e caudais reduzidos, no período de seca.
Apesar do seu regime periódico, as bacias hidrográficas apresentam um grande
potencial para a prática da piscicultura e para a actividade agropecuária, dadas as terras
férteis, para além de propiciarem a exploração faunística e florestal, oferecem, ainda,
um potencial hidroeléctrico e condições naturais para a construção de represas de água

16
para a irrigação, sendo que as suas baixas são usadas pelos camponeses para a abertura
de tanques piscícolas.

Figura 2: Imagens ilustrativas dos rios Lice e Mulela


Fonte: Autor, ArcGis 2019

vi) Vegetação
A vegetação é constituída por florestas semi-densas (floresta aberta), onde se podem
encontrar algumas espécies de madeira (MAE, 2005) conforme a imagem abaixo.

Figura 3: Imagem ilustrativa da vegetação em Mutala


Fonte: Autor, ArgGis 2019
vii) Fauna bravia
Na localidade de Mutala predominam florestas abertas em algumas zonas e a fauna é
diversificada mediante as condições da vegetação podendo-se encontrar animais de
pequeno e grande porte (MAE, 2005).

viii) Demografia

17
A população desta localidade e maioritariamente composta por mulheres com uma
percentagem de cerca de 52 % seguido de homens com 48% com forme ilustra o gráfico
a baixo.

Gráfico 2: Distribuição da população da localidade de Mutala


Fonte: Secretaria da Localidade, 2019

ix) Educação
Nesta localidade existem 5 escolas das quais uma escola secundária e quatros escolas
primárias, distribuídas pelas diversas zonas de Mutala, são elas: Escola secundária de
Mutala e escola primária de Mutala na sede da localidade, no povoada da Hapua está a
escola primária de Hapua, em Muhiru a Escola primária de Muhiru e a escola primária
de Chaua no povoado com mesmo nome.

x) h) Saúde
A localidade de Mutala conta com uma rede sanitária de duas unidades sanitária que
assistem à população nas diversas patologias e estes são: o centro de saúde de Mutala e
o centro de saúde de Welela. Ainda existem vários programas de cuidados de saúde
primários a vários níveis que mostram uma evolução positiva nos últimos anos, como é
o caso da saúde ambiental que é realizada em todas as unidades sanitárias e nas
comunidades, bem como em brigadas móveis e nos locais de interesse sanitário.

1.6. Limitações do trabalho


O presente trabalho foi exploratório, no seu decurso verificou-se a escassez de fontes de
dados de estudos realizados sobre o tema, a recusa de alguns participantes em fazer
parte do estudo e o factor tempo, influenciaram negativamente no estudo.

18
Houve igualmente dificuldades na sistematização das informações recolhidas nas
entrevistas semiestruturada, uma vez que as informações dos entrevistados eram de
respostas livres e não estavam condicionadas à uma padronização de alternativas.
Como estratégias, para sistematização dos dados usou-se gravações ao longo das
entrevistas e chamadas telefónicas de modo a não perder qualquer informação relatada e
posterior análise do sentido de cada narração prestada pelos entrevistados. Igualmente
foram feitas palestras no povoado, com vista a sensibilizar os garimpeiros a
participarem no estudo e facilitar as informações necessárias para alcançar os objectivos
da pesquisa.

19
CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo foi feita uma revisão dos conceitos relacionados com a mineração, para
ajudar a perceber os fenómenos a volta da actividade. Tratou-se dos conceitos da
mineração, seus impactos ambientais, sustentabilidade e desafios nos recursos naturais.

2. Mineração
A mineração é um termo que abrange os processos, actividades e indústrias, cujo
objectivo é a extracção de substâncias minerais a partir de depósitos ou massas
minerais. Podem incluir-se aqui a exploração de petróleo e gás natural e até de água,
como actividade industrial, a mineração é indispensável para a manutenção do nível de
vida e avanço das sociedades modernas em que vivemos (Barreto, 2002).
A mineração corresponde à uma actividade económica e industrial que consiste na
pesquisa, exploração, lavra (extracção) e beneficiamento de minérios presentes no
subsolo (Sousa, Rafaela 2010)2.
A actividade Mineira em Moçambique é entendida como todas as operações que
consistem no desenvolvimento, de forma conjunta ou isolada, de acções como o
reconhecimento, prospecção e pesquisa, mineração, processamento e tratamento de
produtos mineiros (Castelo-Branco, C. 2009b).
A Organização das Nações Unidas (ONU) define mineração como sendo a extracção,
elaboração e beneficiamento de minerais que se encontram em estado natural: sólido,
como carvão e outros; líquido, como petróleo bruto; e gasoso, como o gás natural.
Segundo Pinto (2006), a mineração é reconhecida internacionalmente como actividade
propulsora do desenvolvimento, tendo grande participação no desenvolvimento
económico de muitas das principais nações do mundo, e a civilização actual, tal como a
conhecemos, pura e simplesmente não existiria, facto do qual a maioria de nós nem
sequer se apercebe.

2.1. Mineração no mundo


O aumento populacional, a expansão da malha urbana e os avanços tecnológicos
impulsionaram a busca por mais recursos minerais e isso fez com que fossem

2
SOUSA, Rafaela. (2010)."Mineração"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/mineracao.htm. Acesso em 28 de Maio de
2020.

20
descobertas novas jazidas. Assim como em outras regiões do Brasil, a mineração teve
início com produção em pequena escala nos primórdios do período colonial, sendo
pouca explorada, com extração de minerais, como areia, cascalho e argila, os quais eram
utilizados para suprir a demanda da crescente construção civil no país (Maia, 2013).
Nos países industrializados, um projeto de mineração só é aprovado mediante
apresentação do Estudo de Impactos Ambientais (EIA). Um dos problemas centrais que
envolvem a questão de desmatamento no Brasil é resultante do estabelecimento de
sistemas de utilização de terras de forma não sustentáveis, que originam as “áreas
degradadas”, caracterizadas pelo elevado nível de danos ambientais e de pequena
capacidade de suporte humano (FAO, 1985).3

Fausto, (2013), a importância socioeconômica dos minerais vem desde o início das
civilizações, em que o ferro e o carvão eram utilizados na cocção de alimentos na
Revolução Industrial. A demanda por bens minerais e o mercado consumidor têm
crescido, desde aquela época proporcionando maior geração de renda. Hoje a indústria
da mineração é considerada uma das atividades de maior representatividade econômica
de países como África do Sul, Austrália, Brasil, Canadá e Estados Unidos.

A mineração no Brasil só se tornou um negócio efetivo nas primeiras décadas do século


XVIII, Brasil Colonial, produzindo um sistema econômico próprio no interior do país, a
mineração está entre as atividades econômicas mais antigas e tradicionais. (Fausto,
2013).

Lourenço et al. (1992), território português é dotado de uma notável diversidade e


complexidade geológica que se reflete na litologia, tectónica, magmatismo e
metalogenia, aumentando as suas potencialidades em recursos metálicos e
consequentemente no número de jazigos minerais, as formações geológicas observáveis
no actual território português dividem-se em duas grandes unidades morfo-estruturais: o
Maciço Hespérico e a Cobertura Epi-Hercínica.

A exploração mineral no mundo é a segunda etapa da atividade mineira planeada,


algumas técnicas mais refinadas são utilizadas como a perfuração, que está entre as mais
confiáveis e mais caras para confirmar ou negar a existência de depósito de minério
(Darling, 2011).

3
FAO. (1985). Tropical Forestry Action Plan. Rome.

21
2.2. Mineração em Moçambique
Segundo Selemane (2010), a mineração em Moçambique é praticada a dois níveis:
industrial (empresas) e artesanal (garimpo). O primeiro nível tem estado a dominar a
atenção de investidores estrangeiros do Governo, da comunicação social e da
comunidade doadora pelo facto de Moçambique se estar a tornar um novo-rico nesse
campo.
É por via disso, tem havido pouca discussão sobre a mineração no país concentra-se nas
questões relacionadas com o quadro legal e fiscal, a transparência, as exportações, e
outros deixando-se à deriva questões não menos importantes como as transformações
socioeconómicas, ambientais e geológicas que a actividade mineira cria,
independentemente da escala em que é praticada (Castelo-Branco, C. 2009b).
Os minerais que estão a ser explorados actualmente incluem titânio, tântalo, mármore,
ouro, bauxite, carvão, granito, calcário e pedras preciosas. Existem também depósitos
conhecidos de pegmatitos, platinoides, urânio, bentonite, ferro, cobalto, crómio, níquel,
cobre, granito, flúor, diatomite, esmeraldas, turmalinas e apatite (ITIEM, 2011).
Segundo Sociedade Civil em Moçambique um pouco por todo o país onde há
potencialidades de recursos minerais, os mesmos são olhados sob ponto de vista
económico e poucas vezes sob ponto de vista social, isto é, as comunidades locais que
acolhem a implantação de indústrias de extracção pouco beneficiam dos ganhos obtidos
do processo, mais acolhem os impactos ambientais da actividade, perante este cenário a
população não regista melhorias das condições de vida, e pouco participam na tomada
de decisão, o que compromete o desenvolvimento sustentável4
Segundo Castelo- Branco (2008), a actividade de extracção mineira tem um potencial de
gerar um fluxo enorme de receitas públicas por algumas décadas, permitindo que
Moçambique deixe de ser dependente da ajuda externa e, por conseguinte, consolide a
soberania do Estado e do povo sobre os seus assuntos políticos, económicos e sociais. E
se estas receitas forem utilizadas para gerar reservas e oportunidades de
desenvolvimento alargado e diversificado da base produtiva, tecnológica e comercial,
então Moçambique poderá tornar a indústria extractiva numa alavanca do
desenvolvimento real.

2.2.1. Tipos de mineração

4
http://www.playstv.co.mz/jornal da noite/10.11.2019.

22
Silva (2010), diz que relativamente ao modo de escavação as minas podem dividir-se
em dois tipos principais: minas subterrâneas e minas a céu aberto, e quanto as formas de
extracção podem ser industriais e artesanais.
Segundo Barbosa (1992), a escolha do método de lavra depende em grande parte da
localização e forma do depósito mineral, devendo ser escolhido o mais seguro e ao
mesmo tempo mais económico.

2.2.1.1. Extracção industrial


A extracção industrial também conhecida como lavra subterrânea é um método de
extracção dos recursos minerais que se encontra em depósitos afastados da superfície e
exige grandes investimentos nos serviços de topografia e grandes maquinas (sondas) na
sua extracção (Sousa, Rafaela 2010).
Segundo Castelo-Branco (2010), a indústria mineira constitui uma forma específica e
concreta de acumulação capitalista primitiva em Moçambique, sendo levada a cabo com
exigências de preservação ambiental e respectiva fiscalização pelo Estado.
Segundo Bacci (2000), a extracção industrial é o conjunto de operações desenvolvidas
para extracção do ouro no subsolo em função de dois condicionantes: geometria do
corpo (inclinação e espessura) e características de resistência e estabilidade dos maciços
que constituem o minério e suas encaixantes.
A extracção industrial, frequentemente, apresenta um alto potencial impacto. Em
contrapartida, poucos minerais, desta classe, são tóxicos e o uso de reagentes químicos
no tratamento destes é limitado. Por isto, os principais problemas ambientais deste tipo
de minerais são o impacto visual, o abandono das lavras, a poeira, o ruído e a vibração
(idem).
Como aponta Castelo-Branco (2010), a crescente entrada de empresas mineiras em
Moçambique e a prática da mineração artesanal colocam o país numa situação de
necessidade de discussão de políticas, de práticas, de opções e do tipo de país que
queremos ter quando os recursos minerais acabarem. Como fazer com que a economia
de Moçambique rompa com a sua natureza extractiva, concentrada e, por consequência,
instável, porosa e dependente.

2.2.1.2. Extracção artesanal


Para Sousa, Rafaela (2010), a mineração artesanal também conhecida por lavra a céu
aberto refere-se a operações de extracção de minérios encontrados em depósitos com

23
menor profundidade, ou seja, as jazidas que estão localizadas bem próximas à
superfície.
Segundo Barbosa (1992), define a mineração artesanal é um tipo de operação de
pequena escala de mineração que não está associado a grandes empresas corporativas.
Esse tipo de mineração de subsistência é um tanto comum nos países em
desenvolvimento e usa muitas ferramentas manuais (picaretas) e métodos que têm sido
utilizados por garimpeiros ao longo da história.
Ao contrário de grandes operações de mineração que fazem uso de máquinas pesadas,
explosivos e tratamentos químicos, os garimpeiros costumam aproveitar métodos mais
primitivos. A maioria dessas operações de mineração em pequena escala emprega
ferramentas manuais simples. A mineração artesanal é um tipo de extracção do ouro de
pequena escala que acontece com o uso de ferramentas simples e exige pouco ou
nenhum treinamento, ela corresponde a uma percentagem significativa anual do ouro
em todo o mundo da produção, embora muitos outros materiais também sejam obtidos
através desta técnica (Dondeyne, 2005).
Estas ferramentas são empregues usualmente quando as camadas dos minerais são
aproximadamente horizontais e ocorrem em profundidades pequenas e reduzida
espessura de cobertura de estéril (Aguiar et al, 2008).
Este tipo de mineração coloca em risco os próprios garimpeiros pois verifica-se nesta mina
um eminente perigo de desabamento de terras onde a escavação é baseada mediante o uso
de picaretas, porque os garimpeiros artesanais não dispõem de condições económicas
suficientes para fazer face as técnicas sofisticadas (Silva, 2010).
Em alguns casos, trabalhadores agrícolas sazonais encontram emprego na mineração
artesanal quando não trabalho intenso até a colheita, apesar de que há mineiros
artesanais actuando em tempo integral. Muitos outros factores económicos também
podem conduzir os trabalhadores de outras áreas à mineração artesanal como uma forma
alternativa de se conseguir meios de subsistência (Barbosa, 1992).

Na mineração artesanal, surgem maiores riscos de comprometimento ambiental apesar


de se ter um maior aproveitamento do corpo mineral, gera-se maior quantidade de
estéril, poeira em suspensão, vibrações e riscos de poluição das águas, caso não sejam
adoptadas técnicas de controlo da poluição (Bacci, 2000).

24
2.3. Recursos naturais
Segundo o MICOA (1995:78), recurso natural “é qualquer parte do ambiente natural
como o ar, água, solo, floresta, fauna e minerais”.
Para Brito (2006, p. 72) os recursos naturais são aqueles que se originam sem qualquer
intervenção humana”.
Recursos Naturais são geralmente entendidos como todos aqueles que constituem uma
dádiva, sua existência não decorre da acção do homem e que sejam úteis para alcance do
desenvolvimento económico (Per-Åke Andersson et al., 2007).
Recursos naturais são elementos da natureza com utilidade para o Homem, com o
objectivo do desenvolvimento da civilização, sobrevivência e conforto da sociedade em
geral, é qualquer insumo de que os organismos, as populações e os ecossistemas
necessitam para sua manutenção (Pensamento Verde, 2013).
São considerados recursos naturais tudo que é necessário ao homem e que se encontra
na natureza, dentre os quais podemos citar: o solo, a água, o oxigénio, energia oriunda
do Sol, as florestas, os animais, dentre outros (Castelo-Branco, 2009).

2.3.1. Classificação dos recursos naturais


De acordo com Fonseca (1992 apud SENHORAS; MOREIRA; VITTE, 2009, p.3), em
concordância com a definição de recursos naturais anteriormente adoptada, adiciona a
classificação dos recursos renováveis e não renováveis, em função de suas capacidades
ou não de esgotamento.

 Recursos naturais renováveis


Segundo Freitas (2010), os recursos naturais renováveis são aqueles que detêm a
capacidade de renovação após serem utilizados pelo homem em suas actividades
produtivas. Os recursos com tais características são: florestas, água e solo. Caso haja o
uso ponderado de tais recursos, certamente não se esgotarão.
De acordo com o Pensamento Verde (2013), os recursos naturais renováveis, são
aqueles que são inesgotáveis (como a luz solar e os ventos) ou aqueles que possuem
capacidade de renovação, seja pela natureza (a água, por exemplo), seja pelos seres
humanos (os vegetais cultivados na agricultura).

 Recursos naturais não renováveis

25
Os recursos não renováveis são aqueles que uma vez utilizados não pode ser substituído
como, por exemplo, o combustível fóssil que uma vez utilizado para movimentar um
veículo, está perdido para sempre (Pensamento Verde, 2013)5
Freitas, Eduardo de. (2010),6 define os recursos naturais não renováveis são aqueles que
abrangem todos os elementos que são usados nas actividades antrópicas, e que não têm
capacidade de renovação. Com esse aspecto temos: o alumínio, o ferro, o petróleo, o
ouro, o estanho, o níquel e muitos outros. Isso quer dizer que quanto mais se extrai,
mais as reservas diminuem, diante desse fato é importante adoptar medidas de consumo
comedido, poupando recursos para o futuro.
Os recursos naturais não renováveis são recursos esgotáveis e cada vez mais os órgãos
ambientais criam normas e leis para conter a exploração indiscriminada destes recursos
(Braga at all. 2005).

2.4. Recursos naturais na Zambézia


Na província da Zambézia há ocorrência de diversos recursos minerais como as
intrusões de sienito nefelínico, de areias pesadas, calcários, margas e pedras preciosas
como o berilo e a turmalina, depósitos de caulinite e de outros minerais de argila em
pegmatitos, tais como o monte Maúzo, Cargo, Serra Tundo, monte Derre, ocorrência de
bauxite que se localiza no monte Maúzo, a cerca de 46 km de Milange (Lächelt 2004).

De acordo com Lächelt (2004) na região de Alto Ligonha ocorrem pegmatitos e também
minerais de metais raros tais como tântalo e nióbio, assim como minerais de terras raras
ocorrem frequentemente associados a pegmatitos, e em menor grau a intrusões alcalinas
e carbonatos.

Há ocorrência de Mármore e Granitos vermelhos e castanhos nos distritos de Chirre, no


monte Morrumbala, a oeste da província da Zambézia, ocorrem granitos vermelhos de
grão médio, sienitos alcalinos e sienitos vermelhos (Afonso & Marques, 1998).

5
PENSAMENTO VERDE (2013). Como preservar os recursos naturais não
renováveis? http://www.pensamentoverde.com.br/meio-ambiente/como-preservar-os-recursos-naturais-nao-
renovaveis/.

6 FREITAS, Eduardo de. (2010). "Os recursos naturais "; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/os-recursos-naturais.htm. Acesso em 28 de Maio de 2020

26
2.4. Impactos Ambientais
Segundo a resolução de CANOMA (1986),7 o impacto ambiental ê definido como
qualquer alteração das propriedades, físicas, químicas e biológicas, causada por
qualquer forma de matéria ou energia resultante da actividades humanas que, directa ou
indirectamente afectam a saúde e bem-estar da população, actividades sociais e
económicas, a biota, as condições estéticas e sanitárias de meio ambiente, e a qualidade
dos recursos ambientais.
Para Mugadui, Adelino (Isced, 2017: 19) o impacto ambiental é qualquer mudança no
ambiente biofísico ou no ambiente socioeconómico causado por um a actividade directa,
do passado ou proposta, especialmente com efeitos na água, no ar, e na saúde das
pessoas. Os impactos ambientais variam quanto ao tipo e natureza, magnitude, extensão,
período, duração, incerteza (probabilidade), reversibilidade e significância.
O Castelo-Branco, C. (2009b), define o impacto ambiental, refere-se exclusivamente aos
efeitos da acção humana sobre o meio ambiente. Portanto, fenómenos naturais, como:
tempestades, enchentes, incêndios florestais por causa natural, terramotos e outros,
apesar de poderem provocar as alterações ressaltadas, não caracterizam como impacto
ambiental.
Estes autores convergem ao afirmar que o impacto ambiental é toda mudança que o
homem causa na natureza, quando este vai a busca de meios para sua sobrevivência,
estas mudanças na mineração podem resultar na alteração do relevo devido à alteração
da intensidade dos processos morfogênicos (intensificação do escoamento superficial), à
redução da infiltração em função do aumento da declividade, além da retirada da
cobertura vegetal da área de exploração.

2.5. Impactos ambientais nos recursos naturais


Segundo Enriquéz (2007, p .27)) deixa claro que a mineração altera de forma
substancial o meio físico, provocando desmatamentos, erosão, contaminação dos corpos
hídricos, aumento da dispersão de metais pesados, alterações da paisagem, do solo,
além de comprometer a fauna e a flora. Afecta, também, o modo de viver e a qualidade
de vida das populações estabelecidas na área minerada e em sua volta.

Segundo Mechi e Sanches (2010, p. 209), praticamente toda atividade de mineração


implica supressão de vegetação ou impedimento de sua regeneração. Em muitas

7
Resolução CONAMA nº 1, de 23 de Janeiro de 1986
27
situações, o solo superficial de maior fertilidade é também removido, e os solos
remanescentes ficam expostos aos processos erosivos que podem acarretar em
assoreamento dos corpos d’água do entorno. A qualidade das águas dos rios e
reservatórios da mesma bacia, a jusante do empreendimento, pode ser prejudicada em
razão da turbidez provo cada pelos sedimentos finos em suspensão, assim como pela
poluição causada por substâncias lixiviadas e carreadas ou contidas nos efluentes das
áreas de mineração, tais como óleos, graxa, metais pesados.

Os principais impactos ambientais decorrentes dessa atividade são: a) desmatamentos e


queimadas; b) alteração nos aspectos qualitativos e no regime hidrológico dos cursos de
água; c) queima de mercúrio metálico ao ar livre; d) desencadeamento dos processos
erosivos; e) mortalidade da ictiofauna; f) fuga de animais silvestres; g) poluição química
provocada pelo mercúrio metálico na hidrosfera, biosfera e na atmosfera (IPT, 1992).8
Os problemas ambientais originados pela mineração de materiais de uso imediato na
construção civil (areia, brita e argila) e os conflitos com outras formas de uso e
ocupação do solo vêm conduzindo a uma diminuição crescente de jazidas disponíveis
para o atendimento da demanda das principais regiões metropolitanas (Machado, 1995).
Na mineração, os impactos ambientais negativos podem ser diagnosticados desde seu
planejamento, apesar de aumentarem sua potência à medida que as etapas mudam,
porém é essencial que esses impactos sejam reconhecidos no início da implementação
para que seja possível a mitigação da extensão desse impacto futuramente.

Os impactos vêm desde a degradação da paisagem até efeitos danosos ao equilíbrio do


ecossistema como redução ou destruição de habitat, morte de espécimes de fauna e
flora, chegando até a extinção (Mechi e Sanches, 2010, p. 210).

2.6. Desenvolvimento e desafios nos recursos naturais


Recursos naturais são renováveis apenas enquanto houver um equilíbrio entre a taxa de
reprodução e a taxa de extracção (ou exploração) do recurso. No caso da maioria dos
minérios e hidrocarbonetos, a taxa de reprodução é tão lenta e as condições necessárias
à sua reprodução são tão extremas que, por simplicidade e definição, estes recursos são
considerados não renováveis. Isto significa que a sua extracção contínua, conduz ao fim

8
IPT. (1992). Curso de Geologia de Engenharia aplicada a problemas ambientais. São
Paulo. V3. 291 p.
28
de um certo período e dada uma certa taxa de extracção e uma certa dimensão dos
jazigos, ao seu desaparecimento muito antes da natureza conseguir repor o recurso.
Ollivier et al, (2009) e Castelo Branco (2008ª), afirmam que os recursos naturais
exploráveis (minerais, florestais, marinhos), localizam se frequentemente em áreas onde
já há outras actividades económicas e sociais, onde vivem populações, onde actividades
económicas alternativas à exploração dos recursos naturais podem ser desenvolvidas.
As receitas da exploração dos recursos naturais devem, sobretudo, ser apropriados por
via fiscal (impostos sobre o rendimento do capital e royalties), para financiar a criação
de oportunidades alternativas de desenvolvimento que diversifiquem a base produtiva,
comercial e tecnológica e alarguem a base social e regional de acumulação (Castelo-
Branco, 2008ª e Smith, 1992).
Estas alternativas podem entrar em conflito com a exploração de recursos naturais,
especialmente quando esta exploração gera (ou corre o risco de gerar) externalidades
negativas como poluição da água, solo e ar, desflorestamento, redução da
biodiversidade, etc. (idem)
A dependência em relação aos recursos minerais e hidrocarbonetos, a estratégia é finita
e, portanto, insustentável no tempo e do ponto de vista intergeracional. No caso da
dependência em relação a outros recursos naturais, a sustentabilidade temporal e
intergeracional da estratégia depende do maneio do recurso em causa (Ollivier et al.,
2009 e Smith 1992).

2.7. Sustentabilidade da Mineração


Segundo o Banco Mundial (2005)9, com 65% da população a viver nas zonas rurais, a
economia de Moçambique continuará sem dúvida a contar com grande parte da sua base
no recurso natural. Mesmo com as rápidas taxas de urbanização, a subsistência e o bem-
estar de grande parte dos moçambicanos continuarão a depender do uso de terra, dos
recursos de água, produtos florestais, pesca e também recursos minerais.
O desenvolvimento sustentável atualmente é uma das bases de discussões sobre as
futuras gerações, tendo como principal foco atender as necessidades da geração atual
sem afetar as futuras, considerando um manejo eficiente dos ecossistemas tanto sob os
aspectos do meio físico como biótico (Moreira, 2003, p. 9).

9
BANCO MUNDIAL (2005); Natural Resources and Growth Sustainability; World
Bank.

29
Amade e Lima (2009, p. 238) afirmam que “empresas de mineração têm sido orientadas
em usar sua capacidade técnica/financeira para estimular governos locais no
desenvolvimento de novos negócios não ligados à mineração”.
Enriquéz (2007, p .27) e Viana (2012) acreditam que a mineração pode ser sustentável
se promover a equidade intra e intergeracional de formas diferentes, minimizando e
compensando seus impactos negativos e mantendo níveis de proteção ecológica e de
padrões ambientais.
O termo ‘mineração sustentável’ ainda não é totalmente reconhecido pois ainda gera
conflitos com a real sustentabilidade constante, entretanto, o fato de utilizarem de
recursos esgotáveis, essa atividade tem que compensar pelo menos a sociedade que é
afetada pelo seu desenvolvimento (Carvalho et al., 2009, p. 1).
Segundo Castelo-Branco (2008ª) e Smith (1992), é necessário compensar a sociedade e
a natureza pelos efeitos negativos potenciais da exploração de recursos naturais (grande
potencial de instabilidade macroeconómica, poluição, esgotamento dos recursos,
competição com actividades existentes ou alternativas podendo implicar que tais
actividades deixem de existir ou nunca se concretizem).

30
CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO TRABALHO
No presente trabalho a metodologia desenvolvida é apresentada, através de um
fluxograma das actividades, que utilizou de dois métodos, para fornecer resultados
satisfatórios, os quais foram: (1) Pesquisa Bibliográfica; (2) Identificação dos impactos
ambientais com maiores significâncias.

Figura 4- Fluxograma da pesquisa


Fonte: Autor, 2019

3.1 Tipo de Pesquisa


3.1.1 Abordagem do problema
Quanto à abordagem metodológica, a pesquisa é mista, isto é, qual-quantitativa. Castro
et al (1976), afirma que a conjugação de elementos qualitativos e quantitativos possibilita
ampliar a obtenção de resultados em abordagens investigativas, proporcionando ganhos
relevantes para as pesquisas complexas realizadas no campo da Educação. Com esta
abordagem, a pesquisa tem o ambiente como fonte directa dos dados e a procura ouvir o
que as pessoas têm a nos dizer sobre o assunto relacionado, explorando suas ideias e
preocupações sobre o entendimento do tema.

31
3.1.2 Natureza do problema
A pesquisa é aplicada. Para Danton (2002), “a pesquisa aplicada, objectiva a busca de
solução para problemas concretos e imediatos.

3.1.3. Do ponto de vista de seus objectivos


A pesquisa é descritiva. Segundo Trivinos (1987), o estudo descritivo exige do
pesquisador uma delimitação precisa de técnicas, métodos, modelos, teorias que
orientarão a colecta e interpretação dos dados, cujo objectivo é conferir validades
científicas à pesquisa.

3.1.4. Do ponto de vista dos procedimentos técnicos


Esta pesquisa tem carácter bibliográfica. Para Marconi & Lakatos (2007), ‟pesquisa
bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em
relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros,
pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação
orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão”.

3.2. Métodos de Pesquisa


No levantamento de dados, o pesquisador teve como foco as etapas que contribuem para
a ocorrência de impactos da mineração, dentre várias técnicas de recolha de dados
foram optadas pelas seguintes:
(i) Método bibliográfico: o método bibliográfico que consistiu na análise de
diversas obras e artigos científicos que abordam assuntos relacionados com a
temática em análise.
(ii) Método de observação directa: consistiu na deslocação do pesquisador a
localidade de Mutala, onde observou-se in loco, as condições geográficas, soca
ambientais e socioeconómicos na exploração dos recursos minerais, bem como
os principais impactos ambientais causados pela extracção do ouro como é
exemplo da contaminação das águas.

(iii) Método de observação Indirecta: este metodo permitiu a recolha de


informação georreferenciada da localização de Mutala, e de informação de
natureza física e socioeconómica da área de estudo, recorrendo se para o efeito
aos SIGs (GPS, ArcGis e Google Maps).

32
(iv) Método estatístico: aplicado na elaboração de tabelas, gráficos assim como no
processamento e interpretação dos resultados (Microsoft Excel).

Para o processamento de dados, o pesquisador optou pela combinação os seguintes


métodos:

(i) Método Espontâneo (AD HOC)


O método foi usado para consolidar as informações dadas pelos entrevistados, baseado
se no conhecimento empírico fez se estimativa dos impactos ambientais, pôs em algum
momento recorreu se a interpretação de fotos extraídas e gravações feitas para suprir a
insuficiência de informação pôs recebemos fichas não preenchidas e outras preenchidas
de forma incorrecta. Assim foi possível fazer uma estimativa rápida da avaliação dos
impactos ambientais de forma simples, com interpretação fácil e de maneira
dissertativa.

(ii) Método Checklist (listagem)


O uso deste método, consistiu na identificação e quantificação dos impactos através da
análise dos meios físicos, bióticos e socioeconómico apresentados de forma
compreensiva em uma tabela, indicando a priori os impactos ambientais mais prováveis
associados a actividade mineira em Mutala. A mesma listou todos impactos e fez a
avaliação das suas consequências.

(iii) Métodos de Matrizes de Interacção


A partir da matriz de Leopold foi elaborada a lista dos impactos ambientais, dando
cobertura aos factores ambientais, naturais e sociais, para permitir a melhor
compreensão dos fenómenos a volta da actividade.

(iv) Redes e diagramas


Usou se este método para propor medidas mitigação correctivas após a visualização e
avaliação dos impactos, tornando possível informatiza-los e introduzir parâmetros
probabilísticos.

3.3. Método de Abordagem


A presente pesquisa foi realizada com base numa abordagem dedutiva. A pesquisa
consistiu em perceber de forma dedutiva (do geral ao mais especifico), a cadeia de

33
raciocínio sobre a problemática da mineração artesanal. Para tal usou hipóteses para
chegar a uma conclusão.

3.4 Tipo de Dados


Na pesquisa foram buscados dados obtidos de fontes primárias e secundárias.

3.4.1. Vantagens e Desvantagens de usar dados primários


A principal vantagem dos dados primários esteve na possibilidade de serem
geograficamente aplicados, e poder contactar participantes estando distantes, por
ligações. A outra vantagem esteve nas entrevistas presenciais que foram conduzidas de
forma relativamente barata.

As desvantagens no usar dados primários durante a pesquisa, esteve na probabilidade de


participantes não poderem atender as ligações ou desligar no decorrer das entrevistas.
Em algum momento as entrevistas por ligação foram curtas devido aos custos.

3.4.2. Vantagens e Desvantagens de usar dados secundários


A vantagem do uso de dados secundários esteve na possiblidade de reduzir amplamente
o tempo e o custo necessário para realizar uma pesquisa e poder suprir determinadas
questões, pós houve disponibilidades de dados consideráveis para fundamentar uma
tomada de decisão e a desvantagem esteve na falta de atualização de algumas
informações deixando o pesquisador com pouco controle sobre os dados.

3.5. A colecta de dados


Nesta pesquisa foram empregues dados de fontes primárias, onde recorreu se a ligações
telefônicas, inquéritos e entrevistas, enquanto que as fontes secundárias consistiram na
revisão da literatura de artigos publicados.

3.5.1. Técnicas de Colecta de Dados


Nesta pesquisa foram empregues duas principais técnicas para colecta de dados que são:
 Entrevista semiestruturada: foram entrevistados seguintes participantes:
autoridades locais, profissionais da saúde dos centros de saúde da localidade,
membros do governo, garimpeiros e a população local.
 Questionário: usou se questionário contendo questões abertas e fechadas, o
permitiu a recolha de um elevado número de dados num curto período de tempo. As

34
questões abertas foram usadas para complementar algumas questões fechadas e
contou com a variável independente a extracção mineira e variável dependente
resultado.

3.6. Universo e Amostra


O universo em Mutala é estimado em 17856 habitantes, e para o estudo optou se por
trabalhar com a população jovem correspondente a cerca de 8.300 habitantes, com
idades compreendidas entre 15 a 60 anos de idade.

A amostra obedeceu a técnica de selecção por conveniência, que consistiu em


seleccionar indivíduos de fácil disponibilidade, e com algum conhecimento sobre o
tema em estudo, assim a amostra foi constituída por 75 pessoas dentre elas, 2 técnicos
de recursos minerais, 5 técnicos das organizações não-governamental que trabalham no
Distrito, em matéria de meio ambiente, 15 membros da comunidade local, 10 membros
das autoridades locais e 43 garimpeiros que seleccionados aleatoriamente dando a
mesma possibilidade de todos fazerem parte ou não da pesquisa. A amostra prevista foi
de 75 participantes, mas apenas foi possível trabalhar com 60 pessoas, devido ao factor
tempo.

3.6.1 Amostragem não probabilística


A presente pesquisa utilizou-se, amostras por quotas que consistiu em encontrar e
entrevistar um número prescrito de participantes de acordo com os objectivos da
pesquisa.

3.6.2 Amostragem probabilísticas


Esta amostragem diz respeito aos procedimentos que utilizam alguma forma de selecção
aleatória dos seus membros da população, onde todos tiveram a mesma probabilidade,
de ser incluídos na amostra em relação a população, como forma de garantir a
representatividade de amostra em relação à população.
Para esta presente pesquisa usou-se amostras casuais simples, onde cada membro da
população teve a mesma chance de ser seleccionado na amostra e responder a entrevista
de forma livre.

35
3.7. Questões Éticas Da Pesquisa
Para a obtenção de dados, o pesquisador dirigiu-se às autoridades locais para uma breve
apresentação e explicação da realização da pesquisa sobre a problemática dos impactos
ambientais da mineração no povoado de Mutala, todas as pessoas que faziam parte do
grupo alvo não foram identificadas ao dar o seu contributo em relação às questões que
lhes foram colocadas, apenas usou se a estratégia de colocar as iniciais do seu nome e
apelido. Portanto, para a sua protecção todas as informações fornecidas por estes nesta
pesquisa foram arquivadas de forma confidencial, não foram publicados ou
comunicados, com o intuído de não colocar em causa a privacidade e identidade.

36
CAPITULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A estrutura deste capitulo obedeceu em quatro etapas: i) leitura e análise dos
instrumentos de recolha de dados; ii) transcrição dos questionários e entrevistas; iii)
confronto dos resultados, com o objectivo de verificar possíveis similaridades e
contradições nos discursos dos inqueridos; iv) confronto da revisão bibliográfica com os
resultados obtidos no trabalho de campo.

4.1. Legislação da actividade mineira no contexto Moçambicano


O sector de mineração é considerado de grande importância para a gestão ambiental,
quando praticada de forma não correcta pode trazer sérios danos ambientais no solo,
rios e camada superficial do solo, além de provocar interferência negativa à comunidade
local, representando também preocupação de carácter social, com isto a mineração deve
ser bem planeada.
No contexto moçambicano a actividade mineira, é regida pelos regulamentos sobre o
processo de Avaliação de Impacto ambiental (AIA), do Decreto 76/98 de 29 de
Dezembro de 199810, que foi revogado pelo Decreto nº 45/2004 de 29 de Setembro de
2004 emitido pelo MICOA.

A actividade ainda é regulamentada pela Lei de Minas11:


Segundo o artigo 43 da Lei de Minas (Lei 14/2002, de 26 de Junho):
 O uso e ocupação da terra necessária para a realização de actividade mineira são
regulados pelas disposições sobre o uso e aproveitamento da terra constantes da Lei
nº 19/97, de 1 de Outubro, sem prejuízo das disposições das alíneas seguintes;
a) O uso da terra para operações minerais tem prioridade sobre outros usos da terra
quando o benefício económico e social é superior comparativamente a outros usos;
b) Os títulos de uso e aproveitamento da terra obtidos nos termos da Lei de Terra e a
Licença ambiental que são atribuídas com o fim de exploração ao abrigo de uma
concessão mineira ou certificado têm um período de validade e dimensão
consistentes com o definido na concessão mineira ou certificado mineiro e são
automaticamente renovadas quando estes títulos forem renovados; e

10
BOLETIM DA REPUBLICA. (1998); Decreto 76/98 de 29 de Dezembro de 1998. Regulamento de
AIA. Maputo. Imprensa Nacional.
11
BOLETIM DA REPUBLICA. (1997); Lei 19/97 de 1 de Outubro Lei de Terras. Maputo. Imprensa
Nacional.

37
c) No caso de uma área designada de senha mineira ser declarada ou ser emitida uma
concessão mineira ou certificado mineiro, sobre terra sujeita a direitos de uso e
aproveitamento da terra, esses direitos anteriormente existentes são considerados
extintos após o pagamento de uma indemnização justa e razoável ao titular do
direito mineiro, no caso de concessão mineira ou certificado mineiro.
A Lei 20/97 de 1 de Outubro de 9712, lei do meio do Ambiente, aplica-se a todas
actividades que de forma directa ou indirectamente podem interferir nas componentes
ambientais, ela incide na precaução sobre a ocorrência de impactos negativos
significativos ou irreversíveis, mesmo sem certeza científica da ocorrência de tais
impactos.
A mesma dita que toda a actividade que pode provocar impactos ambientais estão
sujeitas a avaliação de impactos ambientais para poder acesso ao licenciamento
ambiental da actividade e deve preceder de quaisquer outras licenças legalmente
exigidas para cada caso e a avaliação dos impactos ambientais deve se basear num
Estudo do Impacto Ambiental (EIA), feito por entidades credenciadas pelo MITADER.

4.2. Indústria extractiva no distrito de alto Molocué


Ao nível de todo distrito existem cerca de 51 licenças concedidas, das quais 23 para
prospecção e Pesquisa, 04 Concessões, 23 de comercialização, e 1 senha mineira. No
total de 51 licenças referidas, somente 07 titulares exercem as suas actividades de
exploração.
Existem Mutala, para além da extracção artesanal cerca de três indústrias de extracção
mineiras, nomeadamente: Indústria Lavaria-chinesa, no povoado de lavaria, que extrai
exclusivamente o ouro, a Indústria de Cacumue, no povoado com mesmo nome,
dedicada a extracção de tantalite também chinesa e a Indústria Hapua, no povoado de
Hapua uma empresa Sul Africana, que dedica se a extracção de ouro, tantalite entre
outros. A actividade é maioritariamente artesanal, destacando-se a Associação de
Namunono em Mutala e alguns núcleos de extracção artesanal dos recursos minerais.

12
BOLETIM DA REPUBLICA. (1997); Lei 20/97 de 1 de Outubro Lei do Ambiente. Maputo. Imprensa
Nacional.

38
Figura 5: Imagem da empresa Sul Africana de extracção mineira de Hapua
Fonte: Autor, 2019

Quando questionada se a população tinha ganhos com a implantação das indústrias de


na localidade, cerca de 82% das respostas convergiam em dizer que se sentem lesados
pós, população está privada de praticar a actividade em áreas vizinhas as empresas,
pondo em causa a sua maior fonte de sustento, por outro lado pela responsabilidade
social das empresas que não se reflecte em ganhos na comunidade.
Diante destas declarações da população é caso para dizer que não estão sendo
observados os deveres do explorador que segundo a lei de minas consta do artigo 9 dos
deveres do titular das minas na sua alínea c) que diz:
“…as empresas devem compensar os utentes da terra por danos causados a esta ou às
propriedades resultantes das actividades de reconhecimento na área”.

4.3. Identificação dos principais impactos ambientais


No povoado de Mutala, foram identificados impactos ambientais como a perda de
vegetação; a poluição das águas, a alteração da camada superficial do solo; a poluição
atmosférica, erosão do solo e alteração da paisagem natural bem como os impactos
sociais, económicos, na agricultura e da saúde da população.

4.3.1. Perda de vegetação local


Em Mutala, a perda da biodiversidade é uma das maiores consequências da actividade
de mineração, devido a degradação da vegetação que é destruída para dar início da
exploração. Há remoção da vegetação por sua vez reflecte-se na redução de alimentos e
de abrigo para a vida selvagem de diversas espécies.

39
Tal como ilustra a imagem abaixo, a vegetação em Mutala é eliminada no começo das
actividades, ela é dada pela destruição de espécies (animais, plantas e outras espécies), o
que faz com que haja a compactação dos solos nas áreas destinadas a extracção
contribuindo para incidência directa dos raios solares e se reflecte no aumento da
evaporação (desidratação do solo).

Figura 6: Imagem ilustrativa de áreas queimadas para a pratica de garimpo.


Fonte: Autor, 2019

Perante esta situação o pesquisador procurou saber quais são as causas da perda da
vegetação na localidade e o gráfico a baixo mostra os resultados do inquérito.

Causas da perda da vegetação

79% 89%
100 70
80
60
21%
40 11% 30%
20
0
Membros da Garimpeiros Governo
comunidade

Mineração Agricultura

Gráfico 3: Inquérito sobre causas da perda da vegetação


Fonte: Inquérito do estudo, 2019
Segundo o gráfico, os intensões mostram que a actividade mineira é responsável de
cerca de 80% perda da vegetação, e cerca de 20% é dada pela destruição de espécies
para fazer face a agricultura, devido a perda da vegetação várias componentes

40
ambientais são afectadas, tais com a perturbação da vida das espécies, a perturbação da
vida na água, no ar, no solo e fraca reprodução das espécies (aves, mamíferos e outros).

4.3.2. Poluição da Água


Em Mutala, as escavações interceptam os cursos de água, o que resulta nas alterações
em relação as características hidrológicas das áreas afectadas, elas atingem os níveis do
lençol freático, e causa mudanças no fluxo dos rios e as partículas em suspensão
incluindo a cobertura vegetal removida durante da limpeza das rochas são transportadas
e depositadas nos rios.
Sabe-se que a extracção do ouro produz resíduos ricos em Arsénio (As), os sedimentos
removidos são arrastados pelas águas das chuvas e pelo vento para as zonas baixas,
incluindo os cursos de água, por sinal as usadas pela população para o consumo, o que
torna o impacto mais expressivo nos cursos de água da região onde a actividade é
praticada, as imagens a seguir ilustram alguns cursos de águas que a população usa para
fins diversos incluindo para o consumo.

Figura 7: Imagens das fontes de água na localidade de Mutala.


Fonte: O autor, 2019

Perante esta situação da turvação das águas, o pesquisador procurou saber acerca das
fontes de abastecimento de água para o consumo na região, as respostas foram:

41
Fontes de Água
93% 87%
90%
100
80
60 40% 40%
40 20%
5% 2% 5% 5% 10% 3%
20
0
Membros da Garimpeiros Governo Sector da Saude
comunidade

Rios Poço tradicional Água canalizada

Gráfico 4: Inquérito sobre fontes de água na localidade de Mutala


Fonte: Inquérito do estudo, 2019

Segundo respostas do inquérito apresentado no gráfico de acima maior parte dos


intensões dos participantes, afirmam que a população recorre a água dos rios para o
consumo.
Segundo testes químicos e microbiológicos de uma amostra de água colhida no rio Lice,
feitos no laboratório do Hospital Geral de Quelimane (HGQ), mostraram a presença da
turvação da água (=8 NTU/Unidade Nefelometria de Turbidez), ligada a presença de
metais o que levou a redução do pH das águas (pH =5.9), registo ainda da presença de
coliformes fecais acima dos níveis recomendados (> 10 UFC/unidade formadora de
colónias).
Neste contexto os inquiridos apontam o garimpo como causa primária da contaminação
das águas dos rios, devido ao assoreamento que estes registam no processo de limpeza
das rochas, o que aumenta da turbidez das águas, fazendo com que não seja própria para
o consumo humano.

4.3.3. Alteração da camada superficial do solo


Em Mutala, uma vez extraída a cobertura vegetal das áreas de exploração, há exposição
directa do solo aos raios solares e a incidência directa das chuvas. As escavações da
camada superficial e os restos vegetais deixados durante a operação alteram de forma
significativa as características químicas do solo por conta da decomposição rápida da
matéria orgânica, que por sua vez resultam em modificações no sistema hídrico da
região.

Segundo a imagem abaixo, com a retirada dos solos há alteração geomorfologia dos
solos devido a remoção da camada mais fértil do solo causada pela presença de metais

42
como Arsénio e Chumbo, que tornam os solos impróprios para práticas de agricultura
em Mutala.

Figura 8: Imagem ilustrativa da remoção da camada superficial do solo para extracção do ouro.
Fonte: Autor, 2019

Diante desta situação o pesquisador procurou saber das causas que levam a alteração da
camada superficial dos solos nesta localidade e obteve as seguintes respostas conforme
mostra o gráfico abaixo.

Causas alteração da camada do solo


78% 80% 79%
80
60
40 22% 20% 17%
20 2% 4%
0%
0
Comunidade Garimpeiros Governo

Mineiração Queimadas Agricultura

Gráfico 5: Inquérito sobre causas da alteração da camada do solo


Fonte: Inquérito do estudo, 2019

Dos resultados obtidos cerca de 78 % da comunidade, 80 % dos garimpeiros e 79% dos


membros do governo inquiridos mostram que os solos são alterados com a prática do
garimpo e apenas uma média de 20% dos resultados aponta a agricultura como sendo a
outra causa da alteração dos solos na nesta localidade.

43
4.3.4. Poluição atmosférica
No terreno este impacto é notório quando os garimpeiros se encontram em actividade
porque o relevo local não é homogéneo, os resíduos sólidos em suspensão são
arrastados pelos ventos para as zonas baixas, incluindo os cursos de água.

Causas da poluição do ar em Mutala


100%
90% 90%
100
80
60
40
10% 10%
20 0% 0% 0% 0%
0
Comunidade Garimpeiros Governo

Mineiração Agricultura Pecuaria

Gráfico 6: Inquérito sobre causas da poluição da atmosfera em Mutala


Fonte: Inquérito do estudo, 2019

De acordo com os resultados obtidos no inquérito, cerca de 90% da comunidade, 90%


dos garimpeiros e 100% dos membros do governo inquiridos apontam que os resíduos
sólidos provenientes do garimpo como sendo responsáveis pela poluição atmosférica
em Mutala e são responsáveis de maior parte das doenças respiratórias (IVR’s) e
problemas da pele devido composição das poeiras.

4.3.5. Erosão do solo


Em Mutala ocorre maioritariamente a mineração a céu aberto, que consiste na retirada
da vegetação nativa seguida das escavações, normalmente os solos diminuem a sua
fertilidade por causa da redução da cobertura vegetal, por sua vez os solos ficam
expostos e vulneráveis a processos erosivos.

44
Figura 9: Imagem ilustrativa de zonas de Mutala assoladas por desabamento de solos, após o garimpo.
Fonte: Autor, 2019

Durante observações, e conforme mostram figura nº 9, em Mutala a situação de erosão


dos solos é uma realidade e deixa preocupado as autoridades.
Quando questionados acerca das causas da erosão neste povoado obtivemos as seguintes
respostas conforme a tabela abaixo.

Causas da erosão em Mutala

100 65%
60% 50% 45%
50 30% 30%
10% 5% 5%
0
Membros da Garimpeiros Governo
comunidade

Garimpo Chuvas Abate de arvores


Gráfico 7: Inquérito sobre causas da erosão na localidade de Mutala
Fonte: Inquérito do estudo, 2019

De acordo com o gráfico, maior percentagem dos entrevistados, refere que os processos
erosivos em Mutala surge através do garimpo que ocorre na sequência das escavações
durante a extracção do ouro, influenciados pela retirada do material de vegetação, o que
faz com que os solos estejam expostos, e aumente a facilidade de escoamento de águas
que acelera o desabamento de terras.

45
4.3.6. Alteração da paisagem natural
A extracção mineira em Mutala, tem consequências na modificação do relevo à curto e
a longo prazo, dado que a vegetação é removida de forma a deixar a área mais acessível
para os trabalhos e em seguida há remoção dos solos para dar espaço a extracção das
rochas. A imagem abaixo ilustra o cenário da paisagem que devido a actividade mineira
encontra alterada.

Figuras 10: Imagem ilustrativa de zonas com alteração da paisagem de Mutala


Fonte: O Autor, 2019

Em Mutala, além da perda da vegetação a paisagem natural é substituída por resíduos


sólidos oriundos da exploração que são amontoados nas áreas próximas e há ainda
ocorrência de grandes crateras resultantes das escavações. Diante deste cenário
obtivemos as seguintes respostas no inquérito.

Causas da alteração da paisagem natural

90% 95%
89%
100
80
60
40
8% 6% 5%
20 2% 2% 3%
0
Comunidade Garimpeiros Governo

Garimpo Queimadas Abate de Arvores

Gráfico 8: Inquérito sobre causas da Alteração da paisagem natural.


Fonte: Inquérito do estudo, 2019

46
Baseando-se nos dados no gráfico, indicam que o garimpo em Mutala origina uma série
de problemas ambientais significativos seja na natureza paisagística ou pedologia dos
solos, dado que as actividades de extracção mineira acontece a céu-aberto, portanto são
visíveis as escavações bem como resíduos sólidos provenientes do garimpo,
amontoados a volta das áreas de exploração, alterando directamente o aspecto visual
paisagístico.

4.4. Impactos sociais, económicos e saúde da população


 Impactos Sociais

O aumento da demografia, que se observa no deslocamento da população para áreas de


actividade, e de prestação de serviços básicos as empresas lá existentes.

 Impactos económicos

A população regista o aumento da posse económica,

Os impactos inerentes a estas actividades afectam a subsistência principalmente das


comunidades locais, além da relevante gravidade social.

 Saúde da população.

A exposição das impurezas do ar, da água, que afectam à saúde, e são sentidos ao longo
do tempo, e podem ser:
(i) Impactos imediatos:
 Desabamento de terras que causam acidentes mortais nas operações,
(ii) Impactos progressivos:
 Estresse,
 Poeiras que causam doenças pulmonares (ex. pneumoconiose, silicose,
faringite pneumonite, asmas, bronquite, renite alérgica, tuberculose e cancro
do pulmão), e problemas dermatológicos (pele) devido a sua composição.
 As águas contaminadas que podem causar doenças de origem hídrica: (ex.
Shiguelose, Hepatite A, Ascaridíase e Amebíase).

 Na agricultura
Durante a mineração artesanal a vegetação (parte fértil do solo) é retirada, as poeiras e
as águas de irrigação, com a ocorrências de metais (Arsénio e Chumbo) resultantes do
processo de limpeza das rochas e são depositadas sobre áreas cultivadas o que

47
dificultam a circulação de nutrientes nas culturas e estes cenários levam a baixa
produtividade agrícola,

Esta situação torna-se mais agravante no período chuvoso, dadas as características dos
solos em Mutala, serem predominantemente argilosos, com a deposição de poeiras
provenientes da mineração, dificultam cada vez mais a circulação de nutrientes,
favorecendo o acumulo de água na superfície.

4.5. Impactos antes e depois da massificação da mineração artesanal em Mutala


A tabela abaixo faz uma comparação dos impactos identificados em Mutala desde o
período da exploração dos primeiros jazigos até altura da realização da presente
pesquisa ou seja 2012-2019, fazendo a descrição da sua área de incidência.

Período de Analise
Constituinte 2012-2015 2016-2019
Descrição do impacto Ambiental
Ambiental Significância
Vegetação Perda de Fauna Baixa Alta
Perda de vegetação Moderada Alta
Água Poluição da água Moderada Muito Alta
Ar Poluição da atmosfera Moderada Alta
Solo Erosão do solo Alta Alta
Paisagem Alteração da paisagem natural Moderado Alta
Tabela 1: Resumo comparativo dos impactos identificados em Mutala
Fonte: Secretaria da localidade, 2019

4.6. Medidas de mitigação dos impactos ambientais na mineração artesanal


Depois da extracção mineira, a área de extracção já não oferece condições, para
continuação de outro tipo de actividades, e para que não isto aconteça deve recorrer-se
ao processo de entulho para revegetação das mesmas, para minimizar a situação os
impactos ambientais.
Depois da identificação dos impactos foram elaboradas medidas correctivas visam
restabelecer as componentes dos meios físico, biótico e antrópico degradadas, são elas:
medidas estruturais e não estruturais como mostra o quadro abaixo:
Componente Ambiental Medidas estruturais Medidas não estruturais

48
Poluição de água,  Construção furos de água,  Reciclagem das águas
alteração da camada do  Construção de barreiras para em recipientes para
solo e erosão dos solos retenção dos solos retirados evitar a limpeza das
em áreas planas, para não rochas junto dos rios.
prejudicar o fluxo das águas e  Entulho dos solos
do lençol freático;  Intensificação da
 Construção de uma barragem vegetação natural.
ou represas de água para o  Palestras de educação
consumo humano. ambiental aos
 Construção de ETA. garimpeiros.

Poluição atmosférica e  Criação do lençol vegetal por  Humidificação


alteração da paisagem formas reduzir a quantidade permanente dos solos,
natural de poeira em suspensão no ar,
 Intensificação da
vegetação natural.
 Massificar do plantio de
árvores de fácil adaptação e  Planeamento das áreas
crescimento, testadas em a serem exploradas.
laboratórios (ex. Eucalliptus
 Palestras de educação
sp).
ambiental aos
garimpeiros.

Tabela 2: Medidas de Mitigação dos impactos da mineração artesanal em Mutala


Fonte: Autor, 2019

49
CAPÍTULO V: CONSIDERACOES FINAIS
O presente trabalho que versou sobre a análise dos impactos ambientais da mineração
artesanal na Localidade de Mutala, Distrito de Alto Molocué/Zambézia, a pesquisa parte
do princípio que toda actividade de mineração tem implicações fortes no desequilíbrio
ecológico, com isto concluiu-se que a extracção de ouro aluvionar no povoado de
Mutala, tem resultado na destruição do meio ambiente, sobretudo a fauna e a flora,
ligado à falta de informação da comunidade sobre as formas adequadas de extracção
mineira e também pela inexistência de outras fontes de renda familiar.
Concluiu-se igualmente a população entrevistada percebe que os processos associados à
mineração, vem contribuindo para a ocorrência de danos consideráveis ao meio
ambiente, alteram áreas de mineração e circunvizinhas, apesar de esta actividade
proporcionar benefícios que se reflectem na geração de renda a comunidade e da alta
contribuição económica que actividade traz principalmente para comunidade de Mutala.
No tocante a reconstituição das componentes ambientais degradadas, percebe-se que
dificilmente as áreas exploradas atingirão o seu estado tal qual eram antes da
exploração, sendo assim há necessidade de promover se mais palestras de promoção de
educação ambiental, uma vez que a actividade decorre sem a observância das regras
estabelecidas o que propicia o surgimento de vários problemas que se reflectem na vida
social dos garimpeiros em particular, e os risco a saúde pública da comunidade em
geral.
Com os resultados obtidos ao longo da pesquisa, espera-se que possam ajudar a
população a ser mais vigilante e promover a compreensão do tema para contribuir na
implementação de estratégias e programas eficazes na actuação dos garimpeiros na
mineração artesanal, tendo em conta sustentabilidade dos recursos naturais, não
deixando de lado o equilíbrio ambiental, social bem como económica.

50
5.1. Recomendações
Diante do contexto, das observações feitas no campo de estudo importa referir a
necessidade de serem feitas reformas para o desenvolvimento sustentável, com vista a
preservação do meio ambiente equilibrado, e melhoria das condições de vida da
população, minimizando as consequências dos impactos ambientais.
O estudo recomenda:
1. Sector da Saúde
 Criar condições para tratamento das águas destinadas ao consumo humano com
vista a evitar a ocorrência de doenças de origem hídrica.
 Potencializar a realização de palestras de consciencialização da população.
2. Puder local
 Fiscalizar e disciplinar os garimpeiros, e intensificar de palestras.
 Estabelecer parcerias com empresas privadas para abertura de furos de água, para
que a populações deixe de consumir água dos rios e outros cursos de água que não
oferecem condições para o consumo humano.
3. Aos garimpeiros
 Criação de cooperativas e associações, como é caso de Associação de Namunono,
para melhorar as condições ambientais e da saúde destes bem como minimizar os
impactos da actividade.
O autor deste estudo recomenda-se igualmente, novas pesquisas no sentido de analisar a
influência da actividade mineira na qualidade do meio ambiente nas suas diversas
componentes e uma proposta para a criação de mais associações licenciadas para a
exploração, de modo que se trabalhe com estes como uma organização, para facilitar o
cumprimento das normas e leis ambientais em vigor no pais. Uma vez criadas as
associações licenciadas devem ser aplicadas as penalizações para todos envolvidos
nestes processos mineiros conforme o estabelecido nas leis que regulam as actividades
em caso de violação ou incumprimento do disposto nos EIAs, RIMAs e outros
documentos que regulam esta actividades.

51
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54
Apêndices

55
Apêndice 1: Termo de consentimento Informado

Nº de Identificação: /__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/__/

Eu,_______________________________________________, aceito participar na


investigação do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED)
intitulado “Análise de Impactos Ambientais da mineração artesanal na Localidade de
Mutala, Distrito de Alto Molocué”, confirmo que compreendi os seus objectivos e
autorizo o uso das informações por mim prestadas para a elaboração de um Relatório,
Monografia, Livro e Artigos Científicos a serem publicados a nível nacional com
objectivo de fornecer respostas das causas Impactos Ambientais da mineração artesanal
e apoiar na sua disseminação. A informação foi recolhida em casa /posto de trabalho) do
entrevistado.

Eu compreendi que toda a informação colhida e observações feitas pelo estudante do


ISCED para este estudo serão confidenciais, isto significa que mais ninguém, a não ser
o estudante e seus supervisores, terão conhecimento do conteúdo do que eu disse ou foi
observado a fazer. Todos os dados recolhidos na investigação serão guardados num
local seguro nos arquivos do ISCED sem qualquer identificação.

Assinatura do Participante: _____________________________ Data:____/___/______

Assinatura Inquiridor/ Representante: ____________________ Data: ____/___/______

56
Apêndice 2: Guião de entrevista semiestruturada dirigida aos garimpeiros.

No âmbito da realização da pesquisa científica orientada pelo ISCED, para a obtenção


do Grau de Licenciatura em Gestão Ambiental, estaremos a aplicar esta entrevista com
o intuito de analisar os impactos Ambientais da mineração artesanal na Localidade de
Mutala, Distrito de Alto Molocué. Garantimos a confidencialidade e privacidade das
informações prestadas. Pedimos a sua colaboração.

1. Na sua opinião o quais são os problemas Ambientais neste povoado?


______________________________________________________________________
2. O quais são a perda de vegetação?
______________________________________________________________________
3. O quais são as fontes de da água para o consumo em Mutala?
______________________________________________________________________
4. Quais são as causas alteração da camada do solo?
______________________________________________________________________
5. Quais são as causas da poluição do ar?
______________________________________________________________________
6. Quais são as causas da erosão do solo?
______________________________________________________________________
7. A mineração de artesanal é responsável pela degradação ambiental na localidade. O
que está a ser feito para inverter tal cenário?

Muito obrigado pela entrevista e o tempo disponibilizado.

57
Apêndice 3: Guião de questionário dirigido aos garimpeiros.

No âmbito da realização da pesquisa científica orientada pelo Instituto Superior de Ciências e


Educação a Distância, para a obtenção do grau de Licenciatura em Gestão Ambiental, usaremos
o presente questionário com o intuito de analisar os impactos Ambientais da mineração
artesanal na Localidade de Mutala, Distrito de Alto Molocué. Garantimos a confidencialidade e
privacidade das informações prestadas. Pedimos a sua colaboração.

Idade___ Sexo____ Estado civil ____Profissão/Ocupação ____ Escolaridade____


Nível de escolaridade? A) Não Estudou____; B) Ensino Primário; C) Ensino Secundário; D)
Ensino Pré-Universitário____; E) Ensino Superior____
Percepções sobre impactos ambientais na localidade de Mutala
1- O quais são a perda de vegetação? A) Mineração___ B) Queimadas____ C)
Agricultura____.
2- O quais são as fontes de da água? A) Rios ___ B) Poço Tradicional ___ C) C- água
canalizada: ___ D) fontanária___
3- Quais são as causas alteração da camada do solo? A) Garimpo ___ B) Queimadas ___ C)
Agricultura: ___
4- Quais são as causas da poluição do ar? A) Garimpo___ B) Agricultura___ C). Pecuária ___
5- Quais são as causas da erosão do solo? A) Garimpo___ B) Chuvas___ C) Abate das árvores
___
6- Quais são as causas da alteração da paisagem natural? A) Queimadas___ B) Abate das
árvores ___ C). Garimpo ___
Factores que contribuem para a impactos Ambientais da mineração artesanal na
Localidade de Mutala, Distrito de Alto Molocué.
1- Qual é o sustento da Família? A) Agricultura___, B) Auto Emprego___; C). Garimpo____
D- outros____
2- Qual é a renda familiar. A) Dependente____, B) Auto emprego___ C) Emprego
Formal____.
3- O que fazer para minimizar os impactos? A). Parar a mineração ___ B). Plantar
árvores_____

Muito obrigado pelo tempo disponibilizado.

58
Anexos

59
Anexo 1: Fluxograma da pesquisa

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