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Artigo Original
Pós-graduação Lato Sensu em Musculação e Treinamento de Força – Universidade Gama Filho

EFEITOS DA VARIAÇÃO DO POSICIONAMENTO DOS PÉS NO LEG PRESS


45°
Paulo Gentil*
Bruno Fischer*
André Galvão*
Gustavo Duarte*
Leonardo Rocha*
Jake do Carmo
_________________________
*Universidade Gama Filho
Universidade de Brasília

BRASÍLIA – DF
RESUMO
A pressªo de pernas inclinada com a horizontal em 45, ou leg press 45, Ø um exerccio
comumente executado nas academias de ginÆstica e centros de trein amento. Com o objetivo de
trabalhar de forma diferenciada a musculatura dos membros inferiores, geralmente emprega-se
variaıes na execuªo deste exerccio, principalmente quanto altura dos pØs no apoio do
equipamento. Colocando os pØs mais elevados acredita-se que ocorra maior aªo dos mœsculos
isquiotibiais, e colocando os pØs mais baixos, crŒ
-se que haja maior aªo do quadrceps. O objetivo
deste trabalho Ø verificar, atravØs da anÆlise eletromiogrÆfica de superfcie, se ocorre diferena na
ativaªo da musculatura posterior da coxa (isquiotibiais) e do quadrceps femoral (extensores do
joelho) com o uso da variaªo da altura dos pØs durante o exerccio leg press 45. Duas variaıes
foram usadas: pØs elevados (LPE) e pØs baixos (LPB). Foram analisados 10indivduos do sexo
masculino com experiŒncia na execuªo do exerccio. De acordo com os resultados, a variaªo LPB
causa maior ativaªo do quadrceps femoral que a LPE, enquanto a LPE causa maior ativaªo dos
isquiotibiais que a LPB.
ABSTRACT
The leg press 45 is a popular exercise in gyms and sport centers. Expecting to work the lower
limbs muscle in different manners, variations of this exercise are usually employed, especially in
relation to the height of the feet positioning in the equipament plataform. Higher feet positioning is
believed to elicit higher activation in the hamstrings; and lower feet positioning is believed to active
more the knee extensors. The objective os this study is to verify, using superficial eletromyographic
analysis, if there is difference in the activation of the hamstrings and quadriceps during the variations
in the positioning of the feet in the execution of the leg press 45 exercise. Two variations were
studied: high feet positioning (LPE) and low feet positioning (LPB). Ten males with experience in
resistance training were analysed. According to the results, the variation LPE elicits higher hamstrings
activation than LPB, while LPB elicits higher activation of the quadriceps than LPE.

1. Introdução
A pressªo de pernas incli nada com a horizontal em 45, ou leg press 45, Ø
um exerccio comumente executado nas academias de ginÆ stica e centros de
treinamento. Sua popularidade deve-se provavelmente fÆ cil execuªo e ao fato de
trabalhar a musculatura dos membros inferiores de uma maneira relativamente
segura e eficiente, alØm de ter caractersticas biomecnicas e neuromusculares
similares a diversos gestos desportivos.
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Com o objetivo de trabalhar de forma diferenciada a musculatura dos


membros inferiores, geralmente emprega-se variaıes na execuªo deste exerccio,
principalmente quanto altura dos pØs no apoio do equipamento. Colocando os pØs
mais elevados acredita-se que ocorra a maior aªo dos mœsculos isquiotibiais; e
colocando os pØs mais baixos, crŒ
-se que haja maior aªo do quadrceps
(DELAVIER, 2000), prÆ tica baseada em observaıes das condiıes de prØ -
estiramento da musculatura.
Existe um comprimento ideal do mœsculo, no qual suas fibras possuem
capacidade mÆ xima de produzir fora, com os filamentos de actina e miosina se
sobrepondo de modo timo e permitindo o mÆ ximo de ligaıes entre as suas pontes
(FLECK & KRAEMER, 1999; WEINECK, 2000, RASSIER et al, 1999). Desta forma,
um alongamento prØvio da musculatura antes do incio da aªo concŒntrica parece
aumentar a capacidade de fora (FLECK & KRAEMER, 1999; WEINECK, 2000,
RASSIER et al, 1999), provavelmente com maior recrutamento de unidades motoras
na musculatura em questªo.
Sendo os mœsculos isquiotibiais (bceps femoral, semimembranoso e
semitendinoso) bi-articulares, atuando no quadril e joelhos, supıe -se que a maior
extensªo dos joelhos, proporcionada pelo posicionamento mais alto dos pØs, levaria
a um prØ-estiramento superior na fase final do movimento e, conseqentemente,
maior ativaªo deste grupamento muscular. No caso de posicionamento mais baixo
dos pØs a suposiªo Ø que ocorra maior ativaªo do quadrceps femoral devido a
maior flexªo dos joelhos em relaªo ao quadril. Alguns estudos verificaram que a
contraªo estÆ tica realizada com o mœsculo em posiıes alongad as favorece a
ativaªo da musculatura (CRESSWELL et al, 1995; GILLARD et al, 2000; RASSIER
et al, 1999; SALE et al, 1982), ocorrendo uma queda na ativaªo muscular a medida
em que o mœsculo encurta-se (SALE et al, 1982, CRESSWELL et al, 1995). Desta
forma, em contraıes estÆ ticas, a magnitude dos sinais eletromiogrÆ ficos parece,
atØ certo ponto, crescer juntamente com o aumento do comprimento do mœsculo
(CRESSWELL et al, 1995).
HÆ grande dificuldade em encontrar estudos referentes ao efeito da variaªo
de posicionamento dos pØs na ativaªo muscular durante o leg press 45. A œnica
pesquisa similar encontrada foi publicada por ESCAMILA et al (2001). Neste
trabalho os autores utilizaram variaıes no posicionamento dos pØs de 20,1 cm em
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mØdia, entre o ponto mais baixo e o mais alto e nªo encontraram diferenas
significativas entre a ativaªo de isquiotibiais e quadrceps femoral. PorØm, deve -se
ter cautela na generalizaªo dos resultados obtidos pelo grupo de ESCAMILA, pois
no referido estudo foi usado um modelo de leg press onde o executante fica deitado,
diferente do usado neste trabalho. No atual estudo o executante permanece
sentado com um ngulo de 90 na articulaªo do quadril, na posiªo inicial. De
acordo com ZATSIORSKY (1999) quando mœsculos bi-articulares estªo envolvidos
(...) a fora muscular registrada na articulaªo depende da posiªo ou do movimento
da articulaªo adjacente. Portanto, esta mudana na posiªo do quadril em relaªo
ao joelho pode causar alteraıes relevantes no padrªo de ativaªo d os mœsculos.
Estudos com ressonncia magnØtica, por exemplo, demonstram que a variaªo no
posicionamento dos pØs nªo traz alteraªo no trabalho dos isquiotibiais e dos vastos
lateral e medial no agachamento Hack (Hack Squat), mas no caso do leg press 45”
estas variaıes foram significativas (TESCH, 1999).
Apesar da hiptese mais comum ser de maior ativaªo dos isquiotibiais com o
posicionamento dos pØs elevados (DELAVIER, 2000), anÆ lises com ressonncia
magnØtica mostraram o inverso: inativaªo da musculatu ra posterior com os pØs
elevados e ativaªo do bceps femoral com os pØs posicionados no ponto mais
baixo da plataforma (TESCH, 1999).

1.1. Objetivos
O objetivo deste trabalho Ø verificar atravØs da anÆ lise eletromiogrÆ fica de
superfcie se ocorre diferena na ativaªo da musculatura posterior da coxa e do
quadrceps femoral com o uso da variaªo da altura dos pØs durante o exerccio leg
press 45, avaliando se ocorre diferena na ativaªo muscular entre as variaıes, e
comparando a ativaªo dos mœsculos isquio tibiais e do quadrceps femoral entre as
variaıes com o posicionamento elevado ou baixo dos pØs.

2. Métodos
2.1. Sujeitos
A amostra foi composta por 10 indivduos do sexo masculino com experiŒncia
mØdia de 6,5 (± 4,61) anos em musculaªo, se ndo todos habituados com o exerccio
leg press. Eram critØrios para exclusªo quaisquer histricos de lesıes no joelho ou
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qualquer patologia que comprometesse ou pudesse ser agravada com o


experimento. A mØdia de idade foi de 24,5 anos (± 2,87). A mØdia de altura foi igual
a 180,5 cm ( ± 3,9) e a de peso a 75 Kg ( ± 6,95) (tabela 1). Antes de participarem
do estudo todos os participantes deram seu consentimento por escrito aps
esclarecimentos sobre a metodologia do estudo.

Tabela 1: dados da amostra


Carga 1RM Massa corporal Estatura ExperiŒncia Idade
MØdia 240 kg 75 kg 180,5 cm 6,5 anos 24,5 anos
Desv.pad. 75,57 7,33 3,90 4,61 2,87

2.2. Treinamento
Para a realizaªo do exerccio foi usado um leg press com inclinaªo de 45”
em relaªo horizontal (Figura 1) e anilhas.

Foram executadas duas variaıes do leg press: com os pØs elevados (LPE) e
com os pØs baixos (LPB), onde a ordem de execuªo foi escolhida randomicamente.
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O LPE foi realizado de modo que os pØs do executante ficassem o mais alto
possvel no apoio, com os dedos dos pØs no limite superior da plataforma (Figuras 2
e 3). JÆ no LPB, os calcanhares ficara
m no limite inferior da plataforma (Figuras 4 e
5).

Figuras 2 e 3: leg press com os pØs elevados (LPE)

Figuras 4 e 5: leg press com os pØs baixos (LPB)

Na semana anterior ao experimento os voluntÆ rios realizavam uma sessªo de


treino para aprender o padrªo do movimento e determinar a carga a ser usada no
teste. Para adequar a carga de trabalho foi usado o Teste de Prediªo de 1 RM
proposto por BAECHLE & GROVES (2000), onde se estipula a carga mÆ xima a
partir da carga utilizada em um determinado nœmero de repetiıes, de acordo a
Tabela 2.

Tabela 2: Tabela de Prediªo de 1 RM (Fonte: BACHLE & GROVES, 2000)


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Tabela de Prediªo de 1 RM
Repetiıes completada s Fator repetiªo
1 1,00
2 1,07
3 1,10
4 1,13
5 1,16
6 1,20
7 1,23
8 1,27
9 1,32
10 1,36
N” de repetiıes completadas X fator de repetiªo = 1 RM

Aps a verificaªo da carga mÆ xima, foi calculado o equivalente a 20% de 1


RM, carga utilizada no experimento para execuªo de 10 repetiıes em cada uma
das variaıes.
A velocidade de execuªo foi controlada por um metrnomo regulado em 15
bpm, sendo as repetiıes realizadas na cadŒncia de 1 repetiªo a cada 4 segundos,
com velocidade igual para as fases concŒntrica e excŒntrica (2 segundos para cada
fase). Entre cada sØrie, houve descanso superior a 5 minutos, com a finalidade de
possibilitar completa recuperaªo e atenuar os efeitos da fadiga.
A amplitude do movimento foi limitada em 110” de flexª o dos joelhos para
todos os indivduos, com a ajuda de um gonimetro e uma marca feita no aparelho.

2.3. Eletromiografia
O trabalho foi desenvolvido no Laboratrio de Biomecnica da Faculdade de
Educaªo Fsica da Universidade de Braslia, com a utilizaªo d e eletrodos bipolares
ativos e um eletromigrafo da marca Delsys Bagnoli -2.
Os eletrodos foram posicionados no quadrceps femoral e isquiotibiais de
acordo com os procedimentos propostos por BASMAJIAN & BLUMENSTEIN (1980).
No quadrceps femoral, o eletrod o foi posicionado verticalmente na mØdia da
distncia entre o centro da patela e a cabea do fŒmur. Na parte posterior da coxa,
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foi posicionado um eletrodo verticalmente na metade da distncia entre a dobra


glœtea e face popltea.
Das 10 bulhas obtidas, foram analisadas 8, sendo eliminadas a primeira e a
œltima. Foi aplicado um filtro passa-faixa de 20 Hz a 500 Hz. O sinal foi retificado,
normalizado e a energia do sinal calculada e transformada em uma escala
logartmica para evitar grande desvio padrªo do sinal.

3. Resultados
A energia mØdia dos sinais da musculatura posterior da coxa foi de 17,756
para o LPE e de 16,864 para o LPB. Para o quadrceps femoral, a energia mØdia foi
de 17,829 para o LPB e de 16,958 para o LPB. A diferena entre os sinais nas duas
ocasiıes foi estatisticamente significativa para um p < 0,05.
De acordo com os resultados, a execuªo do leg press com os pØs elevados
(LPE) causou ativaªo 5,136% maior da musculatura posterior da coxa do que com
os pØs baixos (LPB) (p = 0,010). PorØm, quando foi analisada a ativaªo do
grupamento quadrceps femoral a variaªo LPB gerou ativaªo 5,289% maior que a
LPE (p = 0,045).

Tabela 2: Resultados da energia obtida durante a execuªo do leg press com os pØs
elevados (LPE) e baixos (LPB).
Valores LPE LPB
Quadrceps Isquiotibiais Quadrceps Isquiotibiais
Mnimo 16,160 16,979 17,378 15,509
MÆ ximo 17,676 18,481 19,000 18,244
MØdia 16,958 17,756 17,829 16,864
Desvio padrªo 0,541 0,505 0,446 0,949

4. Discussão e conclusão
Os resultados mostraram que na execuªo do leg press 45 com amplitude
angular de 0 a 110 de flexªo dos joelhos a musculatura posterior da coxa Ø mais
ativada com os pØs posicionados em pontos mais altos em comparaªo com o
posicionamento mais baixo dos pØs, acontecendo o oposto com o quadrceps
femoral: maior ativaªo na variaªo com os pØs baixos. Estes resultados estªo de
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acordo com a teoria do prØ-estiramento, uma vez que para se alcanar a angulaªo
de 110 de flexªo de joelhos deve -se acentuar a flexªo do quadril, o que
provavelmente provoca uma maior ativaªo da musculatura posterior da coxa,
devido ao alongamento prØvio a que sªo submetidas suas fibras musculares. Como
a amplitude da flexªo dos joelhos permaneceu constante em todas as variaıes, a
hiptese do prØ -estiramento nªo justificaria a maior ativaªo do quadrceps femoral
com os pØs baixos. Nesse caso o quadrceps femoral provavelmente seria mais
ativado para compensar a menor fora produzida pela musculatura posterior
(responsÆ vel pela extensªo do quadril), uma vez qu
e a carga permanece constante.
No entanto, estes resultados nªo indicam que os isquiotibiais sejam mais
ativados que o quadrceps femoral, pois em ambas as variaıes o quadrceps
femoral sempre foi o motor primÆ rio (dados nªo publicados). TambØm se deve
ressaltar que a diferena nªo Ø tªo grande quanto sugerido por alguns treinadores e
autores, como DELAVIER (2000).
Outro cuidado na extrapolaªo destes resultados Ø na qualificaªo dos
exerccios, pois ainda nªo podemos afirmar que estas diferenas na ativa ªo
resultarªo necessariamente em adaptaıes fisiolgicas (hipertrofia e/ou fora), mais
pronunciadas nas musculaturas em questªo.

5. Referências bibliográficas
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ediªo. Porto Alegre: Artmed, 2000.
BASMAJIAN JV & BLUMENSTEIN R. Electrode placement in EMG biofeedback.
Baltimore: Williams and Wilkins, 1980.
CRESSWELL AG, LSCHER WN, THORSTENSSON A. Inlfuence of gastrocnemius
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DELAVIER F. Guia dos movimentos de musculação – abordagem anatômica.
Segunda ediªo. Sªo Paulo: Manole, 2000.
ESCAMILLA RF; FLEISIG GS, ZHENG N, LANDER JE, BARRENTINE SW,
ANDREWS JR et al. Effects of technique variations on knee biomechanics during the
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FLECK SJ, KRAEMER WJ. Fundamentos do Treinamento de Força Muscular.


Porto Alegre, Artmed, 1999.
GILLARD DM, YAKOVENKO S, CAMERON T, PROCHAZKA A Isometric muscle
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RASSIER DE, MACINTOSH BE, AND HERZOG W. Length dependence of active
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SALE D, QUINLAN E, MARSH E, MCCOMAS AJ, BELAGER AY. Influence of joint
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TESCH, PA. Target bodybuilding. Champaingn: Human kinetics, 1999.
WEINECK J. Biologia do esporte. Sªo Paulo: Manole, 2000.
ZATSIORSKY VM. Ciência e prática do treinamento de força. Sªo Paulo: Phorte
Editora, 1999.

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