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ENSAIOS LIMITE
1 INTRODUÇÃO
Para se verificar se o teor de uma impureza em uma determinada substância está dentro do limite
estabelecido, realiza-se o ensaio por comparação com uma quantidade conhecida da impureza.
Desenvolve-se uma preparação contendo uma quantidade exatamente conhecida da substância
em exame (preparação amostra) e uma preparação contendo uma quantidade exatamente
conhecida da impureza (preparação padrão).
Os ensaios limite mais comuns são os de cloreto, sulfato, ferro, metais pesados e arsênio. Os
ensaios de cloreto e de sulfato baseiam-se na formação de partículas sólidas de sais brancos em
meio aquoso dessas impurezas sendo, portanto, turbidimétricos. Os ensaios de ferro, metais
pesados e arsênio baseiam-se na formação de produtos coloridos sendo, portanto, colorimétricos.
ppm (partes por milhão): expressa partes (em peso) da impureza por milhão de partes (também
me peso) da substância ensaiada.
% (porcentagem): expressa partes (em peso) da impureza por cem partes (também em peso) da
substância ensaiada.
3 MATERIAL ESPECÍFICO
Para realização dos ensaios limite de cloreto, sulfato, ferro e metais pesados, usam-se tubos de
comparação iguais, de fundo plano, vidro transparente, com cerca de 70 mL de capacidade e 23
mm de diâmetro interno, marcados em 50 e 25 mL. São designados Tubos de Nessler.
A expressão “tubos iguais” significa tubos tão exatamente iguais quanto possível, quanto ao
diâmetro interno e todos os outros aspectos.
Para realização do ensaio limite de arsênio usa-se material especifico que será oportunamente
descrito.
1 GENERALIDADES
O ensaio limite de cloreto fundamenta-se na reação do íon prata com o cloreto, em meio
fortemente ácido, com formação de cloreto de prata sólido, que causa turvação (opalescência) no
meio líquido. O ensaio limite de cloreto é, portanto, um ensaio turbidimétrico.
H+
Ag+(aq) + Cl-(aq) AgCl(s) branco
Os limites de cloretos nos fármacos são relativamente grandes, pois o cloreto é bem tolerado no
organismo humano.
2 REAGENTES PRINCIPAIS
Ácido clorídrico padrão (HCl 0,01 M): é usado na preparação padrão para fornecer íons cloreto.
Cada mL contém 0,0003546 g de Cl-:
Solução de ácido nítrico SR a 12%: é usada para acidular fortemente as preparações problema e
padrão.
Solução de nitrato de prata SR a 4%: é usada para fornecer os íons prata que reagirão com os
íons cloreto, com formação de AgCl, sólido branco. Deve ser adicionada às preparações problema
e padrão bem diluídas para formação de partículas de AgCl que ficarão totalmente dispersas até o
momento da comparação do ensaio.
3 CUIDADOS ESPECIAIS
As preparações devem estar ácidas antes da adição da solução de AgNO3. Se estiverem alcalinas
haverá a formação de Ag2O(s) acinzentado, que interfere na leitura. Além disso, o meio fortemente
ácido impede a interferência de outros ânions tais como HCO3-, CO32-, etc., que formam sais de
prata insolúveis em meio neutro, porém solúveis em meio nítrico.
As preparações padrão e problema devem ser guardas as abrigo da luz antes de se fazer a leitura
para se evitar a redução do íon prata a prata metálica, que é cinza e interfere na leitura.
4 CÁLCULOS
Na Farmacopeia Brasileira, 5ª edição (FB 5) há na parte 5.3.2 orientação geral para desenvolver
as preparações amostra e padrão. É necessário realizar cálculos para determinar o volume de
solução padrão que se deve usar.
Exemplo
Dados:
Cálculos:
A massa de 2,0 g de glicose pode conter até 360 x 10-6 g de Cl-. Portanto é necessária uma
preparação contendo essa massa de cloreto para servir de referência. Para isso se utiliza a
solução padrão que contem 3,546 x 10-4 g de cloreto em cada mL:
5 TÉCNICA GERAL
6 SITUAÇÕES ESPECIAIS
Carbonatos: todos os carbonatos sofrem tratamento prévio com ácido até cessar a efervescência.
Esse tratamento deve ser realizado num béquer, pois o carbonato pode conter substâncias
insolúveis e, nesse caso, elas serão eliminadas através de filtração. A efervescência representa a
decomposição do carbonato com desprendimento de CO2:
Substâncias solúveis em água e insolúveis em ácido: salicilato de sódio e benzoato de sódio são
muito solúveis em água, mas em presença de ácido formam ácido salicílico e benzóico, que são
insolúveis e se precipitam. Para realizar-se o ensaio, o tratamento prévio, com ácido, deve ser
feito até total precipitação, em seguida filtra-se e trabalha-se com o filtrado.
1 GENERALIDADES E FUNDAMENTO
O sulfato é impureza bem tolerada pelo organismo humano e, portanto, seu limite nos fármacos é
relativamente grande. Ele provém basicamente do uso de água potável na manipulação dos
fármacos.
O ensaio limite de sulfato baseia-se na reação do sulfato, porventura presente no fármaco, com o
íon Ba2+ em meio fortemente ácido, com formação de sulfato de bário, sólido branco que causa
turvação do meio.
H+
Ba2+ (aq) + SO42- (aq) BaSO4 (s) branco
2 REAGENTES PRINCIPAIS
Ácido sulfúrico padrão (H2SO4 0,005 M): solução padrão que contém o íon sulfato em quantidade
rigorosamente definida. É usado na preparação padrão. Cada 2,5 mL da solução padrão contém
1,2008 x 10-3 g sulfato.
Ácido clorídrico SR (10%): é usado para acidular fortemente as preparações problema e padrão.
Se as preparações não estiverem ácidas haverá, com a adição do cloreto de bário, formação de
partículas sólidas brancas de carbonato de bário, que mascaram o ensaio:
Além disso, o meio fortemente ácido evita a interferência de outros íons como HCO3-, CO32-, PO43-,
etc., que formam sais de bário insolúveis em meio neutro, porém solúveis em meio ácido.
Cloreto de bário SR: fornece os íons bário que reagirão com os íons sulfato produzindo turvação
branca no meio
3 CÁLCULOS
Nas monografias incluídas na FB 5 há os limites das impurezas que devem ser pesquisadas. No
volume 1 da FB 5 há orientações para realização dos ensaios. No item 5.3.2.2 há uma orientação
geral para desenvolver as preparações amostra e padrão. É necessário realizar cálculos para
determinar o volume de solução padrão que deve ser usado.
Exemplo
Dados:
Cálculos:
X = 4 x 10-4 g de SO42-
A massa de 2,0 g de glicose pode conter até 4 x 10-4 g de SO42-. Nesse caso é necessário obter
uma preparação padrão contendo exatamente 4 x 10-4 g de SO42-, para servir de referência. Para
isso, utiliza-se a solução de H2SO4 0,005 M, que contem 0,0012008 g de SO42 em 2,5 mL:
X’ 4 x 10-4 g de SO42-
4 TÉCNICA GERAL
5 SITUAÇÕES ESPECIAIS
Para o ensaio limite de sulfato aplica-se o que foi dito em ensaio limite de cloreto, nos casos que
se seguem: carbonatos (ou bicarbonatos), substâncias insolúveis, substâncias solúveis em água e
insolúveis em meio ácido e substâncias coloridas.
1 GENERALIDADES
Com o ensaio limite de ferro tem-se como objetivo principal evitar problemas de ordem técnica em
medicamentos, como, por exemplo: aparecimento de precipitados em injetáveis (sais férricos se
hidrolisam em solução), e de manchas em comprimidos (sais férricos e ferrosos hidratados são
coloridos).
2 FUNDAMENTO
O ensaio é baseado na formação de um complexo colorido, pela reação de Fe2+ com o ácido
tioglicólico, em solução tamponada com citrato de amônio. Os íons férricos são reduzidos a
ferrosos pelo próprio ácido tioglicólico.
H
O
O S
2+ C
Fe + 2 HS-CH2-COOH Fe CH2 + 2 H+
H2 C
C
S O
O
H
púrpura
Solução padrão de ferro: fornecer íons férricos, numa quantidade exatamente igual ao máximo
permitido, no peso da substância analisada.
Demonstração de que 1 mL de solução padrão (100 ppm de Fe) equivale a 100 x 10-6 g de
ferro.
X = 0,100 g de Fe
X.................................................................... ..1 mL
X = 100 x 10-6 g de Fe
Ácido cítrico diluído: formar um tampão com o hidróxido de amônio, mantendo o pH ideal da
reação (alcalino entre 7,0 e 9,0).
Ácido tioglicólico R: reduzir o Fe3+ a Fe2+ e reagir com este formando o composto colorido em meio
alcalino.
4 TÉCNICA GERAL
1 GENERALIDADES
O ensaio limite de metais pesados (MP) é realizado em matérias primas para produtos
farmacêuticos para verificar se as impurezas metálicas que são coloridas pelo íon sulfeto estão
dentro do limite registrado na Farmacopeia Brasileira ou em outro código farmacêutico. Os
principais cátions que reagem com íon sulfeto dando produtos coloridos de branco a preto em
meio fracamente ácido são os de chumbo, arsênio, zinco, cádmio, mercúrio, antimônio, bismuto,
prata, cobre e molibdênio.
São indicados alguns sulfetos de metais pesados com suas respectivas cores:
Os MP são muito tóxicos ao organismo, por isso, seus limites, nas diversas substâncias, são
muito pequenos.
2 FUNDAMENTO DO ENSAIO
S O
CH3 C NH2 + H2O CH3 C NH2 + H2S
tioacetamida
pH 3,5
2 MPx+ + x H2S MP2Sx + 2x H+
colorido
S O
x+ pH 3,5
2 MP + x CH3 C NH2 + x H2O MP2Sx + x CH3 C NH2 + 2x H+
colorido
3 REAGENTES PRINCIPAIS
Solução estoque de nitrato de chumbo (100 ppm): contém 159,8 mg de nitrato de chumbo em
1000 mL.
Solução padrão de chumbo: é preparada no dia do uso diluindo-se a solução estoque de nitrato de
chumbo na proporção de 1 para 10. Contém 10 μg de Pb por mL. Para preservar o meio ambiente
deve preparar-se a solução padrão na proporção de 1 mL da solução estoque para 10 mL de
solução.
Papel indicador
Para preparar a solução padrão, deve-se pipetar 10 mL de solução estoque e diluir para 100 mL
(FB 5).
Y = 1 x 10-3 g de Pb2+
Z = 1 x 10-5 g de Pb2+
Professora Thais Horta Álvares da Silva – 1º semestre de 2014 Página 11
ANÁLISES FARMACOPEICAS
DEPARTAMENTO DE PRODUTOS FARMACEUTICOS
FACULDADE DE FARMÁCIA-UFMG
5 CÁLCULOS
Exemplo:
Dados:
- limite: 20 ppm
Cálculos:
X = 1 x 10-5 g MP
A massa de 0,5 g de cloridrato de procaína pode conter até 1 x 10-5 g de MP. É necessário obter
uma preparação padrão contendo exatamente 1 x 10-5 g de MP, para servir de referência. Nesse
caso, usa-se, na preparação padrão, 1,0 mL de solução padrão, que contém 1 x 10-5 g de MP.
6 TÉCNICA GERAL
7 SITUAÇÕES ESPECIAIS
Carbonatos: todos os carbonatos são tratados previamente com ácido até cessar a efervescência,
pois o ensaio é realizado em pH fracamente ácido e se não eliminar a efervescência no início do
trabalho, ela se realizará durante o ensaio e dificultará o estabelecimento do pH desejado.
Substâncias solúveis em água e insolúveis em ácido: salicilato de sódio e benzoato de sódio são
muito solúveis em água, mas em presença de ácido formam ácido salicílico e benzóico, que são
insolúveis e se precipitam. Para realizar-se o ensaio, o tratamento prévio, com ácido, deve ser
feito até total precipitação, em seguida filtra-se e trabalha-se com o filtrado.
Substâncias orgânicas: são dissolvidas em solventes orgânicos (Método II), incineradas com ácido
sulfúrico (Método III, para substâncias que não produzem preparações límpidas e incolores sob as
condições do ensaio ou que, devido à sua natureza complexa, interferem com a precipitação de
metais pelo íon sulfeto ou para óleos fixos e voláteis) ou digeridas com ácido nítrico (Método IV).
a) Pipeta
1. Para medidas de precisão: solução padrão, solução problema e soluções volumétricas;
2. Nunca pipetar direto do vidro ou do balão volumétrico. Transferir a solução para um béquer
e, então, pipetar;
3. Nunca fazer duas medidas. Escolher, portanto, a pipeta adequada para realizar a medida
de uma só vez;
4. Pipetas existentes no laboratório: volumétricas (1, 2, 5, 10, 15, 20, 25, 50 e 100 mL) e
graduadas (1, 2, 5, 10, 20 e 25 mL)
b) Bureta
1. Para titulações e medidas de precisão de substâncias voláteis ou corrosivas ou para
medidas que não há medidas adequadas;
2. Nunca se esquecer de retirar a bolha de ar da bureta.
c) Balão volumétrico
1. Para preparo de soluções, completar o volume e homogeneizar;
2. Balões volumétricos existentes no laboratório: 10, 25, 50, 100, 250, 500, 1000 e 2000 mL.
d) Provetas
1. Para medidas que não exigem rigor.
e) Béquer
1. Para medidas muito grosseiras;
2. Como continente.
f) Bastão de vidro
1. Promover triturações;
2. Homogeneizações de misturas líquidas;
3. Transferência de líquidos.
g) Funil
1. Transferência de líquidos;
2. Suporte de material filtrante.
h) Tubo de Nessler
1. Como continente na realização de ensaio limite.
i) Erlenmeyer
1. Em titulação como continente.
III EXERCÍCIOS
Os dados necessários à resolução dos problemas encontram-se nas Farmacopéias (II, III, IV
e/ou V) ou no próprio texto. É importante que você encontre os dados e que não apenas os
usem.
1- Dê os fundamentos químicos (equações) dos ensaios limite de cloreto, sulfato, ferro e metais
pesados.
No ensaio limite de cloreto devem-se aguardar cinco minutos antes de se fazer a leitura,
deixando-se as preparações ao abrigo da luz.
3- Calcule:
a) peso de cloreto de sódio para se realizar o ensaio limite de ferro usando 0,5 mL de solução
padrão contendo 20 ppm de Fe. R= 5 g
b) volume de solução padrão de metais pesados para se realizar o ensaio limite no cloreto de
sódio, sendo usados 20 mL de solução de cloreto de sódio a 20% p/V. R=2,0 mL
5- Faça o esquema de trabalho que você seguiria se fosse realizar as práticas referentes ao
exercício 4.
8- Para se fazer o ensaio limite de metais pesados em uma substância foram usados 20,0 mL de
solução da substância a 10% e 10,0 mL de solução padrão. Qual é o limite de metais pesados
para essa substância? R= 5 ppm
9- O limite de ferro no óxido de zinco é de 250 ppm. Fez-se o ensaio limite de ferro colocando-se
na preparação padrão 1,0 mL da solução padrão (100 ppm) e na preparação problema 0,4 g de
óxido de zinco. Faça os cálculos e informe se o ensaio foi realizado corretamente.
11- Qual é a massa de subacetato de chumbo necessária para se preparar 500 mL de solução
estoque de chumbo, usada no ensaio limite de metais pesados? R= 65 mg
12- Monte o esquema do ensaio limite de metais pesados no glicerol usando 20 mL de uma
solução a 20% p/p de glicerol.
14- Prepararam-se 2,0 L de solução de ácido sulfúrico diluindo-se 0,6 mL de ácido sulfúrico R
(conc. 96% p/p; dens. 1,84 g/mL) com água destilada.
a) Calcule a molaridade da solução preparada. R=0,0054
b) Calcule o peso de sulfato existente em 1,0 mL da solução. R=0,52 mg
c) Se o ensaio limite de sulfato foi realizado na amostra A usando-se 25,0 mL da solução da
amostra A a 10% p/V e 2,0 mL da solução de ácido sulfúrico preparada como descrito acima, qual
é o limite de sulfato na amostra A? R=415 ppm
19) Qual é a especificação do ácido fosfórico R? (consultar a F. Bras IV) O que significa R?
Qual é a concentração do ácido fosfórico SR? (consultar a F. Bras IV) O que significa SR?
Como se prepara e padroniza o ácido sulfúrico M SV? do ácido fosfórico R? (consultar a F. Bras
IV) O que significa SV?
20) Considere uma substância A, de fórmula RCOO-Na+, solúvel em água, mas cujo ácido
correspondente seja insolúvel em água.
a) Que problema você pode prever para a realização do ensaio limite de cloreto na
substância A?
b) Sugira uma maneira de realizar o ensaio.
21) Mediram-se 20,0 mL de solução de iodo 0,05 M e titulou-se com tiossulfato de sódio 0,1M
(fc=0,9783) gastando-se 20,9 mL. Usou-se amido SI como indicador.
a) Escreva as equações químicas.
b) Calcular o fc da solução de iodo.
c) Quantos miliequivalentes de iodo existem em 20,0 mL da solução de iodo?
Respostas:
6b)1,022; 6c)0,000511;
22) Faça os cálculos para preparar 5 litros de ácido nítrico 0,1 M a partir do ácido nítrico R que
contem 67 a 69% de HNO3 e apresenta densidade de 1,403.
Resposta:
33,0 mL de HNO3R;
23) Diga como proceder (cálculos, tratamento-prévio e esquema) para realizar o ensaio limite de
sulfato no ácido acetilsalicílico. (técnica do ensaio pela F. Bras. IV e monografia da F. Bras. III).
24) Calcule o limite de cloreto no ácido aminossalicílico (F. Bras. III): “500 mg de amostra não
apresenta mais cloreto do que o correspondente a 0,3 mL de ácido clorídrico 0,02 N”.
Resposta:
0,0425%.
26) Uma solução de ácido clorídrico M foi padronizada segundo à técnica descrita na parte XII.3.
Soluções Volumétricas da F. Bras. IV. Dados: peso de carbonato de sódio anidro 1,4567 g,
volume de ácido clorídrico (média de três titulações): 32,5 mL.
a) Escreva o fundamento químico.
b) Deduza a equivalência: “cada 52,99 mg de carbonato de sódio anidro equivale a 1 ml de ácido
clorídrico M”.
c) Calcule a molaridade real da solução de HCl padronizada.
d) Calcule o fator de correção da solução de HCl padronizada.
Respostas:
a)0,8458M; b)0,8458.
BIBLIOGRAFIA