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Breve Reflexão sobre o Novo Estatuto do SNS

Decreto-Lei 52/2022 de 4 de agosto

Trabalho realizado por:


Fábio Borges
Joel Pinto
Pedro Matos
Rita Lopes
Tomás Silva

Unidade Curricular:
Políticas, sistemas e estruturas de saúde (14648)

Vila Real, fevereiro de 2023

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Conteúdo

Introdução....................................................................................................................................3
Serviço Nacional de Saúde...........................................................................................................4
Estabelecimentos e serviços.........................................................................................................4
Regiões de Saúde.........................................................................................................................5
Níveis de cuidados / Proximidade, integração de cuidados e resposta em rede............................5
Pontos Fortes................................................................................................................................6
Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde................................................................6
Clarificação da noção de Unidades de saúde........................................................................7
Conceito de SLS......................................................................................................................8
Fixação de Recursos Humanos..............................................................................................8
Sistemas de informação do Serviço Nacional de Saúde.......................................................8
Pontos Fracos...............................................................................................................................9
Oportunidades e melhorias a realizar.........................................................................................10
Conclusão...................................................................................................................................11
Referências Bibliográficas.........................................................................................................12

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Introdução

Neste trabalho abordaremos de forma não exaustiva o documento do


novo Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, procurando evidenciar as
melhorias e aspetos positivos, bem como eventuais aspetos negativos que
carecem de atenção em futuras revisões legislativas.

A Constituição da República Portuguesa, no seu Artigo 64, estabelece o


direito à proteção da saúde como direito fundamental em Portugal desde 1976,
atribuindo ao Estado a responsabilidade de implementar e administrar o
Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A Lei de Bases da Saúde de 2019 clarificou o papel dos organismos do


sistema de saúde e reafirmou a centralidade do SNS. Foi necessário aprovar
um novo Estatuto do SNS para esclarecer aspetos específicos e atualizar as
transformações ocorridas no contexto socioeconómico e político.

O novo Estatuto veio melhorar a definição do SNS, o levantamento dos


seus estabelecimentos e serviços, direitos e deveres dos seus intervenientes e
estruturas, dispondo sobre a organização territorial e funcional do SNS e sua
prestação de serviços próximos e integrados.

A criação de uma Direção Executiva do SNS é uma inovação importante,


pois assume a coordenação da resposta assistencial e o funcionamento em
rede das unidades de saúde do SNS e da RNCCI e RNCP. Porém, concentra
demasiada autoridade numa estrutura organizacional que pode bloquear o
fluxo de decisões de forma centralizadora. Tudo depende do perfil e
competência das pessoas escolhidas para este órgão.

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Serviço Nacional de Saúde

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) é a estrutura que garante o direito


constitucional à proteção da saúde dos cidadãos portugueses, sob a tutela do
Ministério da Saúde.

O objetivo principal do SNS é prestar cuidados de saúde em várias


áreas, incluindo promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e cuidados
paliativos, bem como serviços de saúde instrumentais de apoio à prestação de
cuidados de saúde.

Além dos estabelecimentos e serviços públicos que o integram, o SNS


também inclui estabelecimentos prestadores de cuidados ou de serviços de
saúde do setor privado e social, pela celebração de contratos ao abrigo das
Bases 6 e 25 da Lei de Bases da Saúde. Além disso, todos os recursos
existentes na comunidade que possam ser utilizados para melhorar o estado
de saúde da população também são parte do SNS e são importantes para
garantir os necessários cuidados de saúde a quem deles necessita.

Estabelecimentos e serviços

Como referimos acima, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) integra


diversos estabelecimentos e serviços públicos com o objetivo de proteger a
saúde da população.

De acordo com o presente Estatuto, os estabelecimentos e serviços do


SNS incluem:

 ACES (Agrupamentos de Centros de Saúde);


 Hospitais;
 Centros Hospitalares;
 Institutos Portugueses de Oncologia;
 ULS (Unidades de Saúde Local);

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 USF (Unidades de Saúde Familiar);
 Instituto Nacional de Emergência Médica;
 Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
 Instituto Português do Sangue e da Transplantação,
 Serviços Partilhados do Ministério da Saúde na vertente de
telessaúde,
 Estabelecimentos e serviços privados e sociais com contratos
celebrados com o SNS.

Regiões de Saúde

No artigo 6º do Decreto-Lei n.º 52/2022 de 4 de agosto, que aprova o


novo “Estatuto do Serviço Nacional de Saúde, são definidas as regiões de
saúde em que o SNS se organiza:

 Norte;
 Centro;
 Lisboa e Vale do Tejo;
 Alentejo;
 Algarve.

O atual Estatuto estabelece uma correspondência das regiões de saúde


no enquadramento do nível II da Nomenclatura de Unidades Territoriais para
Fins Estatísticos (NUTS), no continente, o que reforça a sintonia de
organização territorial

Níveis de cuidados / Proximidade, integração de cuidados e


resposta em rede

Ainda nos seus Artigos 7 e 8, da referida legislação, é sublinhada a


abrangência do SNS enquanto sistema de saúde pública em Portugal,
oferecendo cuidados médicos a todos os cidadãos do país.

O SNS está organizado em três níveis de cuidados:

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 Cuidados de saúde primários;
 Cuidados hospitalares;
 Cuidados continuados integrados.

Os cuidados de saúde primários são o ponto inicial de contacto do


cidadão com o SNS e oferecem respostas de proximidade e continuidade.

Já os cuidados hospitalares consistem em intervenções mais complexas,


com recursos técnicos avançados para responder a situações de urgência ou
emergência.

Finalmente, os cuidados continuados integrados promovem a autonomia


e a funcionalidade das pessoas em situação de dependência. Neste contexto, o
SNS inclui intervenções de saúde pública em cuidados paliativos,
independentemente do nível de cuidados em que são realizadas. A prioridade é
oferecer cuidados no domicílio, sempre que possível.

Um dos pontos fortes do novo Estatuto do SNS é o funcionamento em


rede articulada, dando prioridade a uma gestão racional de recursos humanos
e materiais complementares, em busca de uma maior eficiência.

Os sistemas de informação do SNS são uma infraestrutura essencial e


indispensável que garante o acesso aos dados indispensáveis ao melhor
conhecimento do percurso de saúde do paciente, independentemente do local
onde ele se encontre. Assim, é assegurada pelo SNS a possibilidade de
qualquer cidadão ser reconhecido e tratado de forma adequada em qualquer
dos pontos de atendimento a nível nacional.

Pontos Fortes

Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde


Esta é a principal inovação do atual Estatuto do SNS. A Direção
Executiva do serviço nacional de saúde é o órgão do Serviço Nacional de
Saúde (SNS) em Portugal. Este órgão diretivo é responsável pela coordenação
da resposta assistencial dos estabelecimentos de saúde que compõem o SNS

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e gestão das redes de cuidados continuados integrados e de cuidados
paliativos. A Direção Executiva assume também a responsabilidade de
assegurar o funcionamento em rede do SNS, monitorização de desempenho e
resposta, exercendo as demais competências atribuídas na lei.

O membro do Governo responsável pela área da saúde pode delegar a


competência para a designação dos diretores executivos dos ACES na direção
executiva, enquanto o Conselho de Ministros pode delegar a competência para
a designação dos membros dos órgãos de gestão dos hospitais, centros
hospitalares e institutos de oncologia. O exercício das competências da direção
executiva do SNS é enquadrado pelo planeamento e gestão da atividade do
SNS, garantindo a eficiência e qualidade dos cuidados prestados.

Clarificação da noção de Unidades de saúde


São unidades de saúde do SNS os ACES e os hospitais, os centros
hospitalares, os institutos portugueses de oncologia e as ULS, integrados no
setor empresarial do Estado ou no setor público administrativo.

 Os ACES são os estabelecimentos e serviços do SNS aos quais


compete garantir a prestação dos cuidados de saúde primários.
 Os hospitais, os centros hospitalares e os institutos portugueses
de oncologia são os estabelecimentos e serviços do SNS aos
quais compete garantir a prestação dos cuidados hospitalares.
 As ULS são estabelecimentos de saúde aos quais compete
garantir, no próprio estabelecimento, a prestação integrada de
cuidados de saúde primários e hospitalares.
 As unidades de saúde previstas no n.º 1 garantem ainda, quando
aplicável, a prestação de cuidados continuados integrados e de
cuidados paliativos.

O regime de criação, organização e funcionamento das unidades de


saúde previstas no n.º 2 e os estatutos das unidades de saúde previstas no n.º
3 e 4 são outra das inovações deste novo estatuto SNS

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Conceito de SLS
O Art.º 13 refere que os Sistemas Locais de Saúde, consistem em novas
possibilidades de estruturação, abertas nesta legislação, permitindo a criação
de respostas específicas, adequadas a situações particulares do contexto de
saúde local, de acordo com as necessidades.

Fixação de Recursos Humanos


Outra das prioridades bem sublinhadas no Art.º 20 é definição de
mecanismos de fixação de profissionais de saúde em zonas geográficas
carenciadas. Este é, de facto, um dos problemas que mais se tem evidenciado
na atualidade, pelos desequilíbrios na distribuição de recursos humanos de
saúde ao longo do território, levando a situações de rutura em alguns serviços.

Assim, o Novo Estatuto do SNS procura garantir mecanismos de


afetação de recursos humanos que correspondam às necessidades de uma
dada comunidade ou área geográfica, abrindo as portas ao funcionamento em
rede, de modo a responder a eventuais emergências e situações de rutura.

Sistemas de informação do Serviço Nacional de Saúde


Na constante busca de eficiência de otimização de recursos, o sistema
informático que garante o acesso e a gestão de informação de utentes,
recursos humanos e materiais, estruturas e entidades, desempenha um papel
indispensável. Sem a correta articulação e interligação desta rede de sistemas,
todo o funcionamento do SNS pode ser posto em causa.

Não há muito tempo, as informações de um dado utente eram


informatizadas apenas a nível local, ficando disponíveis num terminal de
secretaria ou, quando muito, partilhadas na “intranet” do mesmo
estabelecimento. Se o mesmo utente se dirigisse a outro estabelecimento do
SNS, os seus dados não podiam ser consultados nesse local. Tal limitação
acarretava graves transtornos e burocracia. Era de facto um conjunto de mini
sistemas isolados onde a informação não circulava.

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Atualmente, com a nova plataforma informática do SNS, que integra em
rede toda a informação, assente num conjunto de servidores informáticos
distribuídos pelo país e coordenador de forma central, toda a informação está
disponível, com toda a garantia de segurança e proteção de dados.

A aposta nas TIC aplicadas à Saúde constitui um vetor fundamental para


a racionalização de recursos e para a crescente eficiência do SNS, cada vez
mais sujeito à demanda da população nacional.

Pontos Fracos

 A forma ligeira, como foram criados e definidos os Sistemas Locais de


Saúde (SLS), sem personalidade jurídica, dependentes das mesmas ARS,
atrás referidas, para a sua criação e para a aprovação do seu regulamento
e plano de ação. Em relação ao (SLS) foram atribuídas competências
vagas e pouco percetíveis, o que é manifestamente insuficiente.

 Quanto às ARS, resulta a indefinição do papel que lhes vai ser conferido,
para além do que acaba de ser mencionado, deixando estas estruturas
numa espécie de limbo;

 No que se refere aos regimes de trabalho, o conceito de dedicação plena,


cujos contornos, forma de aplicação e condições para acesso e
manutenção são confusos e/ou impraticáveis, considerando, desta forma,
que se perde a oportunidade para implementar a tão necessária separação
de setores, com a recuperação da figura da dedicação exclusiva;

 A continuação da reduzida autonomia financeira dada aos ACeS,


contradizendo a opção pelo aumento da sua autonomia, com a aparente
menorização do papel atribuído ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo
Jorge, que poderá perder a sua função de Observatório de Saúde.

 A corrente legislação / Estatuto do SNS pode caraterizar-se como “work in


progress”, pois revela ainda a necessidade de evolução e

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operacionalização das inovações, requerendo maior atenção legislativa
num futuro próximo.

Oportunidades e melhorias a realizar

 A valorização dos recursos humanos do SNS, cerca de 150 mil


trabalhadores. Pois não são as paredes ou os equipamentos que fazem
o SNS, são as pessoas que lá trabalham;

 São necessárias respostas que tenham em conta, por exemplo, o


desempenho e a qualidade da prestação de cuidados e que isso se
reflita na melhoria de remuneração dos RH. Isto é particularmente
importante, sobretudo num momento em que cada vez mais
profissionais abandonam o SNS.

 Concretização do investimento previsto para o SNS em 2023. O


Orçamento do Estado volta a ter mais de 900 milhões para
investimentos. O desempenho no SNS tem sido sempre aquém das
necessidades nos últimos anos, com uma taxa de execução muito baixa.
É preciso um SNS mais forte e mais capacitado em termos de
investimentos tecnológicos, para se poder responder às necessidades
dos doentes;

 Por último, a revisão da carreira de Administração Hospitalar. Não se


pode continuar a falar em melhorar a gestão dos serviços do SNS se
houver administradores hospitalares descontentes com a sua situação,
como acontece atualmente. Os administradores hospitalares estão
extremamente descontentes com a situação em que estão há mais de
20 anos no SNS. E se a sua carreira não for revista, o SNS não é
atrativo para os melhores gestores.

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Conclusão
Nesta breve reflexão, muito superficial e aligeirada, procuramos fazer
uma leitura transversal do novo Estatuto do SNS, aprovado pelo Decreto-Lei
n.º 52/2022 de 4 de agosto.
O tema dava para fazer uma tese de doutoramento, tal a quantidade de
questões legislativas e organizacionais. Assim, temos consciência das
limitações destas escassas linhas de texto, resultantes do reduzido volume de
tempo disponibilizado para o realizar.
Esperamos que seja um bom exercício de aquecimento no campo de
estudo das políticas de saúde.
Com 106 artigos de legislação nem sempre clara, nada fácil de
interpretar, o DL 52/2022 será matéria de estudo aprofundado para gabinetes
jurídicos e especialistas em direito e saúde. Como dizíamos acima, este “work
in progress” dará muito que falar e será alvo de futuras melhorias legislativas
que tenham em atenção os pontos fracos e oportunidades de melhoria.

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Referências Bibliográficas
 Decreto-Lei n.º 52/2022, de 4 de agosto | DRE

 Constituição da República Portuguesa (parlamento.pt)

 O Serviço Nacional de Saúde em Portugal | Pordata

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