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O gato que salvava livros

- O livro que vos vou apresentar denomina-se: “O gato que salvava livros” e foi escrito por Sosuke Natsukawa. Esta é a sua primeira edição e
foi feita pela Editorial Presença em 2022. A sua ação passa-se no Japão.
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- Tudo começou quando um rapaz chamado Rintaro Natsuki, um estudante do secundário, perdeu o avô numa noite de inverno e agora
sentia um vazio e tinha uma certa dificuldade em acreditar na morte do avô, pois essa tinha sido inesperada. Os pais dele separaram-se
quando ele ainda era pequeno e acabou por ir viver com a sua mãe, até ela morrer e ele ter de ir morar com o seu avô. Agora, tudo o que
lhe restava era a tia que viu pela primeira vez no funeral e a livraria “Livros Natsuki” de livros em segunda mão. Como não tinha mais
nenhum familiar, a única pessoa com quem podia ficar era a sua tia. Depois da morte do avô começou a faltar às aulas, deixando alguns
colegas preocupados que iam à livraria insistir que ele voltasse, principalmente a sua delegada de turma, Sayo, que lhe ia sempre entregar
os apontamentos e trabalhos que fazia na escola.
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- Um tempo depois desse acontecimento, Rintaro, já no final do dia, deparou-se com um gato falante que tinha aparecido na loja. O gato,
direto, introduziu-se, dizendo que era Tigre, o Tigrado e pediu a Rintaro que o seguisse e que o ajudasse a salvar uns livros que tinham
sido encarcerados. Rintaro ficou um pouco reticente, mas mesmo assim aceitou o seu pedido. A livraria tinha um corredor, e Rintaro foi
seguindo o gato até o que deveria ser o final do corredor, mas que naquele momento, era um corredor infinito seguido por uma espécie de
portal com uma luz branca. Ao passarem por esse portal depararam-se com uma mansão e um portão à sua frente. Tocaram à campainha e
foram recebidos por uma mulher que os guiou até o local onde estava o seu marido. Foram andando até chegarem a uma sala com várias
estantes cheias de livros e o homem que procuravam. Foram diretos e disseram-lhe logo que o seu objetivo ali era libertar os livros que
tinham sido presos . Aqueles livros estavam espalhados pelas prateleiras, sem nenhuma ordem, e o homem dizia que lia cem livros por
mês, que depois de lidos, iam para aquelas prateleiras. O homem proclamava-se génio intelectual, mas o único problema é que não tirava
proveito nenhum dos livros que lia e não sentia afeto por eles, apenas lia para ultrapassar outros gênios intelectuais, e depois prendia os
livros em vitrinas sem nunca mais voltar a tocá-los. O homem tinha livros difíceis de encontrar e apreciados por várias pessoas que
gostavam de livros, mas não lhes dava o devido valor, lia por ler. Rintaro estava lá para explicar ao homem que verdadeiros amantes de
livros não os lêem por ler, nem os trancam em vitrinas sem nunca mais dar uso deles, explicou-lhe que o mais importante era valorizar os
livros e não lê-los para obter um estatuto na sociedade. Acabou por ganhar a argumentação e todas as vitrinas transformaram-se em pó e
os livros começaram a voar, livres. As suas palavras tinham acabado de mudar alguém, o que significava que também tinha mudado um
pouco.
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- Uns dois dias depois o gato voltou à livraria de manhã, e desta vez pedia a Rintaro que o ajudasse a confrontar um mutilador de livros que
adquiria vários livros e que depois cortava-os aos pedaços. Rintaro aceitou a proposta e já estavam prontos para ir, quando, de súbito,
Sayo chegou noutra tentativa de fazer com que Rintaro fosse à escola naquele dia, ao se deparar com o gato, que pensava que Sayo não ia
conseguir vê-lo por causa de certas condições que só certas pessoas conseguiam vê-lo, mas Sayo viu-o perfeitamente e acabou por também
partir na aventura com eles. Fizeram o mesmo percurso da outra vez, mas desta vez chegaram a um local que era o Instituto de
investigação de leitura. No meio de tanta gente, Conseguiram encontrar uma pessoa que os pudesse ajudar a encontrar o autor de um
livro que segurava: Recomendações para uma nova forma de ler, que no caso era o diretor. Foram pelo caminho indicado até chegarem à
porta da sala do gabinete do diretor. Ao entrarem, explicaram o que estavam ali a fazer, mas o homem com uma tesoura na mão e um livro
no outro, não ouviu, pois a música estava muito alta, e apenas explicou que gostava de ouvir aquela música, pois melhorava a sua
pesquisa. Disse também que a sua pesquisa consistia em otimização da leitura, de forma a torná-la mais fácil e rápida. Muitas pessoas não
têm tempo para ler e por isso achou que a sua pesquisa poderia ajudar muita gente que não conseguia ler livros grandes e complicados em
livros pequenos e simples e também tinha o objetivo de dar nova vida aos livros, de forma a que eles fossem lidos e não esquecidos. Sayo
caiu no seu feitiço e simplesmente concordou, pois identificava-se com o que ele tinha dito. Acrescentou que usava a técnica do resumo, o
que consistia em cortar o livros em pedaços, de forma a que este ficasse resumido a um livro que é possível ler em poucos minutos ou
segundos. Sayo estava fria e Rintaro pousou-a numa cadeira, continuando a ouvir a explicação do homem. A intenção do homem não era
má de todo, o problema era que, ao resumir os livros em pequenas frases, estava a tirar a essência deles, o aproveitamento que podemos ter
com eles e todo o esforço que é preciso tomar para no final aprendermos sempre algo novo. Se desaparecessem por não serem lidos, pelo
menos ainda continham a sua mensagem inicial. Alguém que realmente gostasse de livros não os trataria assim. De forma a dar-lhe uma
moral, Rintaro carregou no botão que acelerava a música, fazendo com que uma música tão adorada, perdesse o seu valor e sentido para o
homem, que ficou incomodado. Tal como ele gostava da música, Rintaro gostava de livros e não gostava de vê-los a serem tratados
daquela maneira. Quando o homem percebeu o que Rintaro queria dizer, os pedaços de papel começaram a juntar-se e os livros voltaram
à sua forma original nas prateleiras. Começou a aparecer a tal luz branca e todos saíram daquele local.
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- Já tinha passado quase uma semana desde que o avô de Rintaro falecera e a sua tia foi visitá-lo, mas desta vez era para avisá-lo para preparar
as suas malas, pois a mudança seria depois daquele dia. A tia foi embora e Sayo foi ter com Rintaro pelas mesmas razões de sempre, até
que ouviram a voz do gato soar pela livraria, a solicitar a ajuda deles com o labirinto final. O gato avisou que desta vez o adversário a
enfrentar era mais persistente e perigoso e que era preciso tomar cuidado. Foram até o fundo da livraria e ao ultrapassar a luz branca, invés
de ver o escuro corredor iluminado por candeeiros, viam uma estrutura ao ar livre com muros de livros de cada lado, até que chegaram a
uma grande e alta parede de um arranha-céus que bloqueava a passagem. Tinha lá uma porta por onde entraram e tiveram de explicar que
tinham feito aquela visita para verem o diretor da empresa, que era a editora n1 do mundo: melhores livros do mundo. À medida que iam
avançando, certas coisas iam sendo proibidas, até chegarem à fase em que tiveram de avançar sem o gato. Subiram até ao último andar e
encontraram-se com o dono da empresa com quem Rintaro tinha iniciado o seu debate. Primeiramente, viram montes de livros a caírem
para baixo como se fossem chuva e a justificação do presidente foi que aqueles livros eram dispensáveis e que aquela editora vendia os
livros de acordo com os interesses das pessoas. Algumas pessoas já não queriam livros tão complicados, outras liam livros por estímulo,
como por exemplo aqueles livros que dizem que nos vão ajudar a ficar ricos e muitas outras nem lêem e preferem ficar a jogar videojogos.
Acrescentou que os livros tinham de se alterar de acordo com o interesse das pessoas e que a empresa não vendia os livros que queria, mas
sim aquilo que lucrava. Rintaro argumentou o facto de ele se dar ao trabalho de vender livros e depois dizer que não gostava deles e que, se
livros fossem mesmo bens dispensáveis, seria muito estranho ele estar naquela posição, visto que a empresa dependia da venda de livros.
Acrescentou também que, o facto de ele achar que os livros têm de se ir alterando para se manterem vivos, demonstra que ele gosta deles.
Foi nesse momento que ele se apercebeu do que estava a fazer de errado e os livros deixaram de cair. Finalmente tinham voltado para junto
do gato, onde se despediram, pensando que aquela seria a última vez que se iriam ver.
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- Era véspera de natal e já se tinham passado 3 dias desde a última vez em que vira o gato. A sua tia tinha ido à livraria para lembrá-lo de que
aquele era o dia da sua mudança, quando se depara com o gato, que, para sua surpresa, tinha dito que havia mais um labirinto e que
tinham raptado Sayo e a levado para lá, o que devia ter sido uma forma de atrair o Rintaro para aquele local. Foram pelo mesmo caminho
de sempre até chegarem a uma porta dupla que dava a um jardim. O gato e o rapaz fizeram a sua despedida final, agradecendo um ao
outro por tudo. O jardim transformou-se numa velha cidade e, ao sair da carruagem, Rintaro foi convidado por uma mulher a entrar
numa livraria com uma placa a dizer livros natsuki. Entrou e insistiu à mulher que liberta-se Sayo, mas esta queria primeiro ver uns filmes
e ter uma conversa séria com ele. Primeiro mostrou-lhe os filmes, que representavam a situação atual dos homens a quem Rintaro tinha
mudado o pensamento. O do primeiro labirinto passava tempo a admirar o seu jardim e a ler os mesmos livros repetitivamente, porém
perdera o seu estatuto social e já não era considerado génio intelectual, o segundo homem tinha deixado a sua pesquisa e agora demorava
um mês para ler um livro e também tinha perdido todo a sua importância e o terceiro homem agora até mandava fazer cópias de livros
mais antigos e não apenas a vender o que as pessoas queriam. A mulher era um livro, um livro com alma, e já tinha ouvido vários
discursos sobre a maneira como podemos preservar os livros e tal, mas queria ouvir algo diferente de Rintaro, algo que caracterizasse os
livros de verdade, mas ele decepcionou-a, por isso decidiu simplesmente ir embora pelo corredor da livraria, que levou a uma luz escura.
Rintaro seguiu a mulher e, depois de refletir respondeu que, para além de todos os poderes que os livros têm, o que mais se caracteriza é o
facto de nos ensinarem a nos preocuparmos com os outros, entender outras pessoas, sentir a sua dor e pôr-nos no lugar delas. Depois
disso, Rintaro começou a ouvir as vozes dos homens dos labirintos que, apesar de já não terem a importância social que tinham, eram
felizes e davam aos livros a devida importância. A mulher estava satisfeita com a resposta de Rintaro e ambos despediram-se. A mulher
mandou-o de volta para a verdadeira livraria e à Sayo também. Desejaram feliz natal um ao outro e foram embora
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- Já se tinham passado três meses desde que o seu avô tinha morrido e já estava tudo mais estável. Rintaro estava agora a viver sozinho, mas
cumprindo três promessas que fez com a tia. A primeira era que ele não podia faltar às aulas, a segunda é que ele tinha de ligar à tia três
vezes por semana e a terceira era que se ele tivesse algum problema, ele tinha de contar à sua tia. Tudo melhorou para Rintaro e começou a
pensar de uma maneira diferente devido a tudo o que se tinha passado. Começou a criar mais laços com as pessoas e a se preocupar mais
com elas.
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- Opinião - Gostei imenso de ler este livro. Primeiramente, porque fala sobre o verdadeiro valor dos livros, a sua importância e critica o
facto de os livros hoje em dia não terem um impacto tão grande. Fez-me perceber que devemos ler os livros por interesse em saber e com
vontade e esforço, pois eles podem ser muito grandes e que devemos fazer aquilo que nos trás satisfação e não apenas aquilo que satisfaz as
pessoas. Este livro representa o processo pelo qual Rintaro pode perceber melhor o conceito de empatia e que pôde começar a realmente
perceber que os outros se preocupavam com ele e que ele também devia se preocupar com os outros. Recomendo este livro para quem
gosta de gatos, literatura japonesa e de ficção.

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