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Avaliação dos Impactos Econômicos, Sociais e

Culturais do Programa de Aquisição


de Alimentos no Paraná
Moacyr Doretto1
Ednaldo Michellon2

RESUMO
O objetivo do trabalho foi avaliar os impactos econômicos, sociais
e culturais do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA, principal braço
do Fome Zero, no Estado do Paraná. E, para realizar a pesquisa foram
escolhidos os municípios de Cerro Azul, Imbau e Querência do Norte.
O levantamento de dados de campo ocorreu nos meses de novembro e
dezembro de 2005, por meio de formulário estruturado junto aos agricultores
beneficiários e não beneficiários do programa, com entidades proponentes,
com entidades que receberam as doações e com conselho gestor municipal.
Os resultados indicaram que a maior parte dos agricultores participa de
movimentos sociais; 1/3 dos beneficiários tiveram que expandir a área
para atender a entrega da produção contratada; houve expansão no uso
de tecnologias no processo de produção; introdução de novos cultivos
e produtos para atender a demanda; mais da metade dos domicílios
recebem transferência de renda do governo; mais de 1/3 dos domicílios
entrevistados tem rendimento de fora do estabelecimento agropecuário;
o nível de incremento na renda média familiar dos agricultores foi de
25,2% naqueles beneficiários do PAA com uso do PRONAF e, de 43,0%
nos beneficiários sem PRONAF. Ressalta-se que esse incremento de
renda ocorreu entre agricultores familiares de baixa renda, pois o teto
é de R$2.500,00 de per si, e que em extratos de renda maior o impacto
seria menor. Em suma, essas ações ajudam a construir políticas públicas
que vão de encontro às reais necessidades da população, impulsionando
o desenvolvimento local que deve ser o alvo de todo gestor público.
1 Economista MSc - Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná
- IAPAR - Fone: (43) 3376 2349 - Londrina - PR. Email: doretto@iapar.br
2 Professor da Universidade Estadual de Maringá (Depto. de Agronomia, Programa de Mestrado em Economia
e Coordenador do Escritório de Negócios da UEM). Fone: (44) 3261-4050 e (44) 9952-4658. Email:
emichellon@uem.br

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Palavras-chave: PA A Paraná, Fome Zero, Agricultura Familiar, Pronaf.

1. Introdução
O estudo foi realizado pela Fundação Universidade de Brasília
- FUBRA, cuja proposta foi vencedora no processo de licitação promovido
pela FAO em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome.
O objetivo do trabalho foi avaliar os impactos económicos e sociais
do Programa de Aquisição de Alimentos - PAAno Estado do Paraná, e para
isso elegeu-se os municípios de Cerro Azul, Imbau e Querência do Norte
para a pesquisa de campo.
O texto está organizado em seis capítulos: no primeiro, o objetivo
da pesquisa e a organização do texto que segue; no segundo, a realização
da pesquisa de campo; no terceiro, descreveu-se o ambiente institucional
do PAA, contemplando o público potencial de agricultores familiares no
estado e municípios, a operacionalização do PAA pelas entidades estaduais
e, nos municípios as entidades proponentes, as beneficiárias, o conselho
gestor, o mercado gerado, as limitações e as potencialidades; no quarto, a
caracterização dos agricultores beneficiários e não beneficiárias, a forma
de acesso, as mudanças na base técnica, as fontes de renda da família, a
composição da renda com e sem PRONAF, com e sem PAA e a renda média
mensal familiar; no quinto, as conclusões e recomendações e, finalmente,
as referencias bibliográficas.

2. Pesquisa de campo
A pesquisa de campo foi realizada nos meses de novembro e
dezembro de 2005. A equipe de coordenação central do projeto definiu os
municípios, as modalidades de aquisição de alimentos utilizadas pelo PAA,
os instrumentos de coleta de dados junto aos agricultores e a tabulação dos
dados. Os pesquisadores foram a campo para os contatos com informantes
chaves em nível estadual e municípios onde foram realizadas as pesquisas
junto aos agricultores, entidades proponentes, entidades beneficiárias e
conselho gestor. As entidades proponentes cederam as informações dos
locais e da listagem de agricultores que foram beneficiados pelo PAA.
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Nos municípios de Cerro Azul e Querência do Norte foi necessário efetuar
sorteio dos nomes dos agricultores a serem entrevistados, pois o número
de beneficiários do PAA era superior ao que tinha sido determinado pela
pesquisa de campo. Após a pesquisa de campo nos respectivos municípios
os dados foram digitados e remetidos à coordenação central do projeto que
elaborou as tabelas de saída e, depois foram devolvidas aos pesquisadores
para elaboração do relatório final de análise.
No município de Imbau, a modalidade do PAA foi a Compra Antecipada
da Agricultura Familiar - CAAF, com 16 agricultores que tiveram acesso
aos recursos através da Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB,
via Banco do Brasil, além de 10 agricultores não beneficiários e entidades
beneficiárias e gestores do programa no município. Nesse município foram
realizados entrevistas de campo, com um número menor de agricultores,
em virtude de que parte deles não se encontrava nas unidades de produção
no dia da visita ao local de moradia.
Em Cerro Azul, foram sorteados 30 agricultores beneficiários
da listagem fornecida pela Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e
Promoção Social-SETP, e que se utilizaram a modalidade Compra Direta
Local da Agricultura Familiar-CDLAF, porque o número de beneficiários
ultrapassou o da amostra.
Em Querência do Norte, realizou-se levantamento de dados em
duas modalidades do PAA: a Compra Antecipada da Agricultura Familiar
- CAAF e a Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar- CAE AF.
Foram sorteados 60 agricultores beneficiários dos Programas e mais 20 não
beneficiários para controle. Todavia, dado a rotatividade dos agricultores
familiares nos assentamentos, e especialmente, no acampamento, foram
entrevistados 42 beneficiários e 22 não beneficiários.
Para efeito de facilitar o entendimento das siglas utilizar-se-à as
seguintes denominações: Direta para CDLAF; Antecipada para CAAF e;
Antecipada Especial para CAEAF.

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3. Ambiente Institucional do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA

3.1. Público potencial de agricultores


No Paraná, segundo Doretto et all 2001, constatou-se que do total
de estabelecimentos 90,0% são familiares e 10,0% não familiares. Os
estabelecimentos familiares continuam mantendo sua predominância na
agricultura paranaense, pois se apropriam de 56,0% da área (ha), de 83,0% do
pessoal ocupado e de 58,0% do valor bruto da produção vendida. O público
estimado do PRONAF foi de 268.948 estabelecimentos, dos quais 205.012
usavam exclusivamente pessoas da família. A terceirização da execução
dos trabalhos agrários ocorreu em todas as categorias de produtores,
principalmente, na categoria familiar com valor bruto da produção vendida
menor que R$27.500,00 e área total inferior a 4 módulos fiscais que
basicamente compõe o público do PRONAF na agricultura paranaense.
No município de Cerro Azul, os agricultores familiares (familiar
e familiar empregador) representam 95,8% dos estabelecimentos, detém
85,3% da área total, tem 95,1% do pessoal ocupado e se apropriam de 89,4%
do valor bruto da produção vendida. Desta forma, no município constata-se
a predominância de economia de base familiar e com grande número de
estabelecimentos que poderão se beneficiar com os recursos do programa
de aquisição de alimentos.
O município de Imbau foi criado em 1997, desmembrado de
Telêmaco Borba, é caracterizado como sendo predominantemente (89,1%)
de estabelecimentos agropecuários familiares, apropriou-se de 57,8% da
área total, 88,0% do pessoal ocupado e 49,8% do valor bruto da produção
vendida. Por outro lado, verifica-se a existência de grande concentração
do acesso à terra e do valor bruto da produção vendida em favor dos
estabelecimentos não familiar.
O município de Querência do Norte apresentou predominância
(64,3%) de estabelecimentos familiares, mas com alto grau de concentração
do acesso à terra, pois os referidos agricultores apropriam-se de apenas
14,6% da área total (há) e de 16,4% do valor bruto da produção vendida.
Por outro lado, os estabelecimentos não familiares representam, em torno
de 1/3 das unidades de produção agropecuária detém 85,4% da área total do
município. Essa estrutura fundiário é caracterizada pela alta concentração
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do acesso à terra, constituindo-se de grandes unidades de produção que
exploram principalmente a pecuária extensiva. Apesar desse quadro
fundiário houve nas últimas duas décadas profundas transformações,
principalmente, no acesso à terra em virtude dos assentamentos de reforma
agrária em grandes fazendas.

3.2. Ambiente institucional do PAA no Paraná


No Estado do Paraná, diferentemente dos demais Estados brasileiros,
a execução do PAA em 2005, foi realizada por duas entidades, ou seja,
pela CONAB e pela SETP, sendo esta última o órgão gestor estadual do
programa. A CONAB operacionaliza quatro modalidades de aquisição
de alimentos: Direta-CDAF; Antecipada-CAAF; Contrato de Garantia
de Compra da Agricultura Familiar-CGCAF; Direta Local-CDLAF ou
Antecipada Especial-CAEAF para formação de estoque. No Estado, até
o ano de 2005, ainda não fora realizada nenhuma operação de CGCAF.
A SETP operacionalizou a Direta Local, porque essa modalidade é de
doação simultânea dos produtos, ou seja, as entidades proponentes fazem
o levantamento das demandas das entidades beneficiarias para receberem
os alimentos, segundo fora contratado na proposta inicial.
A SETP possui projeto aprovado em quase todas as regionais do
Paraná, enquanto que a CONAB restringe-se aos municípios da região
Sudoeste, Centro-Sul, em apenas dois municípios no Norte do Paraná e
próximo à capital do Estado. Não se observou a atuação das duas entidades
no mesmo município devido a um acordo informal de que quando há presença
de uma a outra não aceita proposta de nenhuma entidade proponente. A
justificativa da SETP, não operacionalizar as outras modalidades de aquisição
de alimentos, é de que não dispõe de capacidade instalada de armazenagem
para produtos em nenhum município paranaense.
No Paraná, verificou-se que houve significativa evolução do PAA,
principalmente em termos de valor monetário, número de produtores, de
entidades, de pessoas, de projetos e de municípios. No período de 2003
até 2005 a CONAB foi responsável pela opéracionalização de 59,4% dos
recursos do PAA no Estado, Tabela 1. O total de agricultores beneficiários
no mesmo período entre as duas entidades representa apenas 3,0% do
volume total de agricultores potenciais que poderiam utilizar-se do
PRONAF, segundo Doretto et al 2001.
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A CONAB está presente em 50,7% dos municípios beneficiários
do PAA, executou 67,8% dos projetos e atendeu 53,9% dos agricultores
beneficiários do programa no Estado. Por outro lado, a SETP distribuiu
alimentos para 59,3% das entidades beneficiárias que atendeu diretamente
70,8% das pessoas com doação de alimentos.
Segundo informações do Coordenador Estadual do PAA, o Sr.
André Michelatto Ghizelini, da SETP no III Encontro Regional de PRO-
AMUSEP, dia 01/12/05 em Maringá, os principais resultados obtidos pelo
PAA no Paraná foram: melhoria das condições de trabalho das merendeiras;
diminuição da evasão escolar no Ensino Jovem Adulto-EJA; diminuição
da desnutrição infantil; diversificação da produção de alimentos nos
estabelecimentos agropecuários e "criação" de renda para agricultura
familiar; diminuição de medicamentos em escolas e creches; substituição
de sopa pela refeição preparada com alimentos frescos; consolidação de a
cultura alimentar regional; novos mecanismos de comercialização para os
agricultores através da venda para moradores urbanos e feiras.
O coordenador estadual informou, ainda, que em 2004 foram
investidos R$ 1,7 milhões, de um total disponível de R$ 5 milhões, em 39
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projetos. Em 2005, foram investidos R$ 3,5 milhões na primeira etapa, até
abril, e de maio a dezembro há uma demanda de 62 projetos com recursos de
aproximadamente de R$ 7 milhões, mas só tinha R$ 1,7 milhões disponíveis.
Diante desse quadro de restrições orçamentarias será obrigado a fazer um
corte de 30 a 60,0 % nos projetos. Vale destacar que no Paraná é o Estado
que faz a seleção dos projetos e não o governo federal.
Durante o evento citado acima, houve um fórum específico para
discutir a questão do PAA, e entre os participantes estavam os prefeitos
dos municípios de Floresta, Sr José Roberto Ruiz, e de Umuarama, Sr Luís
Renato, pioneiros na operacionalização do programa na região Noroeste do
Paraná. O prefeito de Floresta declarou que o município está economizando
de 50 a 60 % dos recursos destinados à merenda escolar com as doações do
PAA, além da melhoria na qualidade da alimentação e de ter equipado as
cozinhas com geladeira e freezer para o armazenamento dos produtos.
O prefeito de Umuarama que atualmente é o presidente do Conselho
de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local - CONSAD, também
elogiou o PAA, dizendo que famílias inteiras se envolvem com o programa
garantindo renda e, conseqüentemente, a permanência na área rural.
Um ponto importante do evento realizado foi quando os dois
prefeitos enfatizaram a intenção de que, caso o município seja cortado
do Programa, em função da faixa de renda, eles irão envidar esforços
para continuá-lo por conta da prefeitura, o que é algo fantástico do
ponto de vista de políticas públicas em prol do desenvolvimento local
e solidário.

3.3. Ambiente institucional do PAA nos municípios da pesquisa

3.3.1. Entidades Proponentes


Em Cerro Azul, a SETP firmou convénio com a Associação de
Amigos e Produtores de Cerro Azul-AAP, localizada na Rua Pref. Atanagildo
de Souza Laio 362, CNPJ 04.766.743/0001-37, de Utilidade Pública
Municipal (Lei n° 019/2003) por meio da modalidade Direta. Os agricultores
se comprometeram a entregar os seguintes produtos: olerícolas, laranja,
tangerina ponkan, banana, ovos, melado, pão e bolacha.
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No município de Imbau, os agricultores do Assentamento Gua-
nabara fizeram a proposta diretamente para a CONAB através da
modalidade Antecipada. Os produtos contratados foram o feijão, milho
e trigo, mas não se efetivou a entrega dos produtos em virtude da perda
total da produção decorrente de período prolongado de seca e pela
ocorrência de chuva de granizo.
Em Querência do Norte, a Cooperativa de Comercialização e Reforma
Agrária Avante Ltda - COANA formalizou convénio com a CONAB por
meio de duas modalidades: antecipada realizada por famílias residentes
no Acampamento Sebastião da Maia com proposta de produção de fubá
de milho, queijo e arroz. Mas, os agricultores entregaram 50,0% do valor
total da proposta em arroz e depois complementaram com fubá e queijo;
e a Antecipada Especial com famílias do Assentamento Che Guevara com
a produção de farinha de mandioca. Todavia, em dezembro de 2005, parte
dos agricultores optou pelo pagamento em dinheiro.
Em Querência do Norte, no ano de 2005, a situação da entidade
proponente mudou, pois a Câmara dos Vereadores não aprovou a
continuidade da COANA como entidade gestora, alegando que a mesma
deveria fazer reformulações no estatuto, e entre as questões alegadas, estava
a necessidade de obter a declaração de utilidade pública. Apesar do apelo
feito a COANA não concordou e na sequência para efetuar a contratação
de uma nova proposta de compra de alimentos junto ao PAA repassou-se
a responsabilidade para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais-
APAE. Esse fato demonstrou o interesse político partidário reinante no
município, pois dos nove vereadores cinco são do PFL. Em suma, o veto
feito à COANA está diretamente relacionado à posição política dessa
cooperativa, que é ligada ao MST e, conseqiientemente, o PFL quer boicotar
as suas ações junto aos demais agricultores, dificultando o desenvolvimento
do próprio município.

3.3.2. - Ambiente institucional do PAA junto às entidades


beneficiárias
Em Querência do Norte, as entidades beneficiárias do PAA foram:
Escola Rural Municipal Chico Mendes, Secretaria Municipal de Educação,
Centrão (Escola Estadual), Escola Rural Porangaba I, Escola José Gomes
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da Silva e a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais-APAE, além de
outras localizadas fora do município: Itepe (São Miguel do Iguaçu), Escola
Milton Santos e Associação Regional de Cooperação Agrícola (Maringá).
No município de Imbau não houve entidade beneficiária, pois se
tivesse ocorrido a produção os produtos milha, trigo e feijão seriam entregues
diretamente na CONAB.
No município de Cerro Azul, o PAA forneceu alimentos oriundos
da agricultura familiar para 14 entidades beneficiárias, sendo que 8 delas
localizam-se na sede municipal, 2 escolas na área rural, 3 entidades no
município de Tunas do Paraná e 1 em Curitiba. No município de Cerro Azul
ainda tem 38 escolas rurais e 4 entidades sociais que não foram contempladas
pelas doações de alimentos. No entanto, a maior quantidade de alimentos,
quase 50%, é destinada à doação ao Banco de Alimentos da "CEASA
AMIGA" localizada no município de Curitiba, distante 80 quilômetros de
onde são produzidos os alimentos.
No sentido de verificar a importância dessa doação de alimentos
foram feitas entrevistas junto aos responsáveis pela merenda escolar
fornecida aos alunos, contemplando tanto escolas na área rural quanto
na urbana.
Em Cerro Azul, o Colégio Estadual Augusto Antônio da Paixão,
localizado no Bairro Rural da Bomba, serve diariamente em torno de 1.255
refeições para alunos, professores e servidores. Os valores das doações
dos alimentos realizados pelo PAA totalizam 44,0% do valor total das
despesas mensais com alimentação. Comparando-se a merenda composta
desses produtos do PAA com as anteriores, os informantes são enfáticos em
afirmar que a preferência é por essa maior variabilidade de produtos que
são mais saborosos. Essa escola estadual possui alunos de várias séries na
área rural e os jovens estudantes são provenientes de comunidades distantes.
Com isso, o tempo de deslocamento (ida e volta) mais a permanência na
escola são longos e necessitam de alimentação, principalmente porque a
merenda escolar é a principal fonte de alimentação diária da maior parte
dos estudantes.
O Colégio Estadual Princesa Isabel está localizado na Rua Mário
Martins, 120, no Centro de Cerro Azul e serve em torno de 1.500 refeições
diárias para os alunos, servidores e alguns professores. Estima-se que do
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total do valor das despesas com produtos utilizados nas refeições 20,0%
é por conta dos alimentos (vagem, abobrinha, mandioca e laranja) doados
pelo PAA. O colégio não dispõe de nutricionista para montar o cardápio
balanceado da merenda e tudo é feito com base na experiência das
merendeiras aproveitando os produtos da época. Segundo os relatos delas
a procura por merenda é maior quando são utilizados os produtos dessas
porque são mais saborosos e os alunos tem maior preferência em relação
aos produtos enlatados. A direção do colégio considera muito importante
se pudesse dispor de nutricionista para montar um cardápio balanceado
de alimentos, principalmente porque no município são produzidos outros
produtos agrícolas que poderiam estar sendo servido para os estudantes. Os
produtos que são recebidos de doação do PAA nunca foram submetidos à
análise laboratorial, bem como nunca houve no colégio alunos que tivessem
se intoxicado com a merenda escolar.
O Colégio Municipal Padre Luciano localizado no Centro de Cerro
Azul os alimentos doados pelo PAA representam em torno de 1/5 do total
das despesas realizadas com alimentos na merenda escolar e diariamente
são servidas aproximadamente 385 refeições para os alunos, professores e
servidores. Esse colégio é o que recebe do PAA a maior variabilidade de
produtos (arroz, pão, feijão, bolacha, laranja, banana, tangerina, melado,
rapadura, maracujá, milho verde, olerícolas, mel e ovos) em relação aos
demais citados acima e engajados no programa. A doação de alimentos do
PAA resolveu o problema mais preocupante do colégio relativo à merenda,
pois anteriormente era servida com as doações realizadas pelos pais dos
alunos e daqueles advindos do comércio local. As merendeiras relataram que
as dificuldades estavam fundadas na irregularidade das doações, ou seja, do
tipo de produto, quantidade e período em que chegavam os alimentos.

3.3.3. Conselho Gestor


No município de Querência do Norte existe o Conselho Gestor
do Fome Zero, com oito membros, mas é pouco atuante. Ou seja, com o
desmantelamento do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e
Combate à Fome, o reflexo negativo ocorreu direto na base municipal, com
a desarticulação do arranjo institucional que estava sendo engendrado para
ampliar o Programa e melhoria da gestão.

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No município de Imbau não foi possível identificar se existia ou não
o conselho gestor municipal do PAA, principalmente pela precariedade dos
recursos técnicos disponíveis na estrutura municipal para efetuar os contatos
com os agentes estaduais responsáveis pelo referido programa.
Em Cerro Azul, o Conselho Gestor do PAA é muito atuante e na
percepção do entrevistado o PAA possui um arranjo institucional positivo,
dado que a compra dos alimentos e a fiscalização da aplicação dos recursos
é realizada pelas pessoas no local onde o programa esta sendo conduzido.
Essa forma de execução exige que de fato para o sucesso da aquisição de
alimentos dos agricultores possam acontecer as aproximações das entidades
e a realização das parcerias, independentes da opção política partidária das
pessoas nas entidades. Os benefícios sociais verificados junto ao público
do PAA foram: o trabalho de base já conduzido há algum tempo com a
organização dos agricultores em associações foi altamente benéfico para
a condução do programa porque os agricultores estão convictos de que
sozinhos não poderão alcançar resultados satisfatórios com suas lavouras,
e; permitiu que os agricultores pudessem realizar a produção programada
dos produtos e com isso introduzir novos produtos na pauta das lavouras
conduzidas no estabelecimento agropecuário. No município ocorreu
significativo avanço nas relações entre as entidades com destaque para
Associação dos Amigos e Produtores de Cerro Azul, que mesmo com as
dificuldades político partidário diante do poder local foi proponente e não
fez distinção entre seus beneficiários; o avanço do associativismo entre
os agricultores, e; expansão dos produtos da agroindústria, inclusive com
associações de mulheres agricultoras.
Os aspectos negativos do programa se referem a necessidade de
ter que elaborar a proposta com urgência devido à falta de planejamento
na liberação de recursos na esfera federal; descompasso entre a liberação
dos recursos para aquisição dos alimentos e a época da produção; difícil
relacionamento entre a entidade oficial de assistência técnica estadual e
Secretaria Municipal de Agricultura local em relação à assistência técnica
e na organização dos agricultores; personalização do programa entre
as pessoas do local; a entidade proponente possui restrições na infra-
estrutura para executar a proposta feita ao PAA, principalmente pessoal,
microcomputador e carro.

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O potencial do programa no município: há condições edafoclimáticas
favoráveis para a produção da quase totalidade dos produtos agropecuários
que são produzidos no Paraná; entidade proponente apresentou
transparência na condução do programa junto aos agricultores; capacidade
de aumento na aquisição dos produtos da agricultura familiar; existem
muitas escolas que poderão ser beneficiadas com a doação de alimento
para a merenda escolar; poderão ser ofertadas cestas de alimentos às
pessoas carentes que residem na área urbana do município, e; a meta é
atingir em dois anos em torno de 50,0% dos agricultores familiares que
serão beneficiados com o programa.

3.3.4. Mercado gerado com o PAA


O município de Querência do Norte está localizado numa região
do Estado onde é possível a produção de grande parte dos produtos
agropecuários que atualmente são produzidos no Paraná. O município
apresenta uma vasta região com áreas úmidas, próximas aos rios Paraná e
Ivaí dedicadas à produção de arroz irrigado. Nesse sentido o PAA poderá
beneficiar o público de agricultores assentados pelo programa de reforma
agrária e também aqueles que ainda estão acampados aguardando a
regularização fundiária. Apesar da baixa dotação de recursos técnicos e
económicos individuais dos agricultores, estão organizados pela CO ANA,
e poderão acessar recursos para a agroindustrialização dos seus produtos.
Esse público potencial de agricultores familiares existentes no município
poderá produzir alimentos para o PAA abastecer a totalidade da demanda
das entidades por alimentos para merenda escolar, creche e hospital.
O principal canal de mercado aberto foi para o leite, fruto de um
esforço de muitos anos para viabilizar essa bacia leiteira, e que agora, ganha
força com a participação do PAA para aquisição e distribuição do leite.
Ou seja, de um lado estão os agricultores familiares com o imperativo de
viabilizar a produção e a agroindustrialização de seus produtos, e de outro,
as pessoas carentes, especialmente crianças, pré-adolescentes, adolescentes,
jovens e adultos com necessidades especiais que necessitam do produto
para fugir da desnutrição.
No município de Imbau, o PAA motivou os agricultores a produzirem
o trigo que, até então, não era uma lavoura cultivada pelos agricultores do
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assentamento. Os principais atrativos do PAA para os agricultores são os
preços estipulados para a época de entrega dos produtos e a garantia de que
ao entregarem a produção irão receber os recursos. Portanto, esses dois
elementos são absolutamente suficientes para estimular os agricultores, dado
que para aquelas condições em que eles produzem, ou seja, com baixo nível
tecnológico e sem a devida organização para a comercialização, tal garantia
é de suma importância para a continuidade das unidades familiares.
No município de Cerro Azul há uma longa tradição da produção
de hortifrutigranjeiros entre os agricultores familiares. Esses produtos são
comercializados, inclusive, por alguns agricultores e principalmente pelos
comerciantes locais no terminal da CEASA em Curitiba. É evidente que o
PAA não absorveu toda a produção dos hortifrutigranjeiros da agricultura
familiar municipal, dada a limitação de recursos do programa. A forma
de comercialização do PAA mostrou aos produtores como é possível
produzir produtos hortifrutigranjeiros, inclusive, em locais distantes da
sede municipal e comercializá-lo por preço, na maioria das vezes, acima
daquele que é praticado no mercado local. Comparando-se os preços
pagos pela CEASA em Curitiba com os da CONAB, no período de maior
entrega dos produtos ao PAA, constatou-se que de janeiro até setembro
de 2005, período onde ocorreu a maior entrega dos produtos ao PAA, a
tabela de preços da CONAB sempre remunerou os produtos acima daqueles
que foram comercializados na CEASA em Curitiba para os seguintes
produtos: abóbora seca; mandioca; banana caturra; banana prata; berinjela;
beterraba; feijão preto; laranja pêra; ovos; pepino; pimentão; tomate e
vagem. O canal de comercialização aberto pelo PAA foi benéfico para
os produtos da agroindústria que são elaborados, mais especificamente,
pelas agricultoras. Com essa possibilidade concreta de entrega de pães,
bolachas e doces constatou-se que foi um estimulo muito grande para que
as agricultoras iniciassem de forma organizada e frequente a produção
dos respectivos produtos. Segundo técnicos da assistência técnica oficial
atuante no município, depois de tanto tempo tentando introduzir a atividade
com produtos da agroindústria, como mais uma fonte de renda para os
agricultores, somente veio acontecer com o PAA, pois os agricultores
verificaram que era uma forma segura de produzir, de entregar o produto
conforme o contrato formal e de receber o valor monetário pelos produtos
no tempo determinado.

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Entre os agricultores ficou evidenciado que já estão aptos à produção
de outros produtos que não era comum no município para atender a demanda
das entidades locais quanto de outros municípios.

3.3.5. Limitações
Em Querência do Norte, a limitação do programa está fundada
na seleção dos agricultores que terão acesso aos recursos, pois todos são
acampados e assentados de reforma agrária e possuem similaridade de
restrição de recursos técnicos e económicos e do processo de organização a que
estão vinculados. A entidade proponente teve que excluir algumas entidades de
receberem os alimentos em virtude da limitação dos recursos para o município,
entre elas, hospital, creche e escolas da área urbana e rural.
No município de Imbau, as limitações verificadas em relação ao
PAA: os recursos foram liberados com atraso pelo Banco do Brasil; o
recurso liberado de R$ 2.500,00 por família é considerado baixo pelos
agricultores; falta de capacidade instalada de técnicos no município; os
agricultores consideram inexistente a divulgação do PAA no município; e,
a assistência técnica pública é deficitária junto às atividades desenvolvidas
pelos agricultores.
Em Cerro Azul, as limitações apresentadas pelos agricultores e
entidades beneficiárias foram: dificuldade do relacionamento político
institucional entre o poder público local; o atraso na liberação de recursos;
o sistema de comunicação utilizado entre a entidade proponente e os
agricultores, dispersos pelo município, é precário, visto que na área rural
do município existem poucos telefones fixos, além da distância entre
eles; não há recursos para a entidade proponente administrar a execução
do projeto; o técnico da assistência técnica pública local não conseguem
atender o universo de agricultores familiares; valor do frete é considerado
abusivo; falta de pessoal técnico capacitado para elaboração de projeto;
falta de pessoal técnico para elaborar projeto municipal de zoneamento
da produção segundo as comunidades e de diversificação da produção;
dificuldade da realização da troca de produtos torna-se impedimento para
os produtores agrícolas, principalmente quando ocorre o atraso na liberação
dos recursos e/ou perda de produção por fenômenos climáticos e ataque de
pragas e doenças; e, a dificuldade de integração entre as entidades públicas
120
e as associações de agricultores para o uso comum da infra-estrutura,
parcialmente, montada de despolpadora de frutas.

3.3.6. Potencialidades
No município de Imbau há facilidade para a expansão do programa
em virtude de que os agricultores do assentamento estão sob a orientação do
MST. Os agricultores são enfáticos em afirmar que a garantia de mercado e
de preços para os produtos produzidos é de fundamental importância para
a manutenção da renda no estabelecimento agropecuário.
O programa possibilita a expansão da produção dos produtos já existentes
no estabelecimento agropecuário e também de outros que podem ser cultivados
no local, mas que por motivos de falta de demanda não são produzidos. Há entre
os agricultores a manifestação positiva para iniciar a produção, inclusive, 'de
produtos que normalmente não produzem para comercialização, caso específico
dos hortigranjeiros. Com isso, o programa promoveu um estímulo entre os
agricultores propensos a iniciar a produção.
No município de Cerro Azul, as potencialidades são: agricultores
dispostos a atender a demanda dos atuais produtos e de outros que poderão
ser introduzidos nas suas unidades de produção; expansão de área e
diversificação de produtos olerícolas; esse procedimento de terem que fazer a
proposta em conjunto fortaleceu o associativismo; garantia de mercado e de
recebimento pelos produtos produzidos; possibilidade de realização de
programação de produção e entrega dos produtos; expansão dos produtos da
agroindústria; querem a implantação do selo de identificação dos produtos e
produtores; conscientes da necessidade de entregarem produtos de boa
qualidade; a condição edafoclimática municipal favorece a produção da
maior parte dos produtos olerícolas que ainda poderão ser inseridos na
diversificação da merenda escolar dos alunos; faltam ser atendido 90,0%
dos agricultores familiares; organização dos agricultores para aquisição de
caminhão para transportar os produtos para comercialização e consumo; não
foram atendidas 38 escolas rurais e 4;entidades sociais; a entidade Ceasa
Amiga, localizada em Curitiba, possui 170 entidades cadastradas, mas atende
somente 120 delas (hospitais, creches e asilos) com doações de alimento
uma vez por semana. Atualmente os alimentos do PAA representam 60,0% ,
do total doado pela entidade.
121
Em Querência do Norte, a prefeitura está disposta a colocar
funcionários para contribuir institucionalmente com o PAA. Constatou-
se, ainda, que há facilidade na execução do programa pela economia de
recursos da prefeitura com merenda escolar, fortalecimento da agricultura
familiar, eliminação do atravessador e distribuição de atividades para outros
agricultores do município. Em outras palavras, para o arranjo institucional
local é fundamental o apoio da prefeitura, especialmente nestas políticas
na linha da democracia solidária3.

4. Resultados da pesquisa com os beneficiários e não-beneficiários do


PAA

4.1. Caracterização dos agricultores usuários e não-usuários


No Estado do Paraná, foram entrevistados 123 agricultores, sendo que
a maior parte deles (63) não são usuários do PRONAF e são beneficiários do
PAA. Essa constatação é decorrente de que a maior parcela dos agricultores
beneficiários do programa tem suas residências em assentamentos de reforma
agrária. Dos três municípios determinados pela pesquisa apenas Cerro Azul
os agricultores não eram de assentamentos de reforma agrária.
Os agricultores beneficiários do PAA e que utilizam o PRONAF são
aqueles que apresentaram os maiores tempos médios (anos) de residência no
município, de trabalho no meio rural e de que são agricultores familiares.
Nesse sentido, entre os agricultores assentados há parcela deles que a área
de terra foi regularizada a mais de uma década e possuem condições de
recursos técnicos e económicos diferenciados daqueles recém assentados
e, principalmente, em relação aos acampados.
Os estabelecimentos agropecuários dos agricultores beneficiários e
não-beneficiários do PAA e se fazem uso ou não do PRONAF localizam-se,
em maior proporção, no estrato de área até 50 hectares, Gráfico 1. Existem
dois grupos de agricultores que são beneficiários do PAA: o primeiro com
PRONAF cuja maior proporção da áçea total dos estabelecimentos está no
estrato de 20 a 50 hectares, e; o segundo, sem PRONAF que estão em maior
proporção no estrato menor de 10 hectares. Aqui vale ressaltar que o PAA
3 Michellon, E. (2006).

122
esta sendo acessado por esse contingente de agricultores com áreas menores
de 10 hectares. O caso dos agricultores não-beneficiários é semelhante ao dos
beneficiários sem PRONAF, ou seja, em maior proporção estão localizados
no estrato menor de 10 hectares.
No município de Cerro Azul, os agricultores beneficiários e não-
beneficiários estão distribuídos em maior proporção no estrato de área de
menos de 10 hectares, principalmente os não beneficiários.
No município de Imbaú todos os agricultores entrevistados,
beneficiários e não-beneficiários, estão no mesmo estrato de área (20 menos
de 50 há) por se tratar de assentamento de reforma agrária.

Em Querência do Norte, todos os agricultores/as com a modalidade


Antecipada tinham menos de 10 hectares de área total dos estabelecimentos,
visto que eles ainda estão acampados em uma área de terra comum
aguardando a demarcação dos lotes. Os usuários da modalidade Antecipada
Especial estão no estrato de 20 a 50 hectares e são agricultores que já estão
assentados em lotes individuais de.terra. A situação dos acampados é a
mais preocupante porque sem demarcação individual dos lotes os conflitos
são permanentes, principalmente pelas precárias condições de vida, pela
chegada e saídas constantes de famílias e também por terem que trabalhar
coletivamente se quiserem produzir naquele local.

123
A condição de proprietário das terras é predominante no acesso a terra
entre os agricultores, pois são provenientes de assentamentos de reforma
agrária nos municípios de Imbau e Querência do Norte, enquanto que em
Cerro Azul, depois daquela, se constata a presença de parceiros e meeiros
que se beneficiaram do programa.
Os agricultores beneficiários do PAA com ou sem PRONAF são todos
participantes de algum movimento ou organização social, ao contrário dos
não-beneficiários que somente parte deles são associados às entidades sociais.
Entre os não-beneficiários verificou-se que os provenientes de assentamentos
ou acampamentos estão sob a organização do MST, ao passo que os demais
estão organizados em torno das associações de agricultores.
Considerando-se de forma geral o nível de escolaridade
(alfabetizados, 4a série, 8a série) da pessoa de referência é predominante
em mais de % dos domicílios dos agricultores. Destaca-se o universo das
pessoas não-beneficiarias do PAA e com PRONAF, seguidos daquelas
que não são beneficiárias. Por outro lado, o destaque negativo entre os
beneficiários sem PRONAF é que se verificaram os mais altos percentuais
de pessoas analfabetas.
No município de Cerro Azul constatou-se que não existpm pessoas de
referência analfabeta, enquanto nos municípios de Imbau (não beneficiário)
e Querência do Norte os beneficiários (Antecipada e Antecipada Especial)
representam em torno de 1/6 delas. O município de Querência destaca-se
pela maior presença relativa de pessoas de referência com nível médio de
escolaridade, principalmente entre os não-beneficiários do PAA. Essas
pessoas que estão engajadas no movimento social mais atuante, caso
do MST, estão mais propensas a frequentarem os cursos regulares de
alfabetização e outros de nível médio.
O nível de escolaridade (alfabetizados, 4a série e 8a série) dos
demais membros do domicílio é inferior àquele verificado com a pessoa
de referência. Nesse conjunto de pessoas existe um contingente maior de
analfabetos, com destaque para aqueles beneficiários do PAA sem PRONAF.
Nesse sentido, vale ressaltar a condição das pessoas do domicilio em
Querência do Norte que utilizaram a modalidade Antecipada, ou seja, os
agricultores acampados.

124
Outro aspecto importante a ser destacado em relação ao nível de
escolaridade dos demais membros da família é de que 2/3 deles não estão
matriculados em nenhum curso de formação escolar. Desse contingente
fazem parte os membros da família que já completaram a alfabetização,
jovens que não completaram o ciclo escolar e os analfabetos que são
principalmente as pessoas adultas.

4.2. Acesso ao PAA


No Paraná, o PAA foi amplamente divulgado, mas devido às
dificuldades das informações chegarem aos agricultores em todas as
instâncias muitos deles somente ficaram sabendo através de entidades
organizadas no município.
A forma como o PAA chegou ao conhecimento dos agricultores nos
municípios ocorreu de forma diferenciada, pois em Cerro Azul foi através
do Sistema de Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária-
CRESOL. Em Imbau, ficaram sabendo do programa durante um movimento
dos agricultores do assentamento, quando entraram na agência do Banco
do Brasil no município de Reserva para reivindicar linhas de crédito para
agricultura familiar e foram informados pela gerência. Em Querência do
Norte foram informados pela Cooperativa de Comercialização e Reforma
Agrária Avante Ltda - COANA que congrega os agricultores assentados e
acampados do município.
A forma de inscrição dos agricultores no PAA também foi diferenciada
entre os municípios, pois em Cerro Azul foi por meio de associação de
utilidade pública, no Imbau por grupo informa diretamente a CONAB e
em Querência pela COANA.
O funcionamento do programa é entendido como sendo mais ou
menos pela maior parte dos agricultores beneficiários entrevistados no
município de Cerro Azul e Querência do Norte, ao passo que em Imbau
houve o predomínio do bom entendimento. Por outro lado, entre os não
beneficiários ficou evidenciado que boa parte deles entendeu pouco da
proposta com as regras básicas de encaminhamento e execução da proposta
de aquisição de alimentos pelo governo federal.

125
De forma geral, os agricultores beneficiários para participarem do
PAA tem dificuldades na obtenção de documentos pessoais, seguido da
qualidade dos produtos e a quantidade da produção a ser entregue para
as entidades beneficiárias. No entanto, quando solicitados a opinarem
porque outros agricultores locais não participaram dessa proposta eles
foram enfáticos em informar que aqueles não acreditaram dessa forma de
aquisição de alimentos.
Considerando-se os dados dos três municípios verificou-se que, mais
da metade dos agricultores beneficiários entrevistados do PAA, não sabiam
da existência do Conselho Municipal responsável pelo acompanhamento do
PAA no município e a quase totalidade não sabe das suas atribuições. Esse
desconhecimento é altamente prejudicial em relação à execução do programa
nos municípios porque através dele é que se podem averiguar as distorções
existentes no local, principalmente, quanto à qualidade e quantidade dos
produtos entregues dos agricultores, se aqueles produtos foram produzidos
pelos agricultores inscritos na proposta original e, ainda, se as entidades
proponentes não estão se utilizando dessa política pública para desvirtuar
o referido programa em prol de seus objetivos corporativos.
A opinião geral dos agricultores beneficiários e não beneficiários do
PAA é de que o programa é considerado bom e muito bom. Essa conátatação
indica a aceitação do programa por aqueles agricultores que ainda não foram
contemplados e que estão sinalizando que ainda há demanda por recursos
para o público de agricultores familiares.

4.3. Mudanças na produção


A inserção dos agricultores junto ao PAA promoveu mudanças
internas nos estabelecimentos agropecuários, pois em torno de 1/3 dos
beneficiários tiveram que aumentar a área de plantio para suprir a produção
contratada e 2/3 deles aumentou o nível tecnológico na condução das
lavouras. Os agricultores com PRONAF foram aqueles que passaram
a produzir novos produtos e que aumentaram o nível tecnológico,
principalmente porque o maior aumento de área ocorreu nos agricultores
sem PRONAF. Esse incremento na área pode ser atribuído à oportunidade
vislumbrada pelo produtor em ter mercado garantido para entrega de
sua produção, ou seja, mesmo produzindo nas condições atuais em que
126
prevalecem o baixo uso de tecnologia teriam a possibilidade de suprir a
falta de recursos do PRONAF.
Em Cerro Azul, em torno de ¼ dos agricultores introduziram o
cultivo de novos produtos, principalmente olerícolas e, em Imbau a lavoura
de trigo. Nesses dois municípios ocorreu aumento de área para atender tal
demanda na menor parte dos produtores, embora o aspecto relevante tenha
sido o aumento do uso de tecnologia nos cultivos.
Em Querência do Norte, a maior inserção de novos produtos foi
realizada pelos agricultores acampados, principalmente pela condição recente
das explorações agrícolas e, menos com aqueles produtores que já estavam
assentados que já cultivavam os produtos que foram contratados com o PAA.
No entanto, vale destacar que houve entre os agricultores beneficiários ou
não aumento do nível tecnológico nas atividades agrícolas.

4.4. - Mudança na base técnica dos estabelecimentos agropecuários


No Paraná, a exemplo do Brasil, o processo de modernização
nas atividades agropecuárias, iniciado nos anos 1960, incidiu de
forma diferenciada quanto ao produto, regiões e tipos de agricultores,
principalmente pela diversidade agroecológica regional e pelas disparidades
na dotação de recursos técnicos e económicos das unidades produtivas.
Esse processo ocorreu, na sua maior parte, por meio da implementação de
políticas públicas seletivas e excludentes que privilegiaram o crescimento
da produção agropecuária e não o desenvolvimento dos agricultores. Neste
sentido, a agricultura familiar deparou-se com um quadro macroeconômico
adverso, sendo discriminada pelas políticas públicas que em vez de promover
o desenvolvimento rural, tais políticas promoveram o esvaziamento do
campo e inibiram o desenvolvimento local4. De forma geral, houve mudança
nas duas extremidades das cadeias agroalimentares, isto é, na expansão da
área de produção, principalmente pelas técnicas desenvolvidas e também
nos hábitos alimentares da população. No plano sócio-econômico, o referido
processo constituiu-se na crescente diferenciação5 entre os agricultores, na
concentração do acesso a terra6, na terceirização7 da execução dos trabalhos
4 Salles Filho, S. (2002).
5 Graziano da Silva, J. (1982); Wanderley, M. N. B.(1988); Kageyama , A (1989); Doretto, M.(1992).
6 Michellon, E. (1985); Doretto, M. (1993).
7 Laurenti, A. C. (1996).

127
agrários e na diminuição da população rural economicamente ativa8 ocupada
nas atividades agropecuárias.
A mudança na base técnica da produção agropecuária consolidou-
se pelo crescimento do uso de inovações químicas, biológicas e mecânicas
na maior parte das atividades agropecuárias. O uso das inovações não foi
realizado linearmente nos estabelecimentos agropecuários em virtude de
suas especificidades de dotação de recursos técnicos e econômicos das
unidades produtivas9.

4.4.1. Fonte da renda familiar.


A consequência direta desse processo de transformações nos
estabelecimentos agropecuários foi a inserção de uma nova divisão de
trabalho10 liberando alguns membros da família para se ocuparem com
outras atividades fora da sua unidade de produção e com seu tempo de
trabalho reduzido possibilitou a combinação da atividade agrícola com outras
atividades externas ao seu estabelecimento, agrícola ou não-agrícola.
A fonte do rendimento familiar dos estabelecimentos agropecuários
está indicada no Gráfico 2, demonstrando que a participação das pessoas em
trabalho fora do estabelecimento agropecuário teve a menor participação
nos não beneficiários do município de Imbau até a maior nos beneficiários
do Compra Antecipada de Querência do Norte. Essa última categoria são
os agricultores que ainda estão acampados e que justamente estão sendo
beneficiados totalmente com as transferências governamentais.

8 DelGrossi, M. E. (1999).
9 Michellon.E. (1999).
10 Graziano da Silva, J. (2000).

128
Nos municípios de Cerro Azul e Imbau, em torno de 1/3 dos
domicílios beneficiários do PAA tem trabalhos de fora do estabelecimento e
isto pode ser atribuída à característica da produção agropecuária local onde
os agricultores são desprovidos de recursos técnicos e económicos. Nesse
sentido, aproveitam as ofertas de trabalho existentes em outras atividades
fora do estabelecimento, ou seja, em Cerro Azul nos trabalhos temporários
na colheita de citrus e corte de madeira e, em Imbau nas operações de capina,
tratos culturais e colheita de lavouras temporárias. Em Querência do Norte,
a participação em trabalhos fora é superior aos demais municípios quer
sejam de beneficiários ou não, pois são agricultores com baixa dotação de
recursos, e na agricultura local há oportunidades de ocupações temporárias,
principalmente na colheita de mandioca.
As transferências de renda oriundas do governo às pessoas, por
meio dos programas, estão tendo alta aderência junto aos agricultores não
beneficiários, cuja participação deles foi 60,0% em Cerro Azul, 68,0%
em Querência do Norte e em todos os entrevistados no município de
Imbau. Enfim, é relevante destacar que as transferências governamentais
de renda estão cumprindo a determinação de beneficiar as pessoas
desprovidas de recursos.

129
4.4.2. Composição da renda familiar
Entre os agricultores entrevistados, constatou-se que o montante da
renda dos trabalhos fora do estabelecimento agropecuário varia de 4% nos
não-beneficiários de Imbau a 59% nos não beneficiários de Cerro Azul,
Gráfico 3.

..J

No município de Cerro Azul, os agricultores com a modalidade Direta


apresentaram a maior participação relativa no montante da renda familiar
vinda do estabelecimento agropecuário, seguido da renda obtida com
trabalhos fora da propriedade. Por outro lado, os não-beneficiários dependem
em maior proporção dos domicílios de renda de fora do estabelecimento.
Essa constatação demonstra a efetiva inserção do programa entre os
agricultores na medida em què aqueles que tiveram contratada a produção
foram os que menos recorreram a trabalhos externos ao estabelecimento
agropecuário sob sua direção.
No município de Imbau, predomina a renda familiar proveniente
dos estabelecimentos, tanto para aqueles agricultores com a modalidade
Antecipada quanto para os não-usuários do programa. Enquanto os
beneficiários, ainda, dependem de metade de sua renda dos trabalhos
realizados fora da unidade de produção os não-beneficiários estão vinculados
às transferências do governo.
Os agricultores acampados com a modalidade Antecipada dependem,
principalmente dos trabalhos realizados fora do estabelecimento e das

130
transferências do governo. Essa dependência está associada diretamente
às precárias condições técnicas e económicas dos agricultores, de moradia
e local incerto da realização da produção agropecuária.
No geral, verifica-se que os agricultores com maior participação nos
recursos oriundos das transferências governamentais estão localizados nos
municípios de Querência do Norte e Imbau, decorrentes da organização e
acompanhamento efetivo do MST junto às entidades públicas. Com isso,
fica evidenciado que o alcance dos programas de benefícios de inclusão
social, que é destinado às pessoas carentes, está ligado diretamente aos
arranjos institucionais locais.

4.4.3. Renda média mensal da agtapecuária com e sem PRONAF


Nos três municípios onde fora realizada a pesquisa os agricultores
beneficiários declararam que houve acréscimo no rendimento da produção
agropecuária com adoção do PAA, principalmente para aqueles sem recursos
do PRONAF, Gráfico 4.

Essa constatação de que ocorreu maior acréscimo relativo da renda


média mensal nos agricultores sem PRONAF deve ser analisada sob os
seguintes aspectos: primeiro que o universo de agricultores entrevistados
são aqueles com maior restrição de recursos, e segundo são agricultores
com baixo nível de renda monetária das atividades agropecuárias.
Nesse sentido, a que se tomar o devido cuidado na extrapolação de tais
131
incrementos no nível de renda, pois servem, particularmente, a esse
conjunto de agricultores.
Apesar do maior acréscimo no nível de rendimento da agropecuária
ocorrido nos agricultores beneficiários do PAA sem PRONAF eles se
concentram, basicamente no estrato até 1 salário mínimo (Gráfico 5). Por
outro lado, nos beneficiários com PRONAF verificou-se uma distribuição
equitativa entre os estratos até 1 e de 1 a 3 salários mínimos. Essa constatação
pode ser atribuída aos efeitos decorrentes do acesso aos recursos provenientes
desse programa de fortalecimento da agricultura familiar.
A constatação negativa é de que os agricultores que não utilizaram
o PAA estão concentrados, principalmente, no estrato até 1 salário mínimo.
Nesse sentido, há necessidade de rever a forma de destinação dos recursos
que possam contemplar esse estrato de agricultores.

4.4.4. Renda média mensal da agropecuária com e sem PAA


Nos municípios e modalidades é que se verificam as maiores
disparidades da evolução positiva da renda em favor dos agricultores
beneficiários do PAA (Gráfico 6).
No município de Imbau não houve dondições de mensurar a variação
da renda dos agricultores beneficiários devido à perda total da produção
por fenómenos climáticos. No entanto, quando se compara com a renda
dos agricultores não beneficiários do PAA dos outros municípios, verifica-
132
se que tais produtores têm renda maior do que aqueles de Cerro
Azul e de Querência do Norte. Verificou-se, ainda, a maior renda dos
não-beneficiários em Imbau em relação aos de Querência do Norte,
condição de assentados e acampados, que pode ser atribuída ao
fato de que tal assentamento de reforma agrária já possui mais de
10 anos de regularização fundiária.
Em Cerro Azul, verificou-se que houve significativo impacto do
PAA entre os agricultores que utilizaram o programa. Inicialmente,
quando se compara a renda média dos agricultores beneficiários
sem PAA com a dos nãobeneficiários, verifica-se que a renda dessa
última categoria é 25,0% maior do que a renda dos beneficiários. No
entanto, quando se contabiliza o acréscimo de renda que os
agricultores obtiveram com o PAA, a situação fica totalmente
favorável aos beneficiários, ou seja, possui renda média 50,0%
maior do que aqueles que não fizeram uso do programa. Os
beneficiários do programa tiveram um acréscimo positivo na renda
média de 87,8% e, apesar de que a maior parte ainda concentra-se
no estrato de renda até 1 salário mínimo.

No município de Querência do Norte, a renda média dos


agricultores, sem considerar o PAA, tinha um montante muito
próximo, ou seja, era 6,1 % favorável para os beneficiários. Arjós o
uso dos recursos do programa verificou-se que a renda média dos
beneficiários foi acrescida em 37,6% em relação aos não-usuários. A
análise efetuada da renda média com o PAA indica que houve
evolução diferenciada no nível de renda dos agricultores segundo as
modalidades do programa. Os agricultores que usaram a
modalidade
133
Antecipada Especial possuem maior montante absoluto de renda média e
obtiveram um acréscimo de 23,8% na referida renda, enquanto que a maior
variação relativa (76,1%) ocorreu com os agricultores acampados, com a
modalidade Antecipada. Com essa variação positiva da renda é importante
destacar a dispersão dos produtores segundo as modalidades do programa
em relação aos estratos de classes de renda agropecuária. Os agricultores
acampados e com menor dotação de recursos técnicos e económicos são
aqueles que utilizaram a modalidade Antecipada, que estão na classe de
até 1 salário mínimo, enquanto que os da modalidade Antecipada Especial
possuem participação, inclusive, de agricultores na classe de renda de até 3
salários mínimos. Essas constatações constituem-se num impacto altamente
positivo para o programa porque é com os agricultores acampados, nas
condições de produção mais vulneráveis, que tiveram o maior acréscimo
relativo na renda média.

4.4.5. Renda média mensal familiar


No Gráfico 7, estão colocados os dados de renda média mensal
familiar de acordo com a modalidade de uso do PAA. De forma geral,
somente em Cerro Azul é que se constatou que o agricultor não beneficiário
do PAA tinha renda média mensal familiar superior aos beneficiários
do PAA. Esse fato pode ser explicado pelo tipo de agricultor que fora
entrevistado, pois parcela importante deles, além das atividades agrícolas,
são motoristas de pequenos caminhões que entregam a sua produção e de
outros agricultores na CEASA em Curitiba.

134
Nos demais municípios predominaram a maior renda média
familiar mensal daqueles que utilizaram o PAA. No município de Imbau
se verificou o mais elevado montante de renda média da família, mesmo
com a frustração da safra, em virtude das condições de dotação de recursos
que foram acumulando ao longo dos anos após a regularização da área de
reforma agrária.

5. Conclusões e Recomendações
O Programa tem sido excelente para fortalecer a agricultura familiar e
atender a demanda de escolas, creches, hospitais e outros que necessitam de
alimentos saudáveis e em quantidade para o pleno desenvolvimento de suas
funções académicas e físicas. Vale ressaltar que o tempo de deslocamento
(ida e volta) das crianças da área rural até a escola é grande, aliada à baixa
condição de vida das famílias, logo, é justo servir merenda de qualidade,
principalmente porque boa parte delas tem no período de permanência na
escola o maior suprimento alimentar diário.
O programa abriu mercado para aqueles agricultores com baixa
produção e de locais distantes da sede municipal. Um aspecto importante
que manifestaram foi que ao elaborar a proposta já tinham a garantia do
preço e também da certeza de que ao entregarem a produção receberiam
integralmente o valor total. Por outro lado, só lhe restariam a incerteza da
realização da produção que depende das condições climáticas.
O nível de incremento na renda das famílias entrevistadas foi notório,
mas não deve ser tomada para extrapolações, pois a pesquisa foi realizada
junto a um público com baixa dotação de recursos técnicos e económicos.
Desta forma, se a pesquisa fosse feita com outros agricultores, que também
são público potencial do programa, mas com nível de renda mais elevado,
em tese, esses níveis de incremento de renda não ocorreriam na mesma
proporção, principalmente porque o teto máximo para cada agricultor está
limitado a R$ 2.500,00.
O ponto chave desta política pública especial foi a percepção de seu
alcance local, conforme os depoimentos de vários prefeitos sobre a melhoria
da alimentação, tanto em qualidade como em quantidade, levando-os a
declarar que pretendem transformá-la em política pública para a aquisição

135
de alimentos da agricultura familiar local com recursos do município, caso
necessário. Ou seja, a prefeitura é peça fundamental para o êxito deste
arranjo institucional, já que ela pode orquestrar os interesses locais em prol
do desenvolvimento rural sustentável.
Nesse sentido, o PAA atingiu tanto o público que já se utiliza ou
não do PRONAF, pois os participantes diretos foram além dos agricultores
tradicionalmente atendidos por esta modalidade de crédito rural, e chegou
também às outras esferas de vida do município, incorporando servidores
públicos, professores, alunos, cooperativas, entidades beneficentes, escolas
alcançando os políticos em geral.
As recomendações para a melhoria do desempenho do programa são:
i - que a CONAB possa estar mais próxima do município para
coibir a politicagem entre as entidades com potencial de serem
proponentes junto ao PAA;
ii - eliminação do acordo informal de atuação em municípios
distintos, entre a CONAB e a SETP;
iii - fortalecer o Conselho Gestor nos municípios para que a sociedade
organizada possa de fato exercer a sua função de acompanhar e
corrigir os rumos das ações públicas no âmbito do município;
iv - no sentido de poder rastrear as ações do programa no município,
pelo Conselho Gestor ou pela Coordenação do programa, seria
importante que cada agricultor emitisse Nota do Produtor para
cada produto entregue à entidade proponente;
v - eliminação do descompasso entre o período da liberação dos
recursos e o da produção agrícola.
Em suma, o Programa de Aquisição de Alimentos tem contribuído
com a organização da produção local e melhoria nutricional, especialmente
dos mais carentes, e o melhor exemplo que vimos nesta pesquisa foi a
assinatura de contrato para instalação de laticínio pela COANA, possibilitado
pelo PAA leite em 2006, em Querência do Norte.
Esse financiamento de R$ 6 milhões foi obtido por meio da linha
de crédito de Desenvolvimento Regional Sustentável - DRS, do Banco
do Brasil, para a agricultura familiar, com juros de 4% ao ano, e dois anos
de carência e oito anos para pagar. Pelas informações, esse foi o primeiro
136
convênio do gênero assinado no Sul do Brasil, e conta com as entidades
parceiras da COANA, a prefeitura, a Emater, os sindicatos e o próprio Banco
do Brasil, e que efetivamente poderá viabilizar essa bacia leiteira.
Ademais, o depoimento de prefeitos, dirigentes de associações,
profissionais, agricultores (as) familiares, pais, mães, estudantes, clérigos,
e tantos outros que contatamos neste período da pesquisa, bem como os
resultados que presenciamos, são estímulos para melhorar e ampliar as
ações deste Programa.
Essas ações ajudam a construir políticas públicas que vão de encontro
às reais necessidades da população, impulsionando o desenvolvimento local
que deve ser o alvo de todo gestor público.

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