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RESUMO
O objetivo do trabalho foi avaliar os impactos econômicos, sociais
e culturais do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA, principal braço
do Fome Zero, no Estado do Paraná. E, para realizar a pesquisa foram
escolhidos os municípios de Cerro Azul, Imbau e Querência do Norte.
O levantamento de dados de campo ocorreu nos meses de novembro e
dezembro de 2005, por meio de formulário estruturado junto aos agricultores
beneficiários e não beneficiários do programa, com entidades proponentes,
com entidades que receberam as doações e com conselho gestor municipal.
Os resultados indicaram que a maior parte dos agricultores participa de
movimentos sociais; 1/3 dos beneficiários tiveram que expandir a área
para atender a entrega da produção contratada; houve expansão no uso
de tecnologias no processo de produção; introdução de novos cultivos
e produtos para atender a demanda; mais da metade dos domicílios
recebem transferência de renda do governo; mais de 1/3 dos domicílios
entrevistados tem rendimento de fora do estabelecimento agropecuário;
o nível de incremento na renda média familiar dos agricultores foi de
25,2% naqueles beneficiários do PAA com uso do PRONAF e, de 43,0%
nos beneficiários sem PRONAF. Ressalta-se que esse incremento de
renda ocorreu entre agricultores familiares de baixa renda, pois o teto
é de R$2.500,00 de per si, e que em extratos de renda maior o impacto
seria menor. Em suma, essas ações ajudam a construir políticas públicas
que vão de encontro às reais necessidades da população, impulsionando
o desenvolvimento local que deve ser o alvo de todo gestor público.
1 Economista MSc - Pesquisador da Área Técnica de Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná
- IAPAR - Fone: (43) 3376 2349 - Londrina - PR. Email: doretto@iapar.br
2 Professor da Universidade Estadual de Maringá (Depto. de Agronomia, Programa de Mestrado em Economia
e Coordenador do Escritório de Negócios da UEM). Fone: (44) 3261-4050 e (44) 9952-4658. Email:
emichellon@uem.br
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Palavras-chave: PA A Paraná, Fome Zero, Agricultura Familiar, Pronaf.
1. Introdução
O estudo foi realizado pela Fundação Universidade de Brasília
- FUBRA, cuja proposta foi vencedora no processo de licitação promovido
pela FAO em articulação com o Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome.
O objetivo do trabalho foi avaliar os impactos económicos e sociais
do Programa de Aquisição de Alimentos - PAAno Estado do Paraná, e para
isso elegeu-se os municípios de Cerro Azul, Imbau e Querência do Norte
para a pesquisa de campo.
O texto está organizado em seis capítulos: no primeiro, o objetivo
da pesquisa e a organização do texto que segue; no segundo, a realização
da pesquisa de campo; no terceiro, descreveu-se o ambiente institucional
do PAA, contemplando o público potencial de agricultores familiares no
estado e municípios, a operacionalização do PAA pelas entidades estaduais
e, nos municípios as entidades proponentes, as beneficiárias, o conselho
gestor, o mercado gerado, as limitações e as potencialidades; no quarto, a
caracterização dos agricultores beneficiários e não beneficiárias, a forma
de acesso, as mudanças na base técnica, as fontes de renda da família, a
composição da renda com e sem PRONAF, com e sem PAA e a renda média
mensal familiar; no quinto, as conclusões e recomendações e, finalmente,
as referencias bibliográficas.
2. Pesquisa de campo
A pesquisa de campo foi realizada nos meses de novembro e
dezembro de 2005. A equipe de coordenação central do projeto definiu os
municípios, as modalidades de aquisição de alimentos utilizadas pelo PAA,
os instrumentos de coleta de dados junto aos agricultores e a tabulação dos
dados. Os pesquisadores foram a campo para os contatos com informantes
chaves em nível estadual e municípios onde foram realizadas as pesquisas
junto aos agricultores, entidades proponentes, entidades beneficiárias e
conselho gestor. As entidades proponentes cederam as informações dos
locais e da listagem de agricultores que foram beneficiados pelo PAA.
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Nos municípios de Cerro Azul e Querência do Norte foi necessário efetuar
sorteio dos nomes dos agricultores a serem entrevistados, pois o número
de beneficiários do PAA era superior ao que tinha sido determinado pela
pesquisa de campo. Após a pesquisa de campo nos respectivos municípios
os dados foram digitados e remetidos à coordenação central do projeto que
elaborou as tabelas de saída e, depois foram devolvidas aos pesquisadores
para elaboração do relatório final de análise.
No município de Imbau, a modalidade do PAA foi a Compra Antecipada
da Agricultura Familiar - CAAF, com 16 agricultores que tiveram acesso
aos recursos através da Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB,
via Banco do Brasil, além de 10 agricultores não beneficiários e entidades
beneficiárias e gestores do programa no município. Nesse município foram
realizados entrevistas de campo, com um número menor de agricultores,
em virtude de que parte deles não se encontrava nas unidades de produção
no dia da visita ao local de moradia.
Em Cerro Azul, foram sorteados 30 agricultores beneficiários
da listagem fornecida pela Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e
Promoção Social-SETP, e que se utilizaram a modalidade Compra Direta
Local da Agricultura Familiar-CDLAF, porque o número de beneficiários
ultrapassou o da amostra.
Em Querência do Norte, realizou-se levantamento de dados em
duas modalidades do PAA: a Compra Antecipada da Agricultura Familiar
- CAAF e a Compra Antecipada Especial da Agricultura Familiar- CAE AF.
Foram sorteados 60 agricultores beneficiários dos Programas e mais 20 não
beneficiários para controle. Todavia, dado a rotatividade dos agricultores
familiares nos assentamentos, e especialmente, no acampamento, foram
entrevistados 42 beneficiários e 22 não beneficiários.
Para efeito de facilitar o entendimento das siglas utilizar-se-à as
seguintes denominações: Direta para CDLAF; Antecipada para CAAF e;
Antecipada Especial para CAEAF.
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3. Ambiente Institucional do Programa de Aquisição de Alimentos - PAA
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No município de Imbau não foi possível identificar se existia ou não
o conselho gestor municipal do PAA, principalmente pela precariedade dos
recursos técnicos disponíveis na estrutura municipal para efetuar os contatos
com os agentes estaduais responsáveis pelo referido programa.
Em Cerro Azul, o Conselho Gestor do PAA é muito atuante e na
percepção do entrevistado o PAA possui um arranjo institucional positivo,
dado que a compra dos alimentos e a fiscalização da aplicação dos recursos
é realizada pelas pessoas no local onde o programa esta sendo conduzido.
Essa forma de execução exige que de fato para o sucesso da aquisição de
alimentos dos agricultores possam acontecer as aproximações das entidades
e a realização das parcerias, independentes da opção política partidária das
pessoas nas entidades. Os benefícios sociais verificados junto ao público
do PAA foram: o trabalho de base já conduzido há algum tempo com a
organização dos agricultores em associações foi altamente benéfico para
a condução do programa porque os agricultores estão convictos de que
sozinhos não poderão alcançar resultados satisfatórios com suas lavouras,
e; permitiu que os agricultores pudessem realizar a produção programada
dos produtos e com isso introduzir novos produtos na pauta das lavouras
conduzidas no estabelecimento agropecuário. No município ocorreu
significativo avanço nas relações entre as entidades com destaque para
Associação dos Amigos e Produtores de Cerro Azul, que mesmo com as
dificuldades político partidário diante do poder local foi proponente e não
fez distinção entre seus beneficiários; o avanço do associativismo entre
os agricultores, e; expansão dos produtos da agroindústria, inclusive com
associações de mulheres agricultoras.
Os aspectos negativos do programa se referem a necessidade de
ter que elaborar a proposta com urgência devido à falta de planejamento
na liberação de recursos na esfera federal; descompasso entre a liberação
dos recursos para aquisição dos alimentos e a época da produção; difícil
relacionamento entre a entidade oficial de assistência técnica estadual e
Secretaria Municipal de Agricultura local em relação à assistência técnica
e na organização dos agricultores; personalização do programa entre
as pessoas do local; a entidade proponente possui restrições na infra-
estrutura para executar a proposta feita ao PAA, principalmente pessoal,
microcomputador e carro.
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O potencial do programa no município: há condições edafoclimáticas
favoráveis para a produção da quase totalidade dos produtos agropecuários
que são produzidos no Paraná; entidade proponente apresentou
transparência na condução do programa junto aos agricultores; capacidade
de aumento na aquisição dos produtos da agricultura familiar; existem
muitas escolas que poderão ser beneficiadas com a doação de alimento
para a merenda escolar; poderão ser ofertadas cestas de alimentos às
pessoas carentes que residem na área urbana do município, e; a meta é
atingir em dois anos em torno de 50,0% dos agricultores familiares que
serão beneficiados com o programa.
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Entre os agricultores ficou evidenciado que já estão aptos à produção
de outros produtos que não era comum no município para atender a demanda
das entidades locais quanto de outros municípios.
3.3.5. Limitações
Em Querência do Norte, a limitação do programa está fundada
na seleção dos agricultores que terão acesso aos recursos, pois todos são
acampados e assentados de reforma agrária e possuem similaridade de
restrição de recursos técnicos e económicos e do processo de organização a que
estão vinculados. A entidade proponente teve que excluir algumas entidades de
receberem os alimentos em virtude da limitação dos recursos para o município,
entre elas, hospital, creche e escolas da área urbana e rural.
No município de Imbau, as limitações verificadas em relação ao
PAA: os recursos foram liberados com atraso pelo Banco do Brasil; o
recurso liberado de R$ 2.500,00 por família é considerado baixo pelos
agricultores; falta de capacidade instalada de técnicos no município; os
agricultores consideram inexistente a divulgação do PAA no município; e,
a assistência técnica pública é deficitária junto às atividades desenvolvidas
pelos agricultores.
Em Cerro Azul, as limitações apresentadas pelos agricultores e
entidades beneficiárias foram: dificuldade do relacionamento político
institucional entre o poder público local; o atraso na liberação de recursos;
o sistema de comunicação utilizado entre a entidade proponente e os
agricultores, dispersos pelo município, é precário, visto que na área rural
do município existem poucos telefones fixos, além da distância entre
eles; não há recursos para a entidade proponente administrar a execução
do projeto; o técnico da assistência técnica pública local não conseguem
atender o universo de agricultores familiares; valor do frete é considerado
abusivo; falta de pessoal técnico capacitado para elaboração de projeto;
falta de pessoal técnico para elaborar projeto municipal de zoneamento
da produção segundo as comunidades e de diversificação da produção;
dificuldade da realização da troca de produtos torna-se impedimento para
os produtores agrícolas, principalmente quando ocorre o atraso na liberação
dos recursos e/ou perda de produção por fenômenos climáticos e ataque de
pragas e doenças; e, a dificuldade de integração entre as entidades públicas
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e as associações de agricultores para o uso comum da infra-estrutura,
parcialmente, montada de despolpadora de frutas.
3.3.6. Potencialidades
No município de Imbau há facilidade para a expansão do programa
em virtude de que os agricultores do assentamento estão sob a orientação do
MST. Os agricultores são enfáticos em afirmar que a garantia de mercado e
de preços para os produtos produzidos é de fundamental importância para
a manutenção da renda no estabelecimento agropecuário.
O programa possibilita a expansão da produção dos produtos já existentes
no estabelecimento agropecuário e também de outros que podem ser cultivados
no local, mas que por motivos de falta de demanda não são produzidos. Há entre
os agricultores a manifestação positiva para iniciar a produção, inclusive, 'de
produtos que normalmente não produzem para comercialização, caso específico
dos hortigranjeiros. Com isso, o programa promoveu um estímulo entre os
agricultores propensos a iniciar a produção.
No município de Cerro Azul, as potencialidades são: agricultores
dispostos a atender a demanda dos atuais produtos e de outros que poderão
ser introduzidos nas suas unidades de produção; expansão de área e
diversificação de produtos olerícolas; esse procedimento de terem que fazer a
proposta em conjunto fortaleceu o associativismo; garantia de mercado e de
recebimento pelos produtos produzidos; possibilidade de realização de
programação de produção e entrega dos produtos; expansão dos produtos da
agroindústria; querem a implantação do selo de identificação dos produtos e
produtores; conscientes da necessidade de entregarem produtos de boa
qualidade; a condição edafoclimática municipal favorece a produção da
maior parte dos produtos olerícolas que ainda poderão ser inseridos na
diversificação da merenda escolar dos alunos; faltam ser atendido 90,0%
dos agricultores familiares; organização dos agricultores para aquisição de
caminhão para transportar os produtos para comercialização e consumo; não
foram atendidas 38 escolas rurais e 4;entidades sociais; a entidade Ceasa
Amiga, localizada em Curitiba, possui 170 entidades cadastradas, mas atende
somente 120 delas (hospitais, creches e asilos) com doações de alimento
uma vez por semana. Atualmente os alimentos do PAA representam 60,0% ,
do total doado pela entidade.
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Em Querência do Norte, a prefeitura está disposta a colocar
funcionários para contribuir institucionalmente com o PAA. Constatou-
se, ainda, que há facilidade na execução do programa pela economia de
recursos da prefeitura com merenda escolar, fortalecimento da agricultura
familiar, eliminação do atravessador e distribuição de atividades para outros
agricultores do município. Em outras palavras, para o arranjo institucional
local é fundamental o apoio da prefeitura, especialmente nestas políticas
na linha da democracia solidária3.
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esta sendo acessado por esse contingente de agricultores com áreas menores
de 10 hectares. O caso dos agricultores não-beneficiários é semelhante ao dos
beneficiários sem PRONAF, ou seja, em maior proporção estão localizados
no estrato menor de 10 hectares.
No município de Cerro Azul, os agricultores beneficiários e não-
beneficiários estão distribuídos em maior proporção no estrato de área de
menos de 10 hectares, principalmente os não beneficiários.
No município de Imbaú todos os agricultores entrevistados,
beneficiários e não-beneficiários, estão no mesmo estrato de área (20 menos
de 50 há) por se tratar de assentamento de reforma agrária.
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A condição de proprietário das terras é predominante no acesso a terra
entre os agricultores, pois são provenientes de assentamentos de reforma
agrária nos municípios de Imbau e Querência do Norte, enquanto que em
Cerro Azul, depois daquela, se constata a presença de parceiros e meeiros
que se beneficiaram do programa.
Os agricultores beneficiários do PAA com ou sem PRONAF são todos
participantes de algum movimento ou organização social, ao contrário dos
não-beneficiários que somente parte deles são associados às entidades sociais.
Entre os não-beneficiários verificou-se que os provenientes de assentamentos
ou acampamentos estão sob a organização do MST, ao passo que os demais
estão organizados em torno das associações de agricultores.
Considerando-se de forma geral o nível de escolaridade
(alfabetizados, 4a série, 8a série) da pessoa de referência é predominante
em mais de % dos domicílios dos agricultores. Destaca-se o universo das
pessoas não-beneficiarias do PAA e com PRONAF, seguidos daquelas
que não são beneficiárias. Por outro lado, o destaque negativo entre os
beneficiários sem PRONAF é que se verificaram os mais altos percentuais
de pessoas analfabetas.
No município de Cerro Azul constatou-se que não existpm pessoas de
referência analfabeta, enquanto nos municípios de Imbau (não beneficiário)
e Querência do Norte os beneficiários (Antecipada e Antecipada Especial)
representam em torno de 1/6 delas. O município de Querência destaca-se
pela maior presença relativa de pessoas de referência com nível médio de
escolaridade, principalmente entre os não-beneficiários do PAA. Essas
pessoas que estão engajadas no movimento social mais atuante, caso
do MST, estão mais propensas a frequentarem os cursos regulares de
alfabetização e outros de nível médio.
O nível de escolaridade (alfabetizados, 4a série e 8a série) dos
demais membros do domicílio é inferior àquele verificado com a pessoa
de referência. Nesse conjunto de pessoas existe um contingente maior de
analfabetos, com destaque para aqueles beneficiários do PAA sem PRONAF.
Nesse sentido, vale ressaltar a condição das pessoas do domicilio em
Querência do Norte que utilizaram a modalidade Antecipada, ou seja, os
agricultores acampados.
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Outro aspecto importante a ser destacado em relação ao nível de
escolaridade dos demais membros da família é de que 2/3 deles não estão
matriculados em nenhum curso de formação escolar. Desse contingente
fazem parte os membros da família que já completaram a alfabetização,
jovens que não completaram o ciclo escolar e os analfabetos que são
principalmente as pessoas adultas.
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De forma geral, os agricultores beneficiários para participarem do
PAA tem dificuldades na obtenção de documentos pessoais, seguido da
qualidade dos produtos e a quantidade da produção a ser entregue para
as entidades beneficiárias. No entanto, quando solicitados a opinarem
porque outros agricultores locais não participaram dessa proposta eles
foram enfáticos em informar que aqueles não acreditaram dessa forma de
aquisição de alimentos.
Considerando-se os dados dos três municípios verificou-se que, mais
da metade dos agricultores beneficiários entrevistados do PAA, não sabiam
da existência do Conselho Municipal responsável pelo acompanhamento do
PAA no município e a quase totalidade não sabe das suas atribuições. Esse
desconhecimento é altamente prejudicial em relação à execução do programa
nos municípios porque através dele é que se podem averiguar as distorções
existentes no local, principalmente, quanto à qualidade e quantidade dos
produtos entregues dos agricultores, se aqueles produtos foram produzidos
pelos agricultores inscritos na proposta original e, ainda, se as entidades
proponentes não estão se utilizando dessa política pública para desvirtuar
o referido programa em prol de seus objetivos corporativos.
A opinião geral dos agricultores beneficiários e não beneficiários do
PAA é de que o programa é considerado bom e muito bom. Essa conátatação
indica a aceitação do programa por aqueles agricultores que ainda não foram
contemplados e que estão sinalizando que ainda há demanda por recursos
para o público de agricultores familiares.
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agrários e na diminuição da população rural economicamente ativa8 ocupada
nas atividades agropecuárias.
A mudança na base técnica da produção agropecuária consolidou-
se pelo crescimento do uso de inovações químicas, biológicas e mecânicas
na maior parte das atividades agropecuárias. O uso das inovações não foi
realizado linearmente nos estabelecimentos agropecuários em virtude de
suas especificidades de dotação de recursos técnicos e econômicos das
unidades produtivas9.
8 DelGrossi, M. E. (1999).
9 Michellon.E. (1999).
10 Graziano da Silva, J. (2000).
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Nos municípios de Cerro Azul e Imbau, em torno de 1/3 dos
domicílios beneficiários do PAA tem trabalhos de fora do estabelecimento e
isto pode ser atribuída à característica da produção agropecuária local onde
os agricultores são desprovidos de recursos técnicos e económicos. Nesse
sentido, aproveitam as ofertas de trabalho existentes em outras atividades
fora do estabelecimento, ou seja, em Cerro Azul nos trabalhos temporários
na colheita de citrus e corte de madeira e, em Imbau nas operações de capina,
tratos culturais e colheita de lavouras temporárias. Em Querência do Norte,
a participação em trabalhos fora é superior aos demais municípios quer
sejam de beneficiários ou não, pois são agricultores com baixa dotação de
recursos, e na agricultura local há oportunidades de ocupações temporárias,
principalmente na colheita de mandioca.
As transferências de renda oriundas do governo às pessoas, por
meio dos programas, estão tendo alta aderência junto aos agricultores não
beneficiários, cuja participação deles foi 60,0% em Cerro Azul, 68,0%
em Querência do Norte e em todos os entrevistados no município de
Imbau. Enfim, é relevante destacar que as transferências governamentais
de renda estão cumprindo a determinação de beneficiar as pessoas
desprovidas de recursos.
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4.4.2. Composição da renda familiar
Entre os agricultores entrevistados, constatou-se que o montante da
renda dos trabalhos fora do estabelecimento agropecuário varia de 4% nos
não-beneficiários de Imbau a 59% nos não beneficiários de Cerro Azul,
Gráfico 3.
..J
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transferências do governo. Essa dependência está associada diretamente
às precárias condições técnicas e económicas dos agricultores, de moradia
e local incerto da realização da produção agropecuária.
No geral, verifica-se que os agricultores com maior participação nos
recursos oriundos das transferências governamentais estão localizados nos
municípios de Querência do Norte e Imbau, decorrentes da organização e
acompanhamento efetivo do MST junto às entidades públicas. Com isso,
fica evidenciado que o alcance dos programas de benefícios de inclusão
social, que é destinado às pessoas carentes, está ligado diretamente aos
arranjos institucionais locais.
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Nos demais municípios predominaram a maior renda média
familiar mensal daqueles que utilizaram o PAA. No município de Imbau
se verificou o mais elevado montante de renda média da família, mesmo
com a frustração da safra, em virtude das condições de dotação de recursos
que foram acumulando ao longo dos anos após a regularização da área de
reforma agrária.
5. Conclusões e Recomendações
O Programa tem sido excelente para fortalecer a agricultura familiar e
atender a demanda de escolas, creches, hospitais e outros que necessitam de
alimentos saudáveis e em quantidade para o pleno desenvolvimento de suas
funções académicas e físicas. Vale ressaltar que o tempo de deslocamento
(ida e volta) das crianças da área rural até a escola é grande, aliada à baixa
condição de vida das famílias, logo, é justo servir merenda de qualidade,
principalmente porque boa parte delas tem no período de permanência na
escola o maior suprimento alimentar diário.
O programa abriu mercado para aqueles agricultores com baixa
produção e de locais distantes da sede municipal. Um aspecto importante
que manifestaram foi que ao elaborar a proposta já tinham a garantia do
preço e também da certeza de que ao entregarem a produção receberiam
integralmente o valor total. Por outro lado, só lhe restariam a incerteza da
realização da produção que depende das condições climáticas.
O nível de incremento na renda das famílias entrevistadas foi notório,
mas não deve ser tomada para extrapolações, pois a pesquisa foi realizada
junto a um público com baixa dotação de recursos técnicos e económicos.
Desta forma, se a pesquisa fosse feita com outros agricultores, que também
são público potencial do programa, mas com nível de renda mais elevado,
em tese, esses níveis de incremento de renda não ocorreriam na mesma
proporção, principalmente porque o teto máximo para cada agricultor está
limitado a R$ 2.500,00.
O ponto chave desta política pública especial foi a percepção de seu
alcance local, conforme os depoimentos de vários prefeitos sobre a melhoria
da alimentação, tanto em qualidade como em quantidade, levando-os a
declarar que pretendem transformá-la em política pública para a aquisição
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de alimentos da agricultura familiar local com recursos do município, caso
necessário. Ou seja, a prefeitura é peça fundamental para o êxito deste
arranjo institucional, já que ela pode orquestrar os interesses locais em prol
do desenvolvimento rural sustentável.
Nesse sentido, o PAA atingiu tanto o público que já se utiliza ou
não do PRONAF, pois os participantes diretos foram além dos agricultores
tradicionalmente atendidos por esta modalidade de crédito rural, e chegou
também às outras esferas de vida do município, incorporando servidores
públicos, professores, alunos, cooperativas, entidades beneficentes, escolas
alcançando os políticos em geral.
As recomendações para a melhoria do desempenho do programa são:
i - que a CONAB possa estar mais próxima do município para
coibir a politicagem entre as entidades com potencial de serem
proponentes junto ao PAA;
ii - eliminação do acordo informal de atuação em municípios
distintos, entre a CONAB e a SETP;
iii - fortalecer o Conselho Gestor nos municípios para que a sociedade
organizada possa de fato exercer a sua função de acompanhar e
corrigir os rumos das ações públicas no âmbito do município;
iv - no sentido de poder rastrear as ações do programa no município,
pelo Conselho Gestor ou pela Coordenação do programa, seria
importante que cada agricultor emitisse Nota do Produtor para
cada produto entregue à entidade proponente;
v - eliminação do descompasso entre o período da liberação dos
recursos e o da produção agrícola.
Em suma, o Programa de Aquisição de Alimentos tem contribuído
com a organização da produção local e melhoria nutricional, especialmente
dos mais carentes, e o melhor exemplo que vimos nesta pesquisa foi a
assinatura de contrato para instalação de laticínio pela COANA, possibilitado
pelo PAA leite em 2006, em Querência do Norte.
Esse financiamento de R$ 6 milhões foi obtido por meio da linha
de crédito de Desenvolvimento Regional Sustentável - DRS, do Banco
do Brasil, para a agricultura familiar, com juros de 4% ao ano, e dois anos
de carência e oito anos para pagar. Pelas informações, esse foi o primeiro
136
convênio do gênero assinado no Sul do Brasil, e conta com as entidades
parceiras da COANA, a prefeitura, a Emater, os sindicatos e o próprio Banco
do Brasil, e que efetivamente poderá viabilizar essa bacia leiteira.
Ademais, o depoimento de prefeitos, dirigentes de associações,
profissionais, agricultores (as) familiares, pais, mães, estudantes, clérigos,
e tantos outros que contatamos neste período da pesquisa, bem como os
resultados que presenciamos, são estímulos para melhorar e ampliar as
ações deste Programa.
Essas ações ajudam a construir políticas públicas que vão de encontro
às reais necessidades da população, impulsionando o desenvolvimento local
que deve ser o alvo de todo gestor público.
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