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Belém, Pará
Dezembro 2022
1. Introdução
O presente trabalho tem como intuito trazer uma discussão histórica a respeito
do desenvolvimento das leis da termodinâmica como fator de fundamental
importância para a construção da mecânica estatística. Nesse viés, é debatido
historicamente e criticamente teorias que contribuíram para a construção das leis da
termodinâmica e seus autores. O debate histórico torna-se muito importante tanto
para o ensino de física em uma sala de aula, quanto para a formação como
pesquisador de um aluno de física, ao ver como os cientistas formularam teorias que
por eles são estudadas em sala de aula.
A física como uma ciência experimental encontra na termodinâmica grande parte
de sua construção em primeira ordem experimental para posteriormente uma
fundamentação teórica. Nesse intuito, é visto a criação inicial de teorias para explicar
fenômenos químicos da época como a teoria do flogisto e posteriormente o
questionamento dessa teoria por suas muitas contradições vistas e substituída pela
teoria do calórico de Lavosier que determina o calor como um fluido imponderável.
Apesar do calórico explicar bem diversos fenômenos que a teoria do flogisto não
conseguia explicar, por observações experimentais chega-se à conclusão que o calor
é uma forma de movimento e a partir de tais observações se torna possível encontrar
um equivalente mecânico do calor e consequentemente a uma formalização para
Primeira Lei da termodinâmica.
Nesse sentido, também é abordado sobre como com o avanço da revolução
industrial e do aperfeiçoamento da máquina a vapor a Segunda Lei da
Termodinâmica surgiu, o qual Sadi Carnot buscou um modo de determinar até que
ponto o rendimento de uma máquina a vapor poderia ser melhorado até a formulação
dessa lei por Clausius e Thomson. Nesse sentido, Clausius ao se preocupar com a
direcionalidade do fluxo de calor cunha o termo valor de equivalência que mais tarde
vêm-se a tornar o que conhecemos como Entropia. Entretanto, o estudo da Entropia
como uma função mecânica fica a cargo de Boltzmann que ao adotar a interpretação
probabilística de entropia trás seu maior legado para física, e inicia um novo ramo da
física chamado de Mecânica Estatística.
Desse modo, é perceptível como a construção da Primeira e Segunda lei da
termodinâmica foram de grande importância para a formulação da Mecânica
Estatística, esta que hoje é uma das grandes áreas de estudos da física e que
permanece em construção. Desse modo, a termodinâmica é uma ciência ainda em
evolução e o entendimento da sua criação é extremamente interessante e importante
para compreender as dificuldades encontradas em seu caminho para a formulação do
que hoje é um dos pilares científicos do estudo de física.
2. Desenvolvimento
A teoria do flogisto começou na busca de explicações a respeito do aumento de
peso dos metais durante a sua calcinação. Essa não “conservação do peso” observada
na combustão dos metais necessitava de uma explicação. A primeira teoria química
fundamentada capaz de descrever estas reações foi escrita pelo químico alemão Johann
Joachim Becher (1635 – 1682) em sua obra Subterranean Physics o qual apresentou a
ideia de que a combustão era devido à terra pinguis [2]. Para Becher, quando uma
substância queimava, era liberada a terra pinguis. Posteriormente, uma teoria mais
geral das terras pinguis foi formulada pelo médico e químico Alemão Georg Ernst
Stahl (1660 – 1734), às quais chamou de flogisto.
Para explicar por que os metais aumentavam de peso quando se calcinavam,
Stahl admitiu que o mesmo possuía a propriedade da leveza por ter peso negativo.
Desse modo, Stahl elaborou uma teoria que explicava os fatos até então conhecidos,
de maneira clara, embora se apoiasse numa hipótese contraditória que seria a
levitabilidade do flogisto [1].
Essas contradições exigiram adaptações continuas e a formulação de novas
hipóteses e explicações para o flogisto, levando-o a adquirir uma instabilidade e
complexidade o levou mais tarde ao desmoronamento. Nesse contexto, o famoso
químico Antoine-Laurent de Lavoisier (1743 – 1794) começou a desconfiar a respeito
da teoria do flogisto e em 1777 começou seu ataque a teoria ao começar a fazer
experiências sobre os fenômenos caloríficos. Assim é que, no mesmo ano, Lavoisier
atribuiu a causa do Calor a um fluido imponderável denominado por ele de “matière
du feu”. Contudo, a teoria do flogisto recebeu o golpe final por parte de Lavoisier em
sua obra intitulada “Réflexions sur le Phlogistique”. Posteriormente em um livro
publicado por Lavoisier e outros químicos franceses, denominado Méthode de
Nomenclature Chimie, a matière du feu lavoisierana recebeu o nome de calórico [1].
Assim como a teoria do Flogisto, a do calórico também encontrou algumas
dificuldades como por exemplo, explicar a dilatação anômala da água. Entretanto a
questão que mais intrigava os cientistas era a de saber a real natureza do calor, se era
consequência de alguma forma de movimento ou se era devido ao fluido calórico? Para
responder tais questionamentos o físico anglo-norte americano Sir Benjamin
Thompson, Conde Rumford (1753 – 1814), realizou experiências com as quais provou
que o calor é uma forma de movimento [1].
Rumford era Ministro da Guerra na Baviera, e por conta disto, viera sua primeira
evidência experimental de que o calor era uma forma de energia, ao observar que
durante a fabricação de canhões de bronze, na medida em que a broca os perfurava o
bronze continuava a esquentar mesmo que a broca não estivesse afiada. Segundo a
teoria do calórico, o bronze se esquentava ao receber o calórico da broca, uma vez que,
a broca afiada não tinha capacidade de reter o calórico, desse modo transferindo-o ao
canhão. Então como explicar que o canhão esquentava mesmo com a broca “cega”?
Assim, convencido de que o calor era gerado devido à fricção, Rumford realizou
a seguinte experiência. Mergulhou em água um canhão a ser perfurado, a fim de que
o calor produzido pela broca passasse a esse líquido (Figura 1). Depois de duas horas
e meia com a broca girando a água tinha fervido da mesma forma que fizera ao perfurar
o canhão. Em vista desse resultado, preparou um trabalho que foi comunicado à Royal
Society of London. Apesar dos trabalhos de Rumford mostrarem que o calor era uma
forma de movimento, a teoria do calórico sobreviveu até meados do sécula XIX.