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FACULDADE DE CIÊNCIAS

DEPARTAMENTO DE FÍSICA

Licenciatura em Física

História e Filosofia de Ciências Naturais

A Termodinâmica

Discentes:

Cossa, Abel Silva

Machava, Arménia Adolfo

Regente: Prof. Dr. Carlos Abílio Alejandro Alfonso


Assistente: Dr. Jorge Elias Mabjaia

Maputo, setembro de 2022


Índice
1 Introdução.................................................................................................................. 3

2 Delimitando o espaço e o tempo de análise .............................................................. 4

3 A Teoria do Calórico ................................................................................................. 5

4 Primeira Lei da Termodinâmica ................................................................................ 6

4.1 O Pioneirismo de Rumford ................................................................................ 6

4.2 Formulação da primeira lei ................................................................................ 7

5 A Segunda Lei da Termodinâmica .......................................................................... 10

5.1 O Demónio de Maxwell ................................................................................... 12

5.2 Max Planck e a Segunda Lei da Termodinâmica ............................................ 14

6 A Terceira Lei da Termodinâmica .......................................................................... 15

6.1 Zero Absoluto .................................................................................................. 16

7 Aplicações da Termodinâmica ................................................................................ 18

8 Conclusão ................................................................................................................ 19

9 Referências bibliográficas ....................................................................................... 20


1 Introdução
Segundo (Savi & Colucci,2012, p.14) a Termodinâmica trata das propriedades da matéria
sob circunstâncias nas quais a noção de temperatura e calor não podem ser ignoradas.
Sua apresentação nos primórdios da investigação envolvia a teoria do calórico,
atualmente envolve as leis da Termodinâmica e os princípios relacionados, uma forma
concisa de resultados empíricos e interpretações teóricas durante um período de mais de
150 anos. É exatamente por isso que a Termodinâmica permanece como um ramo
formidável da Física, e a sua sólida base experimental oferece um alto grau de
confiabilidade e é nisso que reside sua força.

Paradoxalmente, essa é também sua fraqueza: historicamente, a Termodinâmica não se


desenvolveu baseada em qualquer modelo atômico ou mecânico da matéria que poderia
permitir observar como ela funciona. A ampla generalidade de suas leis pode ser aplicada
a sistemas que são descritos por uns poucos parâmetros, independentes de como eles se
comportam em nível microscópico.

Por exemplo, a primeira lei é baseada no princípio da conservação da energia e nada


esclarece ou indica de como esse princípio pode estar ligado à natureza íntima da matéria.
A definição das variáveis termodinâmicas, embora realizada de forma operacional (isto
é, define-se a quantidade prescrevendo como medi-la) é suficiente para caracterizar
adequadamente o sistema.

Existem quatro leis na Termodinâmica, que chamamos lei zero, primeira, segunda e
terceira. Cronologicamente, somente a terceira está corretamente enumerada. A segunda
começou a ser formulada em 1824, com o trabalho de Sadi Carnot, sua forma final foi
enunciada por Clausius em torno de 1850. A primeira lei apareceu logo depois com os
trabalhos de Mayer, baseando-se nas experiências de Joule. A terceira teve sua origem
nos trabalhos de Nernst, no início do século XX, e a lei zero só foi estabelecida 20 anos
depois. (Savi & Colucci,2012, p.14)

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2 Delimitando o espaço e o tempo de análise
Segundo (Gomes, 2012, p.3) O fogo sempre esteve presente na vida do homem,
despertando medo, respeito e admiração. Há evidências de sua utilização, de modo
voluntário, a cerca de 300.000 mil anos atrás. Ele era produzido, possivelmente, por atrito
entre galhos ou por choque entre pedras cujas faíscas provocadas incendiavam palhas
secas. A partir dessa época, não se conhece nenhuma sociedade que tenha vivido sem a
capacidade de manuseá-lo.

Essa aquisição modificou os nossos hábitos alimentares, além de ter possibilitado uma
emigração da África para as zonas mais frias, como a Europa e a Ásia. Sem o domínio
sobre o fogo, o homem não teria fundido o cobre e o estanho, criando a liga de bronze.
Dessa forma, não teria conseguido confecionar diversos tipos de ferramentas, armaduras,
armas brancas e instrumentos agrícolas. (Gomes, 2012, p.3)

O desenvolvimento da tecnologia e consequentemente das cidades não teria acontecido


se o homem não tivesse controlado o fogo. A civilização moderna não existiria do modo
que a conhecemos (Serway & Jewett, 2010, p.35). O homem sempre colocou o fogo em
lugar de destaque em suas representações sobre a natureza. Em várias culturas
encontramos lendas e mitos em que ele está presente.

“Parece que foram os gregos antigos os primeiros a se preocuparem com sua


explicação. Assim é que, o filósofo Platão (428-348) acreditava que o fogo
heraclitano tinha a forma tetraédrica. Já os filósofos atomistas Demócrito de
Abdera (470-380) e Leucipo de Mileto (460-370) admitiam que o átomo de fogo
era esférico.” (Bassalo, 1992, p. 910, citado por Gomes, 2012, p.4).

Além dessas considerações filosóficas, pode-se estudar o fogo sobre vários aspetos, pois
ele participa de muitos fenômenos físicos e químicos. Por exemplo, a sua presença, ou
ausência, muito mais do que a do Sol, fez o homem pensar sobre os processos de
aquecimento e de resfriamento.

A nossa análise terá início a partir do momento que os conceitos de calor e temperatura
começaram a ser diferenciados e os primeiros estudos quantitativos sobre as ocorrências
que envolvem aquecimento e resfriamento foram realizados. Desse modo, conseguiremos
abordar tanto a primeira teoria científica mais elaborada sobre o conceito de calor quanto
os primórdios da teoria aceita atualmente.

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3 A Teoria do Calórico
Em sua obra (Savi & Colucci,2012, p.15) Afirma que o calórico era visto como um fluido
imponderável contido nos materiais e, portanto, a sua quantidade deveria ser finita.

Figura 1: Joseph Black ( 1778 – 1799)

Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Black#/media/Ficheiro:Black_Joseph.jpg

A teoria do calórico surgiu, pela primeira vez com Joseph Black ( 1778 – 1799), químico
e físico inglês, como explicação dos fenómenos caloríficos. Foi ele quem fez a distinção
entre temperatura e calor. Para Black, o calórico seria um fluido sem peso, muito elástico,
indestrutível, capaz de penetrar em qualquer corpo sob influencia de causas exteriores,
bem determinadas. (Aragão, 2006, pp.43-44)

Ainda na mesma obra (Aragão, 2006) afirma que A questão do calórico ter ou não peso
foi motivo de grande polêmica. Benjaimim Thomson conde de Rumford (1753-1814) (fig
1), demonstrou que o calórico não produzia qualquer alteração no peso dos corpos.
Explicava as diferenças dos calores específicos das diferentes substancias, admitindo que
as diferenças dos calores específicos das diferentes substancias, admitindo que as
diferentes espécies de materiais atraiam o calórico de formas diferentes.

Desta forma, a absorção de calórico ou frio e a libração de calórico ou calor são


sinónimos, e haveria duas combinações diferentes, calor sem luz e luz sem calor. Onde
as propriedades do calórico eram explicadas usando essas duas definições. A Condução
do calor não seria mais do que o escoamento do calórico.

O próprio Rumford começou a duvidar desta hipótese do calórico e, em 1798 ele mesmo
começou a atacá-la, depois de investigar a produção do calor por atrito.

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Figura 2: Benjamin Thomson conde de Rumford (1753-1814)

Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Benjamin_Thompson#/media/Ficheiro:Benjamin_Thompson.jpg

4 Primeira Lei da Termodinâmica


O princípio de conservação da energia que domina a física moderna foi estabelecido por
volta da metade do século XIX. Bem antes disso, era comum que inventores tentassem
registrar patentes de máquinas que pretendiam produzir trabalho do nada, o chamado
moto perpétuo. Apesar da aparente ingenuidade, quando vistas com o olhar dos dias de
hoje, muitas daquelas tentativas de criação do moto perpétuo acabaram por contribuir
para o estabelecimento da primeira lei. (Passos, 2009)

4.1 O Pioneirismo de Rumford


Benjamin Thomson (1753-1814), o conde Rumford, nasceu nos EUA e realizou a maior
parte de suas pesquisas sobre transferência de calor, em Munique Alemanha, onde
permaneceu por 14 anos, até 1798. Outros aspetos curiosos de sua biografia incluem, ao
que tudo indica, ter sido espião a serviço do governo inglês, e ter-se casado com a viúva
de Lavoisier, morto na guilhotina durante a revolução francesa (Savi & Colucci, 2012).

Observando a fabricação de canhões quando era diretor do arsenal de Munique concluiu


que o aquecimento provocado pelo atrito entre a broca e o tubo de canhão podia gerar
calor, indefinidamente. Tal conclusão derrubava a teoria do calórico que era
defendida por vários pesquisadores.

Com o auxílio de uma junta de cavalos Rumford fez girar um tubo de canhão de bronze
contendo em seu interior uma bucha que, devido ao atrito, liberava o calor que causava o
derretimento de gelo ou a ebulição da água colocados em contato, em volta do tubo.

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Eis o comentário de Rumford, conforme Passos (2009), “o calor gerado por atrito, nesses
experimentos, era ilimitado... o que me pareceu extremamente difícil, ou quase
impossível, imaginar qualquer coisa capaz de ser provocada e comunicada, nesses
experimentos, exceto pelo movimento”. Ganhava força a associação entre calor e
movimento ou vibração das partículas. Mesmo após as observações empíricas de
Rumford a teoria do calórico ainda continuou sendo admitida por diversos pesquisadores,
como Carnot e Kelvin. Rumford também determinou, através dessas observações e com
os conhecimentos de calorimetria da época, que o equivalente mecânico do calor valia
5,5 J/cal.

4.2 Formulação da primeira lei


A Primeira Lei da Termodinâmica, as definições e os comentários das seções precedentes
permitem estabelecer a primeira lei da termodinâmica. Os créditos pela formulação da
primeira lei são divididos por Robert Mayer e James Prescott Jouls, que, trabalhando
independentemente e por diferentes motivações, ambos chegaram às mesmas conclusões:

Figura 3: James Prescott Joule (1818-1889)

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/James_Prescott_Joule#/media/Ficheiro:SS-joule.jpg

➢ Calor é uma das muitas formas de energia;


➢ Energia é conservada – ela pode ser transformada, mas não pode ser criada ou
destruída.
Em 1842, Mayer apresentou a primeira determinação experimental do equivalente
mecânico do calor, uma unidade denominada por razões históricas de caloria. O valor
proposto por Mayer estava com um desvio de 20% do valor aceito presentemente de 1 cal
- 4.186 Joules. (Savi & Colucci,2012, p.16)

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James Prescott Joule foi um fabricante inglês de cerveja que, apoiado em sua fé,
acreditava que a lei da conservação da energia era algo místico baseado na religião. Em
uma série de experimentos que durou 40 anos, ele mediu o equivalente mecânico do calor.
Seus dados confirmaram que a dissipação de certa quantidade de energia mecânica ou
elétrica, sempre resultava ser proporcional a uma quantidade de calor. (Jewett, e
Serway,2011, p.160)

A forma geral da primeira lei da termodinâmica reconhece que uma variação na energia
interna de um sistema pode ser acompanhada por uma troca de calor, uma realização de
trabalho, ou uma combinação de ambos os processos. O calor adicionado uma variação é
usada para aparece como e/ou ao sistema na energia interna realizar trabalho. A
formulação matemática dessa afirmação expressa a primeira lei da termodinâmica em sua
forma mais geral:

∆𝑬𝒊𝒏𝒕 = 𝑸 + 𝑾

Um diagrama esquemático da experiência mais famosa de Joule é mostrado na figura 4.


O sistema de interesse é a Terra, os dois blocos e a água em um recipiente isolado
termicamente. Trabalho é realizado dentro do sistema sobre a água por uma roda de pás
giratória, impulsionada por blocos pesados que caem com velocidade constante. (Jewett,
e Serway,2011, p.161)

Figura 4: Experiência de Joule para determinar o equivalente mecânico do calor. Fonte: (Jewett, e
Serway, 2011)

Se a energia transformada nos rolamentos e a energia que passa pelas paredes devido ao
calor forem desprezadas, as diminuições de energia potencial do sistema conforme os

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blocos caem é igual ao trabalho realizado pela roda de pás sobre a água e ao aumento da
energia interna da água. Se os dois blocos caem por uma distância h, a diminuição da
energia potencial é 2mgh, onde m é a massa de um bloco; essa energia causa um aumento
na temperatura da água.

Variando as condições do experimento, Joule observou que a diminuição na energia


mecânica é proporcional ao produto da massa da água e ao aumento na temperatura da
água. A constante de proporcionalidade foi determinada como aproximadamente 4,18 J/g
⋅ °C.

Portanto, 4,18 J de energia mecânica aumentam a temperatura de 1 g de água por 1 °C.


Medições mais precisas feitas depois mostraram que a proporcionalidade era de 4,186
J/g, quando a temperatura da água foi aumentada de 14,5 °C para 15,5 °C. Adotamos esse
valor de “caloria de 15 graus”: 1 cal = 4,186 J.

Convém notar que Q é o nome dado para a quantidade líquida de calor adicionada ao
sistema. Se Q acontece ser negativo, isso simplesmente significa que o sistema rejeitou
certa quantidade de calor.

A relação da primeira lei pode ser lida da seguinte forma: quando adicionamos calor ao
sistema, parte desse calor é usada para aumentar a energia interna, e outra parte é utilizada
para que o sistema realize trabalho. A figura 5 apresenta os dois processos que fazem
variar a energia interna de um sistema, composto por um gás, encerrado em um cilindro
de volume variável.

Figura 5: Fornecimento de calor a um sistema. Fonte: (Savi & Colucci, 2014).

A 1ª lei da termodinâmica Figura 5 – Fornecimento de calor a um sistema. A primeira lei


da termodinâmica nada mais é do que a expressão para a conservação da energia. Assim,

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calor e trabalho são manifestações diferentes de uma única quantidade que chamamos
energia.

Em situações onde o processo termodinâmico ocorre lentamente, podemos imaginá-lo


como uma sequência contínua de pequenas variações. Matematicamente podem-se
representar as quantidades que constituem a primeira lei por infinitesimais. Essa forma
“miniaturizada” da primeira lei é:

𝒅𝑸 = 𝒅𝑬 + 𝒅𝑾

5 A Segunda Lei da Termodinâmica


Nicolas Leornad Sadi Carnot enunciou suas descobertas em termos de calóricos, e foi
Clausius quem enunciou novamente a lei em termos de entropia, dizendo que um sistema
tende sempre a um estado maior de entropia. A entropia é considerada comumente como
“desordem”. Mais precisamente, é uma medida da indisponibilidade de energia em um
sistema para realizar trabalho; em qualquer sistema real, certa energia se perde sempre
em calor dissipado. Quando o combustível é queimado, a energia é convertida de um
estado organizado (baixa entropia) para um estado desorganizado (alta entropia).
(Rooney, 2013)

Figura 6: Nicolas Leornad Sadi Carnot. Fonte:


https://www.pinterest.com/pin/479492691621578322/?nic_v3=1a2aldKUj

Carnot, através dos ciclos ideias e da ideia de transformações reversíveis, obteve os


resultados fundamentais a cerca das máquinas térmicas. O seu trabalho “Reflexion sur la
puissance motrice du feu”, em 1824, com as modificações introduzidas pelo

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reconhecimento da teoria cinética dos gases e da lei da conservação da energia, William
Thomson, mais conhecido por Lord Kelvin (1824-1907) engenheiro, matemático e físico
inglês, e ainda por Rudolph Julius Emmanuel Clausis (1825-1888), físico e matemático
alemão, constitui a base para a formulação da segunda lei da termodinâmica, enunciada
pela primeira vez em 1854. Carnot desenvolveu as suas investigações, principalmente
sobre termodinâmica e sobre a noção de entropia. (Aragão, 2006)

Figura 7. William Thomson (Lord Kelvin).

Fonte: https://www.pinterest.com/pin/389842911475079317/?nic_v3=1a2aldKUj

A segunda lei da termodinâmica, formulada por Rudolf Clausius e Thomson,


separadamente, em 1854, estabelece que, todos os processos naturais levam a um aumento
na entropia do sistema interno envolvido. A entropia de uma substância é função da
condição da substância. Por exemplo, considera-se um sistema em duas condições
diferentes, ou seja, um quilo de gelo a 0ºC que derrete e forma um quilo de água a 0ºC.
então, cada condição esta associada a uma quantidade chamada entropia, que é
independente da história passada da substância. Quando o calor é removido, a entropia
diminui e quando o calor é adicionado, a entropia aumenta. Esta é a definição de entropia
numa máquina reversível, uma máquina ideal, que não sofreria atrito, como supos Carnot.
(Aragão, 2006)

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Figura 8. Rudolf Clausius. Fonte:
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Segunda_lei_da_termodin%C3%A2mica

Ludwig Boltzman (1844-1906) físico alemão que foi um dos criadores da teoria cinética
dos gases, fez importantes contribuições sobre o calor específico da teoria cinética dos
gases e sobre a segunda lei da termodinâmica. Boltzman provou que a entropia
termodinâmica de um sistema, a uma dada energia, estava relacionada com o número de
estados microscópicos possíveis através de uma constante, a constante de Boltzman.
(Aragão, 2006)

Figura 9. Ludwig Boltzman.

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Matematicamente, a segunda lei da termodinâmica expressa-se assim:

𝒅𝑺
≥𝟎
𝒅𝒕

5.1 O Demónio de Maxwell


Em 1871, James Clerk Maxwell propôs um exercício hipotético para tentar contradizer a
segunda lei da termodinâmica. Ele descreveu duas caixas adjacentes, uma contendo gás

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quente e uma contendo gás frio, com um pequeno orifício conectando-as. O calor desloca-
se da área quente para a fria, partículas rápidas colidem com partículas lentas provocando
a aceleração delas e vice-versa. Eventualmente, o gás em ambas as caixas conterá uma
distribuição parecida de partículas e velocidades e terá a mesma temperatura. (Rooney,
2013)

Figura 10. Demonio de Maxwell. Fonte: https://www.saberatualizado.com.br/2016/08/o-demonio-de-


maxwell.html

No experimento, no entanto, um demônio, um ente inteligente microscópico, posta-se em


um orifício regulando partículas que possam passar por ele. O demônio abre o orifício
para permitir que partículas passem rapidamente da caixa de gás frio para a caixa de gás
quente. Dessa forma, eleva-se a temperatura do gás quente à custa do gás frio e diminui-
se a entropia do sistema. Mesmo assim, o sistema não pode contradizer a lei, pois qualquer
coisa que desempenhe a função do demônio precisa usar energia para trabalhar. Em 2007,
o físico escocês David Leigh fez uma tentativa em nanoescala em uma máquina. Ela
separa partículas que se movem rápida e lentamente, mas precisa de uma reserva própria
de energia. (Rooney, 2013)

Figura 11: James Clerk Maxwell. Fonte: https://www.thoughtco.com/james-clerk-maxwell-inventor-


1991689

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5.2 Max Planck e a Segunda Lei da Termodinâmica
Sabemos que os enunciados da segunda lei da termodinâmica foram, inicialmente,
apresentados por Clausius e Thomson (Kelvin). O enunciado de Kelvin para a segunda
lei nos diz que é impossível, por meio de um agente material inanimado, derivar efeito
mecânico de uma porção de matéria resfriando-a abaixo da temperatura do mais frio dos
objetos adjacentes. Entretanto, em alguns livros-texto este enunciado é referido como
enunciado Kelvin-Planck. Talvez isso se deva ao fato de que o enunciado apresentado por
Planck tem um caráter mais geral do que o de Kelvin. Outros livros apresentam como
sendo o enunciado de Kelvin, embora os termos do enunciado sejam muito próximos da
formulação de Planck.

Figura 12: Max Planck.

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Para Planck havia apenas uma forma de mostrar claramente a importância da segunda lei,
a que se baseie em fatos, formulando proposições que podem ser comprovadas ou
refutadas por experimentos. Segundo ele, são três as proposições essenciais que
caracterizam o processo de transformação de calor em trabalho:

I. Não é possível reverter completamente qualquer processo em que o calor tenha


sido produzido pelo atrito;
II. Não é possível reverter completamente qualquer processo em que um gás expande
sem realizar trabalho ou absorver calor, ou seja, com energia total constante;
III. Supondo que um corpo recebe certa quantidade de calor de outro com maior
temperatura, não é possível reverter completamente este processo, ou seja,
transmitir o calor de volta sem realizar qualquer outra mudança.

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Com estas três proposições Planck destacou uma noção que até então não havia aparecido
com tanta enfase: a noção de irreversibilidade. Então, a partir desta noção presente nas
proposições acima ele chega a seguinte definição: “Um processo que não pode ser
completamente revertido é chamado irreversível, todos os outros processos são chamados
reversíveis”. (Nórbega, Freire Jr, & Pinho, 2013)

6 A Terceira Lei da Termodinâmica


A terceira lei da termodinâmica seguiu bem mais tarde, em 1912. Desenvolvida pelo
físico e químico alemão Walther Nernst (1864-1941), enuncia que nenhum sistema pode
atingir o zero absoluto, cuja temperatura o movimento atômico quase cessa e a entropia
tende a um mínimo ou zero. (Rooney, 2013)

Nernst (Aragão, 2006) formulou o seu teorema do calor, que dizia “Em qualquer reação
envolvendo só sólidos cristalinos, a variação da entropia é nula”.

Figura 13. Walther Nernst.

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Esta afirmação constitui o primeiro enunciado, menos geral, da terceira lei da


termodinâmica, que veio a ser reformulada em 1913 por Planck, acrescentando que o
valor nulo da variação da entropia da reação, era devido ao facto de ser nula a entropia de
todos os sólidos cristalinos perfeitos, ou seja, no zero absoluto. Planck recebeu o premio
Nobel de Química em 1921 pelo enunciado da terceira lei da termodinâmica. Esta lei
resultou, no entanto, dos trabalhos anteriores de Carnot, que foi capaz de mostrar que a
máxima eficiência é obtida quando todas as operações são conduzidas de uma forma
reversível. (Aragão, 2006)
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A equação proposta por Nernst é:

𝐥𝐢𝐦 ∆𝑺 = 𝟎
𝑻→𝟎

6.1 Zero Absoluto


A terceira lei da termodinâmica requer o conceito de uma temperatura mínima abaixo da
qual nenhuma temperatura pode cair, conhecida como zero absoluto.

Robert Boyle discutiu pela primeira vez o conceito de uma temperatura mínima possível
em 1665, em New Experiments and Observations Touching Cold, no qual se referia à
ideia como primum frigidum. Muitos cientistas da época acreditavam na existência de
“algum corpo que é, por sua própria natureza, supremamente frio e pela participação do
qual todos os outros corpos obtêm essa qualidade”. (Rooney, 2013)

Figura 14. Robert Boyle.

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O físico francês Guillaume Amontons (1663-1705) foi o primeiro a atacar o problema na


prática. Em 1702, ele construiu um termômetro de ar, e declarou que a temperatura em
que o ar não tinha “fonte” para afetar a medida era o “zero absoluto”. O zero na escala
dele era em torno de -240 °C. O matemático e físico suíço Johann Heinrich Lambert
(1728-1777), que propôs uma escala de temperatura absoluta em 1777, refinou esse dado
para -270°C muito próximo daquele aceito atualmente. (Rooney, 2013)

Contudo, essa medida quase correta não foi aceita universalmente. Pierre-Simon Laplace
e Antoine Lavoisier sugeriram em 1780 que o zero absoluto pode ser 1.500 a 3.000 graus
abaixo do ponto de congelamento da água, e que no mínimo deve ser 600 graus abaixo

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do congelamento. John Dalton atribuiu -3000°C. Joseph Gay-Lussac chegou mais perto,
depois de investigar como o volume e a temperatura de um gás estão relacionados. Ele
descobriu que se a pressão é mantida constante, o volume de um gás aumenta em 1/273
para cada alta de 1°C acima de zero. (Rooney, 2013)

Disso, ele pôde extrapolar novamente, atribuindo -273°C ao zero absoluto e


aproximando-se ainda mais da medida correta.

O problema tomou um rumo diferente depois que Joule mostrou que o calor é mecânico.
Em 1848, William Thomson (mais tarde Lorde Kelvin) concebeu uma escala de
temperatura com base nas leis da termodinâmica, e não nas propriedades de qualquer
substância (ao contrário de Fahrenheit e Celsius). Kelvin encontrou um valor para o zero
absoluto que é aceito ainda hoje, de -273,15°C muito próximo do valor derivado do
termômetro de ar e da teoria de Gay-Lussac. A escala Kelvin baseia-se na escala Celsius,
mas começa em -273,15°C, e não em 0°C. (Rooney, 2013)

7 A Lei Zero da Termodinâmica


A Lei Zero da Termodinâmica tem esta denominação graças à Ralph H. Fowler (1889-
1944), um grande físico inglês, que no século XX depois de muito tempo de
desenvolvimento da lei experimental, à considerou como uma lei básica, pois sem ela o
conceito de temperatura não poderia ser definido e é postulado que: “Se dois corpos
estiverem em equilíbrio térmico com um terceiro, estarão em equilíbrio térmico entre si”.
Contudo, se fez necessária a estruturação da apresentação da Termodinâmica de uma
forma mais logica, como a primeira e a segunda lei já haviam sido formuladas, então,
surgiu o termo Lei Zero. Desde então esta denominação vem sendo utilizada em física.

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Figura 15. Ralph H. Fowler. Fonte: https://collectionimages.npg.org.uk/std/mw110025/Sir-
Ralph-Howard-Fowler.jpg

A lei zero da termodinâmica afirma que "se dois corpos A e B estão separadamente em
equilíbrio térmico com um terceiro corpo C, então A e B estão em equilíbrio térmico entre
si". Essa lei permite a definição de uma escala de temperatura, como por exemplo, as
escalas de temperatura Celsius, Fahrenheit, Kelvin, Réaumur, Rankine, Newton e Leiden.
(Sears & Zemansky, 2008)

8 Aplicações da Termodinâmica
Através das leis da termodinâmica, podem-se obter, para quaisquer substâncias, os calores
específicos referentes à pressão e volume constantes e através das equações pode-se
demonstrar como as variações dos calores específicos estão relacionadas com outras
propriedades dos corpos. (Aragão, 2006)

Talvez a mais importante aplicação da termodinâmica seja o estudo do equilíbrio dos


sistemas, em mudanças de estado. É claro que o gelo, a água e o vapor podem coexistir,
desde que preservadas as suas temperatura e pressão particulares. Este é um caso
específico do resultado mais geral, conhecido pela “regra das frases” que prediz as
condições sob as quais os sistemas que tem um número diferente de estados ou fases e
componentes podem estar em equilíbrio. (Aragão, 2006)

Outra importante aplicação da termodinâmica é no campo das reações químicas das


misturas. Podem-se obter relações entre o calor absorvido ou cedido numa reação química
entre gases, com as propriedades térmicas dos gases individuais. (Aragão, 2006)

O desenvolvimento das máquinas térmicas, como a, máquina a vapor, turbinas e


máquinas de combustão interna, envolve o conhecimento das propriedades
termodinâmicas do fluido, ou mistura explosiva empregada, de forma a que se possam
projetar as máquinas mais convenientes, podendo prever-se a sua eficácia. (Aragão, 2006)

Esta teoria é também muito importante em astrofísica e a sua aplicação aos problemas
da radiação contribuiu para a formulação da teoria quântica. (Aragão, 2006)

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9 Conclusão
Conclui-se que a Termodinâmica envolve situações em que a temperatura ou o estado
(sólido, líquido, gás) de um sistema muda por causa de transferências de energia. E
também, a Termodinâmica explica as propriedades do volume da matéria e a correlação
entre elas e a mecânica de átomos e moléculas.

O desenvolvimento da Termodinâmica permitiu o desenvolvimento da sociedade em


geral, pois a Termodinâmica também aborda questões mais práticas, foi graças a
Termodinâmica que se desenvolveu o modo de operação de um refrigerador, capaz de
resfriar seu conteúdo, ou que se consegue explicar muitos fenómenos térmicos.

Assim como se supunha que o calor fosse resultado do calórico, alguns cientistas dos anos
1780 acreditavam que o frio pudesse ser uma propriedade produzida pela presença de
uma substância chamada "frigó- rica". Esta foi desacreditada pelo filósofo e físico suíço
Pierre Prévost (1751-1839), que afirmou que o frio é simplesmente a ausência de calor e
mostrou em 1 791 que todos os corpos, não importa o quanto pareçam ser frios, radiam
calor. (Rooney, 2013)

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10 Referências bibliográficas

• Aragão, M. J. (2006). História da Física. Rio de Janeiro: Editora Interciência.

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