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Identificação
Desde que o homem primitivo aprendeu a utilizar o fogo para o seu benefício (aquecer-
se, defender-se, cozer alimentos), a obtenção de energia a partir de transformações químicas, em
especial as combustões, tem exercido papel fundamental nas sociedades.
Durante muitos séculos, a combustão da madeira e de outros materiais como óleos e
gorduras foi utilizada como fonte de energia. Mais recentemente se passou a usar, em larga escala, o
carvão mineral, o petróleo e seus derivados.
Nossa própria vida depende da energia proveniente da combustão da glicose em nossas
células.
Foguetes são colocados fora da órbita terrestre graças, também, à combustão de
materiais apropriados, como, por exemplo, o gás hidrogênio. Este combustível interage com o gás
oxigênio, formando água e liberando enorme quantidade de energia.
Atualmente, as combustões, em seu sentido usual, são consideradas transformações
químicas em que um dos reagentes, o comburente, é o gás oxigênio.
Apesar de o conhecimento sobre os fatos e formas de controle das transformações
químicas (que hoje permite planejar a produção de materiais e energia, e possibilita a inibição de
transformações indesejáveis) ser muito antigo, as várias interpretações dadas à combustão eram
diferentes da atual.
O estudo das transformações químicas, porém, envolve também a elaboração de
explicações para os fatos observados. Assim, à medida que novos fatos ou idéias eram considerados,
novas explicações deveriam ser procuradas.
Desse modo o estudo da combustão e de outras transformações foi construindo
explicações que envolvem diferentes idéias sobre a constituição da matéria.
Nas combustões, geralmente, grande quantidade de energia, na forma de luz e calor, é
liberada. Até as últimas décadas do século XVIII, muitos pensadores explicavam esta observação pela
teoria do flogístico. Os corpos combustíveis teriam como constituinte um elemento - o flogístico - que,
no momento da combustão, abandonaria o corpo, alterando suas características.
Essa idéia também poderia explicar a transformação de um metal em seu óxido, na
combustão, admitindo que o metal fosse constituído pelo seu óxido e flogístico.
Georg Ernst Stahl, químico germânico que viveu entre 1660 e 1734, foi o criador da teoria do flogístico.
Há oito dias descobri que o enxofre ganha massa, na combustão, ao invés de perdê-la,
portanto é possível dizer que a partir de uma libra de enxofre pode-se obter mais de uma libra de
ácido vitriólico1, considerando que este ácido tenha sido produzido pela mistura do enxofre com o ar.
O mesmo ocorre com o fósforo. O aumento de massa provém da extraordinária
quantidade de ar que é fixada durante a combustão.
1
Ácido sulfúrico.
Esta descoberta, demonstrada através de experimentos que considero decisivos, me fez
crer que o que é observado na combustão do enxofre e do fósforo poderia muito bem ocorrer no caso
de todos os corpos que ganham massa na combustão ou na calcinação [...] Os experimentos
confirmaram plenamente as minhas conjecturas2.
Estes estudos de Lavoisier levaram a conclusões que deram novo rumo ao estudo da
química, destacando-se a abordagem quantitativa, que passa a ser enfatizada. Outro exemplo dessa
mudança vem dos seus estudos sobre a formação e decomposição da água. Como já foi mencionado,
forma-se água na combustão do gás hidrogênio, havendo liberação de grande quantidade de energia. A
água também pode ser decomposta nos gases hidrogênio e oxigênio, consumindo energia. Observando
estas transformações, Lavoisier concluiu que a água é uma substância composta. Isso, na época, foi
surpreendente, pois a água era tida como substância simples, ou seja, impossível de se decompor.
Tanto a teoria do flogístico como a desenvolvida por Lavoisier envolvem concepções
sobre a constituição da matéria. Naquela, a matéria seria formada por substrato e flogístico. Para
Lavoisier, seria constituída por elementos ou princípios.
combustão
Metal Óxido + Flogístico
combustão
Metal + Oxigênio Óxido
Desde então, muitos fatos foram observados e diferentes explicações foram elaboradas,
fundamentando-se na idéia de que a diversidade dos fenômenos pode ser atribuída a entidades
2
A. Lavoisier, citado em F. J. Moore, A History of Chemistry, New York, McGraw-Hill Book Company, Inc. 1969, p. 94
fundamentais e às suas inter-relações, sejam elas os elementos, os átomos de Dalton, os prótons,
elétrons e nêutrons, ou os quarks da física moderna.