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Este trabalho lida com dois tópicos. Um é a história da supercondutividade e o outro é o que Richard
Feynman tem a ver com isso. A história da supercondutividade pode ser retroagida até Michael Faraday e a
primeira liquefação de gás em 1823. É um conto de fadas heróico do triunfo sobre o frio e a resistência, e
como o fenômeno foi descoberto em 1911, levaria 50 anos até uma explicação satisfatória emergir. Embora
Richard Feynman somente tenha publicado um trabalho sobre o assunto, ele trabalhou prodigiosamente no
problema na maior parte dos anos 50, e seus concorrentes, particularmente Bardeen, Cooper e Schrieffer
esperavam que ele seria a pessoa que resolveria o problema. Não funcionou desta forma.
O físico teórico Richard Feynman cultivava o prazer de descobrir como o mundo funciona. Ele se
sobressaía como professor, escritor e pesquisador. Pelo seu trabalho sobre a teoria da
eletrodinâmica quântica ele compartilhou o prêmio Nobel de Física de 1965. A história da batalha
épica de Feynman com a supercondutividade é um pequeno capítulo de sua carreira científica.
Como se viu, Feynman foi o perdedor nessa luta, e assim, a história pode nos dizer mais a
respeito de Richard Feynman do que da supercondutividade. Esperamos que isso não a torne
menos interessante.
________________________
*David Goodstein é Professor de Física e Física Aplicada e Frank J. Gilloon é Ilustre Professor no Instituto
de Tecnologia da Califórnia
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A ideia de que um campo da ciência poderia ser impulsionado por uma série de
descobertas é embaraçosa. Poderia ser que as descobertas estivessem aparecendo nos
laboratórios sem que estivessem sendo procuradas? Ou talvez, como Hans Christian Oersted
supostamente fez, as descobertas aconteceram acidentalmente no decorrer de uma
demonstração durante uma palestra? A resposta não é nenhuma destas. De fato a linha de
questionamento que levou à descoberta da supercondutividade pode ser localizada no tempo há
mais de 100 anos do evento em 1911. Havia em suas raízes uma velha pergunta, quais são os
constituintes da matéria?
No começo do século XIX esta questão era o centro da ciência química. Em 1807 John
Dalton propôs sua teoria atômica baseada na Lei das Proporções Simples e Múltiplas que
descobriu experimentalmente. Aconteceu que as medidas reais de Dalton não eram menos que
brilhantes e os resultados inequivocamente guiados por sua fé de que matéria era feita de átomos.
Mas esta é outra história. A lei das Proporções Simples e Múltiplas foi provada além de qualquer
dúvida por químicos experimentais mais habilidosos. Isto deu uma base empírica sólida à teoria
de Dalton de que os constituintes fundamentais da matéria eram átomos irredutíveis, um para
cada elemento químico no que hoje nós chamamos de tabela periódica.
Pelo resto do século XIX, a teoria de Dalton seria atacada, especialmente pelos químicos
conservadores que acreditavam que não era científico e nem necessário levantar hipóteses sobre
átomos invisíveis. Entretanto, a teoria de Dalton também foi atacada imediatamente de uma
direção diferente. O rival de Dalton, Humphry Davy, cujas credenciais incluíam a descoberta dos
elementos sódio e potássio, cloro e iodo e alguns alegam também a teoria da acidez no
hidrogênio, argumentou sob bases químicas que a teoria de seu rival não poderia estar certa. Dos
40 elementos químicos conhecidos naquela época, não menos que 26 eram metais,
compartilhando propriedades em comum como superfícies brilhantes, flexibilidade mecânica e alta
condutividade térmica e elétrica. Tinha de haver alguns princípios comuns de metalização. Os
átomos de Dalton não poderiam ser irredutíveis. Eles tinham que ter partes internas. 1
O desafio proposto por Davy, seria finalmente resolvido em 1897 quando J.J. Thomson
descobriu o elétron, o que era de fato uma parte comum de todos os átomos, e também o
princípio da metalização. Entretanto, Dalton argumentou que as idéias de Davy levaram seu
trabalho em outra direção. Por analogia química, Davy argumentou que os elementos gasosos
nitrogênio e hidrogênio se pudessem ser transformados em líquidos ou sólidos seriam
descobertos como metais. Havia, naquele tempo, pouca razão para acreditar que qualquer gás
poderia ser transformado em líquido ou sólido. Entretanto, aquela dificuldade seria em breve
retificada no próprio laboratório de Davy.
Sir Humphry Davy era professor em um laboratório de pesquisa financiado com recurso privado
em Londres chamado de A Instituição Real. A cada semana a instituição apresentava palestra,
aberta ao público sobre questões científicas do dia. Em uma destas palestras Davy conheceu
Michael Faraday, que acabou se tornando seu assistente de laboratório.
Em 1823, Faraday descobriu que o cloro gasoso poderia ser liquefeito pela geração de
uma pressão muito alta numa ponta de um tubo selado e congelando-o na outra ponta. Este não
foi o primeiro experimento no qual o gás tinha sido liquefeito, mas foi o primeiro em que o
experimentador tinha um entendimento claro do que tinha acontecido. Inspirado pela visão de
Davy do hidrogênio e nitrogênio metálico, Faraday começou a liquefazer todo metal conhecido.
Não obstante, ele foi bem sucedido ao liquefazer os gases exceto por oxigênio, nitrogênio e
hidrogênio. 2
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Faraday não viveu para ver os gases permanentes sucumbirem à liquefação, mas a busca
pela liquefação destes elementos continuou e criou um campo da física chamado termologia.
Dentro de alguns dias em 1877, Louis Paul Cailletet em Paris e Raoul Pierre Pictet em Genebra
foram bem sucedidos em produzir névoas de oxigênio líquido. Por volta de 1833, Karol Stanislaw
Olszewski e Zygmund Florentyvon Wroblewski em Cracóvia tinham obtido sucesso em coletar
centímetros cúbicos de oxigênio e nitrogênio líquido. O único gás remanescente a ser conquistado
foi o hidrogênio. 3
A teoria necessária foi suprida em 1873 por Johannes van der Waals em sua tese de Ph.D
sobre a continuidade dos estados líquido e gasoso. Com a ajuda da equação de van der Waals,
os valores de ponto crítico dos gases puderam ser previstos com exatidão das medidas
termodinâmicas feitas em alta temperatura. O nitrogênio e oxigênio logo sucumbiram à liquefação,
mas para aqueles que queriam conquistar o hidrogênio as notícias não eram boas: existia um
enorme vácuo entre as temperaturas agora disponíveis (cerca de 80K) e a temperatura de ponto
crítico prevista para o hidrogênio, 33K. Embora não impossível, a liquefação do hidrogênio seria
extremamente difícil.
No entanto, foi sem sucesso,. Em 1896, auxiliado pela invenção do recipiente criogênico
de parede dupla que ainda leva seu nome, Dewar venceu a corrida para liquefazer o hidrogênio.
No entanto, revelou-se uma corrida na qual as regras mudaram um pouco antes da linha de
chegada. Em 1895, o químico inglês William Ramsay descobriu hélio terrestre na uranita mineral.
Admitindo a corrida pelo hidrogênio, Kamerlingh Onnes desistiu de sua teimosa recusa em usar o
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frasco de Dewar, e começou a recolher um suprimento de gás hélio. Treze anos depois, em 10 de
Julho de 1908, ele conseguiu pela primeira vez liquefazer hélio5. As ordens de magnitude de
tempo e esforço envolvidos nessa história são surpreendentes. A dificuldade da tarefa é
verificada por outra observação quase tão impressionante: pelos próximos quinze anos, o
laboratório em Leiden era o único lugar na Terra onde o hélio líquido poderia ser produzido.
Nessas circunstâncias, não é de estranhar que o fenômeno da supercondutividade foi descoberto
em Leiden. Foi o que aconteceu em 1911, apenas três anos depois que o hélio foi liquefeito pela
primeira vez.6
A primeira ordem de negócio após liquefação de hélio era o próprio hélio. A equipe de
Onnes tentou solidificar hélio reduzindo sua pressão de ebulição, assim como Dewar tinha feito
com hidrogênio. Em 1910, esses esforços produziram uma temperatura tão baixa quanto 1,04 K,
em comparação com o ponto de ebulição normal de 4,2 K, mas o hélio permaneceu líquido.
Onnes sabiamente abandonou esse esforço. No entanto, a descoberta da supercondutividade, em
um sentido, pode ser pensada como outra tentativa de congelar um fluido a baixa temperatura.7
A ideia de que eletricidade é conduzida por um fluido no interior de metais surgiu logo após
a descoberta de J. J. Thomson do elétron em 1897. Por volta de 1900, Eduard Riecke e Paul
Drude produziram dois modelos semelhantes do comportamento metálico, na tentativa de
responder à pergunta proposta um século antes por Humphry Davy. Os elétrons em um metal
formam um tipo de gás, o que frequentemente colide com moléculas metálicas. Um campo elétrico
causa uma deriva no gás, produzindo uma corrente elétrica. O mesmo gás de elétrons também é
responsável pela condução de calor no metal. Quando a razão da condutividade térmica e elétrica
é formada, o tempo de colisão desconhecido é cancelado da expressão, deixando a razão
universal, aproximadamente a mesma para todos os metais, que haviam sido descobertos
empiricamente por G. Wiedemann e R. Franz. Esse resultado foi o sucesso mais importante da
teoria. Ela deixou, sem respostas, muitas perguntas. Uma delas era: o que acontece em baixa
temperatura?
Era bem conhecido que a resistividade de um metal tendia a diminuir linearmente com a
temperatura. No entanto, quando James Dewar mediu as resistividades de metais puros à
temperatura do hidrogênio líquido, ele encontrou que eles tendiam a parar de diminuir, e se
aproximar de um valor constante em seu lugar. Uma explicação, chamada regra de Matthiessen,
defendia que a resistência residual a baixa temperatura dependia da quantidade de impurezas no
metal. Outra explicação, favorecida por Lord Kelvin entre outros, foi a de que os elétrons deveriam
recondensar em seus átomos originais a baixa temperatura. À medida que o número de elétrons
livres diminuía, a resistividade aparente iria alcançar um mínimo, depois aumentar novamente à
baixa temperatura8.
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Essa cena predisse que, ao invés de aumentar ao infinito quando a temperatura se
aproximava de zero kelvins, a resistividade de um metal puro iria cair em direção a zero. Para
testar sua ideia, Onnes escolheu mercúrio, que poderia ser purificado por destilação, e que foi
previsto ter uma resistência alta suficiente para medir a 4 K. Gilles Holst, um estudante
encarregado por Onnes com medições de resistência precisas, realizou os experimentos junto
com o professor G. J. Flim, o técnico responsável por liquefazer o próprio hélio. Como Flim
lembrado depois, Holst pensou a princípio que tinha desenvolvido um curto circuito, e ele e Flim
procuraram por isso, mas eles encontraram que, mesmo com cabos invertidos, o curto circuito
sempre se repararia quando a temperatura do banho subia acima de 4,2 K. Procedendo
cautelosamente, Holst melhorou a técnica de resistividade por três ordens de grandeza,
encontrando que a 3 K, a temperatura mais baixa que ele poderia alcançar, a resistividade era
inferior a 10-7 de seu valor a temperatura ambiente. No outono de 1911, ele havia estabelecido
que a queda na resistência a 4,2 K (ver figura 1) era muito repentina para ser explicada pelo
modelo de Einstein.10
O resultado foi apresentado pela primeira vez por Kamerlingh Onnes na primeira
Conferência de Solvay, realizado em Bruxelas a partir de 30 de Outubro a 3 de Novembro de
1911. Com era seu costume, ele relatou o trabalho de seu laboratório sob seu próprio nome
sozinho, sem coautores. O relatório de Onnes não causou muita agitação na época, mas a
importância da descoberta logo se tornou evidente. Em seu discurso do Prêmio Nobel em 1913
Onnes salientou a natureza inesperada, abrupta da diminuição na resistência. Por volta de 1913,
foi estabelecido que o mesmo fenômeno, agora chamado “o estado super-condutor”, ocorreu no
chumbo e estanho, mas não no ouro e platina. Em 1914, físicos poderiam fazer peregrinações a
Leiden para observar o incompreensível: uma corrente permanente em um circuito elétrico
fechado de fio supercondutor, interagindo com uma agulha magnética comum. No entanto, em
1914 outros eventos estavam ocorrendo na Europa que iria ofuscar temporariamente a descoberta
da supercondutividade.11
Embora a Holanda permaneceu neutra na Grande Guerra, todas as pesquisas com hélio
em Leiden foram forçadas a parar, até 1919 quando um presente de 30 metros cúbicos de gás
hélio foi recebido da Marinha dos Estados Unidos. O grupo de Leiden voltou ao trabalho em
supercondutividade, descobrindo uma série de novos elementos supercondutores (tálio, índio,
etc.), e também estudando as propriedades magnéticas de supercondutores. Um americano, F. B.
Silsbee, havia sugerido que a quebra observada da supercondutividade em um campo magnético
era suficiente para explicar por que a supercondutividade também foi destruída quando a amostra
carregava uma corrente elétrica muito grande: a corrente simplesmente criou o campo magnético
necessário. O grupo de Leiden verificou a hipótese de Silsbee.
Eles também desenvolveram a forte convicção de que, quando uma amostra torna-se
supercondutora, independentemente do fluxo magnético que já estava em torno, todas as outras
alterações no fluxo através da amostra seriam excluídas por condutividade perfeita. Assim, o
estado magnético da amostra não era reversível, de forma que nenhuma análise termodinâmica
poderia ser aplicada. 12
Em 1933, Max von Laue sugeriu a Meissner um experimento para determinar se a corrente
em um supercondutor flui em sua superfície, ou no seu volume. Uma pequena bobina seria
utilizado para medir o campo magnético entre os dois cilindros maciços, de um único cristal de
estanho, transportando corrente em paralelo. Meissner escolheu Robert Ochsenfeld para realizar
a experiência. O resultado foi inesperado e dramático: mesmo quando os cilindros de estanho não
estavam carregando qualquer corrente, o campo magnético entre eles aumentou quando eles
foram refrigerados em seu estado supercondutor. A ideia de fluxo congelado não era correta, e a
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exclusão de fluxo aplicada não era meramente um efeito dinâmico da condutividade perfeita.
Supercondutores não eram apenas condutores perfeitos, eles também foram diamagnéticos
perfeitos. 14
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As fundações que poderiam eventualmente levar a uma teoria microscópica começaram a
ser estabelecidas, por volta de 1950, quando Herbert Frohlich percebeu que bons condutores
(cobre, ouro) tendem a não se tornar supercondutores. Poderia significar que a
supercondutividade seria produzida por uma forte interação entre os elétrons de condução e as
vibrações do retículo ou fônons, naqueles metais que não eram bons condutores normais. O
hamiltoniano produzido para estudar a questão - ' hamiltoniano Frohlich ' - continha implicitamente
o 'efeito isotópico, ' a previsão, confirmado mais tarde, que a temperatura de transição
supercondutora é inversamente proporcional à raiz quadrada da massa dos íons na estrutura 20.
John Bardeen, já conhecido por seu trabalho, levando à descoberta do transistor, virou a
sua atenção completa a supercondutividade em 1951, tendo percebido que o efeito isótopo,
identificado a interação entre elétrons, deve ser o responsável pelo fenômeno. A ideia básica seria
um gás de Fermi degenerado de elétrons quase livres, com uma interação fraca atraente por meio
dos fônons de treliça. Resolver esse problema - por exemplo, encontrar o estado fundamental de
um sistema – foi provado ser uma tarefa difícil. Houve também uma forte da concorrência. Richard
Feynman, um dos mestres da eletrodinâmica quântica, não poderia ajudar, mas observou a
semelhança entre esses problemas. Em eletrodinâmica quântica, elétrons no vácuo interagem um
com o outro por meio de fótons, ou ondas de luz quantizadas. No modelo que Bardeen estava
tentando resolver, elétrons em metais interagem entre si através de fônons, ou ondas de som
quantizadas. Por 1955, pela então Universidade de Illinois em Urbana, Bardeen decidiu que eram
necessários reforços. Ele chamou C. N. Yang no Instituto de estudos avançados em Princeton e
pediu um pós-doutorado versado no tipo de teoria de campo usado em eletrodinâmica quântica.
Yang recomendou Leon Cooper. Quase ao mesmo tempo, um dos alunos de pós-graduação de
Bardeen, J. Robert Schrieffer, decidiu trabalhar em supercondutividade. A equipe foi montada.
A colaboração teve seus altos e baixos. Cooper conseguiu, em 1956, mostrar que o estado
fundamental do Fermi-gás era instável mesmo na presença de uma interação atrativa muito fraca.
Esta foi a descoberta dos pares de Cooper. A equipe trabalhou intensamente no início de 1957,
impulsionada em parte pelo sentimento de que Feynman estava no caminho certo, com novas e
poderosas técnicas que não sabiam muito a respeito. No entanto, não foi Feynman, mas Bardeen,
Cooper, e Schrieffer que produziram a teoria microscópica: uma formulação elegante na qual os
elétrons formam um estado terreno coerente, agindo em conjunto para ocupar estados de
partícula única, em pares, de modo a otimizar a redução da energia do sistema proporcionada
pelas interações atrativas fracas devido aos fônons. O resultado foi uma lacuna no espectro de
energia entre o estado fundamental e o estado excitado. A teoria conseguiu representando
essencialmente todo o enigmático fenômeno da supercondutividade, fazer novas previsões, em
breve confirmado pela experiência. Quase 50 anos depois de sua descoberta, a
supercondutividade poderia, finalmente, ser razoavelmente explicada. 22
Chegou a hora de ver o que Richard Feynman tinha a ver com tudo isso. Estavam certos
Bardeen, Cooper e Schrieffer de estar preocupados com a concorrência? Alguns anos mais tarde,
em uma entrevista se perguntou a Feynman o que ele estava fazendo em meados de 1950.
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Q: Mas você publicou um artigo sobre supercondutividade e superfluidez.
Na verdade, Richard Feynman nunca fez conhecer Lev Landau. No entanto, Vitaly
Ginzburg, que conhecia os dois, jura que eles eram tão parecidos que eles deviam compartilhar
um ancestral comum e não há muitas gerações. Em qualquer caso, no artigo Feynman continua:
Essas cidades eram, claro, a superfluidez e supercondutividade. “A descoberta de que hélio flui
sem resistência através de tubos muito finos foi feito já em 1911”, Feynman diz, continuando, “O
fato de que a eletricidade flui através de alguns metais, sem qualquer resistência a baixas
temperaturas foi descoberta, creio eu, em 1905”. Ambas as datas são muito substancialmente
erradas, mais ou menos uma marca de incursões na história de Feynman. Ele continua, “... agora
entendemos qualitativamente a superfluidez do hélio, mas nós ainda não entendemos
qualitativamente a supercondutividade”. Por qualitativamente ele quer dizer, “como é que
funciona mais ou menos...”. “Depois de tudo”, ele introduz uma analogia, “como é o atrito
explicado com base na equação de Schrödinger?” Mesmo que não possamos calcular um
coeficiente de fricção, pensamos que entendemos fricção, “mais ou menos” 26. Esse é o tipo de
compreensão que nos falta para a supercondutividade, de acordo com Feynman.
O resto do artigo se divide em duas partes. Uma é superfluidez, um problema até agora,
em grande parte resolvido e medido, por Feynman e seu parente distante Lev Landau. No final da
seção arrisca a opinião, agora desacreditada de que3 a matéria nuclear não vai passar a ser
superfluido. Estas observações mostram que ainda não havia surgido a ideia de que poderia
ocorrer superfluidez, não só com bósons, que gozam de uma baixa densidade de estados
excitados, mas também com férmions se ficarem unidos em pares.
Assim, ele adota uma filosofia: diz ele “Não faz qualquer diferença o que explicarmos,
contanto que se explique alguma propriedade corretamente a partir de primeiros princípios”. Ele
escolhe calor específico porque “... o calor específico perto do zero absoluto é proporcional à T”, a
temperatura absoluta. O que isto significa para Feynman é “... que o estado fundamental é
separado dos estados excitados mais elevados por uma região em que a densidade de estados é
acessível”, ou até mesmo pode ser o caso em que não existe “nenhum estado entre eles” 28. Em
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outras palavras, isso significa que há uma lacuna de energia acima o estado fundamental do
espectro de energia.
A questão é: qual é o modelo a utilizar que tenha física suficiente para incluir
supercondutividade? Ele já comentou que está procurando algo muito sutil, uma vez que a
temperatura de transição corresponde a uma energia “kT=10 -4 ev, enquanto as energias de
elétrons são da ordem 10v ou algo parecido”. O modelo não pode ser apenas um gás ideal de
elétrons, porque isso não dá a supercondutividade, mas não poderia ser muito diferente também.
Ele não pode ser devido à interação de Coulomb, porque isso é muito forte, “um volt ou mais por
elétrons”. Existem vários outros efeitos, como acoplamentos de spin-órbita e assim por diante, que
são da ordem de grandeza correta porque “nesses casos temos fatores de v²/c² ”, mas eles
deixam de fora uma parte essencial da física, “a temperatura de transição depende da massa
iônica”. Este é o efeito Fröhlich do isótopo. Essa é a chave: “Agora, a esperança é se incluirmos
as redes de interações”, podemos ignorar todo o resto29.
O modelo que faz este trabalho Feynman chama de Hamiltoniano de Fröhlich e Bardeen.
Esse “consiste”, ele explica, “de uma geléia de carga positiva”, e, uma densidade de, “um gás de
elétrons”. Ele continua, “os elétrons não interagem uns com os outros, mas todos eles interagem
com a geléia vibrando”. Muita gente já tentou esse modelo, ele reconhece, e está longe de ficar
claro que a supercondutividade não depende de algo que o modelo deixa de fora, como a
estrutura de banda de metais. Como explicar por que isso ocorre somente em metais complicados
“perto do meio da tabela periódica”, nunca nos simples como de sódio? Ainda assim, diz ele, que
partiu, apenas do que Fröhlich e Bardeen fizeram “... para resolver o modelo de Fröhlich e
Bardeen com tal precisão que os erros estimados no cálculo são menores do que a diferença de
energia se está procurando. '' Ele continua: “Eu fiz diagramas e loops. Quando se está
trabalhando com funções de partição, acontece que há todos os tipos de truques maravilhosos
que se pode fazer com os diagramas.” É fácil de ver porque Bardeen, Cooper, e Schrieffer
estavam preocupados. O próprio Feynman, no entanto, estava apenas frustrado. “Eu calculei o
calor específico com enorme precisão”, ele diz, “e o calor específico ainda era proporcional a T”.
Isso é onde a mecânica quântica está. [...] Para uma velocidade potencial, temos
de voltar para o mesmo lugar. Para isso, adicionando um número inteiro vezes 2π
a Ɵ não se muda o ψ total. [...] isso significa que o fluxo que está preso aqui
dentro deve estar sempre 2π vezes um inteiro vezes uma determinada unidade de
fluxo que eu anuncio aqui e a partir de agora vou chamar de London. [...] o que
isso significa é que essas correntes vão se ajustar e alguns campos irão empurrar
para dentro e alguns irão empurrar para fora, de tal modo que o fluxo que passa
por aqui não é arbitrário, mas um múltiplo inteiro de 2π London’s. [...] Este
experimento foi feito pela primeira vez por Fairbanks que demonstrou de fato que
é bastante verdadeiro e medindo essa quantidade encontrou as duas, o que era
esperado por muitas pessoas era apenas uma, mas assim que ele descobriu que
era metade do tamanho certo viu imediatamente o que era. A pessoa que viu de
antemão que ela deveria ser duas era Onsager. Ele murmurou um dia “se você
fizer essa experiência deve encontrar a metade do tamanho”. Ele murmurou,
embora ele sempre soubesse. De qualquer forma todos os outros, ingenuamente
pensavam que seria 1/e, mas é claro que por causa dos pares da teoria se torna
2e. Portanto temos a quantificação do fluxo que é agora uma descoberta
relativamente antiga, mas definitivamente demonstra finalmente que há alguma
mecânica quântica em um nível macroscópico.
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Nota-se que Feynman é o primeiro a chamar o fluxo quântico de London. Ele também foi
aparentemente o último a fazê-lo. O fator dois, previsto por Lars Onsager no fim desse excerto,
surge porque a corrente é transportada em supercondutores por pares de Cooper com o dobro de
carga do elétron. A medida do fluxo quântico por William Fairbank e B.S. Deaver entre outros, em
1961, foi uma importante verificação para a teoria BCS.
Ele começa a descrever abaixo uma simples e elegante derivação para o efeito Josephson
de AC e DC, idêntica a que está em The Feynman lectures.
O propósito real de Feynman em sua palestra, no entanto, não é para apresentar o efeito
Josephson, mas falar a respeito de experimentos recentemente feitos nos laboratórios Ford, por
James Mercereau e seus colegas. Mercereau colocou barreiras ou junções Josephson em
paralelo para criar o dispositivo de interferência quântica supercondutor, agora conhecido por
todos como SQUID. Feynman queria chama-lo efeito Mercereau, mas ele não teve mais sorte com
isso do que ele teve com fluxo de London. Em todo caso, Feynman previu corretamente que os
dispositivos de Mercereau anunciavam a época dos eletrônicos supercondutores, e é por isso que
ele disse em sua introdução que os técnicos logo teriam que aprender mecânica quântica. Ele
acaba sua palestra especulando acerca de futuras aplicações práticas desse interferômetro
quântico, mas antes de chegar a esse ponto, há um par de experiências particularmente belas que
ele gostaria de falar.
O quê? Você quer me dizer que eu posso te dizer quanto campo magnético existe
aqui dentro, medindo as correntes por aqui e aqui através de fios que estão
totalmente fora - através de fios em que não há nenhum campo magnético. Não há
nenhuma influência sobre isto. Sim. Eu quero dizer isso. Porque o classificados de
física diz que a única coisa importante é E e B, que o vetor e escalar potenciais
são construções matemáticas e somente seus anéis significam alguma coisa. No
entanto, a equação de Schrödinger só pode ser escrita ordenadamente com A e V
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explicitamente lá e foi apontado por Bohm e Aharonov (ou algo parecido), isto
significa que o vetor potencial tem uma realidade e que em experiências de
interferência na mecânica quântica pode haver situações em que classicamente
não haveria qualquer influência esperada. Mas, no entanto, existe uma influência.
É ação à distância? Não, A é tão real quanto B, mas o que isso significa.
Há uma última, até o experimento minuto que Feynman não pode resistir colocando em:
A relação deveria ter sido 2mc/e nas unidades que ele tem usado ao longo dessa
conversa, mas você pegou a ideia. Feynman não tinha perdido nada de seu entusiasmo para o
assunto em tudo.
Nós gostaríamos de terminar este artigo com um post-scriptum pessoal por David
Goodstein. Nós não temos dito nada neste tratamento sobre a mais recente grande descoberta no
campo, supercondutividade de alta temperatura. No entanto, quando a descoberta foi feita em
1986, Feynman ainda estava ativo e vigoroso, como ele permaneceu quase até o fim, dois anos
depois. Feynman veio delimitando em discutir a questão científica ardente do dia: o que seria a
composição do supercondutor de mais alta temperatura? Ele triunfalmente anunciou sua previsão.
O supercondutor de mais alta temperatura seria baseado no elemento escândio. Por que
Scândio? Ele tinha dois argumentos. Um era que escândio aparece aproximadamente na parte
direita da tabela periódica para substituir um dos outros elementos exóticos, chamado terras raras,
encontrado nestes compostos. E outro era porque Scândio era o único elemento da tabela
periódica para o qual nenhum uso tinha sido encontrado.
Agradecimentos
Queremos agradecer a Harvey B. Newman por nos convidar, em 1994, para preparar uma
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palestra especial sobre este assunto no "Ettore Majorna" Centro para a Cultura Científica em
Erice, na Sicília. Uma versão anterior deste artigo apareceu em HB Newman e Thomas Ypsilantis,
eds. História das Ideias originais e descobertas da Física de Partículas (New York: Plenum Press,
1996), pp. 773-788. Roger H. Stueweer forneceu sugestões editoriais úteis.
Referências
1 Judith R. Goddstein, "Sir Humphry Davy: Teoria química e a natureza da matéria" Ph.D Diss.
University of Washington, 1969.
6 Kostas Gavrouglu e Yourgos Gludaroulis, "o trabalho notável de" Le gentleman du Zero Absolut
"no meio de medição para o conhecimento dos trabalhos selecionados de Heike Kamerlingh
Onnes, 1853-1926, ed Gavrouglu e Goudaroulis (Boston:... Kluwer Academic Publisher, 1991), xiii-
scvi.
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